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Nellie Bly e o “projeto de vida”

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TERIAL DIGITAL DO PROFESSOR MA DEZ DIAS NO MANICÔMIO

32 nos e mais eficientes, criando e patenteando produtos para a indústria, e colocou em prática suas reformas sociais na empresa. Ela se preocupava com o bem-estar dos funcionários, mas não com as finanças, que deixava nas mãos dos “homens de confiança”. Após diversas fraudes, esses mesmos homens, um deles seu irmão, levaram a empresa à falência. Algum tempo depois de se aposentar do jornalismo, e com dificuldades financeiras, Nellie teve que voltar à atividade e, em 1914, voou para a Áustria e se tornou a primeira mulher correspondente de guerra, atuando na linha de frente na Primeira Guerra Mundial.

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Nellie Bly foi e segue sendo inspiração para muitas jovens. Seus relatos já foram traduzidos ao redor do mundo, assim como já foram escritas diversas biografias sobre sua vida e obra.

Acreditamos, portanto, que a leitura do relato de Dez dias no manicômio irá contribuir para o conhecimento do mundo atual através do estudo do passado. Por se tratar de um tema tão sensível, é bom que os alunos e alunas já possuam um certo grau de maturidade para que possam conversar abertamente sobre saúde mental, entrando em contato com uma realidade que já não é mais assim, mas que ainda persiste em muitos preconceitos e estigmas sobre os transtornos mentais.

NELLIE BLY E O “PROJETO DE VIDA”

Nellie Bly era o pseudônimo de Elizabeth Cochrane Seaman, nascida nos

Estados Unidos em 1864. Quando ela tinha apenas 20 anos, leu um artigo no jornal local dizendo que as mulheres que não se casavam ou tinham filhos eram um “problema” para a sociedade. Ela (que tinha ficado órfã de pai e lutava para manter a família) prontamente respondeu com uma carta inteligente e mordaz, defendendo que as mulheres tinham o mesmo direito de trabalhar dos homens, e que deveriam ser remuneradas igualmente. O público discordou, mas a carta era tão bem escrita que o editor do jornal a contratou como jornalista.

Nessa primeira redação, no entanto, Nellie ficava confinada a escrever sobre moda e “cuidados do lar”. Não se sujeitando a isso, partiu para Nova York, sozinha e sem dinheiro, e candidatou-se a repórter do principal jornal da época, o Time. O editor fez-lhe um desafio: investigar os abusos em um hospital psiquiátrico para mulheres. Ela não só aceitou o desafio, como o fez de maneira ousada: fez-se passar por louca, convenceu médicos e juízes e foi internada no dito manicômio. Corria o risco de ficar para sempre trancafiada, já que declarar que não era louca, naquele lugar, era um atestado de insanidade. Ao fim de dez dias, ela conseguiu sair e o resultado foi a reportagem Dez dias no manicômio, que conseguiu conscientizar a opinião pública

TERIAL DIGITAL DO PROFESSOR MA DEZ DIAS NO MANICÔMIO para o descaso e sadismo com que eram tratadas as doentes mentais e ainda por cima estabeleceu a fama de Nellie Bly como repórter investigativa.

Seguiram-se dezenas de matérias onde ela investigava, muitas vezes infiltrada, e denunciava casos de corrupção, abusos contra imigrantes e violências contra mulheres. Quando já era muito famosa, decidiu fazer a maior reportagem de todas, uma que cobrisse o mundo, e partiu para quebrar o recorde fictício de Julio Verne, e o resultado, o que seria relatado no livro Volta ao mundo em 72 dias.

Nellie Bly é exemplo clássico de uma jovem que traçou ela mesma seu caminho pelo mundo. Figurativamente e, neste livro, literalmente. Pelo ambiente histórico e cultural em que estava, o destino que lhe estava reservado era o de ficar cuidando dos filhos em casa. Ela foi muito além. O caminho que ela desbravou nos jornais — e, mais tarde, como empresária — ajudou a ampliar os caminhos dos jovens.

O projeto de vida de um jovem parte dos questionamentos “quem eu sou” e “quem quero ser”. A identidade de Nellie Bly estava destinada a ser a mesma das mulheres jovens do norte dos Estados Unidos em fins do século 19: donas de casa, esposas, talvez operárias, sempre figuras secundárias, apoiando o marido ou o patrão. Muito jovem Nellie recusou que se lhe determinassem o que seria de sua vida. Ao ler uma carta misógina no jornal sobre “o problema das mulheres que não se casam e que tornam-se um peso para a sociedade”, escreveu uma resposta enfática e inteligente, o que acabou por abrir para ela o caminho do jornalismo (caminho no qual encontraria ainda muitas barreiras por ser mulher).

Foi, portanto, a linguagem que permitiu a Nellie definir a sua vida: sua capacidade de expressão textual, e de compreender e interpretar o mundo ao seu redor. É este o desafio da educação hoje: capacitar a jovem e o jovem com as ferramentas (competências) para assumir o protagonismo e projetar sua vida em direção a uma sociedade mais solidária e construtiva.

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