Revista culturando final

Page 1

Edição 01 - Junho/2013

O parque tecido à mão

Desde o aniversário de São Paulo, quem entra no Pavilhão das Culturas Brasileiras no Parque do ibirapuera se depara com árvores um tanto quanto incomuns

24

Relembre um pouco da história do cinema brasileiro

Monge budista que medita em heliponto conta sua história

Brechós conquistam moradores da Vila Mariana

Internet em excesso afeta vida de jovens

Paulo Galvão comenta a influência do Facebook nas rádios 1


Índice Cotidiano Brechós da Vila Mariana ............................. ............... 4 Revitalização da cidade .................... .... 6 Admirável mundo o novo ................ 7

Arte O Parque Tecido à Mão ............. 8 Trinta anos sem Elis Regina ............ 9 História do cinema Brasileiro ............................................. 11

2

Kobo Glo, da Kobo, por exemplo, há a opção de utilizar a chamada “Confort Light” (em tradução literal, luz confortável), que possibilita a leitura em ambientes sem nenhuma luz. Com um livro tradicional, seria necessária luz elétrica para ler durante o período noturno ou mesmo em ambientes escuros ou mal iluminados. O fator da facilidade de acesso é uma vantagem, visto que a praticidade em adquirir (seja baixando pela internet ou comprando em sites apropriados, como de livrarias) os livros digitais e armazenalos e transporta-los serve de estímulo para que se leia cada vez mais. Não é preciso ir até uma livraria ou biblioteca, ou esperar o livro ser entregue pelo correio para começar a ler. Pesquisas mostram que pessoas que compraram e-readers ou passaram a consumir obras em formato digital começaram a ler mais por conta disso. O preço é outro ponto forte dos livros digitais. A cadeia de produção e comercialização de um livro digital é tão complexa quanto a de um livro impresso: editoração, marketing, divulgação, contrato com autores e etc. E, no caso de livros digitais, ainda existe a questão da elaboração do arquivo e do formato do livro, além da manutenção dos servidores (eles permitem o sincronismo e armazenamento de informações na internet). Entretanto, a editora, ao produzir um e-book, não gasta nada com papel, impressão, encadernação ou distribuição. As lojas que disponibilizam os e-books para vender em seus sites também não têm gastos com logística. Tudo isso influencia no preço final do livro eletrônico,

tornando-o uma opção mais barata. Um e-book de alto padrão pode chegar às mãos do leitor por um preço até 50% menor que o livro impresso. Há quem diga que no Brasil ainda enfrentamse muitas dificuldades para difundir o uso dos e-books e e-readers, e que este tipo de leitura ainda é privilégio de poucos, uma “exclusividade da elite”. De fato, por conta dos impostos e da falta de uma política de precificação precisa (entre outras razões), o preço acaba sendo mais elevado e desigual no território brasileiro. Em algumas livrarias um e-book chega a custar o mesmo preço da obra na versão impressa. Já o e-reader Kobo Glo, citado anteriormente, é vendido no Brasil por, em média, R$ 400. São valores que nem todos podem pagar, e que chegam a ser um pouco desanimadores quando se leva em conta que uma das vantagens do livro digital é o baixo custo. Entretanto, esse cenário é mais otimista do que parece, e o mercado editorial brasileiro está se aproximando de uma futura popularização da leitura. Este ano, o governo federal investiu mais de R$ 1 bilhão no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). O projeto prevê que estudantes do ensino médio da rede pública usem livros digitais a partir de 2015. A Câmara se prepara para discutir as perspectivas para os e-books no Brasil ainda este ano. A coordenadora da Frente Parlamentar do Livro e da Leitura, Fátima Bezerra (PT-RN), vai propor a desoneração tributária para a importação e produção de tablets no País. Ela é relatora do projeto de lei que trata do tema na comissão de

Cultura da Câmara. Uma audiência pública está marcada para o mês de maio, com participação da Amazon, da Livraria Cultura, Câmara Brasileira do Livro e de representantes do governo para debater o futuro do livro digital. Não é preciso temer os e-books, eles não são uma ameaça e nem o inimigo, e sim poderosos aliados. Os livros digitais não irão tomar o lugar dos impressos, pelo menos não em um futuro próximo. Quem realmente gosta não dispensa o contato físico com o livro feito de papel. Esse tipo de livro ainda detém uma parte importante do mercado: em 2011, as vendas dos impressos subiram 7,2% em relação ao ano anterior. Os 469 milhões de exemplares comercializados geraram faturamento de R$ 4,83 bilhões. A intenção do e-book não é substituir nada, ele é apenas uma nova plataforma que surge para suprir uma necessidade detectada e aquecer o mercado. Os e-books têm potencial para serem uma oportunidade promissora a favor do mercado editorial brasileiro, basta que as editoras e livrarias, bem como os leitores e consumidores de livros em geral, os vejam como tal. Isso se evidencia principalmente quando os livros digitais são publicados concomitantemente as suas respectivas versões impressas. “Na medida em que as editoras começam a fazer lançamentos simultâneos no papel e no meio digital, os números deverão crescer rapidamente”, declarou certa vez o diretor-presidente da Livraria Saraiva, Marcílio Pousada. Já dizia o ditado: o pior cego é aquele que não quer ver. 23


E-books conquistam seu espaço no mercado Por: Laís Guidi editorial

Comportamento 12 ................... Internet em excesso 13 ............... Perfil: Jisho Handa

Mesmo que os e-books ainda sejam vistos sob uma perspectiva de senso comum por leitores conservadores que não dispensam o tradicional livro de papel, e que julgam não haver espaço para esse novo tipo de livro no mercado editorial, eles deram um salto e começaram a caminhar para uma participação cada vez maior e mais significativa no faturamento das vendas no setor de livros. Nos Estados Unidos, a venda de e-books em 2012 correspondeu a quase um quarto (23%) do mercado de livros, segundo estudo da Associação Americana de Editores. No Brasil, embora ainda represente apenas uma fração do mercado editorial, a venda também está ganhando corpo: só a Livraria Saraiva, maior rede do País, vendeu R$ 500 mil em outubro de 2012. A nova tendência atrai o setor de gigantes do mercado tecnológico e editorial como a Microsoft, que ano passado investiu U$ 300 milhões na produção de e-books e dispositivos para a 22

sua leitura. O Brasil possui o 10º maior catálogo de livros digitais do mundo, com 11 mil títulos (em primeiro lugar está o Reino Unido com 1 milhão de títulos, seguido pelos EUA com 950 mil e a China com 200 mil), de acordo com dados do “The Global eBook Market: 2012” e da International Publishers Association. As apostas estão em alta: as projeções mais otimistas colocam os livros digitais como responsáveis por 10% do faturamento das vendas do setor brasileiro em 2014. Isso mostra a relevância que os e-books estão conquistando, além de a necessidade crescente de se dar mais atenção a eles e a tudo que podem oferecer. A palavra “e-book” é uma abreviação de “electronic book” (traduzindo para o português: livro eletrônico, ou digital). Apesar de existir certo “preconceito”, não considerando o e-book como sendo um tipo de livro, ele nada mais é do que uma publicação em

formato digital, diferente das encadernações impressas às quais estamos acostumados. Ele pode ser lido tanto em computadores, laptops ou tablets; quanto em aparelhos específicos para isso chamados “e-book readers”, ou simplesmente e-readers, os leitores de e-books (o Kindle da Amazon ou o Kobo, da fabricante canadense homônima, são exemplos). Em um mundo globalizado no qual a tecnologia se faz presente e tudo se torna digital, os e-books surgem para alegrar àqueles que buscam a praticidade. Os livros digitais são facilmente transportados, não ocupam espaço e podem ser lidos a qualquer hora e lugar. Além disso, para facilitar a leitura é possível fazer alguns acertos no arquivo ou no aparelho utilizado, como ajustar tamanho da letra, luminosidade da tela (de forma que não incomode a vista), espaçamento entre as linhas e etc. No e-reader

Tecnologia 16 .............................. Bullying 18 ...................... Redes Sociais e a falta de privacidade 20 ......................... Entrevista: Paulo Galvão 22 ..................................................... Ebooks

3


Cotidiano

Brechós ainda fazem sucesso na Vila Mariana Por: Juliana Aguilera e Laís Guidi Modernos ou tradicionais, estabelecimentos atraem os consumidores e moradores do bairro da cidade de São Paulo

Em pleno século XXI, marcado pela globalização e pelos avanços tecnológicos, a Vila Mariana, região nobre da cidade de São Paulo, ainda conserva um costume já considerado antigo e tradicional por algumas pessoas: o brechó. Tais lojas ou pontos de venda originalmente destinados a comercializar artigos usados, principalmente peças de vestuário, ou antiguidades, a preços mais baixos, resistem na Vila em meio a todas as mudanças vivenciadas pelos moradores nos últimos tempos. “Não podemos esquecer que o mundo moderno está em rápida transformação”, aponta o professor de antropologia e sociologia e doutor em antropologia urbana pela PUC-SP Eduardo Benzatti. 4

Entretanto, segundo ele, pequenos serviços tradicionais, como o brechó, mantêm a essência de um bairro, e é isso que fará com que continuem a existir. “Enquanto um lugar tiver ‘cara de bairro’, como a gente entendia algum tempo atrás, esses serviços vão ser mantidos”, justifica. Paixão por brechós Geni Paez, 54 anos, proprietária do brechó Mimos e Fricotes, localizado na Vila Mariana, é a prova de que os brechós não estão ultrapassados. Ela acabou entrando no ramo da maneira mais inusitada e, de certa forma, trágica possível: a loja de roupas que ela administrava foi assaltada duas vezes, levando a um prejuízo de mais de R$ 200 mil. Logo, sem ter merca-

doria para abastecer o estabelecimento, Geni recorreu à ideia de transformá-lo em brechó, substituindo as roupas novas e caras por outras usadas e mais baratas. Para ela, essa foi a sua grande sacada, pois desde o início dos acontecimentos já se passaram dez anos de trabalho com brechó. “Eu fiz três faculdades: jornalismo, direito e publicidade e propaganda. Exerci todas essas áreas, mas acabei me encontrando realmente em brechós. Eu adoro isso!”, declara Geni. Ela conta que não só vende, mas também troca e compra mercadoria. São artigos usados, mas com aparência de novos, que vão desde roupas e sapatos a móveis e pratarias. Todos os dias ela recebe novidades. E, em relação à freguesia, Geni também não tem muito com o que se preocupar: “Tenho uma clientela bastante fiel, mas aparecem clientes novos todo santo dia.”, comemora. A estudante de artes visuais Camila Vasques, 20 anos, começou a comprar em brechós há aproximadamente dois anos. Para ela, a vantagem de comprar em brechós, além da exclusividade e economia, é a variedade, aspecto citado por Geni. “Normalmente eu compro roupas, mas o legal é que tem de tudo. Encontramos desde roupas a sapatos, bolsas e acessórios”, explica. Mariana Marcondes, 19 anos, estudante de jornalismo

programa mudou muito de dois anos para cá devido ao advento do Facebook. As redes sociais são ferramentas importantíssimas para os comunicadores. Elas permitem a participação do ouvinte, e ele adora interagir. Ler a opinião que o ouvinte deu é cativá-lo. A participação do público torna o programa muito mais agradável, além de ser importante termos diferentes visões. Culturando – Qual dos seus dois programas tem maior audiência e por quê? Galvão – Quantitativamente, em números absolutos, o Jornal em Três Tempos tem mais audiência, porque é um programa à tarde, durante a semana. Na verdade o horário que a rádio tem mais audiência é o da manhã, das 7h às 10h, quando o ouvinte está saindo de casa e indo para o trabalho. Esse é o pico. Na hora do almoço, a audiência cai um pouco e volta a subir à tarde. Entre 18h e 20h as emissoras que não apresentam a Hora do Brasil também têm outro pico de audiência, pois os ouvintes estão voltando para casa. Entretanto, se você for comparar, o Bandeirantes Acontece tem uma liderança

mais folgada em relação ao segundo lugar. Culturando – Quais são os principais concorrentes do Jornal em Três Tempos e do Bandeirantes Acontece? Galvão – Em ambos, as principais rádios concorrentes são a CBN e a Jovem Pan. A antiga Eldorado, que agora é Estadão ESPN, tem uma programação bastante semelhante à nossa, mas os índices são bem menores (comparados aos da rádio Bandeirantes). Na Band News FM, a audiência também ainda é baixa, mas ela faz um ótimo trabalho, semelhante ao nosso. Culturando – Como é feita a escolha dos entrevistados dos programas? Galvão – No Bandeirantes Acontece eu entrevisto muitos médicos, filósofos, psicólogos… gosto do tema e, por isso, tem até um quadro chamado “Papo Cabeça”. Tomo muito cuidado ao pegar este tipo de profissional, escolho pessoas que sejam ligadas às universidades, porque assim eliminam as chances de o ouvinte achar que queremos fazer

alguma propaganda para aquele profissional. Isso não existe aqui na rádio Bandeirantes. As pessoas que são fontes estão falando justamente porque têm o que dizer, embasamento teórico, prático para falar. Ao longo do tempo a gente vai formando um banco de entrevistados. E é lógico que há outras entrevistas que são de acordo com o factual – algum acontecimento político, por exemplo. Culturando – Você comentou que ainda não existe nenhum panorama sobre a rádio Bradesco por ela ser muito nova. Houve alguma pesquisa para que ela fosse criada ? Galvão – Em relação à pesquisa eu não sei, mas tenho certeza que a criação da rádio tem muito a ver com o momento que estamos vivendo no Brasil, com eventos como a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas de 2016. Havia uma demanda muito grande por uma emissora esportiva. Hoje, eu sinto que as pessoas estão ouvindo, acompanhando, gostando. Acho que foi uma aposta muito boa, tanto do grupo Bandeirantes como do Bradesco, que com certeza irá, pelo menos, até 2016. E eu espero que persista.

21


Facebook mudou cara dos programas de rádio, diz Paulo Galvão

Por: Giovanna Mazzeo e Laís Guidi

Formado pela Faculdade Cásper Líbero, Paulo Galvão trabalha, atualmente, nas Rádios Bandeirantes e Bradesco. Em entrevista a Revista Culturando, o jornalista discute suas atividades, o quadro atual do radialismo no Brasil e a importância da opinião pública na definição da programação das emissoras.

Galvão – O índice de audiência no Ibope é medido todo mês e é sempre comparável à variação dos últimos três meses. Não tem como dizer que estamos em primeiro, mas, nos últimos tempos, a Bandeirantes tem ficado à frente, em diversos horários, de suas principais concorrentes que

Revista Culturando – Qual o perfil da rádio Bandeirantes? O que você pode falar do histórico dela? Paulo Galvão – A Bandeirantes surgiu há 75 anos e é uma das principais emissoras do país. Tem um público muito diversificado, diferentemente de outras, como a Jovem Pan. A gente pega todo o espectro, o público e a programação são bastante diversificados e o foco é na prestação de serviço, como em todas as rádios jornalísticas. A rádio veio do AM e há muito tempo já está no FM também. Além disso, o Grupo Bandeirantes tem muita força no esporte e a rádio não podia deixar de estar nesse segmento. Culturando – A Bandeirantes continua em primeiro lugar em audiência entre as rádios jornalísticas? 20

possuem programação semelhante, como Jovem Pan, Band News FM, CBN e Estadão ESPN. O Ibope tem uma importante função para o negócio: durante as visitas aos clientes, o departamento comercial da rádio mostra esses dados. Com base neles, o cliente escolhe em qual programa investir. Culturando – Qual o público-alvo dos seus programas? Galvão – Todos os que ouvem rádio no Brasil e, também, no mundo, por meio da internet. O que posso dizer em relação aos meus programas é que o Jornal em Três Tempos é um informativo das três às seis da

tarde, durante a semana; por isso, é muito mais focado no hard news, no factual, nas coisas que estão acontecendo em São Paulo, na prestação de serviço, no trânsito, no mercado financeiro, na previsão do tempo, nas coisas que acontecem na política e na esfera de segurança pública, por exemplo. Já o Bandeirantes Acontece tem um perfil completamente diferente – é um programa para terminar o domingo. Tenho procurado fazer um programa voltado para o entretenimento também, um negócio mais leve, com entrevistas de comportamento, saúde, música, para a pessoa relaxar no final do domingo. Culturando – Vocês utilizam pesquisas de opinião para ajustar o programa ao gosto do ouvinte? Galvão – A melhor pesquisa de opinião pública que existe para a gente são as redes sociais. Utilizamos muito o Facebook durante o programa. Fazemos perguntas, “jogamos” tudo na fanpage da rádio e nas nossas páginas pessoais também. São feedbacks que temos na hora, sentimos se o assunto está interessando ou agradando o ouvinte. O

também ressalta o fato de as peças encontradas em brechós serem únicas. “Neles você encontra peças que ninguém tem. Inclusive, algumas até têm história, pois são de décadas passadas”, afirma Mariana, que se declara apaixonada por brechós desde os 15 anos, quando morou na França. O novo conceito de brechó Ao longo do tempo os brechós foram evoluindo com a indústria da moda. Por mais que brechós tradicionais e fiéis às suas origens ainda façam sucesso, modelos mais modernos e com novas propostas de mercadorias estão conquistando seu espaço. Se antes os brechós eram destinados apenas a pessoas com menor renda, que só podiam comprar roupas mais baratas e usadas, hoje atraem também a classe média que busca roupas de marca a preços mais baixos. A Vila Mariana possui uma renda média em torno de R$ 3,6 mil mensais, acima do índice de cerca de R$ 1,3 mil do município, de acordo com a subprefeitura do bairro.

Foi partindo desse pressuposto que o estilista Tony Junior, 30 anos, deu origem ao seu brechó, também localizado na Vila Mariana. Formado em moda pela Universidade Anhembi Morumbi, já foi assistente da estilista Gloria Coelho por dois anos e começou garimpando peças para um acervo pessoal. Com o tempo, começou a usar as roupas em editoriais de moda e outros trabalhos que realizava, o que acabou o tornando conhecido no meio da moda, por ter essas peças raras, exclusivas e exóticas, de alto padrão. “No fim, de tanta coisa que eu juntei, acabou virando um negócio”, explica. Segundo ele, quem vem comprar no seu brechó busca esses “achados”, roupas de qualidade com preços populares, roupas boas que em suas lojas originais seriam muito mais caras. Tony afirma

que as roupas que vende em seu estabelecimento têm de ter alguma coisa “a mais”, pois o fato de ser estilista lhe possibilita ter outro olhar da roupa. “Meu brechó é diferente. Os produtos com os quais eu trabalho não são qualquer produto, não é só uma roupa usada. Tem informação de moda no tecido, no estilo, na cor, na marca, entre muitos outros aspectos”, comenta. Camila, que já visitou e comprou no brechó de Tony, não deixa de concordar com essa afirmação. “Eu acho, particularmente, que este brechó tem um diferencial pelo fato de trabalhar também com produtos internacionais, bem como por possuir outros produzidos pelo próprio dono”, opina.

Serviço Brechó Mimos e Fricotes Rua Coronel Lisboa, 622 Vila Mariana – São Paulo, SP Telefone: (11) 3796-0164 Brechó Tony Jr. Rua Humberto I, 999 Vila Mariana – São Paulo, SP Telefone: (11) 95986-0027 5


Projetos de revitalização podem incentivar a prática de esportes na região do Parque Dom Pedro II Por: Beatriz Branco e Fernanda Labate Desembarcando na Dom Pedro II, espera-se dar de cara com um local condizente com o bom estado em que se encontra a estação da linha vermelha do metrô. Porém, ao sair da tão bem cuidada estação, com suas paredes de ladrilho colorido que a diferenciam de qualquer outra da mesma linha, o cenário se modifica drasticamente; ela é cercada por uma praça completamente dominada por sem-tetos. Após cruzar uma passarela que passa por cima do rio Tamanduateí e uma caminhada de quinze minutos entre viadutos, chega-se ao que deveria ser um parque. Porém, pelo estado em que se encontra, não deveria atender pelo nome de “parque”. A região que liga o centro da cidade e a zona leste tem intenso fluxo de pessoas, tanto por transporte público quanto por carros. Com isso, durante as 6

últimas décadas, processos de alargamento de vias e a construção do chamado “fura-fila” fizeram com que o movimento aumentasse ainda mais, descaracterizando a região. A área verde é, hoje, mais escassa que nunca.

A limpeza do parque é feita de forma a tirar da “passagem” o lixo ali depositado, sem que haja qualquer preocupação em recolhê-lo do gramado e do campo de futebol (uma área sem grama, apenas com barro). O descaso com a manutenção da região a torna propensa a usuários de droga, sem-tetos e camelôs, além de torná-la totalmente imprópria e não convidativa para qualquer passeio ou atividade física. Mas isso

pode mudar com projetos recentemente elaborados por uma junta de arquitetos que têm o objetivo de fazer com que a região deixe de ser uma barreira e ganhe um caráter público. O projeto consiste em, além de recuperar boa parte da área verde da região e desemaranhar o nó viário ali formado, implementar uma lagoa, um SESC e um SENAC. Tudo isso tornaria a região tão atrativa quanto qualquer outro parque da cidade e se tornaria um bom lugar para que a grande massa de pessoas que trabalham nos edifícios no entorno da região praticasse atividades físicas. Enquanto o projeto não sai do papel, a região continua sendo apenas uma “passagem obrigatória” para quem precisa tomar um determinado ônibus ou moradia para mendigos. Atividade física mesmo só na hora de correr para pegar o próximo trem na estação de metrô.

ilusão. Muitos dos internautas (e não exclusivamente jovens) não têm noção do que é feito com seus dados e fotos divulgados em seus perfis; e ainda pior: as redes tornaram-se, para alguns, uma espécie de diário virtual. Aplicativos como o Foursquare, que permite a seus usuários compartilharem onde estão (ou seja, sua exata localização). No Instagram, os internautas registram sua vida

em fotos, marcando os lugares em que foram tiradas e com quem costumam estar. Estes meios, principalmente o Twitter, ganham, cada vez mais, um aspecto exagerado em seu caráter comunicacional; as pessoas passaram a ter necessidade de registrar tudo o que falam, pensam e - o mais importante – a todo instante. Por outro lado, há meios de controlar essa exposição. Por

conta de todos estes casos envolvendo exposição de intimidade, cyber bullying, entre outros, todas essas redes dão opções aos usuários como a de trancar seus perfis e escolher quem pode visualiza-lo. Cabe às pessoas fazerem bom uso dessas ferramentas que têm criado inovações importantes para as novas gerações, como o fato de terem se tornado, para alguns, até ferramenta de trabalho.

19


Redes sociais: à beira do abismo da falta de privacidade

Por: Beatriz Branco, Fernanda Labate, Giovanna Mazzeo, Juliana Aguilera e Laís Guidi

Por: Fernanda Labate

Assim como durante as épocas em que rádio e televisão foram inventados e trazidos a público, a chegada da internet provocou - e provoca até hoje - discussões quanto a seu impacto na sociedade. Porém, no caso dela, essa polêmica é ainda maior. Isso se dá pelo fato de que, ao contrário do que acontece com os outros meios de comunicação citados, a internet não é algo a ser apenas contemplado por quem tem acesso à ela; os internautas têm não apenas a possibilidade mas a função de interagir com ela, gerar e compartilhar conteúdos e informações. Os anos 2000, porém, foram marcados por um advento ainda mais intrigante quanto a seu papel na vida pessoal de cada usuário e da sociedade em si, são as chamadas redes sociais. No Brasil, este movimento se iniciou com o Orkut. Filiado ao Google, o site 18

Admirável mundo novo

chegou a ultrapassar a marca de 30 milhões de usuários antes que estes passassem a trocá-lo pela plataforma americana Facebook. E foi no auge do Orkut que os problemas começaram a aparecer. Dentre questões envolvendo pirataria nas chamada “comunidades” e divulgação de fotos impróprias que burlavam sem dificuldades as normas do site, o Orkut enfrentou sérios problemas envolvendo hackers. Diversos tipos de correntes de vírus (chamados de worms) circularam e algumas delas permitiam aos hackers ter acesso a dados pessoais dos usuários. Houveram mudanças nas configurações de privacidade e o site tentou se reinventar porém, hoje, quase mais ninguém utiliza a plataforma, transformando-a praticamente em um cemitério digital. Em contrapartida houve a popularização

do Facebook e do Twitter. O primeiro, com praticamente todas as funções que o Orkut disponibilizava, incorporou a possibilidade de os usuários compartilharem o que estão fazendo, onde e com quem. Essa, por sua vez, é a única função do Twitter. Ele ganhou força principalmente após diversas celebridades criarem seus perfis mas, por terem muitos seguidores e pelo compartilhamento com todos eles ser instantâneo, essas pessoas de maior visibilidade são as primeiras a ter suas imagens corrompidas e seus nomes envolvidos em escândalos de privacidade. Um dos casos mais recentes foi o de Carolina Dieckmann, que teve fotos íntimas publicadas na rede após deixar seu computador no conserto. Hoje, seu nome batiza uma lei de privacidade em vigor desde abril que regulamenta os cyber crimes praticados no Brasil, punindo todo e qualquer tipo de violação dos mecanismos de segurança da internet para obtenção de informações privadas ou comerciais. Casos como esse não eram inexistentes antes do “boom” das redes sociais; Vanessa Hudgens, Miley Cyrus e outras celebridades tiveram suas fotos íntimas expostas antes que o Twitter tivesse tantos adeptos quanto tem hoje. Mas será que sem o surgimento destes meios de interação, tais episódios teriam se tornado tão frequentes? Por um lado, a internet dá aos usuários a possibilidade de sentir-se, de certa forma, protegidos pelo anonimato a que pensam se submeter. Por outro lado, tal sensação de anonimato não passa de

Com a globalização e o crescente destaque adquirido por diversos países que não os Estados Unidos, a economia mundial fica cada vez mais misturada e não mais dependente de um só polo. Isso faz com que, cada vez mais, empresas norte americanas decidam por buscar mão-deobra em outros países onde esta é mais barata, principalmente na Ásia. Com o objetivo de alavancar os lucros da empresa, o ex-CEO da IBM, Samuel Palmisano, inovou e modificou seus serviços para trazer melhores resultados a seus clientes. Ao ter suas estratégias repensadas e abrir também seu mercado para China e Índia, os lucros da IBM logo melhoraram, e seu destaque como gigante tecnológica foi notório. Isso nos leva a uma reflexão: atualmente, os Estados Unidos não se tornam menos que nenhum outro país, mas passam a descer de patamar e estão no caminho de se “igualar” perante o resto do mundo (já que novos gigantes estão surgindo). Acostumada a sempre estar um degrau

acima de tudo e poder, de certa forma, ditar as regras do jogo, a economia norte americana era acomodada. Precisa agora de inovações, de forma a adequar-se ao novo cenário da geoeconomia mundial. Porém, para isso, é preciso desconstruir um ideal preso na mente da própria sociedade: como um animal no topo de uma cadeia alimentar, de certa forma nunca tiveram a quem temer. Nunca deram valor tanto à outras línguas como à sua própria já que esta é universal e o “natural” até hoje era o resto do mundo buscar aprendê-la. Esta mudança de conduta e pensamento começa, ao que tudo indica, com a população feminina mundial. Estudos apontam que, ao contrário dos homens, se não ficam satisfeitas com um aspecto de sua vida, fazem o possível para modificá-lo. Com isso, pode-se observar um fenômeno mundial onde a mulher, antes nascida para ser dona de casa, passe a aproveitar o tempo e dinheiro que tem e volte a estudar. É possível que elas perce-

bam que, assim como ocorre nos Estados Unidos, o mundo tem carência de inovação (como o desenvolvimento de novos modelos econômicos, por exemplo) e inovação só é possível por meio dos estudos. A crise norte americana de 2008 e a crescente perda de poder dos EUA sobre o mundo implica em consequências também para sua própria moeda. Como um ditador da economia, o dólar é, como a própria língua de seu país, uma moeda universal hipervalorizada. Mas sua importância vem sido discutida e colocada em xeque perante à moedas de outros gigantes tais como a China. Esta, muito mais barata, estimula o consumo e torna fácil o “ganhar dinheiro” por lá. Isso não indica que, necessariamente, o dólar torne-se uma moeda de nenhum valor para a economia mundial mas, assim com o os próprios EUA como nação, se tornará cada vez mais “comum”, mais equiparada a outras, talvez até ao real.

7


Arte

O parque tecido à mão Por: Beatriz Branco e Fernanda Labate

Entrevista com estudante Indy Naíse, 20 anos, vitima de cyberbullying Revista Culturando - Conte um pouco da sua historia com relacao ao cyberbullying? Indy Naíse - Bom, quando eu tinha 17 anos fizeram um formspring (site de perguntas e respostas bem popular) com fotos minhas, me mandaram coisas no meu formspring pessoal, por esse formspring fake, me insultando, falando coisas que machucam mesmo. E fizeram montagens com fotos pessoais minhas, me expondo, o que me deixou muito incomodada. Culturando - Voce sofre/ sofreu bullying fora da internet? Voce sofre/ sofreu so cyberbullying?

Desde o aniversário de São Paulo, quem entra no Pavilhão das Culturas Brasileiras no parque do Ibirapuera se depara com árvores um tanto quanto incomuns. Com curadoria do designer e tecelão Renato Imbroisi, a exposição “O Parque Tecido à Mão” preenche o pavilhão com bosques e lagos feitos inteiramente de 1800 metros de tecido artesanal. Renato, juntamente com a designer têxtil Liana Bloisi e a mestre tecelã Eva Maciel da Cunha, desenvolveu as ideias e técnicas para a confecção do trabalho no bairro rural do Muquém, sul de Minas Gerais. A produção desses tecidos no logal continua e, sob a direção de Renato, é retratada no vídeo Ibirá-Muquém, também exibido em meio às árvores de tecido. Além da obra em si, a exposição conta com uma oficina de tecelagem coordenada por colaboradores. Visitantes podem, às terças e quintas, sentar-se em um dos teares 8

disponíveis no centro da mostra e aprenderem desde a mais simples à mais elaborada técnica de tecelagem. Ao final, o material produzido por eles se torna parte da exposição. Em meio aos teares, um emaranhado de arame que leva o nome de “Aranha [...]” expõe trabalhos do tecelão Alexandre Heberte, um dos mestres da oficina. Suas obras utilizam desde as fibras usadas no resto da exposição, linha de tear e arame até fones de ouvido, filmes fotográficos e pneus de brinquedo. “A última aula é na quinta e, depois, vamos chamar de três em três alunas para fazer os acabamentos dos trabalhos“, disse o colaborador, que pretende incorporar a produção dos alunos na “Aranha”, parte mais inovadora da mostra. A mostra encontra-se na primeira das três etapas propostas: flora, fauna e gente. Cada uma contará

com uma exposição própria. Serviço Ibirá-Flora – “O Parque Tecido à Mão” Terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos das 9h às 17h de 25/01 a 29/07 Entrada franca Pavilhão das Culturas Brasileiras (próximo ao portão 10 do parque do Ibirapuera) – Rua Pedro Álvares Cabral Telefone: (11) 5083-0199

Indy - Sim, eu sofri ambos. Hoje não acontece mais, sei que não preciso sofrer calada. Culturando - Como voce lidou com o cyberbullying? Indy - No começo fiquei só incomodada e guardei pra mim. Depois, veio a angústia, eu chorava e não sabia o que fazer. Sentia ódio de mim e ódio de todos. Desabafava com minhas amigas e minha mãe. Eu sempre dizia que queria ser bonita, pois eu acreditava que era isso que faria com que parassem de me insultar. Agora sei que o problema não era comigo, era com essas pessoas.

não se arrumar ou por não ter perdido o BV, coisas bobas mas que machucam. Sempre sofri bullying, sempre numa fase diferente. Eu nunca dei tanta importância, ficava chateada, óbvio, mas eu tentava esquecer. Mas aos 17 pegaram realmente pesado, e isso mexeu muito comigo.

Culturando - Quem foi seu principal apoio durante o periodo?

Culturando - Voce fez/ faz tratamento psicologico para ajudar a lidar com o problema?

Indy - Eu ameacei ir à delegacia e entrar com um processo, caso não excluíssem o formspring em 24 horas.

Indy - Não. Apesar de ter mexido com meu emocional, tive apoio de pessoas realmente especiais, que não deixaram isso chegar aos extremos.

Culturando - Voce conhecia/ conhece o agressor?

Culturando - Sofreu/tem algum trauma psicologico encadeado pelo cyberbullying? Indy - Ainda sou encanada com minha aparência por conta disso, mas trato logo de esquecer. Não faz bem ficar se sentindo feia, se odiando. Isso só faz com que as pessoas se afastem de você. Aprendi a me amar.

Indy - Meus familiares e amigos me ajudaram muito. Culturando - Voce tomou alguma atitude para resolver a situacao?

Indy - Eu conhecia, eram duas amigas muito próximas e não nos falávamos há alguns meses. Desentendimento normal de adolescentes, mas pra elas acho que não foi bem assim e resolveram se divertir as custas da minha dor. Atualmente, por já ser conhecido mundialmente, o cyberbullying é combatido por muitos sites, comunidades em redes sociais, ONG´s e pessoas utilizam até o youtube como busca de ajuda para impedir o cyberbullying.

Culturando - Voce sempre sofreu bullying ou teve um momento especial que motivou o bullying? Indy - Desde o fundamental é “normal” sofrer bullying, crianças são cruéis nessa fase. Daí na adolescência, ensino médio, a gente sofre bullying por motivos diferentes, por 17


Tecnologia

Uma ameça para quem sofre calado Cyberbullying é a adequação da a violência à internet e às mídias sociais Por: Beatriz Branco Os atos de constranger, irritar, menosprezar, encher, intimidar e “zoar”, juntos, simbolizam o bullying. Esse termo americano, que foi abrasileirado nos últimos anos, ocorre por meio de ações violentas, que podem ser tanto psicológicas quanto físicas. Ele pode ser praticado tanto individualmente como em grupo. Um dos tipos dessa agressão é o cyberbullying. Ele é caracterizado por ser um bullying que ocorre na in-

ternet, pode ser praticado nas mídias sociais, como twitter e facebook, por email ou mesmo por mensagens de texto. O maior diferencial entre ele e o bullying é que pode ocorrer 16

a qualquer momento do dia, e não há violência física, porém há o abuso da agressão psicológica. Alunos entre 14 e 18 anos, normalmente ainda na escola, são o público mais atingido pelo cyberbullying. Uma pesquisa foi realizada com 5.168 alunos nas cinco regiões do País, dentre eles, 10% já sofreram ou praticaram bullying, enquanto 16,8% foram vítimas e 17,7% praticaram o cyberbullying.Essa pesquisa foi feita

pela ONG Plan Brasil (Organização de origem inglesa que já atua em mais de 70 países, tenta buscar um futuro melhor para as novas gerações), em 2011,

Quando questionada sobre como diminuir o cyberbullying, a estudante Indy Naise, opina que “Acredito que é difícil ter um controle sobre isso. As pessoas quando querem machucar as outras não veem limites e vão até onde podem. São pessoas mal resolvidas consigo mesmo, que guardam algo de ruim dentro delas. Elas sim precisam de um tratamento de verdade, pra se encontrar. Pessoas assim não são normais, são infelizes, insatisfeitas com a vida. Mas acho que um bom começo pra isso diminuir é que as vitimas não sofram caladas, para os agressores não saírem impunes”. Outro estudo foi feito com 2542 estudantes de 7 países diferentes da America Latina. Do total, 12,1% experimentaram alguma forma de cyberbullying, aproximadamente 305 estudantes. No Brasil, das pessoas que praticam o cyberbullying, 8,4% utilizam o celular enquanto 4,7% praticam através do MSN. Dentre todos os países, o Brasil, foi o país que possuía o maior numero de vitimas de cyberbullying através do MSN, cerca de 8,2%. Esse estudo feito em 2010, pela Faculdade de Comunicação de Blanquerna, em Madrid, porem vale a pena, relembrar que na época que foi realizado esses estudos, as redes sociais ainda não estavam em pleno funcionamento como atualmente.

Saudade é recordar Por: Laís Guidi

Em sua história recente, a Música Popular Brasileira traz grandes artistas e transita de canções de protesto a melodias românticas Trinta anos após a morte de Elis Regina, sua filha, Maria Rita, faz shows em sua homenagem e fãs relembram músicas de protesto. No 30º aniversário de sua morte, Elis Regina voltou a ser assunto na mídia, ganhou destaque especial na Virada Cultural de São Paulo, realizada em maio, e foi homenageada pela filha, Maria Rita, numa turnê intitulada “Viva Elis”. Nesses shows, a cantora interpretou pela primeira vez um repertório composto exclusivamente por canções gravadas pela mãe, algumas das quais retratam o momento sociopolítico das décadas de 1960 e 1970. Elis viveu a época da ditadura militar brasileira (1964 a 1985), período de repressão, controle e supressão das liberdades individuais. Qualquer composição musical ou mesmo declarações que ameaçassem a “normalidade” política da época era registrada como suspeita. Artistas como Chico Buarque e Gilberto Gil sofreram com a censura e foram perseguidos, presos ou exilados. Elis, sempre engajada politicamente (filiou-se ao PT em 1981), criticou o regime ditatorial em suas músicas. Uma delas, a intitulada “O Bêbado e o Equilibrista”, composta por João Bosco e Aldir Blanc, é considerada o hino da anistia. Durante a ditadura, a artista escapou de ser presa por conta da sua popularidade. A cantora morreu precocemente em 1982, com apenas 36 anos, em consequência de altas doses de cocaína e

álcool. Hoje, trinta anos após a morte de Elis, o panorama político brasileiro é diferente: a ditadura terminou, os governantes são escolhidos por meio de eleições e o direito à liberdade de expressão foi restabelecido com a promulgação da Constituição de 1988. Novo cenário O cenário musical também mudou. “A ditadura militar mexeu muito com o povo brasileiro, assim como mexeu com os artistas. Por isso, eles faziam várias músicas de protesto que acabavam sendo bem aceitas pelo público. Hoje, não se age mais tanto dessa forma, pois os aspectos desagradáveis que temos no País não afetam muito diretamente as pessoas”, esclarece Nestor Avelino Pinheiro, 72, economista aposentado que conviveu com o cantor Chico Buarque, um dos ícones da luta contra o regime. Segundo Pinheiro, a exceção seriam os grupos de rap e hip hop, porém, mesmo assim, sua atuação seria superficial. “Eles falam de ambiente social, violência e coisas do tipo; mas suas músicas são passageiras. O cantor fala,

as pessoas ouvem e não se toma nenhuma providência a respeito”, diz. Pinheiro avalia que o que se passa hoje é diferente do tempo da ditadura, quando havia músicas de protesto cuja causa o povo abraçava. O professor de Sociologia e Antropologia da ESPM-SP, Pedro Jaime de Coelho Júnior, concorda que, atualmente, os artistas mais engajados politicamente seriam os do gênero rap e hip hop, originários da periferia, como os grupos O Rappa e Racionais MC’s. “Talvez possamos dizer que fazem uma música política aqueles que são vítimas de algum tipo de opressão. Por isso, os moradores da periferia a fazem”. Segundo o professor, na geração de Elis Regina, a classe média era provocada a pensar sobre política. “Como hoje 9


ela talvez não se ache oprimida, não procede da mesma forma”, explica. Entretanto, não é esse tipo de música (a música de protesto de grupos como O Rappa e Racionais MC’s) que as pessoas mais ouvem e consomem hoje. Os vencedores da edição de 2011 do Prêmio Multishow de Música Brasileira comprovam isso. Nas categorias “melhor clipe” e “melhor álbum”, a vencedora foi a banda Restart; nas categorias “melhor música” e “melhor cantor” (o vocalista Di Ferrero), a vencedora foi a banda NX Zero; nas categorias “melhor artista sertanejo” e “melhor cantora”, Paula Fernandes; na categoria “melhor show”, Luan Santana; na categoria “melhor grupo”, Exaltasamba e Ivete Sangalo venceu na categoria “melhor DVD”. Todos esses artistas valorizam e abordam em suas músicas temas como o amor, a festa, o carpe diem (expressão em latim que significa “aproveite o momento”) e o prazer; estando distantes tanto do engajamento político que era visto na época de Elis Regina, quanto do que é visto nas músicas dos Racionais MC’s, por exemplo. Para o professor de Filosofia e de Lógica da Argumentação da ESPM-SP Eduardo Oyakawa, hoje predomina a música do entretenimento, das “danças fáceis e da 10

risada sem graça”. “Nós temos ávidas gravadoras que impõem certo tipo de ritmo, uma musicalidade pasteurizada e homogeneizante. O Brasil era mais lírico e poético há trinta anos do que é hoje”, cita. Entretanto, de acordo com Oyakawa, as gravadoras

apenas exibem aquilo que vende. Sendo assim, se há essa tendência, é porque há quem a consuma. Segundo ele, isso também tem relação com uma geração não só brasileira, mas mundial, muito marcadamente individualista, narcísica e tecnológica. Influência do contexto social e político O cenário cultural e musical de hoje, se comparado à cena da época da ditadura militar brasileira é diferente e o comportamento individualista de grande parte dos jovens atuais é justificado pela situação política e econômica contemporânea, diz o professor Coelho Júnior. Na ditadura, os jovens sabiam que, depois de formados, tinham amplas possibilidades de iniciação no mercado de trabalho, e isso fazia com que, durante os estudos universitários, eles se engajassem mais em discussões de teor político. O jovem de hoje

se defronta mais com uma situação em que ele não tem certeza sobre o dia de amanhã. “Os mercados são muito voláteis e as certezas estão esfumaçadas. Talvez por conta de tudo isso, o jovem coloque salvar a sua pele em primeiro lugar, em vez de discutir as grandes questões políticas da sociedade”, afirma. Se esta é a sociedade das inseguranças, a mentalidade é a do escapismo: se não se tem certeza de nada, deve-se curtir o momento e se esbaldar. “O jovem é anestesiado por tudo isso. Esse prazer excessivo esconde a dor, o medo da incerteza do futuro, de não saber como se encaixar”, expõe Coelho Júnior. O professor Oyakawa concorda com essa afirmação. “Alcançamos um grau de estabilidade democrática e crescimento econômico que, paradoxalmente, só enfatiza esse individualismo. As pessoas só querem trabalhar, se dar bem e ter muita diversão”, observa. Segundo Norma Grillo, 74, professora aposentada, o povo “cansou” tanto que hoje não toma mais conhecimento da política e acaba se prendendo a coisas menores.

15


tivos, é considerada uma religião mais "aberta" que outras, já que apesar de possuírem preceitos (não tirar a vida, desenvolver a compaixão, não fazer uso de drogas ou bebidas alcóolicas e não ter relações sexuais), monges podem exercer qualquer ofício e ter qualquer tipo de passatempo. "Posso até ir a uma danceteria ou surfar", garante ele. Japão Durante a entrevista ficou evidente que o monge, talvez por seguir os pensamentos budistas que focam no presente, não se preocupa com datas e acredita ter ido ao Japão há uns dez anos. Ele ficou estudando por um ano, e neste período esteve hospedado em dois mosteiros, nas cidades de Kikuti e Nihama. Sobre a experiência que teve no exterior, o monge garantiu que ir ao Japão estudar pelo menos uma vez na vida a quase que obrigatório a um monge.

14

Ao ser questionado sobre o maior desafio de sua vida (e após certa hesitação), Francisco contou que foi, com certeza, desfilar em uma escola de samba. Classifica o feito de ter saído na avenida pela Barroca Zona Sul como um desafio por ter sido apenas um luxo; não ganharia nada além de prazer pessoal ao fazê-lo, mas sempre teve muita vontade. Como maior conquista, por outro lado, diz guardar várias. Parte do princípio que qualquer meta alcançada é uma nova conquista, desde passar no vestibular, mas não é um aspecto da vida em que preste muita atenção. Justamente pelo fato de monges budistas se preocuparem com o "aqui e agora", ele diz não ter nenhum sonho: considera-se uma pessoa realizada. Copan A ideia de meditar no heliporto do edifício Copan surgiu em 2008. O intuito do monge era o de meditar em conexão

e sintonia com a cidade, na mesma vibração de toda sua correria, agitação e até sofrimento. De início, pensou em propor a ideia a algum dos prédios da avenida Paulista, mas o síndico do Copan topou prontamente, talvez como forma de evidenciar o edifício, sugere ele. Desde de então ele medita todas as terceiras sextas-feiras de cada mês por cerca de uma hora com cerca de mais cinco colegas. Os encontros ficaram famosos despertando o interesse da imprensa e fazendo com que esta espalhasse uma ideia errada sobre eles. O monge criticou o site Catraca Livre por ter colocado serviço na reportagem sobre a meditação dando a entender que a prática era aberta ao público. Ele explicou que, por questões de segurança do prédio e da própria imagem dos monges, não é permitido que seja algo aberto a qualquer um. "Se uma pessoa cai lá de cima, vão sempre relacionar aos monges", explicou Handa.

No escurinho do cinema Um pouco da história do cinema brasileiro, e como se tornou o que é hoje Por: Beatriz Branco

A história do cinema no Brasil começou há mais de um século, quando o primeiro filme foi exibido no Rio de Janeiro, em 1896. O cinema, que ainda era muito precário, começou a receber os primeiros investimentos no inicio da década de 1910. Os primeiros tipos de filmes produzidos no Brasil foram os “cines jornais” por volta de 1920, ou seja, notícias que eram transmitidas em formato de filme, os principais temas eram futebol, carnaval, festas, estradas entre outros. Hoje em dia, o Canal Brasil ainda transmite “cine jornal” aos sábados às 21:00. Uma grande influencia para o cinema brasileiro foi a chegada dos italianos, trazendo consigo uma grande bagagem cultural vista tempos depois em filmes como Inocência (1915) e O Guarani (1926). Além de a produção nacional ser difícil, a transmissão dos filmes era bastante com-

plicada. O material era importado e caro. “O primeiro filme que vi foi um seriado, não me recordo o nome. Tinha apenas 15 anos. Deve ter sido em 1939, em São João da Boa Vista. Era em preto e branco, mas já era falado. Passava aos domingos, às 18h. A cidade toda se reunia, era um grande evento, tão importante quanto uma missa naquela época”, conta Francisco Peres Paschoal, 86. O primeiro filme sonoro brasileiro foi produzido em 1929, chamado Acabaram-se os otários, originalmente uma comédia. Como era difícil os filmes norte-americanos chegarem ao Brasil, a década de 1930 foi uma fase otimista para o cinema brasileira com produção de mais de 30 filmes incluindo o filme “Limite” de Mario Peixoto que apesar da pouca popularidade da época é considerado hoje um marco no cinema experimental. Nas décadas seguintes, os americanos começam a fazer grandes investimentos no cinema brasileiro, tanto em instalações como em equipamentos para produção de

legendas. Eduardo Muneratti, 65, conta que assiste a filmes desde seus 7 anos todas as semanas, pois seu pai era cinéfero. Além disso, ele relata que os primeiros filmes nacionais que viu foram da produtora Atlanta. Os anos 70 e 80 não foram benéficos para o cinema brasileiro devido à crise e a falta de investimentos que foram implantados ao longo dos anos. Durante o impeachment do Collor, o cinema não foi salvo, sendo também alvo de novas legislações e de contas confiscadas, como a da Embrafilme. Somente no ano de 1992 que tudo começa a se reestabilizar. Novos mecanismos de apoio à produção, baseados em incentivos fiscais e numa visão neoliberal de “cultura de mercado”. A partir de 1995, a produção cinematográfica brasileira “deslancha” e começa a ser conhecida internacionalmente. A partir dos anos 2000, o Brasil começa a importar alguns profissionais do ramo. O filme, Tropa de Elite atingiu grande sucesso internacional, porém atualmente o filme O Palhaço está correndo ao Oscar 2013 de melhor filme estrangeiro. “O cinema brasileiro teve uma melhora inacreditável. A nova geração não aprecia realmente como ele evoluiu porque não tiveram a oportunidade de vivenciar a mudança. A tecnologia ainda me surpreende muito. Acho que o cinema aqui possui grande potencial, e é impressionante o quanto já se modificou ao longo dos anos.”, alega Francisco.

11


Comportamento

Internet em excesso causa problemas na vida agredir os pais e, por isso, se de jovens Por: Maha Omar Assaf

A internet é um dos maiores sistemas de comunicação e traz a notícia rapidamente, além de interligar o mundo todo. Mas hoje em dia ela não serve apenas para informar as pessoas, mas também para o relacionamento entre elas, como ocorre nas redes sociais e em jogos online. O que pode ser percebido é que as pessoas acabam tendo uma vida dupla, já que na vida real ela pode algo e, na vida ‘virtual’, outra pessoa. Segundo Samantha Martins, escritora do Blog Meteorópole, algumas pessoas acreditam que não há regras na vida ‘virtual’ e que ela é uma espécie de território livre, onde pode se fazer o que quiser. Para o professor da ESPM de São Paulo e antropólogo Carlos Frederico Lúcio, as pessoas associam a internet a computadores, mas o que acontece hoje em dia é que ela pode ser acessada em aparelhos eletrônicos como tablets e celulares. “Hoje vivemos em um mundo onde as pessoas criaram uma dependência muito grande de aparelhos que possuem internet e elas não conseguem se livrar disso”, explica. “Quando as pessoas vão a um teatro para se divertir e se desligar do mundo acabam não conseguindo se controlar e no primeiro momento que o celular vibra eles já pegam o celular para ver o que esta acontecendo”, observa Lúcio. Ele acredita que a internet tem uma grande influência no 12

comportamento das pessoas, pois ela faz parte do atual sistema de veiculação, assim como os rádios, os jornais e as televisões. Os meios de comunicação sempre tiveram um poder muito grande de influência na vida das pessoas e, hoje em dia, isso não é diferente. O que acontece é que o mundo virtual cresceu e trouxe novi-

dades que fazem com que a informação chegue mais rápido para a sociedade. Mas junto com as redes sociais e os jogos online vêm também os vícios que muitos jovens acabam desenvolvendo. Vício Segundo uma reportagem do programa Profissão Repórter, da Rede Globo, muitos adolescentes largaram seus estudos por terem passado muito tempo se dedicando a jogos online. Outros são tão viciados que já chegaram a

tratam em clínicas especializadas para o vício em internet. Muitos pais acreditam que perdem o controle do filho quando ele está conectado, mas hoje em dia controlar isso esta cada vez mais difícil, já que existem escolas que aceitam eletrônicos dentro da sala de aula. Mas também há instituições que proíbem o uso de qualquer tipo de eletrônico em todo canto da escola, com o objetivo de que os alunos se relacionem mais entre si. Rose Romão, mãe de uma adolescente de 15 anos, explica que sua filha está sempre conectada e que isso já se tornou um vício muito grande. “Eu perco o controle da minha filha quando ela esta na internet. Às vezes até brigamos, pois ela fica fascinada quando se trata de ficar conectada”, diz. A aluna de direito Mariana Ruíz, que este sempre conectada à internet por meio de seu smartphone ou notebook, acredita que esse vício surge porque, na cabeça das pessoas, a vida online é mais fácil, já que ninguém é obrigado a estar em ‘carne e osso’ se expondo e a única coisa que é necessária é se expressar com as palavras que elas acreditam serem as certas. “O mundo virtual influencia muito mais a vida das pessoas que são viciadas por esse outro mundo. E isso não é bom. A internet está cada vez mais acabando com o contato que as pessoas tinham umas com as outras”, reconhece Mariana.

Monge budista famoso por meditar no heliporto do edifício Copan conta sua história Por: Fernanda Labate e Giovanna Mazzeo Com sua vestimenta de trabalho típica dos monges budistas, Jisho Handa, 57, nos recebeu no templo Busshinji, de que faz parte, na última quarta-feira (17), na região da Liberdade, São Paulo. A monotonia do lugar tranquilo e calmo, ideal para meditar, só é quebrada com a obra que está sendo feita no local. Mesmo estando em um lugar bastante movimentado e de trânsito intenso, próximo à região central da cidade, o templo preserva suas características. Apenas de bastante tradicional, o templo é bastante receptivo e faz parte do roteiro do turístico do metrô, e por isso recebe visitas frequentemente. O monge, conhecido pela mídia por sua iniciativa de meditar no heliporto do edifício Copan, na verdade atende pelo nome de Francisco e veio da cidade de Salto no interior para fazer faculdade em São Paulo. Ao contrário do especulado sobre um monge, Francisco nem sempre foi tão ligado à religião apesar de ter ingressado no budismo na década de 80. Além de ter cursado Comunicação Sociais na PUC, também fez mestrado e doutorado em História na Unesp e ressalta que, se não tivesse seguido o caminho que seguiu, provavelmente estaria dando aulas em universidades. A rotina no templo começa cedo, com uma sessão de meditação chamada Zazen (pela definição “sentar-se zen”) às 6h20, às 8h10 começa a cerimônia matinal que é aberta ao público e é realizada pelo mestre e por um ajudante. Entre essas primei-

ras atividades e a última, já às 20h (segunda sessão de Zazen), o monge reserva seu tempo para atender os visitantes além de ser um dos responsáveis pela limpeza e manutenção do templo. Às quartas-feiras e aos sábados, acontece o Zanzen para iniciantes. Nestes dias os monges orientam as pessoas que estão interessadas em aprender a meditar a controlar sua respiração, sua postura e a entrada e saída de pensamentos na mente. "A mente é como uma casa vazia, e o pensamento é um ladrão. O que um ladrão faz em uma casa vazia? Vai embora", diz

ele, exaltando que, durante a meditação, os pensamentos não devem ser alimentados, devem ir embora do mesmo jeito que chegaram. Quando questionado sobre como funciona o budismo, o religioso revela que é como uma opção de vida; não há preocupação com o início dos tempos ou com seu fim, não se perguntam sobre céu e inferno, assim como não é messiânica, ou profética. Compara a religião também à filosofia dizendo que, ao contrário da última, não há relação com o metafísico e sim a preocupação com o "aqui e agora". Por estes mo-

13


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.