INSTITUTO DE ESTUDOS AC ADÉMICOS PARA SENIORES Elo de relação e solidariedade entre as gerações Prof. Doutor Adriano Moreira
PORTUGAL fez uma longa caminhada de séculos, certamente com pontos fracos e pontos fortes na avaliação feita em cada nova conjuntura, mas o que fica de permanente no património da Humanidade são as emergências em que se inscreve a criação de novos países, entre os quais se destaca o Brasil, a contribuição para que finalmente chegássemos a uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, a marca no direito internacional sobrevivente às catástrofes militares, a doação da língua ao diálogo de milhões de seres humanos, a inscrição de valores inovadores no património de áreas culturais por onde passaram ou a soberania ou a evangelização, e a mundialização das interdependências que desafiam agora as intervenções da globalização em progresso. Na génese dos pontos fortes e dos pontos fracos dessa globalização estão a intervenção e a responsabilidade portuguesas. Não podemos ignorar o dever de continuarmos participantes nas respostas, desenvolvendo o esforço indispensável para que essa participação seja mundialmente válida e reconhecida. Começando por dar notícia de que o património humano ocidental, europeu, e mundial, que se trata de preservar e dinamizar, não é nosso. Mas também é nosso.
Acontece que no espaço europeu, a que pertencemos, se desenvolve um movimento, que é apoiado pelas suas Academias, no sentido de contribuir para o reforço desse património, impedindo que se enfraqueça ou quebre o elo de relação e solidariedade entre as gerações, um risco agudizado pela velocidade crescente de alteração da circunstância envolvente das comunidades, quer pela velocidade dos riscos que a nova polemologia tem dificuldades em identificar, quer pelos avanços da ciência e da técnica que alteram a relação com a natureza, com o passado, e com as perspectivas de futuro, quer pela incidência erosiva nas relações familiares, quer pelas inquietações específicas de cada ser com o mundo em mudança ao longo de uma vida que inevitavelmente avança para um ponto final. Também as Universidades estão a responder a tal desafio, cada interventora com especifico conceito estratégico, também instituições privadas anunciam o desafio, igualmente a nossa Academia responde com a vocação e meios de intervenção ao seu dispor. Temos felizmente na Academia a vontade cívica, o saber científico, e a determinação humanista, que nos asseguram a dignidade e riqueza da intervenção que vai empreender nesta área, com esperança fundamentadamente apoiada na qualidade dos intervenientes que imediatamente se decidiram a dar a sua contribuição pessoal, rica, e generosa. (excerto da lição inaugural do I Curso do Instituto de Estudos Académicos para Seniores, proferida em 18 de Outubro de 2010)
PROGRAMAÇÃO DE ABRIL/MAIO Palestras às 17 horas na sede da Academia das Ciências de Lisboa (Entrada Livre) 4 de Abril Aquecimento Global: Causas e Consequências Prof. Doutor Filipe Duarte Santos 6 de Abril A Água - Um Recurso em risco Prof.ª Doutora Maria Manuela Ribeiro Data a anunciar Energias Convencionais e Energias Renováveis Prof.ª Doutora Graça Carvalho 12 de Abril Religiões Abraâmicas e Globalização Prof. Doutor Peter Stilwell 13 de Abril Floresta, Economia e Ambiente Grupo de Reflexão do Ano Internacional da Floresta 16 de Abril Concerto de Páscoa - Música Popular Portuguesa e Europeia Coro de Câmara de Montargil 18 de Abril Cristianismo P.e Vitor Melícias
26 de Abril Islão Dr. Abdool Magid Karim Vakil 27 de Abril Judaísmo Rabino Shai di Martino 11 de Maio Ética, Profissão e Governação Prof. Doutor João Carlos Espada 16 de Maio Ética e Sociedade Prof. Doutor António M. Barbosa de Mello 18 de Maio Temas Actuais da Bioética Prof. Doutor Daniel Serrão e Prof.ª Doutora Ana Sofia Carvalho 23 de Maio Segurança Humana Mestre Isabel Moreira 25 de Maio Portugal e o Multiculturalismo Histórico Prof.ª Doutora Manuela Mendonça
2011
Nº 2 • ABRIL
ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA
Mês de Março dedicado ao tema do Mar Tal como fora anunciado, o Instituto de Estudos Académicos para Seniores dedicou ao Mar quase todas as palestras realizadas no mês de Março, no que contou com a colaboração de algumas das nossas maiores autoridades científicas neste domínio. O tema reveste-se de grande importância, não só pelo que o Mar sempre significou para Portugal ao longo dos séculos, mas também pelo que representa hoje como renovada oportunidade para a afirmação do nosso país no concerto das nações e como contributo que podemos legar para a prosperidade das gerações vindouras O Mar e o Poder Nacional pelo Almirante Nuno Vieira Matias Esta primeira palestra constituiu uma magnífica introdução a todo o ciclo de debates que se seguiu, com o seu autor, ex-Chefe do Estado-Maior da Armada, a mostrar com eloquência como a cultura marítima portuguesa faz parte do nosso património mais valioso. Tal como defendeu na sua conclusão, “o poder nacional no mar assenta em três pilares: Segurança e Defesa; Economia; e Ciência”, tendo deixado este último aspecto para o orador que se seguiu e detendo-se fundamentalmente nos dois primeiros. Mar – Oceano pelo Prof. Doutor Ricardo Serrão Santos Para este cientista e professor da Universidade dos Açores, o facto de o Mar ser uma fonte de alimentos, de medicinas, de valores estéticos, de recursos minerais, e constituir uma rota de circulação e trocas comerciais, dá desde logo uma dimensão da sua importância presente e futura para o nosso país. Depois de um entusiasmante discurso sobre os vários oceanos e o Mar, bem como sobre os habitats oceânicos, chamou a atenção para o facto de Portugal continuar a ser um repositório de conhecimentos sobre o Mar, do qual devemos tirar todo o partido.
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Política Comum das Pescas e Recursos Vivos pelo Dr. Eurico Monteiro Ex-Director-Geral das Pescas, este palestrante dividiu a sua apresentação em três grandes capítulos: As Pescas Portuguesas; a P.P.C. - Política Comum das Pescas; e A Revisão da P.P.C., sempre suportada por um forte aparato de indicadores. Na sua opinião, face ao progressivo esgotamento dos recursos pesqueiros, o nosso país deve concentrar-se no aproveitamento do seu potencial para a aquacultura, que virá a ter uma importância cada vez maior no suporte alimentar da Humanidade. Recursos do Fundo do Mar pelo Prof. Doutor Luís de Menezes Pinheiro Esta palestra, proferida por um eminente cientista da Universidade de Aveiro, produziu grande fascínio
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4 levaria rapidamente a uma situação de insegurança. Na sua opinião, “para Portugal, nos tempos actuais, a cooperação internacional é fundamental. Face ao enorme potencial de riqueza do Mar, precisamos de decidir o que deve ser feito com meios próprios e o que pode ser partilhado com outros”. Numa bela síntese de todo o ciclo de palestras, o Vice-Almirante Victor Cajarabille afirmou no fecho da sua apresentação: “O futuro promete reavivar a cultura do Mar como factor de identidade nacional”.
Segurança e Defesa do Mar pelo Vice-Almirante Victor Cajarabille Numa exposição muito detalhada dos conceitos subjacentes às noções básicas do quadro político-estratégico, o palestrante, possuidor de vasto currículo operacional e de pensamento, mostrou como a Segurança do Mar é um bem precioso, ainda que não totalmente compreendido, e que um vazio de meios
Legendas: Na companhia da nossa Directora, Prof.ª Dr.ª Maria Salomé Pais, os cinco oradores: 1 - Nuno Vieira Matias e Ricardo Serrão Santos; 2 - Eurico Monteiro; 3 - Luís de Menezes Pinheiro; 4 - Victor Cajarabille
PARA SABER MAIS
na audiência, pela revelação insuspeitada sobre o Mar como fonte de recursos: petróleo, gás, hidratos de gás, crostas e módulos polimetálicos, sulfuretos maciços, fosforites, placers (estanho, tungsténio, ouro, diamantes), carbonatos, areia, cascalho, etc. As numerosas amostras que trouxe consigo, de boa parte destes materiais, contribuíram sem dúvida para o impacte nos assistentes. Como tarefa prioritária no estudo do Mar no nosso país, apontou “a identificação e quantificação do potencial do Mar em recursos minerais e energéticos”.
A quem deseje alargar os seus conhecimentos acerca da temática do Mar, sugerimos a leitura de três obras disponíveis no mercado e que consideramos bom complemento para os vastos ensinamentos proporcionados pelos palestrantes que nos vieram falar sobre esta matéria. Políticas Públicas do Mar – Para Um Novo Conceito Estratégico Nacional, coordenação de Nuno Vieira Matias, Viriato Soromenho-Marques, João Falcato e Aristides G. Leitão. Resultante de uma parceria entre Academia das
Ciências, Fundação Calouste Gulbenkian e Oceanário de Lisboa, este livro reúne um leque alargado de especialistas nos vários domínios em que podemos decompor o ponto de situação da relação de Portugal com o Mar. (Ed. Esfera do Caos, Lisboa, 2010) Espaços Marítimos, Pesca e Sustentabilidade, nº11 da revista GeoINova. Vinte especialistas nacionais e estrangeiros são convidados a avaliar diversos aspectos do conhecimento científico e das actividades económicas decisivas para a constituição de um cluster do Mar em Portugal. (Ed. Departamento de Geografia e Planeamento Regional da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, 2005) O Mar no Século XXI – Contributo para Uma Análise Estratégica aos Desafios Marítimos Nacionais, de Armando José Dias Correia. Um livro que nos sensibiliza para os importantes desafios marítimos que Portugal e o Mundo irão enfrentar nas próximas décadas. (Ed. Fedrave, Aveiro, 2010)
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Uma “viagem” pela Pré-História
A actividade do Instituto de Estudos Académicos para Seniores continua a abranger diversificadas iniciativas de âmbito cultural, para além dos ciclos regulares de palestras que se iniciaram em Outubro do ano passado e se prolongam até Julho. Assim, no passado dia 24 de Março realizou-se um passeio à estação arqueológica de Leceia, no concelho de Oeiras, acompanhado e guiado pelo Prof. João Luís Cardoso, que é também o responsável pelo Centro de Estudos Arqueológicos daquela autarquia. Deste modo, foi possível visitar detalhadamente o local onde existiu há quatro séculos uma cidadela, instalada sobre uma escarpa rochosa sobranceira ao vale da Ribeira de Barcarena e defendida através de um elaborado sistema de muralhas. Tratar-se-ia, sem dúvida, de um dos principais pólos de fixação humana à entrada do Tejo, naquela época. Os trabalhos de arqueologia efectuados no local permitem concluir que a sua ocupação ocorreu entre o Neolítico Final (3200-3000 anos a.C.) e o Calcolítico Final (cerca de 2000 anos a.C.), na Idade do Bronze, ou seja, ao longo de aproximadamente um milénio. Os vestígios encontrados apontam para a existência de uma população dedicada à actividade agro-pecuária, a par da caça e da captura de peixe e marisco quer na Ribeira de Barcarena (então Rio) quer no litoral (que, ao tempo, se situaria acima do nível actual). A visita prosseguiu depois nas instalações da antiga Fábrica de Pólvora de Barcarena, onde está a ser preparada uma exposição que tem como ponto central um complexo de maquetas do povoado pré-histórico de Leceia e uma mostra abundante de artefactos encontrados no local da que é hoje uma das principais estações arqueológicas da Península Ibérica. O regresso a Lisboa deu-se já ao cair da noite, com todos os alunos do Instituto concordando na conclusão de que tinham vivido uma das mais estimulantes experiências do seu curso.
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PATRIMÓNIO DA ACADEMIA
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Com traço do arquitecto Joaquim de Oliveira, sob orientação do Provincial da Ordem Terceira da Penitência de São Francisco Frei Manuel do Cenáculo, o grandioso salão tem de dimensões 31 m (comp.) x 15 m (larg.) x 11,15 m (alt.). A decoração do tecto é de autoria do pintor Pedro Alexandrino de Carvalho.
DE LIVRARIA DO CONVENTO A SALÃO NOBRE DA ACADEMIA Salão Nobre da Academia das Ciências de Lisboa está instalado na que é considerada uma das mais belas bibliotecas existentes em Portugal, com remota origem na livraria do extinto Convento da Nossa Senhora de Jesus, em cujo edifício aquela instiuição funciona desde 1838. A esse valioso património inicial somou-se o Legado da Fundação Maynense, instituída pelo Padre José Mayne, sábio Provincial da Ordem dos Terceiros Franciscanos, que presidia ao convento e que estabeleceu hum perpetuo fundo para enriquecimento da nova livraria. Independentemente de tais doações, nunca a Academia das Ciências, desde o momento da sua fundação, em 1779, deixou de enriquecer tão extraordinário acervo, que hoje reúne mais de um milhão de espécies e cerca de três mil manuscritos portugueses, árabes, espanhóis e hebraicos. Entre as preciosidades bibliográficas da sua colecção (as mais importantes das quais remontam aos séculos XIV a XVII) contam-se um exemplar da edição prínceps de Os Lusíadas, de 1572, doado em 1831 pelo Dr. António José de Lima Leitão, médico insigne e tradutor ilustre dos clássicos Virgílio e Mílton. Guarda-se também na actual biblioteca da Academia o incunábulo Bíblia Latina, impresso em Mogúncia em 1462 por dois sócios de Guttemberg; o Missal de Estêvão Gonçalves, de 1610, que foi usado nas cerimónias de aclamação e juramento dos últimos monarcas porugueses; e ainda os códices Livro das Armadas (de 1497 a 1563) e Crónica Geral de Espanha (sécs. XIII e XIV).
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O Marquês de Pombal considerou-a “obra pública da cidade”
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grandiosa obra da livraria do Convento da Nossa Senhora de Jesus, por ocasião da reconstrução geral empreendida a seguir ao terramoto de 1715, deve-se fundamentalmente a Frei Manuel do Cenáculo, um dos espíritos mais cultos do seu tempo e figura altamente prestigiada na Corte portuguesa. As plantas do projecto de Cenáculo, tarefa de que se desempenhou o Arquitecto Joaquim de Oliveira, autor
da frontaria da capela do convento (presentemente Igreja Paroquial das Mercês), foram aprovadas pelo Marquês de Pombal como “obra pública da cidade”. As belas figuras que ainda hoje se podem apreciar no tecto foram executadas pelo pintor Pedro Alexanrino de Carvalho, que era conhecido como “pintor dos frades”, certamente devido ao elevado número de obras que pintou para conventos e casas religiosas, entre os quais a Sé de Lisboa.
“... esta livraria, uma das mais curiosas e a mais elegante desta capital” UM curioso magazine de 1816 é possível ler uma saborosa (e em grande parte actual) descrição da sala de livraria que constitui nos nossos dias o Salão Nobre da Academia das Ciências de Lisboa, de cuja publicação reproduzimos um excerto de acordo com a transcrição do escritor e olissipógrafo Ferreira de Andrade trazida à luz em 1946: “(...) tem 280 palmos de comprimento e 80 de largo, ocupa na sua altura os três pavimentos dos claustros e recebe a luz de 20 janelas. As estantes em que está colocada formam dois corpos, divididos por uma cimalha e uma balaustrada geral, para cujo segundo corpo de estantes se sobe por quatro escadas em caracol colocadas no interior de uns corpos salientes e convexos, que nos quatro ângulos da sala ornam e prendem as estantes do lado às dos topos da mesma sala. Sobre a cimalha real, no prumo de cada pilar das divisões das estantes, está colocado um busto dos sábios mais distintos de todas as nações. Ali, a par de Virgílio, se vê o nosso Camões; a par de Newton, o nosso Nunes; a par de Cícero, Tácito e outros mestres da eloquência e da História, estão Osório, Foreiro, Barros, Resende, Góis e outros distintos sábios da nação portuguesa, primorosamente esculpidos e pintados fingindo mármore; o que, junto com o grande quadro do tecto, representando as Ciências e as Virtudes, presididas pla Religião, e a pintura e doiradura dos ornatos que embelezam as estantes, sobressaindo a tudo as primorosas encadernações de um grande número de livros e edições raras, acreditam esta livraria, uma das mais curiosas e a mais elegante desta capital.”
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CONCERTO DA PÁSCOA Sábado dia 16 no Salão Nobre da Academia das Ciências de Lisboa
Música Popular Portuguesa e Europeia pelo Coro de Câmara de Montargil dirigido pelo Maestro Manuel Ferreira Patrício
PROGRAMA I PARTE Ó sino da minha aldeia (poema de Fernando Pessoa e música de M. F. Patrício) Rosa de Alexandria (canção popular do Minho) Não segueis o trigo verde (canção popular de Trás-os-Montes com harmonização de Fernando Lopes Graça) Oh, que janela tão alta (canção popular de Trás-os-Montes com harmonização de Fernando Lopes Graça) Senhora do Almortão (canção popular da Beira Baixa com harmonização de Mário de Sampayo Ribeiro) O milho da nossa terra (canção popular da Beira Baixa com harmonização de Fernando Lopes Graça)
II PARTE Eu hei-de-me ir ao presépio (canção popular de Elvas - Alentejo com harmonização de Mário de Sampayo Ribeiro) Fui-te ver ‘stavas lavando (canção popular do Alentejo com harmonização de Fernando Lopes Graça) Oh, Baleizão, Baleizão (canção popular do Alentejo com harmonização de Manuel Ferreira Patrício) Acordai (poema de José Gomes Ferreira com harmonização de Fernando Lopes Graça) Signore delle crime (de Giuseppe di Marzi) Oh, Santíssima (canção popular da Sicília)
ENTRADA LIVRE
INFORMAÇÃO DO INSTITUTO DE ESTUDOS ACADÉMICOS PARA SENIORES Directora: Maria Salomé Pais Academia das Ciências de Lisboa
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R. Academia das Ciências, 19 1249-122 Lisboa (junto à Rua do Século)
Telefone: 213 219 730 Fax: 213 420 395 www.acad-ciencias.pt