ventura
pela
Uma a
(minha)
diversidade Jo達o Cunha Silva MEPI 2014/2015
Escola Superior de Educação Portefólio Educação Linguística e Intercultural João Cunha Silva MEPI 2014 / 2015 1
U
m dia descobri que o mundo n茫o era s贸 preto e branco, mas sim uma polifonia de tons e sons que em conjunto se transformam na mais bonita das melodias.
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Descobri que eu próprio sou também uma raça, na minha individualidade, de ser único no universo, composto de vibrações e etnicidades de tudo o que me rodeia e das pessoas que fazem o meu eu e de todas as máscaras que contruo.
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Algumas com alguma inspiração,
mas outras com muito pouco talento. Sim…esta é uma das minhas máscaras… mas raramente a uso!
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E pelos caminhos que percorro cruzo-me com muitas máscaras, pessoas com pessoas lá dentro, ricas pelas suas crenças, Capítulo 11 vivenças, A Torre de Babel diferenças. Ricas 1 No mundo todo havia apenas uma língua, um só modo de falar. pela sua alteridade, 2 Saindo os homens do Oriente, encontraram uma planície em Sinai e ali se fixaram. e pelo que as 3 Disseram uns aos outros: “Vamos fazer tijolos e queimá-los bem”. distingue e as torna Usavam tijolos em lugar de pedras, e piche em vez de argamassa. 4 Depois disseram: “Vamos construir uma cidade, com uma torre que únicas. E só de alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra”. pensar que esta multiculturalidade, 5 O SENHOR desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo. foi vista como um 6 E disse o SENHOR: “Eles são um só povo e falam uma só língua, e a construir isso. Em breve nada poderá impedir o que castigo dos deuses. começaram planejam fazer. Pelo menos é o que reza a história.
7 Venham, desçamos e confundamos a língua que falam, para que não entendam mais uns aos outros”. 8 Assim o SENHOR os dispersou dali por toda a terra, e pararam de construir a cidade. 9 Por isso foi chamada Babel, porque ali o SENHOR confundiu a língua de todo o mundo. Dali o SENHOR os espalhou por toda a terra.
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Que aborrecido seria ver o mundo apenas pela lente de uma única língua, Ter uma realidade expressa só por uma palavra e por isso só por uma maneira de ver. Ainda bem que construíram a torre de Babel e provocaram a inveja dos deuses.
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Cá por mim eu vivo bem com este “confusio linguarum”. Não me importo nada com esta multiplicação de signos e de formas e palavras diferentes de ver o mundo; desde os mais antigos.,.
…aos mais modernos códigos de linguagem.
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Abomino mesmo qualquer ideia de unicidade, monopensamento e monolíngua: para mim nada mais é do que um afunilamento intelectual.
Apaixona-me ver o mundo a partir de outros olhos e línguas diferentes da minha. Apaixona-me ver múltiplos reflexos em qualquer superfície espelhada. 8
Mesmo assim, muitos são os que ainda hoje perseguem a utopia da língua universal e na recuperação da língua original, a língua “adâmica”. Sinopse Após séculos de coexistência com uma grande diversidade de línguas no seu espaço geográfico, o pensamento europeu volta a meditar na possibilidade de recuperação da língua original - procura de reparação da ferida simbolizada pelo episódio bíblico da "confusio linguarum", na arquetípica 'Torre de Babel'. Têm sido múltiplas as personalidades da cultura contemporânea a perseguir este sonho e, se bem que as suas utopias não se tenham realizado, não deixaram por isso de produzir um sem-número de "efeitos colaterais". Se hoje dispomos de linguagens universais que nos permitem classificar com rigor as mais diversas manifestações da vida, se inventámos linguagens para fazer falar as máquinas e chegamos mesmo ao ponto de tentar a tradução automática, somos em grande parte tributários dessas tentativas de reencontrar uma língua adâmica. Aquilo que Umberto Eco nos propõe aqui empreender, segundo critérios de exemplaridade e coerência, é uma abordagem temática desses projetos de utopia.
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E quando não a encontraram, inventaram-na… O Esperanto En multaj lokoj de Ĉinio estis temploj de drako-reĝo. Dum trosekeco oni preĝis en la temploj, ke la drako-reĝo donu pluvon al la homa mondo. Tiam drako estis simbolo de la supernatura estaĵo. Kaj pli poste, ĝi fariĝis prapatro de la plej altaj regantoj kaj simbolis la absolutan aŭtoritaton de feŭda imperiestro. La imperiestro pretendis, ke li estas filo de la drako. Ĉiuj liaj vivbezonaĵoj portis la nomon drako kaj estis ornamitaj per diversaj drakofiguroj. Nun ĉie en Ĉinio videblas drako-ornamentaĵoj kaj cirkulas legendoj pri drakoj.
O Europanto Si no comprende este compte de Noël, no panic: este perfectly normal. Er ist écrit in der erste overeuropese tongue: the Europanto. Europanto ist 42% English, 38% French, 15% le rest van de UE tonguen und 5% mixed fantasia mots out from Latin, unlikely-old-Greek et mucho rude Italian jurones. Le Soir illustré, Dec. 1996
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Mesmo que fictícia, para uso de personagens de livros: como a Novalíngua de George Orwell no seu livro 1984 ou a língua Klíngon do Star Trek ou mesmo as diferentes línguas criadas por J. R. R. Tolkien para os livros do “O Senhor dos anéis”
Tradução do Khuzdul (língua falada pelos Anões) para Inglês
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Mas uma língua não é só um conjunto de palavras; é muito mais do que isso: é história; é cultura é uma inteira mundividência veiculada por um povo ou povos. Cada língua tem muitas coisas dentro de si e por isso é que não é fácil que uma qualquer língua desprovida de todos esses elementos tenha sucesso. No caso do português, como no caso de qualquer língua, ao traçar a sua árvore genealógica, estamos a traçar a nossa própria história e a nossa identidade. A árvore das línguas
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É por essa identidade ser tão importante para que haja respeito perante diversidade, que existe um dia Europeu para o efeito, que se comemora a 26 de setembro de cada ano.
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No documento “The celebration of Language diversity” do Conselho da Europa, afirma-se mesmo que:
“A diversidade das línguas e culturas, tal como no caso da biodiversidade, está cada vez mais a ser visto como uma coisa boa e bonita em si mesmo. Cada língua tem a sua forma de ver o mundo e é produto da sua própria história.” Não podia concordar mais!
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Assim, centrando-nos na beleza da diversidade, na capacidade de respeitarmos as diferenças, temos de ser intransigentes na defesa dos valores e aí, quantas mais línguas usarmos para o fazer, melhor. Já que, apesar de sermos todos diferentes, temos algo em comum, que é sermos humanos.
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Os direitos são assim iguais para todos, mesmo que sejam expressos em línguas diferentes. Pelo menos deveria ser, mas infelizmente parece que se perdeu alguma coisa na tradução ao chegar a alguns pontos do globo. Deixo aqui a tradução correta do Artigo 1º da Declaração dos Direitos do Homem em várias línguas par que não haja mais desculpas.
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português
inglês
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. alemão Alle Menschen sind frei und gleich an Würde und Rechten geboren. Sie sind mit Vernunft und Gewissen begabt und sollen einander im Geist der Brüderlichkeit begegnen.
All human beings are born free and equal in dignity and rights. They are endowed with reason and conscience and should act towards one another in a spirit of brotherhood. húngaro Minden. emberi lény szabadon születik és egyenlo méltósága és joga van. Az emberek, ésszel és lelkiismerettel bírván, egymással szemben testvéri szellemben kell hogy viseltessenek. espanhol Todos los seres humanos nacen libres e iguales en dignidad y derechos y, dotados como están de razón y conciencia, deben comportarse fraternalmente los unos con los otros.
zulu Bonke abantu bazalwa bekhululekile belingana ngesithunzi nangamalungelo. Bahlanganiswe wumcabango nangunembeza futhi kufanele baphathane ngomoya wobunye. Francês Tous les êtres humains naissent libres et égaux en dignité et en droits. Ils sont doués de raison et de conscience et doivent agir les uns envers les autres dans un esprit de fraternité. Afrikaans Alle menslike wesens word vry, met gelyke waardigheid en regte, gebore. Hulle het rede en gewete en behoort in die gees van broederskap teenoor mekaar op te tree.
ALBANIAN Të gjithë njerëzit lindin të lirë dhe të barabartë në dinjitet dhe në të drejta. Ata kanë arsye dhe ndërgjegje dhe duhet të sillen ndaj njëri tjetrit me frymë vëllazërimi. Basque Gizon-emakume guztiak aske jaiotzen dira, duintasun eta eskubide berberak dituztela; eta ezaguera eta kontzientzia dutenez gero, elkarren artean senide legez jokatu beharra dute. CREOLE Tout moun fèt lib, egal ego pou diyite kou wè dwa. Nou gen la rezon ak la konsyans epi nou fèt pou nou aji youn ak lot ak yon lespri fwatènite. SWEDISH Alla människor äro födda fria och lika i värde och rättigheter. De äro utrustade med förnuft och samvete och böra handla gentemot varandra i en anda av broderskap. SLOVENIAN Vsi ljudje se rodilo svobodni in imajo enako dostojanstvo in enake pravice. Obdarjeni so z razumom in vestjo in bi morali ravnati grug z grugim kakor bratje.
SWAHILI Watu wote wamezaliwa huru, hadhi na haki zao ni sawa. Wote wamejaliwa akili na dhamiri, hivyo yapasa watendeane kindugu. ESPERANTO Chiuj homoj estas denaske liberaj kaj egalaj lau digno kaj rajtoj. Ili posedas racion kaj konsciencon, kaj devus konduti unu al alia en spirito de frateco. ESTONIAN Kõik inimesed sünnivad vabadena ja võrdsetena oma väärikuselt ja õigustelt. Neile on antud mõistus ja südametunnistus ja nende suhtumist üksteisesse peab kandma vendluse vaim.
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E se mesmo assim os direitos humanos continuarem a ser desrespeitados, podemos sempre fazer uma reflexão em conjunto com este grande exemplo de unidade na diversidade que é a oração ”A Grande Invocação” aqui escrita em 70 línguas.
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E o que é a diversidade? Onde é que a encontramos? Será assim tão fácil de encontrar? Parece que sim, basta estar atento e alerta pois ela apresenta-se nas suas diferentes formas e plataformas. A diversidade pode ser encontrada na literatura infantil quando dois seres tão diferentes como o Pinguim Pingalim e o Leão Tião são amigos do coração.
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Ou quando nascem seres tĂŁo diferentes de ovos especiais,
Mas que no fim respeitam e aceitam as suas diferenças.
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Ou quando vemos uma menina que faz tudo os que os outros fazem, as coisas boas e as coisas mรกs, como qualquer crianรงa, apesar de ser diferente e andar de cadeira de rodas. 40
Podemos mesmo procurar diversidade nos filmes
animação,
de
e no cinema em geral onde heróis
improváveis nos aparecem, mostrando-nos que não existe uma história única, não existe uma única forma de contar uma narrativa: nem nas histórias nem na vida real.
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Assim, ao mesmo tempo que existe este apelo ao direito à diferença, um apelo à validade da natureza étnica de cada um, grita-se de igual forma pela igualdade de direitos fundamentais, independentemente de tudo o que nos torna diferentes. Tal como refere a escritora nigeriana Chimamanda Adichie na sua comunicação “The danger of a single story”, na Ted Conference Não há realmente uma história única, e para nos livrarmos dos nossos próprios preconceitos temos de dar um passo em direção ao outro para o conhecer, aceitar e conviver com a sua diferença. 42
“The danger of a single story”, transcrição 0:11Eu sou uma contadora de histórias. E gostaria de vos contar algumas histórias pessoais sobre aquilo que gosto de chamar "o perigo da história única". Eu cresci num campus universitário na parte oriental da Nigéria. A minha mãe diz que comecei a ler aos dois anos, embora eu pense que aos quatro provavelmente esteja perto da verdade. Por isso eu fui uma leitora precoce. E o que eu li eram livros para crianças Britânicos e Americanos. 0:38Eu fui também uma escritora precoce. E quando comecei a escrever, por volta dos sete anos, histórias a lápis com ilustrações a lápis de cor que a minha pobre mãe era obrigada a ler, eu escrevia exactamente o tipo de histórias que eu lia. Todas as minhas personagens eram brancas e de olhos azuis. Brincavam na neve. Comiam maçãs. (Risos) E falavam muito do tempo, como era maravilhoso o sol ter aparecido.(Risos) Isto, apesar do facto de eu viver na Nigéria. Nunca tinha estado fora da Nigéria. Nós não tínhamos neve. Nós comíamos mangas. E nós nunca falávamos do tempo, porque não havia necessidade. 1:25As minhas personagens também bebiam muita cerveja de ginja porque as personagens dos livros Britânicos que eu lia bebiam cerveja de ginja. Não importava que eu não tivesse ideia do que cerveja de ginja fosse. (Risos) E por muitos anos, eu tive o desejo desesperado de provar cerveja de ginja. Mas isso é outra história. 1:43O que isto demonstra, penso eu, é o quão impressionáveis e vulneráveis somos face a uma história, particularmente as crianças. Porque tudo que tinha lido eram livros em que as personagens eram estrangeiras, eu convenci-me que os livros, pela sua própria natureza, tinham de incluir estrangeiros, e tinham de ser sobre coisas com as quais não podia pessoalmente identificar-me. Bem, as coisas mudaram quando descobri livros Africanos. Não havia muitos disponíveis. E eles não eram tão fáceis de encontrar como os livros estrangeiros.
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2:14Mas devido a escritores como Chinua Achebe e Camara Laye eu passei por uma mudança mental na minha percepção da literatura. Apercebi-me que pessoas como eu, raparigas com a pele cor de chocolate, cujo cabelo estranho não podia formar rabos-de-cavalo, também podiam existir na literatura.Comecei a escrever sobre coisas que reconhecia. 2:35Bem, eu amava aqueles livros Americanos e Britânicos que lia. Eles agitaram a minha imaginação. Eles abriram novos mundos para mim. Mas a consequência não intencional foi que eu não sabia que as pessoas como eu podiam existir na literatura. Então o que a descoberta de escritores Africanos fez por mim foi isto: Salvou-me de ter uma história única daquilo que os livros são. 2:58Eu venho de uma família Nigeriana, convencional de classe-média. O meu pai era professor. A minha mãe era administradora. Por isso nós tínhamos, como era a norma, ajuda doméstica a viver em casa, que frequentemente vinha de vilas rurais próximas. Por isso no ano em que fiz oito anos arranjámos um novo rapaz de recados. O nome dele era Fide. A única coisa que a minha mãe nos disse sobre ele foi que a família dele era muito pobre. A minha mãe mandava inhames e arroz, e as nossas roupas velhas, à família dele. E quando eu não terminava o meu jantar a minha mãe dizia, "Acaba a tua comida! Tu não sabes? Pessoas como a família do Fide não têm nada.". Por isso eu sentia enorme piedade pela família do Fide. 3:42Então um Sábado fomos à vila dele fazer uma visita. E a mãe dele mostrou-nos um cesto com um padrão lindo, feito de ráfia seca, que o irmão dele tinha feito. Eu fiquei atónita. Não me tinha ocorrido que alguém da família dele pudesse de facto criar algo. Tudo o que tinha ouvido sobre eles era o quão pobres eram, de forma que se tinha tornado impossível para mim vêlos como algo além de pobres. A sua pobreza era a minha história única sobre eles. 4:12Anos mais tarde, pensei sobre isto quando deixei a Nigéria, para ir para a universidade nos Estados Unidos. Eu tinha 19 anos. A minha companheira de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar Inglês tão bem, e ficou confusa quando disse que a Nigériapor acaso tinha o Inglês como língua oficial. Ela perguntou se podia ouvir aquilo a que chamou a minha "música tribal", e ficou consequentemente muito desapontada quando eu desencantei a minha cassete da Mariah Carey. (Risos) Ela presumiu que eu não sabia como se usava um fogão. 44
4:49O que me espantou foi isto: Ela tinha sentido pena de mim mesmo antes de me ter visto. A sua posição base em relação a mim, enquanto Africana, era uma espécie de piedade paternalista bem intencionada.A minha companheira de quarto tinha uma história única de África. Uma história única de catástrofe.Nesta história única não havia possibilidade de Africanos serem semelhantes a ela, de forma alguma.Nenhuma possibilidade de sentimentos mais complexos que a piedade. Nenhuma possibilidade de uma conexão entre humanos iguais. 5:20Devo dizer que antes de ir para os Estados Unidos eu não me identificava conscientemente como Africana. Mas nos Estados Unidos sempre que África surgia as pessoas voltavam-se para mim. Não importava que eu nada soubesse sobre locais como a Namíbia. Mas eu acabei por abraçar esta nova identidade. E de muitas formas eu penso em mim mesma agora como Africana. Embora ainda me irrite bastante quando África é referida como um país. Sendo o exemplo mais recente o meu em tudo o resto maravilhoso voo de Lagos à dois dias, no qual havia um anúncio no voo da Virgin sobre o trabalho de caridade na "Índia, África e outros países". (Risos) 5:55Então depois de ter estado vários anos nos Estados Unidos como Africana, comecei a perceber a reacção da minha companheira de quarto para comigo. Se eu não tivesse crescido na Nigéria, e se tudo que eu soubesse sobre África fosse de imagens populares, também eu pensaria que a África era um local de belas paisagens, belos animais, e pessoas incompreensíveis, lutando guerras sem sentido, morrendo de pobreza e SIDA, incapazes de falar por si mesmas, e esperando ser salvas, por um meigo, estrangeiro branco. Eu veria os Africanos da mesma forma que eu, enquanto criança, tinha visto a família do Fide. 6:34Esta história única de África vem em última análise, penso eu, da literatura ocidental. Agora, aqui está uma citação da escrita de um mercador londrino chamado John Locke, que navegou até ao oeste de África em 1561, e manteve uma descrição fascinante da sua viagem. Depois de se referir aos Africanos negros como "as bestas que não não têm casas", escreve, "Eles são também pessoas sem cabeças,tendo a sua boca e olhos nos seios".
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7:04Bem, eu rio-me sempre que leio isto. E temos de admirar a imaginação de John Locke. Mas o que é importante sobre esta escrita é que representa o início de uma tradição em contar histórias Africanas no Ocidente. Uma tradição de uma África Subsariana enquanto lugar de negativos, de diferença, de escuridão, de pessoas que, nas palavras do maravilhoso poeta, Rudyard Kipling, são "metade diabo, metade criança". 7:31E então eu comecei a perceber que a minha companheira de quarto Americana devia ter, ao longo da vida, visto e ouvido diferentes versões desta história singular, como tinha um professor, que uma vez me disse que o meu romance não era "autenticamente Africano". Bem, eu estava mais que disposta a aceitar que havia várias coisas erradas com o romance, que eu tinha falhado em vários locais. Mas não havia imaginado que tinha falhado em conseguir algo chamado autenticidade Africana. Na verdade eu não sabia o que autenticidade Africana era. O professor disse-me que as minhas personagens eram demasiado parecidas com ele, um homem com educação e de classe média. As minhas personagens conduziam carros. Elas não estavam famintas. Portanto elas não eram autenticamente Africanas. 8:20Mas eu devo rapidamente somar que também eu sou culpada na questão da história única. À uns anos atrás, visitei o México dos Estados Unidos. O clima político nos Estados Unidos na altura era tenso. E havia debates a decorrer sobre a imigração. E, como muitas vezes acontece na América, a imigração tornou-se sinónimo de Mexicanos. Havia histórias infindáveis de Mexicanos enquanto pessoas fugindo ao sistema de saúde, infiltrando-se pela fronteira, sendo presas na fronteira, esse tipo de coisa. 8:53Lembro-me de andar no meu primeiro dia em Guadalajara, vendo as pessoas a ir trabalhar, enrolando tortilhas no mercado, fumando, rindo. Lembro-me de primeiro sentir uma breve surpresa. E depois fiquei submersa em vergonha. Apercebi-me de que estava tão imersa na cobertura dos media sobre os Mexicanos que eles se haviam tornado uma só coisa na minha mente, o abjecto imigrante. Eu tinha cedido à história única dos Mexicanos e eu não podia sentir mais vergonha de mim. E é assim que se cria uma história única, mostra um povo como uma coisa, como uma única coisa, vezes sem conta, e é isso que eles se tornam.
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9:37É impossível falar sobre a história única sem falar do poder. Há uma palavra, uma palavra malvada, em que penso, sempre que penso sobre a estrutura do poder no mundo, e é "nkali". É um substantivo que livremente se traduz por "ser maior que outro". Como os nossos mundos económico e político, também as histórias se definem pelo princípio do nkali. Como são contadas, quem as conta, quando são contadas, quantas histórias são contadas, estão realmente dependentes do poder. 10:11O poder é a capacidade de não só contar a história de outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva dessa pessoa. O poeta Palestiniano Mourid Barghouti escreve que se queres desapropriar um povo, a forma mais simples de o fazer é contar a sua história, e começar com "Em segundo lugar". Começa a história com as setas dos Nativos Americanos, e não com a chegada dos Britânicos, e terás uma história completamente diferente. Começa a história com o fracasso do estado Africano, e não com a criação colonial do estado Africano, e terás uma história totalmente diferente. 10:51Falei recentemente numa universidade onde um estudante me disse que era uma grande pena que os homens Nigerianos fossem abusadores como a personagem do pai no meu romance. Eu disse-lhe que tinha acabado de ler um romance chamado "Psicopata Americano" (Risos) e que era uma grande pena que os jovens Americanos fossem assassinos em série. (Risos) (Aplausos) Bem, obviamente eu disse isto num ataque de leve irritação. (Risos) 11:29Nunca me tinha ocorrido pensar que apenas porque tinha lido um romance no qual uma das personagens era um assassino em série que ele de alguma forma representaria todos os Americanos. E agora, isto não é porque sou melhor pessoa que o estudante, mas, devido ao poder económico e cultural Americano, eu tinha muitas histórias da América. Eu havia lido Tyler e Updike e Steinbeck e Gaitskill. Não tinha uma história única da América. 11:54Quando soube, há uns anos, que era esperado os escritores que tinham tido infâncias bastante infelizes terem sucesso, comecei a pensar como poderia inventar coisas horríveis que os meus pais me teriam feito. (Risos) Mas a verdade é que eu tive uma infância muito feliz, cheia de riso e amor, numa família muito unida.
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12:16Mas também tive avós que morreram em campos de refugiados. O meu primo Polle morreu porque não teve assistência médica adequada. Um dos meus amigos mais próximos, Okoloma, morreu num desastre de avião porque os nossos camiões dos bombeiros não tinham água. Cresci sob governos militares repressivos que desvalorizavam a educação, de forma que por vezes os meus pais não recebiam os seus salários. E por isso, enquanto criança, vi a geleia desaparecer da mesa de pequeno-almoço, depois desapareceu a margarina, depois o pão ficou muito caro, depois foi o leite que teve de ser racionado. E mais que tudo, um medo político normalizado invadiu as nossas vidas. 12:57Todas estas histórias fazem de mim quem eu sou. Mas insistir apenas nestas histórias negativas é planar a minha experiência, e esquecer tantas outras histórias que me formaram. A história única cria estereótipos. E o problema com os estereótipos não é eles serem mentira, mas eles serem incompletos .Eles fazem uma história tornar-se a única história. 13:24Claro que a África é um continente cheio de catástrofes. Há as que são imensas, como as horripilantes violações no Congo. E há as deprimentes, como o facto de 5,000 pessoas se candidatarem para uma única vaga de emprego na Nigéria. Mas há outras histórias que não são sobre catástrofe. E é muito importante, é igualmente importante falar sobre elas. 13:44Sempre senti que é impossível relacionar-me adequadamente com um lugar ou uma pessoa sem me relacionar com todas as histórias desse lugar ou pessoa. A consequência da história única é isto: rouba as pessoas da sua dignidade. Torna o reconhecimento da nossa humanidade partilhada difícil. Enfatiza o quanto somos diferentes em vez do quanto somos semelhantes. 14:08E se antes da minha viagem Mexicana eu tivesse seguido o debate sobre a imigração das duas perspectivas, dos Estados Unidos e do México? E se a minha mãe nos tivesse contado que a família do Fide era pobre e trabalhadora? E se nós tivéssemos uma rede televisiva Africana que divulgasse diversas histórias Africanas para todo o mundo? O que o escritor Nigeriano Chinua Achebe chama "um equilíbrio de histórias".
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14:33E se a minha companheira de quarto soubesse do meu editor Nigeriano, Mukta Bakaray, um homem notável que deixou o seu emprego num banco para seguir o seu sonho e começar uma editora? Bem, a sabedoria popular ditava que os Nigerianos não lêem literatura. Ele discordava. Ele sentia que as pessoas que podiam ler, iriam ler, se a literatura fosse tornada acessível e disponível para eles. 14:55Pouco depois dele ter publicado o meu primeiro romance eu fui a uma estação de televisão em Lagos para ser entrevistada. E uma mulher que trabalhava como mensageira lá veio até mim e disse-me, "Eu gostei muito do seu romance. Não gostei do final. Agora tem de escrever uma sequela, e é isto que vai acontecer..." (Risos) E continuou dizendo-me o que escrever na sequela. Não fiquei apenas encantada, fiquei muito comovida. Aqui estava uma mulher, parte das massas comuns de Nigerianos, que não era suposto serem leitores. Ela não tinha apenas lido o livro, tinha até tomado posse dele e sentia-se no direito de me dizer o que escrever na sequela. 15:32Bem, e se a minha companheira de quarto soubesse da minha amiga Fumi Onda, uma mulher intrépida que é anfitriã de um programa televisivo em Lagos, e que está determinada em contar as histórias que preferíamos esquecer? E se a minha companheira de quarto soubesse da cirurgia ao coração que foi levada a cabo no hospital de Lagos na semana passada? E se a minha companheira de quarto soubesse da música Nigeriana contemporânea? Pessoas talentosas cantando em Inglês e Pidgin, e Igbo e Yoruba e Ijo, misturando influências de Jay-Z a Fela de Bob Marley aos seus avós. E se a minha companheira de quarto soubesse da advogada que recentemente foi a tribunal na Nigéria desafiar uma lei ridícula que exigia que as mulheres tivessem o consentimento dos maridos antes de renovar os seus passaportes? E se a minha companheira de quarto conhecesse Nollywood, cheio de pessoas inovadoras fazendo filmes apesar de grandes questões técnicas? Filmes tão populares que são na verdade o melhor exemplo dos Nigerianos a consumir o que produzem. E se a minha companheira de quarto soubesse da minha magnificamente ambiciosa entrançadora de cabelo, que acaba de começar o seu próprio negócio vendendo extensões de cabelo? Ou sobre os milhões de outros Nigerianos que começam os seus negócios e por vezes fracassam, mas continuam a albergar ambição?
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16:46Sempre que estou em casa sou confrontada com as fontes habituais de irritação pela maioria dos Nigerianos: a nossa infraestrutura falhada, o nosso governo fracassado. Mas também pela incrível resistência de pessoas que florescem apesar do governo, em vez de devido a ele. Ensino workshops de escrita em Lagos todos os Verões. E é extraordinário para mim o número de pessoas que se inscrevem,quantas pessoas estão ansiosas por escrever, por contar histórias. 17:13O meu editor Nigeriano e eu acabamos de começar uma não-lucrativa chamada Fundo Farafina. E temos grandes sonhos de construir bibliotecas e renovar bibliotecas que já existem, e providenciar livros a escolas estatais que nada têm nas suas bibliotecas, e também de organizar muitos e muitos workshops,de leitura e escrita, para todas as pessoas que estão ansiosas por contar as nossas muitas histórias. As histórias importam. Muitas histórias importam. As histórias têm sido usadas para desprover e tornar maligno. Mas as histórias também podem ser usadas para potenciar e para humanizar. As histórias podem quebrar a dignidade de um povo. Mas as histórias também podem reparar essa dignidade quebrada. 17:55A escritora Americana Alice Walker escreveu isto sobre os seus parentes sulistas que se mudaram para norte. Ela apresentou-os a um livro sobre a vida sulista que eles haviam deixado para trás. "Eles sentaram-se em volta, lendo eles mesmos o livro, ouvindo-me ler o livro, e uma espécie de paraíso foi reconquistado". Eu gostaria de terminar com este pensamento:
Que quando rejeitamos a história única, quando nos apercebemos que nunca há uma história única sobre nenhum lugar, reconquistamos uma espécie de paraíso. Obrigada. (Aplausos)
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Sublinhei apenas alguns aspetos da brilhante comunicação da escritora Chimamanda que mereceram realce por serem reveladores desta consciência étnica, ou então a falta dela por parte de alguns que apenas, mesmo de forma inconsciente, se deixam levar por meras impressões que os parece satisfazer. Esta estranheza perante o que é diferente, podem ser encontradas ao longo dos tempos na literatura como na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto ou
nas Viagens de Gulliver de Jonathan Swift.
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Tal como em Chimamanda, podemos encontrar estas mesmas marcas, esta mesma preocupação no escritor Mia Couto, no seu livro de contos “ Cada homem é uma raça” em que que se tenta fazer a reconstrução da identidade moçambicana, tendo a literatura como veículo impulsionador desse mesmo resgate. Usando as marcas próprias da tradição africana, oralidade do seu povo, a voz dos menos favorecidos, que ao ser levantada tem como objetivo, mais ou menos explícito, a busca por mudanças nas estruturas sociais e no modo como se vê o mundo, pelo menos aquele mundo. 52
No seguimento de exponenciar multiculturalismo existente dentro da mesma língua, podemnos socorrernos do documentário “Língua - Vidas em Português” de Vitor Lopes, onde podemos encontrar reflexões sobre a língua portuguesa e sobre as línguas em geral.
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Um documentário que nos transporta aso mundos em português e a toda a sua riqueza multicultural. Língua que se deixou apropriar e se deixou aculturar pelos seus falantes. Como diz Mia Couto nesse mesmo documentário O português perdeu o dono, quer dizer, ficou sem dono. Felizmente! E namorou, e namorou no chão, e namorou na poeira do Brasil, e namorou também aqui, na poeira de Moçambique. (...) Sujou-se, nesse sentido em que é capaz de casar-se com o chão.
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Para além da literatura, também podemos encontrar na publicidade estes apelos que procuram derrubar o preconceito e demonstrar um mundo plural e multiétnico apelando ao respeito pela diferença. Neste campo a publicidade da Benetton tem sido icónica ao colocar imagens polémicas, provocatórias e desafiantes. Todas estas mostram respeito pela diferença; respeito; igualdade; diversidade…
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É claro que nem toda a publicidade apresenta a mesma leitura e preocupação, mas também não nos esqueçamos do principal objetivo da publicidade, isto é, vender e para vender há que apelar aos instintos mais básicos do consumidor, mesmo que estes, aos olhos de hoje, e do local que os observamos, nos pareçam absurdos e tão longe de onde nos encontramos.
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Também podemos encontra a diversidade e a coabitação étnica e cultural na música. Aqui fica o meu “top 10”, de misturas de estilos, culturas, e interpretes se juntam para criar novas musicalidades e mostrar os sons do mundo.
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Bohemian Rhapsody -Queen Pronuncia do Norte - Rui Reininho e Isabel Silvestre Eminem - Love The Way You Lie ft. Rihanna Luciano Pavarotti e Bono Vox (U2) Miss Sarajevo Enigma - Return To Innocence Empire State of Mind" JAY Z | Alicia Keys Jane Birkin et Serge Gainsbourg - Je T'aime,...Moi Non Plus Youssou N'dour and Neneh Cherry – 7 seconds Nick Cave and Kylie Minogue, Where the Wild Roses Grow King Louis and Baloo the Bear, Wanna Be Like You
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Para nos apercebemos do mundo multicultural em que vivemos é preciso termos mais conhecimento dos outros, perceber o que os outros são, não para os tolerar, mas para os aceitar como portadores de uma identidae própria. Lembro-me sempre daquela viagem a Londres, onde senti verdadeiramentea presença do outro diferente de mim, carregando todos os seus signos, a sua cultura mesmo ao meu lado na mesma carruagem do metro, encontrava-se uma árabe de burka vestida; um indiano de turbante enrolado na cabeça e com vestes brancas; um casal de, provavelmente japoneses, de máquina fotográfica a disparar para tudo o que mexia. Naqueles dois metros quadrados, estava o mundo todo, com a beleza da sua diversidade. 60
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