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E o frio continua em Governador Valadares neste fim de semana. Pode chover no sábado e domingo. www.climatempo.com.br
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MÁXIMA
Não Conhecemos Assuntos Proibidos
MÍNIMA
ANO 1 NÚMERO 16
FIM DE SEMANA DE 18 A 20DE JULHO DE 2014
EXEMPLAR: R$ 1,00
O BLOGUEIRO JORGE MURTINHO APRESENTA O MELHOR E O PIOR DA COPA 2014 NA PÁGINA 12 Divulgação Editora Record
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FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS
A Copa do Mundo acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora - o sol de nós todos.
Carlos Drummond de Andrade, em crônica no Jornal do Brasil, quando o Brasil perdeu para a Itália, em 1982
Nível do Rio Doce indica racionamento Situação crítica à vista. A régua que mede o nível do Rio Doce está em sete centímetros. Quando está abaixo de 30 é preocupante e exige todos os cuidados para que não falte água. Se o nível baixar mais começa a haver necessidade de parar o bombeamento das quatro máquinas que captam 1.200 litros por segundo, para não prejudicar a qualidade da água que chega às residências, pois com elas ligadas, passam a puxar barro e outros dejetos. No ano passado a situação chegou a um ponto mais crítico: marcou na régua do SAAE onze negativos. A queda no volume de água ocorre quase todos os anos nos períodos de inverno, quando as chuvas são escassas. Páginas 4
Tim Filho
O Rio Doce está com nível crítico e isso pode ser observado em vários pontos, como neste trecho, onde estão as balsas que fazem a travessia do bairro São Paulo para a Ilha dos Aráujos Arquivo Pessoal Fábio Moura
PALESTINA
O comboio da Esperança na Palestina “The Hope Convoy ou o Comboio da Esperança saiu no dia 1º de maio de 2009 de Londres rumo a Gaza, com 39 veículos cheios de medicamentos e roupas. Havia 150 pessoas de diferentes nacionalidades, entre elas, políticos, jornalistas, alguns cidadãos palestinos que conseguiram sair e não retornavam a Gaza há mais de 10 anos, além de homens e mulheres comuns movidos pela solidariedade”. Este é um trecho do relato de experiência da ativista basca Antzine Biain, que esteve na faixa de Gaza, e conta sua aventura neste Figueira. Página 11 PARLATÓRIO
O voto deve deixar de ser obrigatório e se tornar facultativo? O jornalista Dilvo Rodrigues argumenta que sim, que isso fortalece a democracia, enquanto a advogada Cristiane Mattos, ao responder “não”, lembra que o voto obrigatório faz parte do contexto democrático. Página 2 NOTICIAS DO PODER
O puxão de orelhas que o expresidente Lula deu, exigindo que o prefeito Fernando Haddad entre na campanha do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha na disputa pelo governo, não é o único mal-estar da legenda em São Paulo. Saiba o motivo, lendo a coluna do jornalista José Marcelo. Página 5
EDITORIAL
Estaremos atentos a estas eleições. Cada passo, cada ação, de cada um e de todos os candidatos, terá o olhar vigilante do Figueira. Iniciamos por uma rodada de entrevistas com os principais candidatos ao Palácio da Liberdade. Quando o fizemos, as candidaturas ainda não haviam sido homologadas, e naquela ocasião o possível candidato do PSB, indicado pela Rede de Marina, seria o médico e ambientalista Apolo Heringer Lisboa, que gentilmente deu o recado em nossas páginas. Na sequência, entrevistamos o candidato do PT, Fernando Pimentel. Neste final de semana, trazemos como entrevistado o candidato tucano Pimenta da Veiga, um dos fundadores do PSDB.
Trecho do Editorial deste Figueira, que aborda o início da campanha eleitoral e outros temas relevantes. Página 2 CANTO DO GALO
Rosalva Campos está feliz com a vitória do Galo sobre o Lanús, por 1 x 0, e já prepara a festa da grande decisão da Recopa, em Belo Horizonte. Página 12
UFJF/Campus Governador Valadares já produz pesquisa com o professor Ângelo Denadai Página 7
BRAVA GENTE
Um doutor sanfoneiro Do Córrego dos Venâncios, em Brejaubinha, Valadares, ao doutorado em Agronomia na UFV, Rafael Carlos dos Santos, 28 anos, carrega as marcas da sua família e da sua comunidade. Conheça a história de Rafael na seção Brava Gente. Página 9 Arquivo Pessoal
OPINIÃO
Editorial
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FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014
Tim Filho
Temperatura vai baixar no fim de semana
E agora, as eleições Estaremos atentos a estas eleições. Cada passo, cada ação, de cada um e de todos os candidatos, terá o olhar vigilante do Figueira. Iniciamos por uma rodada de entrevistas com os principais candidatos ao Palácio da Liberdade. Quando o fizemos, as candidaturas ainda não haviam sido homologadas, e naquela ocasião o possível candidato do PSB, indicado pela Rede de Marina, seria o médico e ambientalista Apolo Heringer Lisboa, que gentilmente deu o recado em nossas páginas. Na sequência, entrevistamos o candidato do PT, Fernando Pimentel. Neste final de semana, trazemos como entrevistado o candidato tucano Pimenta da Veiga, um dos fundadores do PSDB. Em seguida, iniciaremos a rodada de entrevistas com os candidatos da nossa cidade aos cargos proporcionais – deputado estadual e deputado federal. Dado o grande número de candidatos – cerca de 20 candidatos a deputado estadual e 13 a uma vaga na Câmara Federal, poderemos apresentar duas ou mais entrevistas numa mesma edição. Mas, faremos questão de apresentar cada um à cidade, com a sua história e suas propostas para Valadares e a sua região de influência.
Perdas temporárias Depois de substituirmos na coluna Canto do Galo o advogado Pedro Zacarias, por ter se candidato a deputado federal, pelo PT, agora ficaremos temporariamente sem um conselheiro. Candidato a uma vaga na Assembléia Legislativa, o empresário Edvaldo Soares, do PMDB, deixa o conselho editorial deste Figueira. O lugar por ele ocupado ficará vago até que retorne após as eleições, de preferência eleito. A esses colaboradores e amigos, os agradecimentos deste Figueira.
A informação correta gera contrariedades Já dissemos e reafirmamos que o Figueira tem lado. Nunca pretendemos nem pregamos a neutralidade, pois que somos todos, repórteres, proprietários, articulistas, conselheiros, colaboradores, pessoas apaixonadas, dispostas a defender idéias, argumentar, discutir, polemizar. Não nos colocamos no meio do caminho; aquele caminho que fatalmente desemboca num jornalismo menor, desonesto, preguiçoso, sem apuração e sem reflexão. Por isso, o lado do Figueira é o compromisso com o Jornalismo em que caminham juntas democracia e verdade. Acreditamos que no Estado de Direito o ambiente plural, o livre debate e a participação desassombrada dos cidadãos e das cidadãs geram condições para uma vida comunitária de verdade, de compartilhamento e de convivência, na qual não se acatam ameaças de qualquer natureza, nem se reconhecem pessoas acima do bem e do mal. Ao mesmo tempo, o Jornalismo que buscamos praticar, à altura da democracia, exige ser cuidadoso com o outro, o que impede a pressa do furo, o denuncismo vazio e impõe rigor na apuração. Esta posição não tem evitado que tentem desqualificar o Figueira, que tem conseguido desvelar e revelar o que está submerso ou ignorado. Muitos dos que desqualificam este Figueira o fazem por contrariedade de terem suas vicissitudes expostas, mas não conseguem demonstrar qualquer erro na informação. A informação que os contraria só é publicada por ser de interesse público e por tratar de pessoas de vida pública. Isto por si só já nos dá a convicção de estarmos no caminho correto, mas também nos impõe, a cada instante, mais e maior responsabilidade com o nosso leitor e com a nossa cidade.
#Imagina nas Olimpíadas Pois é. Tivemos Copa. Uma excelente Copa, com índice de aprovação elevadíssimo, atingindo mais de 80% de ótimo/bom, como detectou o Instituto Datafolha, em pesquisa realizada logo após o término do campeonato. Aeroportos, estádios, acessos, segurança, tudo funcionou muitíssimo bem – sem contar a hospitalidade e a alegria do nosso povo, contrariando os mensageiros do apocalipse. No entanto, se assim se deu fora dos gramados, dentro dele fomos de mal a pior. Mas nem isso tirou a graça da Copa ou o humor dos brasileiros. O Brasil que se mostrou ao mundo e que foi visitado por mais de um milhão de turistas – em sua absoluta maioria felicíssimos com a viagem, não é o Brasil que vemos e lemos nos jornais. Lembrando Fernanda Torres, “em algum lugar, entre a Veja e a Carta Capital, aí deve estar o Brasil real”. Mas, não deixa de ser patético como a mídia nacional quis jogar nas costas da mídia internacional a pregação do caos que não veio. Bom, já que dessa vez a coisa não deu certo, quem sabe agora – quando já começam as especulações – inventam agora um #imaginanasolimpíadas. Falar mal do país virou um passatempo para a imprensa conservadora; uma moda nas redes de esgoto sociais; e um jogo perigoso a que se submeteu boa parte da classe média, por desinformação, ingenuidade ou escolha demarcatória de espaço social. Claro, muito há que se construir ainda neste país, mudanças são mais que necessárias, urgentes, mas não se pode negar tudo o que já tem sido feito. Em resumo, entre o que se fez e o que ficou por fazer, o saldo é imensamente positivo.
Expediente Jornal Figueira, editado por Editora Figueira. CNPJ 20.228.693/0001-83 Av. Minas Gerais, 700/601 Centro - CEP 35.010-151 Governador Valadares MG - Telefone (33) 3022.1813 E-mail redacao.figueira@gmail.com São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica.
Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES
Conselho Editorial Aroldo de Paula Andrade Áurea Nardely de Magalhães Borges Enio Paulo Silva Jaider Batista da Silva João Bosco Pereira Alves Lúcia Alves Fraga Regina Cele Castro Alves Sander Justino Neves Sueli Siqueira
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Parlatório O voto deve deixar de ser obrigatório e se tornar facultativo?
O voto já é facultativo para adolescentes e idosos SIM
Dilvo Rodrigues
Eu acho que o voto poderia ser facultativo. Mas, para isso acontecer, acredito que as pessoas deveriam ter uma educação de melhor qualidade. Para entender a importância de comparecer à eleição. O voto é uma conquista histórica importante na democracia. No Brasil, por exemplo, antigamente, apenas aqueles que tinham determinada faixa de renda podiam voltar. Com o passar dos anos, homens e mulheres também alcançaram o direito de ir às urnas. Diga-se de passagem, as mulheres só conseguiram o direito em 1932, o que dentro da história pode ser considerado como ontem. Muita gente lutou por isso, muita gente sofreu por isso e muita gente até morreu por isso. É preciso ter em mente o quanto aqueles que vieram antes de nós suaram por essa conquista.
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O voto é uma conquista histórica importante na democracia. No Brasil, por exemplo, antigamente, apenas aqueles que tinham determinada faixa de renda podiam voltar. Com o passar dos anos, homens e mulheres também alcançaram o direito de ir às urnas.
É como ser o camisa 10 da seleção brasileira. Antes dele, inúmeros outros jogadores de talento e vencedores vestiram aquela camisa. Então, ele carrega uma responsabilidade além do próprio nome, estampado por cima do número. Eu acredito que essa responsabilidade, esse senso de coletividade e pertencimento só pode ser compreen-
dido por pessoas que conhecem a cultura à qual pertencem. Para conhecer essa cultura é preciso ter uma educação de qualidade. Não consigo ver outra ferramenta mais capaz de formar cidadãos que se sintam obrigados a votar, não por ser obrigatório por lei. Mas, por fazer parte de uma obrigação assumida de forma voluntária, porém nobre de contribuir com a sociedade atual e com as gerações futuras. Os jovens de 16 a 18 anos não são obrigados a votar. E muitos deles ficam até empolgados quando tiram o título de eleitor, pesquisam e questionam para votar. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aponta que a cada pleito são mais dois milhões de pessoas dessa faixa etária povoando as seções eleitorais. Nos protestos de julho de 2013, perto de 11 milhões de jovens foram com seus cartazes para as ruas. A sensação é que boa parte deles irá escolher de forma voluntária os novos representantes nas eleições que se aproximam. Para os idosos, o voto é opcional também. Porém, muitos deles não abrem mão de votar. Meu pai, por exemplo, tem 83 anos e não perde uma. Então, a gente não se pergunta: “Por que essas pessoas querem tanto votar e eu em minhas plenas condições acho que não vale a pena?”
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Os jovens de 16 a 18 anos não são obrigados a votar. E muitos deles ficam até empolgados quando tiram o título de eleitor, pesquisam e questionam para votar.
Dilvo Rodrigues é jornalista e cronista
O ritual do voto gera debate e consciência NÃO
Cristiane Mattos
Recente pesquisa Datafolha informa que 61% dos eleitores são contrários à obrigatoriedade de voto, conforme se apresenta em nossa Constituição. Este número, inédito, segundo a Folha de S. Paulo, representa a opinião tanto de jovens (16-24 anos, com 58%) quanto dos eleitores entre 45-59 anos (68%), reforçando que quanto maior a renda (68% dos que tem renda familiar maior que dez salários mínimos) e maior a escolaridade (71% entre os que têm educação superior), maior o índice de rejeição. Ao apresentar-se como um misto de direito e dever, o voto obrigatório parece, a princípio, contrariar os ideais de democracia. Entretanto, ao observarmos as diversidades de valores e pensamentos encontrados no Brasil e as denúncias corriqueiras de compra de votos, podemos perceber que o brasileiro ainda não desenvolveu uma consciência política, especialmente quanto à importância do ato de votar. Sendo assim, o ‘ritual’ do voto, ainda que intervalado a cada dois anos, acaba por ‘forçar’ um debate, nem que seja o mínimo, a respeito do papel de cada um – qualquer que seja a classe social – na escolha daqueles que os representarão nas casas legislativas e no executivo.
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Facultatividade está diretamente vinculada a condições adequadas de análise, efetiva participação no processo e voluntariedade quanto à escolha, ou seja, depende de empoderamento. E não há empoderamento sem conhecimento.
Enquanto não tivermos uma educação de base libertadora, caracterizada por indivíduos capazes de se reconhecerem como agentes políticos responsáveis pela construção de sua história – o que não se confunde com escolaridade puramente medida em anos de estudo – não se poderá falar em voto‘facultativo’. Facultatividade está diretamente vinculada a condições adequadas de análise, efetiva participação no processo e voluntariedade quanto à escolha, ou seja, depende de empoderamento. E não há empoderamento sem conhecimento. Cristiane Mattos é advogada.
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CIDADANIA & POLÍTICA
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A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
Sacudindo a Figueira A figueira precipita na flor o próprio fruto Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino
Apparicio Torelly / O Barão de Itararé
O Golpe antes do Golpe Em 1959, a fé presbiteriana completou cem anos no Brasil, a contar da ação do missionário Ashbel Green Simonton (há uma rua no bairro Santa Rita a homenageá-lo, mesmo que o povo diga rua Simontón e não Sáimonton, como deve ser a pronúncia). A Igreja Presbiteriana do Brasil, à época, tinha uma intelectualidade forte e reconhecida na sociedade brasileira. Para comemorar a data, decidiu criar em Governador Valadares o Seminário do Centenário, para desenvolver uma teologia enraizada no Brasil, com autonomia. Para cá vieram Richard Shaull – missionário estadunidense, progressista, Joaquim Beato – que vive em Vitória e veio a ser secretário de estado da educação e senador pelo Espírito Santo e outros expoentes da teologia. A experiência foi frustrada pela resistência do Presbitério de Valadares e pela rejeição da liderança presbiteriana local, muito conservadora. Poucos meses depois da mudança para Valadares, os teólogos bateram em retirada e a IPB ficou sem um seminário que promovesse pensamento autóctone. A conta veio em 64, com a adesão da cúpula da Igreja ao golpe militar e a expulsão dos intelectuais dos espaços eclesiais. O golpe sofrido pelo Seminário do Centenário em Valadares precedeu o Golpe Militar, mas foi promovido pelas mesmas mentes e mãos. Divulgação
Rubem Alves Filho daquela época, Rubem Alves, mais conhecido hoje como educador, foi pastor presbiteriano alinhado com a turma que tentou erguer o Seminário do Centenário em Valadares. No exílio, na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, ele escreveu e publicou a primeira obra da Teologia da Libertação, como ele denominou. Isso, anos antes da teologia da libertação surgir no catolicismo latino americano. A editora americana entendeu que o nome Teologia da Esperança Humana venderia mais. A tradução francesa saiu como Teologia: Ópio ou Libertação? Nesta quarta-feira, 17 de julho, o mineiro Rubem Alves, que desde a volta do exílio vive em Campinas, foi hospitalizado, acometido de pneumonia e agravamento brônquio-respiratório. Rubem sempre teve gosto de vir a Valadares, gostava de subir a Ibituruna e escrevia sobre essas visitas como um caso de amor não correspondido.
As crianças que se danem Tudo em dia no pagamento da Secretaria Municipal de Educação à empresa de viação Santa Terezinha. Até o mês de junho está quitado. Mas, os cooperados da CPTTransleste e da Cootransvales que prestam serviços para a empresa no transporte escolar rural de Valadares não receberam metade do mês de fevereiro, nem os meses inteiros de abril e maio, totalizando quase 200 mil reais. Acumulam dívidas de combustível, lojas de peças, vistorias e cronotacógrafos. Umberto Vicente Soalheiro não atende, não paga, não comparece a reuniões. Em questão, forçar os cooperados a uma paralisação (locaute) para meter medo no governo municipal, jogar a Secretaria de Educação contra as cooperativas, impedindo nova licitação neste ano. O negócio é protelar a mudança das regras e dos ganhos exorbitantes dos contratos atuais das empresas o máximo possível.
FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014
Quero o meu candidato de volta Jaider Batista
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filósofo parisiense Voltaire não era um otimista. Testemunhou a maldade humana, foi preso e perseguido por suas ideias, o que o levou a não ter ilusões quanto à condição humana. No entanto, é dele a obra Cândido, ou O Otimismo, datada de 1759. Escrita como fábula, a obra satiriza o otimismo de Rousseau, seu contemporâneo. Em tom sarcástico, contrapõe na discussão filosófica ingenuidade e esperteza, amor e egoísmo, dedicação e ganância, sensibilidade e agressividade. Simples, sincero, puro, franco, inocente, sem mancha aparecem como sinônimos de cândido em nossos dicionários. Cândido está na origem da palavra candidato, pois presumia-se que para almejar a vida pública o indivíduo tinha de ter vida limpa. Conheci o meu candidato a deputado estadual, Geovanne Honório da Silva ainda quando eu estava no ofício de professor de Jornalismo na Univale. Uma aluna aplicada decidiu testar as aulas de media training na primeira tentativa dele de chegar à Câmara de Vereadores, ainda pelo PSB. Foi bem sucedido naquela eleição e teve uma notável atuação naquele mandato. Por essa aluna eu soube daquele moço promissor, conhecido como o Geovanne da Farmácia. Entre outras atitudes corajosas, ficou com a então vereadora Elisa Costa na eleição para a presidência da Câmara, em uma disputa que envolveu a discussão de direitos humanos e deslealdades no próprio PT. Aquele embate ele perdeu, mas com atitude correta e honesta. No retorno do prefeito Mourão ao governo municipal, Geovanne, reeleito, já no PT, fulminou aquela gestão denunciando haver corrupção dentro da máquina da Prefeitura, declarando que o prefeito pouco ou nada fazia para impedir, combater e punir o malfeito. Lembro-me de pesquisas internas do PT em que a população de Valadares apontava Mourão e Fassarella como igualmente honestos, como igualmente competentes, diferenciando-os apenas no quesito “quem é mais a favor dos pobres”, no qual Fassarella desempatava o jogo. Essa imagem do Mourão como político honesto e competente foi sendo desconstruída na tribuna da Câmara pelo vereador Geovanne. Em boa medida, ao fazer isso, Geovanne pavimentou o caminho para a volta do PT ao governo municipal.
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Após assumir a presidência da Câmara, o vereador que tanto honrou aquela Casa, passou a ficar menor do que quando ali entrou. A agressividade, que antes aparecia na denúncia de perversidades e corrupção, passou a ser dirigida aos colegas de vereança, a secretários municipais e aos subalternos.
Já no governo da prefeita Elisa Costa, Geovanne continuou a crescer na compreensão política e na ação parlamentar. Partiu de uma posição de defesa de ocupações irregulares de terrenos para o apoio efetivo e firme à política habitacional do atual governo. Após assumir a presidência da Câmara, o vereador que tanto honrou aquela Casa, passou a ficar menor do que quando ali entrou. A agressividade, que antes aparecia na denúncia de perversidades e corrupção, passou a ser dirigida aos colegas de vereança, a secretários municipais e aos subalternos; passou a comprar brigas sem razoabilidade nenhuma, como a tentativa de impedir a venda de imóvel da União Ruralista para construção de um atacarejo; promoveu a aprovação de uma lei que atrelou a Câmara ao atraso administrativo ao permitir novamente apostilamentos; fez pouco caso da sessão que lembrou os 50 anos da ditadura militar, que passou a limpo a participação da Câmara naquele episódio nebuloso; passou a defender o indefensável do malfeito de alguns colegas, mesmo que contra o inte-
Ex-vice de Aécio escapa de julgamento do mensalão no STF Clésio Andrade foi vice-governador no primeiro mandato de Aécio Neves em Minas. Envolvido no mensalão do PSDB mineiro, era o único com processo ainda a tramitar no Supremo Tribunal Federal. Na terçafeira, dia 15, anunciou a sua renúncia ao Senado, forçando assim a transferência do seu processo para a 1ª Instância, em terras de Minas. Andrade é acusado pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro na denúncia que apontou desvios de R$ 3,5 milhões de estatais. Em seu lugar, assume Antonio Aureliano, filho de Aureliano Chaves, último vice-presidente na ditadura. Antonio Aureliano é o segundo suplente de Eliseu Resende no Senado.
resse público. Na sessão deste mês, Geovanne esmerou-se no desvio. A filmagem da sessão aponta o momento em que ele declara que, por causa de denúncia publicada neste Figueira, exigiria da prefeita a demissão de dois de seus responsáveis, que exercem funções no governo. Geovanne atravessou mandatos em que o proprietário do outro jornal da cidade foi secretário municipal, tendo sido antes vice-prefeito, mantendo contratos entre o município e a sua empresa, sem nenhuma contestação dele nem de qualquer vereador. Geovanne sabe que o Figueira não candidata-se a verbas públicas municipais nem aceita anúncios da Prefeitura e autarquias enquanto houver um de nós a compor o governo. Tal cuidado não é por exigência legal, é por compromisso com nossos leitores. Geovanne também sabe que a prefeita que convocou alguns de nós tem toda a liberdade de nos dispensar a qualquer momento. O que não abrimos mão é da nossa condição de jornalistas e da responsabilidade que entendemos ter com a nossa cidade e com esta geração.
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Em conversas com vizinhos, irmãos da sua Igreja Presbiteriana e amigos, é comum que falem com saudades do “Geovanne da Farmácia”, o Cândido. É a este que decidi entregar o meu voto para deputado estadual – o que relaciona-se em vez de afastar as pessoas comuns, o que denuncia corajosamente o malfeito em vez de ser leniente com ele, o que reconhece o valor da imprensa livre, o que coloca a demanda pública à frente de qualquer capricho particular.
Como se não bastasse a exposição pública do agravo ao jornal e a ameaça aos jornalistas, Geovanne convocou os colegas vereadores a uma reunião em sua sala. 12 vereadores e vereadoras seguiram do plenário para lá. Pelo relato de vereadoras e vereadores presentes naquela reunião, ele requereu a um servidor da Câmara levar o projeto que permite a transferência da inalienabilidade do terreno do Esporte Clube Democrata até ele. Ali, tendo os 12 por testemunhas, ele teatralmente pegou o projeto, tomou as chaves, abriu uma gaveta e literalmente trancou um projeto de alto interesse público, do qual depende a construção de um novo e moderno estádio na cidade. E declarou que o projeto ficará trancado até que o também candidato a deputado estadual, ex-presidente do Democrata, Edvaldo Soares, saia do conselho editorial do Figueira e pare de “bancar financeiramente” o jornal. Propositalmente ou não, o vereador indica não conhecer a função de conselheiros editoriais de um jornal. Entre essas funções não se inclui a de “bancar financeiramente”. O vereador também desconhecia que a decisão de afastamento temporário do conselheiro já havia sido tomada pelo jornal, excedendo em cuidado jurídico a legislação que rege o período eleitoral. Em conversas com vizinhos, irmãos da sua Igreja Presbiteriana e amigos, é comum que falem com saudades do “Geovanne da Farmácia”, o Cândido. É a este que decidi entregar o meu voto para deputado estadual – o que relaciona-se em vez de afastar as pessoas comuns, o que denuncia corajosamente o malfeito em vez de ser leniente com ele, o que reconhece o valor da imprensa livre, o que coloca a demanda pública à frente de qualquer capricho particular. Quero o meu candidato de volta. Quero poder não apenas torcer por sua vitória, mas ter razões de confiança para o meu voto. Jaider Batista da Silva, jornalista.
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FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014
Câmara aprova limite de 60 dias para aposentadoria Projeto de Lei Complementar 010/14 aprovado, dispõe, entre outras coisas, sobre o limite de sessenta dias - após o requerimento da aposentadoria - para que o servidor seja afastado das suas funções, de forma preliminar. Aprovação agradou aos servidores que estão prestes a se aposentar José Peixe
Fábio Moura / Repórter “Num certo dia cheguei lá pra bater o ponto e me disseram que eu já estava apta a aposentar. Chorei de alegria. Achei que levaria mais uns dois ou três anos pra conseguir isso. Por eles, eu já deveria ter ido embora descansar, mas como macaco velho não pisa em taquara seca, ainda estou lá todos os dias da semana”, conta às gargalhadas Maria da Glória. Depois de 33 anos “de Prefeitura”, ela está quase aposentada. Foi da limpeza urbana à limpeza dos prédios públicos; e está no Fórum desde setembro de 1997. Entrou com o processo para requisitar a sua aposentadoria no dia 28 de abril e no mês que vem estará dispensada das suas atividades regulares. “Ainda bem né, meu filho. Tem gente que leva seis meses ou mais de ano pra conseguir a sua... a minha até que foi rápida”. E terá de ser de agora pra frente. Em dois meses ou menos. É neste período que o Instituto de Previdência Municipal – IPREM – terá de despachar os processos de aposentadoria dos servidores do município. A Câmara de Vereadores aprovou no último dia 9 o Projeto de Lei Complementar 010/14 que dispõe, entre outras coisas, sobre o limite de sessenta dias após o requerimento da aposentadoria - para que o servidor seja afastado das suas funções, de forma preliminar. Mas essa medida não veio sozinha. Desde o fim de maio, os pedidos de aposentadoria passaram a ser protocolados na sede do IPREM e não mais na Prefeitura Municipal. “Antes, a aposentadoria era requerida lá, onde o funcionário montava todo o processo e só depois remetia aqui pro IPREM. Até a sua conclusão, o processo ia e voltava várias vezes. Agora, com o funcionário lotado dentro do Instituto, eco-
A sede do IPREM já tem recebido muitos pedidos de aposentadoria, feitos por servidores e servidoras que completaram o tempo de trabalho previsto na legislação
Casa do Servidor abre inscrições para novas atividades físicas A Casa do Servidor estará com inscrições abertas de 14 a 30 de julho para duas novas atividades físicas destinadas ao servidor público municipal que busca mais qualidade de vida: cooper e aerofight. As inscrições serão feitas das 8 às 10h e das 15 às 17h, na própria Casa do Servidor. As atividades serão acompanhadas pelo educador físico Marcos Azevedo, que se integra ao grupo de profissionais que atualmente coordenam serviços e atividades físicas oferecidos aos servidores públicos municipais. Sobre o Cooper (caminhada intercalada com corrida de baixa velocidade), Azevedo explica que ele é ideal para quem deseja perder calorias e obter condicionamento físico, por exemplo. “Todo ser humano precisa dedicar pelo menos 20 minutos diários a algum tipo de atividade física. Com o cooper, estamos programando 30 minutos de atividade supervisionada, observando o ritmo necessário a cada um”, comenta. A atividade terá início e fim na Casa do Servidor e terá percurso definido em trechos da Ilha dos Araújos. Com horários que ainda podem sofrer mudanças, o cooper está previsto para acontecer de segunda a sexta-feira em dois horários pela manhã (7h30 às 8h10 e 8h10 às 9h) e dois horários à tarde (17 às 17h40 e 17h40 às 18h20). Quanto à aerofight, trata-se de uma mistura de exercícios aeróbicos com movimentos de lutas (boxe, caratê, capoeira). A atividade tem início com alongamento baseado nas posições de ioga e tai chi chuan, e segue com sessões de chutes, socos e pontapés, sem contato físico, encerrando-se também com alongamento. Apesar de ser dirigido a todos os públicos, o educador físico a indica como uma boa opção para o público masculino. O gasto calórico aproximado com a aerofight é de495 a 700 cal/hora. Entre os benefícios, Azevedo diz que tonifica a musculatura de todo o corpo, melhora a coordenação motora, o sistema cardiorrespiratório, aumenta a força, a flexibilidade, agilidade e resistência. Os horários das aulas deaerofight ainda serão definidos. A Casa do Servidor fica na rua Prudente de Morais, 628 – Centro. Contato também pode ser feito pelo telefone 3271.0018.
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Ainda bem né, meu filho. Tem gente que leva seis meses ou mais de ano pra conseguir a sua... a minha até que foi rápida. Maria da Glória, servidora municipal com 33 anos de serviços, falando sobre sua aposentadoria pelo IPREM
nomizamos tempo e agilizamos o processo”, explica o assistente administrativo do IPREM, Enes Coelho. Paralelamente a isso, houve ainda uma reestruturação no Departamento de Benefícios do Instituto, que agora conta com mais servidores destacados para este procedimento. “A ideia é fechar o processo um mês após o pedido de aposentadoria”, conclui.
Hoje, cerca de 5.500 servidores públicos efetivos contribuem com o IPREM. Outros 1.143 já gozam dos benefícios através da aposentadoria ou de pensões. Só no último mês uma remessa de 48 processos foi concluída e todos esses servidores, assim como a Maria da Glória, estão cumprindo os últimos dias no serviço público.
Anunciação Paulo Vasconcelos
Ser eclético: esse é seu único dom. Porém, isso lhe garante as maiores qualidades que uma pessoa pode suportar sem se deixar levar pelos desejos da vaidade. A suposta condição de estar errado e as grandes diferenças que consegue observar em pequenas coisas, mesmo que semelhantes, lhe transportam para uma esfera superior. Por estas bandas da cidade, sempre ouvese que “existira e perdera-se nos idos tempos passados, um tipo de doutor em filosofia comunista cristã científica, que lhe teria transmitido conhecimentos além”. A impressão que todos lhe reputam é que está sempre com a sensação de um déjà vu. Sem se incomodar nem um pouco com isso, se mantém rodeado de uma simplicidade misteriosa. Assim, vive Aquiles Esteves. Apesar de confiar no modo como, de maneiras diversas, Aquiles Esteves consegue expressar suas capacidades racionais, às vésperas do jogo Brasil e Alemanha, foram, todos, surpreendidos por uma anunciação pouco convencional para os razoáveis seguidores das bárbaras conjurações organizadas pelo sábio que dessa vez afirma com sabor de hipótese: “Infelizmente o Brasil não passa pela Alemanha”. Acontece um misto de raiva e comoção, choque e incredulidade capaz de afastar até os que mais admiram como o tal consegue resolver, com palavras de fácil entendimento e argumentos lógicos, as pequenas discordâncias desse grupo de amigos que sempre se reúne num bar para por à prova suas bravatas. Uns imaginam que ele nem torce mais para o Brasil. Formam-se num coral que começa com baixos, permeia barítonos e arremata em tenores: “O que, que é isso cara”?! Nesse momento, a suavidade toma forma de palavras no movimento de quem cabisbaixo, ergue-se e diz: — Combinação de circunstância, — e continua — condição, cláusula, caráter, cunho. As chuteiras calçam os coitados como cenho no casco das cavalgaduras. — Não estamos entendendo nada! — Pois bem, o Brasil só venceu até agora seleções de países cujos nomes começam com a letra “C”. — venceu a Croácia por 3 a 1. Depois empatou com o México em 0 a 0. Não fosse pela letra “C” da fase de “chave” que o Brasil ainda não disputaria nos pênaltis. Teria ficado por ali. Então veio Camarões, com o placar 4 a 1. Já na fase de mata-mata contra o Chile, depois de um magro empate de 1 a 1, no qual, ainda tomamos uma bola na trave aos 118 minutos que só não entrou porque o autor do chute, Pinilla, também responsável por errar um pênalti, joga no “Cagliari” da Itália. Por último, o Brasil vence a Colômbia por 2 a 1 e basta. — E agora?
Pergunta um dos mais atentos. — Agora mudou tudo. — virá a Alemanha, um país que usa “K” no lugar do nosso “C”, letra que no idioma alemão tem pouco valor sozinha, é praticamente usada apenas no que chamamos aqui de dígrafo consonantal, como “CH”. No mesmo instante, interpela outro, mais apaixonado. — O que tem isso com o futebol brasileiro? Um terceiro ouvinte responde em tom de resiliência. — Deveríamos ter torcido pela Coréia do Sul e a Costa Rica. Dois dias depois. Durante o fatídico jogo, ouvia-se “o consenso geral do senso comum: ‘ele é o maior filósofo comunista cristão científico que conhecemos’”. Paulo Gutemberg Vasconcelos é educador social e preside o Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos.
METROPOLITANO
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FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014
Notícias do Poder
Fritar Suplicy
José Marcelo / De Brasília
Exclusivo 1
FAB
Parece piada, mas mesmo depois da espionagem americana o governo brasileiro estaria enfrentando dificuldades para convencer órgãos e servidores públicos a usarem o serviço gratuito de webmail criado pelo Serpro, a empresa de processamento de dados estatal. O problema é que a resistência gera uma despesa de R$ 50 mil por mês para cada dez contas de e-mail que o governo cria, por meio de contratos com multinacionais e grandes corporações, como a IBM, por exemplo. A informação foi passada por um dos especialistas do Serpro, que ajudou a criar o Expresso.
Exclusivo 2
Ilustração gmail.com
Além de ser gratuito e permitir uma economia de milhões de reais por mês aos cofres públicos, o Expresso usa tecnologia própria, o que o torna praticamente inviolável, uma vez que o códigofonte está preservado, restrito a um pequeno grupo de pessoas. Ainda assim, segundo o especialista, os gestores de contratos resistem em cumprir a determinação do Palácio do Planalto em migrar para o serviço criado pelo próprio governo.
O puxão de orelhas do ex-presidente Lula deu, exigindo que o prefeito Fernando Haddad entre na campanha do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha na disputa pelo governo, não é o único mal-estar da legenda em São Paulo. O partido está praticamente engolindo a candidatura de Eduardo Suplicy, que tenta se reeleger ao Senado. Não é de hoje que Suplicy vem tendo uma queda de braço com a cúpula do PT. E era o sonho da legenda dar uma puxada no tapete do senador, segundo um dos mais influentes parlamentares no Congresso, que tem cargo alto na executiva estadual.
O que deu fôlego O que o PT não contava era que as manifestações populares de junho do ano passado serviriam para revigorar a imagem de Eduardo Suplicy, que se fortaleceu junto ao eleitorado. Aí o PT ficou “de calças curtas”, segundo palavras do deputado, que pediu para não ser identificado.
Sobre os caças 1
Recuerdo
Foi uma investigação do serviço secreto brasileiro que levou o governo a desistir de comprar os caças Rafale, da francesa Dassault. O avião de combate era o preferido tanto pelos especialistas em combate quanto do governo brasileiro, por causa da versatilidade e da aceitação dos franceses em transferir a tecnologia para o Brasil. Só que o serviço secreto descobriu que o ex-presidente Nicolas Sarkozy estava sendo investigado por tráfico de influência. Isso, bem antes do escândalo estourar e ele ser preso na França.
O mal-estar entre Suplicy e o PT de São Paulo começou pra valer quando o senador tentou investigar sozinho o assassinato do ex-prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Celso Daniel, em 2003. Sempre houve suspeita de envolvimento de petistas na história. Depois, Suplicy passou a questionar o partido e as administrações petistas. Acontece que além de ter se fortalecido junto ao eleitorado, o paulista é considerado uma espécie de reserva moral do Senado, ao lado do peemedebista Pedro Simon (RS), que está deixando a vida pública. Ou seja: o PT decidiu engolir a candidatura de Suplicy. A seco.
Sobre os caças 2 O problema é que Nicolas Sarkozy se empenhou pessoalmente nas negociações para tentar convencer o governo brasileiro a comprar as aeronaves de combate para a segurança do Brasil. Ele chegou a vir acompanhar o desfile de 7 de Setembro e suou muito enquanto assistia à cerimônia na Esplanada dos Ministérios. Na época, tinha certeza de que a venda estava fechada. Mas, o governo brasileiro teria achado melhor recuar, para não ter a compra atrelada a mais uma suspeita de tráfico de influência.
Boa notícia Pode ser aprovado na Câmara um projeto do deputado Bernardo Santana de Vasconcellos (PR-MG), que permite que a polícia ordene o afastamento imediato de agressores de mulheres e o encaminhamento delas aos programas de proteção, logo após a denúncia. Um avanço, se comparado ao que ocorre atualmente, quando a lei dá prazo mínimo de 48 horas para que isso aconteça. Nesse período, muitas mulheres acabam mortas por vingança, quando o parceiro descobre que elas procuraram a polícia. . José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.
Estiagem força alerta para economia de água Régua que mede o nível do Rio Doce está em sete centímetros, medida muito baixa e que gera preocupação Tim Filho
Gabriel Sobrinho / Repórter Sete e vinte da manhã, a dona de casa Maria do Carmo Reis se prepara para os afazeres domésticos, em sua casa no bairro Santa Helena. Dedicada à arrumação da casa, ela logo passa a mão na vassoura e na mangueira para limpar a porta de casa. Como de rotina, lava toda a extensão da calçada, sem se preocupar com economia. É o cenário que se repete a todo instante em quase todos os bairros da cidade. Esta é a prática que o SAAE - Serviço de Abastecimento de Água e Esgoto quer evitar, pelo menos nesses meses de grande estiagem. Em entrevista coletiva concedida no dia 11, o diretor geral do SAAE, Omir Quintino, alertou a população valadarense para agir de modo consciente na hora de utilizar a água. “Hoje, a régua que mede o nível do Rio Doce está em sete centímetros. Quando está abaixo de 30 é preocupante e exige todos os cuidados para que não falte água. Se o nível baixar mais começa a haver necessidade de parar o bombeamento das quatro máquinas que captam 1.200 litros por segundo. Isso, para não prejudicar a qualidade da água que chega às residências, pois com elas ligadas, passam a puxar barro e outros dejetos. A previsão para as próximas semanas é de estiagem, o que é alarmante”. No ano passado a situação chegou a um ponto mais crítico: marcou na régua do SAAE onze negativos. A queda no volume de água ocorre quase todos os anos nos períodos de inverno, quando as chuvas são escassas. Pesquisas do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) apontam que a causa da estiagem severa este ano foi o baixo índice pluviométrico registrado na região, especialmente nos meses de janeiro e março. “A gente monitora com as usinas hidrelétricas, principalmente a de Baguari. Lá nos informaram que duas outras usinas estão reduzindo a operação por que não têm volume de água. Baguari já está chegando a um ponto mínimo. No ano passado, ela precisou parar para ter um pouco de volume de água em Valadares. Enquanto ela estiver operando no seu limite ainda nos atende aqui, mas quando o volume ficar abaixo desse limite começa a
O nível do Rio Doce, próximo à estação de captação do SAAE, está abaixo do aceitável e é motivo de preocupação
comprometer lá e aqui”, alerta o diretor. Omir ainda ressalta que “no momento não temos risco de desabastecimento, mas sete centímetros são preocupantes, e é necessário economizar água, além de tomar todas as providências para que não venhamos a ter a interrupção do abastecimento. È importante que a comunidade redobre a atenção quanto ao desperdício: mangueiras mal fechadas, demora nos banhos, torneiras abertas ao escovar
os dentes e na cozinha a lavar as vasilhas. O alerta já surtiu efeito para a dona de casa Maria do Carmo Reis, que irá reduzir o consumo, deixando de lavar a calçada: “Eu nem sabia que estava nesse ponto crítico. Agora eu vou me policiar. Antes eu lavava a calçada todos os dias de manhã. Aqui passa muito carro, deixa minha porta toda suja. Mas prefiro dar uma simples varrida a ficar sem água.”
FIQUE LIGADO
Contribuinte pode quitar dívida ativa com desconto de até 90% na multa e 80% nos juros Está aberta a possibilidade de o contribuinte que tem dívidas com o Município quitar seus débitos com descontos. Todos os tributos municipais, vinculados ou não a Ações Judiciais, inscritos ou não na Dívida Ativa, declarados ou não na época própria, devidos até 2013, poderão ser pagos com descontos nos juros e multas. Quem pagar à vista, em parcela única, terá redução de 90% (noventa por cento) da multa de mora e de 80% (oitenta por cento) dos juros de mora. O pagamento parcelado tem variação no número de parcelas em relação aos descontos. Confira as opções: a) Até 2 (duas) parcelas, mensais e sucessivas, com redução de 80% (oitenta por cento) da multa de mora e de 70% (setenta por cento) dos juros de mora; b) Em 3 (três) parcelas, mensais e sucessivas, com redução de 70% (setenta por cento) da multa de mora e de 60% (sessenta por cento) dos juros de mora; c) Em 4 (quatro) parcelas, mensais e sucessivas, com redução de 60% (sessenta por cento) da multa de mora e de 50% (cinquenta por cento) dos juros de mora; d) Em 5 (cinco) parcelas, mensais e sucessivas, com redução de 50% (cinquenta por cento) da multa de mora e de 40% (quarenta por cento) nos juros de mora; e) Em 6 (seis) parcelas, mensais e sucessivas, de 40% (quarenta por cento) da multa de mora e 30% (vinte por cento) nos juros de mora; f) Até 99 (noventa e nove) parcelas, mensais e sucessivas, acrescidas de juro correspondente a 1% (um por cento) ao mês, a partir do mês subsequente ao da consolidação do acordo. Quem quiser pagar em 6 (seis) vezes deve fazer a opção até o próximo dia 31 de julho, data do vencimento da primeira parcela. O contribuinte terá até 20 de dezembro de 2014 para optar pelo pagamento à vista ou pelo parcelamento. Quem se interessar, deve procurar a Central de Atendimento ao Contribuinte (CAC), no térreo da Prefeitura, das 7h30 às 17h. Telefone: 3279.7432.
METROPOLITANO 6
FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014 Fábio Moura
Com fechamento dos supermercados aos domingos, à tarde e à noite, o movimento nos dias de semana aumentou consideravelmente e causa aglomeração constante de clientes nos guichês
“Não compre aos domingos” Supermercados abertos até 23h, funcionando em horário reduzido ou com as portas fechadas nesses dias? Estamos a um passo de qualquer um destes três cenários.
“
Acho que tudo é questão de adaptação. A cidade parece começar a se adequar. Já consigo pegar horários mais tranquilos nos supermercados, apesar deles serem mais escassos. Mas se faltar o leite condensado pra sobremesa após o almoço de domingo, aí a gente fica na mão.
Mário Soares Cliente
“
Não dá pra trabalhar no domingo até dez horas da noite mesmo não. Deus me livre. Tomara que nunca volte. O domingo agora ficou longo. Dá pra ir à igreja, passear.
Gisele Veloso Recepcionista de loja
Fábio Moura / Repórter
Já deve ter tocado no seu radinho ou já foi gritado nos seus ouvidos por um carro de som. Talvez tenha parado na sua mão num panfleto ou num tabloide. A campanha do SECOM - Sindicato dos Empregados no Comércio - bate insistentemente na tecla do boicote às compras no comércio e, principalmente, nos supermercados todo domingo ou dia santo. Atenuar o fluxo de clientes nas lojas tem por objetivo reforçar o argumento da inutilidade das portas abertas nestes dias. Após o acordo trabalhista firmado em novembro do ano passado entre o SECOM e o Sindicato do Comércio Varejista – SINDICOMÉRCIO – os supermercados passaram a funcionar com o horário reduzido nos domingos e feriados: das 8h às 14h. Com o manifesto, o sindicato dos empregados quer dar outro passo, ainda: portas fechadas ao longo de todo o domingo. Já o sindicato patronal quer voltar aos tempos em que se pautavam pela liberdade no funcionamento das unidades, de acordo com a demanda de cada região. Quem precisa ir ao supermercado começa a entender e a se adaptar, mesmo a contragosto. Quem trabalha lá tem opiniões distintas. Há quem prefira uma gruja a mais no fim do mês, há quem queira o descanso. “Na hora que você põe a mão no salário, pensa: faltou o dinheirinho do domingo aqui, hein”, conta num sorriso de canto de boca de um semblante cético, Mario Lourenço, repositor de produtos nas prateleiras. O adicional no salário é uma determinação de uma dessas convenções, anos atrás. Quem trabalha no domingo ou no feriado recebe tudo dobrado: diária, hora extra e adicional noturno. Com a redução no horário de funcionamento de quinze para seis horas nestes dias, metade dos funcionários que cumpria escala é realocada em outra data. “Eu vi esses dias aí no jornal que os supermercados não vão mais abrir aos domingos. Ou melhor, o sindicato quer que não abra mais. Se isso vier a acontecer mesmo, os patrões deveriam aumentar nosso salário fixo pra que não saíssemos perdendo, pois recebemos o domingo dobrado. No fim do mês, isso dá uns R$ 100 a mais. Já conto com esse dinheiro”, alerta o ressabiado Thiago Souza, açougueiro. “Não vejo a hora é de não abrir no domingo mais. Por que não? Isso tem de acontecer logo. A mudança no meu salário não paga um domingo de folga”, fala balançando o indicador de um lado pro outro e se amparando na aceitação dos colegas de trabalho ao redor, Milena Chaves, operadora de caixa. “Não dá pra trabalhar no domingo até dez horas da noite mesmo não. Deus me livre. Tomara que nunca volte. O domingo agora ficou longo. Dá pra ir à igreja, passear”, desabafa a inconteste Gisele Veloso, recepcionista de loja. O principal argumento do SECOM ao requerer essa redução no horário de funcionamento das lojas aos domingos está ancorado no descanso, lazer junto aos familiares e na prática da religiosidade “característica nos domingos”. A fala do SECOM está na terceira edição deste Figueira, que foi contraposta à do Movimento das Donas de Casa. Elas argumentam que a decisão se trata de um “contrassenso”. Alegam que todos estão à mercê do trânsito, de supermercados lotados e das longas filas nos caixas ao serem condicionados a um horário reduzido. Queixam-se de não poder optar pelas compras em seu único dia de folga da semana ou de ter tempo e facilidade para fazer uma pesquisa de preço em diferentes redes. “No início foi pesado. O movimento aumentou muito no sábado à noite, no domingo pela manhã e na segunda, ao longo do dia inteiro. Mas isso se normalizou, as pessoas se adaptaram. O movimento se dissipou pela semana. Mudou tanto que hoje vendemos mais até às 14h de domingo do que vendíamos ao longo de todo o dia”, conta, ainda, Gisele Veloso. “Pra mim, os supermercados deixaram de ter prejuízo por não permanecer abertos ao longo de todo o dia. Até a hora do almoço, tudo bem. Depois, só lá pelas 19h é que voltava a ter um movimento razoável, mas nada que justificasse ficarmos aqui ao longo do dia inteiro esperando esses retarda-
tários”, complementa o repositor da mesma loja, Paulo Júnior. “Aqui era diferente. O movimento era intenso da hora do almoço até às 21h. Durante a manhã mesmo não dava ninguém. Hoje, aqui na loja são 74 funcionários no domingo. Era bem mais que o dobro antes dessa resolução”, relata a recepcionista de outra loja, Daniele Karen. A rede de supermercados Coelho Diniz, como contou um de seus proprietários, Hercílio Diniz, em entrevista à quarta edição deste Figueira, demitiu cerca de 80 funcionários e, agora, tem um crescimento abaixo da inflação; garante que não conseguiu repor as perdas com o horário reduzido no domingo. Fábio Moura
Durante a semana o trabalho é pesado, segundo o Secom, que defende o fechamento
Além das resoluções retiradas das convenções, os supermercados, é claro, também são obrigados a cumprir todas as leis da CLT - como a garantia de ao menos um domingo livre no mês. “A folga é antecipada, durante a semana que antecede o domingo trabalhado. Com isso, a gente sempre tem um dia útil pra poder resolver as coisas na rua, ir ao médico... esses pepinos que não dá pra resolver quando você só folga no fim de semana”, relata num tom desgostoso com os rumos que a discussão vem tomando, José Assis, segurança. “Olha, vou te falar a verdade. Também trabalho por turnos na minha empresa e, às vezes, cai no domingo. Nem por isso trabalho mais do que aqueles que não pegam no batente nesses dias. Tenho minha folga garantida. É uma questão de adaptação. Pratico minha religiosidade e tenho tempo pro lazer com a minha família. Isso não está restrito aos domingos. Sempre optei por fazer compras no fim de tarde do domingo. Passava em todas as redes sem enfrentar trânsito, nem filas. Agora estou aqui, no meio desse caos, por uma determinação que impede quem quer trabalhar de trabalhar e quem emprega de abrir o seu empreendimento”, discursa enfurecida a cliente Antonieta Silva. “Acho que tudo é questão de adaptação. A cidade parece começar a se adequar. Já consigo pegar horários mais tranquilos nos supermercados, apesar deles serem mais escassos. Mas se faltar o leite condensado pra sobremesa após o almoço de domingo, aí a gente fica na mão”, ironiza o cliente Mário Soares. A nova medida dá com uma mão e tira com a outra os benefícios e as praticidades de que clientes e funcionários dispunham. Entre os comerciantes – 6.500 vinculados ao SINDICOMÉRCIO - há quem não se importe com a discussão por não ter o perfil de empreendimento que abre as portas nos domingos. Nem uma dezena comparece às convenções para deixar o seu voto. O sindicato chegou a falar sobre a antecipação da convenção que irá avaliar todos os impactos dessa medida para funcionários, clientes e patrões em 2014; ao que parece fica pra novembro mesmo a batida do martelo no cenário atual, no antigo ou num novo, sem supermercados abertos aos domingos e feriados.
CIÊNCIA 7
FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014 Fábio Moura
Campus da UFJF já desenvolve ciência em Valadares Do combate à dengue ao tratamento de hipertensivos Sistemas de liberação controlada de fármacos e inseticidas prometem otimizar o combate a diversas enfermidades e pragas. Fábio Moura / Repórter
Q
ue tal tomar apenas um comprimido com ação prolongada, ao invés das tradicionais posologias de oito em oito horas ou a cada manhã? Ou, ainda, aplicar uma única dose de inseticida no meio ambiente suficiente para agir por um período de tempo estendido no controle de pragas? É claro que nos dois casos remetemos a situações ideais, mas pode-se dizer que é lá que um grupo de pesquisadores do campus valadarense da Universidade Federal de Juiz de Fora mira as suas expectativas; no caminho até lá, qualquer redução no número de doses, acompanhada do prolongamento da ação terapêutica do fármaco ou do inseticida, já é tratada como avanço. Dentro do laboratório provisório da UFJF/GV - no Campus II da Univale - há equipamentos em uso nas primeiras experiências, alguns dentro da caixa ou, ainda, já adquiridos e a caminho de Valadares. Todos eles são frutos de dois projetos aprovados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq; juntos, alcançaram o montante de cerca de R$ 1.150.000,00. Projetos diferentes e de aplicações distintas, mas com um objetivo em comum: o domínio e a otimização dos sistemas de liberação de fármacos e inseticidas nos meios biológico e ambiente. “A ideia é muito simples. Utilizamos os polímeros nesse processo uma macromolécula que pode ser sintética ou biológica. De modo geral, elas retardam ou tornam mais lenta a dinâmica do movimento de partículas de um sistema. Então, você se utiliza disso como um sistema de liberação controlada de um certo fármaco ou de um pesticida. Aqui, por exemplo, nós temos um fármaco qualquer dentro de uma macromolécula utilizada como uma estrutura de encapsulamento – nanopartícula ou ciclodextrina. As duas estruturas permitem a liberação lenta e contínua do princípio ativo para o meio biológico em que ele está inserido. A ideia do sistema de liberação controlada é: com uma dosagem – ou com o menor número possível – aumentar o tempo de permanência do fármaco ou do inseticida na faixa terapêutica em que ocorre a ação desejada do princípio ativo. Se você reduz uma dosagem, a qualidade de vida do paciente melhora muito. Se reduz duas ou três, você sai ainda mais no lucro”, descreve minunciosamente o coordenador da pesquisa que envolve outros nove professores, Ângelo Denadai. Ele ainda esclarece que “se o fármaco ou pesticida é liberado para o meio muito rapidamente, você tem uma série de efeitos indesejados. No meio ambiente, por exemplo, um pesticida liberado dessa forma pode causar um desequilíbrio ecológico ou degradar-se muito rapidamente e não gerar o efeito desejado. No meio biológico a ideia é similar. Impedir que o fármaco atinja uma faixa hiperterapêutica – nível em que ele se
apresenta tóxico. São, por exemplo, os casos de sonolência, diarreia ou descontrole urinário. Porém, em função de reações metabólicas, a concentração do fármaco cai para a faixa hipoterapêutica - onde não há a ação desejada do fármaco - sendo necessária uma nova dosagem. A intenção é mantêlo o maior tempo possível na faixa terapêutica. Além disso, essa pesquisa pode auxiliar na proteção do fármaco a um ataque enzimático ou ácido ao ter contato com o estômago. Ou seja, não deixá-lo degradar-se de forma acelerada no meio biológico”. É baseado nessas premissas que o grupo aprovou um de seus projetos na agência de fomento à pesquisa visando o combate à dengue. O objetivo é desenvolver um sistema de nanodispositivos de liberação controlada de inseticidas, no qual o princípio ativo que ataca essa praga seria conduzido ao meio ambiente de forma gradual, sendo necessário um menor número de intervenções para sua aplicação. Ou seja, aquele carro que despeja o inseticida no ar, o fumacê, que hoje vai às ruas numa média de quatro vezes ao ano, teria de ir menos. Talvez, apenas uma vez. Os estudos e uma série de ensaios em diferentes cenários com equipamentos que monitoram a interação das moléculas com a nanoestrutura situarão os pesquisadores. “Estamos em busca de uma concentração plasmática que permita a ação inseticida sem criar efeitos tóxicos ao ecossistema, mas que funcione e elimine o vetor da dengue”. O outro projeto aprovado no CNPq baseia-se, também, no sistema de liberação controlada de princípios ativos, mas por uma via distinta: os ferromagnetos. “Estes são utilizados em aplicações intravenosas. O ferrofluído é composto por nanopartículas de óxido de ferro dopadas que podem assumir várias funções. Uma delas seria a liberação controlada de fármacos guiada magneticamente. Incorpora-se o fármaco nessas nanopartículas. Aplica-se numa corrente de fluxo sanguíneo com destino ao coração, por exemplo, atraídas por um imã externo. Essas nanopartículas irão se fixar naquela região e, então, realizar a liberação controlada do fármaco para o meio biológico. Sobram os compostos ferrosos. Estes são parcialmente decompostos e não geram toxicidade”, relata o pesquisador valadarense Ângelo Denadai. Dentro do laboratório, os pesquisadores vão testando a síntese em diferentes durações e temperaturas. Um dos objetivos é o de alcançar o menor tamanho da partícula, possibilitando a sua utilização em todas as regiões do corpo. “Essas nanopartículas devem ser ajustadas à espessura do vaso sanguíneo que você está utilizando. Então, por exemplo, essas aqui não atravessam vasos capilares e, sim, veias e artérias de espessura mais grossa. Já conseguimos reduzir o seu tamanho e tendemos a reduzir ainda mais”, conclui demonstrando.
“
Dentro do laboratório provisório da UFJF/ GV - no Campus II da Univale - há equipamentos em uso nas primeiras experiências, alguns dentro da caixa ou, ainda, já adquiridos e a caminho de Valadares. Todos eles são frutos de dois projetos aprovados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq; juntos, alcançaram o montante de cerca de R$ 1.150.000,00.
O professor Ângelo Denadai, demonstrando sua pesquisa no Laboratório da UFJF/Campus Governador Valadares Fábio Moura
GERAL
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FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014
ECOS DE PALMARES
Além do arco-íris
Somos racistas? Ana Afro
NUDIs
“O que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora” - Jesus Em sua função primordial, a religião deveria ser um caminho para ligar o homem a Deus, como consta na origem da palavra – do latim religare. Este Deus pode ser entendido de diversas formas - Criador, Essência, Universo, Sagrado, Divino, Consciência... Mas, o Homem parece ter uma função primordial de manipulação: tudo o que toca adquire novos significados ou caminhos. E não seria diferente com a religião. Basta analisar, superficialmente que seja, a história da Humanidade e lá está ela, ligando o homem também à intolerância, ao preconceito, às guerras, aos sacrifícios de inocentes, à segregação e a tantas outras práticas deploráveis que sequer chegam próximas da verdadeira e benevolente mensagem de Jesus, o Cristo. Ao contrário do que muitos acreditam, a História mostra que Jesus não fundou uma religião própria. Nasceu judeu e morreu judeu. ”Rei” deles, diga-se de passagem. Sua mensagem de fé, paz e amor ao próximo vem sendo difundida ao longo de mais de 2.000 anos por várias instituições religiosas. Entretanto, parece não haver mais um critério de análise histórico-cultural ao se interpretar os textos bíblicos e cada uma delas se sente no direito de interpretá-los e impô-los ao pobre povo de Deus segundo seu entendimento, conveniência e interesse. Existe na Mitologia Grega, o mito de Procusto, bandido que preparava uma armadilha para seus “visitantes”. Em sua casa tinha uma cama feita de ferro, que tinha exatamente a sua medida. Os viajantes que passavam, eram “convidados” a se deitarem na cama de Procusto. O bandido, então, amarrava a sua vítima naquela cama. Se a pessoa fosse maior do que a cama, ele simplesmente cortava-lhe as pernas. Se fosse menor, ele a esticava até caber naquela medida. Impossível não se perceber a analogia do mito, que representa de forma clara a intolerância do ser humano em relação ao outro. Muitas vezes, essa intolerância se dá por meio das convicções e práticas religiosas. E por elas várias pessoas já foram massacradas, dizimadas, física, psicológica e espiritualmente, pelo simples fato de serem homossexu-
ais. E essa intolerância religiosa, que hostiliza e expulsa os homossexuais dos espaços religiosos por não se enquadrarem em suas doutrinas, é inconcebível, uma vez em que no Novo Testamento Jesus nos ensina: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mateus, 22:37-39). O mais assustador, na história de Pocusto, foi ele acreditar que estava fazendo o correto, pois sua cama estava apenas fazendo justiça, acabando com as diferenças entre os homens. A diversidade não seria característica nossa, dos seres humanos? Então, por que insistir em obrigar homens e mulheres a viverem segundo os mesmo padrões e ideais, forçando-os a ajustar suas vidas aos conceitos pré-estabelecidos? E fazer isso em nome de Deus? E com pretexto de fazê-los felizes? Acreditamos que o interesse maior da religião é fazer cumprir o conceito que iniciou este artigo: ligar a Deus. Então me vem a seguinte reflexão: como pode uma igreja excluir membros, sendo que todos nós somos criaturas de Deus, adotados como filhos graças ao sacrifício de Jesus na Cruz? Como pode, então, um líder religioso condenar uma alma ao inferno? Uma igreja que exclui em nome de Deus entendeu mesmo a mensagem de Cristo? O gigante bandido e intolerante da mitologia grega está sempre à solta em nosso mundo. Seu espírito aparece sempre que o ser humano desrespeita o outro, senão fisicamente, mas psicológica e espiritualmente, quando este não se enquadra em seus padrões estabelecidos. No entanto, é muito valiosa a descoberta de que, em meio ao caos religioso em que se encontra hoje a Humanidade, há uma luz no fim do túnel para aqueles que só querem exercer o seu direito de amar em paz. NUDIs – Núcleo de Debates sobre Diversidade e Identidades – texto produzido coletivamente.
Ombudsman José Carlos Aragão
Cá e além-mar É curioso como, mesmo a falar uma só língua, sejamos tão diferentes ao nos expressarmos, brasileiros e portugueses. Na linguagem oral, os sotaques logo acusam nossas distintas nacionalidades. No texto escrito, contudo, perceber essas diferenças requer um pouco mais de apuro e atenção. Nos últimos três períodos – e, também, neste - esforcei-me em parecer um redator lusitano. O leitor percebeu? Terei conseguido iludi-lo? Não sei se o mesmo ocorre aos portugueses: identificar, por um texto jornalístico qualquer, se este é de autoria lusa ou brasileira. Na edição passada do Figueira, a matéria “O viaduto que podia ter estragado a Copa do Mundo” (p. 04), tive a clara impressão, logo de início, de que aquele texto fora escrito por quem fala o Português de alémmar. Conferindo o nome do repórter, constatei que é o mesmo que assina a coluna “D’outro lado do Atlântico” (p. 10) – de Lisboa! Minhas suspeitas foram confirmadas, então! Mas... como detectar essas diferenças num texto escrito? Pra começar, há os gerúndios. Eles não são muito bem vistos por aqueles que nos emprestaram sua língua. Em geral, evitam seu uso. Nós, brasileiros, por outro lado, não só o usamos com frequência, como o fazemos em excesso. Criamos até uma praga em nosso falar e escrever: o gerundismo – vício transposto e macaqueado, segundo estudiosos, da língua inglesa. Escritas de autoria lusitana, não raro, esmeram-se em empregar corretamente os pronomes oblíquos, o que dá uma elegância peculiar ao texto. Outra característica perceptível é a variação e riqueza vocabulares, que se empenha em evitar repetições desnecessárias, com amplo uso de sinônimos. Adjetivos procuram ser exatos e específicos, ao qualificarem qualquer substantivo – e, em geral, precedem-no. Inversões da ordem sintática mais óbvia criam uma “melodia” própria para cada frase. (Costumo até ler textos portugueses em voz alta, tentando incorporar e sorver essa “melodia” – que, pessoalmente, acho ainda mais bela na poesia de Pessoa ou Camões.) Ao comparar textos jornalísticos de cá e lá, outras diferenças podem ser percebidas também no estilo, na abordagem da notícia e na compilação e sequência das informações. Nós, aqui, usamos períodos mais curtos.
Discutir o racismo na sociedade brasileira sempre é um assunto controverso. Para início de conversa, uma parcela significativa da nossa população insiste em dizer que este é um problema que não enfrentamos. Somos miscigenados, multirraciais, coloridos. Como um país assim pode ser racista? Essa é uma grande dificuldade para se trabalhar com a questão racial no país, porque o povo brasileiro não tem identidade, não se conhece. E a culpa é da chamada “Democracia Racial”. A lei 10639/03, sancionada por Lula, sobre o ensino da história Africana e Afro-brasileira nas escolas, veio para mudar essa realidade. É fundamental que o(a) negro(a) tenha consciência de si, pois no Brasil ainda se reconhece o(a) negro(a) pela cor de sua pele, e ser negro(a) não é apenas questão da cor da pele, vai muito além disso. O brasileiro(a) não aprendeu a se conhecer geneticamente, apenas se conhece fenotipicamente, ou seja, pela aparência. A autodeclaração é também um problema, pois como pode alguém que não sabe sua história, sua gênese autodeclarar-se negro ou não? Métodos científicos precisam ser usados para determinar a etnia do povo, só assim será facilitado o trabalho de combate ao racismo. O racismo institucional é um dos modos de operacionalização do racismo patriarcal heteronormativo - é o modo organizacional - para atingir coletividades a partir da priorização ativa dos interesses dos mais claros, patrocinando também a negligência e a deslegitimação das necessidades dos mais escuros. E mais, como vimos acima, restringindo especialmente e de forma ativa as opções e oportunidades das mulheres negras no exercício de seus direitos. Dizendo de outro modo, o racismo institucional é um modo de subordinar o direito e a democracia às necessidades do racismo, fazendo com que os direitos inexistam ou existam de forma precária, diante de barreiras interpostas na vivência dos grupos e indivíduos aprisionados pelos esquemas de subordinação do racismo. Podemos perceber que, para que seja efetivo, o racismo institucional deve dispor de plasticidade suficiente para oferecer barreiras amplas - ou precisamente singulares - de modo a permitir a realização da hegemonia branca, privilegiando o interesse dos homens brancos heterossexuais em muitos aspectos, e das mulheres brancas em vários deles. Esta plasticidade visa também adequá-lo à interação com os demais eixos de subordinação já apontados aqui, tornando seus mecanismos de exclusão mais seletivos e profundos. Ana Aparecida Souza de Jesus é pedagoga, especialista em Gênero e Raça, Diversidade na Escola (UFMG), ativista do Movimento Negro e da Pastoral Afro Brasileira. É membro do CICONGV- Conselho de Integração da Comunidade Negra de Gov.Valadares.
Direitos Humanos Flávio Fróes
Direito à vida
Para isso, até desmembramos transcrições e declarações de entrevistados, se preciso for. Também somos adeptos do tradicional lide (lead), um breve resumo da notícia que sempre abre o primeiro parágrafo, visando cativar o leitor para o texto completo e mais detalhado que virá abaixo. Não é o caso de avaliar se uma maneira de escrever é melhor ou pior que a outra. Não vem ao caso. Mas, para um apaixonado pelas ricas variáveis dessa bela e última flor do Lácio, é um exercício prazeroso.
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Ao comparar textos jornalísticos de cá e lá, outras diferenças podem ser percebidas também no estilo, na abordagem da notícia e na compilação e sequência das informações. Nós, aqui, usamos períodos mais curtos.
Paronímia
Na seção Parlatório, da edição passada, o tema em debate era a descriminalização da maconha. Quando essa questão começou a ganhar espaço na mídia, há alguns anos, era comum ver jornais metendo os pés pelas mãos, ao buscarem a palavra adequada para nomear o que estava sendo debatido: descriminalização ou descriminação? As duas formas estão corretas e são sinônimas. Referem-se, segundo o Dicionário Aurélio, a absolver de um crime, tirar a culpa, inocentar. Juridicamente, ainda segundo o Aurélio, refere-se a excluir a criminalidade ou a antijuridicidade de um fato. Lembro-me de ter lido ou ouvido, anos atrás, o uso equivocado do termo “discriminação”, que não se aplica ao caso. Discriminação significa segregação, separação ou, em outra acepção, faculdade de distinguir, discernimento. Acertou o Figueira na palavra. Mas, de certa forma, tropeçou em seu emprego. A descriminalização em questão não é da maconha, à qual não se pode imputar crime; mas de sua comercialização, que é ilegal. José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, é escritor e jornalista. Escreva para o ombudsman: redacao.figueira@gmail.com
Agosto chegou frio e ventoso numa cidade mineira famosa pela beleza de suas igrejas barrocas e pela sobrevida política de seus clãs. Para lá se mudara, fazia pouco, um casal de valadarenses com dois meninos. Seria o ano de 1977, algum tempo antes do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069/90). Naquelas eras anteriores à preponderância dos brinquedos eletrônicos, a ventania da estação já sugeria, à população infantil, empinar papagaios. Mas, o projeto dos meninos, para desencanto deles, esbarrou no rotundo “não” do pai, o “pater famílias” de antes do ECA. Ele argumentou com a informação de que, em outra cidade, um garoto, como eles, tinha morrido eletrocutado quando a linha do brinquedo se enroscara nos fios elétricos. Que brincassem, portanto, de outra coisa menos perigosa. O garoto menorzinho, inconformado, reclamou: “O pai é chato! Só porque o menino morreu o pai não deixa a gente empinar papagaio!”. Até hoje no anedotário familiar se conta a reclamação da criança e o comentário do pai: “Ele diz que foi só porque o menino morreu... O que mais ele queria?” O episódio ilustra, descontada a característica egocêntrica da lógica infantil, o pequeno valor atribuído à morte trágica de um menino. Triste é verificar que a frase pronunciada no ano 13 antes do ECA continua válida no ano 24 após o ECA. Ou seja: crianças e adolescentes continuam a morrer sem que a sociedade, o Estado e a família, legalmente incumbidos de prevenir ocorrências trágicas que venham a envolvê-los, concorram para impedi-lo. Fica a impressão de que abusos, maus-tratos e, no limite, homicídio contra a pessoa da criança e do adolescente atingiram surpreendentes níveis de banalidade como se fossem eventuais atos de
pequena gravidade e explicações atenuantes. Há um ano foi em Governador Valadares; há poucas semanas foi num município vizinho. Num país/continente tão exuberante em políticas sociais equivocadas e, ao mesmo tempo, tão desinteressado em dados estatísticos confiáveis, torna-se difícil esboçar um diagnóstico. Por exemplo: em que regiões ocorrem abusos, maus-tratos e homicídios contra crianças e adolescentes nesse país? Quais os modelos de grupos familiares em que ocorrem? Em que municípios há serviços de atendimento a vítimas de abusos e maustratos?
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Naquelas eras anteriores à preponderância dos brinquedos eletrônicos, a ventania da estação já sugeria, à população infantil, empinar papagaios. Mas, o projeto dos meninos, para desencanto deles, esbarrou no rotundo “não” do pai, o “pater famílias” de antes do ECA.
Importa lembrar que o princípio ético que funda o Estatuto da Criança e do Adolescente é a preservação da vida desse grupo de brasileiros, com fruição do pleno gozo de seus direitos. Permanece, contudo um estranho e difuso sentimento de que abusos, maus-tratos e homicídios contra crianças e adolescentes não merecem ocupar a atenção de ninguém, além de uma curta notícia de televisão.
Flávio Fróes Oliveira é teólogo, estudioso na Área de Crianças e Adolescentes.
ENTREVISTA O advogado, ex-deputado federal e ex-ministro das comunicações João Pimenta da Veiga Filho é, agora, o candidato tucano ao Palácio Tiradentes. O partido – e sua coligação – que já apostou todas as fichas em Aécio Neves e Antônio Anastasia, volta a trabalhar neste período eleitoral com a ideia de continuidade na gestão implantada há doze anos em Minas Gerais. Aos 67 anos, Pimenta da Veiga graduou-se pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em Ciências Jurídicas e Sociais. Filho de exdeputado federal atuou no mesmo cargo pelo Movimento Democrático Brasileiro e, posteriormente, pelo PMDB, entre 1978 e 1988. Saiu do legislativo nacional para assumir a Prefeitura de Belo Horizonte no ano seguinte – já pelo PSDB, partido que ajudou a fundar. Voltou à Câmara de Deputados em 1994 e, quatro anos depois, foi nomeado para a pasta do Ministério das Comunicações no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois de mais de dez anos distante dos cargos públicos, Pimenta tenta o retorno em 2014. Já no páreo que terá o seu desfecho em cinco de outubro deste ano, ele conversou com este Figueira. Falou sobre a dependência de cidades como Governador Valadares do Fundo de Participação dos Municípios; sobre o Vale do Rio Doce e das águas que correm em suas terras; sobre o baixo crescimento do PIB mineiro no ano passado; e, também, sobre como pretende lidar com isso em todo o estado de Minas Gerais.
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FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014
Entrevista Pimenta da Veiga
Candidato do PSDB ao governo de Minas
“O estado deixou de exportar energia para importar eletricidade” PSDB.ORG
Figueira - Minas é conhecida como a torneira do Brasil, por seus recursos hídricos, os seus rios que abastecem de água e energia a região Sudeste, a mais rica do país. No entanto, o Rio Doce vem a cada ano com indicadores mais graves de degradação ambiental. Como fixar políticas de reversão desse quadro?
Figueira - O senhor foi prefeito da capital e conhece, portanto, os desafios que um município tem para atendimento direto às demandas da população. Os 24 municípios que se juntam a Valadares na microrregião têm PIB com valor de metade da média do Estado de Minas, são esvaziados populacionalmente e não têm alternativa econômica. Todos já foram mais populosos e viáveis. Podemos dizer que são municípios falidos, incapazes de cumprir as suas obrigações de políticas públicas, de oferecer oportunidades aos cidadãos, são altamente dependentes dos repasses obrigatórios do Fundo de Participação dos Municípios. Formam um cordão de pobreza e falta de perspectiva ao redor de Valadares. Como o Estado pode induzir o desenvolvimento desta região especificamente? Pimenta da Veiga - Essa realidade predomina, infelizmente, em todo o interior de Minas Gerais. Os municípios dependem do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que é composto de 23,5% do que o governo federal arrecada com o Imposto de Renda e com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Portanto, quando o governo prorroga o subsídio ao IPI incidente sobre os automóveis, está reduzindo, automaticamente, o bolo que é rateado entre os municípios. Essa é uma questão, pois o governo federal distribui subsídios com o dinheiro que deveria chegar aos cofres públicos de municípios como Governador Valadares. Por outro lado, para entender melhor a falta de recursos nos municípios, onde as pessoas moram, criam suas famílias e onde estão os problemas, é preciso lembrar que o governo federal fica com mais de 70% de todos os impostos recolhidos no país. Sobram menos de 30% para os estados e os municípios. Essa situação é perversa, antiga e precisa ser modificada. O senador Aécio Neves, se eleito presidente da República, pretende mudar essa realidade logo nos primeiros meses da sua gestão, de modo que os municípios possam receber as verbas que precisam para se desenvolver e criar emprego e renda. São medidas como essas que ajudarão a reduzir esse cordão de pobreza e a falta de perspectiva da região de Governador Valadares. Com mais recursos, as Prefeituras podem começar a resolver os problemas da região e atrair empresas prestadoras de serviço e indústrias, que venham a oferecer empregos de qualidade, bem como manter o trabalhador no meio rural. É fundamental gerar emprego e renda para acabar com a pobreza e manter a dignidade do trabalhador e de sua família. Mas, tudo isso ainda é pouco. Para ocupar os empregos de qualidade que serão criados na região de Governador Valadares, é necessário que a juventude esteja preparada e qualificada. Tudo começa com a educação, e nossa proposta é oferecer uma escola de tempo integral para todas as crianças, remunerando melhor os professores. Elas terão a oportunidade de aprender uma segunda língua e aquelas que se destacarem vão fazer estágios nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa. Quando voltarem, esses jovens estarão aptos a preencher as vagas de emprego de qualidade. Temos de fazer essa revolução nas cidades mineiras. Figueira - Esses municípios foram incluídos recentemente no Idene, que, no entanto, não oferece isenção nem incentivos fiscais, como não dispõe de mecanismos de fato indutores de desenvolvimento. O Idene pode vir a ser dotado de mecanismos de indução do desenvolvimento, como a sua lei de criação previa? Pimenta da Veiga - O Vale do Rio Doce terá espaço no meu governo. Vamos abrir as portas da Secretaria de Estado das regiões dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e Norte de Minas, como também as do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene). Como
dades, queremos fazer o contorno das sedes municipais, queremos fazer um grande programa de saneamento. Mas, o que mais me encanta, no fundo da alma, é o que queremos fazer com a educação em tempo integral. E também na saúde. Aqui em Valadares está sendo construído um dos mais modernos hospitais regionais de Minas Gerais. O Hospital Samaritano recebeu uma ajuda muito importante do Governo do Estado e nós queremos manter isso, inaugurar o hospital regional e mantê-lo bem, colocá-lo a serviço da população. Já a internet tem obrigatoriamente de manter um sinal de qualidade em todo o estado. Não há como pensar em desenvolver o interior mineiro sem as ferramentas disponibilizadas pela internet de alta qualidade.
Pimenta da Veiga diz ter propostas inovadoras para o Vale do Rio Doce
se sabe, o ex-governador Antonio Anastasia incluiu mais 70 novos municípios na área de atuação do Idene, dentre eles 68 do Rio Doce, ampliando a atuação do instituto para 258 municípios. Agora, o Vale do Rio Doce está apto a participar das ações e dos programas do Idene, com um tratamento diferenciado do resto do Estado. O próximo passo – e para isso contamos com a eleição do senador Aécio Neves para presidente da República – é estimular que também as ações da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) beneficiem a região do Rio Doce. O Idene tem como objetivo promover o desenvolvimento econômico e social das regiões Norte e Nordeste do Estado e, agora, também do Noroeste; formular e propor diretrizes, planos e ações, compatibilizando-os com as políticas dos governos federal e estaduais. Temos de tornar realidade esses mecanismos de indução do desenvolvimento.
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Aqui em Valadares está sendo construído um dos mais modernos hospitais regionais de Minas Gerais. O Hospital Samaritano recebeu uma ajuda muito importante do Governo do Estado e nós queremos manter isso, inaugurar o hospital regional e mantê-lo bem, colocá-lo a serviço da população. Já a internet tem obrigatoriamente de manter um sinal de qualidade em todo o estado. Não há como pensar em desenvolver o interior mineiro sem as ferramentas disponibilizadas pela internet de alta qualidade.
Figueira - Os governos Aécio-Anastasia fizeram o pró-acesso, assegurando a conexão por rodovia asfaltada de todos os municípios mineiros. Em um estado tão vasto territorialmente, centenas de distritos com produção agrícola e com população carente de atendimento também precisam ter garantida essa integração. Da mesma forma, há demanda por telefonia rural de alcance amplo e de infovias para assegurar internet em todos os cantos do estado. Conectar Minas é parte de suas preocupações? Como fazer? Pimenta da Veiga - Temos aqui em Governador Valadares um exemplo do que pretendemos fazer. Vocês que rodam pela região do Rio Doce sabem quantos municípios, há poucos anos, não eram ligados por estradas asfaltadas. Hoje, após as administrações Aécio-Anastasia, todos eles são, à exceção de cinco, porque dependiam de uma estrada federal que não foi feita. Nós queremos agora fazer a segunda ligação nas ci-
Pimenta da Veiga - A legislação existente é suficiente para reverter a degradação ambiental. É preciso, em primeiro lugar, que prevaleça o bom senso entre os ambientalistas e os produtores rurais. Não podemos perder nosso tempo e nossa energia em eternas discussões ideológicas que pouco produzem. É preciso uma melhor interação entre as secretarias de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais com a Secretaria de Estado de Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), além da sociedade organizada. Não é possível assistir passivamente a degradação do Rio Doce, bem como de outros mananciais importantes, como os rios Paraopeba, São Francisco e o Rio das Velhas. Figueira - Enquanto a desaceleração do crescimento do PIB brasileiro chegou ao crescimento de 2,3% em 2013, Minas Gerais apresentou crescimento de apenas 0,5%, reduzindo a sua participação no PIB nacional. É uma situação conjuntural ou resulta de ações do governo mineiro? Pimenta da Veiga - A questão é conjuntural e os números divulgados pela Fundação João Pinheiro (FJP) demonstram um desempenho negativo da indústria (-1,8%) e um crescimento abaixo do esperado dos setores de serviços e agropecuária, que avançaram 1,6% e 0,5%, respectivamente. O setor industrial mineiro foi prejudicado pela performance desfavorável da indústria extrativa mineral (-6,1%) e pelo nível baixo de água no lago de Furnas, provocando uma retração de 6,7% no grupo de produção e distribuição de energia e saneamento. Há muito tempo a matriz de geração de energia hidrelétrica em Minas não sofria um impacto tão forte de condições climáticas adversas como no início de 2013. O Estado deixou de exportar energia para importar eletricidade, conforme análise da FJP. São fatores externos, fora do nosso controle, haja vista que a queda da indústria extrativa mineral se deu pela redução das importações de minério de ferro pela China. O Governo de Minas vem trabalhando para diversificar o parque industrial para não deixar as exportações dependentes praticamente de duas commodities, ou seja, o café e o minério de ferro. Figueira - O PT apresenta candidato competitivo, com o Pimentel que também é ex-prefeito da capital. Podemos considerar que por termos dois ex-prefeitos à frente na campanha pelo governo de Minas, acompanharemos uma agenda mais municipalista, de um Estado menos concentrador? Pimenta da Veiga - Quando fui prefeito de Belo Horizonte, criei o Programa de Obras Participativas com o objetivo de ouvir pessoalmente os problemas de cada região, discutindo com as pessoas o que tínhamos eu fazer. Muitas vezes, levamos projetos prontos, que foram substituídos por outros após as conversas com a população. Naquela ocasião, se eu não tivesse ouvido o povo, eu poderia ter feito obras imaginando estar agradando às pessoas e não estaria agradando. Estou repetindo este mesmo programa no Estado: ouvindo as pessoas, porque eu tenho ideias claras sobre o que eu acho que deve ser o caminho de Minas, mas não quer dizer que elas estejam certas. Por isso, eu quero ouvir sugestões, ouvir opiniões, quero ouvir conselhos e tem sido fascinante. Temos recebido um carinho muito grande, uma acolhida extraordinária. É cansativo, mas muito prazeroso e vamos fazer isso por todo o tempo.
BRAVA GENTE Arquivo Pessoal
O pesquisador e a sanfona inseparável
Prestes a se tornar doutor, Rafael não abandona a suas origens
Do Córrego dos Venâncios, em Brejaubinha, Valadares, ao doutorado em Agronomia na UFV, Rafael Carlos dos Santos, 28 anos, carrega as marcas da sua família e da sua comunidade. Filho mais velho de cinco irmãos (dois homens e três mulheres) de uma família de pequenos agricultores, ele morou com seus pais até os 18 anos, participando de todas as atividades do dia a dia rural, como a pecuária leiteira de pequena escala e a produção de requeijão artesanal. Apesar das dificuldades enfrentadas, típicas do meio rural, como a falta de transporte, comunicação e acesso a serviços básicos, Rafael considera que teve uma infância muito boa e saudável, marcada pelo gosto pela música e pelos estudos. A graduação em Agronomia pela Univale, iniciada em 2004, só foi possível por causa de um programa de bolsas de estudos para indígenas e filhos de pequenos agricultores e quilombolas. A seleção para o mestrado na Universidade Federal de Viçosa veio em 2008. Com mudança de cidade, teve de trabalhar como garçom e como professor em escolas públicas, pois não tinha bolsa. De luta em luta, Rafael está agora no terceiro ano do doutorado em Agronomia, na UFV.
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Apesar das dificuldades enfrentadas, típicas do meio rural, como a falta de transporte, comunicação e acesso a serviços básicos, Rafael considera que teve uma infância muito boa e saudável, marcada pelo gosto pela música e pelos estudos.
O gosto pela música é uma de suas marcas. Seu aprendizado foi prestando atenção às pessoas que tinham algum conhecimento musical. Quando criança e adolescente tocava sanfona nas missas e cultos, e sempre participava de algum evento cultural, quando convidado. Participou de um grupo regional de música sertaneja, fazendo apresentações em festivais, vaquejadas, e outros eventos afins. Toca violão, sanfona, teclado e viola, mas pela falta de tempo, limita-se a “brincar” com estes instrumentos nas reuniões de amigos e ocasiões comemorativas. A dedicação de Rafael à pesquisa, que o coloca na nova geração de cientistas brasileiros, faz dele Brava Gente!
COTIDIANO
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FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014
D’outro lado do Atlântico José Peixe / De Lisboa
Novo presidente e novos rumos para a União Europeia Jean-Claude Juncker, ex-primeiro ministro do Luxemburgo foi eleito, na passada terça-feira, 15 de julho, o novo presidente da União Europeia (UE), com 422 votos a favor, 250 contra e 47 em branco, de um total de 751 eurodeputados. Juncker sucede assim ao português José Manuel Durão Barroso, mas só assumirá as suas funções no próximo dia 1º de novembro. Antigo presidente do Eurogrupo e ex-primeiro-ministro do Luxemburgo entre 20 de janeiro de 1995 até dezembro de 2013, Jean-Claude Juncker é um dos políticos mais respeitados em toda a União Europeia, justamente pelos 20 anos que esteve à frente dos destinos do Luxemburgo e dos cinco anos em que liderou o Partido Popular Social Cristão (1990 a 1995). O nome de Juncker para presidente da União Europeia foi proposto por 26 líderes europeus reunidos na Cimeira de 27 de junho e com a oposição firme dos primeiros-ministros inglês e húngaro David Cameron e Vicktor Orbán. Na ótica destes dois oposicionistas, “Jean-Claude Juncker é um homem do passado e não é o político ideal para liderar a Europa, numa altura em que se vivem momentos delicados do ponto de vista económico e financeiro”. A postura do primeiro-ministro britânico, David Cameron, não constitui nenhuma novidade no seio da União Europeia. Há muito que os ingleses se revelam anti-europeístas não adotando o Euro como moeda oficial. Uma coisa é certa: Jean-Claude Juncker já deixou bem claro que o orçamento da União Europeia deve ter outros contornos e a postura do Banco Europeu de Investimento (BEI) também. O novo presidente europeu quer demonstrar ao resto do mundo que a crise económica e social que tem afetado o velho continente nos últimos 10 anos poderá chegar ao fim, avizinhando-se outros rumos. Antes da votação que teve lugar no Parlamento Europeu (PE), o antigo primeiro-ministro do Luxemburgo apresentou aos eurodeputados quais
UE
Jean-Claude Juncker, o novo presidente da União Europeia
vão ser a suas prioridades políticas e as linhas mestras da União Europeia para os próximos cinco anos. O programa de Juncker intitulava-se “Agenda para o Emprego, Crescimento, Justiça e Mudança Democrática”. Assuntos demasiado melindrosos, nos quais a maioria dos cidadãos europeus, especialmente os dos países mediterrânicos, já deixou de acreditar. Aliás, os países da Europa do Sul (Portugal, Espanha, Itália e Grécia) continuam mergulhados numa crise econômica, com índices de desemprego assustadores. Jean-Claude Juncker defendeu no Parlamento Europeu que “não é possível ter um crescimento sustentável na União Europeia acumulando dívida”. “Essa é uma das principais lições a reter da crise que afecta toda a União Europeia, mas existem estudos feitos por especialistas que consideram ser possível fazer melhor uso do orçamento europeu e do Banco Europeu de Investimento”, esclareceu Juncker. O discurso do novo presidente não agradou a todos os eurodeputados. Especialmente aos esquerdistas.
Café com Leite Marcos Imbrizi / De São Paulo
Olha o trem Poder viajar de trem é um dos privilégios que o povo de Governador Valadares tem. Seja para ir a Vitória, ao Vale do Aço ou a Belo Horizonte. É uma opção que poucos brasileiros têm, uma vez que este é um dos poucos trajetos de trens de longa distância no País. Além do menor custo, os trens são mais seguros e confortáveis. Quando morei em GV, eu aproveitava a oportunidade todas as vezes que tinha de ir à Capital ou a São Paulo. Na minha recente passagem por Minas, aproveitei para ir de Ipatinga a Belo Horizonte. E chamou-me a atenção as melhorias no serviço. Da estação, onde comprei a passagem, à pontualidade da chegada. Queria conhecer os novos vagões romenos adquiridos pela Vale, mas viajei nos vagões em uso já há alguns anos mesmo, o que não me tirou o prazer da viagem. Com certeza, viajarei novamente assim que as novas composições estiverem em funcionamento. Belo Horizonte – Ao chegar à Capital, em plena Copa do Mundo, fiquei impressionado com o novo sistema de transporte público, o BRT Move, que corta boa parte da cidade. Trata-se de uma linha com vias exclusivas para a locomoção de modernos ônibus, com paradas ao longo do percurso. Além de melhorar e agilizar o serviço de transporte da população, o projeto implantado este ano garantiu a recuperação de áreas degradadas no Centro da cidade, bem como a implantação de um sistema de ciclovias, entre outras melhorias. O trecho do Centro à Pampulha, por exemplo é percorrido em menos de 20 minutos. Gênesis – E o Palácio das Artes abriga, até 24 de agosto, a exposição fotográfica ‘Gênesis’, de Sebastião Salgado e curadoria de Lélia Wanick Salgado. Assim como os trabalhos anteriores, o fotógrafo nascido em Aimorés traz ao público imagens impressionantes de regiões distintas de nosso planeta como a Antártida, a África, o Alasca a Amazônia e o Pantanal. Mas se em outras exposições Salgado mostrava a exploração de trabalhadores, a degradação do meio ambiente e o êxodo de populações por conta de guerras ou da fome, em Gênesis o público pode conferir fotos que mostram um planeta bonito e pulsante,
Aulas de futebol A Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Juventude (SMCEL), em parceria com a Associação de Moradores e Amigos da Ilha dos Araújos (AMAI), abriu 30 vagas para aulas de futebol na Escola Comunitária de Esportes. A Escola Comunitária de Esportes é uma parceria da Prefeitura com associações de bairro, que tem como objetivo desenvolver atividades esportivas em espaços públicos. As vagas são destinadas a crianças de 7 a 13 anos que estejam regularmente matriculadas e frequentem escola pública ou particular – neste caso, como bolsista. Para realizar a inscrição é necessário que os responsáveis compareçam, munidos de comprovante de residência e identidade, no período de 22 a 30 de julho, na avenida Mucuri, 475 – Ilha dos Araújos. Para mais informações: 9989.7383 (Clero). A inscrição é gratuita.
apesar da ação humana. “É uma busca das paisagens terrestres e aquáticas até hoje intocadas; uma viagem em direção aos animais e grupos humanos que conseguiram escapar das transformações impostas pelo mundo contemporâneo”, afirma a curadora no folheto de divulgação. E a exposição contempla ainda o trabalho desenvolvido por Sebastião Salgado e Lélia de recuperação da fazenda onde nasceu o fotógrafo através do Instituto Terra. O Palácio das Artes fica na av. Afonso Pena, 1537, no Centro de Belo Horizonte. De terça-feira a sábado das 9h30 às 21h, e domingos das 16h às 21h. Entrada franca. O site da exposição é: http://www.vale.com/genesis. ‘Edualdo’ – E foi dada a largada para a corrida eleitoral. De São Paulo, o maior colégio eleitoral do País, como já era previsível, as notícias não são nada boas para Aécio Neves. Apesar de garantir o candidato a vice, o senador tucano paulista Aloysio Nunes, Aécio terá de dividir o palanque do candidato à reeleição ao governo Geraldo Alckmin com o também candidato a presidente Eduardo Campos cujo partido, o PSB, indicou o candidato a vice-governador o deputado estadual Márcio França na chapa de Alckmin. Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que o pernambucano Campos quer contar com 40 comitês ‘Edualdo’ em São Paulo. De acordo com o texto, em nível nacional o PSDB considera a composição um problema, pois tem potencial de tirar votos de Aécio em São Paulo. “A chapa é uma reconfiguração, com gosto de “revanche”, das dobradinhas “Lulécio” e “Dilmasia”, das campanhas de 2006 e 2010, como ficou conhecido o voto casado de Minas nos candidatos à Presidência do PT (que enfrentavam dois paulistas, Alckmin e José Serra) e nos candidatos tucanos ao governo local.”, afirma o texto. Ainda de acordo com a reportagem, a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff pretende manter o eleitorado nos redutos petistas de São Paulo, que garantiram, entre outras, a superioridade de votos na Região Metropolitana da Capital no pleito de 2010, além de avançar sobre os insatisfeitos com o PSDB. Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.
“Temos que fazer um uso correto dos fundos públicos disponíveis na União Europeia de modo a conseguirmos estimular mais investimento privado na economia real de todos os países. Poderemos mobilizar até 300 mil milhões de euros em investimento público e privado, nos próximos três anos. Se isso se concretizar, a União Europeia voltará a ser uma das maiores economias do mundo”, afirmou Jean-Claude Juncker. Questionado sobre a utilização dos orçamentos nacionais de cada um dos países que fazem parte da UE, Juncker apenas disse que “é necessário respeitar o pacto de estabilidade e crescimento, fazendo o melhor uso possível das verbas provenientes da própria União Europeia”. O sucessor de José Manuel Durão Barroso reconheceu publicamente que “foram cometidos erros na gestão da crise económica que afecta muitos países da União Europeia e que é urgente aumentar a justiça social”. Um discurso característico dos apelidados tecnocratas de Bruxelas. Mas, existem vários problemas políticos no continente Europeu, que merecem uma resposta clara e objetiva, como é o caso dos conflitos que se registram na Ucrânia. Dominique Ristori, chefe do Diretório da Comissão Europeia para Energia já fez saber junto das autoridades da Rússia que “a União Europeia não prevê a possibilidade de liquidar a dívida da Ucrânia pelo gás natural importado da Rússia”. A dívida atual da Naftogaz ucraniana perante a Gazprom da Rússia é de 5,3 bilhões de dólares pelos fornecimentos feitos até ao dia 15 de junho. Esta situação poderá agravar a crise na Ucrânia. “Nós já prestamos uma importante ajuda macroeconómica à Ucrânia. Também estamos em contacto com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para encontrar a melhor solução para a reforma do mercado energético da Ucrânia, mas não podemos assumir o pagamento integral dessa dívida”, esclareceu Dominique Ristori. Existe a esperança que Jean-Claude Juncker possa encetar novos acordos com Vladimir Putin e trazer uma pacificação para as relações entre a Alemanha e os Estados Unidos. É que os alemães acusam os norte americanos de espionagem. Mas qual vai ser a postura da União Europeia, como mediador importante nos conflitos entre israelenses e palestinos? E que relações vão ser firmadas entre a União Europeia e o Mercosul? Eis algumas perguntas que podem ficar em aberto, tendo Jean-Claude Juncker como presidente da União Europeia. É que ser presidente da UE não é o mesmo que governar o Luxemburgo durante 20 anos consecutivos. José Valentim Peixe é jornalista e doutor em Comunicação
Recado Capital Bob Villela / De Belo Horizonte
História em campo Todos sabemos que os últimos dias fizeram Belo Horizonte ser ainda mais conhecida internacionalmente. Mas, se desde o início da Copa a cidade foi tomada por gente de toda parte do mundo – que veio ver bom futebol e viu também um povo bom, boa comida e atrações belíssimas –, foi em 8 de julho, quando a Terra parou para ver a maior surra que a seleção brasileira de futebol já levou em cem anos de história, que BH teve um dos mais evidentes dias de sua existência. Sim, amigos, o destino quis que o vareio ocorresse em solo mineiro. O mesmo solo que deu Pelé, Tostão e Telê ao mundo foi a passarela do desfile promovido pelos alemães e seus canhões, cuja exibição de gala escancarou todas as nossas ilusões, o despreparo de jogadores e da comissão técnica, a fragilidade da nossa presunção. Por ter sido em casa, tratou-se de uma aula particular de futebol, organização e, por que não, permitam-me metaforizar, uma lição de vida. Contudo, embora possa parecer, o massacre histórico do Mineirão está longe de ter sido uma tragédia (a propósito, tragédia é viaduto em construção cair e matar gente). Aquele placar dilatado representou, sim, o início de um novo tempo para o nosso futebol; e mais um acontecimento marcante na riquíssima história de Minas Gerais. Naquele dia 8, a equipe canarinho deixou de ser protagonista. A data e o estádio ficarão na história das Copas como o dia e o lugar em que, enfim, surgiu a seleção favorita ao título de 2014; quando e onde, triste fim, a força e o encanto do futebol brasileiro desapareceram – para ressurgirem com mais vigor, oxalá. Daqui a meses, anos, décadas, esse dia será lembrado como o marco na transição de eras no esporte bretão do Brasil – assim esperamos, reitero! E, sem dúvida, muitos que vierem ao País de agora em diante desejarão visitar – ou rever – o palco de um jogo inesquecível até para quem não gosta de futebol. O gigante da Pampulha passou a integrar, sobretudo, o roteiro de jornalistas e turistas alemães. Para brasileiros e, especialmente, mineiros, o tempo vai mostrar que este foi um dos maiores legados da Copa que acabou – e que vai deixar tanta saudade. Programa irresistível O Centro Cultural Banco do Brasil apresenta a exposição “Resistir é Preciso” até o dia 28 deste mês. Com uma linha do tempo, a mostra conta a história da resistência à ditadura militar no país. Trata-se de uma criativa exibição de um período marcado pelo sofrimento, pelos abusos e pelo cerceamento dos direitos, mas igualmente profícuo em nomes e expressões da nossa cultura, cujos papéis foram fundamentais para que o Brasil reencontrasse com menos dificuldade o caminho da redemocratização. Saiba mais em culturabancodobrasil.com.br. Roberto Villela Filho é jornalista e publicitário
COTIDIANO 11
FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014
O coração da Palestina Na edição anterior, o correspondente deste Figueira em Lisboa, José Peixe, narrou em cores fortes a explosão de violência entre o Estado de Israel e a população da Faixa de Gaza, no Estado da Palestina. Usou a expressão corrente no Oriente Médio: “abriram-se as portas do inferno”. Em meio aos contínuos ataques e à falta de horizonte para solução do conflito, este Figueira oferece agora um relato direto de quem viveu lá e tem o que contar da situação. Antzine Biain / Relato de experiência e impressões pessoais para o Figueira
Quando pensamos ou falamos da Palestina, nos vêm à cabeça palavras como violência, guerra, morte, tanques, pedra, bombas, destruição, dor e, como não?, fanatismo, religião, machismo etc. Nosso bem instaurado paternalismo ocidental nos impede de ver mais além de nossos narizes, como sempre. Falando da mulher em particular, vi véus ou lenços transparentes em meu próprio povo. Muitos mais sólidos e difíceis de tirar que a roupa das muitas palestinas, que as usam como símbolo de sua própria identidade. Falando de uma situação geral vejo aqui mais vida do que muitas pessoas, que se creem afortunadas no Ocidente, possam imaginar. A Palestina desperta-se a cada dia, trabalha, estuda, fala, anda, corre e às vezes cai, mas sempre se levanta novamente. Nasce e morre, canta, ri e chora, se apaixona, se separa, sente, se emociona, sofre, desfruta e se deita a cada noite... e sonha. E, sobretudo, resiste e o faz com tal intensidade que estremece, com tanta dignidade que comove e emociona. E isso nos faz sentir um profundo e verdadeiro respeito e admiração por sua gente. E mais: um grande amor. Apesar do que vemos e escutamos sobre ela, a Palestina é, antes de tudo, amor. Amor à sua terra, às suas raízes, à sua cultura e costumes, à sua identidade, à sua gente e também a nós estrangeiros: amor ao outro. Creio que se quisermos de verdade sentir a vida e o que realmente faz a vida valer a pena, devemos aprender com a Palestina: terra ocupada, lastimada, ultrajada, encarcerada, assassinada, mas ainda assim, generosa, solidária, resistente, valente e cheia de coragem e esperança. Sendo assim, só nos resta saber se esta Palestina viva, porém, dividida política, geográfica, econômica e socialmente, fragmentada e ferida no mais profundo de seu ser, será capaz de lutar unida e se nós, deste lado do mundo, seremos capazes de combater com ela. Oxalá!
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Arquivo Pessoal
Creio que se quisermos de verdade sentir a vida e o que realmente faz a vida valer a pena, devemos aprender com a Palestina: terra ocupada, lastimada, ultrajada, encarcerada, assassinada, mas ainda assim, generosa, solidária, resistente, valente e cheia de coragem e esperança.
Integrantes do Comboio da Esperança, reunidos na fronteira de Gaza, aguardando autorização do governo do Egito para seguir viagem. Antzine Biain está de costas, com blusa vermelha
que um palestino que trabalha na ONU não queira que se fale da ocupação na Cisjordânia. Mesmo com todos os obstáculos, consegui gravar dois curtas: “Amal” (Esperança), em 2010, que conta sobre o Comboio da Esperança http://vimeo.com/10453831 e “Qalbi” (Meu Coração), em 2012, que apresenta os campos na Cisjordânia http://www.naiz.eus/eu/actualidad/noticia/20130710/ qalbi-una-historia-personal-y-humana-sobre-cisjordania# O Comboio da Esperança
Campos de refugiados Na Palestina há muitos campos de refugiados. Tive a oportunidade de estar em dois deles na Cisjordânia ocupada. O primeiro, em Jericó, próximo à fronteira da Jordânia e o outro em Shufat, a cinco quilômetros de Jerusalém. Nesses dois e creio que em quase todos os campos, a taxa de desemprego é alta, assim como a situação de pobreza, o que ocasiona que muitas pessoas que vivem ali passem por uma desestruturação familiar e social. O Campo de Shufat está rodeado por um muro e não é permitido construir fora deste limite. No pouco espaço, os palestinos constroem mais casas, mas os tratores israelenses as derrubam. Tentam também construir mais escolas porque a população do campo aumentou desde 1965, ano em que foi “criado”, mas não é permitido fazê-lo. Por isso, há muitas crianças sem vaga nas escolas dentro do campo, pertencentes à ONU, e são obrigadas a ir às escolas lá fora. Tais crianças se levantam às cinco da manhã e têm de atravessar todos os dias o Check-point, que é uma saída cercada por arames, controlada por soldados armados e cães. As crianças, entre 7 e 18 anos, são revistadas e têm suas mochilas abertas e reviradas rotineiramente. Como as ruas do Campo são muito estreitas, não há espaço para construir uma praça para que as crianças tenham algum lazer. Em uma das minhas visitas, estava gravando em uma dessas escolas do Campo, falando com as professoras e crianças sobre a vida ali e fui interrompida pela diretora do colégio que me perguntou se eu tinha permissão da ONU para isso. Respondi que não sabia da necessidade de uma permissão e ela me passou o número do delegado da ONU em Jerusalém, que era palestino. No dia seguinte, fui a Jerusalém para a entrevista. Ele me perguntou: “Que tipo de documentário vai gravar?” Eu respondi que queria contar a vida diária do povo palestino. Ele me respondeu: “Isso é um documentário político!” Eu, que pensei que tudo nesta vida fosse político, principalmente na Palestina, lhe pedi: “Me defina o que é político.” Ele me respondeu: “Se vai falar da ocupação, não te dou permissão.” É muito significativo
Cotidiano
The Hope Convoy ou o Comboio da Esperança saiu no dia 1º de maio de 2009 de Londres rumo a Gaza, com 39 veículos cheios de medicamentos e roupas. Havia 150 pessoas de diferentes nacionalidades, entre elas, políticos, jornalistas, alguns cidadãos palestinos que conseguiram sair e não retornavam a Gaza há mais de 10 anos, além de homens e mulheres comuns movidos pela solidariedade. Como já prevíamos, pois é habitual, o governo egípcio tentou esgotar nossas forças, mudando nossos planos iniciais e nos fazendo ir de um lado para o outro. Tínhamos planejado viajar de Alexandria, aonde chegamos de navio, até Gaza por terra. Mas nos disseram que devíamos ir de navio até Al Arish, porém, deveríamos passar primeiro na Líbia, para seguir em um barco menor. Assim o fizemos e novamente mudaram de ideia e decidiram que a viagem até a fronteira seria por terra desde Port Said. A saída para Gaza estava programada para o dia 10 de maio, mas a espera se prolongou até o dia 20. Nesses dez dias, fizemos assembleias para decidirmos como proceder, para ver o que faríamos caso finalmente nos deixassem entrar a todos ou a apenas alguns. Tínhamos dois pontos em comum: o primeiro é que éramos um grupo unido e lutaríamos até o fim e o segundo é que perguntaríamos ao povo de Gaza e faríamos segundo o que nos dissessem. Já na fronteira de Rafah, no Egito, entregamos os passaportes e esperamos todo o dia para que fossem devolvidos. Não nos permitiam sair do recinto da fronteira, nem mesmo para tomar um pouco de ar. Quando faltavam apenas três passaportes para nos serem entregues, as autoridades fronteiriças egípcias nos disseram que, por motivo de segurança, nossa entrada estava cancelada. Após dez dias de espera, a indignação foi generalizada. Diante de nossa insistência, permitiram a entrada de apenas dez das cento e cinquenta pessoas e dez veículos. Entramos em contato com Gaza e a resposta que ouvimos foi que entrássemos todos, mesmo que para isso, deixássemos os medicamentos. O mais importante seria que as pessoas
vissem a realidade em que vivem. Os medicamentos ajudam, mas não abrem fronteiras, a opinião pública sim. Apresentamos a nossa negativa às autoridades egípcias e eles nos convidaram a nos retirar e a fazer uma nova tentativa no dia seguinte. Decidimos, então, dormir na fronteira como forma de pressão. Na manhã seguinte, o ambiente era desolador, as autoridades egípcias utilizaram nossa resistência em deixar a fronteira como desculpa para negar nossa entrada e à tarde nos fizeram uma última e controvertida proposta: deixariam passar todos os veículos e outras vinte pessoas. A situação se pôs tensa, algumas pessoas queriam continuar na fronteira e lutar, mas o cansaço físico e moral, sobretudo a responsabilidade de fazer chegar os medicamentos, foram mais fortes. Após calorosas discussões e uma última votação, decidimos aceitar a proposta. Mas quem seriam os vinte a entrar? A escolha foi feita pelos políticos do comboio, e com certeza, eles entraram, ficaram de fora os palestinos de Gaza. Nesta noite, entraram os vinte escolhidos em Gaza e combinamos que os outros esperaríamos em Al Arish ou no Cairo. Mas quatro pessoas, entre elas, eu, ficamos na fronteira com as chaves de quatro veículos e insistimos em entrar. Passamos mais uma noite na fronteira. Pela manhã, falamos novamente com as autoridades egípcias e resposta foi que poderíamos ficar ali o tempo que quiséssemos, que eles mesmos nos dariam o que comer e que não fariam nenhuma objeção, porém, anotaram nossos nomes e disseram que jamais entraríamos em Gaza. Diante disso, lhes entregamos as chaves dos carros e fomos embora. Quando voltamos a Al Arish para enfim voltarmos para casa, nos encontramos com algumas pessoas do comboio e perguntamos se sabiam algo das vinte que entraram. Alguém respondeu que conseguiram falar por telefone com eles e que estava bem, mas tristes. - Tristes por quê?, perguntamos. - Porque todo mundo em Gaza está dizendo a eles que não deveriam ter entrado sós, ou todos ou nenhum. O Comboio da Esperança se dissolveu em pequenos grupos que ainda lutam em favor de Gaza. Eu voltei em dezembro do mesmo ano para uma nova tentativa de entrar na Faixa, mas não consegui, porém, fiquei por dois meses na Cisjordânia, em dois campos de refugiados. Antzine Biain é técnica de laboratório e trabalha no Hospital Municipal de Zumarrága, no País Basco. Integra o Partido Independentista Basco. É feminista e como ativista política dedica-se a trabalhos voluntários no Senegal, na Argélia e na Palestina. O texto foi traduzido da língua Euskera, do povo basco, por sua amiga, a valadarense Rosi Santiago.
Reprodução ESPN Brasil
Lucimar Lizandro
Perdemos a Copa, não a razão de nossa existência A Copa do Mundo de Futebol chegou ao seu final, tendo a seleção alemã como a grande campeã, a Argentina em segundo, a Holanda em terceiro e o Brasil em quarto lugar. Para o bem do esporte, venceu o melhor. A Copa das Copas, inicialmente um slogan do governo federal, principal promotor do megaevento, se transformou em realidade, sendo considerada de maneira unânime como a melhor Copa de todos os tempos. Isso obrigou a mídia nacional a rever seu conceito sobre a Copa. O que era a grande preocupação se transformou em ponto alto do evento, como a eficiência dos aeroportos ampliados, o sistema de transporte, a qualidade dos estádios e um eficiente sistema de segurança. Tudo isso somado à hospitalidade dos brasileiros transformou o Brasil no ponto de encontro e confraternização de torcidas de todo o mundo. Infelizmente, para nós brasileiros, o sucesso da Copa fora das quatro linhas não se repetiu dentro de campo. Tivemos uma participação sofrível, superando nossos adversários com extrema dificuldade, contando com o fator sorte, além da força da nossa torcida. Júlio César fazendo selfies com torcedores. A Seleção esteve perto do povo
Encontramos o fim dos nossos sonhos diante da poderosa seleção alemã, que nos aplicou uma dolorosa goleada de 7 a 1, algo jamais imaginado em nossos piores pesadelos. Com o fim do sonho do hexa, os pessimistas e fracassomaníacos voltaram com a força toda. Se antes elogiavam a seleção e profetizavam o caos durante a Copa pela incompetência do governo federal como organizador do evento, agora, da maneira mais cínica possível, querem debitar o insucesso da seleção brasileira ao governo federal, como se a presidente da república escalasse o time. Tentam, ainda, transpor para a vida cotidiana da população a tristeza e a frustração pela desclassificação na Copa. Imaginam que espalhar o desânimo e o baixo astral possa lhes auferir algum ganho nas eleições de outubro próximo. Acusam, malandramente, o governo de ter politizado a Copa, tendo agora de arcar com as consequências do infortúnio no futebol. Óleo de peroba neles. O que essa turma talvez não saiba é que já vai longe o tempo em que o nosso maior orgulho era conquistar uma Copa do mundo ou ver o Airton Senna ganhar uma corrida. Não perdemos o gosto pelo esporte e nem a admiração pelos nossos atletas, mas, vivemos outro momento da nossa história, no qual o principal desafio é a construção de uma grande nação, onde o conceito de cidadania se faça presente em sua plenitude, permitindo vida digna a todos os brasileiros, com acesso aos bens e serviços produzidos pela coletividade e a efetiva participação na vida social e política do nosso país. Perdemos a copa, não a razão da nossa existência. Lucimar Lizandro Freitas é graduado em Administração de Empresas pela FGV e especialista em Gestão Pública pela UFOP.
ESPORTES
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FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de julho de 2014
QUESTÕES DO FUTEBOL - JORGE MURTINHO
O melhor e o pior da Copa Rafael Ribeiro - CBF
Não vou fazer a tradicional seleção do goleiro ao ponta-esquerda, como se dizia nos tempos em que havia ponta-esquerda (Se algum leitor quiser escalar sua seleção, sinta-se à vontade para usar a caixa de comentários, e aí conversamos lá). Vou, apenas, destacar jogadores, lances e fatos que me impressionaram – para o bem e para o mal – nos últimos 32 dias. Começo pelos melhores. Começo por Neuer. O goleiro alemão não voa, não faz pontes eletrizantes, aposta na colocação e na seriedade. Que eu me lembre, Neuer fez apenas uma defesa decisiva, nos últimos minutos do jogo com a França, que Alemanha venceu por um a zero. Mas é um desespero, para qualquer atacante, enfrentar um goleiro como ele. O cara tem a sensação de que só a conclusão perfeita é capaz de vencê-lo, o que talvez explique os gols que Higuaín, Palácios e mesmo Messi perderam na partida final. A simplicidade e a eficiência da dupla de zaga Boateng e Hummels. A visão de jogo de Modric. A elegância de Pogba. O monstro chamado Schweinsteiger. Os contra-ataques de Robben. O corta-luz de Pirlo no gol de Marchisio, contra a Inglaterra. O gol de cabeça de Van Persie contra a Espanha, o de Cahill con- Boateng, zagueiro alemão, dando combate em jogada com o atacante brasileiro Fred. Simplicidade e eficiência na zaga alemã, junto com Hummels tra a Holanda e os dois de James Rodrigues contra o Uruguai. Reprodução ESPN Brasil A jogada de Schurrle – que é um atacante meio cabeçudo – e a perfeita conclusão de Mario Gotze no gol do título. O sentido coletivo e o inabalável equilíbrio da seleção alemã. A consciência tática da nova seleção chilena. Santa Cruz de Cabrália. A dancinha pataxó dos jogadores alemães em torno da taça. A segunda camisa mais bonita da Copa foi a da Argentina no jogo de ontem. (A primeira, claro, a que a seleção alemã usou no massacre de sete a um.) As opiniões econômicas e precisas de Juninho Pernambucano, ótima revelação de comentarista. O clip com a equipe da ESPN dançando Happy, de Pharrell Williams, para celebrar a No clipe da ESPN Brasil, até o comportado José Trajano dançou “Happy”, música de Pharrell Willians. No final do clipe, Gustavo Hoffman escreve na areia que foi, de longe, a melhor cobertura jornalística da Copa. E, por da praia de Santa Cruz Cabrália a “hashtag”#espntem. Hoffman foi o setorista que cobriu o dia a dia da seleção da Alemanha. Cobertura nota 10 fim, Fernanda Gentil. Futebol não é tudo na vida. jogo que vencia por um a zero até os 42 minutos do segundo charuto”, “aquele baixinho que mora no Catete”, etc. É possível tempo e conseguiu perder por dois a um. O vacilo da seleção ho- que ele tenha me deixado isso como herança, pois a vontade que Passemos ao que vi de pior. landesa na semifinal com a Argentina, quando tinha tudo para tenho hoje é de não mais falar o nome do fabuloso treinador que Casillas. Falhou feio nas duas derrotas que eliminaram pre- vencer na prorrogação, mas se conformou com a definição nos não erra, não errou e não precisa se reciclar.) cocemente a seleção espanhola. Aliás, por justiça, toda a seleção pênaltis e perdeu a chance de ir à final. Nossa torcida de características nórdicas. Nossos jogadores Link para a equipe da ESPN dançando Happy, de Pharrell espanhola. As seleções da Itália, com exceção do Pirlo, e da Inglaterra, entrando em campo feito prisioneiros levados para o banho de Williams: sol. E, desde o segundo tempo do jogo com a Colômbia até a falta https://www.youtube.com/watch?v=G953hhDb9Og sem exceção. Os gols perdidos por Higuaín e Palácios na decisão de on- de fair play após a derrota para a Holanda, a seleção brasileira de cabo a rabo, com destaque absoluto para o gaúcho de bigode. tem. O descontrole do zagueiro Pepe, da seleção portuguesa. As arbitragens. Nossos narradores e comentaristas de ar- (Não conheci meu avô por parte de pai, mas sempre ouvi históbitragem, que passam o tempo todo pedindo pênaltis e cartões rias curiosas sobre ele. Supersticioso ao extremo e antigetulis- Jorge Murtinho é redator de agência de propaganda e, na definição por ta ferrenho, Vovô Jorge não falava o nome de Getulio Vargas. ele mesmo, faz bloguismo. Nessa arte, foi encontrado pela Revista piauí, amarelos. A derrota do México para a Holanda nas oitavas de final, no Referia-se ao presidente como “aquele baixinho que gosta de que adotou o seu blog e autoriza a contribuição dele a este Figueira.
Canto do Galo
Toca da Raposa
Vislumbrando a nossa Recopa
O Brasileirão está de volta
Rosalva Campos Luciano
E a Copa do Mundo já se foi, agora há um caminho longo a ser percorrido até 2018. Quatro anos teremos para cultivar sonhos, refazer emoções e renamorar o hexa. Não fomos felizes como esperávamos. A Rússia nos aguarda com a certeza de que futebol sem o Brasil é preferível que não aconteça. Somos uma nação que carrega a beleza do esporte na vida. O troféu está radiante em mãos dos que levaram a Alemanha ao mais alto triunfo futebolístico. Parabéns! Valeu tudo que mostraram e fizeram por aqui. E o Atlético volta a ser o foco da semana. Está na Argentina visando a disputa da Recopa Sul-Americana com a aguerrida equipe do Lanús. Estou projetando para a primeira partida da Recopa um time diferente, pelo que treinaram sugeriram menos bolas pelo alto e mais posse de bola e muita, muita velocidade. Que bom termos plantel que permite isto. A versatilidade é uma marca dos que podem ser escalados pelo Levir. E os atleticanos voltam a dar espetáculo como torcida. Estive no Marrocos e as vezes me pego divagando no que vi. Não dá para explicar o inexplicável dos atleticanos em dezembro/2013. Hoje temos voos lotados para a Argentina desde o dia 13/07. Agora é a vez das cores alvinegras invadirem o azul e branco dos nossos ex-hóspedes. Pelas rodovias, também, desde domingo à noite, tremula a nossa bandeira, muitas torcidas apaixonadas, inclusive a minha, Força Jovem Atleticana, a qual me enche de honraria por ser sua fundadora junto com o Flávio de Assis, grande parceiro no mesmo grito. Pensando em ter os três títulos da América valem todas as investidas para chegar lá. NÓS ACREDITAMOS! Nós acreditamos mais ainda na redenção de Ronaldinho Gaúcho, com o dom de fazer sorrir através da chuteira, mesmo em meio à maior
das tragédias gregas. Este é o momento para a platéia voltar a delirar. Ele, que faz da bola chutada os seus malabares e conjuga com ela verbos de livre vontade, mantém no ar, faz lançamentos por espaços certeiros, garante parada obrigatória para todos que amam o belo das jogadas.”ELE SEMPRE SERÁ O CARA”. LUTAR! LUTAR! LUTAR! COM TODA A NOSSA RAÇA PRA VENCER! Este será o nosso lema mais do que nunca. Sabemos da competência, fator torcida, garra do adversário além do sangue hermano, mas acima está a nossa fé inabalável na camisa que escolhemos para amar. Quando uma camisa, um escudo e duas cores ganham vida temos que alavancar a vontade de caminhar outra vez para o pódio. Fica a missão para os nossos craques, fica a missão para a nossa torcida, fica a missão para o Sobrenatural que tem nos acompanhado. Lanus 0 x 1 Atlético Lanus 0 x 1 Atlético, e o Galo volta com um brilho maior da Argentina.Trouxe na bagagem um motivo a mais para tentar deixar aqui a taça da Recopa.Um futebol bonito,ofensivo e com muita movimentação.As provocações indiretas não foram suficientes para tirar o foco das redes,e o placar pode-se dizer feito para amigos,foi pouco. Tardelli: o show da partida,fez de tudo inclusive um belo gol,agora falta 1 para 100. Vitor é a personificação da competência e simplicidade.E nós seguimos o caminho em direção para mais um título internacional.Aqui é Galo, mas em Mar del Plata também... Apaixonadamente atleticana sempre! Rosalva Campos Luciano é professora e, acima de tudo, apaixonadamente atleticana.
Hadson Santiago
Saudações celestes, leitores do Figueira! Com o fim da Copa do Mundo, o Campeonato Brasileiro volta com força total. Muitas equipes se reforçaram para a continuação da competição e as 29 rodadas restantes serão acirradas. O Cruzeiro trouxe Manoel, Marquinhos e Neílton. Os três participaram da vitoriosa excursão aos EUA e o zagueiro Manoel foi quem mais se destacou. Inclusive, já será titular nos primeiros jogos, uma vez que Bruno Rodrigo e Dedé ainda estão se recuperando de contusões. Também acredito muito em Marlone e Allison. Espero que o Marcelo Oliveira seja mais ousado e dê oportunidades a quem esteja merecendo. Que o insucesso na Taça Libertadores deste ano tenha servido de lição. Seja humilde, Marcelo, e aprenda com os erros. Não dê uma de Felipão... O placar da moda é 7 x 1 e para nós, cruzeirenses, há um escore desse inesquecível. Ocorreu em 20/05/1976, no Mineirão, durante a 2ª fase da Taça Libertadores da América: Cruzeiro 7 x 1 Alianza Lima. Foi a primeira partida do time celeste após a morte do ponta-direita Roberto Batata, ocorrida em um acidente automobilístico na Rodovia Fernão Dias, em 13/06/1976. O Cruzeiro estava emocionalmente destruído. A torcida também. Mesmo assim, 28.235 torcedores pagaram ingresso. Meu pai era um deles. O primeiro tempo foi ruim, jogo sem graça, sem alegria, triste mesmo. O Cruzeiro venceu por apenas 2 x 1. Não se sabe o que foi dito no vestiário, mas, na segunda etapa, a equipe voltou ligada e foi fazendo um gol atrás do outro. Jairzinho, 4 gols, e Palhinha, 3, foram os artilheiros da partida. Acabou sendo uma bonita
homenagem a Roberto Batata, pois o mesmo usava a camisa 7. É bem verdade que na Taça Libertadores daquele ano os jogadores usaram uma numeração diferente, uma artimanha do treinador Zezé Moreira para dificultar as coisas para os adversários. Batata disputou a Libertadores com o número 14, mas o 7 foi o número da camisa que o marcou em toda a sua carreira. Veja a escalação do Cruzeiro naquele dia: Raul, Nelinho, Moraes, Darci Menezes e Mariano; Piazza e Zé Carlos (Isidoro); Eduardo (Ronaldo), Jairzinho, Palhinha e Joãozinho. Que saudade! Timaço!!! Eduardo Rabo-de-Vaca foi o substituto de Roberto Batata no decorrer da competição, que culminou com a conquista magnífica da Taça Libertadores diante do River Plate. Eduardo era o 12º titular da equipe e atuava tanto no meio-campo quanto na ponta-direita. O apelido fazia referência a um drible característico do jogador. Não confunda com drible da vaca ou gaúcha! No rabo-de-vaca, Eduardo adiantava um pouco a bola e dava a impressão que iria perdê-la. Quando o adversário dava o bote, Eduardo puxava a bola para o lado, descrevendo uma parábola, e o adversário passava lotado. Eduardo Rabode-Vaca era outro cracaço!!! Bem, depois do vexame das “perebas” do Felipão, nada como um momento nostálgico neste minifúndio de papel. Abraços! Hadson Santiago Farias é cruzeirense e incorrigível saudosista.