Ăndice
1 nota de apresentação
Com esta edição pretende-se, mais uma vez, promover, divulgar e valorizar as mais antigas e até algumas das mais primitivas técnicas de trabalhar o barro que nos Açores se sublimou nas antigas olarias, fábricas de telha, indústrias de faiança e, ainda, em unidades de produção doméstica. É mais uma produção certificada ao abrigo da marca coletiva “Artesanato dos Açores”. O estudo desenvolvido pelo Centro Regional de Apoio ao Artesanato para a certificação da cerâmica dos Açores, concretamente das suas produções mais genuínas em olaria, faiança e figurado, proporcionou o levantamento sistemático desta parte importante do nosso património cultural, institucionalizado e particular, permitindo que seja alvo de posteriores pesquisas, estudos e intervenções técnicas ao reunir uma série de informação dispersa, pouco divulgada, mas preciosa em termos históricos e etnográficos. É, por isso, uma homenagem a todos os etnólogos e estudiosos das mais diversas áreas que souberam preservar estes saberes e técnicas ancestrais, designadamente o Professor Doutor Rui de Sousa Martins que tem colaborado com este Centro Regional e a quem se deve importantes estudos e iniciativas imprescindíveis para a valorização e divulgação do nosso património etnográfico. É de homenagear ainda todos os ceramistas açorianos que escolheram esta forma de expressar a sua arte, dando assim continuidade à tradição e acrescentando-lhe valor económico e cultural. É de agradecer também a prestimosa colaboração institucional que se manifestou no empenho pessoal dos diretores dos Museus de Santa Maria, de Angra do Heroísmo, da Graciosa e do Pico, do Presidente da Junta de Freguesia dos Altares, da ilha Terceira, bem como dos coordenadores do serviço da então Secretaria Regional da Economia dessas mesmas ilhas e ainda a todos os que se cruzaram connosco neste percurso da história da cerâmica dos Açores e quiseram partilhar um pouco do seu conhecimento, das suas recordações, do seu património.
2 A HISTÓRIA, A TÉCNICA E A ARTE
E, não tendo naquele tempo potes, nem talhas, nem outra Iouça, se serviam de cabaças em seu lugar e de bacios e escudelas de pau, e o mais grave bacio que tinham era de pau de sanguinho, com um corte dentro no meio, como talho de carniceiro, em que cortavam a carne; e no mesmo punham muitas vezes de comer ao Capitão Rui Gonçalves, primeiro do nome, quando ia à Achada, servindo-se com cabaças, que se davam naquele tempo muito grandes. Se as mulheres ou filhas dele e dos outros lhe quebravam alguma, escondiam os pedaços dela pelos não verem seus maridos, como neste tempo, quebrando uma rica porcelana da Índia, se abscondem os testos dela, para que se não soubesse a grande perda que se fazia em uma cabaça. E não somente serviam de água, mas de cozer nelas carne, cortados os colos, e postas um pouco debaixo da terra ou sobre ela, barradas ou cercadas de barro e pondo o fogo ao redor delas. Esta era a louça de que então se servia a mais da gente, porque traziam pouca de Portugal e es-
cassamente vinha a esta ilha um navio de ano em ano. Faziam isto alguns por se enfadarem de comer carne assada. Seria isto na era de 1501 a 1502.
(Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro Quarto, volume II, p.202, Ponta Delgada, 1981)
Na bibliografia de base para a História dos Açores que inclui a obra de Gaspar Frutuoso e o Arquivo dos Açores, não encontramos referências à produção cerâmica como rendimento digno de registo destas ilhas durante todo o século XVI, onde as referências à cana-de-açúcar e, sobretudo, ao trigo e ao pastel são uma constante. Durante o primeiro século de povoamento, os escassos produtos cerâmicos restringiram-se ao uso doméstico nos centros urbanos das ilhas de S. Miguel e Terceira. Eram produzidos no Reino, nos domínios de Castela e no Oriente e trazidos pelas armadas vindas anualmente de Lisboa, bem como pelas naus das rotas transatlânticas que aqui aportavam.
Mas o povoamento das ilhas é indissociável de um processo de conhecimento dos recursos naturais e de ensaios das formas mais adequadas de os explorar. Foi precisamente o conhecimento prático da qualidade dos materiais cerâmicos existentes (barro, têmpera areia, tufo, cinza -, água, combustível - lenha) e das técnicas de utilização que permitiram o desenvolvimento das artes do barro nos Açores. Este processo inovador não deve ter sido simples, porque a experiência cerâmica dos povoadores teve de se confrontar com uma realidade geológica (…) e climática bem diferente daquela que lhes era familiar. (Rui Sousa Martins, A Cerâmica modelada feminina dos Açores, p.43)
Será nos séculos seguintes que o sistema de produção cerâmica irá consolidar-se, numa primeira fase ao nível das olarias e, numa segunda fase, ao nível das fábricas, mas nunca de forma autónoma, uma vez que a escassez de matéria-prima criou uma dependência permanente relativamente ao exterior, reforçada pelo desenvolvimento de novas técnicas e sistemas de produção. A estratégia de exploração dos parcos recursos foi invariavelmente a do aproveitamento das argilas locais para a cerâmica de construção – telhas e tijolos – e o recurso à importação de argilas de outras ilhas como a de Santa Maria, do Continente ou até mesmo do estrangeiro para a produção de louça torneada e mais tarde da própria faiança. Já em pleno século XIX, o barro e a louça inglesa chegavam aos Açores em virtude das transações comerciais que se estabeleceram diretamente com a América do Norte e com a Inglaterra. (…) o abaixamento dos preços dos têxteis, devido à revolução industrial inglesa na segunda metade do século XVIII, numa primeira fase, e a diminuição dos fretes marítimos,
graças ao incremento da navegação a vapor na segunda metade do século XIX, numa segunda fase, aliados a outros factores secundários, explicam, a longo prazo, a decadência irreversível das indústrias tradicionais do arquipélago. Os efeitos de demonstração, por um lado, e o abaixamento dos preços dos bens manufacturados, por outro lado, vão, doravante, a partir das últimas décadas de oitocentos, destinar as indústrias tradicionais (linho, lã e outras vocacionadas para o consumo interno ou mesmo para a exportação) ao artesanato artístico ou pseudo-artístico para consumo dos forasteiros (…). Diversos inquéritos industriais permitem afirmar que as únicas fábricas do arquipélago se localizam, quase exclusivamente, nas capitais dos distritos (Ponta Delgada, Angra), enquanto nos campos circundantes e nas ilhas periféricas continuava a subsistir a indústria caseira de carácter artesanal.
(Fátima Sequeira Dias, A Indústria nos Açores durante o século XIX, Patrimonia, 5, Lisboa, novembro de 1999)
Durante todo o século XIX, o incipiente desenvolvimento industrial das ilhas mais pequenas assentava na produção de sabão, telha e cal. Paralelamente, a nível continental, e ainda no último quartel do século XVIII, os grandes centros de olaria tradicional como é o caso de Vila Nova de Gaia, sofrem a concorrência local da “indústria da louça de pó de pedra” (ao barro maleável são misturados minerais em pó como o quartzo), fazendo com que a faiança artesanal fosse sendo substituída no mercado pelo grés e pela porcelana. É nesta altura que a cerâmica dos Açores transita de uma longa fase primitiva, ligada ao consumo local e à economia doméstica em que predominavam as olarias e os telhais, para uma
produção mais refinada, industrial e competitiva em que o consumo da faiança surge ligado ao crescimento da burguesia local e aos primórdios do desenvolvimento turístico, em primeiro lugar na ilha de S. Miguel, fazendo surgir os primeiros sintomas de declínio da “Loiça da Vila”. A partir da década de trinta, já do século XX, a Sociedade Terra Nostra teve um papel impulsionador no desenvolvimento do turismo e do artesanato, bem marcado pela abertura da
Casa Regional em Ponta Delgada, em 1935. Este estabelecimento de venda de produtos regionais empregava nessa altura 1600 mulheres e era dirigida pelas esposas de alguns dos membros fundadores da Sociedade Terra Nostra: Lily Bensaúde, Maria Amélia Arruda e Maria Luísa Faria e Maia de Castro e Almeida. Nasce assim uma nova conceção estética para a indústria dos bordados e da cerâmica, neste caso por interferência de Maria Luísa Faria e Maia que irá encomendar novos modelos de
louças decorativas às fábricas da Lagoa. Em ambos os casos surgem, ao que parece de forma concertada, novos motivos, predominantemente os vegetalistas da natureza campestre e nada desprovidos de um certo sentido bucólico, bem como novas tonalidades, em que o azul-cobalto é a cor de eleição com correspondência nos dois tons de azul que passaram a caracterizar o bordado a matiz. E foi esta padronização que trouxe as principais características identitárias do artesanato tradicional dos Açores, materializado na famosa “Louça da Lagoa” e no já certificado “Bordado de S. Miguel”, com algumas repercussões no trajo tradicional que exibem os grupos de folclore micaelenses. Parece-nos pois muito provável que a cerâmica açoriana tal como chega aos nossos dias tenha sofrido ao longo dos séculos influências de diferentes centros de fabrico cerâmico continentais, consubstanciadas ao sabor das levas migratórias que se foram realizando. E, é também muito provável, que com o decorrer dos anos as peças cerâmicas se tenham adaptado às necessidades próprias da população açoriana, nascendo novas peças ou readaptando-se as antigas às necessidades da população que as utilizava.
(Isabel Maria Fernandes, Página Web do Centro de Conhecimento dos Açores, 2001).
O caráter transinsular da produção cerâmica foi sempre parte integrante deste percurso histórico e condicionalismo determinante na caracterização da cerâmica dos Açores. É a ilha Terceira mui fértil e andamosa que se anda toda ao redor, a pé e a cavalo e com carros e bestas de serviço, com que fica senhora e, como tal, bem servida e provida do que dentro em si tem e do que criam todas as outras ilhas suas vizinhas, que a ajudam, não sei se diga, e servem, porque a ilha de São Jorge tem quatro
ou cinco barcas, de duas, três e quatro velas cada uma, a que chamam barcos, por serem estroncados, sem coberta, feitos assi pera poderem levar gado; e o Pico três ou quatro; a Graciosa outros tantos; o Faial terá muitos mais e alguns navios que navegam pera a ilha da Madeira e outras partes. E com estes barcos e servida a Terceira, trazendo neles o que há em cada ilha à cidade de Angra, e dela não levam senão coisas que vêm de fora, como são vinhos e méis, açúcar e conservas da ilha da Madeira, e azeites de Castela, ferro, panos, breu, amarras de navios, poleames, cordoalha, especiarias e outras coisas, ou tornam vazios; e de maravilha vão navios com cárrega às outras ilhas, senão se for de arribada. (Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro Sexto, p.57, Ponta Delgada, 1978)
Esta circulação de produtos explicada pela escassez de matéria-prima e pela necessidade de abastecimento do mercado interno, fez do barro da ilha de Santa Maria um recurso essencial e de qualidade reconhecida nas olarias regionais. É neste contexto que surge implementado um interessante e até inovador sistema de exportação. Não conhecemos a utilização deste modo «original» de preparação do barro para transporte em nenhuma barreira existente em Portugal continental ou insular (Fernandes, 2002). Para que se entenda a técnica utilizada transcreve-se um texto bem elucidativo de Eduíno Borges Garcia: «Ainda não há muito anos, o barro era expedido, não em talhadas, ou tal qual a enxada o corta, mas sim sob a forma de ‘bolas’. (...) O operário trabalha no barreiro, dentro de uma cova, com cerca de um metro de fundura. De dentro da depressão, vai cavando, com uma enxada de lâmina estreita, uma certa porção de barro da parede da cova. Sentado no chão ou numa
pedra, tem na sua frente uma outra pedra com uma concavidade semi-esférica, com uns dez centímetros de diâmetro. Toma uma certa porção (mancheia) de barro que atira e vai batendo e rolando de encontro à concavidade, até que tome a forma esférica. Quando a bola está formada, atira-a para o chão que fica um metro acima da cova. (...) O sistema de transporte em ‘bolas’ tinha a vantagem de ser mais fácil e limpa a sua arrumação a bordo dos barcos. Não havia quebras e o controlo da qualidade estava resumido a uma simples contagem» (Garcia, 1971a). Existe no Museu de Olaria, em Barcelos, uma dessas pedras de fazer bolas de barro, oferecida pelo barreireiro de Vila do Porto, Francisco Pacheco, bem como algumas bolas de barro (Fernandes, 1993: 114 e 117). (Isabel Maria Fernandes, Página Web do Centro de Conhecimento dos Açores, 2001). Os homens que extraíam o barro moldavam cada porção de encontro a uma pedra côncava que por isso tomou o nome de “pedra de embolar”, contabilizando a sua produção em “caminhos” (1 caminho equivale a 410 bolas de barro), tendo em conta que cada dia de trabalho deveria totalizar 3 caminhos para ser rentável. Com efeito, esta forma de barro em bolas facilitava o seu transporte e a respetiva contabilização. Ao nível da comercialização, a contagem do produto a exportar era feita em talhas, sendo que cada talha equivalia a “41 par de bolas de barro”, segundo testemunho do último barreireiro de Santa Maria, José Soares Pacheco. Estes homens que extraíam o barro trabalhavam por conta de um empresário local (João Augusto Batista, Alfredo Parece e o próprio José Soares Pacheco), sendo igualmente responsáveis pela distribuição do barro pelas olarias da ilha, transportado na altura em burros.
A população local dependia da vinda destes “burriqueiros” que traziam as “novidades”. Já ao nível do carregamento dos barcos, o “carro” era a unidade de medida e cada talha enchia dois carros, podendo totalizar um máximo de carga na ordem dos 1500 carros. Neste sistema de comercialização, o proprietário do barreiro recebia uma percentagem do lucro da venda do barro. A ilustrar o caráter transinsular da produção cerâmica está o reconhecimento generalizado a todo o Arquipélago da qualidade da olaria de Santa Maria, da telha da Graciosa e ainda da faiança de S. Miguel e Terceira, o que facilitou a transição de artífices para unidades produtivas de outras ilhas, bem como a circulação de modelos cerâmicos.
1. Caracterização da Matéria-Prima A cerâmica é essencialmente argila endurecida pelo fogo (Renato Costa e Silva – A cerâmica nos Açores, 1986).
O termo “cerâmica” deriva da palavra grega para argila, Keramos. Para conhecermos melhor a natureza desta matéria-prima e a complexidade subjacente à sua formação, convém fazer a seguinte distinção: 1.1 As Argilas Refratárias (resistentes a altas temperaturas): 1.1.1 Primária ou residual (“barro magro”) – a argila primária permanece no local onde se originou, sendo este o caso da formação das jazidas de caulino (a caulinite é o mineral predominante), é branca e é a base da porcelana vitrificada; é abundante em todo o País e é um componente importante na resistência à alta temperatura (ponto de fusão a 1800Cº); por isso, e por ser muito friável, raramente se usa sozinho, mas misturado com outras argilas
para lhe conferir maior plasticidade e baixar a temperatura da queima e mesmo assim tem que ser trabalhada com a ajuda de moldes ou formas pois com a mão é impossível. 1.1.2 Secundária ou sedimentar (“barro gordo”) – argila plástica proveniente da decomposição de rochas feldspáticas que sofreu um processo de deslocação pelo vento e pela água, ou até pela atividade vulcânica, e acumulou pequenas partículas de cristais (sílica) e minerais como o ferro e o alumínio (estes últimos são altamente fusíveis e por isso unem todas as partículas que não derretem pela ação do fogo) e matéria orgânica diversa que lhe dão cor (amarelo, rosa pálido, vermelho ferruginoso, verde, azul, cinzento e até negro); são essas minúsculas partículas, de formato lamelar, que, quando humedecidas, deslisam e colam-se, adquirindo a forma que se lhes dá – é aqui que reside a propriedade plástica deste tipo de argila. 1.2 A importância do barro proveniente da ilha de Santa Maria na cerâmica tradicional dos Açores A argila do tipo secundária ou sedimentar que se forma nas ilhas dos Açores está condicionada pela sua natureza vulcânica, o que lhe confere características próprias. 1.2.1 Condicionalismos geográficos: Segundo João Marinho dos Santos, os terrenos argilosos são bastante escassos nas ilhas, ainda que se encontrem alguns Barreiros em Santa Maria (sobretudo na metade norte da ilha, em zonas pouco definidas e em camadas finas) e em pontos isolados das restantes ilhas. Assim se explica a passagem das primeiras habitações (cafuas de madeira com cobertura de colmo) para a predominância da alvenaria, rebocada ou não, com cobertura de telha, sem que as construções de taipa tivessem vingado de forma generalizada, uma vez que estão condicionadas à existência de barro.
Se não é fácil fazer cerâmica com argilas vulcânicas, os povoadores depressa aprenderam a superar as deficiências da matéria-prima, conhecendo-lhe o comportamento, doseando-lhe têmperas apropriadas e (ou) misturando argilas com plasticidades diferentes, trabalhando-as com técnicas adequadas. Assim se aproveitaram argilas muito pobres.
(Rui de Sousa Martins, A Cerâmica modelada feminina dos Açores, p.44)
Com efeito, o mesmo autor está convicto de que “todas as ilhas conheceram a arte do barro”, apesar dos escassos elementos conhecidos sobre a cerâmica do arquipélago. Mesmo assim, a qualidade do barro proveniente da ilha de Santa Maria, reconhecido e requisitado para a produção cerâmica nas várias ilhas dos Açores, já em pleno século XVI, surge-nos inquestionável: Há nesta ilha barro, de que se faz louça vermelha, sem ter necessidade da de fora, e telha muito boa, que, além de abastar para a terra, se traz para esta ilha de São Miguel muita dela. Tem também pedra de cal, e nela se faz não tão alva, nem forte como a de Portugal; e vale a seiscentos réis o moio, pelo preço mais caro. Também há greda, cré, almagra e areia branca, com que se costuma arear e lavar o estanho. (Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro Terceiro, Ponta Delgada, 1983, p.96)
(…) a ilha (Santa Maria) é de uma salubridade incontestável onde não medram doenças exóticas; possui produtos naturais tais como: jazigos de pedra de cal (…) e extensas barreiras de argila, barro gordo, que exporta para todas as ilhas no estado natural ou manipulado em bolas para a fabricação de louça, telha e tijolo ordinários. (Livro do Primeiro Congresso Açoriano, p.559)
Esta qualidade veio a ser de enorme relevância na arrecadação de receita municipal e, consequentemente, na economia da ilha de Santa Maria, pela aplicação dessa receita em benefício de infraestruturas locais. A argila parda, conhecida vulgarmente pelo nome de barro, excelente para louça vermelha, canos, tijolo e telha, de que se abastecem as outras ilhas, forma um dos ramos principais da exportação, assim como o principal rendimento municipal. 0 alvará de 20 de Maio 1649 concedeu, por pedido do juiz, vereadores e procurador da Câmara, o imposto ou finta de 25 reis por cada carro de barro exportado, com o fim de se prover ao ordenado anual dos bombardeiros dos fortes e aos reparos destes. A provisão do Desembargo do paço de 5 de Dezembro 1743 determinou que da sua importância se pagasse também ao Escrivão da Câmara o respectivo vencimento, e por outra provisão de 27 de Janeiro 1744 conseguiu a Câmara e os moradores da Villa do Porto se aplicasse ao encanamento da água para o chafariz da mesma Villa. Em virtude de nova representação foi o seu produto egualmente aplicado ao pagamento das amas dos expostos, por portaria de 20 de Outubro 1830, confirmando-se além disso todas as disposições compreendidas no alvará e provisões anteriores. Considerada esta finta como bens próprios do município, pela posse em que se acha há 202 annos, o seu rendimento anual, montando cerca de 400:000 reis constitue a principal verba da receita municipal sem gravame dos habitantes. (Arquivo dos Açores, vol.XV, p.232)
No século XVII o comércio do barro e do produto das olarias marienses com a ilha de S. Miguel merecia já especial atenção das Posturas da Câmara de Ponta Delgada:
Vereasam em coarta feira 21 de Agosto de 697 Nesta vereasam acordaram o seguinte e mandaram que se nam embarcase azeite algum de linhasa pera fora desta ilha nem linhasa exceto pera a ilha de Santa Maria em barco da propria ilha e que vá pera ella em direitura e na sobredita forma o linho em rama e o azeite de linhasa se não uenderá por mais de outo uintenis e nenhum oleiro uenda cousa alguma de panellas, caldeirões e mais que costuma fazer senão na forma da taxa e isto com pena de pagarem pera as despezas do conselho cada l:um delles que o contrario fizer e pera acusador coatro mil reis da cadea e asim o mandaram e acordaram e asinaram, Antonio Borges Henriques tabaliam o escreui. Doutor Juiz de Fóra :--Joseph Botelho de Cequeira. Vereadores :—O cappitam Ruy Pereira do Amaral, o cappitam Francisco Muniz Raposo. O Procurador:—O cappitarn Francisco da Silva Ribeiro. Mistéres :—Domingos Cardoso.
(Arquivo dos Açores, vol. XV, p.186)
Fátima Sequeira Dias revela-nos, de forma comprovada, que entre 1821 e 1825 S. Miguel importava barro exclusivamente da ilha de Santa Maria (6447 toneladas), destinado ao fabrico de objetos de uso doméstico e de telhas; a extração ocorria entre os meses de dezembro e maio na parte ocidental da ilha, onde predomina uma paisagem de pasto, plana e árida, concretamente a zona do Aeroporto e de Santana. Passando avante, vai correndo a rocha da Faneca, alta, íngreme e tão a pique, que nenhuma boa besta chegara com seu tiro do mar acima dela, à superfície da terra. E aqui está uma fonte, que foi de Duarte Lopes de Frielas e do seu nome se chama, no cabo de uma terra
que só tem barro vermelho, sem ter verdura, porque, com ser perto de vinte moios de terra, não haverá em toda dois alqueires dela que erva tenha. (Frutuoso, Gaspar, Saudades da Terra, Livro Terceiro, Ponta Delgada, 1983, p.82)
Este lugar, algo misterioso e implantado na ilha como um deserto num oásis, não fez parte do roteiro dos barreireiros, sendo hoje uma zona protegida do meio ambiente e da paisagem natural de Santa Maria. Mas ao fazermos o passeio turístico e pedonal que atravessa o Barreiro da Faneca, podemos facilmente sentir o deslizar do barro vermelho debaixo dos nossos pés! O barro das outras ilhas (mais arenoso e com pouca plasticidade) destinava-se sobretudo à construção civil, designadamente para argamassa, para o fabrico de telha, tijolos e de outras peças mais grosseiras, sendo quase sempre misturado com o barro de Santa Maria que era exportado para a ilha de S. Miguel, Terceira e Faial. Ao que parece, processo análogo se desenvolveu com a olaria madeirense aonde aportavam bolas de barro da ilha de Santa Maria, aproveitando a rota dos cereais já instalada entre os dois arquipélagos. Mesmo assim, João Adriano Ribeiro classifica a argila de Santa Maria como pertencendo à classe das “argilas magras”: (…) são menos untuosas e contêm cal e óxido de ferro, sendo empregadas na louça ordinária, tijolos, telhas, vasos, bilhas e outros utensílios do quotidiano; em oposição, a “argila gorda” é untuosa, forma pastas muito ligadas e resiste a altas temperaturas, empregando-se por isso no fabrico de porcelanas e de faiança fina. (João Adriano Ribeiro, A olaria nos Açores, Separata da Revista Islenha, p.67)
Em conclusão, a argila mariense tem um tom
acinzentado com tonalidades variantes que até se podem encontrar em camadas sobrepostas: poderá ser mais claro e amarelado, dando origem a uma argila menos plástica, mas preferida pelos oleiros de Vila Franca, segundo o testemunho do oleiro João Carroça, ou mais escuro, sendo, portanto, uma argila mais gorda, em que predominam minerais como a montmorilonite. Neste último caso, em que a argila absorve muita água, aumenta o seu volume e adquire elevada plasticidade, o que a torna eficaz no torno de alta velocidade, sofre fortes retrações durante a secagem e a cocção, das quais podem resultar fendas, devendo por isso ser cozida a temperaturas baixas – aproximadamente 850Cº (por isso não pode ser utilizada na faiança como a única argila) - e até ser corrigida com misturas cerâmicas (barro de origem sedimentar, caulino, areia). Com efeito, as olarias regionais não prescindem desta argila mariense pelas suas propriedades plásticas, mas misturam-na com outras argilas locais ou outras substâncias minerais, como por exemplo a areia para impedir o encolhimento excessivo durante a secagem, uma vez que a classificam como uma argila “muito forte”, isto é, muito plástica. Também outros propósitos podem ser atingidos, como melhorar a plasticidade, aumentar a densidade a uma determinada temperatura, obter uma certa textura ou cor, etc. Certo é que a natureza vulcânica do arquipélago dos Açores proporciona a exploração de componentes locais na composição da pasta cerâmica, como é o caso da cinza vulcânica e de uma variedade de barros locais, o que tem proporcionado aos nossos ceramistas contemporâneos excelentes resultados. Atualmente existe grande dificuldade de abastecimento por parte das ilhas que mais consomem o barro de Santa Maria, essencial para as
olarias da Terceira e de S. Miguel, à exceção da Cerâmica Vieira (única fábrica de faiança em funcionamento nos Açores) que possui barreiro próprio, agravada pelo facto de ser extraído em bruto, com a ajuda de maquinaria que não distingue as camadas do solo nem as impurezas que vai recolhendo, desde a superfície até uma determinada profundidade. As nossas olarias deixaram de receber em abundância as bolas cinzentas de barro puro e passaram a receber ocasionalmente, e em resultado de muita persistência, algumas sacas de terra e argila! As olarias de Ricardo Simas, na Terra Chã, na ilha Terceira e a de João Carroça, em Vila Franca, na ilha de S. Miguel, necessitam, respetivamente, de 18 e 12 toneladas por ano, o que prova que o mercado regional poderá justificar o investimento na revitalização deste canal de comercialização. Esta é uma questão fundamental para a certificação da olaria tradicional açoriana, cujas características formais dependem da utilização da argila mariense que lhe confere a cor vermelho acastanhado e a textura rugosa. A expressão, – “Como barro” – claramente alusiva à excedência de barro na ilha de Santa Maria, é usada como termo de comparação para expressar a abundância e fartura de qualquer coisa ou bem. Por exemplo: ele tem dinheiro como barro; este ano há milho como barro; havia gente na festa como barro. (Arsénio Chaves Puim, O povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências, Câmara Municipal de Vila do Porto, 2008, p.67)
1.2.2 As argilas utilizadas na cerâmica dos Açores Santa Maria – ideal para a louça torneada – olaria tradicional -, pode ser misturada com outros barros, mesmo os locais, e eventualmente temperada com areia. Continente e estrangeiro – aplicada na louça
vidrada, esta “argila gorda” proveniente do continente e até do estrangeiro, é misturada com a “argila magra” de Santa Maria, uma vez que esta não suporta as elevadas temperaturas exigidas pelo vidrado; desde o século XIX o barro inglês servia de lastro aos navios que se vinham abastecer de laranja e era já utilizado na produção cerâmica dos Açores. No caso da olaria, dadas as atuais dificuldades de abastecimento do barro de Santa Maria por parte das olarias tradicionais micaelenses, misturam-no com barro importado, principalmente do Norte do País (barro vermelho de Vila Nova de Gaia), mas também o barro branco das Caldas da Rainha e de Alcobaça. Barros locais – extraídos em todas as ilhas, eram utilizados apenas na confeção de tijolos de forno e de telhas, e eventualmente de alguma peça modelada como é o caso da sertã, numa pasta sem misturas e eventualmente temperada com areia. 1.2.3 Outros materiais cerâmicos endógenos: Cinza vulcânica – segundo o ceramista Renato Costa e Silva, as espécies mais escuras são as mais fundentes (1.200Cº) e podem ser utilizadas em vidrados até 70% ou na composição da própria pasta cerâmica; popularmente designadas por saibro, areúsco, areia da terra, pedra-pomes e bagacina, podem encontrar-se em locais diversos e apresentar-se em várias tonalidades. Rocha basáltica pulverizada – segundo o mesmo autor, as propriedades são idênticas às das cinzas vulcânicas, incluindo a temperatura de fusão, sendo mais apropriada para os vidrados; as pedreiras são o melhor local de extração deste pó ou areia. Areia – de origem diversa, pode ser utilizada para facilitar a secagem, ajudar a reter a forma e produzir efeitos especiais. 1.3 Classificação da Cerâmica
O carácter técnico da louça fica definido pelo grau de calor a que ela for submetida (Renato Costa e Silva – A cerâmica nos Açores, 1986)
Classificar a cerâmica não é tarefa linear e, como acontece em muitos outros casos, poderão ser tantas as classificações quantos os critérios que lhes servirão de base. Assim, poderemos obter vários níveis de classificação, tendo em conta a composição da matéria-prima, as técnicas de produção ou até a funcionalidade dos objetos. Neste contexto, a classificação de Manuel Leão, no âmbito do estudo que realizou sobre a Cerâmica de Vila Nova de Gaia, permite-nos facilmente identificar o estado da nossa produção e confirmar o seu caráter artesanal, mesmo quando se aplica a designação de “fábrica” ou “indústria” à maior unidade de produção que temos atualmente. Assim, dentro da designada “Cerâmica Fina” e por oposição à “Cerâmica Grosseira”, termo aplicado à cerâmica de construção, podemos adotar a seguinte classificação: Barros – Louça de barro porosa Terracota – Barro cozido de 900Cº a 1000Cº e não vidrado. Faiança – Louça de barro à qual foi aplicado um revestimento integral da chacota com vidrado estanífero (branco opaco), sobre o qual se aplica a decoração, após o que vai pela 2ª vez a cozer, mas agora numa temperatura mais elevada, o que lhe confere uma superfície macia e uniformizada; o barro branco é fundamental na composição desta pasta. Grés ou Arenito – Produto cuja pasta tem grande densidade, com composição à base de sílica, quartzo e feldspato, e que vitrifica entre os 1150ºC e os 1350ºC. Essencialmente são pequenos grãos de quartzo aglomerados e misturados com argilas e outros componentes
numa fórmula própria que surge no S. XIX e que toma a designação de “louça de pó de pedra”. É resistente, compacta e opaca se for vidrada. Segundo a origem da argila e a quantidade de óxido de ferro pode adquirir tons que vão desde o branco, cinzento ao amarelo e castanho. Porcelana – matéria-prima mais rica em caulinite à qual se associam também o quartzo e o feldspato e que surge já no século XX; coze a uma temperatura mais elevada, podendo atingir 1500Cº; “louça de pó de pedra porcelana”, mais branca e translúcida, presta-se à decoração pintada, antes ou depois do vidrado, pois a massa de porcelana é muito lisa e densa, sendo constituída à base de caulino torneado ou moldado. Torna-se assim evidente que a cerâmica dos Açores preserva as suas características artesanais na produção, a baixa temperatura, de louça de barro, em terracota ou faiança, cristalizando sistemas de produção muito próprios, geradores de produtos genuínos que, como tal, merecem ser certificados e valorizados em termos de mercado. Por outro lado, a atual geração de ceramistas tem procurado valorizar os recursos endógenos, neste caso de origem vulcânica, potencializando as suas características específicas na produção de novas pastas cerâmicas, como por exemplo o designado grés vulcânico, produzindo um efeito estético com nota contemporânea.
2 O PROCESSO TÉCNICO 2.1 Extração e preparação do barro
A terra superficial (A) é removida, até o barro (B) ficar a descoberto. Por sua vez o barro (B) é cavado sem atingir a camada de terra seguinte (C). A terra removida (D) é depositada de modo que não dificulte a extracção. (Renato Costa e Silva – A cerâmica nos Açores, 1986)
O barro é arrancado do seu depósito natural com a ajuda de picaretas e de uma enxada fina, de forma a evitar uma desastrosa mistura com terra, e mesmo assim tem que ser limpo de pedras e raízes, para depois ser armazenado, ao ar livre. Aí, vai humedecendo e amolecendo com a água da chuva durante meses, como acontece na fábrica de cerâmica Vieira, ou no barreiro interior das tradicionais olarias, a um metro de profundidade, no chão. De qualquer forma, a primeira fase do tratamento da matéria-prima terá que passar sempre por dois procedimentos elementares que tradicionalmente eram designados por caldear o barro – mistura de várias argilas e de aparas de barro cru e seco que resultaram de operações falhadas e que também são picados e orvalhados para amolecerem e integrarem a pasta cerâmica.- e curtir o barro – altura em que fica a macerar pela ação da água. 2.2 Preparação da pasta cerâmica Nesta fase há que distinguir as técnicas tra-
dicionais das técnicas mecanizadas que as pequenas indústrias de cerâmica adotaram. O barro era pisado e eventualmente temperado pela adição de desengordurantes, e depois sovado, processo ao longo do qual se vai retirando impurezas que ainda persistem, bem como bolhas de ar e grumos, até adquirir uma consistência homogénea. Na versão mecânica, o diluidor, o filtro-prensa e o amassador mecânico designado por fieira substituem o trabalho árduo e pouco saudável dos pés descalços dos antigos oleiros, mas também a sensibilidade das suas mãos que ao sovar o barro detetavam o mais pequeno grão! Atualmente, o barro importado é adquirido em condições de ser imediatamente utilizado, dispensando uma série de operações de depuração, pelo que o barro local, designadamente o da ilha de Santa Maria, deveria, nas mesmas condições, garantir o abastecimento do mercado regional, potenciando assim a rentabilização da sua extração. De qualquer forma, o repouso ou envelhecimento da argila, preservando a sua humidade, e o amassamento continuam a ser processos determinantes na obtenção de maior plasticidade da pasta e, em conjunto com a posterior cocção, constituem conhecidos momentos críticos da produção cerâmica. É ainda nesta fase, em conformidade com as características do produto final a obter (olaria, escultura, faiança, etc.), que se procede à correção da pasta, temperando-a com cinza, sílica, feldspato ou caulino (fonte de minerais), fornecendo-lhe vidro e fundente de forma a equilibrar a plasticidade da argila e até diminuir o ponto de fusão de matérias de alta temperatura - são estas as propriedades básicas de uma pasta cerâmica. 2.3 Conformação do objeto cerâmico Com base no estudo da cerâmica dos Açores
realizado por Rui de Sousa Martins e publicado em “O barro, a técnica e a arte: a cerâmica dos Açores e as olarias de Vila Franca do Campo” e na sistematização técnica que as normas de certificação da cerâmica dos Açores encerram, importa aqui relacionar o nosso produto cerâmico à técnica que lhe dá forma.
MODELADA Sertãs Bonecos
Tijolos Escultura de Tampas de expressão livre a panela partir da base de barro em placa, bola ou rolo
MOLDADA
Molde aberto Molde fechado Telha (Enchimento e Decalque) Tijolos Não vidrada Vidrada para fornos
Bonecos Bonecos Estatuetas Estatuetas Adornos Adornos
TORNEADA
Não vidrada Vidrada
Recipientes Recipientes Canos 2.3.1 Modelação - Conformação de um objeto cerâmico pela ação direta das mãos ou de utensílios sobre a pasta: Cerâmica tradicional: como técnica exclusiva (no caso dos grelhadores de barro) ou como técnica secundária (no caso dos oleiros que a empregam para a feitura de alguns elementos
das louças como as asas e os vertedores que são aplicados com lambugem ou barbotina – uma espécie de papa de argila ou barro líquido – na peça de barro ainda cru mas já bastante duro); esta técnica emprega frequentemente argilas de fraca plasticidade, as mais abundantes no arquipélago, que poderão ser temperadas com areia. Cerâmica moderna: escultura de expressão livre, onde se experimentam as mais variadas argilas com granulometrias e tonalidades diversas (numa mistura uniforme ou numa conjugação das diferentes argilas com resultado estético por vezes surpreendente) e ainda outros componentes cerâmicos, como os vidrados e ainda novas técnicas de ornamentação, como por exemplo a aplicação de texturas ou de incrustações. 2.3.2 Moldagem – utilização de moldes para a reprodução do modelo original: Moldes abertos, tradicionalmente em madeira, para telhas e tijolos, material de construção em que se empregam argilas de menor qualidade; Moldes fechados, tradicionalmente em gesso e compostos por duas ou mais secções complementares (tasselos): De enchimento – derramamento de barro líquido dentro do molde que, sendo de material poroso, absorve a humidade e permite a formação de paredes de barro sólido; este sistema que muitas vezes implica o vazamento do excesso de água é ideal para a reprodução em série de figuras, peças decorativas e recipientes; De decalque - pasta cerâmica mole, aplicada e pressionada nas duas faces do molde que se unem numa única peça de barro maciço, sendo esta técnica mais utilizada na reprodução em série de figuras e, eventualmente, de algumas peças decorativas. 2.3.3 Torneamento:
Roda – Técnica de conformação que consiste na utilização de um mecanismo que, na versão artesanal, é estruturalmente constituído por dois círculos de madeira ligados entre si por um eixo vertical; o primeiro é menor e está colocado ao nível de um homem sentado; o segundo é maior e está ao nível dos seus pés. No círculo superior é colocada a pasta cerâmica que o oleiro vai modelar diretamente com as mãos, e no círculo inferior são induzidos movimentos circulares pelo pé do próprio oleiro. Esta técnica exige argila plástica, sendo que no arquipélago só existe nas ilhas das Flores e de Santa Maria; neste processo é fundamental a centragem do barro na roda que pode assumir três formas iniciais para muitas variações – cone, cilindro e esfera -, bem como a habilidade do oleiro em levantar a peça em rotação. 2.4 Secagem Preferencialmente no interior, em local seco e arejado, de forma controlada, para que haja uma secagem lenta e progressiva, ou seja, segundo o saber empírico, sem correntes de ar e sem raios de sol diretos. É um lento processo de evaporação da água (até 90%) e de união das partículas de argila que dá origem a uma contração da peça cerâmica em 8 a 10% relativamente à sua massa inicial. Como as peças secas à temperatura ambiente preservam ainda alguma humidade, este processo só terminará no forno aos primeiros 100 Cº. O tempo de secagem depende das pastas cerâmicas utilizadas, da dimensão e espessura das peças e, fundamentalmente, do clima. 2.5 Cocção Nesta fase é essencial conseguir temperaturas elevadas e homogéneas, daí a necessidade de revestir o forno com material isolante, como por exemplo o tijolo. O equipamento de cozedura dos materiais cerâmicos pode ter uma infinidade de con-
figurações, consoante os produtos desejados, o volume de produção e os lugares geográficos. No ocidente e de um modo tradicional, é construído com tijolos refratários e metal, e composto por três partes essenciais: a fornalha, onde arde o combustível, a câmara de cozedura, onde se colocam as peças cerâmicas e que pode ter vários andares, e a chaminé. O forno a lenha, de planta circular e de corrente de calor ascendente é o mais tradicional nos Açores. A evolução tecnológica trouxe mudanças nas configurações dos fornos, por exemplo, por serem alimentados não pela combustão da madeira mas de gás ou de eletricidade, podem ser muflados (a mufla é o resguardo ou caixa construída em material refratário para impedir a exposição das peças cerâmicas à chama ou radiação direta) e desenhados para responder a grandes volumes de produção, com forma de túnel ou contínuo. 2.5.1 Tempos de cozedura No forno a lenha – forno tradicional das olarias açorianas - ou a gás, destinado à monocozedura, o ciclo de cozedura é mais lento, podendo oscilar entre as 36 e as 24 horas, incluindo os períodos de aquecimento, vulgarmente designado de “esquente” e arrefecimento; Em forno industrial, muflado, elétrico ou a gás, destinado à primeira ou à segunda cozeduras, o ciclo completa-se em 8 a 10 horas, incluindo os períodos de aquecimento e arrefecimento; o tempo/ciclo de cozedura depende do tipo de pasta utilizada e do tipo de peças a cozer e será ainda mais prolongado se o forno estiver cheio, uma vez que o processo de arrefecimento será mais demorado. 2.5.2 Fases de cozedura Tal como o próprio nome indica, as fases seguintes não se aplicam no caso da monocozedura, em que o produto final necessitará de uma temperatura máxima muito próxima de
1000Cº, podendo atingir os 1250Cº caso a pasta assim o exija, como por exemplo o grés. No entanto, o emprego quase exclusivo de barros locais na olaria tradicional, exige uma temperatura mais baixa (800 a 900Cº). Enchacotamento – nesta primeira cozedura que tem a duração aproximada de 10 horas dá-se a desidratação da pasta com a perda de água molecular e a combustão das matérias orgânicas. Em termos de quantidade de produção, esta é a fase mais rentável, uma vez que implica menos fornadas porque em cada uma consegue-se acomodar um grande número de peças: Secagem: de 300 a 500 Cº, sendo um processo muito lento até atingir a temperatura máxima pretendida; Cozedura, fase de aquecimento em que se atinge uma temperatura máxima aproximada dos 1000 Cº, mas que poderá variar conforme o tipo de pasta cerâmica empregue, sendo certo que uma temperatura mais alta nesta fase confere estabilidade à peça cerâmica, diminuindo assim o risco de falhas aquando da segunda cozedura; Arrefecimento, período em que a temperatura regressa aos cerca de 500 Cº iniciais, fechando-se o ciclo de cozedura quando aos 200 Cº se inicia o arrefecimento total controlado por ventilação. Vidrado – Esta cozedura, também designada de alto fogo, é um processo mais rápido do que o enchacotamento (cerca de 8 horas); em que se produz a fusão do vidrado e dos esmaltes, fixando definitivamente os pigmentos e as decorações aplicadas e criando uma forte coesão física destes com a peça enchacotada, ao serem sujeitos a temperaturas entre 800ºC e 1400ºC. Esta fase exige mais fornadas com menor número de peças em cada uma, uma vez que são devidamente dispostas no forno com a ajuda
de acessórios que as isolam umas das outras. Terceira cozedura - Poderá ter lugar posteriormente às duas anteriores e pode ocorrer para aplicação de esmaltes ou lustres metálicos que não resistem a altas temperaturas, conseguindo-se desta forma cores mais vivas, sendo por isso muitas vezes designada por cozedura de decoração. 2.6 Revestimento ou Impermeabilização: Sobretudo para a manipulação de líquidos, é importante impermeabilizar as peças em chacota de modo a torná-las menos absorventes, aumentando a respetiva resistência física e garantindo maior higiene no uso dos objetos. Almagre – pigmento natural obtido a partir de argila vermelha que é diluído em água para formar uma calda cuidadosamente refinada - é o único revestimento, sem necessidade de cozedura, que foi frequentemente utilizado na olaria tradicional açoriana; Engobe – camada fina de revestimento que é constituída por uma argila muito diluída, podendo ser misturada com vidrado transparente ou corada com óxidos ou pigmentos e fixada por cozedura; Vidrado - matéria transparente, composta por vidro em pó e que se mistura com corantes e outras substâncias opacificantes e fundentes (óxidos metálicos), usado para cobrir a superfície dos objetos cerâmicos enchacotados e que se fixam por cozedura, preferencialmente de forma lenta e progressiva. Os vidrados fixam os pigmentos ao corpo cerâmico, dão-lhe qualidade de brilho, sendo, assim, um importante suporte dos pigmentos e meio para a decoração. As bases de vidrado contêm chumbo (vidrado plumbífero), de efeito transparente, ou estanho (vidrado estanífero), de efeito branco e opaco, sendo este último por vezes substituído por óxido de antimónio ou de zircónio. Esmalte - Vidrado opaco, corado com óxi-
dos metálicos, adquirindo a cor dos respetivos óxidos, que é aplicado diretamente na chacota e fixado pelo fogo. Os principais componentes do esmalte estanífero são: uma mistura de óxido de chumbo e de óxido de estanho, geralmente de três partes de chumbo para uma de estanho (devido ao preço elevado do estanho), podendo esta proporção baixar de duas de chumbo para uma de estanho, quando se pretende esmalte de qualidade superior; sílica, fundamental para a cristalização do esmalte, e outros produtos, como o sal marinho, usado nas peças de faiança, e a alumina, que serve para aumentar a aderência do esmalte ao barro, utilizada nos azulejos (cujo esmalte incorpora ainda cal, potassa e soda em percentagens mínimas). Este esmalte branco, conhecido por bianchi di Faenza (cujo contributo para a mudança dos hábitos sociais da época foi inestimável), distingue-se do vidrado estanífero não só pela maior concentração de estanho, como pela fusão deste material, a cerca de 900°, possibilitada pelo aperfeiçoamento dos fornos. (José Meco, O Azulejo em Portugal, p.44)
2.7 Técnicas de decoração cerâmica: Incisão – gravação do motivo de decoração, com o auxílio de um instrumento pontiagudo, no barro ainda cru; é a técnica mais elementar e a mais utilizada na olaria tradicional açoriana. Impressão – processo de gravação com auxílio de carimbo ou carretilha. Relevo - Técnica de decoração que consiste na marcação do motivo decorativo na pasta ainda húmida por meio de moldes de madeira, gesso ou metal, onde é gravado como reentrância, ficando a pasta marcada com os relevos; outro método será fazer a aplicação de ornatos moldados em relevo sobre as superfícies lisas de um recipiente. Incrustação - aplicação de texturas e cores
contrastantes nos motivos decorativos previamente incisos. Pintura sobre barro cozido (à base de tintas acrílicas que não necessitam de cozedura) Engobe, como técnica de pintura, em que a argila líquida é corada com óxidos ou pigmentos e aplicada no barro cru para depois ser submetido a cozedura. Esmalte (aqui surgem as fórmulas ou soluções personalizadas que conjugam uma percentagem de preparado para vidrado em pó e outra de pigmentos cerâmicos ou óxidos metálicos em pó, obtendo-se assim um vidrado com cor própria e um efeito estético distinto) Pintura sobre vidrado cru com cores de alto fogo ou sobre vidrado cozido com cores de baixo fogo (à base de pigmentos cerâmicos que são fixados por cozedura), utilizando as mais variadas técnicas de decoração como o brunido, a corda seca, a pintura manual, a estampilhagem, o decalque, a aerografia, o marmoreado, etc… Perfurações (cortes e recortes).
3 Sistemas de Produção
4 Sistema de Classificação Funcional
Os sistemas de produção cerâmica dos Açores foram também objeto de estudo do etnógrafo Rui de Sousa Martins, os quais reproduzimos aqui, tal como se apresentam em A Cerâmica modelada feminina dos Açores: Produção doméstica – produção feminina de autoconsumo com o emprego de técnicas simples como a modelação (grelhadores de barro); Indústria doméstica – imperativos económicos fazem evoluir o estádio anterior para esta forma de indústria doméstica, ainda de produção caseira, mas de caráter mercantil, como complemento do rendimento familiar (grelhadores de pão e figuras de presépio); Indústria artesanal – exercida por artífices a tempo inteiro em oficinas artesanais de tipo familiar (oficina no espaço doméstico), corporativo (vigorou até ao século XIX no caso dos telheiros e dos oleiros) e independente (o artífice é trabalhador por conta própria e domina todo o sistema produtivo); Oficina capitalista – um processo idêntico ao da produção artesanal, mas que implica a subordinação do artífice ao patrão-comerciante e dono dos meios de produção; Manufatura – no contexto do movimento açoriano de industrialização, criaram-se grandes manufaturas (unidades de produção múltipla como é o caso das fábricas que produzem telha, olaria e faiança e até das fábricas de bordados) nos centros urbanos, em que todo o processo de trabalho era controlado pelos dirigentes das empresas que recorriam à habilidade manual do trabalhador assalariado; Indústria mecânica – introdução de máquinas movidas a vapor a partir de 1848 e a partir de 1900, a eletricidade, o que permitiu aligeirar determinadas fases da produção, sem retirar o carácter artesanal e manufatureiro das fábricas de cerâmica açorianas.
Harmonizando a normalização estabelecida pelo Instituto dos Museus e da Conservação para a inventariação da cerâmica e a sistematização do Professor Doutor Rui de Sousa Martins, já divulgada em muitos dos seus artigos e publicações sobre a cerâmica dos Açores, concebemos uma tipologia de peças para cada uma das técnicas de produção cerâmica a desenvolver nesta publicação, tomando por critério as funções originais dos produtos, mesmo sabendo que muitas dessas funcionalidades foram redirecionadas de acordo com os interesses e valores estéticos atuais: 4.1 Cerâmica de Revestimento - revestimento interior e exterior da arquitetura (paredes, chão e teto): Azulejo 4.2 Cerâmica de Arquitetura - elemento estrutural ou de valorização estética da arquitetura: Tijolo Telha 4.3 Cerâmica de Equipamento – objetos cerâmicos móveis e funcionalmente autónomos, de caráter utilitário ou decorativo: Manipulação de líquidos Práticas alimentares (preparação, conservação e consumo) Higiene doméstica e pessoal (incluindo a aromatização da casa) Ornamentação Iluminação Outras funcionalidades relacionadas com a reserva de economias, práticas rituais, com atividades económicas como a caça, a pesca, a criação de animais, o cultivo de plantas e ainda como brinquedos.
5 A Cerâmica dos Açores como Produção Certificada A cerâmica açoriana é um bom instrumento de estudo para o conhecimento das vivências do povo destas ilhas. Em barro se cozinhava, em barro se comia, em barro se cuidava da higiene corporal, com barro se trabalhava e com barro se adorava Deus. Não é por acaso que açorianos ilustres como Luís Bernardo de Ataíde, Ernesto Ferreira, Luís da Silva Ribeiro, Francisco Carreira da Costa e Eduíno Borges Garcia, se preocuparam em abordar a produção cerâmica açoriana. Ainda hoje esta merece o olhar atento de investigadores como Rui de Sousa Martins que tem vindo a publicar um conjunto de estudos deveras interessante e cuidado. (Isabel Maria Fernandes, Página Web do Centro de Conhecimento dos Açores, 2001)
5.1 Características estéticas Considerando a caracterização geral da “arte rústica”, feita por Luís Bernardo Leite de Ataíde - Etnografia, Arte e Vida Antiga dos Açores – e de certa forma partilhada na obra de Luís da Silva Ribeiro, não parece difícil vê-la refletida na produção cerâmica: A referência da arte tradicional portuguesa e a predominância do Barroco (durante o longo e determinante período de povoamento e desenvolvimento das primeiras povoações – séculos XVI – XVIII). Ingenuidade e violência de policromia (cores francas); Preocupação paciente e morosa de detalhe (composições miniaturais); Escassez de recursos naturais (pouco diversificados); Simplicidade estética; A pintura da louça nacional impressiona pela sadia franqueza, exibindo, como faceta, a
colocação frontal dos motivos centrados nas peças. Sugestivas interpretações aparecem em pratos, jarras, canjirões, terrinas e demais objectos para uso doméstico. O enfeite preferido com diversidade de folhagem e flores a formar ramalhetes, cercaduras, tufos, pendurados, grinaldas, tarjas, etc., associando geralmente elementos geométricos, constitui norma de estilo e da sensibilidade que o reproduz. Mais ou menos intensa a decoração é sempre emotiva, sóbria a compostura, deixando grande parte da superfície dos espécimes desnuda para a realçar.
(Arthur de Sandão, Faiança Portuguesa – Séculos XVIII e XIX, vol.I, p.110)
Quanto mais evidente é a vocação decorativa do objeto cerâmico, maior será a preocupação de valorização estética pela ornamentação, quer ao nível dos ornatos convencionais de natureza antropomórfica, zoomórfica ou fitomórfica, e geométrica, quer pela aplicação da heráldica ou da iconografia (representação figurativa de cariz antropomórfico, zoomórfico, fitomórfico, simbólico, paisagístico, histórico, mitológico, etc…). Com efeito, apenas a faiança e a azulejaria nos permitem falar de motivos decorativos, uma vez que a olaria açoriana adotou a forma mais simples que a geometria permite imprimir pela ponta de uma “racha de cana”, e que o figurado focou-se na promoção da cultura e dos costumes locais, através do realismo dos moldes e da já referida franqueza das cores. Assim, a decoração da faiança açoriana, tal como muitas outras produções artísticas e artesanais, seguiu uma linha popular, de cariz mais regionalista e simbólico, em que predominam as cores francas e os motivos comuns a todas as produções artísticas e tradicionais dos Açores e que Luís Bernardo Leite de Ataíde desde logo identificou (As gregas, a roseta
sexifólia, o signo-saimão - estrela de 6 pontas -, os símbolos do culto do Espírito Santo – a pomba e a coroa), à qual se veio a sobrepor uma linha que podemos designar de erudita e de certa forma aburguesada e que ficou muito associada aos tons de azul e aos motivos das porcelanas que chegavam do Oriente e que indubitavelmente influenciaram toda a produção artística em Portugal. 5.2 O valor identitário da cerâmica produzida nos Açores É bem conhecida a ligação dos nossos produtos cerâmicos à cultura e em especial às nossas tradições gastronómicas. Esta valorização constitui uma mais-valia para os atuais produtores, desde que cumpram as normas regulamentares dos produtos que se destinam ao contacto com géneros alimentícios, designadamente os valores de cádmio e chumbo cedidos pelos objetos cerâmicos após a cozedura (Decreto-Lei nº 190/2007 de 11 de Maio). Sertã, onde se cozinham os bolos de milho, conhecidos por bolos da sertã ou bolos do tijolo e os já certificados bolos lêvedos Alguidar de alcatra, prato típico da ilha Terceira de grande valor turístico Toda uma panóplia de louça vidrada e pintada que se destina às festividades do Espírito Santo, como por exemplo as tigelas das sopas e os canjirões de vinho, ou ainda à conservação dos produtos resultantes da tradicional matança do porco, peças hoje em dia extremamente valorizadas, na medida em que acumulam agora uma funcionalidade decorativa e um valor cultural antes inexistentes. 5.3 Características a preservar Certificar a cerâmica dos Açores ao abrigo da marca coletiva de certificação “Artesanato dos Açores” implica garantir não só a qualidade da produção mas também a sua genuinidade, enquanto produto tradicional e representativo
do nosso património cultural. A inovação, neste caso, terá que ser introduzida com cuidado e rigorosos critérios, de forma a preservar as características que permitem identificar a cerâmica tradicional dos Açores: Olaria Inclui-se aqui o fabrico dos grelhadores de barro que cada vez mais estão associados à produção das olarias. Na olaria é fundamental a qualidade da pasta cerâmica empregue, de modo a preservar a cor vermelho acastanhada e a textura arenosa que os barros locais, principalmente da ilha de Santa Maria, proporcionam, ainda que tenham que ser corrigidos com a mistura de outros materiais. As formas bojudas em curvas simples e linhas depuradas, de reminiscência romano-árabe, principalmente quando as funcionalidades estão associadas a práticas alimentares que ainda hoje se mantêm. Faiança Escultura regionalista, enquanto representação iconográfica da cultura açoriana. Louça decorativa e utilitária decorada a azul-cobalto Figurado Figuras do presépio tradicional açoriano e que atualmente constituem apreciadas peças de coleção. 5.4 Aspetos inovadores A certificação da cerâmica dos Açores pressupõe a preservação do seu valor cultural ao nível das características tradicionais mais significativas, quer do ponto de vista técnico quer do ponto de vista formal, mas não constitui de modo algum um obstáculo à inovação e, consequentemente, à sua valorização económica. O artesanato tradicional coexiste com o artesanato contemporâneo, ocupando espaços diferenciados na preferência do público e nos
respetivos mercados. A própria fronteira entre a tradição e a modernidade apresenta-se não raras vezes de forma ténue e conciliadora. Assim, a inovação vai decorrendo de forma gradual, num processo experimental, umas vezes ao nível dos equipamentos e das técnicas, outras ao nível do conceito formal e estético. Pasta cerâmica – na cerâmica artística e contemporânea a composição da pasta cerâmica é muito personalizada e enriquecida com outros materiais, valorizando-se aqui a introdução de materiais endógenos para a obtenção de diferentes tonalidades e efeito estético. Aspetos formais – a cerâmica contemporânea, uma vez libertada da sua original função utilitária e das suas condicionantes técnicas, evolui até introduzir-se no mundo artístico com diferentes abordagens mas sempre referenciada na iconografia de raiz açoriana: arte conceptual próxima do design, instalações, esculturas geométricas, revisitações da arte popular, etc… Motivos decorativos de cariz contemporâneo, em que predominam motivos abstratos muitas vezes inspirados na geografia insular, quer ao nível da paisagem natural, quer ao nível da paisagem humana, principalmente na pintura de painéis artísticos. 5.5 Sistema de utilização do selo de certificação na cerâmica Carimbo que permita a gravação em barro cru e que inclua o símbolo, o nº de autorização do artesão – reprodução em pelo menos duas dimensões para a olaria e para as figuras de presépio; Pintura manual ou pelo processo de estampilha, como marca indelével – faiança e azulejos; Etiqueta autocolante para efeitos de comercialização.