N.º 8 FEVEREIRO 2020 VERSÃO DIGITAL ENTREVISTA
O REGRESSO À ILHA
À CONVERSA COM EX-COLABORADORES DO JORNAL ESCOLAR
ESCOLA
PARLAMENTO DOS JOVENS DIÁRIO DE VIAGEM
ERASMUS + NA BÉLGICA
2 | EDITORIAL
PARECER OU SER MELHOR? Estamos no século XXI. Numa altura da História em que o caminho mais curto, menos didático e menos enriquecedor, é, muitas vezes, também o mais acessível. E então tornamo-nos sedentários, presos pela comodidade que nosimpede de avançar. A forma como os jovens se relacionam, se reconhecem, e se de nem, passa muito pelo estereótipo a que cada um “pertence”. O tempo é gasto numa corrida constante por “parecer melhor”, e o “ser melhor” torna-se secundário. A correria a que estão sujeitos todos os dias, a pressão imposta pela escola, pelos colegas, pela família, e pela necessidade de integração leva a que tudo o que de facto traz conhecimento, melhorias, e nos faz avançar em prol dos nossos verdadeiros objetivos, ca para segundo plano. Cada vez se torna mais acessível adquirir conhecimento em diversas áreas, dar a nossa opinião sobre os mais variados assuntos, pesquisar, conhecer, criar coisas novas. Ser ativo na comunidade e no mundo que nos rodeia. Tirar proveito da “aldeia global” em que vivemos.
PUB
PEQUENO-ALMOÇO FRANCO-INGLÊS
Nos passados dias 10 e 11 de dezembro, os alunos das turmas A, B, C e D do 8º ano puderam usufruir de uma atividade preparada pelas professoras de Inglês e Francês, no âmbito da Autonomia e Flexibilidade Curricular: um pequeno-almoço franco-inglês. Os alunos realizaram cartazes para divulgar a pesquisa feita sobre as tradições de cada IARA CÂMARA um dos países sobre os alimentos e bebidas dessa refeição. Foi posta a mesa e servido o pequenoalmoço com o objetivo principal de difundir aspetos culturais dos dois países e de adquirir, de forma lúdica, vocabulário inerente a conteúdos de aprendizagem comuns às duas línguas.
PÁGINA DA ESCOLA
ESCOLA | 3
PRINCÍPIOS DA DEMOCRACIA
O SPO VAI AO BAR
Decorreu no Auditório da Escola Secundária Vitorino Nemésio, no passado dia 13 de dezembro, uma dramatização sobre os princípios da Democracia onde historicamente se aponta que a mesma terá tido origens na Grécia antiga, sob o olhar e conduta da deusa Atena, deusa da Justiça, Civilização e Sabedoria. A peça teatral, outra forma de expressão artística, também ela associada a Atena e com origens gregas, contou com a colaboração dos jovens estudantes do 7º ano de escolaridade no âmbito da disciplina de História, ministrada pela professora Patrícia Melo e com a colaboração nos acessórios, guarda-roupa e cenários da professora de Artes, Sónia Bárbara.
Decorreu, no passado dia 16 de dezembro, a primeira atividade do projeto “O SPO VAI AO BAR”. Gostaríamosde agradecera participaçãodosalunos e mais uma vez solicitar temáticas e sugestões para serem debatidas no bar da nossa escola.
PÁGINA DA ESCOLA
PÁGINA DA ESCOLA PUB
4 | ESCOLA
LEITURA CONTOS NATAL
PEÇA TEATRO E ALMOÇO NATAL
Pela segunda vez, a biblioteca escolar dinamizou a atividade “leitura expressiva de contos de Natal”. Os alunos e professores sentem o espírito natalício mais cedo e em leituras partilhadas enchem de alegria a biblioteca escolar. Contámos com a ajuda de alguns alunos que frequentam a biblioteca escolar para as decorações de Natal.
Como tem vindo a ser tradicional, no último dia de aulas, antes da interrupção letiva do Natal, a Escola Secundária Vitorino Nemésio ofereceu um almoço de Natal a toda a comunidade escolar.
PÁGINA DA ESCOLA
JOÃO PEDRO COSTA
Num ambiente de partilha e confraternização, animado por uma peça de teatro organizada pelo Clube de Teatro da escola e pela atuação do habitual coro de Natal na escadaria central, foi celebrada esta época de paz e amor em ambiente escolar.
ESCOLA | 5
PRÉMIO REPORTAGEM
LOGOTIPO JOGOS DESPORTIVOS
No passado dia 18 de dezembro, por deliberação do júri nacional do Prémio Reportagem Parlamento dos Jovens, que reuniu para apreciar as candidaturas das 90 reportagens candidatas, provenientes de escolas de todo o país, nas categorias escrita e multimédia, referentes à sua participação no Programa, na edição de 2018/2019, foi atribuído à reportagem do aluno João Pedro Costa da Escola Secundária Vitorino Nemésio, o primeiro prémio na categoria multimédia do ensino secundário.
A proposta apresentada pelo aluno João Pedro Coelho da Costa, da Escola Secundária Vitorino Nemésio, venceu o concurso de ideias para o logótipo dos XXXI Jogos Desportivos Escolares.
A reportagem da Escola Secundária Vitorino Nemésio foi classi cadacom 19 pontos, recebendo assim a mênção de “excelente”, segundo critérios como a correção e pertinência da informação, criatividade na apresentação, sentido crítico sobre a experiência, bem como a sua adequação às características do trabalho jornalístico.
Este concurso de ideias, que visou selecionar o logótipo alusivo à edição de 2020 deste emblemático projeto de desporto escolar nos Açores, foi promovido pelas direções regionais do Desporto e da Educação. A edição deste ano dos Jogos Desportivos Escolares tem como lema “JDE – Educar a Jogar ”.
Nos termos do regulamento do concurso, as propostas de logótipo a apresentar deveriam ir ao encontro do tema plurianual “Desporto Escolar Açores ProSucesso”, re etindo a importância do desporto escolar na promoção do sucesso escolar e no reforço e valorização O repórter João Pedro Costa foi, assim, convidado de princípios e valores sociais, da cidadania a participar na Sessão Nacional de 2020 do e da identi cação com a cultura escolar. Ensino Secundário, na Assembleia da República, e a fazer a cobertura da referida sessão para as redes sociais do Programa. A escola recebeu edições da Assembleia da República, FRANCISCA AGUIAR
PÁGINA DA ESCOLA
6 | ESCOLA
ORIENTAÇÃO VOCACIONAL
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
Foi apresentado, no passado dia 8 de janeiro, no auditório da Escola Secundária Vitorino Nemésio, a cargo do Serviço de Psicologia e Orientação da escola, o Programa de Orientação Educacional e Vocacional através de uma das suas psicólogas, Verónica Raulino.
As escolas secundárias Vitorino Nemésio, Jerónimo Emiliano de Andrade e Tomás de Borba, na ilha Terceira, receberam, no passado dia 9 de janeiro, diversos equipamentos tecnológicos, no âmbito do projeto Arte na Escola, aprovado no Orçamento Participativo dos Açores.
A sessão contou com a presença de encarregados de educação e alguns alunos.
Os materiais, num valor global de 22 mil euros, foram entregues numa cerimónia que se realizou na Escola Secundária Vitorino Nemésio, na Praia da Vitória, tendo o Diretor Regional de Educação salientado o “interesse” deste projeto.
A mesma abordou a nova legislação referente ao acesso ao Ensino Superior, no que respeita à orientação dos alunos aquando da entrada no secundário, plataformas e aplicações com potencial para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem. No da
nal foi realizada uma pequena avaliação atividade por todos os presentes.
PÁGINA DA ESCOLA
Rodrigo Reis destacou a “importância” da participação dos jovens, seja apresentando, elegendo ou defendendo a escolha de projetos no âmbito do Orçamento Participativo, numa perspetiva de “ativismo e de cidadania”. Os equipamentos agora entregues às três escolas secundárias da ilha Terceira vão servir para a constituição de bancos de empréstimo de material tecnológico a alunos, tendo em vista a realização de trabalhos escolares e a participação em projetos e concursos multimédia.
PÁGINA DA ESCOLA
ESCOLA | 7
CORTA-MATO ESCOLAR
OLIMPÍADAS GEOGRAFIA
Após a fase de escola do Corta Mato escolar, realizou-se, em janeiro último, a fase de ilha, na zona do Paúl da Praia da Vitória, onde participaram cerca de 30 alunos da escola. Coube-nos, a nós, o 1º lugar em infantis B, com o Diogo Rodrigues, em iniciados com o Gustavo Landeiro e em juvenis com a Salomé Carvalho. No 2º lugar do pódio, em juvenis masculinos cou o João Fagundes. Estes últimos tiveram direito a presença na fase regional, realizada na ilha do Pico, onde apresentaram excelentes prestações, levando inclusive a Salomé Carvalho, com o seu 2º lugar, a apurar-se para a fase nacional que se realizou na Figueira da Foz, no passado dia 15 de fevereiro, situando-se num honroso 77º lugar entre 180 alunos participantes no seu escalão.
No dia 15 de janeiro, sete alunos da nossa escola participaram nas Olimpíadas da Geogra a, uma iniciativa conjunta da Associação Portuguesa de Geógrafos e da Associação Portuguesa de Professores de Geogra a. Parabéns aos sete alunos da Escola Secundária Vitorino Nemésio que participaram na prova e, em particular ao Luís Andrade, que foi apurado para a nal nacional, em Lisboa, a decorrer no próximo dia 24 de abril.
Outro dos projetos da Direção Regional do Desporto em que habitualmente a nossa escola participa, é o Mega sprint/salto, onde após fase de escola e fase de ilha, temos dois alunos apurados com excelentes marcas para a fase regional. São eles o Diogo Rodrigues e a Maria Oliveira no escalão de infantis. PÁGINA DA ESCOLA
PÁGINA DA ESCOLA
8 | ESCOLA
PARLAMENTO DOS JOVENS DEBATE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E NO NAMORO De 14 a 20 de janeiro, decorreu na Escola Secundária Vitorino Nemésio, a campanha eleitoral para o Parlamento dos Jovens. Nesta , defrontraram-se quatro listas, duas do ensino básico e duas do ensino secundário, que debateram, ao longo de toda a semana, as melhores propostas subordinadas ao tema da violência doméstica e no namoro.
cada nível de ensino, bem como escolhidos os deputados efetivos e candidatos à mesa. Do ensino básico, foram eleitos os deputados Gonçalo Matos e António Alves, ambos da lista A, e a candidata à mesa, Adelaide Costa, assumirá o cargo de secretária da mesma, na sessão regional, a acontecer no próximo dia 9 de março, na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, na Horta.
O debate eleitoral realizou-se no passado dia 20 de janeiro, onde as quatro listas puderam esclarecer e defender as suas medidas perante Do ensino secundário, foram eleitos os a comunidade escolar, os seus eleitores. deputados Ivo Moreno e Pedro Rosário, que O ato eleitoral teve lugar no dia 22 do mesmo representarão a escola e o seu projeto de mês. Contados os votos, os resultados, no recomendação, junto das restantes escolas ensino básico deram à Lista A, com 86 votos, 10 açorianas, no próximo dia 10 de março. mandatos na sessão escolar, e à Lista B, com 22 A Escola Secundária Vitorino Nemésio candidatavotos, 5 mandatos na referida sessão. No ensino se, também, pela primeira vez, ao Prémio secundário, os resultados deram a vitória à Lista Reportagem, a nível regional. Estão a concurso A que, com 98 votos conseguiu 9 assentos na as duas reportagens vencedoras da fase escolar, sessão escolar e, à Lista B, 61 votos e 6 mandatos. disponíveis para consulta na página da escola. Posteriormente, nos dias 23 e 24 de janeiro, deram-se as sessões escolar a nível do básico e secundário, respetivamente, onde foi votado o projeto de recomendação da escola para FRANCISCA AGUIAR
ESCOLA | 9
CONCURSO LEITURA
CAFÉ COM APP KAHOOT
A 1ª eliminatória do Concurso Nacional de Leitura - Fase Escola teve lugar no dia 24 de janeiro de 2020 com a participação de 61 alunos, sendo a sua maioria do ensino secundário.
A plataforma Kahoot foi o tema da terceira edição do “Café com app” que decorreu na passada terçafeira,dia 4 de fevereiro,nabiblioteca danossaescola.
Dos resultados da Fase de Escola caram apurados os alunos, do ensino básico, Iara Lourenço, António Alves, e Miguel Leonardo. Do ensino secundário, passam à próxima fase as alunas Sara Pereira, Jéssica Correia e Catarina Melo.
Enquanto saboreavam um cafézinho, os docentes participantes, orientados pelo professor Paulo Valadão, elemento da equipa da biblioteca escolar e da equipa REDA, exploraram as potencialidades desta plataforma baseada em jogos, primeiro na perspetiva do aluno jogador e, depois, na perspetiva do professor que pretende criar atividades de aprendizagem signi cativas e interativas com os seus alunos. Finalmente, falou-se do “Desa o Kahoot – Cultura Geral dos Açores”, cuja fase de escola decorreu no passado dia 14 de fevereiro, no auditório da escola, sob a coordenação da equipa da biblioteca. Os eventos “Café com app” fazem parte do projeto “Apprende”, uma iniciativa da biblioteca escolar que visa promover a literacia digital na comunidade escolar através da divulgação de plataformas e aplicações com potencial para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem.
PÁGINA DA ESCOLA
PÁGINA DA ESCOLA
10 | ENTREVISTA
EX-ALUNOS NO ENSINO SUPERIOR ABORDAM PERSPETIVAS DE FUTURO
REGRESSO AOS AÇORES DEPENDE, ESSENCIALMENTE, DA OFERTA DE TRABALHO Na última edição deste jornal, demos início a uma entrevista aos ex-colaboradores do jornal escolar que, por esta altura, frequentam o ensino superior. Falámos com eles acerca dos seus processos de decisão e da adaptação aos novos meios. Nesta edição, como prometido, a conversa continua através da abordagem de temas como a praxe, os movimentos académicos, as perspetivas de futuro e a ambição de regresso aos Açores. É do senso comum que, para um estudante açoriano, não é de todo fácil estar distante de casa. Pelo menos não é tão fácil como se possa idealizar, explica o Pedro Lopes: “Como já disse, fui imaginando um cenário muito positivo. Estou a viver o sonho. Mas o sonho também tem uns maus momentos pelo meio. Pensava que não era uma pessoa ligada à natureza, ao campo, à terra e à ruralidade. Vim a descobrir que sou. Tudo isso me faz muita falta. Sinto falta da minha freguesia, do meu porto de abrigo, daquela “pedra negra preciosa”, como dizia o Nemésio sobre o Porto Martins. Principalmente o mar. O mar é um sujeitinho cruel, de facto. Quando estava aí, sentia-me aprisionado, longe dos grandes
eventos e acontecimentos. Agora sinto saudades do que deixei para trás. O mar nunca me deixa estar satisfeito. En m, creio que a insatisfação é inerente à nossa condição de estudante.” Do ponto de vista do Joel Azevedo, o afastamento geográ co chega a ser mesmo o maior motivo para serem poucos os estudantes açorianos a estudar no continente português: “Estar longe das origens é difícil, mas o facto de ser deveras dispendioso, para os pais, arrendar apartamentos para os lhos, e pagar passagens de avião de vez em quando, é mais complicado. Os estudantes dos Açores vivem numa realidade oposta ao dos outros estudantes, uma vez que, vivem por sua conta, passam mais di culdades a todos os níveis, já para não falar, de que as oportunidades de trabalho lá, são bem mais limitadas do que no continente!” Por outro lado, a Ana Fagundes relata uma clara diminuição do fosso no acesso à cultura e ao conhecimento, entre os estudantes açorianos e os restantes. Chega mesmo a dizer que essas diferenças só existem se nós quisermos: “A participação em projetos que me zeram
ENTREVISTA | 11
descobrir o que havia mais além, durante o secundário, especialmente, foi muito importante para apagar essas diferenças. Porque a verdade é que nós temos experiências à nossa disposição. Se as aproveitarmos, se não carmos sentados, camos ao mesmo nível... Mas isto no que diz respeito a conhecimento prático. Porque em termos de conhecimento cientí co estamos tão preparados como qualquer outra pessoa: os programas escolares são iguais e os professores não são piores. A diferença faz-se sentir mais ao nível de escolas públicas e privadas, até diria eu.” No entanto, as opiniões são unânimes em relação ao acolhimento pelos colegas e aos processos de integração nos meios académicos, refere o Pedro: “A integração não foi difícil, de todo. É verdade que o ambiente das Belas Artes é mais acolhedor do que a maioria das faculdades, mas é tudo uma questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde, descobrimos um grupo que nos agrade. Descobri que ser açoriano é um trunfo. Temos uma experiência de vida muito diferente. A nossa maneira de falar distinguenos. O nosso temperamento marca a diferença.”
Em matéria de integração no meio académico, podemos destacar os movimentos estudantis e a praxe académica que, quando bem feitos, surtem resultados excelentes na adaptação de novos colegas, explica a Ana: “A praxe na FML é mesmo fantástica: sem dúvida, uma das razões para eu me ter adaptado tão rápida e facilmente, para além de ser uma grande causa da minha felicidade diária. O que sinto pela praxe em que estou integrada é amor: amor quando gritar a plenos pulmões no cortejo da latada, amor quando ouço a Tuna, amor ao traje que vou envergar no m deste ano, amor aos colegas com quem partilho tudo isto. Amor aos jantares da praxe também, façase justiça! Porque o convívio e a vida académica (na sua mais boémia, e bela, conotação) são uma parte importante e rica deste período das nossas vidas. Claro que festas e atividades praxistícas ocupam tempo, mas não tem de ser visto como tempo perdido e, mais, não signi ca que não somos alunos estudiosos e preocupados. Como tudo, exige gestão e responsabilidade. E claro que praxe não é só jogos e jantares... Tem uma componente muito séria e louvável: o ensino da
12 | ENTREVISTA
tradição, o ganhar orgulho pela nossa instituição (a nossa casa), o respeito pela pro ssão e pela voz do estudante, que tudo pode, se assim quiser. Pertencer a tudo isto vale os minutos a “cagar à caçador”. Assim como a adrenalina de berrar numa desgarrada vale os “castigos” enquanto não sabemos as canções, e tantas outros exemplos podia dar... No entanto, uma vez mais, esta é a minha visão. Sei que há praxe abusiva, mas isso é má praxe, é praxe mal feita, e nem é a maioria.” Ao abordar o tema das perspetivas de futuro e no regresso ao arquipélago, os estudantes referem que essa é ainda uma decisão distante e que dependerá, obviamente, das condições que o mercado de trabalho açoriano oferecer, como aborda a Madalena: “Ainda é um futuro distante, visto que o meu curso não tem mestrado integrado e dura 4 anos. No entanto, vejo-me como Procuradora de Justiça. Os Açores vão ser sempre a minha terra, o meu cantinho do paraíso. Se os Açores proporcionarem as condições aceitáveis para poder desenvolver a minha pro ssão, serão a minha primeira opção. Porém, somos a geração à rasca e há que ter a mente aberta quanto ao futuro.”
No entanto, em simultâneo, alguns deles já vão dando cartas a nível pro ssional, nas mais diversas áreas. É o caso do Pedro Lopes que, entretanto, lançou o seu primeiro livro numa editora de banda desenhada portuguesa. Fala-nos um pouco acerca do processo: “Na verdade, foi tudo muito natural. Comecei a BD aqui no jornal da escola e continuei a trabalhar nas férias de verão. O trabalho autónomo e a persistência são fulcrais para a concretização de qualquer projeto. Quando acabei de desenhar a última página, enviei um email à editora e eles acharam que seria um projeto interessante. Nunca tinham publicado um autor tão jovem. Foi interessante chegar ao AmadoraBD pela primeira vez já com uma obra publicada. Ainda há um longo caminho a ser percorrido no mundo editorial. Vejamos agora se consigo percorrê-lo. O que acho curioso é que o que começou como uma brincadeira na escola, ganhou fôlego para um projeto mais sério. Na verdade, tudo o que criamos neste jornal foi muito sério. Apresentamos propostas de escrita, de desenho, de edição. Nós, estudantes duma escola insular. Creio que nem todos se aperceberam ainda do que foi feito. Há
ENTREVISTA | 13
que fazer uma retrospetiva. Cabe à Vitorino saber preservar, cuidar e olhar com um sentido de futuro.” É assim, com este repto, que terminámos esta PUB entrevista. Agradecemos a colaboração dos entrevistados, grandes impulsionadores deste projeto que, certamente, lhes permitiu crescer na vida e, ainda hoje, inspira tantos outros.
FRANCISCA AGUIAR JOÃO PEDRO COSTA
14 | ZONA LIVRE
ZONA LIVRE | 15
FRANCISCA AGUIAR ILUSTRAÇÃO DIGITAL
16 | ZONA LIVRE
MARIA HORTA ILUSTRAÇÃO DIGITAL
ZONA LIVRE | 17
ANA BEATRIZ PEREIRA ILUSTRAÇÃO DIGITAL “CÍRCULO DAS BESTAS”
18 | ZONA LIVRE
CAMILA COTA DESENHO VETORIAL
DIÁRIO DE VIAGEM | 19
ALUNOS E PROFESSORES DEBATEM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA BÉLGICA NO ÂMBITO DO PROGRAMA ERASMUS+
No âmbito do programa Erasmus+ e do projeto “Don’t be Fuelish”, a Escola Secundária Vitorino Nemésio realizou mais uma mobilidade para uma reunião internacional, desta vez à cidade de Maaseik, na Bélgica. De 13 a 19 de janeiro, os alunos Beatriz Sousa, Maria Correia, André Rocha, André Raulino, Henrique Amaral e Rodrigo Costa, a frequentar os 11.º e 12.º anos, acompanhados pelos docentes Maria Cristina Codorniz e Paulo Valadão e pela Presidente do Conselho Executivo, Augusta Escobar, representaram o seu país, a sua região, a sua ilha e o seu concelho num projeto que tem como parceiros a Bélgica, a Roménia e a Lituânia. Durante esta semana, o grupo foi recebido pela Escola Mosa-RT, que mobilizou os seus alunos e as respetivas famílias para acolherem os nossos alunos.
desenvolvidas, os alunos assistiram a aulas, frequentaram workshops e palestras, realizaram e apresentaram trabalhos, ora decorrentes das formações ora das tarefas previamente preparadas, com o apoio dos professores, relativamente à temática central do projeto. A semana passada na Bélgica foi de trabalho intenso para todos, mas também repleta de grandes oportunidades do foro sociocultural. Os nossos alunos viveram com famílias locais, não só residentes na Bélgica mas também nos Países Baixos, a poucos quilómetros da Escola Mosa-RT, tendo adotado as rotinas dos seus an triões, criando laços de amizade e afeto indescritíveis. O grupo Erasmus+ teve, ainda, o privilégio de ser recebido pelo Presidente da Câmara de Maseeik, que nos dedicou uma receção de grande valor histórico e cultural, e pelo Parlamento Europeu, em Bruxelas, onde teve a oportunidade de assistir a uma apresentação sobre a União Europeia, as suas instituições e funcionamento, bem como de fazer uma visita guiada ao hemiciclo.
Este projeto levou a debate, mais uma vez, questões sérias da ordem do dia, relacionadas com as energias renováveis e não renováveis, com soluções para uma gestão energética consciente e inteligente, na luta incessante para uma casa comum mais saudável e duradoira. Os alunos da Escola Secundária Vitorino Nemésio De entre as múltiplas atividades educativas
20 | DIÁRIO DE VIAGEM revelaram, mais uma vez, um enorme sentido de responsabilidade, uma notável capacidade de trabalho, um invejável domínio da língua inglesa e competências de comunicação em público irrepreensíveis, sendo, por isso, alvo de elogios por parte de todos aqueles com quem se cruzaram, o que elevou a fasquia aos participantes parceiros. Os nossos alunos comoveram os professores, as famílias e alunos an triões, deixando a saudade portuguesa nos olhos que se encheram de lágrimas à partida. A nossa escola, os professores responsáveis por este projeto e os pais deste grupo de alunos sentem um imenso orgulho pelo que aqui, no concelho da Praia da Vitória, na Vitorino Nemésio, se faz!
LUANDA LEAKS
O QUE SE PASSA? Muitos já ouviram falar de Isabel dos Santos, mas poucos conhecem o pano de fundo por detrás da atual controvérsia. Dos Santos é uma empresária angolana que detém e controla mais de metade do capital do banco angolano (BFA), signi cando isto que é a africana mais rica, segundo a revista americana Forbes, possuindo um património líquido estonteante de 2 mil milhões de dólares estadunidenses.
AUGUSTA ESCOBAR PRESIDENTE DO CONSELHO EXECUTIVO
Em parte, a sua riqueza – ou pelo menos as oportunidades para a alcançar – advém do facto que o seu pai, José Eduardo dos Santos, foi o presidente da Angola durante 38 anos, tendo em muito privilegiado a família em detrimento do Estado. Efetivamente, este concedeu à lha a presidência da empresa petrolífera do país, enquanto a ela liderava a principal companhia de telecomunicações angolana, a Unitel, para além dos diversos outros empreendimentos que tem che ado e comprado. Em muitos dos seus negócios estão envolvidas empresas portuguesas que têm ações das de Isabel dos Santos (como a Altice Portugal), e esta também comprou ações de em Portugal (como
POLÍTICA | 21
a NOS Portugal): a ligação entre este problema de uma batalha judicial na Angola aberta pelo seu aparentemente estrangeiro e o nosso país. novo presidente, João Lourenço, com o intuito de Recentemente, têm sido abertas diversas con scar os bens da empresária em Portugal. Resta investigações a dos Santos, que despertaram a questão: será que estas investigações serão a polémica. Ora, a principal questão é que úteis, ou será o monopólio nanceiro e interesseiro se suspeita que muitas destas empresas, de Isabel dos Santos mais forte do que os sistemas preferencialmente de telecomunicações, sejam penais, permitindo que esta escape à justiça? fachadas para a lavagem de dinheiro, obtido por meios no mínimo duvidosos, seja por desvio de fundos do Estado através do seu pai, seja por outras vias ilegais. Portugal, ciente da atividade incriminatória de Isabel dos Santos, foram aceitando a sua participação nos seus negócios, a rmando que seria um problema que o país deveria resolver por si, e que em nada implicava um apertar de mãos que viria a bene ciar os interesses nanceiros dos empresários; a nal, a cavalo dado não se olha o dente.
RAQUEL COUTO
JUNTA-TE A NÓS!
De momento, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal Português abriu um inquérito a Isabel dos Santos e aos seus SUBMETE CONTEÚDO investimentos em Portugal, averiguando acerca ATRAVÉS DESTE de suspeitas de branqueamento de capitais, a par FORMULÁRIO!
22 | UM POUCO MAIS DE TERRA
AUSTERLITZ
ESTUDOS DO HOLOCAUSTO “Teremos aprendido alguma coisa? As pessoas raramente aprendem a partir da história e a história do regime Nazi não constitui excepção. Também falhámos na compreensão do contexto geral. Nas nossas escolas falamos, por exemplo, de Napoleão e do modo como ele venceu a batalha de Austerlitz. Ganhou-a por si só? Alguém o terá ajudado nesse feito? Talvez uns tantos milhares de soldados? E o que aconteceu às famílias dos soldados mortos, aos feridos de ambos os lados, aos habitantes das cidades que foram destruídas, às mulheres que foram violadas, aos bens e posses que foram saqueados? Continuamos a ensinar acerca dos generais, acerca dos políticos e dos lósofos. Tentamos não reconhecer o lado negro da história – os assassínios em massa, a agonia, o sofrimento que, vindo de toda a história, nos esbofeteia. Não ouvimos o lamento de Clio. Continuamos a não compreender que nunca seremos capazes de lutar contra a nossa tendência para a aniquilação recíproca se não a estudarmos e a ensinarmos e se não enfrentarmos o facto de que os humanos são os únicos mamíferos capazes de aniquilar a sua própria espécie.”
Temos aqui uma visão não mostrada da Shoah escrita por um autor alemão, ainda que tendo vivido os últimos trinta anos da sua vida no Reino Unido. Estarmos perante um alemão talvez não seja despiciendo em relação ao facto de a obra em análise falar da Shoah sem nunca a mencionar de forma aberta. Sebald não consegue falar directamente do horror da Shoah – na realidade julga ser impossível escrever sobre os campos de concentração – o que coloca os seus livros num campo de ambiguidade criticável; de algum modo o assunto dos seus livros é sempre o “lager” do qual ele nunca fala directamente. Alguns críticos mais ferozes dizem que o autor se limita a fazer rendilhados em torno de um tema demasiado sério para isso. Uma das formas que encontrei para dar conta dessa ambiguidade foi destacar no livro certas passagens que, se retiradas do seu contexto, parecem estar a falar, ou a descrever, aspectos do “lager” quando na realidade não estão, mas a nal estão! Aparte a riqueza literária da ambiguidade, o jogo parece também transportar o fantasma do relativismo dos acontecimentos em causa. Se é possível encontrar certas passagens no livro que literalmente descrevem o “lager” mas que no contexto do livro se aplicam a outros fenómenos, não poderemos nós concluir pela importância relativa desses acontecimentos? Por exemplo: “… rodopio encrespado de vapor que foi recobrindo gradualmente todo o chão de pedra, tornando-se cada vez mais denso e crescendo de forma visível até que apenas metade de nós próprios emergimos dele e em breve poderia até cortar-nos a respiração.” (p.136, Modern Library, p.128 edição portuguesa)
Esta passagem poderia ser lida como uma descrição do que se passou nas câmaras de BAUER, Yehuda, Rethinking the Holocaust, Yale gás quando as pequenas bolinhas verdes eram U.P., 2001, p.262. lançadas pelos alemães através de buracos existentes nos telhados e caíam no chão onde estavam as vítimas indefesas, mas, na realidade, W. G. SEBALD, Austerlitz. trata-se da descrição da chegada de uma neblina. De que fala este livro?
UM POUCO MAIS DE TERRA | 23 Outra passagem:
para descobrir quem somos, perscrutar esse “… um campo, de cor verde-veneno, mais atrás passado escuro: um complexo petroquímico já meio devorado “… olhos excepcionalmente grandes e pela ferrugem, de cujas torres e chaminés esse olhar fixo, inquiridor que se encontra saem nuvens de fumo branco, como deve ter em determinados pintores e filósofos que, acontecido sem cessar e há muitos anos.” com recurso apenas à pura observação e (186, 174) ao puro pensamento, procuram penetrar Ou ainda a passagem em que, sonhando, Austerlitz as trevas que nos cercam .” (p.4-5, 6-7) vê: “… altas chaminés encimadas por penachos imóveis de fumo branco recortadas contra as cores doentias que raiavam o céu ocidental.” (203, 189) Talvez até por causa do nevoeiro em que o tema está envolto, as primeiras imagens do livro nos forneçam algumas pistas acerca do labirinto para onde somos lançados ao iniciar a leitura. Falando de início na primeira pessoa, o narrador recorda uma das suas viagens a Antuérpia e o modo como uma dor de cabeça e pensamentos inquietantes o zeram refugiar-se no zoo da cidade tendo por m, visitado o Nocturama (um parte do jardim ocupada por animais para quem o dia é noite e a noite é dia). Este conceito, por si só, com as suas ligações à escuridão, à ilusão, ao espectáculo que é viver e ver, bastaria para introduzir alguns dos temas a destacar. Mas paremos nas quatro primeiras imagens. Que estatuto têm as imagens (fotogra as, desenhos, plantas, fotogramas) nos livros de Sebald? Serão apenas ilustrações? Muitas sê-lo-ão. Mas outras, como as quatro primeiras, parecem funcionar como um elemento textual – a imagem como texto, como narrativa não separada do texto, como não simplesmente ilustrativa – que permite libertar no leitor, em forma de sortilégio, outras ligações, signi cados, memórias, conhecimentos, interrogações, etc, que de outro modo não aconteceriam. Essas primeiras imagens, suscitadas pelo nocturama, fazem emergir a di culdade de falar de certos temas precisamente porque eles estão presos no passado mas, simultaneamente, e ligando com os olhos grandes dos animais nocturnos devemos,
Repare-se como a semelhança entre os dois pares de olhos dos humanos (Wittgenstein – os olhos deste lósofo servem-me também para recordar a frase que tudo tem a ver com o conteúdo deste livro: “acerca daquilo que não se pode falar, tem que se car em silêncio) e os dois pares de olhos dos animais só é dada através do nosso olhar sobre as fotogra as dos olhos deles e como a força e a riqueza da analogia acontece quando essa visão se liga com a sugestão de “penetrar as trevas que nos cercam”. O tema é, pois, o humano do pós-holocausto que, como os viajantes involuntários dos comboios da Europa nazi – vejase como o narrador chega de comboio à estação de Antuérpia e é “tomado de um mal-estar” – não sabe onde está, quem é ou para onde vai.
LUÍS FILIPE BETTENCOURT PROFESSOR DE FILOSOFIA
FICHA TÉCNICA COLABORADORES ANA BEATRIZ PEREIRA CAMILA COTA FRANCISCA AGUIAR IARA CÂMARA JOÃO PEDRO COSTA MARIA HORTA RAQUEL COUTO DESIGN GRÁFICO JOÃO PEDRO COSTA TIRAGEM ESCOLA SECUNDÁRIA VITORINO NEMÉSIO AGRADECIMENTOS CONSELHO EXECUTIVO
VERSÃO DIGITAL
OPINIÃO
DO MÉRITO À EXCELÊNCIA
CERIMÓNIAS E MAIS CERIMÓNIAS Apetece-me escrever isto todos os anos. Não é afinal, a primeira vez que sou convidado para uma cerimónia de entrega de prémios de mérito e excelência. Estou a escrever isto antes do início da cerimónia. Não faz mal. Prevejo o que vá acontecer. É o que acontece todos os anos. Ou não acontece, depende do modo como cada um vê as coisas.
É só um dia do ano. Um dia. Em que gosto de ver a minha família e a minha escola - toda a minha escola - aplaudir as minhas conquistas a nível escolar.
Nem a isso tenho direito. É difícil subir ao palco e não ver os professores, que nos põem à prova todo o ano, os funcionários, que lidam connosco e com quem partilhamos pensamentos, e os A valorização e o reconhecimento colegas sentados na plateia. do mérito de cada aluno é uma Arrisco-me a dizer que é uma matéria bastante delicada e um vergonha, mesmo sabendo papel que cada escola deveria toda a carga que o termo desempenhar com bastante acarreta. Também sei que estão carinho e dedicação. Uma cansados. Todos nós estamos. cerimónia que faça com que o aluno Façam um esforço. Antes todos se sinta valorizado é o mínimo que, eles fossem esforços destes. a meu ver, uma escola pode fazer. Estamos a ser injustos. A O mérito e a excelência de um valorização do nosso esforço aluno não deviam depender de está, inteiramente, nas mãos uma menção em ata de uma de profissionais que não reunião feita à pressa no final do nos dão a possibilidade e a ano. O mérito e a excelência de responsabilidade de, entre nós, um aluno não deviam depender de reconhecermos o trabalho dos critérios indefinidos, subjetivos e outros. É o quero, posso, e mando. vagos, escritos à pressa numas alíneas de um regulamento interno. Espero estar errado. Dou-vos tempo, a todos, para melhorar. Já estamos habituados a ficar Sinto também a obrigação de para trás no dia-a-dia. Somos pedir desculpa, a todos aqueles, ultrapassados por “ProSucessos”, que na próxima cerimónia, não “retenções”, “apoios”, vejam o seu trabalho reconhecido. “necessidades”, “perfis”, “metas” Estamos a falhar. A escola está e “aprendizagens essenciais”. Nós a falhar. Espero estar errado. não interessamos. Trabalhamos demais. Não é preciso tanto. JOÃO PEDRO “Nós temos de trabalhar para o COSTA 3”, ouvi eu uma vez numa reunião de um órgão desta escola.