Dez dias no manicômio MDP

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DEZ DIAS NO MANICÔMIO de NELLIE BLY Material digital do professor Julio Silveira

Letra e Imagem


Sumário

Carta aos professores

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Atividade I Tema 1 Tema 2 Tema 3

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Atividade II Tema 1

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Tema 2

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Tema 3

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Aprofundamento

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A autora, a obra e seu contexto

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Nellie Bly e o “projeto de vida”

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O gênero “Relato”

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Sugestões de referências complementares

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Bibliografia comentada

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Carta aos professores

Cara educadora, caro educador,

é com prazer que trazemos até vocês este manual do professor que irá estabelecer pontos de contato com o gênero literário a ser estudado e trazer informações relevantes e sugestões para o trabalho em sala de aula. Acreditamos que ler é um hábito que deve ser constantemente praticado. A leitura abre fronteiras e é um verdadeiro passaporte para desbravar novos mundos, novos tempos e novas tecnologias. Bamberger entende que a leitura “descobre também o caminho para a porção mais íntima da alma humana, passando a conhecer melhor a si mesma e aos outros.” (Bamberger, 1987, p. 29).

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Sabemos que nesta etapa do Ensino Médio os estudantes estão muito preocupados com a inserção no mercado de trabalho e cheios de tarefas a serem cumpridas no colégio. No entanto, o livro Dez dias no manicômio traz um tema de interesse atual, ainda que relatado em 1887, como o debate sobre saúde mental, que aliás foi tema da Redação do ENEM 2020: “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Sendo assim, convidamos você, educador, a conhecer este livro como ponto de partida para promover o hábito da leitura através desta narrativa que chama a atenção do aluno tanto pelo tema quanto pela autora. Aos dezesseis anos de idade, Nellie Bly traçou seu projeto de vida. Em uma época, meados do século 19, onde as mulheres mal tinham o direito de se expressar, Bly tornou-se jornalista, e não só: com suas


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reportagens ousadas conseguiu deixar o mundo um pouco mais justo para todos. Seu primeiro desafio, aos vinte e três anos, foi o de investigar os maus-tratos em um hospital psiquiátrico feminino de Nova York. Para isso ela foi além: fez-se passar por doente mental para ser internada, sofreu abusos e sadismos, e saiu para contar à opinião pública como o segmento mais indefeso da sociedade era tratado.

Boa viagem e bom trabalho na sala de aula!

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Os editores


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PROPO STAS DE AT IVIDADE I

ATIVIDADE I TEMA 1

As diversas perspectivas do gênero “relato” HABILIDADES BNCC EM13LP30, EM13LP49 e EM13LP46 ATIVIDADE DE PRÉ-LEITURA

OBJETIVO Capacitar os alunos a entender o gênero relato e suas peculiaridades, desenvolver a capacidade de inferência e a produção textual. JUSTIFICATIVA Em tempos em superexposição — geralmente voluntária — da individualidade por meio de redes sociais é igualmente virótica a disseminação de conceitos curtos e superficiais em posts e mensagens. Esse processo dá vazão ao preconceito e favorece à formação de estereótipos e julgamentos sumários (os “cancelamentos”). O ambiente escolar pode apresentar um contraponto ao ambiente reducionista das redes, apresentando-se como o espaço onde os jovens podem experimentar, de forma mediada e intencional, as interações com o outro, com o mundo, e vislumbrar, na valorização da diversidade, oportunidades de crescimento para seu presente e futuro.

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Ao familiarizarmos os alunos com o gênero relato e suas características, estaremos promovendo uma leitura mais consciente das “informações” que os cercam bem como os capacitam a expressar melhor o mundo que os rodeia.


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METODOLOGIA Num momento prévio à leitura da obra em questão, se tem uma boa oportunidade de mostrar aos alunos como falamos, ouvimos e escrevemos relatos em diversas situações e em diversas fontes, seja por meio de alguém próximo, como familiares ou amigos, ou através de jornais, revistas, telefone, televisão, rádio, podcasts, mídias sociais, etc. O fato é que os relatos estão muito presentes nas nossas vidas. Pode ser que os alunos já tenham aprendido as características e elementos estruturais de um relato mas, mesmo que não, propomos que o professor, inicialmente, teste a capacidade de inferência dos estudantes antes de defini-lo. Por fim, eles deverão entender que o relato possui os mesmos elementos do texto narrativo, com a peculiaridade do tempo verbal que poder ser no presente ou, mais comumente, no pretérito, seja o passado recente ou longínquo. Outra característica que também pode ser explorada é quanto à adequação dos tipos de leitores, podendo ser um leitor jovem, mais velho, com maior conhecimento, etc. Quando falamos do gênero relato, falamos sobre buscar conhecimento através do outro, seja por meio histórias de pessoas notórias ou não, por meio da vivência de especialistas em determinado assunto, para ouvir sobre experiências de viagens, sobre uma inspiração de vida, etc. Os alunos com certeza já ouviram algum tipo de relato e poderão contribuir com muitos exemplos em sala de aula. O título também já diz muito sobre o assunto a ser tratado. É importante ouvir as hipóteses dos alunos, que permitem avaliar seus conhecimentos prévios sobre o tema manicômio, sendo uma boa maneira também de despertar a curiosidade deles. A história de Nellie Bly, apesar de trazer um tema tão denso, como a vida em um manicômio do século 19, também é importante para aumentar o debate sobre saúde mental. Especialmente após as vivências de um período de pandemia, é importante falar sobre o assunto, que foi inclusive tema da redação do ENEM 2020: ‘O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira’.

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Outra curiosidade que pode despertar o interesse sobre o livro é o fato de que a autora, Nellie Bly, era então uma jovem jornalista de 23 anos, e para ter seus textos publicados utilizava um pseudônimo. O nome dela era, na verdade, Elizabeth Cochrane Seaman. Essa prática, de usar outros nomes era muito comum entre as escritoras, porque era considerado impróprio mulheres que expressassem suas ideias, e muito mais em redações de jornais. Utilizava-se na época um nome pejorativo para aquelas que se atreviam, eram as bluestockings, ou meias-azuis. Apesar do livro ter sido escrito há tanto tempo, com certeza tudo o que foi mencionado irá despertar a curiosidade e a atenção dos alunos e alunas.


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HABILIDADES

EM13LP30 Realizar pesquisas de diferentes tipos (bibliográfica, de campo, experimento científico, levantamento de dados etc.), usando fontes abertas e confiáveis, registrando o processo e comunicando os resultados, tendo em vista os objetivos pretendidos e demais elementos do contexto de produção, como forma de compreender como o conhecimento científico é produzido e apropriar-se dos procedimentos e dos gêneros textuais envolvidos na realização de pesquisas. EM13LP49 Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e social dos romances, a dimensão política e social de textos da literatura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.

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EM13LP46 Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica


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ATIVIDADE I TEMA 2

O relato em contextos HABILIDADES BNCC EM13LP10, EM13LP412, EM13LP30, EM13LP32, EML13LP33 e EM13LGG401 ATIVIDADE DE LEITURA

OBJETIVO Capacitar os alunos e alunas a analisarem os textos retirando deles características essenciais para a compreensão da sua essência e interagir com as ideias expostas pelo conteúdo. JUSTIFICATIVA Atualmente, fala-se muito de literacia, como sendo a capacidade de ler, de escrever, de compreender e interpretar. Pode ser entendida também como uma forma de adquirir conhecimentos, desenvolver as próprias potencialidades e participar ativamente na sociedade. Sendo assim, o importante é que este livro permita aos alunos e alunas ampliar os horizontes, aumentando a proficiência na escrita através da materialização textual de uma vivência, permitindo também que reflitam sobre assuntos da vida.

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Dez dias no manicômio poderá trazer aos estudantes muito material para pensar e discutir, podendo ser a leitura realizada individualmente ou em grupo, em casa ou em sala de aula. O importante é que troquem ideias e expressem opiniões sobre a época, os acontecimentos, as reflexões pessoais, etc.


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METODOLOGIA A seguir, propomos atividades que poderão auxiliar na contextualização do livro e mostrar algumas características do gênero relato. Caráter descritivo e veracidade Logo no início, capítulo I, Nellie Bly escreve assim: Em 22 de setembro fui consultada pelo The World se poderia me internar em um dos manicômios em Nova York com o objetivo de escrever uma narrativa clara e sem floreios sobre o tratamento dos pacientes, os métodos da direção etc.

Quando a autora coloca que deverá escrever uma “narrativa clara e sem floreios” ao que estará se referindo? Podemos dizer que já é um indício de que vem por aí um relato. Mas destacamos também essa outra parte do primeiro capítulo: Deveria narrar fielmente as experiências pelas quais passasse, e quando tivesse transposto os muros do asilo, descrever seu funcionamento interno, que era sempre tão eficientemente ocultado do conhecimento do público, tanto pelas enfermeiras de touca branca quanto por ferrolhos e trancas. “Não lhe estamos pedindo para ir com o propósito de fazer revelações sensacionalistas. Escreva sobre o que encontrar por lá, seja bom ou mau; elogie ou acuse como achar melhor e diga a verdade o tempo todo.

Discuta com os alunos o que eles entenderam dos trechos: “uma narrativa clara”, “sem floreios”, “narrar fielmente as experiências pelas quais passasse” e “diga a verdade o tempo todo”. Outro ponto que pode ser discutido é quando o editor coloca que ela deve dizer “a verdade o tempo todo”. Peça para que eles comparem com o trecho abaixo retirado de uma parte da reportagem “‘Discoporto’: como relatos de eventos sobrenaturais levaram cidade brasileira a criar aeroporto para disco voador”, do site da BBC News Brasil (que pode ser acessado neste link): O jornalista Genito Ribeiro dos Santos, de 47 anos, também relata ter avistado objetos não identificados no céu de Barra do Garças.

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Eu era totalmente cético em relação a isso, até ver pela primeira vez. Fui surpreendido quando fui fazer uma gravação na Serra do Roncador, aqui na cidade, e uma luz veio para cima do carro em que eu estava com outros profissionais. Por trás da luz, que mudava de cor a todo instante, havia algo sólido e brilhoso. Esse objeto perseguiu o nosso veículo por, mais ou menos, três minutos”… Quando descemos a serra e retornamos à cidade, estávamos completamente espantados. As pessoas pensavam que tínhamos usado algum tipo de droga, mas nunca consumimos essas coisas. O que vimos era algo muito real, que ficou a, mais ou menos, 100 metros de distância do nosso carro, …


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Há aqui a oportunidade de se debater se os relatos pessoais devem sempre falar a verdade ou se a verdade deve ser entendida como uma vivência pessoal. No caso da reportagem, mesmo que não se acredite em disco voador, ainda assim estamos diante de um relato de alguém que alega ter visto um disco voador. Tempo Verbal Com relação ao tempo verbal, a autora, e os tradutores assim o mantiveram, irá recorrer aos verbos no tempo pretérito na maior parte do texto, no entanto, há ocasiões em que se utiliza do presente. Como os alunos já devem estar familiarizados com os verbos e suas conjugações, propomos que eles analisem os momentos em que é utilizado o verbo no tempo presente, e por qual motivo isso se apresenta. Veja o exemplo do capítulo III: Enquanto se aproximava a noite, a senhora Stanard veio até mim e disse: — O que há de errado com você? Tem alguma tristeza ou problema? — Não — eu disse, quase surpreendida com a sugestão. — Por quê? — Ah, porque... — disse ela de um jeito feminino — posso ver isso em seu rosto. Conta a história de uma grande dificuldade.

Por dedução, eles podem chegar à conclusão de que o presente é utilizado quando a narradora revive psicologicamente os fatos ocorridos e o pretérito, na mesma frase, utilizado para explicar sentimentos vividos na época. Aliás, uma característica marcante do livro, e que pode ser ressaltada pelo professor, é que o leitor se depara o tempo todo com as emoções e sentimentos expressos pelo narrador. Contexto histórico-temporal Pode ser que a essa altura os alunos já saibam que a narrativa foi escrita nos Estados Unidos do século 19, em outro contexto histórico-temporal, e de que a história narrada ocorreu em um passado distante, seja pela descrição de alguma característica de época presente no texto, como roupas, lugares, meios de transportes, etc, ou pela ausência de alguma característica dos tempos atuais, como televisão, celulares, automóveis, entre outros. Um exemplo muito conhecido de relato histórico é a carta que o escrivão Pero Vaz de Caminha enviou a D. Manuel I, rei de Portugal, em 1500.

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Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que — para o bem contar e falar — o saiba pior que todos fazer. Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por


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certo que, para aformosear nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu.

Pelo trecho acima pode-se ter uma ideia da época na qual se fala, além de poderem identificar algumas das pessoas presentes. Veja também uma parte do capítulo VII, onde se pode deduzir a época da narrativa. Cobri o rosto com o xale e me afundei agradecida na parte de trás da carruagem.

Pelo conhecimento dos estudantes sobre roupas e meios de locomoção, será que é possível que as jovens atualmente nos Estados Unidos usem xales e andem de carruagem? De posse dessas informações, os leitores já podem compreender os aspectos do texto narrativo. Aqui, o professor pode propor dividir a turma em grupos e pedir que cada grupo identifique os trechos do livro que retratam essa época distante. Isso pode ser um importante exercício para que os estudantes entendam o relato como uma importante fonte de pesquisa, onde se pode deduzir o tempo em que foi escrito, o lugar, as pessoas, os costumes, etc. Campo semântico Agora, vamos propor uma investigação sobre o campo semântico das seguintes palavras: MANICÔMIO, ASILO, SANATÓRIO, HOSPÍCIO, PINEL e HOSPITAL PSIQUIÁTRICO . Como atividade, peça aos alunos e alunas para realizarem individualmente ou em grupo uma pesquisa no dicionário, sites, livros ou em qualquer outra fonte e verificar se são palavras diferentes para o mesmo significado ou se entre elas há alguma diferença. Isso poderá ajudá-los a descobrir que algumas se referem à mesma coisa e que outras caíram em desuso, e que pelo tempo e pelas mudanças sociais ocorridas uma delas é mais utilizada atualmente. A língua é a expressão da sociedade de uma época, portanto conforme os hábitos e costumes dessa sociedade mudam, ela também irá mudar.

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Com a pesquisa já realizada, é interessante promover um debate em sala de aula para que analisem tanto as transformações de significados das palavras, o que poderá enriquecer os conhecimentos sobre semântica, mas também propor que eles discutam sobre como as palavras podem estar imbuídas de preconceito. Peça também que os estudantes deem exemplos de palavras ou termos que antes eram utilizados e que hoje deixaram de ser. Essa pesquisa pode,


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inclusive, ser realizada dentro da casa de cada um, onde podem perguntar aos pais, avós, familiares se lembram de alguma palavra que costumavam usar. Muitos jovens costumam estranhar palavras que são faladas pelos mais velhos.

HABILIDADES EM13LP10 Analisar o fenômeno da variação linguística, em seus diferentes níveis (variações fonético-fonológica, lexical, sintática, semântica e estilístico-pragmática) e em suas diferentes dimensões (regional, histórica, social, situacional, ocupacional, etária etc.), de forma a ampliar a compreensão sobre a natureza viva e dinâmica da língua e sobre o fenômeno da constituição de variedades linguísticas de prestígio e estigmatizadas, e a fundamentar o respeito às variedades linguísticas e o combate a preconceitos linguísticos. EM13LP12 Selecionar informações, dados e argumentos em fontes confiáveis, impressas e digitais, e utilizá-los de forma referenciada, para que o texto a ser produzido tenha um nível de aprofundamento adequado (para além do senso comum) e contemple a sustentação das posições defendidas. EM13LP30 Realizar pesquisas de diferentes tipos (bibliográfica, de campo, experimento científico, levantamento de dados etc.), usando fontes abertas e confiáveis, registrando o processo e comunicando os resultados, tendo em vista os objetivos pretendidos e demais elementos do contexto de produção, como forma de compreender como o conhecimento científico é produzido e apropriar-se dos procedimentos e dos gêneros textuais envolvidos na realização de pesquisas. EM13LP32 Selecionar informações e dados necessários para uma dada pesquisa (sem excedê-los) em diferentes fontes (orais, impressas, digitais etc.) e comparar autonomamente esses conteúdos, levando em conta seus contextos de produção, referências e índices de confiabilidade, e percebendo coincidências, complementaridades, contradições, erros ou imprecisões conceituais e de dados, de forma a compreender e posicionar-se criticamente sobre esses conteúdos e estabelecer recortes precisos.

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EM13LP33 Selecionar, elaborar e utilizar instrumentos de coleta de dados e informações (questionários, enquetes, mapeamentos, opinários) e de tratamento e análise dos conteúdos obtidos, que atendam adequadamente a diferentes objetivos de pesquisa.


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EM13LP34 Produzir textos para a divulgação do conhecimento e de resultados de levantamentos e pesquisas – texto monográfico, ensaio, artigo de divulgação científica, verbete de enciclopédia (colaborativa ou não), infográfico (estático ou animado), relato de experimento, relatório, relatório multimidiático de campo, reportagem científica, podcast ou vlog científico, apresentações orais, seminários, comunicações em mesas redondas, mapas dinâmicos etc. –, considerando o contexto de produção e utilizando os conhecimentos sobre os gêneros de divulgação científica, de forma a engajar-se em processos significativos de socialização e divulgação do conhecimento. EM13LGG401 Analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.


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ATIVIDADE I TEMA 3

Preconceito linguístico HABILIDADES BNCC EM13LP10, EM13LP401, EM13LP32 ATIVIDADE DE PÓS LEITURA

Vamos explorar as variedades linguísticas em sua dimensão histórica e situacional, compreendendo-as como fenômeno geopolítico e cultural, ampliando a compreensão sobre a natureza viva e dinâmica da língua, e a fundamentar o respeito à diversidade no combate ao preconceito linguístico. OBJETIVO Sensibilizar o educando para o fenômeno da variação linguística, em especial em sua dimensão social, de forma a ampliar sua compreensão sobre a estigmatização da linguagem na manutenção de formas de desigualdade e preconceito, desnaturalizando e problematizando estas, e propondo ações que promovam o respeito às diferenças e às escolhas individuais. Capacitar alunas e alunos a compreender e posicionar-se criticamente diante de diversas visões de mundo, levando em conta seus contextos de produção e de circulação e a debater questões polêmicas de relevância social, analisando diferentes argumentos e opiniões manifestados, para negociar e sustentar posições, formular propostas, que levem em conta o bem comum e os Direitos Humanos. Capacitar alunas e alunos a analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso. JUSTIFICATIVA

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O desenho de um “projeto de vida” de um jovem é em síntese uma tentativa de responder às questões “quem eu sou” e “quem eu quero ser”. Trata-se, portanto, da definição de uma identidade, nem tanto a individual, mas a que lançará esse jovem aos processos de incorporação e internalização de valores e papeis e à teia de relações que configura o processo de socialização. A afirmação de sua identidade passa portanto pelos vínculos culturais a um determinado grupo e, por extensão, à elaboração e rejeição do “outro”, de quem não está no grupo. A constituição de um repertório cultural próprio, incluindo variações da linguagem (gírias etc), ainda que seja instrumental para a afirmação (ou até a conquista de território) de certo grupo, pode contribuir, inversamente para seu alijamento, quando, por exemplo, a variedade


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linguística desse grupo é referida e depreciativamente comparada com a variação de prestígio (ou a “norma culta”) em expressões de preconceito. O “preconceito linguístico” torna-se então mais uma forma de invalidação de pessoas por sua origem, posição social ou “cor”. Não obstante toda a diversidade do imenso território brasileiro, aqueles que não se expressam com a variedade linguística de prestígio, isto é, a fala das zonas centrais do Rio ou São Paulo, correm o risco de terem sua fala taxada como “errada” e sua mensagem, invalidada. Aprender a viver em sociedade significa, então, submeter-se a processos de socialização, ou seja, processos de incorporação e internalização de valores, papéis e identidades. É preciso intensificar o desenvolvimento de habilidades que possibilitem o trato com o diverso e o debate de ideias. Tal desenvolvimento deve ser pautado pelo respeito, pela ética e pela rejeição aos discursos de ódio. O grande desafio é desenvolver a capacidade dos estudantes de estabelecer diálogos entre indivíduos, grupos sociais e cidadãos de diversas nacionalidades, saberes e culturas distintas. Nos capítulos VIII e XIV, Nellie Bly recorda de dois episódios ocorridos no manicômio onde duas mulheres por não saberem falar inglês, foram consideradas loucas, sem chance de se defender, e ainda tratadas com escárnio, desprezo e falta de empatia. Há uma francesa confinada na Ala 6, ou havia durante a minha estada, que eu acredito ser perfeitamente sã. Eu a observei e conversei com ela todos os dias, com exceção dos três últimos, e não consegui encontrar nela qualquer alucinação ou mania. Seu nome é Josephine Despreau, se for assim mesmo que se escreve, e seu marido e todos os seus amigos estão na França. Josephine sentia profundamente a situação em que estava. Seus lábios tremiam e ela começava a chorar quando falava de sua condição de desamparo. — Como veio parar aqui?— perguntei uma vez. — Um dia, enquanto tentava tomar o café da manhã, fiquei profundamente doente, e dois policiais foram chamados pela mulher da casa em que eu morava e fui levada para a delegacia. Não consegui entender os procedimentos que estavam aplicando e eles prestaram pouca atenção à minha história. As coisas neste país eram novas para mim e, antes que eu percebesse, fui trancada como louca neste asilo. Quando tinha acabado de chegar, chorei porque estava aqui sem esperança de libertação e, por chorar, a senhorita Grady e suas assistentes me estrangularam até machucar minha garganta, que está dolorida desde então.

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Uma linda jovem polonesa falava tão pouco inglês que eu não conseguia entender sua história, a não ser quando contada pelas enfermeiras. Disseram que seu nome era Sarah Fishbaum e que o marido a internou ali porque ela gostava de outros homens além dele.

Havia no tratamento daqueles profissionais atitudes e comportamentos


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discriminatórios, em virtude das origens das mulheres, resultando em um verdadeiro comportamento xenófobo devido às origens linguísticas. Entender que existem diferenças linguísticas entre povos e até dentro do mesmo território, e respeitá-las, é um importante passo na redução das desigualdades sociais. A linguagem de um determinado indivíduo ou de um grupo social ou étnico não pode ser empregada para desmerecê-los e reforçar posições hierárquicas opressivas. Não são raros também os casos de intolerância dentro do mesmo país, devido a regiões diferentes, como, por exemplo, o caso dos nordestinos que migram para o sudeste do Brasil. Entre os países de língua portuguesa, encontram-se também muitas diferenças, como a de vocabulário, a fonética, a sintaxe, etc. Isso é normal, haja visto que a língua não é algo estático. No Brasil, por exemplo, o vocabulário foi acrescido de palavras de diferentes origens, como indígena, africana, árabe, francesa, inglesa, etc. De tempos em tempos, novas palavras surgem e são registradas e passam a fazer parte do vocabulário. No site da Academia Brasileira de Letras é possível consultá-las (neste link). Entender que existem diferenças linguísticas entre os povos e saber respeitá-las e não, ao contrário, usar essas diferenças para estigmatizar ou tornar alguém inferior e reforçar posições hierárquicas opressoras, é um importante passo para combater as desigualdades sociais e contribuir com uma sociedade mais justa e igualitária. METODOLOGIA Após a leitura dos capítulos VIII e XIV, direcione a conversa sobre as diferenças linguísticas existentes entre os povos e mesmo dentro de um determinado espaço geográfico. Indague se mesmo dentro da região onde moram existem diferenças de idiomas, diferentes sotaques, gírias, ou até mesmo códigos corporais. E ainda se algum dos alunos e alunas conhecem algum caso de alguém que já foi alvo de preconceito por ser de outro país ou região, por falar ou agir de modo diferente do seu. Pode-se também falar sobre o processo migratório e como as barreiras linguísticas trazem dificuldades para os imigrantes. Considere que até mesmo países com o mesmo idioma, como o português, podem trazer diferenças entre si, e ainda sim o imigrante ser alvo de preconceito linguístico.

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Após a conversa, divida a turma em grupos de quatro ou cinco alunos, e peça que produzam uma apresentação dramatizada onde haja um conflito


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entre linguagens diferentes (regionalismos; emprego de gírias em oposição ao registro formal; linguagem autoritárias em oposição à linguagem familiar; contraste entre a fala de diferentes gerações etc). Entre os conflitos podem ser demonstradas situações de repressão e preconceito ou de humor, como confusões geradas por homofonias e ambiguidades.

HABILIDADES EM13LP10 Analisar o fenômeno da variação linguística, em seus diferentes níveis (variações fonético-fonológica, lexical, sintática, semântica e estilístico-pragmática) e em suas diferentes dimensões (regional, histórica, social, situacional, ocupacional, etária etc.), de forma a ampliar a compreensão sobre a natureza viva e dinâmica da língua e sobre o fenômeno da constituição de variedades linguísticas de prestígio e estigmatizadas, e a fundamentar o respeito às variedades linguísticas e o combate a preconceitos linguísticos. EM13LGG401 Analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.

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EM13LP32 Selecionar informações e dados necessários para uma dada pesquisa (sem excedê-los) em diferentes fontes (orais, impressas, digitais etc.) e comparar autonomamente esses conteúdos, levando em conta seus contextos de produção, referências e índices de confiabilidade, e percebendo coincidências, complementaridades, contradições, erros ou imprecisões conceituais e de dados, de forma a compreender e posicionar-se criticamente sobre esses conteúdos e estabelecer recortes precisos.


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PROP OSTA S DE AT IVIDADE II

ATIVIDADE II TEMA 1

“Loucura” e doença mental HABILIDADES BNCC EM13CHS502, EM13CHS503

ATIVIDADE DE PRÉ-LEITURA

OBJETIVOS Investigar, a partir de relatos e registros históricos, a relação da sociedade com os doentes mentais ao longo da história, para dirimir preconceitos e estimular a proposição de soluções para ratificação dos direitos humanos e da igualdade entre os homens. JUSTIFICATIVA O livro Dez dias no manicômio foi relatado por uma mulher que é considerada pioneira no jornalismo investigativo e que lutou muito para ser reconhecida na sua época. Grande parte da história se passa dentro do manicômio da Ilha de Blackwell, onde ela viveu por 10 dias e depois que conseguiu ser libertada, denunciou com a sua narrativa os abusos de médicos e enfermeiras do local e a maneira como era feita a triagem das pacientes. Os limites entre a sanidade e a razão também foram questionados, pois muitas das mulheres internadas, segundo ela, pareciam sãs. Não havia nenhuma preocupação com a cura, mas apenas com a exclusão daquelas que não se encaixassem no padrão do comportamento socialmente aceito pela sociedade, sendo muitas pobres e imigrantes.

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Na sua obra O alienista, Machado de Assis colocou também em questão os limites entre o que é ser louco e o que é ser normal quando deu ao médico Simão Bacamarte o condão de classificar e confinar os loucos da cidade.


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Mas houve quem propusesse mudanças nos tratamentos no hoje chamado campo da saúde mental. Talvez os estudantes já tenham ouvido falar de Sigmund Freud, médico austríaco que revolucionou a psiquiatria, criador do método terapêutico chamado psicanálise. No Brasil, foi a médica Nise da Silveira que, em 1946, revolucionou os tratamentos dos pacientes do Hospital Pedro II, no Rio de Janeiro, retirando os pacientes do encarceramento e propondo terapias por meio das artes plásticas. A produção foi tão grande que em 1952 foi criado o “Museu do Inconsciente”, que pode ser visitado neste link. Cabe destacar ainda o Movimento da Luta Antimanicomial, resultando no Brasil na aprovação da Lei 10.216/2001, que trata da proteção dos direitos das pessoas com transtornos mentais. METODOLOGIA Antes de iniciar a leitura, indague dos alunos sobre o livro e a autora. Pergunte se já tinham ouvido falar em Nellie Bly e na história dos 10 dias passados no manicômio. Será que os alunos conhecem outras jornalistas que também se aventuram no campo da narração? Peça que deem exemplos de mulheres do jornalismo mundial ou nacional. Leia com eles o texto de apresentação da editora e em seguida deixe que os alunos levantem hipóteses sobre o que trata o livro. Peça ainda que contextualizem a época em que se passa a narrativa, final do século 19. Como eles acham que as pessoas viviam nessa época nos Estados Unidos e no Brasil. E as mulheres? Havia diferenças de direitos entre homens e mulheres? E com relação aos doentes psiquiátricos (ou como eram mais comumente chamados, os doentes mentais)? Eles sabem o que é ou conhecem pessoas acometidas por algum transtorno mental? Provavelmente, muitos já ouviram falar em palavras como: depressão, síndrome do pânico, fobias, TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo), entre outras. A narrativa fará com que os alunos e alunas reflitam sobre a situação de desigualdade das mulheres no século 19 e sobre o tratamento ou, melhor, sobre o controle do comportamento social dos chamados doentes mentais antes das novas terapias psiquiátricas.

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O professor pode iniciar um debate em sala de aula e pedir que eles falem, a partir do conhecimento prévio dos estudantes, sobre o que eles acham que mudou com relação aos direitos das mulheres e dos pacientes psiquiátricos.


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Caso seja possível, e de acordo com a possibilidade de cada escola ou de cada aluno, proponha que assistam ao filme Nise, o coração da loucura (Roberto Berliner, 2016).

HABILIDADES EM13CHS502 Analisar situações da vida cotidiana (estilos de vida, valores, condutas etc.), desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade e preconceito, e propor ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às escolhas individuais. EM13CHS503 Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas causas, significados e usos políticos, sociais e culturais, avaliando e propondo mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.


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ATIVIDADE II TEMA 2

Processos migratórios HABILIDADES BNCC EM13CHS201 e EM13CHS204 ATIVIDADE DE LEITURA

OBJETIVO Capacitar alunas e alunos a compreenderem o fenômeno da migração em seu contexto sócio-econômico e cultural. JUSTIFICATIVA No capítulo IV de Dez dias no manicômio, Nellie Bly em sua tarefa ainda de se passar por louca, é diversas vezes questionada sobre sua procedência. Quando vai parar no tribunal da polícia de Essex Market, depara-se com muitos imigrantes, homens e mulheres pobres. A entrada do prédio estava cercada por uma multidão curiosa e eu ainda não tinha certeza de que minha encenação estava convincente, então perguntei se todas aquelas pessoas também haviam perdido seus baús. — Sim — ele disse —, quase todas essas pessoas estão procurando por baús. — Eles parecem ser estrangeiros também. — Sim — respondeu Tom —, são todos estrangeiros recém-chegados. Todos perderam seus baús, e passamos a maior parte do nosso tempo ajudando-os a encontrar.

ou Comecei a tremer mais do que se estivesse com o frio e olhei para a multidão estranha à minha volta, composta por homens e mulheres vestidos humildemente, com histórias estampadas em seus rostos de vidas difíceis, exploração e pobreza. Alguns estavam conversando animadamente com amigos, enquanto outros ficavam parados com um olhar de total desesperança.

Também quando estava internada do manicômio da Ilha de Blackwell, deparou-se com muitas mulheres imigrantes pobres, que por não saberem falar inglês eram mal compreendidas, e também por não terem quem as defendesse, foram trancafiadas e declaradas loucas.

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As migrações podem acontecer por variados motivos, como causas sociais, crises econômicas, guerras e desastres naturais. Normalmente, a migração tem sua origem na insatisfação com sua região de


Segundo informação do site da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, no final do século 19 foi intenso o fluxo migratório para aquele país, e muitos imigrantes chegaram em busca de oportunidades econômicas, outros em busca de liberdade pessoal ou por motivos de perseguição política e religiosa. Foram quase 12 milhões de imigrantes que cruzaram as fronteiras daquele país entre 1870 e 1900.

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origem e os imigrantes desejam mudar em busca de novas oportunidades, fugindo às vezes de guerras e da pobreza.

Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Domínio público. Disponível neste link.

No Brasil, no fim do século 19, com a abolição do tráfico negreiro e posteriormente da escravidão, começam a chegar vários imigrantes vindos de países da Europa e do Japão. No século 20 e 21, também o fluxo de migração para outros países não parou. Segundo reportagem publicada no jornal El Pais, em 2017 foram 99.000 brasileiros que mudaram de país (artigo disponível neste link).

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Segundo dados (disponíveis neste link) da Agência da ONU para refugiados, ACNUR, em 2019, 79,5 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar no mundo.


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METODOLOGIA

Com base no que já foi estudado pelos alunos, discuta com eles sobre a questão da migração no Brasil e no mundo. Algumas questões podem ser levantadas, como, por exemplo: — qual a causa das migrações; — qual a solução que os países têm adotado para receber os imigrantes; — o problema das crianças imigrantes; — a migração no Brasil do campo para a cidade; — os fluxos migratórios do Brasil (Nordeste para o Sudeste; do Rio Grande do Sul para Mato Grosso e Rondônia etc) —emigrantes brasileiros (nos Estados Unidos, Portugal etc) Com base no que foi discutido, o professor poderá dividir a turma em grupos e propor um trabalho de pesquisa sobre a migração. Peça que eles escolham um dos temas que forem apresentados em sala de aula para pesquisar e apresentar aos outros grupos posteriormente, podendo ser em forma de cartaz ou através do recurso de um programa de slides.

HABILIDADES

EM13CHS201 Analisar e caracterizar as dinâmicas das populações, das mercadorias e do capital nos diversos continentes, com destaque para a mobilidade e a fixação de pessoas, grupos humanos e povos, em função de eventos naturais, políticos, econômicos, sociais e culturais.

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EM13CHS204 Comparar e avaliar os processos de ocupação do espaço e a formação de territórios, territorialidades e fronteiras, identificando o papel de diferentes agentes (como grupos sociais e culturais, impérios, Estados Nacionais e organismos internacionais) e considerando os conflitos populacionais (internos e externos), a diversidade étnico-cultural e as características socioeconômicas, políticas e tecnológicas.


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ATIVIDADE II TEMA 3

O direito ao trabalho e à educação HABILIDADES BNCC EM13CHS402, EM13CHS404 e EM13MAT104 ATIVIDADE PÓS-LEITURA

OBJETIVO Ao capacitar alunas e alunos a interpretarem taxas e índices de natureza socioeconômica — nomeadamente indicadores de emprego, trabalho e renda, em seus múltiplos aspectos, investigando os processos de cálculo desses números, os habilitamos a fazerem análises críticas da realidade, como a desigualdade socioeconômica. Com isso lhes capacitaremos à argumentação e a posicionarem-se criticamente diante da questão do emprego e estudo dos jovens, recorrendo aos mecanismos linguísticos necessários. JUSTIFICATIVA O tema do emprego é de grande importância para a maioria dos estudantes do ensino médio. A necessidade de gerar renda, para si mesmo ou para “ajudar em casa” é uma das causas para a evasão escolar, agravada pela crise econômica. Claro está que não é papel da escola o de formar trabalhadores, mas sim de favorecer a preparação para o trabalho e a cidadania, imbuindo os educandos de competências que os permitam a inserção, de forma ativa, crítica, criativa e responsável em um mundo do trabalho cada vez mais complexo e imprevisível, criando possibilidades para viabilizar seu projeto de vida e continuar aprendendo.

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Para esta atividade, tomamos o tema do “jovem e o trabalho” para suscitar a reflexão e passar a aluna e o aluno para uma posição mais consciente e ativa em relação ao mercado de trabalho, ao mesmo tempo que exercitamos e desenvolvemos habilidades das ciências sociais e da matemática, identificando, interpretando e debatendo indicadores estatísticos e os contextos sociais do trabalho em seus múltiplos aspectos.


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METODOLOGIA Quando tinha 20 anos, Nellie Bly queria trabalhar. Não era comum naquela época que mulheres, especialmente as jovens, trabalhassem fora das “lides domésticas”, como cozinhar e costurar. Às mais pobres restava trabalhar turnos exaustivos nas fábricas. Mas Nellie não queria se restringir a isso e, além do mais, tinha uma necessidade premente: seu pai havia falecido e ela e seus irmãos precisavam “trazer dinheiro para casa”. Foi nessa época que Nellie leu uma coluna no jornal de sua cidade, dizendo que mulheres que não se casassem ou tivessem filhos seriam um estorvo para a sociedade, porque elas não poderiam se sustentar, trabalhando. Ela prontamente respondeu, indignada, com uma carta em que argumentava, com perspicácia, que as mulheres deveriam ter o direito de trabalhar. (Isso parece estranho hoje, mas àquela época, meados do século 19, as mulheres ainda estavam longe de muitos direitos, como o de votar). Se as garotas fossem garotos, logo iriam dizer que, não importando de onde comecem, elas podem, se forem ambiciosas, ganhar fama e fortuna. Tantos grandes e ricos homens que conhecemos começaram do nada; mas onde estão as tantas mulheres? Um jovem pode começar trabalhando como moço de recados e trabalhar seu caminho até o topo. As garotas são tão espertas, e um bocado mais rápidas em aprender; então porque não podem fazer o mesmo? Todas as ocupações para mulheres já estão preenchidas, então porque não começar algumas novas? Em vez de colocar as meninas nas fábricas, que elas sejam empregadas na posição de garotas de recado ou contínuas. Seria mais saudável. Teriam uma chance de aprender; as ideias delas cariam mais amplas e elas se tornariam mulheres tão boas, se não melhores, no final. É opinião geral entre os lojistas de que as mulheres são as melhores vendedoras. Porque não enviá-las em navios mercantes? Elas conversam tão bem quanto os homens — ao menos os homens afirmam ser fato notório que elas falam bem mais e mais rápido. Se a habilidade delas em vender excede a dos homens em casa, também não excederia no exterior? Suas vidas seriam mais brilhantes, sua saúde melhor, suas carteiras mais cheias, a não ser que os empregadores fizessem como fazem agora — dão-lhes metade do salário porque elas são mulheres.

Para a nossa atividade, vamos partir de uma provocação parecida com aquela que despertou a indignação de Nellie a acabou por dar a partida em sua carreira de jornalista. Imagine que alguém afirme que

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Trabalhar é mais importante que estudar


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Inicie a discussão com a turma e tente explorar com eles o contexto social, cultural e econômico que incentiva alguns alunos a abandonar os estudos para trabalhar. Fale ou pesquise com eles sobre a evasão escolar e sobre a questão dos “nem-nem”, jovens que “nem estudam, nem trabalham”. Peça depoimentos dos alunos que conhecem pessoas nessa situação, ou que tenham sido forçadas a deixar os estudos. Após essa etapa, peça que eles preparem um texto (dissertativo-argumentativo) defendendo seu ponto de vista. O texto deve apresentar argumentos e reflexões, baseados em fatos e dados estatísticos. Como subsídio, ofereça os seguint es indicadores, produzidos pela Organização Internacional do Trabalho e IPEA, disponíveis neste link. ALOCAÇÃO DOS JOVENS NAS CATEGORIAS DE ESTUDO E TRABALHO (%)

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TAXA DE INFORMALIDADE DOS JOVENS —15 A 29 ANOS (2012-2019) (%)


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RENDIMENTO MÉDIO REAL1 DO TRABALHO PRINCIPAL DOS JOVENS POR CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS (R$)

A partir desses gráficos e da tabela, peça que interpretem: Se a proporção de jovens de 15 a 17 anos que não estuda aumentou ou diminuiu de 2012 a 2018. Se a proporção de jovens de 15 a 17 anos que trabalha (enquanto estuda ou não) aumentou ou diminuiu de 2012 a 2018. Se a quantidade de jovens de 15 a 29 que trabalham na informalidade (isto é, sem carteira assinada ou por “biscates”) vem aumentando ou diminuindo de 2012 a 2019.

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Se o rendimento de um jovem que trabalha é maior ou menor de acordo com a escolaridade.


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HABILIDADES EM13CHS402 Analisar e comparar indicadores de emprego, trabalho e renda em diferentes espaços, escalas e tempos, associando-os a processos de estratificação e desigualdade socioeconômica. EM13CHS404 Identificar e discutir os múltiplos aspectos do trabalho em diferentes circunstâncias e contextos históricos e/ou geográficos e seus efeitos sobre as gerações, em especial, os jovens, levando em consideração, na atualidade, as transformações técnicas, tecnológicas e informacionais. EM13MAT104 Interpretar taxas e índices de natureza socioeconômica (índice de desenvolvimento humano, taxas de inflação, entre outros), investigando os processos de cálculo desses números, para analisar criticamente a realidade e produzir argumentos. EM13LP05 Analisar, em textos argumentativos, os posicionamentos assumidos, os movimentos argumentativos (sustentação, refutação/ contra-argumentação e negociação) e os argumentos utilizados para sustentá-los, para avaliar sua força e eficácia, e posicionar-se criticamente diante da questão discutida e/ou dos argumentos utilizados, recorrendo aos mecanismos linguísticos necessários.


A AUTORA, A OBRA E SEU CONTEXTO

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Aprofundamento

Caricatura do jornal “The World” de 1890 mostra os circunavegadores, como Magalhães, cumprimentando Nellie Bly por ter dado a volta ao mundo em 72 dias, em 1890. Domínio Público.

Nellie Bly, pseudônimo de Elizabeth Cochran Seaman, nasceu na Pensilvânia, Estados Unidos, em 1864. Aos seis anos, seu pai faleceu e a numerosa família passou por dificuldades. Nellie teve que trabalhar para ajudar a mãe e assim não conseguiu terminar seus estudos. Em 1880, após ler o artigo “Para que servem as garotas?”, em um jornal local — que defendia que as mulheres não deveriam trabalhar, apenas deveriam continuar tendo filhos e cuidando da casa —, Nellie enviou uma resposta ao assinando como “Órfã solitária”. O editor, impressionado com a carta incisiva e muito bem escrita, colocou um anúncio no jornal pedindo que a autora se revelasse. Quando Nellie, que à época tinha 20 anos, se apresentou ao editor, ele lhe ofereceu uma oportunidade de integrar sua equipe de jornalistas.

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Para aquele jornal escreveu artigos sobre divórcio e casamento, trabalho das mulheres operárias e outros temas atinentes à mulher, aos direitos humanos e à discriminação — todos temas que “incomodavam” os leitores. Em represália, ficou confinada a escrever artigos sobre moda e sociedade. Inconformada, mudou-se para Nova York, em 1887. Após sucessivos esforços e sem dinheiro, procurou a redação do jornal The World, chefiada pelo famoso editor Joseph Pulitzer, e acabou sendo contratada.


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Foi assim que em 1887, aos 23 anos, Bly foi desafiada e aceitou fazer uma investigação para o jornal onde trabalhava. O objetivo era entrar no Asilo de Insanos da Ilha de Blackwell, atual Ilha Roosevelt, e averiguar as denúncias de irregularidades e brutalidades sobre as doentes da instituição. Mas como ela faria isso? Corajosamente, Nellie simulou a própria insanidade, o que a levou a ser examinada por médicos e peritos, que foram unânimes em declará-la “irremediavelmente louca’’ e interná-la compulsoriamente. Dentro da instituição, tomou contato com as atrocidades que eram cometidas às pacientes e as condições deploráveis em que viviam, isso tudo com o aval e a negligência de médicos e enfermeiras do local. Aqui, é a realidade que imita a ficção.

Domínio público. Gravura de 1879 mostrando o “Asilo de lunáticas ou Casa de Loucos” da Ilha Blackwell

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No manicômio, Nellie se deu conta de que muitas mulheres saudáveis eram levadas para lá, entre elas imigrantes que não dominavam a língua inglesa e mulheres pobres, além daquelas com transtornos mentais ou as que, por variados motivos, a sociedade ou as famílias desejavam excluir do convívio social. Nellie começou a questionar os diagnósticos médicos e o que definia uma mulher ser sã numa sociedade xenófoba, misógina e que reprimia a sexualidade feminina. Nesse contexto, o asilo fazia as vezes de depósito de pessoas indesejadas. O artigo — que deu origem ao livro Dez dias no manicômio, publicado logo após sua libertação — alcançou enorme sucesso e lançou luz sobre uma série de situações perturbadoras, incluindo condições higiênicas, negligência médica e abuso físico e todos os horrores daquela instituição, com seus mais


Essa história foi recentemente adaptada para as telas em 2015 (Dez dias no manicômio) e 2019 (Fuga do hospício).

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terríveis tratamentos, provocando uma ampla investigação que fez a cidade de Nova York despender mais recursos para o cuidado dos doentes mentais.

Domínio público. Colagem com artigos e ilustrações publicadas no “The World” em 1886.

A jornalista ficou tão conhecida que até mesmo o famoso romancista F. Scott Fitzgerald se inspirou nela para criar a personagem Ella Kaye, uma jornalista durona do seu famoso romance O grande Gatsby. Ela ainda assinou várias outras matérias denunciando situações de desigualdade social, corrupção e até mesmo tráfico de bebês. Viveu também no México, onde denunciou o governo de Porfírio Diaz. E uma de suas mais famosas entrevistadas foi Emma Goldman, anarquista e feminista, que se encontrava presa na época. Para além da carreira jornalística, Nellie ficou mundialmente famosa como a primeira mulher a cruzar sozinha o mundo em 72 dias, numa tentativa de recriar a viagem fictícia de Júlio Verne, levando apenas uma pequena mala de mão, um único casaco de inverno e a roupa do corpo. Seu trabalho foi essencialmente de caráter jornalístico, mas também chegou a escrever ficção como o romance policial O mistério do Central Park, ainda sem tradução para o português, que gira em torno de dois jovens namorados que descobrem o corpo de uma jovem no Central Park.

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Casou-se em 1895 com um industrial, e com a morte do marido, em 1904, assumiu os negócios. Empreendedora, introduziu processos mais moder-


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nos e mais eficientes, criando e patenteando produtos para a indústria, e colocou em prática suas reformas sociais na empresa. Ela se preocupava com o bem-estar dos funcionários, mas não com as finanças, que deixava nas mãos dos “homens de confiança”. Após diversas fraudes, esses mesmos homens, um deles seu irmão, levaram a empresa à falência. Algum tempo depois de se aposentar do jornalismo, e com dificuldades financeiras, Nellie teve que voltar à atividade e, em 1914, voou para a Áustria e se tornou a primeira mulher correspondente de guerra, atuando na linha de frente na Primeira Guerra Mundial. Nellie Bly foi e segue sendo inspiração para muitas jovens. Seus relatos já foram traduzidos ao redor do mundo, assim como já foram escritas diversas biografias sobre sua vida e obra. Acreditamos, portanto, que a leitura do relato de Dez dias no manicômio irá contribuir para o conhecimento do mundo atual através do estudo do passado. Por se tratar de um tema tão sensível, é bom que os alunos e alunas já possuam um certo grau de maturidade para que possam conversar abertamente sobre saúde mental, entrando em contato com uma realidade que já não é mais assim, mas que ainda persiste em muitos preconceitos e estigmas sobre os transtornos mentais.

NELLIE BLY E O “PROJETO DE VIDA”

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Nellie Bly era o pseudônimo de Elizabeth Cochrane Seaman, nascida nos Estados Unidos em 1864. Quando ela tinha apenas 20 anos, leu um artigo no jornal local dizendo que as mulheres que não se casavam ou tinham filhos eram um “problema” para a sociedade. Ela (que tinha ficado órfã de pai e lutava para manter a família) prontamente respondeu com uma carta inteligente e mordaz, defendendo que as mulheres tinham o mesmo direito de trabalhar dos homens, e que deveriam ser remuneradas igualmente. O público discordou, mas a carta era tão bem escrita que o editor do jornal a contratou como jornalista. Nessa primeira redação, no entanto, Nellie ficava confinada a escrever sobre moda e “cuidados do lar”. Não se sujeitando a isso, partiu para Nova York, sozinha e sem dinheiro, e candidatou-se a repórter do principal jornal da época, o Time. O editor fez-lhe um desafio: investigar os abusos em um hospital psiquiátrico para mulheres. Ela não só aceitou o desafio, como o fez de maneira ousada: fez-se passar por louca, convenceu médicos e juízes e foi internada no dito manicômio. Corria o risco de ficar para sempre trancafiada, já que declarar que não era louca, naquele lugar, era um atestado de insanidade. Ao fim de dez dias, ela conseguiu sair e o resultado foi a reportagem Dez dias no manicômio, que conseguiu conscientizar a opinião pública


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para o descaso e sadismo com que eram tratadas as doentes mentais e ainda por cima estabeleceu a fama de Nellie Bly como repórter investigativa. Seguiram-se dezenas de matérias onde ela investigava, muitas vezes infiltrada, e denunciava casos de corrupção, abusos contra imigrantes e violências contra mulheres. Quando já era muito famosa, decidiu fazer a maior reportagem de todas, uma que cobrisse o mundo, e partiu para quebrar o recorde fictício de Julio Verne, e o resultado, o que seria relatado no livro Volta ao mundo em 72 dias. Nellie Bly é exemplo clássico de uma jovem que traçou ela mesma seu caminho pelo mundo. Figurativamente e, neste livro, literalmente. Pelo ambiente histórico e cultural em que estava, o destino que lhe estava reservado era o de ficar cuidando dos filhos em casa. Ela foi muito além. O caminho que ela desbravou nos jornais — e, mais tarde, como empresária — ajudou a ampliar os caminhos dos jovens. O projeto de vida de um jovem parte dos questionamentos “quem eu sou” e “quem quero ser”. A identidade de Nellie Bly estava destinada a ser a mesma das mulheres jovens do norte dos Estados Unidos em fins do século 19: donas de casa, esposas, talvez operárias, sempre figuras secundárias, apoiando o marido ou o patrão. Muito jovem Nellie recusou que se lhe determinassem o que seria de sua vida. Ao ler uma carta misógina no jornal sobre “o problema das mulheres que não se casam e que tornam-se um peso para a sociedade”, escreveu uma resposta enfática e inteligente, o que acabou por abrir para ela o caminho do jornalismo (caminho no qual encontraria ainda muitas barreiras por ser mulher).

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Foi, portanto, a linguagem que permitiu a Nellie definir a sua vida: sua capacidade de expressão textual, e de compreender e interpretar o mundo ao seu redor. É este o desafio da educação hoje: capacitar a jovem e o jovem com as ferramentas (competências) para assumir o protagonismo e projetar sua vida em direção a uma sociedade mais solidária e construtiva.


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O GÊNERO RELATO Dez dias no manicômio é um relato. Pode ser compreendido também como o subgênero “reportagem”, definido como “relato ampliado de um acontecimento, com pesquisa de campo”. A internação de Nellie em um manicômio pode ser considerada uma forma radical de “pesquisa de campo”, comparável com a dos jornalistas correpondente de guerra, que arriscam a vida nos campos de batalha. O Relato pessoal é uma modalidade textual que apresenta uma narração sobre um fato ou acontecimento marcante da vida de uma pessoa. Nesse tipo de texto, podemos sentir as emoções e sentimentos expressos pelo narrador. No caso deste livro, Nellie equilibra bem sua responsabilidade de jornalista, de apresentar os fatos com clareza e (sempre que possível) imparcialidade, sem abrir mão de expressar suas emoções e, ocasionalmente, suas opiniões. Neste livro podemos sentir, em alguns trechos, a ansiedade e frustração de Nellie, um certo medo, irritação e até o enjoo que sente quando lhe é servida uma comida estragada. Quanto à opinião, notamos que a tendência de Nellie, mesmo em face aos abusos, é de ver o lado engraçado das coisas e seu humor, algumas vezes impertinente, quebra o tom assustador do livro.

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Entre os aspectos que caracterizam bem o livro como o gênero relato estão ainda o uso da primeira pessoa e do pretérito perfeito, a caracterização espaço (o manicômio é quase um personagem) e do tempo (bem marcado já no título, com os “dez dias”) — e a descrição permanente dos personagens e ambientes pelos quais vai passando.


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SUGESTÕES DE REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES Dez dias no manicômio tange uma questão discutida ao longo da história da humanidade: a “loucura” e o que a sociedade deve fazer com as pessoas que, afligidas por doenças mentais, não conseguem prover a própria subsistência. À época de Nellie Bly, a “solução” que a sociedade encontrava para os doentes mentais era simplesmente o confinamento: mantê-los apartados do resto da população, como se tivessem alguma doença contagiosa. Ficou famoso no Reino Unido o “Bedlam” (apelido do Bethlem Royal Hospital) no século 18, quando os internos, quase relegados à própria sorte, eram visitados pelo público como uma espécie de zoológico macabro.

Damas vitorianas visitam o Bethlem Royal Hospital. Quadro de William Hogarth, 1735. Domínio Público. Wikemedia, disponível neste link.

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Na virada do século 20, pouco depois do relato de Nellie Bly, houve um desenvolvimento da psiquiatria e, em paralelo, da psicologia, que lançaram luz sobre as razões, físicas e psíquicas, da alienação mental. Em diálogo com as ciências sociais, alcançamos um tratamento mais humano dos doentes mentais. O psiquiatra italiano Franco Basaglia propôs o fim dos asilos e o movimento antimanicomial ganhou especial força no Brasil. Uma das razões para a adesão brasileira seja a tétrica experiência do Hospital Colônia de Barbacena, Minas Gerais, que chegou a abrigar cinco mil internos em condições desumanas — muitos dos quais sequer eram doentes mentais, mas meros “desajustados” de quem a família, ou mesmo os governos autoritários, querem se desembaraçar. O hospital chegou a ser comparado com um campo de concentração, dada as más condições e a imensa proporção de mortes por pacientes. A jornalista Daniela Arbex relatou essa triste história em O holocausto brasileiro, de 2013.


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Por outro lado, alguns psiquiatras e psicólogos, inspirados pelas reflexões de autores como Gustav Jung (1875-1961), buscaram formas mais humanas para lidar com os distúrbios mentais e oferecer aos doentes a reintegração com a sociedade. A brasileira Nise da Silveira (1905-1999) notabilizou-se pela introdução da “arte terapia”, onde os internos do Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro, sob sua direção, empregavam as artes plásticas para se expressar e lidar com sua condição. A história de Nise da Silveira é contada no filme Nise, o coração da loucura, dirigido por Roberto Berliner e lançado em 2016. Clique na imagem abaixo para ter acesso ao trailler cinematrográfico.

Imagem de divulgação.

Ainda no audivisual, vale a pena assistir uma das adaptações de Dez dias no manicômio e comparar o relato textual com a linguagem cinematográfica. Recomendamos o filme Dez dias no manicômio, dirigido por Timothy Hines em 2016. Clique na imagem para acesar o trailler.

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Imagem de divulgação.


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BIBLIOGRAFIA COMENTADA

Volta ao mundo em 72 dias Nellie Bly. Ímã Editorial, 2021. Outra grande reportagem de Nellie Bly. Nove anos depois de se internar no manicômio, Nellie Bly aceitou o desafio de dar a volta ao mundo em ainda menos tempo que o personagem imaginado por Julio Verne em A volta ao mundo em 80 dias. Seu relato do que viu na Europa, Oriente Médio, Sudeste Asiático, China e Japão foi uma viagem pelo mundo em transformação no século 19.

Holocausto brasileiro Daniela Arbex. Intrínseca, 2019

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No Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, conhecido apenas por Colônia, ocorreu uma das maiores barbáries da história do Brasil. O centro recebia diariamente, além de pacientes com diagnóstico de doença mental, homossexuais, prostitutas, epiléticos, mães solteiras, meninas problemáticas, mulheres engravidadas pelos patrões, moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento, mendigos, alcoólatras, melancólicos, tímidos e todo tipo de gente considerada fora dos padrões sociais. Daniela Arbex entrevistou ex-funcionários e sobreviventes para resgatar de maneira detalhada e emocionante as histórias de quem viveu de perto o horror perpetrado por uma instituição com um propósito de limpeza social comparável aos regimes mais abomináveis do século 20. Um relato essencial e um marco do jornalismo investigativo no país.


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O alienista Machado de Assis. Várias edições. Clássico da literatura brasileira, esta novela de Machado de Assis continua sendo uma das mais devastadoras observações sobre a insanidade a que pode chegar a ciência. Tão palpitante quanto de leitura prazerosa, O alienista é uma dessas joias da ficção da literatura mundial. Médico, Simão Bacamarte passa a se interessar pela psiquiatria, iniciando um estudo sobre a loucura em Itaguaí, onde funda a Casa Verde — um típico hospício oitocentista —, arregimentando cobaias humanas para seus experimentos. O que se segue é uma história surpreendente e atual em seu debate sobre desvios e normalidade, loucura e razão. Ensaio sobre a loucura e a lucidez, sátira política e comédia de costumes.

A história da loucura Michel Foucault. Perspectiva, 1978.

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Neste livro, o autor põe em xeque concepções firmadas sob o rótulo de possíveis verdades científicas, como no campo da medicina psiquiátrica, em que sua análise crítica atingiu a operacionalidade terapêutica das noções tradicionais de sanidade e loucura. Este livro de Michel Foucault, já um ‘clássico’ da filosofia moderna, não pretende fazer a história dos loucos ao lado, em presença ou no convívio das pessoas ‘normais’; nem a história da razão em oposição à da loucura. Trata-se de levantar a história dessa divisão incessante, porém sempre modificada — divisão que se produz através de muitas outras, como as definidas por produção, trabalho, riqueza, estrutura familiar, penalidade, coações morais etc. Não é, de modo algum, a medicina quem definiu os limites entre a razão e a loucura; no entanto, desde o século 19, foram os médicos que se encarregaram de vigiar a fronteira e montar guarda na sua cancela. Afixaram nela o rótulo ‘doença mental’, indicação que vale como interdição.


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Dez dias no manicômio, de Nellie Bly Material Digital do Professor Redação e pesquisa Julio Silveira Organizador do material digital Julio Silveira Revisão Carla Monteiro


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