“Os primeiros psicanalistas”, de Sigmund Freud

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atas da sociedade psicanalĂ­tica de viena volume i 1906-1908

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Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena 2015, © da tradução: V. de Moura Mendonça Livros / Scriptorium Protokolle der Wiener Psychoanalytischen Vereinigung Band I–Iv. © 2008, Psychosozial-Verlag, Gießen, Germany. Hermann Nunberg & Ernst Federn (Hg.): Gießen (Psychosozial-Verlag) Organização Marcelo Checchia, Ronaldo Torres e Waldo Hoffmann Tradução Marcella Marino Medeiros Silva Editor Vanderley Mendonça Revisão Gabriel Kolyniak e Ana Paula Figueiredo dados internacionais de catalogação na publicação – cip C514 Checchia, Marcelo, Org.; Torres, Ronaldo, Org.; Hoffmann, Waldo, Org. Os primeiros psicanalistas: Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena 1906-1908 / Organização de Marcelo Checchia, Ronaldo Torres e Waldo Hoffmann. Tradução de Marcella Marino Medeiros Silva. – São Paulo: V. de Moura Mendonça – Livros, 2015. (Scriptorium). (Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena, Volume 1) 584 p. ISBN 978-85-66423-24-2 1. Psicologia. 2. Psicanálise. 3. História da Psicanálise. 4. Psicanalistas. 5. Sociedade Psicanalítica de Viena. I. Título. II. Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena 1906-1908. III. Checchia, Marcelo, Organizador. IV. Torres, Ronaldo, Organizador. V. Hoffmann, Waldo, Organizador. VI. Silva, Marcella Marino Medeiros, Tradutora. VII. Scriptorium. VIII. V. de Moura Mendonça – Livros. CDU 159 CDD 153 Catalogação elaborada por Ruth Simão Paulino

scriptorium v. de moura mendonça – livros r. dr. veiga filho, 36 cj. 904 01229-000 são paulo - sp facebook: coleção atentado

ed.lab r. fradique coutinho, 1139 subsolo – v. madalena 05416-01100 - são paulo - sp 55 11 3097.8304

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As famosas reuniões de quarta-feira conduzidas por Sigmund Freud Organização Marcelo Checchia, Ronaldo Torres Waldo Hoffmann

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prefácio à edição brasileira.........................................10 introdução.................................................................... 16 1. reunião de 10 de outubro de 1906.......................... 45 Conferência de Otto Rank: O drama do incesto e suas complicações 2. reunião de 17 de outubro de 1906.......................... 61 Conferência de Otto Rank (segunda parte): A relação incestuosa entre irmãos 3. reunião de 24 de outubro de 1906.......................... 67 Discussão sobre a conferência de Rank 4. reunião de 31 de outubro de 1906.......................... 83 Conferência de Hitschmann: Sobre o livro de Bleuler – Afetividade, sugestionabilidade e paranoia 5. reunião de 7 de novembro de 1906......................... 91 Conferência de Adler: As bases orgâncias da neurose 6. reunião de 14 de novembro de 1906......................106 Conferência de Hollerung: Sobre o livro de Semon – A Mnême como princípio de conservação nas mudanças da vida orgânica 7. reunião de 21 de novembro de 1906......................111 Conferência de Frey: da mania de grandeza no indivíduo normal 8. reunião de 28 de novembro de 1906......................124 Conferência de Sadger: Lenau e Sophie Löwental 9. reunião de 5 de dezembro de 1906.........................134 Conferência de Hitschmann: Sobre o opúsculo de Stekel – As causas da nervosidade

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10. reunião de 23 de janeiro de 1907.........................150 Conferência de Meisl: Fome e o amor 11. reunião de 30 de janeiro de 1907.........................164 Discussão das questões colocadas pelo Sr. Eitington acerca da etiologia e terapia das neuroses 12. reunião de 6 de fevereiro de 1907.......................179 Conferência de Stekel: Sobre dois livros – A psicopatologia do vagabundo, de Willmanns; e A psicologia da demência Precoce, um ensaio, de Jung 13. reunião de 13 de fevereiro de 1907.....................190 Conferência de Reitler: O despertar da primavera, de Wedekind 14. reunião de 20 de fevereiro de 1907.....................201 Conferência de Freud: Comentário sobre A falta de esperança de toda psicologia, De Möbius 15. reunião de 27 de fevereiro de 1907.....................212 Continuação da discussão anterior 16. reunião de 6 de março de 1907.............................225 Conferência de Adler: Uma psicanálise 17. reunião de 20 de março de 1907...........................236 Conferência de Häutler: Misticismo e conhecimento da natureza 18. reunião de 27 de março de 1907...........................245 Conferência de Sadger: O sonambulismo 19. reunião de 10 de abril de 1907.............................252 Conferência de Wittels: Tatiana Léontiev 20. reunião de 17 de abril de 1907.........................261 Conferência de Bach: Jean Paul

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21. reunião de 24 de abril de 1907.............................272 Conferência de Stekel: Psicologia e patologia da neurose de angústia 22. reunião de 1 de maio de 1907................................283 Conferência de Sadger: Discussão sobre a degeneração 23. reunião de 8 de maio de 1907................................292 Conferência de [A.] Deutsch: Walter Calé 24. reunião de 15 de maio de 1907..............................298 Discussão sobre o artigo de Wittels: As mulheres médicas 25. reunião de 9 de outubro de 1907.........................307 Anexo: Carta de Freud aos membros da Sociedade Conferência de Stekel: Os equivalentes somáticos da angústia e seu diagnóstico diferencial 26. reunião de 16 de outubro de 1907.......................321 Conferência de Steiner: Sobre a impotência funcional 27. reunião de 23 de outubro de 1907.......................329 Conferência de Schwerdtner: O sono 28. reunião de 30 de outubro e 6 de novembro de 1907..................................................339 Conferência de Freud: Início de um caso clínico 29. reunião de 13 de novembro de 1907....................354 Conferência de Wittels: As doenças venéreas 30. reunião de 20 de novembro de 1907....................359 Conferência de Stekel: Análise de um caso de histeria de angústia 31. reunião de 27 de novembro de 1907....................366 Conferência de Stekel: Dois casos de histeria de angústia

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32. reunião de 4 de dezembro de 1907.......................374 Conferência de Sadger: Conrad Ferdinand Meyer 33. reunião de 11 de dezembro de 1907.....................381 Conferência de Graf: Metodologia da psicologia dos escritores 34. reunião de 18 de dezembro de 1907.....................396 Discussão sobre os traumas sexuais e a educação sexual 35. reunião de 8 de janeiro de 1908...........................403 Conferência de Stekel: Nos limites da psicose 36. reunião de 15 de janeiro de 1908.........................410 Conferência de Urbantschitsch: Meus anos de desenvolvimento até o casamento 37. reunião de 22 de janeiro de 1908.........................417 Discussão de temas variados 38. reunião de 29 de janeiro de 1908.........................419 Conferência de Adler: Uma contribuição à questão da paranoia 39. reunião de 5 de fevereiro de 1908.......................433 Ordem do dia: reorganização das reuniões Debate sobre o comunismo intelectual Conferência de Hitschmann: sobre a anestesia sexual 40. reunião de 12 de fevereiro de 1908.....................444 Discussão sobre a anestesia sexual Memorando Organização das reuniões 41. reunião de 19 de fevereiro de 1908.....................459 Conferência de Joachim: A essência do símbolo 42. reunião de 26 de fevereiro de 1908.....................467

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Conferência de Urbantschitsch: A significação do reflexo Psicogalvânico 43. reunião de 4 de março de 1908.............................486 Breves resenhas de obras bibliográficas e apresentação de casos por todos os membros 44. reunião de 11 de março de 1908...........................499 Conferência de Wittels: A posição natural da mulher 45. reunião de 1 de abril de 1908...............................510 Leitura e discussão de O ideal ascético, de Nietzsche 46. reunião de 8 de abril de 1908...............................519 Resenhas e apresentação de casos por todos os membros 47. reunião de 15 de abril de 1908.............................534 Discussão sobre a proposta do Dr. Hirschfeld de elaboração conjunta de um questionário 48. reunião de 22 de abril de 1908.............................537 Discussão do questionário de Hirschfeld 49. congresso de Salzbourg em 27 de abril de 1908.....................................................................555 Programa e lista de participantes 50. reunião de 6 de maio de 1908................................558 Conferência de Stekel: Algumas observações sobre a gênese da impotência psíquica 51. reunião de 13 de maio de 1908..............................565 Resenhas e apresentação de casos 52. reunião de 27 de maio de 1908..............................571 Resenhas e apresentações de casos de todos os participantes 53. reunião de 3 de junho de 1908.............................578 Conferência de Adler: O sadismo na vida e na neurose

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prefácio à edição brasileira Marcelo Checchia, Ronaldo Torres e Waldo Hoffmann Nos últimos anos do século XIX e início do século XX, Viena atravessou um de seus períodos áureos. Era chamada carinhosamente de die alte Keiserstadt, a velha Cidade Imperial, capital do vasto império austro-húngaro dos Habsburgos, governantes do “Santo Império Romano-Germânico”. Na Viena fin-de-siècle as ideias fervilhavam em suas diferentes dimensões culturais: na literatura, na música, na pintura, na filosofia etc. Alguns nomes se destacam como expoentes da cultura vienense: os escritores Arthur Schnitzler e o Prêmio Nobel de Literatura Elias Canetti, os músicos Arnold Schönberg, Gustav Mahler e Johannes Brahms, os pintores Oskar Kokoschka e Gustav Klimt, o arquiteto modernista Josef Hoffmann e o filósofo Ludwig Wittgenstein, entre outros. Os filósofos e historiadores Allan Janik e Stephen Toulmin perguntam-se: Seria uma coincidência absoluta que os começos da música dodecafônica, da arquitetura “moderna”, do positivismo legal e lógico, da pintura abstrata e da psicanálise – para não mencionar o ressurgimento do interesse em Schopenhauer e Kierkegaard – estivessem ocorrendo todos simultaneamente e se concentrassem de forma tão preponderante em Viena? Seria apenas um curioso fato biográfico que o jovem maes10

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tro Bruno Walter acompanhasse regularmente Gustav Mahler à mansão da família Wittgenstein em Viena? E não teria sido apenas a versatilidade pessoal de Schönberg que o fez produzir uma notável série de pinturas e alguns bons ensaios, além de suas atividades revolucionárias como compositor e teórico musical? Schönberg escreveu na dedicatória do exemplar de seu Harmonielehre [Ensino de Harmonia] com que presenteou o “incendiário” jornalista e escritor Karl Kraus: “Aprendi mais contigo, talvez, do que um homem deveria aprender, se quiser se manter independente”. Wagner von Jauregg, que substituiu Krafft-Ebing na chefia da cadeira de Psiquiatria da Universidade de Viena e foi chefe de Freud, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta da malarioterapia no tratamento dos distúrbios mentais. Freud estava inserido nesse “caldo de cultura”, mas a psicanálise, embora já dando seus primeiros passos, ainda não havia sido estabelecida, e seu reconhecimento só veio a acontecer muitos anos depois. Formou-se na Escola de Medicina da Universidade de Viena em 1881, tendo sido um estudante brilhante.Trabalhou como pesquisador no laboratório de fisiologia do Dr. Bruke e em 1883 entrou para o serviço do Dr.Theodor Maynert no Hospital Psiquiátrico. Apenas depois da experiência com Breuer e os Estudos sobre a Histeria e sua Psicologia para Neurologistas é que Freud produziria, como ele mesmo escreveu para Fliess em abril de 1895, sua “ruptura epistemológica”, publicando, entre 1900 e 1905, A interpretação dos sonhos, O chiste e sua relação com o inconsciente e Psicopatologia da vida cotidiana, fundando assim a psicanálise. 11

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Mesmo tendo sido nomeado professor, Freud não encontra interlocutores nos meios acadêmicos, onde suas ideias são rejeitadas. Quando lançada, A interpretação dos sonhos caiu no vazio. Ninguém se deu conta de que acontecera uma revolução. A tiragem da edição foi de apenas seiscentos exemplares e levou dois anos para se esgotar. Talvez por isso uma vez tenha respondido secamente a Jones, quando este disse que deveria ser interessante viver em uma cidade transbordante de novas ideias, que há cinquenta anos estava ali e ainda não havia encontrado nenhuma ideia nova. Sigmund Freud era um homem intenso e apaixonado, como revelam suas cartas aos seus amigos Silberstein e Fliess e a correspondência com sua noiva Martha Bernays. Com a mesma paixão e intensidade ele defendia suas descobertas psicanalíticas. No outono de 1902, um médico vienense, Wilhelm Stekel, que havia feito e se beneficiado de uma curta psicanálise com Freud devido a dificuldades sexuais, sugeriu que montassem um grupo de discussão. Carente de uma caixa de ressonância para suas ideias, Freud enviou cartões para Alfred Adler, Max Kahane e Rudolf Reitler. Estava formada a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras que se reunia na sala de espera de “Herr Professor”. Peter Gay, biógrafo de Freud, sugere que, dado o uso abusivo de charutos por Freud, havia algo de poético no fato de o tema da primeira reunião ter sido sobre as implicações psicológicas de fumar, como conta Stekel em suas memórias. Infelizmente, não existem registros dos encontros entre 1902 e 1906, quando Otto Rank é nomeado secretário remunerado e começa a escrever as atas

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do que a partir de 1908 passará a se chamar Sociedade Psicanalítica de Viena. Nessas minutas, estes senhores – em sua maioria médicos, mas também educadores e escritores – debatem sobre os mais diversos assuntos: psicanálise, inconsciente, etiologia e terapia das neuroses, sexualidade, onanismo, impotência, homossexualidade, incesto, em suma, vinham à tona ali os temas que a clínica psicanalítica recém-criada por Freud revelava e dos quais a sociedade em geral sequer queria saber da existência. Esses documentos históricos são preciosos, na medida em que abrem outra dimensão da transmissão escrita da psicanálise. Diferentemente dos textos clínicos e teóricos, das correspondências e das biografias, as atas permitem acompanhar de perto as discussões vivas e intensas entre alguns dos pioneiros e fundadores da psicanálise. Elas são um registro do posicionamento que cada um assumiu frente a determinado assunto e um registro de que tal posicionamento não era consensual. É possível, inclusive, seguir como se deram alguns conflitos e mesmo dissidências. Sabemos, evidentemente, que em uma ata muito se perde: a voz, com todas suas entonações, e uma série de conteúdos que ajudariam a acompanhar melhor os debates. Mas estas atas ultrapassam muito o que seria esperado de um registro burocrático de uma reunião. Elas revelam um espírito investigativo marcado por uma capacidade de acompanhar uma discussão, reconhecer o ponto de vista do outro, expandir os limites do entendimento e debater os propósitos alternativos possíveis (John Dewey) que nos deixa impressionados. 13

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Revelam-se nelas os hábitos inaugurais e vitais de um dos ramos do chamado “tripé da formação psicanalítica”, os seminários. O leitor, no entanto, só se deparará com essa outra dimensão da transmissão da psicanálise ao se dispor a acompanhar as atas do início ao fim e não apenas a consultá-las como material de pesquisa seguindo os temas destacados no sumário. Isso porque em diversas situações encontram-se inesperadamente noções ou conceitos que começaram a ser elaborados bem antes do que imaginávamos a partir dos textos já publicados – destacamos, a título de exemplo, as noções de pulsão de vida e pulsão de morte, que surgiram nas obras publicadas de Freud apenas em 1920, e aqui descobrimos que já estavam em discussão em 1907; ou então porque em meio a trechos que parecem irrelevantes ou já ultrapassados – principalmente pela visão médica ainda muito forte na própria psicanálise – surgem questões cruciais e ainda atuais, por exemplo: qual é o papel dos fatores sociais na formação das neuroses? Qual é a concepção de cura para a psicanálise? Como transmitir um caso clínico? Como a literatura e a filosofia podem contribuir para a psicanálise? Como organizar uma instituição psicanalítica? Que dificuldades enfrentavam? Como Freud manejava os conflitos (disputas por prestígio ou por propriedade das ideias) e as transferências cruzadas? Há, enfim, muito a ser explorado nesses documentos que são publicados agora pela primeira vez em língua portuguesa. Este livro inaugura a coleção a tentado, do selo editorial Scriptorium. O nome deve-se, em parte, ao acaso de 14

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um encontro. Surgiu ao nos depararmos com a antologia Poesia Vista, do poeta catalão Joan Brossa (Ed. Ateliê/ Amauta, 2006), traduzida por Vanderley Mendonça. Em vários de seus poemas visuais, Brossa utiliza a letra A como elemento de desmaterialização da poesia. A letra, como objeto, toma a forma da própria expressão poética e questiona os significados do sistema linguístico. Nessa antologia, o poema O Atentado (1986) nos chamou a atenção por propiciar um efeito chistoso. Primeiramente pelo próprio deslizamento de significados existente nesse significante: atentado remete, tradicionalmente, a ofensas a leis e valores morais e até mesmo à tentativa ou execução de um crime. Contudo, enquanto adjetivo, a palavra atentado reporta também a outros significados, podendo se referir àquele que tem tento, que é atento, mas também àquele que é arteiro, levado, endiabrado. Associado à psicanálise, esse significante ganha mais um significado, uma vez que o a, de atentado, é propositalmente grifado para fazer alusão ao objeto a do campo lacaniano, ao a tentado (que causa tentação, desejo), buscado, porém jamais alcançado. Essa polissemia serve bem ao que buscamos para esta coleção: publicar textos impactantes, surpreendentes, questionadores, críticos, atentos e também arteiros, levados, ousados. Nada melhor, então, do que inaugurar a coleção com uma obra que é o registro de reuniões que podem ser consideradas um verdadeiro atentado aos valores morais até mesmo para a Viena fin-de-siècle. Alea jacta est, o atentado está lançado!

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