Figueira 5

Page 1

PANTERA VOLTA À ELITE Com uma vitória épica sobre o Social FC, a Pantera voltou ao Módulo I do Campeonato Mineiro 2015. O Figueira conta como foi e dá um super presente ao torcedor: um poster gigante do EC Democrata. Páginas 8,9 e 16.

O site Climatempo prevê chuva para o fim de semana em Governador Valadares, principalmente na sexta-feira. Temperatura:

26o MÁXIMA

17o

www.figueira.jor.br

MÍNIMA

FIM DE SEMANA DE 25 A 27 ABRIL DE 2014

“Não conhecemos assuntos proibidos”

FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS

EXEMPLAR: R$ 1,00 Fábio Moura

ANO 1 NÚMERO 5

Facebook / Figueira Twitter: @jornalfigueira

Vítimas de falências múltiplas das políticas públicas, a população de rua segue como pauta de um intenso debate. Espaço comum pra quem? Direito de ir e vir pra todos? Páginas 12 e 13

Ombudsman

Todo dia é Dia do Índio

O jornalista José Carlos Aragão, ombudsman deste Figueira, tece mais críticas ao jornal, desta vez, “aristotelicamente falando”.

Cultura

Katiane Adilson

Dia 19 de abril foi o Dia do Índio. Neste Figueira, a partir desta semana, todo dia será Dia do Índio. A nova geração Krenak vai escrever semanalmente a coluna “Kiém Erehé”, contando o dia a dia da aldeia Krenak, em Resplendor. Douglas, jovem jornalista, segue os passos de seu pai, o grande líder índigena do Vale do Rio Doce, Waldemar Krenak (foto de fundo), a quem esta edição é dedicada. Leia também, nas páginas 10, 14 e 15 como foram as comemorações do Dia do Índio em uma das aldeias Krenak.

Não há como negar que o Figueira tem uma pegada política forte, em sua linha editorial. Se analisarmos página a página, estão lá todos os elementos que caracterizam essa opção. Muitas matérias e reportagens especiais buscam claramente provocar o debate e sacudir o leitor.

Página 10

Notícias do Poder O jornalista José Marcelo traz as notícias mais quentes, direto de Brasília, na coluna Notícias do Poder, que virou leitura obrigatória neste Figueira. Inteligente e espirituoso, José Marcelo fala de coisas interessantes, como esta reclamação tucana:

Um deputado tucano chegou a reclamar que às vezes parece que o senador Aécio Neves quer ser eleito presidente da República, mas não está disposto a disputar a eleição Página 4

Entrevista Hercílio Diniz Hercílio Diniz, empresário, dono dos Supermercados Coelho Diniz, é o entrevistado desta edição. Ele conversou sobre vários temas, dentre estes, o fechamento dos supermercados aos domingos.

Na minha opinião deveria ser livre. Aquele que quisesse fechar às 14h, fechasse. Aquele que não quisesse abrir, não abrisse. E aquele que quisesse funcionar ininterruptamente, que o fizesse. O que não pode, jamais, é retirar a liberdade de funcionamento da loja. Página 10

Fábio Moura

Grupo Pau Brasil é atração de domingo no Teatro Atiaia Música instrumental de alta qualidade. Este é o som do grupo Pau Brasil, que se apresenta neste domingo, às 19h, no Teatro Atiaia. De graça!

Página 7

Resenha literária “Só os fortes sobrevivem”, livro de Paulo Maloca, é resenhado neste Figueira Lançado na expoleste e à venda na Livraria Leitura, o livro “Só os fortes sobrevivem”, 2a edição, do ex-policial civil Paulo Orlando de Mattos (Paulo Maloca), foi lido e resenhado pelo jornalista Jaider Batista da Silva. “Da mesma forma, têm potencial de novo texto, as páginas 240 a 256 em que Mattos esboça, a partir de sua experiência, seus estudos e sua observação uma contribuição ao debate sobre segurança pública e sistema prisional. Nessa parte do livro, o autor escapa do senso comum e mostra lucidez. Incluo no momento de lucidez a sua racionalidade na avaliação do comportamento do colega delegado João Testa”.

Página 7


OPINIÃO 2

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril 2014

Editorial

Tim Filho

Educação, fair-play, boas maneiras...

O medo fez o Brasil se calar. A adulação instalou-se como norma de conduta social. Mais do que a repressão e a tortura, o legado perverso do golpe de 1964 foi ter mudado o comportamento social, fazendo do oportunismo um estilo de vida. Por acaso, não é o que perdura até hoje na política? Flávio Tavares, jornal Zero Hora, 30/03/2014

Não conhecemos assuntos proibidos O povo Krenak fez festa durante todo o dia 19 de abril. Festa interna, reunindo as várias aldeias da Área Indígena Krenak, a menos de 100 quilômetros de Valadares. O Figueira não só relata, como o faz pela narrativa e pelas fotos dos próprios Krenak. A ênfase foi dada por eles e por elas: avaliação do que a ditadura militar causou-lhes de destruição. A edição em que o Figueira apresentou a população de rua de Valadares, sob a manchete Pessoas Invisíveis, gerou repercussão. Nossos repórteres voltaram às ruas e apresentam agora os Problemas Visíveis, que resultam do difícil convívio entre moradores de rua, usuários das praças e lugares públicos, comerciantes, feirantes, polícia. Hercílio Coelho Diniz, supermercadista, conta em entrevista como foi voto vencido na questão do funcionamento dos supermercados em finais de semana e feriados, fala das demissões que têm ocorrido e o quanto de prejuízo essa decisão causa à sociedade como um todo. A torcida do Democrata ganha um pôster especial, comemorativo da passagem para a elite do futebol mineiro e os leitores ganham uma resenha do livro Detetive Paulo Maloca – só os fortes sobrevivem. A partir desta edição, o nome Figueira passa a ser acompanhado do antigo slogan do jornal O Combate: “Não conhecemos assuntos proibidos”. O inominável O maior mal que 64 fez a Valadares foi nos colocar no lado errado da História e fazer a cidade regredir ao inominável. Não há nome para esse clima que reina aqui. Para quem estudou, trabalhou e viveu fora, não há como entender o silêncio obsequioso, as entrelinhas, as frases inacabadas, o dito pela metade, a incapacidade de comprometer-se com algo. Na Redação, ouvimos de um jovem que ao perguntar ao pai o que fazia e o que viu naquele 1º de abril de 64, ouviu:”Nada. Eu estava jogando buraco”. Não parece drama de intelectual. Quando se escutam pessoas simples que viveram em Boston e tentaram regressar, a maior dificuldade que narram não é econômica, não é política. É, em outras palavras, o inominável, que ficam tentando entender e não entendendo voltam a Boston, onde é possível ser valadarense sem viver esse clima que paralisa. É nossa maior tarefa - do espírito, entendendo como coisas do espírito as da cultura de um povo e não reduzindo o espírito humano às religiões. Basta lembrar Gorbachev declarando que a Rússia necessitava urgentemente de uma revolução espiritual. Ateu, reportava-se à necessidade de romper o estreitamento cultural que as décadas de comunismo e autoritarismo haviam imposto. No Brasil, encontramos tradução para esse estreitamento no que o jornalista Flávio Tavares, do jornal gaúcho Zero Hora (30/03/2014) registrou: “O medo fez o Brasil se calar. A adulação instalou-se como norma de conduta social. Mais do que a repressão e a tortura, o legado perverso do golpe de 1964 foi ter mudado o comportamento social, fazendo do oportunismo um estilo de vida. Por acaso, não é o que perdura até hoje na política?”. A adulação como norma de conduta social e o oportunismo são parte desta inominável opressão cultural a que fomos submetidos, que o Jornalismo e a imprensa livre têm a tarefa de denunciar e romper.

Expediente Jornal Figueira, editado por Editora Figueira Ltda. Av. Minas Gerais, 700/601 - Centro - CEP 35.010151 Governador Valadares - MG - Telefone (33) 3277.9491 - E-mail redacao.figueira@gmail.com

São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica. Diretor de Redação Alpiniano Silva Filho Conselho Administrativo Alpiniano Silva Filho MG 09324 JP Áurea Nardely de M. Borges MG 02464 JP Jaider Batista da Silva MTb ES 482 Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES Diretor Jurídico Schinyder Exupéry Cardozo

Conselho Editorial Áurea Nardely de Magalhães Borges Edvaldo Soares dos Santos Jaider Batista da Silva Lúcia Alves Fraga Luiz Eduardo Simões de Souza Regina Cele Castro Alves Sander Justino Neves Silvia Perim Sueli Siqueira Maria Terezinha Bretas Vilarino Artigos assinados não refletem a opinião do jornal

Parlatório

A educação de crianças com necessidades especiais deve ser inclusiva, na rede regular de ensino?

O artigo 208 da Constituição determina a Política Educacional Inclusiva SIM

Leila Salgado de Paula

O Brasil promulgou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, assinada em Nova York, em 30 de março de 2007 (Decreto 6.949/2009). Em 17 de novembro de 2011, foi regulamentada a educação especial e o atendimento educacional especializado (Decreto 7.611/2011). Assim, uma parcela significativa de brasileiros, que antes estavam no campo da assistência social ou da filantropia, passou a integrar o campo da educação regular, que se tornou especial e inclusiva para todos. As responsabilidades pela educação são repartidas entre a União, os estados e os municípios. A educação infantil é responsabilidade do município e o ensino fundamental é obrigação compartilhada entre município e estado. Os recursos municipais para educação, independentemente de serem próprios ou repassados pelo governo federal e estadual, devem ser exclusivamente aplicados para atender a educação infantil e o ensino fundamental. A educação especial e o atendimento educacional especializado devem ser feitos na esfera da educação regular, garantindo o acesso e permanência de todas as crianças e adolescentes na escola – independentemente das suas características, dificuldades ou necessidades. Governador Valadares criou o Centro Municipal de Referência em Educação Especial Inclusiva (CRAEDI) para apoiar o processo de escolarização do aluno com necessidades especiais, desde a Educação Infantil até a conclusão do Ensino Fundamental, contemplando ações para

a inclusão e o desenvolvimento do aluno, o trabalho com a família e a capacitação dos educadores das escolas regulares. O CRAEDI atende a 480 alunos com necessidades especiais, sendo estas: altas habilidades (superdotação), deficiência intelectual, deficiência física, deficiência visual, surdez, deficiência múltipla, autismo e psicose. Além do atendimento pelo CRAEDI, a Secretaria Municipal de Educação coloca à disposição profissionais de apoio à acessibilidade na sala de aula regular, como intérpretes de LIBRAS para alunos com Surdez, e monitores de apoio para alunos com deficiência múltipla e autismo. Com estas ações, o município de Governador Valadares tem se posicionado com destaque, entre os municípios brasileiros, pela criação de um sistema educacional inclusivo. A cada ano cresce o número de alunos com necessidades especiais incluídos em escolas regulares e, consequentemente, aumenta a rede de serviços de apoio oferecidos.

CRAEDI atende a 480 alunos com necessidades especiais, sendo estas: altas habilidades (superdotação), deficiência intelectual, deficiência física, deficiência visual, surdez, deficiência múltipla, autismo e psicose.

Leila Salgado de Paula é pedagoga e coordenadora do CRAEDI

A APAE não faz discurso, trabalha de forma eficaz pela inclusão social NÃO

Rogério Morais

O governo federal e congresso estão criando uma polêmica sem precedentes em torno do funcionamento das APAEs e da educação inclusiva, e a discussão nada mais é que uma tentativa de desviar a atenção da sociedade para um problema que considero gravíssimo: a incapacidade das escolas de receber os alunos especiais de forma humana e inclusiva. A tão falada educação inclusiva, que o governo federal, por meio do Ministério da Educação, espalha como instrumento de propaganda governamental, não funciona. Cito como exemplo uma garotinha, com síndrome de Down, cuja família é amiga da nossa APAE. Esta garotinha, desde os 5 anos de idade, foi “incluída” em uma escola regular. Ao completar 15 anos, sua família promoveu uma festa, realizando o sonho desta mocinha, de ter a sua festa de debutante. Convidou todos os colegas de escola, professores, funcionários. Ninguém foi. Discriminação? Preconceito? Sim, claro que foi. Isso não aconteceria se a mocinha debutante estudasse na APAE. Por quê? Porque a APAE faz a inclusão por completo, com profissionais altamente qualificados. A APAE faz uma inclusão educacional e uma inclusão social. Esta é a diferença. É uma inclu-

são muito além da acessibilidade à sala de aula. Nossos alunos são preparados para a vida social, no esporte, na cultura, nas relações humanas. Com os projetos que desenvolvemos, buscamos recursos e mantemos infraestrutura completa, com profissionais e espaço físico. Desde forma, os nossos alunos são atendidos de forma digna, desde a infância até a idade adulta. Afirmo, com toda a convicção, que a inclusão proposta pelo governo federal é ineficaz. É bonita, apenas no discurso, que tem uma carga de propaganda muito poderosa. Na prática não funciona. A APAE realiza um trabalho palpável. Não fazemos discurso, trabalhamos, incluímos os alunos especiais na vida social por meio de ações eficazes. Temos de continuar com este trabalho, não apenas em Valadares, mas em todo o Brasil.

Afirmo, com toda a convicção, que a inclusão proposta pelo governo federal é ineficaz. É bonita, apenas no discurso, que tem uma carga de propaganda muito poderosa. Na prática não funciona.

Rogério Morais é presidente da APAE-GV


CIDADANIA & POLÍTICA 3

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril de 2014

Da Redação

Memória

Conversa entre machos

Sacudindo a

Miguel Maron

Figueira A figueira precipita na flor o próprio fruto

Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino

O Figueira dedica esta edição ao líder Krenak Waldemar Adilson, Nadil ou Itcho-tchó, que partiu há quatro anos, deixando um legado extenso de luta incansável contra o arbítrio, contra o governo militar, contra as imperfeições da nossa democracia brasileira que ainda confina os povos indígenas ao espaço da negação do direito. Lutou o tempo todo em favor do retorno do povo Krenak para o território tradicional do Watu – o Rio Doce, em favor da cooperação construtiva entre índios e não-índios, em favor de relações autônomas de seu povo com povos nativos da Austrália, do Canadá, de toda a América do Sul, lugares para onde viajou ou enviou jovens da aldeia, e onde estabeleceu laços, como um diplomata, um estadista. Sob a sua liderança, o povo Krenak deu o salto de organização e autonomia econômica e cultural representado nas condições de vida que desenvolvem desde 1997 no seu território tradicional.

Reprodução Youtube

Cemig: que papelão

O grande líder dos Krenak

Em tempos de eleição, tudo pode acontecer. Tudo mesmo. A última novidade é a propaganda “com contornos eleitorais”, veiculada pela Companhia Energética de Minas Gerais. A Cemig, controlada pelo PSDB, fez veicular um comercial na TV em que o ator Jonas Bloch diz: “A tarifa da Cemig NÃO é decidida pela Cemig, mas pelo governo federal”. Graças a Deus, não é somente a Cemig que decide, senão estaríamos a pagar o maior aumento de energia do país, pois o que a Cemig esconde da população, num jogo raso de manipulação eleitoreira, é o fato de ter solicitado à Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel um aumento de 29,74%. A Aneel autorizou um aumento máximo de 14,24%, aplicado na totalidade pela Cemig, quando poderia, a seu critério, ter sido um aumento menor. Diante da propaganda enganosa, em 14 este mês o PT estadual reagiu, protocolando no Tribunal Regional Eleitoral – TER/MG representação contra a Cemig, “que cobra até 30% de ICMS na sua tarifa de energia, o maior índice do país”, pedindo a interrupção da campanha publicitária e aplicação de multa. O governo mineiro nega o caráter eleitoreiro da propaganda e afirma se tratar apenas de “esclarecimento sobre um assunto técnico, ou seja, de como

Nas muitas conversas que Lula tem mantido com empresários e investidores, plateias muito masculinas, ele insiste: “É um privilégio para o país ter uma pessoa como a Dilma. É dura como toda mulher. Acha que uma mulher pode ficar se arreganhando como o homem? É a mulher tendo sucesso num lugar que era para homem. Alguém já imaginou a Angela Merkel contando piada?”

se dá a revisão tarifária e a definição do percentual de reajuste”. O governo federal também reagiu, autorizando o Ministério de Minas e Energia a veicular um comercial na TV em que rebate o comercial da Cemig: “É falsa a afirmação da Cemig de que o reajuste na conta de luz dos mineiros é decidido pelo governo federal”, diz o anúncio que explica os fatos acima citados. A propaganda da Cemig já saiu do ar.

Crítica aos costumes I Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social, o ano de 2003, da transformação do programa Bolsa Escola em Bolsa Família, foi encerrado com 6 milhões de famílias incluídas. Passados 10 anos, daquele total pouco mais de 500 mil daquelas famílias permanecem como beneficiárias do programa. Contrariando o discurso conservador que aponta, com base apenas na intuição e no preconceito, que o programa é gerador de preguiça, de acomodação e de rejeição ao emprego, mais de 90% das famílias deram o passo seguinte em uma década: o passo da dignidade pessoal, da emancipação, da capacitação profissional, do emprego que permite integrar a nova classe trabalhadora brasileira. Deixaram o Bolsa Família para trás.

Crítica aos costumes II Ao contrário desse registro de dignidade dos beneficiários do Bolsa Família, vai o registro da esperteza em Valadares: a Lei que regulamenta o Comércio Ambulante em Valadares impõe como condição para se obter a licença a situação de carência socioeconômica, ou seja, a pobreza extrema. Mas, entre as cerca de 200 licenças vigentes, está a de vereador, cujo salário de quase 9 mil reais e os seguidos mandatos não o constrangeram a dar baixa. Seguindo o exemplo, está o camelô do Box 14 do Beco do Canguru, que passou no concurso municipal e foi nomeado como fiscal de transporte e trânsito, mas até agora não se mexeu. Tem preferido ficar com o apito e com a barraca. Os próprios camelôs deveriam denunciar esse tipo de malfeito, que leva a cidade toda a suspeitar se as licenças obedecem de fato ao critério de socorrer emergencialmente a quem está sem emprego e renda. Os vereadores que fizeram a Lei deveriam colocar limite para a esperteza do colega.

Crítica aos costumes III A síndrome de autoridade, que leva de fazendeiros a policiais a dar carteirada em eventos em Valadares, levou a uma situação muito constrangedora, na noite da sexta-feira, 11 de abril. Na portaria da Expoleste, o ingresso custava apenas 4 reais. Mas, em vez de se submeter às regras de razoabilidade – pagar, entrar e aproveitar – o moço argumentava para poder entrar sem pagar e com exclusividade: “Sou presidente do Conselho Municipal de Saúde”. Até tu, companheiro?

Viés “Aécio e Eduardo Campos são pessoas competentes e acho que têm lá as suas oportunidades, mas até agora não vi nada, vi um pouco mais do mesmo. Seguramente, dariam um pouco mais de espaço para o mercado funcionar. Mas deixa eu dizer uma coisa: eu tenho uma inclinação, um viés. Tenho admiração pela Dilma porque ela é absolutamente correta” – Antonio Delfim Netto, economista – O Estado de S. Paulo, 30/03/2014.

E o Demô sacudiu a Figueira, literalmente! Dá-lhe Demôoooooooooo!

Jayro desiste e unge

Botar fogo no país Para ganhar visibilidade (sic) a Força Sindical promete paralisação geral às vésperas do início da Copa e greves sucessivas já a partir de primeiro de maio. A Central promete parar uma categoria a cada semana e, se necessário, para prolongar as greves, caso sejam consideradas ilegais, pagará as multas aplicadas pelos Tribunais aos Sindicatos. Em matéria publicada na Folha de S. Paulo, caderno Mercado, de sexta-feira, 18 de abril: Central programa maratona de greves semanais antes da Copa, o presidente licenciado da Força, deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho do Solidariedade, explica a motivação para as greves: “ninguém está contra a Copa, mas ela ajuda na visibilidade, que pode ser até internacional”. Assim, pretendem criar o caos tão amplamente anunciado, já que, ao que tudo indica, haverá Copa sim, e não será um fiasco como apregoaram e apregoam os mensageiros do apocalipse.

Pede pra sair Não precisou do Capitão Nascimento. Da turma médica que estava na Estratégia de Saúde da Família em Valadares antes do Mais Médicos, 27 pediram para sair. Tinham contrato de 8 horas diárias de atendimento à população, com salário para isso, mas trabalhavam apenas uma ou duas horas diárias, diante das vistas grossas do Sindicato de Médicos, da Associação Médica, do Conselho Municipal de Saúde, do Ministério Público e de sucessivos governos. Emprego sim, trabalho não. Com o Programa Mais Médicos e a certeza de que médicos cubanos cumprem contrato e dedicam 8 horas diárias ao atendimento, ficaram sem saída. Expostos na prática lesiva à população, pediram pra sair.

Não é “fé cega faca amolada” O jornalista Juan Arías, do El País, o mais importante jornal da Espanha, publicou no 15 de abril entrevista com Marina Silva. Estava preocupado com os pendores religiosos de Marina. Mas, registrou: “Marina, que é uma leitora da Bíblia, me lembrou da passagem do Gênesis, 21,33, na qual se conta que Abraão, considerado o patriarca dos crentes, já ancião, plantou uma árvore, um tamarineiro. Comentou que alguém poderia considerar inútil aquele gesto do patriarca já que, dada sua avançada idade, ele não veria a árvore crescida. Não entendi naquele momento o que tinha a ver aquela passagem bíblica com os políticos pouco amados pelas pessoas. Ela me explicou que Abraão quando plantou o tamarineiro sabia que não seria para ele. Ele o fez pensando na próxima geração. Era um gesto de altruísmo. Os políticos, ao contrário, segundo Marina, fazem quase tudo em função do imediato, para tirar proveito pessoal, sem pensar num projeto de país ou de cidade para os que virão depois dele 20 anos mais tarde. Tudo isso porque, em geral, os políticos, segundo ela, pensam mais na sua reeleição do que nos programas de longo prazo que não lhes servirão para isso, como os de defesa do meio ambiente.” Juan Arías concluiu que, a apontar defeitos em Marina, não será o de ser crente, pois isso não a faz irresponsável nem sectária.

ZapZap! Em muitas regiões do interior nordestino, trinta anos atrás, o refrigerante 7up (Seven Up) era chamado pelo povo de Zup: “Me dá um Zup, moço!”. Agora, popularizado nos canteiros de obras e entre o pessoal dos serviços, o Whatsapp é o ZapZap: “Você me passa um zapzap”. Permite texto, imagem e som. De fácil uso, caiu nas graças da população.

Nos bastidores da política local é dada como certa, por motivos de saúde, a desistência do deputado estadual Jayro Lessa à candidatura à reeleição. Até antes da cirurgia a que se submeteu dias atrás em Belo Horizonte, era certo que concorreria à reeleição fazendo dobradinha com ex-vereador Euclydes Pettersen, que tentaria vaga na Câmara Federal. Tudo mudou: o ex-vereador Euclydes Pettersen tentará ocupar o lugar do seu padrinho na Assembleia Legislativa. Para quem não se lembra, Euclydes foi candidato a viceprefeito do médico Augusto Barbosa (PSDB), mas desistiu no meio da campanha. É o ungido de Jayro Lessa para a Assembleia.

A oposição continua empacada A cada pesquisa, um susto. Para o governo? Não, para a oposição que não sai do lugar. Vejamos: 38% no DataFolha, 37% no Ibope e 40% no Vox Populi. Estes são os índices de intenção de voto da pré-candidata à reeleição Dilma Rousseff. Isto em tempos de muitas notícias ruins para a presidenta: Pasadena, CPIs, pibinho 2013, divisão na base aliada, entre tantas outras, verdadeiras ou forjadas, novas ou requentadas. Dilma não se mexe. Bateu no teto, dizem os oposicionistas desesperados, já que seus pré-candidatos também não se movem. No cenário mais provável: Dilma, Aécio, Eduardo, Pastor Everaldo, Levy Fidelix e Randolfe Rodrigues, Dilma tem 40% e os adversários somados 23%. Fossem hoje as eleições e Dilma venceria facilmente no primeiro turno, neste ou em qualquer outro cenário. Na hipótese remota de um segundo turno, Dilma venceria Aécio por 47% a 20%, Marina Silva por 45% a 21% e Eduardo Campos por 47% a 16. Oposição empacada, o jeito é “botar fogo no país”.

Ainda faltam 700 crianças A Escola em Tempo Integral do Município recebeu o reconhecimento do Governo de Minas e da Presidência da República em recentes premiações do ODM - Objetivos do Milênio, estadual e nacional. Entretanto, pelo menos 700 crianças na idade do ensino fundamental ainda estavam fora da escola em Valadares, como indicou o censo de 2010. É tarefa do governo municipal integrar as suas ações, colocar as equipes das escolas para fazer busca ativa, localizar e incluir essas crianças.


POLÍTICA 4

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril 2014

Eleições no SJPMG

D’outro lado do Atlântico

Chapa 2 vence

A arrogância de Aécio vai liquidá-lo nas eleições José Peixe / De Lisboa A intervenção de Aécio Neves, senador e candidato do PSDB às próximas eleições presidenciais brasileiras, no 27.º Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, veio confirmar que a sua arrogância política é desmesurada e isso vai acabar por liquidá-lo. Na qualidade de jornalista estrangeiro, tive a oportunidade de assistir “in loco”, ao 27.º Fórum da Liberdade, que decorreu nos dias 7 e 8 de abril, no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Um Fórum Neoliberal que deixou muito a desejar, uma vez que a maioria dos palestrantes decidiu apenas criticar a atuação do governo da presidente Dilma Rousseff e do PT (Partido dos Trabalhadores). Deixou também muito a desejar no que diz respeito à Liberdade, pois no momento em que um estudante da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) tentou fazer uma pergunta ao pré-candidato tucano à Presidência da República do Brasil, foi expulso brutalmente do auditório e vaiado pela maioria dos congressistas. O estudante apenas questionou Aécio Neves sobre o seu envolvimento ou não naquele episódio do helicóptero da família Perrella, que foi apreendido em novembro passado, na zona rural de Afonso Cláudio, no Espírito Santo, com 445 quilos de pasta de cocaína. E como é do conhecimento público, a família Perrella já demonstrou apoio ao senador Aécio Neves. Na ótica de Aécio Neves, “é necessário avançar com uma profunda mudança governamental no Brasil, porque tem havido um excesso de intervencionismo estatal e uma incompetência política na governação do país”. Mas o tucano não se ficou apenas por aqui. “O estado já ajuda imenso se não atrapalhar

. .

É evidente que não me compete a mim defender a atual Presidente Dilma Rousseff e muito menos o PT. Mas como jornalista há mais de 27 anos, percebo que estas críticas primárias acabam por virar-se contra o próprio Aécio Neves. Ou seja, vira-se o feitiço contra o feiticeiro.

O que ele se esquece é que não são os neoliberais que vão decidir quem vai ganhar as próximas eleições presidenciais no Brasil. São os eleitores mais pobres que tendem a reeleger Dilma Rousseff. E Aécio Neves terá sido vítima da sua própria arrogância política.

Aécio Neves aproveitou o 27.º Fórum da Liberdade para fazer um comício político e afirmar-se como o grande salvador da pátria brasileira. Mas, acabou por cometer um erro crucial quando decidiu criticar ferozmente o Mercosul, que na sua ótica tem feito «alianças ideológicas e acordos com países insignificantes do ponto de vista comercial”.

a iniciativa privada no processo de criação de riqueza e de postos de trabalho”. Sendo a plateia maioritariamente neoliberal, Aécio foi muito aplaudido. Rejubilou o ex-governador de Minas Gerais. O que ele se esquece é que não são os neoliberais que vão decidir quem vai ganhar as próximas eleições presidenciais no Brasil. São os eleitores mais pobres que tendem a reeleger Dilma Rousseff. E Aécio Neves terá sido vítima da sua própria arrogância política. O pré-candidato tucano não teve pejo em criticar severamente a atual Presidente Dilma Rousseff: “no Palácio do Planalto governa-se mal e apenas se dão privilégios aos amigos do partido”. Acusação que revela alguma inoperância estratégica para quem pretende ser eleito Presidente do Brasil.

“Está na hora de uma mudança radical e do Brasil voltar a fechar acordos de livre comércio com países mais desenvolvidos, sem essa camisa de força ideológica bolivariana. E chegou o momento de preservar e defender empresas estatais como a Petrobras. Não podemos continuar a ser governados por gente medíocre e incompetente”, afirmou Aécio Neves. A meu ver, serão intervenções como esta que vão acabar por esmagar eleitoralmente o candidato tucano. Não é preciso ser politicólogo para perceber isso. Basta conhecer um pouco do Brasil rural e pobre. Basta estar atento à realidade política brasileira. É óbvio que a Presidente Dilma Rousseff tem cometido algumas gafes políticas. Mas, deixo apenas um recado a Aécio Neves: “Não é com vinagre que se apanham moscas.” José Valentim Peixe é jornalista, doutor em Comunicação.

O presidente eleito do SJPMG disse que a principal missão da nova diretoria será levantar a autoestima dos jornalistas, que vivem seu momento mais difícil desde o fim da ditadura. “Estamos enfraquecidos pelo fim do diploma, pela precarização das condições de trabalho e pelos salários rebaixados. Precisamos nos unir e mostrar que os jornalistas são importantes para a sociedade, e o instrumento para isso é o Sindicato”, disse Kerison Lopes. Ele avaliou que a vitória da sua chapa demonstrou que os jornalistas entenderam este recado e o aprovaram. Ele citou como tarefas para os próximos três anos aumentar a filiação, atrair as novas gerações de jornalistas, realizar pré-sindicalização de estudantes e diversificar a atuação do SJPMG, promovendo atividades culturais e assistenciais. “O Sindicato dos Jornalistas precisa abrigar toda a categoria”, disse. Outra preocupação da diretoria eleita é incorporar os jornalistas que atuam em novas formas de trabalho. “A maioria dos profissionais hoje talvez não trabalhe mais em redações”, observou. “Os jovens jornalistas desconhecem a força que o Sindicato sempre teve. Queremos que daqui a três anos todos os profissionais tenham orgulho de ser jornalistas, que nenhum jornalista queira mudar de profissão.” (sjpmg.org.br)

. .

Notícias do Poder José Marcelo / De Brasília Divulgação

Sucessor definido

A ala majoritária da bancada do PT levou em consideração a experiência do deputado federal Luiz Sérgio (PT-RJ) como ministro das Relações Institucionais e da Pesca, para indicá-lo à vice-presidência da Câmara. Ele entra no lugar de André Vargas (PT-PR) que renunciou ao cargo para se defender do processo por quebra de decoro parlamentar. A definição do nome de Luiz Sérgio foi rápida, mas não consensual. Paulo Teixeira (PT-SP) e José Guimarães (PT-CE) entraram no páreo. Contra Guimarães teria pesado o fato de ele ser irmão de José Genoíno, condenado pelo esquema do mensalão, e por ter um vídeo circulando nas redes sociais em que ele diz que depois da reeleição de Dilma Rousseff o PT teria pronta uma manobra para controle da mídia. Neste momento, todo ponto de desgaste tem de ser evitado, segundo parlamentares do PT.

E sobre Vargas?

Parte da bancada do PT já dá como certa a cassação do deputado federal André Vargas (PR), acusado de envolvimento com o doleiro Alberto Yousseff. Mesmo que escape no Conselho de Ética, o deputado deve ser mandado para degola no Plenário, onde o voto agora é aberto e onde os parlamentares se sentem pressionados pela opinião pública. A corrida, segundo um deputado que pediu para não ser identificado, é para descolar mais esta crise da imagem de Dilma Rousseff. É mais ou menos o que fizeram os aliados do então presidente Lula, que não sabia de nada

.

A chapa 2, “Movimento Pra Sacudir”, liderada por Kerison Lopes, venceu a eleição para a diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais no triênio 2014-2017. Ela recebeu 235 votos (58,6%), contra 158 (39,4%) dados à chapa 1, liderada por Adriano Boaventura. Houve sete votos nulos e um em branco (2%). Votaram 401 dos 904 jornalistas apto. O candidato derrotado avaliou que a Oposição saiu fortalecida e se enriqueceu tanto pessoalmente quanto politicamente.

Dirceu abandonado

Por falar em PT/crise, se depender da cúpula do partido, o exministro José Dirceu vai mofar na cadeia. O desabafo foi feito por uma fonte da legenda, que disse que o nome do ex-ministro é assunto vetado nas reuniões da cúpula petista. Segundo esta mesma fonte, o abandono a José Dirceu seria uma recomendação da coordenação de campanha da presidente Dilma Rousseff, na tentativa de descolar a imagem da candidata à reeleição dos envolvidos no escândalo do mensalão.

. .

Inabilidade da oposição

Para quem acompanha apenas superficialmente o noticiário, pode parecer que o PT e o governo estão sob uma onda de ataques, comandados pela oposição. Mas segundo um cientista político, coordenador de uma das mais importantes agências de consultoria de crises do país, até agora a oposição não demonstrou competência sequer para surfar na onda desta crise.

Olha a maldade Um deputado tucano chegou a reclamar que às vezes parece que o senador Aécio Neves quer ser eleito presidente da República, mas não está disposto a disputar a eleição.

. .

Com transporte?

O ministro das Cidades, Gilberto Magalhães Occhi, até apresentou dados dos projetos de mobilidade urbana, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social (CDES). Trata-se de um pacto para melhoria do transporte coletivo, baseado em uma tarifa mais barata, maior transparência, controle social e mais qualidade para a população, segundo ele. Faltou dizer como e quando.

Perderam o bonde

Sem trilhos I

O balanço da Polícia Rodoviária Federal, que apontou 136 mortes e 2.726 acidentes nas rodovias federais durante o feriado prolongado da semana santa, reflete uma aposta equivocada que o Brasil fez nos anos 1960, quando abandonou o transporte ferroviário e investiu pesado nas rodovias. Como consequência, segundo a Associação Nacional de Transportadores de Pessoas Sobre Trilhos (ANPTrilhos) hoje, menos de 4% dos passageiros brasileiros usam transporte ferroviário, seja de longa ou de curta distância, como os metrôs, por exemplo, que atendem a poucas capitais.

Sem trilhos II

Justiça seja feita, nos últimos anos o governo federal vem sinalizando com a volta de investimentos na malha ferroviária. O problema, segundo um consultor dos investidores, é que a implementação das políticas do setor são feitas na velocidade da maria-fumaça e a necessidade da população cresce na velocidade do trem-bala. No dia 10 de fevereiro, no programa semanal de rádio, a presidente Dilma Rousseff afirmou que investir no transporte de passageiros sobre trilhos é prioridade do governo federal.

Recuerdo Só para lembrar: o único trem de passageiros que circula todos os dias no Brasil é o que liga Belo Horizonte a Vitória. Pena que a Vale parece menosprezar o tesouro que tem nas mãos e os maquinistas se neguem a dar informações turísticas das cidades cortadas pela composição. Falta orgulho.

Bem que o comando da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara queria aprovar a pauta indígena na semana em que se comemorou o Dia do Índio, mas os deputados não apareceram para o trabalho. Foram feitas tentativas na quarta e na quinta-feira da semana passada, mas faltou quórum. Na pauta estão sete propostas, como a que aumenta a pena para crimes contra indígenas, e a que reserva a eles ao menos uma vaga para deputado federal a cada eleição.

.

Novo frango

Com a saída de Marcelo Crivella para disputar o governo do Rio de Janeiro, o ministério da Pesca e Aquicultura deu uma pausa em um projeto que quer transformar o peixe no novo frango brasileiro. É que o consumo de pescado só aumenta no mundo e o Brasil tem o maior potencial do planeta para produção de peixe, não só em poços, mas também em rios, numa espécie de tanque de arame que os produtores poderiam espalhar nas águas do país. José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.


OPINIÃO

5

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril de 2014

Copa do Mundo

Incertezas sobre a Copa O jornal El País publicou em sua edição de 21 de abril, com chamada na capa, uma matéria intitulada “El rechazo incandescente de Brasil”, ilustrada com uma foto de manifestantes, alguns mascarados, queimando uma revista cuja capa trazia a identidade visual da Copa do Mundo 2014. No texto, assinado por Alejandro Ciriza, diretamente de São Paulo, o jornal afirma que 55% da população brasileira não aprovam a realização do Mundial, que acontece em junho, devido ao seu alto custo, que superaria os 10 bilhões de euros. A reportagem começa reconhecendo os avanços obtidos nos últimos 11 anos, afirmando que antes de Lula assumir a presidência o Brasil era “um gigante adormecido imerso na pobreza”, e que hoje, comandado por Dilma Rousseff, é a sexta maior potência do mundo. Porém, segundo o jornal, quase dois milhões de pessoas saíram às ruas nos protestos de junho de 2013, quando também surgiu a campanha “Não vai ter copa”. Que o Brasil é um país de contrates, não resta dúvida. Apesar de tudo o que já foi feito nesse âmbito, a pobreza e a miséria não são simples de vencer. E foi justamente a realidade da população de rua em Fortaleza, CE que levou um jornalista dinamarquês a abandonar a cobertura do Mundial. Pelo menos foi o que ele disse. A notícia, é claro, ajudou a reforçar o discurso de desaprovação à Copa no Brasil e encontrou eco não só nas redes sociais – de onde originou o post de Mikkel Jensen, compartilhado inclusive por Romário – mas também na imprensa. O caso mais emblemático foi o do site da Revista

Lígia Chagas

Que o Brasil é um país de contrates, não resta dúvida. Apesar de tudo o que já foi feito nesse âmbito, a pobreza e a miséria não são simples de vencer. E foi justamente a realidade da população de rua em Fortaleza, CE que levou um jornalista dinamarquês a abandonar a cobertura do Mundial.

Placar, da Editora Abril, que reproduziu o texto de Jensen. O jornalista Igor Natusch, então, estranhou o discurso do dinamarquês, que foi à cidade “mais violenta a sediar um jogo da Copa do Mundo”, conforme narra em seu post, se deparou com um problema social grave e decidiu, simplesmente, abandonar a pauta da vez. Romanticamente entristecido, ele voltou para a Dinamarca para não ser “usado para impressionar”. Natusch, é claro, fez o que devia ter sido feito desde o início: a investigação jornalística. Ele postou em seu Twitter o resultado de sua pesquisa simples no Google, pela qual descobriu que o sobrenome mais utilizado pelo dinamarquês, por exemplo, não é o Jensen, como foi repercutido aqui, mas Keldorf. Que seu perfil no Facebook, assim como o de sua namorada, não existia antes de fevereiro

de 2013, e as postagens, desde o início, são críticas à Copa do Mundo. Que não existem muitos textos atribuídos a Jensen publicados na Dinamarca, o que permite supor que se trata de um repórter freelancer (o blog Brasil Post, que publicou uma possível entrevista com o dinamarquês, afirma que a Fifa informou que ele não estava credenciado para cobrir o Mundial). “Ninguém sabe nada dele além do Facebook. A própria versão que apresentam sobre sua carreira e sua preparação para cobrir a Copa é a que ele próprio oferece, sem nenhuma investigação”, afirma Natush no blog Pragmatismo Político. As ONGs que tiveram contato com o jornalista dinamarquês em Fortaleza negam o conteúdo de suas denúncias. Pessoas que trabalham todos os dias com as crianças citadas por ele como ameaçadas de morte, em uma operação para “limpar” a cidade para a Copa, não reconhecem essa situação. O fato é que temos tido muitos exemplos disto nos últimos tempos, fomentado pelas redes sociais: a popularidade de um post gera a curiosidade dos jornalistas que, em alguns casos, sem apuração aprofundada, divulga a notícia como verdadeira. Não creio que esse seja exatamente o caso do jornalista dinamarquês, uma vez que tudo indica que ele realmente existe. O que mais estranha no caso é a falta de feeling jornalístico. Por que teria Jensen abandonado o que poderia ser a maior pauta de sua carreira?

Lígia Chagas é jornalista, mestra em Comunicação.

Associativismo

O desafio cooperativista para o transporte escolar rural Antônio Carlos Linhares Borges O governo municipal tem como uma de suas funções fomentar o desenvolvimento local, além da obrigação de zelar pelo bom uso dos recursos públicos. Em Governador Valadares, nessa perspectiva, o poder público pode se valer de uma lei, sancionada pelo prefeito Fassarella, que propõe incentivar o cooperativismo, não só induzindo, mas oferecendo também oportunidade a cooperativas na concorrência dos serviços públicos, inclusive podendo privilegiá-las em caso de empate nas licitações. Historicamente, o serviço de transporte escolar rural prestado ao município de Governador Valadares, até o ano da criação da CPTRANSLESTE - Cooperativa de Transporte do Leste de Minas Gerais acontecia com ocorrência de terceirização informal, prejudicando trabalhadores e desafiando leis trabalhistas e tributárias. As empresas ganhadoras da concorrência “contratavam” serviços de veículos pequenos sem qualquer formalidade legal, que vinham a realizar a maior parte da quilometragem contratada pelo município para o transporte escolar rural. Cabe ao município fiscalizar os veículos, suas condições de transporte, a satisfação dos usuários e a quilometragem rodada de cada veículo. Pelo que se sabe, em nenhum momento do passado foi verificado ou solicitado documento de terceirização dos serviços ou contratação de motoristas via carteira de trabalho. Em 2009, o Município de Governador Valadares, com a intenção de legalizar a situação do transporte – e certamente também de promover economia aos cofres públicos, realizou convenio com o Ciaat – Centro de Informação e Assessoria Técnica, com a finalidade de incubar cooperativas de prestadores de serviços. Inicia-se a história da CPTRANSLESTE, que, formalizada, passou a sonhar com a autonomia, se propondo a concorrer aos editais públicos. Embora o objetivo não tenha sido alcançado, hoje a situação do transporte escolar rural de Governador Valadares é legalizada através de terceirização efetiva de boa parte dos serviços. Para os cooperados, a vida melhorou muito. Passaram a receber uma remuneração líquida melhor e a ter o direito a garantias trabalhistas, assim como o pagamento de INSS, sem o qual trabalhavam sem a perspectiva da aposentadoria, a não ser que cada um se dispusesse a pagar seus impostos à parte e às custas de remunerações muito menores. Para os cofres públicos, apesar do recolhimento de impostos, o transporte escolar rural de Governador Valadares, persiste como o mais caro do Brasil, segundo pesquisas da própria Secretaria Municipal de Educação. Trata-se de um caso clássico, de formato conservador em administrações públicas, em que o poder público opta pela desconcentração – permitindo a terceirização do serviço, perdendo a oportunidade da descentralização: menos onerosa, participativa, e mais social. A partir de entrevistas, foi realizado um perfil da situação da CPTRANSLESTE. Na situação atual, a cooperativa recebe seus pagamentos diretamente das empresas detentoras do serviço municipal para a realização do transporte escolar rural, administrando todo o recurso internamente, e realizando a distribuição aos cooperados. Contrariando a tese de que cooperativas populares não têm capacidade para administrar recursos significativos, a CPTRANSLESTE realiza uma movimentação anual (dados de 2013) de R$ 1.753.800,00. Neste processo distribuiu R$ 1.513.953 aos cooperados. Através destes dados, observa-se a economicidade do cooperativismo. Cerca de R$ 180.000,00 retidos se destinaram a impostos, ficando pouco mais de R$ 60.000,00/ano de taxa administrativa, pois a cooperativa não opera com lucro. Daí a sua capacidade de trabalhar a custos menores para o poder público. Dessa forma, melhorou significativamente para o cooperado, comparando-se com a situação anterior, quando os motoristas recebiam menos de 50% do que recebem atualmente, mesmo sem o recolhimento do INSS. Comparando-se com o salário mínimo, segundo Geraldo Magela Alves dos Santos, presidente da Cooperativa, o ganho real representa quatro salários em média para cada motorista cooperado. Outras vantagens foram adicionadas ao cooperado, como desconto de 28% a preços de mercado na aquisição de insumos – peças de automóvel, pneus etc, e desconto em oficina mecânica, além de prioridade no atendimento mecânico. Há um desconto também de 3% na compra de combustível,

que no caso de motoristas profissionais representa diferença significativa. Tudo é administrado em um modesto, mas muito bem equipado escritório, com apenas duas pessoas a serviço, que são o próprio presidente, Magela, e a secretária executiva Desirre Neiva. Mais uma comprovação de capacidade administrativa e eficiência, que desbanca o discurso daqueles que não acreditam na capacidade da organização popular. Relativamente à capacidade de realização dos serviços municipais – operacionalização - a CPTRANSLESTE realiza com seus 47 veículos cerca de 60% da quilometragem do transporte rural em todo o município de Governador Valadares. Ela realiza um circuito diário de aproximadamente 7.000 Km dos cerca de 11.000 Km no total. Os serviços são realizados com motoristas moradores das próprias comunidades onde se situam as escolas, garantindo assim também um serviço social de melhor qualidade, já que os pais dos alunos e diretores (as) das escolas têm proximidade com o motorista. Quanto à economicidade para os cofres públicos, os serviços da cooperativa são realizados a um valor médio de R$ 2,76/Km rodado, incluindose nesta média o serviço de ônibus. Caso todo o transporte escolar rural de Governador Valadares fosse realizado pela cooperativa, dentro da média real de valores praticados em 2013, os custos para os cofres públicos seriam de pouco mais de R$ 3.000.000,00. Ao passo que o Município pagou mais de R$ 8.000.000,00. Considerando-se que as demais empresas que realizam o serviço (detentoras do contrato) fazem apenas 40% do transporte, pode-se depreender da economicidade do cooperativismo e dos significativos ganhos para a SMED, que poderia utilizar os milhões excedentes para a reforma das escolas de tempo integral, ou melhora na merenda escolar, por exemplo. O fato é que a Cooperativa, que fica com 1,7 milhão de reais dos 8 milhões de reais que a Prefeitura destina anualmente ao transporte escolar rural, ou 21% do valor, realiza 60% da quilometragem. Outra questão que gera argumentos de alguns, quanto à capacidade de prestação de serviços públicos pelas cooperativas, é no tocante ao poder público com certa frequência atrasar os pagamentos. Argumenta-se que em caso de falta de pagamento, os serviços seriam interrompidos imediatamente pelas cooperativas, pois estas não teriam condições de arcar com os ônus do serviço sequer por um ou dois meses de atraso. Perguntado sobre esta questão, o presidente da CPTRANSLESTE informa que no contrato com as empresas detentoras do serviço em Governador Valadares, há uma cláusula que garante a estas o não pagamento (repasse) à cooperativa em caso de não pagamento por parte do Município. Direito que, segundo Magela, tem sido observado rigorosamente. A cooperativa tem garantido os serviços algumas vezes com até três meses de atraso nos pagamentos, pois muitos motoristas são transportadores dos próprios filhos, filhos de vizinhos e parentes, nas comunidades onde atuam. Perguntado sobre as melhorias para os usuários após o advento da cooperativa no serviço, Magela explica que atualmente os veículos são mais novos, com média de 06 anos de uso, enquanto anteriormente havia muitos veículos com mais de 10 anos de uso. Com as compras coletivas de insumos e a melhoria salarial para os proprietários, a frota da cooperativa passa por manutenção constante e roda com pneus em boas condições, oferecendo um transporte mais seguro. O que gera uma reclamação geral dos cooperados são as estradas rurais de Governador Valadares. A CPTRANSLESTE, atualmente, tem 47 dos seus cooperados cobrindo as estradas vicinais, também chamadas de galhos, enquanto as 5 empresas detentoras do serviço buscam reservar para si as vias principais, mais conservadas, a maioria asfaltadas. As vicinais, segundo Magela, nunca estiveram em condições tão ruins desde que a cooperativa iniciou o transporte, com pioras a cada ano: “em 2013 não tivemos manutenção de 20% das estradas vicinais do município”.

Antonio Carlos Linhares Borges é administrador rural e advogado. É coordenador geral do CIAAT – Centro de Informação e Assessoria Técnica.

Para os cooperados, a vida melhorou muito. Passaram a receber uma remuneração líquida melhor e a ter o direito a garantias trabalhistas, assim como o pagamento de INSS, sem o qual trabalhavam sem a perspectiva da aposentadoria, a não ser que cada um se dispusesse a pagar seus impostos à parte e às custas de remunerações muito menores.

O fato é que a Cooperativa, que fica com 1,7 milhão de reais dos 8 milhões de reais que a Prefeitura destina anualmente ao transporte escolar rural, ou 21% do valor, realiza 60% da quilometragem.


AGENDA & SERVIÇOS 6

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril 2014 Katiane Adilson

Recado Capital Riquezas

ção cultural rica, outras pousadas, mais bares e restaurantes, mais visitas (com veículos saindo de vários pontos da cidade, levando e trazendo quem bebe ou quem não possui carro) e mais empregos. O poder público e a iniciativa privada têm um tesouro; riqueza que deve ser alternativa mais interessante e viável para um número maior de cidadãos.

Bob Villela / Belo Horizonte Passei o feriadão de Semana Santa + Tiradentes em São Sebastião das Águas Claras. O arraial, mais conhecido como Macacos, pertence ao município de Nova Lima e fica a uns 25 quilômetros de BH. Por menos de cinco reais você pode pegar um ônibus no centro da nossa capital e, com bom trânsito, em 30 minutos estará em uma dimensão completamente diferente. Dezenas de pousadas, bares e restaurantes - para vários gostos e bolsos - dão conforto e sabor a quem escolhe descansar e se divertir ali. Não há nada de absolutamente especial por lá. Nada que faça cair o queixo. Mas, inexplicavelmente, tudo dá liga e se torna singular - pelo menos pra mim, sempre que estive lá. Vejo Macacos como alguns times que fazem história e ganham muitos títulos mesmo sem ter grandes estrelas. Cada componente, com seu talento, com sua simpatia enorme e com dedicação admirável forma um conjunto forte. Um exemplo: estava na rua com minha namorada e nossas bagagens e um agente de trânsito da comunidade - que nunca nos viu antes - se preocupou em informar que o ônibus se aproximava, nos deu tchau e pediu que voltássemos em breve. Voltaremos, sim. Outro trunfo do lugar é ser tão próximo de BH. Em tempos de estradas caóticas, rodoviárias inviáveis e aeroportos idem, uma estratégia prática e teoricamente mais segura é fugir para perto de casa. No Brasil, viajar em feriados para descansar costuma produzir cidadãos mais cansados, estressados, passageiros de desatinos fazendo cruzadas para alcançar seus destinos (e passando perrengues para depois deixá-los). Viva Macacos! Tudo isso me faz lembrar do potencial imenso na nossa Ibituruna. Este precioso patrimônio pode ser mais bem oferecido a todos e se tornar, quem sabe, um Macacos, uma Serra do Cipó... Uma Ibituruna mesmo, dentro das proporções e do contexto, com programa-

Outra joia de Macacos é o Instituto Kairós. Trata-se de uma ONG, fundada em 2002, que realiza inúmeros projetos nas áreas de educação, cultura, saúde, meio ambiente e desenvolvimento social. Os programas abrangem desde as crianças até a terceira idade. O Clube Cultura, espaço mantido pela instituição na principal rua do arraial, é simplesmente delicioso. Há comida e bebida boa, uma biblioteca e uma charmosa lojinha, com artesanato, geleias, conservas, sabonetes, cremes e muito mais. Acesse o sítio deles na internet: www.institutokairos.org.br. Elas O Memorial Minas Gerais Vale apresenta, até o próximo dia 29, a exposição “Elas, Madalenas”. O projeto, do fotógrafo Lucas Ávila, retrata o cotidiano de travestis e transexuais em BH; algo como cozinhar, cuidar de um cachorro etc. A proposta é mostrar ao público pessoas normais, que têm vidas comuns e merecem ser tratadas com muito respeito, longe do estigma da promiscuidade. Com uma câmera na mão e um nobre ideal na cabeça, o fotógrafo disparou cliques contra nossa pequenez e nosso preconceito. Quem estiver em BH pode dar um pulo à Praça da Liberdade, onde fica o museu, e fazer uma visita. A entrada é franca. E o Memorial Minas Gerais Vale é um espetáculo. Acesse: www.memorialvale.com.br.

Bob Villela é jornalista e publicitário Dona Inhazinha Rocha, torcedora símbolo do Democrata

A oposição ri do quê? Lucimar Lizandro tão ruim quanto falavam. Portanto, qualquer comemoração dos candidatos da oposição em referência aos dados divulgados pelo IBOPE é mero jogo de cena. Na verdade, estarão a pensar sobre o que fazer para evitar o desfecho fatídico que os espera em outubro próximo. Correção de rumo é a palavra de ordem. A aposta dos estrategistas do governo é o início do horário eleitoral, quando Dilma poderá rebater com mais veemência as acusações da oposição, poderá apresentar as principais ações da administração federal e mostrar um outro país que hoje não pode ser visto pela população, por uma ação concatenada entre a oposição partidária e seu braço midiático. Mantidas as condições de pressão e temperatura, Dilma Rousseff tem todas as condições de ser reeleita em outubro próximo, diante de uma oposição que não fala o que fará se for eleita, mas tem como única arma tocar fogo no país e derrubar a autoestima da população brasileira. Eis o desafio: a oposição apresenta um discurso convincente e reverte a expectativa de derrota ou será engolida pela própria estratégia.

O efeito mais direto do bombardeio intenso contra o governo e da criminalização da política tem sido o alheamento das pessoas ao debate político. A pesquisa apontou que 24% dos entrevistados pretendem votar em branco ou anular o voto, enquanto a soma dos votos dos candidatos oposicionistas totaliza 20%.

Lucimar Lizandro Freitas é graduado em Administração de Empresas pela FAGV e Especialista em Gestão Pública pela UFOP

Outra vez, a Polícia e um jovem negro e pobre Schinyder Cardozo O País, mais uma vez, assiste de forma estarrecida outro quase “caso Amarildo” no Rio de Janeiro. Outra vez, um jovem pobre, negro e morador de favela. Outra vez, a Polícia Militar do Rio de Janeiro carrega sobre os seus ombros a (quase comprovada) acusação de tê-lo torturado até a morte. O motivo? Muitos dizem que são os adjetivos que usei para descrever o dançarino DG, Douglas Silva, 26 anos, morador do Morro Pavão-Pavãozinho, próximo ao bairro de Copacabana, encontrado morto na comunidade. O certo é que grande parte de nossos jovens de baixa renda e (ou) moradores da periferia, senão a sua totalidade, já nasce com medo da Polícia. E com razão. Não é raro, pelo contrário, avistar tais jovens – negros, da periferia, sendo parados por policiais para as chamadas buscas pessoais, ainda que não haja qualquer suspeita contra eles. É uma rotina; tornaram-se comuns para esses jovens tais averiguações policiais, nas quais podem certamente ser encaminhados a uma Delegacia de Polícia, após passar tempão na humilhante “averiguação” em meio à multidão que assiste a tudo, em muitos casos com uma indignação sem asas. O medo que tais jovens sentem da Polícia é parecido com o medo que a chamada classe média e média-alta sente de um assaltante. Mais uma vez, com razão. Que o diga a família do DG. Aliás, o corpo do jovem Douglas só não desapareceu como o do Amarildo porque acharam-no jogado em um local da comunidade. A mãe afirma que policiais lhe disseram que o filho foi confundido com traficante. Mas, peraí, em sendo traficante, a PM já deve ir logo ceifando a vida?! Ainda que fosse traficante, não caberia tal atitude de quem devia zelar pela segurança alheia, pois há os instrumentos previstos no Estado Democrático de Direito.

Álbum da família Rocha

Mais riqueza

Cotidiano

A última invenção dos espertos é a criação de um tal dilmômetro. Significa uma relação direta entre a queda da intenção de votos em Dilma Rousseff e uma elevação do valor das ações das empresas estatais, além da queda do dólar. Trata-se de especulação em estado bruto. Solta-se o boato de que alguma pesquisa apresentará queda de intenção de votos para a presidente candidata a reeleição e a bolsa sobe e o dólar cai. Qualquer semelhança com o lulômetro em 2002 não é mera coincidência. O 17 de abril foi mais um dia de alta das ações das empresas estatais e de queda do dólar com base em boatos de que o Ibope divulgaria uma pesquisa, pela qual Dilma Rousseff teria desabado na preferência popular. No final do dia, após o fechamento do mercado financeiro vieram os dados da pesquisa do Ibope. Dilma Rousseff oscilou 3 pontos percentuais indo de 40% para 37%, Aécio Neves ganhou 1 ponto passando de 13% para 14% e Eduardo Campos ficou no mesmo lugar repetindo 6%. Considerando a margem de erro de 2 pontos percentuais para ou para menos, os candidatos oposicionistas ficaram no mesmo lugar. Parece que estão usando bota de chumbo. O efeito mais direto do bombardeio intenso contra o governo e da criminalização da política tem sido o alheamento das pessoas ao debate político. A pesquisa apontou que 24% dos entrevistados pretendem votar em branco ou anular o voto, enquanto a soma dos votos dos candidatos oposicionistas totaliza 20%. Em sentido contrário ao desejado, a estratégia oposicionista acabará por facilitar a vida da candidata a reeleição, na medida em que o aumento dos votos nulos e brancos diminui o universo dos votos válidos. Logo, mesmo com uma votação mais baixa, Dilma Rousseff poderá liquidar a fatura ainda no primeiro turno. Há de salientar ainda que Dilma Rousseff chegará “muito barata” ao horário eleitoral gratuito e a simples menção das principais ações do seu governo e a sua versão dos fatos levarão o eleitor a perceber que o país não estava

Memória da Figueira

Um dos maiores expoentes do movimento contra a violência policial cometida contra jovens negros de periferia, o rapper Mano Brown tem dito de forma reiterada não tolerar mais ficar de cabeça baixa para a Polícia, referindo-se às abordagens policiais dirigidas a esses jovens: “as mortes todas têm o mesmo perfil: moleque pobre em proximidade de favela. Os caras encontram várias fragilidades ali, várias formas de chegar, matar e sair rápido, e o governo simplesmente ignora o que aconteceu. Existem as facilidades. O cara vai lá e mata sabendo que não vai ser cobrado... 60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais já sofreram violência policial, a cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras”.

O certo é que grande parte de nossos jovens de baixa renda e (ou) moradores da periferia, senão a sua totalidade, já nasce com medo da Polícia.

Não que se pretenda que a Polícia Militar deixe de cumprir o seu papel ... mas, porque sempre jovem, negro e pobre?! Nem precisamos citar o caso da mulher no morro da Congonha, também no Rio de Janeiro que, após baleada pela PM, segundo relatos, foi arrastada por uma viatura policial. A impressão que fica é que a Polícia odeia o pobre no Brasil, o que tem feito com que a Polícia Militar perca, a cada dia mais, o seu maior patrimônio: a sua própria credibilidade. Schinyder Exupéry Cardozo é advogado e procurador geral do Município de Governador Valadares.

O céu está em festa Armia da Rocha e Silva. Mas podem chamar de Inhazinha. Ela chegou no Distrito de Figueira em 1908, com os irmãos Mário Rocha e Álvaro Rocha. Anos mais tarde, viu o futebol chegar por aqui, trazido pelo coletor de impostos Manso de Andrade. Foi rainha do Flamengo Football Club, na Figueira. Com a cisão no Flamengo, acompanhou os dois irmãos e foi torcer pelo Ibituruna Football Clube. De uma nova cisão no futebol da Figueira, do Ibituruna nasceu o Sport Club Democrata, em 13 de fevereiro de 1932, e Dona Inhazinha estava lá, firme e forte, guerreira, com sua inseparável sombrinha, que aberta a protegia do sol, fechada, protegia dos adversários. Mexeu com o Democrata? Dona Inhazinha mandava a sombrinha. João Rosado, filho do dentista Idelond Rosado, pioneiro da Figueira, disse certa vez: “Dona Inhazinha é tão importante para o Democrata, que a diretoria tinha de mandar erguer uma estátua pra ela”. Naquele briga de domingo, no gramado do Mamudão, certamente ela entraria para apartar. E com pouco ela colocaria todos os brigões no seu devido lugar. Como a nação democratense, Inhazinha Rocha fez festa no domingo da ressurreição da Pantera. Em algum lugar deste universo, com certeza, ela comemorou. Salve, Dona Inhazinha! A grande dama da Figueira.

Emprego IFMG lança edital para 43 vagas Estão abertas as inscrições para o concurso público do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) com vagas destinadas a técnicos administrativos em educação nos câmpus Betim, Congonhas, Governador Valadares, Ouro Branco, Ouro Preto, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Reitoria. São 43 vagas de nível superior e médio distribuídas nos cargos de Analista de Tecnologia da Informação, Assistente Social, Contador, Engenheiro Civil, Jornalista, Pedagogo, Programador Visual, Secretário Executivo, Técnico em Assuntos Educacionais, Assistente em Administração e Técnico em Edificações. As inscrições estão abertas até o dia oito de maio. Os interessados devem se inscrever exclusivamente pela Internet (www.ifmg.edu. br) e o valor da taxa de inscrição varia de acordo com o cargo: R$ 70,00 (Nível Intermediário) e R$ 100,00 (nível superior). O regime de trabalho do jornalista é de 25 horas semanais e os demais cargos, 40 horas semanais. A remuneração inicial para os cargos de nível superior é de R$ 3.392,42 e de nível intermediário, R$ 2.039,89. Além do vencimento básico, os aprovados receberão auxílio-alimentação no valor de R$ 373, acrescido de vantagens, benefícios e adicionais previstos na legislação. As provas objetivas e dissertativas serão realizadas no dia 25 de maio, às 14 horas, e serão prestadas na mesma cidade onde o candidato escolheu a sua respectiva vaga. As provas terão quatro horas de duração máxima. O edital está disponível no site www.ifmg. edu.br/gv. Endereço do Campus: Avenida Minas Gerais, 5189, bairro Ouro Verde.


CULTURA & LAZER 7

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril de 2014 Katiane Adilson

Resenha literária

Cinema

Só os fortes sobrevivem Detetive Paulo Maloca – Só os fortes sobrevivem, 2ª edição, 447 páginas Lançamento Expoleste, Livraria Leitura, R$ 25

A Persona

Divulgação

É estranho escrever uma resenha na primeira pessoa, mas é o que faço agora. Fiz a leitura à procura do colega de Tiro de Guerra do segundo semestre de 1981, Paulo Orlando Rodrigues de Mattos, o Mattos, simplesmente. A autobiografia traz chamada a prometer tratar apenas de fatos reais. Fui cabo e armeiro no serviço militar e me lembraria, decerto, de qualquer distinção do Mattos no gosto por armas – mas a lembrança não veio. Estampadas em todas as formas e poses nas fotos do livro, as armas compõem, com as roupas de griffe, a Persona que o Mattos construiu para sobreviver depois do Tiro de Guerra, na vida adulta, a máscara como no teatro grego. Na linha da turma do Pasquim, do “perco o amigo, mas não perco a piada”, concluo ao final da leitura: “Só os fortes sobrevivem ... à leitura do livro.” Além de pecar na diagramação, o livro traz em quase todas as páginas erros gramaticais – apesar de na ficha catalográfica constar um famoso revisor local como responsável pela “revisão linguística e gramatical”. O livro está todo maltratado, reproduzindo erros primários.

Do outro lado “O projeto Migração: Cultura e Direito pelo Cinema Alemão, faz parte do Programa Alemanha +Brasil , 2013 - 2014, Quando as ideias se encontram, e é uma parceria entre o Curso de Alemão do LICEU - Centro Cultural e o Curso de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora - Campus Governador Valadares, com o apoio cultural do Goethe Institut de São Paulo e a Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Governador Valadares.

A Vitimização De outro contexto, em que avalia o gosto dos evangélicos brasileiros por se declararem sob perseguição e como isso se tornou meio de vida, a afirmação do pastor Ricardo Gondim “Existe muita vaidade em se sentir perseguido” é integralmente aplicável à personagem construída por Mattos, dando a parecer na narrativa ter se tornado, exatamente, meio de vida. Apresenta-se como vítima, desde a história da família, da dupla orfandade e da consciência da maldade do mundo a partir de uma situação vivida com a mãe, em Colatina, quando, ainda criança, não conseguiu defendê-la, encontrando nos policiais civis do local a defesa de que precisava. A autocomiseração vai longe: “fui acusado, denunciado, injustiçado, nada falei ... Mesmo sofrendo, nunca acusei ... Por mais que sabia, nada dizia ... Para minha função, jamais retornei” (p. 211) e “Na verdade, já tinha visto esse filme muitas vezes, talvez o que mais vi e sofri em toda minha vida: inveja, ciúme, discriminação e armação” (234). A partir daquela defesa que sua mãe, dona Georgeta, encontrou em policiais anônimos, mas gentis e corretos, ele idealiza a “sua polícia”. Mas, o que encontra na corporação da PCMG o coloca em situação paradoxal: faz afirmações contundentes de defesa de uma pretensa retidão da polícia civil ao mesmo tempo em que a sua narrativa expõe, ao contar do detetive Ofenir e do delegado João de Souza – o Testa, uma polícia tão marginal quanto os bandidos que ela persegue.

A bajulação começa no prefácio do livro que, entre outros elogios, destaca que Mattos “curvou-se sempre à Lei”, apesar de desmentido pelo próprio autor páginas adiante: “sabia que o bem feito poderia se fazer mal feito ... mas o mal feito sempre teria de ser bem feito”.

“Só os fortes sobrevivem” é o brado que ele usou ao sair de uma sessão de júri no auditório da Fadivale. Mas, se como retórica o brado ganhou destaque em jornais da época, em nada se sustenta na vida como ela é. Foi Charles Darwin que anotou que na natureza os fortes não sobrevivem – vide os dinossauros – mas, sim, os mais bem adaptados, os que desenvolvem inteligência adaptativa. Parece ser, inteligentemente, o que o autor faz em sua vida. Ele é fisicamente miúdo, até frágil, mas construiu uma máscara social poderosa - a persona - que serve sob medida para fazê-lo parecer maior – os armamentos das poses nas fotos são o complemento corporal. Ele sabe que não somente na natureza, mas também no processo civilizatório, não são os fortes que sobrevivem, mas os que parecem ser, os que assumem a persona que permite melhor adequação ao meio. O autor é arguto e inteligente nas suas observações, mas cede à bajulação e ao autoengano. A bajulação começa no prefácio do livro que, entre outros elogios, destaca que Mattos “curvou-se sempre à Lei”, apesar de desmentido pelo próprio autor páginas adiante: “sabia que o bem feito poderia se fazer mal feito ... mas o mal feito sempre teria de ser bem feito”. Ou na defesa e na naturalidade dos relatos de participação em atos de tortura, o “mandar para o pau” como se a lei brasileira não tipificasse a tortura como crime hediondo. Os últimos capítulos, a partir da página 260, são um testamento – centenas de nomes, entre eles, dezenas de padrinhos e dezenas de irmãos de armas, tratados assim mesmo – padrinhos e irmãos – deixando claro que é uma lista daqueles que não o contrariam. O Autoengano O autor coloca-se no que considera ser a linhagem do Coronel Pedro Ferreira dos Santos, continuada pelo Delegado Regional Marcos Luís de Paula Soares – casado com a neta daquele, chegando a ele, o Paulo Maloca. Não explica como essa linhagem tem a ver com os policiais gentis que ajudaram a sua mãe em Colatina e o fizeram ficar grato à Polícia. O segundo exercício de autoengano é quando defende a Polícia Civil por funcionar em condições de precariedade, sem polígrafos – daí defender o “pau-lígrafo”, a “verdade” arrancada no pau de arara. Mas, o que ele descreve como precariedade, na verdade aparece no texto como questão de priorização, pois mostra a todo o tempo uma polícia a serviço dos fazendeiros da região – cita vários deles como beneficiários e até cúmplices das ações da PC. Para servir

O próximo filme a ser exibido na mostra é do diretor turco-alemão Fatih Akin e se chama DO OUTRO LADO. Vencedor do Festival de Cannes como melhor roteiro em 2007 tem como sinopse três pares de pais e filhos entrelaçados entre a Alemanha e a Turquia. Sinopse

a essa parcela da população, a polícia estava aparelhada e funcionava, no velho padrão de aparelhar o que é público para fins pessoais, privados. Outro caso de autoengano é quando lança-se de cabeça no caso que ficou conhecido como Chacina de Malacacheta, por tratarse a família dizimada de gente sua. O laço de sangue determinou o envolvimento do servidor público Mattos, que também é bacharel em Direito e advogado, conhecendo de cor o artigo 37 da Constituição Federal que estabelece para a administração pública os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Tivesse agido com impessoalidade nesse caso, a sua vida profissional não teria se complicado tanto e o moço Mattos, policial inteligente e dedicado, poderia de fato ter contribuído com a corporação e com a cidade de Valadares. O Potencial Há momentos épicos no livro, que valem uma narrativa mais vigorosa e bem elaborada. Têm potencial para deixar qualquer romance policial americano pra trás e podem se transformar em novas obras do autor, bastando uma elaboração mais sofisticada: - quando Mattos e seus colegas prendem um traficante em 1991 e descobrem o vínculo dele com o deputado federal por Rondônia Jabes Rabelo, do PTB. Essa ação em Valadares desencadeou várias prisões em Rondônia e mais tarde provocou a perda do mandato do deputado. Curiosamente, essa ação de muita consequência foi toda pautada pelo cumprimento policial das normas e da legalidade; - a tentativa de assassinato do então prefeito de Valadares, Paulo Fernando; - a posse de Mattos na Câmara de Vereadores de Valadares, ainda na condição de prisioneiro. Da mesma forma, têm potencial de novo texto, as páginas 240 a 256 em que Mattos esboça, a partir de sua experiência, seus estudos e sua observação uma contribuição ao debate sobre segurança pública e sistema prisional. Nessa parte do livro, o autor escapa do senso comum e mostra lucidez. Incluo no momento de lucidez a sua racionalidade na avaliação do comportamento do colega delegado João Testa.

Do outro lado, filme do diretor turco alemão Fathi Akin, nos mostra como os destinos podem mudar dependendo de pequenos momentos, de pequenos acontecimentos. São três famílias, duas turcas e uma alemã, seus membros estão espalhados entre os dois países. Yeter é uma prostituta quarentona turca que vive na Alemanha. Ela envia dinheiro para sua filha, Ayten, uma ativista política que vive em Istambul, na Turquia. Nejat é um professor numa universidade Alemã, seu pai, Ali, é um turco aposentado que inicia um romance com a prostituta Yeter. Lotte é uma jovem estudante universitária que vive com sua mãe, Susanne, na Alemanha. Os destinos dessas três famílias se cruzam de uma forma dramática e inesperada. Segundo o diretor, as alemãs, Susanne e Lotte representam a União Européia, enquanto Ayten e Yeter representam a Turquia. wO filme recebeu prêmios em quase todos festivais que participou, como de melhor roteiro em Cannes, o César Awards na França e o prêmio máximo do cinema alemão, o German Film Awards.

Música Instrumental

Faz afirmações contundentes de defesa de uma pretensa retidão da polícia civil ao mesmo tempo em que a sua narrativa expõe, ao contar do detetive Ofenir e do delegado João de Souza – o Testa, uma polícia tão marginal quanto os bandidos que ela persegue.

Destaco o potencial, para indicar que o livro inteiro poderia ter essa força, em vez de repetir uma leitura ingênua sobre as drogas e fugir de análise crítica do sistema policial. Voltando ao início do livro, lembro-me que Mattos declara com algum orgulho nunca ter ido à Europa do seu pai, mas, sugiro que ele vá, em vez de ficar somente nos garimpos, que ele declara serem a sua preferência de ocupação. Mark Twain, escritor do século XIX nos Estados Unidos registrou que “Viagens são fatais ao preconceito, à discriminação, à visão estreita, e muitos do nosso povo precisam terrivelmente de viagens, por causa disso.” Conhecer o funcionamento das polícias, das prisões, a política de uso de armas e de drogas nos países europeus, a começar pelo Portugal de seu pai, poderia resultar em outro livro, mais crítico e sofisticado. Por Jaider Batista da Silva, jornalista.

Pau Brasil no Atiaia Quem aprecia a música instrumental brasileira não pode perder este show em comemoração aos 30 anos do grupo Pau Brasil, liderado pelo pianista Nelson Ayres. O show será no domingo, dia 27, e não terá cobrança de ingressos. É uma promoção da Vale e da Prefeitura de Valadares. O Pau Brasil é um grupo que mostra ao público a riqueza dos ritmos nacionais, com o charme e a sofisticação do jazz.


8

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril 2014

ESPORTE CLUBE D

DE VOLTA À ELITE DO FUTEBOL MINEIRO, DEPOIS

JADSON, o grande Capitão do time de guerreiros!

Em pé, da esquerda para a direita: Panterão (mascote), Rildo (volante), Ailton Coelho (auxiliar de massagista), Rodrigo Lima (zagueiro), Weldes (zagueiro), Gustavo (goleiro), Leo Breno (zagueiro), Fábio Noronha (goleiro), Dr. Pedro Paulo Abrantes (médico), Getúlio Anacleto (massagista) Haroldo Junior (fisioterapeuta), Alisson Jander (preparador de goleiro), Edvaldo Soares dos Santos (presidente), Edvaldo Soares dos Santos Filho (vice-presidente), Gilmar Estevam (técnico), Fábio Duzzi (preparador físico), Marcel (volante), Mateus (goleiro), Eduardo (goleiro). Agachado: Geraldo Ferrugem (roupeiro) Sentados: da esquerda para a direita: Joelson (meia-atacante), Wanderson (meia-atacante), Douglas (lateraldireito), Flávio Lopes (volante), Felipe Augusto (atacante), Luciano Mourão (meia-atacante), Lucão (zagueiro), Jeferson Tanque (atacante), Ramon (meia-atacante), Leandrinho (lateral-direito), Júlio Cesar (volante), Denilson (lateral-esquerdo), Amilton (atacante), Rodrigão (atacante), Fabinho (atacante), Matheus Melo (zagueiro). Participaram da campanha: Thomas (meia-atacante), Celinho (meia-atacante). O Capitão da Pantera é o zagueiro Jadson. A foto é de Fábio Moura.


GERAL 9

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril de 2014

DEMOCRATA - 2014

S DE UMA CAMPANHA VITORIOSA NO MÓDULO II

JORNAL

Figueira

www.figueira.jor.br

Não conhecemos assuntos proibidos


ENTREVISTA

O negócio é de família. Hercílio Diniz emigrou do nordeste brasileiro ainda novo. Aqui, abriu um atacado - que mais tarde se tornou mercearia - em parceria com seu pai. O empreendimento crescia cada dia mais. Com sua esposa Luzia teve nove filhos, entre eles, seis homens e três mulheres. Em 1992, Hercílio abre, com os seis filhos, a primeira loja do Supermercado Coelho Diniz na Rua Marechal Floriano. De lá pra cá, sete novas unidades foram inauguradas em Governador Valadares e outras quatro em cidades da região.

10

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril 2014

Entrevista Hercílio Diniz Filho

“O fechamento dos supermercados aos domingos deveria ser uma opção. Aquele que quisesse fechar, fechasse” Fábio Moura

Hoje, Hercílio Diniz Filho e seus cinco irmãos tocam o negócio à frente. Aos cinquenta anos, ele conversou com este Figueira sobre os novos desafios impostos ao comércio na cidade como o acordo trabalhista celebrado em novembro do ano passado. E não ficou só nisso.

Hercílio - Isso não acontece. O que existe é o seguinte: nós temos lojas em oito pontos distintos da cidade. Então, temos a política de contratar pessoas que residam na vizinhança das lojas e, portanto, não tenham a necessidade do vale-transporte. Mas, é claro, que aqueles que precisam se deslocar tem acesso a esse benefício, sim. Figueira - A redução do desemprego no país inteiro tem dificultado a obtenção de mão de obra?

Figueira - Como se chegou à convenção trabalhista que reduziu os horários de funcionamento dos supermercados em toda a cidade? Hercílio - A convenção é feita anualmente. Recebemos, ainda em setembro, pautas e reivindicações do sindicato dos comerciários com propostas para a vigência do próximo ano. São diversas solicitações e demandas. A questão de não abrir o comércio aos domingos e feriados, especificamente, já é muito antiga. Há mais de dez anos batem nessa tecla. Reunião a reunião, o assunto era motivo de intensos debates. Chegamos, então, a um encontro no mês de novembro, onde foi colocada em votação a proposta do comércio, simplesmente, não abrir as suas portas nesses dias. E, naquela ocasião, eu percebi que perderíamos a votação, pois éramos apenas seis, no total. A questão é de grande importância e era necessário entender melhor o impacto sobre a economia, sobre a redução dos empregos e sobre a questão salarial. Enfim, qual seria o real impacto para nós e pros comerciários. Pedi o adiamento dessa decisão e a inclusão da proposta de fechamento do comércio às 14h, ao invés das portas não abrirem nesses dias. Marcamos uma nova reunião pra daí a quatorze dias. Pra minha surpresa, nem comerciários, nem comerciantes tiveram interesse em debater o assunto. Eles estavam se pautando pelo fechamento do assunto. Foi feita a votação e prevaleceu o fechamento às 14h. A decisão é colegiada e não prevalece o que a gente quer. Figueira – E o que o seu grupo quer? Hercílio - Na minha opinião deveria ser livre. Aquele que quisesse fechar às 14h, fechasse. Aquele que não quisesse abrir, não abrisse. E aquele que quisesse funcionar ininterruptamente, que o fizesse. O que não pode, jamais, é retirar a liberdade de funcionamento da loja. Eu acho que a grande jogada do comércio está, justamente, na alternância de propostas: de produtos, de serviços e de funcionamento. Então, não faz sentido barrar ou inibir essas iniciativas. Veja o nosso caso, por exemplo. Temos lojas que nunca abriram aos domingos. Temos lojas que abriam às 7h e fechavam às 13h, enquanto outras iam até às 23h. Éramos pautados pela liberdade e pela demanda de cada região. Agora, obrigar a fechar às 14h retira a competitividade, a opção do consumidor e torna tudo mais restrito. Figueira - Qual a escala de redução, diante do novo acordo trabalhista, no quadro de funcionários, na renda dos trabalhadores que permanecem e no faturamento do grupo Coelho Diniz? Hercílio - No nosso caso houve uma redução em diversos setores. Demitimos cerca de 80 funcionários. Houve, também, uma perda

Hercílio - Hoje, administramos doze lojas – oito delas, em Governador Valadares – e empregamos mais de dois mil funcionários. Existe dificuldade, até mesmo, de cumprir a exigência legal no preenchimento das vagas pra deficientes físicos, pois não temos mão de obra disponível pra isso. Mas, a escassez não está apenas entre os deficientes. Eu entendo que o Brasil de hoje opera em pleno emprego. Nós estamos reinventando o nosso setor de recursos humanos para encontrar mão de obra. E, no ramo do comércio, a questão salarial é muito determinante. Então, acaba que com a redução dos ganhos de domingos e feriados para os funcionários, as vagas se tornam menos atrativas. O setor da construção civil, por exemplo, está muito forte. A economia, como um todo, está repleta de oportunidades. Hoje, os funcionários trabalham por um tempo curto dentro da empresa e forçam acordos de demissão, ao fim de um ano. Ai, ele se mantém em um emprego informal recebendo o seguro desemprego ou vai pro concorrente A ou B. Seis, oito meses depois, ele volta a bater na nossa porta. Antes, desconsiderávamos. Hoje, temos que reconsiderar essa política para preencher nosso quadro de funcionários.

Hercílio defende a liberdade para o funcionamento do comércio aos domingos

Na minha opinião deveria ser livre. Aquele que quisesse fechar às 14h, fechasse. Aquele que não quisesse abrir, não abrisse. E aquele que quisesse funcionar ininterruptamente, que o fizesse. O que não pode, jamais, é retirar a liberdade de funcionamento da loja.

salarial para o funcionário, pois o domingo e o feriado são pagos em dobro. É importante salientar que se trabalhava apenas dois domingos no mês e gozava-se de um dia de folga da mesma forma, durante a semana. Eu, particularmente, não vejo prejuízo, mas o sindicato dos comerciários não entendeu dessa maneira. E continua assim. Veja só, num rápido adendo. Pra minha surpresa, hoje, me deparei com uma campanha em uma rádio da cidade, onde apelam pra que a população não faça compras aos domingos. Houve, ainda, a redução em nosso faturamento. O tempo de venda perdido não se recupera. É até perceptível um aumento pequeno do movimento nos dias e horários que antecedem o fechamento, mas ainda não foi possível cobrir as perdas de faturamento. Figueira - O sindicato dos comerciários denuncia o grupo por exigir que funcionários assinem declarações, onde abrem mão de direitos, como o vale-transporte. Isso acontece?

Figueira - Há muito pessimismo expresso por economistas e empresários sobre a condução do país no governo Dilma. No entanto, o grupo continua a expandir-se em Valadares e na região, com novas lojas. O que explica a expansão em meio a essa onda de pessimismo? Hercílio - O cenário econômico brasileiro está muito favorável e atrativo. O poder de compra do consumidor está numa crescente que já perdura anos. Existe uma fala recorrente de que esse cenário pode se desacelerar, mas está longe de qualquer retração ou de recessão econômica. Nós continuamos crescendo e fazendo investimentos baseados nisso. Figueira - Quais as possibilidades de reverter o acordo trabalhista na próxima convenção? Ou, a tendência é de recrudescimento por fechar mais ainda? Hercílio - Em novembro desse ano nos reuniremos novamente pra avaliar os impactos do acordo trabalhista. É até possível que seja antecipado esse debate, segundo a vontade do nosso sindicato. É o meu desejo pessoal, também. É necessário reavaliar o quanto antes as perdas e ganhos para comerciantes, comerciários e, também, para a cidade. Temos que discutir se não é pertinente voltar à liberdade de funcionamento imediatamente, pois, com campanhas como essa que ouvi na rádio hoje, quando chegarmos ao fim do ano já se falará novamente em portas fechadas em domingos e feriados. A redução é um retrocesso. A convenção tem um grande impacto, pois ela não atinge setores ou regiões específicas. É o comércio, como um tudo, que fica impedido de funcionar.

BravaGente Fotos de Fábio Moura

A bola é do PC Durante todo o Campeonato Mineiro do Módulo II, ele aguentou gente chata querendo dar a famosa “carteirada”, mas também recebeu com fidalguia aqueles que eram credenciados, e diziam: “bom dia, boa tarde, boa noite!” Torcedor fanático do Esporte Clube Democrata, Paulo César, o PC, é o porteiro que fica no portão das autoridades e da diretoria. Ele nunca perdeu a fé. No domingo de Páscoa, ele disse ao vice-presidente do Democrata, Edvaldo Filho: “Nós vamos subir, mas eu quero a bola do jogo”. “Fechado”, garantiu o vicepresidente. Ao final da partida, PC recebeu o seu troféu: a bola do jogo, autografada por todos os jogadores. “Já recebi várias propostas para vender esta bola, mas ela vai ficar comigo”, disse. PC e o seu troféu, que não está à venda

Valeu, Tia Nara! Procure por Lidemar Gonçalves no Democrata. Ninguém saberá quem é. Procure por Tia Nara. Aí, sim! Ela é a cozinheira que faz a comida dos jogadores. Em dia de jogo ela continua na cozinha, afinal, terminado o jogo, um batalhão de famintos já estará no refeitório. Ela não vê os jogos, mas ouve tudinho no radinho de pilha, nervosa, rezando pela vitória dos seus meninos. Tia Nara, brava gente!

Tá bom, parceiro? Se você chegar ao Democrata e encontrar este senhor, ele dirá: tá bom, parceiro? Por esse cumprimento ele ganhou o apelido de “Parceirinho”. Seu nome é Dionízio. Ele cuida do gramado do Mamudão desde 1969. E sempre pergunta: “e a grama, tá boa?”. Figuraça, amigo de todos, homem da elite do futebol mineiro.


ESPECIAL

11

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril de 2014

Kiém Erehé

19 de abril e as cicatrizes da Ditadura Militar Douglas Adilson Krenak /da Terra Indígena Krenak O mês de abril é a oportunidade que nós povos indígenas temos para mostrar que ainda estamos vivos e dizer para a sociedade envolvente que passamos por muitas guerras, lutas e extermínios. Hoje lutamos contra empreendimentos invasivos, como os ferroviários, as hidrelétricas e, contra o mais terrível, o descaso do Estado Brasileiro em relação aos nossos direitos. Neste abril, os eventos estão carregados pela memória e avaliação dos 50 anos do golpe militar de 1964, que gerou uma ditadura que arrastou-se por mais de duas décadas. Diante desse marcante acontecimento para história brasileira, eis a pergunta: quando a sociedade brasileira avalia os estragos da ditadura, as atrocidades que as pessoas sofreram pela repressão militar, qual o reconhecimento da situação pela qual os índios passaram naquela mesma época? O dia 19 de abril deste ano para o nosso povo Krenak serve para lembrarmos ao Brasil que a Ditadura Militar não só matou nossos líderes, mas também, fere nos dias de hoje a cultura das novas gerações. Pois é, durante os anos de chumbo a ditadura militar criou presídios para índios com trabalhos forçados e torturas, um desses presídios aqui na Terra Indígena Krenak, a menos de 100 quilômetros de Valadares. Para esse presídio, foram destinados índios de espírito mais livre, de todo o Brasil, por incomodarem o SPI/Funai. É fácil esconder a história, não é? Acusações de vadiagem, pederastia, consumo de álcool e desobediência foram motivos para jogar muitos índios e meus parentes Krenak em prisões e solitárias durante o Regime. O maior ato de desobediência era falar a própria língua. Meu povo sofreu com a instalação do presídio indígena em nosso território – as ruínas dele ainda estão aqui. Nessa época, as cadeias indígenas eram geridas e vigiadas por militares. Em nossa terra tradicional, o Governo manteve silenciosamente por muitos anos o presídio, que funcionou como um “campo de concentração étnico”. Até os dias de hoje, pouco se divulgou sobre a criação dos presídios indígenas e seus desdobramentos. Mas, posso afirmar que foram duros anos para nosso povo, que interferem até hoje. Não é fácil conviver com a falta de paz espiritual que afeta a mim, a minha família e ao meu povo. Durante a ditadura militar, muitos parentes morreram nos exílios e hoje não conseguimos terminar as passagens de nossos rituais fúnebres. Os exílios começaram quando o interventor do governo militar em Minas, Rondon Pacheco, autorizou a Ruralminas, com sede até hoje em Valadares, a tomar a terra indígena e distribuí-la entre mais de

50 fazendeiros, incluindo um terreno para o Patronato da Igreja Católica de Resplendor. Para fazer prevalecer os títulos de terra ilegais, velhos, mulheres e crianças do meu povo foram acomodados em caminhões de transporte de bois e retirados à força da sua terra. Foram levados para viver entre os Tupinikim no Espírito Santo, entre os Maxakali no Jequitinhonha, entre os Kaingang em São Paulo, na Fazenda Guarani de Carmésia e na Ilha do Bananal em Goiás – hoje Tocantins. Divididos e desterrados para desaparecer. Com a grande enchente do Rio Doce em 1979, algumas mulheres do meu povo tiveram visões, sonhos que orientavam a retornar. O retorno se deu nas piores condições, muitas vezes a pé. Estabeleceram-se em uma fatia de terra pequena à beira do Rio Doce, enquanto os fazendeiros ocupavam tudo o mais. Somente em 1996 o Supremo Tribunal Federal reconheceu como nulos os títulos de terra dados pela Ruralminas e pelo interventor Rondon Pacheco. A partir daí, fizemos todo o esforço por trazer de volta os parentes que ainda estavam no exílio e temos nos fortalecido aqui. Não podemos negar que há um silencio que incomoda. Desde o fim da ditadura, pouco se tem feito para denunciar a crueldade militar daquela época. Eu e meu povo estamos empenhados em lutar para que o Governo Brasileiro abra os seus porões e nos deixe mostrar o que de fato aconteceu. Reivindicaremos também que sejam reconhecidos os danos causados a nós e ao nosso território sagrado. Vamos lutar para que o dia 19 de abril de outros anos não tenha mais esse gosto de ditadura militar. Lutaremos para que o Estado Brasileiro e a Comissão Nacional da Verdade, instalada pelo governo federal em maio de 2012, divulguem a existência dos presídios indígenas e suas conseqüências até os dias atuais. É preciso reconhecer que muitos líderes dos povos indígenas foram presos políticos, pois, estavam numa luta justa por preservação de terras tradicionais e manutenção das suas culturas. É necessário reconhecer os erros do passado contra os povos indígenas, para então sonharmos com possibilidade de um futuro de respeito e igualdade entre as nações de índios e não-índios. Douglas Adilson Krenak é jornalista, um líder do seu povo, correspondente deste Figueira na Terra Indígena Krenak.

Ombudsman

Aristotelicamente falando José Carlos Aragão O ser humano necessita de coisas que são compartilhadas pela comunidade, entre elas, as ideias. Que podem ser convergentes ou não. Historicamente, todavia, a divergência é o que move o mundo, inventa novas ferramentas e medicamentos, promove guerras e revoluções e dá novos rumos à sociedade. É isso que torna o homem “um animal politico”, como preceitua Aristóteles. A informação também é uma dessas necessidades humanas – ainda que, muitas vezes, o indivíduo nem tenha consciência disso. Saber dos fatos nos aproxima e nos agrega, em certa medida. E nos leva adiante. Prova disso é a velocidade do avanço científico, tecnológico e social que a humanidade atingiu desde a invenção da imprensa, há pouco mais de cinco séculos. A política, vista originariamente como arte e ciência de governar, descambou, ao longo do tempo, para a “arte e ciência” de conquistar e se manter no poder. Assim, a mídia, com seu grande potencial de difundir ideias e informações, logo se tornou instrumento essencial a quem faz política – para o bem, ou para o mal.

jornal, por outro lado, tem uma visão política contrária à do leitor, não há problema: sempre há de servir para ser confrontado pelos fatos, discutido nas rodas de conversas, estudado nas salas de aula ou rasgado em tribunas (não era minha intenção, mas não pude evitar nova referência a esse episódio recente, tão exemplar para o tema da minha coluna de hoje).Leitor e jornal, aristotelicamente falando, são, portanto, farinha do mesmo saco.

Não há como negar que o Figueira tem uma pegada política forte, em sua linha editorial. Se analisarmos página a página, estão lá todos os elementos que caracterizam essa opção. Muitas matérias e reportagens especiais buscam claramente provocar o debate e sacudir o leitor. O noticiário local e geral também focaliza temas controversos e históricos, como o trabalho dos médicos cubanos na cidade ou perseguições políticas a pessoas da cidade na esteira de chumbo do golpe militar de 1964. Além disso, há colunistas que escrevem diretamente de Belo Horizonte e de Brasília, sedes dos governos federal e estadual. Sem contar que Sacudindo a Figueira, a principal coluna de notas políticas do jornal, ocupa uma página inteira a cada edição. O mesmo ocorre com a página 2 – Opinião -, que reúne Editorial, a charge do Tim e a seção Parlatório. O leitor, sendo, ele próprio, um “animal político”, quer que um jornal tenha posições ideológicas, quiçá alinhadas com a sua. Se um

Pão dormido A edição virtual do Figueira com data de 21/04/14 traz duas notícias de esportes que se contrapõem cronologicamente. Uma diz que o Democrata precisa vencer o Social para se classificar e a outra diz que o Democrata venceu o Social e se classificou. O leitor mais zeloso facilmente perceberá que a notícia foi atualizada na versão online e diária, mas a notícia anterior – publicada também na edição impressa da sexta-feira passada – não foi removida da edição virtual. Das duas, uma: ou se tem o cuidado de remover matérias vencidas ou se adota a prática de incluir data e horário de cada notícia na edição online.

Pautas obrigatórias Dois temas devem dominar a mídia nacional nos próximos sete ou oito meses: Copa do Mundo e eleições. Como o Figueira se posicionará em relação a esses dois eventos? Aguardemos. Quae sera tamen Passarinho me contou que algumas pequenas mudanças no projeto gráfico do Figueira estão a caminho. Cedo demais pra isso? Não: aperfeiçoamentos devem ser constantes, se o produto é novo.

Ivaldo Bem lembrado, na última edição do Figueira. José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, escritor e jornalista

Faça contato com o Ombudsman. Elogie, critique, denuncie. Escreva para: redacao.figueira@gmail.com

Quem é o “índio”?

Geilson Krenak / da Terra Indígena Krenak

No senso comum, não existem povos Krenak, Pataxó, Maxacali, Kaiapó, Xavante de forma separada. Sendo “índios” são todos iguais, é a mesma raça. O mesmo senso comum que reconhece a existência de portugueses, poloneses, franceses, ingleses e alemães em vez de identificá-los todos como apenas europeus ou brancos, não aplica a mesma regra aos “índios”. Na verdade, não está em jogo apenas uma questão de nomenclatura e não existe apenas a necessidade de identificar povos, mas sob a definição geral de “índios”, por muito tempo veio a conotação pejorativa, de sub-humanidade. Tal indefinição, a do “índio geral” serviu ideologicamente para descaracterizar e dizimar os povos nativos do Brasil. Para compreender “quem é índio no Brasil” é necessário primeiramente negar esse “índio” construído pelo europeu colonizador. É não reconhecer como justo que os povos descendentes dos primeiros habitantes destas terras sejam tratados como se fossem animais em processo de extinção, a serem preservados, portanto, domesticados, amancebados, tutelados e indiferenciados uns dos outros. A palavra “índio” traz consigo estereótipos que produzem e reproduzem o desrespeito, a falta de amor e de dignidade humana. O “índio” do Brasil, como imaginado, não existe. A informação distorcida leva muitas pessoas ao preconceito , muitas vezes o “índio” é considerado ou imaginado um ser que vive nu dentro de matas virgens, mora em ocas, cultua Tupã, e é canibal. Para a grande maioria das pessoas os “índios” são todos iguais, vivem em paz entre si e preservam a natureza tal como os animais silvestres. A ideia de “índio” categoriza de forma homogênea povos com identidades, culturas, hábitos costumes diversos uns dos outros. Mesmo com alguns avanços no pensamento educacional do povo brasileiro, até hoje é possível observar em livros didáticos o entendimento conturbado sobre “índios”. Na grande maioria das vezes o “índio” passa por um estágio de evolução humana, deixando de ser aberração humana e transformando-se em gente através do processo de miscigenação. Ainda hoje o “índio” vive o sofrimento da farsa da democracia racial dos livros didáticos. Já o Estado sempre tem tratado os “índios” como seres incapazes de dar conta de suas vidas necessitando de tutela para sobreviver. Todos os sobreviventes da trágica história de contato interétnico acabaram aldeados, com suas terras demarcadas e daí por diante terra e “índios” pertencem à União. Consequentemente, o “índio” não tem nada, tudo que possui é do Estado, inclusive o próprio “índio”, que por sua vez é mais uma coisa do Estado que é menosprezada pelo próprio tutor que se diz dono. A historiografia do país, na maioria das vezes, nunca disse que os nativos travaram guerras contra a escravidão e que grande parte deles resistiu, pois conheciam o habitat natural muito mais que os negros importados e os europeus. Muitos lutaram até a morte. O europeu viu que não estava lidando com animais irracionais, tanto que resolveu partir para outra estratégia, eliminar o inimigo do cenário local usando uma arma extremamente potente, a arma ideológica. O uso de mecanismos e instrumentos simbólico-ideológicos, discursos, textos, signos, vem nesse sentido descaracterizar, inferiorizar e destruir os nativos, ao passo que este mesmo mecanismo tem efeito contrário para os colonizadores. Vem reforçar, legitimar e valorizar o homem que luta contra os selvagens contraventores da ordem social, moral e natural das coisas, pois os nativos são seres que conturbam a imagem do homem de bom caráter e que tem alma. Desta forma, os nativos passam a ser vistos como selvagens, um tipo de imitação humana, uma aberração, e eliminar este ser desprezível e não merecedor de bondade dos homens e dos céus é o mais conveniente possível. Este pensamento ideológico contra os “índios” vem arrastando-se por séculos até os dias de hoje. Foi extremamente importante para os colonizadores, pois enquanto propagavam estas ideias e concepções negativas, formavam opinião e ao mesmo tempo iam invadindo terras, escravizando e matando os nativos em nome do homem de bem e dos bens. Era então a luta do bem contra o mal, a luta para destruir o ser desprovido de alma, sem Fé, sem Lei e sem Rei, como registraram os jesuítas. O Brasil é um país de uma imensa extensão territorial, multicultural e com apenas uma raça, a raça humana. “Índios”, negros, brancos, pardos, etc, somos todos brasileiros, somos seres humanos. Para entendermos isto é preciso antes de tudo nos despir do olhar europeizador etnocêntrico. Se conseguirmos ver a cultura do outro com um olhar menos etnocêntrico, então conseguiremos eliminar ou afastar o olhar preconceituoso e assim certamente não faremos pré-julgamentos que poderão nos conduzir ao erro e cometer injustiças. De tal forma, entender que transculturação, transfiguração, mestiçagem, “indios”, seja qual for o termo, é importante. A mudança deve ser encarada como algo pautado na própria construção da história de um povo. A cultura dos povos “indígenas” não pode ser encarada como algo estático, imutável, intocável, afinal de contas não se pode entender uma cultura como algo dado e nem intocável, pois o contato interétnico é algo que sempre existiu entre os povos tribais que existem nas Américas. E para se dar conta disto é necessário desenvolver o respeito pelos povos “indígenas” e o importante papel que eles têm na história, na cultura e na sociedade brasileira de um modo geral. Não existe sociedade brasileira e muito menos sociedade riodocense sem a história dos nativos. Por fim, precisamos reconstruir o “índio” criado e estereotipado pelo europeu. É necessário reconhecer a dívida histórica com esses povos e dar espaço para um novo olhar realmente crítico e de respeito, amor e igualdade pelos seres humanos que são. Precisamos reconstruir a história do nosso país e consolidar definitivamente a democracia reconhecendo primeiramente os direitos dos povos indígenas, dos negros, dos homossexuais, das crianças, das mulheres, dos deficientes físicos etc. Só deixaremos de ser apenas emergentes quando reconhecermos e assumirmos nossa dívida histórica, cultural, social e econômica com os que foram e têm sido mais prejudicados e excluídos. Geilson Batista Krenak é cientista social e correspondente deste Figueira na Terra Indígena Krenak.


METROPOLITANO 12

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril 2014

AINDA DEBAIXO Na sequência de fotos, Fábio Moura foi às ruas, à noite, para mostrar o submundo dos moradores de rua e usuários de crack. Da esquera para direita: Rua Vereador Euzebinho Cabral, vazia, ponto dos usuários de crack. Um homem acende o cachimbo para fumar o crack, e um grupo de dançarinos de street dance, ocupando o saguão da Prefeitura, na tentativa de dar uso público e coletivo àquele espaço

Não fosse um problema social, reflexo da desigualdade, a população de rua não seria pauta de intensos debates das esferas públicas. O que fazer? Como agir? A culpa é de quem? Tem um culpado? O direito de ir e vir dos moradores de rua limita o mesmo direito do restante da população? Espaços comuns, da população, têm se tornado espaços exclusivos de alguns moradores de rua? Espaços públicos têm se tornado de uso particular?

Debaixo do meu, do seu nariz estão inúmeras coisas que parecem, por vezes, invisíveis. Não quer dizer que não vejamos nada disso. Estão ali à nossa frente, do outro lado da rua ou lá naquele lugar onde você deixou de passar há anos. Ignorar ou evitar o que te incomoda não faz com que aquele cenário deixe de existir. Na verdade, a indiferença só acentua disparidades de natureza social. E, cada vez mais díspares, vão ficando à mercê todos aqueles que estão em situação mais vulnerável. Fábio Moura / Repórter

Seja pela incompreensão – ou exaustão – no trato dos familiares com consumidores assíduos de drogas lícitas e ilícitas e, também, com indivíduos vítimas de transtornos mentais; seja pelo rompimento de laços afetivos ou, ainda, pela incapacidade de sustentar um lar. Quando se “opta” pela rua, pra trás fica algo bem mais desconfortável do que a nova realidade. E aí, sem as paredes que antes o circundavam, são os problemas comuns a uma parcela considerável da população – não só a de rua - que se tornam visíveis. “Acredito que coexistam diferentes olhares em relação à população de rua. Tem aqueles que os veem de forma a desqualificá-los e rotulá-los por não estarem inseridos na cadeia produtiva, colocando-os à margem da sociedade. Esses tendem a não reconhecerem a humanidade e a cidadania dessas pessoas, requerendo do poder público soluções excludentes que os impeçam de exercer direitos como o de ir e vir, de freqüentar espaços públicos e centrais da cidade ou de mendigar pela sobrevivência. Não passam de um incômodo. Há também aqueles que os veem de forma desprotegida. São pobres coitados e passíveis de ações caritativas e assistencialistas. Acredito, ainda, que para uma parcela da sociedade os moradores de rua são ‘invisíveis’, pois lhes são indiferentes”, é o que diz a socióloga valadarense, Merly Correia. Merly entende que “por último, há aqueles que reconhecem na população de rua a face excludente do modelo de sociedade e, portanto, parte integrante dessa sociedade, que precisa ser reconhecida em seus direitos e dignidade humana. Acreditam que ali - no espaço público - reside um sujeito histórico, que enfrentou e enfrenta as vulnerabilidades e riscos sociais, e, como alternativa de sobrevivência, faz da rua o seu espaço privado, onde constroem relações e estratégias de luta cotidiana”. Não fosse um problema social, reflexo da desigualdade, a população de rua não seria pauta de intensos debates das esferas públicas. O que fazer? Como agir? A culpa é de quem? Tem um culpado? O direito de ir e vir dos moradores de rua limita o mesmo direito do restante da população? Espaços comuns, da população, têm se tornado espaços exclusivos de alguns moradores de rua? Espaços públicos têm se tornado de uso particular? Da Marechal Floriano abaixo A Figueira cresceu ao redor da Estrada de Ferro que liga Vitória a Minas e foi a linha férrea que teve de ser mudada, para dar lugar à cidade que crescia. Em seu lugar, fixaram-se dezenas de estruturas prediais, praças, ruas e casas. Hoje, a região abriga o centro comercial, áreas de lazer e residenciais, além dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Tem também a Estação Rodoviária, porta de entrada da cidade. Por ali circula um mundaréu de pessoas e automóveis ao longo do dia e da noite. A atenção policial se mostra redobrada em locais de grande aglomeração, com o sistema de monitoramento por câmeras de vigilância, casas de observação, além das rondas de militares com suas viaturas. Aliado a isso, um bom padrão de iluminação urbana e imensas marquises que protegem da chuva e do sol. Você pode até achar incômodo “morar” em um lugar desses, porém, o que está em jogo aqui não é o conforto mas, sim, a segurança da população em situação de rua. Ainda nos anos 80, uma das praças da região, a dos Pioneiros, passou por uma reforma e ganhou, junto a uma nova redistribuição arquitetônica do espaço, um anfiteatro em meia lua de frente para um elevado coberto. “Por excelência, o palco da promoção cultural valadarense”, descreve o secretário municipal de Cultura, Fábio Brasileiro. Por excelência, esse espaço tornou-se, também, um dos principais redutos da população de rua. Coberto, arejado e visível, o palco da Praça é uma das moradas mais seguras, entre as calçadas da cidade. “O mau cheiro dali é, realmente, insuportável. O restaurante funciona daquela árvore pra cá. Antes, a relação dos garçons daqui com os moradores de rua era mais amigável. Hoje, virou esculhambação. Eles urinam e defecam em frente ao bar lotado, sem qualquer restrição. Intimidam a quem quer que seja. Já vi mais de uma centena de assaltos aqui, como o da nossa vizinha que teve R$ 20 furtados sob a ameaça silenciosa de uma faca em sua cintura”, relata Geraldo Magela, funcionário há 22 anos de um restaurante numa esquina da Praça dos Pioneiros. “Já há vários anos venho à feirinha hippie toda quinta-feira. De uns tempos pra cá as abordagens têm sido mais frequentes e incisivas. Na semana passada, eu e meu marido fomos surpreendidos por um morador de

rua pedindo alguns trocados. Negamos num tom ameno, mas ele assumiu uma postura agressiva, alterou a voz e nos xingou sem parar. Abordou, na sequência, outras pessoas da mesma forma intimidatória. Alguns davam umas moedas pra se livrar do constrangimento, outros enfrentaram o mesmo que eu. Tem sido difícil manter esse como um programa de lazer”, conta Raquel de Magalhães, 36, sobre o único evento cultural regular do espaço, que já perpassa décadas, a Feira de Artesanato. “Com a gente, eles não mexem. Mas, quem frequenta a feira não tem paz. Eles passam de mesa em mesa pedindo, intimidando e dizendo coisas que prefiro não falar. Várias pessoas já presenciaram cenas de sexo explícito ali em cima do palco. As brigas, então, são constantes entre eles. E isso tudo junto interfere, claramente, no movimento da feirinha”, explica a presidente da Associação de Artesãos e também feirante há quase três décadas, Cláudia Valéria. Fábio Brasileiro acredita, ainda, que não se encontrou o eixo de equilíbrio entre o respeito ao direito desses cidadãos e a execução de interesses distintos dos deles. “Aquela não é uma praça simples. É uma praça de eventos. Ocupar aquilo ali é tomar um espaço da cidade, acabando por prevalecer o interesse de alguns. A montagem das estruturas dos eventos culturais ali, por exemplo, tem acontecido mediante constrangimentos, intimidações, assédio e insegurança dos profissionais que realizam esse processo. Já tive de chamar a Polícia Militar para garantir a execução de alguns eventos, pois a cada dia cresce o número de moradores que resistem em sair dali. É notório que alguns promotores culturais têm preferido migrar para outros espaços. A premiação da competição de voo livre no início do ano, por exemplo, só aconteceu ali após um intenso trabalho de convencimento da Secretaria”. O espaço da praça também era ocupado quatro vezes por semana pelo grupo de dança de rua, Marvel Maniak´s Crew. “Há oito anos nos reunimos pra dançar e disseminar a cultura do rap, mas o palco da Praça dos Pioneiros tornou-se insalubre. Gastávamos mais tempo limpando do que dançando. Com isso, há três anos pedimos à Administração para usar o espaço aberto do térreo da Prefeitura, deixando a Praça de lado”, explica o organizador do movimento, Antônio Carlos Ferreira, 28. O prédio da Prefeitura Municipal fica logo ao lado. Imensos pilares sustentam cinco andares e boa parte da estrutura administrativa e executiva de Governador Valadares. À sua frente, a casa do Legislativo suspensa sobre o gramado. Entre elas, um longo corredor iluminado com visão estratégica da região da Estação Rodoviária – onde boa parte deles

Tá dominado! Todas as noites, o saguão da Prefeitura e da Câmara é dominado pelos usuários de crack! Uma cena lamentável de omissão e ineficiência dos poderes constituídos


METROPOLITANO

13

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril de 2014

DO SEU NARIZ ganha os seus trocados - e também da Praça dos Pioneiros. Dali é possível acompanhar a movimentação da Polícia Militar e consumir qualquer substância sem ser surpreendido. “Antes não passava de cinco. Sabíamos quem eram todos eles. Hoje, não dá nem pra ter noção. Passam de cem. No fim de semana, então...” descreve um vigilante noturno do prédio da Prefeitura que prefere não se identificar. “Sabe como é, né. A gente sempre esbarra com eles por aí. É melhor manter a relação como está”. “Ô, chefia. Faz o seu aí, deixa a gente na nossa aqui e ninguém será incomodado”, garante um morador de rua dirigindo-se ao vigilante, próximo à escada que dá acesso ao hall da Câmara de Vereadores. Ele está acompanhado de outros dois guardas noturnos. “Nós temos que nos impor, senão eles montam em cima. Aqui acontece de tudo: tentativas de homicídio, relações sexuais, brigas e, principalmente, o consumo e o tráfico de crack. Não saímos desacompanhados da nossa sala após a meia noite. É uma medida de segurança. Há um mês, um homem deu uma peixeirada na coxa duma negra robusta que está sempre por aqui. Lavou o chão com sangue”. “E tem outra coisa, também. Desde que começaram a gradear a subida para a Câmara, aqui na parte de trás da Prefeitura, todos desceram. O consumo que era feito, em partes, por lá, agora inundou os corredores aqui embaixo”, completa o vigilante. Segundo o diretor geral da Câmara de Vereadores, Rodrigo Fabiano, a medida não surge com o intuito de dispersar os moradores de rua, mas, sim, para dificultar a ação de vândalos. “Algumas portas da Prefeitura já foram quebradas e tememos pelos vidros da Câmara. Essa decisão foi tomada ainda no ano passado e tem o objetivo de aumentar a proteção de documentos de setores importantes, como o de Recursos Humanos, hoje, isolado apenas por uma parede de vidro”. Da Marechal Floriano acima Caminhe pela Rua Marechal Floriano acima por cinco ou seis quarteirões. Vire na Rua Vereador Euzebinho Cabral e irá se deparar com um cenário totalmente distinto daquele descrito na região que compreende a Praça dos Pioneiros, a Prefeitura Municipal e a Estação Rodoviária. Por aqui o comércio também é intenso. Toma quase toda a calçada, deixando para os pavimentos superiores boa parte das residências. As câmeras de vigilância da Polícia Militar não alcançam a região e a iluminação não é das melhores. O oposto do cenário seguro para a morada da população de rua tem lá seus benefícios. É ali que trabalha o Anderson Clayton, 47, em um ponto onde dá manutenção a aparelhos eletrodomésticos. “Daqui da loja a gente observa toda a movimentação. A polícia dá batida aí direto. De manhã, de tarde e de noite. Mas, é só ela sair que os meninos voltam a ocupar as calçadas. Não adianta muita coisa. E, com isso, acaba que o movimento na rua se reduz. As pessoas sempre dizem: ‘ó, não passa por ali, não, pois é perigoso’”. “‘Se alguém roubar a senhora aqui vai ver com a gente’. Já me disseram isso uma porção de vezes. Aqui, nunca roubaram nada. Trazem de outros lugares pra vender aqui. Isso trazem. Na verdade, eles funcionam meio que como guardiões da região. Trabalho, por vezes, só e até tarde. Trato-os como gente que são e o respeito é recíproco. Às 18h, as portas das lojas vão baixando e eles vão encostando por aqui com seus cachim-

bos à mão. Fico um pouco mais e, então, vou pra casa. O perrengue mesmo só os moradores presenciam nas horas que se seguem”, conta-nos Ana Maria de Paiva, 53, em seu salão de costura entre as ruas Israel Pinheiro e Bárbara Heliodora. Vários interfones residenciais tocam sem que ninguém atenda. Mais uma tentativa e nada. Alguns minutos depois, após certa insistência, uma voz masculina e rouca atende: - Oi? - Boa tarde. Estamos na elaboração de uma reportagem sobre a população de rua e queríamos bater um papo com você sobre a situação aqui da Vereador Euzebinho Cabral. - Ééé ... rapaz, agora eu estou bem ocupado na instalação de uma rede elétrica. - Tudo bem. Podemos voltar outra hora? - Acho que não vai ser possível, não. Vou estar muito ocupado ao longo de todos esses dias. A relação entre a população de rua e os moradores da região é uma corda bamba. A linha é tênue e preferem não forçá-la. Nos outros apartamentos a reação é a mesma. “Tenho que dar uma saída agora. Vamos deixar pra falar em outra semana” ou “não tenho nada pra falar, não. Não os incomodo e eles me deixam em paz”. De campainha em campainha... “olha, vou até te contar algumas coisas, mas não quero que meu nome apareça em nada”, esbraveja uma das moradoras. “Conosco eles não costumam mexer. Meu filho mesmo sempre deixa o carro em frente ao meu apartamento. Nunca fizeram nada, mas não podemos dar bobeira. Já tentaram furtar minha casa por duas vezes. Dei de cara com um deles dentro da minha sala. Na semana passada, meus filhos subiram com as mãos carregadas e deixaram a porta aberta por um instante no início da madrugada. Logo, dois deles já iam subindo, quando o nosso vizinho gritou. Eles se assustaram e saíram correndo de lá. Mas, na maioria do tempo, a convivência é pacífica. Tem dias em que eles estão mais alvoroçados. Batem nas portas, ligam um som alto, gritam, brigam, jogam pedras e até botam fogo uns nos outros. Em média, circulam por ali uns trinta ao longo da noite. Mas, já vi mais de cem sentados de fora a fora na porta das lojas. Poucos dormem aqui. A grande parte está ali só pra consumir e vender crack”, ela relata. Ação integrada E é justamente nessa região que estão sendo implementadas as primeiras etapas do programa Crack: é possível vencer!, numa parceria entre governos federal e municipal. “Todas as ruas ao redor do Mercado Municipal, num raio de três quilômetros, serão monitoradas por câmeras do porte do ‘Olho Vivo’, mas com uma dinâmica distinta. Os aparelhos de videomonitoramento são móveis e terão os seus sinais enviados via wireless para uma central, também móvel. Isso permite que a migração dos usuários e traficantes possa ser acompanhada por nós. Contudo, a atuação não ocorre somente no eixo autoridade. Uma ‘clínica de rua’ irá operar já no segundo semestre deste ano com o cadastramento e atendimento de toda a população de rua e, em especial, do usuário de drogas”, explica a coordenadora municipal da Defesa Social, Jaqueline Pinho. “É muito importante que as ações do programa comecem por ali. É uma das principais cenas de uso e espaço de recorrentes abordagens do nosso Batalhão devido ao grande número de usuários e, consequentemente, de traficantes de drogas ilícitas. Mas, o problema é mais social do que policial. São pessoas dum grupo de risco, alvos e, por vezes, praticantes de atos criminosos”, relata o tenente-coronel Wagner Fabiano, comandante do Sexto Batalhão da Polícia Militar. “Na ausência de práticas criminosas, a nossa atuação é de apoio aos órgãos de assistência social. Eles são, apenas, o reflexo da face negativa da desorganização da sociedade, da falta de controle social. Há total necessidade de uma ação integrada e ampla, de forma a criar meios pra que esse indivíduo tenha oportunidades, antes limitadas”. O secretário municipal de Assistência Social, Jaime Luiz Rodrigues, entende que este é um processo complexo, pois “não é fácil fazer a transição do estado de violação de direitos, de vulnerabilidade social, pessoal e de saúde para um estado de emancipação pessoal e profissional”. “Ele é fruto de uma falência múltipla de políticas: não funcionou a questão habitacional, a de emprego e a da saúde”, complementa a coordenadora do Centro de Referência Especializado da Assistência Social, Maria das Dores Santos. E lembra, ainda, que “o morador de rua tem uma experiência de vida muito grande. Em especial, os migrantes. Eles sabem do que acontece no país inteiro. Sabem, por exemplo, da atuação dos agentes públicos em outras cidades. Ele já esteve em Belo Horizonte, em Teófilo Otoni, em Ipatinga. Eles sabem das práticas de higienização, das remoções. Então, já agem com resistência”. Com isso, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social para a População de Rua (CREASPOP), na Rua Belo Horizonte, Centro, e o Abrigo Noturno, no Bairro São Cristovão – e não São Tarcísio, como dissemos na terceira edição deste Figueira – seguem sendo subutilizados. Os dois espaços juntos oferecem alimentação, banho, higienização das roupas, oficinas, emissão de documentos e encaminhamentos para tratamentos psíquicos e de saúde, pernoite, entre outros. As duas casas seguem parcialmente vazias, enquanto as calçadas seguem lotadas.

É muito importante que as ações do programa comecem por ali. É uma das principais cenas de uso e espaço de recorrentes abordagens do nosso Batalhão devido ao grande número de usuários e, consequentemente, de traficantes de drogas ilícitas. Mas, o problema é mais social do que policial. São pessoas dum grupo de risco, alvos e, por vezes, praticantes de atos criminosos. Ten. Cel. PM Wagner Fabiano

Não é fácil fazer a transição do estado de violação de direitos, de vulnerabilidade social, pessoal e de saúde para um estado de emancipação pessoal e profissional Jaime Luiz Rodrigues Secretário Municipal de Assistência Social


ESPECIAL 14

A festa do 19 de abril na Área Indígena Krenak Jaider Batista da Silva Consta que em 1940 reuniu-se no México o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. O dia 19 de abril, naquele congresso, foi marcado pela aceitação dos líderes indígenas do continente de participar das discussões, até então restritas ao pessoal dos governos e das universidades. Em 1943, o presidente Getúlio Vargas definiu a data como o Dia do Índio, no Brasil. O povo originário do Rio Doce, o Krenak, se autodenomina Borum Watu – o Povo do Rio Largo. Os Borum povoaram todo o Rio Doce por muitos séculos, vivendo em pequenos grupos. Krenak (Kren é crânio, cabeça e Nak ou Naque é terra) foi um dos principais líderes do povo na resistência ao avanço da ferrovia sobre as suas terras no início do século XX. Por sua fama, o povo passou a ser chamado por seu nome. No período mais duro da ditadura militar (19711975), Minas Gerais foi governada por um interventor, Rondon Pacheco, que autorizou a Ruralminas a tomar as terras dos Krenak e a distribui-las para mais de 50 fazendeiros da cidade de Resplendor. Os Krenak foram expulsos da terra que havia sobrado para eles e distribuídos entre aldeias de vários povos pelo país. Distribuídos. Em 1979, quando da enchente do Watu, vários deles sonharam que era momento de retornar e assim fizeram. Muitos vieram a pé de centenas de quilômetros de distância até uma pequena faixa de terreno na beira do Rio Doce, o seu Watu, na antiga área. Em 1996, o Supremo Tribunal reconheceu como nulos os títulos de terras dados na área indígena Krenak pela Ruralminas do interventor Rondon Pacheco. Em 1997, a Polícia Federal, por ordem do STF, fez a desintrusão da área, retirando os fazendeiros e devolvendo a terra ao povo Krenak. Cerca de 90 índios estavam entre aqueles do retorno, a maioria nascida após a expulsão na ditadura militar. Hoje, quase 300 Krenak vivem na área tradicional e outros permaneceram nas áreas para onde foram levados na expulsão, principalmente em Vanuíre, no Oeste de São Paulo, entre os Kaingang. Os Krenak têm alto nível de escolarização, muitos deles com formação universitária, graças a um acordo que mantiveram por mais de uma década com a UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce. Têm uma noção forte de liderança e investem na recuperação ambiental dos 4 mil hectares que compõem a sua terra, onde também produzem gado leiteiro e alimentos, o que tem garantido estabilidade para as novas gerações. Nesta edição, o Figueira reporta a festa do dia 19 de abril na aldeia e passa a veicular a coluna Kiém Erehé, pela qual o jornalista Douglas Adilson Krenak, que vive e trabalha na área indígena, enviará notícias da aldeia para nossos leitores. O rio que corta internamente a área indígena é o Kiém. Essa palavra deve ser traduzida como casa, lar, nosso lar. Erehé é como shalom ou paz, ou tudo de bom. É um cumprimento quando as pessoas se encontram. É um adjetivo para feliz, bom, bonito. Kiém Erehé é como um Home Sweet Home coletivo. De lá virão boas notícias. No Figueira, os nomes dos povos indígenas do Brasil serão sempre reportados no singular e com a grafia estabelecida pela Associação Brasileira de Antropologia – ABA.

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril 2014

Krenak

Dia de festa na aldeia

19 de abril foi dia de festividade entre os Krenak. Comemoraram o dia do índio. A festa aconteceu na Aldeia Atorã e contou com cerca de 600 pessoas. Estiveram presentes índios de outras etnias e não-índios das cidades vizinhas da região. A festa aconteceu entre dez horas da manhã e seis da tarde, com destaque para apresentações de danças, comida típica e competições entre indígenas como arco e flecha, zarabatana, cabo de guerra, corrida de revezamento de dumaracá. Na modalidade arco e flecha destaque para Emerson Krenak, e na modalidade zarabatana Leandro Krenak, ambos são atuais campeões de suas modalidades nos Jogos Indígenas de Minas Gerais que aconteceram ano passado na Aldeia dos Pataxó, no município de Carmésia, MG. Em meados de julho deste ano devem acontecer novamente os Jogos Indígenas de Minas Gerais, desta vez o evento acontecerá na Área Krenak, Município de Resplendor, MG. A competição do ano passado teve a participação de oito aldeias, para este ano é pretendida ampliação do evento. Na festa do dia 19, o povo Krenak aproveitou o momento festivo para relembrar a luta pela reconquista de suas terras e a sobrevivência do grupo. Na dança, puderam cultuar os deuses da cultura Borum, a comida típica foi saboreada com muito gosto, pois relembra os tempos difíceis de fome e luta em tempos de exílio e readaptação no Vale do Rio Doce. A festa foi um bom momento para rever os parentes e comemorar a vida em coletividade. Marcelo Krenak é presidente do Conselho Local de Saúde Indígena - SESAI

Comissão Nacional da Verdade cria grupo de trabalho para investigar crimes da Ditadura contra os povos indígenas “A descoberta de maior repercussão até agora foi o Relatório Figueiredo, encontrado por Zelic nos arquivos do Museu do Índio, no Rio. O documento reúne em 7 mil páginas, divididas em 30 volumes, os resultados de uma investigação sobre o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) liderada pelo procurador Jader de Figueiredo Correia entre 1967 e 1968. Ela foi ordenada pelo regime militar, pressionado por denúncias internacionais de genocídio contra os índios. Em junho de 1967, porém, antes do início dos trabalhos, um incêndio nunca esclarecido no Ministério da Agricultura, em Brasília, destruiu milhares de papéis do SPI. Mesmo assim, Figueiredo conseguiu compilar uma série de abusos cometidos sob jurisdição do SPI desde a criação do órgão, em 1910. E mostrou que eles não apenas continuaram durante o regime militar, como adotaram procedimentos da “linha dura”. O relatório denuncia a existência de pelo menos sete cadeias indígenas nos estados de Goiás, Amazonas e Mato Grosso do Sul, entre outros. E relaciona técnicas de tortura contra índios — uma delas consistia em algemar o prisioneiro e espremer um de seus pés em uma forquilha. O caso mais emblemático de presídio indígena é o Reformatório Krenak, que funcionou no município de Resplendor, leste de Minas Gerais, de 1969 a 1972 (depois, portanto, da investigação de Figueiredo). Administrado pela Polícia Militar do estado

GRIN - Guarda Rural Indígena, criação da ditadura militar e pelo governo federal, recebeu, além de índios Krenak da região, prisioneiros de etnias de outras partes do país, como xavantes, guaranis e pataxós, sob acusações que iam de invasão de terras a roubo e “vadiagem”. Os detentos eram proibidos de se comunicar em seus idiomas e obrigados a falar português. E enfrentavam privações como confinamentos prolongados e chicotadas. Há relatos de pelo menos um índio arrastado pelos pés num cavalo e outro forçado a beber leite fervendo até morrer. O Reformatório Krenak operou já sob a Fundação Nacional do Índio (Funai), criada no final de 1967 para substituir o desacreditado SPI. O novo órgão foi uma das mudanças introduzidas pelos militares em resposta ao questionamento internacional crescente sobre sua política indigenista.” (Guilherme Freitas, O Globo, 12/04/2014)


ESPECIAL 15

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril de 2014

Testemunho

O Governo entregou os territórios indígenas de Minas Gerais à jurisdição da Polícia Militar Geralda Chaves Soares

Cerimônia em uma das aldeias Krenak, em Resplendor, durante a comemoração do Dia do Índio. Mulheres Krenak observam o ritual

Escolher minha herança Nadil Krenak (Valdemar Adilson) foi um homem que liderou o seu povo durante momentos difíceis. Ainda adolescente, foi retirado com sua família da aldeia no Vale do Rio Doce e levado para a aldeia Vanuíre, em Tupã, no estado de São Paulo. De lá, voltou para Minas Gerais e viveu entre os Pataxó. Mais tarde, já trabalhando na FUNAI, foi para os Maxacali e só na década de 1990 conseguiu voltar para o Rio Doce. Após o retorno ao território, foi um dos líderes que mais trabalhou para a retomada das tradições musicais e espirituais do povo. Nadil foi um líder espiritual e político de grande importância. Por isso, segundo várias pessoas da aldeia, ele agora é um Marét, um espírito protetor de seu povo. Não tive tempo para retomar muitas das conversas iniciadas com Nadil que era um grande contador de casos. Muitas perguntas ficaram por serem feitas. Em meio à amizade, ele faleceu e eu e mais um tanto de gente não ouvimos mais sua maneira carinhosa de se referir a quem o escutava: ôh filha... Assim como centenas de Krenak, me senti órfã. A perda desse grande amigo me deixou sem rumo e me fez herdeira de um modo de ser no mundo. Após a sua partida, as mais variadas lembranças que guardo me fizeram sentir mais próxima dele. Essa noção de herança implica uma reafirmação de escolhas e mais, como escreveu Jacques Derrida “um herdeiro não é apenas alguém que recebe, é alguém que escolhe, e que se empenha em decidir”. Por não apenas aceitar uma herança, mas falar sobre ela para mantê-la viva, trago uma das narrativas que escutei. Essa foi uma das histórias mais bonitas que ouvi sobre as pessoas que constituem o grupo Krenak e foi contada pelo Nadil, durante uma conversa, em 2009.

Nádia Maria Jorge Medeiros

Ele me contou que foi a Vanuíre tentar convencer um senhor que foi levado para lá, ainda jovem, pelo Serviço de Proteção ao Índio-SPI (agora Funai), a voltar para a sua terra, no Rio Doce. Ao chegar à aldeia, em São Paulo, encontrou-se com esse senhor, que havia ficado cego. Nadil relatou que a cada tentativa de convencimento recebia uma negativa por parte do velho Krenak. Mesmo falando da posse da terra, das iniciativas de fortalecimento da cultura, da retomada de muitos valores tradicionais, do Rio Doce, sempre ouvia um não. Ao final da conversa, o velho contou o porquê de tantas negativas ao pedido de sua volta para a sua terra. Segundo Nadil, o velho cego disse que quando saiu de seu território, enxergava e agora não mais e assim, como poderia reconhecer aquele lugar como o seu? Como reconhecer o lugar de onde tinha sido retirado? Essa impossibilidade da volta para casa por causa da incapacidade de visualizar um local como o seu antigo território me deixou embaraçada por muito tempo. Inicialmente, acreditava que era somente algo ligado aos significados relacionados à emoção da volta. Hoje, já consigo visualizar uma alternativa não excludente da inicial: ao perder seu território, esse senhor talvez tenha procurado um outro lugar para si.

Nádia Maria Jorge Medeiros é professora universitária em Governador Valadares, da sua tese de doutorado em Educação na UnB “Um estudo sobre as práticas matemáticas do povo Krenak”, 2012.

O Povo Krenak chegou a 1964 já extremamente fragilizado. Desde 13 de maio de 1808 esse povo viveu sob uma declaração de guerra feita por Dom João VI, então recémchegado de Portugal. Ao longo do Rio Doce, Watu na língua, os Krenak foram definindo o seu último refúgio. Criado o SPI - Serviço de Proteção ao Índio, em 1810, começaram as novas investidas do Governo. As terras indígenas eram arrendadas para não-índios e o povo nativo tinha de se submeter ao mando dos chefes de Posto do SPI. Em 1923 aconteceu o Massacre do Cuparaque, com extermínio de toda uma aldeia. Com o advento da ditadura, em 64, todas as aldeias de Minas Gerais e do Espírito Santo foram colocadas sob a jurisdição da respectiva Polícia Militar. No território Krenak foi criado o Reformatório ou Presídio Indígena Krenak. Ironicamente, deram ao lugar de tortura o nome do povo. Para ali, foram encaminhados indígenas de todo o país, para viverem em regime de trabalho forçado. A rotina diária era levantar de manhã, tomar café e, sob forte escolta dos soldados armados se dirigir ao arrozal, onde trabalhavam até a hora do almoço. Retornavam, almoçavam e depois novamente eram levados de volta ao trabalho. À noite, banho, janta e eram trancafiados nas celas. Por qualquer motivo, eram confinados na solitária. Homens indígenas de todo o país passaram por este regime de trabalho forçado no Presídio Krenak: Xerente, Pankararu, Maxakali, Terena, Krahô, Urubu Kaapor, Pataxó Hã Hã Hãe e outros. Muitos morreram ali, como Gero Maxakali, ou foram assassinados como Dedé, Baenã, muitos foram torturados, outros nunca mais retornaram às aldeias de seu povo, como Sêo Antonio Pankararu e Bibiano Xerente. Seus crimes: vadiagem, embriaguez, desentendimento com funcionários, brigas nas aldeias, no geral resistência aos desmandos dos funcionários do SPI, que sob o governo militar tornou-se Funai. As mulheres Krenak foram obrigadas a trabalhar na cozinha do Presídio. Os demais Krenak viviam ali confinados em seu próprio território. Nômades, e conhecedores da região, estavam acostumados a vender seus produtos na cidade vizinha da aldeia, Resplendor. A partir daí são proibidos de atravessar o Rio Doce. Só havia permissão quando esta era dada por escrito pelo chefe do Posto. A embriaguez era punida com a prisão na solitária. João Bugre, que mais tarde se tornou um líder do povo, ficou preso na solitária por 6 meses, por ter desobedecido o funcionário e ter se embriagado. Suas terras foram arrendadas aos poucos aos não-indigenas, o que lhes aumentava a insatisfação. Na medida em que os arrendamentos avançam, os Krenak eram transferidos compulsoriamente para o território Maxakali, já perto da Bahia, nos municípios de Bertópolis e Santa Helena de Minas. Ali permaneceram por pouco tempo. Adoeceram e a saudade os fez resistir, voltando a pé em dois grandes grupos familiares para o seu território no Rio Doce. São três longos meses de privações e sofrimento, deixando para trás os que morreram. Teimosamente, retornaram à terra de seus antepassados, às margens do Rio Doce. Dali, as mulheres Laurita, Sonia e Deja começaram a participar de encontros de mulheres em Teófilo Otoni, a se aproximarem dos movimentos sociais e a denunciar o seu sofrimento e a luta pelo território. Com a extinção do Presídio em 1972, foram de novo forçados a abandonar o Rio Doce. Resistiram, ameaçando flechar os funcionários, alguns são amarrados e jogados num vagão de trem como animais. Assim foi que chegaram à Fazenda Guarani, em Carmésia, MG, juntamente com os prisioneiros do Presídio desativado. A Fazenda Guarani era administrada pela Polícia Militar de Minas Gerais e se assemelhava a um campo de concentração naquele período. Indígenas de vários povos eram ali confinados, como os Pataxó Hã Hã Hãe punidos por sua luta por seu território na Bahia, ficando sob os “cuidados” de soldados ou de funcionários da FUNAI. Essa fazenda pertencia ao Estado de Minas e o clima, muito frio, piorava as coisas para os Krenak acostumados às pescarias e ao clima quente e sadio do Rio Doce. Nunca a banana verde substituiria os peixes partilhados nas aldeias do Rio Doce. Ainda na década de 70, aconteceu a Primeira Assembleia dos Povos Indígenas de Minas Gerais, na Fetaemg, em Valadares. As falas dos Krenak foram de denúncia, como presos políticos, torturados, exilados, mortos, sacados de seu território à força, os sobreviventes estavam sem moradia e sem alimentação. Citado como pessoa abominada estava o capitão Manuel dos Santos Pinheiro, sobrinho do Governador Israel Pinheiro, que fora o comandante deste período de tragédias e fundador da GRIN – a Guarda Rural Indígena. A GRIN recebeu jovens de várias etnias indígenas de Minas para formarem um pelotão, treinado pela Policia Militar. Ali, aprendiam a torturar e a reprimir, como bem o demonstra o filme Arara. Mas é dali, do último lugar que lhes fora destinado na sociedade, que se rearticulou e se iniciou a luta pelos direitos indígenas em Minas Gerais. Não só de Minas. Por causa da busca pelo avô que fora levado à força, Antonio Pankararu, desceram indígenas Pankararu do Pernambuco. Dali saíram lideranças para os territórios Guarani do Espírito Santo, Pataxó da Aldeia Geru Tukunã, assim como outros Pataxó liderados pelo Cacique Kanatyo, os Hã Hã Hãe da Bahia. O povo Krenak, depois de ter o seu território impactado pela ferrovia que hoje é da VALE e por duas hidrelétricas, aguarda que o Estado, consciente de sua dívida com eles e seus descendentes, lhes devolva o Território dos Sete Salões para que a paz reine em suas aldeias. Geralda Chaves Soares é pedagoga e pesquisadora da História dos Povos Indígenas de Minas Gerais.


ESPORTES 16

FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de abril 2014

Pai Nosso, que estás no céu; santificado seja o Vosso nome; venha a nós o Vosso reino! Jogadores, comissão técnica e torcedores rezam a oração do Pai Nosso, no centro do gramado, depois da vitória histórica sobre o Social, no domingo de Páscoa. No momento da oração, muitos choram. É o choro incontido, que começou quando Amilton, aos 45 minutos do segundo tempo, estufou as redes do Social. A Pantera ressuscitou, subiu. Fotos do Álbum da Pantera Cor-de-Raça

Campeonato Mineiro Módulo II

Ressuscitou, subiu!

Em partida histórica, Democrata vence o Social por 3 x 2 e está de volta à elite do futebol mineiro. Muitos davam a Pantera como morta, mas no domingo de Páscoa ela ressuscitou, subiu! E o Mamudão se desfez em lágrimas. Tim Filho / Repórter Domingo de Páscoa, 20 de abril de 2014. Céu azul com nuvens esparsas. O pico do Ibituruna se recorta no azul celeste. O morro do Carapina se esmaece em meio às nuvens cinzentas e o brilho do sol. O estádio José Mammoud Abbas está quase vazio, poucos torcedores chegam e se acomodam. As duas gigantescas faixas das torcidas organizadas “Pantera Cor-de-Raça” e “Demorkut” se destacam, mas perdem para uma menor, feita no tecido sintético TNT, branco, grafitado com a mensagem: “Feliz Páscoa, ressucita Pantera”. Assim mesmo, sem vírgulas, faltando o “s” em ressuscita. Mas que diferença faz grafar certo ou errado, se a mensagem é um desejo e ao mesmo tempo uma súplica? Ressuscita, Pantera! Para uns, a Pantera está morta. Para outros, em estado terminal. Para poucos, aqueles que têm fé, vai ressuscitar. São 15h30. Em meia hora começa a decisão. O Democrata precisa vencer o Social de Coronel Fabriciano. Não apenas isso: precisa torcer para o Montes Claros, lanterna do campeonato, vencer o Uberlândia, time que já canta a vitória e o acesso ao Módulo I, a elite do futebol mineiro. O corredor dos vestiários tem menos gente que em outros jogos. Um grupo de policiais militares conversa sobre assuntos administrativos, vantagens salariais, quinquênio. “Mas o Aécio Neves nos pagou o quinquênio, lembra?”, diz um deles. Mas quem quer saber de Aécio Neves? A conversa não interessa aos democratenses, todos tensos, com cara de desespero, como a de Sinval Borges, da torcida organizada Pantera Cor-de-Raça. Chega, para, olha para um lado, para outro, e saca do bolso o smartphone. Desliza o dedo sobre a tela. Uma mensagem aterradora aparece e ele explica: “um amigo nosso, lá de Montes Claros, da torcida do Funorte, mandou esta mensagem. Disse que estava em uma churrascaria e ouviu um diretor do Montes Claros afirmar que vendeu o jogo para o Uberlândia”. A notícia cai como uma bomba e o smartphone vai parar nas mãos do presidente do Democrata, Edvaldo Soares dos Santos. Tenso, ele lê a mensagem. Fica sem palavras, mas depois, fala: “E quem disse que diretor joga? Quem joga são os jogadores. Ele que venda o jogo, quem vai jogar são os jogadores do Montes Claros”. A tensão aumenta Dona Zilda Alves chega. Cabelos brancos, soltos, vestindo um vestido com estampa impressionista. Estranhamente, usa um batom rosa-chá, cintilante. Estranhamente, porque

no dia-a-dia do Democrata, Dona Zilda esta sempre de cabelos presos e avental, mas num domingo de Páscoa, para ver o time do coração, para ver os seus meninos jogarem, ela pôs a melhor fatiota, caprichou na maquiagem. Tia Zilda é quem lava os uniformes dos jogadores da Pantera desde 1971. Encostada no alambrado, ela desabafa: “Ai, meu Deus! Só o Senhor sabe o tanto que eu já rezei hoje. Botei os joelhos no chão e rezei, muito. Esses meninos têm de ganhar, meu pai do céu. Mas eu tenho fé, em nome de Jesus”. Querem saber a idade de “Tia Zilda”? 85 anos. Governador Valadares tem 76 anos. Tia Zilda, 85. Isso significa que ela é do tempo do Distrito de Figueira. Quando Governador Valadares nasceu, ela tinha 9 anos de idade. E quando o Democrata foi fundado, em 1932, ela tinha três aninhos. Bravo! E por falar na fundação do Democrata, quem chega é Agenor Francisco Barbosa, neto de Agenor Virgílio de Oliveira, que em 1932, junto com Cornélio Alves, fundaram o Democrata no campo de terra, onde hoje se localiza a Mobilidora Brasil, na esquina das ruas São Paulo com Marechal. Sêo Agenor foi quem desenhou o primeiro escudo do Democrata. Para honrar o nome do avô, Agenor, o homem que chega para ver a decisão botou no carro uma bandeira preta, com o escudão do Esporte Clube Democrata. “Essa dá sorte. Botei, porque vamos ganhar e subir”. Já são 16h. O Social entra em campo. Um silêncio monástico impera. A pequena torcida do Democrata não vaia. Teme vaiar e, sem querer, aplaudir, afinal, o dramaturgo Nelson Rodrigues já disse: “a vaia é a apoteose do aplauso”. Mas, o Social não entrou assim, sem levar uma vaiazinha. Quando os jogadores socialinos chegaram no círculo central, ouviu-se a vaia. A torcida começa o esquenta. O hit do Módulo II, “Vamos subir, Demô!” começa a ser cantado. Fábio Noronha aparece na boca do túnel, o Panterão, mascote do Democrata, se assanha, as crianças, de mãos dadas com os jogadores começam a pisar o gramado. Democrata em campo, com chuva de papel picado, gritos, aplausos. O samba “O Campeão”, de Neguinho da Beija-Flor, adaptado, claro, começa a ser cantado: “Domingo, eu vou para o Mamudão, vou torcer pro time que sou fã, vou levar foguetes e bandeiras... e Edvaldo “Fogueteiro” acende o estopim. O fogos sacodem a Oswaldo Cruz e a região da Esplanada. A ambulância com médico, paramédicos, desfibrilador (o aparelho que ressuscita), chega. Atrasada, mas che-

ga. O jogo vai começar com atraso de 10 minutos. Jogo cá, jogo lá Torcer para dois times, em dois jogos num mesmo dia, numa mesma hora. Esta é a sina do democratense. Haja coração! Montes Claros e Uberlândia começaram a decidir, lá em Montes Claros, 10 minutos antes. Ao 9 minutos, Rafael faz 1 x 0 para o Montes Claros. A torcida do Democrata vibra. Aos 10, Evandro empata para o Uberlândia. Aos 16, Daniel Morais desempata para o time do Triângulo. A Pantera está morta. Aos 19, Vinícius empata para o Montes Claros. A Pantera continua morta. O empate não serve. Em Valadares, Amilton abre o placar aos 44 minutos do primeiro tempo. As esperanças se renovam, mas é preciso que o Montes Claros vença, vire logo esse jogo. A diferença é de 10 minutos entre um jogo e outro. O nervosismo toma conta do Mamudão. Começa o segundo tempo e Tyrone, empata para o Social. Não bastasse esse empate amargo, a coisa azeda aos 21 minutos. Fábio Noronha faz pênalti. Anderson Toto bate e vira para o Social. A ansiedade toma conta do time do Democrata. A bola não entra, bate na trave, passa raspando, o goleiro pega tudo. Até que aos 40 minutos do segundo tempo, lá em Montes Claros, o que parecia impossível aconteceu: Santana subiu de cabeça e marcou: Montes Claros 3 x 2 Uberlândia. A torcida do Democrata vibra. Era o que todos queriam, mas, de que adianta? O Democrata está perdendo. O árbitro Adriano Oliveira já expulsou dois jogadores do Social (Wallan e Madson), e um do Democrata (Rodrigão). Lembram da faixa de TNT? “Ressucita Pantera?” Pois a súplica chegou aos céus. Jeferson Tanque, como um tanque de guerra, invade a área do Social e manda uma bomba. A bola explode no zagueiro do Social e entra. Está empatada a partida. Os estádio se incendeia, já é possível ver torcedores chorando e gritando “eu acredito!”. Jeferson marca de novo, o juiz anula. O sofrimento aumenta. Aos 45 minutos, Denilson joga a bola na área. No bate-rebate, Amilton, o predestinado, mandou mais uma bomba que explodiu nas redes. Era o milagre de Páscoa. O estádio se desfaz lágrimas No livro “Produção de Rádio”, o autor Robert McLeish define o rádio como “um meio cego”. Conta que um garoto, certa vez, no século passado, foi perguntado se gostava de

Os torcedores foram comemorar o acesso na sede da torcida Pantera Cor-de-Raça ver novela na TV ou no rádio: “No rádio, pois o cenário é bem maior”. Sim, maior, do tamanho da imaginação, da emoção. E o locutor Tony de Oliveira, da Rádio Mundo Melhor AM, ampliou o cenário da vitória, do milagre. Emocionado, ele não conseguiu gritar gol, como sempre faz. A voz foi embora. Disse que não chorou, mas chorou, sim, ao gritar: “inacreditável o que Democrata fez aqui, inacreditável”. Os microfones captam a vibração, da explosão dos fogos. O repórter de pista, Nilton Passos, também se desespera ao descrever o gol: “Amilton, o terror do Democrata, o predestinado...” Se Tony de Oliveira quase chorou, Domingos Neves, narrador da TV Pantera (projeto experimental do Democrata) se desmanchou em lágrimas. Chorou copiosamente ao narrar o gol de Amilton. Chorava e pedia desculpas ao público, por não conseguir mais narrar. Torcedores e torcedoras choram. É emoção demais. O professor Hadson Santiago, que preserva a história do Democrata com um acervo particular de fotos, recortes de jornais, revistas, camisas, estava nas arquibancadas metálicas. “Eu e mais uma porção de anônimos ao meu lado, choramos muito. Não sei como tem gente que torce pro Barcelona, Real Madrid, Chelsea...

emoções como esta só o Democrata nos proporciona. Não há dinheiro no mundo que pague”. Depois do jogo, o gramado é tomado pelos torcedores. O presidente Edvaldo Soares dos Santos sai do vestiário todo molhado. Despejaram nele água e gelo. Gilmar Estevam, o técnico, é jogado para o alto. Enfim, a ressurreição num domingo de Páscoa. Os jogadores vêm todos para o gramado. Dois círculos são formados: um menor, com jogadores e comissão técnica. Outro com torcedores. Estão ajoelhados. O lateral direito Leandrinho se levanta e grita: “Em todos os jogos o nosso grupo terminou de joelhos, porque essa vitória é do Senhor. À ele, toda honra e toda glória!” Em seguida, ecoa pelo estádio a oração do Pai Nosso. Ressuscitou, subiu! No dia seguinte, pela manhã, o capitão do time, Jadson, o volante Rildo e zagueiro Leo Breno subiram a pé o Pico do Ibituruna, pagando promessa. O sol brilha na Rua Owaldo Cruz. O repórter Fábio Moura ajeita a câmera e faz a foto oficial do time, com jogadores, comissão técnica e diretoria. É a foto que vai se transformar no pôster publicado na edição deste Figueira. Feita a foto, o grupo se desfaz. Todos gritam e aplaudem. O Democrata está de volta à elite do futebol mineiro. Deus seja louvado!

Leia a notícia factual do jogo entre Democrata e Social no site deste Figueira: www.figueira.jor.br

Assista no mesmo canal deste Figueira, os melhores momentos de Democrata X Social, com a narração emocionada de Domingos Neves. http://youtu.be/kmK-0FDEQUk

Ouça a narração do gol de Amilton, na voz de Tony de Oliveira, da Rádio Mundo Melhor AM, no canal deste Figueira no Yoututbe: http://youtu.be/TpsgdGxde-A

Baixe na fan page deste Figueira, no Facebook, o poster da Pantera, em PDF


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.