EDIÇÃO 154 | MAIO 2019 | ANO XXX
CINCO HISTÓRIAS DE RESISTÊNCIA DECLARADAS FEMINISTAS, FEMININAS OU LIBERTÁRIAS, AS MULHERES LUTAM TODOS OS DIAS CONTRA A DESIGUALDADE DE GÊNERO. AQUI ESTÃO CINCO HISTÓRIAS DE CORAGEM.
VPNs: esconde-esconde virtual 16
PMs na Ufes: segurança pra quem? 14
As cores da arquibancada 44 abril 2019
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EDITORIA
FÉ NA PENHA foto SUZANE CALDEIRA assistente de edição CARLA NIGRO
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EXPEDIENTE primeiramão Revista laboratorial produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). equipe Álvaro Guaresqui Ana Julia Chan Antonio Nogueira Carla Nigro Daniel Jacobsen Felipe Khoury Giovanni Werneck Giulia Reis Heitor Mattedi Isabella de Paula Kelly Lacerda Klayton Melo Lavynia Lorenção Lydia Lourenço Marcela Delatorre Maria Clara Stecca Maria Fernanda Conti Marina Coutinho Matheus Souza Nicolas Nunes Richele Ribeiro Robson Silva Suzane Caldeira Vitor Pinheiro
EM PRIMEIRAMÃO 06 PLANTANDO O FUTURO A importância da educação ambiental no cotidiano de uma Escola Infantil. 38 PRATO DA CASA: 12 ANOS DE MÚSICA BOA Apesar da variedade de opções, ainda é preciso aprimorar o paladar do capixaba para consumir as iguarias da nossa terra. 42 APAIXONADOS PELOS TIMES CAPIXABAS
edição Felipe Khoury e Marcela Delatorre diagramação Álvaro Guaresqui e Ruth Reis professora orientadora Ruth Reis primeiramão nas redes Instagram: @revistaprimeiramao Twitter: revista1mao Issuu: jornal1mao Medium: @primeiramao Facebook: primeiramao
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12 FRALDAS LIMPAS 10 NA ONDA DA CONSERVAÇÃO 08 O PUM DAS VACAS E A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
20 VOO PARA A DIREITA Utilizando as redes sociais como palco principal, nos últimos tempos, uma avalanche direitista ganhou espaço e abocanhou governos em escala global. Entre as pautas desses movimentos, está a proteção dos valores morais, a defesa da “família tradicional”, intolerância religiosa, o ódio aos estrangeiros e a presença de um intenso nacionalismo.
24 CINCO HISTÓRIAS DE RESISTÊNCIA Declaradas feministas, femininas ou libertárias, as mulheres lutam todos os dias contra a desigualdade de gênero. Aqui estão cinco histórias de coragem.
30 DA RESIGNAÇÃO À CADEIRA LITERÁRIA Prestes a completar 70 anos, Academia Feminina Espírito-santense de Letras (AFESL) ainda passa despercebida no estado; conheça a história.
44 AS CORES DA ARQUIBANCADA A homofobia nos estádios condena aqueles que querem o direito de amar livremente seus parceiros como amam seus times .
14 POLÍCIA MILITAR PRA QUEM? Policiais militares armados agora andam pela Universidade Federal do Espírito Santo, mas a dúvida é: eles estão realmente preparados para lidar com esse ambiente?
22 PRIMEIROS DESAFETOS Renato Casagrande se elegeu em primeiro turno, com ampla maioria, mas a oposição ao seu governo já se desenha.
16 ESCONDE-ESCONDE VIRTUAL A tecnologia VPN pode te ajudar na busca pela privacidade dentro das redes.
34 K-POP: HÁ MÚSICA BOA NA CORÉIA Existem 17.604km nos separando. Do outro lado do Oceano Atlântico e próximo à terra do sol-nascente descobrimos que as regras da música não estão sendo mais ditadas pelo ocidente. Um novo gênero está na área e veio para ficar.
48 CRÔNICA Uma qualquer, qualquer uma. maio 2019
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MEIO AMBIENTE
PLANTANDO FUTURO A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO COTIDIANO DE UMA ESCOLA INFANTIL
SUZANE CALDEIRA
Manhã de quarta-feira, 10 de abril, no Centro Municipal de Educação Infantil, CMEI Darcy Vargas, localizado no bairro Santo Antônio, em Vitória. Quando cheguei, fui recebida pelo professor Rogério Ribeiro, que me pediu para aguardar a chegada da turminha, com cerca de 40 alunos, para mais um dia de aula. O corredor onde eu esperava leva a um grande e organizado quintal, com materiais plásticos descartáveis, pneus coloridos, caixas de papelão e madeira, panos chita, malha, além de árvores (algumas recém plantadas), folhas secas, plantas, hortaliças e até mesmo pequenas casas feitas de madeira. Em seguida, já na sala de aula, observo algumas crianças ainda com cara de sono e outras já bem agitadas para aquela hora da manhã, se preparam para começar o dia. Os “pequenos anjinhos”, como são chamados pelo professor Rogério, sentados no chão, uniformizados e com os cabelos penteados - as meninas, com lindos laços coloridos - assistem ao filme que o professor acaba de colocar. Na sala não há cadeiras, somente uma televisão e um tapete educativo, para as crianças se sentirem livres. O filme conquista o silêncio e os
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olhinhos atentos da turma. É o desenho animado “A Lenda da Mandioca”, com cerca de seis minutos, sobre o folclore brasileiro de origem indígena.. De acordo com a estória, uma índia tupi deu à luz uma filha e a chamou de Mani. A menina era linda e tinha a pele bem branca. Toda a tribo a amava muito, pois Mani sempre transmitia felicidade por onde passava. Um dia, ela ficou doente e morreu. Os pais de Mani resolveram enterrar o corpo na oca em que moravam, pois esta era a tradição do povo indígena tupi. Os pais regaram o local, onde a menina tinha sido enterrada com água e muitas lágrimas. Depois de alguns dias da morte de Mani, nasceu dentro da oca uma planta cuja raiz era marrom por fora e bem branquinha por dentro (da cor de Mani). Em homenagem à filha, a mãe deu o nome à planta de Maniva. Os índios passaram a usar a raiz da nova planta para fazer farinha e uma bebida (cauim). Ela ganhou o nome de mandioca, uma junção de Mani (nome da indiazinha morta) e oca (habitação indígena). Ao término do filme, o professor Rogério entrega um cocar, feito de jornal e folha de mangueira, para cada criança, e os convida a conhecer e provar a mandioca, ensinando a
Professor Rogério Ribeiro e estudantes do CMEI Darcy Vargas em atividade do projeto “Vitória, Terra de índio
importância daquele alimento, e também sobre a cultura indígena. Todos saem da sala bem eufóricos e curiosos. Alguns diziam que já haviam provado mandioca e outros experimentaram pela primeira vez. O pequeno Tales foi o primeiro a comer. Pareceu gostar muito.Júlia não gostou, mas amou o cocar que lhe foi dado anteriormente. Curiosa, pergunto ao professor sobre o quintal no fundo da creche, e o que tinha lá, e em tom de brincadeira ele me responde que é lá que a magia acontece. As crianças já estavam bem ambientadas ao quintal da creche. Sem pensar duas vezes, colocam as mãozinhas na terra, e com brilho nos olhos e muito orgulho, mostram que já plantaram acerola, amora, romã, goiaba, cajá, cacau, maracujá, erva cidreira, manjericão, boldo e astrapéia(flor-de-abelha). Além de plantar, cuidam de tudo com muito zelo, regando, varrendo e separando todo o lixo que iria ser descartado. Todos brincam no chão, e não parecem se importar com a terra e as folhas caídas. Os materiais descartáveis de plástico, são utilizados como brinquedos e baldinhos, os pneus reciclados servem como balanços, pontes e trampolins e as folhas secas amortecem os pulos nas brincadeiras. As caixas de papelão são casinhas de bonecas e a de madeira,forrada com pano chita, uma mesinha. Pequenas casas de madeira instaladas no canto da parede são colmeias
de abelhas sem ferrão, que têm como principal função a polinização. Tudo nesse espaço, é feito para estimular a criatividade das crianças e prepará-las para o futuro. O professor Rogério, que leciona Educação Física na instituição desde 2006, explica que em 2019 o CMEI Darcy Vargas, está trabalhando com o projeto “Vitória, Terra de Índio”, que tem como objetivo proporcionar aos pequenos alunos uma experiência de vivência da cultura dos índios e de preservação do meio ambiente. Rogério fala que, apesar de ser professor de Educação Física, também tem como propósito estudar as questões ambientais e culturais. Quando elabora as brincadeiras, ele aborda esses temas, e o quintal é o espaço ideal, pois há elementos que têm relação direta com a natureza. O simples ato de ensinar uma criança a colocar as mãozinhas na terra, plantar, cuidar, regar, e colher, não só faz com que ela entenda a importância disso, como também reconheça que o contato com a terra permite sentir a grandeza da natureza. Essas atitudes produzem conhecimentos fundamentais para a formação de cidadãos conscientes da importância de um meio ambiente saudável e sustentável. Cuidar da natureza também é coisa de criança, e quando essa educação é realizada desde os primeiros anos de vida, elas são capazes de desenvolver maior consciência ecológica, cultural e social, pois, o que esses pequeninos aprendem nessa etapa é levado para toda vida, através dos estímulos, cuidado, afeto, alimentação, interação social e brincadeiras.
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MEIO AMBIENTE
O PUM DAS VACAS E A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
DANIEL JACOBSEN
PROTEÍNA VEGETAL
16% vão para
79% viram ração
alimentação de humanos
para alimentar rebanhos
carne/ha = 60kg feijão/ha = 1.032 kg batata /ha=27.941 kg (2014)
Produção de frangos consome 66 bilhões de litros de água/ano (Brasil)
Dados do IBGE e da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)
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Produção de Vacas consome 92 bilhões de litros de água/ano (Brasil)
Eu ainda era criança quando descobri que o pum das vacas polui a atmosfera mais que os carros. A partir daquele momento, defender a preservação do meio ambiente não dependia apenas de preferir a bicicleta em oposição ao carro, ou fechar a torneira ao escovar os dentes. Para além disso, se tornou necessário combater o sistema de produção de animais em escala industrial, que derruba vegetações nativas, sujam a água e aceleram o efeito estufa. Anualmente, são abatidos no mundo cerca de 70 bilhões de animais terrestres para o consumo humano, 10 vezes a população humana na Terra. A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) divulgou no seu 4º Relatório SVB sobre os Impactos Ambientais da Criação e Consumo de Animais que, no Brasil, são abatidos 5,5 bilhões de aves, 33 milhões de cabeças de gado e 37 milhões de suínos, todos os anos . O número de animais aquáticos mortos é incalculável. Mas de que forma isso impacta o meio ambiente? Cynthia Schuck, coordenadora do Departamento de Meio Ambiente da SVB, parece concordar que o pum das vacas aquece nosso planeta em grande medida, já que 14% das emissões de gases do efeito estufa são consequência da pecuária, conforme a própria ONU já divulgou em seus relatórios. Hoje em dia, diferente de quando eu era criança, os carros já poluem mais, o que não pode ser considerado uma vitória para defensores de animais que usam o argumento da poluição pela pecuária
para praticar seu ativismo, afinal, seja qual for a fonte, a Terra continua aquecendo, derretendo, queimando. A emissão de CO2, metano e óxido nitroso oriundos do pum das vacas acelera o aquecimento do globo num ritmo que não sustenta o equilíbrio do planeta. Cynthia acredita que a redução do consumo de carnes poderia diminuir o nível das emissões em até 64%, como divulgado pelo Painel Intercontinental de Mudanças Climáticas. Então a culpa de tudo é das vacas. Se elas bebessem menos água ou produzissem menos rejeitos, o equilíbrio da Terra estaria assegurado. Errado. É consenso para os ativistas da causa animal e ambientalistas que o fator determinante que mantém a pecuária como grande poluidora é o modo de criação em escala industrial. Para Milena Costa, vegetariana, enxergar os animais como produtos criados, tratados e dispostos em nível industrial como mercadorias implica em responsabilizar os criadores pelas consequências causadas ao meio ambiente. Os animais criados em escala são tão vítimas quanto as pessoas que sofrem os danos desses sistema à natureza. Portanto é difícil conceber um ambientalismo que prime pela preservação da nossa casa comum e ignore um dos fatores que agravam tanto as mudanças climáticas e promova o desequilíbrio ambiental e a injustiça social na distribuição de alimentos. E aí retomo a questão do início da matéria: existe ambientalismo coerente sem vegetarianismo? Amparado por dados de organizações nacionais e internacionais de respaldo, é difícil afirmar uma coerência entre as lutas de preservação do meio ambiente e o consumo dos produtos oriundos de um dos setores que mais contribuem com a poluição das águas, do ar e com a destruição de vegetação nativa. A vegana e estudante de Biologia Sabrina Caram não consegue ver como um ambientalismo real se sustentaria sem a preocupação com a criação e consumo de animais. Não participar do processo como consumidor do mercado de carne é pré-requisito para um ativismo ambiental comprometido, coerente e eficaz.
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MEIO AMBIENTE
NA ONDA DA CONSERVAÇÃO A CONEXÃO BODYBOARD E PRESERVAÇÃO DA NATUREZA RESULTOU NA ESCOLA AMBIENTAL DE BODYDBOARD (EAB), EM VILA VELHA, QUE ENSINA CRIANÇAS E JOVENS UM POUCO DAS DUAS COISAS MARIA CLARA STECCA
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e o Brasil é o país do futebol pelo número de títulos mundiais que possui, é também o país do bodyboard. Sim, os brasileiros se destacam nesse esporte. O Brasil tinha, em 2017, o segundo maior número de títulos na modalidade: um total de oito, sendo sete destes conquistados por Guilherme Tâmega, grande ídolo do bodyboard brasileiro. Mas é na categoria feminina que o Brasil reina. De 1990 a 2017, as brasileiras perderam apenas seis mundiais. A maior vencedora de todos os tempos é uma capixaba, a pentacampeã, Neymara Carvalho, natural do Espírito Santo, mais precisamente de Vila Velha. O bodyboard é bastante popular no município canela verde, principalmente entre os jovens, apesar da poluição e erosão constantes que as praias da região vêm sofrendo. A relação direta do bodyboard com a natureza faz dessa modalidade esportiva um vetor importante no estímulo à conservação ambiental Para que sua prática seja possível, é necessário que as praias estejam em boas condições. Porém, é comum o despejo irregular de efluentes e resíduos no mar, além do descarte inconsequente de lixo nas areias e ilhas da região de Vila Velha, deteriorando a vida marinha e afetando a qualidade da água. Essas atitudes tornam a praia imprópria em alguns pontos da cidade. A erosão, apesar de ser um fenômeno natural, é aumentada pela ação humana, através do desmatamento da restinga para dar lugar a construções muito próximas à praia, fazendo com que não sobre espaço suficiente para a readaptação espontânea do solo litorâneo. Este distúrbio pode afetar a fundação de bancos de areia que estão ligados diretamente à formação das ondas, local principal para o desenvolvimento do surf.
Bodyboard, em Itaparica, um projeto social, que conta com trabalho voluntário, visando utilizar o esporte como meio de educação ambiental. Seu objetivo é formar cidadãos conscientes e ecologicamente preocupados não só com a preservação do local onde desempenham as atividades esportivas, mas também com toda a região. Os alunos que participam do projeto aprendem a desenvolver atitudes ecológicas, juntamente com a prática do bodyboard. Como contrapartida os que têm condições doam 3 kg de alimento não perecível, que depois são destinadas a instituições sociais de Vila Velha. A idade mínima recomendada para participar das atividades é sete anos de idade. As aulas acontecem sempre aos sábados, às 10:30h, na praia de Itaparica, próximo à colônia de pesca Z-2. O professor Guilherme Loyola ressalta a importância social que o projeto desempenha: “A EAB é um projeto importantíssimo, responsável não só por promover a consciência ambiental, revitalizar e preservar a restinga da orla vila velhense, mas também por atuar na vida de jovens em vulnerabilidade social que encontraram na EAB uma maneira de driblar inúmeros riscos sociais.” Sarah, mais conhecida entre os colegas como “Batata”, teve sua primeira aula com o professor Loyola. Ela chegou num sábado em que
o assunto era Mata Atlântica e restinga, principalmente, pois é o ecossistema em que a EAB se encontra. No final, os alunos formaram grupos e plantaram algumas espécies nativas da restinga. “Foi muito massa. Às vezes, nós passamos por dificuldades, mas quando chegamos lá, parece que tudo aquilo que estava deixando a gente triste não existe mais. Você sente uma tranquilidade ao ouvir o som do mar, e o esporte traz esse convívio com o meio ambiente”, lembra. Ela ainda faz questão de afirmar que sente prazer por estar naquele meio e se mostra muito grata aos professores que incentivam os alunos a melhorarem cada vez mais o desempenho no esporte. O bodyboarder de Vila Velha, Davi Duda, também conhece o trabalho da Escola Ambiental de Bodyboard e reafirma a importância socioambiental que o projeto tem, além de ensinar aos jovens o espírito esportivo e de coletividade. Ele destaca que “é importante porque envolve o contato com a natureza, além de ensinar a competir, saber perder e dividir/ compartilhar as coisas”. Ele acrescenta que “muitos vêm de uma realidade da periferia, e estar envolvido com esporte e com pessoas que se importam com elas, faz toda a diferença. Isso ajuda muito a manter os meninos longe de riscos sociais.”
O BODYBOARD NA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL Diante desta realidade, em 2005, os amigos e bodyboarders Rino de Souza, Lucas Nogueira e Anderson Lima, criaram a Escola Ambiental de
CRIANÇAS E JOVENS EM ATIVIDADES EDUCATIVA DA ESCOLA AMBIENTAL DE BODYBOARD maio 2019
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MEIO AMBIENTE
Varal cheio com fraldas branquinhas sendo secadas pela brisa que sopra. Uma caixa cheia de alfinetes, alguns mais simples e outros enfeitados com bichinhos. Essa era uma cena comum nos lares com crianças até o início dos anos 90, mas a popularização das fraldas descartáveis a fez mudar. Elas chegaram trazendo a promessa da praticidade para as famílias, que agora, “nos novos tempos”, já não têm mais a mesma disponibilidade de tempo das nossas mães e avós. E cumpriram o que prometeram: basta retirar a fralda usada e jogar no lixo. Assim, prático, sem precisar gastar tempo em lavar e secar. Uma pesquisa realizada pela Nielsen em 2016 apontou que nos 7 milhões de lares brasileiros que têm bebês as fraldas descartáveis estão presente em 96%. Mas toda essa popularidade e praticidade trouxe consigo um preço que está sendo pago pelo meio ambiente. Se considerarmos que uma criança gasta em média 5 mil fraldas desde o seu nascimento até o seu desfralde, e que cada fralda leva em média 450 anos para se degradar no meio ambiente, temos aí uma enorme quantidade de lixo que acaba entupindo os aterros sanitários, poluindo rios, lagoas e oceanos. Além disso, uma realidade ainda mais cruel é a morte de animais aquáticos, em especial as tartarugas marinhas, que comem essas fraldas ao confundi-las com algas. Como solução alternativa as fraldas de pano voltaram, porém mais modernas e práticas. Agora elas são coloridas, com tecidos tecnológicos, não usam mais os alfinetes e absorvem muito mais o xixi, facilitando o uso e não lembram nada aquelas da época da nossas mães e avós.“As antigas fraldas de pano só têm em comum com as novas fraldas o fato de serem reutilizáveis. Porque tudo mudou!” conta Patrícia Bravin, proprietária da marca Amarelinha.
FRAL LIMP
AS FRALDAS DO T ESTÃO D FELIPE KHOURY E
FRALDADA DIA 1º DE JUNHO NA PEDRA DA CE
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O evento acontecerá em todo temas: ecologia, cuidado con sustentabilidade e empreendedo
LDAS PAS
TEMPO DA VOVÓ DE VOLTA KELLY LACERDA
As fraldas de pano amenizam o dano ambiental, uma vez que são reutilizáveis e biodegradáveis. Um enxoval das fraldas ecológicas pode ser feito com apenas vinte fraldas que irão acompanhar a criança durante todo o seu crescimento, sem contar que ainda poderá ser passada para o irmãozinho ou algum amiguinho mais tarde evitando o consumo desenfreado. Além do fator ambiental, também chama atenção, o fato de serem mais econômicas, contribuírem para a saúde do bebê (evitam assaduras, alergias e não é necessário o uso de pomadas), sem falar na beleza das estampas, que se adequa facilmente ao lúdico mundo infantil. Apesar das vantagens da fralda “moderninha”, como passaram a ser conhecidas, elas ainda enfrentam resistência por parte de alguns pais, que as consideram pouco práticas para o seu dia-a-dia. “Eu trabalho fora, estudo, cuido da minha casa e da minha filha. Meu dia-a-dia é muito corrido, não consigo inserir mais uma tarefa nele. Não quero ter mais esse compromisso de lavar as fraldas. Confesso que pelo lado do meio ambiente, tinha vontade de usá-las, mas a praticidade da fralda descartável acaba me atraindo para ela”, analisa a funcionária pública Joana Ribeiro. Mas existem aqueles que não encontram dificuldade com a rotina das fraldas de pano. “Não acho difícil usar, é uma questão de costume, adaptação. Para mim, a questão da diminuição do lixo fala mais alto. Tenho certeza que vou deixar um mundo um pouco melhor para os meus filhos”, pondera a professora Daniela Azevedo. Entretanto, outro fator apontado contra a fralda de pano é o consumo maior de água. Mas será que essa acusação é verdadeira? Estudos apontam que não! Uma pesquisa publicada em 2017 pela Agência Nacional de Águas (ANA) mostra que a fabricação de celulose e outras pastas para fabricação de papel está entre os cinco processos industriais que mais demandam uso de água. Se pensarmos de maneira global, veremos que o impacto das fraldas descartáveis no meio ambiente, é muito mais alto do que o impacto financeiro causado pela lavagem das fraldas ecológicas no cotidiano. O retorno das fraldas do tempo da vovó ganhou fôlego com a influência de famosos em prol dessa causa. Nomes como Bela Gil, Sandy, Candice Swanepoel aderiram ao seu uso. Mas Patrícia ressalta que as mães anônimas também tem um importante papel nesse processo de conscientização, porque vão influenciando umas às outras. Ela destaca que inicialmente eram vistas como xiitas, hippies por estar inserindo novamente o uso das fraldas de pano. Saltos altos, negócios, empregos e correria, muitas vezes, fazem parte da vida da mulher nos tempos de hoje. E mesmo com essa mudança de rotina, Patrícia deixa um recado: “Para a mãe que está lendo, não se preocupe em achar que você vai se tornar escrava da maternidade por conta dessa escolha. Tente!”.
EBOLA.
o o Brasil, e discutirá os nsciente, saúde e bem estar, orismo materno.
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VIDA UNIVERSITÁRIA
PRA QUEM? Marcela Delatorre Lovatti
Policiais militares armados agora fazem a ronda na Universidade Federal do Espírito Santo. A dúvida é se eles estão realmente preparados para lidar com esse ambiente.
Sete e quarenta e cinco da noite. Centro de Artes da Ufes, próximo ao prédio multimeios - mais conhecido como Bob, onde uma estudante foi atacada no início de março deste mesmo ano. No meio do caminho, um homem vem no sentido oposto e, ao se aproximar, interrompe a caminhada para perguntar como poderia chegar ao Cemuni I. Naquele instante, fiz o meu melhor para informá-lo corretamente. Ele parecia inseguro, como se estivesse com medo de me assustar. Infelizmente, situações como essas são o “new normal” da sociedade. Andar sozinha é sinônimo de perigo. Sair de casa à noite pelas ruas de Jardim da Penha ou
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pela Praia de Camburi requer atenção redobrada e sorte. Dentro da Ufes não é diferente. De uns tempos para cá, andar pela Universidade Federal do Espírito Santo durante a noite é um ato de coragem. São poucas as pessoas que ainda caminham sozinhas pelo campus. O medo aumentou depois que alguns episódios violentos ocorreram nos campi da Ufes. Já não são mais usuais as tão famosas idas ao morro da caixa d’água, com sua vista espetacular, que entraram para a história da universidade. Hoje, seguranças avisam dos riscos de subir lá para aqueles que ainda insistem em tentar. Os questionamentos sobre a falta de infraestrutura na Ufes são comuns. Esta seria uma das principais responsáveis pelo terror garantido aos estudantes que não confiam na universidade quando se trata de zelar pela segurança deles. No entanto, não se pode negar que as passarelas
têm luz, que o Restaurante Universitário está cercado de grades ou que as árvores são cortadas para melhorar a visibilidade e a segurança dos estudantes. Ou será que podemos? Ao andar pela Ufes à noite, percebe-se que ainda assim o breu toma conta dos amplos espaços nos intervalos dos prédios. Passar por algumas partes da federal capixaba é sim assustador. “Você deve andar sempre com mais uma pessoa”; “Não deixa o celular à mostra”; “ir até à Ufes a esta hora não é perigoso demais?”. São vários e vários questionamentos e sugestões de pessoas preocupadas com o que estamos presenciando. Quando foi que o perigo adentrou tão fundo pelas entranhas da Universidade? A Polícia Militar foi contratada e os vigilantes terceirizados mandados embora. Agora sim o problema foi resolvido, apostavam os gestores. Policiais aposentados, armados e supostamente treinados
para estar numa área de Universidade Federal. Mas será que estão realmente preparados? O mês de março trouxe de volta a discussão sobre a violência na Ufes. Uma estudante foi estrangulada dentro do Cemuni III, no Centro de Artes. Conseguiu se salvar com a ajuda de uma servidora da Universidade e outro estudante. Um ano antes, em março de 2018, uma aluna que estava prestes a apresentar o TCC foi assaltada dentro da sala de aula e teve o notebook levado. Em junho do mesmo ano, dois casos saíram na mídia: um homem foi estuprado no Centro de Ciências Exatas (CCE) e duas estudantes assaltadas e mantidas reféns no Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE). Para piorar a situação, três das cinco principais cantinas existentes estão fechadas. No Centro de Artes, entre os prédios do Design e o da Arquitetura, a cantina está fechada desde 2017. Atualmente, alguns estudantes aproveitam o espaço para realizar exposições, no entanto, na maior parte do tempo, o local fica propício a usuários de drogas. No início deste ano, as cantinas do Metrópolis e do
CCJE também foram fechadas, fazendo com que esses espaços fiquem vazios e facilitando possíveis assaltos e atitudes violentas. Em 2017, para tentar reduzir esses índices e intensificar a segurança nos campi, a Ufes criou o aplicativo Alerta UFES. Por meio do app, os usuários podem enviar um alerta para a central de videomonitoramento da Universidade avisando sobre qualquer problema, desde a deficiência na iluminação de determinada área até a ocorrência de um acidente ou situação suspeita. Já em 2019, a Ufes assinou um convênio que trouxe 120 policiais militares aposentados para dentro da Universidade para fazer a segurança dos quatro campi. Na ocasião da assinatura, Reinaldo Centoducatte, reitor da instituição, declarou que a universidade não tinha condições de resolver sozinha o problema de segurança que estava e continua enfrentando. “Não vamos esperar acontecer uma tragédia para buscar parcerias”, disse ele. “Entendemos que esse convênio vai trazer maior segurança para a Universidade”. Entretanto, essa não é a opinião de boa parte dos alunos e ser-
“A PARCERIA ENTRE A PM E A UFES É UMA POLÍTICA QUE COMEÇA FRACASSADA” JOÃO VITOR, ESTUDANTE vidores da Universidade. Segundo alguns deles, os policiais não têm treinamento para realizar operações dentro de uma área tão diversificada socialmente. João Vitor, estudante e membro do Coletivo Negrada, acha que “a parceria entre a PM e a Ufes é uma política que começa fracassada, pois não há uma relação direta entre ter polícia e acabar com a violência. Além disso, nossa universidade se baseia em pesquisas e trabalhos acadêmicos, e nós temos grupos que debatem exatamente o fracasso de
políticas de segurança que são baseadas exclusivamente na Polícia Militar”. E não são poucos os motivos que levam ele e o coletivo a acreditarem que a presença de policiais militares dentro da universidade pública é problemática. “Não pensemos que Polícia Militar é essa polícia que corre atrás de bandido. Isso não existe. O que existe são policiais fortemente armados e pessoas suspeitas que são colocadas na condição de bandido, e que muito raramente estão armadas. Então, a polícia não corre atrás de bandido, ela atira atrás de bandido. O que me preocupa é que esses policiais que tiveram uma longa trajetória na Polícia Militar, não tiveram nenhum tipo de formação para adentrar o espaço da universidade”, aponta. Quando os calouros entram na Ufes, o que eles mais escutam é o conselho de que devem vivenciar a experiência universitária da melhor maneira possível. Hoje, essa oportunidade de viver tudo o que a federal tem a oferecer está cada vez mais incerta. Durante uma reunião marcada após o caso da estudante quase estrangulada, a Ufes informou que serão realizadas ações como a intensificação da limpeza na área do Centro de Artes, divulgação dos canais de contato entre a comunidade acadêmica e a central de vigilância, além da reabertura da cantina do Centro de Artes, que está em fase de licitação. Os críticos à medida adotada pela reitoria lançaram, no dia 8 de maio, a Ouvidoria Popular de Segurança na Ufes, uma iniciativa do coletivo “PM na Ufes, Não!”, na qual serão recebidas denúncias de abusos praticados por policiais nos campi. Hoje, os policiais armados e motorizados andam em duplas ou grupos pelos centros da Universidade. Para alguns estudantes, há efeito de segurança, para outros, nem tanto. “Para alguns polícia é herói, para outros um problema. Para alguns estudantes brancos, a vida vai continuar como sempre, mas para os estudantes negros e pessoas da comunidade externa que não têm carteirinha estudantil os riscos vão aumentar”, prevê João Vitor. A liberdade é limitada para alguns corpos, não para todos”, constata.
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ESCONDE-ESCO NICOLAS NUNES
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odo mundo gosta, nem todo mundo tem. Luxo para muitos, realidade para quase ninguém: privacidade. Nos dias de hoje, a multidão se mata por um pouquinho de disso que se tornou tão raro, seja no mundo virtual ou na vida pessoal. O complicado é que esses mundos agora vivem misturados, é um misto de Matrix + George Orwell com uma pitada de ansiedade. Com o escândalo do vazamento de dados do Facebook a privacidade entrou em pauta. Não tá lembrado? A gente te dá um refresco de memória. Por meio de um teste de personalidade (eu sei que você já fez um) dados de 50 milhões de pessoas foram coletados e repassados ilegalmente para uma empresa de análise de dados, a Cambridge Analytica. Tá, então o que podemos fazer para alcançar um mínimo de privacidade? Dicas de segurança nas redes são coisas comuns de serem vistas como práticas que podemos adotar ou costumes que devemos evitar. Mas, como foi dito antes, certos ataques vão além dos famosos cavalos de tróia e das SMS com vírus embutidos e, para esses ataques, defesas específicas se fazem necessárias. Um meio de reforçar a privacidade no ambiente digital é a VPN, artifício já bem conhecido lá na gringa e que não exige conhecimentos aprofundados de informática ou programação.
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A TECNOLOGIA VPN PODE TE AJUDAR NA BUSCA PELA PRIVACIDADE DENTRO DAS REDES Virtual Private Network = Rede Virtual Privada. A tecnologia foi criada em 1996, quando um funcionário da gigante Microsoft desenvolveu um protocolo de tunelamento ponto-a-ponto (PPTP). Ele estabelecia uma conexão privada entre o computador e a internet, garantindo mais segurança. Mas o que é isso, afinal? Vou desembuchar.
VPN é uma tecnologia que liga o seu computador à internet por meio de um servidor sob a segurança da criptografia. Até que parece bem simples, né? E é mesmo. Utilizando-se da tecnologia de tunelamento e de criptografia (falaremos sobre à frente), várias empresas oferecem seus serviços em diferentes pacotes e versões. A maioria dos clientes são empresas, que precisam proteger seus dados no dia-a-dia, mas nada impede que uma pessoa comum compre um serviço de VPN. Existem VPNs grátis, mas, como tudo que vem de graça, podem oferecer riscos. Só que nesse caso o que pode estar em jogo são seus arquivos e documentos digitais, seus dados bancários e de redes sociais e até a sua máquina. A forma como funcionam é um pouco mais complicada. Muitos pensam que para usar VPNs é preciso saber bastante do conteúdo de redes como: protocolos, IPs, máscaras de
p ro t o co l o SS L - S e c u re
ONDE VIRTUAL rede, gateways, etc. Mas não é bem assim. Entrevistei o William Lopes, pesquisador do Labic (Laboratório de Estudos de Imagem e Cibercultura), e ele deu uma resumida legal. Se liga: “Em resumo, uma VPN funciona de forma similar a um modem. Pensa no modem da sua casa, ele recebe um tráfego de dados e repassa para frente. O que vem da internet passa pelo modem, que precisa saber direcionar esse tráfego. A diferença primordial é que a VPN é um serviço pensado para a segurança”. E isso tudo não exige conhecimentos específicos de informática, você só precisa baixar o software, instalar e depois iniciá-lo. É igual a qualquer outro programa, como Spotify por exemplo. “Minha mãe não conseguiria usar uma - brinca Will mas alguém que sabe usar torrents consegue ver um tutorial e configurar tranquilamente”. O custo de uma VPN varia, a
partir de U$1.99/mês, até U$5 mil/ ano, essas últimas mais sofisticadas. Algumas fecham pacotes de U$99/ ano. Basicamente não existem diferenças entre VPNs para computadores e para smartphones. É importante frisar que nem toda VPN tem criptografia, algumas tem certificado de criptografia e outras não. Geralmente as mais baratas não têm, e isso reduz seu potencial. Tá, mas a gente vive num mundo em que as coisas ficam obsoletas da noite para o dia. Será que esse vai ser o caso das redes virtuais privadas? Vinícius Schiavini, publicitário e criador da produtora Kombo, nos deu sua opinião:
“Já usei e acho uma boa alternativa. Eu acredito que, logo logo, teremos um sistema de IP (número que identifica cada computador) flutuante muito mais avançado que a tecnologia VPN, chegando ao ponto de ela cair em desuso. Com isso, você poderá até não disponibilizar a sua localização. Creio eu que é o próximo passo para a privacidade: o controle total dos dados que você disponibiliza na rede”. Apostou alto hein Vinícius? Por enquanto, de flutuante só a nuvem (ba dum tsss). Mas quem sabe né, a própria Google anunciou há pouco tempo seu mais novo serviço de games que vai funcionar na nuvem
S o c kets L ayer
O servidor VPN cria um ambiente mais seguro por meio de um protocolo que simula um túnel, através do qual trafegam os dados e protege a identidade do usuário.
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como um streaming colossal, interligado ao Youtube e ao Chromecast: O Stadia. Vá saber. Talvez uma pergunta mais relevante para o nosso contexto seja: as novas gerações estão preocupadas com a privacidade? Lígia Fonseca, professora na rede municipal de Vitória, conversou conosco. “Não os vejo preocupados com a privacidade de forma alguma, e eles nem imaginam o que seja uma VPN”. Porém, quando questionada sobre o interesse dos alunos pelo tema, sua resposta foi positiva, “Creio que se interessariam caso uma palestra ou algo do tipo fosse realizado, direcionando tudo para a realidade deles”. Dá para ver que a VPN é uma tecnologia complexa, que zela pelo seu cliente e cumpre com sua função. Porém (tudo tem um porém nessa vida, oh céus!) ela não é perfeita, é passível de ser hackeada. Mas não é lá tão simples, hackear uma VPN envolve quebrar a criptografia, aproveitando vulnerabilidades conhecidas ou até roubando as chaves da rede através de meios, digamos, nada convencionais... Esses ataques criptográficos são feitos por hackers com o objetivo de recuperar o texto simples de conexões cifradas (criptografadas) sem suas respectivas chaves. No entanto, quebrar uma criptografia é computacionalmente trabalhoso e pode levar anos para chegar em alguma conquista. Geralmente se rouba as chaves de acesso, o que é muito mais fácil do que quebrar a criptografia. Agora como os hackers ou até mesmo bandidos contratados roubam essas chaves não é lá tão virtuoso, se é que me entende. E tem gente com opiniões que deixaria a maioria das pessoas com muito medo. O técnico de informática Rodrigo Rui é assertivo no que diz. “Existe um ditado que é conhecido entre nós técnicos: ‘não existe privacidade em rede’. Eu confio na criptografia, que nem é utilizada direito hoje salvo por poucas empresas, como o Whatsapp. E por que a criptografia é pouquíssimo utilizada? Porque quando acionada, não dá para saber o que o outro lado da conexão está fazendo. É esse o motivo
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da falta de interesse das empresas pela criptografia. A maioria delas oferece camadas de proteção apenas, criptografia não”. Sobre a criptografia da VPN, ele rebateu, “Na verdade falam que tem,
mas eu nunca vi, até hoje. Quando eu vou olhar a programação de determinado software, seu código-fonte, eu consigo ver tudo o que ele faz. Já consegui ver o código-fonte de VPNs, ou seja, não são seguras”.
REDES DE USO PÚBLICO SÃO MAIS VULNERÁVEIS Quando se trata de vulnerabilidade em rede, as redes públicas de internet são campeãs. “No momento em que uma pessoa coloca o seu celular no modo WPS ela está muito vulnerável, e digo mais, ninguém deve usar o modo WPS”, diz Rodrigo Rui técnico de informática. WPS (Wi-Fi com Configuração Protegida) é um protocolo de segurança de rede projetado para redes sem fio. “Quer ver um exemplo de rede pública configurada em WPS? A Vitória Online. Se eu me conectar na Vitória Online eu consigo ver quem está conectado, qual tipo de celular cada um está usando e o tráfego de dados de cada pessoa, logo não vou me conectar porque outros também poderão ver o que eu consigo ver. Recomendo que utilizem o WP1 ou WP2”. Dá até uma murchada nos ânimos depois de críticas tão contundentes. Mas a despeito das críticas, há muitos elogios e garantias para que possamos confiar na tecnologia de criptografia e das VPNs. Mesmo porque, os alvos mirados por hackers são geralmente empresas e pessoas influentes. Então nós, meros mortais, podemos relaxar, mas nunca descuidar! Edward Snowden (sim, é quem você está pensando) afirma: “A criptografia funciona. Os sistemas de criptografia fortes, implementados corretamente, são uma das poucas coisas na qual você pode confiar”. Tanto quanto possível, evite VPNs que se baseiam principalmente em algoritmos de hash MD5 ou SHA-1 e protocolos PPTP ou L2TP/IPSec. Escolha os que suportam versões atuais do OpenVPN (protocolo considerado extremamente seguro). Se não tiver certeza de qual algoritmo a sua VPN usa, consulte a documentação da software ou entre em contato com o suporte. A privacidade na web deve ser levada à sério!
PRINCIPAIS VPNS Existem várias empresas que fornecem servidores de VPN, e vamos indicar algumas delas agora: ExpressVPN – A mais bem avaliada por sites de tecnologia. Preço inicial de U$6.67/mês com garantia de reembolso de 30 dias e permite a utilização de até 3 dispositivos por pacote contratado. Dona da alcunha de “A VPN mais rápida da terra”. NordVPN – É a mais popular e a mais usada por especialistas em tecnologia. Preço inicial de U$2.99/mês, também com garantia de 30 dias. Essa aguenta a utilização em ainda mais dispositivos, 6 por pacote. Funciona bem com a Netflix. CyberGhostVPN – Essa empresa possui mais de 2.900 servidores em 60 países. Preço inicial de U$2.75/mês, dessa vez com garantia de 45 dias. Dizem que é popular na China porque burla o grande firewall do governo com facilidade.
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hile, Argentina, Brasil e Paraguai. O que esses países têm em comum? Com semelhanças não apenas continentais, de Lula à Bachelet, todos foram comandados por líderes de esquerda desde o início do século XXI. Sendo o último deles até 2018, com Michelle Bachelet (2006-2010, 2014-2018), no Chile. Porém, utilizando as redes sociais como palco principal, nos últimos tempos, uma avalanche direitista ganhou espaço e abocanhou governos. A ofensiva ocorreu antes que se pudesse conhecer resultados mais acabados daqueles que colocavam a pauta do combate à fome e dos direitos humanos no centro da ação. Esse fenômeno não aconteceu apenas na América Latina, mas em escala global. De norte a sul, seja no oriente ou no ocidente, os discursos e o meio de comunicação se repetem. Entre as pautas desses movimentos, está a proteção dos valores morais, a defesa da “família tradicional”, intolerância religiosa, o ódio aos estrangeiros e a presença de um intenso nacionalismo. Nesta ascensão, surgiram nomes como o de Marine Le Pen na França, Thierry Baudet, na Holanda e Matteo Salvini na Itália. Nem o presidente da maior potência mundial fugiu do script conservador. A exaltação da pátria foi uma das bandeiras indispensáveis de Trump durante sua campanha, e com o lema Make America great again!, saiu como vencedor nas eleições de 2016, nos Estados Unidos. No Brasil, a negação de “tudo isso que tá aí”, surgiu com a promessa de romper com valores de governos anteriores e, consequentemente, ajudou a eleger Jair Bolsonaro com 55% dos votos nas eleições presidenciais de 2018. Essa expectativa foi o que atraiu o fiscal de loja, André Viscentin. Aos 39 anos, ele votou pela primeira vez na última eleição. Após quase duas décadas justificando seu voto, usou como critério a vontade de transformação. “Estávamos muito desiludidos com a corrupção dos outros governos. O atual veio com uma proposta de mudar, de fazer e acontecer, mas, até agora, mudança 20
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COM O PODER DA INTERNET, O DISCURSO DIREITISTA SAIU DAS REDES PARA INVADIR O MUNDO REAL
ANA JULIA CHAN E RICHELE RIBEIRO
nenhuma. Estava farto do governo, de PT, PT, PT... daí veio aquele ‘boom’ e votei. Foi mais a questão da educação, saúde e segurança, que todo mundo preza, mas de governo a governo, não muda nada”, lamenta. Para Frederico Carneiro, mestrando em Comunicação pela Universidade Federal do Espírito Santo, além de questões mais perceptíveis como o desemprego, razões subjetivas também estão ligadas ao avanço da direita no Brasil. “As pessoas sentiram na pele a questão do desemprego, a falta de segurança, de uma certa crise de identidade... Acho que é importante a gente pensar nos problemas com uma face que é material, mas também com uma face que é simbólica. O fato de uma pessoa estar desempregada não quer dizer que ela entenda o modo como se dá esse desemprego, quais fatores estão associados àquilo ali. Subjetivamente, é muito mais fácil associar, por exemplo, a um governo que no caso era o governo Dilma que estava no poder”, pontua.
CHEGA DE SAUDADE A nostalgia e a melancolia relacionados à subjetividade política, principalmente quando se trata de governos mais conservadores, não é novidade e, muitos menos, uma característica contemporânea. Algumas pessoas desejam algo que não existe mais em um presente em transição ou que não superam a sensação de perda - neste contexto, a mudança de governo - e, assim, associam esta ausência ao medo em relação às perspectivas futuras. Além destes pontos, vale ressaltar a existência de um discurso no qual o nacionalismo é bastante defendido. Carneiro destaca que a principal semelhança entre os governos conservadores é a defesa muito firme de uma nação forte. “Nação foi uma coisa importante para a construção do estado moderno. Era preciso unificar aqueles territórios. Por isso foi necessário criar uma ideia de um espaço comum, de culturas que estivessem juntas. Mas hoje, a ideia de nação não opera para dar unidade para um projeto futuro… Ela opera com a ideia de regredir. Um retorno
a essa questão conservadora. E esse projeto de nação está sempre muito caracterizado pela exclusão. Quem faz parte dessa nação? Quem essa nação representa?”, reflete.
GOVERNO ONLINE Para a jornalista norte-americana Michiko Kakutani, autora de “A Morte da Verdade”, aspectos como o ressentimento causados por crises econômicas, desemprego e imigração foram exploradas por líderes nacionalistas de direita, estimulando sentimentos como medo e desamparo, e apontando culpados em vez de soluções. Com atitudes de “nós contra eles”, contribuíram diretamente para a ascensão das direitas pelo mundo. Impulsionada pelo desempenho das redes sociais, a onda conservadora chega com força total na linguagem e nos ideais dos brasileiros, dentro e fora da bolha cibernética. O desejo de dar fim ao que chamam de comunismo foi atendida, com um discurso cheio de hostilidade às minorias e frases como “ela não merece ser estuprada porque é muito feia” - referindo-se à deputada Maria do Rosário, em discurso na Câmara, em 2003. Disfarçado de sinceridade e coragem, Jair Bolsonaro, o autor da sentença, ganha popularidade e cai nas graças do povo. Tachada como “terra de ninguém”, a internet vira o espaço predileto para a disseminação de ideias reacionárias. Bolsonaro e aliados, inclusive seus filhos, enxergam na web uma oportunidade para se promoverem e pegam carona nessa tendência. Utilizada para postagens sobre decisões, reclamações e opiniões pessoais, o Twitter torna-se o principal meio de comunicação do atual governo. Usuário assíduo da rede da qual participa desde 2010, o presidente conta com cerca de 4 milhões de seguidores. Em meio a assuntos como PIB, educação, esclarecimentos a respeito de medidas tomadas e fotos com da bandeira do Brasil, também tuíta sobre o trabalho da imprensa. Desde sua campanha, Bolsonaro utiliza a rede para expor sua insatisfação com a mídia. Mesmo com sua vitória nas urnas, a situação
não mostrou mudanças. Milena Mangabeira, jornalista e mestre em Comunicação e Territorialidades com foco em Discurso Político, acredita que esse “processo de desvalorização das instituições e da imprensa soam como uma estratégia de poder”. Contudo, a jornalista ainda acredita que, embora as redes sociais estejam ganhando cada vez mais força, a televisão ainda é maioria dentro da casa dos brasileiros. “A grande mídia tem o papel de reverter essa situação. Cabe à imprensa trazer à tona os mandos e desmandos do governo, escândalos e informações, que são escondidas da população como forma de manipulação de uma massa que já não acredita em nada que não saia da boca do presidente” analisa. A escolha do Twitter como plataforma essencial de comunicação do presidente do Brasil, segundo Tasso Gasparini, mestrando em Comunicação e pesquisador em Cibercultura, é uma tentativa de proximidade entre o governante e seus governados, “um canal de comunicação que pareça ser mais acessível ao cidadão comum”. “Ele segue uma tendência do Trump, presidente dos Estados Unidos, que também adota uma postura de publicações pessoais, diretas e “sem filtros”, por assim dizer. Isso acaba sendo interessante até mesmo para o Twitter, pois acaba alavancando a popularidade do site, atraindo novos usuários e atração da grande mídia tradicional”, ressalta. A deslegitimação da imprensa não fica restrita ao mundo virtual. Em sua cerimônia de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente demonstrou sua opinião sobre a mediação do jornalismo, afirmando que “o poder popular não precisa mais de intermediação: as novas tecnologias permitiram uma relação direta entre o eleitor e seus representantes”. A tendência neste cenário, onde “se tá na Internet é verdade”, é que exista inúmeros canais que não se importam com o fato de transmitir casos verídicos ou verificáveis. Neste sentido, acontece o que Kakutani caracteriza como “criação de narrativas, pré fabricadas, que ratificam as crenças do públicos e reforçam seus piores medos”. maio 2019
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RENATO CASAGRANDE SE ELEGEU EM PRIMEIRO TURNO, COM AMPLA MAIORIA, MAS A OPOSIÇÃO AO SEU GOVERNO JÁ SE DESENHA. GIOVANNI WERNECK Nas noites de 7 e 28 de outubro de 2018, enlouquecidas por uma corrida eleitoral abarrotada de reviravoltas, esquerda e direita espiritossantense comemoravam o resultado inquestionável das urnas: em nível local, o candidato do PSB, Renato Casagrande, centro esquerda, em nível nacional, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, direita. Entretanto, a vida dos seus políticos não vai ser fácil, pois os movimentos de oposição já se articulas em ambos os lados. O novo governador, de um partido socialista, vitorioso em primeiro turno, tinha à sua frente o caminho ao Palácio Anchieta, no centro de Vitória. Contudo, entraria sem o apoio dos mais fortes e mais importantes partidos. Já o novo presidente, apoiado por partidos “vira-casaca” de centro e por grupos recém-concebidos, advindos
Partido Socialismo e Liberdade Esquerda socialista Fundação: junho de 2004 Atuação: ES, sede Vitória/ES Pautas defendidas: socialismo democrático, superação do capitalismo, luta de classes, reforma agrária, taxação de grandes fortunas, Estado maior e onipresente, reforma tributária, legalização do aborto, restrição e controle de armas, dentre outras. 22
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de uma posição (bem) mais à direita, foi escolhido para subir a rampa do Planalto, no coração de Brasília. A dualidade que agora faz parte da política capixaba, deslocou o suporte dos partidos ao governador. Como gerir o estado com uma população que faz gracejos, em geral, aos dois lados? A resposta está na ponta da língua para o jovem de 22 anos, Lucas da Ré Polese, fundador do Instituto Liberal do Espírito Santo: contenção de gastos e políticas de segurança pública. “São pautas críticas”, comentou em áudio. Segundo Lucas, “é o que a população espera como um todo”. Polese é estudante de Administração no Ifes de Colatina e pretende concluir sua graduação na área de Economia na Fucape Business School. Tem muitos amigos e parceiros no MBL estadual, no Movimento Vem Pra
Rua e no Grupo Domingos Martins (outra instituição política liberal) que, juntos, levaram às ruas mais de 100 mil pessoas ano passado. Mas, não é queridinho da máquina pública. Acumulador de processos judiciais, o nome de Polese já esteve perante a Justiça pelo menos umas dez vezes. Entretanto, rapidamente tirou proveito da ameça. Durante uma conversa de WhatsApp, Lucas disse: “Principalmente nesse processo do Casagrande, na época da eleição, a página [do Iles] estourou, a gente ganhou muitos seguidores. É um preço que se paga para ter mais destaque e alcance”. Polese foi processado por Renato Casagrande, então pré-candidato a governador, por divulgação de vídeo com notícias falsas. A sentença, monocrática, proferida e tornada pública pelo juiz eleitoral Délio Sobrinho, condenou Lucas à retirada do vídeo, que
“Não adianta ter programa de esquerda e não ter prática política de esquerda. Por isso que a esquerda não vai se unir nunca”. ANDRÉ MOREIRA
o fez assim que tomou conhecimento, em agosto de 2018. Logo depois da decisão liminar, o Ministério Público do Espírito Santo publicou um parecer afirmando que não é possível “concluir que os fatos divulgados por Lucas são sabidamente inverídicos” e pediu a suspensão da decisão. Depois de fundar o Instituto, Lucas viu não somente seu correio entupido de processos e intimações mas também a força que tinha com os seguidores. Em nota pública, o Iles manifestou seu descontentamento com o governo e prometeu participar do bloco de oposição a Casagrande. Naturalmente, sendo ele de direita, era o esperado. Do outro lado, o Partido Socialismo e Liberdade (Psol), que, teoricamente, tem mais pontos parecidos com o PSB (Partido Socialista Brasileiro) do que apenas o nome,
“Com o processo do Casagrande época da eleição, a página do Iles ganhou muitos seguidores. É o preço que se paga para ter mais destaque”. LUCAS POLESE
declarou também ser oposição ao governo. Na pessoa do cordial André Moreira, 51 anos, que é advogado e político, o Psol estadual tem seu porto seguro. Ele defende com unhas e dentes as pautas na qual acredita. Chamando a coligação de Casagrande com o PCdoB (Partido Comunista do Brasil) de “política degenerada”, Moreira se afastou do governador e passou a tecer críticas quanto à sua forma de atuação. Ao declarar apoio à Reforma da Previdência, proposta por Bolsonaro, que tramita na Câmara, Casagrande sepultou a frágil relação que tinha com a esquerda. Em entrevista concedida ao jornal ESHoje, o advogado reiterou fortemente seus posicionamentos em relação à causa social, abandonada nos dois governos anteriores que, “foram um contínuo”. Para André, a solução para a melhora
do quadro crônico do estado também está pronta: extinção de isenções fiscais bilionárias. Para um político que apoia pautas liberais, como a Reforma da Previdência, a Lei da Terceirização e as renúncias fiscais, torna-se difícil identificá-lo como “esquerda”. O Psol sempre quis fazer coligação com os partidos que têm um programa igual ao nosso”, reiterou Moreira. O partido amargou o ínfimo 1% nas eleições. Afirmou ainda: “Não adianta ter programa de esquerda e não ter prática política de esquerda. Por isso que a esquerda não vai se unir nunca”. Sua coligação resumiu-se ao PCB, Partido Comunista Brasileiro, fraco no estado. A apresentação de uma chapa com poucos aliados para desafiar Casagrande foi o movimento mais agressivo que o Psol fez até agora. Apesar da vitória, a lista dos aliados de Casagrande tem diminuído. Até mesmo pessebistas têm rixas com ele. Sérgio Majeski (PSB) é deputado estadual e já votou mais de uma vez contra Casagrande, em pautas-bomba, transparecendo essa desunião. Nesses momentos em que a política pode parecer confusa para o povo, deve-se lembrar que toda essa prática de ser oposição é normal e até faz bem para uma democracia. Traz pluralidade ao sistema, combate oligopólios e torna saudável a discussão. Os opositores do governo compreendem essa prática e veem o que pode sair de positivo no mandato de Casagrande. O representante do Iles espera que o governador aposte em projetos de infraestrutura. Para o Psol, o executivo deve se dedicar a fortalecer direitos e liberdades individuais.
Instituto Liberal do Espírito Santo Direita Liberal Fundação: fevereiro de 2017 Atuação: ES sede em Colatina/ES Pautas defendidas: Economia de livre iniciativa, Estado mínimo e limitado, propriedade privada, Estado democrático de direito, austeridade fiscal, desregulamentação, reformas na Previdência Social, permissão para posse de armamentos, dentre outras. maio 2019
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CAPA
CINCO HISTÓRIAS DE RESISTÊNCIA DECLARADAS FEMINISTAS, FEMININAS OU LIBERTÁRIAS, AS MULHERES LUTAM TODOS OS DIAS CONTRA A DESIGUALDADE DE GÊNERO. AQUI ESTÃO CINCO HISTÓRIAS DE CORAGEM. texto CARLA NIGRO 24
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À À luz de lampião, com ou sem autorização do marido (e isso precisava ser levado em consideração!). Vindas da roça ou da periferia. Sem telefone e internet. Com preconceito e violência. Mas juntas. Foi esse o cenário que as capixabas enfrentaram para quebrar os grilhões que a sociedade impôs. Porque lugar de mulher era em casa e elas foram pra rua. Porque deveriam estar mortas e estão dançando. Muita coisa mudou, mas várias das velhas questões permanecem. Elas também!
“O que a gente tá fazendo? A gente vai tolerar isso a vida inteira?” Maria, Eusabeth, Edna, Adriana e Bernadette disseram não. Contestaram o papel da mulher, determinado apenas por terem nascido com uma vagina, “frágeis”. Não são as únicas, representam várias. São realidades, gerações, filosofias, classes e cores. A coragem de seu primeiro passo permitiu que suas filhas e netas, e todas as outras netas e filhas, saíssem para conquistar o mundo. A resistência delas foi em casa, dizendo ao marido que tinha que ir lutar, e ir mesmo. Ou viver da forma que ele queria, se sujeitando à exclusão social. Outras foram às ruas, em passeatas e manifestações, queima de pneus e exigências. E teve mulher que resistiu vivendo, quando a violência gritou que tinha poucas chances . Com olhos firmes e penetrantes, Maria Clara tem 80 anos de histórias para contar. Enquanto lavava trouxas e trouxas de roupas e criava 6 filhos, lutou por uma libertação santa e responsável da mulher. É Legionária de Maria, extremamente religiosa, fiel aos sacramentos de Deus. Se orgulha de ter sempre honrado seus votos, embora o casamento não tenha sido uma eterna lua de mel. Crê que Deus considera homens e mulheres iguais e, por isso, devem ser tratados da mesma forma. “A bíblia diz que o homem é a cabeça da mulher. Mas tá errado. Deus diz que homem não salva mulher e mulher não salva homem. Cada um precisa se salvar. É tudo igual perante ele”. Horrorizada com o contraste entre a igreja, riquíssima, e o sofrimento das pessoas que vinham morar em uma Vitória recém-industrializada e despreparada, saiu às ruas para lutar por direitos básicos para todos. Aos 40, se reunia com outras mulheres para conversar. Foi trocando histórias de vida que notaram: além de trabalhar e ganhar menos que o homem, a mulher tinha que “olhar o filho, arrumar a casa, fazer comida e dar prazer ao marido. A gente queria se libertar de ser a mulher escrava, a rainha do lar coberta de carvão, a mulher princesa que veio para servir que
nem nossa senhora serviu. A gente começou a ver como era o sofrimento da mulher” relembra. Mas até as reuniões eram difíceis, com maridos e filhos contra, “às vezes a mulher quer sair pra fazer luta mas o marido não gosta. Igual o meu não gostava. Eu desobedecia, mas fazia por donde ele me engolir. Eu queria fazer, eu fazia. Saia inteira, voltava inteira”. A solução foi convidá-los. E eles iam, e ouviam. Alguns até compreendiam, outros não. Aos poucos, o grupo ganhou espaço e começou a realizar atividades. “Pra mulher tá faltando o que? Eu vou lá na Promata pra ganhar neném e lá num tem nada que eu preciso pra ser bem cuidada e pro meu filho ser bem cuidado. Então essa é a atividade de hoje, cobrança e repará o que tá errado”. Filha de outros tempos, Maria Clara não compreende algumas modernidades. É da época em que as roupas cobriam o corpo e, mesmo assim , eram cobiçadas. “Andar com o peito e as partes íntimas praticamente expostas é um risco à mulher que não vale a pena”. O famoso shortinho? “Não que eu tenha nada contra, por mim pode até andar pelado, mas eu jamais conseguiria usar. É o meu jeito, minha formação, fui criada assim e não tem jeito”. Já outras, é mais do que favorável: “Mulher só servia pra ser secretária mas não servia para ser vereadora, deputada, doutora. Hoje nós temos doutora, advogada. Hoje temos pessoas que investiu a sua vida de consciência que mulher tem o mesmo direito que o homem tem”, recorda. Embora andar já não seja tão fácil, ou rápido, se esforça para melhorar a cidade pela qual é apaixonada. Faz 32 anos que luta por direitos e não pretende parar. “Tem hora que a gente vai cansando. Porque não é mais aquela força de juventude que a gente tinha. Isso vai acabando aos poucos. Mas eu acho que a luta faz a gente vigorar. A gente fica tão ocupada trabalhando a mente, o corpo, que eu acho que ajuda muito”. Hoje é líder do Movimento Nacional de Luta por Moradia no Espírito Santo e presença confirmada em todas as manifestações do dia 8 de Março.
“EU POR TODAS E TODAS POR EU” “Olha, já fiz teatro em praça pública contra a ditadura. Já fui agarrada por policial, recebi porrete na cabeça, mas de tudo escapei. Nunca fui presa, eu corro tanto que nem tinha sentido o tal do spray. ” Eusabeth corria muito, muito mesmo. Foi isso que a manteve sã e salva. A cada manifestação, esperta, já sabia a direção da fuga para quando algo desse errado. A primeira vez que sentiu o spray de pimenta já estava velha. Foi em 2016, durante manifestação contra o impeachment de Dilma Rousseff. Na infância brincou com os meninos de pique-pega e bola de gude e com as meninas de fazer comidinha e comadre. Nas noites de lua ficou até tarde na rua. Teve muito mais liberdade que as crianças de hoje, recorda com carinho. “Eu lembro que a gente tinha uma vitrolinha, marcava um sábado ia na casa de uma pessoa, depois de outra. A gente andava de lambreta. Eu vivi isso. Muita gente da minha época não viveu. Por que eu fui sempre com muita liberdade. Eu, com 13 anos, usava esmalte vermelho. As minhas amigas admiravam por que meu pai deixava eu usar”. Elisabeth Vasconcellos, 66 anos, conhecida por Eusabeth, começou no próprio bairro. “Naquela época, as mulheres não trabalhavam fora. O que acontecia? Tinha vala aberta, não tinha posto médico, iluminação não prestava, não tinha sinal de trânsito na BR. Creche, escola. Então, tudo isso era as mulheres que juntava para trabalhar. Tinha 15 grupos. E como eu tava aposentada mesmo, eu conseguia me organizar para trabalhar com esses grupos”. Os grupos capixabas surgem em 1976, tempo da ditadura. As reuniões de sindicatos exigiam disfarce. O resultado? Ia mulher e filho a tiracolo. Tudo em um quarto, esperando. Conversa vai, conversa vem, perceberam que unidas eram mais fortes. Os grupos atuavam nos bairros das integrantes, mas seguiam a filosofia dos três mosqueteiros. “A gente tinha muito aquela questão do eu por todas. O coletivo da gente era muito unido mesmo. A gente não se preocupava com as diferenças.
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EDITORIA
Eu podia saber que o seu bairro tinha uma vala aberta e o meu não tinha, mas eu tinha que ir lá ajudar você na questão da vala aberta”. Na década de 80, durante a redemocratização, surge o CIM - Centro de Integração da Mulher. É ele quem organiza, em 84, a tomada do centro de Vitória por centenas de mulheres contra a violência contra a mulher. Segue, no ano seguinte, sua maior conquista: a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM). Mas aos poucos o CIM paralisa suas atividades. Em Julho de 1992, Eusabeth participa da fundação da Associação de Mulheres Unidas da Serra (AMUS). A associação visitava os grupos, descobria quais eram suas necessidades e agiam. Recorda que uma vez um queria combater o analfabetismo de suas integrantes. “Havia uma mulher de Feu Rosa, bem tímida, quase não falava. Um dia ela chegou toda serelepe. Tinha tido uma aventura, ela havia escrito um bilhetinho para o marido e pegado um ônibus pela primeira vez. Quando chegou em casa, o marido começou a reclamar, ela só virou e disse: eu escrevi o bilhete, não escrevi? Você entendeu, não entendeu? Pronto e acabou! Gente, eu respondi ao homem! Ela tava toda feliz por isso. As vezes é algo simples que empodera uma mulher”. Foi a AMUS que conquistou, através de manifestações e queima de pneus, o funcionamento da Maternidade de Cariacica. “Na época não tinha celular, não tinha nada disso. O que eu fazia? Eu pedia o carro emprestado, outra hora até meu marido mesmo levava, e saia nos bairro tudinho, comunicava
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tal hora, em tal local, lá na BR. E surgia mulher de tudo quanto é canto”. Em dois meses, conseguiu estruturar a primeira delegacia para a mulher serrana, em Setembro de 1994. “Nesse período era muito complicado, os homens tinham muito mais direitos que as mulheres. A lei Maria da Penha só surgiu em 2006, 12 anos depois. A gente conversou com a prefeitura, que prometeu pagar o aluguel, e depois com a polícia civil. Quem quer muito faz. E a gente fez.” Atualmente, Eusabeth sente que é mais difícil convocar as mulheres. “Antes tinha muita alternativa. A gente não se preparava muito. Olhava pro ambiente e fazia um teatro, se pintava de vermelho, colocava faixa na cabeça e ia. Era criatividade por necessidade. E a gente conseguia tudo que queria. Era diferente, hoje você prepara, prepara e parece que não acontece”. A solução é voltar às origens. Pretende conversar com lideranças de bairros e formar novamente grupos. “Vamos sentar no sofá do final dos anos 80, início dos 90 e voltar a trabalhar.” Hoje só existe um grupo de mulheres, em Carapina. Depois de tanta luta, se entristece pois ainda há muita estrada até a igualdade. “A gente é criada para ser doação. Ninguém diz pra você cuidar de você. Eles dizem pra cuidar da família, da mamãe, do vôvô. Por isso a gente tem muita baixa auto estima. Ainda encontro mulheres que é avó que não sabem responder por que a gente menstrua. O que é prazer no sexo? não sabe.”
FEMINISMO É COISA DE LÉSBICA, MULHER DA VIDA, MAL FALADA Edna usa os cabelos curtos desde os 18. Na roça, o pai só permitia usá-los longos. Também não podia andar de bicicleta ou dançar forró por que essas eram coisas de puta. Quando mais velha, mais contrariada ficava com aquelas regras. E questionava. E apanhava. “Eu sofri violência doméstica braba até os 16 anos, até a gente vir pra cidade. Uma das coisas, eu acho, eu fui pro movimento feminista, hoje eu vejo isso, foi pra explicar por que essas coisas todas acontecem e como eu sempre fui muito questionadora, acho que foi pra ter uma explicação. E eu sempre tive muito essa coisa de explicar logicamente”. Com 61 anos, milita desde jovem, quando foi convidada a participar de um grêmio clandestino no colégio. “Eu fui tendo as crianças (três filhos) e carregando as crianças pra militância. Fazia tudo com elas, carregava pra cima, pra baixo. E ainda arrumava a casa”. Em 1989, com 30 anos, participou de um curso do PCdoB sobre militância feminista. E nunca mais parou. Foi nele que surgiu a ideia de estruturar os grupos de mulheres do ES em um movimento só. Aos poucos e com muitas pedaladas pela cidade, conheceu as várias organizações, espalhadas pelo estado, que lutavam por direitos para a mulher. Nessa questão a tecnologia de hoje fazia bastante falta. Porém, a ideia só foi concretizada em 1992. O estopim foi o cruel assassinato de
Maria Cândida nas mãos do marido. “Foi um alerta. A gente precisava trazer de volta essa questão da violência, precisava organizar as mulheres. Começamos a sentar nos diversos movimentos. Foi aí que a gente funda o Fórum de Entidades de Mulheres Organizadas ES.” O Fórum teve destaque na atuação junto a órgãos institucionais e em campanhas. Entre as atividades, monitorava as delegacias da mulher. Também exigiram a criação do Conselho Estadual da Mulher Capixaba, mas isso só foi viabilizado em 1995. Cabe destacar que ele estava mais voltado para as questões da violência contra as mulheres e os problemas específicos das comunidades. Embora unidas na luta contra a violência, eram divididas em “feministas” e “femininas”. Como hoje, muitas mulheres eram resistentes a palavra feminismo, principalmente as mais religiosas. “A palavra feminismo dava medo, havia muito receio. Muitas mulheres não gostavam. Tinha uma concepção muito estereotipada do feminismo que era aquela das mulheres contra os homens, ou das mulheres feias, mal amadas, lésbicas. Falar de feminismo era enfrentar todo tipo de preconceito. Era mais fácil falar de movimento de mulheres”. Edna uma vez tentou colocar a palavra feminismo em discussão na roda do fórum. Quase apanhou, as mulheres falavam que sua luta não era essa. Mulher feminista era diferente, agressiva, ameaçadora da paz e boa convivência. Entretanto, reforça que foi através do movimento feminista ridicularizado e ignorado que ela e muitas outras aprenderam que a opressão da mulher não era “normal”. Representantes do Fórum, estiveram presentes no processo brasileiro da Conferência de Beijing 95, que discutiu de tudo um pouco: violência doméstica, gênero, aborto, miséria e muito mais, teve espaço para todas as especificidades, além de permitir a conexão com a realidade de mulheres do mundo todo. “Beijing mostrou que o século XXI pertence às mulheres, sem nenhuma pretensão de excluir os homens”. Para ir, sem financiamento, foi preciso criatividade. “Cada uma se arranjou como pode. Fizemos festas, rifou-se de tudo um pouco, apoio de autoridades, contribuição pessoal”. E foram. A partir desse momento e com a aproximação dos grupos feministas nacionais, aos poucos, era descoberto que o feminismo não era um bicho de sete cabeças. É em 95 que o Fórum se declara movimento político transformador que busca a emancipação feminina. Como entidade, participou da Marcha Mundial das Mulheres, em 2000, e da construção coletiva da Plataforma Política Feminista em 2002. Ela destaca que a fragmentação em nichos específicos, como o movimento das mulheres negras ou das indígenas é importante para o feminismo moderno, por que ele passa a abarcar as questões de todas as mulheres que o compõem, o que não acontecia antes. “A gente quer lutar por todas, mas devemos entender que há mulheres que sofrem mais, como as negras e as pobres. Por exemplo, agora que a gente descobre que quem mais morre no ES são as mulheres negras. E a gente sempre fez um discurso totalitário. E só descobrimos isso por causa das militantes negras, mas quando a luta é geral todas nos unimos”.
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EDITORIA
Edna Calabrez Martins é a guardiã não-oficial da memória dos movimentos feministas nacionais e capixabas. Em sua biblioteca, além de uma extensa bibliografia feminista, mantém cartazes, panfletos e fotos dos movimentos. “ Eu ainda não consegui ler tudo isso. Se
eu parasse de militar eu até podia, mas ainda há tanto a ser feito pelos direitos das mulheres. Estou mesmo pensando em doar algum desse material sabe? Mas teria que ser para algum lugar que cuidasse bem. E mostrasse. É a nossa memória”.
FEMINISMO? O QUE É ISSO?
que Jesus gosta”. Foi desiludida aos 18 anos quando, não bastasse ser estuprada pelo amigo de uma amiga, ouviu dos policiais que não podiam registrar a ocorrência por que foi escolha dela. Também sofreu com o segundo marido, Aldair. “Eu tava cega sabe, não conseguia enxergar maldade nele. De segunda a quinta ele era ótimo mas todo final de semana ele me judiava. Me beliscava. Toda sexta feira era um pau. Ele chegava me batendo e batendo”. Três dos filhos gestou sendo espancada pelo pai das crianças. E apenas, hoje, consciente, se recusa a chamá-lo de marido. Entre tantas mulheres, Adriana não é exceção. Em 2018, as Delegacias Especializadas em Atendimento à mulher do ES (DEAM), registraram 11.591 boletins de ocorrência por agressão contra a mulher. Representando 42 casos por dia. O órgão adverte que esse tipo de agressão é subnotificado, há grandes probabilidades dos números serem maiores. Segundo a Sesp (Secretaria de Estado de Segurança Pública), foram 93 homicídios de mulheres, sendo 33 feminicídios e 60 homicídios dolosos. Adriana às vezes não tem nada para comer, o que não é um problema, diz, por que seu corpo já se acostumou com isso há muito tempo. Ela nunca sentiu prazer no sexo. Apesar de tudo, mantém o bom humor e a fé. “Quando canso do gospel, ouço funk. E vo dançando. Sou uma velha, mas uma velha agitada” e requebra as cadeiras pra confirmar.
“- É a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Para que as mulheres tenham o direito de escolha de ser e fazer o que quiserem. Também é a luta para que outras mulheres não sofram violência como você sofreu[...] Eu acho bacana. Eles pensam que a gente não pode saber tudo que o homem sabe. Mas a gente pode. Não custa nada a mulher saber. Por exemplo, eu acho tão bonito a mulher ser caminhoneira” responde a faxineira Adriana Madeira. Depois de décadas de luta pelos direitos das mulheres ainda há várias que não são alcançadas. São mulheres de comunidades carentes, como Adriana. Durante seus 51 anos de vida, quatro filhos e cinco netos, nunca ouviu falar sobre feminismo, mas passou a vida entrando e saindo das consequências do machismo. Entre pausas e olhares perdidos, relembra. “Eu fui estuprada. Pelo um parceiro da minha mãe que era o próprio pai de uma das minha irmãs. Não me alembro se ele chegou a enfiar o pênis dentro de mim, mas ele chegou a passar o dedo dentro de mim. E ele passava a mão em mim. Eu disse pra ele que se ele continuar eu vou falar pra minha mãe. Ele virou e disse que não ia comprar uma casa pra minha mãe. E isso me segurou. Mas ele parou”. Acreditando que nada havia acontecido, sonhou em ser freira ou “casar de véu e grinalda, lacradinha, do jeito 28
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1827 As meninas ganham o direito de ir a escolas emno noBrasil. Brasil. à escolas
1879 Um decreto imperial permite a ida a universidades. O preconceito é constante.
1887 Surge a primeira médica brasileira, Rita Lobato Freitas.
1919 A OIT aprovou uma resolução garantindo salários iguais.
1928 Alzira Soriano de Souza é eleita prefeita de uma cidade na América Latina. No mesmo ano se forma Odete Braga Furtado, a primeira advogada capixaba.
1934 As mulheres conquistam o direito de votar.
1962 As mulheres não precisam mais de autorização do marido para ir trabalhar. No mesmo ano chega a pílula anticoncepcional ao Brasil.
1977 O divórcio é aprovado.
1985 A primeira delegacia para a mulher surge no Brasil.
BELA, RECATADA E DO LAR As quatro histórias destrinchadas aqui têm algo em comum, todas seguiram carreiras consideradas femininas: Maria Clara foi lavadeira, Edna professora, Adriana limpou casas e Eusabeth trabalhou como enfermeira. Bernadette, entretanto, escolheu uma “carreira masculina”: escritora. Com 80 anos, mais do que satisfeita com a própria vida, ela ri como menina enquanto permite que a audiência escute fragmentos do que viveu. Na infância era chamada de estranha porque preferia ler a brincar de casinha. E, ler, não era função de mulher. O papel da mulher era casar e ter filhos. E também nisso era estranha. Só casou aos 22 anos, já uma solteirona. O casamento durou muitos anos, mas encontrou percalços exatamente no que Bernadette sempre buscou: a liberdade do conhecimento. “O marido dizia que já era demais, que não precisava mais estudar. Eram outros tempos, era normal a mulher não estudar”. Mas foi fazer Letras do mesmo jeito, com 40 anos e criando dois filhos. Lá que encontrou força e fundamento para andar pela estrada que ainda segue. Persistiu até se formar e virar professora na UFES, onde começou a ser vista com maus olhos por causa de outro rótulo: desquitada. Também foi pivô de escândalo: encontrou amor e parceria em um de seus alunos e, que absurdo, a cor da pele era negra! Foi rejeitada pela sociedade, por suas colegas professoras e pela própria família. Estão felizes até hoje. “Eu não faço questão de ser compreendida. Eu vivo para ser confundida” responde. Bernadette Lyra se tornou doutora em Artes/Cinema pela ECA/USP e pós-doutora pela Universidade René Descartes, Sorbonne - França. É um ícone da literatura capixaba, com mais de 15 obras publicadas, várias das quais têm mulheres como personagens principais. Em algumas, heroínas perdidas da nossa história… Mas isso são contos para outra edição.
2002 Falta de virgindade deixa de ser motivo para anulação do casamento
2006 A Lei Maria da Penha é aprovada.
2010
2015 É aprovada a lei do feminicídio.
2016 O número de homicídios contra mulheres cai 43, 2% no ES.
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IDENTIDADE
DA RESIGNAÇÃO À CADEIRA LITERÁRIA MARIA FERNANADA CONTI
Prestes a completar 70 anos, Academia Feminina Espíritosantense de Letras (AFESL) ainda passa despercebida no estado
Livros abertos e sujos, rascunhos de poemas inéditos e os pertences de cerca de 20 confreiras da Academia Feminina Espírito-santense de Letras espalhavam-se pelo corredor da Assembléia Legislativa do Espírito Santo. Já em pleno 2016, a cena era de descaso e negligência. Ouviu-se o grito: “Vamos fazer um poetaço em protesto!”. Mas, logo foi contido pelas outras escritoras, com medo das represálias vindas dos políticos presentes na casa. “Fomos expulsas da Assembléia. Era a primeira vez que tínhamos uma sede, onde podíamos fazer reuniões e saraus Mas, quando voltamos do recesso, nossa sala estava ocupada e as coisas jogadas pelo chão”, lembra Beatriz Monjardim, 91, integrante da primeira geração de escritoras da Academia Feminina (AFESL), entidade que completa 70 anos de fundação em 2019. A poetisa guarda em seu pequeno quarto, no Barro Vermelho, em Vitória, pastas com fotos e recortes de jornal, colecionados desde o início da carreira. Foi tudo o que conseguiu proteger do tempo. Devido à idade, precisou viver sob os cuidados da filha, cercando-se de poucas coisas da antiga casa em que morava. “Essas memórias comprovam tudo o 30
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que sou e o que vivi”, repete durante a entrevista. Entre os documentos que restaram, Beatriz conserva importantes arquivos sobre a Academia Feminina. Neles, solidifica-se a criação do órgão por Judith Castelo Leão, em 1949, no período em que as mulheres começavam a livrar-se das amarras machistas, sobretudo no campo artístico. Era o momento em que as mulheres inauguravam o direito ao voto e ampliavam o acesso à escolarização, após a Segunda Guerra Mundial. Na época, Beatriz timidamente começava a escrever seus contos e versos, quando recebeu uma ligação. Tinha apenas 21 anos. Ao telefone, falava a confreira e colega Yvone Amorim, primeira mulher do Espírito Santo com registro de jornalista, convidando-a para apresentar seu currículo na Academia. “No meu tempo, mulher ou era professora ou era casada, eu não queria ser nenhum dos dois, então aceitei”, conta entre risos. “Confesso que só percebi tempos depois a importância do que tinha me acontecido”. “A criação da AFESL foi uma revolta contra a AEL, não só da Judith, mas de várias outras, como da própria Yvone, da Zeny Santos, Leonor Feu Rosa e Yamara Soneghet”., lembra. Embora várias delas já tivessem uma produção consolidada e fossem integrantes da elite intelectual, até o
início dos anos 80 não puderam ocupar a Academia Espírito-santense de Letras (AEL). Como de costume, as vagas eram preenchidas exclusivamente por homens. Foi essa indignação que as levou a fundar uma entidade própria. Ao tomar conhecimento do caso, outras autoras não hesitaram em assumir sua posição na frente de batalha, contagiadas pelo fervor dos acontecimentos ao redor do mundo. Beatriz, então, foi introduzida ao funcionamento da Academia. Seguindo o modelo francês, cada acadêmica (ou confreira) possui uma cadeira com o nome de sua patrona, um tipo de mérito honroso às ações de personalidades locais: Maria Ortiz, “heroína”, que expulsou os invasores holandeses da Baía de Vitória é patrona da cadeira número 23; Luiza Grimaldi, primeira mulher a governar uma
“CONFESSO QUE SÓ PERCEBI TEMPOS DEPOIS A IMPORTÂNCIA DO QUE TINHA ME ACONTECIDO”. Beatriz Monjardim maio 2019
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capitania do Brasil Colônia, dá nome à cadeira 22. Após a morte de alguma integrante, a diretoria convida outra escritora para substituí-la. Beatriz ocupou a cadeira de nº 24, pertencente à patrona Cleusa Carolina R. Coelho, missionária e mártir da causa indígena. Passou a frequentar rodas de leituras, saraus, shows musicais, lançamentos de livros e festas para promover melhor a instituição. A partir disso, passaram a ser reconhecidas como um “enorme ato e fato político”. Contudo, depois de décadas em exercício, a Academia parou. A presidente Anette Castro faleceu e a falta
“Ata preparatória para a criação da Academia Feminina, no dia 18 de julho de 1949. Entre as presentes, Judith Castelo Leão, Anete Castro e Yvonne Amorim”
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de infraestrutura, bem como os compromissos pessoais, desaceleram as atividades. “Tive filhos, casei, então criei outras prioridades. No entanto, não significa que paramos de escrever. Quem reabriu foi a Gracinha Neves, em 1992, que foi muito ativa na gestão dela, desenvolveu várias ações”, diz Beatriz. Sob o comando da nova diretora, criou-se um informativo sobre palestras e eventos internos, que, apesar de ser novidade, não foi para frente. Chamava-se “Clio”, em homenagem à deusa grega da memória. O entusiasmo não cessou. Em seguida organizaram seus escritos, a fim de preservar os versos e a história do grupo, colhendo material suficiente para lançar três coletâneas, “Mulher: verso e prosa”, de 1994; “Antologias da Academia Feminina Espírito-santense de Letras: escritos de ontem e de hoje”, de 2011, e o livro “Antologia da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras: vivências”, publicado em 2015. Mesmo que ainda por mãos masculinas, hoje essa caminhada é estudada nos grandes núcleos acadêmicos de pesquisa. Coube a Francisco Aurélio Ribeiro, escrever o livro “Literatura Feminina Capixaba: 1920-1950”, de 2003. Para ele, o nascimento da Academia é uma luta histórica. “Houve essa ‘revolução’ porque elas se uniram, criando uma força de defesa, proteção e preservação.
Antes eram muito isoladas, sofriam muito”, explica, levantando os diferentes obstáculos enfrentados pelas personagens ao longo do tempo. “Por exemplo, a primeira mulher capixaba a publicar um livro, Guilly Furtado (‘Esmaltes e Camafeus’, de 1914), sofreu tanta crítica masculina que recolheu a própria obra. Hoje é uma raridade, não existe nos acervos”, ressalva. No meio do caminho tinha uma pedra… A agitação que havia experimentado impulsionou Beatriz a se aventurar em novos gêneros estilísticos, procurando desprender-se dos sonetos de Olavo Bilac, a quem tinha como inspiração. Por volta de 1970, escreveu “Um Passeio Nas Nuvens”, o primeiro texto infantil de sua bibliografia. Tudo nasceu enquanto assistia seus filhos enquanto brincavam. A partir de uma linguagem lúdica e divertida, narrou as travessuras de duas crianças no universo do céu. “Falaram pra mim: ‘vamos levar o livro e lançar ele lá em São Paulo’. Publicaram, realmente, mas não com meu nome. Mudaram o título e roubaram tudo”, revela. Suas próprias gravuras, os desenhos originais que ilustravam a história e todo o enredo foram publicados no nome de um homem. “Faz muito tempo, na época não tinha como conseguir provas. Não dei muita sorte com livros infantis”, conta. Há décadas, a principal entrave que as escritoras precisam encarar é a desigualdade de gênero. Na atual diretoria, comandada pela confreira Renata Bomfim, de cadeira nº 16, não vem sendo diferente. De acordo com ela, falta uma sede para as acadêmicas, desde à época do episódio na Ales, que não é cedida pelos órgãos públicos e as impede de realizarem suas atividades. “É uma guerra política. Não temos espaço para reuniões e eventos, nem lugar para pôr nosso acervo histórico, agora espalhado nas casas das membras. Achamos que até hoje isso não aconteceu,
“Integrantes da Academia Feminina Espírito-santense de Letras em reunião histórica com a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, no final dos anos 80”
primeiramente, pois somos mulheres”, acredita a presidente. “Antigamente diziam que éramos um grupo que só se reunia para tomar chá, que não tínhamos e nem temos o que fazer. Essa imagem diminui até hoje o movimento”, salienta, revelando como a posição de inferioridade é constante. “Talvez não contribuam por não entender o nosso papel, sendo que colaboramos tanto para a cultura local quanto para destacar o trabalho dessas capixabas. Além de romancistas e poetas, temos aqui musicistas, pesquisadoras e artistas plásticas. O nosso trabalho fala por nós, fala o que somos e a seriedade da nossa instituição”, completa. Na contramão do desânimo, demonstram-se com fôlego para produzir cada vez mais, honrando tudo o que foi construído pelas suas antepassadas. Para este ano, estão
organizando a 6ª Feira Literária Capixaba, a Flic-ES, que acontece entre os dias 22 e 26 de maio, no campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Do congo ao rap, da panela de barro à casaca, dos direitos dos índios e negros aos da mulher, esperam dar espaço para as múltiplas vozes que constituem a cultura capixaba. “Queremos desvelar e humanizar, frente aos nossos leitores, realidades [sociais] distintas e, muitas vezes, ocultadas”, assegura Renata. Além do evento, ela revela também planos de tentar se aproximar do público jovem e da internet, pensando em um maior alcance das produções da Academia. “Estamos estruturando um site, onde deixaremos disponíveis as nossas antologias, além de informações sobre as escritoras. É a visão da atual diretoria:
nos conectar nas redes sociais e na era digital, para atrair essa visibilidade. Poucas pessoas conhecem o que fazemos”, garante. Outra preocupação é aproximar-se dos coletivos que são fortes na promoção da cultura local, como o do Slam e dos grupos de mulheres, “cis e trans, pois somos uma”, como descreve Renata. “Queremos unir forças e acolher todo mundo, como também precisamos ser acolhidas”, conta. A acadêmica afirma que a necessidade de fazer parcerias e criar novos canais de comunicação tem como objetivo tirar as autoras das sombras. “Se as instituições abraçarem a Academia, simbolicamente estarão abraçando todas as artistas capixabas. Devemos mostrar que temos uma história literária feita por mulheres no Espírito Santo, mesmo parecendo que não existe”, desabafa. maio 2019
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CULTURA
HÁ MUSICA BO
LAVYNIA LORENÇÃO
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OA NA COREIA
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Naquela quinta-feira, 29 de novembro de 2018, saí do estágio, no centro de Vitória, e peguei o primeiro ônibus que me levasse ao Shopping Vitória. Eu estava ansiosa. Às 7 horas aconteceria a sessão de estreia do documentário BTS: Burn the Stage era sobre os meus artistas favoritos. Ao chegar no saguão do Cinemark me espantei. Para onde eu olhava encontrava dezenas de fãs iguais a mim. Presa em minha bolha social não fazia ideia que um grupo de músicos coreanos era tão famoso na cidade em que morava. Crianças, adolescentes e até adultos reunidos por amarem os mesmos sete garotos. A sessão estava lotada e assim que as luzes da sala se apagaram o sentimento de euforia contagiou aquelas 283 pessoas que ali estavam. Não havia mais português ou coreano, todos falávamos a mesma linguagem: a música. Esse cenário se repetiu novamente em 26 de janeiro de 2019. Era outra exibição de cinema, mas dessa vez assistimos à gravação do show de abertura da turnê mundial do grupo BTS. As sessões de BTS Live: Love Yourself Tour estavam esgotadas. Essa foi minha primeira surpresa. Enquanto estava na fila para apresentar meu ingresso notei que muito mais pessoas estavam presentes ali do que da última vez. O fato de ser uma sessão dupla pode ter influenciado, porém era um número maior de pessoas diferentes. Essa foi minha segunda surpresa. Parecia que em um intervalo de dois meses mais apreciadores do gênero haviam surgido. Eu, definitivamente, não me sentia mais “sozinha” neste mundo. Ali mesmo, no saguão do cinema, descobri como a cultura do K-Pop estava fortemente inserida no cotidiano de diversos capixabas. Havia grupos
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gigantescos de fãs nas redes sociais e um website feito por capixabas, noticiando tudo o que acontece nesse meio, o Espírito K-Pop. O site é responsável por promover mensalmente encontros de fãs do gênero no estado e assim como as sessões de cinema, são eventos que estão sempre lotados de entusiastas e a cada nova edição aumenta seu público. Mas como um estilo musical tão diferente e tão distante de nós estava contagiando tantas pessoas de suas mais variadas idades? Para entendermos é necessário voltar um pouco no tempo. O ano é 2012. A indústria musical nos presenteia com diferentes sucessos e de diferentes gêneros. Camaro Amarelo, da dupla sertaneja Munhoz e Mariano, tocava em todas as rádios do país; na internet, a canadense Carly Rae Jepsen brilhava com o sucesso pop dançante Call Me Maybe e, na tv, o porto-riquenho Don Omar agitava os telespectadores da novela global Avenida Brasil com a latina Danza Kuduro. Mas, caminhando entre todas essas plataformas, se destacava uma música dançante, com uma sonoridade de difícil identificação. Era pop? Era música eletrônica? Lembrava até mesmo dance music. No entanto, o destaque maior estava na língua cantada. Era estranha aos ouvidos desacostumados e havia uma mistura com o inglês. Era coreano. A música Gangnam Style, do cantor sul-coreano PSY, se tornava o primeiro vídeo musical a alcançar 1 bilhão de visualizações no YouTube, com passos fáceis e contagiantes sua coreografia era reproduzida em todo lugar, de jovens a idosos entrando nessa onda. Ainda não sabiam, mas era o primeiro passo para a popularização de um estilo musical único, vindo de um pequeno país no oriente do continente asiático, a Coreia do Sul, intitulado de Korean Pop ou K-Pop.
Com seus videoclipes coloridos, grandes apresentações na TV e até mesmo o estilo das roupas dos artistas, parece que no K-Pop tudo é festa. É um incrível mundo de dança, canto, de homens bonitos e de mulheres elegantes vivendo através de superproduções musicais. O gênero, apesar de reconhecido mundialmente depois do fenômeno PSY, existe desde o século passado e chegou a atenção do público coreano com o grupo Seo Taiji and Boys, em 1992, e remodelou toda a indústria musical do país. O K-Pop se tornou uma das principais fontes do aumento da economia coreana, a indústria de US$ 4,7 bilhões é uma das maiores exportações culturais do país. Retornemos ao “Estilo de Gangnam”. Com sua mistura de sons ocidentais e elementos da performance asiática, juntamente com o uso da língua inglesa, a música ultrapassou todas as barreiras culturais possíveis, levando jovens e adultos desse lado de cá do globo a direcionar seus olhos, e seus ouvidos, ao que estava acontecendo do outro lado do mundo. Tudo começou a mudar. Não era mais um hit passageiro. Descobriram os grupos femininos e os grupos masculinos, com poucos ou diversos integrantes, as agências de entretenimento por trás de cada artista e, finalmente, as técnicas abusivas de treinamento que acontecem antes que eles “debutem” na indústria. Mas isso é assunto para outro dia. O mundo agora levava “um caldo” da Onda Coreana, ou Onda Hallyu para os íntimos, e o alto alcance das redes sociais disseminava ainda mais
o K-Pop. Ainda que para alguns ignorantes fosse apenas “esse bando de japonês tudo igual” ou “sete meninos no grupo, com a mesma cara, só muda o cabelo”, o estilo passou a driblar o preconceito e chegou ao coração de quem antes nem sequer tinha ouvido falar. A internet se viciava em falar sobre os clipes bem produzidos e aprender um pouco mais da língua deles e introduzi-las no seu vocabulário. Assistir aos vídeos de youtubers famosos reagindo a novos lançamentos logo virou moda e chamou mais atenção. Foi assim que, em 2016, a empresária capixaba de 23 anos, Thalyssa de Oliveira Meirelles, descobriu o grupo Bangtan Sonyeondan ou apenas BTS. Assistindo a um vídeo de reação a um clipe deles notou-se mais interessada no gênero que antes nunca tinha ouvido falar e muito menos nutria algum conhecimento profundo sobre a Coreia. Ela nem sabia que o próprio PSY era do K-Pop ou que aquela música aparentemente alegre era uma crítica ao bairro nobre de Gangnam, em Seul. Quando se permitiu conhecer, as coreografias foram sua primeira paixão. “Certeza que foi quando Jungkook apareceu olhando para a câmera em Save Me (risos)... Desculpa, vou ser sério, acho que foi quando eu não conseguia parar de assistir aos vídeos de práticas de dança. Depois disso, descobri os Bangtan Bomb, um tipo de vídeo diário do grupo, e foi ‘ladeira abaixo’”. Mas o gosto de Thalyssa pelo gênero não se firmou apenas no amor por um dos grupos mais famosos do cenário musical coreano. Ela expandiu suas ideias e transformou sua paixão em profissão. Desde 2017 ela comanda duas lojas online para venda de produtos relacionados ao
K-Pop. A Irradiando é especializada na venda de produtos fanmade, feitos por fãs para fãs, como pôsteres; quadros; cards de fotos e produtos oficiais de cada grupo e existe no Twitter desde abril de 2017. A Vante Closet Go estreou em dezembro de 2017, faz intermediação de compras internacionais em grupo. junto a fornecedores na Coreia. As compras em grupos, comumente chamadas de GOs, são realizadas pois não há distribuição de produtos oficiais dos artistas nas lojas especializadas do Brasil. “Compras em grupo são uma coisa que só vi dentro do K-pop até hoje. Tem que ter muita responsabilidade para lidar com tantas compras sozinha. Saber que vai ter muitos problemas para enfrentar também. Mas é gratificante trazer tantos produtos que antes eram impossíveis de conseguir aqui no Brasil”. Para ela, não há como mensurar o K-Pop no Espírito Santo, mas por sua experiência com vendas sabe que cada vez mais pessoas do estado estão adquirindo seus produtos. Thaly, como é carinhosamente chamada por seus clientes, também passou pela experiência de estar em um show de K-Pop. Outro aspecto do gênero musical que ainda se tem carência no Brasil. Com o baixo orçamento muita coisa precisa ser adaptada. Não há comparação com os grandes palcos coreanos, porém, isso não diminui em nada as performances impecáveis que os artistas conseguem fazer. Ainda assim, é “puramente uma troca de amor enorme, tão grande que só pode ser sentida, somente sentida, pois jamais será possível descrever aquele momento. Comparado ao ano em que conhecemos o K-Pop (2012), atualmente, ele é um gênero muito popular. Realmente parece um milagre conseguir se inserir em um mercado completamente dominado pela indústria musical americana e ser tão reconhecido quanto os maiores nomes da música mundial. A grande prova disso é o grupo BTS, os primeiros a entrar e se estabilizar nesse cenário. Eles estão no topo de todos os charts internacionais, e vêm
sendo reconhecidos pelas premiações ocidentais. O universo do Korean pop é extenso, cheio de detalhes que dariam um livro e que não caberiam neste singelo texto, mas depois que nos inserimos no meio não há mais volta. O K-Pop ainda caminha a passos de bebê. O grupo BTS foi a maior quebra de barreiras depois de PSY e seu Gangnam Style. Com indicação ao Grammy, turnê mundial lotada em estádios, (que inclusive passará pelo Brasil), milhões de álbuns vendidos mundialmente e tendo o vídeo musical mais visto em 24 horas na história do YouTube, o septeto já compete na indústria com igualdade e qualidade de grandes nomes da música. Agora, seguindo o caminho que “os garotos à prova de balas” (em tradução livre do coreano Bangtan Sonyeondan) pavimentaram, as empresas de entretenimento coreanas se arriscam e tentam obter o mesmo sucesso. Não há dúvidas que serão bem sucedidos.
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CULTURA
PRATO DA CASA 12 ANOS DE MÚSICA BOA GIULIA REIS E LYDIA LOURENÇO
Os sabores e os cheiros ativam nossas memórias e nos permitem recriar vivências por meio da experiência sensorial. Quem nunca ao provar uma comida que goste foi levado pro almoço de domingo em família, pra uma festa marcante ou um momento entre amigos? Ou ao sentir um cheiro que reconhece pensou em um ente querido? Assim como o paladar e o olfato, nossa audição também tem o poder de nos transportar para outro tempo. Quem não tem uma boa história com uma música especial servindo como trilha sonora que atire a primeira pedra, ou melhor a primeira nota. A musicalidade é algo que faz parte do nosso dia a dia querendo nós ou não, agora vamos pensar que tipo de 38
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música consumimos? Da onde vem essa música? É quase certo que a maioria, ao se lembrar de um momento especial embalado por uma canção, pensou em uma letra estrangeira ou até mesmo nacional, mas pouco provavelmente alguém pensou em uma obra capixaba. O Prato da Casa, que este ano comemora 12 anos tem o intuito de nos fazer consumir produções musicais de nossa própria terra. Nos alimentar do que há de melhor no cenário musical capixaba. O festival, embora idealizado e organizado por estudantes de Comunicação que produzem o Bandejão, programa veiculado pela Rádio Universitária da Ufes, não é mais realizado dentro do campus. A iniciativa parte dos próprios alunos e se estrutura através de parcerias com bares e casas culturais alternativas que acreditem no mesma ideal de seus idealizadores: valorizar artistas da cena local. “Nosso único critério é que a banda seja capixaba”, revela o apresentador da Rádio, Arthur Ferraz, que organizou o evento este ano. “Uma vitrine”, disse ele, para as bandas que não têm tanta visibilidade na mídia.
Essa é a função do festival, que este ano ocorreu na Casa da Barão, no Centro de Vitória. Ao citar edições anteriores, o coordenador do projeto de extensão Bandejão, professor Pedro Marra, do Departamento de Comunicação, responsável pela edição do festival em 2018 e 2019, lembra que nem sempre este se realizou dentro do espaço da universidade, mas se tornou totalmente inviabilizado após uma série de problemas quanto ao uso bebidas alcoólicas em festas dentro do campus. Embora a realização em outros locais torne os cuidados com infraestrutura e recursos mais difíceis, Marra vê pontos muito positivos de sair dos muros da Universidade. A ideia o projeto seja coerente com a natureza da cena musical. Esta é composta não só pelos músicos, mas também pelos circuitos culturais e de comunicação entre os diversos públicos pela cidade. Portanto, o propósito é que acontecendo também fora do campus o evento se torne itinerante e permanente, incentivando os negócios culturais do estado. “O fundamental é a troca” reflete. Neste novo formato, a pretensão é realizar uma edição a cada dois
meses em lugares diferentes da cidade, e uma apresentação maior com as melhores bandas dentro da Ufes. “Estamos ainda engatinhando nesse objetivo, avaliando o engajamento de todos os agentes de música da cidade e também dos alunos, pois não faz sentido realizá-lo sem o corpo discente”, afirma, esperançoso em tornar a mobilidade musical maior nos espaços urbanos. “Me parece uma cultura enraizada do capixaba, essa da não mobilidade pela cidade”, analisa Marra.
DIVERSIDADE NO CARDÁPIO Se a justificativa do público para não consumir produções capixabas é a falta de propagação das
músicas locais, em contrapartida, as bandas enfrentam dificuldade de visibilidade justamente por falta de interesse dos ouvintes, razão pela qual as casas noturnas geralmente se mostram resistentes ao trabalho autoral gerando “ciclos viciosos que não se rompem com facilidade”, acredita o compositor e baixista da banda Severino, Humberto Campos. Quebrar esse ciclos é o que pretendem iniciativas como o Prato da Casa, que busca trazer para os espaços culturais artistas iniciantes no meio musical local. A Severino, formada em 2017, foi uma das bandas a se apresentar na edição deste ano. A banda conta apenas com um guitarrista e um baixista que também atuam nos vocais e pela falta de outros músicos
se apoiam na tecnologia como recurso para gerar bases para suas composições. “O nome Severino é inspirado no personagem humorístico do porteiro que quebra-galho, no nosso caso um Ipad ou notebook é nosso Severino” explica Humberto ao se referir ao uso da tecnologia em suas músicas. A recém saída do forno Banda Cósmica, formada em setembro de 2018, se mostra esperançosa ao fazer parte da nova safra de músicos capixabas. Responsável pela guitarra e vocal, Alexandre Lemes, viu no festival uma forma de mostrar a banda a um público mais diverso, tendo em vista o caráter multicultural do evento, que contou também com o lançamento do EP do Anomia, batalhas de rap do coletivo Caixa Preta e exposição de arte.
MÚSICA INDIGESTA OU PÉSSIMO MARKETING? Já diz o ditado : você é o que você come. Isso se aplica aos nossos hábitos de consumo de diferentes maneiras. Se somos o que consumimos, imaginamos que haja identificação entre produto e consumidor. No caso do cenário musical capixaba, podemos deduzir que os jovens não se sentem representados pelo que é produzido em nosso estado. Seria o prato indigesto ou a oferta que não se faz de maneira atrativa, nos empurrando goela abaixo o que muitas vezes nem somos capazes de digerir? Nos gráficos abaixo podemos notar que apesar de a maioria ser a favor do incentivo ao mercado cultural local, mais da metade não consome produções regionais.
CONSOME MÚSICAS LOCAIS?
ACHA IMPORTANTE O INCENTIVO DA CENA MUSICAL LOCAL?
NÃO 10% SIM 32% NÃO 68%
SIM 90%
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CULTURA
NA LAMA, UNS DRINKS MATHEUS SOUZA E KLAYTON MELO
Klayton e eu entramos no pequeno gaystrobar que já se mostra bem receptivo e humorado logo na entrada. Um tapete de boas-vindas dá lugar a um “seja bem viado”. São 20h e a movimentação ainda não começou. Daqui a duas horas todas as mesas estariam ocupadas. O estabelecimento fica tão cheio que andar por ele pode ser um desafio. O Cleópatra abriu há pouco mais de uma hora. As coisas estão bastante tranquilas no gaystrobar. Um grupo
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de mulheres na faixa dos 20 e poucos anos, sentadas na varanda, têm um ótimo happy hour. Elas riem e conversam entre si. Esqueceram completamente o barulho da movimentação de carros e pessoas na Rua da Lama, em Vitória. Eu avisto um rosto que não é estranho. Dirijo-me ao bar para falar com a jovem que me atendeu na minha última visita. Pergunto por um dos sócios-proprietários do bar e ela me informa que é a nova responsável pelo Cleópatra. O ponto foi passado para ela e sua esposa há algumas semanas.
Tábata Santos, de 31 anos, estava na companhia da sua irmã mais nova, Yasmim, que havia chegado recentemente de São Paulo. Enquanto prepara um Bloody & Sandy, o drink especial da semana, a gentil empresária explica que durante o dia trabalha como Maitre em um hotel da cidade. A bartender vai misturando os ingredientes ao mesmo tempo em que nos conta da sua experiência com bebidas e o mundo gastronômico. “Eu comecei a trabalhar aqui em novembro do ano passado, quando o Cleópatra já tinha alguns meses de vida. Demorei um bom tempo para aprender os drinks da casa. Atualmente, nós tentamos elaborar um drink diferente a cada semana. É um processo bem experimental. Eu vasculho receitas pela internet e faço algumas modificações. Vou trocando e acrescentando ingredientes até chegar no drink que me pareça bom”. Enquanto a bebida é preparada, nós observamos um pouco mais da atmosfera do gaystrobar. Cada detalhe da decoração foi escolhido com cuidado. O ambiente do Cleópatra é bastante acolhedor com sua parede de tijolinhos, decorada com quadros das rainhas do Egito, ou melhor, rainhas do pop. A bandeira LGBTQI se encontra hasteada na parte externa do estabelecimento. O cardápio está escrito em giz na parede. Até a caligrafia dele foi cuidadosamente pensada para ser elegante. Um dos detalhes que mais chama atenção no local é a playlist de fundo. Entramos ao som de Hillary Duff, passamos por Rihanna e, agora está tocando Avril Lavigne. “Geralmente, você iria em um bar e estaria tocando alguma música sertaneja, né? É bem difícil nesses lugares tocar pop”, ela comenta enquanto ri discretamente. Também é bastante comum no bar as noites especiais com karaokê. Tábata não fez nenhum curso de mixologia ou sobre preparação de drinks, sua experiência vem da prática do dia a dia e daquilo que pôde presenciar trabalhando no restaurante do hotel. “É uma rotina bastante corrida. Eu tenho muita vontade de estudar mais a fundo, porém trabalhar
durante o dia no hotel e cuidar do Cleo à noite, não me deixa com muito tempo livre. O jeito é deixar mais para frente. Quando eu conseguir me dedicar só ao bar, com certeza tentarei fazer algum curso na área”, comenta enquanto serve o drink. Bloody & Sandy é bastante agradável, ele é elegantemente servido em uma taça de Martini. A bebida avermelhada não é das mais doces. O whisky fica ligeiramente marcado ao fundo, porém nada muito forte. Parece ser do tipo que “pega”, acho que eu não recomendaria mais que duas ou três taças. Enquanto a bartender nos conta um pouco mais sobre seus trabalhos, um homem e uma mulher chegam ao bar e a irmã de Tábata vai atendê-los. “Apesar de muita gente detestar, eu adoro lidar com pessoas, sempre gostei. É diferente o atendimento no restaurante do hotel e aqui. Lá existe uma formalidade bastante rígida. Estou sempre com uniforme e cabelos presos... Aqui não, aqui eu consigo ser mais livre. Muitos clientes já me conhecem, eles me perguntam como foi meu dia e coisas do tipo. Já chegaram até a me convidar para sentar à mesa e conversar”, detalha Tábata, que estava com os cachos soltos e vestia um cropped preto com saia marrom. A essa altura da conversa não existe mais Bloody & Sandy na minha taça e a bartender sugere que deveríamos provar o drink denominado Gay, ok?, feito com gin, a bebida do verão. “A procura tem sido muito grande, sabia? Drinks com gin estão muito na moda. Tanto que na última compra, a gente percebeu que o preço da garrafa até subiu. Caso o cliente tenha preferência nós também temos gin importado. Nos últimos meses, só se ouvia falar em drinks com a bebida”, explica. Gay, ok? É servido em uma taça mais modesta, porém que rende espaço para mais bebida, o que é muito bom. A bebida é mais doce, o sabor de limão e da água tônica refrescam perfeitamente essa noite quente de sexta-feira. O álcool do gin quase desaparece em meio a tantas sensações. Isso pode ser perigoso. Está perfeito, do jeito que eu adoro.
“Sempre gosto de ouvir os clientes, tento fazer algo que seja ao paladar deles. Não tenho problema de fazer a bebida mais doce ou mais forte. Nós não podemos ser tão apegados a receita se o objetivo é satisfazer o paladar”, destaca Tábata enquanto começa a preparar o gin tônica do casal de clientes que chegou há pouco. A venda de drinks varia de acordo com o movimento no estabelecimento. De sexta a domingo, quando o gaystrobar recebe o maior número de pessoas, cerca de 25 drinks chegam a ser vendidos. Isso, sem contar as cervejas, sucos e refrigerantes. A bartender vai decorando os drinks (muito importante!), enquanto quebra alguns estigmas que permeiam esse universo. “Muita gente fala que drink é bebida de gay, que mulheres gostam de bebidas mais doces... Tudo bobeira. Nós temos um grande público de gays que não dispensam nossa promoção de domingo, que é hambúrguer com uma Budweiser ou Heineken. Sem contar as várias mulheres que adoram um drink bem forte”, desmente Tábata, enquanto vai enchendo os copos. Yasmin serve os drinks ao que parece ser um casal hétero. Eles estão bem íntimos e à vontade no local, o que me faz pensar que não é a primeira vez no estabelecimento. O casal pergunta sobre determinada bebida e a dona informa que o drink sofreu alteração em sua receita. “Apesar de sermos um bar declaradamente LGBTQI, nosso público é muito diverso. Constantemente recebemos pessoas hétero no bar. Nós nunca tivemos nenhum tipo de conflito ou problema entre os clientes. Todos que vêm aqui já sabem o que vão encontrar. Também recebemos muitos turistas. É muito comum eles pesquisarem na internet “bar gay em Vitória” e nós sermos os primeiros resultados”, conta Tábata enquanto novamente organiza o balcão. O drink acaba e estou, definitivamente, mais que satisfeito. Pagamos a conta e nos despedimos da agradável companhia de Tábata e sua irmã. Ao sair do gaystrobar, sou tomado por uma sensação de leveza. Seria a bebida ou a ótima conversa?
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ESPORTE
texto HEITOR MATTEDI E VITOR PINHEIRO foto DANIEL PASTI / RIO BRANCO
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Segundo o diretor, essa paixão dos integrantes é refletida no esforço para sustentar o grupo, que é mantido pela venda de produtos que levam a marca da torcida.
“NUNCA É SÓ FUTEBOL”
Há quem diga que “é só um jogo”, mas para milhões de torcedores em polvorosa ver aqueles 22 indivíduos correndo atrás da bola durante 45 minutos é uma paixão que está muito além das quatro linhas. O estádio cheio, bandeiras hasteadas, rostos pintados com as cores do time de coração e muito barulho. São esses os fatores que embelezam e dão tom a uma partida de futebol do lado de fora dos gramados. É verdade, o futebol capixaba está entre os piores no cenário nacional e muito longe do que já foi. Em 1993, foi última vez que um time do estado figurou a primeira divisão no país, destaque coube à Desportiva Ferroviária. Porém, ao contrário do que se imagina, este fato não pôs fim aos tradicionais gritos esganiçados e cantos característicos que dão corpo às torcidas organizadas no Espírito Santo. A Brancachaça, dedicada ao Rio branco Atlético Clube, completa 10 anos em 2019 e junta seus integrantes para caminhar até o estádio desde a sua fundação, em 02 de outubro de 2009. O churrasco antes do jogo é quase religioso, e acontece sempre num bar tradicional do bairro Campo Grande, Cariacica. “Nós gostamos de ir ao estádio andando, sempre que possível para mostrar nossa paixão, o quanto a gente ama o Rio Branco e somos capazes de fazer de tudo pelo clube”, disse Caio Martins, um dos diretores da TAB (Torcida Alcoolizada Brancachaça).
O Comando Alvinegro, também do Rio Branco, vai além dos hinos e críticas constantes, atitudes costumeiras das organizadas, e abre espaço para a solidariedade. Seu calendário anual prevê ações sociais como a doação de cestas básicas para famílias carentes e agasalhos para moradores de rua. “O comando foge do estereótipo de que torcida organizada é só bagunça e baderna e estamos nessa caminhada”, esclareceu Ruan Santos, que entrou efetivamente para a torcida a quase um ano. No dia 13 de abril ocorreu a primeira rodada da semifinal do campeonato capixaba, o jogo da ocasião era Rio Branco x Real Noroeste, e lá estavam eles “batendo ponto”, fazendo suas concentrações com a tradicional reunião pré-jogo e se organizando para sair em caminhada ao Kleber Andrade, palco da partida daquele sábado. A festa já começa nas ruas e o objetivo é, sem dúvida, ser escutado por todos os que ali estão no acesso até o estádio. Eles abusam dos gogós afiados e buzinas, andando entre os vários bares e casas comerciais do caminho que leva ao estádio, atraindo toda a atenção dos que estão no entorno e fazendo com que aqueles poucos minutos sejam inteiramente dedicados a observá-los passando. Depois do pontapé inicial a euforia só aumenta, o instinto primitivo que uma partida de futebol consegue despertar fica explícito ao se ouvir todos os berros quandoo time entra em campo. “UH EL LOCO!” é o grito uníssono e ensurdecedor que se faz nas arquibancadas quando Loco Abreu sobe mais que a zaga e, de cabeça, abre o placar para o “brancão” naquele dia, deixando a torcida mais próxima, no estado de espírito que lhe deu o apelido de louca. A festa continua até o fim da partida, no triunfo alvinegro por 4x3.
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IDENTIDADE
AS CORES DA ARQUIBANCADA ROBSON SILVA
“ Por váaarias vezes, não gostava de abraçar e muito menos beijar minha namorada. Vários homens ao redor, medo de ser hostilizada ou até mesmo de abuso (pelo machismo), sei lá né”. Thays
“ Ohhhhhhhhhh bixaaaaaaa” “Boiolada filha da p***. Chupa r*** e dá o c*.” “Oh cruzeirense, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar todos os viados” Ir ao estádio. Prática comum para aqueles que são apaixonados pelo esporte mais popular do mundo, o futebol. Um momento em que se visa ao lazer e à expressão dos mais profundos sentimentos, aqueles que você herdou e que muitos definem como destino (ou seja, você foi um escolhido) pode ser mais um período agonizante e amedrontador simplesmente por você ser
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quem você realmente é (ou expressar isso). O Brasil, conhecido como país do futebol, é um dos países com torcidas mais apaixonadas do mundo. Conhecido pelas festas nas arquibancadas (cânticos, instrumentais e até mesmo agitação da torcida com pulos), o país possui uma relação muito forte com o esporte. Samuel Rosa em uma de suas mais marcantes canções diz “quem não sonhou em ser um jogador de futebol”, justamente um retrato fiel do desejo de milhares de crianças desde o seu primeiro contato com os gramados. Mas o futebol nada mais é que uma representação de tudo o que ocorre na sociedade. Por exemplo, o Brasil apresenta altos índices de violência (chegando a inacreditáveis 62.517 assassinatos, segundo dados do Ipea e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e isso se aplica ao futebol. A conhecida “guerra” entre as torcidas organizadas, os constantes embates com o policiamento e até mesmo atritos dentro da própria torcida nada mais são que um retrato do cenário brasileiro. A variável é a motivação desses conflitos, desde o desentendimento quanto a superioridade de uma das equipes, o resultado de alguma partida e, até mesmo, o mais chocante que é o crime de ódio. Ah meu Brasil, de tamanha diversidade, rico em
cores, raças, paraísos tropicais, culturas e uma infinidade de variações que talvez tomasse todas as linhas desse texto. Mas esse mesmo país abençoado por Deus é o país que mais assina LGBTQI+ em todo mundo, segundo dados da ONG Transgender Europe. E, como dissemos, nos estádios a reprodução desse ciclo segue linear, segregando e hostilizando um público que, por diversas vezes, convive com o medo e um conflito interno entre viver a sua paixão ou se expressar conforme é. Thays Lugon. 22 anos, universitária, torcedora fanática do Flamengo. Yuri Senna. 23 anos, representante de vendas, Cruzeirense azul. William De Lucca. 28 anos, jornalista e Palmeirense de carteirinha. Todos eles têm algo em comum: são LGBTQI+ e apaixonados pelo o esporte da bola redonda. As histórias variam, mas todas com um denominador comum: o medo. O medo que os assombra nos estádios. O medo de amar (o seu time) e serem condenados por amar (seus respectivos parceiros). Vítimas da homofobia nos estádios. Fato é que, apesar dos inúmeros avanços sociais obtidos nas últimas décadas, o futebol segue sendo um espaço dominado por homens, brancos, elitizados, héteros e extremamente conservadores. O reflexo disso é como os clubes lidam com a diversidade de seus públicos. maio 2019
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Thays esteve no Maracanã (estádio em que o Flamengo manda grande parte de seus jogos) recentemente, mais precisamente em 9 de dezembro de 2018. Uma explosão de sentimentos. É o lendário palco do futebol, de grandes nomes e grandes espetáculos. Estádio lotado com pouco mais de 50 mil torcedores em uma manhã ensolarada do Rio de Janeiro. O canto da torcida em uma única voz. Ah!, que cenário maravilhoso, ainda mais quando se está ao lado de quem você ama, como estava Thays, ao lado de sua namorada. Seria uma manhã perfeita se ela não tivesse que, por muitas vezes, limitar suas ações, como um abraço mais afetivo ou simplesmente um leve beijo após uma jogada emocionante. Mas não, aquele ambiente ainda não aceita o diferente. Sim, “ainda” porque a esperança da jovem é que “se levantem bandeiras, com participação ativa dos clubes e, principalmente, que se encoraje os jogadores a assumirem, “normalizando” essa questão”. “Por váaaaaaarias vezes não gostava de abraçar e muito menos beijar minha namorada. Vários homens ao redor, o medo de ser hostilizada ou até mesmo de abuso (pelo machismo), sei lá né” Já Yuri esteve (e constantemente está) no Mineirão, o Gigante da Pampulha. A casa do seu time do coração, o Cruzeiro, é bastante frequentada pelo jovem mineiro que vivencia situações distintas. Ao mesmo tempo que enxerga uma postura mais pró-ativa em torno da causa realizada pela própria administração do estádio, a torcida (e até mesmo amigos) insistem em persistir com cânticos de
ódio. “Sempre acontecem aqueles casos em que a torcida (adversária ou até mesmo do próprio clube) xinga o adversário usando a sexualidade. E isso torna-se uma “onda” pelo estádio, já vi até amigos participando”. E o ódio não se limita a esse recinto. Assumidamente gay em suas redes sociais (e ativista, por várias vezes mencionando o próprio futebol), ele relata que recebe constantemente ataques pelo viés da sexualidade. “Viadinho né, tinha que ser Maria” Já William se cansou em receber o ódio gratuitamente e resolveu expor uma situação repetitiva no estádio do Palmeiras, clube de coração. Por meio de sua conta no Twitter, o jovem escreveu: “ A torcida do Palmeiras, em sua homofobia típica, canta que “todo viado nessa terra é tricolor”. Parece que encontrei uma exceção à regra: eu mesmo, viado e palmeirense”. O que poderia gerar uma reflexão sobre a temática só foi o estopim para mais um episódio de destilação de ódio e ameaças. Apesar de reações positivas, logo logo o jornalista viu sua caixa de mensagens repleta de mensagens intimidatórias e ameaçando a sua vida. “Mas viado também joga?” Sim, os viados também jogam. Dois entre nossos entrevistados apresentam seu amor não somente na arquibancada, mas também se arriscam dentro das quatro linhas. Thays, que joga junto com a sua namorada, contou que foi recebida muito bem pelas demais garotas. “Todas elas reagiram superbem quanto à minha sexualidade e, especialmente, ao meu relacionamento”. Apesar disso, ainda assim
“Escutei de uma psicóloga quando disse que jogava “Mas você não é sapatão não né? Porque essas aí hoje em dia todas são”. Thays
“Quando você é gay, medo é uma coisa com a qual você aprende a lidar. Eu sofri muitas ameaças, de violência e até de morte, mas tive de lidar com elas, sendo gay, a vida está sempre em risco. É preciso seguir.” Yuri.
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conviveu com alguns preconceitos externos às companheiras por praticar o futebol. Yuri também nunca enfrentou problemas com seus companheiros de peladas. Inclusive, ressalta que existe bastante respeito por parte de todos, que sabem de sexualidade. “Nunca tive problema com eles, o respeito foi incrível”. Apesar disso, ainda sim lê e escuta constantemente que aquele espaço não é desse “tipo” de gente. Em âmbito profissional, existem pouco (quase raros) casos de jogadores que se assumiram como LGBTQI+ durante suas respectivas carreiras ou até mesmo posteriormente. Thomas Hitzlsperger, meia alemão, Robbie Rogers, zagueiro norte americano, Collin Martin, meia também norte americano, Anton Hysén, volante sueco, são quatro exemplos dos apenas 18 casos em que jogadores assumem abertamente sua sexualidade.
CONTRASTE COM CENÁRIO EUROPEU Se por um lado o Brasil não parece apresentar muitos avanços nesse quesito, por outro, na Europa (e mais especificamente na Inglaterra), os avanços parecem ganhar cada vez mais espaços. A Premier League (1ª Divisão do futebol inglês), considerada a liga mais competitiva do mundo, é reconhecida e usada como exemplo por discutir inúmeras questões sociais e vinculá-las ao futebol. Campanhas como os tradicionais Outubro Rosa e Novembro Azul ganham a companhia de Campanhas de Memórias às vítimas da I Guerra Mundial e, em maior destaque, a de combate a LGBTfobia. O resultado disso é uma prospecção mais ativa dos clubes em trazer esse público para perto e, principalmente, o incentivo e encorajamento à diversidade nos estádios. Exemplo disso é o Arsenal - um dos mais tradicionais dentre os clubes ingleses -, que foi pioneiro com a primeira torcida organizada LGBTQI+ do mundo. Os Gaygooners (referência a atiradores, pelo nome do clube), oito anos após a sua fundação se consolidaram como exemplo para a rede de torcedores dessa comunidade. Tanto que,
atualmente, 12 dos 20 principais clubes possuem torcedores organizados assumidamente LGBT”s. Cânticos homofóbicos são raros, sendo o último relatado em 2012 partida válida pela Championship (2ª Divisão Inglesa), pois há um rigor com punições em casos de relatos de homofobia. Em grandes jogos como este, com uma grande tamanho de visibilidade, a visibilidade é algo muito importante. Com a popularidade da Premier League ao redor do globo, é importante reforçar a ideia: “Homofobia não é aceita na Premier League Inglesa”, constatou Chris, membro (e um dos fundadores) dos Gaygooners. É evidente e clara a importância dos clubes nesta questão. Com atuação mais efetiva na conscientização e combate à discriminação, é possível construir um espaço mais coletivo e tolerante a diversidade. Seja por meio de ações nos estádios, em suas redes ou até mesmo incentivo aos jogadores se abrirem sobre essas questões, é necessário que algo seja feito. Quem sabe, um dia, amar seja apenas mais uma peça do espetáculo que é uma partida de futebol.
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CRÔNICA
Marina Moscon Coutinho
Um pouco confusa, ela acordou no susto. Precisava mudar o som daquele alarme. Na verdade, o que mais a incomodava era o fato de ter que acordar aquela hora. Depois de toda a rotina matinal mal humorada, correu para o ponto de ônibus. Sem perceber, logo que virou a esquina, olhos meliantes pousavam sob seu corpo agora público, mesmo coberto, e depois de passar mais de meia hora pensando e repensando quais tecidos colocar sobre ele, considerando o calor de Vitória. O sol da cidade castigava qualquer universitário que ousasse colocar calças jeans e camisetas de algodão. Ainda sim, não conseguia evitar os olhares nem um pouco bem vindos. Por uma fração de segundo, pensou o quanto seria bom se pudesse simplesmente ser ela mesma naquele espaço, que era dela por direito. Se perguntou por que era invadida daquela forma. Não conseguia deixar de questionar o que tinha feito para isso acontecer, e por que era tratada daquela maneira por pessoas que nem sequer a conheciam. A cada passo que dava, menos repulsa tinha ao ouvir os libidinosos “bom dia”. Ultrapassou a catraca do ônibus olhando para o chão, evitando contato visual com todos à sua volta, sem retribuir nenhum cumprimento, nem sequer estampar um sorriso no rosto. Ao erguer a cabeça para olhar os lugares vazios, fez uma pequena avaliação mental de onde seria mais seguro se sentar. Escolheu em seu pensamento rápido sentar ao lado de um senhor que carregava consigo uma mochila grande e uma pasta com vários papéis. Infelizmente, foi uma péssima escolha. Tinha que se espremer no banco para o passageiro ao lado ficar confortável com as suas pernas abertas em um ângulo obtuso. Saltou do ônibus junto com a maioria dos passageiros, aparentemente universitários. Concluiu então que, assim como ela, todos queriam chegar a tempo na universidade para a chamada. Soltou um palavrão tão baixinho que pareceu que só tinha existido na sua cabeça, lembrou
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que o professor da aula que estava por vir não era o mais querido pelos alunos, principalmente pelas alunas, e agradeceu por ter escolhido a roupa que escolheu, aquela calça jeans castigada pelo tempo, desbotada de tantas vezes colocar na máquina de lavar e uma camiseta que ganhara no seu aniversário de desessete anos, da época em que a banda estampada no peito ainda fazia sucesso. Tentou ao máximo se camuflar em meio aos estudantes que atravessavam a faixa de pedestre e se separavam pelo campus. Entretanto, na sala de aula não tinha muito como escapar. A aula mal tinha começado, algumas pessoas ainda estavam para chegar, a sala não estava nem cheia, nem vazia. Encontrou um lugar longe o suficiente de quem ela não queria por perto, atravessou o ambiente e sentiu um olhar penetrante e nem um pouco bem intencionado, quis sumir daquele lugar. Depois de um comentário em voz alta, um tanto infeliz sobre suas roupas e como ela tinha chegado “causando um impacto”, começou a aula como se nada de incomum ou inaceitável tivesse acontecido partindo dele. Uma ou outra colega se levantava para sair da sala de aula. Algumas saíam para fumar, outras iam beber água, ou ir ao banheiro. O movimento natural na sala era acompanhado pelo professor, que muitas vezes girava a sua cabeça tal qual uma coruja, para assistir de uma forma maliciosa os passos femininos despretensiosos. Algumas vezes parava seu monólogo para seguir com os olhos, em silêncio, a movimentação do sexo feminino. Todos percebiam, ninguém se opunha ao tal comportamento, por mais invasivo e inapropriado que poderia ser. O que mais a incomodava, ou causava uma certa inveja branda, eram os seus colegas homens. Por mais que levantassem, tirassem alguma dúvida ou resolvessem sair da sala por qualquer razão que fosse, não eram notados e podiam simplesmente fazer o que bem gostariam. Tinham livre o direito de ir e vir, suprindo as suas vontades mais
banais, diferentemente das suas colegas. Do outro lado da cidade, um cachorro abandonado faminto e com sede, maltratado pelo tempo e pela rua, olhava para os frangos assados nas calçadas, em frente às padarias das ruas de Jardim da Penha. O animal salivava com um desejo descomunal e primitivo de saciar a sua fome a qualquer custo. Da mesma forma que o depravado docente, doutor e professor de uma universidade, olhava com selvageria meninas e mulheres ambulantes, sendo despidas com o olhar arcaico do homem selvagem. Como se não conseguisse controlar esse impulso animal de suprir a sua necessidade diante de um corpo morto e público, exceto que não havia nada de morto e muito menos de público naqueles corpos femininos. Aquilo foi causando um embrulho no estômago, revirando ao avesso todas as angústias e sofrimentos, diante de várias situações absurdas que aconteciam repetidamente. A cada passo que dava, a cada gole de café que tomava naquela manhã para manter-se acordada, sentia que por mais que que tentasse se opor, ou pelo menos discordar de certas atitudes, consideradas absurdas, a jovem adulta se encontrava tão pequena e impotente diante de toda aquela situação. A volta para casa no ônibus não foi diferente. Pensava consigo mesma se era apenas ela que se incomodava com tudo aquilo que acontecia ao seu redor. Por mais sutil que fosse, não podia negar que acontecia, uma vez percebido, seria um desrespeito consigo mesma e com outras que passavam pela mesma situação, talvez pior. Desviar o olhar e não fazer nada a respeito não deveria ser uma opção. Era necessário lutar. O som estridente do despertador ainda a incomodava. Franzindo a testa, virou para o lado com o desejo enorme de desligar o despertador para poder dormir mais um pouco. Prometeu a si mesma que ia mudar aquele alarme o mais rápido possível. Infelizmente levantou e respirou fundo para tomar coragem de enfrentar mais um dia.
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CULTURA
por DANIEL JACOBSEN
livro. FOI GOLPE! O BRASIL DE 2016 EM ANÁLISE
ANA CAROLINA GALVÃO, JUNIA CLAUDIA SANTANA DE MATTOS ZAIDAN E WILBERTH SALGUEIRO (ORGS.) /// 271P. - PONTES - 2019
A coletânea de 12 textos condensa as aulas do curso livre O Golpe de 2016 e o Futuro da Democracia no Brasil e na América Latina, ministradas por pesquisadores e docentes de diversos campos de estudo da Universidade Federal do Espírito Santo, ao longo dos meses de abril a junho de 2018. Os interessados que não conseguiram uma das 150 vagas do curso podem agora ter em mãos este livro que serve como base para entender como áreas de conhecimento diversas - Comunicação, Ciências Sociais, História, Educação entre outras. - podem dar respostas que explicam a forma como um golpe de estado tomou força no Brasil em pleno século XXI e derrubou a presidenta eleita Dilma Rousseff, por meio de uma série de ataques à democracia que perdura ainda hoje. O livro lançado pela Pontes Editores está a venda na ponteseditores.com.br por R$ 48,00.
filme. TOMBOY
CÉLINE SCIAMMA /// 88’ - FRANÇA - DRAMA
Conheça Laure, a garota de 10 anos que se muda com a família para uma nova vizinhança e é confundida pelos amigos com um garoto, identidade que ela logo assume ao se apresentar como Michael. Sob as lentes da francesa Céline Sciamma a história da criança queer interpretada por Zoé Héran se desenvolve de forma envolvente e curiosa, desde o processo de sociabilização no novo ambiente, a aprendizagem de hábitos que solidificam a nova identidade, até a descoberta pela família e a sua punição, com a revelação do sexo feminino da personagem aos amigos. Sciamma não dá respostas prontas, mas promove uma reflexão sobre o lugar da sexualidade no desenvolvimento das crianças e provoca um pensar fora da caixa, mostra alternativas além do normativo que os pais esperam para seus filhos, enfatizando que entre o azul e o rosa existe um arco-íris infinito de possibilidades.
música. VALERIE
AMY WINEHOUSE /// TRIBUTO DE MARK RONSON À MEMÓRIA DA DIVA DA MÚSICA SOUL DO SÉCULO XXI
Em junho próximo se completam oito anos que o mundo se despediu de um dos maiores nomes da música. Amy Winehouse, a garota judia inglesa que renovou o jazz e o soul das divas americanas, se tornou conhecida por uma carreira breve marcada pela conquista de prêmios e pelos escândalos pessoais. Valerie, música da The Zutons imortalizada em sua voz, foi relembrada em fevereiro deste ano quando Mark Ronson, parceiro de Amy na regravação, publicou em seu canal no YouTube o vídeo de uma apresentação sua, em que ao som da música na voz de Amy convidou diversas mulheres a subirem ao palco e dublarem. Why dont’t you come on over, Valerie? O vídeo pode ser conferido no canal de Ronson em https://bit.ly/2YSZaIU, e outras músicas de Amy estão disponíveis no YouTube, Spotify e outras plataformas.
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FÉ NA PENHA foto SUZANE CALDEIRA assistente de edição CARLA NIGRO
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primeiramão Revista laboratorial produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)