Jorge Adolfo M Marques, Vouzela: Património Arqueológico (Câmara Municipal de Vouzela)

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Jorge Adolfo de Meneses Marques

MunicĂ­pio de Vouzela


VOUZELA PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO s í t i o s e r o t a s


Título:

Vouzela Património Arqueológico: sítios e rotas

Autor:

Jorge Adolfo de Meneses Marques

Edição: Fotografias:

Câmara Municipal de Vouzela | 2005 Jorge A. M. Marques Paulo Choupeiro

Composição e Design:

LafõesDesign

Impressão:

Pontos nos is

Tiragem: Depósito Legal:

lafoesdesign@sapo.pt

www.pontosnosis.pt

1.000 ex. 111111111

Azulejo hispano-árabe (Museu Municipal) Torre de Cambra, Cambra


Antas, mamoas, caminhos romanos, igrejas, moinhos, pontes, torres têm resistido à acção do Tempo e do homem por todo este Concelho de Vouzela e compõem um património arqueológico riquíssimo que cumpre preservar, recuperar e divulgar. Esta publicação localiza nos vales, serras, montes e rios esses testemunhos históricos que constituem uma das nossas mais preciosas heranças culturais. Percorra este Vouzela Património Arqueológico sítios e rotas e com ele palmilhe

um território carregado de memória de um povo que trata do presente, prepara o futuro e cuida do passado. Telmo Antunes (Presidente da Câmara Municipal de Vouzela)


Vermilhas

Município de Vouzela

Distrito de Viseu Diocese de Viseu Região de Turismo Dão-Lafões Habitantes: 11.916 (Censos 2001) Freguesias: Alcofra Cambra Campia Carvalhal de Vermilhas Fataunços Figueiredo das Donas Fornelo do Monte Paços de Vilharigues Queirã S. Miguel do Mato Ventosa Vouzela

O Concelho de Vouzela extende-se por uma área de 189,8km2, tendo como limites naturais o rio Vouga a norte e a serra do Caramulo a sul. Com os vizinhos territórios dos municípios de S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades e parte de Sever do Vouga e Viseu, constitui a Região de Lafões. Tendo em consideração a divisão geográfica proposta por Orlando Ribeiro (1987) para Portugal, Vouzela divide-se entre duas unidades paisagísticas, designadamente “Terras de Média Altitude da Beira Litoral” e “Montanhas do Norte da Beira e do Douro”. A primeira unidade coincide com o prolongamento existente do litoral para o interior beirão, ao longo do vale do rio Vouga. Nesta, as altitudes oscilam entre os 200 e os 600 metros e a paisagem é marcada por uma grande densidade e dispersão do povoamento. Na periferia das povoações os terrenos de cultivo, quase sempre em socalcos, encontram-se cobertos essencialmente por milho e hortícolas. A vinha, com menor expressão, encontra-se quase sempre a delimitar as propriedades. A segunda unidade paisagística abarca toda a área da serra do Caramulo. O clima agreste e os solos bastante mais pobres do que nas zonas de menor altitude, levaram a um povoamento muito menos denso e mais concentrado. A criação de gado e a exploração da floresta assume nestas terras um papel económico essencial. A diversidade paisagística é ainda sublinhada pelo contraste existente entre áreas de afloramento predominantemente granítico ou xistoso.


PRÉ-HISTÓRIA


Lapa da Meruje, Carvalhal de Vermilhas

Os dólmenes ou antas são os vestígios arqueológicos mais antigos existentes no território que constitui o actual concelho de Vouzela. Embora ainda não se conheça em profundidade a evolução do Megalitismo na área deste concelho, é muito provável que os primeiros monumentos tenham aqui sido construídos no Neolítico Final, entre meados do 4º milénio e inícios do 3º milénio a.C. A sua utilização como lugar de enterramento colectivo ter-se-á prolongado até meados do 3º milénio a C., ocorrendo por essa altura o seu encerramento ritual. Para além de terem sido local de enterramento, os dólmenes também eram lugares de culto. Enquanto tal, aí se praticaram rituais religiosos que se desenrolavam na periferia dos monumentos, talvez na entrada da câmara ou do corredor que a ela dá acesso. Em alguns monumentos escavados recentemente em Portugal identificaram-se átrios lajeados com vestígios dessas práticas religiosas que incluíam o acendimento de fogueiras e a deposição de objectos rituais. Os construtores de dólmenes eram grupos populacionais semi-sedentários; geralmente construíam cabanas no local onde permaneciam temporária ou sazonalmente, utilizando para o efeito materiais perecíveis como ramos de árvores ou de arbustos e peles de animais. Conhecem-se também abrigos sob rochedos que foram ocupados/

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Cova da Moura, Vale d´Anta, Fornelo do Monte

habitados por estas populações pré-históricas. Apesar de já praticarem a agricultura e a pastorícia, era na caça, na pesca, na recolecção de frutos silvestres, de raízes e de mel que encontravam a maior parte dos alimentos para a sua subsistência. Vários monumentos megalíticos da Beira Alta ostentam pinturas na parte interior dos seus esteios, quer da câmara quer do corredor, retratando, em alguns casos, actividades desenvolvidas no quotidiano, nomeadamente a caça. No concelho de Vouzela, o dólmen Lapa da Meruge e a Mamoa da Malhada do Tojal Grande na freguesia de Carvalhal de Vermilhas, o dólmen Cova da Moura na freguesia de Fornelo do Monte e a Orca da Malhada do Cambarinho na freguesia de Ventosa, são túmulos que deverão ter sido construídos na fase de inicial do fenómeno megalítico, quando se procurava destacá-los na paisagem natural através da sua “monumentalização”. Entre meados do 3º milénio e os inícios do 1º milénio a.C., novos grupos humanos, distintos dos anteriores, essencialmente por dominarem o fabrico de objectos em metal - em cobre e depois em bronze -, reutilizaram muitos destes monumentos como local de enterramento dos seus membros. Nesta segunda fase, que decorre do Calcolítico à Idade

do Bronze, consideravelmente mais longa em termos cronológicos do que a primeira, constituiram-se verdadeiras necrópoles de “tradição” megalítica, polarizadas em torno dos dólmenes iniciais. Os túmulos construídos neste período apresentam uma volumetria mais reduzida. No Bronze Final, sensivelmente entre 1200 e 800 a.C., assiste-se à derradeira fase de construção de túmulos de tradição megalítica. É o epílogo de um tipo de arquitectura que se iniciou com os dólmenes e termina com monumentos funerários quase imperceptíveis na paisagem actual, denominados de cistas. Estas eram estruturadas com apenas quatro ou cinco pequenos esteios, geralmente formando uma planta quadrangular. No seu interior era colocado um pequeno pote cerâmico com as cinzas do defunto. Tal como nos dólmenes, também a estrutura pétrea central das cistas era coberta por uma mamoa ou “cairn” - apenas pedras de pequeno volume - que, neste caso, tinha um diâmetro também muito mais reduzido. Algumas das mamoas até agora identificadas na área do concelho de Vouzela, em particular as de Vale de Espinho e Zibreiro na freguesia de Campia, a de Vale d’ Anta na freguesia de Fornelo do Monte e as da Malhada do Cambarinho I e II na freguesia de Ventosa, corresponderão a estruturas funerárias deste tipo.

Pontas de seta em silex, (a partir de LEISNER, 1998)

Orca da Malhada do Cambarinho, Ventosa Orca da Malhada do Cambarinho, Ventosa (páginas seguintes)

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PRoto-HISTÓRIA


Peso de tear (Museu Municipal),

(a partir de PEDRO, 2000)

Cabeço do Couço, Crasto, Campia

Desenho de bordo de pote com motivo decorativo brunido, Cabeço do Couço, Crasto Campia

Pote cerâmico (Museu Municipal), Cabeço do Couço, Crasto, Campia (página anterior)

Nos inícios do 1º milénio a.C. assiste-se, um pouco por todo o Norte de Portugal, ao aparecimento de povoados fortificados localizados em pontos elevados da paisagem. Tais povoados, vulgarmente designados de castros, dominavam o espaço envolvente ao local onde se encontravam implantados. Nesse território, as populações castrejas procediam à exploração dos recursos naturais, com particular destaque para os minerais que serviam para o fabrico de objectos em bronze e ferro. Os castros de Cabeço do Couço na freguesia de Campia, o Outeiro do Castro na freguesia de Fornelo do Monte, o Castro de Paços na freguesia de Paços de Vilharigues e o Alto do Castro na freguesia de Queirã, integram-se plenamente na área da designada cultura castreja do noroeste peninsular, cuja fronteira meridional é a bacia hidrográfica do rio Vouga. O Outeiro do Castro e o Alto do Castro, também conhecido por Castro de Ribamá, são povoados de pequena dimensão, localizados em esporões, naturalmente bem defendidos e com apenas uma linha de muralhas. Estas, apesar de manifestarem pouca consistência, revelam evidentes preocupações defensivas. Quer no primeiro,

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quer no segundo povoado, foram recolhidos alguns fragmentos de cerâmicas que apontam para uma ocupação que terá começado no final da Idade do Bronze (1200 a.C. a 800 a. C.) período em que alguns castros da região como o da Srª. da Guia no concelho de S. Pedro do Sul e o de Stª. Luzia no concelho de Viseu já eram habitados. Os castros de Paços de Vilharigues e do Cabeço do Couço têm uma área superior relativamente à dos povoados descritos anteriormente. O sistema defensivo também foi aperfeiçoado dado que ambos apresentam mais do que uma linha de muralhas estruturadas com aparelho poligonal bastante robusto. As recentes escavações arqueológicas realizadas no Cabeço do Couço colocaram a descoberto os alicerces de três casas de planta circular, uma delas parcialmente encostada à face interna da muralha, bem como os restos de um lajeado que faria parte do átrio de uma habitação ou de uma rua. Recolheram-se também mós circulares, cossoiros em cerâmica, metais em bronze e ferro e centenas de fragmentos de cerâmicas de uso doméstico, cujas tipologias e técnicas de fabrico nos permitem atribuí-las à Idade do Ferro.

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romanização


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Moedas romanas: 1 - Asse, 27 a.C.-14 d.C. 2 - Follis, 330-331 (Museu Municipal)

Inscrição rupestre, Corgas Roçadas, Carvalhal de Vermilhas

Com a chegada dos romanos à Península Ibérica no século III a.C., no âmbito das Guerras Púnicas que opunham Roma a Cartago, uma nova etapa começou para os povos que aqui viviam. As populações de muitos castros do Norte de Portugal começaram a adoptar, de forma progressiva, objectos, técnicas e costumes romanos. Paralelamente, o povoamento começou a disseminar-se por zonas de vale onde existiam condições mais favoráveis para o desenvolvimento da agricultura. No concelho de Vouzela identificaram-se alguns locais como a Quinta dos Cortinhais na freguesia de Alcofra, a Quinta da Tapada em Fataunços, a Quinta da Cruz na freguesia de Figueiredo das Donas, em Vale Susão na freguesia de Queirã, a Quinta do Paço e do Sabugueiro na freguesia de S. Miguel do Mato, onde apareceram à superfície do solo grandes quantidades de tégulas, ímbrices, mós manuais rotativas, fragmentos de cerâmicas de uso doméstico e escórias de ferro que corresponderão a locais onde existiram casais agrícolas. A actividade mineira também terá tido um papel importante na economia local, tendo em consideração os vestígios arqueológicos até agora identificados. As necrópoles romanas descobertas nas Minas da Bejanca e em Carvalhal do Estanho fariam parte de um habitat mineiro que se dedicava

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Inscrição rupestre, Carvalhal de Vermilhas

à exploração de estanho. Este minério, que é muito abundante em toda a região de Lafões, era escoado para outros locais pela rede viária construída nessa época. Dessas estradas romanas ainda subsistem alguns troços em bom estado de conservação. A estrada romana que se preserva entre as aldeias de Carregal, Figueiredo das Donas, Bandavises e Fataunços, passando pela Ponte Pedrinha, sobre a ribeira de Ribamá, constitui um notável vestígio dessas vias que ligavam a capital da civitas, Viseu, à região de Lafões, por Vouzela. Nesta vila, junto à Igreja Matriz, foi encontrado um marco miliário erigido no tempo do imperador César Marco Cláudio Tácito (reinou entre 272 e 276), com a indicação da décima oitava milha. Após Vouzela a estrada continuava por Vilharigues e, já na área do concelho de Oliveira de Frades, por onde passava a fronteira da civitas viseense, seguia por S. Tiaguinho, Postasneiros e Reigoso até Talabriga (Cabeço do Vouga) onde entroncava na via Olisipo-Bracara. Em Reigoso seria fundada uma albergaria, em 1195, pelo Alcaide Cerveira e sua mulher, Godinha João. A sua missão principal era dar apoio a viajantes e peregrinos que por ali passassem, como lembra uma epígrafe noderna ali erigida: PEREGRINOS VINDE AO HO SPITAL DE REIGOSO Q EU VOS DAREY CAZA CAM A AGUA FO GO AZEYTE E SAL .

Uma outra estrada romana acompanhava o curso do rio Trouço, atravessando a área do actual concelho de Vouzela no seu canto nordeste, bem próximo de S. Miguel do Mato e de Figueiredo das Donas, até alcançar o rio Vouga junto à vila de S. Pedro do Sul. Um pouco mais a sul existia uma terceira estrada, também proveniente de Viseu que passava onde se situam as actuais povoações de Couto de Cima, Portela, Igarei e Queirã. Na carta de couto de Alcofra, datada de 1134 (D.R., 141), é referida uma estrada nos limites do seu território. Esta, que certamente seria uma antiga via romana, ligava o vale de Besteiros ao alto da serra do Caramulo, servindo toda a região montanhosa onde hoje se localizam as povoações de S. João do Monte, Arca, Varzielas e Alcofra. A presença romana no território vouzelense permanece também sobre a forma de três breves textos latinos gravados em afloramentos rochosos localizados nos lugares de Regadinha - Abelheira na freguesia de Alcofra, Estrada e Corgas Roçadas na freguesia de Carvalhal de Vermilhas. Estes monumentos revestem-se da maior importância cultural dado que nos permitem compreender a forma como as populações controlavam o território.

Marco miliário de Tácito, Vouzela (Museu Municipal)

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idade mĂŠdia


Terra de Viseu Terra de Lafões Terra de Penafiel de Covas Equidistância entre as curvas de nível: 200 metros

Muralha derrubada, Castêlo, Alcofra

O período que decorre entre finais do Império romano e os inícios da Reconquista cristã é um dos mais obscuros da história desta região. Apesar das sucessivas invasões e domínios germânico e árabe, não se conhecem até ao presente quaisquer materiais arqueológicos no concelho de Vouzela atribuíveis a essas civilizações. A toponímia de origem árabe, ou moçárabe, que nos aparece registada na documentação medieval dos séculos XI, XII e XIII e que em muitos casos ainda se mantém na toponímia local, é um indicador, até agora o mais significativo, de que a região de Lafões não só permaneceu povoada durante os séculos de domínio muçulmano, como foi um território bastante influenciado por essa cultura. O facto do cadi de Sevilha, Abul-l-Qasim, ter encontrado em Lafões, no ano de 1020,

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uma população cristã que falava árabe, espelha, de alguma forma, o seu nível de aculturação. Provavelmente a exploração de minérios na região de Lafões, com particular destaque para o estanho, terá suscitado grande interesse por parte dos muçulmanos. Supõe-se que estes ou exploraram directamente ou compraram estanho a mercadores desta região, dando continuidade a uma actividade de carácter industrial que já tinha uma longa tradição local. Nas décadas iniciais do século XI o território do actual concelho de Vouzela e dos concelhos limítrofes de S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades passaram a constituir a Terra de Lafões. Esta era uma das novas circunscrições, com carácter essencialmente militar e administrativo, em que passou a estar dividido o noroeste do actual território português.

A partir da documentação medieval portuguesa conhecem-se alguns dos tenentes que estiveram à frente da Terra de Lafões: Piníolo Garcia em 1070, Gonçalo Gonçalves entre 1117 e 1122, Diogo Gonçalves entre 1122 e 1128, Sancho Nunes de Barbosa entre 1158 e 1169 e em data incerta, posterior a 1169, Fernando Veilaz de Riba Douro e Egas Afonso de Alvarenga. Estes, exerceram o seu poder a partir de um castelo que se situava no monte da Srª. do Castelo. Aparentemente nada sobrou dessa fortificação altomedieval, referida pela última vez nas Inquirições de Afonso III, em 1258. No local restam apenas duas sepulturas escavadas na rocha antropomórficas de um provável núcleo habitacional que existia junto ao castelo. Deste período conhece-se uma segunda fortificação no sítio do Castêlo na freguesia de Alcofra. Trata-se de um pequeno reduto

de tipo roqueiro cuja principal missão seria a de controlar o vale do rio Alcofra, dado que este constituía uma passagem natural do vale de Besteiros para o de Lafões atravessando a serra do Caramulo de sudeste para noroeste. Os dois castelos até agora identificados no espaço que constituía a Terra de Lafões defendiam e controlavam um território que era habitado por uma população que se distribuía por algumas dezenas de casais agrícolas e aldeias. Algumas dessas povoações já se encontram referidas na documentação escrita dos séculos XI e XII; de outras apenas sabemos terem existido nessa época por via dos vestígios arqueológicos, nomeadamente das necrópoles constituídas por sepulturas escavadas na rocha. As sepulturas rupestres identificadas em pequenos núcleos de

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Lagareta, Cruz da Ribeira, Queirã

Sepultura rupestre, Corgo, Fataunços

duas ou três como seja o caso de Lamas e de Outeiro do Moinho na freguesia de Paço de Vilharigues, da Srª. do Castelo em Vouzela, ou em casos isolados como na Corga na freguesia de Fataunços, em S. Domingos na freguesia de Ventosa e em Moçâmedes, encontravam-se desprovidas de qualquer conteúdo arqueológico e fora de contexto estratigráfico. Em relação à sua localização constata-se que só no caso da Igreja Matriz de Vouzela é que se verifica a associação entre sepulturas rupestres e templo. Este facto revela que o ritual funerário praticado neste período ainda não tinha institucionalizado a igreja paroquial como o único lugar para proceder ao

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enterramento dos fiéis defuntos. A partir do século XII esta situação alterou-se e o espaço envolvente das igrejas paroquiais passou a ser o cemitério da paróquia. Por esta razão se tem encontrado túmulos ou apenas elementos avulsos de arquitectura funerária - sobretudo estelas discoídes - junto a igrejas paroquiais do concelho (Alcofra, Campia, Fataunços e Vouzela). No caso das estelas, trata-se de pequenos monólitos que não apresentavam qualquer inscrição a identificar o defunto, de acordo com a total despersonalização do ritual funerário então praticado. Serviam apenas para identificar o local de enterramento.

Em meados do século XIII o território que constitui o actual concelho de Vouzela já apresentava um tipo de povoamento muito semelhante ao existente nos nossos dias embora o número dos seus habitantes fosse consideravelmente inferior. A população era constituída maioritariamente por camponeses que praticavam uma agricultura com técnicas arcaicas e profundamente dependente das condições climatéricas. Estes dois factores conjugados condicionavam a produtividade agrícola que por ser muito baixa os colocava muitas vezes no limiar da subsistência. Os produtos agrícolas com maior peso na produção eram os cereais,

sobretudo o milho e o centeio, a vinha e o linho. A criação de animais de capoeira e de algumas cabeças de gado vacum, suíno e ovi-caprino completava o quadro produtivo. Contrariamente às fontes escritas deste período, os vestígios arqueológicos das actividades agrárias desenvolvidas são muito escassos; conhecem-se apenas dois lagares escavados na rocha, geralmente designados de lagaretas ou lagariças, situados em Cruz da Ribeira na freguesia de Queirã e Degas na freguesia de Ventosa. Estes lagares rupestres serviam para fazer vinho e, possivelmente, azeite. De entre o património arqueológico e arquitectónico existente no

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Carvalhal de Vermilhas

Covas, Fornelo do Monte

concelho de Vouzela, merecem particular destaque as torres de Cambra, de Vilharigues e de Alcofra. Estas casas-forte, construídas por volta dos séculos XIII ou XIV, revelam uma estratégia de afirmação senhorial num território que desde o período da Reconquista fôra muito cobiçado pela nobreza portuguesa. Tal como noutros casos estudados em Portugal, também aqui encontram-se implantadas em zonas de vale, no seio de espaços agrícolas muito férteis,

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onde os seus proprietários possuíam bens fundiários. Desconhecemos, porém, para estas três torres e para a de Bandavises, destruída nos finais do século XIX, qualquer documento escrito que refira o nome dos seus proprietários e o momento preciso da sua construção. Em termos arquitectónicos as torres de Vouzela apresentam planta quadrangular, com paredes que chegam a ultrapassar um metro de

Torre de Cambra, Cambra de Baixo, Cambra

espessura. Têm uma só entrada, situada numa cota superior em relação ao solo. No interior tinham um rés-do-chão em terra batida e dois pisos sobradados, respectivamente o primeiro e o segundo andares. As eventuais paredes divisórias existentes nos pisos bem como as escadas interiores eram em madeira. O telhado era de quatro águas, com telhas de meia cana. As escavações arqueológicas realizadas no interior da torre de

Cambra permitiram a recolha de centenas de fragmentos de cerâmicas de uso doméstico pertencentes a potes, panelas e bilhas de vários tamanhos e formas. Estas cerâmicas apresentam pastas de cores maioritariamente cinzenta, preta e castanha, com muitos desengordurantes. Os motivos decorativos são quase sempre sulcos horizontais ou em meandro e incisões ao longo do bojo ou nas asas em fita.

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Povoamento documentado nas Inquirições de Afonso III (1258)

Templo

Paróquia

Povoação

1 - Carval (do Estanho); 2 - Parrochia Sancti Michaelis de Queyra; 3 - Nouman; 4 - Carregal; 5 - Eygarey; 6 - Quinteela; 7 - Vascoya; 8 - Caria; 9 - Parrochia Sancti Michaelis de Mata; 10 - Vilar; 11 - Mozamedes; 12 - Vila Pauca; 13 - Rota; 14 - Rial; 15 - Parrochia de Felgosa; 16 - Fataunzos; 17 - Sobradio; 18 - Bandaveses; 19 - Riparius; 20 - castellum de Alafoe; 21 - Asneyros; 22 - Lagea; 23 - Calvos; 24 - Parrochia de Ventosa; 25 - Quinteela; 26 - Cecorili; 27 - Oveliarigos; 28 - Gamardos; 29 - Covelo; 30 - Curugeira; 31 - Ansara; 32 - Covas;

33 - Figueiras; 34 - Casali de Ausenda; 35 - Fornelo (do Monte?); 36 - Servity; 37 - Casali Bono; 38 - Vilares; 39 - Plazias; 40 - Vauzela; 41 - Urtigaes; 42 - Lameiro de Caritel; 43 - Cernada; 44 - Alcofra; 45 - Amexeas - ermitam Sancti Petri; 46 - Paazos; 47 - Sancta Marina (Paços de Vilharigues); 48 - Senra; 49 - Cambarina; 50 - Parrochia Sancti Juliani de Cambar; 51 - Sancta Columba; 52 - Magueiraes; 53 - Paredes Velas; 54 - Thoureli; 55 - Consulques 56 - Carvalal (de Vermilhas); 57 - Vermilis; 58 - Pedibus Pontis; 59 e 60 - ambabus Caaveyros (de Cima e de Baixo); 61 - Parrochia de Campia; 62 - Cercosa; 63 - Revordino; 64 - Serores.

Equidistância entre as curvas de nível: 50 metros

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VOUZELA PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO s í t i o s e r o t a s Conhecem-se quatro dezenas de locais no concelho de Vouzela com vestígios arqueológicos. Para este VOUZELA PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO seleccionámos vinte monumentos e sítios que pensamos serem representativos das diferentes fases de ocupação deste território, entre a Pré-história e a actualidade. Nesta escolha tivemos sobretudo em consideração o estado de conservação dos vestígios arqueológicos e as condições de acesso aos locais. Seguindo as nossas indicações, os mapas em anexo e a sinalização existente na estrada, poderá, sem dificuldade, visitar e sentir o rico património arqueológico e ambiental deste concelho.

Motivo decorativo estampilhado em cerâmica, Cabeço do Couço, Crasto, Campia Lafões sob denso nevoeiro (páginas anteriores)


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Museu Municipal de Vouzela A Câmara Municipal de Vouzela tem vindo a realizar o levantamento do património arqueológico existente no concelho e a promover acções de preservação/valorização de monumentos e sítios. Estes trabalhos permitiram a recolha de centenas de materiais arqueolófotografias 1 - Dólmen da Lapa da Meruge 2 - Castro do Cabeço do Couço 3 - Via Romana: Figueiredo das Donas 4 - Igreja Matriz de Vouzela 5 - Torre de Cambra

gicos, na sua grande maioria cerâmicos e líticos. Parte desse espólio encontra-se exposto em salas do Museu Municipal, acompanhado por um conjunto de fotografias de alguns monumentos arqueológicos existentes no concelho.

ACESSO

Praça Morais Carvalho. Consulte planta da vila (pág. 80 e 81 )

materiais arqueológicos 1 - Mós circulares (movente e dormente) - prov. diversas 2 - Pote cerâmico recuperado - prov. Cabeço do Couço 3 - Pesos cerâmicos (2) - prov. Cabeço do Couço 4 - Objectos de bronze da Quinta da Cruz: foicinha de talão, punhal, cravos de escudo (6) 5 - Marco miliário - prov. Igreja Matriz de Vouzela 6 - Pote cerâmico recuperado - prov. Torre de Cambra 7 - Pote cerâmico recuperado - prov. Torre de Cambra 8 - Estelas discoídes (16) - prov. Igreja Matriz de Vouzela 9 - Sarcófago antropomórfico - prov. Igreja Matriz de Vouzela

Punhal em bronze, Quinta da Cruz, Figueiredo das Donas Pote cerâmico, Torre de Cambra, Cambra (em cima)

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Necrópole megalítica do Zibreiro Campia Necrópole constituída por quatro mamoas, uma das quais de grandes dimensões, onde se recolheu um pequeno fragmento de sílex e a parte dormente de uma mó de rebolo.

As restantes três mamoas, bastante mais pequenas, foram completamente destruídas quando se procedeu recentemente à reflorestação da área.

Mó de rebolo

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ACESSO

ER 333-2. Entre Campia e Crasto. Junto a uns aviários. Consulte o mapa 6 (pág. 89)

dólmen da lapa da meruje Carvalhal de Vermilhas Monumento megalítico de câmara poligonal com sete esteios e tampa de cobertura. Tem um corredor longo onde são visíveis quinze esteios, nove do lado

norte e seis do lado sul. A mamoa, apesar de não cobrir totalmente o monumento, encontra-se muito bem conservada.

ACESSO

EM 619. Á saída de Carvalhal de Vermilhas para Couto. Monumento sinalizado. Consulte o mapa 5 (pág. 88)

(a partir de LEISNER, 1998)

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Mamoa da Malhada do Tojal Grande Carvalhal de Vermilhas Mamoa de grandes dimensões com uma enorme cratera de violação na zona correspondente à câmara do dólmen. Aí são

visíveis apenas dois esteios, um deles de grandes dimensões.

ACESSO

Estrada entre Vermilhas e Covas. Monumento sinalizado. Consulte o mapa 1 (pág. 84).

(G.T.L. de Vouzela)

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Necrópole megalítica de Vale d’Anta Fornelo do Monte Necrópole constituída por dois monumentos megalíticos: a Cova da Moura e a Mamoa de Vale d’ Anta. 5.1. Cova da Moura

5.2. Mamoa de Vale d’Anta

Monumento de câmara poligonal com oito esteios e tampa de cobertura. A mamoa encontra-se muito bem conservada.

Monumento de pequenas dimensões situado 20 metros a nordeste da Cova da Moura. Na zona central é visível a parte superior de um esteio da câmara. Trata-se possivelmente de uma cista megalítica.

ACESSO

EM 622. À saída de Fornelo do Monte para Póvoa Pequena. Acesso ao Monte Ventoso (parque eólico). Monumento sinalizado. Consulte o mapa 7 (pág. 90).

(a partir de LEISNER, 1998)

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Necrópole megalítica da Malhada do Cambarinho ventosa Necrópole constituída por três monumentos megalíticos: a Orca da Malhada do Cambarinho, explorada por Amorim Girão no início do século XX e duas mamoas de pequena dimensão. 6.1 Orca da Malhada do Cambarinho

Monumento megalítico com câmara e corredor longo. Na câmara é visível apenas um esteio, enquanto no corredor são visíveis onze, respectivamente cinco no lado norte e seis no lado sul. Sobre dois esteios do corredor permanece uma laje de cobertura.

A exploração empreendida por Amorim Girão neste monumento permitiu recuperar um pedaço de cristal de rocha, várias pontas de seta (ver desenhos na p.12) e lâminas em sílex, um micrólito, carvão e fragmentos de cerâmica, alguns pintados a vermelho.

ACESSO

Circuito da Penoita entre o Posto de Vigia da Pena e o cruzamento para Covas. Monumento sinalizado. Consulte o mapa 3 (pág. 86).

6.2. Mamoa I da Malhada do Cambarinho

6.3. Mamoa II da Malhada do Cambarinho

Monumento megalítico de pequenas dimensões localizado 200 metros a oeste da Orca da Malhada do Cambarinho. Trata-se possivelmente de uma cista megalítica.

Monumento megalítico de pequenas dimensões localizado 100 m a sudoeste da Orca da Malhada do Cambarinho. Trata-se provavelmente de uma cista megalítica.

Micrólito em silex (1) Lâminas em silex (2 a 4) (a partir de LEISNER, 1998)

Orca da Malhada do Cambarinho, Ventosa

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(a partir de CARVALHO, 1993)

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Castro do Cabeço do Couço Crasto, Campia Povoado castrejo localizado num cabeço bastante íngreme, sobranceiro ao rio Alcofra que corre a sul. A sua origem remontará ao Bronze Final (1200 a C. a 800 a C.) perdurando a sua ocupação durante a Idade do Ferro.

As escavações arqueológicas que decorreram no interior deste castro, numa plataforma do lado norte, permitiram colocar a descoberto os alicerces de três casas de planta circular, em pedra com aparelho poligonal e parte da face interna da muralha que o defendia. Esta,

encontra-se ainda em muito bom estado de conservação na vertente norte e nordeste do povoado.

Para além dos vestígios arquitectónicos postos a descoberto, recolheram-se centenas de fragmentos cerâmicos, objectos líticos, metálicos e vítreos. Alguns objectos, como mós circulares, potes cerâmicos e pesos de tear cerâmicos encontram-se expostos no Museu Municipal. Monumento classificado como Imóvel de Interesse Público.

ACESSO

CM 1285-4. Entre Rebordinho e Crasto. Monumento sinalizado. Consulte o mapa 6 (pág. 89).

Foicinha em bronze. Motivos decorativos estampilhados em cerâmica. (página anterior) (a partir de PEDRO, 2000)

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Covas, Fornelo do Monte Povoado castrejo localizado num cabeço bastante íngreme a nordeste da aldeia de Fornelo do Monte. O local é acessível apenas pelo lado norte onde se encontram os vestígios

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Outeiro do Castro de uma pequena muralha. À superfície do solo aparecem escassos fragmentos de cerâmica que apontam para uma ocupação deste local no Bronze Final (1200 a C. a 800 a. C.).

ACESSO Circuito da Penoita entre Covas e Sacorelhe. Acesso muito difícil. Consulte o mapa 7 (pág. 90).

Castro de Paços de Vilharigues Paços, Paços de Vilharigues Povoado castrejo localizado num cabeço bastante íngreme a sudeste da aldeia de Paços. A ocupação inicial deste local terá ocorrido no final da Idade do Bronze ou já durante a Idade do Ferro. O aparecimento à superfície do solo

de muitos fragmentos de téguIas e ímbrices revela que foi romanizado. Em vários pontos do castro são visíveis tramos de uma muralha bastante sólida, com aparelho poligonal.

ACESSO

CM 1293. A partir de Paços por caminho de terra. Monumento sinalizado. Consulte o mapa 2 (pág. 85).

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Alto do Crasto (ou Castro de Ribamá) Queirã Povoado castrejo localizado num esporão sobranceiro à ribeira de Ribamá que corre a ocidente, em vale profundo e a um seu afluente que corre a norte. No lado sul do povoado é visível parte da muralha que o delimita. À

Inscrição rupestre de Estrada Carvalhal de Vermilhas

superfície do solo encontram-se muitos fragmentos de cerâmica e várias mós de rebolo. Considerando a cerâmica encontrada poderse-á tratar de um povoado com origem no Bronze Final (1200 a C. a 800 a C.).

ACESSO

EM 337. A partir de Queirã por caminho de terra pelo Alto do Morangueiro. Consulte o mapa 4 (pág. 87).

Inscrição latina gravada num rochedo localizado à beira de um caminho carreteiro que liga as aldeias de Carvalhal de Vermilhas e Fornelo do Monte.

HIC.LOC VS.DERE VAECAS VOCATVR

Trata-se de uma inscrição que terá servido como marco de propriedade.

ACESSO

Entre Vermilhas e Covas por caminho de terra. Acesso por caminho de terra. Consulte o mapa 7 (pág. 90).

Este lugar chama-se Derevaecas.

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Carvalhal de Vermilhas Inscrição latina gravada num rochedo localizado à beira de um caminho carreteiro. A inscrição, de carácter votivo, encontra-se

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Inscrição rupestre de Corgas Roçadas muito desgastada, pelo que só é possível ler

PAISICAICOEO.

ACESSO

Entre Vermilhas e Covas por caminho de terra. Acesso por caminho de terra. Consulte o mapa 7 (pág. 90).

Estrada romana/medieval Figueiredo das Donas - Fataunços Entre as aldeias de Carregal, Figueiredo das Donas, Bandavises e Fataunços preserva-se um dos mais belos troços de via romana da vasta rede viária construída na área da civitas de Viseu. Este troço estava inserido na estrada romana que ligava a urbe viseense ao litoral, passando pela região de Lafões, através da rica zona estanhífera compreendida entre as actuais povoações de Carvalhal do Estanho, Figueiredo das Donas e S. Miguel do Mato.

A calçada tem uma largura que oscila em média entre os 3 e os 4 metros; em alguns pontos incorpora os próprios afloramentos graníticos. Presentemente ainda é utilizada pelas populações no acesso a terrenos agrícolas e pinhais. A ponte Pedrinha, integrada na Estrada Municipal nº 602, é uma obra de arte dos tempos medievais, como certificam as várias siglas

ACESSO

EM 602. Por Figueiredo das Donas ou por Fataunços. Monumento sinalizado. Consulte o mapa 8 (pág. 91).

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Ponte Pedrinha, Ribeira de Ribamá

que os canteiros gravaram nos seus blocos. Esta ponte com um só arco ogival, veio, certamente, substituir por volta dos séculos XII ou XIII, a velha ponte romana que ali ainda existiria. A construção ou reconstrução, comprova que a antiga estrada romana continuava a ser uma via importante de ligação ao litoral. Tal como aconteceu no passado, com a ponte

Siglas, Ponte Pedrinha, Ribeira de Ribamá

primitiva, também recentemente este magnífico e raro exemplar do engenho medieval foi substituído por uma nova ponte construída a poucos metros de distância. O marco miliário do imperador Tácito (reinado: 272-276), descoberto no adro da Igreja Matriz de Vouzela nos anos quarenta e hoje exposto no Museu Municipal, era um dos vários que se encontravam colocados

junto a esta via, indicando em milhas a distância até à capital da civitas. Neste caso, o marco indica a décima oitava milha. Em época posterior, quando provavelmente já derrubado não cumpria a função para que fora feito, gravaram-Ihe um popular jogo do moinho, tornando-o num banal “tabuleiro” de jogo.

IMP CAE M CLA [ ] IO TA [ ] TO P F [ ]INVICTO A P M TRIB P M P XVIII IMP(eratori)/ CAE(sari) M(arco)/ CLA[VD]IO/ TA[CI]TO P(io) F(elici)/ [I]NVICTO A(vgvsto)/ P(ontifici) M(aximo) TRIB(vnitia) P(otestate)/ M(ilia) P(assvm) XVIII (dvodeviginti) Ao Imperador César Marco Cláudio Tácito, Pio, Feliz, Invencível, Pontifíce Máximo, detentor do poder tribunício. Milha 18.

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Via romana a partir de Viseu para o litoral, por Vouzela

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Torre de Alcofra Cabo de Vila, Alcofra Torre medieval de planta quadrangular, localizada na aldeia de Cabo de Vila. O acesso ao seu interior era feito pelo lado sul, certamente por uma escadaria de madeira ou

ferro que alcançava a porta ogival que se abre a 3 metros de altura do solo. No piso superior, o terceiro, possui janelas em todas as faces.

ACESSO

ER 333-2. Monumento sinalizado. Consulte o mapa 6 (pág. 89).

piso 2

piso 1

piso 0

Dimensões exteriores: 6,3 m x 6,3 m. Dimensões interiores: 4,5 m x 4,5 m. Área: 20 m2 (3 pisos = 60,6 m2).

(G.T.L. de Vouzela)

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Torre de cambra Cambra de baixo, cambra Torre medieval de planta quadrangular, localizada num pequeno esporão entre os rios Couto, a sul, e Alfusqueiro, a norte. A entrada na torre era feita pela porta em arco ogival existente no lado sul. No interior são visíveis as marcas de três pisos. As escavações arqueológicas ali realizadas

permitiram recuperar centenas de fragmentos de cerâmicas de potes, bilhas, pratos, etc. Dois potes recentemente restaurados encontram-se expostos no Museu Municipal. A construção desta torre terá ocorrido por volta dos séculos XII-XIII e a sua ocupação manteve - se até aos séculos XVI-XVII.

ACESSO

CM 1290. Monumento sinalizado. Consulte o mapa 1 (pág. 84).

piso 2

piso 1

piso 0

Dimensões exteriores: 8,0 m x 8,1 m. Dimensões interiores: 5,95 m x 5,9 m. Área: 35,1 m2 (3 pisos = 105,3 m2).

(G.T.L. de Cambra/Campia)

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Torre de vilharigues vilharigues, paços de vilharigues Torre medieval de planta quadrangular, localizada num outeiro a norte da aldeia de Vilharigues. Apenas subsistem duas das quatro paredes onde é possível observar

no seu interior o negativo dos três pisos que possuía. Nas paredes exteriores tem dois mata-cães assentes sobre quatro mísulas.

ACESSO

EM 333. Monumento sinalizado. Consulte o mapa 2 (pág. 85).

piso 2

piso 1

piso 0

Dimensões exteriores: 8,5 m x 8,5 m x 8,7 x 8,9 m. Dimensões interiores: 5,9 m x 5,9 m. Monumento classificado como imóvel de Interesse Público

(G.T.L. de Vouzela)

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lagareta de cruz da ribeira Queirã A lagareta encontra-se escavada num rochedo de pequenas dimensões. Possui um pio central rectangular, designado de piso, com 285 cm de comprimento, 48 cm de largura e 19 cm de profundidade. Um pequeno orifício

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liga o piso a um pio de formato quadrangular, com apenas 63 cm de largura e 27 cm de profundidade. Ao lado do pio, que se encontra em plano inferior ao piso, foi escavado o prato, onde se faria a prensagem do bagaço.

ACESSO

EM 337. Entre Queirã e o cruzamento para Loumão. Monumento sinalizado. Consulte o mapa 4 (pág. 17).

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Rosácea sobre porta lateral norte, encimada por cachorrada antropomórfica

Torre sineira

Capela dos Almeidas (1513)

Porta lateral norte

Igreja Matriz de Vouzela Vouzela Templo gótico de uma só nave, dedicado a Nossa Senhora da Assunção. Edificado no século XIV, provavelmente no local da primitiva igreja de Stª Maria de Vouzela. Esta, inicialmente designada de basilica, foi fundada por Cidi Davis filho de David e Matrona e encontra-se documentada desde 1083: “...baselica fundata est in villa quam vocitant Vauzela...” (D.C., 621).

Possui uma interessante cachorrada, suportando a cornija, com representações zoomórficas e fitomórficas. Nesta, destaca-se a representação tetramórfica legendada dos quatro evangelistas: S. João (Águia), S. Marcos (Leão), S. Mateus (Homem) e S. Lucas (Touro). As inscrições encontravam-se duplamente gravadas na moldura superior e na cartela inferior de cada uma das imagens.

ACESSO

Vila de Vouzela. Consulte planta da vila (pág. 80 e 81).

(a partir de Boletim da D.G.E.M.N., 1949)

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As obras de restauro realizadas na igreja, pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, em meados dos anos quarenta do século XX, colocaram a descoberto no seu interior parte da necrópole medieval constituída por túmulos escavados na rocha, alguns deles antro-

pomórficos, certamente coevos do templo primitivo. Nessa ocasião foram ainda recolhidas dezasseis estelas discóides, todas com motivos cruciformes numa ou em ambas as faces, que se encontram actualmente expostas no Museu Municipal. Classificado como Monumento Nacional.

águia = S. JOÃO IoHaNniS IoHaNniS

homem = s. mateus LEÃO = s. marcos [...] MA/RCus

[Ma]THEI [...]

touro = s. lucas [...] [...]

(a partir de Boletim da D.G.E.M.N., 1949)

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Sr.ª do castelo Vouzela Vários autores, entre eles Amorim Girão, consideram ter existido um castro no monte da Sr.ª do Castelo. A existência ou não de um povoado proto-histórico neste local não passa de uma hipótese que carece de uma investigação mais aprofundada, com um programa de escavações arqueológicas. Se relativamente à origem do povoamento ainda sabemos muito pouco, estamos seguros que a Terra de Lafões, referida pela primeira vez na documentação medieval portuguesa em 1030 (D.C., 268), teve como centro um castelo que se erguia precisamente onde se

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Aristides de Amorim Girão Nasceu em Fataunços em 16/06/1895. Faleceu em Coimbra em 7/04/1960. Professor catedrático de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Director da Faculdade de Letras entre 1944 e 1955. Algumas publicações: · Antiguidades Pré-históricas de Lafões. Contribuição para o Estudo da Arqueologia de Portugal, 1921; · Bacia do Vouga, Estudo Geográfico, 1922; · Viseu - Estudo de uma aglomeração urbana, 1925.

situa a ermida de Nossa Senhora. Apesar de actualmente não serem visíveis quaisquer vestígios do castelo que ali existiu durante a Reconquista, há documentos de diferentes épocas que o referem, como por exemplo um de 1104, em que o lugar de Valgode é localizado “... subtus mons Castro Alafoei discurrente rivulo Vauga territorio Alafoei...” (D.P., 147). Mais tarde, nas Inquirições de Afonso III (1258), aparece explicitamente referido o “...castellum de Alafone...” (INQ., p. 903), ao qual os paroquianos de Felgosa - actual Fataunços - e Ventosa tinham que

acorrer para o arranjar e defender, sempre que fosse necessário. Estas duas povoações são, precisamente, as que se situam mais próximas da Srª. do Castelo. Para além da documentação escrita já referida anteriormente, permanecem no largo da fonte, ao fundo da escadaria que dá acesso ao cume onde se situa a capela, um par de sepulturas escavadas na rocha de planta antropomórfica atribuíveis ao período da Reconquista. Recentemente foram recolhidos alguns fragmentos cerâmicos cuja cronologia se pode balizar entre os séculos X e XIII.

ACESSO

EM 228-1. Local sinalizado. Consulte o mapa 2 (pág. 85).

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a

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Moinhos do rio Alcofra Alcofra O concelho de Vouzela possui um riquíssimo património arquitectónico tradicional que no caso particular dos moinhos de rodízio também pode ser classificado de Património Arqueológico Industrial. Durante séculos, seguramente desde tempos medievais, as populações construíram este tipo de engenhos para moerem milho e centeio, aproveitando desta forma a força das águas que corriam abundantemente em pequenos ribeiros e rios do concelho. A construção de um moinho de rodízio implicava um investimento avultado, ao contrário do que sucedera com outros sistemas de moagem mais simples como as mós de rebolo (a), de origem pré-histórica ou as mós manuais rotativas (b), de origem romana. Por esta razão, os moinhos tinham

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b

vários proprietários, denominados herdeiros, que os utilizavam mediante uma calendarização pré-estabelecida entre todos. O moinho não é só o pequeno edifício onde se encontravam as mós e o rodízio; é toda a estrutura que o faz funcionar, desde o açude situado a montante onde se acumulava a água, à levada que a transportava até ao interior do engenho. As alterações sócio-económicas verificadas nas últimas décadas no mundo rural tornaram obsoletas muitas das práticas tradicionais, entre elas a moagem neste tipo de moinhos. O abandono desta tradição ancestral levou à degradação e à ruína da grande maioria dos moinhos de rodízio. Apenas um número muito reduzido destes engenhos se mantém em actividade, apesar de tudo esporádica.

ACESSO

ER 333-2. Ao longo do rio Alcofra há vários acessos pedestres a partir das povoações. Consulte mapa 6 (pág. 89).

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Mó e Chamadouro

Moega

Aliviadouro

Rodízio

a) Moega b) Quelha c) Chamadouro d) Mó e) Agulha ou Aliviadouro f) Pelão ou Relão g) Cubo h) Seteira i) Rodízio de penas j) Aguilhão ou Espigão l) Urreiro

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(a partir de Boletim de OLIVEIRA., 1983)

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Moinho

Torre de Alcofra Vestígios Arqueológicos

Rio Alcofra com localização dos moínhos de rodízio

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VOUZELA PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO s í t i o s e r o t a s Nas páginas seguintes: - Planta da vila de Vouzela com delimitação do Centro Histórico. - Mapa do Concelho de Vouzela, com os vinte sítios arqueológicos cartografados. - Extractos das Cartas Militares de Portugal nos 176, 177, 187 e 188 do Serviço Cartográfico do Exército, à escala 1:25 000.

Motivo decorativo estampilhado em cerâmica, Cabeço do Couço,Crasto, Campia


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Planta da vila de Vouzela 1 - Museu Municipal; 2 - Igreja Matriz; 3 - Igreja da Misericรณrdia; 4 - Capela de S. Frei Gil; 5 - Fonte da Nogueira; 6 - Ponte ferroviaria

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Concelho de Vouzela com locais propostos a visitar

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MAPA 1 (C.M.P. nº 176) 4 - Mamoa da Malhada do Tojal Grande 15 - Torre de Cambra

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4

MAPA 2 (C.M.P. nº 177) 1 - Museu Municipal 9 - Castro de Paços de Vilharigues

16 - Torre de Vilharigues 18 - Igreja Matriz

19 - Srª do Castelo

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MAPA 3 (C.M.P. nº 177) 6 - Necrópole magalítica da Malhada de Cambarinho 86

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MAPA 4 (C.M.P. nº 177)

10 - Alto do Castro (Castro de Ribamá) 17 - Lagareta da Cruz da Ribeira

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MAPA 5 (C.M.P. nº 187)

MAPA 6 (C.M.P. nº 187)

3 - Dólmen da Lapa da Meruje

2 - Necrópole megalítica do Zibreiro 14 - Torre de Alcofra

7 - Castro do Cabeço do Couço

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MAPA 7 (C.M.P. nº 177 e 188) 5 - Necrópole magalítica de Vale D´Anta 11 - Inscrição rupestre da Estrada 90

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MAPA 8 (C.M.P. nº 177) 8 - Outeiro do Castro 12 - Inscrição rupestre de Corgas Roçadas

13 - Estrada romana / medieval

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Bibliografia ALARCÃO, Jorge de, O Domínio Romano em Portugal, Lisboa, Publicações Europa-América,1988. ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, O Românico, História da Arte em Portugal, Lisboa, Publicações Alfa,1986. ALVES, Alexandre, Igreja Matriz de Vouzela, s/l,1985. BARROCA, Mário Jorge, Em Torno da Residência Senhorial Fortificada. Quatro Torres Medievais na região de Amares, Revista de História, Porto, Centro de História da FLUP, IX, 1989, pp. 9-61. BARROCA, Mário Jorge, Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422), 3 vol., Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2000. Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Igreja Matriz de Vouzela, nº 56, s/l, DGEMN, 1949. CARVALHO, Pedro Sobral de; GOMES, Luís Filipe Coutinho; COIMBRA, Alberto M. Metelo, Casa da Orca da Malhada do Cambarinho (Vouzela, Distrito de Viseu), Estudos Pré-Históricos, Viseu, Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta, 1, 1993, pp. 97-103. D.C., Portugaliae Monumenta Historica, Diplomata et Chartae, Lisboa, 1867. D.P., Documentos Medievais Portugueses, Documentos Particulares, ed. de Rui de Azevedo, Lisboa, 1940. FIGUEIREDO, Moreira de, Subsídios para o estudo da viação romana das Beiras, Beira Alta, Viseu, Junta Distrital de Viseu, XII (1), 1953, pp. 27-63. GIRÃO, Aristides de Amorim, Antiguidades Pré-históricas de Lafões. Contribuição para o Estudo da Arqueologia de Portugal, Coimbra, 1921. INQ., Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, Lisboa, 1888-1977. JORGE, Susana Oliveira, Domesticar a Terra, Lisboa, Grádiva, 1999. LEISNER, V., Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel. Der Westen, Berlin, Walter de Gruyter, 1998.

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MARQUES, Jorge Adolfo de Meneses, Carta Arqueológica do Concelho de Vouzela, Viseu, Câmara Municipal de Vouzela, 1999. MARQUES, Jorge Adolfo de Meneses; PEDRO, Ivone, Catálogo da Exposição Património Arqueológico do Concelho de Vouzela, Viseu, Câmara Municipal de Vouzela, 1999. MARQUES, Jorge Adolfo de Meneses, Sepulturas Escavadas na Rocha na Região de Viseu, Viseu, 2000. MATTOSO, José, História de Portugal, I, Lisboa, Círculo de Leitores, 1992. OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando; PEREIRA, Benjamim, Tecnologia Tradicional Portuguesa Sistemas de Moagem, Lisboa, INIC, 1983. PEDRO, Ivone; VAZ, João L. Inês, ADOLFO, Jorge, Roteiro Arqueológico da Região de Turismo Dão-Lafões, Viseu, RTDL,1994. PEDRO, Ivone, O Castro do Cabeço do Couço, Campia, Vouzela, Actas do 3º Congresso de Arqueologia Peninsular, V, Proto - História da Península Ibérica, Porto, ADECAP, 2000, pp. 345-347. RIBEIRO, Orlando, Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, Coimbra, ed. Livraria Sá da Costa, 1987. SILVA, Armando Coelho Ferreira da, A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal, Paços de Ferreira, Câmara Municipal de Paços de Ferreira, 1986. VAZ, João L. Inês, Algumas Inscrições Rupestres da Civitas de Viseu, SAXA SCRIPTA (Inscripciones en roca) Actas del Simposio Internacional Ibero - Itálico sobre epigrafia rupestre, A Coruna, Ediciós do Castro, 1995, pp. 279-295. VAZ, João L. Inês, Saxa Scripta na Civitas de Viseu: Algumas Notas, Máthesis, Viseu, Faculdade de Letras da UCP, 4, 1995, pp. 103-115. VAZ, João L. Inês, A Civitas de Viseu - espaço e Sociedade, Coimbra, CCRC, 2 vols., 1997.

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índice Pré-história 11 Proto-história 17 Romanização 21 Idade Média 25 sítios e rotas

1 - Museu Municipal de Vouzela 39 2 - Necrópole megalítica do Zibreiro 40 3 - Dólmen da Lapa da Meruge 41 4 - Mamoa da Malhada do Tojal Grande 42 5 - Necrópole megalítica de Vale d´Anta 43 6 - Necrópole megalítica da Malhada do Cambarinho 44 7 - Castro do Cabeço do Couço 46 8 - Outeiro do Castro 48 9 - Castro de Paços de Vilharigues 49 10 - Alto do Crasto 50 11 - Inscrição rupestre de Estrada 51 12 - Inscrição rupestre de Corgas Roçadas 52 13 - Estrada romana/medieval 53 14 - Torre de Alcofra 59 15 - Torre de Cambra 61 16 - Torre de Vilharigues 63 17 - Lagareta de Cruz da Ribeira 65 18 - Igreja Matriz de Vouzela 67 19 - Senhora do Castelo 70 20 - Moinhos do rio Alcofra 73 Plantas e Mapas 79 Bibliografia 93

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