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Dona Zilda pediu e Deus atendeu Zilda Alves Pereira, 85 anos da idade, lava os uniformes do Democrata desde 1971. No domingo de Páscoa, ele pediu a Deus pra iluminar os seus meninos (os jogadores), no jogo contra o Social. Suas preces foram atendidas e os meninos ganharam. Veja na Página 9

É possível ser feliz nos Estados Unidos O jornalista Sander Justino Neves, que se cofessa valadarense da gema, mostra como é o pedacinho de Brasil na cidade de Boston, nos Estados Unidos. Em igrejas, restaurantes, lanchonetes, bares, é possivel ouvir o “uai” e não o “why”. Confira na Página 9

O fim de semana em Governador Valadares será com sol entre nuvens, mas não chove. A previsão é do site Climatempo. Temperatura:

29o MÁXIMA

17o MÍNIMA

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www.figueira.jor.br FIM DE SEMANA DE 2 A 4 MAIO DE 2014

“Não conhecemos assuntos proibidos” EXEMPLAR: R$ 1,00 Fábio Moura

ANO 1 NÚMERO 6

FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS

PARQUE NATURAL MUNICIPAL O Parque Natural Municipal de Governador Valadares é mais um atrativo turístico para a cidade. Além de infraestrutura invejável, o parque é o habitat de João da Mata, o ermitão, que vive no meio do mato, nu. Páginas 6 e 7.

Valadares tem o transporte escolar mais caro de Minas Um estudo feito pela Secretaria Municipal de Educação constatou que o preço cobrado pelas empresas responsáveis pelo transporte escolar em Governador Valadares é o mais caro do estado. Categoria, Cecato, Santa Terezinha, Torres e Suassui são as empresas detentoras do serviço, direito concedido por êxito na concorrência aos editais públicos da Prefeitura. O estudante Misael Santos, 15 anos, utiliza o transporte todos os dias. A distorção precisa ser corrigida, de forma urgente. Gabriel Sobrinho

Cultura O show que os valadarenses não deveriam ter perdido Um dos melhores grupos da música instrumental brasileira, o Pau Brasil, comemorou 30 anos de carreira no último domingo em Governador Valadares, no Teatro Atiaia. O concerto foi nota 10. O público, decepcionante. Este Figueira esteve lá e conferiu tudo de perto. Leia a crítica.

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Esportes Atlético, Cruzeiro, ciclismo e voo livre agitam o esporte Misael Santos, dentro do micro ônibus. Ele é uma das muitas crianças que utilizam o transporte escolar para assistir aulas

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O atleticano Pedro Zacarias e a cruzeirense Dona Assunta, que agita a vizinhança no bairro Grã-Duquesa, falam de seus times como eles se fossem os melhores do mundo. Ou será que são mesmo? Fique por dentro do que aconteceu na Copa Big Mais de Moutain Bike e sobre reativação da Associação Ciclística Vale do Rio Doce (ACVRD), desarticulada precocemente aos dois anos de idade, ainda em 2008, mas que está volta, com força total. Termina neste sábado a 1ª Etapa do Campeonato Brasileiro e Open Internacional de Parapente, que trouxe aos valadarenses um atrativo a mais. O evento teve início no dia 26 de Abril.

Massas Periquito pode mudar de dono na próxima semana Página 4

Pó de Mico SACUDINDO A FIGUEIRA Página 3

SEÇÃO

A seção Pó de Mico está de volta na coluna Sacudindo a Figueira. Em cada nota, quem tem o rabo preso ou tem culpa no cartório, coça como se tivesse com pó de mico dentro das calças. Até Willian Shakespeare deu o ar da graça... Vade, retro!

O diabo não sabia o que fazia quando ensinou ao homem a política: prejudicou a si mesmo. W. Shakespeare

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OPINIÃO 2

FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio 2014

Editorial Gerar oportunidades, gerar empregos É comum que governos municipais declarem que a geração de empregos não é tarefa deles, mas, sim, depende da política de indução do desenvolvimento pelo governo estadual ou depende da política econômica do governo federal. Essa visão conservadora pautou sucessivos governos em Valadares. No mais recente governo Mourão, por exemplo, em época do Brasil surfando na geração de empregos, os seus quatro anos resultaram em um saldo de 2.100 empregos novos em Valadares, segundo dados do Caged/Ministério do Trabalho e Emprego. Os cinco primeiros anos do atual governo municipal, com uma visão progressista de co-responsabilidade na geração de oportunidades e empregos, mesmo com a desaceleração da geração de empregos no país, já resultaram em 8.688 empregos novos – o saldo positivo entre o número dos que se empregaram e os que se desempregaram em Valadares. Nesse total, sobressaem a geração de 5.200 empregos novos nos serviços e 2 mil empregos novos no comércio. As duas áreas responderam, portanto, por mais de 80% das vagas novas de emprego na cidade. Mudou também a qualidade do emprego. De 73 mil pessoas com carteira assinada, há dez anos 49 mil estavam na faixa de salário mínimo mensal. Hoje, em Valadares, apenas 15 mil trabalhadores permanecem nessa faixa. No entanto, um fosso ainda separa Valadares do país: no ano 2000, o desemprego no país era de 9,4% enquanto em Valadares chegava a 18,6%, o dobro, portanto. Atualmente, o desemprego no país está em 4,8% enquanto o de Valadares alcança 9,6%, persistentemente o dobro. O desemprego em Valadares caiu tanto quanto no país todo, mas ainda temos uma taxa de desemprego o dobro da nacional. O desemprego em Valadares prejudica principalmente os mais jovens. Do ano 2001 ao 2010, o saldo de vagas novas de emprego criadas em Valadares foi de 11 mil. No entanto, na mesma década, 33 mil jovens completaram 18 anos de idade, quando há a expectativa de entrada no mercado de trabalho. Mesmo a se considerar que no padrão nacional, entre os jovens de 18 a 24 anos, 25% apenas estudam, faltaram 14 mil vagas de emprego para os jovens na cidade, gerando frustração, emigração, pobreza, atraso nos passos para a autonomia que a vida adulta requer. Este Figueira, marcando o Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador, declara-se atento a todos os movimentos que geram trabalho e renda em Valadares, assim como a todos que colocam em risco oportunidades de trabalho. Por isso, os leitores terão um panorama, nesta edição, do que de fato ocorre nas Massas Periquito, que chegou a gerar 550 empregos industriais na cidade e agora agoniza. Da mesma forma, este Figueira tem prolongado o debate sobre o fechamento dos supermercados em feriados e domingos, atitude responsável pela perda de mais de 300 empregos neste ano, além de tornar os empregos mantidos menos atrativos, pois reduz a renda do trabalhador. É o que faz também comemorar mais de 100 novos empregos, com vencimentos acima da média, de pessoal administrativo que a consolidação dos campi da Universidade Federal e do Instituto Federal cria em Valadares, com posse já nas próximas semanas.

Tim Filho

Cidade Zona Azul...

Parlatório

O sistema Zona Azul organiza e democratiza o acesso às vagas públicas de estacionamento?

A importância do estacionamento Zona Azul para o comércio de Valadares SIM Adotado mundialmente como ferramenta para melhoria de acessibilidade às áreas comerciais de cidades dos mais variados portes, o estacionamento rotativo pago em vias públicas, chamado Zona Azul em Governador Valadares, vem gerando polêmicas. Acreditamos que este projeto, desde que foi implantado, tem sua importância para facilitar o acesso dos clientes às lojas. Nós, comerciantes, entendemos que a vaga à frente da nossa loja deve ser utilizada, prioritariamente, pelos nossos clientes e que o Zona Azul é o instrumento mais eficiente para que isso aconteça. Principalmente com o crescimento da quantidade de veículos que circulam na cidade, o Zona Azul é fundamental para atender as necessidades e ordenar o estacionamento no Centro. E, por acreditar que seria uma ideal solução, participamos de muitas reuniões e apoiamos a implantação do Zona Azul no Centro de Governador Valadares. A CDL GV se coloca à disposição, para juntos pensarmos uma solução para melhoramos o funcionamento

Dênis Ribeiro Leite atual deste projeto. Em nossa opinião, algumas questões precisam ser ajustadas. Não concordamos, por exemplo, como o projeto vem sendo administrado, virando hoje uma indústria de multas, onde os fiscalizadores, não estão tendo tolerância nem com os condutores que vão comprar os bilhetes. Já vimos diversos casos de pessoas que saem à procura do talão e quando voltam para colocar o bilhete, já foram multados. Gostaríamos ainda que houvesse uma maior transparência com os recursos arrecadados. Pois atualmente não sabemos onde esses valores estão sendo aplicados. Se fosse revertido para melhorias no próprio trânsito seria ótimo para a cidade, que precisa urgentemente de um novo projeto para melhoria na mobilidade urbana, que a cada dia tem ficado mais caótica. Dênis Ribeiro Leite é presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Governador Valadares – CDL GV

Cidade Zona Azul NÃO Rockfeller Silva que gastam mal os recursos de que dispõem e veem no cidadão uma fonte fácil e quase inesgotável de dinheiro. Ainda de acordo com a lei de criação da Zona Azul, parte do dinheiro arrecadado deve ser direcionado a entidades filantrópicas de apoio ao menor. Ótimo. Mas o que acontece com o restante do dinheiro? Não deveria, pelo menos parte dos recursos obtidos, ser investido em ruas melhores? Por que o dinheiro arrecadado não é usado para tapar os buracos, consertar as vias de escoamento pluvial ou garantir que haja faixas de pedestres adequadas? Onde está o serviço pelo qual somos forçados a pagar? Agora vamos falar da rotatividade. A letra reza que o estacionamento deve ser rotativo. Isso seria verdade se os agentes da Zona Azul fizessem um controle adequado do tempo em que os veículos permanecem estacionados. Porém, basta que alguém estacione o carro e troque os bilhetes ao final do tempo por outros, podendo permanecer na vaga o dia inteiro. Ou seja, os donos da Zona Azul só querem saber se bilhetes estão sendo vendidos, perdendo a “rotatividade” de vista. O que vemos é um sistema puro de arrecadação, usando um bem público (as ruas, que pertencem a todos nós, de acordo com a Constituição Federal de 1988) e beneficiando uma empresa privada. Algo que também já percebi é que quando chove os agentes da Zona Azul parecem desaparecer. Então como fica a “rotatividade” em dias de chuva? Mas, podem continuar sumidos, isso aqui é só uma constatação, não uma reclamação. As ruas também são usadas por muitas concessionárias de veículos que expõem seus carros à venda. Muitas vezes, os agentes parecem “ignorar” esses veículos que impedem a “rotatividade” da Zona Azul. Placas indicando a Zona Azul são instaladas no meio da noite, pegando motoristas de surpresa. E os moradores do centro da cidade, que não possuem garagem para seus veículos? Será que é justo que eles tenham que pagar para estacionar em frente à suas residências? E os tentáculos da Zona Azul não param de crescer, expandindo artificialmente o Centro da cidade. Governador Valadares já é conhecida na região como “cidade zona azul”, visto que a Zona parece estar em toda a parte, mesmo em ruas de pouco tráfego. Claramente, o propósito maior por trás da Zona Azul é arrecadar ainda mais do nosso suado dinheiro. Não sou contra a ideia por trás da Zona Azul, mas a maneira mercantilista e exploratória como tem sido implementado: uma fonte a mais de dinheiro saído do nosso bolso, sem benefícios para quem paga, mas muito dinheiro pra quem recebe. Rockfeller Silva é professor

Para entender o Zona Azul Este Figueira buscou essas informações com o diretor de transporte e trânsito da Prefeitura, Marco Rios: 1. A frota licenciada em Valadares é de 122 mil veículos motorizados, dos quais 55 mil automóveis e 44 mil motocicletas. A cada semestre a frota cresce em torno de 5 mil veículos novos; 2. Além desses veículos de Valadares, o estacionamento público atende a quem vem de outras cidades para o comércio e os serviços daqui; 3. No sistema Zona Azul estão disponíveis 2.222 vagas de estacionamento; 4. Em 2013 a Estaciotec arrecadou com o Zona Azul R$ 345 mil reais brutos; 5. 45% dessa receita foram destinados a três fundos administrados por conselhos municipais – Fundo Municipal de Assistência Social, Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Fundo Municipal de Transporte e Trânsito; 6. O restante da receita ficou com a concessionária Estaciotec e com os pontos de revenda.

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São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica. Diretor de Redação Alpiniano Silva Filho Conselho Administrativo Alpiniano Silva Filho MG 09324 JP Áurea Nardely de M. Borges MG 02464 JP Jaider Batista da Silva MTb ES 482 Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES Diretor Jurídico Schinyder Exupéry Cardozo Conselho Editorial Áurea Nardely de Magalhães Borges Edvaldo Soares dos Santos Jaider Batista da Silva Lúcia Alves Fraga Luiz Eduardo Simões de Souza Regina Cele Castro Alves Sander Justino Neves Silvia Perim Sueli Siqueira Maria Terezinha Bretas Vilarino Artigos assinados não refletem a opinião do jornal

Consigo me lembrar de uma época onde o centro da minha cidade ainda não era “azul”. Estacionávamos nossos veículos e éramos abordados por uns jovens educados, vestidos em seus impecáveis uniformes azuis, que perguntavam humildemente: “Moço, compra um bilhete na minha mão?” Não tinha problema algum comprar um bilhete na mão de um desses agentes mirins, pois sabíamos que o dinheiro era diretamente destinado a um programa de apoio ao menor carente. Comprava os bilhetes e os comprava com prazer. Mas aí, alguém decidiu que “menor não pode trabalhar assim”, acabaram com os agentes mirins e criaram a Zona Azul. O argumento para justificar a criação da Zona Azul é nobre e razoável: precisamos garantir a rotatividade no estacionamento de veículos no centro da cidade, já que houve um aumento considerável da frota de veículos motorizados nos últimos anos. Assim, torna-se necessário gerenciar esse fluxo de veículos no centro para garantir o acesso democrático às vagas para todos. Concordo. Porém, como em muitos outros casos, aquilo que foi criado com os melhores argumentos da boa intenção, acaba sendo implementado de forma distorcida, injusta e incoerente. De acordo com a lei no 4641, de 23 de julho de 1999, artigo 1º, “O serviço de estacionamento rotativo denominado ‘Zona Azul’ poderá ser explorado diretamente pelo Município ou delegado a terceiros sob o regime de concessão.” A Zona Azul em Governador Valadares é administrada por uma empresa privada, em regime de concessão, como bem nos informa o site da Prefeitura: “O Estacionamento Rotativo Zona Azul foi implantado em Governador Valadares em 2004. A empresa Estaciotec, em parceria com a Prefeitura, é responsável pelo gerenciamento do serviço na área central da cidade.” A lei fala em prestação de “serviço”, mas qual é o serviço que está sendo prestado? As ruas estão esburacadas e com pouca manutenção. Só pra citar um exemplo, dirija na Rua Dom Pedro II, próximo à Praça de Esportes, e confira a quantidade de buracos, alguns grandes e profundos, que causam prejuízos aos veículos que são “tragados” por eles. A suspensão esquerda dianteira do meu carro que o diga. Quando chove forte, várias ruas do centro viram verdadeiras lagoas, causando prejuízos aos carros estacionados. Várias faixas de pedestres estão apagadas ou simplesmente não existem. Por que eu devo pagar para estacionar em ruas nessas condições? O cidadão já paga uma carga indecente de impostos (IPVA, ICMS, IPTU etc.), impostos estes que parecem não saciar a fome de nossos governos,


CIDADANIA & POLÍTICA

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FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio de 2014

Da Redação PDT mineiro em saia justa O PDT mineiro se meteu numa saia justa. Apoiadores do pré-candidato Pimenta da Veiga (PSDB) ao governo de Minas, terão que marchar com Dilma (PT) para a presidência da República, candidata apoiada pelo PDT nacionalmente. E de nada adiantará o “choro” das lideranças de Minas, pois, de acordo com o presidente nacional do partido, Carlos Lupi, os pedetistas podem até apoiar o candidato de Aécio Neves ao governo do estado, mas terão que acatar decisão no plano nacional de apoiar Dilma Roussef. Respondendo ao presidente do PDT em Minas, Mário Heringer, que diz que irá tentar na executiva nacional liberar o apoio ao senador Aécio Neves, o presidente Carlos Lupi foi categórico: “não tem como (liberar) porque senão o partido deixa de ser uma instituição. O partido não é um bem particular, é uma instituição, não tem como fazer isso”, explicou. E disse mais: “já tivemos esse indicativo (apoio a Dilma), e a partir do momento em que a convenção do dia 10 confirmar, todos os filiados, do presidente nacional ao mais simples militante, são obrigados a acatar a decisão da maioria”, afirmou Lupi.

Sacudindo a A figueira precipita na flor o próprio fruto

Figueira

Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino

Arquivo Pessoal

Joaquim Nicolau Na semana do 1º de maio, lembramos a organização da Central Única dos Trabalhadores em Valadares, a partir da União Operária. A CUT foi organizada em 1983, em claro desafio à ditadura militar. Em especial, homenageamos Joaquim Nicolau, que era a simpatia e a bondade em pessoa. Crente batista, entendia de bíblia, dava conselhos. Carroceiro, dizia-se condutor de veículo de tração animal. Na campanha presidencial de 89, juntou todos os carroceiros da cidade, em uma carroçada, para receber o Lula no aeroporto de Valadares. A carroçada acompanhou Lula até o centro da cidade. Do blog do deputado federal Nilmário Miranda, extraímos: “O PT de Governador Valadares hoje tem a Prefeitura com Elisa Costa e já governou com João Domingos Fassarella. Já teve 2 deputados estaduais (Marcos Helênio e Elisa Costa) e 2 federais (João Domingos Fassarella e Leonardo Monteiro). Mas, o começo foi dificílimo e este começo estava Joaquim Nicolau, o Joaquim Carroceiro. Morava no bairro Santa Rita e rodava toda a cidade com a sua carroça. Foi candidato a vereador e delegado do PT-GV em encontros estaduais e nacionais, Presidente Municipal do Partido dos Trabalhadores, Presidente do Sindicato dos Carroceiros, Diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Governador Valadares e Diretor da União Operária e da CUT (Central Única dos trabalhadores) municipal e Estadual.” É o primeiro à esquerda, sentado.

Segura essa, Zé Simão...

Pois é, assim como o PDT, o PSD mineiro também vive o drama da ambiguidade. Deste jeito, vão acabar transformando a “dilmatourasentada” em Dilmeiga.

PIB de Minas O Brasil Império teve como ministro da Fazenda o Visconde de Inhomirim, vítima da mídia da época, que escarnecia de seu nome – o duplo diminutivo, inho na língua portuguesa e mirim na língua tupi. Neste ano eleitoral, vivem-se alguns paradoxos. Entre eles, o do candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, criticar como Pibinho o crescimento nacional de 2,3% em 2013, enquanto Minas Gerais, governado por sua cartilha, cresceu no mesmo ano 0,5%. Qual o diminutivo de Pibinho? Falta criatividade à imprensa mineira.

A bancada sumiu

Pó de Mico Se a farinha é pouca, o meu pirão primeiro O Ministério da Saúde cobra como meta do governo cobertura de 70% da população pela Estratégia de Saúde da Família. Valadares, com o Programa Mais Médicos, tem a oportunidade de saltar de 54% para 72%, imediatamente, Atende, assim, ao Ministério e altera muito para melhor a qualidade do atendimento de saúde à população. No entanto, com a Câmara de Vereadores cheia de pré-candidatos a deputado, o foco é outro. Nada de qualidade de atendimento, mas muita pressão sobre a nova secretária de Saúde, Katia Barbalho, para que as 69 novas vagas de enfermeiros, técnicos em Enfermagem, agentes comunitários de saúde e auxiliares de serviços gerais sejam da indicação pessoal dos vereadores e não selecionadas por edital, como manda a Lei. Toda a atenção dos órgãos de fiscalização é pouca. Porque tudo vem de modo muito sorrateiro, menos para quem sofre a pressão.

SEÇÃO

Deu bode

PMDB mineiro fecha com Pimentel E de nada adiantaram as tentativas de rebelião. Ignorando a resistência do grupo liderado pelo deputado federal Leonardo Quintão, o PMDB mineiro fechou com o pré-candidato Fernando Pimentel (PT) para o governo de Minas, repetindo a dobradinha nacional. Para o Senado, o nome é Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar, que não teme a preferência do ex-governador Anastasia. “Dizem que ele tem 60% dos votos? Então existem 40% que não votam nele, não é?” Está bem começar assim, é o que pensa Josué, empresário bem sucedido, que demonstra ter herdado a coragem do pai.

E por onde andavam cinco vereadores da já minguada bancada do governo, que não deram o ar da graça em sessão na semana passada, em que vários projetos do Executivo foram votados? Com uma base como essa, quem precisa de oposição? Desta vez, não foi o autodenominado Governo II. Mesmo assim, todos os projetos foram aprovados. Ponto para o Executivo e ponto para os vereadores que entenderam a importância dos projetos para a cidade. Plínio Lepri AP

Pimenta ou Pimentel Com o perdão do trocadilho, o que o olho do eleitor mineiro não terá mesmo é refresco...

A Loja Maçônica mais antiga e tradicional de Valadares, a Paz e Progresso da Israel Pinheiro, vive momentos de tensão. Depois que a venda da Chácara do Bode deu o que falar entre os irmãos, com mútuas acusações sobre quem se beneficiou com o negócio, foi barrada a iniciativa do exvenerável Francisco Silvestre, de entregar o prédio da Loja para uma incorporadora para construir um edifício de onze andares no local. Na irmandade de homens livres, o ex-venerável não teve como estabelecer reinado, como faz entre os concordinos da Fundação Percival Farqhuar. “O diabo não sabia o que fazia quando ensinou ao homem a política: prejudicou a si mesmo” – W. Shakespeare

Não é o mesmo PT? Segundo a assessoria de André Vargas, ele se desfiliou para se defender das acusações. O deputado é o mesmo que levantou o braço em sinal de protesto quando da visita à Câmara do então presidente do STF, Joaquim Barbosa. O que há de novo é que o candidato a governador de São Paulo, Alexandre Padilha, indicou que vai entrar com ação na Justiça contra o deputado ex-colega de partido, por tê-lo envolvido em conversa telefônica flagrada pela Polícia Federal. A atitude de Padilha difere muito de 30 colegas deputados do PT, que manifestaram-se prontos para comprar a briga pelo acusado, para evitar a sua cassação. 30 de 88 do total da bancada mostram o tamanho da turma disposta ao vale tudo no partido.

Tem gente que supera Sexta-feira, 25 de abril, à noite. Encontro Municipal do Partido do Paulinho da Força Sindical, o Solidariedade, na Câmara de Vereadores. Na plateia, o mais desavergonhado aparelhamento da APAE por um partido político: crianças portadoras de necessidades especiais e as suas famílias, seguindo o presidente da entidade. Durante a semana, na sessão extraordinária da Câmara, já tinha aparecido um arranjo para cortar recursos do Tiro de Guerra, da Lira 30 de Janeiro e da Liga de Futebol Amador no Orçamento, para transferir 10 mil reais para a APAE. É apenas emenda, não é garantia de repasse. O cobertor é curto, mas a turma pedala para buscar viabilidade eleitoral, mesmo que custe a dignidade dos mais vulneráveis.

Santo do pau oco? O editorial do The New York Times, do dia 24 de abril, “A Saint, He Ain’t”, critica a canonização do papa João Paulo Segundo. “É um erro santificar Wojtyla, ele não era um santo porque fechou os olhos para os abusos sexuais cometidos contra crianças na Igreja”, vai mais longe o editorial. Mesmo considerando a figura histórica de Wojtyla, a justificativa dada para esse comportamento é que Wojtyla não acreditava nas denúncias, porque lhe lembravam daquelas levantadas contra a Igreja polonesa pelo regime comunista para derrubá-la. O editorial, no entanto, assegura que é uma defesa que não se sustenta, porque, como papa, ele poderia e deveria ter investigado melhor e evitado o inferno para as crianças que sofreram abusos.

Vigilância Sanitária Enquanto a difamação ao SUS corre solta, o pronto atendimento da Unimed tem mosca, mau cheiro, mau atendimento, superlotação, demora. A classe média engole a sua indignação em nome da carteirinha que dá a distinção de classe e a ilusão da exclusividade. E a Vigilância Sanitária esquece-se de que esses ambientes também são fiscalizáveis.

Enquanto isso... O deputado federal pelo PT do Paraná, André Vargas, queima na fogueira do doleiro Alberto Youssef, pego na operação Lava Jato da Polícia Federal, e com o qual o deputado teria ligações. Pressionado pelo presidente do partido, Rui Falcão, a renunciar a seu mandato na Câmara Federal, onde o Conselho de Ética analisa a abertura de investigação contra ele, André Vargas pediu sua desfiliação ao Partido dos Trabalhadores, na sexta-feira, 25 de abril.

PASADENA “A Petrobrás aprovou uma compra mais do que polêmica de uma refinaria em Pasadena, nos EUA. Isso já é sabido de todos. Mas, alguns detalhes são interessantes: o conselho que aprovou a operação reunia representantes do ‘mercado’ e do governo. Uma espécie da tal parceria público-privada sonhada por 11 em cada 10 teóricos neoliberais. Pois bem: aonde foram parar nessa história toda Fábio Barbosa, Claudio Haddad, Jorge Gerdau, expoentes do ‘empresariado’ brasileiro que, com Dilma Rousseff e outros, aprovaram o negócio? Serão convocados a depor, ou deixa pra lá?” (Ricardo Melo, FSP , 28/04/14)

Aberta a temporada de negociações

E a lista de pré-candidatos a deputado estadual e federal em Governador Valadares não para de crescer... É a velha estratégia de se lançar para negociar... A temporada está aberta.


POLÍTICA 4

FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio 2014

Massas Periquito pode ser vendida na próxima semana Empresa está em processo de recuperação judicial e quem vai determinar a legalidade da venda será a Justiça. 141 funcionários tiveram seus contratos de trabalho rescindidos judicialmente. Pagamento dos direitos trabalhistas ainda será feito, mas a empresa garante que vai honrar todos os compromissos A Massas Periquito, grupo empresarial que atua em Governador Valadares de 1963 pode ser vendido nos próximos dias para um grande grupo empresarial mineiro, líder no mercado de fabricação de massas. O nome não foi revelado, pois as propostas de compra serão apresentadas em envelope fechado. A situação das Massas Periquito é falimentar, e desde 2011, está em um processo de recuperação judicial, aplicado pela justiça às empresas que têm vários credores e não têm condições de pagar o que deve. Entre os credores estão os funcionários. Segundo o Sindicato, a empresa deixou de pagar os salários dos funcionários, não recolheu o fundo de garantia e outros encargos. O advogado do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação, Panificação, Confeitaria de Governador Valadares e Região do Leste de Minas Gerais (Sintina), Nicomedes Cornélio do Nascimento Neto, disse que os funcionários que estavam sem receber foram orientados pelo sindicato ingressar com a ação judicial, chamada rescisão direta do contrato de trabalho, na qual ficam resguardados todos os direitos trabalhistas. A Massas Periquito informou que fez todos os acordos propostos e garante que todos os funcionários vão receber. Este Figueira apurou que 141 funcionários fizeram este acordo. Na empresa, cerca de 320 ainda trabalham. Grande parte das demissões ocorreu na fábrica de biscoitos, “a parte necrosada do grupo”, segundo uma fonte ligada à direção da empresa. Nelson Rodrigues da Silva, 49 anos, que trabalhava como biqueiro (embalador de biscoitos) na Caiubi (empresa do grupo Massas Periquito), foi um dos que fizeram acordo. “Eu espero receber tudo, ficou lá um tanto ainda”, disse, lembrando que recebeu cerca de R$ 1.500,00. Ele não se preocupa com o fato de estar desempregado. “Já estou olhando outro trabalho lá no Distrito Industrial”. Nelson é casado e pai de quatro filhos. Diego Ribeiro dos Tim Filho

Prefeitura desiste de cobrir a Ponte da Ilha Em 2010, a Prefeitura de Valadares contratou a empresa FEAC para a construção de cobertura das passarelas de pedestres da ponte da Ilha. Na época, pretendia-se atender a uma reivindicação da AMAI - Associação de Moradores e Amigos da Ilha, que aprovou a obra entre as prioritárias no Orçamento Participativo de 2009. Em abril de 2014, a Prefeitura, com a obra ainda inacabada, desiste de cobrir a passarela e decide retirar as armações já instaladas. Contratada por R$ 414 mil, a obra ao longo desses anos teve desembolso de R$ 106 mil, pelo que foi efetivamente executado. Os recursos captados pela Prefeitura no Ministério das Cidades, agora têm de ser devolvidos na totalidade para conclusão do convênio. Para complicar mais: como a parte executada não resulta em funcionalidade, não tem utilidade prática, os R$ 106 mil serão reclamados judicialmente pela Prefeitura para que a empresa construtora reembolse o erário, conforme orientação da Procuradoria Geral do Município. No Grupo Gestor das Obras do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, da Prefeitura, prevalece a posição de que há no governo municipal a decisão de induzir a participação de empresas locais nos processos licitatórios, nas concorrências públicas, de modo a gerar empregos locais e a fortalecer as empresas de Valadares. Como exemplo, é citado o fato de que no início do Programa Minha Casa Minha Vida não havia em Valadares empresa com capacidade de executar grandes residenciais populares, da terraplenagem, saneamento, drenagem, pavimentação, iluminação, até a construção das casas. Desafiadas pela prefeita Elisa Costa, algumas dessas empresas se juntaram em um consórcio que tem executado a maioria dos residenciais do MCMV, gerando riqueza, empregos e tornando as empresas valadarenses mais competitivas. No entanto, admite-se no GEPAC, que tal política nem sempre dá certo. A FEAC é uma empresa local que venceu a concorrência para a ponte da Ilha e não mostrou capacidade de execução. A Prefeitura poderia ter rompido o contrato lá atrás, mas optou por caminhar com a empresa na tentativa de dar solução para os problemas que surgiam. Agora, após descumprimento de vários prazos pactuados, veio o distrato. A empresa FEAC apontou, ao longo do tempo, erros graves no projeto arquitetônico apontou desnível de mais de três metros na passarela, o que não é percebido a olho nu, mas trouxe sérios inconvenientes na execução da obra. O distrato foi informado na manhã do dia 30 de abril, em reunião do secretário de obras, Edmilson Soares com a diretoria da associação de moradores da Ilha. Do mesmo modo, a associação foi informada que a armação metálica colocada na passarela será retirada nos próximos dias e que a obra, por não constar entre as prioritárias para o atual governo, não será retomada. A diretoria obteve do secretário a declaração, segundo ele, de compromisso da própria prefeita, de executar na Ilha a drenagem e a pavimentação definidas no OP: os trechos da Rua 24, entre Jequitinhonha e Rua 32; Avenida Paranaíba, entre a Rua 16 e a 12; e Rua 36, entre a Rua 18 e 14.

Nelson Rodrigues é um dos 141 demitidos na Massas Periquito

Santos, 26 anos, que trabalhava como operador de máquina havia 1 ano e 4 meses, disse que confia no acordo e espera receber. “Tenho de confiar, não é?”. Ele ganhava cerca de R$ 1,4 mil por mês. A direção da Massas Periquito informou que desde o início do processo de recuperação judicial tem se preocupado em manter o maior número de funcionários nos postos de trabalho e que, com a venda da empresa para o grupo interessado, a tendência é que o número anterior de funcionários, cerca de 550, seja atingido novamente.

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NotíciasdoPoder José Marcelo / De Brasília Pires na mão

Homem forte

Engana-se quem pensa que o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello não mexe mais seus pauzinhos na administração federal. E não é que ele conseguiu nomear 13 diretores para a cúpula da Petrobrás? A informação foi dada a este jornalista pelo senador Pedro Simon, um peemedebista que não poupa o PMDB e um governista que não poupa o governo. Segundo Pedro Simon, o caso do ex-presidente não é o único. Muitos nomes do alto escalão da maior empresa brasileira não estão lá por capacitação técnica, mas por apadrinhamento, o que estaria provocando a derrocada da Petrobrás.

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Dupla definição

Aliás, ao se referir ao PMDB, Simon disse que o partido tornouse “carguicida”, ou seja: viciado em cargos. Um partido que estará em qualquer governo, desde que ocupe postos importantes. Já o senador petista Lindberg Farias, candidato a governador no Rio, definiu o PMDB como noiva cara demais para o PT.

Correr pra acalmar

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Alívio das tensões

Correr no feriado

É correndo 14 quilômetros por dia que o deputado federal Vicente Paulo dos Santos – Vicentinho do PT- diz que consegue manter a calma diante do desafio de liderar a bancada do PT na Câmara, conciliar tantos interesses e ainda servir de algodão entre os cristais, para não azedar ainda mais a delicada relação com o PMDB. Vicentinho é um parlamentar conhecido pela serenidade, mas admitiu que, em alguns dias, tem se sentido obrigado a aumentar o circuito em dois quilômetros ou três para refrescar as ideias. Ele diz que é melhor que xingar.

E pelo andar da carruagem na Câmara, Vicentinho terá de passar o feriado do dia do trabalho e o fim de semana em uma verdadeira maratona, para colocar as ideias em ordem. É que depois de o PT ter decidido pelo nome do ex-ministro Luiz Sérgio para assumir a vice-presidência da Câmara no lugar de André Vargas, o líder pediu mais tempo. Vicentinho quer ao menos até o dia 7 para bater o martelo. É que o nome de Luiz Sérgio foi escolhido, mas sem muito consenso, conforme antecipado nesta coluna, na semana passada. Vicentinho não quer nem sinal de racha ou desentendimento. Ele busca consenso, para evitar climão em período eleitoral.

Por falar em alívio das tensões, a desfiliação do ex-vicepresidente da Câmara André Vargas foi comemorada por parlamentares e dirigentes petistas, porque evita um desgaste ainda maior da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição. Mas, ainda que a saída tenha sido a pedido da direção do partido, há um grupo de petistas apreensivos. Embora a atitude de Vargas tenha sido vista como de benefício ao partido, há a quase certeza da lacuna que se abre no comando das campanhas do PT nos estados e na corrida ao Planalto. É que Vargas pertence ao núcleo dos estrategistas de comunicação.

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O problema do aumento do rombo nas contas públicas é que elas inviabilizam novos investimentos em obras e serviços para o cidadão. O Ministério das Cidades até acaba de anunciar um plano de liberação de R$ 53,91 bilhões para a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, para serem investidos na recuperação de áreas atingidas por desastres naturais. Mas, prefeitos e governos estaduais têm de vir a Brasília passar o pires e pedir verbas.

Erros de Projetos

Olha o rombo O crescimento de 0,64% da dívida pública, que atingiu R$ 2,08 trilhões, segundo informações da Secretaria do Tesouro Nacional, expõe um problema que só cresce e sufoca cada dia mais o cidadão: a gastança do governo e o apetite por mais e mais dinheiro. E por mais e mais dinheiro, entenda-se aumento de impostos. O governo nunca arrecadou tanto. O problema é que o dinheiro entra com colher de chá e é retirado com colher de sopa. E 60% de tudo ficam nas mãos da União.

É só falar com gestores de qualquer ministério em Brasília que a justificativa/ desculpa é sempre a mesma: as prefeituras, principalmente as de cidades de médio e pequeno porte, só não conseguem mais dinheiro para investir em obras porque não sabem fazer projetos. Há casos de prefeituras que pedem liberação de dinheiro para construir viadutos, por exemplo, mas o projeto não traz informações básicas, como por exemplo, a sua extensão e largura e se há necessidade de desapropriar áreas. E aí entram os escritórios “especialistas” em liberação de dinheiro em ministério, ou naqueles que vendem projetos para todo mundo. Resultado: dá tudo errado e quem paga a conta é o contribuinte.

José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.


REPORTAGEM 5 Gabriel Sobrinho/Repórter Há mais de 15 anos, o transporte escolar rural de Governador Valadares tem sido o mais caro de Minas Gerais, conforme levantamento da Secretaria Municipal de Educação. A condução dos alunos nas áreas rurais é realizada por cinco empresas de ônibus - Categoria, Cecato, Santa Terezinha, Torres e Suassui. Elas são detentoras do serviço, direito concedido por êxito na concorrência aos editais públicos da Prefeitura. Na prática, o serviço é terceirizado, algumas cooperativas da cidade e da região são contratadas para executar o transporte dos alunos. Os valores pagos para as empresas licitadas são altos, por esse motivo a CPTRANSLESTE - Cooperativa de Transporte do Leste de Minas Gerais, uma das empresas cooperadas terceirizadas, afirma que é possível realizar o serviço por menos da metade do valor hoje gasto. Assim, a Cooperativa luta, desde 2010, pela concorrência direta dos editais. A Cooperativa aponta que é possível realizar todo o transporte escolar rural por preços muito menores. Valadares dispõe de uma lei de incentivo ao cooperativismo na cidade. Ela define que o município deve oferecer oportunidade às cooperativas na concorrência aos serviços públicos, inclusive podendo privilegiá-las em caso de empate nas licitações. Em 2009, foi organizada a CPTRANSLESTE a partir de um programa do CIAAT – Centro de Informação e Assessoria Técnica para incubar cooperativas, superando a situação anterior de trabalho informal e contratos irregulares de terceirização. Até o surgimento da Cooperativa, os trabalhadores eram prejudicados e as leis trabalhistas e tributárias eram descumpridas. As empresas ganhadoras da concorrência, “contratavam” serviços de veículos pequenos sem qualquer formalidade legal, e esses realizavam a maior parte dos trajetos do transporte do município. Atualmente, o cenário mudou. A terceirização passou ser permitida nos editais. Na situação atual, a Cooperativa recebe seus pagamentos diretamente das empresas detentoras do serviço municipal para a realização do transporte escolar rural, administra todo o recurso internamente, e realiza a distribuição aos cooperados. As firmas de ônibus recebem da Prefeitura o valor de R$ 5,03 por quilômetro rodado, o repasse aos cooperados terceirizados é de R$ 2,50. Nesse valor estão inclusas a manutenção e a revisão necessárias para manter os carros em atividade. Geraldo Magela, diretor presidente da CPTRANSLESTE, afirma que com a Cooperativa “melhorou muito para nós depois da terceirização legalizada. Passamos a receber uma remuneração líquida melhor e a ter garantias trabalhistas, assim como o pagamento de INSS. Antes, a gente trabalhava sem a perspectiva da aposentadoria, a não ser que cada um pagasse seus impostos à parte”. Informa também que “hoje, os valores faturados por ano são de quase dois milhões de reais, com estrutura física e mão de obra qualificada capaz de realizar o mesmo serviço que as empresas de ônibus licitadas prestam.” Geraldo ainda detalha que os gastos do munícipio com as cinco empresas licitadas são de oito milhões de reais por ano. A proposta da empresa cooperada, caso vença o próximo edital, é de três milhões por ano. “Com a organização que alcançamos em tão pouco tempo, entendemos que estamos preparados para participar dos editais. Nossa proposta é cobrar R$ 2,30 por quilômetro rodado, ou seja, menos da metade do valor que as empresas licitadas estão cobrando”. Hoje, a Cooperativa recebe 21% do valor pago pela Prefeitura para o transporte escolar rural, mas realiza 60% da quilometragem contratada. A gestão do transporte escolar rural Apesar do recolhimento de impostos para os cofres públicos, o transporte escolar rural de Governador Valadares é o mais caro de Minas Gerais, segundo pesquisas da própria SMED – Secretaria Municipal de Educação. Hoje, a Prefeitura repassa por ano aproximadamente R$ 1,6 milhão para cada empresa licitada. Porém, de acordo com Aguinaldo Fassarella, Diretor do Departamento de Apoio ao Educando, esses valores estão dentro da realidade atual, por causa da extensão territorial do município, um dos maiores de Minas Gerais. No total, são 90 veículos que percorrem por dia aproximadamente nove mil quilômetros em todo o meio rural, transportando 1.300 alunos. O transporte só não ocorre nos meses de janeiro, julho e dezembro. De acordo com o Anuário da Frente Nacional de Prefeitos, Valadares aplicou em 2012 R$ 4.300 por aluno nas escolas municipais. Naquele ano, a média dos municípios de todo o Brasil chegava a R$ 5.100 por criança. Valadares, portanto, dispõe de menos recursos que a média do país, para aplicar na educação de suas crianças. Mas, o transporte de cada criança do meio rural tem custado 31 reais por dia de aula ou R$ 6.200 por ano, valor maior que o custo per capita anual de um aluno na

FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio de 2014

O Transporte Escolar Rural mais caro de Minas Gerais levantamentos da Secretaria Municipal de Educação constataram que o preço cobrado pelas empresas Categoria, Cecato, Santa Terezinha, Torres e Suassui são os mais caros do estado. Estas empresas são detentoras do serviço, direito concedido por êxito na concorrência aos editais públicos da Prefeitura. Gabriel Sobrinho

O aluno Misael Felipe Santos, 16 anos, chega à porta do micro ônibus depois de uma caminhada por estrada de terra, quando o dia ainda nem clareou rede municipal. Assim, o custo per capita de um aluno na escola municipal, que inclui do valor dos livros ao salário de professores, da alimentação escolar à reforma da escola, é menor que o valor pago somente para transportar cada aluno no meio rural. O diretor Aguinaldo Fassarella pondera: “É preciso entender que todo esse valor é em cima de uma mão de obra muito puxada. Existem trajetos em que os motoristas se deslocam até a zona rural três vezes ao dia. Em alguns locais há horários divergentes entre as escolas municipais e as estaduais. O município transporta também alunos das escolas estaduais. O recurso que o Estado repassa é muito pouco em comparação com os nossos gastos. 60% dos alunos que transportamos são das escolas estaduais, mas recebemos pouco mais de um milhão de reais por mês do Governo do Estado”. Sobre a participação das cooperativas nas licitações, o secretário de Educação, Haruf Salmen, esclareceu que as responsabilidades administrativas que as empresas de ônibus licitadas têm são várias, e que não seria simples uma cooperativa assumir o volume de serviço e obrigações. “Não tem nada que impeça as cooperativas vencerem as licitações, basta estarem enquadradas em cada item. Em 2015 terá um novo edital, se estiverem dentro do que for pedido, elas podem ganhar naturalmente”. Mas, o presidente da Cooperativa, afirma que além da Secretaria ter suspendido inexplicavelmente uma licitação em 2013, “no último edital fizeram de tudo para que não concorrêssemos. Alteraram alguns itens para nos dificultarem. Colocaram, por exemplo, que era necessário que a frota tivesse ônibus, além dos carros e micro-ônibus para fazer o transporte dos alunos em algumas localidades. Não trabalhamos com ônibus, e todo o trajeto do transporte escolar rural de Valadares pode ser feito por carros menores e microônibus”. Haruf ainda informou que a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sectes), em parceria com a Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Instituto de Geociências Aplicadas (IGA), fez um estudo na região de Valadares de identificação das rotas de transporte escolar nas áreas rurais. Por meio desse diagnóstico, os pesquisadores vão obter a localização georreferenciada de cada um dos alunos da rede pública, de suas escolas e, assim, determinar a rota utilizada para o deslocamento. “Com esse levantamento, nós saberemos a quantidade de crianças transportadas, o tamanho de cada frota e as condições de cada veículo. Dessa forma, poderemos fazer uma gestão de maior qualidade, reduzir custos, reduzir o tempo do aluno na estrada e aumentar a segurança desses estudantes. Esse instrumento permitirá uma gestão mais transparente do transporte escolar”. A rotina do campo Quatro horas da manhã, o despertador dispara. Pela janela, o sol ainda está longe de nascer. No peso do sono uma rotina de oito anos como motorista. Ainda novo na idade, mas como muita experiência no trecho, Samuel Pereira Pacheco, 38 anos, é um dos primeiros motoristas cooperados da CPTRANSLESTE. Atualmente são 46, desses, apenas dois residem na cidade. Os demais moram e trabalham no meio rural... Sem tomar mais tempo na cama, Pereira levanta e prepara um reforçado café da manhã, afinal, a rotina atrás do volante encerrará às cinco horas da tarde. Depois de tudo pronto, está na hora de pegar o caminho. Samuel é um dos que residem na cidade de Valadares. Sua rota de trabalho inclui as estradas do Córrego dos Borges, Córrego Jerusalém e Penha do Cassiano. O primeiro aluno estará no ponto, à beira da estrada de terra, às cinco e quarenta e cinco da madrugada. Pereira conduz um micro-ônibus com 22 lugares, e afirma que pela manhã o veículo vai para a cidade com todos os assentos ocupados. Mas, o maior desafio não é apenas chegar a cada ponto de coleta dos alunos no horário, a preocupação é com a qualidade da estrada. “Quando não chove, o meu trecho é tranquilo, mas quando começa a cair água fico preocupado. Afinal, são alunos que precisam estudar, é um absurdo terem que faltar aula por não conseguirem chegar até as escolas. Quando acontece de ter algum problema no trecho e os alunos perdem trabalhos ou provas, eu mesmo vou pessoalmente até o diretor da escola, me apresento, e explico que o motivo da ausência foi algum problema na estrada”. O primeiro aluno a tomar o micro-ônibus é Misael Felipe Santos, 16 anos. Com um sorriso fácil, ele não deixa transparecer que a sua rotina começa tão cedo. Para chegar ao ponto de ônibus à beira da estrada, o estudante ainda precisa sair de casa às cinco e trinta da manhã e andar por cinco minutos a pé, ainda no breu da madrugada. “Já vi vários amigos meus desistirem. Mas eu não vou desistir. Este ano é meu último aqui na roça, vou para a cidade fazer um curso e me preparar para ser um bom profissional. Imagina se eu tivesse parado? Cada dia que passa vale a pena esse esforço. Não gosto de faltar às aulas, posso contar nos dedos quantas vezes eu faltei esse ano”, completa o sorridente Misael. Diretora Na beira da estrada, em Penha do Cassiano, a Escola Municipal Vereador Milton Cunha atende hoje aproximadamente 20 alunos no sistema de Tempo Integral. O transporte escolar rural leva até a unidade de ensino mais da metade das crianças, as outras moram nas mediações. A diretora, Leila Nunes, afirma que sem condução até a escola quase não teria alunos e ressalta a importância na melhoria das estradas, pois pela lei uma criança não pode andar mais que dois quilômetros até uma escola. “Antes de chegar a ser diretora, fui professora aqui na região por mais de vinte anos. Nunca houve melhoria na estrada, pelo contrário continua do mesmo jeito ou só piora. Aqui ainda somos privilegiados porque tem algumas casas e fazendas aqui na região, mas há situações piores. Ainda temos esperança que as coisas melhorem. Promessas da administração atual da Prefeitura houve, agora vamos aguardar”. Gabriel Sobrinho

O ônibus escolar levanta poeira


MEIO AMBIENTE 6

FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio 2014

As trilhas do Parque Natural Municipal possibilitam ao visitante uma interação com a natureza e infraestrutura para o descanso nos momentos de cansaço, formando uma área de convivência parao público

No meio do mato tem pesquisa, terapias naturais, ervas medicinais e um ermitão Fábio Moura / Repórter / Texto e Fotos O ar por aqui é dos mais frescos e puros da cidade. O cheiro do mato está impregnado em qualquer parte. O sol parece, até mesmo, menos escaldante do que na região central e o clima é, claramente, mais ameno. Não estamos no Pico da Ibituruna. Estamos aos seus pés, na estrada de Derribadinha, no Parque Natural Municipal. À nossa frente, uma imensa área de proteção integral da mata atlântica se estende até a margem do Rio Doce. Em meio à mata caminham quatis, macacos saguis, raposas, tatus, tiús, capivaras e o guardião, um vira-lata sagaz e guia nas trilhas mais densas do Parque. São quase 4 quilômetros de caminhada, se somadas as extensões de todas elas. Por elas, é possível ir de uma ponta à outra na beira do rio, entre as árvores ou sobre as pedras. Para além do curso das águas estão o Bairro São Paulo à esquerda, toda a extensão da Ilha dos Araújos ao centro, o Centro da cidade e uma beirada do Bairro São Tarcisio na outra extremidade. Lá de cima é possível observar tudo isso numa das mais belas vistas da cidade, no Morro do Urubu, onde hoje está um elevado erguido sobre a mata: é o Mirante Norte. Lá embaixo, vários pescadores caminham sobre as pedras do Rio Doce que ecoam um som intermitente. A região de terreno mais baixo abriga toda a estrutura urbanizada do parque: espaço coberto para exposição de trabalhos artísticos e educativos, estacionamento ao ar livre, o Centro de Educação Ambiental, playground, equipamentos para prática de ecoturismo e esportes de aventura, pista gramada para pouso de asa delta e paragliders, além de espaços destinados a abrigar um viveiro de mudas de espécies nativas do bioma da Mata Atlântica e uma horta medicinal. Havia, também, uma sede administrativa, uma área de recepção aos visitantes e pesquisadores, além de um auditório equipado para receber cem pessoas. Na noite do dia 13 de novembro do ano passado tudo se esvaiu em cinzas num fogaréu registrado por câmeras ao longe. “Ao longo do dia haviam sido entregues equipamentos que abasteceriam todo o Parque, como computadores, projetores, bebedouros, geladeira, além das poltronas já instaladas no auditório. Às 17h, já estava tudo lá dentro. Às 20h, o vigia comia a sua quentinha na guarita, quando foi interrompido aos berros por uma vizinha: ‘Fogo! Fogo!’. Não dava tempo pra fazer mais nada”, relata Vagmar José, funcionária do Parque e moradora da região. O Corpo de Bombeiros levou quase três horas para estancar as chamas. No laudo da perícia foi registrado: “incêndio provocado”. A Vale, responsável pela implementação do parque, iniciará nas próximas semanas a reconstrução do que foi destruído. Com isso, o Parque, administrado pela Prefeitura Muni-

A natureza viva

Parque Natural Municipal

Guardião, o cachorro vira-latas que mora no parque, é um guia que conduz as pessoas pelas trilhas, onde outros animais podem ser vistos cipal, segue parcialmente fechado ao público e com o trânsito impedido em alguns pontos, como o Mirante Sul. “No momento, estamos recebendo apenas grupos organizados, com visita planejada. Sem aquele espaço ali, ainda não temos estrutura para abrir o parque ao turismo ecológico”, explica o diretor, Mario Izumi Utino. Funciona assim A pleno vapor, o Parque não se restringirá às tarefas de pesquisa e educação ambiental. Atividades comunitárias e sociais serão oferecidas em paralelo às terapias naturais. A parceria com empresas da região permitirá reflorestar espaços degradados do Parque. O Centro de Educação Ambiental vai abrigar pesquisas científicas em parceria com as universidades públicas e particulares de Valadares. A ideia é mapear todas as espécies da fauna e da flora dentro dos limites da Unidade de Proteção Integral. Paralelamente a isso, alguns grupos de escolares, crianças e adolescentes, já têm tido contato com cursos de educação ambiental no contexto do Parque. Serão oferecidos cursos terapêutico-naturais e mudas de ervas medicinais. “Conheço diversas pessoas de cidades próximas que podem ministrar cursos, profissionais que organizam espaços de compartilhamento de experiências na relação entre o homem e a natureza, outros que oferecem o Reiki Espiritual. E, assim, tantos outros. Além disso, vamos oferecer espaços de yoga, por exemplo”, descreve o diretor do Parque. Quanto às plantas medicinais, haverá o cultivo e o desenvolvimento de espécies brasileiras para o tratamento de diversas doenças. Elas serão distribuídas à população, em cursos de manejo dessas ervas. “Temos o objetivo de investigar as demandas sociais relacionadas ao meio ambiente em todos os bairros no cinturão do Parque. Queremos personalizar o que vamos oferecer para essas pessoas”, comenta Mario Izumi. O replantio de árvores ocorrerá nos espaços degradados, com madeiras tradicionais da região, quase extintas em épocas de grande extração e aquecimento desse setor da economia da cidade. Árvores como a Peroba Rosa, o Vinhático e o Jequitibá vão atrair a fauna da região e também auxiliar nas pesquisas acadêmicas. Já o viveiro de mudas será mantido numa parceria entre o Grupo Raizeiros, de Governador Valadares, e o Instituto Terra, de Aimorés. Mas, até que as obras de reconstrução do espaço incendiado sejam concluídas, a área de meio milhão de metros quadrados do Parque Natural Municipal segue aberta parcialmente. O turismo e o lazer ecológico, por exemplo, ainda não estão entre as atividades do Parque. O que não impede que passeios desautorizados aconteçam. “É só sair pra fazer uma ronda no Mirante Norte e lá estão eles: grupos de amigos ou casais. Orientamos a sair e explicamos que o local ainda está fechado para esse tipo de visita. Alguns saem na boa. Outros resistem”, descrevem os vigilantes. “Fato é que o Parque já tem sido visitado ao longo do dia, da noite e da madrugada. Da alvorada ao por do sol... Fim de semana, então...”.


MEIO AMBIENTE 7 Perfil

FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio de 2014

Mario Izumi Utino

Diretor do Parque Natural Municipal colônia japonesa, onde dominava a língua oriental – donde se explica o seu leve sotaque. O nipo-brasileiro, já na década de 70, enveredou por terras cariocas para cursar Engenharia Florestal na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica. Aos 23, completava a graduação e, tendo em mãos uma carta de recomendação, entrou para o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais. Sua primeira missão foi criar e estruturar um Núcleo Operacional da entidade, na cidade de Guanhães. “Vivíamos tempos difíceis na regulação ambiental. Não havia leis específicas. O cara jogava no chão o quanto quisesse das florestas de sua propriedade. Pouco a pouco conseguimos impor regras e restringir a derrubada às áreas mais degradadas, apenas. As outras eram liberadas gradualmente, até que entendêssemos as reais intenções do produtor”. Mario Izumi, ainda, era responsável por acompanhar outras sete cidades da região. “Ao fim de dez anos havia participado, também, da criação dos escritórios das cidades de Ferros e Peçanha”.

Vista do rampa do Mirante Norte, de onde se pode ver a cidade e grande parte da mata do parque

Não faremos um ‘parquinho’ por aqui. Não vamos gastar nosso esforço e exaustão diárias nisso. Trata-se de uma Unidade de Preservação Integral Municipal, que não há em outra cidade do estado. O Centro de Educação Ambiental vai abrigar pesquisas científicas em parceria com as universidades

Mário Izumi quer dar ao Parque Natural Municipal uma administração que o coloque com como referência ambiental no estado Se por um lado o Japão viveu um período de intensa reclusão em termos internacionais entre os séculos XVII e XIX, com a ditadura feudal que ficou conhecida pelo nome de Edo Bakufu, por outro desfrutou das benesses de se ver distante de guerras, epidemias advindas de outros povos ou emigrações de suas terras. Com isso, entrou no século XX com uma superpopulação de cerca 45 milhões de pessoas. O governo, então, implementou uma política de emigração que visava aliviar as tensões sociais geradas pela escassez de terras disponíveis. A América – do Sul e do Norte - os recebeu de braços abertos, mas, ao fim da 1ª Guerra Mundial, os braços acima da linha do Equador se cruzaram. Mais de uma centena de milhares de japoneses desembarcaram no Brasil, entre as décadas de 20 e 30, em busca do progresso econômico proveniente das lavouras de café de São Paulo. Entre eles, estavam os pais de Mario Izumi Utino que, ainda crianças, foram parar em Guararapes, no Oeste paulista. Lá, conheceram-se, casaram-se e criaram o seu primogênito junto a outros cinco irmãos em uma

Em 1988, foi designado para coordenar a reabertura do Parque Estadual do Rio Doce, fechado desde o início da década. “Companheiro, peguei um péssimo cenário: 42 funcionários do sistema público com 20, 30 anos de casa e totalmente viciados no sistema. A estrutura era deficitária, a população não se conformava em ver o espaço restrito e o Newton Cardoso era uma paradeira só. Em 1992, enfim, conseguimos reabrir o Parque no mandato do Hélio Garcia com uma equipe mais motivada”. E complementa: “lá, descobri minha vocação. A Unidade de Conservação permite um trabalho social amplo. Depois de reerguer minha equipe, auxiliamos em muitas das demandas sociais da região”. “Em 2000, assumi o Núcleo Operacional do IEF de João Monlevade. Era uma tentativa de moralizar a região, fico pensando. Lá, eles estavam liberando desmatamentos irregulares em troca de benefícios obscuros”. Nesse período, Mario Izumi também foi incumbido de fiscalizar a implantação da Mina de Brucutu – maior do mundo em capacidade de produção de minério de ferro – em São Gonçalo do Rio Abaixo. Já em 2010 segue para o Núcleo de Timóteo, onde se aposentou dois anos depois. No dia 22 de novembro, ele desembarcou em Governador Valadares para dirigir o Parque Natural Municipal. “Não faremos um ‘parquinho’ por aqui. Não vamos gastar nosso esforço e exaustão diárias nisso. Trata-se de uma Unidade de Preservação Integral Municipal, que não há em outra cidade do estado. Faremos um parque de referência para todos os municípios mineiros”, encerra.

Pôr do sol visto da rampa norte, com a cidade sob a sombra da noite. No céu, um parapente solitário

É só sair pra fazer uma ronda no Mirante Norte e lá estão eles: grupos de amigos ou casais. Orientamos a sair e explicamos que o local ainda está fechado para esse tipo de visita. Alguns saem na boa. Outros resistem”, descrevem os vigilantes. “Fato é que o Parque já tem sido visitado ao longo do dia, da noite e da madrugada. Da alvorada ao por do sol... Fim de semana, então...”

O ERMITÃO Ao descer por uma das trilhas que dá acesso ao lado Sul do Parque, o primeiro vão entre as árvores guarda consigo um amontoado de galhos e gravetos que formam uma espécie de telhado de proteção juntamente com uma lona. O dono disso? Um ermitão de 150 anos de idade, como ele insiste afirmar. Aos olhos de quem já o viu, aparenta menos. Cerca de 60 primaveras bem conservadas. Negro e de porte robusto, João – ou João da Mata, como foi apelidado anda nu entre as árvores, mas diante da presença de estranhos, logo se envolve em sua manta. O ermitão – ou eremita, para quem não conhece, é um indivíduo que por religiosidade, penitência ou misantropia mesmo, opta por viver isolado de aglomerações sociais, em contato direto com a natureza. O seu ermo – morada do ermitão – está dentro da região abarcada pelo Parque Natural. Mas, ele chegou lá muito antes do parque. Segundo pescadores da região, o homem vaga por ali há cerca de oito anos. De pouca conversa, ele resume-se a diálogos monossilábicos. “Ô, rei. Já comeu hoje?”, pergunta um vigilante do Parque. O ermitão solta um sim tímido e balança a cabeça suavemente. “Tá precisando de nada, não?”. A negativa se dá da mesma forma cabisbaixa. O trato, porém, é sempre respeitoso. Com uma tanga e um chinelo feito à mão, o ermitão caminha pelo bairro Elvamar e seu entorno em busca de alimento. Conta com a ajuda de um ou outro morador, além do “lixo novo” de uma padaria às margens do Parque. Conta, ainda, com quem apare seus cabelos e sua barba. Nos ombros traz uma sacola cheia de gravetos, que alega serem seus pertences. Mas, não se preocupe. Ninguém vai tirá-lo de lá. Assistentes sociais iniciaram um trabalho com o ermitão, de orientação sobre o novo contexto. Por sua vez, os grupos que farão incursões pela mata serão instruídos pelos funcionários do Parque sobre o estilo de vida do indivíduo, de forma a amenizar os impactos sobre o seu dia a dia. Devido à movimentação mais intensa dos últimos meses, ele mudou de ermo. “O rei tem umas quatro casas por aqui”, conta o vigilante. Resta saber se ele vai querer ficar por lá ou se vai pegar seus gravetos e dar no pé.

João da Mata:

Ao ver o fotógrafo deste Figueira, João da Mata, que estava nu, cobriu seu corpo com uma manta


GERAL 8 D’outro lado do Atlântico

FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio 2014

Estivemos na festa pá! Filipa Teles Carvalho e José Peixe/ de Lisboa Largo do Carmo, Lisboa, manhã de 25 de Abril de 2014. Lugar onde há 40 anos os militares dispararam e retiraram do poder uma ditadura cruel e caduca. Pela repressão de ideias, pela polícia política que prendia e torturava e tinha gente infiltrada (os bufos). Pelos muitos jovens a travar em África a guerra impossível, que nem sequer compreendiam e lhes levou a vida, pernas, braços, a sanidade ou tudo junto. Largo do Carmo manhã, 40 anos depois. Uma multidão-aguarela, desde bebés de colo a idosos de bengala. Cravo ao peito. Expressões de quem vive um momento novamente histórico. Outros tempos, Novas repressões Na festa da Liberdade, sinais fortes. Os mesmos militares, Capitães de Abril como Vasco Lourenço, antigos presos políticos que depois foram governantes, intelectuais e… muita, muita gente. Do palanque e entre a multidão, palavras cruas a denunciar: Outros tempos, novas repressões. Recuos no Estado Social, constituição atropelada e moldada às exigências cegas e números da Troika; desemprego em massa, empresas e lojas a fechar. Salários medonhos e preços impossíveis. A pouca importância das pessoas. Banda sonora intensa: “Grândola Vila Morena” e o hino nacional, afinado e a um nível diferente dos festejos de outros anos. Numa multidão apertada a sorrir, enquanto se ouvia “O Povo Unido Jamais Será Vencido”, e “25 de Abril Sempre, Fascismo Nunca Mais”. À tarde, a manifestação na Avenida da Liberdade reforçava que muitos tinham saído à rua e traziam mensagens. ”Não Somos A Dívida”, afirmava o cartaz empunhado por meninas com menos de dez anos. “E o meu futuro?” – num carrinho de bebé. “Tirem-me Deste Filme” ou “Gangsters In Jail”, este último com o rosto de muitos governantes. Por entre o sol, árvores e cravos vermelhos, da Avenida ao Rossio transpirava uma mudança na energia das pessoas e até parecia que o lixo televisivo, a apatia e o futebol podiam mesmo deixar de ocupar espaços grandes. E que os responsáveis políticos poderiam ter que responder em tribunal, entre outras maravilhas. Outro palanque, mais oradores. Celebrar pela memória e pela Liberdade de não permitir. Continuação de fortes alertas: Retrocesso, destruição do Portugal de Abril, novas escravidões, perda da soberania. Ataque feroz à Educação, Saúde e Segurança Social. “Um cheirinho de alecrim” No final do dia, o peso da festa, pá. Os pés e a voz cansada e a cabeça a pensar. Mas eis que nos céus do Terreiro do Paço surge o histórico helicóptero “Puma” e lança centenas de quilos de cravos vermelhos para a multidão. Uma representação da entrega da Liberdade ao povo, intensa, capaz de arrepiar até o mais duro coração. Quase ninguém podia acreditar viver um momento tão belo. E muitos terão ficado a pensar, com isso às voltas como as coisas icónicas têm o poder de fazer. Destaque de hoje num dos noticiários do país: “Segurança Social indica que 445 mil pessoas desempregadas não recebem qualquer apoio social”. O arrepio da chuva de cravos nada pode contra isto. E eu a ver passar por dentro a letra do José Mário Branco (F.M.I.): “A ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir nas tuas 8 horas… A ver quem vai ser capaz de te convencer que a culpa é só tua se o teu salário perde valor todos os dias. Entretém-te meu anjinho que eles ajudam, eles são inteligentes, eles emprestam, eles decidem tudo por ti. Se hás-de construir barcos pá Polónia ou cabeças de alfinete pá Suécia. Se hás-de plantar tomate pó Canadá ou eucaliptos pó Japão… Descansa que eles tratam disso”.

Crianças na Avenida Liberdade, reafirmando o sentimento poruguês: Não somos dívida!

É preciso chover mais ainda, muito mais. Lembrar a História, Abril, muito e bem, num país onde uma das primeiras medidas do governo (infelizmente ainda em funções) foi acabar com o Ministério da Cultura. Um dia destes – senão já – sorrimos, não só de olhos tristes, mas de boca fechada. Porque o dentista, pá, é só para quem está disposto a cortar na comida dos filhos. Mais ecos das palavras ouvidas de manhã: Regresso do medo pela perda de trabalho, reformados e pensionistas esmagados, Estado que rejeita os compromissos com os contribuintes mas aceita todos os contratos com a Troika, recuperar os valores da madrugada libertadora. Acrescento que na terra de navegantes e poetas, pequena e fértil, terra de velhos lagares mágicos obedientemente encerrados, o

azeite está demasiado caro para quase todos. Assim como os medicamentos, querendo isto dizer muito mais do que aqui cabe. Escrevo com mais força a tentar fixar nestas letras a esperança de que o país de Pessoa inverta o caminho e depressa, pelas Pessoas que andam com a indignidade às costas como um veleiro doente, vencidas pela imposição do mundo do cifrão sem inteligência nem coração, montado em colunas que se vergaram e lutaram em tempos de escuridão, até um dia, há 40 anos, se libertarem. E agora só vêem os filhos partir. Com emoção e cravo vermelho ao peito e muita “Inquietação”, envio “urgentemente algum cheirinho de alecrim”. Filipa Teles Carvalho é jornalista. José Valentim Peixe é jornalista e Doutor em Comunicação.

Unha e carne José Carlos Aragão No jargão jornalístico, “suíte” é quando a notícia ainda dá um caldo, rende. Suitar é cobrir os desdobramentos de um fato ou notícia da última edição, geralmente com um “resumo dos melhores momentos do capítulo anterior”. A manchete de capa da última edição do Figueira (Problemas visíveis) remete claramente à manchete da edição de duas semanas antes (Pessoas invisíveis). Mas, mais que simplesmente suitar um tema complexo e delicado, a segunda reportagem vai mais fundo, ao expor as cruéis consequências – e, também, causas - do que a primeira já apontava. Muito feliz também foi a semelhança das fotografias que ilustram as duas manchetes, ressaltando que a visibilidade dos problemas e a invisibilidade daquelas pessoas, em síntese, são questões xifópagas. Olho por olho

Ombudsman

Além do arco-íris

Os gays não querem tornar o mundo gay. Querem apenas habitá-lo com dignidade. NUDI’s Brasil não é Uganda, mas lemos e ouvimos por aqui, diariamente, frases carregadas de discriminação e preconceito de todos os tipos. Lá, em Uganda, existe uma lei que proíbe o homossexual de “praticar a homossexualidade”. Se a punição prevista inicialmente era de pena de morte, com a pressão internacional, a lei ficou mais branda, punindo apenas com prisão perpétua (para abusar da ironia). A cultura brasileira, por sua vez, ainda é extremamente sexista. Embora estejamos vivendo sob uma Constituição Federal que assegura direitos iguais para todos, é só sair na rua e perceber que a realidade sufoca qualquer lei e teoria. E é no sentido de promover uma mudança cultural que surgiu em Valadares, há cerca de um ano, o NUDI’s - Núcleo de Debates sobre Diversidade e Identidades. A proposta vem ao encontro dos anseios de um grupo sufocado, reprimido e marginalizado, dando voz às diversas organizações de identidades relacionadas à orientação sexual, se apropriando de espaços acadêmicos, proporcionando o debate e a possível produção de material escrito, ações sociais e de visibilidade, eventos festivos, discussão e busca de Políticas Públicas, bem como a efetivação dos Direitos Humanos e da cidadania LGBT. A última atividade do grupo, aberta ao público, aconteceu na sexta-feira do dia 25 de abril, no Centro Cultural Nelson Mandela, com a exibição do filme Nacional Flores Raras (Bruno Barreto, 2013). O evento contou com cidadãos de diversos segmentos, idades e classes sociais que se mostraram bem dispostos ao debate. Falou-se muito sobre o quanto Valadares ainda ignora a diversidade sexual, e como resultado, as pessoas escondem-se em seus próprios preconceitos e criam subterfúgios para viverem seus afetos e desejos, ocultando-se, dividindo-se quase que em duas personalidades, uma pública e outra na vida privada. Ignorar a existência da diversidade não é um caminho inteligente, os LGBTs existem, e ponto. Eles se relacionam, moram juntos, casam-se, trabalham, tomam café, sorriem e escovam os dentes toda manhã, têm filhos e família igual a todo mundo. Há um discurso apocalíptico sobre como os homossexuais querem converter o restante da população ‘a ser gay’. Ora, se a liberdade de expressão ocasionar em um maior número de indivíduos assumidos, isso não quer dizer que criou-se novos gays, mas que os que existiam sentiram-se à vontade para viver conforme sua orientação. É como na teoria de Darwin sobre organismos resistentes. Nela, a administração de drogas não cria organismos resistentes, mas revela-os. Na verdade, eles já existiam em meio aos demais. Os gays não querem tornar o mundo gay. Querem apenas habitá-lo com dignidade. Em Uganda, assistimos pela internet ao espancamento e ‘queimação’ de um homoafetivo em praça pública. Na região Leste de Minas, assistimos recentemente ao assassinato de outro porque o seu assassino não queria que as pessoas soubessem do seu relacionamento com a vítima. Alguns ainda vão ficar do lado do assassino, pois esse, para eles, não era gay ou bissexual, apenas mais um hetero ‘viril’. Nós, pelo contrário, agiremos a favor das liberdades, buscando tolerância e respeito no coração daqueles que não demonstram. E então...? NUDI’s – Núcleo de Debates sobre Diversidade e Identidades. Conheça e curta a nossa Comunidade no Facebook. https://www.facebook.com/pages/Al%C3%A9m-do-Arco%C3%8Dris/159989594192304?fref=ts

Muito feliz também foi a semelhança das fotografias que ilustram as duas manchetes, ressaltando que a visibilidade dos problemas e a invisibilidade daquelas pessoas, em síntese, são questões xifópagas. ao discurso das esquerdas (no Brasil, não se referindo às leis de trânsito, é sempre de bom tom usar a palavra “esquerda” no plural) acabou por desgastá-lo e banalizar seu real significado. Na mídia, especialmente, elite se tornou figurinha fácil. A “tropa de elite” da PM, famosa no noticiário policial, virou livro e filme de sucesso. A “elite do poder”, sabemos todos, está em Brasília e nos “altos escalões” (outra expressão que virou clichê no noticiário político”). A “elite do samba” é formada por consagrados compositores e intérpretes do samba carioca. E o futebol, é claro, não iria ficar de fora dessa: ele também tem a sua “elite”. A partilha de campeonatos regionais,estaduais e nacionais em instâncias diversas, chamadas Divisões (1ª, 2ª, 3ª, de Acesso, etc.), Módulos (I,II,III) ou séries (A, B, C, D) fez virar pauta e notícia o trânsito anual de clubes por esses níveis estabelecidos. E aí, em algum momento, algum repórter ou comentarista esportivo cunhou a expressão “elite do futebol”, para qualificar o conjunto dos clubes que ascendem ao patamar máximo de disputa de uma competição a cada ano. Esta semana, não só o Figueira, mas, também outros jornais, rádios e tevês, saudaram o Democrata de Governador Valadares, por sua “volta à elite do futebol mineiro”. Demorô, Demô! José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, escritor e jornalista Escreva para o ombudsman: redacao.figueira@gmail.com

Outra do jargão jornalístico: “olho”. É aquele trecho extraído da matéria que é publicado em destaque , em corpo maior que o do texto e menor que o do título, de forma a chamar a atenção do leitor para o conteúdo integral da notícia. O olho do artigo assinado pela jornalista Lígia Chagas na edição passada (Incertezas na Copa, p.5) afirma que “foi justamente a realidade da população de rua em Fortaleza, CE que levou um jornalista dinamarquês a abandonar a cobertura do Mundial”. O artigo, no entanto, em sua parte final, põe em xeque a própria existência do tal jornalista, citando investigação a respeito conduzida por outro repórter. A impressão é a de que há tanta incerteza sobre a Copa, quanto das informações apuradas e relatadas. Um verbo no futuro do pretérito - “(...) E foi justamente a realidade da população de rua em Fortaleza, CE que teria levado um jornalista dinamarquês” (...) - teria resolvido o problema, ainda que essa prática não seja unanimemente aceita nas redações ou nos cursos de Comunicação. Mas o leitor entenderia que há controvérsias sobre o fato e que ele próprio deve e pode tirar suas conclusões a respeito. Zelites Desde os tempos do neoliberalismo desprivatizante do governo FHC, as castas socioeconômicas e culturais mais altas e conservadoras do país vêm sendo chamadas de “as elites” – ou, debochadamente, “zelites”. O uso à exaustão do termo, que foi incorporado


ENTREVISTA 9

FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio de 2014

Nesta edição, o Figueira inicia uma série de entrevistas com os pré-candidatos ao governo de Minas Gerais. Para abrir, foi convidado o pré-candidato da REDE/PSB, o médico sanitarista Apolo Heringer Lisboa. Não fugiu de temas espinhosos e mostrou transparência e segurança ao abordar os temas. Aproveite. Figueira - Você foi professor da presidenta Dilma Rousseff quando adolescente no ensino médio no Colégio Estadual Central de Belo Horizonte. Ela o definiu como guru. Também foi professor do menino Fernando Pimentel, hoje concorrente seu ao Palácio da Liberdade. Dilma e Pimentel foram maus alunos? Apolo - Quem conta um conto aumenta um ponto... não fui professor da Dilma no Colégio Estadual de BH, pois tenho apenas 4 anos a mais que ela. Fui supervisor político quando éramos estudantes, eu na antiga UMG (UFMG hoje) e ela secundarista. Eu era responsável por uns cursos sobre história e política num partido chamado POLOP , que propunha lutar por uma sociedade socialmente justa. Esta história de guru não me incomoda, saiu no livro sobre a história da presidente. O Pimentel é da mesma safra de jovens, ele fez parte entre os companheiros mais jovens que fizerem este cursinho político. Não acho que foram maus alunos. A gente aprende mais é na vida, quando tem que tomar decisões e está sob pressão. Eles são inteligentes, mas ninguém é perfeito e as más companhias costumam enganar quem não toma cuidado. Eu sai do PT para não ter que negar os ideais puros de intenção da minha juventude e sempre procuro mudar mas sem aderir ao pragmatismo da corrupção e da falsidade política brasileira. Estou agora melhor e mais experiente que antes. Figueira - No projeto Manuelzão você continua a sua tarefa de professor, educando gerações para o cuidado com as águas, do Estado que é a principal fonte de águas e energia para o Brasil industrializado. O que é o projeto, quem o apoia, a quem alcança? Apolo - As águas são também para os animais do campo e as pessoas sem serviços de saneamento da zona rural. Não é só para a indústria e a agricultura. A água é um bem de direito comum a todos, essencial à vida, como o ar que respiramos. O Projeto Manuelzão vê os rios como informações que circulam, revelando a mentalidade dos ocupantes das bacias hidrográficas. Os rios são um eixo que permite mobilizar a sociedade e conhecer a sua cultura. Quem destrói os rios e elimina os peixes age contra os interesses da Terra e de todos os seres vivos. Seria como desmatar e deixar a região mais pobre. Uns enriquecem rapidamente e a sociedade fica no prejuízo. Desenvolvimento é coisa mais séria e responsável, que leva em conta as futuras gerações. Figueira - Você é médico sanitarista. Qual a sua avaliação do Programa Mais Médicos? Apolo - O Brasil apresenta uma má distribuição regional de médicos, concentrados nas cidades com melhor infraestrutura. Isto porque a medicina exige tecnologia para ter eficácia e melhor aproveitar o preparo dos médicos. É um equívoco sério os profissionais do SUS, como os médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, auxiliares de saúde não serem reconhecidos como uma merecedores de um plano de carreira profissional de Estado, assim como são promotores, juízes, professores das universidades federais etc. Os médicos brasileiros precisam debater a prestação de serviços médicos no Brasil como uma atividade fundamental e direito da sociedade, mas a saúde deve ser entendida não essencialmente como prestação de serviços assistenciais mas como produto ecossistêmico de uma sociedade com qualidade de vida e menos estressante à vida das comunidades. Imaginem isto: os fazendeiros que produzem carne, ovos, leite e derivados, para o mercado interno e para exportação, têm foco na saúde animal e não em mais médicos veterinários. Pois o foco deles tem que ser na promoção da saúde e não nos serviços da indústria que cuida dos doentes. A vinda de médicos cubanos para o Brasil foi apresentada pelo governo federal como parte de um plano de marketing eleitoral bem sucedido junto às comunidades mais carentes, tirando o mérito dos médicos brasileiros, colocando-os como só pensando em dinheiro e fossem insensíveis. Isto chocou os médicos e criou uma cizânia desnecessária. Os médicos cubanos podem ser um complemento mas nos locais sem nenhuma infraestrutura e na desorganização da prática médica existente, onde nem prontuários bem feitos existem, onde o atendimento é diferente se a pessoa é pobre ou rica, em que milhões de brasileiros vivem em situação de pobreza, com escolas tendo alunos e professores sem investimentos básicos, comidos pela corrupção geral e maltratados pela violência e drogas, esta situação não vai melhorar. Nem da assist6encia nem da promoção da saúde, elas não podem estar separadas no planejamento. Só dinheiro não resolve, a sociedade que entra em colapso moral, familiar, social, se desagregando, a saúde coletiva, ecológica, dos sistemas de vida, vão embota juntos.

Entrevista Apolo Heringer

“Os médicos brasileiros precisam debater a prestação de serviços médicos no Brasil como uma atividade fundamental e direito da sociedade” Arquivo Pessoal

A Liberdade é um conceito bem complexo e construído ao longo da história. Minas não é diferente do Brasil. Sem bairrismo. Mas Minas não aceita ter seu destino decidido fora daqui.

Apolo Heringer é um político que atua em várias frentes, sempre com o pensamento voltado aos interesses coletivos

Figueira - O que representou para você o tempo de criação e ativismo no PT, o rompimento com o partido e agora integrar-se ao projeto da REDE de passagem pelo PSB? Apolo - O preço da ilusão é a desilusão. Sempre acreditamos muito, de tempos em tempos, que tudo vai melhorar. É da natureza humana não perder a esperança. Sem esperança não tem como viver. Mas é preciso ter uma dose correta de realidade em nosso pensamento. Aprender e conhecer a natureza humana e da política é essencial. Não renego os passos dados nem as decepções ocorridas foram totalmente inúteis. A vida continua. É um eterno aprendizado. Figueira - Vai prevalecer a candidatura própria apesar de pressões de dentro do próprio PSB por apoio ao candidato do Aécio e do Anastasia ao governo do Estado? Apolo - O Eduardo Campos é presidente do PSB nacionalmente. Ele disputa a eleição presidencial e quer ir ao segundo turno, parecendo disputar este posto com o Aécio Neves. Eles têm interesses contrários neste primeiro turno. O PSB deveria, nesta conjuntura, entregar os cargos e empregos no governo estadual e se assumir como partido com P , que tem propostas para o Brasil. Uma aliança com o PSDB no primeiro turno significa se apequenar, no papel de satélite. O PSB só vai crescer e ter suas propostas conhecidas se tiver candidatura própria e independente ao governo estadual em Minas Gerais. Há um clamor geral esperando sair deste jogo viciado PT/PSDB. Um xinga o outro para fazerem muito parecido. Ambos parecem ter encerrados os seus ciclos, caducaram, padecem dos mesmos males. Figueira - Você concorda com Tancredo na frase “Liberdade é o outro nome de Minas”? Apolo - Concordo sim, mas é mais uma frase de efeito. A Liberdade é um conceito bem complexo e construído ao longo da história. Minas não é diferente do Brasil. Sem bairrismo. Mas Minas não aceita ter seu destino decidido fora daqui. Eduardo Campos e Marina Silva estão devendo algumas viagens e debates em Minas Gerais coma REDE e o PSB mineiros. Basta isto para as soluções aparecerem. O povo quer mudanças já. Figueira - A Polícia Militar incorporou mulheres na rede na década de 1980. No entanto, o acesso não é igualitário, como nos países de economia desenvolvida. A rigor, não há base científica para limitar a atuação da mulher a apenas algumas funções policiais militares, vedando-a a outras. A legislação que limita a 10% de mulheres no efetivo da PM e do Corpo de Bombeiros e o concurso com vagas femininas em separado demonstram a visão de um tempo passado, e não da perspectiva igualitária de acesso que ficou consagrada na Constituição de 1988. Devemos esperar do seu governo correção desta distorção? Apolo - Já houve um progresso. E uma vez vista a luz não se acostuma mais com a escuridão. É inevitável que haverá esta mudança, de forma gradual..

Em meu governo poderemos duplicar ou triplicar, depois de ouvir todos os argumentos, evidentemente. Mas o que acontece em outros países do mundo precisa ser estudado também. Figueira - Enquanto o salário mínimo no Paraná é de R$ 1.048 e estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro têm salário mínimo superior ao nacional, Minas Gerais porta-se como se não fosse a terceira mais importante economia do país. O salário mínimo é indutor de distribuição de renda e gerador de igualdade em volume maior que as políticas sociais como o Bolsa Família. Você visualiza algum compromisso com um salário mínimo estadual? Apolo - Em princípio sim. Mas sempre vou primeiramente perguntar a razão de estar sendo feito assim ou assado para depois mudar. Sem precipitação mas com ousadia. As despesas de um assalariado podem ser diminuídas se ele tiver acesso a casa própria, bom transporte coletivo, boas escolas e um SUS de alta qualidade, fazendo as pessoas diminuírem suas despesas privadas, que acontece quando elas passam a ter que pagar por tudo isto, que é o caso quando os serviços públicos são de péssima qualidade. Figueira - Os 24 outros municípios da microrregião de Governador Valadares têm renda per capita de 40% da renda per capita de Minas Gerais. Valadares é polo de uma região extremamente esvaziada, em um território de alta degradação ambiental, de emigração e pobreza. Governo após governo do Estado não têm política de desenvolvimento dirigido a essa microrregião e à Região do Médio Rio Doce. Que garantia podemos ter de que o seu olhar como governador será desviado da metade Sul e do Triângulo, ricos e estáveis, para as regiões hoje esquecidas, que precisam de indução para se tornarem produtoras e ricas? Apolo - Sem abandonar o Sul e o Triângulo, que criaram base próprias e dinâmicas, mas ainda com muitos problemas, todas as microrregiões precisam ter seus diagnósticos e suas soluções. Trata-se da questão da natureza do desenvolvimento do Brasil. A busca de soluções para os desequilíbrios sociais, ambientais, econômicos regionais deve fazer parte do cotidiano de um governo comprometido com a sociedade, sem rabo preso com financiadores de campanha e capaz de ouvir a sociedade, fazendo justiça administrativa e política. Mas a região tem que participar do debate pois cabe a ela o protagonismo principal. Figueira - Estudos apontam melhoria da qualidade dos rios em Minas, à exceção do Rio Doce. Como o governo do Estado pode induzir medidas de recuperação das microbacias e da Bacia do Doce como um todo? Apolo - Não é verdade que a qualidade das águas dos rios está melhorando, isto é maquiagem produzida para fins eleitorais pelo governo estadual. Conhecemos bem como foi a gestão ambiental dos últimos quatro anos. Os rios estão se assoreando cada vez mais. Os minerodutos produziram um arraso em sua construção e operação. Exportam água sem pagar. As mineradoras não pagam ICMS, mas o produtor de mandioca e farinha paga.

Arquivo Pessoal

Fábio Moura

BravaGente Dona Zilda está na elite do futebol mineiro A presidenta Dilma, atleticana, e o jornalista cruzeirense, Marcelo Machado

Marcelo é Valadares no Planalto O valadarense Marcelo Machado, jornalista, editor de Esportes do jornal A Tarde, de Salvador, BA, foi um dos 13 jornalistas, convidados para um jantar com a presdidenta Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, na última segunda-feira. A Tarde foi o único veículo nordestino presente ao encontro em Brasília. A presidenta queria falar sobre a Copa do Mundo, mas não se furtou a tratar também de outros assuntos – como o espinhoso caso Petrobras – em quase cinco horas de bate-papo em clima informal e sem nenhum pedido de off. Além de Copa 2014, Petrobras, Obama/espionagem, Papa Francisco, inflação, superávit primário, eleições, Lula, Mais Médicos e outros temas sérios, Dilma também falou da paixão pelas artes (quadros, especificamente), das privações que o poder lhe traz (“Sinto falta de caminhar pelas ruas”), do álbum de figurinhas da Copa (“Estou colecionando”) e que vem assistindo às séries “Game of Thrones” e “House of Cards”. E, mineira ‘agauchada’ que é, confirmou: “meu primeiro time é o Internacional. Quando o Inter está fora, aí torço pelo Atlético Mineiro”. Bravo, Marcelo!

Olhem só a felicidade dela! Zilda Alves Pereira, a Dona Zilda, está mais calma. Seus meninos brilharam em campo, com uniforme limpinho, que ela lavou com todo o capricho. No domingo de Páscoa, antes do jogo histórico entre Democrata e Social, Dona Zilda rezou muito. Disse que confiava em Deus e que a vitória seria de todos, para coroar o trabalho difícil, da diretoria, da comissão técnica, dos jogadores. E não deu outra. O Democrata venceu por 3 x 2 e Dona Zilda comemorou. “Eu rezei muito e agora vejo que Deus ouviu as minhas preces”. Com 85 anos de idade, Dona Zilda é um exemplo para muitas pessoas que se sentem inúteis quando chegam na velhice. Trabalha no Esporte Clube Democrata desde 1971. Já viveu alegrias e tristezas, mas nunca perdeu a fé. Parabéns, Dona Zilda! A senhora, agora, vai deixar limpinho o uniforme de um time de elite! Bravo!

Eu rezei muito e agora vejo que Deus ouviu as minhas preces!

Dona Zilda, feliz da vida com o acesso do Democrata


COTIDIANO 10 Café com leite dos regimes militares na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. A programação, que será realizada no Teatro Municipal da cidade, contará com debates, exposição fotográfica e apresentações musicais, entre outras atividades. De acordo com os organizadores o evento tem por objetivo também fazer que os jovens de hoje entendam que a liberdade de agora é resultado de muita luta dos jovens das décadas de 60, 70 e 80. Entre os temas a serem discutidos estão a Operação Condor, o papel das Forças Armadas, a repressão a operários, camponeses, artistas e a participação e o apoio da sociedade civil no golpe militar. Têm presença confirmada o presidente do Uruguai, Pepe Mujica e o ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo. Também participarão das atividades Hugo Blanco, símbolo da resistência peruana; João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart; o escritor e teólogo Frei Betto; o dirigente sindical boliviano da resistência Oscar Olivera; e o dirigente do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária) Pascal Allende, sobrinho do ex-presidente do Chile, Salvador Allende, entre outros. A organização aguarda a confirmação da presença da presidenta chilena Michelle Bachelet e do ex-presidente Lula. O evento Ditaduras no Cone Sul – 50 Anos Depois é organizado pelo Centro de Memória do Grande ABC e pelas Prefeituras de São Bernardo do Campo e Santo André. A programação completa está acessível no sítio www.ditadurasnoconesul.com.br. A próxima coluna trará a cobertura do encontro.

FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio 2014

Governança na Internet e marco civil Marcos Imbrizi / São Paulo Na semana passada, São Paulo recebeu o Encontro Multissetorial Global Sobre o Futuro da Governança na Internet (Net mundial). O evento, que também celebrou os 25 anos da World Wide Web, contou com a participação de representantes dos vários setores envolvidos com a questão em todo o mundo. O encontro, organizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil em parceria com um fórum internacional do setor, teve por objetivo elaborar os princípios de governança da Internet e propor um roteiro para a evolução do sistema. De acordo com os realizadores, o evento representa o início de um processo para a construção dessas políticas no contexto global, seguindo um modelo de pluralidade participativa. A presidenta Dilma Rousseff marcou presença no evento, quando sancionou o Marco Civil da Internet no Brasil. Entre os pontos principais do Marco estão a neutralidade da internet, que garante a igualdade dos serviços prestados a todos os usuários; a privacidade dos dados do cidadão, a proteção a dados pessoais e registros de conexão. Também coloca na ilegalidade a cooperação das empresas de internet com departamentos de espionagem de Estado como a NSA, dos Estados Unidos. Entre as personalidades que participaram dos debates, o secretário Adjunto do Departamento da Organização das Nações Unidas para assuntos Econômicos e Sociais, Wu Hongbo, e o criador da internet, Tim Beernes Lee, elogiaram o caráter democrático do Marco Civil da internet brasileiro e do encontro NET mundial. Para mais informações, ver http://netmundial.br/pt/ Ditaduras no Cone Sul – 50 anos depois Entre os dias 9 e 11 de maio, Santo André sediará o evento internacional Ditaduras no Cone Sul – 50 Anos Depois, que visa reler a história

Lançamento O Centro de Informação e Assessoria Técnica (CIAAT) vai lançar no dia 8 de maio, às 14h, no IFMG, o projeto Enriquecimento do Capital no Vale do Rio Doce. Este projeto atenderá comunidades rurais de 11 municípios da região do Rio Doce, com capacitação de lideranças comunitárias e produtores rurais, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento local sustentável e as tecnologias sociais. O projeto é patrocinado pela Petrobrás. Tome nota: Dia 8 de maio 14h Campus do IFMG Av. Minas Gerais, 5189 Bairro Ouro Verde Confirme presença pelo telefone 3272.4593

Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor das rádios livres.

Antes de terminar, parabéns à Pantera pelo retorno à elite do futebol mineiro.

Boston é aqui

É possível ser feliz nos Estados Unidos Sander Neves Nasci e me criei nesta terra que já foi chamada Figueira. A exemplo de boa parte dos meus amigos, deixei a cidade jovem, com 23 anos. Adivinhe aonde fui morar? Errou quem apostou nos Estados Unidos. Passei por Porto Alegre, Santa Maria, Belo Horizonte, Vila Velha e novamente Belo Horizonte. Passaram-se 15 anos. Hoje, com os 40 anos batendo à porta, tive a alegria de passar no concurso para jornalista da UFJF e preparo as malas para voltar ao único lugar em que me sinto em casa. Feitas as devidas apresentações aos leitores do jornal, vamos ao tema de reflexão desta semana: migração. Mesmo longe de Valadares, nunca transferi meu título de eleitor ou deixei de pensar nos amigos que optaram viver ou passar uma temporada nos Estados Unidos. Prova disso é que meu tema de doutorado baseou-se nos jornais impressos de língua portuguesa que circulam somente nos Estados Unidos. Em dois diferentes momentos realizei pesquisas e fiz entrevistas nos arredores de Boston. Fiquei na casa do meu primo Carlos Augusto, que deixou o Brasil com apenas 17 anos. Ele já tem dois filhos americanos. É casado com uma americana, a Elaine, que já morou em Valadares. Acho que a família deles é uma daquelas que não fazem mais conta de voltar. Em minha passagem por Boston e região, tive algumas surpresas. Talvez a maior delas foi o uso da língua portuguesa em cidades onde é grande a colônia de brasileiros. Em Framingham, por exemplo, não falei nenhuma palavra em inglês durante todos os dias. Fui a lanchonetes, restaurantes, padarias, lojas de roupa, etc. Todos os lugares tinham empresários e funcionários brasileiros. Cheguei à conclusão que um americano de raiz teria dificuldade de fazer compras naquelas lojas do centro da cidade, bem em frente à Prefeitura. Ironia, não é mesmo? Outro fator que me chamou atenção foi a questão da crise que os Estados Unidos viviam naquela época. Tinha informações, aqui no Brasil, que os valadarenses estavam deixando de mudar para lá em virtude da falta de empregos. Não foi isso que vi. Além de cartazes com vagas em aberto, entrevistei duas pessoas que tinham chegado há dois meses em Framingham. E todos com quem conversei, sem exceção, indicaram que quem quisesse emprego não ficaria fora do mercado. Pareceu-me que a crise nos Estados Unidos, pelo menos para quem migrou, foi só uma “marolinha”. Também não posso deixar de destacar o papel das igrejas criadas para brasileiros. Missas e cultos, em português, são semanais. Mas o papel da igreja vai além disso. Elas conseguem empregos, fazem contato com Brasil, buscam moradias para brasileiros, ensinam inglês, etc. As igrejas acabam sendo um porto seguro para quem sente falta das pessoas e da cultura que foi deixada para trás. Destaco ainda o respeito que os americanos têm com crianças e idosos. Nas ruas em frente às escolas a parada é obrigatória, a preferência sempre é das crianças. Mesmo nos finais de semana os motoristas reduzem a velocidade a quase zero quilômetro em frente às escolas. Um vício saudável. Os idosos raramente enfrentam filas ou carregam coisas nos supermercados. Jovens e adultos sempre estão perguntando se os idosos estão precisando de alguma coisa. Impressiona, principalmente quando penso nas relações sociais com crianças e idosos no Brasil. Por fim, quero explicitar que não vejo com viés negativo o ímpeto dos valadarenses que tentam uma vida melhor nos Estados Unidos. Desde que o mundo é mundo nós, seres humanos, migramos. Stuart Hall, no livro “A identidade cultural na pós-modernidade” destaca que um terço da humanidade já migrou pelo mundo. Obviamente que seria muito melhor se a terra onde nascemos e que aprendemos a amar tivesse como nos dar o que queremos para nos desenvolvermos pessoalmente e profissionalmente. Na falta disso, desejo tudo de bom para os desbravadores da contemporaneidade. É possível ser feliz nos Estados Unidos. Sander Justino Neves é jornalista e publicitário, doutor em Comunicação Social

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CULTURA 11 Tim Filho

FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio de 2014

Direitos Humanos

Anomia e Direitos Humanos Paulo Vasconcelos Uma situação que deve nos preocupar é quando a anomia se torna frequente tema de discussão em todas as camadas da sociedade. Anomia é a falta de referência, direcionamento e motivação. Anomia é um estado de falta de objetivos, perda de identidade, pouco vínculo com regras que definem a estrutura social, resultando em descrença nos poderes constituídos. Grupos anônimos mascarados tentam reivindicar, na maioria das vezes, aquilo que eles próprios sequer sabem o que é. Populares tentam desesperadamente fazer justiça com as próprias mãos, não se importando em apurar a real responsabilidade do acusado, e pior, assumindo uma função para a qual não estão preparados nem legitimados a exercer. Militares desorientados em incursões assassinas pelas favelas de todo país ceifando vidas de inocentes. Hoje, não podemos classificar como isolado cada um desses acontecimentos, pois estão inerentemente ligados. A repetição desses fatos demonstra a latente falência do aparato de segurança legal que provoca por parte do Estado, o descumprimento de direitos básicos do gênero humano. A aceitação desses acontecimentos destrói os conceitos de direitos humanos já firmados entre as pessoas, e ainda há o risco de se mantendo esse fenômeno, prejudicar o desenvolvimento da estrutura social que defendemos. Nesse momento, precisamos dizer não às palavras daqueles defensores da justiça com as próprias mãos, não ao mau uso de manifestações legitimas, não aos excessos da polícia contra cidadãos. O momento é de cobrar do Estado constituído respostas plausíveis aos anseios de uma população que tem assistido atônita às mazelas do cotidiano; ter garantido o artigo 7º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.” A anomia, se mantida, é capaz de silenciosamente prejudicar a cultura de direitos humanos que vem sendo construída passo a passo com o próprio desenvolvimento do ser humano. Faz-se necessário que a sociedade organizada volte aos trilhos antes que algumas normas sejam confrontadas com as expectativas sociais e sua aplicabilidade. O sociólogo e jurista italiano, Alessandro Baratta, define muito bem esse fenômeno: “Anomia é, enfim, aquela crise da estrutura cultural que se verifica especialmente quando ocorre uma forte discrepância entre normas e fins culturais, por um lado, e as possibilidades socialmente estruturadas de agir em conformidade com aquelas, por outro lado”.

Os rapazes de rostos trabalhados pelo tempo comemoraram os 30 anos de existência do Pau Brasil, no Teatro Atiaia. Um show inesquecível. Azar de quem não viu

Crítica Musical 30 anos do Pau Brasil

O show que os valadarenses não deveriam ter perdido Tim Filho / Repórter “A música, os estados de felicidade, a mitologia, os rostos trabalhados pelo tempo, certos crepúsculos e certos lugares, querem nos dizer algo, ou algo nos disseram que não deveríamos ter perdido”. A abertura de um texto com um texto incidental, de outra autoria, significa usar a famigerada muleta na qual se apoia aquele que procura a melhor forma de abrir o seu texto, ou, no popular, fazer o fusquinha engasgado pegar no tranco. Mas, e o se o texto incidental, este que está entre aspas, for do poeta argentino Jorge Luiz Borges, e o texto que se abre for sobre o show do grupo de música instrumental brasileira, o Pau Brasil, que se apresentou em Governador Valadares, no dia 27 de abril, no Teatro Atiaia? Bem, neste caso, a citação de Borges servirá como uma espécie de síntese dos 30 anos do grupo Pau Brasil e cada palavra por ele usada direcionarão a crítica sobre um espetáculo maravilhoso, que muitos valadarenses não deveriam ter perdido. O show, digo, o concerto, foi perfeito. Começou com atraso de quase 60 minutos, porque a maestro da banda Lira 30 de Janeiro, que fez a abertura, saiu para pegar um músico seu, retardatário. O atraso incomodou a pontualidade britânica do Pau Brasil, mas não comprometeu o espetáculo. A amplificação do som chegou à plateia de forma impecável, na medida certa. Ouviu-se com perfeição o dedilhar do violão de Paulo Bellinati, as notas mágicas do piano de Nelson Ayres, o sopro virtuoso de Teco Cardoso, o som temperado dos contrabaixos elétrico e acústico de Rodolfo Stroeter, e o suingue percussivo da bateria de Ricardo Mosca. Este é o quinteto que tem o nome da árvore que dá nome ao país da profusão de ritmos musicais, profusão alucinante, que os estadunidenses chamam de “brazilian jazz”. O Pau Brasil é um quinteto de rapazes, que nos anos de 1980 eram cabeludos, rebeldes da música instrumental. Hoje, continuam rapazes, mas com os rostos trabalhados pelo tempo. Só de carreira lá se vão 30 anos. O Pau Brasil toca o “brazilian jazz”, ou seja, apresenta ao público de seus concertos e aos ouvintes de seus discos, a tal profusão de ritmos brasileiros, sem aqueles solos intermináveis, sem aquelas escalas rítmicas velozes, que às vezes são feitas para impressionar plateias. Tudo é na medida certa. O xote, o baião, o samba, o forró, a modernidade musical de gênios musicais como Heitor Villa-Lobos, marcam o repertório. E tudo isso foi posto à mesa no palco do Teatro Atiaia. E, com a mesa posta, o jazz se fez presente, como elemento estético e transformador, talvez para explicar o inexplicável, como fizeram os antigos, na mitologia. Como explicar a beleza e a sofisticação de arranjos como os de “Rancho Fundo” (Ary Barroso e Lamartine Babo) e “Na Baixa do Sapateiro” (Ary Barroso)? Indo à mitologia jazzística, claro. Vamos lá. O pianista e professor Caio Vono, explicou certa vez, no livro “Introdução ao jazz e seus estilos”, que o jazz é uma palavra que começou a ser formada nos anos finais do século 19, em New Orleans, por duas palavras dialetais: jasm e gism, que significavam velocidade e energia, aplicadas ao esporte, à execução de instrumentos, e em alguns casos, ao desempenho sexual. Por volta de 1917, jasm e gism, viraram “jazz”. Mais uma explicação do inexplicável: Lucien Malson e Christian Bellest, no livro “Jazz”, afirmaram que a palavra jazz significa “viver intensamente”. E assim se fez o concerto do Pau Brasil no Atiaia. A velocidade e a energia, e o “viver intensamente”, conduziram os músicos em vários momentos. Um dos mais belos foi quando eles tocaram “Rancho Fundo” e “Na Baixa do Sapateiro”, coisas da alma brasileira, com o improviso do jazz. “Demorou um pouco, mas é assim mesmo, a gente gosta de dar uns pulos no escuro”, explicou o contrabaixista Rodolfo Stroeter ao final da execução desses dois clássicos da MPB. Os tais “pulos no escuro” eram os improvisos, coisas de gênios. E não foi só isso. A “Ária das Bachianas Brasileiras No 4” e a “Lenda do Caboclo” (Heitor Villa-Lobos), o alegre xote chamado “Caixote” (Nelson Ayres), o som tribal, indígena e da floresta, presentes em “Lá vem a tribo” (Rodolfo Stroeter e Paulo Bellinati), “Babel” (Lelo Nazario e Rodolfo Stroeter), “Pulo do gato” (Paulo Bellinati) e “Fogo no baile” (Nelson Ayres), foram apresentadas ao público de uma forma única, típica do Pau Brasil. E o pouco convencional, pra não dizer inédito, apareceu no fim do concerto, durante a execução do forró “Fogo no baile”. Um grupo de música instrumental geralmente só toca, não canta. E não é que o Pau Brasil cantou! Bem humorado, Rodolfo Stroeter, embalado pelo balanço sincopado do forró, engatou uma embolada para apresentar a banda, arrancando aplausos da pequena plateia. No bom humor característico das emboladas e dos repentes, ele brincou com os colegas da banda, exaltando suas qualidades e características, com rimas simples. Apresentou Nelson Ayres, Teco Cardoso, Ricardo Mosca e Paulo Bellinati, sempre tirando sarro. Mas aí veio a vingança: Bellinati deu o troco apresentando Stroeter. E a plateia delirou. E por falar em plateia, o público foi decepcionante. Os 30 anos do Pau Brasil merecia casa cheia, mas a música instrumental brasileira perde de goleada para os produtos da indústria cultural, de qualidade questionável e duvidosa, mas que ganham espaços generosos nos meios de comunicação de massa, e com isso, arrastam multidões a espaços diversos. Depois de tantas citações, Caetano Veloso tem de ser chamado nessa conversa, pra fechar a crítica, com a música “Ele me deu um beijo na boca”, da qual se retira o verso que soa como uma advertência: “e a crítica que não toque na poesia...” Caetano que nos desculpe, mas a poesia de Borges tem de ser tocada, como forma de justificar a muleta usada no início deste texto. “A música do Pau Brasil, feita pelos rapazes de rostos trabalhados pelo tempo, quis nos dizer algo, ou algo disse aos valadarenses, que eles não deveriam ter perdido”. Taí a poesia tocada! Buh! Felizes os que estiveram entre os poucos que foram ao Teatro Atiaia na noite de 27 de abril, do ano da graça de Deus de 2014. Quem não foi ver o Pau Brasil está desautorizado a demonstrar engajamento com aquele discurso desgastado, proferido invariavelmente por estas bandas: “Valadares não tem cultura, nada de bom acontece por aqui”. Neste caso, cabe a advertência: “não faça esse discurso perto do Kiko, do seriado de TV, Chaves. Ele vai dizer: “cale-se, cale-se, cale-se, você me deixa louco”. Nota para o concerto: 10. Tim Filho é jornalista e produtor cultural

A anomia, se mantida, é capaz de silenciosamente prejudicar a cultura de direitos humanos que vem sendo construída passo a passo com o próprio desenvolvimento do ser humano.

Até sempre, grande Gabriel García Márquez! José Peixe/de Lisboa O criador escolheu a Páscoa para tu desencarnares da vida que tanto amavas velho Camarada de ofício Gabriel. Uma época diferente para se dizer adeus à vida. Uma vida vivida com intensidade. Sendo tu um guerrilheiro das palavras, uma amante de revoluções e um génio da literatura e do jornalismo, sabias melhor do que ninguém que não podias continuar a sofrer “ad aeternum”. Aliás, devias estar farto de tanto sofrimento. Quero que saibas camarada Gabriel que eu não chorei uma lágrima quando anunciaram a tua morte. Sei que partiste em Paz. E também tenho consciência que homens do teu calibre jamais desaparecem. Morrem fisicamente mas permanecem bem vivos nas estantes das livrarias de todo o mundo. E quando soube da tua morte Gabriel, limiteime a retirar da estante a “Memória das Minhas Putas Tristes” para voltar a ler. Uma obra magnífica a que não resisto de transcrever apenas este pedaço: «No ano dos meus noventa anos quis oferecer a mim mesmo uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei-me de Rosa Cabarmoral também é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, tu verás». A seguir tenho que reler “O Amor em Tempos de Cólera”. A célebre obra que te valeu o Prémio Nobel da Literatura em 1982. Um livro divinal. Espantoso. E aproveito este momento para te dar os parabéns pela forma destemida daquele teu gesto malandro para o fotógrafo. O que querias dizer com aquele dedo Gabriel? Imagino eu: “Vão se Foder!”. Era? Pois não estavas enganado. Aquele teu gesto que foi criticado por alguns continua bem actual sabes. Neste mundo desapiedado e cruel, como escreveu o Miguel Torga, onde a corrupção e a malandragem teimam em passar por cima de todos nós. Onde os mais ricos continuam a esmagar os mais pobres e os direitos fundamentais dos homens não são respeitados. O que apetece mesmo dizer camarada Gabriel: “Vão se lixar”. E fazer o mesmo gesto que tu fizeste. A tua morte foi uma grande perda para a literatura e o jornalismo. Mas não podias continuar como estavas. Tu melhor do ninguém sabes disso. Até sempre GRANDE Gabriel García Márquez! José Valentim Peixe é jornalista e doutor em Comunicação

E por fim, Sidney Miller, em 1968, descreveu o sentimento anômico de forma lúdica em sua música intitulada “pois é, pra quê?”: O automóvel corre, a lembrança morre/ o suor escorre e molha a calçada/ há verdade na rua, há verdade no povo/ a mulher toda nua, mais nada de novo/ a revolta latente que ninguém vê / e nem sabe se sente, pois é, pra quê? O imposto, a conta, o bazar barato/ o relógio aponta o momento exato da morte incerta, a gravata enforca/ o sapato aperta, o país exporta/ e na minha porta, ninguém quer ver/ uma sombra morta, pois é, pra quê? Que rapaz é esse, que estranho canto / seu rosto é santo, seu canto é tudo/ saiu do nada, da dor fingida/ desceu a estrada, subiu na vida/ a menina aflita ele não quer ver/ a guitarra excita, pois é, pra quê? A fome, a doença, o esporte, a gincana/ a praia compensa o trabalho, a semana/ o chope, o cinema, o amor que atenua/ o tiro no peito, o sangue na rua/ a fome a doença, não sei mais porque/ que noite, que lua, meu bem, pra quê? O patrão sustenta o café, o almoço/ o jornal comenta, um rapaz tão moço/ o calor aumenta, a família cresce/ o cientista inventa uma flor que parece/ a razão mais segura pra ninguém saber/ de outra flor que tortura, pois é, pra quê? No fim do mundo há um tesouro/ quem for primeiro carrega o ouro/ a vida passa no meu cigarro/ quem tem mais pressa que arranje um carro/ pra andar ligeiro, sem ter porquê/ sem ter pra onde, pois é, pra quê?

cas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar os seus bons clientes quando tinha uma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma das suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza dos meus princípios. A

Paulo Vasconcelos é educador, presidente do Conselho Municipal de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos


ESPORTES 12

FIGUEIRA - Fim de semana de 2 a 4 de maio 2014

Paragliders colorem o céu de Valadares até sábado O céu de Governador Valadares está cada vez mais colorido, a 1ª Etapa do Campeonato Brasileiro e Open Internacional de Parapente, trouxe aos valadarenses um atrativo a mais para a cidade. O evento teve início no dia 26 de abril e termina neste sábado, 3 de maio. Além de fluxo constante de turistas e pilotos na Ibituruna, a rede hoteleira da cidade ficou movimentada nesses sete dias de provas. A competição teve mais de 140 pilotos inscritos, vindos de todas as regiões do Brasil e alguns do exterior. Os competidores estão divididos em três categorias: Open, Sport e Fun. A competição está separada em duas etapas, a primeira realizada em Valadares e a segunda em Andradas (MG). Os três primeiros colocados da etapa inicial serão premiados. No ranking geral, o valadarense Moisés Sodré lidera, seguido pelos brasileiros: Donizete Baldessar Lemos, Marcelo Prieto, Richard Bryan Pethigal, nas cinco primeiras posições. A entrega dos troféus será entregue no sábado, em um bar da cidade, na Rua Suassuí, 108, na Ilha dos Araújos às 21 horas.

Canto do Galo Pedro Zacarias Amigos da Imensa Nação Atleticana, recebi, honrado, o convite para assinar esta coluna no hebdomadário mais famoso das Gerais falando boas palavras do Glorioso Clube Atlético Mineiro. E falo que me sinto mesmo honrado porque sei de tantos amigos atleticanos galistas apaixonados que gostariam de expressar publicamente seu amor pelo nosso “Galo Doido” nas letras deste semanário sensacional que a cada edição vai ficando mais atraente, dinâmico e popular. Falar do meu amor incondicional pelo Atlético é redundância, pois quem conhece os atleticanos sabe bem como somos. Não existe ninguém “mais” atleticano que o outro e se existisse, não haveria um parâmetro para medir esse sentimento simplesmente porque ele é incomensurável. Já vi exemplos marcantes de grandes atleticanos que demonstram no seu dia a dia toda a paixão que só mesmo nascendo atleticanos é que se pode sentir, mas nenhum se autodenomina maior que os demais. No Galo é assim. O respeito começa pela sua torcida até contagiar todo o time. E esse sentimento, de amor incondicional pelas cores alvinegras e pelo time do coração os simpatizantes azuis nunca saberão o que é. A razão é simples e fácil de explicar. Não nasceram atleticanos. Um dia, por razões alheias às boas forças da natureza ou por pressão paterna irresponsável, se viram obrigados a vestir uma camisa azul e torcer pelo tal cruze... (éca.. desculpa ai, Redação, mas não dá pra escrever isso não). E ficam por aí, vagando no mundo dos vivos esperando chegar o dia glorioso em que poderão evoluir e passar pela grande transformação que os fará nascer atleticanos. Simples assim... Enquanto isso não acontece... “deixa sofrer que eu não tenho culpa”... Ditas estas coisas, vamos ao que mais interessa. A diretoria do Galo acertou em cheio com a contratação do Levir Culpi que tem o respeito e o reconhecimento da Massa Atleticana. Autuori já foi tarde e não é difícil explicar sua queda. Um técnico antipático, sisudo, retranqueiro e que não “vestiu a camisa” do Galo preferindo mudar radicalmente o esquema tático da equipe usando, absurdamente, as mesmas peças do time do Cuca. Ai não dá. Em contrapartida ao futebol burocrático da era Autuori, de triste lembrança, dá alegria redobrada ver a campanha do Galo na Copa do Brasil Sub 17. Depois de atropelar o Flame... (esse também é outro nome que não merece ser escrito) o Galinho detonou os garotos do Grêmio, na casa do adversário e segue firme para ser campeão. Final marcada para a noite da próxima terça-feira, no Independência, caldeirão do Galo Doido. Um simples empate dá a taça ao Glorioso. É esperar e torcer por mais um título já que recentemente a equipe sagrou-se campeã, pela quinta vez, da “Future Champions”, competição organizada pela Fifa que reúne os melhores times do mundo nesta categoria. Pedro Zacarias de Magalhães Ferreira é Galo Doido e, quando sobra tempo, advoga.

Sete estados duelam na 1a etapa da Copa Big Mais de Mountain Bike O céu foi tomado pelas nuvens e depois pelos paragliders. Lá embaixo, o pau comeu nos 5 quilômetros de trilha da Copa, que traz os melhores ciclistas a GV Fábio Moura/Repórter A história não começou neste fim de semana. Em 2012, vinte e dois ciclistas valadarenses se encontraram em Castelo, ES, para uma competição de mountain bike. Por que tantos deles tão longe daqui? A peregrinação - não só por terras capixabas - era em busca de competições profissionais, à época, inexistentes aqui. Em 2013, alguns deles se mobilizaram pela reativação da Associação Ciclística Vale do Rio Doce (ACVRD), desarticulada precocemente aos dois anos de idade, ainda em 2008. “Não foi fácil. Tivemos de regularizar os impostos e toda a situação jurídica da associação. Mais difícil, ainda, foi realizar a 1ª Copa Big Mais de Mountain Bike, ano passado”, explica o presidente da ACVRD, Marcone Miranda. E deu certo. Na terceira etapa passou por aqui o presidente de Federação Mineira de Ciclismo - FMC, Paulo Aquino, que gostou do que viu. Foi embora com a promessa de incluir a Copa de 2014 no calendário mineiro e também no da Confederação Brasileira de Ciclismo – CBC, em que a pontuação conquistada pelos atletas em Valadares soma-se ao ranking das duas instituições. O burburinho se espalhou Brasil afora e atraiu, até mesmo, um europeu. Quase 160 ciclistas, entre gaúchos, catarinenses, paulistas, cariocas, capixabas, mineiros e baianos competiram na 1ª etapa da Copa. Entre eles havia, ainda, 45 valadarenses e um suíço disputando em dezoito categorias no último domingo, 27. Eles se embolaram, derraparam, caíram, ralaram, voaram e correram muito. Chegaram a cravar uma média de 17 km/h. Tudo isso aos pés da Ibituruna, em frente ao Parque Natural Municipal, no bairro Elvamar. “A trilha exigiu demais de todos aqui. Eram quase cinco quilômetros de um terreno extremamente acidentado e irregular, com boas retas para sprints seguidas de curvas fechadas, subidas e algumas pedras. Não foi fácil levar aqui, não”, conta o mais rápido entre os competidores da categoria elite masculino, Marcelo Cândido, de Nova Serrana, MG. Marcelo – que está de volta ao pedal há apenas três anos - chegou ao fim da primeira volta na terceira colocação, vinte segundos atrás do líder. No início da terceira já liderava a sua categoria e só administrou até o fim da corrida. Na elite feminina, a pentacampeã brasileira, Erika Gramiscelli, levou o caneco. Depois de quatro voltas e quase vinte quilômetros de percurso, ela passou pela bandeira quadriculada quinze minutos antes da sua única concorrente. “Consegui aplicar todo meu conhecimento técnico e minha habilidade. O percurso foi extremamente técnico com pedras, raízes, saltos, curvas abertas, fechadas, subidas íngremes, descidas velozes e por aí vai. Em junho, eu tô de volta.” Teve gente de toda idade correndo no circuito. Homens e mulheres de doze a sessenta anos – ou a perder de vista. O Niedson Albuquerque, sexagenário, veio de Duque de Caxias e faturou na categoria over 60. Entre os vários títulos da sua carreira, ele coleciona a Taça Brasil de 2011 e um 13° lugar no Mundial de Mountain Bike – 4° entre os brasileiros, em 2010. “Comecei cascudo, aos 45 já. Ainda tenho muito a correr pela frente”. No dia 1° de junho, os atletas voltam a se encontrar no mesmo lugar para a segunda etapa da Copa Big Mais de Mountain Bike, também no formato Cross Country XCO – provas curtas, realizadas em trilhas de terra de até 6 quilômetros, com descidas e subidas. Em setembro, o evento muda para o Rancho Glória, no km 155 da BR 381. Lá, as provas serão na modalidade XCP - maratona em percursos que chegam a 60 quilômetros de extensão.

Toca da Raposa Dona Assunta Dia do trabalho, todo mundo de folga e eu pagando os pecados, não apenas pelo fato de estar fechando esta edição do Figueira em pleno feriado, mas escrevendo sobre o Cruzeiro, time pelo qual não morro de amores. Aliás, na rivalidade entre Cruzeiro e Atlético eu sou um caso à parte, não sei pra quem eu falo “bem feito!”. Meu time é o Democrata, o orgulho do Vale do Rio Doce, mas a vida de editor tem dessas coisas, supresas em cada esquina. E não é que eu fiquei surpreso com a constatação de que os cruzeirenses, tão valentes nas postagens do facebook, amarelam na hora H. Pois é. Contatei uns 100 cruzeirenses e nenhum deles quis escrever sobre o Cruzeiro, como fez o atleticano Pedro Zacarias, devidamente diagramado aí em cima. A solução para o impasse seria botar um calhau aqui neste espaço, mas aí, não iriam faltar cruzeirenses falando que foram discriminados e etc e ta, que o Figueira é um jornal “frajuto”. Eu já estava disposto a botar o calhau, mas resolvi ir à padaria, antes de fazer a “operação tapa-buraco”. Lá, eu encontrei ela, a minha vizinha, Dona Assunta, vestida com uma bermuda de lycra, branca, dessas que delineam os atributos físicos, e uma camisa do Cruzeiro (cujo azul virou roxo), com cinco estrelas no lado esquerdo. Logo abaixo, a logomarca da Energil C. Camisa antiga, do “tempo do onça”. Falando mais que uma calopsita no cio, ela dizia pra todos os clientes, padeiros e balconistas, que o Cruzeiro já é tri. Tri da Libertadores. Conversa mais chata numa manhã de feriado, mas dos males, o menor: ali estava a minha salvação. Fiz a minha centésima tentativa de convidar alguém pra escrever sobre o Cruzeiro. __Dona Assunta, a senhora não quer escrever sobre o Cruzeiro no meu jornal, o Figueira? Ela respondeu na bucha: __Uai, se você escrever pra mim, eu falo tudo que você vai escrever, mas bota meu nome, hein? __Fechado! - respondi. __Então, anota aí: esses atleticanos, essa mulambada cuja sala de troféus parece a praia de Guarapari... __Opa, Dona Assunta. Praia de Guarapari? - Perguntei. __Sim, só tem mineiro lá... mas deixa eu continuar: fala pra eles, que o meu Cruzeiro já é tri da Libertadores. Pode vir quem quer que seja, tá no papo. Ontem, você viu, né? Arregaçamos aquele tal de Cerro Portenho. Aqui é Cruzeiro, meu filho! Aqui tem café no bule! Lugar de galo é na panela. E escreva aí nesse seu jornal: tem promoção de secador lá nas Casas Bahia... Vai lá, galinhada! Dona Assunta é aposentada. Como só tem o curso de Madureza Ginasial (incompleto), pediu ajuda ao jornalista Tim Filho para escrever sobre seu time, o Cruzeiro, claro.

Documentário da Pantera é selecionado em festival internacional de cinema A Pantera está de volta à elite do futebol mineiro e os seus 82 anos de história estão no maior festival de cinema sobre futebol da América Latina. Escrito, produzido e dirigido pelo repórter deste Figueira, Fábio Moura, o longa documental Pantera é uma das 16 obras que participam da mostra competitiva internacional do 5° Cinefoot. O documentário valadarense, junto a outros brasileiros, concorre com filmes da Espanha, Holanda, França, Alemanha, Bulgária, Inglaterra, Japão, Argentina, além de duas coproduções: Itália/Argentina e Bélgica/ Emirados Árabes/Iraque. O 5° Cinefoot – Festival de Cinema de Futebol será realizado no Rio de Janeiro, de 22 a 27 de maio; em São Paulo, de 29 de maio a 3 de junho, e em Belo Horizonte, de 30 de maio a 4 de junho, com entrada franca em todas as sessões.

Capa do DVD Pantera, o filme

Marcelo Cândido, o campeão da Elite Masculino, em uma das descidas mais velozes do circuito da Copa Big Mais de Mountain Bike

Logo em seguida, o Cinefoot parte para um tour nas doze cidades-sede da Copa do Mundo, entre 10 de junho e 12 de julho. Outras informações e a programação completa estão no site cinefoot.org e na página Pantera – o Filme, no facebook. Até lá, maior do interior.


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