Edição 140 - junho 2015
Primeira Mão
Da formatura para o trabalho página 4 Junho 2015 - Revista Primeira Mão I
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vamos a la playa - lucas pinhel 2 I Revista Primeira M達o - junho 2015
Índice Da formatura
para o trabalho
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Editorial
Editorial
O ingresso na universidade abre portas, expande
Índice
O ingresso na universidade abre portas, expanhorizontes, responde perguntas… Entramos de deum horizontes, responde Entramos jeito, pensando que, perguntas… em nossa saída, seremos de Cilada fitness.......................................................... 8 um jeito, pensando que, em saída, mais maduros e teremos maisnossa certezas. Noseremos meio Uma estrada no meio do caminho........................ 14 Manifestações 14 mais maduros vemos e queque teremos do caminho, quantomais maiscertezas. perguntasNo Entrevista: O caminho2015 dos ‘focas’........................ 16 são do respondidas, se formam empergunnosTá de bobeira?........................................................ 18 meio caminho,outras vemostantas que quanto mais sas cabeças. Mudamos de ideia várias vezes. Como Estrangeiros: sim, eles também estão na Ufes!..... 04 20 tas são respondidas, outras tantas se formam em A hora do TCC será quando não Mudamos estivermos mais na universidade? Política de internacionalização.............................. 21 nossas cabeças. de ideia várias vezes. A segunda edição elaborada pela turma de jornalEstudantes trocam capital pelo interior............... 22 Como será quando não estivermos mais na univerPerfil edo empreendedor ismo de 2012/2 da revista Primeira Mão está cheia Retensão evasão desafiam a Ufes..................... 06 24 sidade? de matérias ligadas ao cotidiano de um estudante Ready, Break!........................................................ 26 A segunda edição elaborada pela turma jornada Universidade Federal do Espírito Santo. de Como A política no Espírito Santo..................... 207 8 Anjos cultural na Ufes lismo dea2012/2 da um revista Primeira M˜˜o está cheia muda vida de universitário que deixou a Receita: Especial do Mês dos Namorados........... 30 Vitória para ao estudar no interior do estudante Estado? deGrande matérias ligadas cotidiano de um Ufes no Facebook 08 Na companhia dificuldades que os alunos enfrentam paraComo se daAsUniversidade Federal do Espírito Santo. formar não de se devem apenas da relação aluno-prodos bichos muda a vida um universitário que deixou a Granfessor. E, depois de formado, que caminho seguir? A subida do dólar 09 de Vitória para estudar no interior do Estado? As diVamos descobrir o que o mundo do trabalho espeficuldades que os alunos enfrentam para se formar ra dos recém-formados. Sob os olhos da natureza 10 nãoNesta dependem relação aluno-professor. edição,apenas tambémdafomos conhecer as meniE depois de formado, que caminho Vamos nas de aço que trouxeram esportes seguir? estrangeiros Grande Vitória além das janelas 12 descobrir o queSanto, o mundo do trabalho espera para o Espírito tratamos do amor pelos ani-dos mais e do que fazer depois do último adeus. Além recém-formados. disso, dicas para aderir estilo de as vidameNestadamos edição, também fomosaoconhecer Entrevista: A solução cubana 17 fitness sem surpresas. Por falar em surpresa, surninas de aço que trouxeram esportes estrangeipreenda o seu amor no mês dos namorados com ros para o Espírito Santo, tratamos do amor pelos Quando os filhos chegam cedo 18 uma receita especial de macarrão enrolado no animais dopresunto. que fazerPara depois dovocê último adeus ` queijo ee no fechar, confere o e, também, fomos dar uma conferida nas soluções ensaio “O amor está no Centro”. Filmes em casa ou nos cinemas 26 apresentadas sobre o estilo de vida fitness, que se popularizou na internet, mas que ainda exige atenUfes se prepara para Olimpíadas 28 ção com o conteúdo e sobre o mês dos namorados, uma receita especial paraPrimeira você curtir o seu laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso mão écom uma revista Culinária da vida real 30 amor e um ensaio especial.de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo.
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Expediente
Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-710 revistaprimeiramao@gmail.com. Expediente: Ano XXVI, edição 140, junho Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos2015. alunos do 6º período do curso de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 revistaprimeiramao@gmail.com. Ano XXVI, número Semestre 2015/01 Reportagem e edição: Brito, 139. Joicy Marques, Júlia da, Lívia Meneghel, Luana e Yasmin Gomes. Dia-
Betina Hatum, Carolina Bragatto, Julia Grillo, Júlia Pessoa, Maria Luiza Silva, gramação: Klebert Silva, Reportagem e edição: Betina Hatum, Carolina Cinthia Mariana Pimentel,Carvalho, Daniella Camilo, Danielly Carneiro, Edilaine MachaSampaio, Cinthia Pimentel, Salume, JulianaSampaio, do Amaral, Mariana Laura Mansur e Ruth Reis. do, Gabriela Costa, João Brito, Joicy Marques, Júlia Bragatto, Júlia Grillo, Júlia Salume, Juliana Do Amaral, Karolyne Mayra, Daniella Camilo, Danielly Karolyne Mayra, Klebert Salomão, Marina Amorim, Professora orientadora: Klebert Silva, Laura Mansur, Letícia Menezes, Linneker Almeida, Lívia Meneghel, Luana Pessoa, Maria Luiza Silva, Mariana Carneiro, Silva,Amorim, Laura Mansur, Letícia Stefhani NayaraPaiva, Santana, Poliana Ruth Reis. Letícia Impressão: GráCarvalho,Edilaine MarianaMachSalomão, Marina Nayara Santana, Yasmin Gomes. Diagramação: Menezes, ado, Gabriela João Menezes, Carvalho, Stefhani Paiva fica da Ufes. Klebert Silva, Costa, Ruth Reis. Impressão: GráficaLinneker da Ufes AlmeiJunho 2015 - Revista Primeira Mão I
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Da formatura para o trabalho O desafio de sair da universidade e enveredar para o mundo do trabalho e o que é esperado dos novos profissionais Reportagem: Júlia Salume e João Brito Ensaio fotográfico: Klebert Silva (fotos), Lineker Almeida (modelo), cenário: Labic/Ufes
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Depois da dedicação para passar no vestibular e de pelo menos quatro anos de curso universitário, o sonho de receber o diploma encerra uma difícil jornada, mas dá a largada para desafios ainda maiores. Assumir um posto de trabalho instigante, ser bem remunerado e um ambiente de trabalho agradável parece o roteiro perfeito, mas pode estar distante da maioria dos recém-formados. O cenário do mercado de trabalho é constituído por uma teia de situações complexas, mas para ficar mais fácil de entender, vamos simplificar as coisas recorrendo a um paradoxo e duas crises. O paradoxo: “para ter um emprego é preciso experiência, e para ter experiência é preciso ter um emprego”. Podemos observar que há altos níveis de desemprego entre os jovens e escassez de profissionais com habilidades essenciais para o trabalho. Numa perspectiva de uma educação voltada para o trabalho, é necessário que as instituições de ensino e os potenciais
empregadores precisam trabalhar mais próximos. Também é verdade que há pouca clareza sobre quais práticas e projetos funcionam, quais precisam ser reformuladas e o que ainda precisa ser desenvolvido. Uma das análises existentes sobre a questão educação/trabalho, que busca retratar exatamente o ponto de interseção entre o jovem, a escola e o emprego, foi realizada pela consultoria internacional McKinsey & Company, em nove países, e resultou no relatório “Educação para o trabalho: desenhando um sistema que funcione”, divulgado no Brasil pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo movimento Todos pela Educação. COMPETÊNCIAS Um dos problemas apontados está no desalinhamento das percepções entre as três partes - empregadores, instituições de ensino e jovens. A pesquisa realizada pela McKinsey & Company mostra que 40% dos empregadores apontam a falta de competência como o principal
De acordo com pesquisa publicada em 2014 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), 18,4% dos jovens brasileiros com até 29 anos não trabalham ou estudam. Entre os homens, o índice chega a 12,1% e entre as mulheres a taxa alcança 21,1%. O percentual aumenta para 28,2% entre as mulheres afrodescendentes. Junho 2015 - Revista Primeira Mão I
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Qual é o seu perfil? O período em que você nasceu define parte do seu estilo de trabalho e visão de futuro. Alguns sociólogos criaram categorias para definir as ambições dos jovens de acordo com cada década. Leia aí abaixo
motivo para que vagas destinadas a recém-formados deixem de ser preenchidas. (Veja no gráfico na página ao lado os detalhes da percepção dos empregados e instituições de ensino sobre as competências) A consultora de RH Carolina Gama, que já passou pela área de recursos humanos de grandes empresas como Vale, Samarco e EDP, conta como o mercado en xerga o jovem. “Nós sabemos que não podemos exigir conhecimento nem experiência, mas queremos maturidade. A grande queixa é que os jovens querem crescer muito rápido, acham que sabem muito, mas nunca viveram de fato. O que conhecem é pela internet ou por livros”, afirma. Saber se comunicar bem, ter domínio de outro idioma são sim bons diferenciais, só que o mercado busca mais do que isso: quer profissionais com habilidades e competências que só são desenvolvidas com a prática do trabalho em equipe. Aceitar as diferenças, criticar pouco e buscar soluções, incluir as pessoas no grupo, administrar conflitos, ser colaborativo, humilde, saber agir sob pressão e principalmente ser coerente entre o que fala e o que faz são habilidades essenciais hoje. “A empresa sabe que vai ter que investir no conhecimento técnico do funcionário, isso já está
Baby Boomers: surgiram logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, hoje essas pessoas estão com mais de 45 anos. No trabalho gostam de um emprego fixo e estável e seus valores estão são baseados no tempo de serviço, ou seja, preferem ser reconhecidos pela sua experiência à sua capacidade de inovação.
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planejado. Ela sabe que os jovens demoram mais para dar um retorno, mas isso também não importa. O ponto é que quem quer ser contratado precisa deter competências e autoconhecimento. Vale mais a pena investir em experiências que te proporcionem esse tipo de desenvolvimento - como um intercâmbio, por exemplo - do que numa pós-graduação”, afirma a consultora. Ou seja, para quem sai da faculdade e não está tão preparado, procurar uma pós-graduação pode não ser a melhor ideia, pois não há ganho de experiência prática. Não existe uma receita exata de experiências que a pessoa precisa ter no currículo, pois cada situação é singular, mas é fundamental ter sempre claro o que aprendeu com cada oportunidade e o que ainda precisa desenvolver. “Há habilidades que não são formadas na escola e que fazem a diferença de verdade” , completa Gama. O estudante de Economia Pedro Cinelli, 22 anos, ainda não se formou e já está trabalhando na carreira que quer seguir, mas, mesmo assim, conta que a situação não é fácil. “O período é de depressão econômica, com o corte
Geração X: já surge fazendo uso da tecnologia. Surgida em meados da década de 60 e estendendo-se até o final dos anos 1970. No meio profissional a Geração X é caracterizada atualmente por certas resistências em relação a tudo o que é novo, gostam de tranquilidade, estabilidade e equilíbrio.
de custos das empresas fica difícil para todo mundo, principalmente para o jovem que trabalha num setor mais fraco”, analisa. No momento dos processos seletivos muitos recém-formados são eliminados. “Vários cargos exigem experiência, mas muitos jovens são imaturos ainda para encarar a realidade de mercado de trabalho. Algumas empresas ainda desacreditam do jovem, aqui no Estado o mercado é muito fechado para novas ideias”, desabafa Pedro. Essa situação acaba levando os jovens para empregos temporários fora de sua área de formação (veja gráfico ao lado). Então o que pode ser feito para aproximar esses dois setores? Essa é a grande pergunta do sistema educacional brasileiro e mundial. “Acho que podia ter um relacionamento melhor com empresas e estas financiarem pesquisas, concursos, desafios para os jovens.”, sugere Pedro Cinelli. Enquanto essas iniciativas não acontecem, cabe ao jovem buscar em oportunidades extracurriculares o desenvolvimento de determinadas competências. Também é importante ter um plano de carreira o mais estruturado possível, a fim de realizar as melhores escolhas no processo de formação.
Geração Y: nascida nos anos 80, viu mais avanços tecnológicos e quebras de paradigma do mercado de trabalho. Crescendo num ambiente inovador, os jovens se individualizam, têm capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, desejo constante por novas experiências e querem ascensão rápida no trabalho.
Geração Z: nascidos de meados dos anos 90 em diante, São considerados os nativos digitais, por serem contemporâneos da Internet. Tendem a apresentar comportamento individualista, são criativos e gostam de inovação, também são considerados excêntricos, imediatistas e por estarem acostumados com velocidade têm problemas com tolerância. Junho 2015 - Revista Primeira Mão I
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SALADA FITNESS
O estilo de vida saudável invadiu a internet. Mas é preciso ter cuidado para seguir o conteúdo da rede
Julia Grillo Laura Mansur Poliana Carvalho
Nos últimos anos, é possível notar uma onda crescente de pessoas adeptas ao estilo de vida fitness (palavra de origem inglesa que significa aptidão física e/ou bom condicionamento). Para fazer parte desse grupo, é preciso praticar muita atividade física e ter uma alimentação regrada. Agachamentos, WHEY PROTEIN, frango e batata doce fazem parte da rotina de muitos. Com a cultura do compartilhamento e da exposição do “eu”, é possível perceber facilmente esse movimento acontecendo também nas redes sociais. Mas é preciso ter cuidado na hora de seguir alguma dica! A internet está recheada de informações que nem sempre são confiáveis e não devem ser colocadas em prática sem a orientação de um profissional. A blogueira capixaba Maria Borgo, de 32 anos, é nutricionista e compartilha desde 2013 o seu estilo de vida, que inclui a sua rotina de exercício e alimentação, em seu blog - www. mariaborgo.com.br - e redes sociais. Contudo, para Maria, o conteúdo que ela posta deve ser seguido apenas como inspiração e motivação. “Como profissional da área de saúde, sempre indico acompanhamento profissional e nunca faço nenhuma prescrição. Sou assistida por um personal trainer, um personal de Muay Thai nos meus treinos individuais e, também, por um outro nutricionista”, conta Maria. Amanda Pila, 36 anos, do blog www.123testandotudo.com, também compartilha a sua rotina na internet. Ela começou o projeto #AmandaMagrinha e posta perio-
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A blogueira Amanda Pila compartilha a sua perda de peso no projeto #AmandaMagrinha
dicamente a evolução da sua perda de peso. Assim como para Maria, o objetivo da Amanda é inspirar outras pessoas a terem um estilo de vida mais saudável, sem excessos. “No início eu tive dúvidas se deveria compartilhar. Tinha medo de começar e desistir do projeto no meio do caminho. Mas o fato de lançar o projeto nas redes sociais, me fez criar uma ‘obrigação’ em fazer dar certo. Serviu como o meu diário e hoje é uma forma de incentivo para tanta gente”, diz Amanda. Desde então, ela recebe mensagens dos leitores falando sobre resultados pessoais. Amanda também recebe orientação de profissionais e acredita que o conteúdo visto na internet deve ser selecionado antes de ser
colocado em prática. “O que acontece é que as pessoas procuram por soluções milagrosas e querem emagrecer num passe de mágica. E é ai que as loucuras começam a acontecer. Eu penso muito antes de postar qualquer coisa. O que mais me pedem, por exemplo, é para eu passar a minha dieta, e eu sempre respondo que só quem pode passar dieta é um profissional e nunca passo”, completa. A blogueira fitness mais famosa no cenário nacional é Gabriela Pugliesi, que compartilha com 550 mil seguidores, receitas e exercícios. Além disso, ela dá dicas de suplementação, mas não é especialista nessa área. Por ter grande credibilidade entre seus fãs, muitas vezes o conteúdo não é questionado e, por-
tanto, as pessoas não percebem que é uma leiga falando aparentemente com propriedade sobre o assunto. Ricardo Barbato, namorado de Pugliesi, foi além e atua como personal trainer em parques de São Paulo, mesmo sem ter formação. Isso preocupou profissionais de Educação Física, que o denunciaram e iniciaram o movimento virtual “Eu tenho CREF”, para ressaltar a importância do registro no Conselho de Educação Física. Mesmo diante da polêmica, Ricardo Barbato, que foi autuado pelo CREF-SP, tem recebido grande apoio de seus “alunos”, que aparentemente não se dão conta da gravidade da situação, como alerta a Educadora Física Evelyn Martins: “Assim como no caso de Barbato, é comum pessoas que praticam atividades físicas há muitos anos se considerarem especialistas e, por isso, indicarem, ou mesmo ensinarem, séries de exercícios. É preciso entender que nem sempre o que funciona para determinado indivíduo funcionará para outro.” Atuando há oito anos em academias, a profissional conta que é comum encontrar leigos no ramo, o que se deve à recente regulamentação da profissão e principalmente a falta de fiscalização na área. Também pouco fiscalizada, a venda de
suplementos sem orientação profissional tem se tornado comum. “Os alunos iniciantes já chegam na academia com informações a respeito de suplementação, que na maioria das vezes são obtidas pela internet, por onde se efetua inclusive a compra desses produtos. Muitas vezes, o suplemento adquirido não é compatível com as necessidades do aluno, que acaba se frustrando”, explica Evelyn. A nutricionista Joseline Silva alerta para os riscos da suplementação. “Para suplementar, é necessário curso superior de Nutrição ou Medicina. O profissional prescreve a suplementação de forma complementar a alimentação, então é importante uma avaliação técnica específica para identificar a necessidade ou não do uso de suplementos. Observa-se muitas pessoas que não têm formação nessa área recomendando o uso desses produtos de forma indiscriminada e despreocupada. E os riscos do uso sem orientação são muitos, desde questões estéticas, como maior facilidade para acne e acúmulo de gordura corporal, até situações graves de prejuízos no fígado e no rim”, conta a nutricionista. Queridinho do momento, o suco detox apresenta inúmeras versões circulando na rede, mas até algo aparentemente inofensivo requer
cuidados. O veterinário Luan Santos encontrou na internet uma dessas receitas e decidiu fazer. Após uma semana, seu organismo reagiu de forma negativa. “O limão contido no suco me ressecou, o que ocasionou uma infecção. Precisei ficar internado”, conta. Outro ponto a se destacar, é que por trás de inocentes dicas, pode haver publicidade, que tem encontrado terreno fértil nos perfis de celebridades virtuais. O problema é mais grave quando as propagandas são veladas, ou seja, não fica claro para o seguidor se é propaganda ou uma recomendação desinteressada. Por isso, todo cuidado é pouco na hora de decidir o que seguir ou não! A internet está cheia de bons exemplos e inspirações, mas é preciso procurar ajuda off-line também.
MINI BLOGUEIRA FITNESS Na onda fitness que atinge as redes sociais, um caso tem gerado polêmica entre usuários. A menina Anna Clara Mansur, de 9 anos, é chamada de Musinha Fitness e tem uma página no Facebook com mais de 5 mil curtidas. O instagram da menina foi bloqueado, após pular de 1 mil para 21 mil seguidores de um dia para o outro, após as fotos da menina começarem a circular pela internet. As postagens têm gerado muitas críticas à maneira como a criança é exposta e por ir à academia
tão nova. Na página do Facebook, administrada pelos pais da garota, são postados vídeos dos treinos, fotos das refeições e dicas para uma vida fitness. Há uma longa discussão sobre o fato de a menina ter uma vida tão regrada. Os pais defendem que a menina tem uma vida normal e saudável. O pai de Anna é educador físico e é o responsável pela rotina de treinos funcionais, que acontecem duas vezes por semana. Junho 2015 - Revista Primeira Mão I
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g Cercada por afeto, companheirismo e outros tantos atributos, a relação entre humanos e animais não é nada recente. Há tempos, os bichos fazem parte da vida e da rotina das pessoas. Essas relações geralmente se baseiam no apego e no cuidado, que existe tanto da parte das pessoas por seus bichinhos quanto o inverso. É verdade que há muitas pessoas que nem gostam de animais, mas há aqueles que amam tanto que não conseguem nem imaginar o dia a dia sem a companhia de seus pets. É o caso de Bianca Bortolon, 22, que há 14 anos convive com Simba, seu cachorro, e há dois com Snow, seu gato. Para ela, seus animais têm extrema importância: “Não tenho a menor ideia de como seria minha vida sem meus bichinhos. Eles são minha fonte inesgotável de amor e carinho”. Bianca conta, ainda, que quando Snow chegou a casa ficou mais
divertida e surgiram novas responsabilidades. “Caixinha de areia, horário da comida, dar banho... deveres comuns de um dono de bichinho surgiram. Acho que o principal é que ambos trazem uma nova luz ao lar. A alegria é a grande diferença entre uma casa com animais e uma sem”. Outra relação que exige muitas responsabilidades é a da universitária Gesiany Gratz com Lord, seu Bulldog Inglês de um ano e dois meses que adora passear de carro. Segundo Gesiany, o bulldog é uma raça que exige muitos cuidados. Lord por exemplo, tem muitas dobras no rosto, a pele fica assada com facilidade. Por isso, a dona passa pomada nele todos os dias. Banho, ela só dá em casa, pois o cachorro tem alergia à maioria dos produtos, e tem que ser secado com secador muito bem para não adquirir dermatites. Tudo isso requer muita paciência e atenção. Gesiany também conta sobre o
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Pesquisa do IBGE realizada em 2013 apontou que cerca de 44% dos domicílios têm cães, o que equivale a mais de 52 milhões de animais, já as crianças são 45 milhões.
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Bulldogada, um encontro que tem como objetivo reunir os donos e criadores da raça para trocar informações e experiências sobre os cachorros, encontros dos quais Lord sempre participa. “Isso ajuda ele a dormir quando chega em casa. As reuniões são sempre feitas ao ar livre, onde os cachorros ficam soltos brincando, o que é muito bom”, explica. Mas além de paciência e disposição é preciso ter uma boa condição financeira. A raça é cara e sempre aparece algum probleminha de saúde, tendo que levar no veterinário
ompanhia dos bichos Os animais de estimação trazem alegria aos lares, despertam a união das famílias, mas requerem cuidado e muita atenção dos donos.
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Lívia Meneghexl, Stefhani Paiva e Carol Sampaio
regularmente. De acordo com a veterinária Jana Drews, “as doenças mais suscetíveis em cães e gatos são afecções de pele, renais e virais. O tratamento costuma ter um custo mais elevado em algumas situações, pois é preciso de exames específicos ou até mesmo internação, sendo esta com acompanhamento pelo profissional da área 24 horas com o animal”, reforça. Por isso é importante os cuidados com a saúde dos bichos de estimação, se preocupando desde a
melhor alimentação, doenças mais comuns e curiosidades sobre os bichos. Mas quando as doenças e transtornos são nos humanos, os bichinhos também podem ajudar no tratamento. Em conversa com a professora do Departamento de Psicologia da Ufes, Suema Tokumaru, ela disse que o convívio com animais podem tanto ajudar em aspectos motores como também em transtornos em geral. “A partir da presença de animais, doenças como autismo, deficiências ou alguns transtornos,
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passam a ter melhoras significativas. Existem vários projetos de visitas de animais às pessoas hospitalizadas, elas mostram desenvolvimento do afeto e os pacientes relatam se sentirem melhor. Ainda não se sabe se o efeito é prolongado, mas durante e após a visita é demonstrado a sensação de bem estar.” A professora lembrou que cada tratamento tem sua especificidade e que deve ser tratado de forma cuidadosa. Algumas pessoas vêem no animal uma alternativa para seus anseios. A Pesquisa Nacional por Amostra de
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Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE em 2013, apontou que cerca de 44% dos domicílios têm cães, o que equivale a mais de 52 milhões de animais, já as crianças são 45 milhões. A decisão de ter ou não filhos, é de grande peso. Por isso, muitos casais optam por ter um bicho de estimação primeiro. A socióloga e gerente de projetos Amanda Quenupe, de 27 anos, e seu marido fazem parte desse grupo. Recém-casados na época, adquiriram primeiro Zeus, de um ano e cinco meses, e Atena, de 9 meses. Ambos são da raça Lhasa-apso. O casal optou por dois cães para que um fizesse companhia ao outro. “A vida de um cãozinho é muito solitária quando os donos trabalham e ficam fora o dia todo. Então, para não deixar o Zeus solitário, deprimido e estressado, a nossa linda e fofa Atena veio para agitar ainda mais as nossas vidas. E foi a melhor decisão que já tomamos”. Segundo Amanda, ambos
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são vistos como membros da família. Passeiam e viajam junto com os donos, que sempre fazem questão de planejar a vida pensando neles. “São a alegria da casa, muito amorosos, mesmo que aprontem muito”. Outra família que também buscou a companhia de um cachorro foi a de Gabriel Coelho. Ele, que já tem um filho, decidiu adotar Zig, um fi-
lhote de 8 meses, depois que seu filho Gustavo já estava mais crescido. De acordo com Gabriel, a chegada de Zig foi muito importante, já que o cão se tornou uma companhia para Gustavo. “Os dois brincam muito e é nítida a felicidade deles quando estão juntos.”
‘ A opcao , ˜ pelos exoticos É evidente que cachorros e gatos são os animais mais encontrados nos lares. São animais dóceis e fáceis de domesticar. Porém, algumas pessoas fogem do comum e buscam bichos mais exóticos. O universitário Enzo Zini é uma dessas pessoas. Ele tem dois porquinhos da índia. Mel e Cristal. “Sempre quis ter animais diferentes em casa, e o porquinho da Índia é um animal bem fácil de cuidar e de fácil acesso. Foi o que mais me chamou a atenção e me levou a comprá-los”, afirmou. Quando se fala em animais exóticos, muitos logo pensam na dificuldade de mantê-los. Porém, para Enzo, os porquinhos da índia não requerem muitos cuidados: uma gaiola, comida e água já os satisfazem. O mais importante é a paciência.
“Eles são acostumados com a natureza, então no começo não são muito sociáveis. Quando estão soltos na casa podem deixar muita sujeira, porém nada que muita paciência não consiga dar conta. Em relação ao dinheiro, se alimentam de vegetais relativamente baratos, então o gasto é baixo”, explica. Mais exótico ainda é optar por animal de oito patas ao invés de quatro. Há três anos, o professor de educação física Anderson Dias tem Eva como companhia, uma tarântula que ele cria como bicho de estimação. Anderson comenta que apesar de gostar muito dos animais mais “tradicionais”, sempre teve um fascínio por animais exóticos. Para ele, sua relação com Eva é de respeito “É um animal totalmente movido pelos seus instintos, então eu me preocupo em não ultrapassar o limite estabelecido pela natureza. O afeto acho que é só da minha parte, pois não me canso de admirá-la.” orgulha-se. Ao contrário dos porquinhos da Índia, a tarântula depende de uma alimentação mais complexa. Como
é um animal considerado selvagem, se comporta dessa maneira mesmo em cativeiro. “Eva só como insetos vivos, então eu tenho que estar sempre pronto pra capturar um besouro, vespa, barata. Outro dia ela comeu um morcego que entrou aqui em casa. Enfim, tenho que caçar para ela!”, explica Anderson.
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‘ Adeus inevitavel A relação com animais de estimação - sejam eles tradicionais ou exóticos - rende muitas histórias, lembranças, curiosidades e alegrias. Em meio a essa relação há o adeus, momento da perda que, se dependesse dos donos, seria eternamente adiado. E quando essa hora chega, o que fazer? A veterinária Jana conta como foi passar por esse momento depois de uma relação que durou anos. “Foi uma sensação de perda muito grande, ainda mais porque eu não estava em casa na hora. Ainda não digeri essa ideia de não tê-lo comigo. Ele foi um companheiro muito especial, foi o que eu ganhei em 1998”, lamenta Jana sobre a perda de seu cachorro. Para Jana, apesar de ser inevitável o momento da morte dos bichinhos, sem seus cachorros não seria quem é hoje, pois eles alegram todos os seus dias. “Não existe nada melhor do que chegar em casa e todo mundo pular em você dizendo “mamãe que saudade”. Apesar desse momento, hoje Jana é criadora de quatro dálmatas: a mais velha, Paris, tem quase três anos; Flake tem 17 meses, Prince
tem 13 meses e a Prada seis meses. Já Bianca, que nunca lidou com a perda de seus bichos, não tem a menor ideia de como seria sua vida sem eles. Ela tem consciência de que precisa pensar nisso, visto que Simba é idoso, mas prefere evitar o assunto. “Sei que preciso me preparar para isso, mas sinceramente não sei como vou reagir. Eu penso muito antes de dormir e, muitas vezes, meu pensamento acaba chegando na morte do Simba. Sempre que isso acontece começo a chorar desesperadamente, levanto e vou abraçá-lo. Ele é como um irmão pra mim”, assegura. Enzo, que hoje tem Mel e Cristal, os porquinhos da Índia, já teve outros animais e também passou por um momento de perda. “Perdi meu cachorro quando tinha 14 anos. Ele fazia parte da família há muito tempo e foi bem difícil passar pela situação. Mas temos que entender que fizemos o possível. Ele foi muito feliz e nos fez felizes quando estava com a gente”. Enzo conta que na época o cachorro foi enterrado pelo veterinário que estava cuidando do animal, em um terreno em
Guaçuí, cidade onde morava. Para quem não sabe o que fazer neste momento, há o serviço prestado pelos cemitérios de animais. No Espírito Santo existe somente um, o cemitério Arca de Noé, que funciona desde 2000. A administração do cemitério Arca de Noé, conta que a ideia surgiu justamente por se questionarem o que fariam com seus animais quando esse momento chegasse. Atualmente com cerca de 700 animais enterrados, a administração do Arca de Noé diz que não há um limite para os jazigos. Enquanto houver espaços os animais serão enterrados. Localizado em Jardim Limoeiro na Serra, o cemitério enterra somente animais domésticos e de pequeno porte e não presta serviço de cremação. Além do enterro, a equipe do Arca de Noé também realiza o translado do animal, e confeccionam a lápide com as informações de nascimento e falecimento, tudo sai por R$ 550,00. O cemitério fica aberto para a visitação dos donos dos animais enterrados, funcionando de segunda a sexta de 8h às 17h e nos sábados de 8h às 14h. Junho 2015 - Revista Primeira Mão I
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Uma estrada no m Júlia Bragatto Luchi e Karolyne Mayra Sooretama, em tupi-guarani, significa “terra e refúgio dos animais da mata”, mas esta não é a realidade da Reserva Biológica (Rebio) de Sooretama, na região Norte do Espírito Santo, onde cerca de 20 mil animais silvestres são atropelados anualmente na tentativa de atravessar a rodovia BR-101 que corta a reserva. Ao todo, são 25 quilômetros de estrada que ameaçam a biodiversidade do Complexo Florestal Linhares-Sooretama, composto pela Rebio de Sooretama, pela Reserva Natural Vale e pelas Reservas do Patrimônio Privado Natural (RPPN) Mutum-Preto e Recanto das Antas. Com o objetivo de minimizar os impactos da BR neste remanescente de mata atlântica é que Aureo Banhos, professor de Ciência Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), lidera o projeto
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Especialistas afirmam que cerca de 50 animais silvestres morrem atropelados diariamente na tentativa de buscar alimento ou de retornar para sua casa que foi dividida pela BR-101, no Complexo Florestal Linhares-Sooretama de pesquisa de monitoramento dos animais e, desde 2011, mobiliza a população sobre a necessidade de se preservar a biodiversidade capixaba. “O problema com a estrada não se resume aos atropelamentos”, afirma o Biólogo. “Os animais são afetados pela poluição, pelos ruídos sonoros e pelo efeito de borda, que é a mudança de toda a composição da paisagem, que pode chegar a quilômetros mata adentro”, continua. Além desses problemas, a divisão que a estrada faz, facilita o acesso de caçadores, contribuindo ainda mais com a extinção de espécies ameaçadas. Motivados pela luta do biólogo, o Instituto Últimos Refúgios, organização ambiental capixaba sem fins lucrativos, também entrou na causa pela preservação da reserva. “Fomos a Sooretama fazer um trabalho fotográfico na rebio e nos deparamos com o problema dos constan-
tes atropelamentos, com o agravante da duplicação que seria realizada sem nenhuma medida para amenizar essa triste situação”, afirma Leonardo Merçon, fotógrafo de natureza e presidente do Instituto. A parceria firmada entre o Últimos Refúgios e o professor possibilitou uma melhor divulgação do problema para a sociedade, mobilizando a discussão do tema a nível nacional. “O instituto tem um grande potencial em sensibilização ambiental por meio de imagens e vídeos”, comenta Aureo. Devido a grande repercussão dos pedidos por intervenções, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação judicial por entender que se trata de uma demanda da sociedade, já que os atropelamentos também põem em risco a vida das pessoas nos veículos. Medidas emergenciais, para minimizar a perda da biodiversidade, foram apresentadas ao MPF pela
meio do caminho ONG e pelo professor, durante reunião no último mês de abril. Segundo Merçon, essas medidas foram elaboradas ao longo de workshops realizados com profissionais da área. “As medidas emergenciais foram protocoladas no órgão público, no entanto, nenhuma das propostas foram colocadas em prática até agora. Graças às nossas mobilizações, a ECO 101, empresa que administra a rodovia no Estado, está realizando um estudo de impacto ambiental para verificar a implantação das medidas durante a duplicação”, assegura o fotógrafo. Segundo a ECO 101, o Estudo de Impacto Ambiental deve ser concluído até o final de 2015 e irá determinar a viabilidade ambiental da duplicação e propor as medidas que serão adotadas. A curto prazo, a concessionária pretende ampliar a quantidade de passagens de fauna (terrestres e aéreas) e instalar placas de advertência. As obras de duplicação no trecho devem ser concluídas até maio de 2024, conforme o contrato de concessão, e medidas a longo prazo serão submetidas à população em audiência pública.
Leonardo Merçon, Instituto Últimos Refúgios
Medidas emergenciais 1) Reduzir a velocidade da via para 60 km/h em todo o trecho de 25km; 2) Instalar radares de trecho inteligentes que registram e monitoram a velocidade dos veículos; 3) Desobstrução das estruturas de drenagem de fluvial e pluvial sob a pista, para que possam servir mais adequadamente como passagem de fauna; 4) Fazer o cercamento, próximo e direcional aos túneis e em baixo da ponte; 5) Retirar as árvores frutíferas exóticas das margens da estrada; 6) Instalar passagens de estrato arbóreo (passagens aéreas) para travessia de animais arborícolas (macacos e bicho-preguiça, por exemplo); 7) Retirar o lixo das florestas e corpos d’água no entorno da rodovia; 8) Colocar placas temáticas de advertência e educativas no trecho; 9) Promover ações de sensibilização dos usuários da rodovia; 10) Disciplinar o uso da via pela comunidade e empreendedores locais. Junho 2015 - Revista Primeira Mão I
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Entrevista
O destino Mariana Carvalho
Como você vê a ideia de que o jornalismo está mor- o jornalismo está acabando só porque uma ou duas emrendo? presas estão indo para o espaço. Vejo muita coisa boa Às vezes as pessoas vêm com esse discurso pessi- surgindo, pessoas se articulando. O mercado de livros, mista pra mim, mas tenho que lembrar que quando eu por exemplo, está bombando. As editoras disputam quanentrei na universidade o discurso sobre a imprensa tam- do tem um livro de interesse nacional. O jornalismo está bém era horrível. Dos professores que vinham aqui na passando também por um processo de aperfeiçoamento, sala falar que o jornalismo do passado era melhor eu te- acho que nas redações o nível está bem mais elevado. Acho nho ojeriza até hoje. Porque você tinha três problemas: que ficou mais profissional e tem uma meninada mais indeo problema do espaço, que é limitado no papel, na rádio pendente do ponto de vista de ideias. e na TV, do dinheiro para financiar essa informação e o E tem emprego para nós? terceiro que era o interesse que às vezes não batia com O emprego a gente tem que fazer, sempre foi difícil. o da empresa. Esses três eram os grandes desafios para Mas qual a profissão que dá oportunidade para o cara viase fazer o jornalismo. Hoje, com a internet, você não jar, conhecer pessoas? Hoje em dia, o maior desafio é que tem mais o problema do espaço, é incrível. a opinião está ocupando espaço da informação, tanto nos Você acredita que o jornalismo ainda decide o que é jornais tradicionais, quanto nos novos espaços. Indepenmais importante discutir? dente se é visão ideológica, se é visão de mundo, é opinião, Eu acho que ninguém mais manda no debate hoje só dá opinião. Não tem base de apuração. em dia, esse é um lado positivo disso Você disse que em Brasília o quadro tudo. Quando eu viajo pelo interior vejo “Não se pode falar mudou com essas mediações de assesmuita gente produzindo, em condições sores de impressa. Hoje há uma barreira que o jornalismo muito difíceis, sem técnica. Eu estava maior entre a fonte e o jornalista? está acabando só em Belém agora, e tinha um menino, Antigamente a estrutura era: cada miporque uma ou duas geógrafo, que estava com um coletivo nistério ou parlamentar tinha assessoria especializado em chacinas de policiais empresas estão indo dele, comissionado ou não. O Ministério que matam meninos na periferia da para o espaço. Vejo da Saúde, por exemplo, tinha 10 jornalistas Grande Belém e ele faz mini ‘docudraque atendiam à imprensa do país inteiro. muita coisa boa mas’. Como você fala que está indo Hoje em dia, você tem não só a assessoria surgindo, pessoas se do ministro, do gabinete, mas tem tampara o beleléu quando você tem uma iniciativa assim? Não se pode falar que bém de cada departamento. Até aí tudo articulando.”
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dos ‘focas’ Em entrevista aos alunos do curso de Jornalismo da Ufes, o jornalista Leonêncio Nossa falou sobre sua experiência profissional e reafirmou a importância do jornalismo comprometido nos dias de hoje. Leonêncio formou-se em Jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo, na década de 1990, tendo publicado suas primeiras reportagens na revista Primeira Mão, quando ainda era um jornal e o único laboratório do curso. Há 15 anos, é repórter da sucursal de Brasília do jornal O Estado de São Paulo e, no ano passado, ganhou os prêmios Esso de Jornalismo e Vladimir Herzog, com a reportagem especial ´Sangue Político’, publicada em um caderno do Estadão. Leonêncio também aposta na força da reportagem em livros, já tendo lançado três títulos: “Viagens com o presidente”, em parceria com Edardo Scolese (2006, Ed. Record), “Homens invisíveis” (2007, Ed. Record) e ‘Mata! O Major Curió e as Guerrilhas do Araguaia’(2012, Companhia das Letras). No dia 22 de maio, ele visitou a redação da revista Primeira Mão, compartilhou com os estudantes sua experiência como repórter e informou que seu próximo livro será uma biografia do fundador da Rede Globo de comunicação, Roberto Marinho. bem, porque houve um aumento de demanda, mas o Como você organiza seu trabaproblema é que além disso, o ministério paga empresas lho numa grande reportagem? privadas para dar consultoria, que na verdade são granUma coisa que eu sempre faço, des lobistas. Eles misturam o lobby com a assessoria. não importa se é um livro ou uma Ainda sobra espaço para o jornalista apurar? Quando grande reportagem, é fazer um tívocê recebe a informação dessa empresa, checa como? tulo qualquer e escrever o início e O meu caminho é o jornalismo de impressão, você o finalzinho. Depois, só falta encher vai no local e tenta buscar a informação. Acabei me es- o meio. Tenho exemplos de colegas pecializando um pouco nisso para fugir desse tipo de que vão fazer grandes reportagens situação. Acho que o caminho é colocar o lado deles, e começam a criar vários arquivos. E mas tentar botar casos que criam um contraponto. A di- falam ‘quando eu tiver tudo vou esficuldade de apuração não é motivo para você não fazer crever’. Não, comigo não funciona um trabalho bom. assim, então, se eu não tiver essas É possível ainda fazer grandes reportagens? partes não consigo. Você nunca teve um ambiente Qual é seu posicio“O diploma é favorável, mas é possível fazer a namento em relação à grande reportagem, só que tem que obrigatoriedade do dimuito mais do que ser algo paralelo ao trabalho do dia ploma de jornalismo? uma reserva de a dia. Primeiro pelo custo. Ninguém Quem tenta dermercado. O que a paga, nunca pagou e não vai pagar a rubar o diploma são gente aprende aqui grupos um repórter para ficar um ano fazenempresado só aquela reportagem. Segundo, é importante para a riais. Para mim o dique o repórter pode ficar um ano faploma é muito mais do que vida.” zendo só aquilo, mas a matéria não uma reserva de mercado. O vem. O repórter tem que ter disciplidiploma foi importante para na para fazer trabalhos paralelos. a minha vida, para correr atrás das miEu já viajei muito para cobrir presidente (repórter nhas histórias, o que a gente aprende que acompanha o dia a dia do Presidente da República) aqui é para a vida. Eu acho que qualou para fazer matérias para o Estadão. Aproveito para quer um pode estar exercendo o jorver outras histórias que estão acontecendo em cada lu- nalismo e vocês não podem se sentir gar. Todas as minhas histórias são paralelas, vou pegan- ameaçados por isso. O que vocês do cada uma e guardando. Vou apurando aos poucos e estão aprendendo aqui vai dar muidepois monto a história. Demorei 10 anos para apurar to mais condições para vocês. No no Araguaia e escrever o Mata. Eu fazia isso nos fins de fundo eu sou contra essa obrigatoriedade para semana, quando estava de folga e viajava para lá. toda a área de Humanas. Junho 2015 - Revista Primeira Mão I
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Tá de Tem muita coisa pra fazer na Ufes além de estudar! Nos campi, os estudantes têm acesso a galerias de arte, teatro, cinema, aulas de yoga e muito mais... Então, se liga na #dica!
Quando se está na Ufes esperando dar a hora do estágio, da próxima aula ou apenas à toa, surge a dúvida: o que fazer fora da sala de aula? No campus de Goiabeiras, as opções pra quem estiver com tempo livre vão desde a prática de yoga, uma visita a galerias de arte ou assistir a um filme no Cine Metrópolis. Uma das opções para relaxar antes de encarar a sala de aula é a prática de yoga ao ar livre, em frente à lagoa. A iniciativa é do Núcleo Jaladhi, que ministra as aulas gratuitamente, todos os dias, de segunda a sexta-feira. As duas linhas trabalhadas pelo núcleo têm raiz na Índia antiga e trazem benefícios para o corpo e a mente. O Cine Metrópolis é outra
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bobeira? opção para passar o tempo e, o que é melhor, não precisa pagar nada por isso! Os alunos da Ufes têm entrada garantida no cinema. Os horários das sessões são variados e a programação é renovada a cada semana. Para ficar ligadinho nos filmes que serão exibidos e nas mostras especiais, é só curtir a fanpage do Cine Metrópolis. Para quem é antenado em artes plásticas, a dica é a Galeria de Arte Espaço Universitário. A exposição em cartaz, Espírito 80, reúne obras de artistas capixabas que viveram a cultura dessa década, e que compõe uma espécie de movimento internacional em que a arte desprende de temas políticos, busca o cotidiano e o prazer, valoriza o corpo na figura e no gesto, o que exige telas maiores. E pra quem quer conferir de perto, a exposição ficará na Galeria até o dia 30 de julho. A entrada é gratuita. E se tudo isso não for o bastante, o espaço verde da Ufes é enorme, um convite para práticas esportivas e para um bate-papo com os amigos. Edilaine Machado Gabriela Costa
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Estrangeiros: sim, eles também estão na Ufes Danielly Carneiro e Nayara Santana
Além do preconceito, os estudantes estrangeiros enfrentam o dia-a-dia da universidade sem assistência estudantil Ter contato com outra cultura e fazer um intercâmbio é o desejo de muitos que fazem algum curso superior, mas já pensou ganhar uma bolsa para estudar fora e no meio da graduação perdê-la? Essa situação pode acontecer com os alunos estrangeiros que estudam na Ufes. O sonho, então, é substituído pelo medo de não conseguir se manter em outro país. Atualmente, cerca de 200 estrangeiros vindos de diversos países estão estudando na Ufes. Colômbia, França, Holanda, Angola, Nigéria e Cabo Verde são alguns dos lugares de origem desses alunos. A entrada deles na Universidade pode ser feita por meio dos Programas de Cooperações ou intercâmbio. Cada programa tem suas peculiaridades, que podem variar entre teste de proficiência em português, tempo de permanência, valor da bolsa ou até mesmo carta de financiador se comprometendo a custear a permanência do estudante no Brasil. Uma das regras para manter a bolsa é ter bom desempenho nas matérias durante a graduação. Mas quando o aluno enfrenta problemas na intepretação da língua portuguesa e não consegue se expressar nas respostas das questões propostas dentro da sala de aula, gera-se um problema. Os estudantes estrangeiros ainda enfrentam a dificuldade na busca por moradia segura perto da instituição e na convivência com os alunos brasileiros, que pode não ser amigável. Segundo o estudante do 7° período do curso de Administração da Ufes, Ynnamleh N’Kosi, a sua adaptação ao país foi difícil, não por causa da língua ou da cultura e sim do preconceito enfrentado por ele. “A coisa que mais me decepcionou quando eu cheguei aqui foi o racismo. A imagem que passam do Brasil lá fora é de um país aberto, legal e sem preconceitos, mas quando chegamos aqui levamos um susto porque a realidade é bem diferente”. A Ufes tem uma Comissão Inter-
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ano, a instituição criou o programa ‘Anjos na Ufes’ no qual estudantes brasileiros auxiliam os estrangeiros nas tarefas do cotidiano. Além disso, a Universidade já oferta aulas de Português em parceria com o Centro de Línguas (CLC) para os estudantes que vêm de outros país, e estendeu o direito de desconto no Restaurante Universitário. “Receber estudantes estrangeiros é internacionalizar a Universidade, pois além de auxiliarmos na formação de qualidade de estudantes de outros países, damos a oportunidade de nossos alunos estarem em contato com novas culturas dentro de sala de aula, por isso estamos tomando medidas para combater a evasão dos estrangeiros”, acrescenta Jane Méri.
disciplinar de Apoio aos Refugiados e Migrantes que tem como proposta auxiliar os estudantes estrangeiros em sua permanência no Brasil. “Estamos tentando ampliar os direitos deles no Programa de Assistência Estudantil e integrá-los à comunidade universitária para que se dediquem mais à graduação e não procurem trabalhos com baixa remuneração já que o valor que recebem da bolsa não supre todas as suas necessidades”, afirma a presidente da Comissão, professora Brunela Vicenzi. Segundo a secretária das Relações Internacionais da Ufes, Jane Méri dos Santos, a Universidade está ciente das dificuldades que os alunos estrangeiros enfrentam, por isso, se mobiliza para combater esses problemas. Esse
osi criou Ynnamleh N’K
zkari Bantu
a irmandade A
Eventos educativos para combater o preconceito A palavra ‘azkari’ vem do swahili, que em português significa “guerreiro” ou “corajoso”. “Bantu” representa os povos que habitam a África subsariana que, por sua vez, se dividem e se subdividem em vários grupos com culturas específicas. Esse foi o mantra escolhidos pelos alunos vindos desses países para montar uma espécie de Centro Acadêmico (CA). A Irmandade Azkari Bantu t em como proposta levantar dados sobre as dificuldades enfrentadas pelos estudantes e promover atividades de integração entre os alunos estrangeiros e brasileiros. O símbolo escolhido é conhecido como “akofena” (espada de guerra) e tem sua origem na simbologia adinkra criada pelo povo Akan de Ghana e mais tarde também usado pelo povo Ashanti. Yamanle diz que a ideia surgiu a partir da necessidade de tomar ações de conscientização contra o racismo, pois esse tipo de preconceito ainda é bem presente na Universidade. “Nossa proposta é promover palestras para desmitificar fatos pejorativos que dizem sobre África e mostrar que existem muitas coisas boas lá”, acrescenta.
Política de internacionalização a favor do conhecimento Ufes investe em projetos e convênios de cooperação internacional como forma de alavancar o ensino, a pesquisa e a extensão Cinthia Pimentel
Como forma de aproximar os estudantes da ciência e transpor barreiras inerentes a esse processo, as universidades trabalham com o eixo de internacionalização, para tornarem-se mais competitivas e reconhecidas no cenário internacional. A falta de interatividade com o resto do mundo pode ser caracterizada como um ponto fraco que compromete o ensino e as pesquisas desenvolvidas nas instituições de ensino. Com base nessa vertente, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) investe nessa área e busca por meio de parcerias e convênios colocar nossos alunos em destaque no cenário mundial. A Cooperação Internacional é o mecanismo pelo qual um país ou uma instituição promove o intercâmbio de experiências exitosas e de conhecimento técnico, científico, tecnológico e cultural, mediante a implementação de programas e projetos com outros países ou organismos internacionais. Na Ufes ela é realizada por meio da Secretaria de Relações Internacionais (SRI), que é o órgão responsável por formular a política de internacionalização e
promover e expandir a sua atuação internacional. Segundo o Prof. Teodiano Freire Bastos Filho, coordenador de Cooperação Internacional da SRI da Ufes, a Secretaria existe desde 2011 e possui atualmente 61convênios firmados com Instituições internacionais da Alemanha, Argentina, Austrália, Canadá, Chile, China, Cuba, Equador, Espanha, EUA, França, Itália, México, Noruega, Portugal, Reino Unido, Turquia e Uruguai. Ele acrescenta que a cooperação entre vários países está inserida nas áreas técnicas, tecnológicas ou financeira e, é importante para alavancar várias ações da Universidade. “A Cooperação Internacional fortalece a presença do Brasil no cenário internacional, por meio de transferência de conhecimentos, experiências bem sucedidas, tecnologia e equipamentos, capacitação de recursos humanos e fortalecimento das instituições envolvidas em suas atividades e projetos de pesquisa”, explica Teodiano. Por meio das cooperações, são compartilhados conhecimentos, experiências e tecnologias que objetivam promover uma mudança local. “A implementação de um projeto
ou atividade com as instituições participantes, por exemplo, são capazes de proporcionar uma mudança duradoura com impactos positivos e relevantes para os segmentos beneficiários”, ressalta. Os alunos de graduação da Ufes, que estiverem interessados em participar de projetos de Cooperação Internacional, devem procurar a coordenação de mobilidade para o exterior , que fica no térreo do prédio da Reitoria, no campus de Goiabeiras. Lá, eles serão informados de todos os detalhes dos editais disponíveis. Hoje, como resultado dos convênios já firmados, a Ufes tem cerca de 300 alunos no exterior, por meio dos programas Ciências sem Fronteiras, Brafitec (Brasil France Ingéniuer Technologie) e Branetec ( Brasil Nederland Engenharia e Tecnologia). Além disso, a Ufes recebeu 50 alunos estrangeiros dos Programas PEC-G (Programa de Estudante - Convênio de Graduação), PAEC-OE-GCUB(Programa de Aliança para Educação e Capacitação- Organizações dos Estados Americanos – Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras), Brafitec e de Universidades parceiras da Alemanha, França, Itália e Uruguai. Junho 2015 - Revista Primeira Mão I
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Estudantes trocam
Ufes oferece oportunidades acadêmicas fora da Grande Vitória e atrai estudantes Betina Hatum, Maria Luiza Silva e Joicy Marques. O terceiro ano do ensino médio é um período tenso e corrido para todos os vestibulandos. É neste curto tempo que os estudantes precisam decidir a futura profissão, e também o melhor lugar para fazer o curso escolhido. A Ufes é uma das principais escolhas, já que é uma universidade pública de prestígio. Por isso, é comum que vários alunos saiam do interior do Espírito Santo, e venham para a Grande Vitória estudar em um dos campi oferecidos. Porém, para aqueles que já são da capital e querem estudar na Ufes, mas o curso não é ofertado em Vitória, a solução é fazer o caminho inverso: sair da capital e ir para o interior. O norte do Estado abriga o Centro Universitário do Norte do Espírito Santo (Ceunes), e o sul,o Centro de Ciências Agrárias (CCA). São esses dois campi os destinos de alguns alunos da graduação e pós-graduação. O Ceunes, localizado em São Mateus, abrange as áreas de Ciências Biológicas e Exatas, mas só passou a existir de fato em 2005, quando os Conselhos Universitário e de Ensino, Pesquisa e Extensão da Ufes aprovaram o Plano de Expansão e Consolidação da Interiorização da universidade. A universitária Karla Chaves, que estuda Engenharia Química, afirma que apesar da desorganização da cidade e da falta de estrutura para receber o campus, o Centro Universitário consegue oferecer uma boa qualidade de ensino para os estudantes. “O Ceunes tem uma ótima estrutura. A biblioteca é muito boa e o restaurante universitário é limpo e organizado”, detalha. Em São Mateus são oferecidos 17 cursos na graduação e quatro mestrados, além de toda a estrutura necessária para o funcionamento do campus, como biblioteca setorial, restaurante universitário e laboratórios. Apesar disso, para Karla ainda há o que melhorar.
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“Ainda falta uma passarela coberta no Ceunes, porque a cidade é muito quente e é ruim ficar andando pelo campus no sol forte. Além disso, algumas vezes faltam materiais”, relata a estudante. O campus, atualmente, conta com 2.116 matriculados e fica localizado numa área de 532.000 m². A Ufes realizou o primeiro vestibular no município no ano de 1991, com a participação de 945 candidatos, dos quais 937 capixabas eram da Região Norte do Estado. Na época, o Ceunes funcionava em uma instalação denominada Prédio Sagrada Família, pertencente ao Governo do Estado do Espírito Santo, com 2.000 m² de área construída num terreno de 20.000 m². Nesse tempo, o esforço também era do quadro de professores, pois possuía apenas 48 profissionais que se deslocavam semanalmente, entre Vitória, São Mateus e Nova Venécia. Já o CCA, instalado há 44 anos no município de Alegre, conta com 17 graduações, seis mestrados e três doutorados. A instituição foi criada com o objetivo de investir na economia da região, que estava debilitada pela extinção dos cafeeiros na década de 60. Para que isso fosse possível, o prefeito da época, Antônio Lemos, solicitou os serviços do engenheiro agrônomo, Arnaudo Augusto Viera, para elaborar os projetos da Escola Superior de Agronomia do Espírito Santo (ESAES), que mais tarde seria dado os direitos à Ufes. Após essa mudança, já são
2.475 profissionais formados, que seguem os estudos em cursos de pós-graduação. O campus conta com o Hospital Veterinário (Hovet), que fica em Rive, e Áreas Experimentais. O HOVET é o único da Ufes, e funciona como principal laboratório de formação profissional dos estudantes do curso de Medicina Veterinária e de pós-graduação em Ciências Veterinárias, onde são desenvolvidas as atividades de ensino, pesquisa e extensão. O CCA também é o único centro da Universidade que tem curso de Geologia, e foi por isso que Gabriel Calasans decidiu sair de Vitória e ir para Alegre. Segundo Gabriel, é preciso tempo para se acostumar com a rotina de cidade do interior e uma dose de criatividade na hora de se divertir. “Com um pouco de criatividade inventa-se um universo de coisas para se fazer pela cidade. Atividades como caminhadas pelos parques, jogos esportivos como futebol, são opções comuns de lazer”, ressalta. Existem também as dificuldades
capital pelo interior
s para Norte e Sul do Estado com o comércio da cidade do interior, já que a variedade de produtos é relativamente menor, e os horários de funcionamento das lojas são mais restritos. Apesar disso, Gabriel acredita que enfrentar a distância entre o campus do sul do Estado até a capital vai valer a pena. Pode soar estranho alguém deixar uma grande cidade, com muitas opções de diversão e comércio, mas Gabriel garante que não é tão complicado como parece. Para ele existem pontos positivos em morar em uma cidade pequena, como a facilidade na locomoção para ir para o campus e aos principais pontos da cidade. “Decidi ir para Alegre também pela proximidade dos lugares da região. Dá para fazer tudo a pé tranquilamente se você mora no centro”, conta. O estudante também destaca que a vida calma do interior é capaz de compensar a correria dos estudos, e isso é outro ponto positivo.
Karla e Gabriel fazem parte de um grupo de estudantes que abandonam o conforto de casa, e a rotina de uma metrópole para encarar o sonho em uma cidade menor. Essa é a principal motivação que os estudantes encontram para superar os obstáculos, e terminar seus cursos para, então, voltar para a Grande Vitória. Para Gabriel, todo esforço é preciso e vai trazer recompensas no final. “A emoção de estar vivendo um sonho tem superado as muitas dificuldades encontradas no curso. É uma sensação um tanto diferente de tudo que já vivi”, conclui. A divisão da universidade em pólos, como o Ceunes e CCA, tem
como finalidade oferecer mais oportunidades de inserção acadêmica a estudantes de outras regiões. Dessa forma, a estratégia permite que o ensino superior oferecido pela Ufes chegue cada vez mais longe.
Gabriel Calasans: criatividade para viver bem no interior
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Retenção e evasão desafiam Ufes Uma das principais dificuldades de alunos que apresentam baixo desempenho é conciliar o trabalho com os estudos Lineker Alemida, Gabriela Costa e Júlia Grillo A retenção e evasão são problemas enfrentados pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Os índices em alguns cursos chegam a até 70%, o que faz com que a Universidade elabore alternativas para estimular a conclusão dos cursos. Cada curso de graduação tem um número recomendado de períodos para cumprir todas as disciplinas obrigatórias e entregar o Trabalho de Conclusão de Curso, caso este seja cobrado. Porém, os estudantes nem sempre conseguem finalizar o curso no tempo previsto, devido a diversos fatores. Isso configura a retenção e, caso o aluno demore mais do que o máximo previsto na legislação para concluir o curso, ele pode ser desligado da instituição. A retenção pode causar prejuízos aos cursos, já que estes têm um número máximo de alunos simultaneamente estimado em 10% do número de vagas oferecidas. Se a quantidade de discentes atingir este limite, o curso não pode abrir novas vagas, o que, eventualmente, pode impossibilitar o ingresso de novos estudantes. De acordo com o Pró-reitor de Planejamento Anilton Salles, as soluções não são fáceis, pois os motivos que levam os alunos à retenção/evasão são variados. Os alunos do curso de Comunicação têm motivos diferentes dos alunos de Física, por exemplo. “Não conseguimos formular teorias que sejam para todos os cursos, e esse é o nosso principal esforço”, disse. A retenção é ruim para todos os lados: Universidade, aluno e sociedade. Do ponto de vista da Universidade, a retenção faz com que os indicadores de desempenho fiquem menores, o que gera uma perda de receita para a UFES. “A distribuição dos recursos federais, não em sua totalidade, mas, uma parte significativa desses recursos, é função
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desses indicadores de desempenho, e no momento em que esses indicadores são ruins, isso faz com que a universidade receba uma parcela menor de recursos”, explicou o pró-reitor. A evasão é fortemente relacionada com a questão da manutenção do aluno dentro da universidade, principalmente os mais carentes. Segundo Anilton, uma medida tomada pela Universidade para este ano será o aumento no número de bolsas, que deve passar de 500 para 600. Segundo a coordenadora de curso de Serviço Social, Cenira Andrade, uma das principais razões para a retenção e a evasão é o fato de grande parte dos estudantes trabalharem enquanto cursam o ensino superior. “A maioria dos alunos que ficam retidos nas matérias são os que trabalham. A rotina de trabalho atrapalha alguns desses alunos, o que faz com que eles tenham baixa produtividade no curso e acabem reprovando”, disse Cenira. Maiores retenções O curso de Física está entre os que têm o maior índice de retenção. A taxa média de retenção foi de quase 75% entre 2007 e 2012 e a de evasão foi maior do que 15% de 2008 a 2013, segundo os indicadores de desempenho de 2013 da Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional. De acordo com o coordenador do curso, Antônio Canal, atualmente mais de 70% dos alunos estão em retenção severa. Segundo ele, a principal causa disso é a dedicação que o curso exige. “O curso não é simples de ser feito. Tem matérias com um grau de dificuldade elevado e isso acaba causando as retenções”, ressaltou. A coordenação do curso espera trabalhar com algumas ações para evitar a retenção, como a monitoria, que funciona como um reforço dos
conteúdos para os alunos. Davier Cirino entrou na Ufes em 2006 para cursar licenciatura em Física, mas saiu em 2013 porque precisava trabalhar para se manter na Universidade. Como era professor, o horário do trabalho conflitava com o das matérias. “A dificuldade do curso também desempenhou seu papel. Esse curso é bem mais difícildo que o necessário”, avalia. Um aluno, que preferiu não se identificar, entrou no curso em 2011, mas teve que sair dois anos mais tarde, em 2013, por ter reprovado três vezes na mesma disciplina e correr risco de sofrer jubilamento. Ele alega que os alunos entram na Universidade sem saber que o curso exige muito empenho e só depois de um tempo começam a correr atrás do prejuízo. O estudante também teve vários colegas que desistiram por causa da dificuldade e da falta de retorno dos professores. Já os alunos de Letras Inglês reclamam da organização dos horários das aulas. Emmerson Salles entrou em 2010 e afirma que esta é uma dificuldade que se repete todo o semestre. De acordo com ele, o curso só oferece aulas de manhã e à tarde, e os horários variam de acordo com o período. Alunos que precisam trabalhar fora da área de formação ficam prejudicados. “O curso não oferece aulas à noite, o que impede os alunos de trabalhar sem trancar a matrícula e isso pode atrasar ainda mais o tempo de formação deles”. O índice de retenção foi de mais de 40% em Letras Inglês entre 2007 e 2012. Para Clarissa Santos, a dificuldade no curso de Artes Plásticas é conseguir as disciplinas de seu período. Ela afirma que a demanda de alunos é maior do que as vagas nas matérias obrigatórias e que há poucas disciplinas optativas, por isso ela pega poucas disciplinas por semestre. Já Allan Lucas entrou no curso de Economia no segundo semestre de 2009. Por causa de problemas pessoais e desmotivação, ele faltava muitas aulas e não se dedicava. Isso atrasou sua formação e ele ainda está finalizando o curso. Em alguns cursos, o pré-requisito de matrícula também é um fator influenciador. Isto porque, algumas matérias são divididas em quatro períodos e, caso o estudante fique reprovado na primeira, só chegará à segunda quando a fizer novamente. O curso de Desenho Industrial tem várias matérias desse tipo. Isso ajuda a explicar os números que mostram que o tempo médio gasto por um aluno para se formar é de 13,2 períodos, considerando que o tempo indicado é de oito.
Laboratórios defasados, graduação atrasada Alunos do Centro Tecnológico da Ufes podem ser prejudicados pela situação dos laboratórios da Engenharia Elétrica Por Letícia Menezes e Marina Amorim
Quase todos os cursos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) oferecem aulas teóricas e práticas, algumas das quais são realizadas em laboratórios. As disciplinas de laboratório dão aos alunos a oportunidade de experimentar as práticas da futura profissão enquanto ainda estão no ambiente acadêmico, portanto, são de grande importância para o seu aprendizado profissional. Porém, alguns laboratórios da Ufes têm sido afetados pela falta de verbas, que impede a aquisição de novos equipamentos e manutenção dos já existentes. O Departamento de Engenharia Elétrica, que mantém oito laboratórios para atender a alunos de Elétrica e de outros cursos, é um exemplo. A escassez de técnicos e de recursos para compra e manutenção de aparelhos tem levado à redução da oferta de vagas das disciplinas laboratoriais. Sempre que essa situação ocorre a qualidade do ensino dos graduandos pode ficar comprometida, além de haver casos de atraso na formação, o que está acontecendo atualmente com a Engenharia Elétrica, segundo estudantes. O curso de Engenharia Elétrica da UFES, existente desde o ano de 1973, tem uma longa lista de disciplinas obrigatórias de laboratórios, desde os períodos iniciais até os finais. Todos os oito laboratórios que atendem somente a graduação estão localizados no CT II e V e são de responsabilidade do Departamento de Engenharia Elétrica (DEL), que também oferta disciplinas de laboratórios para outros cinco cursos de graduação da Ufes (engenharias de Produção, Civil, Ambiental,
Mecânica e da Computação, e ainda a Ciência da Computação). “No final do ano passado, o governo federal reteve o dinheiro que iria ser usado para comprar os equipamentos, então os equipamentos não foram comprados. Isso no dia 23 de dezembro de 2014.”, informou o chefe do Departamento de Engenharia Elétrica da Ufes, Marcelo Segatto. Ele explica que aproximadamente 90% das disciplinas de laboratório desse curso abrangem os campos teórico e prático. As disciplinas de laboratórios são parte essencial para a formação acadêmica dos estudantes. Segundo Segatto, os equipamentos utilizados nas disciplinas laboratoriais iniciais são antigos, defasados e sem manutenção. Já os laboratórios dos períodos finais possuem equipamentos modernos, que foram adquiridos neste ano, porém não há técnico para manutenção. Prejuízo A maioria das disciplinas laboratoriais são pré-requisito para outras matérias. Algumas disciplinas iniciais chegam a atrasar a graduação do aluno em até um ano, pois eles não conseguem cursá-las no tempo regular, o que os impossibilita de fazer as matérias seguintes. “Hoje a nossa capacidade de atendimento é de 30 alunos simultâneos. Um laboratório que tinha capacidade para receber cinco turmas de 10 alunos caiu para três turmas de 10 alunos.”, explicou o professor. Apesar do prolongamento do tempo de curso, o tempo médio de formação dos alunos das engenharias é de cinco anos e meio anos, um período letivo a mais do que o indicado. Junho 2015 - Revista Primeira Mão I
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Ready, break! Por meio do contato com a cultura norte americana surge o interesse por novos esportes, mas é a garra e dedicação dos praticantes que fazem com que os times resistam, mesmo com falta de apoio e reconhecimento.
Eles vieram de longe e rapidamente conquistaram as terras brasileiras. Novos esportes cresceram no Brasil e isso se reflete no cenário esportivo do Espírito Santo. Durante os treinos, a concentração e a dedicação chamam a atenção de qualquer um que assista. Mas é a relação de amizade e o suporte dentro do time que conquistam cada vez mais jovens, que dão um verdadeiro exemplo de superação. Sem apoio financeiro e praticando esportes de baixa popularidade, são eles que arrecadam verbas, organizam campeonatos e divulgam as modalidades aqui, no Estado. Um bom exemplo é o time feminino de flag football Panteras. Além da relação de time, fica claro durante o treino a amizade e companheirismo das jogadoras, que não escondem o quanto se divertem e aprendem juntas. Ainda assim, ao soar do apito a concentração e a seriedade tomam conta do campo da Prainha, em Vila Velha. A modalidade surgiu a partir do
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futebol americano e tem ganhado muita força nos últimos quatro anos, especialmente entre as mulheres. “O flag football surgiu nas escolas americanas, como uma versão para crianças, sem contato físico entre os jogadores. Mas rapidamente se popularizou, e é provável que se torne um esporte olímpico em breve”, diz a fundadora do time feminino Panteras, Flávia Almeida. O time, criado no final de 2013, é pioneiro no flag football no Estado. Segundo Flávia, que jogava futebol americano, o interesse no esporte surgiu a partir de conversas com atletas de outros estados. “Os times de futebol americano daqui foram morrendo. Fui jogar em outros lugares, como Rio de Janeiro e São Paulo, e as meninas desses estados me disseram que o flag poderia ser uma porta de entrada para o futebol americano. Além disso, é um esporte que vem crescendo, que já tem seleção brasileira, então isso nos dá mais chance de praticar e crescer”. Hoje o time conta com 18 jogadoras.
Mariana Carvalho
“É um tipo de esporte diferente. Muitas das atletas não praticavam nenhuma atividade e se apaixonaram pelo flag”, completa. Com a maioria do time saída do sedentarismo direto para uma rotina de treinos e dietas, as jogadoras se apaixonaram rapidamente pela modalidade. Estudante de Educação Física, Flávia aponta as atletas como fundamentais no processo de expansão do esporte: “ninguém ganha nada com isso, mas todo mundo se esforça muito. Não existe muito apoio, então é exatamente a vontade dos atletas que dá força a esses esportes alternativos. É a vontade deles de construir algo diferente juntos”. São as próprias jogadoras que buscam se aperfeiçoar, organizam treinos com atletas de outros estados e custeiam seus equipamentos. Sobre rodas Essa paixão também é bem clara durante os treinos do roller derby. A idade e a falta de prática em cima dos patins não são impedimento
Ligia Shigeoka
Black Hearts, Panteras e Dark Wolves aprenderam as regras dos esportes por conta própria e hoje buscam reconhecimento das modalidades no ES
brincadeira. Desde então, o hóquei virou coisa séria, com direito a dois títulos recentes, o primeiro lugar na III Copa Espírito Santo e na Copa Aces - Associação Cariaciquense de Esportes. Bruno conta que o esporte surgiu como uma alternativa ao hóquei no gelo, para que os times pudessem continuar treinando com facilidade mesmo após o inverno, e se tornou uma nova modalidade, especialmente no Canadá. “Hoje existem aproximadamente 40 times de hóquei in line no Brasil e a nossa seleção brasileira está nos representando muito bem internacionalmente”, disse. Agora, os planos do Dark Wolves é formar um time feminino: “A procura das meninas tem sido muito grande”. Assim como no roller derby e no
flag footbal, é este sentimento de pertencimento e paixão pelo esporte que reúne o time duas vezes por semana nos treinos. “Hoje não enxergamos nossa vida sem o hóquei. Mesmo todos sendo de tribos diferentes, nós somos muito próximos e estamos sempre juntos. O hóquei nos une”, afirma Bruno. Bruno percebe a popularização dessas modalidades como uma direção para o esporte no Estado. “Tenho percebido que portas estão sendo abertas para esses novos esportes, em parte pela baixa valorização do futebol no Estado. A gente tem visto times – como o Tritões, que ganhou o brasileiro de futebol americano em 2010 – ganhando títulos importantes, e isso reflete no público e no interesse por essas novas modalidades”, conclui, otimista. Ligia Shigeoka
ROLLER DERBY O esporte é praticado com patins em uma pista oval. Cada um dos dois times tem cinco jogadores, quatro bloqueadores (blockers), e um atacante (jammer). O objetivo do jogo é que a atacante passe o maior número possível de vezes à frente do grupo de bloqueadores do time adversário, que tenta impedi-la criando uma barreira com o corpo.
As regras do jogo
para a prática da modalidade. Durante os treinos as jogadoras mais experientes formam pares com as novatas, e passam dicas, técnicas e muito encorajamento. Segundo a jogadora Ana Luiza Lube, esse é o diferencial do esporte: “Quando você entra no derby você não sai nunca mais. É um esporte acolhedor, que trabalha muito a união e o espírito de equipe. Ninguém está ali para te julgar e sim para te incentivar e levar adiante”. E completa: “nós somos uma família”. O sentimento de superação permeia todas as conversas sobre a modalidade. Sendo um esporte de alto contato, o maior desafio, além da falta de apoio financeiro na compra dos caros equipamentos, é o preconceito. “O roller derby é bem voltado para as mulheres, então, o maior preconceito que eu sofri é por essa ideia de que a mulher não pode se machucar ou ficar roxa. Mas estamos aqui para provar exatamente o contrário. As mulheres podem ser fortes, podem praticar esportes. Elas podem ser o que quiserem”, explica a jogadora. O time Black Hearts foi fundado há três anos, depois que uma das praticantes assistiu ao filme “Garota Fantástica”, que acompanha a trajetória de uma jogadora de roller derby. Ela gostou tanto que reuniu amigas para aprenderem o esporte por conta própria. Hoje, a equipe já conta com 11 jogadoras. Foi também através das telas que o time masculino de hóquei in line Dark Wolves surgiu, mas nesse caso, das telas do vídeo game. Bruno Blok, fundador do time, conta que ganhou um jogo de hóquei em 2007 e a partir daí resolveu reunir amigos para praticar o esporte como uma
FLAG FOOTBALL O jogo é similar ao futebol americano, mas ao invez de ser necessário derrubar o atleta que lidera a jogada para interrompe-la, o time adversário precisa puxar uma fita fixada na cintura do jogador. Cada time possui 8 jogadores em campo, e o objetivo é atravessar o campo do time adversário em posse da bola, marcando assim um touchdown. HÓQUEI IN LINE A modalidade também é jogada com patins, e o objetivo é fazer o maior número de gols no time adversário jogando um disco de plásitco chamado puck, com o auxílio do stick (similar a um bastão).Cada time conta com 4 jogadores em campo e 1 goleiro.
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Por trás das cortinas o drama é outro Cortes no orçamento de cultura geram insatisfação entre os artistas e produtores culturais e críticas quanto ao modelo de gestão dos recursos Daniella Camilo e Mariana Salomão
O Art. 215 da Constituição Brasileira de 1988 afirma que “o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais”. Isso vai além de dizer que a cultura é um direito, pois também confirma a legitimidade da intervenção do Estado na cultura. Com isso, vale afirmar que a política cultural existe para garantir esse direito através de iniciativas que recebam apoio de empresas privadas, grupos comunitários e da administração pública. Para incentivar as produções culturais no Estado, existe, desde 2009, o Funcultura (Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo), que tem como função direcionar recursos para incentivar atividades que sejam de áreas do conhecimento, das artes e da criatividade. O acesso a esse fundo acontece por meio de editais públicos anuais, que são uma forma de selecionar projeto a serem financiados. Cultura? Em 2013 e 2014, o investimento do governo nesses editais foi de R$ 8,5 milhões a cada ano. Em 2015, a os recursos foram reduzidos para R$ 6,7 milhões. Desse valor, apenas pouco mais de R$ 2 milhões são provenientes do tesouro estadual; o restante vem de uma parceira com a iniciativa privada, por meio do Instituto Sincades – uma Organização Não Governamental ligada ao Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo. O secretário de Cultura, João Gualberto Vasconcelos, explicou que o corte no orçamento foi moti-
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vado pela necessidade do governo de reduzir as despesas do Estado. Apesar de reconhecer a importância dos editais, afirmando que eles seriam uma forma democrática de estimular o acesso à arte e à cultura, estes seriam apenas um dos instrumentos utilizados no fomento à cultura. “A Secretaria de Cultura tem ações de preservação de patrimônio, apresentações da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo, inclusive gratuitas, e parceria com várias entidades com o intuito de promover a capacitação dos artistas locais”, afirmou. O corte causou insatisfação entre os artistas e produtores culturais, que em protesto, ocuparam durante oito dias do mês de maio o prédio da Secretaria de Cultura, na Enseada do Suá. A manifestação também expressou o descontentamento com a falta de políticas públicas claras e diversificadas na área da cultura. Estas se resumem aos editais do Funcultura, acreditam os artistas. Para o professor de Letras da Ufes, Orlando Lopes, praticamente todas as ações de fomento do governo são reguladas por editais, e os investimentos da cultura estariam direcionados principalmente para as áreas de patrimônio cultural , como tombamentos, reformas e outras ações desse tipo. Segundo ele, um dos argumentos de base para o conflito que está acontecendo com a Secult é a concentração da ação governamental no instrumento do edital, por apresentar dois grandes problemas: não
dá conta de todo a complexidade do sistema de cultura, que deveria funcionar além de uma política de editais; e não dá conta de atender a todos os agentes de cada área, porque existem muitos grupos no Estado e poucos são contemplados. A cantora lírica e estudante de Teatro Patrícia Eugênio concorda que os editais são limitados. Desde o ano passado, já não são oferecidos editais em sua área, e o valor disponível para circulação de espetáculos de R$ 45 mil reais para seis apresentações é considerado muito baixo. “Fica insustentável para o artista, porque os custos de produção são muito altos”, afirma. Outro problema apontado por ela é que há ainda a exigência de que os ingressos para os espetáculos sejam oferecidos de graça ou a preços muito baixos, o que desvalorizaria a arte capixaba, uma vez que as pessoas não reconhecem o artista local. O fato de que a maior parte da verba destinada aos editais do Funcultura 2015 seja proveniente do Instituto Sincades é polêmico. Patrícia disse que fica de orelha em pé com essa “doação”, opinião compartilhada com Daniel Morelo, produtor cultural do Assédio Coletivo. “Minha percepção é que a Secretaria de Cultura virou um balcão de eventos do governo e que o Instituto Sincades “contrata” via “doação” a Secretaria de Cultura do estado do Espírito Santo para “administrar” a cultura”, analisa Daniel. Segundo Orlando Lopes, o Sincades hoje controla tanto a conces-
são de recursos quanto o acompanhamento de sua aplicação. Dessa forma, “a iniciativa privada acaba se beneficiando da renúncia fiscal, paga menos impostos do que seria normal e ganha um retorno de imagem e de relacionamento. As pessoas interessadas não procuram mais a Secult, procuram o Instituto Sincades quando precisam de patrocínio, que também pode retirar ou redirecionar esses recursos sem ter que discutir nem com a Secult nem com o Conselho de Cultura ou outro órgão de controle. E como ninguém do governo explica em detalhes o acordo feito, fica mesmo parecendo que só existem vantagens para o Sincades”, acrescenta.
governamentais, civis e populares. R$ 50 centavos podem não ser o suficientes para levar multidões às ruas, mas o movimento #OcupaSecult continua ativo na busca de políticas públicas para além dos editais, que possam incrementar as atividades culturais no Espírito Santo. Afinal, como afirma Daniel Morelo, “a cultura é a essência do homem, sem ela não temos um perceptivo aflorado e um pensamento elevado. Sem cultura viramos somente peças do sistema”.
R$50 centavos por habitante
De onde vêm os recursos do Sincades para cultura
Segundo nota publicada no Fórum Livre da Cultura Capixaba, o investimento em cultura do Espírito Santo em 2015 será equivalente a R$ 50 centavos por habitante. O movimento surgiu devido aos cortes de recursos na pasta da Cultura, que afetaram os editais do Funcultura, e à dificuldade de diálogo com o governo do Estado. A ocupação do prédio da Secult, em Vitória, durou do dia 29 de abril ao dia 04 de maio de 2015. Foram promovidas diversas assembleias populares, foi criado o Fórum Livre de Cultura Capixaba e as pautas prioritárias foram apresentadas em uma carta ao Conselho Estadual de Cultura, em reunião extraordinária realizada no dia 04 de maio de 2015. Algumas das demandas do movimento já foram atendidas, como a criação do Fórum Estadual Permanente de Cultura do Espírito Santo, que contará com representações
O Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades) criou o Instituto Sincades em 2008 a fim de viabilizar a destinação de recursos para atividades sociais e culturais previstos num contrato assinado com o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento e Secretaria da Fazenda. O contrato de competitividade (de número 15/2008) prevê que o setor atacadista pode reduzir a alíquota de ICMS a um máximo de 1%, desde que aplique 10% do valor correspondente a essa alíquota reduzida em atividades sociais e culturais. O Instituto Sincades é o gestor desses recursos originados da renúncia fiscal, com os quais realiza projetos culturais e de inclusão sociocultural. Junho 2015 - Revista Primeira Mão I
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Receita Universitária
Especial Mês dos Namorados Letícia Menezes
Nesse mês dos namorados, nada melhor do que proporcionar momentos de felicidade para o seu amor! Ir ao cinema, um presente e jantar a luz de velas em um restaurante bacana é uma das programações favoritas dos casais para celebrar a data. Mas, para alguns universitários isso aperta o orçamento do mês. Para ajudar, a receita desta edição é “Macarrão enrolado no presunto e queijo”, um prato mais elaborado e muito gostoso para você incorporar o espírito de um chef de cozinha nesta data especial e surpreender o seu amor com um jantar
fácil, barato e delicioso! Ingredientes: 8 fatias de presunto 8 fatias de queijo muçarela 160g macarrão tipo talharim 1/2 lata de creme de leite 1 copo de requeijão 1/2 xícara de leite 1/2 tablete de caldo de carne ou legumes 1 pacote de batata palha Cozinhe o macarrão até ficar “al dente”, pegue as fatias do presunto e do queijo e forme uma pilha intercalando os dois (comece com o presun-
Dicas! Adicione um pouco de milho e/ou ervilha na travessa. E para os vegetarianos, basta substituir o presunto por uma folha de repolho pré-amolecida em água quente para não quebrar no momento de fazer os rolinhos.
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to por baixo), reserve. Pré aqueça o forno a 180ºC. Pegue um par de fatias de presunto e o queijo, coloque uma pequena quantidade de macarrão em cima e enrole. Faça isso com todas as fatias. Coloque-os em um recipiente que pode ser levado ao forno. No liquidificador, misture creme de leite, requeijão, leite e o tablete de caldo de carne. Bata até ficar homogêneo e despeje no recipiente dos rolinhos. Leve ao forno a 250ºC por cerca de 30 min ou até borbulhar. Sirva com a batata balha e aproveite!
O AMOR E
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STÁ NO CENTRO CAROLINA DE MELO
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