Projeto ERASMUS+ KA1 MAIS – Mobilidade para a Aprendizagem, Inovação e Satisfação
Um Agrupamento de escolas à procura de MAIS (Motivação, Aprendizagem, Inovação, Satisfação Handbook do projeto 2015-1-PT01-KA101-012687
Agrupamento de Escolas Carlos GargatĂŠ Pcta. Frederico de Freitas Quintinhas 2821-002 Charneca de Caparica Tel 212979660 Email geral@aecg.pt Webpage: http://crelorosae.net Handbook do projeto MAIS
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Índice Apresentação ................................................................................................................................ 4 Porquê um handbook.................................................................................................................... 5 Resumo do Projeto ERASMUS+ KA1 MAIS. . . Projeto de mobilidade para a aprendizagem, inovação e satisfação .................................................................................................................... 6 A Escola do Futuro e as suas características - Teresa Pombo ....................................................... 8 E os pátios? Não se aprende lá? A escola não começa aí? - Helena Serôdio.............................. 13 Qual a razão do sucesso educativo da Finlândia? - Ilda Ribeiros ................................................ 15 Desenvolvimento profissional do docente - Cláudia Corado ...................................................... 18 O que mudaria no sistema educativo português? - João Paulo Proença.................................... 20 Mas eu não vivo na Finlândia! E agora? - Lucinda Dias............................................................... 24 Motivação, aprendizagem, inovação, satisfação. O quê? - Maria José Monteiro ...................... 27 Professores Saudáveis, a diferença na Escola - Maria do Céu Oliveira ....................................... 30 Professores felizes, alunos motivados - Ângela Durão Lopes ..................................................... 32 Um experiência de Jobshadowing em ENNIS na Republica da Irlanda – João Bispo, Ângela Veiga, Anabela Correia e Laura Casca ......................................................................................... 35 Gestão e Liderança - Maria da Graça Carvalha ........................................................................... 37
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Apresentação Retomar a participação do Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté em projetos internacionais foi uma das metas do Projeto Educativo, para o triénio 2012-2015, amplamente superada. Nesse período, fomos parceiros em 2 projetos europeus, "RECIPE" e "Let's Play Together", a par de termos acolhido uma docente Sueca em jobshadowing, contudo, sentimos que deveríamos proporcionar uma experiência internacional de aprendizagem aos docentes do Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté. A candidatura a um projeto do programa ERASMUS+ foi, assim, um desafio a que nos propusemos, no ano de 2015-2016, com a convicção de que já estávamos preparados para dar o passo seguinte, uma vez que, formar os professores em contexto nacional já era uma prática comum, levá-los a formarem-se em contexto internacional era inovador e ousado! Delineámos o Plano de Desenvolvimento Europeu, traçámos objetivos claros, definimos eixos de intervenção prioritários e propusemos o Projeto MAIS (Mobilidade para a Aprendizagem, Inovação e Satisfação), que nos permitiu fazer formação na Finlândia e na Irlanda, de grande qualidade e cujos testemunhos de alguns participantes fazem parte integrante deste handbook. Maria da Graça Carvalha Diretora do AECG
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Porquê um handbook O Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté, na Charneca de Caparica, atreveu-se a querer MAIS: Mais Motivação, MAIS Aprendizagem, MAIS Motivação e MAIS Satisfação. Meteu mãos à obra e desafiou vontades instaladas, mobilizando-as para querer e ser MAIS. O Agrupamento pensou nas suas necessidades de formação e de desenvolvimento e escreveu um projeto europeu. Ganhou-o. Alguns professores fizeram mobilidades a fim de fazerem formação e aprenderem com as melhores práticas disseminando, depois, a todos, o fruto dessa aprendizagem. Para que tudo não ficasse esquecido passado uns anos, decidiu-se que se passaria a escrito algumas boas práticas e temáticas da formação que os participantes quiseram partilhar com todos. Deste processo formativo nasceu este handbook que é oferecido à comunidade educativa no final do ano letivo de 2015/2016 pelos professores do Agrupamento que tiveram o privilégio de partir para outro país. Queremos continuar a desejar MAIS e a sorrir…
João Paulo Proença Coordenador do projeto MAIS 2015-1-PT01-KA101-012687
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Resumo do Projeto ERASMUS+ KA1 MAIS. . . Projeto de mobilidade para a aprendizagem, inovação e satisfação Consideramos identitária no Agrupamento de Escolas (AE) uma prática e uma cultura que valorizam a abertura à inovação, a vontade de fazer melhor através da partilha de experiências, sendo que tudo procura ser feito de forma sustentada. O AE caraterizou-se, ainda, por uma dimensão internacional e a promoção da cidadania europeia sendo que, atualmente, o AE se sente muito motivado pelo processo de retoma da sua internacionalização. Este plano de mobilidade europeia concorre para a concretização de alguns dos objetivos do seu projeto educativo (cf. http://crelorosae.net/joomla/index.php/documentos), sendo que o AE pretende manter e aprofundar a sua dimensão europeia através do desenvolvimento dos seguintes eixos estratégicos: -Respeitar as culturas e costumes dos outros parceiros europeus estimulando uma prática pedagógica assente nos valores da tolerância e do respeito, contribuindo assim para a eliminação de estereótipos e preconceitos na comunidade educativa; - Integrar alunos em projetos de dimensão europeia; - Fomentar processos de trabalho colaborativo utilizando a plataforma eTwinning e outras redes online. Onze professores (cerca de 10% dos docentes do AE) participaram em 3 cursos europeus adequados às suas necessidades formativas e aos objetivos acima descritos, que teve lugar na Finlândia e Canárias (“New learning environments”; “School Management” e “Healthy teachers – Healthy school”). A escolha destes participantes fez-se de acordo com as necessidades de formação do AE acima descritas, a partir de um convite lançado aos professores do Agrupamento. Para concretizar este projeto e atingir estes objetivos elegeu-se um parceiro europeu que garantisse a excelência nos resultados. Escolheu-se a Finlândia por ser um facto unanimemente reconhecido que é um dos países do mundo em que os alunos apresentam melhores resultados nos testes PISA e cuja qualidade de ensino é tida como exemplar, a par da formação de professores, pois são escolhidos os melhores para ensinar. Por último, chegamnos ecos de que a qualidade e rigor de gestão são dignos de referência e exemplos apresentados na maioria dos fóruns educativos. Sabemos, ainda, que a “EduKarjala” tem já 20 anos de experiência na gestão dos programas de Aprendizagem ao Longo da Vida (LLP), de educação de adultos, na organização de visitas de estudo europeias e que esta organização conta com o apoio e parceria da University of Eastern Finland. Por isso, temos razões para acreditar, quer na qualidade dos cursos, quer na qualificação dos organizadores, na riqueza das práticas e dos conteúdos dos cursos. Este projeto dá aos docentes também a oportunidade de partilhar e discutir com outros participantes as temáticas da formação, de melhorar competências e perfis profissionais, de melhorar a qualidade de desenvolvimento profissional. Sai, assim, reforçada a valorização da carreira docente através da motivação e da satisfação pessoal e profissional, com reflexos muito positivos na prática letiva (criação de novos ambientes de aprendizagem, promoção da inovação e excelência, valorização de práticas de vida saudável, …) e nas relações Handbook do projeto MAIS
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que se estabelecem diariamente entre pares com os alunos e com a restante comunidade educativa. O contacto com os outros parceiros permitirá também uma maior compreensão das políticas das organizações e uma maior capacitação da atuação a nível europeu sendo, ainda, uma mais-valia as conversas informais que se vão mantendo durante os cursos, permitindo o desenvolvimento da proficiência em língua inglesa e a descoberta de novas formas de cooperação que muito contribuirão para o aprofundamento de uma dimensão e identidade europeias. O Agrupamento de Escolas espera que as pesquisas, reflexões, formações e novas práticas/produtos desenvolvidos tenham relevância e aplicabilidade no próprio AE e possam ser transferidos para as práticas de outros países europeus, podendo ser especialmente úteis em grupos minoritários, marginalizados e minorias étnicas. O AE comprometeu-se a divulgar o desenvolvimento do projeto na sua página web, redes sociais e outros meios usuais de divulgação. Nota: em fase posterior deste projeto foi possível incluir uma atividade de jobshadowing destinada a docentes do pré-escolar e 1º ciclo a realizar em Ennis, República da Irlanda.
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A Escola do Futuro e as suas características - Teresa Pombo Enquanto pesquiso e releio alguns textos meus sobre o tema que dá o título a este capítulo, recordo que a minha preocupação com a “Escola (ou Sala de Aula) do Futuro” (encontro textos de há quatro anos atrás). Talvez essa preocupação tenha começado a 1 de setembro de 1993, o primeiro dia como professora-estagiária, ao fazer essa viagem ao passado e relembrar a menina de olhar distraído que a muito custo conservava o espírito entre as quatro paredes da sala. Talvez tenha acompanhado o início do novo milénio e as primeiras incursões por essa tal world wide web, tentando perceber o potencial para a aprendizagem, para a motivação para a leitura, para a inovação. Fazer novo e fazer diferente foram sempre preocupações minhas; talvez por isso me tenha atrevido a realizar um trabalho académico para a disciplina de Didática da Literatura sobre…. Banda Desenhada; foi um risco enorme mas recordo que foi uma aposta ganha, junto de alunos, junto de colegas e Doutores. Não seria a sala que era do futuro, muito menos a escola, era a aula que eu desejava ser do futuro, não futurista mas algo que tivesse os olhos postos no futuro, nos anseios e nas necessidades dos tempos que hão-de vir e que hão-de ser muito mais deles (os alunos) e muito menos meus (a professora). Não era uma aula, uma sequência pedagógica, plena de gadgets e artifícios mas uma aula em que o ensino não seria expositivo, em que a aprendizagem não estaria centrada em mim mas nos alunos; seria uma aula com objetivos claros, tarefas facilmente identificáveis, avaliação transparente e o aluno responsável pela sua própria aprendizagem; seria uma aula com momentos diversos, desde o ler, pesquisar, ao compreender, fazer, descobrir, construir, partilhar. E agora que penso nisso, já estou no futuro há mais de 20 anos, pois as minhas sulas sempre procuraram ser assim, muito antes da era da Internet, ainda do tempo do papel, cola e tesoura. O problema talvez seja precisamente esse, o considerarmos como aulas vindas do futuro aqueles de que precisamos já hoje, que temos que implementar… agora. Neste artigo, abordarei, na sequência da minha viagem de uma semana a Joensuu, na Finlândia, em julho de 2015, algumas considerações sobre o que pode ser a Escola do Futuro, aquela de que nós professores e os alunos, precisamos de ter e, sobretudo, construir, já hoje. Provavelmente não será feita apenas de tecnologias mas de metodologias; provavelmente, precisará menos de grandes investimentos financeiros, e mais de investimentos pessoais, de dedicação, tempo, reflexão, criatividade. Começarei por reunir, procurando dar-lhes alguma coesão, alguns dos registos já realizados e terminarei com o conceito de Ambientes Educativos Inovadores, procurando explicar em que consistem e o que é necessário para que os implementemos. Mas o que é, afinal, uma sala de aula do futuro? Aquela que tem um pc na secretária do professor com um software para registo de sumários e faltas, ligação á internet e um QIM? Aquela que deixa os alunos usarem os seus próprios tablets e smartphones no âmbito de atividades de aprendizagem bem definidas? Se há coisa que me faz confusão são estas etiquetas que gostamos de colar às coisas que procuramos compreender. Como se só o termos a etiqueta já resolvesse meio problema. E temos então os “nativos digitais” e a “sala de aula século XXI”, por exemplo. Quer queiram quer não, desde 1 de janeiro de 2000 somos, Handbook do projeto MAIS
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salas, professores, alunos e pais do século XXI. Mas não aconteceu nenhum passe de magia pois não? Não aconteceu nada de mágico porque colocaram um QIM na sala de aula de um certo professor; mas pode ter acontecido cada vez que ele desarrumou a sua sala toda desde o primeiro ano em que deu aulas. Não estava no Programa, não viu acontecer na aula da Orientadora pedagógica, não saiu em Decreto. Apenas leu umas coisas daquilo a que se chama Escola Moderna; não esperou até receber formação. Sentiu necessidade (e desejo) de mudar. No entanto…, acredito que as mudanças podem acontecer, serem lentamente preparadas e induzidas devido a alguns fatores: – liderança; deixemo-nos de coisas, isto de ter um líder de escola que fomente e incentive a inovação é mesmo muito importante; – formação; não necessariamente definida pela tutela, mas procurada, preparada, buscada e conseguida pela própria escola; é frequente vermos eventos de dimensões consideráveis, sobre inovação de práticas ligadas às TIC, com origem em Agrupamento de Escolas, com empenho das respetivas equipas e proporcionando, sem dúvida, importantes momentos de reflexão e trabalho; – partilha de boas práticas; o professor tem um problema para resolver, algo na sua aula não está bem, não estão os resultados, não está o envolvimento dos alunos, não está o seu próprio entusiasmo mas… ali ao lado, no Facebook, seja onde for, tem oportunidade de perceber que há outras experiências, vai tentar perceber o que pode mudar… faz a primeira experiência – mesmo que tenha sido para a aula assistida durante o período de avaliação docente – e…resulta…continua então….e vai mudando… – por fim, existência de equipamentos e possibilidade de flexibilidade no seu manuseamento. – envolvimento dos pais e sobretudo das suas Associações; mas um envolvimento afirmativo, positivo “eu educo, o Sr. ensina e eu gostaria que envolvesse mais o meu filho, que ele se sentisse o centro, o responsável pela sua própria aprendizagem”. Numa sala de aula do século XXI, expressão catita para dizer, penso eu, numa sala de aula inovadora e atual, ligada à vida real, a questão não é só a tecnologia, é aquilo que a tecnologia pode potenciar, a criatividade, o trabalho em equipa, a autonomia, o respeito pelas necessidades e ritmos de cada um. A minha viagem à Finlândia foi uma oportunidade excelente proporcionada pela Direção do nosso Agrupamento no âmbito de um projeto Erasmus + que tem o título feliz de “MAIS – Motivação, Aprendizagem, Inovação e Satisfação”. Um pouco como aquilo que se passou na minha evolução no entendimento mais aperfeiçoado do que pode ser a utilização educativa de jogos digitais até à Gamificação, sinto que falamos de muitas coisas diferentes
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quando falamos dessa tal “sala de aula do sec. XXI”, de novos espaços de aprendizagem, novos ambientes, espaços físicos e digitais de aprendizagem e do “aprender em todo o lado” que os equipamentos móveis poderão incentivar. Organizemo-nos então. Confesso que me interessa sobretudo o “poder desarrumar a sala” à vontade; lembro-me que, em 1993, quando comecei, estava na moda (estou a ser mázinha? era uma tendência?) a chamada “sala em U”. Tem imensas vantagens. Ao longo do tempo, fui perdendo de vista essa configuração e, confesso, até deixar que as tecnologias mudassem a minha maneira de aprender e ensinar (sim, prestem atenção ao valor semântico do verbo nesta minha frase) deixei-me estar, a correr de turma para turma, de sala para sala, quase sempre cheia, e as filas encarreiradas e organizadinhas. Todos virados para mim, eu a percorrer a sala, sempre irrequieta, ou todos a ver o vídeo ou a apresentação PowerPoint e, de vez em quando, o trabalho em grupos e, quase sempre o trabalho a pares. Foram existindo, no entanto, muitos outros momentos: a aula na Biblioteca Escolar, a aula no pátio, a aula em que nos sentámos nas almofadas trazidas de casa a partilhar leituras, a treinar a expressão oral e… Foram nascendo cada vez mais momentos em que eu “me apago”, em que o quadro preto permanece preto e o quadro branco permanece branco porque quase tudo é projetado, porque há outra interatividade no QIM, porque os telemóveis passam de mão em mão, porque em muitas das aulas se ligam os computadores. E, de repente, a sala “serve-me” cada vez menos. E de repente, é um estresse uma sala cheia de 28; 28 que querem trabalhar com prazer mas há 10 min que não se podem perder no princípio e outros no fim para desarrumar e arrumar. …. porque eles dizem que o que fazem comigo não fazem em mais lado nenhum (mentira, já começam a fazer, a contagiar), porque há programas a cumprir numa corrida contra o tempo…. mas sobretudo porque eu já não ensino, eu aprendo com eles, eu faço-os descobrir o que sabem. Tudo isto foi testado. Cientificamente. Resultou uma Tese de Mestrado de um período inteiro na sala de TIC. A observação de aulas era bem mais curta mas…. foi ficando assim…. a vê-los progredir, melhorar, cada vez mais envolvidos. e, não havia como voltar atrás. Mas afinal, o que quero / queremos do nosso ambiente de aprendizagem? Há não muito tempo atrás, numa intervenção que fiz no seminário anual do meu Agrupamento, tive oportunidade de chamar a atenção para o facto de as salas de aula da nossa educação préescolar e 1.º ciclo serem prodígios de vida, cor, objetos e estímulos e, à medida que se caminha, na sala de aula do 3.º ciclo ou do secundário, nada desses estímulos se observam. Até o hábito de decorar com os cartazes dos alunos mal se vê. A minha escola tem dois espaços de que gosto bastante: uma Biblioteca e uma Estudoteca; complementares, cheios de vida, de estímulos de coisas para descobrir e aprender. São espaços que nunca estão desertos. E porquê? Porque são ambientes de aprendizagem, convívio. Espaços onde os muitos “ssshhhiuuuu” que se escutam por vezes mostram o receio que o “trabalho” resvale para a “brincadeira” quando o bom seria que o trabalho e a brincadeira se reunissem numa só atividade. E todas as aulas terminariam com um “Nem dei pelo tempo passar” que já tive o grato prazer de escutar algumas vezes. E aí estamos, a deixar a nossas próprias tecnologias ocuparem o seu espaço na sala de aula. A trazerem-nos mil e uma possibilidades, a questionarem todo o nosso saber e saber-fazer. Como devemos desenhar os nossos ambientes de aprendizagem? E,…. confesso,
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quando penso nisto, penso em muito mais do que em paredes, mobiliários, objetos ou adereços, penso em novas formas de atuar, organizar, propor, aprender, avaliar. Mas…. Há algo que ultrapassa a tecnologia e até mesmo a metodologia; chamemos-lhes as “condições de base”; aquilo que à partida está definido e que vai proporcionar as condições necessárias ao desenvolvimento do trabalho. Na Finlândia, respeito pelos docentes, autonomia, turmas pequenas. A escolaridade só começa aos 7 anos e 99% das escolas são públicas porque há uma confiança enorme no sistema educativo. Na Finlândia, a gestão do currículo tem maior flexibilidade; nos últimos anos do secundário, o aluno escolhe as disciplinas que pretende seguir havendo sempre um tronco comum; as aulas de 45 min e decorrem entre as 8h e as 16h; os períodos letivos têm seis semanas, seguidas de uma semana de avaliações, havendo interrupções letivas em outubro, no natal e em fevereiro; o ano letivo tem cerca de 190 dias Não sou uma pessoa que vá atrás de primeiras impressões; ou que se deixe criar grandes expectativas. Confesso, contudo, que quando entre pela primeira vez numa escola finlandesa, me surpreendi: a escola estava em obras e arrumações de verão; nada estava no seu lugar; estantes vazias, caixotes de livros, mesas e cadeiras empilhadas, materiais de construção, uma confusão enorme. Depois do choque inicial, pensei: “Isto só pode ser uma metáfora!” Algo assim, ao acaso, para me fazer pensar. E, de facto, …. pensemos: não queremos sempre uma Escola em construção, uma Escola que saiba RE-inventar-se, uma escola que saiba aproveitar os momentos de pausa para se RE-pensar e RE-organizar para o Futuro? E foi com esta certeza que entrei na sala; o que encontrei não era, na verdade, muito diferente do que conhecemos em Portugal: dois quadros brancos, um projetor, computador na mesa do professor, estantes, livros, …. ah! espera nesta sala as mesas são individuais e perfeitamente reconfiguráveis, as cadeiras são almofadadas e têm rodas. As mesas estão organizadas em grupos de 4. Num canto, meio escondido está um armário onde carrega uma dúzia de iPads e outra de tablets Samsung com teclado. E, por agora, é tudo. Mas é bastante. Numa das atividades realizadas durante o curso na Finlândia, os participantes receberam uma pequena planta em A4 onde deveriam desenhar a sala de aula dos seus sonhos; tiveram direito a marcadores coloridos para escreverem os nomes dos espaços que reconhecíamos e daqueles que desenharíamos de outras formas. Houve sobretudo duas coisas interessantes nesta atividade: em primeiro lugar, a oportunidade de olharmos uma escola com olhos de ver, sem alunos e de imaginarmos como organizaríamos os espaços e mobiliário de acordo com os nossos interesses e necessidades; como se fôssemos “donos e senhores da nossa casa”. Depois, não deixou de ser curioso como, apesar das nossas origens e contextos tão distintos, todos nos surpreendermos com as mesmas coisas. Entre o que provocou mais surpresas, distinguiria a enorme sala de professores com cozinha, cacifos, secador de roupa e, imagine-se, uma poltrona de massagens (os professores precisam de estar felizes e satisfeitos); as mesas individuais cujo formato permitia uma arrumação modular e facilita a interação e a deambulação do professor entre os alunos, durante a aula; os equipamentos tecnológicos, com quadros interativos, projetores e visualizadores em TODAS as salas, além das modernas calhas técnicas (algumas num formato vertical portátil extraordinário); a qualidade dos laboratórios e, também, os gabinetes dos professores, por departamento, com agradáveis Handbook do projeto MAIS
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cubículos que incluíam secretárias, cadeiras, armários e estantes para todos os professores. Seria esta de facto a Escola do Futuro? Na Finlândia, houve também oportunidade de dedicarmos um dia à reflexão sobre a introdução das tecnologias em sala de aula; desse conjunto de atividades destacaria: a reflexão que conduz à ação (faz-se porque faz sentido, porque tem impactos comprovados na aprendizagem e, mais do que isso, na preparação dos alunos para o mundo do trabalho e no desenvolvimento das competências do século XXI; não se faz porque é “moderno”); a importância do pensamento crítico e do trabalho criativo; o papel fundamental da criatividade em todo o processo; a necessidade de continuar a avaliar o que se faz, a refletir e a atitude de quem age como quem tem todo o caminho pela frente. Chegamos a Portugal onde, por exemplo, já tive oportunidade de visitar várias escolas que receberam intervenções da Parque Escolar. Grande parte delas não se ficam atrás em termos do impacto arquitectónico e de design de equipamentos, em termos de modernização e de inovação. A grande diferença, parece-me, é que ninguém questionou professores e alunos sobre o que eles achariam que seria melhor para eles. Foi uma ação em massa. Não foi pensada demoradamente, não envolveu os principais agentes, sei que houve algum diálogo com as Direções das Escolas mas penso que docentes e alunos não foram escutados. Na Finlândia, foram. São. Outro ponto é a questão das tecnologias que já referi ontem. A introdução das tecnologias não é feita por ela mesma, porque é “cool”; é feita de forma pensada (uma vez mais) e acompanhada de educação para os media, ou seja, uma particular atenção à atitude do aluno, ao seu pensamento, a uso que dás às tecnologias. Por fim, o que me parece muito importante, mesmo muito importante. Em todas as escolas que visitei, algo saltava à vista. E essa característica era perfeitamente observável nas pessoas com quem falávamos, no dia-a-dia que observávamos: as artes, os trabalhos manuais e oficinais, o desporto e a música têm um peso muito importante na organização curricular. As aulas de economia doméstica são obrigatórias no 7.º ano e, mais importante ainda, todo o sistema parece sobretudo orientado para o mundo do trabalho, para a vida real. Ou seja, o que o sistema finlandês é, é… realista. Adequado. Pensado. E, não tenho dúvidas, parte fundamental e muito respeitada da organização social. O que é feito, não acontece só porque há dinheiro, acontece porque há vontade, porque é importante, porque é base fundamental de uma sociedade evoluída. E, enquanto não entendermos isto em absoluto, não iremos a lado nenhum.
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E os pátios? Não se aprende lá? A escola não começa aí? - Helena Serôdio Diz o Martim para o irmão mais novo: “Sai daqui! Estou em aula…” os alunos do 9ºano já estavam habituados a que a aula de turnos (com metade da turma) de 45’ de Ciências Naturais decorresse nos bancos do pátio. Assim que o tempo melhorava a professora descia e em vez de fazer os exercícios na sala de aula, fazia-os nos bancos do pátio ao ar livre, debaixo de um toldo gigante, que os protegia do Sol. Os alunos acabavam por se concentrar e preferiam estas aulas, que apesar de serem iguais, eram apenas num sítio diferente…e ao ar livre. Afinal os bancos não servem só para por os pés… “Vamos para a meia-lua?, Vamos!” A professora leva a sua mini coluna e vamos fazer meditação ao ar livre… Sem dúvida que fazer Meditação ao ar livre sabe bem melhor! E na Escola não é só nos espaços convencionais que se aprende. E como sabe bem aprender a estar na meia-lua sossegados e sem gritar. Afinal também se aprende fazendo meditação na meialua. A BioHorta começou devagarinho, nuns terrenos pobres e agrestes da Charneca…. As técnicas de Permacultura ajudaram… as bolas a saltar e os pés dos mais descuidados dificultaram. Mas aos poucos as couves cresceram e as alfaces saltaram da terra. No princípio ninguém queria agarrar na enxada, nem apanhar as ervas, mas a atração para a terra é mais forte. Aos poucos todos querem mexer, tocar na terra. Até os mais nervosos com ataques de ansiedade acham terapêutico ir para a BioHorta: ”Isto acalma, stora.”. Os mais cuidadosos transplantam as alfaces, como se fossem recém-nascidos, sem as estragar e magoar. Os mais fortes fizeram os buracos dos canteiros elevados, ou arrancaram a árvore invasora, onde agora cresce muito lentamente um loureiro. E é o ver desabrochar da terra dura, as plantas frágeis e sensíveis, que deixa fascinados os alunos… é quase uma metáfora: em solo pobre também podemos ter plantas nobres. Só precisamos de ser perseverantes e esperar em cada primavera que o melhor das sementes saia da casca e cresça… é preciso paciência! Por vezes, nós, professores, também precisamos de nos lembrar… Precisamos de nos lembrar que ensinar leva tempo e que aprender ainda leva mais tempo. Nós, professores, precisamos de fugir um pouco ao modelo convencional, com os alunos dentro da escola, na sala de aula, sentados nas suas carteiras, todos de frente do quadro…Precisamos lembrar-nos, que podemos ensinar de uma forma bem mais lúdica e atrativa. Podemos encontrar espaços fora da escola de betão e encontrar a escola perto da natureza, sentados no chão, no pátio da escola. Aprendemos que não faz mal sujar as mãos e o quão é importante lavá-las depois de tocar no chão. E de repente aprendemos…. aprendemos Handbook do projeto MAIS
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a vida, onde o dia-a-dia entra na escola e os conteúdos programáticos dissipam-se no óbvio. “Mas eles estão muito mais agitados”, e de repente até parece que não os “controlamos”. Mas na verdade eles aprendem a estar, a estar em ambientes não controlados e aprendem a saber estar no mundo real. Até parece que os alunos estão indisciplinados, mas aos poucos e repetindo várias vezes a saída da sala de aula, os alunos aprendem a estar, aprendem a reequilibrar-se em ambientes diferentes com o professor coordenando e aferindo comportamentos. E o ambiente menos hostil também tende a encorajar os alunos mais tímidos a fazer perguntas, a interagir mais com o professor e com os próprios colegas de turma. E na verdade, o que nós pedagogos queremos é que os alunos descubram e desenvolvam competências (conhecimentos, aptidões, atitudes) com a finalidade de melhorar o seu desenvolvimento pessoal. E nos pátios da escola podemos diversificar estratégias, podemos diferenciar aprendizagens, podemos dar liberdade de movimentos, podemos aprender a deixar respirar. Além do mais, ensinamos que se pode aprender em todo o lado, que devemos tentar perceber o mundo que nos rodeia, quer das pessoas e do seu espaço, como o mundo natural. É a folha de papel que voa com o vento e como a vou prender, é o sol que me encadeia e aprendo a fazer sombra com o meu corpo, é o estar sentado na relva e entretido com um livro na mão, ou o iPad, é o aprender a jogar à bola sem acertar nos vidros… E aprendendo o dia-adia, os nossos alunos habituam-se a encontrar alternativas criativas para problemas corriqueiros, aprendem formas alternativas de resolver problemas, desenvolvem a criatividade. Aprendem a valorizar os espaços exteriores, aprendem a não fazer lixo, aprendem a não fazer barulho, aprendem a mexer o corpo, aprendem, aprendem, aprendem…. Afinal no pátio da escola aprende-se com os professores também. E nós, professores, aprendemos que não é preciso controlar, ordenar, conduzir e orientar os nossos alunos. Por vezes só precisamos de lhes dizer que há caminhos alternativos de fazer, que eles próprios os descubram… normalmente só precisam de tempo para pensar… cada um a seu tempo. E nós professores aprendemos que podemos relaxar, que se aprende também sem o quadro, sem a caneta, apenas com o livro no colo. Que se aprende sem o professor dissertar, que se aprende com o exemplo do adulto/professor. E refletindo na nossa experiência pessoal, afinal onde nós professores aprendemos mais? Da minha experiência pessoal posso garantir que o que mais aprendi foi com os outros e na maioria das vezes fora do contexto da sala de aula, onde nem me mexia. Na verdade, se refletirmos, as nossas próprias aprendizagens foram consequência da descoberta pessoal, da observação dos outros e da autorreflexão. E onde aprendemos isso? Sobretudo no pátio das nossas escolas!
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Qual a razão do sucesso educativo da Finlândia? - Ilda Ribeiros A Finlândia é um país, que apresar de muito vasto, tem uma população de apenas cerca de 5 milhões de habitantes. Nos últimos anos, este país tem sido alvo de atenção por boa parte dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). A razão? O sucesso obtido nos testes PISA - o PISA é um estudo internacional lançado pela OCDE em 1990, com o objetivo de avaliar se os jovens de 15 anos são capazes de mobilizar o que aprenderam sobre matemática, ciências ou leitura na resolução de situações e problemas do quotidiano. No ano 2000, os alunos finlandeses foram os melhores leitores do mundo; em 2003, foram os melhores do mundo em matemática; em 2006, foram os primeiros em ciências e em 2009 e 2012, continuaram no TOP 10 nas três áreas. São estes os resultados que fazem com que o sistema educativo finlandês seja estudado e transposto (pelo menos, em alguns aspetos) por outros países. É óbvio que não haverá apenas uma razão para este sucesso educativo, mas sim, uma multiplicidade de aspetos, históricos, culturais, legislativos e pedagógicos que, no seu todo, têm permitido aos alunos finlandeses uma performance apenas superada pelos alunos dos países asiáticos. No que diz respeito ao aspeto cultural é de referir que a Finlândia é um país com uma população relativamente homogénea, em que apenas 2,5% dos habitantes são emigrantes, um dos valores mais baixos da União Europeia. Em 2009, o país foi classificado na 1ª posição do Índice de Prosperidade Legatum, que é baseado no desempenho econômico e na qualidade de vida, ou seja, a Finlândia é um país desenvolvido cuja população usufrui de um altíssimo nível de desenvolvimento humano, refletido pelo país possuir alguns dos melhores índices de qualidade de vida, educação pública, transparência política, segurança pública, expectativa de vida, bem-estar social, liberdade econômica, prosperidade, acesso à saúde pública, paz, democracia e liberdade de imprensa do mundo. Em termos religiosos, a Igreja Evangélico – Luterana é a principal instituição religiosa do país, com 85% da população baptizada segundo os rituais luteranos. Este facto é importante, porque esta confissão baseia-se, entre outros, no rigor da disciplina e na valorização moral do trabalho e da poupança, fatores que contribuíram fortemente para o nível de desenvolvimento da Finlândia. Em termos históricos, a transformação do sistema educativo finlandês iniciou-se há cerca de 40 anos, como parte do plano da recuperação económica do país. A educação foi considerada a base para o desenvolvimento económico (“… se queremos ser competitivos toda a gente tem que ser educada”) e foi legislado para que as escolas públicas fossem universais, gratuitas e com um bom nível de ensino (”…todas as crianças devem frequentar uma boa escola pública”). Assim, como base para o desenvolvimento económico, a escola passou a providenciar comida, assistência médica, manuais, aconselhamento, de modo a que Handbook do projeto MAIS
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se esbatessem as diferenças económicas entre os estudantes. A educação passou a ser considerada a chave para a competitividade internacional e para a prosperidade nacional. Neste contexto legislativo é muito importante referir que, desde os anos 70, é obrigatório que os professores tenham mestrado, ou seja, são altamente qualificados. Esta exigência ao nível da formação de professores conduz a que esta seja uma profissão altamente valorizada (ao nível dos médicos) e reconhecida pela comunidade. A ideia-chave é “confiar nos professores”, visto que se parte do princípio que os que são contratados pelos diretores das escolas são os melhores entre os melhores. É de referir que nem os professores nem os seus métodos são objeto de avaliações (ou seja, não existe inspeção, nem inspetores escolares). E aqui entra outro aspeto muito importante, a autonomia das escolas. As escolas têm autonomia para contratar os professores que desejem para a sua equipa pedagógica e para decidir o uso de várias metodologias pedagógicas, visto não existirem objetivos nacionais, mas apenas princípios gerais que são traduzidos em currículos municipais com algum grau de flexibilidade. É de referir que as escolas são geridas pelos municípios. O objetivo foi assim o de criar estruturas nacionais, no âmbito das quais as instituições de ensino são relativamente livres para ministrar educação de acordo com as necessidades locais. O sistema educativo da Finlândia não se baseia em objetivos, em competição, em standardização e em controlo. Não se baseia em exames nacionais (só existem no final do ensino secundário), nem em rankings para comparar estudantes, escolas, ou regiões. Baseia-se sim, no trabalho cooperativo dos professores, que decidem qual a melhor abordagem pedagógica em determinado momento, no ensino individualizado (cerca de 30% dos alunos recebem ajuda- apoios, tutorias, etc, nos primeiros nove anos de escolaridade), na multidisciplinariedade, não existindo disciplinas nucleares, como o português e a matemática, mas dando ênfase também às artes, à música, aos têxteis, à cidadania e à economia doméstica (disciplinas pouco abordadas noutros países), na inclusão de alunos com necessidades educativas (existindo como é óbvio recursos, ao nível dos professores e dos equipamentos, para a concretizar). Outros aspetos importantes: - o facto de a escola só ser compulsória a partir dos 7 anos de idade, sendo a Finlândia um dos poucos países a adotar esta regra. Estudos recentes vieram enfatizar os benefícios do brincar, do “faz de conta” nas estruturas mentais das crianças, em contraponto à escola estruturada, formal e exigente com que se deparam, na maioria dos países os cérebros de crianças com 5 e 6 anos. Aliás outro aspeto importante é que na Finlândia os intervalos são grandes, propícios ao desenvolvimento de resolução de problemas não formais (este ambiente apresenta-se como muito importante para elevar a qualidade educativa a níveis de excelência para o desenvolvimento de competências nas crianças); - o facto de nos primeiros seis anos de escola não existirem praticamente testes, porque a prática pedagógica centra-se no “estar pronto para aprender” e não no sucesso académico; - no final da escolaridade obrigatória, não há nenhum exame nacional. O acesso à parte superior do ensino secundário, depende do sucesso dos alunos no básico obrigatório (o que reforça a responsabilização dos alunos e dos seus encarregados de educação). Os municípios ou as próprias escolas decidem sobre os critérios da sua admissão. O Ensino Secundário dividese em Formação Geral e Formação Profissional e é organizado pelas mesmas instituições;
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- a ênfase dada à Formação profissional, que não é vista como um “parente pobre”, mas sim como uma opção válida e reconhecida pela sociedade. É de referir a importância dada à orientação vocacional que se inicia nos primeiros anos da educação básica tendo como objetivo preparar as crianças para as diferentes fases da educação, e ensinar o funcionamento básico da sociedade e do mundo profissional (existem equipas multidisciplinares com essa função: conselheiros de orientação profissional, tutores, visitas obrigatórias a empresas, entre outros). É certo que o sistema educativo finlandês também terá problemas, mas um país em que para além dos excelentes resultados do PISA, é o país da OCDE em que a diferença entre os alunos mais fortes e os mais fracos é menor e em que 93% dos alunos terminam o ensino secundário, está certamente no bem caminho. É de salientar que os factos expostos revelam a importância da igualdade como base para um ensino geral polivalente e em que a assimilação dos ideais humanistas é considerada mais importante que o sucesso educativo em si.
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Desenvolvimento profissional do docente - Cláudia Corado Desenvolvimento significa “Avanço, prosperidade, evolução ou progresso; transformação de uma situação para outra, sendo que a última é sempre mais aprimorada que a anterior”. Sinónimos - avanço, composição, crescimento, elaboração, evolução, explanação, progressão, progresso, prolongamento e propagação. Antónimos - atraso, crise, decadência, derrocada, redução, retrocesso e ruína. Podemos, então, definir desenvolvimento profissional como o conjunto de características e conhecimentos que uma pessoa tem e deseja melhorar, para evoluir na carreira e, consequentemente, na sua vida pessoal. Benedito e Imbernón (2000) definiram desenvolvimento profissional, segundo uma perspetiva próxima da atividade docente, como «uma interação sistemática de melhorar a prática e os conhecimentos profissionais do docente, de forma a aumentar a qualidade do seu trabalho» (p. 43). O desenvolvimento pessoal e profissional implica crescimento, mudança, melhoria, adequação, no que diz respeito ao próprio conhecimento e às atitudes no trabalho e para com o trabalho. Procura-se a sinergia entre as necessidades de desenvolvimento profissional e as necessidades organizativas, institucionais e sociais. No caso do desenvolvimento da carreira docente, os conhecimentos e competências adquiridos pelos professores antes e durante a formação inicial tornam-se manifestamente insuficientes para o exercício das suas funções, pelo que, ao longo da sua carreira, os professores estão envolvidos em inúmeras atividades formais, como os cursos de formação ou académicos e também informais, como a leitura e prática por conta própria. A formação passa pela experimentação, pela inovação, pelo ensaio de novos modos de trabalho pedagógico. A noção de desenvolvimento profissional é uma noção próxima da noção de formação. Mas não é uma noção equivalente. Registemos as principais diferenças: — a formação está muito associada à ideia de “frequentar” cursos, numa lógica mais ou menos “escolar”; o desenvolvimento profissional processa-se através de múltiplas formas e processos, que inclui a frequência de cursos mas também outras atividades como projetos, trocas de experiências, leituras, reflexões. Podemos conceber um desenvolvimento profissional sustentado, se partir das reais necessidades sentidas pelo professor no quotidiano da sua prática pedagógica e no seu próprio contexto formativo. Contudo, se o professor aprende e desenvolve competências, tem, necessariamente, de disponibilizar esse saber ao serviço da própria escola e do meio educativo onde leciona. A aprendizagem que o professor realiza só assume relevância se for perspetivada no sentido de satisfazer as necessidades atuais (e mesmo futuras), relacionadas com a prática da sua docência, com os alunos, a escola e o próprio contexto educativo onde se insere. Handbook do projeto MAIS
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A ênfase nas necessidades individuais dos professores (identificadas como verdadeiramente suas, suscetíveis de um processo formativo que possa conduzir a significativas mudanças ao nível da prática letiva é de extrema importância para levar os docentes a sentirem-se motivados, a querer evoluir e não ter medo de trabalhar. Para iniciar o desenvolvimento profissional é necessário gastar tempo nas atividades já referidas aliado a motivações, sejam financeiras, de aprendizagem a longo termo, para ganhar estatuto e respeito profissional, ou qualquer outra motivação mas os ganhos podem levar-nos a sentir ter uma vida completa, de constante aprendizagem, que nos pode proporcionar oportunidades que, de outra forma, seriam impossíveis.
http://www.lexico.pt/ Bonito, J. e Trindade, V. (2008), Desenvolvimento profissional e formação de professores spiem.pt/DOCS/ATAS_ENCONTROS/1995/1995_11_JPPonte.pd
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O que mudaria no sistema educativo português? - João Paulo Proença No âmbito do projeto ERASMUS+ KA1 MAIS, promovido pelo Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté na Charneca de Caparica, tive o privilégio de ir uma segunda vez à Finlândia, em janeiro de 2016, para participar num curso sobre “School Managment”. Ora, sempre que um docente tem a “sorte” de ir à Finlândia, todos os seus pares no seu regresso querem saber tudo o que se passa lá, quais as razões do sucesso do sistema educativo: Será a cultura de um povo que permite o sucesso escolar dos jovens? Será o apetrechamento das escolas? Serão os professores a causa do sucesso do sistema educativo finlandês? Será uma mistura de fatores? E o que será transferível para Portugal? Confesso que o facto de ir uma segunda vez à Finlândia me vez olhar para o que via com um maior distanciamento e com um menor deslumbre no relativo… Aos professores - Se é verdade que na Finlândia não é qualquer um que é professor, não é menos verdade que em Portugal também já não é qualquer um que é professor pois em ambos os países há muito mais candidatos que vagas docentes, escolhendo-se, em princípio o mais qualificado. E se é verdade que na Finlândia é necessária qualificação em ciências da educação e o grau de mestre para se ser docente, também a lei de bases do sistema educativo já o obriga e, na prática, a partir de Bolonha todos os jovens docentes saem da universidade com o grau de mestre. Ao equipamento das escolas – Se é verdade que vi escolas muito bem equipadas, sei que em Portugal também as há, principalmente as do parque escolar e também sei que não basta a existência de tecnologias para que as aulas sejam de qualidade. É necessário saber usálas em contexto educativo e temos bons exemplos em Portugal relativos ao facto de termos quadros interativos em sala de aula, projetor, internet e as aulas continuam expositivas… Ao uso das TIC – Existe uma desigualdade de acesso na Finlândia. Cerca de 80% das escolas tem 10 alunos por computador, mas há algumas onde há mais de 40 alunos por computador. As escolas são diferentes no uso das tecnologias e equipamentos e nem todos os professores as usam com fim educativo apropriado e adequado (uso pedagógico). Aos edifícios escolares – Aí reconheço que tendo visto as melhores escolas de uma cidade (Joensuu) que o espaço e a polivalência do mesmo conta e muito. Ter salas de aulas com boas áreas onde exista mobiliário flexível que permite criar vários ambientes de aprendizagem adequadas ao que se pretende (aula expositiva, tutorias, trabalhos de grupos, trabalho diferenciado, …) Ora aqui está uma das coisas que mudaria em Portugal. Um maior cuidado com a construção escolar… Um mesmo projeto arquitetónico não pode servir em todo o lado…
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Nas escolas que vi e nas salas de aula em que entrei as áreas eram grandes e o mobiliário existente era flexível o que permite rearrumações de acordo com a estratégia de aula que se quer implementar. As salas de aula também estavam bem equipadas a nível tecnológico sendo que se a tecnologia não é tudo, esta pode ajudar. As Salas de música parecem mais estúdios do que salas de aula teóricas onde há também instrumentos musicais. Pareceu existir uma opção estratégica de se conceber a escola numa lógica que favoreça as aprendizagens. No dizer do diretor de uma delas, Dr Heikki Happonen, um bom ambiente de aprendizagem reflete a noção de como as pessoas aprendem, sendo que, deste modo, um edifício escolar e o seu envolvimento físico acabam por transmitir uma mensagem que espelha a noção que se quer para a escola: fábricas, prisões ou ambientes de aprendizagem. Os edifícios escolares aparentam ser iluminados, abertos, com grandes áreas inundadas de luz. Apetece estar nestes espaços (e não me refiro apenas a alunos). Veja-se o caso de salas de aula que permitem trabalhos de grupo, trabalhos de tutoria, exposição por parte do professor ou ainda oferecerem um espaço de relax para um ou outra situação “complicada”. Um exemplo paradigmático desta conceção é a escola "primária" de Heinavaara (comunidade rural) em que as paredes da sala de aula são substituídas por vidros, o que implica que, fora da sala, todos possam ver o que se passa dentro dela. Ao que se passa em sala de aula – Este é um aspeto interessantíssimo a relatar, pois no imaginário de muitos docentes entrar numa sala de aula da Finlândia deve ser qualquer coisa do outro mundo, mas o facto é que não é! Partilho a minha experiência: O sistema educativo finlandês é extremamente aberto e qualquer um pode entrar numa sala de aula e observar. Já tive esse privilégio umas poucas de vezes. Entrei nas salas que quis, sem ninguém a acompanhar-me e observei. E o que vi? O mesmo que veria numa sala de aula portuguesa na generalidade das escolas. Um professor a ensinar de uma forma mais ou menos tradicional e alunos atentos e outros desatentos! Qual a diferença então? creio que o segredo está na consciencialização de cada um. O professor sabe o seu papel, sabe que é competente e ensina. Não perde tempo a corrigir comportamentos menos adequados. O aluno sabe que se estiver desatento tem que recuperar sozinho. Não se pense que há um ensino marcado pelo uso das tecnologias ou que os professores têm artes mágicas. Ensinam todos da mesma forma. A questão é que lá, não se procuram culpados para o insucesso e não se aponta o dedo ao professor. Confia-se no seu trabalho e muito. Isso muita tudo. Eu estou a dar uma aula onde sei que o meu diretor e os meus colegas confiam no meu trabalho. – Este seria um aspeto que deveria ser repensado no sistema educativo português sendo que infelizmente esta mudança de mentalidade não se faz por decreto. O pai não confia Handbook do projeto MAIS
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no professor, o colega não confia no colega do ano anterior, o aluno não assume o seu papel porque pensa que poderia ter um professor melhor e o diretor procura as causas de um possível insucesso escolar nos professores. Importaria que tudo isto fosse descomplicado. O docente sabe e deve ter consciência de que ensina bem e que todos confiam no seu trabalho. Ao aluno compete trabalhar, se não o faz na aula, tem que recuperar em casa. Ao currículo finlandês - Na Finlândia estão a fazer uma reforma curricular que entra já em vigor em 2016 e 2019 e isso deixa-me perplexo: Então mas então não funcionava tudo bem na Finlândia e os resultados não eram excelentes? Se assim é, para quê mudar? Algo não faz sentido não é? Bom, lendo o contexto da reforma percebe-se a ideia. Não é que nada funcione, mas é necessário adaptar a escola à época em que vivemos onde a informação e a mudança nos saberes hiper abundam. Irá ser introduzida uma área de integração onde se cruzarão saberes. Ora esta é uma bofetada de luva branca para quem em Portugal desacreditou na área de projeto. Também se querem jovens que tenham uma iniciativa e intervenção cívica (hum, se se quer é porque não há o desejado, certo?); defende-se ainda um reforço da literacia da escrita e da leitura (vale o mesmo raciocínio anterior). Mas há algo na filosofia do currículo finlandês que eu consideraria muito útil e necessário que fosse transferido para Portugal e que é o valor dado às expressões física e motora, visual e tecnológica. Aqui a filosofia de base é também diferente entre o sistema de ensino Finlandês e Português. Na Finlândia continuam-se a privilegiar as expressões artísticas: Música, trabalhos manuais (Madeira, metais, desenho e pintura, têxteis, ...) há uma filosofia de base que afirma que o currículo deve privilegiar mãos e cérebro. O ser humano não é só cérebro! É também corpo e existem uma ligação entre o tocar e o pensar que por exemplo Jean Piaget explica muito bem na sua teoria dos estádios. Vêem-se em todas as escolas: máquinas de costura, fogões, oficinas, instrumentos musicais, tornos, brocas, pregos, fios elétricos,... Bom, diga-se em rigor que vi tudo isto em inúmeras escolas de inúmeros países que já visitei: Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Lituânia, República Checa, Irlanda, Inglaterra. Em Portugal é que desde há mais de 3 décadas é que se desinveste cada vez mais no trabalho de mãos. Uma vez ao mostrar a minha escola a um grupo de professores estrangeiros questionaram-me se lhe estava a esconder as oficinas. Não perceberam que estas não existem! Creio que esta é mesmo uma grande falha no nosso sistema de ensino pois desvaloriza-se uma dimensão essencial do ser humano.
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E já sem o deslumbramento que lá é tudo bom e que aqui é tudo mau, que mais mudaria no sistema educativo português? - A procura de uma estabilidade das políticas educativas que na Finlândia tiveram origem nos anos 80 e 90 e se vão mantendo mais ou menos estáveis, se não vejamos: - O “Basic education act” é de 1998; - As “Qualifications of educational staff” são de 1998; - a autonomia das escolas e descentralização educativa e abolição das inspeções datam dos anos 90 do século XX; - O “national core curriculum” data de janeiro de 2004; Poderemos objetar que também em Portugal a LBSE é de 1986, mas é do domínio público que desde 2001 se assistiu a uma série de reformas curriculares de 4 em 4 anos sem que se conheçam avaliações das falhas dos modelos anteriores. - A lógica do sucesso e não da retenção - Quase não há retenções na Finlândia, em cada ano só cerca de 0,4% dos alunos do ensino básico ficam retidos (cerca de 2000). Creio que isto também decorre de uma filosofia de base do sistema. Explico-me: não acredito que todos os meninos finlandeses sejam focados na sua aprendizagem e que estes sejam muito diferentes dos alunos portugueses que parecerão decididos em não aprender. A questão é que a filosofia do sistema e da avaliação é diferente. Ali procura-se o sucesso, aqui retém-se o aluno pelas mais diversas razões, acha-se isso natural. A retenção faz parte da filosofia do ensino Português e a mentalidade do professor está preparada para tal. A lógica da avaliação não é para o certificado/certificação, mas para dar feedback concreto aos alunos de modo a que estes aprendam e tenham motivação para aprender. Um feedback explícito que diga o que vai bem e o que necessita de ser melhorado. Esta avaliação também dá feedback ao professor no sentido de este perceber o que está a andar bem ou mal e o que necessita de ser alterado ou não. - A Gestão curricular - Na Finlândia há um currículo base mas existe autonomia dos professores e das escolas no respeitante à gestão do currículo e número de horas de lecionação existindo limites máximos e mínimos. Não é escondido que esta situação pode levar a disparidades, mas não se tem abdicado da possibilidade de gestão a nível da escola que é o local onde se realizam as aprendizagens. Há de facto oportunidade para uma gestão local a partir de diretrizes nacionais.
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Mas eu não vivo na Finlândia! E agora? - Lucinda Dias Durante as primeiras visitas a escolas na Finlândia senti uma euforia e fascínio por tudo o que via. As instalações e os materiais são de uma qualidade e versatilidade surpreendente, aliando também o gosto pela estética. Os equipamentos que permitem acesso e utilização das novas tecnologias eram de última geração. Uma escola que só existe no futuro, num futuro longínquo. Alunos e professores beneficiam desta qualidade de construção de escolas. Os professores têm excelentes condições de trabalho. As salas comuns são equipadas e pensadas para proporcionarem bem-estar. Os gabinetes de cada professor são equipados de acordo com as preferências de cada um. As escolas são pensadas por quem lá está dentro. Professores e alunos desenham a escola que querem, o arquiteto apenas põe no papel a sua vontade. Para além de todo este conforto o salário é bastante apelativo, mas, no meu ponto de vista, o que de facto traz tranquilidade e estabilidade aos professores é saberem que a sociedade reconhece a importância do seu trabalho e retribui confiando-lhes as suas crianças. Esta confiança no sistema de ensino elimina a possibilidade de escolas privadas. O ensino é de qualidade e os professores pessoas em quem confiam. Passada a euforia veio a tristeza. A realidade Portuguesa é tão diferente que de repente senti que nada posso fazer… mas, passados uns momentos de reflexão mais aprofundada e sem a excitação inicial começam a fluir ideias que, mesmo em condições diferentes e noutra sociedade, são exequíveis. Certamente não posso propor um modelo de escola, nem escolher uma cadeira mais confortável, mas posso, com algumas das ideias recolhidas, propor pequenas alterações que trarão maior conforto para todos os que frequentam um determinado espaço. Por exemplo forrar cadeiras que estão menos apelativas ou estragadas, reciclar algum mobiliário que possa, por um lado, ser decorativo, e por outro trazer conforto e utilidade; cabides nas paredes para os alunos colocarem as mochilas e não rebolarem pelo chão; pintar as salas com cores alegres e decorar as paredes de acordo com cada disciplina ou adicionar alguns têxteis para tornar o ambiente mais acolhedor. Pequenas ideias que trazem grandes benefícios. Não podemos construir um edifício, mas podemos torná-lo mais bonito, acolhedor e confortável. As condições físicas e o bem-estar afetam o rendimento dos que na escola ensinam e aprendem. Na Finlândia as escolas são pensadas de maneira diferente porque a cultura é diferente. A valorização do ensino e da formação de professores são pilares do sucesso neste país. Há Handbook do projeto MAIS
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muito tempo que este país definiu a educação como uma prioridade. Os professores são profissionais altamente qualificados, profundamente respeitados e toda a sociedade confia no seu trabalho. Assim sendo, não é fácil transpor ideias de um país para o outro, o efeito poderá não ser o mesmo. A sociedade tem que estar preparada para a mudança, esta tem que ser feita gradualmente de acordo com a cultura do país e tendo por base as políticas educativas. Para mudar mentalidades é preciso tempo e para mudar políticas é preciso uma sociedade que sabe escolher os políticos certos e que se interessa pelas decisões que afetam o país. Todas as alterações legislativas em relação à educação orientam a escola para uma forma de agir que pode ou não incentivar a melhoria do ensino. Não podendo transpor o modelo Finlandês para Portugal, não teria sucesso pela forma como a sociedade pensa e da forma como o ensino está estruturado, o que pode ser feito são pequenas mudanças dentro da escola que contagiem outras escolas e a comunidade educativa. Um investimento a longo prazo que pode mudar mentalidades. As decisões políticas sobre educação parecem estar a um nível que nada podemos fazer. Com as escolhas que fazemos e com uma participação ativa na vida política, sempre que nos é permitido, podemos também pressionar para a mudança. Por outro lado com a autonomia das escolas descentralizam-se um pouco algumas tomadas de decisão, neste caso a escola tem a oportunidade de responsavelmente fazer escolhas mais adequadas. Os ambientes de aprendizagem na Finlândia não se caracterizam apenas por instalações modernas e bem pensadas. As estratégias e a forma como se ensina também são diferentes. É nesta vertente do ensino que mais práticas se podem transpor para Portugal. O ensino é sempre centrado no aluno. As dificuldades são detetadas precocemente e encontradas estratégias de remediação para que todos tenham um percurso escolar com sucesso e sem abandono. Não é preciso reter um aluno para que ele aprenda o que não conseguiu. As dificuldades são colmatadas de imediato, não se adiando a solução do problema para o ano seguinte. Em Portugal tentamos colmatar estas dificuldades com aulas suplementares, aulas de apoio, que sobrecarregam os alunos e os levam, muitas vezes, a desistir. Se o aluno já tem dificuldades e está desmotivado mais horas não serão a solução para ele. Este apoio deveria estar integrado no seu dia de aulas, para que não permanecesse mais tempo na escola que o seu grupo de pares. Por outro lado, este trabalho deveria ser articulado com o professor do aluno, quando não pode ser o mesmo a apoiá-lo. A utilização generalizada das novas tecnologias é um facto. Em Portugal estamos a aproximar-nos. Senti que algumas das coisas que estão a ser feitas nas escolas da Finlândia já estão a ser feitas em Portugal. A diferença é não termos os equipamento e condições de trabalho que eles já conseguiram. Senti que tínhamos muito que aprender, mas que estamos Handbook do projeto MAIS
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no caminho certo. Na escola que leciono, o recurso às tecnologias é uma realidade que abrange a maioria dos professores. A utilização pertinente e adequada destes recursos já nos é familiar. Encontrei muitas semelhanças entre a forma como são integradas em sala de aula. Após esta imersão em escolas do futuro fica a pergunta: mas eu não vivo na Finlândia, e agora? Agora posso adequar ao meu país, que tem a sua própria cultura, e à minha escola, que tem a sua própria dinâmica, algumas das ideias que podem beneficiar o sucesso das aprendizagens dos alunos. Posso ainda dar o meu testemunho e participar na vida política nacional e regional, sempre que me for permitido, tentando que, aos poucos, nos aproximemos do sistema de ensino com mais sucesso reconhecido, o sistema Finlandês.
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Motivação, aprendizagem, inovação, satisfação. O quê? - Maria José Monteiro Inicio esta pequena exposição com o título, motivação, aprendizagem, inovação e satisfação, foi este paradigma que pude constatar no período em que cursei na Finlândia na cidade de Joensuu entre 8 de maio e 13 de janeiro de 2016, no Curso School Management. As minhas motivações prendem-se com o facto de: Melhorar as minhas competências em línguas estrangeiras, especialmente o Inglês; Explorar e criar possibilidades de contato internacionais que viabilizem o intercâmbio com outras escolas; Descobrir novas estratégias para apoio aos alunos na aquisição de competências, Procurar novas experiências que potenciem a diferenciação pedagógica bem como a experimentação de novos ambientes de aprendizagem. Foi uma experiência que tenho o prazer de partilhar convosco nesta nossa pequena reflexão que não se pretende exaustiva mas antes um constatar de Diferenças, Surpresas e Transferíveis e que de alguma forma me sinto “obrigada” a partilhar. A experiência de estarmos perante uma civilização culturalmente diferente como a finlandesa, onde as diferenças começam no berço ajuda-nos a perceber a especificidade de cada sistema de ensino. O sistema finlandês, apesar da sua eficácia e sucesso poderá não ser transferível para a nossa realidade. Com efeito as diferenças são notórias a todos os níveis, será sempre, por isso, aconselhável a sua adaptação tendo em conta as realidades e condicionantes locais. Não se pretende efetuar um paralelo entre os dois sistemas de ensino, português e finlandês, nem tão pouco uma transposição de realidades, mas sim um maior conhecimento de outros sistemas de ensino com vista a uma progressiva melhoria das práticas educativas e consequente melhoria das aprendizagens dos alunos. Os fatores que influenciam as práticas educativas são muitos e alguns de nós puderam observar in loco e confirmar a sua importância no sucesso escolar do sistema educativo deste país que lidera os rankings do Pisa. A liderança, a motivação, o clima que se vive na escola, a satisfação que sente na comunidade educativa, a inovação nos métodos de aprendizagem são alguns deles. Tudo isto não nos faz hesitar na nossa missão de Educar mas antes nos impele cada vez mais a inovar com vista ao sucesso. As diferenças: Finlândia, uma sociedade organizada e culturalmente participativa. Constata-se um verdadeiro sentimento de satisfação em relação à escola e às suas lideranças e um consequente reconhecimento das famílias e dos alunos em relação à escola, aos professores e aos seus líderes. Relembra-se que duas variáveis com grande impacto na motivação dos alunos são o clima de escola e uma liderança eficaz; delegação de competências por parte dos diretores a grupos de trabalho (coordenadores de atividades,...); existência de atividades na escola organizadas e dinamizadas pelos pais e pelos alunos; existência periódica de atividades de socialização entre o corpo docente (cursos de cozinha, atividades desportivas, passeios,…); políticas educativas estáveis e duradouras não se compadecendo com as mudanças dos órgãos do poder central; constatamos que todos os líderes das escolas que visitamos eram homens, não encontramos uma explicação razoável para tal!; os alunos Handbook do projeto MAIS
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revelaram um sentimento de agrado e reconhecimento em relação aos seus professores, alguns estudos confirmam a relação entre a satisfação dos alunos e a motivação dos professores, penso que isso explique também o bom clima que se vivia nas salas de professores. As surpresas: A reação dos alunos face à questão “gostas da escola?” todos foram unânimes na sua resposta que foi invariavelmente “sim, muito! Porque os professores e a escola são importantes para mim, ajudam-me a preparar o futuro!” transmitindo-nos assim uma versão utilitária da escola como determinante nas vidas dos alunos; Existência de um recreio compulsivo no espaço exterior, talvez devido às condições climatéricas, mas revelando também um gosto dos alunos pela sala de aula; a seleção das equipas do Diretor são da sua responsabilidade dispondo este de verbas extra para poder remunerar horas extraordinárias aos docentes, em caso de necessidade; a comunicação interna feita através de um sistema de som comum (altifalantes) a todos os espaços escolares, garantindo assim a eficácia da comunicação em tempo útil; um sistema de ensino onde não há espaço para inspetores, onde todos confiam e colaboram para o sucesso do sistema; gestão local do currículo nacional, ligação da escola ao mundo empresarial local, o diretor está devidamente informado das necessidades da sua região para que a escola possa adaptar o seu currículo para satisfação dessas mesmas necessidades; reuniões com Encarregados de Educação centradas no aluno e não noutras problemáticas o que inviabiliza perdas de tempo em reuniões intermináveis e pouco produtivas. Transferíveis: Conforto disponibilizado aos alunos nos espaços escolares, todos nós sabemos que a interação entre os pares promove a partilha da informação e do conhecimento, fomentando o desenvolvimento da inovação; Articulação entre ciclos; organização de atividades pelos alunos e seus Encarregados de Educação; Atividades de socialização entre pessoal docente; Maior autonomia dada aos alunos (realização de atividades evitando o excesso de regras, por exemplo limitações à comida, o uso dos telemóveis, plantas de sala de aula fixas,...); existência de um “amigo local” nas empresas para todas as turmas para que todos os alunos possam fazer atividades de carácter vocacional num total de 20 semanas por ano letivo. Focamo-nos agora no papel do professor enquanto agente motivado e motivador. É fundamental que este se sinta motivado, comprometido com a sua tarefa de educar, revelar dedicação, entusiasmo e responsabilidade no que faz, transmitindo uma imagem de confiança e usando de afetividade no processo de interação com o aluno. Só sob esta condição se transformará num agente motivador dos seus alunos que tudo farão para corresponderem às expetativas do professor. “Motivação, aprendizagem, inovação, satisfação. O quê?” Volto a enunciar o paradigma finlandês para concluir que o aluno ao sentir-se satisfeito com a escola reúne condições favoráveis para uma melhor aprendizagem o que por sua vez o Handbook do projeto MAIS
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torna mais motivado para aprender. Satisfação pressupõe assim uma relação com motivação, motivação esta que antecipa e probabiliza a inovação. Para ensinar, é preciso aprender. (Provérbio Popular Português)
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Professores Saudáveis, a diferença na Escola - Maria do Céu Oliveira
O Projeto MAIS, como desafio criado no Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté, teve, entre outros bons resultados, o de proporcionar o envolvimento de vários docentes em formações europeias. Tendo presentes alguns dos objetivos traçados pelo Agrupamento, nomeadamente: “(…)Os nossos professores necessitam de desenvolver e aprofundar a diferenciação pedagógica e saber criar ambientes de aprendizagem ricos e estimulantes (…); Os nossos alunos necessitam de desenvolver a criatividade e pensar "fora da caixa", com enfoque nas artes plástica, nas atividades físico-motoras e musicais; Professores e alunos necessitam de aprender a viver uma vida saudável em ambiente saudável, valorizando a atividade física, dando continuidade a atividades que suportam os projetos Ecoescolas, Desporto Escolar e Projeto RE...Conhecer. (…)” E depois de uma reflexão cuidada sobre o nosso dia-a-dia e as partilhas obtidas na formação “Professores Saudáveis/Escolas Saudáveis”, de 22 a 26 de fevereiro, em Tenerife, venho por este meio partilhar algumas ideias. A reflexão inicia-se com o próprio termo “Saudáveis”, como ponto de partida, incluemse não só os aspetos orgânicos/físicos, mas também os aspetos de ordem emocional/psicológicos, tendo em conta que o Ser Humano é um todo. Um Professor é um ser que enfrenta diariamente um conjunto muito diversificado de situações, a quem se exige a partilha do conhecimento (cumprimento dos programas da disciplina que leciona), diferenciação pedagógica, em turmas de 30 alunos incluindo alunos com Necessidades Educativas Especiais, criação de bons ambientes de aprendizagem, boa gestão de conflitos, incentivo ao desenvolvimento de modelos de vida saudáveis e de atuação comunitária, etc…, no entanto a situação atual centra-se efetivamente na exigência dos resultados, no stress da resolução dos problemas (pois a Escola é o local onde são bem diagnosticados todos os problemas que se vivem na sociedade), no stress da pressão de alguns Encarregados de Educação, no stress dos muitos aspetos de ordem burocrática, sem haver qualquer tipo de contrapartidas (e sem referir que estes seres também podem ter família/vida pessoal). “Metade dos professores portugueses têm níveis de stress que afetam o seu relacionamento com os alunos (…)” DN, 5 abril 2016 Como podemos ter Professores saudáveis com um nível tão elevado de stresse diário? Como podemos ter Escolas Saudáveis, num ambiente destes? Partindo da realidade e ouvindo outros parceiros que partilham das mesmas preocupações percebe-se que há ainda muito trabalho a fazer. O desafio é enorme e altamente aliciante. Os Professores são a base da Educação de um país, são a eles que os Pais e Encarregados de Educação entregam e confiam o crescimento intelectual e social dos seus educandos, logo são um grupo imprescindível na Sociedade, que faz a diferença na Escola.
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No sul da Europa o sistema social ainda não os valoriza na proporção da sua grandeza, mas a Sociedade ficará sem horizontes se os Professores não continuarem o seu excelente trabalho. A Sociedade e a Escola têm tudo a ganhar se investirem em espaços de bem-estar, em desafios de trabalho de equipa, às emoções, em momentos de quebra rotinas, em suma, em espaços onde os professores em equipa, com ou sem os alunos possam relaxar, ter atividade física, refletir sobre os seus benefícios, sentir os seus benefícios. Um Professor Saudável, física e emocionalmente, fará sempre a diferença numa escola, será modelo e exemplo para os seus alunos, sentir-se-á bem consigo, terá uma energia natural, boa disposição, será um excelente elemento para a equipa e saberá gerir melhor todo o turbilhão de situações vividas e sentidas pelos adolescentes. Incentivada pela formação em Tenerife e pela excelente equipa da qual fiz parte, chegámos à escola com a experiência de ter tido uma semana com espaço de atividade física, de alimentação saudável, de relaxamento, do pensar em nós, no nosso bem-estar, da reflexão sobre cada momento vivido e os respetivos benefícios, de partilha de ideias e de compromissos concretos. As propostas a implementar nas escolas e os modelos já desenvolvidos por outros parceiros europeus são acessíveis e começam na existência de: * uma hora semanal de atividade física; * uma hora de relaxamento e meditação; * valorização do trabalho docente com incentivo ao elogio, à paixão pelo ensino, ao saber ouvir, ao saber agradecer, ao olhar o lado positivo; *ao proporcionar refeições saudáveis, no estímulo a piqueniques e lanches saudáveis; *à existência de mais pausas ao longo do ano letivo; * à redução da carga burocrática; *à redução do número de alunos por turma; * a saídas de grupo, a fins-de-semana no campo, a passeios na natureza; *ao acompanhamento imediato dos professores que demostram maior cansaço e quem sabe um dia, ao reconhecimento público. Convicta e confiante de que a mudança é necessária e possível, convido todos à reflexão, à atuação e ao compromisso. “ Um professor influencia mais a personalidade dos alunos pelo que é do que pelo que sabe.” Augusto Cury
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Professores felizes, alunos motivados - Ângela Durão Lopes
Ser professor é uma missão, um trabalho a tempo inteiro, que exige um enorme investimento e esforço pessoal. Todos sabem que as tarefas de um professor não se restringem ao seu local de trabalho. Pelo contrário, ampliam-se e diversificam-se em casa, onde o computador se torna um fiel companheiro dos tempos livres. Nós, professores, sentimos esta necessidade em cumprir o que nos é exigido, porque somos bons profissionais, mas “inventamos” mais, porque queremos que os nossos alunos aprendam mais e melhor, sempre motivados. Tentamos fazer o possível e o impossível. Os alunos precisam de nós, a escola depende de nós, da nossa capacidade de trabalho e do bom profissionalismo. Os pais contam connosco, com toda a nossa disponibilidade e dedicação e nós, professores, tentamos corresponder a todas estas expetativas. Sente-se a fadiga dos heróis! Entramos numa ambição exagerada. É preciso provar aos alunos, aos colegas, aos pais – e até a nós mesmos – que se é plenamente capaz. Muito do tempo disponível é reservado para o trabalho. Dormir, relaxar, passar tempo com amigos parecem comprometer a capacidade de trabalho. A qualidade de vida do professor, foi há muito destruída! Penso que terá sido para nos por a refletir nestas problemáticas que terá surgido o curso que frequentei em Tenerife, associado ao Projeto MAIS – “Professores saudáveis - escola saudável”. Quando me inscrevi inicialmente, pensei que o curso estaria uma vez mais centrado nos alunos e no que poderíamos fazer por eles, de modo a torna-los melhores alunos e pessoas mais equilibradas. Enganei-me! O curso estava centrado no bem-estar do professor. “We are here for you!! - pareceu-me ser o lema do curso, dado o número de vezes que foi proferido pelo formador Dr. Tero Matkaniemi. De facto, NÓS somos muito importantes. O professor é a peça chave de qualquer sistema educativo. Se não nos sentirmos bem física, ou emocionalmente, se o desgaste tiver tomado conta do nosso ser, como podemos reunir energia para ensinar? Achei curioso que os professores das várias nacionalidades que frequentaram o curso (finlandeses, alemães, polacos, húngaros e eslovenos) sintam as mesmas preocupações, que sentimos em Portugal. Os problemas parecem ser transversais. Os professores sentem-se cansados pelo excesso de trabalho, pela burocracia em demasia, pelas poucas horas de sono. O sentimento de estarmos constantemente a trabalhar parece ser universal - trabalhamos muito em casa, estamos sempre ligados/conectados ao trabalho. A conclusão unânime a que chegámos foi a de que temos de gerir melhor o nosso tempo, de modo a centrarmo-nos mais no nosso bem-estar e em fazer o que nos dá prazer. De facto, precisamos pensar mais em nós, recuperar energias perdidas, encontrar sensações de paz, aprender a relaxar, para ganharmos bem-estar físico e psicológico. Um professor stressado irrita-se mais facilmente, sente-se mais rapidamente cansado, esgotado e vive na defensiva - tudo lhe parece um ataque à sua maneira de pensar ou estar e torna-se mais agressivo na sua relação com os outros. Infelizmente, os alunos que temos nem Handbook do projeto MAIS
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sempre facilitam o processo. Muitos dos jovens de hoje parecem padecer do chamado síndrome de pensamento acelerado (SPA), uma consequência do excesso de estímulos a que são submetidos no dia-a-dia. A SPA dos alunos faz com que, enquanto os professores falam, os alunos estejam agitados, inquietos, sem concentração, a meterem-se com os colegas, numa tentativa de aliviar a ansiedade gerada. Os professores estão presentes na sala de aula e os alunos estão noutro mundo. Na minha opinião, qualidades como ser bem-humorado e entusiasmado a transmitir as aprendizagens são tão importantes para combater a desmotivação e cativar a atenção dos nossos alunos como a habitual diversificação das estratégias de ensino com recurso às novas tecnologias. O professor deve exercer o seu papel com habilidade por meio da firmeza e da autoridade, mas também com tranquilidade, carisma e bom humor. É preciso que as pessoas que estão ao nosso redor, no caso, os nossos alunos, se sintam cativados pela nossa maneira de estar e reagir. Tudo fica mais fácil se conseguirmos manter a boa disposição e nos sentirmos felizes enquanto ensinamos. Um professor feliz é um professor tranquilo, bem consigo mesmo e com os outros. Claro que a felicidade é um sentimento que temos de sentir verdadeiramente. Ser feliz requer treino e não é uma obra do acaso. Temos de começar por aprender a respeitar os nossos limites e aprender a viver com mais calma. Procurar atividades que nos deem prazer e nos ajudem a relaxar. Pode ser passear à beira-mar, ler um bom livro, ouvir música, estar com amigos ou recorrer à prática de exercício físico como a natação, Yoga, meditação, aulas de fitness, ou outros… Cada um sabe o que mais aprecia! É um facto mais que provado que a atividade física traz inúmeros benefícios ao nível físico e emocional. Melhora a postura corporal, a coordenação motora, o equilíbrio e o conhecimento do corpo. Mas também estimula partes do cérebro antes não-usadas, ajuda a melhorar a capacidade cognitiva, auxilia o aumento de criatividade e da autoestima e dá um forte contributo na redução dos níveis de stress, irritabilidade e agressividade. Quando praticada em equipa potencia a comunicação e a integração no grupo, permite-nos interagir positivamente com os outros, construindo uma melhor camaradagem. Talvez por isso, o curso que frequentei sobre professores saudáveis - escola saudável, teve uma forte componente de prática desportiva. Durante a formação fizemos sempre atividades desportivas durante a manhã (natação, ginásio e caminhadas). À tarde, tivemos workshops onde nos dividimos em pequenos grupos para refletirmos sobre questões relacionadas com a importância da saúde e da atividade física para nós e na nossa escola; a importância de uma boa alimentação e em dormir bem. Ficou clara a importância de aprender a relaxar, de não atribuir demasiado valor a certas situações potenciadoras de mal-estar. Levar a vida mais assertivamente, ser mais calmo, mais tolerante com os outros, acaba por beneficiar a nossa relação com os alunos e colegas de trabalho. Não posso, nem quero terminar esta breve dissertação sem referir a importância do trabalho em equipa, porque para sermos verdadeiramente felizes, é preciso apoiarmo-nos uns nos outros, deixarmo-nos cativar pela boa disposição alheia ou tentar influenciar positivamente quem se sente mais em baixo. Handbook do projeto MAIS
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É verdade que os professores trabalham muito em grupo, é-lhes exigido com frequência que reúnam em departamento, secção disciplinar, conselhos de turma ou outros. Estamos reunidos em grupo, mas isso não significa que estamos a trabalhar em equipa. Ouvimos a opinião de um e outro, mas provavelmente (em diversas ocasiões!) não tentamos compreender diferentes pontos de vista, porque provavelmente não estamos disponíveis para faze-lo, a reunião alonga-se e nós olhamos para o relógio, pensando que a reunião que prometeu ser breve não parece ter fim. Sentimo-nos impacientes, sem vontade de escutar e pouco tolerantes para aceitar. Para querer ouvir ou ser ouvido, é preciso respeitar e ser respeitado! É importante sentir o espírito de camaradagem, a vontade de cooperar, de trabalhar em equipa. Não é por acaso que na Polónia, foi-me dito por uma colega polaca do curso que frequentei, o estado exige que todo o professor desconte uma parte do seu ordenado para a criação de um fundo a ser utilizado a meio do ano letivo para a atividade “teachers day”, que inclui um passeio, com atividades de “team building” e spa. Ainda quando me encontrava em formação nas Canárias com as minhas colegas, decidimos avançar com uma iniciativa no nosso agrupamento de escolas. Comprometemo-nos a realizar semanalmente o que viemos a chamar de “fitness meetings”. Estes encontros teriam como objetivo, aliar a prática desportiva à necessidade que sentimos de criar entre os professores laços de amizade e sentimentos de cumplicidade. Embora, de momento, os grupos ainda tenham uma dimensão reduzida, devido em parte a alguns constrangimentos de horário (ou outros), queremos acreditar que poderão vir a alargar-se. Não vamos desistir desta prática! O nosso objetivo é aumentar o nível de satisfação e a sensação de bem-estar. Criar pequenos momentos, em equipa, que contribuam para descomprimir e proporcionar uma nova e boa energia. O que irá ser, sem dúvida, uma maisvalia, com repercussões positivas ao nível das atitudes no trabalho. Vamos ser felizes, porque professores felizes cativam os seus alunos! Deixa-te contagiar!
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Um experiência de Jobshadowing em ENNIS na Republica da Irlanda – João Bispo, Ângela Veiga, Anabela Correia e Laura Casca
No âmbito do projeto MAIS foi possível a mobilidade de 4 docentes do pré-escolar e 1º ciclo à Irlanda, na modalidade de jobshadowing. Esta é uma forma de partilhar experiências de aprendizagem em contextos diferentes, a partir da observação das práticas pedagógicas quotidianas dos países envolvidos. Assim, na semana de 18 a 22 de abril estivemos em Ennis, uma pequena cidade do interior da Irlanda, a realizar uma formação em contexto. Este jobshadowing possibilitou-nos observar o dia-a-dia de duas escolas em locais distintos e de níveis sociais diferentes. Assistimos a aulas, interagimos com os alunos e com os docentes, observámos métodos, estratégias e tarefas relacionadas com a educação e o ensino. Conversámos, perguntámos e tirámos dúvidas em relação a situações específicas que fomos observando e ao funcionamento global do sistema de ensino irlandês. Neste país, o primeiro ciclo de estudos engloba crianças dos 6 aos 12 anos e o professor é monodocente podendo lecionar qualquer disciplina dentro deste ciclo. Exceção feita para as crianças do pré-escolar (senior infants), onde o professor tem que ter uma formação específica, à semelhança do que acontece no nosso país. Entrámos nas salas de aula e observámos contextos educativos comuns a qualquer situação de aprendizagem, sobretudo nas turmas dos alunos mais velhos. Com alunos dos primeiros anos observámos uma grande flexibilidade na organização de atividades comuns para grupos de idades e turmas diferentes, envolvendo vários professores e outros técnicos, tendo como objetivo o cumprimento dos programas/projetos em que a escola está envolvida. Destes programas assinalamos como boas ideias e boas práticas, o “Literacy Lift Off”, despertar para a leitura com crianças de 5 e 6 anos e o desenvolvimento da leitura e fidelização de leitores, com o programa “Accelerated Reader”, implementado a nível nacional, com recurso a aplicações online. Com este projeto, os alunos lêem livros para adquirirem pontos que se traduzem em prémios e diplomas de mérito. Todos os alunos tinham pilhas de livros recreativos em cima das mesas, para além dos manuais e estavam empenhados em ler o mais possível para responderem aos inquéritos online e assim acumularem o maior número de pontos dentro do tempo dado. O programa de interesse da área da matemática que observámos, “Mata Sa Rang”, também dirigido para alunos de 5 e 6 anos, consistia no despertar para a construção do sentido do número e desenvolvimento do cálculo. Muito do que vimos não foi novidade. Também na nossa escola promovemos muito a leitura com as inúmeras atividades que a biblioteca dinamiza e a matemática tem sido uma das apostas da escola há já alguns anos. Contudo, podemos fazer ainda mais e melhor e estas experiências podem ajudar a melhorar as nossas práticas e, acima de tudo, promover o sucesso dos nossos alunos. De destacar, numa das escolas visitadas, por ter sido demasiado evidente, o comportamento dos alunos, de todos os alunos. Calmos, assertivos e sorridentes. Pudemos observá-los em diferentes contextos, dentro das salas, nos corredores, em visita pela
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localidade, no recreio e o saber estar destes miúdos, sobressaía sempre, tanto no relacionamento entre si como com os adultos. Depois de algumas conversas com os colegas e a diretora percebemos que este é o resultado do programa “Incredible Years”, que promove o desenvolvimento das competências sociais e envolve toda a comunidade, alunos professores, funcionários e pais. Ficámos verdadeiramente impressionados. Foram dias intensos em que as horas passavam rapidamente, mas, ainda assim, tentámos rentabilizar ao máximo todo o tempo que tivemos, quer em contexto de trabalho, quer nos momentos culturais ou de lazer. Alargámos horizontes, trazemos ideias e queremos partilhá-las. Da promoção da leitura através dos programas “Litteracy lift off” ou “Accelerated readers” “à matemática com o “Mata Sa Rang” passando pelo programa “Incredible years”, eis aqui um enorme potencial de estratégias que poderão, num futuro próximo, se transformar em melhores resultados não só para os nossos alunos, mas para toda a comunidade escolar.
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Gestão e Liderança - Maria da Graça Carvalha
Estando a terminar o 5º ano, como Diretora do Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté, tenho tido um percurso de adaptação, de aprendizagem, de definição e reajuste de estratégias e de muita formação em Portugal e no estrangeiro senti, assim, necessidade de tomar contacto com outras realidades, para complementar a minha atividade, numa tentativa de me tornar uma líder mais completa, mais competente, mais proativa. Foi no âmbito da missão e do plano de intervenção estratégico para o Agrupamento, que procurei estabelecer um conjunto de iniciativas com o objetivo de internacionalizar o Agrupamento, de o tornar mais solidário, mais reflexivo, mais preocupado com a melhoria dos resultados escolares dos seus alunos e com as questões de saúde e bem-estar dos seus profissionais. Entre essas iniciativas destaco a participação em projetos nacionais e internacionais, alguns com financiamentos (clube europeu, desporto escolar, unidade de multideficiência, projetos ERASMUS+), que me permitiram fazer alguns investimentos, melhorando os espaços comuns (Biblioteca, Estudoteca, wc, sala dos DT e dos professores, campo de jogos), fazer algumas reformulações nas equipas de trabalho nomeadamente nos serviços administrativos e no pessoal não docente. Tenho a convicção que há variadíssimos fatores que interferem com o dia-a-dia da escola e da sua comunidade que, entre professores, alunos, funcionários e EE falamos em cerca de 2000 pessoas. Não é suficiente conhecer bem quem connosco trabalha, necessitamos de estar atentos às condições físicas e psíquicas de cada um deles, às questões económicas e sociais que interferem com a organização. Um funcionário motivado, realizado, chamado a participar na discussão sempre que se propõem alterações, a quem se explicam as mudanças implementadas aceita melhor as mudanças efetuadas, e tem um melhor rendimento no exercício das suas funções. Foi com o objetivo de motivação, inovação e satisfação profissional que candidatámos o Agrupamento ao projeto AK1 do programa ERASMUS+, para a frequência de cursos de formação para pessoal docente. Apostámos na formação na Finlândia porque tínhamos a garantia de ir aprender com os melhores, todos sabemos que o sistema Educativo Finlandês goza de um prestígio mundialmente reconhecido, o seu sistema educativo é uma história de sucesso. As temáticas escolhidas tinham como objetivo formar para inovar, para eventualmente mudar: gestão escolar, as salas do futuro e ambientes saudáveis e professores saudáveis. Responder a um conjunto de questões formuladas pelos docentes do Agrupamento, no Seminário de final do ano, em julho de 2015, no que concerne à gestão e administração Handbook do projeto MAIS
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escolar, foi um dos objetivos da ida de 4 elementos ao curso, em janeiro, à Finlândia, bem como, visitar as escolas e conhecer os diretores. A ida à Finlândia foi uma experiência muito gratificante e muito enriquecedora. Uma das temáticas do curso foi a partilha das melhores práticas na liderança e gestão, nunca perdendo de vista que os alunos são a razão do trabalho dos professores e do Diretor da escola, os alunos têm de saber o que os espera para além da escola, pelo que as redes e as ligações que se estabelecem são muito importantes nos resultados alcançados. Os alunos também aprendem fora da sala de aula, a título de exemplo, participam durante uma semana por ano, em atividades de estágio profissional, a partir do 7º ano. Os alunos são incentivados a participar ativamente na vida da escola, quer organizando a receção dos alunos mais novos, quer organizando festividades ao longo do ano e gerindo o bufete da escola. O Diretor é escolhido pelo Conselho de Educação do Município, não tem limite no seu mandato, será um cargo para a vida, se o Município assim entender. O Diretor escolhe depois os seus professores, com base no seu currículo e na entrevista, sendo valorizados aqueles que, perante as questões colocadas, demonstram flexibilidade, disponibilidade e compromisso com os objetivos definidos para a escola. Os professores são reconhecidos por todos, são respeitados por todos e são responsáveis, todos confiam nos professores. Ser professor é a profissão mais nobre, todos têm orgulho em ser professores. A colaboração entre os professores é essencial, assim, cada um, no seio da organização, tem um papel a desempenhar e o Diretor é responsável por definir as estratégias que permitam quebrar barreiras dentro da escola, os professores não têm de ser os melhores amigos, mas têm de trabalhar como uma equipa em torno de um objetivo comum. Até pode haver opiniões divergentes entre os profissionais mas, sendo todos adultos, é-lhes exigido que atuem como tal, devem esclarecer as situações profissionais em que divergem e a partir daí atuarem em uníssono. O Diretor tem de ser disponível, tem de saber ouvir os seus professores, alunos, colaboradores e as famílias, tem de dar o exemplo e tem de atuar como um verdadeiro líder, nessas circunstâncias, ou quando se reúne com os professores, no início de cada ano, para que eles se comprometam com um plano de intervenção pessoal na vida da escola (cada um deles terá de se responsabilizar por uma
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área), ou ainda quando fomenta atividades entre os professores, para fortalecer o espírito de equipa. Quando o Diretor distribui tarefas, nem sempre é democrático, muitas vezes tem de ser apenas gestor e distribuir as funções pelos seus colaboradores, de acordo com o seu perfil e com o que é melhor para a organização. O Diretor tem de confiar nos seus professores e por isso escolhe os melhores, pode gerir um orçamento para complementar monetariamente aqueles professores a quem atribui mais horas para o desempenho de determinada tarefa, na organização, não acrescenta recursos, rentabiliza os que tem e compensa-os pelo trabalho extra que lhes exige. Em suma, o respeito entre todos, o reconhecimento e a responsabilidade são a chave do sucesso do sistema educativo Finlandês. O Diretor deve ser um gestor que lidera a mudança, deve ser um Educador, há bons gestores que não conseguem liderar e há bons líderes que não conseguem gerir...
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