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Tema 3
TERIAL DIGITAL DO PROFESSOR MA DEZ DIAS NO MANICÔMIO
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ATIVIDADE I TEMA 3
Preconceito linguístico
HABILIDADES BNCC EM13LP10, EM13LP401, EM13LP32 ATIVIDADE DE PÓS LEITURA
Vamos explorar as variedades linguísticas em sua dimensão histórica e situacional, compreendendo-as como fenômeno geopolítico e cultural, ampliando a compreensão sobre a natureza viva e dinâmica da língua, e a fundamentar o respeito à diversidade no combate ao preconceito linguístico.
OBJETIVO
Sensibilizar o educando para o fenômeno da variação linguística, em especial em sua dimensão social, de forma a ampliar sua compreensão sobre a estigmatização da linguagem na manutenção de formas de desigualdade e preconceito, desnaturalizando e problematizando estas, e propondo ações que promovam o respeito às diferenças e às escolhas individuais.
Capacitar alunas e alunos a compreender e posicionar-se criticamente diante de diversas visões de mundo, levando em conta seus contextos de produção e de circulação e a debater questões polêmicas de relevância social, analisando diferentes argumentos e opiniões manifestados, para negociar e sustentar posições, formular propostas, que levem em conta o bem comum e os Direitos Humanos.
Capacitar alunas e alunos a analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
JUSTIFICATIVA
O desenho de um “projeto de vida” de um jovem é em síntese uma tentativa de responder às questões “quem eu sou” e “quem eu quero ser”. Trata-se, portanto, da definição de uma identidade, nem tanto a individual, mas a que lançará esse jovem aos processos de incorporação e internalização de valores e papeis e à teia de relações que configura o processo de socialização.
A afirmação de sua identidade passa portanto pelos vínculos culturais a um determinado grupo e, por extensão, à elaboração e rejeição do “outro”, de quem não está no grupo. A constituição de um repertório cultural próprio, incluindo variações da linguagem (gírias etc), ainda que seja instrumental para a afirmação (ou até a conquista de território) de certo grupo, pode contribuir, inversamente para seu alijamento, quando, por exemplo, a variedade
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15 linguística desse grupo é referida e depreciativamente comparada com a variação de prestígio (ou a “norma culta”) em expressões de preconceito.
O “preconceito linguístico” torna-se então mais uma forma de invalidação de pessoas por sua origem, posição social ou “cor”. Não obstante toda a diversidade do imenso território brasileiro, aqueles que não se expressam com a variedade linguística de prestígio, isto é, a fala das zonas centrais do Rio ou São Paulo, correm o risco de terem sua fala taxada como “errada” e sua mensagem, invalidada.
Aprender a viver em sociedade significa, então, submeter-se a processos de socialização, ou seja, processos de incorporação e internalização de valores, papéis e identidades. É preciso intensificar o desenvolvimento de habilidades que possibilitem o trato com o diverso e o debate de ideias. Tal desenvolvimento deve ser pautado pelo respeito, pela ética e pela rejeição aos discursos de ódio. O grande desafio é desenvolver a capacidade dos estudantes de estabelecer diálogos entre indivíduos, grupos sociais e cidadãos de diversas nacionalidades, saberes e culturas distintas.
Nos capítulos VIII e XIV, Nellie Bly recorda de dois episódios ocorridos no manicômio onde duas mulheres por não saberem falar inglês, foram consideradas loucas, sem chance de se defender, e ainda tratadas com escárnio, desprezo e falta de empatia.
Há uma francesa confinada na Ala 6, ou havia durante a minha estada, que eu acredito ser perfeitamente sã. Eu a observei e conversei com ela todos os dias, com exceção dos três últimos, e não consegui encontrar nela qualquer alucinação ou mania. Seu nome é Josephine Despreau, se for assim mesmo que se escreve, e seu marido e todos os seus amigos estão na França. Josephine sentia profundamente a situação em que estava. Seus lábios tremiam e ela começava a chorar quando falava de sua condição de desamparo.
— Como veio parar aqui?— perguntei uma vez.
— Um dia, enquanto tentava tomar o café da manhã, fiquei profundamente doente, e dois policiais foram chamados pela mulher da casa em que eu morava e fui levada para a delegacia. Não consegui entender os procedimentos que estavam aplicando e eles prestaram pouca atenção à minha história. As coisas neste país eram novas para mim e, antes que eu percebesse, fui trancada como louca neste asilo. Quando tinha acabado de chegar, chorei porque estava aqui sem esperança de libertação e, por chorar, a senhorita Grady e suas assistentes me estrangularam até machucar minha garganta, que está dolorida desde então.
Uma linda jovem polonesa falava tão pouco inglês que eu não conseguia entender sua história, a não ser quando contada pelas enfermeiras. Disseram que seu nome era Sarah Fishbaum e que o marido a internou ali porque ela gostava de outros homens além dele.
Havia no tratamento daqueles profissionais atitudes e comportamentos
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16 discriminatórios, em virtude das origens das mulheres, resultando em um verdadeiro comportamento xenófobo devido às origens linguísticas.
Entender que existem diferenças linguísticas entre povos e até dentro do mesmo território, e respeitá-las, é um importante passo na redução das desigualdades sociais. A linguagem de um determinado indivíduo ou de um grupo social ou étnico não pode ser empregada para desmerecê-los e reforçar posições hierárquicas opressivas.
Não são raros também os casos de intolerância dentro do mesmo país, devido a regiões diferentes, como, por exemplo, o caso dos nordestinos que migram para o sudeste do Brasil.
Entre os países de língua portuguesa, encontram-se também muitas diferenças, como a de vocabulário, a fonética, a sintaxe, etc. Isso é normal, haja visto que a língua não é algo estático. No Brasil, por exemplo, o vocabulário foi acrescido de palavras de diferentes origens, como indígena, africana, árabe, francesa, inglesa, etc. De tempos em tempos, novas palavras surgem e são registradas e passam a fazer parte do vocabulário. No site da Academia Brasileira de Letras é possível consultá-las (neste link).
Entender que existem diferenças linguísticas entre os povos e saber respeitá-las e não, ao contrário, usar essas diferenças para estigmatizar ou tornar alguém inferior e reforçar posições hierárquicas opressoras, é um importante passo para combater as desigualdades sociais e contribuir com uma sociedade mais justa e igualitária.
METODOLOGIA
Após a leitura dos capítulos VIII e XIV, direcione a conversa sobre as diferenças linguísticas existentes entre os povos e mesmo dentro de um determinado espaço geográfico.
Indague se mesmo dentro da região onde moram existem diferenças de idiomas, diferentes sotaques, gírias, ou até mesmo códigos corporais.
E ainda se algum dos alunos e alunas conhecem algum caso de alguém que já foi alvo de preconceito por ser de outro país ou região, por falar ou agir de modo diferente do seu.
Pode-se também falar sobre o processo migratório e como as barreiras linguísticas trazem dificuldades para os imigrantes. Considere que até mesmo países com o mesmo idioma, como o português, podem trazer diferenças entre si, e ainda sim o imigrante ser alvo de preconceito linguístico.
Após a conversa, divida a turma em grupos de quatro ou cinco alunos, e peça que produzam uma apresentação dramatizada onde haja um conflito
TERIAL DIGITAL DO PROFESSOR MA DEZ DIAS NO MANICÔMIO entre linguagens diferentes (regionalismos; emprego de gírias em oposição ao registro formal; linguagem autoritárias em oposição à linguagem familiar; contraste entre a fala de diferentes gerações etc). Entre os conflitos podem ser demonstradas situações de repressão e preconceito ou de humor, como confusões geradas por homofonias e ambiguidades.
HABILIDADES EM13LP10 Analisar o fenômeno da variação linguística, em seus diferentes níveis (variações fonético-fonológica, lexical, sintática, semântica e estilístico-pragmática) e em suas diferentes dimensões (regional, histórica, social, situacional, ocupacional, etária etc.), de forma a ampliar a compreensão sobre a natureza viva e dinâmica da língua e sobre o fenômeno da constituição de variedades linguísticas de prestígio e estigmatizadas, e a fundamentar o respeito às variedades linguísticas e o combate a preconceitos linguísticos.
EM13LGG401 Analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
EM13LP32 Selecionar informações e dados necessários para uma dada pesquisa (sem excedê-los) em diferentes fontes (orais, impressas, digitais etc.) e comparar autonomamente esses conteúdos, levando em conta seus contextos de produção, referências e índices de confiabilidade, e percebendo coincidências, complementaridades, contradições, erros ou imprecisões conceituais e de dados, de forma a compreender e posicionar-se criticamente sobre esses conteúdos e estabelecer recortes precisos.
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