Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel MDP

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Material Digital do Professor ENSINO MÉDIO Elaborado por Vicente Castro Pereira CC BY NC 4.0 International

Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.


Memórias Póstumas de Brás Cubas em cordel Copyright 2021 © Editora Sonora. Todos os direitos reservados. 1a edição – Rio de Janeiro – 2021 Material Digital do Professor Ensino Médio Elaboração: Vicente de Castro Pereira Direção geral: Ricardo Prado Coordenação editorial: Duda Albuquerque Revisão: Sâmia Rios Diagramação: Nany Produções Gráficas Pesquisa iconográfica: Márcia Sato

Rua São Cristovão, 489 - sala 303 São Cristovão / Rio de Janeiro-RJ CEP: 20940-001

Produzido sob licença CC BY NC 4.0 International


Sumário Carta ao professor ......................................................................................4 Na ponta da língua ......................................................................................6 Proposta de atividades I Ampliando horizontes.............................................................................. 22 Proposta de atividades II Mergulhando na obra .............................................................................. 27 Aprofundamento Novos caminhos........................................................................................ 43 Referências complementares Organizando a estante............................................................................ 44 Bibliografia comentada


Carta ao professor Caro(a) professor(a), Este Manual tem como objetivo fornecer subsídios para o trabalho com a obra literária Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel, de Stélio Torquato Lima, baseado na obra de Machado de Assis. Neste material, são propostas atividades de leitura do texto literário, em perspectiva interdisciplinar, com base em propostas de abordagem que envolvem a integração de diferentes áreas do conhecimento. Todas as etapas de pré-leitura, leitura e pós-leitura atribuem aos(às) professores(as) o papel de mediadores entre os estudantes e a obra literária. Aos alunos, por sua vez, é conferido um lugar de protagonismo e autonomia na construção do conhecimento, com base no emprego de metodologias ativas e estratégias de aprendizagem criativa. Seguindo as competências e habilidades indicadas na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o trabalho com o texto literário é desenvolvido no âmbito dos diferentes campos de atuação social. Para isso, levam-se em consideração os campos da vida pessoal, de atuação na vida pública, das práticas de estudo e pesquisa, jornalístico-midiático e, sobretudo, artístico-literário. Cada uma das seções do Manual sugere atividades e apresenta informações complementares para enriquecer a experiência de leitura do texto literário. Com base em uma proposta dialógica de ensino de literatura, procura desenvolver habilidades de leitura e produção de textos, visando à formação do sujeito leitor-autor competente, capaz de interagir com o mundo e de atribuir sentido às próprias vivências. Reforçando o caráter formativo e informativo da literatura, o material procura articular a formação de leitores à elaboração de projetos de vida por meio da ampliação do repertório artístico-cultural dos estudantes. A leitura crítica da obra literária é concebida em sentido amplo e envolve o estabelecimento de relações entre textos pertencentes a esferas variadas de comunicação e a gêneros discursivos diversos. Ao mesmo tempo, a releitura de clássicos literários traz para a contemporaneidade novas possibilidades de significação para obras que permanecem atuais. Para contribuir com essa aproximação entre jovens leitores

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e obras consagradas, são propostas atividades que empregam as novas tecnologias de informação e comunicação, fundamentais para a formação de leitores inseridos na cultura digital. Valorizam-se, portanto, estratégias de leitura e produção textuais no âmbito da hipertextualidade e do multiletramento. Para a formação continuada de professores, apresentamos sequências que estimulam a criatividade e a inovação, com possibilidades de adaptação às diferentes realidades de ensino. Orientações de caminhos possíveis são apresentadas como sugestões para as atividades de leitura em sala de aula, sempre permeáveis aos diferentes perfis de grupos e às especificidades de gostos e repertórios culturais. A obra, criada com base no romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, apresenta uma versão poética, em formato de cordel, das peripécias contadas por um defunto-narrador. A vida de Brás Cubas, contada ao sabor das lembranças, transcorre no Rio de Janeiro do século XIX e mostra uma realidade diferente da contemporânea e, ao mesmo tempo, bastante familiar. A atualidade da obra pode ser justificada pelo fato de o autor ter usado a matéria histórica nacional como base para o retrato de sentimentos e situações universais vividas pelo ser humano nos mais diferentes contextos de épocas e lugares. Conforme a BNCC assinala, “no Ensino Médio, os jovens intensificam o conhecimento sobre seus

sentimentos, interesses, capacidades intelectuais e expressivas; ampliam

e aprofundam vínculos sociais e afetivos; e refletem sobre a vida e o

trabalho que gostariam de ter. Encontram-se diante de questionamentos sobre si próprios e seus projetos de vida, vivendo juventudes marcadas por contextos socioculturais diversos” (Brasil, 2018, p. 481).

Nada mais adequado, portanto, que oferecer textos literários capazes de estimular reflexões sobre a vida pessoal e rotas possíveis para os projetos de vida. Para você, professor(a), abrem-se novas trilhas para o contato sempre renovado com obras que são, a um só tempo, atuais e atemporais. Para concluir, é possível afirmar que a obra em questão inscreve-se no tema Ficção, mistério e fantasia, uma vez que ela traça um retrato da sociedade carioca nos tempos do Império a partir do ponto de vista de Brás Cubas, um morto irônico e observador que revela as relações de aparência e interesse que regem as ações humanas. Boa jornada! Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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Na ponta da língua Proposta de atividades I Antes de ler DE OLHO NA BNCC As atividades sugeridas nesta subseção contemplam as seguintes habilidades propostas pela BNCC: (EM13LGG101) Compreender e analisar processos de produção e circulação de discursos, nas diferentes linguagens, para fazer escolhas fundamentadas em função de interesses pessoais e coletivos. (EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens, levando em conta seus funcionamentos, para a compreensão e produção de textos e discursos em diversos campos de atuação social. (EM13LGG105) Analisar e experimentar diversos processos de remediação de produções multissemióticas, multimídia e transmídia, desenvolvendo diferentes modos de participação e intervenção social. (EM13LGG602) Fruir e apreciar esteticamente diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, assim como delas participar, de modo a aguçar continuamente a sensibilidade, a imaginação e a criatividade. (EM13LGG701) Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC), compreendendo seus princípios e funcionalidades, e utilizá-las de modo ético, criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes contextos. (EM13LGG704) Apropriar-se criticamente de processos de pesquisa e busca de informação, por meio de ferramentas e dos novos formatos de produção e distribuição do conhecimento na cultura de rede. (EM13LP11) Fazer curadoria de informação, tendo em vista diferentes propósitos e projetos discursivos.

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(EM13LP20) Compartilhar gostos, interesses, práticas culturais, temas/problemas/ questões que despertam maior interesse ou preocupação, respeitando e valorizando diferenças, como forma de identificar afinidades e interesses comuns, como também de organizar e/ou participar de grupos, clubes, oficinas e afins. (EM13LP30) Realizar pesquisas de diferentes tipos (bibliográfica, de campo, experimento científico, levantamento de dados etc.), usando fontes abertas e confiáveis, registrando o processo e comunicando os resultados, tendo em vista os objetivos pretendidos e demais elementos do contexto de produção, como forma de compreender como o conhecimento científico é produzido e apropriar-se dos procedimentos e dos gêneros textuais envolvidos na realização de pesquisas.

1. Memórias póstumas de Brás Cubas é a obra que inaugura o Realismo no Brasil de um modo inusitado. Ao subverter as convenções e as expectativas de realidade, Machado de Assis apresenta ao leitor uma história contada por um defunto-narrador, como fica bem explícito no trecho: Desde já informarei Ao meu prezado leitor: Não sou um autor defunto, Mas sim um defunto autor, Pois só depois que morri É que, de novo, nasci, Dessa vez como escritor.

Desse modo, a estética realista tem início, no país, com um texto situado, em grande parte, no território do fantástico. Antes de iniciar a leitura, é importante conversar sobre a obra com os estudantes, partindo, sobretudo, do próprio título. Prepare um slide com o título digitado em maiúsculas e rodeado por diversos pontos de interrogação; a cada sinal de pontuação, associe um dos questionamentos propostos a seguir: • Apesar de Memórias póstumas de Brás Cubas ser um dos livros mais famosos da literatura nacional, a leitura apresenta inúmeras especificidades que a tornam desafiadora. O trabalho aqui proposto será desenvolvido com base no contato com uma criativa adaptação do romance para o formato de poema em cordel – esse formato, longe Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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de ser uma mera simplificação facilitada da obra, é uma engenhosa versão do texto machadiano e apresenta novos desafios ao leitor contemporâneo. Por isso, vale a pena chamar atenção dos alunos – muitos dos quais travarão o primeiro contato com a narrativa a partir desta leitura – para a expressão que dá nome à obra. A que gênero discursivo pertence um livro intitulado Memórias póstumas? Enquanto o substantivo memórias evoca a reconstrução da trajetória de vida de um sujeito – geralmente em ordem cronológica, segundo a linearidade (auto)biográfica –, o adjetivo póstumas pode trazer dúvidas quanto ao significado e ao contexto de emprego. Trata-se de um primeiro enigma a ser decifrado: póstumo sugere posterioridade, posposição: uma narrativa construída após um evento, depois de um acontecimento. Procure sensibilizar a curiosidade dos alunos para o fato de que as Memórias póstumas são narradas do “outro lado do mistério”, do ponto de vista da morte, da perspectiva de um narrador morto. Converse com os alunos acerca das possíveis novidades trazidas por essa mudança de perspectiva. • Em seguida, avance um passo com a constatação de que um defunto-narrador traz inúmeras vantagens em relação a um narrador em primeira pessoa ainda vivo. Em primeiro lugar, como é tradicionalmente apontado, esse ponto de vista privilegiado confere ao narrador uma liberdade de expressão e de julgamento, uma vez que está protegido das críticas dos vivos e pode opinar sobre eles como bem entender. Ao mesmo tempo, assinale que um narrador-personagem nunca é totalmente confiável, uma vez que está sempre envolvido nos fatos apresentados e adota um ponto de vista subjetivo. Ainda assim, o narrador machadiano apresenta um olhar mais completo e totalizante, já que o fato de estar morto favorece, em segundo lugar, organizar a narrativa sobre si na sequência que preferir. No caso de Brás Cubas, a própria ordem do tempo é subvertida e, ao contrário das (auto)biografias convencionais, a história pode começar a ser contada a partir do momento da morte do narrador. Além de brincar com o tempo, o ponto de vista da morte permite a Brás Cubas ter uma visão geral da própria vida, do princípio ao fim, e contar a história na ordem em que as lembranças forem ocorrendo. • Procure anotar, com os alunos, as constatações sobre o título da obra nascidas das discussões conjuntas. Depois, ressalte o nome e o sobrenome do narrador dessas memórias póstumas. Durante a leitura, conforme o narrador estiver à vontade para contar, será possível descobrir a genealogia – verdadeira e inventada – desse cidadão brasileiro

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pertencente à aristocracia do Rio de Janeiro do século XIX. Sem antecipar fatos que serão conhecidos, prepare os estudantes para um contato com um narrador que também é pouco usual. Alerte-os para o fato de que a narrativa – embora o caráter consagrado da obra por vezes impeça de perceber – tem uma forte veia cômica e satírica, e que o protagonista não está preocupado em ser um sujeito ético ou exemplar. Brás Cubas caminha na contramão da moralidade e, movido pelos próprios interesses e por um senso egoísta de oportunidade, fala sobre si e sobre os outros com o objetivo de desnudar as relações de interesse e as relativizações de valores que regem as ações humanas. O comportamento malandro e trapaceiro de Brás Cubas, durante a maior parte da história, permite aproximá-lo de um tipo de personagem muito frequente na tradição satírica: o chamado trickster, uma espécie de anti-herói que está sempre envolvido em confusões, procurando tirar vantagens para si. Antes de começar a ler com os alunos as memórias de Brás Cubas, divida-os em pequenos grupos e proponha uma pesquisa sobre tricksters presentes no cinema e na cultura de massa. Sugerimos a seguir uma breve lista de possíveis personagens: – Loki (personagem de filmes e séries da Marvel Comics, oriundo da mitologia nórdica); – Deadpool (mercenário irreverente dos quadrinhos e do cinema); – Coringa (antagonista de Batman, cujas ações o colocam na contramão da sociedade); – Robin Hood (o célebre ladrão do folclore medieval, famoso por roubar dos ricos para entregar aos pobres); – Pica-Pau (personagem de animação criada por Walter Lantz e sempre envolvida em confusões). Comente o fato de que um anti-herói não é necessariamente um vilão, mas alguém regido pelos próprios interesses e regras, pouco preocupado com a adoção de um comportamento moralizante. Estimule a pesquisa em sites confiáveis de internet voltados para a indústria do entretenimento e proponha que cada grupo organize uma apresentação para a turma, com slides a respeito do anti-herói escolhido. Proponha a pesquisa de imagens, de trechos de filmes ou trailers disponíveis em canais de vídeo da internet e oriente a montagem de um material visualmente interessante e informativo. Entre os aspectos a serem explorados, sugira a consulta dos seguintes dados: Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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– Qual é o nome da personagem escolhida? (Sugira a inserção de ilustrações cujas características antecipem traços da personalidade trickster.) – Quando e quem criou essa personagem? (Proponha pesquisas sobre as primeiras aparições e chame atenção para possíveis mudanças de fisionomias e estilos de caracterização ao longo do tempo.) – Que características chamam atenção no comportamento dessa personagem e de que maneira ela se aproxima do arquétipo do trickster? (Sugira uma pesquisa paralela e mais ampla sobre os traços habitualmente associados aos tricksters.) – Quais são os principais rivais, interesses ou situações desafiadoras a que a personagem está ligada? (Incentive a ilustração das explicações com trechos de vídeos protagonizados pela personagem escolhida.) As apresentações poderão ser breves, mas serão muito enriquecedoras para familiarizar os estudantes com a tradição de personagens da qual Brás Cubas faz parte. Além disso, a atividade incentiva métodos de estudo e pesquisa de informações, estimula o uso de tecnologias digitais de informação e comunicação na aprendizagem, permite que os alunos protagonizem o compartilhamento de informações e o processo de aprendizagem – sob a mediação do(a) professor(a), que orientará e complementará as reflexões –, e torna possível a ampliação do repertório cultural no âmbito das Linguagens. 2. Memórias póstumas de Brás Cubas é uma obra narrada em primeira pessoa por um protagonista situado no além-túmulo. Na literatura, são diversas as obras cujas personagens, ao longo dos séculos, atravessaram as fronteiras entre a vida e a morte e tiveram experiências com o Reino dos Mortos, conforme as crenças de diferentes tradições culturais. Com o objetivo de ampliar o repertório artístico-cultural dos alunos acerca do tema, projete slides com as imagens indicadas a seguir e, com a turma ainda dividida em grupos, proponha uma breve pesquisa, em livros e/ou sites, sobre as obras propostas:

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Museu Britânico, Londres, Inglaterra Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa, Portugal

O herói troiano Eneias encontra o barqueiro Caronte no Reino dos Mortos. Ilustração de Wenceslaus Hollar (século XVII) para o poema romano Eneida, de Virgílio (séc. I a.C.).

Um nobre fidalgo chegando às Barcas do Inferno e do Paraíso na peça Auto da Barca do Inferno (1517), do dramaturgo português Gil Vicente.

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Museu do Louvre, Paris, França Museu Metropolitano de Arte, Nova York, Estados Unidos

Dante e Virgílio atravessando o rio Estige. Ilustração de Eugène Delacroix (1822) para A Divina Comédia (1321) de Dante Alighieri.

Hamlet, Horácio, Marcelo e o fantasma. Ilustração de Robert Thew e Henry Fuseli (1796) para o Ato I de Hamlet (1600), tragédia de William Shakespeare.

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Coleção particular

Scrooge e o fantasma. Ilustração de Arthur Rackham (1915) para Um Conto de Natal, de Charles Dickens (1843).

• O contato com reinos situados além da vida é um lugar-comum das tradições literárias do Oriente e do Ocidente. Na cultura ocidental, a poesia épica greco-latina apresentou vários exemplos da chamada nékuia ou catábase – a descida ao Reino do Mortos – de heróis como Odisseu – protagonista da Odisseia, de Homero – e Eneias – protagonista da Eneida, de Virgílio. Ainda na Antiguidade, a tradição da sátira menipeia ou luciânica – vertente com a qual Machado de Assis dialoga constantemente – valorizou a mistura de gêneros e estilos, o emprego da paródia, o caráter não moralizante e, sobretudo, a liberdade imaginativa que permite explorar mundos fantásticos, frequentemente localizados no limiar da vida e da morte. Ao longo da História, diferentes tradições culturais – com valores e crenças diferentes sobre a possibilidade de vida após a morte – apresentaram narrativas sobre diversos personagens nesses reinos misteriosos. Conhecer esses procedimentos artísticos antes de mergulhar na leitura das Memórias póstumas sensibiliza o leitor para o ingresso em um terreno que, embora inovador e pouco convencional, pertence a uma família de procedimentos literários ligados à exploração do mágico e do maravilhoso. Esses recursos, posteriormente renovados pelos escritores do século XX, combinam o antigo e o moderno em um elogio à liberdade criativa. Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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Reproduza as imagens com boa resolução e peça aos grupos que pesquisem os contextos de produção das obras indicadas, os enredos básicos e as relações existentes entre vida e morte em cada uma delas. Além disso, estimule a análise dos recursos não verbais e dos detalhes presentes nas ilustrações. Para auxiliar os grupos e orientá-los no compartilhamento posterior das informações, proponha as seguintes questões: – A que obra literária a ilustração escolhida se refere? (Peça aos alunos que pesquisem a época de composição, curiosidades sobre o autor, sinopse da história e características de estilo literário.) – A que episódio da obra a imagem se refere e que espécie de contato com a vida após a morte ela apresenta? (Com base na legenda e na sinopse, oriente a pesquisa do conteúdo específico a que a ilustração se refere; incentive a consulta on-line de trechos da obra escolhida – todas elas estão em domínio público – e sugira pesquisas complementares sobre as crenças na vida após a morte vigentes no período e na cultura em que a obra foi produzida.) – Que elementos narrativos e culturais são valorizados pelos recursos não verbais empregados na imagem? (Incentive a análise dos detalhes visuais presentes nas ilustrações e o estabelecimento de correspondências com os valores culturais e os fatos principais da narrativa a que estão ligados.) Com as imagens projetadas em uma tela grande, peça aos integrantes dos grupos que apresentem os dados encontrados, no formato de uma apresentação oral. É importante que os alunos sejam orientados a tomar notas, no caderno, das principais informações trazidas pelas equipes. Após o compartilhamento das descobertas entre os grupos, incentive a produção escrita de um breve ensaio analítico individual: cada estudante escolherá uma imagem – preferencialmente distinta daquela analisada pelo próprio grupo – e, de posse das anotações feitas durante as apresentações, organizará um pequeno texto informativo e analítico, contextualizando e apresentando a obra literária e a respectiva ilustração. Para favorecer a interdiscursividade, a ampliação do repertório cultural e a pesquisa auxiliada pelas tecnologias digitais, a atividade pode ser realizada em parceria com professores(as) da área de Linguagens e suas Tecnologias, integrando Língua Portuguesa, Língua Inglesa (sobretudo no caso de obras de autores anglófonos) e Artes (principalmente para a análise aprofundada dos elementos não verbais). Após a revisão do texto pelo(a) professor(a), as produções poderão ser publicadas em um site da escola ou em um blog destinado a expor os trabalhos resultantes da experiência de leitura do livro.

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3. Por fim, sugerimos a leitura conjunta, com a turma sentada confortavelmente em círculo, da obra Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel. Ela pode ser realizada na sala de aula, na biblioteca ou na sala de leitura, e diferentes alunos podem ler conjuntos de estrofes ou mesmo interpretar diferentes personagens. A adaptação do romance para poema em cordel favorece a oralidade e a imersão na história por meio do ritmo e da sonoridade. Ajuste o cronograma de leitura conforme o perfil do grupo e estimule diálogos intertextuais e interdiscursivos, comentários e compartilhamentos de impressões, e construções coletivas de análises e reflexões. Durante a leitura DE OLHO NA BNCC As atividades sugeridas nesta subseção contemplam as seguintes habilidades propostas pela BNCC: (EM13LGG102) Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos e ideologias presentes nos discursos veiculados nas diferentes mídias, ampliando suas possibilidades de explicação, interpretação e intervenção crítica da/ na realidade. (EM13LGG103) Analisar o funcionamento das linguagens, para interpretar e produzir criticamente discursos em textos de diversas semioses (visuais, verbais, sonoras, gestuais). (EM13LGG201) Utilizar as diversas linguagens (artísticas, corporais e verbais) em diferentes contextos, valorizando-as como fenômeno social, cultural, histórico, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso. (EM13LGG302) Posicionar-se criticamente diante de diversas visões de mundo presentes nos discursos em diferentes linguagens, levando em conta seus contextos de produção e de circulação. (EM13LGG402) Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de língua adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero do discurso, respeitando os usos das línguas por esse(s) interlocutor(es) e sem preconceito linguístico. (EM13LGG502) Analisar criticamente preconceitos, estereótipos e relações de poder presentes nas práticas corporais, adotando posicionamento contrário a qualquer manifestação de injustiça e desrespeito a direitos humanos e valores democráticos. (EM13LGG603) Expressar-se e atuar em processos de criação autorais individuais e coletivos nas diferentes linguagens artísticas (artes visuais, audiovisual, dança, música e teatro) e nas intersecções entre elas, recorrendo a referências estéticas e culturais, conhecimentos de naturezas diversas (artísticos, históricos, sociais e políticos) e experiências individuais e coletivas. Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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(EM13LGG701) Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC), compreendendo seus princípios e funcionalidades, e utilizá-las de modo ético, criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes contextos. (EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/escuta, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor/audiência previstos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero do discurso etc.), de forma a ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações. (EM13LP03) Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação de relações dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de paráfrases, paródias e estilizações, entre outras possibilidades. (EM13LP12) Selecionar informações, dados e argumentos em fontes confiáveis, impressas e digitais, e utilizá-los de forma referenciada, para que o texto a ser produzido tenha um nível de aprofundamento adequado (para além do senso comum) e contemple a sustentação das posições defendidas. (EM13LP15) Planejar, produzir, revisar, editar, reescrever e avaliar textos escritos e multissemióticos, considerando sua adequação às condições de produção do texto, no que diz respeito ao lugar social a ser assumido e à imagem que se pretende passar a respeito de si mesmo, ao leitor pretendido, ao veículo e mídia em que o texto ou produção cultural vai circular, ao contexto imediato e sócio-histórico mais geral, ao gênero textual em questão e suas regularidades, à variedade linguística apropriada a esse contexto e ao uso do conhecimento dos aspectos notacionais (ortografia padrão, pontuação adequada, mecanismos de concordância nominal e verbal, regência verbal etc.), sempre que o contexto o exigir. (EM13LP27) Engajar-se na busca de solução para problemas que envolvam a coletividade, denunciando o desrespeito a direitos, organizando e/ou participando de discussões, campanhas e debates, produzindo textos reivindicatórios, normativos, entre outras possibilidades, como forma de fomentar os princípios democráticos e uma atuação pautada pela ética da responsabilidade, pelo consumo consciente e pela consciência socioambiental. (EM13LP49) Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e social dos romances, a dimensão política e social de textos da literatura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.

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(EM13LP50) Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e se retroalimentam. (EM13LP54) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias - mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico -, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.

4. Enquanto realizam a leitura, procurem registrar uma lista de personagens e, no formato de um mapa conceitual, organizar os nomes em um painel semelhante a uma árvore genealógica ou a um quadro de pistas de detetive. É possível reservar uma aula para a construção coletiva de um mural na sala. Cada personagem pode ser identificada por um marcador adesivo com o nome e o sobrenome; é interessante estimular a visualização da história e pedir aos estudantes que desenhem ou pesquisem ilustrações para as personagens. Conforme a leitura for avançando, anotem e fixem, ao lado de cada uma das personagens, adjetivos que ajudem a caracterizar comportamentos, trechos de falas ou de passagens emblemáticas e setas coloridas para reforçar visualmente os vínculos que vão se formando entre os caracteres. Esse mapa poderá ajudar em etapas posteriores da análise e da recuperação e síntese de informações pós-leitura. Poderá também ser enriquecido por outros elementos verbais e não verbais, decorrentes das atividades interdisciplinares com a obra. 5. Na contemporaneidade, a experiência de leitura de livros pode ser enriquecida pelo diálogo com outras obras literárias ou com filmes e séries relacionados a temas e situações do universo do texto trabalhado. A facilidade de acesso a plataformas de streaming e a canais de vídeo da internet favorece, em associações hipertextuais, o estabelecimento de relações intertextuais e interdiscursivas com obras que utilizam diferentes linguagens. No caso de Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel, professores da área de Linguagens podem explorar produções capazes de aumentar a curiosidade e a capacidade de reflexão sobre o livro de Machado de Assis com base em referências atuais. Além dos livros, filmes e sites sugeridos na seção Novos Caminhos deste Manual, indica-se a discussão coletiva, durante a leitura, das seguintes obras de divulgação, que Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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tratam, em linguagem acessível, do fenômeno da morte sob a perspectiva científica ou filosófica: • Vendo gente morta. Episódio 5 da 1ª temporada da série Vida após a morte (EUA, 2021, dir. Ricki Stern). Para enriquecer a leitura das Memórias póstumas – dedicada ao verme da decomposição, narrada sob o ponto de vista da morte e pontuada por comentários irônicos do narrador sobre o cotidiano no além-túmulo –, é interessante assistir conjuntamente ao filme – disponível em plataformas de streaming da internet – e debatê-lo. Ele aborda, do ponto de vista científico, hipóteses sobre o que ocorre com a consciência humana no instante da morte e após a morte corporal. • Sete minutos depois da meia-noite (Inglaterra/Espanha/EUA, 2016, dir. Juan Antonio Bayona). Baseado no romance infantojuvenil de Patrik Ness, o filme combina fantasia e realidade, e apresenta uma história sobre luto e memória – temas centrais em Memórias póstumas. É interessante assistir à obra em grupo e debater os problemas enfrentados pelo protagonista adolescente e as narrativas contadas para ele, em sonho, por uma árvore gigante. Apesar das dificuldades e situações negativas da vida real, o garoto encontra suporte na imaginação. Depois de ler DE OLHO NA BNCC As atividades sugeridas nesta subseção contemplam as seguintes habilidades propostas pela BNCC: (EM13LGG301) Participar de processos de produção individual e colaborativa em diferentes linguagens (artísticas, culturais e verbais), levando em conta suas formas e seus funcionamentos, para produzir sentidos em diferentes contextos. (EM13LGG303) Debater questões polêmicas de relevância social, analisando diferentes argumentos e opiniões, para formular, negociar e sustentar posições, frente à análise de perspectivas distintas. (EM13LGG305) Mapear e criar, por meio de práticas de linguagem, possibilidades de atuação social, política, artística e cultural para enfrentar desafios contemporâneos, discutindo princípios e objetivos dessa atuação de maneira crítica, criativa, solidária e ética.

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(EM13LGG601) Apropriar-se do patrimônio artístico de diferentes tempos e lugares, compreendendo a sua diversidade, bem como os processos de legitimação das manifestações artísticas na sociedade, desenvolvendo visão crítica e histórica. (EM13LGG604) Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política e econômica e identificar o processo de construção histórica dessas práticas. (EM13LGG701) Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC), compreendendo seus princípios e funcionalidades, e utilizá-las de modo ético, criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes contextos. (EM13LP17) Elaborar roteiros para a produção de vídeos variados (vlog, videoclipe, videominuto, documentário etc.), apresentações teatrais, narrativas multimídia e transmídia, podcasts, playlists comentadas etc., para ampliar as possibilidades de produção de sentidos e engajar-se em práticas autorais e coletivas. (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica. (EM13LP47) Participar de eventos (saraus, competições orais, audições, mostras, festivais, feiras culturais e literárias, rodas e clubes de leitura, cooperativas culturais, jograis, repentes, slams etc.), inclusive para socializar obras da própria autoria (poemas, contos e suas variedades, roteiros e microrroteiros, videominutos, playlists comentadas de música etc.) e/ou interpretar obras de outros, inserindo-se nas diferentes práticas culturais de seu tempo.

6. Memórias póstumas de Brás Cubas é um texto de difícil classificação quanto a estilos de época ou gêneros textuais. Oficialmente, a obra fundadora do Realismo brasileiro pertence à categoria dos romances. A adaptação para poema em cordel amplia o universo dos gêneros trabalhados. Além da já mencionada exploração de recursos do fantástico, que subverte as convenções de realidade e verossimilhança, o texto machadiano dialoga, de maneira paródica e irônica, com múltiplas referências culturais, como se observa no trecho a seguir:

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Eu, na Suma Teológica, A de São Tomás de Aquino, Me transformei, em seguida, De um modo bem repentino. Minhas mãos (vi entre a bruma) Os fechos eram da Suma, Livro famoso e divino.

Após a leitura de Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel, proponha aos estudantes algumas reflexões e atividades de síntese e avaliação da obra: • Observem conjuntamente o painel montado conforme as indicações da Atividade 4. A vantagem desse mapa conceitual é a possibilidade de acompanhar visualmente o estilo narrativo digressivo e pouco linear de Brás Cubas. No final da obra, observa-se que o balanço de vida do narrador é repleto de negativas e de projetos frustrados. Como é possível observar, com certa dose de melancolia e desesperança, Brás Cubas parte sem deixar um legado consistente, com exceção das Memórias póstumas, escritas em algum lugar da Eternidade e do Além. É preciso sensibilidade ao discutir, com um público adolescente, uma obra de tamanha complexidade e desilusão. Por mais que o narrador oscile constantemente entre o trágico e o cômico, o emprego da ironia e da sátira produzem uma leitura sombria sobre a existência e as relações humanas. Para incentivar os projetos de vida dos estudantes e valorizar as reflexões sagazes e contundentes de Brás Cubas, proponha que cada aluno selecione um episódio da obra e redija, no formato da estrofe de um poema em cordel, um desfecho alternativo para a cena escolhida. Problematizem de que modo Brás Cubas poderia ter enfrentado os desafios e obtidos resultados possivelmente mais produtivos, bem-sucedidos ou éticos. Os alunos podem compartilhar as estrofes em uma leitura oral e, posteriormente, após as críticas e comentários dos colegas e dos(as) professores(as) envolvidos(as) na atividade, podem digitar as produções, utilizando um programa de edição de textos do computador. Em seguida, essas estrofes, contendo desfechos alternativos dos episódios, podem ser impressas e fixadas no mural de personagens, em locais adequados, unidas sob o título Os legados de Brás Cubas.

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• Após refletirem sobre as condutas e as consequências das ações da personagem principal, estimule uma jornada de autoconhecimento com o tema Legados. Para aprofundar a discussão sobre as contribuições legadas para as gerações futuras, proponha a questão: “o que você gostaria de deixar para o mundo?”. Brás Cubas não conseguiu concretizar a ideia fixa do emplastro, não teve descendentes, não alcançou sucesso profissional. Em contrapartida, estimule uma conversa espontânea sobre as heranças possíveis que cada pessoa pode deixar para o futuro do planeta. Peça aos alunos que registrem individualmente as expectativas pessoais sobre o futuro do planeta em termos ambientais, econômicos e/ou culturais, e proponha a escrita de projetos pessoais e propostas de intervenção acerca de questões que os inquietam. Em seguida, proponha que cada estudante grave um breve vídeo, utilizando aplicativos disponíveis em tablets e aparelhos celulares, apresentando essas expectativas individuais, profissionais ou afetivas em relação ao futuro. Por fim, os vídeos serão apresentados para a turma e, por meio deles, será possível estabelecer coletivamente um contraste entre os projetos e os resultados alcançados por Brás Cubas, e os sonhos e as possibilidades de concretização dos ideais dos estudantes.

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Ampliando horizontes Proposta de atividades II A obra Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel possibilita trabalhos interdisciplinares e integradores de diferentes campos do saber e áreas de conhecimento. A seguir, propomos algumas atividades que podem ser desenvolvidas conjuntamente com professores(as) de outras áreas. Além das habilidades de Linguagens e suas Tecnologias e de Língua Portuguesa, indicadas nas etapas da seção anterior e válidas também para esta, listamos a seguir as habilidades de outras áreas presentes na abordagem interdisciplinar: DE OLHO NA BNCC As atividades sugeridas nesta subseção contemplam as seguintes habilidades propostas pela BNCC: (EM13CNT201) Analisar e discutir modelos, teorias e leis propostos em diferentes épocas e culturas para comparar distintas explicações sobre o surgimento e a evolução da Vida, da Terra e do Universo com as teorias científicas aceitas atualmente. (EM13CNT303) Interpretar textos de divulgação científica que tratem de temáticas das Ciências da Natureza, disponíveis em diferentes mídias, considerando a apresentação dos dados, tanto na forma de textos como em equações, gráficos e/ou tabelas, a consistência dos argumentos e a coerência das conclusões, visando construir estratégias de seleção de fontes confiáveis de informações. (EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. (EM13CHS104) Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identificar conhecimentos, valores, crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço. (EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.

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Antes de ler

7. Como o próprio título indica, Memórias póstumas de Brás Cubas apresenta as recordações de vida de um indivíduo, com o detalhe pouco usual de que elas são contadas após a morte do narrador. É uma obra construída por meio do trabalho criativo com as categorias temporais e espaciais, o que a torna passível de uma abordagem rica por professores(as) da área de Ciências Humanas. Antes de começar a leitura da adaptação em cordel com os estudantes, é interessante comentar que, apesar de as Memórias póstumas se iniciarem atipicamente pela morte do protagonista, as várias digressões presentes na obra conduzem o leitor a diferentes etapas da vida da personagem. Em determinado momento, Brás Cubas narra a versão inventada de sua genealogia, por meio da qual a família se investia de ares de nobreza: Antes de falar de mim, Eu peço, por cortesia, Vênia ao meu bom leitor Para que, com fidalguia E sem qualquer alvoroço, E apresente, em esboço, Minha genealogia. Um certo Damião Cubas Veio a ser o fundador Da minha nobre família, Saiba o dileto leitor. Seu sobrenome altaneiro Veio de ser tanoeiro O obscuro senhor.

Ao mesmo tempo, o leitor toma contato com alguns antepassados e parentes do narrador. Previamente à leitura, é interessante estimular que cada aluno pesquise com os familiares e conte, em sala de aula, um episódio curioso ocorrido com um antepassado ou com um parente ainda vivo. Pode ser uma anedota engraçada, um caso trágico ou uma lembrança emocionante: o importante é o compartilhamento de experiências em Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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grupo, de maneira a fortalecer os vínculos entre a turma e preparar o contato com uma obra que tem a memória como um dos temas centrais. Peça aos alunos que, se possível, tragam fotografias dos familiares escolhidos e estimule o compartilhamento respeitoso das experiências. Durante a leitura

8. A atividade de pré-leitura valorizou a memória individual dos estudantes e o levantamento de narrativas familiares. Ao longo da leitura, percebe-se que o narrador mescla as recordações pessoais com acontecimentos que marcaram a história do Brasil no século XIX. O próprio projeto literário da obra ficcional de Machado de Assis na maturidade compõe, ao longo de cinco grandes romances, um painel detalhado sobre a história nacional oitocentista. Por esse motivo, o escritor é considerado um dos grandes intérpretes do Brasil, por meio do trabalho com a arte literária. Além disso, Brás Cubas narra, em um episódio repleto de ingredientes sobrenaturais, um delírio que o teria acometido às vésperas da morte: num sonho, ele teria sido levado, montado sobre um hipopótamo, a contemplar toda a história da humanidade, desde os primórdios até o fim dos tempos. Nesses momentos, o leitor é levado a refletir sobre a dimensão da memória coletiva e dos fatos impactantes para a trajetória da espécie humana. Proponha um exercício de escrita criativa, a partir do qual os estudantes refletirão sobre o próprio papel enquanto sujeitos situados historicamente. Para isso, peça que, individualmente, cada aluno desenvolva a atividade proposta a seguir: • O estudante se colocará no lugar de Brás Cubas no episódio do delírio. Em seguida, imaginará como seria empreender uma viagem a bordo de um hipopótamo voador e como seria encontrar a imponente figura mitológica de Pandora, responsável por permitir a visão da totalidade dos feitos humanos. O passo seguinte consiste em enumerar os fatos históricos considerados relevantes para o aluno, que seriam contemplados durante a revelação de Pandora. Estimule a mescla entre acontecimentos recentes – nacionais ou internacionais – e eventos históricos marcantes. Ao mesmo tempo, proponha que cada aluno imagine um futuro específico para o planeta e acrescente essa informação ao relato. Posteriormente, a primeira versão da narrativa será compartilhada com a turma e, após os comentários e sugestões dos colegas e dos(as) professores(as) envolvidos(as) na atividade, a produção será digitada com o auxílio de um programa de edição de textos do computador. Por fim, os

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textos poderão ser publicados no site da escola ou em um blog destinado à exposição dos trabalhos ligados à experiência de leitura do livro. As composições podem ser ilustradas por desenhos dos próprios alunos, retratando o voo do hipopótamo e o diálogo com Pandora. Depois de ler

9. Após ler Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel, o leitor reflete sobre situações e afetos humanos que transcendem o século XIX brasileiro e estão presentes em diversos tempos e lugares. Essa universalidade é responsável pela permanente atualidade da obra machadiana. Entretanto, o mergulho realizado por Machado de Assis na condição humana somente foi possível com um trabalho crítico e reflexivo sobre a matéria histórica nacional. Por meio da observação das contradições de seu tempo, o autor das Memórias póstumas pôde desvendar relações atemporais de aparência e interesse, como no trecho a seguir: E Virgília, inebriada, Tornou-se uma fácil presa, Perguntando-lhe: “Promete Que me fará baronesa?” Disse ele, com altivez: “Melhor! Pois serei marquês, Fazendo de ti marquesa”.

Para compreender o universo machadiano e a realidade brasileira a que as obras estão ligadas, é interessante que professores(as) da área de Ciências Humanas ampliem a experiência de leitura por meio de uma proposta de pesquisa acerca do Rio de Janeiro no tempo de Machado de Assis. Para isso, seguem algumas sugestões para trabalho com a época em que o autor viveu: • Juntamente com os alunos, assista ao documentário O Rio de Machado de Assis (Brasil, 1997, dir. Norma Bengell). Filmado com base nas referências espaciais presentes nas obras do autor, combina aspectos biográficos à relação mantida pelas personagens machadianas com o Rio de Janeiro. (Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=HThsHiOD9Bs. Acesso em: 10 jan. 2021.) Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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• Apresente aos alunos fragmentos de textos sobre a vida cotidiana no Brasil do período imperial. Uma boa fonte de consulta é o volume 2 da série de livros História da vida privada no Brasil, dirigida por Fernando A. Novais (São Paulo: Companhia de Bolso, 2019). Nesse volume, organizado por Luiz Felipe de Alencastro, são apresentados aspectos sobre o dia a dia brasileiro nos anos de 1800, com informações sobre as influências da moda europeia, as relações entre senhores e escravos, e os hábitos culturais do período. Especificamente em relação à obra de Machado de Assis, há o ensaio “Panorama do Rio de Janeiro: alguns elementos para compreender o mundo de Machado de Assis”, escrito por Luís Augusto Fischer e publicado, pela editora L&PM, nas edições integrais dos romances machadianos. Incentive pesquisas complementares em sala, utilizando dispositivos digitais conectados à internet, para levantamento de informações como: – organização da rotina diária, influência das práticas religiosas e divisão das horas do dia e das datas comemorativas segundo o calendário litúrgico; – principais refeições, hábitos alimentares e receitas culinárias populares no Rio de Janeiro oitocentista; – vestimentas e meios de transporte; – estilos musicais e formas de entretenimento e convívio social. • Em seguida, estimule a pesquisa, em livros e sites de internet, de imagens que retratem o cotidiano brasileiro oitocentista. Divida a turma em grupos e sugira a busca de charges, caricaturas, fotografias e anúncios publicitários, sobretudo das duas últimas décadas do século XIX, período que coincide com a fase madura da produção machadiana. Auxilie coletivamente na seleção e na combinação do material verbal e visual encontrado, e incentive a organização de um conjunto de informações contextuais e de ilustrações para o painel da sala, voltado à análise de personagens e episódios das Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel, conforme sugerido na Atividade 4.

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Mergulhando na obra Aprofundamento Ao chegar ao Ensino Médio, é necessário que os estudantes se aprofundem na compreensão das múltiplas linguagens e, sobretudo, da linguagem literária. Em relação à literatura, a BNCC traz as seguintes considerações: “[...] a leitura do texto literário, que ocupa o centro do trabalho no Ensino Fundamental, deve permanecer nuclear também no Ensino Médio. Por força de certa simplificação didática, as biografias de autores, as características de épocas, os resumos e outros gêneros artísticos substitutivos, como o cinema e as HQs, têm relegado o texto literário a um plano secundário do ensino. Assim, é importante não só (re)colocá-lo como ponto de partida para o trabalho com a literatura, como intensificar seu convívio com os estudantes. Como linguagem artisticamente organizada, a literatura enriquece nossa percepção e nossa visão de mundo. Mediante arranjos especiais das palavras, ela cria um universo que nos permite aumentar nossa capacidade de ver e sentir. Nesse sentido, a literatura possibilita uma ampliação da nossa visão do mundo, ajuda-nos não só a ver mais, mas a colocar em questão muito do que estamos vendo e vivenciando.” (BNCC, p. 499)

Nesta seção, desenvolvemos um trabalho de aprofundamento que, em diálogo com a formação continuada dos(as) professores(as), oferece subsídios para a abordagem do texto literário, para além daqueles que são oferecidos no paratexto ao final do Livro do Estudante.

O romance da maturidade Machado de Assis (1839-1908) ficou popularmente conhecido como o “bruxo do Cosme Velho”, apelido que abarca tanto o nome do bairro do Rio de Janeiro onde o escritor morava quanto a capacidade de manipulação quase alquímica das palavras. Mesmo sem ter empreendido grandes viagens para além dos limites da capital fluminense, o autor das Memórias póstumas de Brás Cubas – que era também um ávido leitor – soube tratar de aspectos universais da condição humana, tomando por base a matéria histórica nacional e os conflitos da realidade brasileira de seu tempo. Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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A partir da década de 1880, a produção literária machadiana passa por uma reviravolta e, a partir de um projeto de reinvenção do gênero romance em terras brasileiras, a prosa ficcional de Machado de Assis ingressa na fase da maturidade. Os cinco romances escritos entre os anos de 1880 a 1908 acompanham as transformações sociais, políticas e culturais do Brasil ao longo do século XIX. Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) inaugura a série de narrativas que, juntamente com Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), opera uma revolução nas literaturas de língua portuguesa. Na historiografia literária, Memórias póstumas de Brás Cubas é considerada a obra que dá início ao Realismo no Brasil. Ironicamente, o primeiro romance realista brasileiro ultrapassa os limites da realidade e, ingressando no território do sobrenatural, apresenta uma história contada por um defunto. Além disso, traz episódios que subvertem a verossimilhança, como o relato do delírio do protagonista, às vésperas da morte, contemplando o destino do mundo no lombo de um hipopótamo voador, em diálogo com a mitológica Pandora.

Um defunto-narrador Brás Cubas, o narrador da história, conversa com o leitor desde o “outro lado do mistério”, ou seja, para além das fronteiras da morte e da vida. Estando morto, ele pode dizer livremente o que bem entender. Esse protagonista, que se comunica a partir do undiscovered country – ou seja, do ponto de vista da morte –, está para além do tempo e das convenções sociais. Brás Cubas é um morto que narra as próprias memórias e brinca constantemente com as expectativas do leitor. Ele adota o estilo característico do monólogo autobiográfico para refletir, de modo irônico e melancólico, sobre sua trajetória de vida. Dispondo de toda a eternidade, convida o interlocutor para uma prosa ao ritmo e sabor das flutuações das lembranças.

Saltos e digressões Quanto à estrutura formal do romance, é possível afirmar que a grande estrela da obra – e uma das principais responsáveis pelas inovações promovidas por Machado – é o capítulo curto. No caso da adaptação para cordel, a divisão em estrofes tem a vantagem criativa de manter a brevidade estrutural dos capítulos originais.

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Em Memórias póstumas de Brás Cubas, a novidade está presente na própria técnica adotada pelo autor, a começar pela narração autobiográfica a partir da hora da morte. Por meio da adoção de um estilo digressivo, são inseridos comentários que, muitas vezes de natureza metalinguística, chamam a atenção intencionalmente para os processos de composição da obra. Por meio de episódios breves, digressivos e descontínuos, Machado de Assis desenvolve a técnica da descontinuidade narrativa (ou da direção arbitrária) e realiza uma mistura de estilos enquanto mantém o leitor em suspensão e o conduz por caminhos e raciocínios pouco lineares. Transitando entre o sério e o cômico, faz pausas na narração dos fatos para inserir reflexões filosóficas e comentários irônicos.

Ironia e melancolia A ironia é uma das marcas do estilo machadiano. Por meio dela, são obtidos efeitos de negação, inversão e indeterminação do sentido. Essa figura de linguagem reforça também a ambiguidade da própria sociedade brasileira do período, marcada por contradições e por relações superficiais. A todo instante, o narrador das Memórias póstumas interrompe a narrativa para tecer breves comentários irônicos, que provocam no público efeitos que oscilam entre o riso e constatações trágicas ou desesperançadas sobre a existência. Os próprios nomes das personagens ocultam motivações irônicas: basta pensar em figuras como Eugênia, cujo nome remete à boa saúde, mas que é coxa; ou em Eulália, cujo nome evoca a boa voz, mas que acaba falecendo de tuberculose. É interessante, durante a mediação de leitura, chamar a atenção para aspectos estilísticos da época e do autor, que, conforme assinalado na BNCC, “garantam a análise dos recursos linguísticos e semióticos necessária à elaboração da experiência estética pretendida” (BNCC, p. 157). Por seu estilo duplo e ambivalente, oscilante entre o cômico e o trágico, o próprio narrador das Memórias póstumas apresenta a obra – em uma das mais famosas ocorrências de metalinguagem no texto – como fruto da “pena da galhofa” – ou seja, do riso maledicente característico do estilo cômico – e da “tinta da melancolia” – isto é, de uma visão amarga e desiludida sobre a vida. Brás Cubas é um típico sujeito hipocondríaco ou melancólico, dividido entre a decepção com o mundo e a zombaria, frequentemente encontrado desde os romances ingleses do século XVIII até os decadentistas do final do século XIX. Essa categoria de personagem, valorizada por Machado de Assis, apresentaMaterial disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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-se geralmente como um indivíduo isolado e antissocial, desiludido com a humanidade e com temperamento um tanto casmurro, enfeitado pela “flor amarela” da melancolia.

O papel do leitor Falar em “conversa com o leitor”, no caso do romance machadiano, não é força de expressão. Durante a leitura de Memórias póstumas, o leitor acaba se tornando coautor, ainda que conduzido pelo movimento errante do narrador, que passeia, sem pressa e arbitrariamente, pelos capítulos e labirintos da memória. O diálogo com o leitor fica explícito nas digressões, durante as quais Brás Cubas tece comentários ligados a técnicas e artifícios ficcionais empregados na escrita do livro. Esses momentos estão repletos de referências eruditas e irônicas a textos literários, filosóficos – com grande influência de Schopenhauer –, religiosos, científicos e políticos, com frequentes provocações que desestabilizam o leitor. A ironia, portanto, é construída também por meio de relações intertextuais fundadas, sobretudo, em paródias da tradição cultural do Ocidente. Por esse motivo, a obra de Machado de Assis pressupõe um leitor cujo repertório cultural reconheça figuras de retórica e comentários ambivalentes, recursos que envolvem a ironia, a oscilação constante entre o trágico e o cômico, a erudição brincalhona do narrador e os efeitos de ambiguidade. Esse interlocutor ideal não deve ser movido nem pelo desejo de encontrar entretenimentos simples e frívolos, nem exemplos sérios de conduta moral ou edificante. Vale observar que o próprio leitor é satirizado pelo narrador e, muitas vezes, colocado em uma situação de desconforto, como se estivesse sendo colocado diante de um espelho que desnuda a anatomia de sua essência, de seus valores e de suas ideias. Participante ativo da construção de sentido da obra literária, o leitor deve abandonar, ao mergulhar na leitura, qualquer tipo de ingenuidade ou prepotência. O caráter fragmentário da obra, a relativização dos valores e a participação ativa do leitor são traços frequentemente apontados como responsáveis pela atualidade e modernidade do texto machadiano.

O trapézio das ideias Em vários desses excursos, o narrador apresenta pinceladas sobre sua visão de mundo, desenvolvendo teorias e metáforas provocadoras sobre a existência. Explicitam-se, então, princípios filosóficos e conclusões inusitadas, tais como a ideia do emplastro – o

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medicamento ou a panaceia geral, capaz de curar todos os males –, a teoria de Quincas Borba sobre Humanitas – o princípio natural guerreiro no qual o ser humano está implicado –, a teoria das janelas ou das compensações da vida, e discussões sobre a loucura, o amor e os interesses que regem as ações individuais. A filosofia do Humanitismo, desenvolvida por Quincas Borba – amigo do narrador –, consiste em uma paródia das teorias cientificistas do século XIX. Baseada em Humanitas, uma suposta substância universal, ela justifica ironicamente atitudes de supremacia e de subordinação. Note-se, no entanto, que o Humanitismo tem seus princípios gestados na mente de um louco e, portanto – como ocorre com a maior parte das digressões eruditas da obra –, não deve ser encarado com seriedade.

Mistura de estilos Em termos de estilo de época, Memórias póstumas de Brás Cubas também é uma obra desafiadora. Costuma ser inserida oficialmente no contexto da estética realista, evocando elementos oriundos da França, como os retratos sociais da Comédia Humana, de Balzac, os conflitos sociais dos romances de Stendhal ou o olhar crítico das obras de Flaubert. O próprio título remete às Memórias de além-túmulo, de François Chateaubriand. Ao mesmo tempo, Machado de Assis dialoga ironicamente com os enredos rocambolescos do Romantismo e com a tradição dos satiristas ingleses, representada, sobretudo, por autores como Swift e Sterne (do qual Machado herdou a técnica da digressão). Esta última linhagem de referências é responsável pela fina ironia e pela exploração de elementos fantásticos, uma vez que remete à tradição satírica menipeia que na Antiguidade Clássica foi praticada por autores como Sêneca e Luciano de Samósata. Essa antiga vertente – a chamada tradição luciânica – conta, inclusive, com vários recursos empregados por Machado, como a ida ao Reino dos Mortos e viagens por terras fantásticas, a quebra de fronteiras entre o real e o fantástico, a relativização de valores, as digressões e o caráter ensaístico, a paródia do discurso erudito, a análise de ideias sob diferentes prismas e a combinação de estilos (de onde advém a etimologia de sátira, ligada a satura, mistura). Por isso, em comentários metalinguísticos presentes nas Memórias póstumas, o narrador chega a questionar a classificação da obra no âmbito do gênero romance, uma vez que a filiação à sátira torna complexa a vinculação do texto nos limites exclusivos da tradição romanesca. Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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Nos bastidores da humanidade Em Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis evidencia seu talento para revelar as intenções ocultas que movem os seres humanos, os jogos de interesse e aparência que existem nas relações sociais. Por trás do discurso de um narrador por vezes antipático e narcisista, desnudam-se os vícios e as fraquezas da humanidade. Todos os comportamentos e as atitudes são submetidos ao princípio da relativização dos valores e das negociações implícitas nas disputas por poder e status social. O resultado é uma visão crua e amarga acerca da vida, que culmina na conclusão da obra, fundada em sucessivas negativas que reduzem a existência do narrador ao pó e ao Nada: ele morre sem alcançar altos cargos políticos, sem executar o projeto do emplastro – que o obcecava, nos últimos tempos, como uma ideia fixa – e sem deixar herdeiros. A própria obra é dedicada ironicamente ao verme – um agente de decomposição e supressão – que “primeiro roeu as frias carnes” do cadáver de Brás Cubas.

Um narrador volúvel O narrador-protagonista das Memórias póstumas é um sujeito de moralidade duvidosa e comportamento oscilante, móvel, escorregadio. Seus valores são flutuantes e se adaptam às necessidades e circunstâncias; para esse anti-herói, a ética e a moral estão sempre submetidas aos desejos e aos interesses. Brás Cubas é um sujeito desprovido de talento ou responsabilidade; sua sorte foi ter nascido no seio de uma família abastada da sociedade carioca, preocupada com a manutenção de títulos, cargos e posições políticas na Corte. A genealogia da personagem é carregada de elementos ficcionais, responsáveis por criar uma versão de antepassados nobres e valorosos para o narrador. Brás Cubas pode ser caracterizado, para evocar a célebre canção de Raul Seixas, como uma “metamorfose ambulante”, cuja volubilidade pode ser identificada no próprio discurso mutável e digressivo, fundado em ideias e valores que se modificam a todo instante, conforme as circunstâncias. A oscilação do ponto de vista do “defunto autor” das Memórias póstumas é reforçada pelo lugar de fala, situado no limiar entre a morte e a vida. Entretanto, essa perspectiva privilegiada, que permite ao narrador falar com liberdade de opinião e sinceridade de julgamento, não o torna um indivíduo confiável. A narração póstuma é realizada, com aparente franqueza, a partir do reino da Morte, um lugar de perpétua evanescência, onde todos os elementos se volatilizam e relativi-

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zam: o vivo e o morto, o berço e o túmulo, o ser e o não ser. O relato de Brás Cubas revela uma vida estéril, com balanço final negativo, constituída por fracassos e projetos não realizados, e por ideias cambiantes, em constante mutação. Essa perda de contornos nítidos abre caminho para a exploração de terrenos marcados pela indefinição e pela ambiguidade, como os territórios da sátira e do fantástico.

A ideia no trapézio Diversas imagens presentes na obra apontam para o estado de permanente oscilação do ponto de vista de Brás Cubas. Duas delas são o pêndulo e o trapézio, elementos simbólicos que remetem a movimentos oscilatórios e assinalam a impossibilidade de formulação de uma síntese unificadora. Sem paz, assim como a mente do defunto autor – que não encontra um ponto de descanso ou de estabilidade –, o pêndulo descreve o mais cruel dos movimentos: aquele que não alcança um repouso efetivo. Paradoxalmente, a volubilidade de Brás Cubas caminha ao lado de uma ideia fixa (materializada, ao final da vista, no projeto do emplastro que curaria todos os males), responsável indiretamente por sua morte. Na impossibilidade de construir uma síntese das próprias ideias ou de um projeto consistente de vida, Brás Cubas desenvolve uma ideia fixa e obsessiva de busca por um objeto mágico: um medicamento capaz de sintetizar a cura de todos os males. Como o próprio narrador afirma, de maneira metafórica, essa ideia pendura-se, como um prodígio circense, no trapézio da mente e opera um salto mortal. O emplastro, contudo, se revela, mais uma vez, como um projeto de impossível realização pelo qual o narrador se sacrifica inutilmente.

As personagens e a sociedade Os contrastes e as ambivalências podem ser notados na matéria social com a qual Machado de Assis opera. A realidade brasileira do século XIX também apresentava sínteses impossíveis e projetos de difícil realização, impedidos, sobretudo, pelas contradições históricas do país. O narrador-protagonista é o fruto – ou a “graciosa flor” – que brotou de uma realidade marcada por interesses e contrastes. Brás Cubas é um indivíduo moldado pelo contexto social em que nasceu, cujos valores ambivalentes aparecem refletidos e reproduzidos em suas ações. Com postura aristocrática, mostra-se muitas vezes egoísta, dissimulado, oportunista e preguiçoso, movido pela ambição do poder e da exploração. No centro do cenário histórico nacional Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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da época, encontra-se a contradição mais intensa do século XIX brasileiro: o desejo do país de acompanhar as tendências modernas e liberais, características das civilizações modernas, e a manutenção do regime arcaico do sistema escravista. A escravidão, responsável por essa paradoxal tentativa de modernização conservadora nos tempos do Império, está presente em momentos significativos das Memórias póstumas: basta lembrar que Cotrim, o cunhado do narrador, é um respeitável cidadão cuja riqueza advém do tráfico negreiro e que Prudêncio, antigo pajem do pequeno Brás, torna-se um cruel senhor de escravos após obter a liberdade. É interessante estabelecer relações entre a obra de Machado de Assis e o contexto em que ela foi produzida. Entre as estratégias de leitura indicadas na BNCC, estão aquelas que, “por um lado, permitam a compreensão dos modos de produção, circulação e recepção das obras [...] e o desvelamento dos interesses e dos conflitos que permeiam suas condições de produção [...]” (BNCC, p. 157). Pelo universo de Brás Cubas, circulam outras personagens que encarnam indivíduos típicos da sociedade brasileira do período. Em torno do protagonista, circulam figuras como a amante Virgília – filha do Conselheiro Dutra, casada com o ambicioso e supersticioso Lobo Neves –, figura feminina que ilustra tanto as hipocrisias sociais da ambição política e financeira quanto da traição conjugal. Há também a alcoviteira Dona Plácida, cujas necessidades da vida fazem com que ela relativize os valores morais para garantir a preservação de uma existência sem sentido, e a interesseira Marcela, cortesã dissimulada que foi o primeiro amor de Brás. O olhar agudo do narrador não poupa a revelação dos defeitos de nenhuma personagem, em diferentes fases ou edições da vida, incluindo membros da família, como a astuta irmã Sabina.

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Mais atividades complementares: relações dialógicas e intertextuais DE OLHO NA BNCC As atividades sugeridas nesta subseção contemplam as seguintes habilidades propostas pela BNCC: (EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens, levando em conta seus funcionamentos, para a compreensão e produção de textos e discursos em diversos campos de atuação social. (EM13LGG105) Analisar e experimentar diversos processos de remediação de produções multissemióticas, multimídia e transmídia, desenvolvendo diferentes modos de participação e intervenção social. (EM13LGG201) Utilizar as diversas linguagens (artísticas, corporais e verbais) em diferentes contextos, valorizando-as como fenômeno social, cultural, histórico, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso. (EM13LGG603) Expressar-se e atuar em processos de criação autorais individuais e coletivos nas diferentes linguagens artísticas (artes visuais, audiovisual, dança, música e teatro) e nas intersecções entre elas, recorrendo a referências estéticas e culturais, conhecimentos de naturezas diversas (artísticos, históricos, sociais e políticos) e experiências individuais e coletivas. (EM13LGG701) Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC), compreendendo seus princípios e funcionalidades, e utilizá-las de modo ético, criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes contextos. (EM13LGG703) Utilizar diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais em processos de produção coletiva, colaborativa e projetos autorais em ambientes digitais. (EM13LP12) Selecionar informações, dados e argumentos em fontes confiáveis, impressas e digitais, e utilizá-los de forma referenciada, para que o texto a ser produzido tenha um nível de aprofundamento adequado (para além do senso comum) e contemple a sustentação das posições defendidas. (EM13LP17) Elaborar roteiros para a produção de vídeos variados (vlog, videoclipe, videominuto, documentário etc.), apresentações teatrais, narrativas multimídia e transmídia, podcasts, playlists comentadas etc., para ampliar as possibilidades de produção de sentidos e engajar-se em práticas autorais e coletivas. (EM13LP27) Engajar-se na busca de solução para problemas que envolvam a coletividade, denunciando o desrespeito a direitos, organizando e/ou participando de discussões, campanhas e debates, produzindo textos reivindicatórios, normativos, Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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entre outras possibilidades, como forma de fomentar os princípios democráticos e uma atuação pautada pela ética da responsabilidade, pelo consumo consciente e pela consciência socioambiental. (EM13LP30) Realizar pesquisas de diferentes tipos (bibliográfica, de campo, experimento científico, levantamento de dados etc.), usando fontes abertas e confiáveis, registrando o processo e comunicando os resultados, tendo em vista os objetivos pretendidos e demais elementos do contexto de produção, como forma de compreender como o conhecimento científico é produzido e apropriar-se dos procedimentos e dos gêneros textuais envolvidos na realização de pesquisas. (EM13LP45) Analisar, discutir, produzir e socializar, tendo em vista temas e acontecimentos de interesse local ou global, notícias, fotodenúncias, fotorreportagens, reportagens multimidiáticas, documentários, infográficos, podcasts noticiosos, artigos de opinião, críticas da mídia, vlogs de opinião, textos de apresentação e apreciação de produções culturais (resenhas, ensaios etc.) e outros gêneros próprios das formas de expressão das culturas juvenis (vlogs e podcasts culturais, gameplay etc.), em várias mídias, vivenciando de forma significativa o papel de repórter, analista, crítico, editorialista ou articulista, leitor, vlogueiro e booktuber, entre outros. (EM13LP47) Participar de eventos (saraus, competições orais, audições, mostras, festivais, feiras culturais e literárias, rodas e clubes de leitura, cooperativas culturais, jograis, repentes, slams etc.), inclusive para socializar obras da própria autoria (poemas, contos e suas variedades, roteiros e microrroteiros, videominutos, playlists comentadas de música etc.) e/ou interpretar obras de outros, inserindo-se nas diferentes práticas culturais de seu tempo. (EM13LP50) Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e se retroalimentam. (EM13LP54) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.

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No Ensino Médio, da mesma forma que no Ensino Fundamental, a BNCC organiza o trabalho com as práticas de linguagem em cinco campos de atuação social. São eles: campo da vida pessoal, campo da vida pública, campo jornalístico-midiático, campo artístico-literário e campo das práticas de estudo e pesquisa. De acordo com essa divisão, propomos na sequência um trabalho interdiscursivo e intertextual com a obra Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel.

Campo da vida pessoal “O campo da vida pessoal pretende funcionar como espaço de articulações e sínteses das aprendizagens de outros campos postas a serviço dos projetos de vida dos estudantes. As práticas de linguagem privilegiadas nesse campo relacionam-se com a ampliação do saber sobre si, tendo em vista as condições que cercam a vida contemporânea e as condições juvenis no Brasil e no mundo. Está em questão também possibilitar vivências significativas de práticas colaborativas em situações de interação presenciais ou em ambientes digitais, inclusive por meio da articulação com outras áreas e campos, e com os projetos e escolhas pessoais dos jovens. Nessas vivências, os estudantes podem aprender procedimentos de levantamento, tratamento e divulgação de dados e informações, e a usar esses dados em produções diversas e na proposição de ações e projetos de natureza variada, exercendo protagonismo de forma contextualizada.” (BNCC, p. 502)

Brás Cubas, narrador-protagonista das Memórias póstumas, afirma ter composto a obra empregando a “tinta da melancolia”. No século XIX, o comportamento melancólico foi abordado por diferentes movimentos artísticos, desde o Romantismo até o Decadentismo. Uma das funções centrais das obras literárias é permitir ao leitor viver experiências e refletir sobre elas por meio da ficção. Na contemporaneidade, o contato com obras clássicas produzidas em outros períodos da história não apenas visa à ampliação do repertório cultural, como também permite aprender a lidar com conflitos e situações desafiadoras que acompanham a humanidade há vários séculos. Atualmente, em uma época de grande preocupação com a saúde mental dos indivíduos, é interessante traçar paralelos, por meio das artes e da historiografia, entre a melancolia do passado e a depressão do presente. Para isso, divida a turma em pequenos grupos e proponha a produção de um minidocumentário de divulgação científica sobre os impactos da melancolia e da depressão sobre a saúde mental. Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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Os alunos podem utilizar aplicativos gratuitos de gravação e edição de vídeos, disponíveis em dispositivos digitais, para montar um vídeo de até 4 minutos sobre o tema. É possível utilizar desenhos e animações, formato de telejornal ou de vlog, com cuidados para garantir qualidade de áudio e imagem. Reforce a importância de haver um recorte histórico-cultural do tema, passando pelas artes visuais e pela literatura. Como ponto de partida, indique a leitura da matéria “História da depressão: no canto da vida”, de Lúcia Monteiro (publicado pela revista SuperInteressante em 2017 e disponível em: https:// super.abril.com.br/historia/historia-da-depressaono-canto-da-vida/; acesso em: 10 jan. 2021) e do artigo “A melancolia na literatura”, do médico e escritor Moacyr Scliar (publicado no Cad. Bras. Saúde Mental, v. 1, n. 1, jan-abr. de 2009, disponível para download na internet. Após a revisão da primeira versão do texto pelo(a) professor(a) responsável e da discussão das informações entre os grupos, a produção pode ser publicada no site da escola ou em um blog destinado à experiência de leitura da obra.

Campo de atuação na vida pública “No cerne do campo de atuação na vida pública estão a ampliação da participação em diferentes instâncias da vida pública, a defesa dos direitos, o domínio básico de textos legais e a discussão e o debate de ideias, propostas e projetos. [...] Ainda no domínio das ênfases, indica-se um conjunto de habilidades que se relacionam com a análise, discussão, elaboração e desenvolvimento de propostas de ação e de projetos culturais e de intervenção social.” (BNCC, p. 502)

• Em Memórias póstumas de Brás Cubas, as alusões ao sistema escravista estão presentes em momentos significativos da obra, como na caracterização social da personagem Cotrim, cunhado do narrador, ou no episódio de Prudêncio, o antigo pajem do protagonista. Por meio desses elementos, Machado de Assis expõe as contradições sociais do período. Apesar da abolição da escravatura no Brasil, ocorrida oficialmente em 1888, as marcas do passado escravocrata ainda podem ser percebidas nas dinâmicas sociais do país. Com base na pesquisa sobre o cotidiano brasileiro oitocentista, realizada na Atividade 9, e na identificação de passagens acerca da escravidão em Memórias póstumas, proponha a produção individual de um artigo de opinião sobre as raízes do racismo no Brasil e as formas de combatê-lo na contemporaneidade. Para ampliação de repertório e estabelecimento de diálogos

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intertextuais, proponha aos alunos a leitura coletiva e o fichamento do seguinte artigo, antes da montagem do projeto de texto: STRINGUETTI, Lucas Mateus Vieira de Godoy. Opressão e escravidão no episódio do vergalho em Memórias póstumas de Brás Cubas (In Revista Vernáculo, n. 41, 1º sem. de 2018, disponível em: https://revistas. ufpr.br/vernaculo/article/view/51773 acesso em: 10 jan. 2021.). Em seguida, para estabelecer um paralelo interdiscursivo com a produção literária machadiana, aborde criticamente as Cartas a favor da escravidão, de José de Alencar, a partir das quais pode ser percebido o vínculo entre o regime escravista e os bastidores do Segundo Reinado, incluindo os condenáveis argumentos de Alencar (para isso, proponha a leitura coletiva da matéria “As controversas cartas de José de Alencar contra a abolição no Brasil”, de Isabela Barreiros, disponível em: https://aventurasnahistoria. uol.com.br/noticias/almanaque/historia-jose-de-alencar-defendeu-a-escravidao. phtml; acesso em: 10 jan. 2021). Após a revisão da primeira versão do texto pelo(a) professor(a) responsável, a produção definitiva será digitada no editor de textos do computador e publicada no site da escola ou em um blog dedicado à experiência de leitura da obra. Lembre-se de incentivar a análise das causas e consequências do racismo no Brasil com base no contexto histórico e em episódios marcantes das Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel; ao mesmo tempo, estimule a formulação de propostas concretas de intervenção para combater o problema na atualidade, passando pela defesa de uma tese bem fundamentada e pela construção de argumentos coerentes.

Campo jornalístico-midiático “Em relação ao campo jornalístico-midiático, espera-se que os jovens que chegam ao Ensino Médio sejam capazes de: compreender os fatos e circunstâncias principais relatados; perceber a impossibilidade de neutralidade absoluta no relato de fatos; adotar procedimentos básicos de checagem de veracidade de informação; identificar diferentes pontos de vista diante de questões polêmicas de relevância social; avaliar argumentos utilizados e posicionar-se em relação a eles de forma ética; identificar e denunciar discursos de ódio e que envolvam desrespeito aos Direitos Humanos; e produzir textos jornalísticos variados, tendo em vista seus contextos de produção e características dos gêneros. Eles também devem ter condições de analisar estratégias linguístico-discursivas utilizadas pelos textos publicitários e de refletir sobre necessidades e condições de consumo. Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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No Ensino Médio, enfatiza-se ainda mais a análise dos interesses que movem o campo jornalístico-midiático e do significado e das implicações do direito à comunicação e sua vinculação com o direito à informação e à liberdade de imprensa. Também estão em questão a análise da relação entre informação e opinião, com destaque para o fenômeno da pós-verdade, a consolidação do desenvolvimento de habilidades, a apropriação de mais procedimentos envolvidos nos processos de curadoria, a ampliação do contato com projetos editoriais independentes e a consciência de que uma mídia independente e plural é condição indispensável para a democracia. Aprofundam-se também as análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas. Como já destacado, as práticas que têm lugar nas redes sociais têm tratamento ampliado.” (BNCC, p. 502-503)

• A leitura das Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel propõe dois desafios simultaneamente: o contato com o universo de Machado de Assis e a experiência da literatura popular de cordel. A união do clássico e do regional permite ampliar o repertório artístico-cultural dos jovens leitores contemporâneos. Após a leitura, proponha que, individualmente, cada estudante redija uma resenha crítica sobre a obra, porém em um formato pouco convencional: em vez de construir a apreciação em prosa, por meio de parágrafos, sugira a elaboração de uma resenha em formato de cordel, para promover o compartilhamento de vivências e gostos artísticos. Para isso, é preciso elaborar previamente um projeto de texto com uma breve apresentação da obra, levantamento de aspectos positivos, formulação de pontos de vista fundamentados na contextualização histórico-cultural e argumentos para incentivar a leitura por parte de quem ainda não conhece o texto. Em seguida, empregando ritmo e sonoridade de forma lúdica e criativa, estimule a construção de pequenas estrofes para divulgação e promoção da obra. Após a revisão do texto por parte do(a) professor(a) responsável, cada estudante digitará a versão definitiva da resenha em cordel, utilizando o editor de textos do computador. Ao final, as resenhas poderão ser impressas e fixadas nos murais da escola, ou publicadas no site escolar ou em um blog destinado à experiência de leitura literária.

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Campo artístico-literário “No campo artístico-literário buscam-se a ampliação do contato e a análise mais fundamentada de manifestações culturais e artísticas em geral. Está em jogo a continuidade da formação do leitor literário e do desenvolvimento da fruição. A análise contextualizada de produções artísticas e dos textos literários, com destaque para os clássicos, intensificase no Ensino Médio. Gêneros e formas diversas de produções vinculadas à apreciação de obras artísticas e produções culturais (resenhas, vlogs e podcasts literários, culturais etc.) ou a formas de apropriação do texto literário, de produções cinematográficas e teatrais e de outras manifestações artísticas (remidiações, paródias, estilizações, videominutos,

fanfics etc.) continuam a ser considerados associados a habilidades técnicas e estéticas mais refinadas. A escrita literária, por sua vez, ainda que não seja o foco central do componente de Língua Portuguesa, também se mostra rica em possibilidades expressivas.” (BNCC, p. 503)

• Retome com os estudantes o painel de sala, cuja organização foi proposta na Atividade 4 e cuja montagem foi enriquecida nas sucessivas etapas de leitura da obra Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel. Por meio das informações colhidas na obra, do registro de análises e impressões de leitura, e da pesquisa de dados contextuais, proponha a escrita coletiva de um obituário de Brás Cubas. Com a turma dividida em grupos, transforme a sala na seção de um periódico do século XIX responsável por divulgar mortes de cidadãos do Rio de Janeiro. Cada equipe redigirá uma nota apresentando as circunstâncias de morte de Brás Cubas, a descrição do velório e do enterro do protagonista, depoimentos imaginários de personagens, elogios irônicos à carreira e à personalidade do defunto narrador. Estimule a pesquisa, em sites de internet, de obituários de pessoas famosas, com o objetivo de trabalhar a retórica elegíaca do gênero obituário, e incentive a recuperação de episódios centrais das Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel que possam enriquecer a homenagem. Após a revisão da primeira versão do texto pelo(a) professor(a) responsável, os alunos utilizarão o editor de textos do computador para redigir a versão final, que poderá ser publicada no site da escola ou em um blog reservado às experiências de leitura da obra.

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Campo das práticas de estudo e pesquisa “O campo das práticas de estudo e pesquisa mantém destaque para os gêneros e habilidades envolvidos na leitura/escuta e produção de textos de diferentes áreas do conhecimento e para as habilidades e procedimentos envolvidos no estudo. Ganham realce também as habilidades relacionadas à análise, síntese, reflexão, problematização e pesquisa: estabelecimento de recorte da questão ou problema; seleção de informações; estabelecimento das condições de coleta de dados para a realização de levantamentos; realização de pesquisas de diferentes tipos; tratamento de dados e informações; e formas de uso e socialização dos resultados e análises. Além de fazer uso competente da língua e das outras semioses, os estudantes devem ter uma atitude investigativa e criativa em relação a elas e compreender princípios e procedimentos metodológicos que orientam a produção do conhecimento sobre a língua e as linguagens e a formulação de regras.” (BNCC, p. 504)

• Proponha uma pesquisa para ampliação do repertório cultural e para compreensão do lugar ocupado por Memórias póstumas de Brás Cubas na tradição literária brasileira. Para isso, retomando o conceito de trickster – trabalhado na Atividade 1 –, peça aos alunos que estabeleçam comparações e identifiquem semelhanças e diferenças existentes entre três personagens célebres da literatura nacional: (a) Leonardinho, protagonista de Memórias de um sargento de milícias, romance de Manuel Antônio de Almeida tradicionalmente vinculado ao período romântico; (b) Brás Cubas, protagonista de Memórias póstumas de Brás Cubas, obra de Machado de Assis que inaugura o período realista no Brasil; (c) Macunaíma, protagonista da rapsódia homônima de Mário de Andrade, escritor central da primeira geração modernista. Divida a turma em pequenos grupos e oriente cada uma das equipes a pesquisar, em livros e sites de internet, os principais traços que caracterizam o perfil de cada uma dessas personagens. O levantamento de sinopses das obras e de fragmentos dos textos permitirá a identificação de características comuns, ligadas à malandragem e ao comportamento picaresco. De posse da comparação, cada um dos grupos produzirá uma história em quadrinhos que retrate o encontro das três personagens – Leonardinho, Brás Cubas e Macunaíma – para resolver um mistério. Os três protagonistas se unirão para solucionar o desaparecimento de três objetos: o uniforme de sargento de Leonardo, a receita do emplastro de Brás Cubas e a muiraquitã, o amuleto mágico de Macunaíma. Os alunos planejarão previamente a resolução do mistério e construirão, com a ajuda do(a) professor(a) de Artes, uma sequência verbo-visual para narrar a busca das personagens pelos objetos perdidos. As histórias poderão ser digitalizadas e publicadas no site da escola ou em um blog dedicado à experiência de leitura.

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Novos caminhos Referências complementares LIVROS AGUIAR, Luiz Antonio. Almanaque Machado de Assis. Rio de Janeiro: Record, 2008. • Em formato descontraído, a obra traz informações e curiosidades sobre a vida, a obra e a época do criador de Brás Cubas, com fotos, listas e mapas instigantes. GLEDSON, John (organizador). 50 contos de Machado de Assis. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. • A antologia traz uma amostra representativa das narrativas curtas de Machado de Assis e oferece um panorama multifacetado do universo literário do escritor. FILMES A noiva cadáver. Direção: Tim Burton e Mike Johnson (EUA, 2005). • A animação é ambientada em uma aldeia europeia do século XIX e, com traços de romance gótico, apresenta a jornada de personagens pela Terra dos Mortos. Soul. Direção: Pete Docter (EUA, 2020). • O protagonista desta animação da Pixar precisa lidar com a vida após a morte e com questões existenciais ligadas à própria trajetória de vida. Memórias póstumas de Brás Cubas. Direção: André Klotzel (Brasil, 2001). • Baseado na obra de Machado de Assis, o filme apresenta a história do defunto narrador que, a partir da eternidade, recorda os fatos mais importantes de sua vida. SITE www.machadodeassis.net • Por meio de hipertextos, o site permite a leitura on-line e gratuita de contos e romances de Machado de Assis, incluindo links de acesso a notas explicativas sobre as diversas alusões e referências presentes nos textos machadianos. Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International). Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.

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Organizando a estante Bibliografia comentada BOSI, Alfredo. Machado de Assis. São Paulo: Publifolha, 2002. (Coleção Folha Explica.) • Apresentação panorâmica da vida e da obra de Machado de Assis, a obra constitui um guia introdutório e acessível à produção do Bruxo do Cosme Velho. BOSI, Alfredo. Brás Cubas em três versões. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. • A obra apresenta três ensaios independentes sobre a obra e o estilo de Machado de Assis, trazendo novos subsídios para a abordagem do romance machadiano. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. • Documento que regulamenta as aprendizagens essenciais que devem ser trabalhadas em todos os segmentos da Educação Básica, de modo a garantir o desenvolvimento pleno de todos os estudantes. CANDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. In: Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995. p. 17-39. • Em caráter ensaístico, o autor apresenta considerações sobre o “escritor subterrâneo” que revela os conflitos humanos essenciais por meio da fina ironia. DIXON, Paul. O chocalho de Brás Cubas: uma leitura das Memórias Póstumas. São Paulo: Edusp/ Nankin, 2009. • O autor se concentra nas questões estéticas, poéticas e narratológicas de Memórias póstumas de Brás Cubas, partindo da recepção do texto como obra de arte. FACIOLI, Valentim. Um defunto estrambótico – análise e interpretação das Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Edusp/ Nankin, 2008. • A obra oferece uma leitura aprofundada e contextualizada do romance, relacionando-o ao contexto de época, ao estilo do autor e à técnica narrativa.

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FAORO, Raymundo. Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio. São Paulo: Nacional, 1974. • Com base no estudo do reflexo das estruturas oligárquicas do Segundo Império nas tramas machadianas, a obra traça paralelos entre história e literatura nacionais. MIGUEL PEREIRA, Lúcia. Prosa de ficção: 1870-1920. Belo Horizonte/São Paulo: Edusp/ Itatiaia, 1988. • A autora traça um painel crítico da produção ficcional em prosa do Brasil oitocentista, com um capítulo dedicado à contextualização da obra machadiana. MIGUEL PEREIRA, Lúcia. Machado de Assis: estudo crítico e biográfico. Belo Horizonte/ São Paulo: Edusp/Itatiaia, 1988. • Ao acompanhar os principais fatos da vida do criador de Memórias póstumas de Brás Cubas, a autora desenvolve um estudo crítico da obra machadiana. OLIVER, Élide Valarini. Variações sob a mesma luz: Machado de Assis repensado. São Paulo: Edusp, 2012. • A obra ilumina abordagens possíveis da produção de Machado de Assis, sobretudo o vínculo do autor com a tradição satírica. SÁ REGO, Enylton. O calundu e a panaceia: Machado de Assis, a sátira menipeia e a tradição luciânica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989. • O livro recupera a forte relação de Machado de Assis com a antiga tradição ligada à presença do fantástico, do digressivo e do satírico na literatura. SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades, 1977. • A obra, responsável por uma reviravolta na crítica machadiana, reflete, a partir da literatura, sobre a convivência paradoxal entre escravismo e liberalismo no Brasil. SCHWARZ, Roberto. Machado de Assis: um mestre na periferia do capitalismo. São Paulo: Duas Cidades, 1990. • O autor investiga a força e a originalidade do romance machadiano com base no estudo da configuração da sociedade brasileira do século XIX.

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