Jorge Adolfo M. Marques
Vila ChĂŁ de SĂĄ A nossa terra e as nossas gentes
Jorge Adolfo M. Marques
Vila ChĂŁ de SĂĄ A nossa terra e as nossas gentes
2008
Título
Agradecimentos
Vila Chã de Sá: a nossa terra e as nossas gentes Aos senhores Prof. José Ernesto Pereira da Silva (Presidente da Junta de
Autor Jorge Adolfo de Meneses Marques
Freguesia de Vila Chã de Sá), Dr. José António S. Fernandes (Secretário da Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá), Sr. António José Ferreira (Tesoureiro
Colaboração
da Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá), Monsenhor José Fernandes Vieira
Prof. José Ernesto Pereira da Silva
(Jornal da Beira), Padre Daniel Lopes dos Santos (Paróquia de Vila Chã de Sá),
Arquivo Distrital de Viseu
Doutora Maria de Fátima Eusébio (Departamento dos Bens Culturais da Diocese
Edição
de Viseu), Doutora Sara Manuela Augusto (Universidade Católica Portuguesa,
Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá
Viseu), Dr. João Nunes (Escola Superior de Educação de Viseu), Drª Maria das Dores Almeida Henriques (Arquivo Distrital de Viseu), Drª Vera Lúcia Magalhães
Financiamento
(Museu da Misericórdia de Viseu), família do Padre António Barbosa, família da Profª. Zulmira, família do Sr. António Pereira Marques Novo (soldado do Corpo Expedicionário Português), Engº. Gonçalo Calheiros e família Lemos e Sousa, Sr. Inocêncio Fernandes Dias, Sr. Joaquim Conceição Pereira, Dr. José Figueiredo, Junta de Freguesia
Irmandade de S. Sebastião de Vila Chã de Sá, Grupo de Cantares de Músicas de Tradição Popular Portuguesa “Cantorias” e antigos dirigentes do GJATC e GITAV, o nosso bem-haja pela colaboração dada durante a realização deste trabalho.
A24
5
A2
Viseu
A25
Vila Chã de Sá: vista panorâmica
Vila Chã de Sá
Vila Chã de Sá: vista aérea IP3
Concelho de Viseu
Área: 8,9 km2 População: 1565 (censos 2001) Paróquia: S. João Baptista Armas - Escudo de prata, cacho de uvas de púrpura, folhados de verde, entre dois ramos de pinheiro de verde, frutados do mesmo; em chefe, cruzeiro de negro, realçado de prata; em ponta, quatro burelas ondadas de azul e prata. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro, em maiúsculas:“VILA CHÃ DE SÁ”.
Publicar a história da nossa freguesia era um projecto que tínhamos em mente há muito tempo. Hoje concretizámos essa ambição. A Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá ao editar o livro Vila Chã de Sá: a nossa terra e as nossas gentes tinha como objectivos principais procurar dar a conhecer a sua história e património, valorizando-os dessa forma, e fortalecer o gosto de todos os vilachanenses pela sua terra. Pensamos que ao folhear este livro encontrar-se-ão motivos para nos sentirmos ainda mais ligados à freguesia onde viveram os nossos pais, os nossos avós e bisavós, freguesia que nos viu nascer e crescer, onde brincámos e aprendemos a ler e escrever, onde temos a nossa família e amigos. Procurou-se nos vestígios arqueológicos e arquitectónicos, nos documentos escritos, nos jornais e fotografias antigas, recuperar a memória das gentes de antanho, não com um propósito saudosista mas olhando para o futuro, para a importância que tal memória pode ter na educação, no ensino, das nossas crianças e jovens. Não podemos esquecer que um povo sem memória é um povo sem futuro. Este é, como muitas vezes nos referiu o seu autor, um trabalho inacabado. Trata-se de Vila Chã de Sá: poldras na ribeira de Sasse
uma primeira pedra de um edifício que será construído com a colaboração de outros e, se possível, de todos. Nos próximos anos novos trabalhos de investigação sobre a nossa freguesia revelarão e aprofundarão outros aspectos da nossa história colectiva. Haja vontade e engenho e aportaremos novamente a bom porto. À frente da Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá há vários anos, não poderei deixar de expressar, nesta ocasião, uma palavra de profundo e sentido agradecimento à minha família, que muito contribuiu com o seu conselho para me ajudar a resolver problemas da freguesia e a todos aqueles que comigo partilharam as responsabilidades autárquicas, tendo sempre como meta o desenvolvimento da nossa terra. Aos membros da Assembleia de Freguesia também o meu bem-haja pelo trabalho em prol do engrandecimento de Vila Chã de Sá. Para finalizar, gostaria também de deixar uma palavra de muito apreço ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Viseu, dr. Fernando C. Ruas, pela sua dedicação e trabalho em prol do bem comum. José Ernesto Pereira da Silva Presidente da Junta de Freguesia de Vila Chã de Sá
Índice
13 Naquele tempo... Vila Chã de Sá das origens ao século XVI 41 A paróquia de S. João Baptista de Vila Chã de Sá 97 Património Etnológico 123 Vila Chã de Sá do Liberalismo à Democracia
Fotografia de Srª D. Margarida Lemos e Sousa na Pedra d’Águia, tendo em pano de fundo uma vista panorâmica de Vila Chã de Sá na década de 30. Em primeiro plano vê-se a casa do sr. Gonçalo Pereira da Silva “Beleza”. Ao longe distingue-se, no meio do casario, a torre da igreja paroquial.
Naquele tempo... Vila Chã de Sá das origens ao século XVI Em quase todas as povoações do nosso país há histórias
em que Santana era competente dado que era dentista;
que nos relatam acontecimentos protagonizados por
precisava da ajuda de alguém para desvendar o mistério.
figuras
passado
Encontrou um sócio para a aventura em Cambetas,
mais ou menos longínquo. Também no imaginário dos
célebres
da
figurão de Vila Chã de Sá, tido como desordeiro
vilachanenses encontramos uma dessas narrativas que, à
militante. Quando havia confusão, lá estava o Cambetas.
parte o recambulesco desenrolar dos acontecimentos, nos
Não se sabe exatamente quando os dois se decidiram a
reporta para a necessidade constante que o homem tem de
encontrar a melhor forma de aceder ao ouro do “Penedo
tentar descobrir a verdade por detrás das lendas…
da Fechadura”. Parece que a dupla Santana & Cambetas
Conta-se em Vila Chã de Sá que lá para os lados da Ponte
organizou uma espécie de procissão ao lugar, segundo
do Entrudo havia um grande penedo que guardava no
consta a ler o Livro de S. Cipriano, talvez para ver se a
seu interior um chorudo pote de libras. O obeso calhau,
monumental rocha se abria como uma casca de noz ao
baptizado popularmente como “Penedo da Fechadura”,
som das poderosas ladaínhas e do seu miolo granítico
era, segundo consta, o rei daquela paisagem desde que
saltavam as moedinhas douradas. Apesar da crença que
Deus criara o Mundo. Ora, vai daí, um tal de Santana,
ambos tinham na lenda geológica e no poder da oração,
regressado do Brasil onde havia estado emigrado durante
não aconteceu nada. Mais, durante a ida até ao penedo,
alguns anos, sendo conhecedor da lenda, começou a
Cambetas foi atingido por uma pinha na cabeça tendo
magicar como havia de abrir a fechadura daquela arca do
concluído do fenómeno natural que se tratava de um
tesouro. Não bastava dar uma injecção no calhau, arte
mau presságio para a empresa. Seria trato do Demónio?
Castelo dos Mouros: casa 12
terra,
ocorridos
num
(pág. anterior)
13
Castelo dos Mouros: muralha
Castelo dos Mouros: localização
Castelo dos Mouros: casas
Para grandes males, grandes remédios. Não abre com
de catástrofes bíblicas, etc. Penso que este é também o
Sudeste-Sul, remonta à Pré-história, mais concretamente
(Vouzela), e uma casa de planta rectangular, também
rezas, abre à bruta. E assim, os dois amigos, pelo menos
caso da lenda do “Penedo da Fechadura”.
ao Bronze Final, período compreendido entre 1200 e
semelhante a casas da Cárcoda. Estas habitações foram
750 a.C. Com duas linhas de muralhas, uma delas muito
construídas na Idade do Ferro. Na Casa II foi encontrada
de ocasião, partiram o penedo à marretada e a guilho e encontraram um monte de … calos, nas mãos.
A história do território que constitui a freguesia de Vila Chã
bem preservada, o Castelo dos Mouros, como muitos dos
uma pequena estrutura de combustão de planta circular,
A lenda do pote de libras dentro do penedo não passava de
de Sá começa há cerca de 3 mil anos, quando as primeiras
povoados fortificados seus congéneres do Noroeste de
tipo fogueira, delimitada por pequenas pedras. Sob o
uma história fantasiosa. Não sabemos com que cara terão
populações se fixaram no povoado fortificado do Castelo
Portugal, foi fundado no final da Idade do Bronze mas
pavimento da Casa I identificaram-se vestígios de um
ficado os dois, depois de tamanha peripécia. Porém, se
dos Mouros. Talvez já anteriormente, desde o Neolítico
terá tido o seu apogeu no período seguinte, a Idade do
pavimento, possivelmente de uma cabana da fase inicial
estes exploradores ainda se encontrassem entre nós, dir-
Final, pequenos grupos populacionais semi-nómadas pré-
Ferro. Esta segunda fase prolongou-se até aos primeiros
de ocupação do castro, a que se sobrepôs a casa da
lhes-ia que nas lendas há sempre algo que pode ser muito
históricos, que viviam da caça, pesca, recolecção e agro-
dois a três séculos da nossa Era, quando o território já se
Idade do Ferro. Esta sobreposição tem-se detectado
útil para o investigador local. Este procurará separar o trigo
pecuária, deambulassem por estas terras uma vez que
encontrava sob domínio romano.
noutros povoados coevos, como no já citado Cabeço do
do joio, como se costuma dizer, isto é, o exclusivamente
são conhecidos na região vários monumentos megalíticos
lendário da história, da verdade por detrás da lenda. E,
dessa época.
neste caso, temos de referir que a lenda do “Penedo da
Couço. Associado aos vestígios da cabana, recolheram-se Entre 1992 e 1996 este castro foi objecto de escavações
fragmentos de uma taça carenada e fragmentos cerâmicos
arqueológicas (COELHO, 1941: 391-392; PEDRO, 1995;
brunidos com decorações incisas pré e pós-cozedura, tipo Baiões-Stª Luzia.
Fechadura” encerra, de facto, algo de verdadeiro no seu
O Castelo dos Mouros é onde se encontram os vestígios
PEDRO, 1996: 177-203; PEDRO, 2000: 155-156) que
âmago, porque nas proximidades onde existiu, situa-se um
mais antigos da presença humana no território que
permitiram colocar a descoberto duas casas de planta
povoado castrejo que, neste tipo de histórias populares,
constitui a freguesia de Vila Chã de Sá. O estabelecimento
circular (Casa I e II), em pedra, iguais a outras já conhecidas
A cerâmica da Idade do Ferro, mais abundante do que a do
está quase sempre associado a lendas de mouras
de populações nesse local, situado entre o rio Pavia, que
em diversos povoados da região de Viseu, como são os
período anterior, apresenta motivos decorativos de que se
encantadas, de tesouros escondidos, de bezerros de ouro,
corre a Noroeste-Oeste, e a ribeira de Sasse, que corre a
casos da Cárcoda (S. Pedro do Sul) e do Cabeço do Couço
destacam os estampilhados.
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Castelo dos Mouros: lareira
Castelo dos Mouros: decoração das cerâmicas (A partir de Pedro, 1995: Est. LVIII)
No
recipientes,
Algumas mós de rebolo recolhidas no Castelo dos Mouros
encontraram-se fragmentos de taças, de potes de pequena,
que
diz
respeito
à
tipologia
dos
testemunham-nos a prática da moagem, que poderia ser
média e grande dimensão, de púcaros e de um coador,
de cereais cultivados nos terrenos envolventes do povoado.
eventualmente para fazer queijo.
No castro da Srª da Guia (S. Pedro do Sul) recolheram-se
Ainda no domínio da cerâmica, foram recolhidos nove
em contexto arqueológico alguns grãos de trigo e cevada
cossoiros que comprovam a prática da fiação. Estes verticilli,
bem como favas e ervilhas, testemunhando o seu consumo
como lhes chamavam os romanos, eram aplicados à ponta
nestes povoados. As mós eram também utilizadas para
inferior do fuso para que este mantivesse a rotação que
farinar bolotas. Estas, depois de secas ou torradas, eram
O mesmo tipo de objectos em bronze, têm sido recolhidos
O gado vacum, para além de fonte alimentar, era também
a fiandeira lhe imprimia. Fiava-se não só lã, intimamente
moídas para fazer um tipo de pão que ainda era consumido
ocasionalmente em trabalhos arqueológicas realizados em
utilizado como animal da tracção, quer em trabalhos
associada à criação de gado ovi-caprino, mas também
na Idade Média, sobretudo em tempos de crise alimentar.
diversas estações arqueológicas da região de Viseu, pelo
agrícolas, quer de carroças.
Castelo dos Mouros: cossoiros
Machados e foices em bronze
(A partir de Pedro, 1995:Est.XLI)
Colecção Arqueológica da Universidade Católica Portuguesa – Viseu
que não constituirá surpresa se no futuro o mesmo se
O consumo de carne não se restringia à proveniente dos
Do conjunto de objectos recolhidos no Castelo dos Mouros,
Na ceifa eram utilizadas foicinhas de alvado, em bronze,
verificar no Castelo dos Mouros.
animais domésticos. Como se tem concluído em alguns
datados do Bronze Final, fazem também parte um conjunto
iguais às encontradas em Stª Luzia (Viseu), no Cabeço
A criação de gado doméstico era comum nestes povoados.
estudos de arqueofauna (CARDOSO, 1996: 160-170),
de objectos em bronze, de que destacamos parte de uma
do Couço e na Srª da Guia. Entre as dezenas de objectos
Já referimos o gado ovi-caprino relacionado com a produção
também era consumida carne de espécies caçadas,
fíbula de enrolamento no arco.
em bronze recuperados neste último castro, incluem-se
de lã (tecelagem). A sua importância era também grande
sobretudo de veado, javali, coelho e de algumas aves. Para
também machados de talão, de um e dois anéis, utilizados
como fonte de alimento, nomeadamente de leite e de
além da caça, também a pesca seria praticada nos cursos
A economia destas populações estava alicerçada na
nas actividades agrícolas, fíbulas, três carrinhos votivos,
carne. O fragmento de coador encontrado no Castelo dos
de água vizinhos do Castelo dos Mouros (ribeira de Sasse,
produção agrícola, na criação de gado, na caça, na pesca
uma fúrcula e um espeto para cerimónias rituais, pulseiras
Mouros parece testemunhar indirectamente a existência de
rio Pavia e rio Asnes).
e na recolecção.
de adorno, etc.
gado produtor de leite.
linho (ALARCÃO, 2005: 67-73).
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Castelo dos Mouros: moeda romana
Três Rios: inscrição rupestre latina
Antoniniano de Cláudio II (268-270) Anverso: busto de Cláudio II à direita, radiado e couraçado. Legenda: […CLA] VDIVS AVG Reverso: soldado de pé, à esquerda, segurando uma lança e um ramo. Aos pés um escudo. Legenda: VIR[VS] AVG
Três Rios: penedo com inscrição rupestre latina
A conquista da Península Ibérica pelos romanos, iniciada
importantes ruínas arqueológicas da época romana,
consideração a reduzida área que foi objecto de escavações
Norte da Península. A partir de então foi encetada uma
em 218 a.C., no âmbito das Guerras Púnicas, não
no Castro dos Três Rios, nome pelo qual é conhecido
arqueológicas. Aí foi recolhido um Antoniniano de Cláudio
profunda reforma político-administrativa que incluiu a
provocou o abandono generalizado dos castros. Embora
o lugar na bibliografia da especialidade. Nesta estação
II
numismático
criação da província da Lusitânia, a fundação de muitas
alguns tenham entrado em decadência, acabando por
arqueológica, para além de vestígios de habitações, há
singular que o castro permaneceu ocupado até ao último
cidades, entre as quais Emerita Augusta, a cidade
ser efectivamente abandonados, muitos outros, talvez
também duas inscrições rupestres latinas de carácter
quartel do século III, como sucedeu em muitos outros
capital, e a delimitação dos territórios das civitates,
a maioria, viveu a sua fase mais importante nos inícios
religioso. Numa delas pode ler-se que Lúcio Mânlio
povoados congéneres? Ou significará que, em virtude da
onde habitavam os vários povos que constituíam os
da nossa Era, já sob domínio romano. O caso mais bem
cumpriu um voto (promessa) ao deus Peinticis. Onde
instabilidade política e militar que o Império vivia nesses
Lusitanos.
conhecido na região de Viseu, que pode ilustrar esse
viveria este romano? Por perto, no território vizinho? Não
tempos, e que levou, entre outras medidas, à construção
Viseu foi uma das cidades fundadas pelo primeiro
processo de romanização, é o do castro da Cárcoda, onde,
sabemos, em boa verdade. O que sabemos é que nos Três
da muralha defensiva da cidade romana de Viseu, o castro
imperador romano, num local onde também existia
para além de abundantes materiais cerâmicos, vítreos e
Rios havia um santuário onde se praticava um culto a
foi reocupado por populações que ali procuraram refúgio
um castro, como se comprovou com as escavações
numismáticos ali encontrados, também a arquitectura
uma divindade indígena, talvez relacionada com as águas
temporário, depois de um período de abandono? Estas,
arqueológicas que se têm realizado nos últimos anos
das casas e a organização do espaço intra-muralhas,
tendo em conta as características do local. Esse culto terá
e certamente muitas outras questões, ficarão por agora
na cidade, sobretudo no Centro Histórico. Estas têm-se
com evidentes marcas proto-urbanas, revelam profundas
perdurado, provavelmente, até ao século IV, pois diversas
sem resposta, enquanto os trabalhos de investigação
revelado fundamentais para o conhecimento histórico
influências da civilização romana.
moedas romanas cunhadas por imperadores tardios
arqueológica não prosseguirem no Castelo dos Mouros.
da cidade e de toda a região que se encontrava sob sua
(268-270).
Significará
este
achado
foram ali encontradas (MARQUES, 2003).
administração. Até agora foram identificadas estruturas Em 25 a.C., decorridos quase dois séculos sobre a
habitacionais da Idade do Ferro na área ocupada pelo
Chã Sá. No entanto, talvez seja interessante referir que
Os vestígios materiais romanos até agora recolhidos no
chegada dos romanos à Península Ibérica, Augusto
Museu de Grão Vasco, na rua do Gonçalinho e na Praça
nos limites da freguesia com a de Parada de Gonta há
Castelo dos Mouros são muito escassos, mesmo tendo em
conseguiu dominar os últimos redutos de resistência no
de D. Duarte. Na rua de D. Duarte identificou-se um
Os vestígios romanos não são muito abundantes em Vila
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Vila Chã de Sá
Vias romanas a partir de Viseu (a partir de ALARCÃO, 1988: 92)
Torre: casa com silhares romanos reutilizados
Moeda visigótica cunhada em Viseu
tramo de um fosso que tinha uma função defensiva e
decurso do tempo, como a Arqueologia e a História o têm
de Retura (INQ, 853-854). Ora, carril significava – como
medieva que eventualmente ali terá existido, tendo em
certamente delimitadora do povoado castrejo (ALMEIDA,
comprovado.
ainda significa- um caminho ou estrada que atravessava o
consideração o topónimo Torre deste lugar. A sua recolha
lugar. Referir-se-iam à velha via romana? Parece-nos muito
em Pedra do Altar é também uma possibilidade que não
2005; ALMEIDA & CARVALHO & PERPÉTUO & FIGUEIRA & NÁDIA & COSTA, 2007).
Durante o domínio romano o território da actual freguesia
provável.
nos parece descabida dada a proximidade.
A cerâmica da Idade do Ferro até agora recolhida
de Vila Chã de Sá fazia parte da civitas viseense. Aqui
Em Vila Chã conhecem-se vestígios arqueológicos da
apresenta, quer nas suas características morfológicas,
passava uma das várias vias que saía da cidade, neste
época romana no sítio de Pedra do Altar e no sítio da
Nos inícios do século V (409), alguns povos provenientes
quer na decoração, semelhanças com as encontradas no
caso para Sudoeste, com destino a Aeminium (Coimbra).
Torre. O primeiro local fica situado na periferia de Vila
da Europa Central e da região do Cáucaso atingiram a
Castelo dos Mouros.
O seu itinerário era o seguinte: zona do Quartel RIV-14,
Chã, a Sudeste, numa área de cultivo sobranceira à
Península Ibérica, como foi o caso dos vândalos, dos
Bairro de Stª Eulália, Repeses, Paradinha, Vila Chã de Sá,
ribeira de Sasse; no segundo caso, trata-se de materiais
alanos e dos suevos. Alguns anos mais tarde, também os
A cidade de Viseu de Augusto foi, de facto, a primeira
Fail, Sabugosa, Canas de Stª Maria e Nandufe, onde seria
reaproveitados numa casa situada no centro da povoação.
visigodos entraram na Península. A chegada de todos estes
cidade, porque se obedeceu pela primeira vez a um
a fronteira da civitas.
Na Pedra do Altar é com bastante frequência que se
povos à parte ocidental do Império Romano, a par das
programa urbanístico de obras públicas, porque se
Em Vila Chã não subsiste qualquer vestígio material dessa
encontram, ao lavrar os terrenos agrícolas, materiais
crises política, económica e militar, conduziu nos finais do
delimitou o seu espaço intra-urbano por meio de uma
estrada romana, contudo a sua memória ficou registada
cerâmicos de construção, como tégulas e imbrices.
século V à desagregação da parte ocidental do Império e à
muralha honorífica, simbólica, porque se estabeleceu um
no topónimo Portela, que significa ainda hoje um lugar
No segundo local, como já foi referido, trata-se do
constituição de vários reinos bárbaros. Na Península Ibérica
poder político-administrativo, burocrático e porque foi
de passagem, um caminho antigo. Em meados do século
reaproveitamento numa casa de habitação de pelo menos
formaram-se os reinos Suevo, no Noroeste peninsular, e
ponto de encruzilhada de vias de um espaço mais vasto,
XIII, nas Inquirições que D. Afonso III mandou realizar pelo
quatro silhares almofadados. Desconhecemos onde e
o Visigodo, no restante território. Em 585, o reino suevo
integrado politicamente numa entidade supranacional. A
reino, ainda se referia que uma das cavalarias de Vila Chã
quando foram recolhidos estes silhares. Talvez não seja
acabou por ser dominado pelo visigodo, que estabeleceu
essa cidade augustana sucederam-se outras cidades no
de Sá, a do Picanço, se encontrava delimitada pelo carril
de descartar a sua reutilização inicial numa construção
capital em Toledo. Quer durante o primeiro reino, quer
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21
“Conforme a derradeira vontade de Beltrasanas, tinham-lhe aberto a cova a pico, em plena rocha viva, naquela face do penedo que olhava a Oriente, donde nasce todas as manhãs a luz astral e veio uma vez, para redenção do mundo, a luz perpétua. Não obstante o obséquio das aldeias serranas que, piedosamente, forneceram pedreiros com ferramenta, o granito era tão duro que consumiram no trabalho quatro longos dias. (…) Mas Beltrasanas ficaria num sarcófago ao estilo dos primeiros tempos do cristianismo, obra de três côvados de comprido, com recrava à proporção da cabeça, incisura para os ombros, largo em cima, estreito em baixo, e um orifício ao fundo para descarregar os humores da decomposição.” In S. Banaboião, Anacoreta e Mártir Aquilino Ribeiro
Sepultura rupestre da Pedra do Altar 22
durante o segundo, Viseu foi cidade episcopal, com um
e, em particular, por Fernando Magno de Leão e Castela.
vasto território diocesano que em muito ultrapassava o
Em 1058, depois de várias campanhas nas Beiras, que
da antiga unidade administrativa romana da civitas. Vila
levaram à reconquista de castelos importantes como o de
Chã de Sá, às portas de Veseo, como aparece grafado
Lamego, de S. Martinho dos Mouros e de Seia, Fernando
nas moedas cunhadas na cidade durante o reinado de
Magno reconquistou definitivamente Viseu e o seu termo,
Sisebuto (612-621) e de Suintila (621-631), integrava essa
preparando o assalto a Coimbra, que se veio a concretizar
nova e duradoura circunscrição religioso-administrativa
em 1064.
(MARQUES & EUSÉBIO, 2007: 82-85).
As sepulturas escavadas na rocha são os vestígios
Em 711, novos povos aportaram à Península Ibérica,
arqueológicos mais abundantes deste período. Elas
uma vez mais procedendo do Mediterrâneo: os árabes.
não nos dão informações apenas sobre os mortos
Em poucos anos conquistaram o reino visigótico, que se
que foram inumados num determinado lugar, dão-nos
encontrava em profunda crise devido a várias guerras
também informações sobre os vivos que geralmente
internas, e transferiram a capital de Toledo para Córdova.
habitavam pequenos casais agrícolas nas imediações das
Por essa altura, Viseu permaneceu cidade diocesana mas
necrópoles. Este tipo de “cemitério familiar” corresponde
agora também capital de uma circunscrição administrativa
a um período anterior à institucionalização do cemitério
árabe: a Kura (MARQUES, 1993: 187).
paroquial como único local de enterramento. Pedra do
Entre os inícios do século VIII e os meados do século XI, a
Altar, em Vila Chã de Sá, é um desses sítios povoado no
história da cidade de Viseu e da sua região é, grosso modo,
tempo da Reconquista, cerca do século X, como parece
a história do avanço e recuo da fronteira do Douro para o
provar a presença de uma sepultura rupestre de um
Mondego e do Mondego para o Douro, entre Muçulmanos
indivíduo adulto (MARQUES, 2000(2)).
e Cristãos. Com a fragmentação do Califado Omíada do al-
Em 1127, ainda durante o período da Reconquista, a
Andalus a situação ainda se tornou mais complexa porque
condessa Dª Teresa, viúva do conde D. Henrique, mandou
os novos reinos de Taifas degladiaram-se também entre
realizar uma inquirição na Terra de Viseu, para saber
si, facto que foi aproveitado pelos reinos cristãos do Norte
quais os bens que aqui possuía. 23
Cenas da vida rural em forais de D. Manuel
Documento 1 1127, Inquirição mandada fazer na Terra de Viseu por Dª. Teresa e Fernando Peres de Trava (D. M. P., Documentos Régios: DR, 74) “In vila Plana super Menendo Pelaiz casal Doide et Gavino cum sua ereditate casal de Trasufu que est in Tevvas per ubi potueritis invenire.” Esta inquirição, como outras que serão realizadas pelos monarcas portugueses, sobretudo ao longo da primeira
porque retrata o tipo de povoamento que existia na região
et pectant regi vocem et calumpniam, et dant in
ipsa hereditate, nom poterit, quia sic fuit testata ipsa
de Viseu e porque contém a primeira referência escrita a
collecta Regis, et dant pro Madio rationa equi singulos
hereditas, quod omnes, qui descenderent de avolenga de
Vila Chã de Sá, então designada de vila Plana. Nesta, a
morabitinos, et dant riquihomini iste .v. caballarias pro
illis, qui eam testeverunt, haberent eam cum ipso foro.
condessa tinha dois casais: o casal Doide et Gavino e o casal
vita et pro pausa .v. morabitinos minus tercia annuatim,
Johannes Vicencii de Villa Chaa dixit similiter; et addit,
Trasufu.
et dant iste quinque caballarie maiordomo annuatim
quod Episcopus demandavit geiras ipsis hominibus et
Depois de 1127, só encontramos nova referência escrita
pro sua vita .j. morabitinum, et riquushomo non debet
non potuit eos ducere ad eas. Menendus Gallego de Villa
a Vila Chã de Sá em 1258, ano em que se realizaram as
pausare in sua villa pro istis .v. morabitinis minus tertia,
Chaa dixit similiter.
Inquirições de D. Afonso III, de que publicamos o texto
quos illi dant annuatim, nec demandare illis aliam vitam.
Idem Donnus Surgi juratus dixit, quod ipse vendidit
integral em latim e a respectiva tradução.
Johannes Vincencii de Villa Chaa dixit similiter. Martinus
Menendo Menendi canónico de Viseo unam hereditatem
Dominici dixit similiter.
forariam Regis de caballaria sua de Villa Plana in loco,
Idem Donnus Surgi juratus dixit, quod audivit dicere patri
qui dicitur Vallis de Madeyros, et modo Laurencius
suo et suo avo, quod ipsa hereditas, quam Episcopus de
Pacheco habet ipsam hereditatem et nullum forum facit
Viseo habet in Villa Plana, fuit caballaria Regis, et dixit,
Regi. Interrogatus de tempore dixit, quod tempore Regis
quod fuit de testamento, et est sexta pars de quinque
Sancii fratris istius Regis.
caballariis, et dixit, quod vidit avum suum et suum patrem
Johannes Vicencii dixit similiter. Martinus Dominici de
et alios homines morari in ista hereditate, et habebant
Villa Chaa dixit similiter. Donnus Bartholomeus de Villa
eam per avolengam et faciebant de ea forum Episcopo,
Chaa dixit similiter. Menendus Galego de Villa Chaa dixit
et addit, quod, quamvis Episcopus velit jectare illos de
similiter.
Documento 2
dinastia, tinham dois propósitos essenciais: combater
1258, Inquirições de D. Afonso III (P. M. H.,
a usurpação de direitos e bens da Coroa, por um lado, e
Inquisitiones: 853-854)
afirmar o poder do rei, por outro. A partir do texto de Dª Teresa, sabemos que tinha 158
“De Villa Chaa de Saos - Donnus Surgi juratus et
casais em 53 povoações, incluindo também a cidade de
interrogatus dixit, quod in Villa Plana habet Dominus Rex
Viseu, onde possuía várias herdades e casas. Para o nosso
quinque caballarias. Interrogatus de foris Regis de istis
estudo, esta inquirição é particularmente importante
caballariis dixit, quod vadunt in hostem et anuduvam,
24
25
Idem Donnus Surgi juratus dixit, quod Johannes de Alvelos
Gunsalvino et de Picanzo in riparia de Theyvas ubi vocitant
homo electi de Viseo conparavit quasi per forciam et sine
Petram de Homine; et modo Laurencius Suariz miles stat
directo unam hereditatem forariam Regis de caballaria de
in possessione de ipso molendino et nullum forum facit
Villa Chaa de Donno Surgi, et modo Donnus Sabastianus
de eo Regi. Interrogatus de tempore dixit, quod tempore
homo Episcopi habet et possidet ipsam hereditatem et
Domini Regis Alfonsi patris istius Regis.
nullum forum facit Regi. Interrogatus de tempore dixit,
Donnus Bartolomeus de Villa Chaa dixit similiter; et
quod tempore istius Regis.
addit, quod est de caballaria Regis. Menendus Galego
Johannes Vincencii de Villa Chaa dixit similiter. Martinus
dixit similiter.
Dominici de Villa Chaa dixit similiter. Donnus Bertolomeus
Idem Donnus Surgi juratus dixit quod Donna Toda de
de Villa Chaa dixit similiter. Johannes Fulqueiro de Villa
Parada testavit ecclesie Sancti Michaelis de Auteiro
Chaa dixit similiter. Menendus Gallecus dixit similiter.
unam hereditatem forariam de caballaria de Picanzo de
Idem Donnus Surgi juratus dixit, quod Guilelmus de Saas
Villa Chaa in fonte de Varzea et in Piado. Interrogatus
miles habet et possidet unam vineam forariam Regis
de tempore dixit, quod tempore Regis Sancii fratris istius
de caballaria de Johanne Vicencii et de caballaria, que
Regis.
vocatur de Picanzo in Villa Plana sicut dividit per carril de
Donnus Bertolomeus de Villa Chaa dixit similiter.
Retura et cum Donno Surgi; et addit, quod conparavit de
Johannes Gunsalvi, dicto Folqueyro, dixit similiter.
ipsa vinea et de illa non, et nullum forum facit de ea Regi.
Menendus Galego dixit similiter.
Interrogatus de tempore dixit, quod tempore istius Regis.
Menendus Galego juratus dixit, quod Donnus Fernandus
Johannes Vicencii dixit similiter; et addit, quod caballaria,
et uxor sua de Villa Chaa testaverunt ecclesie de Viseo
que modo vocatur de Johanne Vincencii, fuit de Salvatore
unam hereditatem forariam Regis de caballaria in Villa
Pelagii de Casali de Aalem. Martinus Dominici de Villa
Chaa in loco, qui dicitur Valenza. Interrogatus de tempore
Chaa dixit similiter. Domnus Bertolomeus dixit similiter.
dixit, quod tempore Regis Sancii fratris istius Regis.
Menendus Gallecus dixit similiter.
Idem Menendus Gallecus dixit, quod Donnus Andreas
Item Domnus Surgi juratus dixit, quod Gunsalvus Pelagii
frater suus testavit ecclesie de Viseo unam hereditatem
de Saas miles filiavit unam hereditatem forariam Regis
forariam Regis de caballaria in Villa Chaa in Sauto.
de caballaria de Gunsalvino et de Picanzo de Villa Plana
Interrogatus de tempore dixit, quod tempore Regis Sancii
in loco, qui dicitur Carvalius de menedo Pelagii, et modo
fratris istius Regis.”
Guilelmus de Saa et alii filii et nepotes de Gunsalvo de Saa habent ipsam hereditatem et nullum fórum faciunt Regi. Interrogatus de tempore dixit, quod tempore Domini Regis sancii fratris istius Regis. Donnus Bertolomeus de Villa Chaa dixit similiter. Menendus Gallecus dixit similiter; et addit, quod Johannes Ripos dedit istam hereditatem Gunsalvo de Saas per forciam. Idem Donnus Surgi juratus dixit, quod Gunsalvinus et Picanzo vendiderunt Pelagio Suierii de Revordino militi unum molendinum de caballaria de ipsa caballaria de
26
Tradução Sobre Vila Chã de Sá: Dom Surjo, jurado, interrogado, disse que em Vila Chã o Senhor Rei tem cinco cavalarias. Interrogado sobre os foros a pagar ao Rei e sobre estas cavalarias, disse que vão em hoste e anúduva e tomam voz e calúnia pelo Rei; dão na colecta régia: em Maio dão apenas morabitinos para a ração dos cavalos, e as 5 cavalarias dão 5 morabitinos ao rico-homem pela vida e pela pausa, menos a terça anual, e dão anualmente 1 morabitino ao mordomo e 27
o rico-homem não deve pousar na sua vila por estes 5
Interrogado sobre quando isso aconteceu, disse que
morabitinos menos a terça que eles dão anualmente,
no tempo deste Rei.
nem lhes pedir outra vida.
João Vicêncio de Vila Chã disse o mesmo. Martinho
João Vicêncio de Vila Chã disse a mesma coisa.
Dominico de Vila Chã disse o mesmo. João (Gonçalo)
Martinho Domingos disse o mesmo.
Fulqueiro de Vila Chã disse o mesmo. Mendo Galego
O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que ouviu dizer
disse o mesmo.
ao seu pai e ao seu avô, que estas herdades, que o
O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que Guilherme
Bispo de Viseu (D. Mateus, 1254-1268) tem em Vila
de Sá, cavaleiro, tem e possui uma vinha foreira do
Chã, foram cavalarias do Rei e disse que o foram por
Rei, da cavalaria de João Vicêncio e da cavalaria
testamento e que é a sexta parte das cinco cavalarias
chamada do Picanço, em Vila Chã, que divide pelo
e disse que viu o seu pai, o seu avô e outros homens
carril da Retura e com Dom Surjo e acrescenta que
morarem nesta herdade e que a tinham por avoenga e
comprou essa vinha e não dá foro nenhum ao Rei.
davam foro ao Bispo e acrescentou que o Bispo não os
Interrogado de quando é isso, respondeu que do
podia tirar dessa herdade, pois a herdade foi dada de
tempo deste Rei.
testamento de forma a que todos os que descendessem
João Vicêncio disse o mesmo e acrescentou que a
por avoenga deles a tinham com esse foro.
cavalaria que chamam de João Vicêncio foi de Salvador
João Vicêncio de Vila Chã disse o mesmo e acrescentou
Pelágio de Casal de Além. Martinho Dominico de Vila
que o Bispo pediu geiras a esses homens mas não as
Chã disse o mesmo. Dom Bartolomeu disse o mesmo.
podia obter. Mendo Galego de Vila Chã disse o mesmo.
Mendo Galego disse o mesmo.
O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que vendeu a
O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que Gonçalo Pelágio
Mendo Mendes, cónego de Viseu, uma herdade foreira
de Sá, cavaleiro, filhou uma herdade foreira ao Rei, da
ao Rei, da sua cavalaria de Vila Chã no lugar chamado
cavalaria de Gonçalo e de Picanço de Vila Chã, no local
Vale de Madeiros e, deste modo, Lourenço Pacheco
chamado Carvalhos de Mendo Pelágio e, desse modo,
tem (trabalha?) essa herdade e não dá foro nenhum
Guilherme de Sá e outros filhos e netos de Gonçalo de
ao Rei. Interrogado sobre quando foi, disse que no
Sá, têm essa herdade e não dão foro nenhum ao Rei.
tempo do Rei Sancho (1223-1248) irmão deste Rei
Interrogado em que altura isso ocorreu, disse que do
(Afonso III).
tempo do Rei Sancho irmão deste Rei.
João Vicêncio disse o mesmo. Martinho Dominico de
Dom Bartolomeu de Vila Chã disse o mesmo. Mendo
Vila Chã disse o mesmo. Dom Bartolomeu de Vila Chã
Galego disse o mesmo e acrescentou que João Ripos
disse o mesmo. Mendo Galego de Vila Chã disse o
deu esta herdade a Gonçalo de Sá pela força.
mesmo.
O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que Gonçalo e
O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que João de
Picanço venderam a Pelágio Soeiro de Rebordinho,
Alvelos, homem eleito (nomeado) de Viseu, comprou
cavaleiro, um moinho na ribeira de Teivas, desta
quase à força e sem direito, uma herdade de Dom
cavalaria de Gonçalo e Picanço, onde chamam Pedra
Surjo, foreira ao Rei da cavalaria de Vila Chã, e
do Homem e deste modo Lourenço Soeiro, cavaleiro,
deste modo Dom Sebastião, homem do Bispo tem e
está na posse desse moinho e não dá foro ao Rei.
possui essa herdade e não dá nenhum foro ao Rei.
Interrogado em que tempo isso aconteceu, disse que
Soutulho, rio Pavia: rodízio 28
(pág. anterior)
29
Anúduva: obrigação de trabalhar na construção ou reparação de castelos, cercas, fossos, torres. Avoenga: direito de suceder nos bens que foram dos seus avós. Calúnia: pena pecuniária a pagar de acordo com o foral da localidade. Cavalaria: herdade, quinta, casal ou casas que tinham de fornecer cavalos ou mantimentos para a hoste régia. Filhar: tomar, conquistar. Geiras: prestações de trabalho agrícola nas terras do Rei ou de seus oficiais. Hoste: serviço militar sempre que necessário. Pausa: residência onde permanecia o cobrador dos foros reais e recebia os mantimentos para o seu sustento. Vida: sustento, comida e refeição devidos. Voz: multas pagas ao rei. Enxerto de videiras
Ecomuseu de Vila Chã de Sá: grade
no tempo do Rei Afonso (II, 1211-1223), pai deste Rei
Vila Chã no local chamado Valença. Interrogado em
D. Mateus, Bispo de Viseu (1254-1268), era detentor, por
1. Pelágio Soeiro de Rebordinho comprou, no reinado de
(Afonso III).
que tempo isso aconteceu, disse que no tempo do Rei
testamento, de 1/6 de cada uma das cavalarias de Vila
D. Afonso II, um moinho na ribeira de Teivas a Gonçalo e
Dom Bartolomeu de Vila Chã disse o mesmo e
D. Sancho, irmão deste Rei.
Chã. O jurado D. Surjo declarou, a este propósito, ter ouvido
Picanço e não pagou o foro;
acrescentou que é cavalaria régia. Mendo Galego
O mesmo Mendo Galego disse que Dom André, seu
ao seu avô e ao seu pai que o Bispo não podia expulsar os
2. o cónego da Sé de Viseu Mendo Mendes comprou a D.
disse o mesmo.
irmão, fez testamento à igreja de Viseu de uma herdade
moradores dessas cavalarias por estas terem sido doadas
Surjo, no reinado de D. Sancho II, uma herdade em Vale de
O mesmo Dom Surjo, jurado, disse que Dona Toda
foreira do Rei, da cavalaria de Vila Chã, no Souto.
por avoenga.
Madeiros e não pagou foro;
de Parada (de Gonta) fez testamento à igreja de São
Interrogado sobre em que altura isso aconteceu, disse
Das cinco cavalarias existentes apenas são nomeadas
3. João Alvelos comprou a D. Surjo, no reinado de D. Sancho
Miguel de Outeiro de uma herdade foreira da cavalaria
que no tempo do Rei D. Sancho, irmão deste Rei.
nas Inquirições a de Gonçalo e Picanço e a de João
II, uma herdade em Vila Chã, que se encontrava em 1258
Vicêncio, que fora de Salvador Pelágio de Casal de
entregue a D. Sebastião, homem do Bispo, e não pagava o
de Picanço de Vila Chã, na fonte da Várzea e no Piado (Prado?). Interrogado em que tempo aconteceu isso,
A partir destas inquirições sabemos que o rei tinha 5
Além. Nestas duas ocorreram, de acordo com os relatos
foro;
disse que no tempo do Rei D. Sancho, irmão deste
cavalarias em Vila Chã de Sá e que tinham sido instituídas
dos jurados, alguns negócios de compra e venda de
4. Gonçalo Pelágio de Sá filhou a João Ripos, no reinado
Rei. Mendo Galego disse o mesmo.
no reinado de D. Afonso II (1211-1223). As quintas
herdades, doações testamentárias e também uma
de D. Sancho II, uma herdade da cavalaria de Gonçalo e
Dom Bartolomeu de Vila Chã disse o mesmo. João
destas cavalarias garantiam o sustento da hoste régia
usurpação. Todas estas transacções tiveram como
Picanço, no sítio de Carvalhos de Mendo Pelágio, e não
Gonçalo, dito Fulqueiro, disse o mesmo. Mendo
em alimentos, rações para os cavalos e dinheiro. Os foros
última consequência o incumprimento de entrega
pagou foro;
Galego disse o mesmo.
devidos ao rei eram os seguintes: hoste, anúduva, voz,
de foros ao rei por parte dos novos proprietários. As
5. Guilherme de Sá, filho de Gonçalo de Sá, tinha uma vinha
Mendo Galego, jurado, disse que Dom Fernando e sua
calúnia, morabitinos em Maio para a ração dos cavalos,
Inquirições informam que tais factos ocorreram no
da cavalaria de João Vicêncio, que já tinha sido de Salvador
mulher de Vila Chã fizeram testamento à igreja de
5 morabitinos dados ao rico-homem pela vida e pausa e 1
reinado de D. Afonso II (1211-1223) e no de D. Sancho
Pelágio de Casal de Além, e outra da de Picanço, sobre as
Viseu de uma herdade foreira ao Rei da cavalaria em
morabitino ao mordomo do rei.
II (1223-1249):
quais não pagou foro desde o reinado de D. Sancho II;
30
31
Alqueire (11Kg) Ecomuseu Rasa (5,5Kg) Ecomuseu Quarta (3Kg) Ecomuseu Ceremim (1,5Kg) Ecomuseu Ecomuseu de Vila Chã de Sá: rasa e gamela
6. no reinado de D. Sancho II, Dona Toda de Parada (de
na ribeira de Teivas (também designada hoje ribeira de
Gonta) doou à Igreja de S. Miguel de Outeiro uma herdade
Rebordinho ou ribeira de Cabanões), por Pelágio Soeiro a
situada na fonte da Várzea e no Piado, da cavalaria de
Gonçalo e Picanço, comprova a sua produção a nível local.
Picanço, da qual não pagou foro;
Mais tarde, no foral manuelino do concelho do Barreiro,
7. no reinado de D. Sancho II, D. Fernando e a sua mulher
de 1514, Vila Chã pagava de foro doze alqueires de pão
doaram à Sé de Viseu uma herdade no local chamado
meado, isto é, de mistura de trigo e milho.
Valença, da cavalaria de Vila Chã, da qual não pagaram foro;
A referência a vinhas ocorre a propósito de umas que o
8. no reinado de D. Sancho II, D. André doou à Sé de Viseu
cavaleiro Guilherme de Sá possuía, que eram das cavalarias
uma herdade no Souto, da cavalaria de Vila Chã, da qual
de João Vicêncio e de Picanço.
não pagou foro.
O cultivo da vinha era também aqui uma das mais importantes produções agrícolas, como nos atestam,
As inquirições afonsinas dão-nos algumas pistas sobre
mais do que os documentos escritos, as muitas lagaretas
quais os produtos que eram produzidos nas cavalarias de
rupestres conhecidas na área da freguesia e no território que
Vila Chã. Estes, de resto, eram os que maior peso tinham
com ela confina. Tratando-se de um vestígio arqueológico de
na produção agrícola regional e nacional: os cereais,
valor ímpar no domínio das tecnologias agrárias medievais,
sobretudo para pão, e a vinha.
atesta-nos igualmente as boas aptidões da região para a
No que diz respeito aos cereais, a compra de um moinho
produção vitivinícola desde tempos remotos.
32
33
4
5
2
1
3
Cartografia das lagaretas rupestres Localização das lagaretas na freguesia de Vila Chã de Sá 1.Lagareta de Pedra do Altar 2.Lagareta da Corga 3.Lagaretas do Pinhal das Martelas (2) 4.Lagareta do Brunhal 5.Lagareta de Vales Outras lagaretas no território envolvente: Paradinha/S. Salvador Lagareta do baldio de Paradinha Lagareta da Quinta de Paradinha Lagareta de Infesta Lagareta da Conchada Lagareta do Talho Longo Lagaretas da Serra Lagareta da Quinta da Sara Lagareta da Quinta do Alter 34
Parada de Gonta Lagareta da Igreja Paroquial Lagaretas da captação de Água Lagareta do cruzamento para os Três Rios Lagareta da Aguieira Lagaretas das Laceiras Lagareta da Esmoitada/Vide Lagareta da Quinta da Fonte Figueira
Silgueiros Lagaretas do Vale Lagareta da Quinta do Espinhal Lagareta de S. Miguel Lagareta de Barrabás Lagareta da Tapadinha Lagareta de Pedra do Altar (pág. seguinte)
35
Lagareta da Corga
Lagareta do Pinhal das Martelas I
Lagareta do Pinhal das Martelas II
Lagareta do Pinhal das Martelas II
Lagareta rupestre: esquema de funcionamento
Lagareta do Brunhal 36
37
Em 1514 o rei D. Manuel concedeu carta de foral ao concelho do Barreiro, onde Vila Chã de Sá se integrava. Documento 3 1514, Foral do concelho do Barreiro, de D. Manuel I (DIAS, 1961: 148-149) Dom Manuel etc. Mostra se pellas ditas imquiriçooens e assy per semtenças da nosa Relaçam que na dita terra há desvairados dereitos assy de jugada e oytavos como doutras cousas os quaaes abaixo hiram particularmente decrarados. a saber. pagase em Silvares primeiramente de trigo doze alqueires e de pam meado. a saber. cemteo e mjlho quorenta e oyto alqueires. Item villa nova seis de trigo e quoremta e dous de meado. Item pedro bornes doze de trigo e quorenta e viij de pam meado. Item as quyntaãs dezaseis de trigo e trimta e seis de meado. Item sam salvador trimta e seis de trigo e cemteo e trimta seis de meado. Item villa de moynhos doze de trigo e quoremta e oyto de meado. Item o casall de pero diaz quatro de trigo e de quatro hum do que se lavra. Item o casal de sam çibraam seis de trigo e o mais de quimto. Item os moynhos de gualdim paaz quatro de trigo, quatro de cemteo, quatro de mjlho. Item o moynho de Joham dalmeida dous de trigo. Item as lagias doze alqueires de meado. Item o purinheiro vimte e oyto alqueires de meado. Item o loureiro seis alqueires de meado. Item paços doze alqueires de meado. Item parada de gomta cemto e noventa e dous alqueires meado. Item villa cova cemto e quorenta e dous alqueires de meado. Item dade meor coremta e oyto de meado. Item portella cemto e cimquoenta de meado. Item o felgar dezaseis meado. Item sam colmade duzemtos e dezaseis alqueires de meado. Item mazgalos cemto e oyto alqueires de meado e de trigo oyto alqueires. Item o casal do rybeiro çemto e vimte alqueires de meado. Item o carregal trimta e seis alqueires de meado. Item fomte arcada trimta e dous alqueires de meado. Item chaãos noventa e seis de meados. Item paga mais o prado do Rio boom cemto e cinquoenta reaaes E o chaão da nogueira tres quartas de pam meado e huma de trigo 38
aa paga de villa noua. O casal de parada de gomta paga de quimto do que há dous capoões. O casall das moutas de meado quoremta e cimquo alqueires O porto do carro de meado trimta e seis. As pousadas vimte e quatro de meado. As paradinhas de meado vimte e quatro alqueires Villa chãa e rebordinho de meado doze alqueires. Os moinhos de parada de gomta de meado seis alqueires e dous capooens. E pagam se mais na dita terra outros dereitos. a saber. as lageas hum capam, paço outro capam. Os moynhos daugoa dalte quatro capoões O casal de mazgallos paga o quimto do pam e dous capoões. O casall de pero diaz dous capoões e huma marrãa Sam Salvador dous casaaes e de hum paga de quimto E outro vimte alqueires de cemteo sabido e cada hum delles dous capooes e huma marrãa Dos moynhos de pero coelho cemto e cimquoenta reais e dous capõoes O moynho dalvaro de crasto dois capoões O casall de Sam payo de pam meado vimte alqueires e de vinho cimquo almudes e seis capoões. E o casal de novaaes paga de quatro e huma marrãa e dous capoões. E dazenha daugoa dalte huma marrãa A quimtaa de Sam çibram paga de quimto. Jugada E foy jmposto pollo dito foral que se pagase jugada nam por jugo de boys segumdo em outros lugares se mandou pagar somente foy a terra aforada por certas jugadas nos tombos amtigos decraradas a quall avya de seer e foy repartida per todollos herdeiros das ditas terras jugadeiras segumdo sempre andou e amda E per elles se ham de pagar os moyos das ditas jugadas sem se mais jugadas poderem acreçemtar que as que antigamente sempre na dita terra se pagaram posto que mais lavradores ora nella lavrem. E o moyo da dita jugada será de vimte alqueires de pam meado desta medida corrente. a saber. cemteo e mjlho por quamto assy foy julgado em nossa relaçam feitos pera ysso primeiro todollos jssames ao tal caso neçesarios E paga se sobre cada alqueire da dita jugada hum reall de seis ceptis o Reall E pollo pam que na dita terra se paga per este forall per alqueires se pagarão por tres alqueires do dito forall hum alqueire desta medida corremte. E pagam mais na dita terra certas eiradegas
de vinho. a saber. em muzelos dezoyto almudes. Sam Colmade trimta e nove dade mayor treze. Villa nova tres. Villas covas treze. Villa de moinhos doze. As quimtãas E pero bornes doze E paradinha doze almudes Os quaaes almudes se pagam pella medida antiga que fazem cimquo almudes della quatro desta medida corremte E o vinho das ditas eiradegas se paga pollos herdeiros de todollos ditos lugares atras contheudos segumdo antigamente estaa repartido segumdo a quall repartiçam se fará e pagará ao diamte sem outra mudança. E paga se mais deiradega certas feveras de linho per estes lugares. a saber. mazallos dous. Sam colmade tres. Portella dous. Dade meor hum. Villa nova hum Villas covas hum Parada de gomter hum Silvares hum Chãaos hum As quimtãas hum São Salvador dous Villar de moynhos hum As quaaes eiradegas se pagam pollos moradores e herdeiros de cada hum destes lugares homde quer que viverem E há de ser de tres feveras meãas gramdes e pequenas E o senhorio será obrigado de teer no lugar pesoa pera a dita justificaçam atee santiago[…]. E se o nom tever ou mandar atee dia de santiago de cada hum anno partirão o dito linho com o jurado da terra e leixar lhe am o linho homde ho partirem sem serem a mais obrigados nem emcorrerem por ysso em alguma pena E assy este linho deiradega com o sexto que delle pagam todollos moradores da dita terra que o colherem tirando os que lavrarem nas terras da Igreja. a saber. de santa cruz e cabido de Viseu o partirão e leixarão no temdal se o nam forem partir ao dito tempo como dito hé. E os foros sobreditos do pam, vinho, linho seram obrigados as pessoas que os pagam de os levarem a santar posto que seja doutra jurdiçam porque pello antigo costume que disso estiveram assy foy julgado em nossa Rellaçam que se fezesse os quaaes foros levarão dês de santa maria dagosto atee natall E nam os levamdo atee o dito tempo o senhorio os poderá mandar penhorar E os penhores nam seram tirados fora do dito comçelho nem menos se alguns forem por ysso pressos mas hy seram ouvidos e eixecutados per dereito sem serem levados fora do dito comcelho os ditos homens nem os penhores. E o senhorio será obrigado de os receber damdo lhos no
dito tempo E nam os querendo receber ao dito tempo nam seram obrigados de pagarem os ditos foros senam a como valliam ao tempo que lhos levavam ou no dito pam, vinho e linho quall mais qujserem os foreiros. E o vinho porem decraramos que o senhorio nam será obrigado de o receber amte de dia de sam Martinho […] de cada hum anno se nam quiser. E decraramos mais e mandamos que das terras de que o dito comcelho paga jugada de pam se nas taaes terras sam feitas vinhas ou ao diamte se fezerem nam seram obrigados os ditos moradores de pagarem jugada de vinho das taaes vinhas somente pagarão a jugada de pam a que sam obrigados. E decraramos que na dita terra nam daram ao senhorio della apousentamento salvo quimze dias em cada hu anno E assy defemdemos ao senhorio do dito lugar que nom tome palha nem lenha, galinhas, bestas nem carnes nem nehumas cousas aos moradores da terra nem serviços das pessoas E quamdo cada huma das ditas cousas ouver mester requeira os juizes e officiaaes a que pertemcer os quaaes lhas daram pera suas necesidades quamdo estever na terra damdo logo o denheiro dellas. Nom há montados no dito comcelho porque estam em vizinhamça com seus comarcãaos e ussarão huns com os outros per suas posturas do comcelho. E maninhos nam há hy mais que as terras que sam aforadas nos dereitos atrás decraradas sem o senhorio mais poder dar nehuns em nesta nem poer outros foros. O gado do vemto será do senhorio dos outros direitos com decraraçam ect. E o mais como Viseu. O tabaliam nam paga hy pemsam porque sam de Viseu. Da pena darma se levara duzemtos reaaes e as armas a quall será dos juizes se as tomarem no arroydo ou dos meirinhos da terra ou do senhorio quem primeiro citar. E huns nem outros as nam demandarão nem levarão semdo pasados tres dias despois dos arroydos ou maleficios feitos com decraraçam ect. E o mais deste capitolo E a pena do foral hé tal como Viseu. Dada na nosa muy nobre e sempre leal cidade de lixboa aos sete dias do mes de mayo era do nacimento de nosso senhor Jesu Cristo de mjll quynhentos e quatorze Annos E sobscptrito pello dito Fernam de pina. Em oyto folhas com esta. 39
A paróquia de S. João Baptista de Vila Chã de Sá
A paróquia de S. João Baptista de Vila Chã de Sá foi criada
dom Gabriel Machado outrosi protonotario e coneguo da
em 26 de Maio de 1554, como se pode ler no documento
dita See e bem assi Fernao da Fonseca ho velho e Antonio
avulso do Cabido de Viseu, sendo bispo da diocese de Viseu
Roiz ho velho Nicollao Roiz Dioguo Dias ho velho e Dioguo
D. Gonçalo Pinheiro (1552-1567).
Dias ho novo Fernam da Fonseca ho novo ferreiro Antonio do Casal Antonio Gonçalves Pedralvarez ho velho Simão Afonso Pedro digo Pedro Eanes ho velho Roiz Afonso Pero
Documento 4 1554, Criação da paróquia de S. João Baptista de Vila Chã de Sá (PT-ADVIS-CVIS/A: Cota: cx.19, nº77)
Saibbam quantos este istromento de contrato e obrigaçam virem que no anno do nascimento de nosso senhor Jeshus Cristo de mil quinhentos e cinquenta e quatro annos aos vinte e seis dias do mês de Maio na cidade de Viseu e casas da morada do senhor dom Miguel Ribeiro protonotario cónego e arcediaguo da See da dita cidade estando hi a esto presentes ho dito dom Miguel Ribeiro e o senhor
40
ho novo Pedro Eanes genro de Gonçallo Vaaz Gonçalo Vaaz Simão Allvarez çapateiro Joham Gonçalvez ho novo Joham digo Gaspar Gonçalvez Francisco Fernandez
Senhores
S. João Baptista: adro da igreja paroquial
Gonçalves o velho Fernam Gonçalvez Symao Allvarez
Sebastiam Roiz Pedro Jorge Joham Fernandez Ferreiro Symao Afonso Antonio Nunes Apariço Gonçalvez Pedro Anes filho de Joham Dominguez Marcos Roiz o velho Antonio Roiz ho velho Fernam da Fonseca ho velho da quintam Joham Afonso filho que foy de Simao Roiz Manuel Afonso Pedro Diaz ho novo Fernam da Fonseca Almocreve Pedro Gonçalvez criado de Roiz Antonio Sebastiam Ferreira Dioguo Diaz ho novo e Antonio Joham
(pág. anterior)
41
Afonso Bras Afonso Joham Gonçalvez Fernam Dallavarez
hos moradores do dito luguar de Villa Chaa presentes
Fernam da Fonseca ho novo Gonçallo Anes çapateiro e
e vindoiros serem nunqua mais obrigados hirem ouvir
Antonio Henrique filho de Rapreses todos moradores no
missa ha irmida de Sam Joham de Lourosa nem la hirem
lluguar de Villa Chaa de Saa do termo da dita cidade e
receber hos santos sacramentos como ate aqui foram
da Freguesia de Sam Joham de Lourosa e jurisdiçam da
obrigados somente seram obrigados hirem ouvir missa
dita See loguo pellos ditos senhores dom Miguel Ribeiro
ha dita irmida de Sam Joham de Lourosa todallas festas
e dom Gabriel Machado protonotarios foy dito perante
de Nosso Senhor e de Nossa Senhora e dos Apostollos
mim tabeliam e testemunhas adiante nomeadas que era
que caírem em allgum Domingo tirando a noute e dia de
verdade que elles ambos foram elleitos pellos senhores
Natal e os aviam por escusos com suas oitavas por rezam
do cabido da dita See se contratarem com os senhores
do grande inverno que entam fazia e era de ser naturall
e os mais moradores do dito luguar de Villa Chaa que
Com tall condicam que hos ditos moradores de Villa Chaa
nam estavam presentes por serem fregueses da dita
presentes e vindoiros sejam obrigados para sempre digo
Igreja de Sam Joham de Lourosa jurisdiçam da dita See
ssentarem coregerem fazerem repairarem ha dita irmida
serem obrigados como oje em dia eram hirem todollos
de Sam Joham de Villa Cha de paredes madeiramentos
Dominguos festas has missas e ouvir hos ofícios divynos
telhados retavollos e hornamentos que na dita igreja
ha dita igreja de Sam Joham de Lourosa e onde também
for necessario e lhes mandarem por visitações em
recebiam todollos santos sacramentos e que havendo
proveito da dita irmida os moradores do dito luguar de
respeitos hos senhores do cabido e o dito lluguar de
Villa Chaa porque doutra maneira lhes nam davam alli
Villa Chaa ser de muitos moradores riquos e abastados
missa nem hos santos sacramentos nem desobirgavam
e delles pobres e aver também muitos velhos e homens
da dita freguesia de Lourosa e loguo hos sobreditos
doentes e do dito luguar de Villa Chaa ha dita igreja e
atras nomeados disseram em seus nomes e dos mais
irmida de sam Joham de Lourosa ser llonge e passarem
moradores do dito lluguar de Villa Chaa que nam estavam
hum rio em que elles e os outros moradores de Villa Chaa
presentes e assi de seus sucessores que apoos elles
perecem muito de tormento e periguo de suas pessoas
vierem que elles recebiam e aceitavam em mui grande
e por elles asy fregueses e serviço de Deos e descargo
merce esta que hos ditos senhores do dito cabido lhes
de suas consciências e por fazerem graça e merce e
faziam sem obrigaçam per si e seus bens avidos e por
boa obra a elles moradores do dito luguar de Villa Cha
aver de fazerem refazerem repararem todo ho que for
presentes e vindouros elles em nome dos ditos senhores
necessário na dita irmida de Sam Joham de Villa Chaa
do cabido por assim serem elleitos em cabido lhes
assi como for mandado fazer por visitações dos senhores
aprazia como de feito aprouve esta obrigaçam em nome
do cabido ou dos prelados da dita cidade e estarem por
dos ditos senhores do cabido doje em diante para todo
suas visitações e mandados sem mais apellarem nem
sempre mandarem dizer aos moradores de Villa Chaa
agravarem de suas visitações ou mandados que assi
presentes e vindouros missa na sua Igreja que tem na
fazerem em proveito da dita sua igreja e de responderem
dita Villa Chaa de Sam Joham todollos Dominguos do
por isso perante hos senhores prellados e seus ordinários
anno que nam caírem nas festas de Nosso Senhor e de
ou senhores do cabido para o quall renunciavam de seu
Nossa Senhora ou dos Apostollos de Nosso Senhor por
foro e todos outros privilegios que por isso possam allegar
hos capellaes e curas da dita see e helles daram todollos
para por geral nem especial que seja e em testemunho de
paramentos necessários tudo a custa das rendas dos
verdade outorgaram ser feito este istromento de contrato
ditos senhores do cabido e da sua mesa capitullar sem
e obrigaçam que huns e outros aceitaram dizendo huns e
42
43
os outros que requeriam e pediam por merce ao senhor
Gonçalvez morador no casal de Ribafeita e Domingos
e igreja de Sam Joham de Lourosa como sempre fizeram
como sempre fizeram e foi de costume antiguo antre elles
bispo ou a seu vigario e provisor que assi o julgasse
Roiz criado do dito dom Miguel Ribeiro e disseram mais
e foram obrigados ate aqui/ testemunhas hos sobreditos/
e mais nam/ testemunhas hos sobreditos e eu Francisco
verdadeiro e pediram a mim tabeliam que lhes desse hos
que os ditos moradores de Villa Cha que tambem se
e isto contanto que tambem hos de Sam Joham de
Diaz tabeliam do publico e judicial e escrivam da
instromentos da nota que tabeliam como pessoa publica
obrigavam e de facto se obrigaram a fazer e refazer na
Lourosa ajudem na irmida de Villa Chaa nas obras que
ouvidoria da dita cidade e seus termos pella SantĂssima
e estipullante tambem aceitei em nome dos que nam
osia da irmida de Sam Joham de Villa Chaa e de porem
nella fizerem tirando hornamento sino pia de bautizar e
Maria Nossa Senhora que esto escrevi e aqui meu pubrico
estavam presentes testemunhas que presentes estavam
tambem pia de bauthizar na dita irmida e se obrigaram
outras cousas que novas fizerem por bem deste contrato
sinal fiz
Francisco Lopes capellam da cura da dita See e Baltazar
de pagarem tambem nas obras que se fizerem na irmida
somente que huns e outros testemunhas paguem e façam
pague desta nota cem reis
44
45
Até 1554, embora existisse uma igreja em Vila Chã de Sá,
couzas antigas e memorandas da forma dos itens da dita
as povoações da freguesia integravam a vizinha paróquia
ordem e achei o seguinte
de S. João Baptista de Lourosa. Mesmo depois da criação
Em coanto ao que pertence ao primeiro item da ordem
da nova paróquia, mantiveram-se práticas e celebrações
he esta freguezia patrocinada com o patrocinio do bem
em comum, como recorda o padre João da Cunha Leitão
aventurado Sam João Baptista padroheiro que he da dita
de Vila Chã de Sá ao dar resposta ao inquérito da Academia
igreja, consta a freguesia somente do povo de Villa Cham
Real da História Portuguesa em 1722 (OLIVEIRA, 2005:
de Saá que tem setenta e coatro fogos pessoas maiores
165-169).
duzentas e corenta e coatro e pessoas menores corenta
[…] o parrocho e perroquianos desta igreja [de Vila Chã de
e coatro.
Sá] tem obrigacão de irem a [igreja de Lourosa] matris que
Do que pertence ao seguondo e terceiro itens da ordem
se dis foi desta em dia d’ Acensão do Senhor e em segunda
não ha couza de que se fassa mencão mais do que o que
outava do Espirito Santo e em dia de Sam Barnabé e da dita
se declara em o tratado das cappellas.
igreja de Louroza sahirem encorporados em pocisam com
Em coanto ao quarto não se fazem em esta freguesia
o parrocho e parroquianos de Lourosa em o dia d’ Asunção
procisões por voto ou costume mais do que as ladainhas
saida em a tal porcisão em esta igreja de Villa Cham em
maiores na forma do universal costume da igreja sem
a outava do Sperito Santo se da fim a pocisam em huma
embargo do que o parrocho e perroquianos desta igreja
capella de Sam Domingos lugar de Cobroes da mesma
tem obrigacão de irem a igreja de Lourosa matris que se
freguezia de Louroza e a terceira porcisão que say da dita
dis foi desta em dia d’ Acensão do Senhor e em segunda
igreja de Lourosa dia do apostolo Sam Barnabé dá fim em a
outava do Espirito Santo e em dia de Sam Barnabé e da
Santa See da cidade de Vizeu todas estas procisois não se sabe
dita igreja de Louroza sahirem encorporados em pocisam
o principio que tiveram por serem muito antigas somente se
com o parrocho e parroquianos de Lourosa em o dia da
dis que os parroquianos se obrigaram a mayor voto por graves
Asunção saida em a tal porcisão em esta igreja de Villa
necessidades que tiveram como milhor se podera ver do que
Cham em a outava do Sperito Santo se da fim a pocisam
sobre este particullar declarara o cura de Louroza e das mais
em huma capella de Sam Domingos lugar de Cobroes
sirconstancias das tais porcisoens por sahirem todos de sua
da mesma freguezia de Louroza e a terceira porcisão
igreja e a lhe pertencer a caval noticia destas porcisoense. […]
que say da dita igreja de Lourosa dia do Apostolo Sam Barnabé dá fim em a Santa See da cidade de Vizeu todas
Documento 5 1722, Memórias Paroquiais (OLIVEIRA, 2005: 165169). Eu o padre João da Cunha Leytão cura em parochial igreja de Sam João Baptista de Villa Cham de Saa felial da santa See da cidade de Vizeu satisfazendo a ordem dos muitos elustres reverendos senhores do ylustre Cabido da Santa See da cidade de Vizeu me emformei nesta freguesia das
estas procisois não se sabe o principio que tiveram por serem muito antigas somente se dis que os parroquianos se obrigaram a mayor voto por graves necessidades que tiveram como milhor se podera ver do que sobre este particullar declarara o cura de Louroza e das mais sirconstancias das tais porcisoens por sahirem todos de sua igreja e a lhe pertencer a caval noticia destas porcisoens. A respeito do quinto item da ordem não ha nesta freguezia homens insignes em vertudes ou letras por como he
Vila Chã de Sá, pormenor de cruzeiro 46
47
composta de pobres estes de ordinario deixam em o
da sua fundação nem tem administrador particullar.
mundo pequeno nome.
A terceira e ultima capella desta freguesia he da
A respeito do sexto não ha em esta igreja sepulturas
emvocasão do bem aventurado Sam Jose que esta situada
com letreiros nem armas esculpidas de que se fassa
em o meo do lugar e foi mandada edifficar acerca de
menção nem tem esta igreja cartorio ou arquivo donde
corenta annos pouco mais ou menos por António Gomes
constem couzas antigas e memorandas por coanto todos
da Costa abbade que foi de Santa Olaia de Besteiros
os livros della em estando findos se recolhem ao cartório
deste bispado a coal capella foi de todos os seos bens
do reverendo Cabido da See de Vizeu e os livros dos
repartidos na forma seguinte parte delles pello capellam
baptizados casados e defuntos que tenho em nosso poder
da dita capella e o cura da igreja os coais sam obrigados
é necessario a servir o livro dos baptizados principiou aos
dizerem missa quotidiana na forma de suas distribuisoes
tres dias do mes de Setembro de seiscentos e sesenta e
a coal missa em todos os dias asistem coatro molheres
nove annos os termos dos defuntos principiou em doze
a quem se da o titollo de mercieiras estas se lhe pagua
dias do mês de Maio de seiscentos e sesenta e sinco
das tidas ditas rendas e parte das mesmas rendas
annos.
sam dedicadas para a fabrica da dita capella que com
A respeito do setimo item da ordem não se acha quem
grandeza he ornada outra parte se distribui em dois dotes
foi fundador desta parroquial igreja nem nella há
que todos os annos se dam em dia de Sam Joseph a duas
capella adjuntas nem na tal igreja pesoas coriozas de
donzellas orfans e pobres e outra parte das ditas rendas
antiguidades porque como sam lavradores como fica dito
se da ao provedor e escrivam da meciricordia da cidade
só tratam da sua agricultura.
Documento 6
Documento 7
de Viseu e ao conigo da dita See probendado mais antigo
Livro dos Defuntos (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº
Livro dos Defuntos (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº1,
Em coanto ao outavo tem esta freguesia em seo distrito
os coais todos dia de Sam Joseph vem a dita capella
1, fl.1)
fl.1)
tres capellas huma junto ao povo da emvocação do
ahy fazem meza e aprovam as sobre ditas orfans com os
invicto martir Sam Sabastiam do baixo do patrocinio do
dotes e satisfazem ao capellam e parrocho e mercieiras
Aos 20 dias domes de maio [1595] faleceo em esta igreja
Aos 2, ou 3 de agosto da era de mil e quinhentos e noventa
coal esta fundada huma irmandade de pessoas seculares
com as comgroas dos finados e para cada hum. A estes
de Villa Chaa de Sa filial desta See Simão dominges
e cinquo annos faleceo em este lugar de Villa Saa filial
e eclegiasticas com aitoridade do ordinario os coais com
pertence e pertencem capellas todas as vezes que
morador, em este lugar, de que he herdeira sua molher
desta See Gaspar moço Solteiro e fez manda, de que e
muito zelo fabricão a capella de tudo o necesario e tam
algum falece e administrar todas as couzas para a dita
Beatriz [Frez] e fez manda e por verdade asinei comprida
testamentro dos Frez seu irmão he herdeiro sua criança
bem socorrem as almas dos irmans defuntos e lhe fazem
capella necessarias E não achei mais e por assim passar
atudo o que toqua ao coprimento d’alma. Veigua.
sua natural, que ouve de Ines Braz moça solteira filha de
em cada hum anno dois aniversarios o primeiro em a
na verdade passei esta que asignei e o juro in verbo
Britez Braz, com a qual a fama pubriqua estar casado,
quinta sesta feira da coresma do segundo em vinte do
sacerdotis
digo jurado e por verdade asinei, Eu o padre Pedro da
mes de Agosto em coais dias ha jubileo para os irmãos
Aos des de Outubro de 1722
Veigua cura o presente anno [n]esta dita igreja era S. d.
da dita irmandade por bulla e concesam apostolica e não
O padre cura João da Cunha Leytão
comprida tirado um seu do anno. Pedro da Veiga
há em esta freguesia outros alguns aniversarios ou gerais pellas almas ou especiais por alguma alma particollar. Ha
Os livros paroquiais mais antigos de registo de Defuntos e
mais outra capella do apostollo Sam Pedro cita distante
Casamentos têm o seu primeiro registo datado de 1595,
do lugar em partes de serras muito antiga que não consta
enquanto o livro de Baptismos tem o registo mais antigo datado de 1598.
48
49
Documento 8
Documento 9
Livro dos casados (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº1,
Livro dos baptismos (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30,
fl.53)
nº1, fl.66)
Aos 3 dias do mês de Setembro da era de 1595 racibi eu
[Aos] dezoito dias do mês de Março de 98 annos
esta de Pedro da Veiga cura que sou, o presente anno em
bauptizei Eu o padre Antonio Monteiro a Maria filha de
esta igreja de Villa Chaa de Sa filial desta See na forma
Maria moça solteira moradora no luguar de Cabanoy filha
do Sagrado Coração a Domingos Lopez he a Maria Gles
de Domingos Roiz do mesmo luguar e de Lianor Antonio
he por verdade asinei co esta abaixo asinado Pedro da
já defunta forão padrinhos Francisco filho de C. Lopez
Veigua.
e Domingas Fernandez molher de Antonio Fernandez diguo Francisca fez todos dahi. E por verdade assinei aqui oje dia mez e era ut supra. Antonio Monteiro.
Com estes registos paroquiais encontra-se também uma interessante partitura da Missa comemorativa do nascimento de S. João Baptista (24 de Junho), intitulada In Nativitate S. Joannis Baptistae ad Missam. A partitura de cantochão, embora não apareça datada, parece-nos que terá sido manuscrita pelo padre António Correia que esteve à frente da paróquia de Vila Chã de Sá entre 1625 e 1634.
50
51
Documento 10 Transcrição: In Nativitate S. Joannis Baptistae ad Missam (PTADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº1, fl.50-52) Introito De ventre matris meae vocavit me dominus nomine meo et posuit os meum ut gladium acutum sub tegumeto manus suae protexit me et posuit me quasi saggitam electam. ps (Isaías 49: 1-2) Bonum est confiteri Domino et psallere nomini tuo, Altissime. gloria patri (Salmo 92: 1) (Ritos Iniciais)
Kyrie Eleison Christe Eleison Kyrie Eleison
Gloria in excelsis Deo et in terra pax hominibus bone voluntatis laudamos. te benedicimus te. adoramus te. glorificamus te gratias agimus tibi propter magnam gloriam tuam D[omi]ne deus Rex celestis Deus Pater omnipotens D[omi]ne fili uni genite Jesu Xriste D[omi]ne Deus agnus Dei filius patris qui tolis peccata mundi miserere nobis qui tolis peccata mundi suscipe deprecacionem nostram qui sedes ad dextram patris miserere nobis q[uo]nniam tu solus sanctus tu solus D[omi]nus tu solus altissimus Jesu Christte cum sancto speritu in gloria Dei patris amem. (Aclamação ao Evangelho) Aleluia Aleluia tu puer prophe[ta] Altissimi vocaberis: praeibis enim ante faciem Domini parare vias ejus. (Lucas 1: 76) […]
52
53
Entre 11 de Maio de 1784 (cx.30, nº4: fl.149) e 23 de
melhor, na nova igreja paroquial como se lê no registo de
Junho de 1791 (cx. 30B, nº12: fl.101v) vários paroquianos
óbito de Manoel de Almeyda, datado de 20 de Outubro de
de Vila Chã foram sepultados, não na sua igreja paroquial,
1791 (cx.30B, nº12, fl.102v): “foi enterrado em a igreja nova
como era hábito, mas na capela de S. Sebastião. Para além
desta mesma freguesia de Vila chão”.
dos enterramentos, também os casamentos ocorridos neste período de sete anos foram celebrados nesta capela,
Em termos arquitectónicos a igreja de S. João Baptista
como aquele realizado a 26 de Julho de 1788 pelo padre
é uma construção de raiz tardo-barroca, com diversas
José Lopes, em que se pode ler no registo paroquial que a
alterações e acrescentos realizados posteriormente. É
capela de S. Sebastião “agora serve de Igreja” (cx.30B, nº12:
muito provável, contudo, que a igreja oitocentista tenha
fl.43). Nestes registos paroquiais ficamos também a saber
substituído no mesmo lugar o templo mais antigo, talvez
que para além de se celebrarem matrimónios na capela, o
de traça gótica ou manuelina, dado que no seu adro foram
pároco José de Figueiredo Queiroz de Vila Chã celebrou a 2
encontradas ossadas do cemitério medieval que ali existiu.
de Dezembro de 1790 um casamento “no oratório do Aljube
A igreja, de planta rectangular, é bastante comprida devido
da Torre eclesiastica” (cx.30B, nº12: fl.45).
ao acrescento realizado nos anos 40 do século XX. A torre
Quais as razões para tão grandes alterações na rotina de
sineira encontra-se na fachada, ao centro do corpo da
sacerdotes e paroquianos de Vila Chã de Sá durante um tão
igreja, o que não é muito comum nas igrejas da diocese.
longo período de tempo? A resposta chega-nos novamente
Ainda na fachada abre-se uma rosácea neo-gótica sobre a
pelos registos paroquiais: a partir de 23 de Setembro de
porta principal. Do lado Norte da igreja foi construída a
1791 (cx.30B, nº12: fl.102) os defuntos voltaram a ser
Sacristia, também num momento posterior à edificação da
sepultados na igreja paroquial de S. João Baptista, ou
igreja setecentista.
Igreja paroquial 54
(pág. anterior)
55
Auto de entrega à paróquia de Vila Chã de Sá dos locais de Igreja Paroquial e Capela de S. Sebastião com respectivos recheios
56
Padre António Barbosa com duas crianças austriacas refugiadas na casa Lemos e Sousa (década de 40 do século XX)
No seu interior é digno de referência o conjunto de imagens
Evangelho, a primeira, e do lado da Epístola, a segunda.
de Cristo na Cruz, no topo da Capela-mor, ladeado do seu
Na sacristia guardam-se três imagens: Nossa Srª com o
lado direito pela de S. João Baptista, o padroeiro da paróquia
Menino ao colo, Stª Teresinha do Menino Jesus, Nossa Srª
e, do lado esquerdo, pela de S. Pedro. Ambas as imagens
das Dores de roca.
encontram-se em dois nichos embutidos na parede. Reza a
A igreja tinha altar em talha dourada barroca, que foi retirado
tradição que aquela imagem de S. Pedro foi encontrada no
nos anos 40 do século passado, quando o padre António
lugar de Reigoso, onde se diz ter existido uma capela deste
Barbosa procedeu a obras no templo. Não se conhece qual
Apóstolo. Ainda na Capela-mor encontram-se as imagens
foi o destino dado a essa talha. Nessa ocasião foi feito um
de Stº António, do lado do Evangelho, e a de Stª Bárbara,
altar em granito onde se representa a “Fonte da Vida” a jorrar
do lado da Epístola. As duas imagens estão colocadas
para um tanque de onde saem sete bicas, correspondendo
sobre peanhas em madeira, estilizando uma concha.
aos Sete Sacramentos, tudo em alto-relevo. Sob a fonte
Na nave encontram-se as imagens do Coração de Jesus e de
encontra-se a inscrição: COM ALEGRIA BEBEREIS DA
Stª Teresinha, do lado do Evangelho, e do lado da Epístola
FONTE DO SALVADOR. As obras foram dirigidas pelo
as de Nossa Srª de Fátima e de S. José, todas elas sobre
mestre Cosme, natural de Fataunços (Vouzela). Com ele
peanhas em granito, com nicho embutido na parede. Ainda
trabalharam os pedreiros Amando Rodrigues de Campo,
nas paredes da nave, encontram-se as imagens dos Beatos
Joaquim “Patolas”, Celestino Figueiredo, Justino Lopes de
Madre Rita e Pastorinhos de Fátima, Francisco e Jacinta,
Figueiredo, Miguel Pereira Cardoso “Mira”, António Lopes
sobre peanhas em granito, respectivamente do lado do
dos Santos e seu cunhado Eduardo Anastácio. O mestre57
1
2
5
6
4
Obras na igreja paroquial na década de 40 do século XX 1 - Igreja antes das obras. Sobre a porta, nicho onde se encontrava uma estátua do padroeiro 2, 3, 4, 5, 7 - Fases da obra 6 - Padre António Barbosa no interior da igreja 8 - Padre António Barbosa no exterior após a conclusão das obras 3 58
7
8 59
1
2
3
4
Nossa Senhora das Dores de roca, na sacristia
5
6
7
8
Imagens no corpo da igreja: 1- Coração de Jesus 2 - Santa Teresinha 3 - Nossa Senhora de Fátima 4 - São José com Menino ao colo 5 - Madre Rita 6 - Pastorinhos de Fátima 7 - Santa Bárbara 8 - Santo António
9 60
10
na sacristia: 9 - Santa Teresinha 10 - Nossa Senhora com Menino ao colo
Pia baptismal
ferreiro da obra foi José Figueiredo Cardoso “Querido”
No adro da igreja encontram-se uma estátua em mármore
de Fail. Para estas obras o pároco estabeleceu que quem
de S. João Baptista, sobre peanha em granito e enquadrado
tivesse bens contribuía com dinheiro, enquanto todos os
por quatro colunas também em granito, uma fonte de S. João
outros contribuíam com trabalho. Nos anos 70, o pároco
e um cruzeiro. Estes monumentos, bem como o Catavento
Manuel Dias Ferreira, em colaboração com a Fábrica da
“A Quantos Fizeram Vila Chã de Sá”, anteriormente na torre
Igreja, procedeu à terraplanagem de um morro que existia
da igreja, a iluminação, o calcetamento e ajardinamento do
no lado Sul da igreja, com o propósito de a tornar mais
adro da igreja, foram realizados pela Junta de Freguesia
visível. Posteriormente foi ali plantada uma vinha e um
em colaboração com a Comissão Fabriqueira e com o apoio
olival.
financeiro da Câmara Municipal de Viseu, entre 1998 e
Nas paredes exteriores da Igreja de S. João Baptista foram
2000.
colocados vários painéis de azulejos: Sagrada Família,
No jardim que ladeia a escadaria de acesso à igreja
Nossa Srª de Fátima, S. João Baptista, S. José com
paroquial, encontram-se duas esculturas em granito,
Menino Jesus ao colo, Nossa Srª do Carmo e Nossa Srª da
uma em homenagem à Mãe, da autoria do escultor Luís
Conceição.
Queimadela, inaugurada em 8 de Julho de 2001 pelo bispo 61
Monumento à Mãe
Monumento à Família
de Viseu D. António Monteiro, pelo Presidente da Câmara
A Sagrada Família foi uma iniciativa do padre Daniel
Municipal de Viseu e pelo Presidente da Junta de Freguesia,
Ferreira dos Santos que, em conjunto com a Comissão da
e outra representando a Sagrada Família, inaugurada em
Fábrica da Igreja, a Junta de Freguesia e a população da
17 de Abril de 2005 pelo Bispo de Viseu D. António Marto,
mesma, erigiu este monumento religioso.
pelo Presidente da Câmara Municipal de Viseu e pelo
Aquando das obras realizadas pelo padre António Barbosa,
Presidente da Junta de Freguesia. A sentida homenagem à
foi demolida a casa da Fábrica da Igreja, situada no largo da
Mãe foi uma iniciativa do presidente da Junta de Freguesia,
mesma, em frente da casa da família Nunes, onde se reuniam
prof. José Ernesto, que contou com a colaboração de vários
habitualmente párocos e paroquianos para tratar de assuntos
grupos que se constituíram na freguesia para angariar
da paróquia e onde também era dado um bodo em funerais
fundos com vista à sua concretização.
com Ofícios que consistia num pão com bacalhau frito.
62
Catequistas: década de 60 do século XX (?) Da esquerda para a direita: Maria da Luz, Olívia, Alda, Elvira do “Sabão”, Maria Irene, Maria Garcia, Adélia Paulino, Mariana “Faroz”, Armanda de Jesus, Alcina Loureiro
63
Lista de párocos de S. João Baptista de Vila Chã de Sá* 1554-1594 (não se conhecem quaisquer registos paroquiais)
1787 Brás José de Figueiredo
1595 Pedro da Veigua
1788 José Lopes
1598 António Monteiro
1788 José de Figueiredo Queiroz
1600 Francisco Vaaz
1805 Bernardo Pereira de Figueiredo
1600 José Antunes
1813 José de Figueiredo Queiroz
1603 Francisco Vaaz
1814 Frutuozo Lopes Ribeiro
1604 Domingos Pires
1825 José Esteves Correia
1604 Francisco Vaaz
1826 Jerónimo Paez Correia
1605 João Lopez
1828 Agostinho Ribeiro Pinto
1606 João de Figueiredo
1829 António Bernardo Rodrigues de Oliveira
1605 Francisco Vaaz
1830 Romão Lopes Pereira Carvalho
1625 António Correa
1831 António Bernardo Rodrigues de Oliveira
1634 Pedro Rodrigues
1831 Justino José Rodrigues
1638 João Lopes
1832 João Luiz
1639 António João
1834 Manuel Pereira
1640 Manuel Almeida
1834 Seraphim Gomes da Costa
1647 Jorge da Fonseca
1837 José Marques de Figueiredo
1647 Francisco Antunes
1838 António Rodrigues do Vale
1666 Manuel Figueira
1838 Francisco Manuel Pereira de Figueiredo
1667 Francisco Antunes
1844 José Pereira de Queiroz
1667 Manuel Figueira
1847 José da Costa Lemos de Andrade
1690 Manuel da Silva
1850 José Pereira de Queiroz
1699 Francisco Rodrigues
1875 José Lopes Pereira
1703 Domingos de Almeida
1876 Filippe Francisco de Figueiredo
1704 Domingos Lopes Rebelo
1878 Manoel Lopes de Campos
1720 Bonifácio de Almeyda
1879 Francisco Paes Pereira
1721 João da Cunha Leytão
1911 Luiz Ferreira da Ponte
1723 Bonifácio de Almeyda
1939 Franklin Coimbra
1724 Lourenço Mendes
1940 Francisco Augusto Correia de Figueiredo
1726 Martinho Rodrigues Cassam
1940 António de Barros Barbosa
1727 Lourenço Mendes
1950 João Ferreira dos Santos
1740 Manuel Lopes Rebelo
1963 Manuel Dias Ferreira
1779 António Pereira de Figueiredo Queiroz
1991 Daniel Lopes dos Santos
Documento 11 Registo de óbito assinado pelo cura Frutuozo Lopes Ribeiro que esteve na paróquia de Vila Chã de Sá entre 1814 e 1825 64
(*Lista elaborada a partir de: PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº1 a nº5; cx.30A, nº6 a nº9; cx.30B, nº12 e nº13; cx.30C, nº14 e nº15 e de Livros Duplicados Cota: cx.30A, nº52)
65
Documento 12
Documento 13
Documento 14
Documento 15
Registo de baptismo (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30,
Registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº2:
Registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30, nº4:
Registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30A, nº9:
nº1, s/n)
fl.46)
fl.149)
fl.35)
Aos 2 dias de Setembro de 1611 baptizei eu o padre
Aos três dias do mes de Novembro de 1637 faleceu Maria
Terça feira onze de Maio de mil setecentos outenta e
Aos quinze dias do mes de Novembro do anno de mil
Francisco Vaz a Francisca filha de João Francisco e de
glz abintestada cumprira com o bem fazer de sua alma
quatro annos falleceo da vida prezente com todos os
oito centos e dezasete annos faleceu da vida prezente
sua molher Antonia Francisca e forão padrinhos Pedro
seu marido Dominguos Lopes. Dia mes e era ve supra. o
sacramentos Jacinta solteira deste lugar e freguesia de
Maria solteira de maijor idade de 16 annos Maria solteira
Estevão criado do ferrador e madrinha Maria filha de
padre Pedro Roiz.
Vila Cham de Sá seu sobrinho Joze Lopes e obrigado ao
filha de José Lopes Sagucho e de sua mulher já defunta
seu comprimto de bem d’alma foi sepultada na Capella
deste lugar e freguezia de Villa Chã de Sá do Bispado de
Chaa e por verdade fiz este e asinei dia mes et hera acima
de São Sebastião do mesmo lugar epara constar fiz este
Vizeu e recebeu todos os Sacramentos percizos e não
dita. Francisco Vaaz.
traslado que asigney
fez dispozição alguma seu corpo foi sepultada dentro da
O Cura Antonio Pereira de Figueiredo Queiroz.
Igreja da mesma freguezia o dito seu pay he obrigado ao
Domingos Roiz todos moradores neste luguar de Villa
comprimento do seu bem d’alma. E para constar fiz este asento, que assigney; Dia, mes, anno, Era ut Supra
66
Cura Frutuozo Lopes Ribeiro. 67
1
2
1 - Inauguração da estátua à Mãe: padre Daniel Ferreira dos Santos, dr. Fernando Ruas, jornalista, escultor Luis Queimadela, bispo de Viseu D. António Monteiro, prof. José Ernesto P. da Silva, sr. José Costa e sr. Eduardo Cortês
Documento 16
Documento 17
Registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30C, nº14:
Registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30C, nº14:
fl.4)
fl.4 e 4v)
Aos trez dias do mês de Julho de mil oito centos cincoenta
Aos dezanove dias do mês de Julho de mil oito centos
e cinco annos falleceo Anna Joaquina mulher de João
cincoenta e cinco annos falleceo Manoel Francisco,
Francisco M… e recebeu somente os sacramentos da
cazado com Maria do Carmo, e não recebeu se não
Confissão e Comunhão e não lhe dei a Extremaunção por
o Sacramento da Confissão, por não me chamarem a
me não chamarem a tempo. Não tem testamento: seu
tempo, era morador no Soutulho desta freguezia de Villa
corpo esta sepultado dentro desta igreja de Villa Chãa de
Chãa de Sá. Tem testamento: seu corpo esta sepultado
Sá. E para constar fez este Termo que assinei dia mês ano
no Cemiterio onde manda o Governo. E para constar fiz
ut supra o Cura
este Termo que assignei dia mês ano ut Supra o Cura
68
o Padre José Pereira de Queiroz.
o Padre José Pereira de Queiroz.
2 - Visita ao complexo desportivo da Pedra d’Águia: sr. António Ferreira (membro da Junta desde 1997, primeiro como secretário e actualmente como tesoureiro), prof. José Ernesto P. da Silva, padre Nuno, sr. Belarmino Costa, dr. Fernando Ruas e bispo de Viseu D. António Marto 3 - Visita pastoral do bispo de Viseu: sr. José Costa, sr. António Pais, D. Elídio Leandro, sr. João Pereira, prof. José Ernesto P. da Silva 3
Cemitério A palavra cemitério deriva do grego Koimeterion e do latim
Colégio da Via Sacra e a terceira, talvez a maior da cidade,
Coimeterium que significava “lugar de dormir”, “lugar de
na área compreendida entre a Stª Cristina, a rua Alves
descanso”. Durante o domínio romano, os mortos eram
Martins e o Bairro do Serrado.
sepultados do lado de fora das muralhas das cidades,
Entre finais do Império e inícios da Idade Média, os
geralmente ao longo de caminhos e vias de acesso. Estes
enterramentos continuaram a fazer-se no espaço das
lugares ainda não eram cemitérios, na acepção cristã, mas
antigas necrópoles romanas, entretanto cristianizadas.
necrópoles. Em Viseu conhecem-se três necrópoles desse
Essa cristianização revela-se nos novos rituais funerários
período: uma ficava na zona onde hoje é a rua Emídio
praticados – inumação despojada de qualquer mobiliário
Navarro, outra entre a capela de S. Miguel de Fetal e o
ritual –, e na construção de uma igreja onde se encontravam 69
9 11
8 2
1 7 10
6
4
5
3
Necrópoles de sepulturas escavadas na rocha no território da primitiva paróquia de S. João de Lourosa, onde Vila Chã de Sá se integrava. 1. Pedra do Altar, Vila Chã de Sá 2. Quinta da Capela, Lourosa de Baixo (2) 3. Adiqueiro, Oliveira de Barreiros (3) 4. Cruzeiro, Oliveira de Barreiros (4) 5. Quinta da Prepita, Oliveira de Barreiros (7) 6. Quinta do Giestal, Oliveira de Barreiros (3) 7. Vale de Matos, Oliveira de Barreiros (1) 8. Casa dos Gomes, S. João de Lourosa (1) 9. Celão, S. João de Lourosa (1) 10. Quinta da Castanheira, S. João de Lourosa (1) 11. Srª da Ribeira, Lourosa de Baixo (sarc.) 70
Documento 18 - Registo de óbito
Documento 19 - Registo de óbito
relíquias de um ou de vários santos mártires. Foi neste
que existe no lugar de Pedra do Altar, em Vila Chã de
período que verdadeiramente nasceram os cemitérios,
Sá (MARQUES, 2000(2): 175), são o tipo de campas que
com a conotação cristã de “lugar de descanso” dos fiéis
melhor ilustram essas práticas funerárias altomedievais.
defuntos até ao dia da Ressurreição e do Julgamento Final
Dado o seu elevado número por todo o Norte de Portugal,
prometido nas Escrituras. Fora das cidades os mortos
por um lado, e a escassez de documentação escrita desse
eram sepultados seguindo os mesmos rituais, embora nem
período, por outro lado, constituem uma fonte preciosa
sempre descessem à terra junto a um templo; geralmente
para se conhecer a estrutura do povoamento no período da
o defunto era enterrado próximo da quinta, do casal ou
Reconquista (BARROCA, 1987; MARQUES, 2000(2)).
da aldeia onde habitara, numa campa completamente anónima. As sepulturas escavadas na rocha, como a
O registo de óbito mais antigo que se conhece na 71
Documento 20 - Registo de óbito
Documento 21 - Registo de óbito
Documento 22
Documento 23
freguesia de Vila Chã de Sá é de 20 de Maio de 1595,
não excluiu que se realizassem enterramentos noutras
nº12, fl.102v): “e foi enterrado em a igreja nova desta mesma
primeiro registo de óbito (PT-ADVIS-PVIS: Cota: cx.30C,
como já referimos anteriormente. Seguramente que
igrejas, pelas mais diversas razões. Em Vila Chã de Sá,
freguesia de Vila chão”.
nº14: fl.4 e 4v) em que o defunto foi sepultado no cemitério
desde a criação da paróquia de S. João Baptista de Vila
entre 11 de Maio de 1784 (PT-ADVIS-PVIS: cx.30, nº4:
Em 18 de Setembro de 1844, foi aprovada a Lei de Saúde
da freguesia de Vila Chã de Sá e já não na igreja paroquial,
Chã de Sá, em 1554, os fiéis defuntos eram sepultados
fl.149) e 23 de Junho de 1791 (PT-ADVIS-PVIS: cx. 30B,
Pública pelo governo de Costa Cabral. Tal lei proibia
como tinha acontecido ainda a 3 de Julho do mesmo ano.
nos terrenos envolventes da igreja ou no seu interior.
nº12: fl.101v) várias pessoas foram sepultadas na capela
a prática de enterrar no interior dos templos, como era
O novo cemitério era designado de campo santo.
Antes desta data, os vilachanenses, como pertenciam
de S. Sebastião. A partir de 23 de Setembro de 1791 (PT-
costume, por razões higiénicas. Esta proibição despoletou
Em 17 de Março de 1918 a Junta de Freguesia deliberou
à paróquia de S. João de Lourosa, eram sepultados
ADVIS-PVIS: cx. 30B, nº12: fl.102) os defuntos voltaram a
no Minho, em Março de 1846, a célebre revolta da Maria
requerer à Câmara Municipal de Viseu o alargamento do
naquela igreja paroquial.
ser enterrados na igreja paroquial, ou melhor, na nova igreja
da Fonte. Depois de aprovada esta legislação cabralista
cemitério. A 19 de Maio do mesmo ano de 1918, a Junta
O enterramento no adro da igreja ou no seu interior foi
paroquial, como se registou no óbito de Manoel de Almeyda,
que gerou tanta controvérsia, sobretudo nos meios mais
voltou a deliberar o mesmo! E a 1 de Dezembro fez a mesma
praticado durante centenas de anos. Porém, essa tradição
datado de 20 de Outubro de 1791 (PT-ADVIS-PVIS: cx.30B,
tradicionalistas, encontramos a 19 de Julho de 1855 o
deliberação!! Decorrido quase um ano, a 18 de Fevereiro de
72
73
Portão do cemitério
Documento 24 74
1919, o presidente da Junta, Amando Teixeira, requereu ao
Cão para conseguir dinheiro para terminar os trabalhos
Governador Civil o alargamento do cemitério em “virtude das
(Livro de Actas).
ultimas epidemias se ter enchido de cadaveres, sendo preciso
A 31 de Janeiro de 1960 a Junta de Freguesia, presidida
andarem a fazer os enterramentos nas carreiras do Cemitério e
então por José Pereira da Silva, deliberou fazer novas obras
estas mesmas já pouco espaço terem” (Governo Civil, Obras
de alargamento do cemitério, com o intuito de permitir a
Públicas, Cx.2956, nº27). As epidemias referidas no texto
construção de jazigos de família, nomeadamente da de
da acta foram, entre outras, a terrível gripe espanhola
Henrique Pereira de Almeida. Estas obras foram em grande
que fez milhares de mortes em Portugal e milhões em
parte financiadas pelo dr. Ernesto Pereira de Almeida.
todo o mundo. A obra no cemitério de Vila Chã de Sá foi
Em 1979 a Junta de Freguesia, presidida pelo prof. José
aprovada com o parecer favorável do Delegado de Saúde,
Ernesto P. da Silva, realizou em colaboração com a Câmara
dr. José de Mello Ferrari. Contudo, apesar do processo bem
Municipal de Viseu, presidida pelo dr. Leal Loureiro, as
encaminhado, a 19 de Junho de 1921 o cemitério ainda
últimas e maiores obras de alargamento do cemitério. Este
não tinha sido ampliado por falta de verbas. Na reunião
alargamento ocupou parte de um terreno adquirido ao sr.
ocorrida nessa data, decidiu-se vender o pinhal do Vale do
Manuel Rodrigues, do Aral. 75
Altar-mor da capela de S. Sebastião
Capela da Irmandade de S. Sebastião de Vila Chã de Sá
76
Desconhece-se a data de constituição da Irmandade de
ordinario os coais com muito zelo fabricão a capella de
S. Sebastião. Foi, seguramente, posterior a 1554, data de
tudo o necesario e tam bem socorrem as almas dos irmans
criação da paróquia de S. João Baptista, e anterior a 1615,
defuntos e lhe fazem em cada hum anno dois aniversarios
ano em que obteve uma Bula do Papa Paulo V, que lhe
o primeiro em a quinta sesta feira da coresma do segundo
concedia Infinitas Indulgencias (Estatutos da Irmandade
em vinte do mes de Agosto em coais dias ha jubileo para os
de S. Sebastião).
irmãos da dita irmandade por bulla e concesam apostolica
Nas Memórias Paroquiais de 1722, o padre João da
e não há em esta freguesia outros alguns aniversarios
Cunha Leitão diz sobre a Irmandade: tem esta freguesia
ou gerais pellas almas ou especiais por alguma alma
em seo distrito tres capellas huma junto ao povo da
particollar.
emvocação do invicto martir Sam Sabastiam do baixo
Os Estatutos da Irmandade mais antigos que se lhe
do patrocinio do coal esta fundada huma irmandade de
conhecem datam de 1771 e foram mandados fazer pelo
pessoas seculares e eclegiasticas com aitoridade do
então Reitor Manoel Lopes do Couto. 77
Documento 25 Estatutos da Irmandade de S. Sebastião de Vila Chã de Sá (fl.4-5) Considerando os freguezes de Villa Cham de Sá, freguezia de São João baptista filial da Sancta Sé da Cidade, e Bispado de Vizeu: quam proveitoza he a intercessão dos Sanctos, e o ajudarem-se huns aos outros, com oraçoens pelo bem commum dão brado, que escala ao Ceo, e são de muita efficacia para com Deos conforme ao 78
Capitolo quarto do Exodo aonde orando Moises pelo bem
Romanos, dos quais consta, Publio Tacito, q estando
por seus rogos, e intecessão, sejamos todos asim Irmãos,
commum, dice Deos a Moises, porque gritas para mim; e
aquella grande, e populoza cabeça do Mundo a Cidade
como os mais fieis Christaons, livres de todos os malles
Santiago Apostolo em huma sua Epistola Capitolo quinto
de Roma enficionada com o grande, e cruel mal da peste,
espirituais, e temporais.
dis, Orai huns pelos outros, para que sejais salvos, porque
tão contagiozo, que a nenhu perdoava, per pimissão
val munto diante de Deos a continua petição dos justos:
Divina, e do Ceo foi posto hum Altar com a imagem do
Aos 38 capítulos que tinham inicialmente (1771), foram
e asim determinarão, e ordemnarão fazer, e erigir huma
Glorioso, e invicto Martir S. SBASTIÃO na Igreja chamada,
acrescentados 15 em várias alterações realizadas nos anos
Irmandade debayxo da tutela, e protecção do invicto
a Igreja de S. Pedro ad vincula: logo pelos mericimentos
de 1780, 1784, 1793, 1817, [1817-1850] e 1850. Estas
Gloriozo Martir S. SEBASTIÃO, tomando-o intercessor,
deste gloriozo Sancto sessou aquelle grande mal da
foram devidamente aprovadas como mandava a lei:
e defenssor nas necesidades espirituais, temporais,
peste. Seja o Senhor sempre louvado, e seja tão bem
e males contagiozos, como discretos a imitação dos
servido, por quem padeceo este invicto Martir, para que 79
3
Documento 26 (Estatutos da Irmandade de S. Sebastião de Vila Chã de Sá fl.30)
1
O Doutor Jozé da Fonseca
1. S. Romão 2. S. Sebastião 3. Bandeira da Irmandade de S. Sebastião 4. Bandeira da Irmandade de S. Sebastião com representação de Nossa Srª da Conceição 5. Pormenor dos capitéis do Altar-mor
de Andrade e Aguiar do Dezembargo de Sua Magestade Excelentissima que Deos guarde seu Provedor com Alçada em esta Cidade e Provedoria de Vizeu pela
2
5
4
mesma Senhora Nossa Faço saber aos que este meu Alvara de confirmação virem que eu aprovo e confirmo, hey por
80
aprovados e confirmados os
Em 1775, o Reitor da Irmandade mandou fazer uma nova Tribuna
Em termos arquitectónicos a capela de S. Sebastião
Estatutos retro, que mando
e Altar da capela, tendo obtido a respectiva Licença para a sua
apresenta planta retangular. O altar, em talha dourada,
se cumprão e guardem como
bênção em 20 de Janeiro daquele ano (ALVES, 1964: 332).
é estilo Rococó (2ª metade do século XVIII). No centro
nelles se contem para o que lhe
Em
estatutos
do Altar encontra-se uma belíssima imagem barroca de
interponho minha authoridade
convenientemente reformados e approvados, como se pode
Nossa Srª da Conceição, em madeira policromada; do
e Decreto judicial etc. Dado
ler na capa da publicação. No primeiro capítulo, são
seu lado direito, em nicho, encontra-se uma imagem
e passado em esta Cidade de
definidos os seus princípios gerais:
do padroeiro da capela da Irmandade, S. Sebastião,
1892
a
Irmandade
editou
os
seus
Vizeu sob meu signal e sello ou
- prestar o devido culto ao glorioso martyr S. Sebastião;
e do lado oposto, também em nicho, encontra-se a
sem elle excausa aos dês dias
- prestar soccorros espirituaes, aos irmãos vivos e defunctos;
imagem de Santiago peregrino. Ainda no Altar-mor, em
do mez de Abril de 1780.
- a pratica da caridade em geral
ambas as paredes laterais, foram penduradas como 81
Quem foi S. Sebastião? Tem o cognome de Defensor da Igreja; comemora-se a 20 de Janeiro. Nasceu em Narbona. As suas qualidades de afabilidade cedo o tornaram conhecido na corte dos imperadores. Chegou a ser um dos favoritos do imperador Diocleciano que o nomeou capitão da sua guarda. Enquanto soldado romano socorreu muitos cristãos encarcerados e converteu outros. Foi denunciado ao Imperador e condenado a ser morto por flechadas. Sobreviveu e foi curado por Irene, viúva do santo Mártir Cástulo. Depois de recuperado, S. Sebastião confrontou o Imperador com a crueldade que este fazia com os cristãos. O Imperador, furioso, mandou-o prender e ser morto imediatamente no circo, à varada. Depois de morto, Luciana mandou-o sepultar no cemitério Calisto. Morreu no ano de 288.
Altar colateral de S. Francisco
Altar colateral de S. Bernardo
quadros as pinturas maneiristas a óleo da Bandeira
tábuas das pinturas maneiristas originais, truncadas
revestimento de azulejos nas paredes interiores, com o
acompanhado pelo presidente da Câmara Municipal de
da Irmandade, respectivamente S. Sebastião, do lado
pela colocação das colunas barrocas. No topo do altar
apoio do Ministério da Habitação e Obras Públicas através
Viseu. Em 17 de Abril de 2005, o bispo de Viseu D. António
do Evangelho, e Nossa Srª da Conceição, do lado da
de S. Bernardo, do lado da Epístola, em quadro central,
da Direcção Geral de Equipamento Regional e Urbano e
Marto, acompanhado pelo presidente da Câmara Municipal
Epístola.
encontra-se uma pintura de Stº António com o Menino
Junta de Freguesia.
de Viseu, visitou a capela de D. Sebastião já totalmente
Os altares colaterais da capela da Irmandade foram
ao colo.
Em 2000/2001 a capela foi objecto de obras de restauro
restaurada.
originalmente ali colocados no século XVII, dado o traço
A nave da capela é de corpo único. Sobre a porta
no seu interior e em 2004/2005 na parte exterior. As
No adro da capela encontra-se a Pedra-de-Altar que para ali
maneirista que ostentam na parte superior, e no século
seiscentista da fachada encontra-se um pequeno nicho
obras foram financiadas pela ADDLAP (Associação de
foi deslocada aquando das obras em 2000, com o intuito
XVIII foram reformados com a colocação de dois pares
com uma imagem em granito de S. Sebastião.
Desenvolvimento Dão-Lafões e Alto Paiva) e pela Junta
de celebração de missas campais.
de colunas torsas em cada um deles. No altar de S.
Em 1981 a capela foi objecto de um primeiro conjunto de
de Freguesia. Em 14 de Março de 2002 o bispo de Viseu
Francisco, do lado do Evangelho, ainda “espreitam” duas
obras no seu telhado, pavimento interior, electrificação e
D. António Monteiro visitou os trabalhos já realizados,
82
Primeira página do Missal Romano
83
Capela de S. José Em 14 de Novembro de 1693 o tabelião Manoel de Almeida
Diogo de Lemos e Barros Conego prebendado na Sé desta
Cardozo redigiu o Instrumento de Vínculo e Capela de S.
Cidade aonde eu Tabalião vim estando ahi prezente o
José de Vila Chã de Sá, em casa do cónego Diogo de Lemos
Reverendo Antonio Gomes da Costa Abbade de Santa
e Barros, em Viseu.
Eulália deste Bispado pessoa bem conhecida de mim Tabalião por elle foi dito em minha prezença, e das
Documento 27 1693, Instituição do Vinculo e Capella de S. Jozé, q fez o R. Antonio Gomes da Costa Abb.e de S. Eulalia, cuja propria está lançada no L.o Velho. Saibão quantos este publico Instrumento de Instituição de Vinculo, e Capella ou como em Direito melhor lugar haja virem como no Anno do Nacimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil seis centos noventa e trez annos: aos quatorze dias do mez de Novembro do dito anno nesta cidade de Vizeu em as cazas das moradas do Reverendo
Testemunhas ao diante nomeadas, e asignadas que elle tinha tinha no lugar de Villa Chaã de Sá huma capella que mandara edificar, a qual foi benta pelo Illustrissimo Dom João de Mello Bispo deste Bispado, e hé da Invocação de S. Jozé, e nella se celebrão os Officios Divinos á muitos annos, a qual Capella dise elle Reverendo Abbade Antonio Gomes da Costa, que unia e vinculava toda a sua fazenda de raiz, que tem de Prazos perpetuos fateozins com as condições nos Emprazamentos declaradas, cujos foros e pençoes rendem em cada hum anno sessenta e sete mil reis em dinheiro, que os foreiros tem obrigação de pagar, e por sua conta e risco no lugar de Villa Chaã de
Capela de S. José, propriedade da família Lemos e Sousa (pág. anterior) 84
85
Altar-mor da capela de S. José 86
Sá em dia de S. Jozé; e asim mais unia e vinculava a dita
Chaã de Sá, tera preferência na Elleição da dita Capellania
Capella o dinheiro que traz a razão de juros em maos de
sendo capaz para poder ser Elleito nella. E não havendo
diversas pessoas a cinco por cento na forma declarada
Clerigo no dito Lugar que seja capaz de poder servir a dita
nas Escripturas que delle tem, os quaes juros importão
Capellania, ellegerão os Administradores Capellão na
noventa e sete mil e quinhentos reis cada anno: os quaes
forma asima declarada, e com a obrigação de viver no
rendimentos dos ditos Prazos, e dinheiros de juro une, e
dito Lugar, como asima fica dito, e será mais obrigado o
vinculla em Capella e Morgado, ou como em Direito
dito Capellão a dar da porção que lhe fica taxada, cera,
melhor haja lugar, para que esteja sempre vivo, e delle se
vinho, e hóstias para as ditas Missas. E se o dito Capellão
satisfação as obrigações adiante declaradas a saber =
estiver legitimamente empedido para não poder satisfazer
Que dos ditos rendimentos se dirá Missa quotidiana na
com a dita Missa quotidianna na dita Capella, a poderá
dita Capella para o que se darão quarenta mil reis ao
mandar dizer a outro Sacerdote, a quem dará a esmola
Capellão cada anno: e alem dos quarenta mil reis posuira,
por que com elle se concertar, e se o dito empedimento
e logrará hua vinha, que elle Instituidor tem no dito lugar,
passar de seis mezes, os ditos Administradores proverão
aonde chamão a corredoura tapada sobre si, e cazas em
a dita Capellania em outro Capellão, emquanto durar o
que viva no dito lug.r, as quaes hade dar Manoel de
tal impedimento, na mesma forma, e com as obrigações
Mesquita de Loureiro de Gallifoins concelho de Lafoes
asima declaradas, e com a asistencia e voto do dito
como no Empreazamento que elle Instituidor lhe fez se
Reverendo Conego Diogo de Lemos e Barros, ou do que
declara; e mais hum cazal de vinte alqueires de pão
lhe suceder; e tanto que sessar o dito empedimento
meado de que he cazeiro Antonio João o Caião do mesmo
tornará o dito Capellão a servir a dita Capellania. E o dito
lugar, o qual cazal logrará em sua vida Izabella Salgada
Capellão poderá dizer hu dia de cada semana Missa por
criada delle Instituidor, e por sua morte passara ao dito
quem lhes parecer, não sendo em dia de Domingo ou dia
Capellão, o qual cazal se não podera vender, nem dividir,
Santo. E o cura que for na Igreja do dito Lugar de Villa
nem tambem a dita vinha, porque hua e outra couza
Chaã de Sá dirá cada semana hua Missa na dita Capella
logrará o dito Capellão emquanto o for desta Capella, e os
de São Jozé o dia que elle quizer, para que sinão falte á
mais que lhe forem sucedendo nem o poderão partir,
obrigação de Missa quotidianna, e os Administradores
alhear, nem trocar. E tudo o dito Capellão trará bem
deste Vinculo darão ao dito Padre Cura trez mil reis por
reparado, e cultivado asim as ditas cazas, com a vinha. E
anno. E asim esta Missa que o dito Padre Cura hade dizer,
os Administradores terão cuidado de que asim tudo ande
como as mais que hade dizer o dito Capellão serão pella
bem reparado que será por conta do dito Capellão: o qual
tenção
Capellão terá mais obrigação de viver no dito lugar de
Administradores darão cada anno quatro mil reis para a
Villa Chaã de Sá, e será o que elle Instituidor nomear, e
fabrica da dita Capella, e os depozitarão em mão de
não nomeando, o nomearão os Administradores, e por
Pesoa segura, e abonada para que estejão promptos a
morte do dito Capellão, ellegerão outro os ditos
todo o tempo que necessarios forem para a dita fabrica, e
Administradores com a asistencia e voto do Reverendo
se fara hum Livro, que servirá de receita e despeza da dita
Conego Diogo de Lemos e Barros, e sendo falecido, com
fabrica. Haverá quatro Mercieiras que asistão á Missa
o Conego mais antigo em Cadeira da Meza aprestimada
quotidianna, rezando cada huma dellas huma coroa de
da Sé desta cidade de Vizeu: o qual Capellão será de boa
Nossa Senhora pela tenção delle Instituidor, e a cada
vida e costumes, e avendo Clerigo do dito Lugar de Villa
huma dellas se dará hum cruzado cada mez, e por cada
delle
Instituidor:
e
tambem
os
ditos
87
Pormenor dos capitéis do Altar-mor
Pormenor do remate do Altar-mor
vez que cada huma dellas faltar á asistencia da dita
outra Orffa com as condições asima declaradas. E estes
anno. E o Escrivão haverá mais, alem dos seis mil reis,
Estas são as clauzulas principaes da Escriptura da
Missa, o Capellão as multará em sinco reis, que se
Dotes serão dados com asistencia e votos do dito Conego
dois mil reis para papel. E darão inteira satisfação a tudo
Instituição da Capella de S. Jozé que foi feita pelo Tabelião
aplicarão para a cera das mesmas Missas da dita Capella:
Diogo de Lemos e Barros, e do q lhe suceder. Nomeio
quanto aqui he disposto, sob cargo de suas conciencias,
Manoel de Almeida Cardozo [1693 Novembro 14], e se
e se alguma das Mercieiras estiver legitimamente
para Administradores deste Vinculo e Capella ao Provedor
e correrá por conta do dito Escrivão fazer cada mez
acha a propria no Livro Velho desta Capella a fl.37v.º
empedida, se lhe dará o dito cruzado por mez sem lhe
e Escrivão que for da Meza da Mizericordia desta cidade
pagamento ás ditas Mercieiras na forma atraz declarada,
tirar couza alguma, mas terão obrigação de rezar a dita
de Vizeu, os quaes cobrarão, e mandarão cobrar o
o qual pagamento não fará, sem lhe trazerem certidão do
E no mesmo a fl.40 se acha o Instrumento de acceitação
coroa: as quaes Mercieiras serão as que elle Instituidor
rendimento deste Vinculo, e satisfarão as obrigações
Capellão de como asestirão. E satisfeitas as obrigações
deste Vinculo que fizerão o Provedor e Meza da
nomear, que servirão emquanto forem vivas, e por
delle na forma que fica declarado tudo com a asistencia e
deste Vinculo, o que subejar dos rendimentos delle
Mizericordia em 18 de 9br.o de 1693 = Tab.am o dito
falecimento de cada huma dellas, os Administradores
voto do dito Reverendo Conego Diogo de Lemos e Barros,
despenderão os ditos Administradores com a asistencia e
Manoel de Almd.a Cardozo.
com asestencia, e voto do dito Conego ellegerão outra,
emquanto for vivo, ou do Reverendo Conego mais antigo
voto do dito Reverendo Conego, em obras pias da Caza
que não poderá ser de menos idade de concoenta annos,
da Meza aprestimada, que lhe suceder. Os quaes todos
da Mizericordia, e sua obrigação como melhor lhe
(A.S.C.M.V., Livro da Instituição do Vinculo e Capella de
e serão naturaes do dito Lugar de Villa Chaã de Sá
trez juntos serão obrigados em dia de S. Jozé, acharem-
parecer. E declarou elle dito Instituidor q as Escripturas, e
S. Jozé, 1693; MAGALHÃES, 2008: 2-3)
havendo as nelle. Em cada hum anno se dotarão duas
se na dita Capella de S. Jozé de Villa Chaã de Sá, e nella
titillos dos Prazos, e Escripturas de juros deste Vinculo,
Orfas com o Dote de vinte mil reis cada huã e não poderá
proverem os ditos dois Dotes das ditas duas Orffas, e
estarão na Caza da Mizericordia em hum caixão que se
Neste documento, o padre António Gomes da Costa vinculou
ser dotada a que passar de edade de quarenta annos, e
proverão tambem algum lugar de Mercieira, ou do
mandará fazer, o qual terá trez chaves deferentes, e huma
os seus bens de raiz e dinheiro a juros à capela de S. José,
serão estas Orffas, e terão obrigação de se receberem na
Capellão, estando vago, não sendo cazo que seja
chave terá o Provedor, outra o Escrivão, e outra o dito
que tinha sido por si edificada e benzida pelo então bispo
forma da Igreja dentro de dois annos, e não se recebendo
necessario proverse antes do dito dia. E cada hum delles
Reverendo Conego.
de Viseu D. João de Mello (1673-1684). Nomeou como
dentro delles os Administradores provirão o dito Dote em
haverá do rendimento deste Vinculo, seis mil reis cada
88
administradores o provedor e o escrivão da Misericórdia de 89
Pormenor das paredes revestidas a azulejos maneiristas de “tapete”
Viseu e o cónego da Sé, Diogo de Lemos e Barros.
com a estrutura retabular. Esta, em talha dourada também
Os rendimentos da capela seriam utilizados para que um
maneirista, está embutida sob o arco. Ao centro, assente
capelão nela celebrasse Missa diariamente e o cura paroquial
sobre peanha, encontra-se a imagem de S. José, ladeada
uma vez por semana. A essas missas deveriam vir todos os
por dois pares de colunas de fuste direito. Estas têm o
dias quatro merceeiras da povoação de Vila Chã de Sá que
terço inferior com ornatos de grotescos e o restante fuste
rezariam uma coroa de Nossa Senhora pelo instituidor da
com estrias de orientação oblíqua. A superfície do altar,
capela. Estas receberiam um cruzado por mês.
atrás da imagem de S. José, é pintada, configurando
Em cada ano os administradores deveriam dar a duas órfãs
uma glória solar proporcional à imagem, enquadrada por
da aldeia um dote de vinte mil reis cada e à fábrica da
duas cabeças aladas nos cantos superiores, ladeando a
capela quatro mil reis.
pomba do Espírito Santo, e dois vasos de flores nos cantos
O Instrumento de Vínculo determina também que no dia de
inferiores. No remate do altar, em forma de edícula, ao
S. José os administradores, reunidos na capela, deveriam
centro e sob o frontão arqueado, encontra-se uma pintura
escolher as órfãs, alguma merceeira e o capelão, caso
que figura a Virgem com o Menino num ambiente familiar.
fosse necessário substituir algum em falta.
A poucas dezenas de metros da seiscentista capelinha
A pequenina capela de S. José, de planta rectangular, tem
de S. José, ainda na mesma rua, encontram-se duas
as suas paredes interiores totalmente revestidas de azulejos
interessantes casas de traça seiscentista, também com
maneiristas de “tapete” com o motivo da maçaroca, com
muito valor histórico e patrimonial.
excepção do interior do arco, que se encontra preenchido
Imagem de S. José (pág. seguinte)
90
91
Vestígios da desaparecida capela de S. Domingos
Capela de S. Domingos
Capela de S. Pedro
A disputa sobre a tutela desta capela, situada nos
Na área de terrenos de cultivo designada por Reigoso, na
limites das freguesias de Vila Chã de Sá e S. João de
periferia de Vila Chã de Sá, existiu uma capela cujo orago
Lourosa, levou a conflitos, por vezes violentos, entre os
era o Apóstolo S. Pedro. Pode-se concluir da passagem das
paroquianos de ambas as localidades. As pauladas e
Memórias Paroquiais de 1722 que por essa altura o templo
murros, distribuídos equitativamente por ambos os lados,
ainda existia: Ha mais outra capella do apostollo Sam Pedro
não fizeram mais do que umas cabeças partidas e umas
cita distante do lugar em partes de serras muito antiga que não
nódoas negras nos corpos dos de Sá e nos de Teivas. Mais
consta da sua fundação nem tem administrador particullar.
de cem anos decorridos, ainda se recordam de ambos os
Quase três séculos decorridos sobre o escrito do cura de
lados as peripécias pouco condizentes com o lugar que era
Vila Chã de Sá, nada resta da capela no lugar de Reigoso,
reivindicado.
a não ser a memória transmitida oralmente de geração em
Em altura que se desconhece, a pequena ermida entrou
geração de que ali era o S. Pedro. Conta-se também que a
em ruína e hoje pouco mais resta no local do que um
imagem do Apóstolo que se encontra na Igreja paroquial foi
amontoado de pedras das suas paredes e telhas do seu
trazida daquele lugar.
telhado. A imagem do santo, ao que parece, foi levada para Passos de Silgueiros. 92
Alminha do Largo da Capela 93
Alminha do Adjunto. Os srs. Armando ”Quinze” e Abílio com a opa da Irmandade de S. Sebastião
Alminha de Casal de Igreja
Cruzeiro do adro da capela de S. Sebastião
Cruzeiros e Alminhas Ao longo dos séculos, a Igreja, enquanto instituição, e
Em Vila Chã foram erigidos quatro Cruzeiros, todos em
as populações foram erigindo os mais diversos edifícios
granito. Os mais antigos, do Reguengo e do Largo dos
e monumentos de culto, de carácter público ou privado.
Castanheiros, são provavelmente do século XVIII. Os
Já vimos que em Vila Chã de Sá, para além da Igreja
cruzeiros da igreja paroquial, da capela de S. Sebastião e
paroquial, existem outros edifícios de culto como a capela
do cemitério foram colocados pela Junta de Freguesia em
da Irmandade de S. Sebastião e a capela de S. José. De
1998 e 2000.
entre os monumentos religiosos mais simples ligados
As três alminhas de Vila Chã de Sá, também em granito
às práticas devocionais encontram-se os Cruzeiros e as
como os cruzeiros, há muito que se encontram desprovidas
Alminhas
da tabuinha onde estavam representadas as Almas no
Enquanto que a cruz em madeira, em pedra, pintada ou
Purgatório. Os monumentos do Largo de S. Sebastião
grafitada, é um símbolo que já se encontra representado
e da rua da Eira poderão ter sido encomendados na
na arte do primitivo cristianismo, as Alminhas são
mesma altura, dado que apresentam os mesmos motivos
monumentos bem mais recentes, fruto sobretudo de novas
decorativos vegetalistas. A alminha do Casal da Igreja é
concepções e práticas religiosas pós-medievais, dado que
mais simples e não apresenta qualquer decoração.
o próprio Purgatório, enquanto “espaço físico” de expiação
Todas elas estão à beira de caminhos antigos, hoje
dos pecados, é uma concepção que só aparece no discurso
alcatroados. Tal facto, recorrente neste tipo de monumentos
teológico no século XII.
de devoção popular, destinava-se a lembrar aos transeuntes
94
Alminha da Várzea
que era necessário rezar pelas almas que estavam no
Erradamente,
Purgatório porque no futuro também seria necessário que
associado a algumas alminhas a ideia de que ocorreram
alguém rezasse por eles.
acontecimentos trágicos naquele local, geralmente a
Ao longo do ano, as Procissões, e por vezes os funerais,
morte de alguém. É o que sucede com a alminha do lugar
paravam junto das alminhas e rezava-se um Pai Nosso e
da Várzea relacionada com o crime passional ocorrido em
uma Avé-Maria. Pela Quaresma, grupos de paroquianos
Vila Chã de Sá a 16 de Setembro de 1908, eloquentemente
faziam a Ementação das Almas. Este ritual, caído em
noticiado n’O Commercio de Viseu (nº2303 de 20 de
desuso nas últimas décadas, consistia na entoação
Stembro de 1908).
portanto,
encontramos
por
vezes
de cânticos religiosos de cariz popular pelas Almas do Purgatório. 95
Património Etnológico
Diz o provérbio popular que “no Carnaval ninguém leva a
tenha sido objecto dessas brincadeiras pois a sua história
mal” e diz muito bem, porque é a época do ano em que
de vida a isso era propícia. Enviuvou aos 86 anos, mas,
o mundo parece que fica virado do avesso e é permitido
apesar da provecta idade, desejou casar novamente e a
fazer quase tudo, sem que daí resulte ofensa grave para
escolhida foi uma rapariga de Teivas com idade de ser
os outros. Em Vila Chã de Sá, tal como em muitos lugares
neta do octogenário, dado que tinha 22 anos. A família
do nosso país, era a altura para soltar pelas ruas os
dela, apreensiva com decisão tão arrojada, levou o caso
Cabaços, uma tradição antiga que provocava o riso entre
para à Justiça. Diz-se que na audiência com o juiz, este
aqueles que nela participavam. Esta brincadeira, caída
lhe terá perguntado, com o intuito de se inteirar do estado
em desuso nos últimos anos, consistia em gritar alto e
mental de Ricardo “Cabanas”, que horas eram, ao qual
em bom som, a coberto da escuridão nocturna, certas
ele prontamente respondeu, sem olhar para o relógio, que
“verdades” de pessoas bem conhecidas da terra, que por
eram, pela altura que o Sol levava, mais ou menos 4h30m
uma ou outra característica ou acontecimento vivido eram
da tarde. O juiz ficou convencido que o noivo estava em
objecto dessa brincadeira. Os namorados, as alcoviteiras,
seu perfeito juízo. A coroar a história, o feliz casal ainda
as falsas beatas e os “amigos do copo”, costumavam ser
teve uma filha, que segundo consta vive para as bandas de
os alvos preferidos dos vozeadores, lembrando algumas
Lisboa. Não admiraria que os Cabaços andassem pelo povo
das mais célebres personagens do teatro vicentino. Tavez
de funil na boca a gritar: Homem velho e mulher nova,
Ricardo “Cabanas”, ancião oriundo de Cabanas de Viriato,
filhos até à cova!
Em pé, da esquerda para a direita: Amanda Jesus, Cidalina, Celeste, professora Filomena Inês, António “Moire”, Manuel “Contrata” e Adelino “Teixugo”; sentados: D. Maria Isabel Pereira de Almeida, D. Lucinda de Jesus, sr. Henrique Pereira de Almeida e sr. José Francisco Pereira da Silva 96
(página anterior)
97
1
3
2
4
1. Rodízio 2. Telhado com telha de Teivas 3. Levada do moinho 4. Mó (Ecomuseu)
Moinhos de rodízio A compra de um moinho de rodízio na ribeira de Teivas
Ainda na mesma ribeira, no lugar das Remôlhas, existiam
por Pelágio Soeiro a Gonçalo e Picanço (INQ. 853-854)
também dois moinhos, um de João Ladeira e um de Zé
constitui a referência documental mais antiga a este tipo
“Bacatela”. No Pisão, havia um da família do “Camões”,
de tecnologia moageira. Tal sistema de moagem proliferou
de Passos de Silgueiros, que tinha aí um forno de cozer o
sobretudo nos cursos de água do Norte e Centro de Portugal,
pão. Na Regada Nova existia um moinho de Maria Isabel P.
mantendo-se inalterado do ponto de vista tecnológico até
de Almeida e Silva. No lugar do Pincho, a família de José
aos nossos dias.
Francisco da Silva tinha quatro moinhos.
Na ribeira de Sasse, nos Lagares, existiam moinhos,
Para além destes, subsistem ainda moinhos no rio Pavia, em
respectivamente dos “Rabecas” de Rebordinho, da Tia
Soutulho, que eram de vários proprietários: um de Eduardo
Albertina, também de Rebordinho, e do “Cabeça Torta”
Moleiro, dois do António “Chumbo”, um do Gonçalves
de Teivas. Hoje, apesar de arruinado, apenas subsiste um
“Beleza”, outro da família dos “Grilos”, dois da família dos
deles, junto à ponte de Lagares, sobre a ribeira de Sasse.
“Pinadores” e dois da família de Augusto Figueira.
Moinho do Soutulho 98
(pág. anterior)
99
Pote de azeite (ecomuseu)
Lagar de azeite, doado pela família de José Carvalho; funcionou durante centenas de anos no lugar dos Lagares.
a - moega b - quelha c - chamadouro
Lagares de azeite
d - mó
A oliveira é a árvore de fruto mais abundante na freguesia
O registo respeitante ao ano de 1606 refere dois lagares
e - agulha ou aliviadouro
de Vila Chã de Sá. A produção de azeite, que não é tão
de azeite em Vila Chã, certamente já existentes no ano
f - pelão ou relão
antiga no Centro e Norte de Portugal como o é no Sul, já se
anterior; os documentos não esclarecem onde é que estes
g - cubo
encontra documentada nesta freguesia desde os inícios do
se localizavam exactamente.
h - seteira
século XVII, mais precisamente desde o ano de 1605 (PT
Junto à ponte dos Lagares, na margem direita da ribeira de
i - rodízio de penas
- ADVIS - CVIS723/40, Cota: liv.637/478, fl.126 - 126v).
Sasse, havia um lagar de azeite de uma vara que laborou
j - aguilhão ou espigão
Este registo encontra-se nos Livros da Tulha do Cabido da
até finais dos anos 50 do século XX. Desconhecemos a
l - urreiro
Sé de Viseu, dado que Vila Chã de Sá pagava dízimo ao
data da sua construção. Nos inícios dos anos 60 do século
Cabido, não só de cereais - milho, trigo e centeio - como
passado, os produtores de azeite locais passaram a fazê-lo
se pode constatar no documento, mas também de azeite.
em lagares mais modernos existentes em Viseu, em Faíl
Esse dízimo era pago por lagar e não por produção total, o
e em Parada de Gonta. Posteriormente, em data que se
que nos leva a pensar que já nesse ano havia mais do que
desconhece, o engenho dos Lagares foi completamente
um na freguesia.
desmantelado.
ESQUEMA DO MOINHO de RODÍZIO (A partir de: OLIVEIRA & GALHANO & PEREIRA, 1983: 105)
100
101
ESQUEMA DE LAGAR DE VARAS (A partir de: GALHANO, 1985: 200 - 205 e PEREIRA, 1997: 49)
Como se fazia azeite? Foi no Mediterrâneo oriental que se produziu pela primeira vez azeite. Talvez tenham sido os antigos egípcios os seus primeiros produtores. Utilizavam-no não só na alimentação mas também na medicina, nos perfumes e em rituais funerários. Terão sido os Fenícios ou os Cartagineses a introduzir essa árvore no solo peninsular. Os Romanos, primeiro, e os Árabes depois, desenvolveram o seu cultivo e a produção de azeite sobretudo no Sul da Península. Só na Idade Média a árvore mediterrânica conquistou as terras do Norte, em altitudes até aos 700m. Nos meses de Novembro e Dezembro colhe-se a azeitona à mão ou varejando as oliveiras com um pau comprido. Depois de apanhada de panos estendidos no chão e de limpa de folhas e ramitos, era transportada para o lagar onde podia ficar em tulhas durante alguns dias antes de ser moída. O lagar é composto por moinho, para esmagar a azeitona, uma ou várias prensas, uma caldeira e fornalha para aquecer água, câmaras de decantação, seiras, vários recipientes e utensílios diversos. Geralmente o lagar ficava localizado na margem de um ribeiro ou rio, dada a necessidade de utilização de água na tracção das galgas, no caso de serem acionadas hidraulicamente e não a sangue. A roda de água podia ser horizontal ou vertical. No segundo caso a propulsão podia ser inferior ou superior. A moagem era feita pelas galgas no pio, ou vasa, durante aproximadamente 3 horas até as azeitonas – polpa e caroço – ficarem transformadas numa massa. Então, a massa era retirada com pás de madeira para gamelas e depois colocada nas seiras. Sobre estas, depois de cheias e sobrepostas, era colocado o adufe e, sobre este, os malhais. A prensagem era feita aterrachando o fuso – ou sarilho – que se encontrava fixo ao peso do lagar, à vara. A enorme pressão exercida sobre as seiras – entre 2 a 10 kg por cm2 – fazia escorrer o azeite das seiras para canais que conduziam o líquido para a(s) tarefa(s). Passado algum tempo desapertava-se o fuso para caldear a massa. Este processo consistia no seguinte: retiravam-se as seiras para revolver a massa à mão e deitar-lhe água a ferver, seguindo-se nova prensagem. Finalmente todo o azeite produzido, misturado com a água da vegetação e do caldeamento, encontra-se na tarefa. A água como tem maior densidade fica na parte inferior da tarefa. O mestre do lagar deixa então sair a água-ruça pela sangradeira, situada na parte inferior da tarefa, ficando apenas o azeite. Este era depois retirado para recipientes.
102
Documentos 28 1605 (PT - ADVIS - CVIS723/40, Cota: liv.637/478, fl.126 - 126v)
103
104
Documentos 29
Documentos 30
1606 (PT - ADVIS - CVIS723/41, Cota: liv.638/479, fl.119 - 119v)
1612 (PT - ADVIS - CVIS723/45, Cota: liv.642/483, fl.142 - 142v)
105
Da esquerda para a direita: Maria José, Alice “Padeira”, Rita “do Alto”, Ermelinda Sá e Natália (pág. seguinte)
106
107
Cachos
Sr. Inocêncio Dias a mexer o mosto
Sr. Manuel “Taranta”
Lagares de vinho
Alambique
Terra de pão e de azeite, mas também de vinho, como se
Já na Antiguidade existiam engenhos para realizar a
pode concluir imediatamente da observação da paisagem
destilação alcoólica. Os alambiques mais simples são
vilachanense.
constituídos por quatro partes: caldeira, capitel, serpentina
Tradição
agrícola
milenar,
como
nos
recordam as inúmeras lagaretas rupestres aqui existentes,
e vaso refrigerante.
é renovada todos os anos.
A caldeira com o bagaço é aquecida por uma fornalha
Sr. Inocêncio Dias junto da sua colecção de alambiques
existente sob ela. Os vapores libertados sobem ao capitel e dirigem-se por um tubo para a serpentina que está mergulhada num refrigerante. Esta diferença de temperatura liquefaz o vapor alcoólico transformando-o em aguardente. O alambique mais antigo que se conhece em Vila Chã de Sá era o tipo cabaça, mais pequeno. Depois usou-se o médio, também tipo cabaça e finalmente os de “coluna”. Estes ainda em laboração, têm a fornalha com um termostato e duas colunas.
108
Alambique de Campos Nunes. Em Vila Chã de Sá houve ainda alambiques de Armando “Ranheto” e de D. Dores Lemos e Sousa) 109
Antigos moldes de sapatos
Instrumentos para fazer tamancas
Artesanato Em Vila Chã de Sá não houve muitos artesãos, talvez
“Gargalo de Cântaro”, também tinha sido tamanqueiro.
por se encontrar às portas da cidade de Viseu onde se
Antigamente, como nos relatou junta à banca onde
podia abastecer de todo o tipo de produtos no mercado
ainda trabalha, ia com a sua mulher, a srª Piedade
semanal e, em Setembro, na Feira Franca de S. Mateus.
Santos, buscar ameeiros ao rio para depois, em casa, os
Por altura da festa de S. Bartolomeu de Silgueiros, o
cortar em rolos que por sua vez eram cortados ao meio,
povo também se deslocava ali para comprar utensílios
perpendicularmente, e trabalhados com uma enxó. Por
agrícolas, cântaros de barro, pipos, gamelas, cestos,
fim, utilizavam o formão para modelar as tamancas.
etc. Ao Alto do Paneleiro ia comprar as louças de
Curiosamente, ou talvez não, José Manuel Ferreira dos
Molelos, mais utilizadas na cozinha. Contudo, também
Santos, um dos filhos do sr. Manuel, também seguiu a
havia e ainda persistem artesãos como o sr. Manuel dos
tradição familiar e explora uma casa de arranjos rápidos
Santos Pereira, tamanqueiro e sapateiro de profissão
de calçado em Coimbra, utilizando maquinaria moderna
desde criança. Como ele próprio lembra, o ofício que
para o efeito, longe já dos tempos em que o seu bisavô
aprendeu com o pai, José Pereira dos Santos, conhecido
pegava na enxó e nos moldes de madeira para fazer
por “Zé Morreta”, foi a sua “escola”. A tradição já vinha
as tamancas que o povo usava, quando não andava
de trás porque o seu avô, António Pereira dos Santos, o
descalço.
Sr. Manuel dos Santos Pereira (pág. anterior)
110
111
Inauguração do Ecomuseu: prof. António C. Lemos (vereador da C.M.V.), sr. António Francisco, dr. Fernando Ruas, srª Isabel Salvador (funcionária da C.M.V.), prof. José Ernesto P. da Silva e dr. José António (secretário da junta de freguesia de V.C.S.) Os objectos foram todos doados pela população de Vila Chã de Sá.
Ecomuseu de Vila Chã de Sá e colecções etnográficas particulares Em 29 de Junho de 2007 foi inaugurado o “Ecomuseu
S. João de Lourosa e Passos de Silgueiros ou para muito
de Vila Chã de Sá”, um projecto que contou com o apoio
mais longe, como é o caso do Alentejo. Daí, muitos dos
da Câmara Municipal de Viseu e da ADDLAP. Neste, os
vilachanenses trouxeram raminhos de trigo e de arroz para
muitos objectos utilizados na faina do campo como foices,
oferecer às namoradas, nos bailaricos organizados nos
manguais, grades de desterroar, arados, cestos, cabaças,
lugares de Casal d’Além, Rua da Capela, Castanheiros,
pipos, enxadas, serras e serrotes, carro de bois, carroça
Largo do Adjunto, Torre e Largo da Igreja. Nessas festas
de burro, moinho de rodízio, lagar de vinho, palheiro,
populares a humilde gaita-de-beiços e as concertinas
procuram reconstituir os ciclos do vinho, do azeite, do pão
eram os reis dos acordes musicais. Posteriormente a festa
e da actividade resineira. A cozinha aldeã, típica da Beira
popular concentrou-se, primeiro no Largo de Dª Dores e
Alta, com as suas panelas de ferro tradicionais e o forno
depois no Largo dos Castanheiros, sempre na primeira
do pão comunitário, retratam a casa e o modo de vida dos
semana de Agosto. Nos últimos tempos, a festa passou a
vilachanenses de antanho.
realizar-se no campo de futebol da Pedra d’Águia.
Para além do espólio material que se encontra exposto no
Com o intuito de preservar as tradições musicais
espaço museológico, também se procura valorizar tradições
vilachanenses, nasceu em Junho de 2004 o Cantorias,
orais, nomeadamente as que relatam a migração sazonal de
Grupo de Cantares de Músicas de Tradição Popular
trabalhadores para as povoações vizinhas de Rebordinho,
Portuguesa. Está integrado na Associação de Solidariedade
Pormenor do Ecomuseu 112
(pág.anterior)
113
O que é um Ecomuseu? Um Ecomuseu é um museu que tem como programa museológico a valorização de uma estrutura construída ou de um território onde o Homem desenvolveu uma ou várias actividades. Pode tratarse de um edifício, de um conjunto de edifícios, de um espaço ao ar livre, humanizado, ou de ambas as coisas. Ao invés das concepções museológicas tradicionais, que procuravam formular programas a partir exclusivamente de peças ou colecções relevantes, reunidas num edifício para esse efeito, a Ecomuseologia procura valorizar os objectos, as estruturas arquitectónicas e as vivências das comunidades no seu espaço original. Há, portanto, a valorização do património cultural, nas suas diversas acepções, no seu contexto ambiental e paisagístico.
Cozinha beirã com as sua panelas de ferro em torno do fogo. Tradicionalmente era em torno do lume que a família se reunia, não só durante as refeições, mas também ao serão, escutando histórias contadas pelos mais velhos. 114
Colecção do sr. Inocêncio Dias
Colecção do sr. Joaquim Pereira
Social Desportiva e Recreativa de Vila Chã de Sá. O Cantorias
Musical no Programa Saúde e Termalismo Sénior 2007
tem vindo a realizar um trabalho exaustivo de pesquisa e
- Programa TVI “Você na TV!”, Dezembro 2008
recolha de cantares tradicionais junto da população mais
- “Natal Penicheiro 2008” (Peniche)
idosa. Dessa compilação de memórias bem vivas merece
Após 3 anos de intensa actividade, dando continuidade
especial destaque o seu riquíssimo acervo de Cantares de
a todo o trabalho desenvolvido, surgiu o primeiro registo
Janeiras.
discográfico do Grupo, intitulado “Ora vá de Cantar!”
Apesar de ainda jovem, o Cantorias tem participado em inúmeros encontros de música popular, animações
Em Vila Chã de Sá existem também colecções etnográficas
culturais, festas populares, encontros de Janeiras de que
particulares, de que se devem destacar as reunidas
destacamos:
pelo sr. Inocêncio Fernandes Dias e pelo sr. Joaquim
- Comemorações do 13 de Maio de 2006 em Dax (França)
Conceição Pereira. Ambas são constituídas por peças
- Abertura da Feira de S. Mateus 2006 (Viseu)
relacionadas essencialmente com os trabalhos no campo
- 1º Prémio no Festival de Música Tradicional da Beira Alta
e a vida quotidiana rural na região de Viseu. As cerca de
2006
cinco centenas de badalos de todos os tamanhos que o
- Programa RTP “Portugal Azul”, Junho 2007
Sr. Inocêncio reuniu na sua adega, quando abanados
- Melhor Grupo de Música Tradicional Portuguesa no
através de um engenhoso sistema por ele arquitectado,
Concurso Nacional de Música “Festimúsica 2007”
transportam-nos, sem sairmos daquele lugar, para o meio
- Programa RTP “Há Volta! - 69ª Volta a Portugal em
de um imenso rebanho, como aqueles que ainda há poucas
Bicicleta”, Agosto 2007
décadas cruzavam muitos dos caminhos da Beira Alta,
- 1º Prémio no Festival de Música Tradicional da Beira Alta
rumo aos pastos da Serra da Estrela. Os ferros de engomar
2007
aquecidos a carvão e as candeias de petróleo que se
- Espectáculo de apresentação do CD “Ora Vá de Cantar”
podem ver na colecção do sr. Joaquim Pereira também nos
no Teatro Viriato, Dezembro 2007
levam para outros tempos quando a electricidade ainda era
- 1º Lugar na categoria de Melhor Agrupamento Serão
apenas um sonho. 115
Cantorias Da esquerda para a direita: Rui Rodrigues, José Rodrigues, António José Ferreira, José Querido, António Marques, Daniel Ferreira, Belarmino Costa, António Cardoso, José Marques, Leodina Silva, Elizabete Marques, Maria Fonseca, Fátima Figueiredo, Beatriz Martins, Elvira Oliveira, Ilda de Jesus, Helena Almeida, Sara Albernaz, Paula Marques, Raquel Cardoso, Nelida Rodrigues, Isabel Corgas, Bárbara Ferreira (sentada)
116
117
O Cortejo de S. João (24 de Junho), que se deixou de
No largo da igreja paroquial existia uma grande carvalha
realizar nos últimos anos, era uma das tradições mais
onde se realizavam as festas populares, próximo do lugar
populares entre as gentes de Vila Chã de Sá. Nesse dia
onde era a casa da família João Calais. A habitação e o
de festa desfilavam pela freguesia carros alegóricos,
terreno contíguo a esta casa foi comprado por António
geralmente carros de bois, carroças e tractores, enfeitados
Pereira Marques “Novo” e posteriormente vendido à
O magusto por altura do S. Martinho (11 de Novembro) é
brasa, acompanhadas com pão e vinho tinto. Para compor
com ramos de arbustos e flores. Os homens, vestidos de
paróquia para ali ser reconstruída uma casa para residência
uma das tradições mais enraizadas entre os vilachanenses.
o estômago, um caldo de couves e feijão, seguido de umas
mulher e com tabuleiros floridos à cabeça, eram o aspecto
paroquial. Nesta reconstrução foi utilizada muita pedra
Em família ou com os amigos, comem-se as castanhas
castanhas assadas de sobremesa, encerra o repasto festivo
mais humorístico do desfile, onde não se perdia a ocasião
saída da demolição da antiga casa da Fábrica da Igreja,
assadas na caruma e bebe-se a doce jeropiga de produção
que anuncia o Inverno.
para alguma crítica social. O cortejo ia até à Quinta do Vale
que se situava entre o adro da igreja paroquial e a actual
local.
Salgueiro, em Faíl, onde se comia e bebia para ter forças
casa da família Nunes. Nas traseiras da velha casa da
A matança do porco é outra das tradições seculares que,
Um dos poucos motivos de distracção dos vilachanenses
para o regresso. Os de Faíl também faziam um desfile
Fábrica da Igreja existia uma escadaria de acesso ao adro.
apesar de ser mais rara nos nossos dias, ainda se pratica
era o circo que por vezes ficava instalado durante alguns
semelhante, vindo a Vila Chã de Sá, à Quinta dos Lemos
Estas obras foram realizadas pelo padre António Barbosa e
e é também motivo de convívio nomeadamente depois
dias no terreiro da Dª Dores. À noite, apresentavam um
e Sousa, recompor o estômago para a viagem de retorno.
suportadas financeiramente pela população.
da desmancha, com umas fêveras do porco grelhadas na
espectáculo que incluía diversos números de ginástica,
118
Da esquerda para a direita: Zé “Piçolas”, Virginia, ?, Fernando Pais, Antero, ?, Fernando Figueiredo, ?, Lurdes Campos, ?
119
Festas do Povo na Pedra d’Águia - 2008
contorcionismo, palhaços, trapézio, trabalho com animais,
às vezes Segunda-feira), animava todos. Nos anos 40 e 50
quase sempre um pequeno macaco. Os artistas ficavam
do século XX, o dia da Festa da Povo era também um dos
instalados em tendas no próprio local onde faziam a
dias em que as famílias se esforçavam por fruir de “rancho
apresentação
que
melhorado”, utilizando carnes nas refeições de Domingo,
assistiam de pé em roda dos artistas, era pedido contributo
quase sempre matando um coelho ou uma galinha, mas
em moedas que eram colocadas num chapéu ou numa
também comprando carne de ovelha na venda do sr.
lata que corria a assistência. Normalmente os artistas
Eduardo Cardoso. Havia sempre gente, incluindo crianças,
pediam aos espectadores que fossem generosos. Mas,
a assistir à matança dos animais, desde o sangramento até
no fim do peditório, ficava sempre um lamento porque no
à divisão em pedaços e respectiva venda.
chapéu apareciam quase só moedas negras (1 e 2 tostões),
À Festa do Povo acorria muita gente das aldeias das
quando o que os artistas apreciavam eram moedas de 5 ou
redondezas, enchendo por completo o terreiro da Dª Dores
10 tostões (1 Escudo).
(mais tarde foram realizadas noutros locais, por exemplo
Outro motivo de distracção era assegurado pela projecção
nos Castanheiros). A música, tocada por grupos que vinham
de filmes na garagem da Dª Dores, situada também no
de fora, normalmente de Viseu, animava os espectadores e
terreiro.
punham a juventude a dançar. Era também o momento de
O verdadeiro momento de distracção dos vilachanenses
arranjar namoricos.
era a Festa do Povo, que ocorria em pleno Verão (Julho
Hoje, as festas populares de Vila Chã de Sá decorrem na
ou Agosto) e que durante 2 ou 3 dias (Sábado, Domingo e
Pedra d´Águia reunindo milhares de foliões que assistem a
dos
números.
Aos
espectadores,
espectáculos de música e variedades. 120
Páscoa, crianças da freguesia apanham amêndoas atiradas pelo dr. Ernesto Pereira de Almeida, na rua da Capela 121
Vila Chã de Sá do Liberalismo à Democracia
Vila Chã de Sá foi uma das freguesias que passaram
compreendido entre 1885 e 1910. A partir do ano em
a constituir o concelho de Viseu depois da reforma
que se implantou a República em Portugal, temos todos
político-administrativa de 1836 de Passos Manuel e da
os Livros de Actas. Desconhecemos, portanto, quem
publicação do 1º Código Administrativo.
esteve à frente dos destinos da Junta antes de 1885.
O Código Administrativo de Costa Cabral de 1842
A construção de duas pontes, respectivamente nos
retirou as Juntas de Paróquia da organização da
Lagares, sobre a ribeira de Sasse (ADVIS-Governo Civil,
administração pública. As paróquias ficaram apenas
Obras Públicas, Cx. 2969 nº17) e no Soutulho, sobre o
com a administração dos seus bens, da Fábrica da
rio Pavia (Actas da Câmara de Viseu de 1907 a 1909,
Igreja e com o desempenho de actos de beneficiência.
p22v), são as únicas obras públicas realizadas em Vila
Tal código vigorou até 1878.
Chã de Sá nas últimas décadas da Monarquia de que
O Livro das contas da receita e despesa da Junta da Parochia
temos documentação.
da freguesia de Villa Cham de Sá, de 1885 a 1931, é o
A 28 de Novembro de 1871, José d’Almeida Pereira,
documento mais antigo que se conhece desta Junta.
presidente da Câmara Municipal de Viseu, submeteu ao
Embora não seja particularmente rico em informações,
governador civil do distrito, Francisco de Mello Lemos e
não deixa de ser importante porque é a única fonte
Alvelos (Visconde do Serrado), o auto de arrematação e
escrita onde encontramos registados os nomes dos
projecto da referida ponte dos Lagares. De acordo com
membros da Junta de Vila Chã de Sá para o período
o auto, a obra foi arrematada a Manoel Rodrigues, de
Pormenor do Livro de Receitas e Despesas da Junta do ano de 1885 (pág.anterior)
122
123
Documento 31 - Processo de concurso para a construção da ponte dos Lagares
124
Orgens, Marcellino Pereira, de S. Martinho, e António
tinha chegado um ofício do Governo Civil do Distrito com
da Costa, também de S. Martinho, pela quantia de
o despacho do Ministério do Reino, de 25 de Novembro,
168$000 reis. No dia 31 de Março de 1872 a ponte
aprovando o projecto e orçamento de construção do
deveria estar concluída.
pontão do Soutulho. A arrematação da obra seria no dia
Anos mais tarde, a 12 de Dezembro de 1907 (p.22v),
9 de Janeiro de 1908 (Acta de 9 de Janeiro de 1908,
pode ler-se na acta da Câmara Municipal de Viseu que
p.50v). 125
Documento 32 Processo de concurso para a construção da ponte dos Lagares 126
Documento 33 Acta da Câmara Municipal referente à construção do pontão do Soutulho 127
Juiz Heitor Lemos e Sousa
Lisboa, implantação da República
Ainda nesses derradeiros tempos da Monarquia, o juiz
Marques de Campos, que já estivera à frente dos destinos
Heitor de Lemos e Sousa Cardoso de Aragão, da família
da freguesia de Vila Chã entre 1890 e 1892, voltou a
Lemos e Sousa, cujos descendentes ainda hoje habitam
presidir à sua Comissão. Não deixa de ser curioso este
o solar de família em Vila Chã de Sá, foi Provedor da
facto, dado tratar-se de um sacerdote a ocupar o cargo
Misericórdia de Viseu (1901-1902) e presidente da
e o novo regime se caracterizar, entre outras coisas, por
Câmara Municipal de Viseu, pelo Partido Regenerador,
ser marcadamente anti-clerical. Era no lugar do Adjunto
no curto período de cinco meses, entre 2 de Janeiro
que se travavam as mais acesas discussões políticas
e 4 de Junho de 1902. Tal facto deveu-se ao recurso
entre aqueles que na terra tinham mais instrução e
interposto
Supremo
estavam a par das “últimas” publicadas nos jornais,
Tribunal Administrativo, sobre os resultados eleitorais
fossem Monárquicos ou Republicanos, como eram os
nas freguesias de Ribafeita e Silgueiros. Na sequência da
casos do prof. Correia “Guitas”, Lourenço Pinheiro,
decisão daquele órgão judicial foi nomeado presidente
Monteiro, António “Gato” e muitos outros. Foram tempos
da Câmara Municipal o Progressista dr. Luiz Ferreira de
de muita instabilidade política, social e económica, com
Figueiredo.
os militares permanentemente envolvidos activamente
Com a implantação da República em 5 de Outubro de 1910
no curso dos acontecimentos, como foi a tentativa de
passou a haver eleições para as Comissões Paroquiais
golpe militar pró-monárquico, ocorrida na madrugada
Republicanas que governavam as freguesias. Nesses
de 21 para 22 de Outubro de 1913. Essa tentativa de
primeiros 3 anos após a revolução, o padre Francisco
revolução Realista foi encabeçada pelo capitão João
128
pelo
Partido
Progressista
ao
O solar da família Lemos e Sousa de Vila Chã de Sá é um imóvel cujo núcleo primitivo remontará ao séc. XVII, estando desde essa altura relacionado à família Cardoso do Loureiro. A primeira pessoa desta família ligada a Vila Chã de Sá é António Cardoso Mesquita do Loureiro, casado nesta freguesia com Dª Isabel Pereira. Este cavalheiro, natural de S. Pedro do Sul, havia construído em 1633, na sua Quinta de Galifães, uma capela dedicada a Santa Cruz, que ainda existe. Era filho de Manuel Loureiro de Campos e de sua mulher e prima Dª Filipa de Mesquita Cardoso, dispensados por bula pontifícia de 1589. Em 1690, como já vimos anteriormente, o cónego António Gomes da Costa emprazou as suas casas e capela a Manuel do Loureiro de Mesquita, filho de António Cardoso, de Galifães, e sua mulher Dª Maria do Loureiro. O seu neto, António Cardoso do Loureiro Castelo Branco, casou em Viseu a 8 de Dezembro de 1737 com Dª Ana Catarina Josefa Cardoso Pereira, sobrinha do cónego António Cardoso Pereira, Vigário Geral da Diocese, que remiu o foro e doou o vínculo à sua sobrinha. António Castelo Branco era sobrinho do arcebispo de Lacedemónia, Bispo Auxiliar de Lisboa e Vigário Geral. Foram pais de José Cardoso do Loureiro Castelo Branco, casado com Dª Maria Melízia de Almeida Pinto de Mesquita Pimentel e Vasconcelos, senhores da Quinta da Felgueira, junto a Viseu. Na sequência dum incêndio nesta sua casa da cidade, fizeram obras de recuperação da casa
de Vila Chã de Sá, datando dessa altura a pedra de armas, de difícil decifração (Cardoso, Azevedo?, Castelo, Castelo-Branco, Mesquita, Vasconcelos, Gouveia e Pinto, sobrepujado duma coroa). Do casal atrás citado, nasceu, única e herdeira, Dª Maria Emília Cardoso do Loureiro Castelo-Branco, que vem a casar com António de Lemos e Sousa Moniz Caldeira, natural da Sertã, donde era a sua mãe, Fidalgo da Casa Real, pertencendo a uma das mais ilustres famílias de Viseu, com vasto património, que deu origem à família Lemos e Sousa, apelidos hoje usados pelos senhores da casa. Deles foram netos o dr. Heitor de Lemos e Sousa Cardoso de Aragão, primogénito, e António de Lemos e Sousa, “o Fidalgo”, senhor da casa de Vila Chã de Sá, solteiro e sem filhos, que deixou a sua casa ao sobrinho, Agnelo de Lemos e Sousa, casado com Dª Maria das Dores de Almeida, pais da actual proprietária da casa, Dª Maria Margarida de Almeida de Lemos e Sousa. O dr. Heitor, pai de Agnelo, primogénito, e de mais filhos, foi uma personagem importante em Viseu, onde residia na sua casa de Stª Cristina. Dª Maria Margarida casou com o eng. José Fernando de Oliveira Amaral e tiveram 6 filhos, sendo o mais velho Dª Teresa Maria de Lemos e Sousa Amaral, casada com Gonçalo Ferreira Bandeira Calheiros.
129
d’Azevedo Coutinho, ex-oficial da Armada, e, como
(Partido
noticiava o jornal O Comercio de Viseu, “tendo ramificações
nos finais do mês de Dezembro, a mesma questão foi
em varios pontos do paiz, sendo os dirigentes já conhecidos
colocada no Parlamento, pelo dr. Júlio Patrocínio (Partido
do governo, que está de posse de todos os fios da meada”.
Evolucionista) ao Ministro da Guerra, na presença do
Este jornal local, Monárquico, informa a 26 de Outubro
presidente do Ministério, dr. Afonso Costa.
de 1913, que os revoltosos contavam em Viseu “com o
Decorrido
levantamento de cavalaria 7 de Nelas, que se dirigiria a esta
parlamentares, mais precisamente no dia 2 de Fevereiro
cidade, trazendo consigo os amotinados das povoações do
de 1914, os seguintes detidos foram enviados para
percurso, e que chegados aqui teriam a adesão do regimento
Braga, “afim de ficarem á disposição do Tribunal Marcial”:
de artilharia 7. Então os dois corpos, com os elementos civis
padre Luiz Ferreira da Ponte, João Ferreira da Ponte e
revoltados, de Viseu e de fora, fariam um ataque a infantaria
Antonio Rodrigues Barbosa, guarda rios, todos de Fail;
14, conseguindo, segundo eles, a sua rendição com toda a
Padre Francisco Paes Pereira, Antonio Paes Pereira,
facilidade, proclamando-se então a monarquia, havendo já
Justino Lopes Pinheiro e Manuel Fernandes Novo, de Vila
sido escolhidas as autoridades que assumiriam desde logo
Chã de Sá; padre José d’Oliveira, de S. João de Lourosa;
os seus cargos.” Na sequência do falhanço da intentona
e José Pereira da Rocha, João da Costa Freira, João
foi presa muita gente, de que se destacam os párocos de
Francisco da Silva, Urbano Lopes, Serafim Lourenço,
muitas freguesias, acusados de instigarem a população
Joaquim Antonio Ferreira e Braz Ribeiro de Figueiredo,
à participação nos acontecimentos. Assim, no dia 22,
estes de Cepões. Os detidos foram escoltados por uma
“começaram as autoridades a efectuar prisões, para o que
força do Regimento de Infantaria 14.
saíram para as povoações amotinadas automóveis com
A 11 de Fevereiro foram feitas novas detenções, dessa vez
forças militares, policiais e republicanos, todos armados,
só em Vila Chã de Sá, como noticia O Comercio de Viseu:
que regressavam de momento despejando gente nas prisões
“Uma força d’infantaria 14, sob o comando do sr. tenente
do governo civil. Entre eles contavam-se muitos sacerdotes,
Castelo Branco e 2º sargento Marques, custodiou ontem
como os párocos de Orgens, Vila Chã de Sá, Fail, Lourosa,
para a cadeia desta cidade os seguintes presos, todos de Vila
Côta, Abravezes, etc.
Chã de Sá, acusados de terem tomado parte no movimento
-Tambem foram ontem detidos os srs. dr. Luiz Ferreira de
politico de 22 d’outubro:
Figueiredo e filho, dr. Luiz Frutuoso de Mélo, Florido Marques,
Bernardo Lopes Ribeiro, Manoel Lopes de Campos Pinho,
João Antonio Cavaleiro, guarda Candido, nº46 da policia
Antonio Domingos Figueiredo, Joaquim Campos Figueiredo,
civica, etc, dizendo-se que se preparam outras prisões.
Antonio Lopes Correia da Cruz, Manoel Pereira dos Santos,
O sr. dr. Luiz Ferreira deu entrada na cadeia após os
Antonio Pereira Marques, Jose Pereira da Costa, Agostinho
interrogatorios. Entre outros sacerdotes entrou preso o padre
de Figueiredo Loureiro, João d’Oliveira, Antonio Marques
Adelino, de S. Cipriano”.
Lopes, Francisco Figueiredo, Agostinho Pereira da Silva e
Evolucionista)
mais
de
sobre
um
essa
mês
questão.
sobre
os
Ainda
debates
Manoel Pereira Marques.”
Documento 34 130
Até ao final do ano de 1913, os acusados viseenses
No dia 23 de Fevereiro de 1914 foram libertados todos os
foram presos e soltos pelo menos três vezes, o que
presos políticos que ainda se encontravam detidos sob
constituiu motivo de debate acalorado no Senado nos
suspeita de envolvimento no golpe Monárquico de 21 de
finais de Dezembro, com o Ministro da Guerra, Pereira
Outubro, em virtude de uma amnistia geral promulgada
Bastos, a ser questionado pelo dr. Ricardo Pais Gomes
pelo Governo.
131
A partir de Illustração Catholica 132
133
2
1 1. Percurso marítimo e terrestre até à linha da frente 2. Embarque no cais de Alcântara (Lisboa) 3. Nas trincheiras em África 4. Desembarque em no porto de Brest (França)
3
4
Grande Guerra (1914-1918) -191428/Junho: assassinato do Arquiduque Francisco Fernando (e mulher) em Sarajevo 18/Julho: a Áustria declara guerra à Sérvia 1-5/Agosto: declarações de guerra da Alemanha, Rússia, França, Inglaterra 18/Agosto: o governo português decretou a mobilização de dois destacamentos mistos para as colónias de Angola (zona Sul) e Moçambique (zona Norte), entre os quais se contam o 3º Batalhão do Regimento de Infantaria 14 (embarque: 10-12/Setembro/1914) e a 5ª Bateria do Regimento de Artilharia 7 (embarque a 11/ Novembro/1914) 25/Agosto: ataque alemão ao posto fronteiriço de Maziúa (Norte de Moçambique) 31/Outubro: ataque alemão ao posto português de Cuangar (Sul de Angola) 18/Dezembro: combate entre portugueses e alemães em Naulila (Angola)
134
-19169/Março: a Alemanha declara guerra a Portugal 10/Abril: tropas portuguesas em Moçambique tomam Quiomba 26-27/Maio: tropas portuguesas em Moçambique tentam tomar Rovuma 9/13/27Junho: tropas alemãs tomam Macaloja, Namoca e Negomano -19172/Fevereiro-20/Novembro: Corpo Expedicionário Português (CEP) chega a França (Brest) 10/Julho: o CEP integrou um sector sob comando do XI Corpo do Exército Britânico na Flandres francesa, entre Armentiéres e Béthune (em frente de Lille) 26-27/Julho: primeiro ataque da infantaria portuguesa a posições alemãs (Regimento de Infantaria 24) 14/Agosto: infantaria alemã ataca o CEP em Fauquissart -19189/Abril: batalha de La Lys (um Batalhão de Infantaria 14 pertencia à 3ª Brigada de Infantaria) 11/Novembro: assinatura do Armistício
Documento 35
O ano de 1914 ficaria tristemente célebre pelo início da
Em 1917, embarcaram para a Flandres os seguintes pra-
Grande Guerra, mais tarde designada de 1ª Guerra Mundial.
ças:
Neste conflito morreram dezenas de milhões de seres humanos de todos os continentes e a destruição material,
António Pereira Marques Novo, natural de Vila Chã de
sobretudo na Europa, nunca alcançara tamanha dimensão.
Sá, filho de José Pereira Marques e de Nazareth Marques
Portugal participou no conflito em três campos de batalha:
Gonçalves
Norte de Moçambique, Sul de Angola e Frente Ocidental.
Soldado nº 243 da 3ª Brigada de Infantaria, 1º Batalhão,
Para África seguiram, em 1914, os praças naturais de
4ª Companhia do Regimento de Infantaria 14 de Viseu.
Vila Chã de Sá, José Pereira de Campos, Lourenço Cam-
Embarcou em Lisboa a 23 de Março de 1917 e desembarcou
pos, José Maria Rodrigues e Francisco Pereira de Almeida.
em Brest a 26 ou 27. Regressou a Lisboa em 28 de Março
Apesar das investigações realizadas no Arquivo Histórico
de 1919.
Militar e no Arquivo Histórico Ultramarino, não foi possível confirmar a sua incorporação. Os seus nomes também não constam na lista de baixas ocorridas em África. 135
Documento 36
Documento 37
Documento 38
Documento 39
José da Silva Seabra Novo, natural de Fail, filho de José da
Gregório de Figueiredo, natural de Vila Chã de Sá, filho de
José Lopes Albernaz, natural de Vila Chã de Sá, filho de
José Lopes de Campos, natural de Vila Chã de Sá, filho de
Silva Novo e de Maria Emilia Ferreira.
Francisco de Figueiredo e de Ana Maria.
João Lopes Albernaz e de ? Lopes de Jesus.
Manuel Lopes de Campos e de Maria do Carmo Nunes.
Soldado nº 212 da 1ª Divisão, 2º GBA, 1ª Bateria do
Soldado nº 296 da 3ª Brigada de Infantaria, 1º Batalhão,
Soldado nº 361 da 3ª Brigada de Infantaria, 1º Batalhão,
Soldado nº 337 da 3ª Brigada de Infantaria, 1º Batalhão,
Regimento de Artilharia 7 de Viseu. Embarcou em Lisboa
4ª Companhia do Regimento de Infantaria 14 de Viseu.
4ª Companhia do Regimento de Infantaria 14 de Viseu.
4ª Companhia do Regimento de Infantaria 14 de Viseu.
a 15 de Março de 1917 e desembarcou em Brest a 19
Embarcou em Lisboa a 23 de Março de 1917 e desembarcou
Embarcou em Lisboa a 23 de Março de 1917 e desembarcou
Embarcou em Lisboa a 23 de Março de 1917 e desembarcou
de Março. Regressou a bordo do “Pedro Nunes” em 18
em Brest a 26 ou 27. Foi evacuado para o 3º Canadiano em
em Brest a 26 ou 27. Foi ferido com gases em 11 de Março
em Brest a 26 ou 27. Regressou a Lisboa em 28 de Março
de Outubro de 1919. Como a sua folha de registo refere,
27 de Fevereiro de 1918. Desembarcou do “Gil Eanes” em
de 1918. Regressou a Lisboa a 17 de Março de 1919.
de 1919.
esteve na linha da frente em Ferme du Bois e Neuve-
Lisboa a 15 de Outubro de 1918.
Chapelle
em
10/Maio/1917,
31/Janeiro/1918,
23/
Março/1918 e 9/Abril/1918. Faleceu em 18 de Outubro de 1980, encontrando-se sepultado no talhão da Liga dos Combatentes, no cemitério de Vila Chã de Sá. 136
137
Prof. Zulmira com os seus alunos na década de 50/60 do século XX Primeira fila, atrás, da esquerda para a direita: José “Piçolas” (2º), Adelino (5º), Gonçalves Cabral (6º), António Pereira Cardoso (7º), José Santos (8º), António “Truque” (10º); segunda fila: Maria da “Grila” (14º), José “Giadas” (16º), prof. Zulmira (17º), Beatriz Queirós (19º), Maria Irene (21º), Esmeraldo (24º); fila da frente: António do Soutulho (26º), Manuel “Giadas” (27º), Diamantino (29º), José “Carolo” (30º), José “Ferro” (31º), José Gonçalves (32º), Manuel “Músico” (33º), Francisco Rolo (34º).
2
1 Casas das antigas escolas primárias: 1.Casal de Além; 2.Adjunto
Uma das primeiras conclusões que se pode tirar da leitura
crianças, meninos e meninas, de acordo com o artigo 13
combatente em África durante a Grande Guerra, era um
recebeu 12 carteiras. A casa onde as alunas tinham aulas
dos Livros de Actas da Junta é o papel muito activo dos
e seguintes do capítulo do novo regulamento do Ensino
mestre na arte da medicina popular.
situava-se no Casal d’Além, numa antiga casa da família de
seus membros a partir de 1910. O seu propósito era o de
Primário.
Ainda nesse ano de 1916, a 15 de Outubro, novo pedido à
José Francisco da Silva. Nos anos 30 do século passado foi
melhorar as condições de vida da população da freguesia
Apesar da vontade que a Junta demonstrava em fazer
Câmara: a criação de escola para meninas. Não sabemos
ali professora a srª Dª Micas Lacerda. A escola dos meninos
dado que existiam carências de todo o tipo, apesar de estar
obras na freguesia, estas não avançavam porque a 25 de
como a edilidade respondeu a este pedido, mas decorridos
era numa casa adquirida à família de Henrique Pereira
situada apenas a escassos sete quilómetros da cidade
Janeiro de 1914, decorridos três anos sobre o pedido de
dois anos, a 3 de Março de 1918, a Junta pede uma escola
de Almeida, pelo professor António de Almeida Corrêa,
de Viseu. Essas carências ficaram expressas ao longo
calcetamento da rua Principal, é feito novo pedido para que
mista e, quinze dias decorridos, solicita também o aumento
oriundo de Farminhão, na rua do Adjunto. Nessa escola foi
dos anos, sob a forma de pedido, de reivindicação e de
esta rua fosse empedrada.
do cemitério da freguesia. No ano seguinte, a 27 de Julho,
professor o mesmo António de Almeida Corrêa e, nos finais
protesto, próprios da época revolucionária que se seguiu
Em 6 de Agosto de 1916, a Junta pede à Câmara Municipal
é arrematada a ampliação do cemitério e, como esta ficou
dos anos 20, inícios dos anos 30 do século passado, a srª
ao 5 de Outubro. Vejamos alguns exemplos:
de Viseu que a Zona Médica de Oliveira de Barreiros
provavelmente mais cara do que era suposto, as campas
Dª Zulmira da Conceição Monteiro, casada com Alfredo
- em 5 de Fevereiro de 1911 a Comissão Parochial
passe para Passos de Silgueiros, na condição do médico
passaram a ser vendidas a 60 escudos!
Monteiro “Peras”. Esta professora foi muito marcante na
Republicana propõe empedrar a rua Principal;
se deslocar a Vila Chã de Sá uma vez por semana.
A escola primária foi uma das preocupações constantes
terra para várias gerações de crianças porque aqui esteve a
- em 2 de Julho de 1911 a mesma Comissão fica com as
Provavelmente, mais importante do que o médico que ali
dos homens que governaram a freguesia de Vila Chã de Sá,
exercer a docência durante mais de três décadas.
chaves da Igreja; é criado o registo civil na freguesia porque
se deslocaria uma vez por semana, era o sr. José Maria
pois, na acta de 7 de Novembro de 1920, é referido que
Numa terra que vivia quase exclusivamente da agricultura,
o caminho para Passos de Silgueiros, onde a população ía
Rodrigues “Canudo”, barbeiro encartado e sangrador,
não havia edifício da escola, nem casa para o professor e
a água era fundamental. Em Março de 1921, a Junta
fazer o registo, estava intransitável;
endireita, dentista, boticário e outras ciências mais
as aulas eram dadas em “casas antihigiénicas”. Propõe-se
recebeu 300 escudos para melhorar dois tanques, um para
- em 6 de Agosto de 1911 o professor oficial da escola
relacionadas com os tratos do corpo quando atacado de
que se vendam maninhos para fazer uma escola. Quase um
lavar roupa e outro para dar de beber aos animais. As obras
primária, António de Almeida Corrêa, recenseou as
maleitas. Ainda hoje se conta que o versátil barbeiro, ex-
ano depois, em Outubro de 1921, a escola das meninas
ficaram a cargo do pedreiro José Campos Figueiredo. Anos
138
139
Prof. Pinheiro, de Canas de Stª Maria (Tondela), com os seus alunos no recreio da antiga Escola Primária, em 1956
Alunos que fizeram a 4ª classe em 1956. Da esquerda para a direita, de pé: António Garcia, José do Vaca, José da Estela, João Baptista (do Soutulho), Adelino do Beleza, António Queiroz e Prof. Pinheiro; em baixo: Adelino Marreco, Adelino do Feroz, António do Palhuço, José Loureiro e José do Rolo
mais tarde, em Novembro de 1930, é pedido à Câmara que
mais significativa. A 13 de Março de 1932, a Junta pediu à
presidente da Junta de Freguesia, doou mil escudos,
determinação
seja acabada de construir a canalização da água (pública)
Câmara Municipal para fazer obras na escola dos meninos
alguns lavradores ofereceram-se para transportar pedra
condições dignas para ensinar e aprender. As obras,
e que se proceda à trasladação do chafariz.
porque as cadeiras se encontravam de tal maneira
e alguns proprietários ofereceram pinheiros para a obra.
que se arrastaram durante vários anos, foram realizadas
Em 1927, já em plena Ditadura Militar, que se havia
estragadas que as crianças tinham de se sentar no chão.
Apesar das boas vontades reunidas, parece que não foi
pelo sr. Anastácio Lopes Pereira, mestre pedreiro muito
implantado a 28 de Maio do ano anterior, a Junta de
e
muita
paciência
para
conseguir
possível a construção porque, em Janeiro de 1938, cinco
conhecido na freguesia, onde ainda perduram algumas
Freguesia solicita à Câmara Municipal o calcetamento de
No dia 7 de Maio de 1933, mais de um ano decorrido
anos decorridos, foi criada uma comissão para tratar
construções em granito de sua lavra, e fora dela, porque
toda a povoação, pois as ruas em terra transformavam-se
sobre o pedido à Câmara, é enviado novo ofício
da construção da escola. Em 1943, mais cinco anos
construiu também as escolas de Loureiro de Silgueiros,
num lamaçal durante o inverno.
à edilidade, dando conta de vários donativos de
passados, a Junta enviou um ofício à Câmara para pedir
Gumirães e Esculca. Para além deste mestre, outros
Os anos foram passando, o regime deixou de ser Ditadura
particulares para se construir uma nova escola em Vila
que concluíssem a obra. Apesar de todas as insistências,
pedreiros trabalharam nestas obras nomeadamente o
Militar e passou a chamar-se Estado Novo, mas as
Chã de Sá. Entre os beneméritos salienta-se o sr. Lemos
só em 1948 é que a escola primária foi definitivamente
seu filho Eduardo Anastácio, o seu genro António Lopes
preocupações das gentes de Vila Chã de Sá permaneceram
e Sousa que doou o terreno para a construção da escola
concluída, tendo então duas salas, uma feminina e
dos Santos, Miguel “Mira”, Justino “Rabeiras”, Celestino
quase sempre as mesmas, sendo a da escola primária a
e mil escudos. O sr. José Francisco da Silva, pai do actual
outra masculina. Foram quinze anos de persistência,
Santos e António “Grande”.
140
141
Documento 40 (Livro de Actas, 26 de Maio) Exmº Senhores Secretário das Obras Públicas e Indústria; Exmº Senhor Governador Civil de Viseu e demais autoridades Distritais e Concelhias, Reverendíssimos Senhores, Exmº professores, minhas Senhoras e meus Senhores. Na qualidade de Presidente da Junta da Freguesia de Vila Chã de Sá coube-me a honra de saudar Vossas Excelências neste dia de festa para este povo. Ainda que a minha cultura não esteja à altura do cargo para que fui chamado e não devesse ser eu a falar
Cerimónia da inauguração da electricidade. Da esquerda para a direita: engº Amaro da Costa, José Pereira da Silva (presidente da junta de freguesia), ?, major Romão Loureiro (presidente da Câmara Municipal de Viseu), Adelino Francisco da Silva (regedor da freguesia), dr. Manuel Marques Teixeira (governador civil), ?
em nome do povo, circunstâncias diversas a isso me obrigaram e, por isso, aqui estou para manifestar o meu agradecimento sincero expresso em palavras simples como simples ainda é a nossa vida nestas terras pobres da Beira. Levanto a minha voz neste dia, sobretudo para agradecer os muito benefícios que o Governo da Nação e a Exmª Câmara nos tem concedido, não apenas as inauguradas hoje, mas todas quantas nos foram dadas durante o tempo em que tenho sido presidente da Junta e sintome feliz e todos nos sentimos felizes por poder exprimir
No contexto profundamente rural em que Vila Chã de Sá
de alguma forma para quebrar um certo isolamento em
por palavras que não apenas pelo sentimento a gratidão
vivia, apesar da proximidade com a capital do concelho,
que permanecia.
para com o Estado Novo, aqui representado pelos ilustres
o índice de analfabetismo era muito elevado, como aliás
No dia 12 de Maio de 1963, foi inaugurada a electricidade
membros do Governo e para com a Exmª Câmara de
em todo o país. Em 1957, para combatê-lo, a Junta de
e a nova Escola Primária de Vila Chã de Sá, incluída no
Viseu. Bem hajam, pois.
Freguesia, presidida então por José Pereira da Silva, pede
Plano Centenário. O edifício da escola foi construído por
Foi a comparticipação para a nossa Igreja paroquial, foi a
que seja criado um curso de alfabetização de adultos.
José “Encrencas”, de Lobão da Beira, sendo carpinteiro
electrificação da aldeia, foi a construção deste magnífico
Não sabemos se esta meritória preocupação foi ou não
António Nabais e João Pereira da Silva. Nesse dia festivo,
edifício de 4 salas de aula, foi a exploração e condução
atendida.
estiveram presentes o Subsecretário de Estado das Obras
de água para estes belos fontanários, foi o alargamento e
Recuando ainda no tempo, talvez seja curioso referir o
Públicas e Indústria, engº Amaro da Costa – pai do engº
calcetamento de ruas, foi a ampliação de cemitério, etc,
facto de a Junta, em 1938, ter enviado um ofício à Câmara
Adelino Amaro da Costa –, o Governador Civil do Distrito
etc. Tudo isto, obra para mais de mil contos e numa só
Municipal a dispensar o médico que se devia deslocar a
de Viseu, dr. Manuel Marques Teixeira, o Presidente da
aldeia.
Vila Chã de Sá, alegando que ele não cumpria o seu dever,
Câmara Municipal de Viseu, major Romão Loureiro, o
Temos que confessar: foi muito. As obras falam por si.
isto é, ir dar consulta.
Presidente da Comissão Distrital da União Nacional, o dr.
Em tempos tão difíceis só a política hábil de Salazar pode
maiores
Armindo Crespo, e outras entidades civis e religiosas. O
conseguir tanto até nós pequenos meios como a nossa
preocupações das populações. Em Fevereiro de 1948, a
Presidente da Junta de Freguesia, sr. José Pereira da Silva,
aldeia.
Junta pediu uma ligação da povoação à Estrada Nacional,
fez o seguinte discurso:
Educação,
142
saúde
e
rede
viária,
eram
as
Bem haja Salazar. Nós confiamos no governo da Nação que não nos esqueceu e desceu até nós para nos honrar com a visita de alguns dos seus membros e este é motivo para com mais razão podermos dizer: Bem hajam o governo da Nação. Bem hajam as entidades competentes que sempre mostraram boa vontade e compreensão pelas necessidades deste povo humilde e pobre, mas ordeiro e trabalhador. Bem haja Exmª Câmara de Viseu. Bem hajam os membros da Junta que me ajudaram, acompanharam e encorajaram nas dificuldades. Bem hajam os párocos que sempre me orientaram e ajudaram a resolver as maiores dificuldades com boa vontade e com verdadeiro espírito de bem-fazer, não se poupando a sacrifícios e despesas. Bem haja o povo que tem dado o seu contributo sempre que foi preciso. Em suma a todos muito obrigado. E digo-o em nome do povo que se sente feliz com o que está feito, mas espera sempre mais, porque ainda há muito para fazer. Grande virtude é a da esperança e nós esperamos confiadamente que num futuro próximo sejam resolvidos outros problemas também urgentes. Faltam os lavadouros públicos, e estes indispensáveis, falta a cantina escolar, alargar ruas de importância vital para o desenvolvimento da terra, falta a ligação da Estrada de Rebordinho, melhoria de transportes para a cidade, nomeadamente autocarros frequentes e falta resolver problemas de importância capital para a vida quotidiana da gente do povo humilde, pequeno e pobre do Soutulho: água, posto escolar, e ponte sobre o rio Pavia, por onde possam ir às suas terras. E feito isto, como esperamos, podemos então dizer: por agora estamos satisfeitos. Vou terminar. Antes porém, com perdão de V. Exª vou manifestar publicamente o meu agradecimento que é agradecimento do povo a pessoas aqui presentes que nunca esquecemos. São eles o Exmº Presidente da Câmara e Exmº Director Escolar. Para eles dum modo particular, o nosso agradecimento. Tenho dito
143
Engº Amaro da Costa e regedor Adelino Francisco da Silva,?
Sendo um discurso de sincero agradecimento, num dia que
nome de todos os professores da escola: prof. Riquito, profª.
era de festa para as gentes de Vila Chã de Sá, não deixou de
Alda Ladeira e profª. Elisabete – e o padre João Rodrigues
ter a normal exaltação nacionalista, bem ao estilo do regime
dos Santos. A encerrar a sessão falou o representante do
de Salazar. Apesar de todos os condicionalismos da época,
governo, engº Amaro da Costa. Houve música e grupos
o presidente da Junta de Freguesia não deixou de chamar
de cantares organizados pela população dos diversos
a atenção para problemas graves que necessitavam uma
bairros da freguesia, como tinha sido deliberado na
resposta urgente por parte das autoridades municipais.
reunião que antecedeu este importante dia. As entidades
Depois do discurso do sr. José Pereira da Silva, discursou
seguiram depois para o Grémio do Comércio de Viseu onde
também o professor local, Álvaro Loureiro da Silva – em
almoçaram a convite da Câmara Municipal.
144
Documento 41 Jornal da Beira de 17 de Maio de 1963, Ano XLIII, nº 2202, p. 1 145
Grupo folclórico do Bairro da Portela
Documento 42 Jornal de Viseu de 15 de Maio de 1963, Ano XXVIII, nº1529, pp. 1-2; nº1530, pp.1 e 4 146
Grupo folclórico de Casal de Além, da rua da Capela e da Pedra d´Águia 147
Da esquerda para a direita, em pé: João do “Russo”, Daniel Pereira da Silva, Artur, José “Carriço”, José Silva, Adelino “Beleza”; em baixo: Carlos Teixeira, José Ernesto, António “Vinagre”, José Teixeira, João Loureiro, Fernando “Coxo”
A preocupação manifesta no discurso do presidente da
lembrados e homenageados e se aliene uma parcela de
Junta, com os habitantes de Soutulho, não se desvaneceu.
terreno, gratuitamente, à Liga dos Combatentes, com sete
Cinco anos mais tarde, a 4 de Fevereiro de 1968, já sendo
metros de comprimento por quatro de largura, no Cemitério
presidente da Junta de Freguesia José da Silva Marques,
Paroquial desta freguesia de Vila Chã de Sá.
foi formalizado o pedido à Câmara Municipal para que se melhorasse o caminho que dava acesso àquela pequena
Com o 25 de Abril de 1974 o país entrou numa nova fase
povoação e se construísse também uma ponte sobre o rio
política, económica e social.
Pavia. Nos anos seguintes as reuniões de Junta tinham
A 6 de Outubro de 1974 desse ano revolucionário, os
quase sempre um ponto sobre as obras no Soutulho.
membros da Junta deixavam expresso, pela primeira vez,
Durante as décadas de 60 e 70 do século XX, as preocupações
que era necessário haver uma casa da Junta com anexo para
foram sempre direccionadas para os melhoramentos
biblioteca, sala de espectáculo, sala de leitura, sala de cinema
materiais, nomeadamente a distribuição de água, a rede
e teatro e gabinetes de várias direcções de âmbito cultural,
viária, a iluminação da via pública, a recolha do lixo, etc.
desportivo, recreativo e de convívio e teatro. Consideravam ainda
O início da Guerra Colonial, em 1961, confrontou o país,
que na parte cultural não se deveria desprezar a cultura própria
pela segunda vez no século XX, com a guerra e com as suas
da freguesia e explorar, no possível, as origens da freguesia.
terríveis consequências. Sinal desses tempos é a acta de
Recordemos, a este propósito que, em 1972, em resposta
29 de Junho de 1968 em que se deliberou, por proposta do
a um inquérito da Câmara Municipal de Viseu, se informava
presidente José da Silva Marques:
que em Vila Chã de Sá não havia nenhuma associação cultural ou recreativa, facto que não era inédito em milhentas outras
Em pé, da esquerda para a direita: Manuel “Bineta” (2º), António “Ferro” (3º), Manuel “Vages” (6º); em baixo: Carlos Teixeira (7º), António “Vinagre” (8º), Daniel Pereira da Silva (9º), António “Giadas” (10º) 148
Documento 43 (Livro de Actas, 29 de Junho)
freguesias do país. Nas horas vagas, sobretudo ao Domingo, o
Considerando que no Ultramar também se batem em
local de encontro e convívio, quase exclusivamente reservado
defesa do Património Português e dos legítimos interesses
aos homens, eram as tabernas como a do Velhaco, na rua da
de Portugal Uno e indivisível, perfeitos heróis, filhos desta
Capela, do Hilário, na rua da Vala, do Piegas, na rua da Eira,
terra e freguesia. Considerando ainda que são ainda vivos
a do Gregório, no Largo dos Castanheiros, a dos Miras, numa
alguns combatentes da grande guerra, que também tiveram
casa já derrubada no Casal d’Além, a do Lino “Pego”, na rua
o seu passado glorioso, proponho que como manifestação
da Capela – depois propriedade do sr. Inocêncio F. Dias e,
da nossa admiração e recompensa, sejam eternamente
mais tarde de Arnaldo Figueiredo – a da srª Eduarda e do sr. Ramiro, no Casal de Igreja. 149
Equipa da Associação em jogo realizado em Fuentes de Onoro, em 1997, num intercâmbio com uma associação daquela localidade espanhola. Em pé, da esquerda para a direita: Gomes, sr. Adelino Marques, sr. José Querido, Pedro Queijeiro, Nuno Albernaz, Bruno, Nuno Ferreira, Zé, Rui, Tiago Cardoso, Néné, Oliveira, sr. José Costa; em baixo: Alexandre, Tiago Regalo, António “Rabeca”, Pedro Neves, Filipe Coelho, Xano, Claúdio, Sérgio, António Carlos, Víctor Queirós, prof. José Ernesto
Equipa da Associação 2008/2009 Da esquerda para a direita, em pé: Alcides, André Loureiro, Augusto Oliveira (treinador), David Carregoso, Helder Cardoso, Antonio Pereira, Filipe Silva, Ricardo Costa, José Oliveira, Filipe Coelho, Antonio Lourenço, Marcelino Santos, Rui Pereira (massagista); em baixo: Luis Soares, Nuno Lourenço, Claudio Pinto, Carlos Pina, Manuel Martins, António Rodrigues, Lionel Santos.
A partir dos anos 60 do século passado, os rapazes formaram
para ali instalar a primeira serração e moinho mecânicos
uma equipa de futebol e jogavam num campo cujo terreno
movidos a motor a gasóleo. Este segundo campo, situado
tinha sido cedido pela srª Dª Dores Lemos e Sousa, no
no lugar do Reguengo, foi também construído pelos jovens
lugar da Maceira. Este campo foi construído pelos próprios
da freguesia, que uma vez mais nas horas vagas utilizaram
jogadores, nas horas vagas. Na ausência de máquinas
tratores e força braçal para nivelarem o terreno.
foram utilizadas juntas de bois para aplanar o terreno.
Em 1975 a Srª Dª Margarida Lemos e Sousa fez escritura
Da equipa inicial, que teve grande sucesso desportivo em
de doação deste terreno à recém-constituída Associação
jogos interfreguesias, destacamos os seguintes jogadores:
Documento 44
Documento 45
Cultural Recreativa e Desportiva de Vila Chã de Sá. Como o
A 20 de Junho de 1974 foi constituída a Associação
organizaram um grupo folclórico e um grupo de bombos.
Arnaldo Figueiredo, José “Borrego”, António “da Céu”,
terreno tinha poucas condições para as práticas desportivas,
Recreativa e Cultural de Vila Chã de Sá, em reunião muito
Para além disso, o GJATC editou um boletim informativo de
Manuel “Preto”, o Ervilhas (de Parada de Gonta), Cerílio
de comum acordo com a antiga proprietária foram feitos
participada que decorreu no Salão Paroquial. O prof. José
cariz essencialmente cultural: “O Galho”.
(de Repeses), Domingos “Chedas”, o guarda-redes Pinta
lotes para a sua urbanização, ficando uma área destinada à
Ernesto P. da Silva foi eleito presidente da sua Comissão
Na Associação Recreativa foi também constituído o Grupo
(de Lages de Silgueiros), José do “Músico”, José Marques,
construção da sede da Associação.
Administrativa. Porém, a 1 de Dezembro de 1975, devido
de Intervenção Teatral da Associação de Vila Chã de Sá
António Mota, António “Ferro” e outros.
Em 1992, a família Lemos e Sousa fez escritura de doação
a rivalidades políticas muito próprias da época, foi criado
(GITAV), apelidada de Vermelhos. O GITAV encenou várias
Cerca de 1968, a mesma senhora e sua filha Margarida Lemos
à Junta de Freguesia de um terreno na Pedra d’Águia, já
o Grupo Juvenil de Animação Teatral e Cultural (GJATC),
peças de teatro, entre as quais “A Farsa de Mestre Pathelin”,
e Sousa cederam outro terreno na estrada dos Lagares,
anteriormente cedido para a construção de um campo de
apelidada de Amarelos, ligado à Igreja, protagonizado por
de autor francês desconhecido dos finais do século XV,
onde actualmente se localiza a Associação de Solidariedade
futebol. Este é o campo onde a equipa de futebol da Associação
António Lopes, Agostinho Cardoso, José Pais Figueiredo,
e “Natal na Praça”, recriando o nascimento de Jesus.
Social de Vila Chã de Sá, em troca com o da Maceira, uma
de Solidariedade Social Recreativa e Desportiva, actualmente a
José Silva, Isabel Oliveira, José Silva, entre muitos outros.
Algumas das encenações contaram com a colaboração do
vez que este foi vendido ao sr. Inocêncio Fernandes Dias,
militar na 2ª Divisão Distrital, disputa os seus jogos.
Encenaram peças de teatro, uma delas de António Aleixo,
grupo teatral de Viseu “A Centelha”.
150
151
Da esquerda para a direita: José Figueiredo Rodrigues, António Carvalho, Carlos Teixeira, José Santos, José Lopes, Jacinto Figueiredo, António Martins Ginésio, José Manuel, Maria José Loureiro
Da esquerda para a direita: Lucília, ?, Jacinto Figueiredo, Maria José Loureiro, Carlos Teixeira, António Carvalho, José “Nortenha”, Carlos Teixeira, José Manuel, António Baptista, José Lopes, José “Minato”, ?, Graça, José Rodrigues, José António da Silva
Lucília, Jacinto Figueiredo, Carlos Figueiredo Regalo
Salão paroquial; da esquerda para a direita: Belmiro Costa, ?, José Pais
GITAV (Vermelhos) Da esquerda para a direita, em cima: António “Ferro”, Fernando Figueiredo, José Lopes, José Santos, Maria José Loureiro, António Ginésio, José do “Cravo”, Lucília, José “Minato”, Jacinto Figueiredo, Maria Armanda Rodrigues, ?, António Scott, Isabel Marques, ?, José Marques da Silva “Taranta”, Maria de Fátima, Daniel Pereira da Silva; ao centro: ?, António Baptista, António “Corgas”, ?, ?, ?, António Carvalho (ensaiador), José “Músico”, João Loureiro; em baixo: ?, ?, ?, ?, José Nabais, José “Corgas”, Carlos “Regalo”, Carlos Teixeira, José António Pereira da Silva, José Manuel
152
153
Rancho do GITAV em actuação
Rancho do GITAV Em pé, da esquerda para a direita: António Carvalho, Adriano, António, Zézinha, Maria Benta, Maria Martins da Silva, Maria José, Olívia, Isabel Corgas, Beatriz Martins(?) debruçada, Lurdes Coxa, Maria de Fátima Figueiredo, Isabel, Adelaide, Filomena Silva, Emília, Gracinda, Isabel, José Carvalho; em baixo: Carlos Alberto Figueiredo, António Scott, Augusto, Manuel, António Corgas, Queirós (de Teivas), Manuel Cardoso, Carlos, António
154
Rancho do GJATC em desfile na rua da Eira. 1º par: Maria Armanda e Manuel “Malta” 2º par: Lurdes Costa e António “Malta” 3º par: Ercília e Adelino “Cabanas” 4º par: Helena “Malta” e Eduardo “Malta” 5º par: Virgínia “Cabanas” e António 155
A 15 de Dezembro de 1974 tomou posse a Comissão
pessoas carenciadas, procurando dessa forma ajudar a
Administrativa da Junta, presidida por José Marques da
resolver um dos seus problemas mais graves. O maninho
Silva. Na primeira acta da Comissão, datada de 15 de
foi loteado numa primeira fase em 1977. Quatro anos mais
Janeiro de 1975, pode adivinhar-se no texto um futuro
tarde, a 13 de Abril de 1981, foi inaugurada a luz eléctrica
“Verão Quente”, por causa da radicalidade do discurso,
neste bairro, na Corga e em Maceira.
próprio de períodos revolucionários. Documento 46 (Livro de Actas, 15 de Dezembro)
Desfile do rancho do GJATC Irene (porta-bandeira), Fernando (ensaiador), Lurdes “Bitotes”, Zita, Celina “do Abílio”
[…]
Constituição da República de 1976
Delibera-mos esta nossa primeira acta fazer uma ligeira
Título VIII
analis às actas extraordinárias de transmissão de poderes
Artigo 245 (Orgãos da freguesia)
passadas pela Junta sessante estas actas denunciam
Os órgãos representativos da freguesia são a
verdadeira demagogia fachista própria de quem serviu
assembleia de freguesia e a junta de freguesia.
e apoiou uma política desonesta em relação aos
Artigo 246 (Assembleia de freguesia)
verdadeiros interesses do povo. Mais à frente revelam
1 . A assembleia de freguesia é eleita pelos
uma decisão tomada: Dicidimos manter este livro de
cidadãos eleitores residentes na área da freguesia.
actas por conciderarmos [que tem] valor Histórico mas
2. Podem apresentar candidaturas para as eleições
protestamos as rubricas acima de cada folha incerida
dos órgãos das freguesias, além dos partidos
que denuncia abuso do poder. Deliberamos riscar a dita
políticos, outros grupos de cidadãos eleitores, nos
rubrica.
termos estabelecidos por lei.
[…]
3. A lei pode determinar que nas freguesias de população diminuta a assemblei de freguesia seja
Rancho do GJATC Em baixo, da esquerda para a direita: António Figueiredo, Amândio Cardoso, António Pais, Fernando Pais, José Pais e Manuel Taranta; em pé, da esquerda para a direita: Lurdes “Cavalito”, Maria Armanda, Isabel “Pipa”, Helena Malta, ?, Ercília, ?, ?, ?, Lurdes “Xixarro”, Elvira “Xixarro” e Lurdes “do Bitotes”, ?. Atrás, de pandeireta na mão, Daniel “Cabanas”, Irene “Cabanas”, ?, ?, Carlos “Regalo” (acordeonista), Joaquim “Patolas” (viola), António “Xixarro”; no topo: ?, José “Taranta”, ? 156
Em 12 de Novembro de 1976 realizaram-se as primeiras
substituída pelo plenário dos cidadãos eleitores.
eleições autárquicas de que saiu vencedor o PPD (Partido
Artigo 247 (Junta de freguesia)
Popular Democrático), cuja lista era encabeçada pelo sr.
1. A junta de freguesia é o órgão executivo da
José Marques, ex-presidente da Comissão Administrativa.
freguesia, sendo eleita por escrutínio secreto pela
O programa do MFA preconizava, para além do D de
assembleia de entre os seus membros.
Democratização, o D da Descolonização. Esta, ao ser
2. O presidente da junta é o cidadão que encabeça a
concretizada provocou o retorno de centenas de milhar
lista mais votada na eleição da assembleia ou, não
de portugueses das antigas Províncias Ultramarinas.
existindo esta, o cidadão que para esse cargo for
Procurando minorar as muitas dificuldades em que estes
eleito pelo plenário.
viviam, a Comissão Administrativa da Freguesia de Vila
Artigo 248 (Delegação de tarefas)
Chã de Sá e uma Comissão de Moradores da Freguesia,
A assembleia de freguesia pode delegar nas
constituída para o efeito, presidida pelo prof. José Ernesto
organizações populares de base territorial tarefas
P. da Silva, em reunião realizada a 5 de Outubro de 1975,
administrativas que não envolvam o exercício de
decidiram que o maninho do Gorgolão seria para construir
poderes de autoridade.
casas para os então denominados Retornados e para outras
157
Inauguração da electricidade no Soutulho. Da esquerda para a direita: Azevedo Pinto “Rijo”, prof. José Ernesto P. da Silva, Lemos Cardoso (vereador da C.M.V.) e sr. Joaquim do Soutulho
Em
de
Pereira da Silva. No edifício da Junta funcionava, para
construção da sede da Junta de Freguesia de Vila
além dos serviços administrativos, uma turma do
Chã de Sá, no lugar onde existiam quatro casas
ensino pré-primário.
pertencentes aos sr. Joaquim do “Pipo”, srª Rita
A 10 de Outubro de 1981, dezoito anos decorridos
do “Pistolo”, srª Nascimenta e do José “Bacatela”.
sobre a inauguração da electricidade em Vila Chã de Sá,
A Junta foi inaugurada três anos depois, a 14 de
foi finalmente inaugurada a electricidade na pequena
Novembro de 1982. Estiveram presentes no acto
povoação de Soutulho. Para além do Presidente da
o Ministro da Administração Interna, engº Ângelo
Junta de Freguesia, prof. José Ernesto Pereira da Silva,
Correia, o representante do Governador Civil do
estiveram presentes na cerimónia o Presidente da
Distrito de Viseu, dr. Isidro Meneses, o Presidente da
Câmara Municipal de Viseu, eng. Manuel Amorim, o
Câmara Municipal de Viseu, engº Manuel Amorim, o
Vereador do Pelouro das Aldeias, sr. Lemos Cardoso,
Vereador do Pelouro das Aldeias, sr. Lemos Cardoso,
os presidentes das juntas de freguesia de Fail e S.
o Presidente da Junta de Freguesia, prof. José Ernesto
Cipriano, e responsáveis dos Serviços Municipalizados
P. da Silva e o Director do Distrito Escolar, prof. José
de Viseu.
158
Outubro
de
1979
começaram
as
obras
Documento 47 Notícia nos jornais Jornal da Beira de 18 de Novembro de 1982, nº3217, p.8 159
Presidentes […] 1885-1889: Padre Bernardo Francisco Pereira da Silva 1890-1892: Padre Francisco Marques de Campos 1893-1909: Padre Francisco Paes Pereira - 5 de Outubro de 1910: Implantação da República 1910-1913: Padre Francisco Marques de Campos Amando Teixeira
Lourenço Lopes Pinheiro
António Francisco Figueiredo
Aristides Rodrigues Santos
1914-1917: António Almeida Corrêa (Professor) 1918-1919: Amando Teixeira (Proprietário) 1919-1926: Lourenço Lopes Pinheiro (Proprietário) - 28 de Maio de 1926: Ditadura Militar/Estado Novo 1927-1937: António Francisco Figueiredo (Proprietário) 1937-1938: António Cardoso (Proprietário) 1938-1939: José Francisco da Silva (Proprietário) 1939: José Pereira da Silva (Proprietário) 1939-1948: José Francisco da Silva (Proprietário)
José Francisco da Silva
José Pereira da Silva
José da Silva Marques
José Ernesto Pereira da Silva
1948-1967: José Pereira da Silva (Proprietário) 1968-1974: José da Silva Marques (Contabilista) -25 de Abril de 1974: Democracia1974-1978: José Marques da Silva (Proprietário)* 1978-1986: José Ernesto Pereira da Silva (Professor) 1986-1994: António Francisco Pereira da Silva (Professor) 1994-1998: Aristides Rodrigues dos Santos (P.S.P. aposentado) 1998-2009: José Ernesto Pereira da Silva (Professor) *Comissão Administrativa: 15/12/1974 a 12/11/1976
José Marques da Silva 160
José Ernesto Pereira da Silva
António Francisco P. da Silva 161
(a) 1722, Memórias Paroquiais (b) 1768, Fonte: Pinho Leal, 1886: 69
Demografia No reinado de D. João III, entre 1527 e 1532, foi realizado
Desconhecemos onde Pinho Leal se baseou para chegar a
o Numeramento do Reino, com o propósito de saber
estes quantitativos.
quantos habitantes tinha o país. Neste, por razões que
Ao observar-se o quadro com os valores populacionais
desconhecemos, Vila Chã de Sá não aparece citada. Esta
absolutos,
lacuna priva-nos de saber quantos fogos aqui havia e, dessa
nacionais, conclui-se que a população de Vila Chã de Sá
forma, calcular quantos habitantes tinha.
foi sempre registando um aumento até 1991. Entre esse
Em 1722, decorridos dois séculos, quando o Padre João
censo e o último, realizado em 2001, a freguesia teve
da Cunha Leitão responde ao questionário das Memórias
um ligeiro decréscimo, fruto de muitas transformações
Paroquiais, afirma que Villa Cham de Saá q. tem setenta e
sócio-económicas que a sociedade portuguesa viveu
coatro fogos pessoas maiores duzentas e corenta e coatro e
nos últimos anos, que se reflectiram, por exemplo, num
pessoas menores corenta e coatro, o que dá um total de 288
acentuado decréscimo da taxa de natalidade. Longe vai o
habitantes (índice 3.9). Ainda no século XVIII, em 1768,
tempo em que as mulheres tinham uma dúzia de filhos,
de acordo com Pinho Leal (1886: 69), Vila Chã de Sá, com
ou até mais, como foram os casos da “Avó” Mariana e
os casais de Soutulho e Lagares, contava com um total de
de Ana “Califa”, com 18 e 19 filhos respectivamente a
94 fogos, o que equivalia a 367 habitantes (índice 3.9).
primeira e a segunda.
162
registados
periodicamente
nos
censos
Catequistas em passeio dominical aos Três Rios (1955?): António Ladeira, Maria do Céu, Olívia de Campos, Maria Isabel, Agostinho Carvalho, ?, Elvira Campos (?), ?, Armando Jesus, Alcina Loureiro, Olívia, Ismailda, sargento Santos, Beatriz Loureiro, Agostinha Carvalho
163
Assistência e solidariedade social Durante a Idade Média foram fundadas albergarias,
instituições assistenciais, cuja origem é muito anterior
hospitais, confrarias, irmandades, mercearias e gafarias,
à intervenção do Estado no apoio aos desvalidos. No
cujo propósito principal era o de prestar assistência
documento de Instituição do Vínculo ficava estipulado que
a pessoas pobres e a doentes. Os patronos da grande
quatro mercieiras receberiam cada huma dellas [...] hum
maioria destas instituições eram pessoas abastadas
cruzado cada mez. Em contrapartida tinham que assistir á
que procuravam através da prática da caridade atingir
Missa quotidianna, rezando cada huma dellas huma coroa de
a Salvação Eterna, de acordo com o ideal da fé cristã.
Nossa Senhora pela tenção delle Instituido. Quando alguma
Também os peregrinos e viajantes em geral, que batessem
falecesse os Administradores com asestencia, e voto do dito
à porta de uma dessas albergarias, não deixariam de aí ter
Conego ellegerão outra, que não poderá ser de menos idade
um lugar para dormir, cozinhar e tratar de algum mal do
de concoenta annos, e serão naturaes do dito Lugar de Villa
corpo, durante um ou dois dias antes de prosseguir viajem.
Chaã de Sá. Para além das mercieiras, o Vínculo também
A Irmandade de S. Sebastião de Vila Chã de Sá, fundada
estipulava que Em cada hum anno se dotarão duas Orfas com
antes de 1615, foi, seguindo os propósitos definidos nos
o Dote de vinte mil reis cada huã e não poderá ser dotada a que
seus estatutos - prestar o devido culto ao glorioso martyr S.
passar de edade de quarenta annos, e serão estas Orffas, e terão
Sebastião, prestar soccorros espirituaes, aos irmãos vivos
obrigação de se receberem na forma da Igreja dentro de dois
e defunctos e a pratica da caridade em geral - a primeira
annos, e não se recebendo dentro delles os Administradores
instituição caritativa a existir na freguesia. Porém, para
provirão o dito Dote em outra Orffa com as condições asima
além do culto religioso ao Mártir S. Sebastião e do
declaradas.
acompanhamento nos funerais dos irmãos defuntos, não
No século XX o Estado passou a desempenhar um
se conhece outra actividade da Irmandade.
papel fundamental no apoio aos mais desfavorecidos.
A mercearia da Capela de S. José de Vila Chã de Sá,
Encontram-se dezenas de exemplos dessa intervenção em
instituída em 1693 pelo reverendo António Gomes da
prol de pobres e doentes, nas actas da Junta de Freguesia,
Costa, é outro eloquente testemunho dessas modestas
nomeadamente através dos atestados de pobreza.
164
Documento 48
Documento 49
Documento 50
165
Documento 51
A falta generalizada de bens de primeira necessidade
através de uma doação pecuniária (73.000$00). Este
nos anos 40 do século XX levou o governo a racionar os
apoio aos pobres era também extensivo aos membros
produtos através da emissão de senhas de racionamento.
da Irmandade de S. Sebastião. A nova instituição foi
Por esta altura, um tal de Benjamim, morador na rua da
constituída formalmente em sesssão extraordinária da
Eira, homem muito habilidoso de mãos que consertava
Junta de Freguesia, a 8 de Agosto de 1948. Decorridos
todo o tipo de utensílios domésticos e agrícolas na aldeia,
quase três anos, mais precisamente a 11 de Janeiro de
falsificou os apetecíveis cupões de racionamento. A fome
1951, a Irmandade de S. Sebastião reuniu, estando
aguçava o engenho. Apesar da qualidade das falsificações,
também presente o pároco João Rodrigues dos Santos, e
tudo foi descoberto pela polícia, com as respectivas
decidiu criar os estatutos da Caixa de Caridade. Esta tinha
consequências negativas. Benjamim só não chegou a ser
como propósito receber donativos que se destinavam a
encarcerado porque as autoridades constataram que a sua
constituir um património para socorrer todos aqueles que
acção não visava o lucro fácil e por ele ser portador de
necessitassem de cuidados de saúde.
deficiência motora. A existência de várias pessoas carenciadas na freguesia de Vila Chã de Sá nos finais dos anos 40 do século XX levou Manuel Pereira, emigrante no Brasil desde criança, a promover a fundação de uma associação de beneficiência Documento 52
166
Documento 53
denominada Associação Beneficiente de Vila Chã de Sá, 167
Visita Pascal. Da esquerda para a direita: dr. Ernesto Pereira de Almeida, padre João Rodrigues dos Santos, sargento Santos, ?, José Loureiro
Dr. Ernesto Pereira de Almeida e senhoras D. Margarida Lemos e Sousa, D. Maria Helena Almeida e D. Dores Lemos e Sousa
Outro grande benemérito foi o dr. Ernesto Pereira de
e desportiva da freguesia, passaram a partir de 1985 a
Almeida. Eminente advogado, trabalhou em Lisboa com o
enquadrar-se no domínio da solidariedade social, com a
dr. Azeredo Perdigão e foi testemunha no testamento de
alteração dos seus estatutos que a transformaram numa
Calouste Gulbenkian (anos 50). Foi advogado principal no
instituição particular de solidariedade social, passando a
famoso processo da família Mário Cunha (pai do presidente
designar-se Associação de Solidariedade Social, Recreativa
do Benfica Maurício Vieira de Brito). Faleceu em 1981 em
e Desportiva da Freguesia de Vila Chã de Sá (Diário
Lisboa e encontra-se sepultado no jazigo de família no
da República, III Série, nº 124 de 30.05 de 1987). Essa
Documento 54
cemitério de Vila Chã de Sá.
profunda alteração da Associação de Vila Chã de Sá foi
As dificuldades económicas levaram muitos vilachanenses a emigrar nos inícios do século XX para o Brasil e para as antigas colónias portuguesas de África, sobretudo Angola. Na segunda metade do mesmo século, sobretudo a partir da década de 60, muitos partiram para destinos europeus como França, Alemanha, Luxamburgo e Suiça, demandando trabalho e melhores condições de vida.
proposta pelo prof. José Ernesto P. da Silva, com o apoio do Como já referimos anteriormente, a 20 de Junho de 1974 foi
dr. Daniel Pereira da Silva, do sr. António Cardoso P. da Silva
constituída a Associação Recreativa e Desportiva de Vila Chã
e muitos outros. Em Assembleia Geral, sendo presidente da
de Sá, em reunião muito participada que decorreu no Salão
direcção o sr. Aníbal Ferreira Soares, constituíram-se então
Paroquial. As actividades da Associação, direccionadas
vários grupos de trabalho que concretizaram a proposta
nos primeiros anos para a dinamização sócio-cultural
apresentada.
168
169
Sede da Associação na rua dos Lagares França: José Pereira de Oliveira com esposa e filhos acompanhados de António Pereira Ferreira “Brilhante“ e Abel (de Passos de Silgueiros)
Brasil: Franklin Pereira de Almeida a cumprir serviço militar 170
Festa de Natal na Associação: Adelino Marques da Silva e José Ernesto P. da Silva
Angola: José Francisco da Silva, do lado direito
Brasil; da esquerda para a direita: José Tabaio, Fernando Coxo (mestre de armação de ferro) e Ginésio. Os dois últimos eram brasileiros que não foi possível identificar
A sua primeira sede situou-
autoria do arquitecto José Fernandes Basto e do engº civil
se na loja de uma casa na
Álvaro dos Santos Rolo.
rua da Eira, propriedade de
Com a nova instituição procurou-se dar resposta a
Adelino Marques da Silva, a
necessidades
da
pedido do seu filho Daniel
população
da
Pereira da Silva, também
freguesia. Por um
este membro da Comissão
lado, a Associação
Administrativa. Em meados
dá apoio a pessoas
dos anos 70 do século XX,
necessitadas
arrancaram as obras da
pessoas
sede na rua dos Lagares
através
e
a
idosas, de
Apoio
(antigo campo de futebol), passando a realizar-se aí todas as
Domiciliário;
actividades associativas. Também aqui as obras contaram
outro
uma vez mais com o trabalho voluntário de muitos sócios
creche, o A.T.L. e
e de vilachanenses interessados no progresso da sua terra.
o
O primeiro projecto de construção de uma sede para a
de Horário vieram
Associação data de Julho 1977 e foi da autoria do eng.
dar um apoio muito importante às famílias com filhos em
Lino Moreira, ex-presidente da Câmara Municipal de Viseu.
idade pré-escolar e escolar, cujos pais, trabalhando durante
Dez anos mais tarde, já depois de alterados os estatutos da
o dia, não tinham lugar onde deixar as crianças.
Associação que a transformou numa IPSS, foi realizado um
O actual presidente é Adelino Marques da Silva e o
novo projecto tendo em vista a construção de uma creche,
presidente da Assembleia Geral é o prof. José Ernesto
jardim de infância, centro de dia e pavilhão polivalente, da
Pereira da Silva.
lado,
por a
Prolongamento
171
Obras de saneamento em Casal de Igreja (1982)
Obras na Pedra d´Águia (2009)
Nos últimos anos têm decorrido diversas obras de
a ocidente e a oriente da chamada “reta do Tosco”.
melhoramento por toda a freguesia, das quais se
Outras obras realizadas nos últimos anos: a renovação
destacam a renovação da rede de saneamento básico e
da iluminação pública e o melhoramento e requalificação
a rede de distribuição de água ao domicílio, em 1982, a
de espaços públicos como, por exemplo, a fonte de Casal
requalificação da rede viária, a construção da ponte de
d’Além, o recanto da rua da Capela, adros da capela de S.
Soutulho, a Estrada Municipal nº 597, em 1995. Foram
Sebastião e da igreja paroquial.
requalificadas as estradas municipais de ligação a Teivas,
A aquisição de um terreno para construção de uma estação
Soutulho/S. Cipriano, S. João de Lourosa e Passos de
de tratamento de águas residuais (ETAR) bem como a
Silgueiros, onde foi construída
instalação de vários Eco Pontos e, recentemente, de um
uma ponte sobre a ribeira de
Electrão – o primeiro do concelho de Viseu –, denotam
Sasse. As
Equipa de andebol feminino da Associação (1997). Em pé, da esquerda para a direita: Gomes (treinador), Cristina, Fátima, Andreia, Marlene, Patrícia; em baixo, da esquerda para a direita: Sofia, Andreia, Carla, Fernanda, Sandra, Vera e Sara
Grupo de Bombos da Associação em desfile em Vila Chã de Sá (1998)
preocupações com o meio ambiente. obras
relacionadas
No domínio desportivo o grande projecto em curso é
com a ligação IP3 - A25
o da construção de um centro de apoio às actividades
tiveram também um
desportivas e culturais no lugar da Pedra d’ Águia, onde
grande
terão sede as várias associações da freguesia.
impacto
na
freguesia, provocando
A freguesia conta hoje com três associações ligadas à
alterações viária
na
mais
nomeadamente
rede
cultura, desporto e recreio: a Associação de Solidariedade
antiga,
Social Recreativa e Desportiva de Vila Chã de Sá, o Clube
nas
de Caça e Pesca “Os Três Rios” e “Rasga-a-Mata TT”, clube
ligações entre as áreas
de Todo-o-Terreno. Clube de Caça e Pesca “Três Rios” - montaria ao javali na lagoa da Pedra d´Águia
172
173
Clube Todo-Terreno de Vila Chã de Sá “Rasga-a-Mata TT” 174
Crianças na Associação: o Futuro; da esquerda para a direita, atrás: Rodrigo, Miguel, Érico, Daniela, Gabriel, Tiago e Simão; à frente: Gabrielly, Leonor e Gustavo
175
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