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edição
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primeira mão Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes
O Enredo do Samba Na história da Imperatriz do Forte, a história de pessoas que ajudam a fazer o carnaval capixaba 21 Viver sem preconceito
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Financiamento de campanha
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Tancredão: esporte e lazer
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Vende-se monografias
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Editorial A
o assumir no segundo semestre de 2013 a disciplina Gêneros e discurso em jornalismo, prevíamos um curso teórico-analítico sobre as possibilidades que o gênero reportagem permite ao jornalista. A edição de um novo número da revista Primeira Mão não estava prevista até o primeiro dia de aula. Mas a frustração dos alunos fez com que o planejamento inicial da disciplina fosse repensado de modo a comportar a edição de pelo menos um número da revista. A frustração é compreensível, afinal a reportagem é o gênero jornalístico por excelência, o que é afirmado pela maior parte da literatura sobre assunto. É na reportagem que mais se percebe o talento do profissional, revelados na apuração realizada e na escritura do texto, que é mais livre de amarras do que o texto notícia. A excelência da reportagem pode ser medida também se pensarmos em nomes de grandes jornalistas do Brasil e do mundo. É quase certo que virá à nossa mente o nome de grandes repórteres. A mudança no planejamento foi bem recebida pela turma e resultou em mil ideias de pauta, sugeridas e discutidas em sala de aula. Algumas sugestões vieram a reboque de assuntos considerados oportunos para a ocasião, como as matérias sobre a escola de samba Imperatriz do Forte (sabíamos que a edição sairia próxima ao
carnaval), o financiamento de campanhas políticas (afinal, este é um ano de eleições no país) e sobre os transgêneros (que reflete o momento atual em que a sexualidade nunca foi tão discutida). Aproveitamos ainda a viagem de uma aluna ao seu país natal para abordarmos o Kuduro, movimento de dança e música que expressa um pouco da cultura de Angola. Outras pautas vieram inspiradas no olhar dos alunos sobre a cidade (caso das reportagens sobre a enigmática irmã M., sobre George, o morador da Praça Costa Pereira, e sobre o Tancredão, um espaço esportivo no coração de Vitória). Outras pautas surgiram, como era de se esperar, do interesse dos alunos por assuntos do universo acadêmico (como é caso da matéria que trata da suspensão do vestibular no curso de Comunicação Social, daquela que informa sobre os passos para a retirada do diploma de graduação e a matéria sobre o negócio das monografias). Mas uma revista pode ir além da reportagem. Uma revista pode perfeitamente comportar crônica, crítica e charge e expor assim o talento de quem tem gosto pelo texto lírico, pela leitura crítica e pela imagem que sintetiza e comenta um momento da história. Assim posto, esperamos que os nossos leitores apreciem esta nova edição da revista Primeira Mão, que foi pensada e executada pelo talento de uma turma que fez questão de realizá-la. Boa leitura!
PERFIL Os misterios da Irmã M.
POLÍTICA
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CIDADES
DIVERSIDADE Feminino ou Masculino?
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Compra e venda de monografias
COMPORTAMENTO
CULTURA
MEC suspende vestibular de comunicação
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Um encontro entre esporte e cultura
SOCIEDADE
ACADEMIA
A história de George
LAZER
Quanto custa uma eleição?
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Os jovens estão deixando o Facebook. Saiba o porquê
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O ritmo angolano que conquistou o mundo
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CRÔNICA
Até o próximo carnaval
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ACADEMIA
Formei, e agora?
expediente Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social - Jornalismo. Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 . Ano XXIII, número 136 Semestre 2013/2. Reportagem: Allan Cancian Antonio Almeida Bianca Bortolon Brunela Alves Danniely Zanotti Fernando Correia Gabriela Rodrigues Giba Medeiros Projeto Gráfico: Esther Radaelli Isabella Mariano Thaiana Gomes Viviane Machado Adaptação: Allan Cancian Antonio Almeida Ingrid Bastos
Jéssica Dantas Karen Vieira Lais Lorenzoni Lorrainy Merlo Mallena Pezzin Manoela Albuquerque Marcos Siqueira Mariana Bergamini Monieli Bonatto
Naiara Arpini Neusa Afonso Rayanne Matiazzi Thalston de Laia Vítor Simões Foto de capa: Lais Lorenzoni
Professor Orientador: Manuela Santos Neves
Diagramação: Allan Cancian Antonio Almeida Ingrid Bastos Edição e Revisão: Allan Cancian Antonio Almeida Ingrid Bastos
Primeira Mão
Tiragem: 800 exemplares Impressão: Gráfica Universitária
revistaprimeiramao @gmail.com
ACADEMIA BRUNELA RIBEIRO e JÉSSICA DANTAS
Mais vale documentos na mão do que um diploma voando
Você tem dúvidas sobre como conseguir o seu diploma? sonho de viver os anos da graduação como universitário dos filmes hollywoodianos chegou ao fim. As festas não aconteceram de segunda a segunda, nunca existiu armário coletivo no corredor e muito menos batata frita no almoço. Pois é, agora é hora de aposentar o All Star e as camisas de banda e se preparar para vestir o look do mercado de trabalho. Mas, antes de se despedir da universidade, alguns trâmites precisam ser resolvidos e muita papelada precisa ser carimbada. Eis que surge a questão, caro amigo, você sabe o que precisa buscar antes da formatura? Quais departamentos procurar? Então fique tranquilo, porque agora iremos te ajudar nessa pequena jornada!
O
depois” seja conseqüência da cultura brasileira de acreditar que tudo acaba dando certo no final.
A maior parte dos estudantes do ensino superior começa a se preocupar com a documentação necessária para a conclusão do curso apenas no último período da faculdade, época em que varias tarefas são exigidas do graduando, como a elaboração do trabalho de conclusão de curso, a busca pelo numero de horas estabelecidas na carga horária, a tentativa de se destacar no mercado de trabalho... Talvez esse “deixar para
Assim como Bianca, Michael France, também 21, estudante do penúltimo período de Desenho Industrial da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), também não demonstra ansiedade na busca da papelada que em breve irá precisar. Ele, que ainda não sabe quais são os documentos exigidos para o próximo semestre, intui que suas possíveis dúvidas possam ser respondidas na Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) ou no próprio colegiado de seu
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Bianca Altoé Borel, 21, faz parte da parcela de jovens que irá se formar no final deste ano. Estudante do 7° período de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a jovem diz que, assim como seus colegas de classe, ainda não está preocupada com as questões burocráticas que terá que enfrentar para conquistar o tão sonhado diploma. Ela afirma estar ciente da lentidão da universidade quanto à entrega dos documentos de comprovação, contudo, acredita que o auxílio do departamento do curso seja suficiente para sanar suas dúvidas.
Foto: Inglydy Rodrigues
curso. Quando questionado sobre o suporte que a universidade oferece no que diz respeito ao esclarecimento de questões burocráticas envolvendo a conclusão de curso, Michael diz que a Ufes ainda deixa muito a desejar nesse quesito, uma vez que as informações que deveriam chegar diretamente aos alunos são repassadas com pouca freqüência e de surpresa, o que os desnorteia.
Horas Complementares Além de cumprir toda a grade curricular, o aluno precisa de horas complementares que podem variar de acordo com o curso. Seguem algumas opções:
Documentos e declarações Estágio extracurricular;
Bom, chega de dúvidas e questionamentos. A partir de agora vamos ajudar você, formando, em um passo-a-passo completo. Pegue o papel e a caneta para anotar todo os locais, assinaturas e documentos necessários para se despedir da melhor maneira, e com tudo em dia, da universidade. Vamos lá?!
Participação em palestras; Curso de língua estrangeira no Centro de Líguas; Participação com bolsa em Projeto de Pesquisa
O primeiro procedimento a ser feito é consultar o calendário acadêmico, disponível no site da Ufes (www.ufes.br) ou no site da Pró-Reitoria de Graduação (www.prograd.ufes.br), para saber o prazo pré-estabelecido de solicitação da colação de grau e registro de diploma, que deve ser solicitado pelo aluno no último período de curso. Para requerer a colação de Grau, o aluno precisa entregar na Prograd o formulário de “Solicitação de Colação de Grau e registro de diplomas”, disponível para impressão no site do setor na guia ‘Diplomas’, devidamente preenchido e assinado. Mas se por algum motivo você perdeu o prazo para entregar a sua documentação, não se desespere! A Ufes disponibiliza uma “Data Especial”, que deverá ser solicitada pelo aluno na própria Prograd. É a chamada Colação de Grau In Absentia, ou seja, na ausência da turma. Mas, lembre-se: essa solicitação só pode ser feita entre os dias primeiro e décimo de cada mês, depois de a sua turma ter colado grau. Logo, a data de colação do aluno que solicitar em data especial deverá ser decidida no primeiro dia útil do mês seguinte. Enfim, ao passar por todas essas etapas, chega o momento de voltar à universidade para retirar o
Participação em evento científico com apresentação de trabalho; Representação Estudantil (CA., DA e Empresa Júnior) Aprovação em disciplinas eletivas; Organização de atividades Culturais.
seu diploma, que demora em média um mês para ficar pronto, segundo informações da Prograd. Anote aí então o que você vai precisar para retirálo: documento de identidade com foto e o “Nada Consta” do dia. Este último é o documento que comprova a ausência de débito do discente nas bibliotecas. E para obtê-lo é preciso ir diretamente ao balcão de empréstimo de qualquer biblioteca da Ufes. Agora que você já sabe o que fazer, fique atento aos prazos, providencie toda a papelada com antecedência e boa formatura! Nos veremos no mercado de trabalho!
Como requerer? Para o requerimento de diploma, é necessário entregar os seguintes documentos: Cópia legível da certidão de nascimento ou casamento; Cópia legível da Carteira de Identidade; Apresentação do Certificado de Reservista, só para homens (sem cópia); Apresentação do Comprovante original de quitação com as obrigações eleitorais (sem cópia);
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Os 5 passos
para a
Conquista 1
Consulte o calendário acadêmico para ficar atento aos prazos;
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Entregue na Prograd os documentos e a solicitação preenchida e assinada;
Providencie a documentação pessoal e imprima no site da Prograd o formulário de “Solicitação de Colação de Grau e registro de diplomas”;
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aguarde a definição data da colação que será feira pela turma ou pelo colegiado;
Para retirar o diploma é preciso apresentar documento com foto e o “Nada Consta” do dia, que é retirado no balcão de empréstimo da biblioteca para indicar a ausência de débitos com a Ufes.
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CIDADES por DANNIELY ZANOTTI
Her贸i, Papai Noel e o centro de Vit贸ria
A hist贸ria de George ou o relato de uma vida abandonada na rua
Foto: Lais Lorenzoni
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m olhar distante e palavras sussurradas apenas para o vento surgiam naqueles lábios ressacados pelo calor de início de Verão. 32 graus. Observando com pesar, notava-se que uma mensagem estava sendo formada e passaria, em instantes, a ser revelada ao mundo, mas certamente com objetivos singulares de satisfação ou até de hesitação pessoal. Sua postura envergada, escondida ao canto de uma esquina movimentada, imprimia a viagem introspectiva naquele momento, enquanto suas mãos trêmulas, escuras, calejadas e inquietas tentavam desenhar algo no chão uma forma ou cor que desse sentido ao que se passava em seu íntimo. As centenas de pessoas que caminhavam freneticamente de um lado para o outro, sequer davam conta daquelas pernas magras, que os desviavam de sua rota normal, esticadas na extensão de quase toda a calçada. A cada hora consumida pelo dia, surgiam mais transeuntes e diminuía a possibilidade de uma ansiada interação. Seus olhos, por algum motivo, não encaravam os outros, mesmo que desejando fervorosamente manter um diálogo de minutos com algum estranho-conhecido. Entre aquela nuvem de gente, o homem de 35 anos observava o fim de mais um dia, até que alguém o abordou com uma marmita de comida nas mãos. “Ge-or-ge”, lia-se perfeitamente as sílabas dobrando-se e desdobrando nos lábios de uma
mulher de meia idade e cabelos pintados de loiro. Ela, agachada, sorria ao cumprimentar o rapaz que passara o dia todo naquela esquina. Ele, por sua vez, retribuía a gentileza com seu muito obrigado e um feliz Natal. Era possível ver a comoção e o agradecimento em seus olhos. ENTÃO É NATAL De repente sua cabeça sumiu ao imergir, em um saco branco como aqueles de armazenar café, a procura de algo que parecia ser um tesouro. Após alguns instantes de intensa busca, a cabeça de George ressurge portando um gorro natalino, provavelmente usado por alguma família há alguns anos. George levantou-se, pôs o gorro na cabeça, e caminhou até a faixa de pedestres, gritando com a marmita de comida fria nas mãos: “Feliz Natal!”. O centro de Vitória, em plena seis e meia da tarde, na região das Lojas Americanas, Dadalto e Banestes, entre as avenidas Governador Blei e Princesa Isabel, acalmou-se por alguns instantes. George atraiu olhares curiosos e de carinho dos pedestres e motoristas que transitavam no local e, atônitos, reparavam a alegria espontânea do rapaz que abandonou, aos 17 anos, sua casa e pais em Minas Gerais. De volta à esquina em que passara o dia
De volta à esquina em que passara o dia inteiro, George relembrou seus momentos com os pais viciados em crack, da sua infância, do seu primeiro amor. Foto: Lais Lorenzoni
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inteiro, George relembrou seus momentos com os pais viciados em crack, da sua infância, do seu primeiro amor e dos momentos marcantes vividos ao longo dos vários anos morando nas ruas do centro. As lágrimas e os silêncios tornam-se constantes a cada recordação das pessoas que o marcaram. No entanto, era certo que aquele clima instaurado não perduraria por muito tempo. Perdido entre lembranças e pensamentos, George olhou fixamente para o horizonte e afirmou sorrindo: “viver é muito bom, moça”. Anos de experiência e traumas vividos davam as suas palavras credibilidade, mesmo quando contava que para “suportar a vida, é necessário às vezes um gole de cachaça”.
“Ele, por sua vez, retribuía a gentileza com seu muito obrigado e um feliz Natal” UM RAPAZ DE BOM CORAÇÃO Pessoas se aproximam e o reconhecem: “George você ainda está aqui?” Surgem sorrisos. O mineiro hesita ao apresentar sua nova amiga, desconhecida para seus amigos do centro. Ele é querido, como se percebe nas gentilezas, nas palavras de carinho, nas roupas ofertadas, no dinheiro que brota pelas mãos de quem lhe dá valor. “Foi aqui, moça”, relembra feliz uma história que o fez famoso na região. Ela devia ter uns 20 anos, bonita, de um metro e 70 centímetros e cabelos bem longos, muito longos, e que refletiam a luz do sol. A moça, distraída pela conversa ao celular, não notou a aproximação de um menino de más intenções. Assim que o semáforo abriu, ele avançou em um galope e empurrões, levando-a ao chão. A indignação dotou George de força suficiente para correr atrás do rapaz e retomar o aparelho roubado. “Eu consegui o celular de volta e com ele veio um ‘muito obrigada’ da mulher”, relembra. Seu comportamento de bom moço é confirmado pelos conhecidos, que comentam dos policiais e guardas de transito que sempre fazem questão de lhe perguntar como vai seu o dia. O orgulho de George por ele mesmo fica estampado no seu sorriso.
THE END O dia duro já começava refletir em seus olhos vermelhos de sono enquanto suas palavras amoleciam pelo cansaço. Foi hora de dizer adeus a todos e desejar, uns aos outros, uma boa noite.
O centro de Vitória, em plena seis e meia da tarde, na região das Lojas Americanas, Dadalto e Banestes, entre as avenidas Governador Blei e Princesa Isabel, acalmou-se por alguns instantes.
Foto: Lais Lorenzoni
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CIDADES CLERISSON SOUZA, FÁBIO ANDRADE e LEONE OLIVEIRA COMPORTAMENTO KAREN VIEIRA, LAIS LORENZONI E RAYANNE MATIAZZI
Uma questão de gênero ou de encontro entre corpo, mente desejo Na última década, a transexualidade e a homossexualidade ganharam destaque nas discussões em salas de aula e na mídia. Surgiu um novo modelo econômico de ruptura com antigos tabus; o objetivo era seduzir um segmento que busca, cada vez mais, ser reconhecido e valorizado.
“Em busca do meu próprio corpo”
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Primeira Mão | Maio Marçodede2013 2014
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oite quente de um verão de quartafeira. Somos três aspirantes a jornalistas em busca de respostas. Temos uma reportagem a ser feita, a sexualidade é o nosso mote e motivação. Chegamos à reunião do Grupo de Estudo e Pesquisa em Sexualidade, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) ansiosas por definições e termos que enquadrassem a diversidade sexual em nossa sociedade. Eram muitas perguntas: menino ou menina? Feminino ou masculino? Afinal o que quer dizer com sexo e gênero? Uma pessoa nasce mulher ou torna-se mulher, ou vice-versa? Além disso, qual é a separação entre o meu desejo e o desejo pelo outro? Em muitos casos ainda, é preciso pensar em um “acerto de contas” entre mente e corpo para alcançar a felicidade. Na última década, a transexualidade e a homossexualidade ganharam destaque nas discussões em salas de aula e na mídia. Surgiu um novo modelo econômico de ruptura com antigos tabus; o objetivo era seduzir um segmento que busca, cada vez mais, ser reconhecido e valorizado. Entretanto, entender as questões que permeiam a complexidade da sexualidade e mente humana não é uma tarefa tão simples. Com a modernidade, o individuo foi domesticado, desde a infância, para ter aversão ao prazer da sexualidade. Vejamos a fábula infantil “Chapeuzinho Vermelho” criada pelos Irmãos Grimms, como uma versão romantizada da cultura germânica: uma menina tem a missão de levar doces à casa da avó doente. A orientação de sua mãe era que o caminho deveria ser feito evitando o bosque, pois lá havia um lobo. A jovem desobedeceu e conversou com o animal, entregando seu destino final. O lobo chegou antes, vestiu-se de mulher, fingindo ser a neta; “engoliu” a vovó na cama e vestiu-se com as roupas dela; deitou-se novamente e aguardou a chegada de Chapeuzinho. A menina custa a reconhecer o lobo, que a ataca. Imediatamente, ela pula pela janela e encontra um lenhador, que mata o lobo e tira a avó da barriga do malvado. Para o professor do Centro Educação da Ufes e coordenador do Geps, Alexsandro Rodrigues, a
fábula dos irmãos Grimms faz menção ao comportamento normativo adotado socialmente. Vamos à categorização dos personagens: uma mãe que deve orientar o filho a ficar longe dos riscos, uma filha “obediente”, uma avó enferma, um lobo que se travesti de mulher e um lenhador que pune. Por último e não menos importante, o bosque, uma definição clara de limites. Já percebeu a conotação sexual? É na cama que o lobo come a velhinha e vestido de mulher se deita com Chapeuzinho para também comê-la. A menina clama por justiça e, na figura do lenhador, o Estado surge como mecanismo de controle. Rodrigues aponta que esses personagens foram criados sistematicamente para representar pessoas que se arriscam, fugindo de normas sociais, se travestem do sexo oposto e são vistas como aberrações; no fim, o resultado é a morte social. A preocupação aqui não é referir-se às pessoas como homem, mulher, travestis, transexuais ou qualquer outro termo, nem criar conceitos formados sobre isso. Afinal, classificações são convenções e quem diz o que é ou deixa de ser não é a sociedade, é o próprio indivíduo, como garante o professor. “Você se veste de mulher, mas só porque tem um pênis eu devo te chamar de travesti?”, disse. É preciso entender a diferença entre sexo e gênero. Sexo está relacionado aos aspectos anatômicos, fisiológicos e morfológicos (fêmea e macho); gênero corresponde ao que é feminino, masculino, uma mistura dos dois ou ao que está entre os dois. Compreender essa distinção é a melhor forma para entender a identidade de gênero, que nem sempre corresponde ao sexo do nascimento. Não confunda identidade de gênero, que é a forma como a pessoa se define, com orientação sexual, o que está atrelado ao desejo ou à atração por qualquer pessoa. Podemos ser e desejar quem queremos. A confusão começa quando ter um nome social, me identifica com um gênero. A Maria José é mulher e o José Maria é homem, mas quando se inverte duas palavras o gênero se transforma. Parece tão simples... Acontece que a sexualidade é tudo, menos simples. Fotos: Lais Lorenzoni
Reunião do Grupo de Estudo e
Pesquisa em Sexualidade, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo
Primeira Mão | Maio de 2013
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ENTREVISTA COM JULIANA
Dona de um corpo de fazer inveja à muita gente, Juliana Soares nasceu Ricardo. Hoje vive um processo de transição e já pensa em fazer cirurgia de mudança de sexo. Primeira Mão: Em qual momento você descobriu que era homossexual? Juliana: Na verdade, eu sempre soube, até brincava de Barbie, mas no fundo lutava contra mim. Todo gay é assim! Ele luta contra ele! Isso é errado e tal, eu chorava quando alguém me chamava de “gayzinho” na escola. Eu não respondia. Não falava com muita gente, andava como menino. Eu fui me assumir mesmo no primeiro ano do Ensino Médio, graças a um amigo. Começamos a conversar e ele me levou pra alguns lugares. Foi no terceiro ano da escola que eu tomei uma postura mais feminina. Primeira Mão: Quando você decidiu assumir para a família? Como eles reagiram?
“As pessoas às vezes não sabem de verdade como se referir a mim”
O balão é uma das melhores coisas para se ver antes de navegar pelos ares da Etiópia. Nada descreve a superioridade Inca e Asteca dos morros da Guatemala.
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Primeira Primeira Mão Mão || Maio Marçodede2013 2014
Juliana: Eu tinha vida dupla, né? Tava cansada disso. Tinha 18 anos. Até que um dia eu e minha mãe assistíamos televisão, quando passou que a Thammy Gretchen estava namorando. Minha mãe disse: “ Nossa que absurdo, mulher com mulher!”- e eu respondi- “Nossa mãe, qual o problema? Mulher não pode ficar com mulher e homem não pode ficar com homem não?”. Minha mãe respondeu : “ Que vergonha, ter filho gay”- ai eu disse“Ate parece, né mãe? Eu sou gay”. Ela fez cara de espanto e eu disse: “Para de fingir. Você sempre soube, até comprava minhas bonecas”. Foi quando ela se levantou e foi ligar para meu pai. Ah! Mas contar pra eles foi uma libertação! Chega daquela vida dupla, sabe? Cansei. Fui expulsa de casa e voltei no mesmo dia, só porque meu irmão foi me buscar na casa da minha tia. Primeira Mão: Como ficou a relação de vocês depois disso? Juliana: A gente ficou um bom tempo sem se falar, mais ou menos um mês. Mas depois foi natural, voltamos a nos falar aos poucos. Primeira Mão: Quando você percebeu
que seu corpo e sua mente não combinavam? Juliana: Eu sempre soube! Mas tudo na minha vida foi um processo gradativo, eu gostava de me sentir à vontade aos poucos. Eu fui me montando, por que minhas vontades eram gradativas. Primeiro foi mudar o cabelo, depois a calça, depois a maquiagem, depois roupas mais femininas e o cabelão que eu queria de qualquer jeito! Primeira Mão: O que é ser uma mulher atraente para você? Juliana: O meu tipo de mulher é a loira, alta, cabelão e que chama a atenção. Gosto da mulher fatal e na balada gosto de disputar homens morenos e sarados com elas. E mesmo quando os homens sabem que eu não sou operada, 96% deles com certeza ficam comigo (risos). Tem alguns que me confundem com garotas de programa e perguntam se faço vida. Eu não me ofendo! Gosto de ser cobiçada. Tem tantas mulheres e trans que fazem vida e hoje em dia nem dá pra saber. Mas eu não faço e saem comigo porque querem e tem curiosidade de ficar com trans. Até mulher já me pediu beijo na balada! Primeira Mão: E os hormônios? Juliana: Faz duas semanas que comecei a tomar e em abril já quero colocar o silicone, quero 500 ml. E a cirurgia eu sempre quis fazer, vou fazer em 2015 ou 2016 fora do país. Vou operar fora porque no Brasil é muito burocrático e lá fora é mais tranquilo. Eu tomo anticoncepcional duas vezes por dia. Tomo o injetável tam-
bém, nas pernas e nas nádegas, semanalmente. Meu pai cobre todos os meus gastos: roupas, salão, plásticas e até os hormônios. Primeira Mão: O que dá prazer no seu corpo? Juliana: Eu sinto prazer em dar prazer. Adoro sentir que um homem me deseja. Assim como toda mulher. Acho que depois da cirurgia vou me sentir melhor ainda. Primeira Mão: Você se incomoda em ser chamada de Ricardo e por que escolher Juliana? Juliana: De forma alguma. É difícil para as pessoas se adaptarem ainda. Os meus pais ainda não se acostumaram, mas às vezes eu pego eles falando “minha filha”. E o nome Juliana, eu sempre gostei desse nome, sempre achei lindo. Primeira Mão: E na faculdade, como as pessoas te tratavam? Juliana: A faculdade sempre me apoiou, na minha formatura eu fui a oradora da turma. Os professores me respeitavam e eu fiz grandes amigos. Primeira Mão: Quando você vai comprar alguma coisa e as pessoas olham o seu nome civil? Juliana: Bom, as pessoas às vezes não sabem de verdade como se referir a mim. Mas compro roupas tranquilo. Quando comprei o meu carro, por exemplo, o vendedor não sabia como me chamar, mas ai foi super descontraído.
Fotos: Lais Lorenzoni
Juliana ou Ricardo, oJuliana nome ou nãoRicardo, importa, o nome não importa, o que importa é estar o quecom importa é estar bem o próprio bem com o próprio corpo corpo Primeira Mão | Maio de 2013
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POLÍTICA GILBERTO MEDEIROS
Partidos admitem pressão de doadores
O enigma do financiamento de campanhas no Espírito Santo. Depoimentos de pessoas que ocupam diversos cargos mostram os esquemas sob vários pontos de vista
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nquanto o Supremo Tribunal Federal avalia o modelo de financiamento de campanhas eleitorais e já tem quatro votos para proibir as doações privadas, os presidentes dos principais partidos do Espírito Santo admitem que os doadores de campanha fazem pressão sobre sobre políticos eleitos de olho em seus interesses econômicos. Mesmo garantindo que fazem campanhas transparentes e dentro da legislação, os políticos revelam que os doadores negociam o retorno de seus investimentos no campo eleitoral apoiando projetos diferentes ao mesmo tempo. “Enquanto dependermos de ir ao setor privado buscar apoio sempre ficará certa obrigação. Ou mais ou menos, o doador se sente na liberdade de te pedir coisas”, afirmou o presidente regional do PT e ex-prefeito de Vitória João Coser. “Muitas vezes isso decorre do fato de uma eleição com disputa muito acirrada e o doador, geralmente empresa, não quer correr riscos na preservação de seus interesses, sobretudo se tem negócios e contratos com os governos”, complementou o presidente regional do PSDB, deputado
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Primeira Mão | Março de 2014
federal César Colnago. Entre os ingredientes desse relacionamento perigoso, na visão do deputado federal Lelo Coimbra (PMDB), está a crescente personalização em detrimento da ideologia na política. “Os processos de financiamentos, assim como as candidaturas, têm ocorrido num ambiente muito personalizado e, desta forma os doadores e os candidatos não se encontram através de processos ideológicos”, analisou o presidente regional do PMDB. Apesar de concordar com Lelo, o presidente regional do DEM e prefeito de Vila Velha Rodney Miranda não vê problemas. “Vejo com neutralidade, até porque o histórico das eleições brasileiras mostra que o voto é do candidato e não da legenda/ideologia”. Presidente do PSB, partido que elegeu Renato Casagrande governador, o diretor de Administração e Finanças do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A (Bandes) Luiz Ciciliotti considera “normal” a forma como as empresas defendem seus interesses. “São projetos diferentes, mas doadores acreditam que se algum que apoia vier a ganhar, os
projetos dos candidatos também possam conter algum benefício legal para que as empresas doadoras”, disse o socialista. “É COMUM EMPRESA DOADORA ENVOLVIDA EM FRAUDE” “É bastante comum em operações policiais fora do âmbito eleitoral identificar-se o envolvimento de empresas doadoras em fraudes”, afirmou o procurador Regional Eleitoral no Espírito Santo . Segundo ele, além de punições aos políticos como a perda do cargo, dos direitos políticos e até a prisão, os doadores envolvidos em fraudes com políticos no exercício do mandato podem sofrer penalidades semelhantes. Durante a entrevista exclusiva ao PRIMEIRA MÃO, o procurador disse que o cidadão deve acompanhar a atuação do político que ajudou a eleger e que é favorável ao financiamento exclusivamente público de campanha, “em valores módicos. Assim, seria preservada a isonomia entre todos os candidatos, além de ajudar a evitar os ‘favores’ concedidos pelos políticos posteriormente aos seus doadores”, alfinetou. Bhering explicou que o
acompanhamento do político depois de eleito não compete ao Ministério Público Eleitoral (MPE-ES), que trata especificamente de temas relacionados à eleição. “A fiscalização da atuação dos políticos, depois de eleitos, no âmbito ministerial, compete aos Ministérios Públicos Estadual e Federal. As doações de campanha, no âmbito eleitoral, são analisadas sob o aspecto de sua regularidade. A lei permite, com exceções, a pessoas físicas e jurídicas efetuarem doações a campanhas, dentro de certo limite. Ainda, são analisadas as prestações de contas dos candidatos para verificar a existência de eventuais irregularidades”, disse. Apesar de não participar de ações que extrapolam o âmbito eleitoral, Bhering revelou que as redes de relacionamento político-econômico que nasce
antes das eleições e segue após a posse dos financiados evidenciadas pelo #HackDayES por vezes resulta em corrupção. “Posso, no entanto, afirmar que é bastante comum em operações policiais (fora do âmbito eleitoral) identificar-se envolvimento de empresas doadoras em fraudes licitatórias”. Bhering contou que descoberta e provada a fraude, doadores e políticos podem vir a ter seus direitos políticos suspensos, serem multados e até mesmo presos. Os políticos ainda podem perder o cargo. EMPRESAS NEGAM POLÍTICOS E ALEGAM IMPARCIALIDADE Ao contrário do que revelaram os presidentes de partidos consultados, as empresas negaram pressionar governos e políticos em troca de benefícios. Por meio de notas oficiais enviadas
por suas equipes de assessoria de imprensa, todas alegaram imparcialidade. Entre as empresas de grande participação nas dações de campanhas eleitorais – pelo volume de dinheiro aplicado ou pelo número de candidatos beneficiados, a Fibria, a Vale e a ArcelorMittal atenderam a reportagem da Primeira Mão e posicionaram-se em relação aos seus negócios com políticos. O sistema Rodosol, apesar de não fazer doações diretamente para os candidatos, tem entre seus acionistas registro de doações milionárias para governador, deputados e outras campanhas. Procurada pela reportagem por telefone e depois por e-mail no dia 10 de fevereiro, a assessoria de imprensa não retornou com as respostas. Reproduzimos a seguir as respostas das empresas. As perguntas foram idênticas para todas. Primeira Mão | Março de 2014
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Fibria (ex-Aracruz Celulose) 1) Quais os critérios para escolher candidaturas que serão apoiadas? R: Utilizamos dois critérios gerais: um geográfico, ligado à influência das candidaturas nas nossas áreas de florestas plantadas, sites industriais e regiões de importância logística; e outro relacionado aos valores e compromissos da Fibria, como o comprometimento com o desenvolvimento sustentável e com as boas práticas da administração pública, além da aderência à Lei da Ficha Limpa. 2) Por que apoiar projetos eleitorais diferentes, de partidos diversos? R: A Fibria não tem partidos preferenciais, entendendo que todos podem contribuir para o processo democrático. Não há alinhamento prévio da empresa com ideologias ou partidos, mas com os valores e pontos de vista defendidos pela companhia. 3) Não é perda de dinheiro fazer doação para campanha eleitoral? R: A Fibria, que não opera em áreas sob forte controle governamental, entende que as doações são positivas quando visam o
fortalecimento da governança pública; a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento dos negócios e do país; a equidade social e a proteção do meio ambiente. É preciso ainda que sejam feitas em estrito cumprimento da legislação; norteiemse por princípios éticos; sejam transparentes e rastreáveis; e obedeçam a condições que reduzam o risco de abuso do poder econômico, como limitação a uma determinada fração do orçamento dos candidatos. Vale (ex-Companhia Vale do Rio Doce) “Em relação às atividades político-partidárias, a Vale atua de forma imparcial, com integral respeito à legislação de cada país onde está presente. A Vale S.A. não faz doações para campanhas eleitorais, embora outras empresas do grupo não estejam impedidas de fazê-lo. Doações realizadas por essas empresas podem ser encontradas em relatórios públicos das instituições oficiais responsáveis pela condução do processo eleitoral nos países e regiões onde a Vale atua”. ArcelorMittal (ex-Companhia Siderúrgica Tubarão) “A política da empresa é de não comentar sobre essas questões eleitorais”.
Políticos eleitos receberam R$ 36 milhões de empresas
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Uma das fontes desta reportagem é a página HackDayES, aberta no facebook pelo Laboratório de Imagem e Cultura da Universidade Federal do Espírito Santo (Labic/Ufes) e voluntários com o objetivo de mapear dados das doações de campanha dos políticos capixabas. Em 2010, somando-se apenas os eleitos no Espírito Santo (governador, dois
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senadores, 10 deputados federais e 30 deputados estaduais), particulares e empresas repassaram R$ 36.327.001,46. O resultado da inciativa, no entanto, acabou por evidenciar perigosas ligações de políticos eleitos com empresas doadoras de dinheiro para suas caras campanhas eleitorais. Algumas empresas venceram licitações e
tornaram-se fornecedores do Estado com contratos milionários. Outros doadores foram envolvidos pelo Ministério Público Estadual em suspeitas de corrupção. Muitas delas tornaramse alvo da indignação dos manifestantes das jornadas de 2013, notadamente o sistema Rodosol, que detém a concessão de exploração da Rodovia do Sol Sul e da Ponte Darcy Castelo de Mendonça, a 3ª Ponte. As contas de campanha dos políticos eleitos são dados públicos fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral. As informações sobre as empresas e os doadores foram apuradas por jornalistas voluntários e os caminhos e links da apuração também foram publicados, incentivando o leitor a conhecer informações que por vezes não são publicadas pela imprensa corporativa.
“PESSOA JURÍDICA NÃO VOTA” Mostrando-se contrário ao financiamento de campanha por parte de empresas, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES), desembargador Álvaro Bourguignon, explicou o funcionamento de regras eleitorais sobre doações e as sanções previstas em lei, como o limite de 10% de sua renda para pessoas físicas e 2% do faturamento bruto de empresas. “Nos termos da legislação eleitoral em vigor, o financiamento das campanhas políticas se dá pelo patrimônio do candidato, pelo fundo partidário e, ainda, por doações de pessoas físicas e jurídicas. Contudo, a Lei 9.504/97 impõe limites para o financiamento de partidos e de candidatos em disputa eleitoral, cumprindo à Justiça Eleitoral a fiscalização correspondente e, ainda, a imposição de multas na hipótese de descumprimento
das regras respectivas, que podem atingir valores vultosos. Conforme estabelece o artigo 17 da denominada Lei das Eleições, as despesas de campanha eleitoral são realizadas sob a responsabilidade dos partidos ou de seus candidatos e financiadas conforme dispõe essa norma, cumprindo às agremiações partidárias ou coligações quando do registro de seus candidatos comunicar à Justiça Eleitoral os valores máximos de gastos que farão por cargo, sendo que excedido o valor registrado implicará em multa no valor de cinco a dez vezes o excedente (art. 18 § 2º da precitada norma). Em se tratando de doador pessoa física, a lei 9.504/97, em seu artigo 23, estabelece que doações em dinheiro ou estimáveis em dinheiro ficam limitadas a dez por cento (10%) dos rendimentos brutos auferidos no ano anterior à eleição. Na hipótese de utilização por recursos próprios do candidato, o valor máximo permitido é aquele previsto pelo respectivo partido, na forma da lei. E, caso as doações forem realizadas por pessoas jurídicas a partidos políticos ou candidatos, estas ficam limitadas a dois por cento (2%) do faturamento bruto do ano anterior à eleição, nos termos do que prevê o artigo 81 da mesma Lei. Independente da origem - pessoa física ou jurídica, a norma de regência fixa, na hipótese de descumprimento por doação em excesso, o pagamento, pelo doador, de multa de cinco a dez vezes a quantia em excesso. Ao candidato, poderá ser imposta outras penalidades por abuso de poder econômico. Às pessoas jurídicas, nos termos do artigo 81 da Lei das Eleições, além da multa pecuniária é imposto ao doador a pena de vedação de participação em licitações públicas e a proibição de formalização de contratos com o Poder Público pelo prazo de cinco anos.”
Doações cruzadas: Casagrande repassou R$ 1,2 milhão para Ferraço
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ma prática que se repete durante as eleições e que pode ser conferida nas prestações de contas das candidaturas publicadas na internet pelo Tribunal Superior Eleitoral é a doação cruzada entre políticos aliados. O caso mais emblemático dos últimos anos ocorreu em 2010, quando o governador Renato Casagrande (PSB) repassou R$ 1.225.150,00 para o senador Ricardo Ferraço (PMDB). O valor é superior ao doado pelo Comitê Financeiro Único do PMDB, partido de Ricardo que investiu R$ 1.005.000,00 na campanha. A transação ganhou destaque no #HackDayES – página no facebook alimentada pelo Laboratório de estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) e voluntários que publicou um recordatário do acordo para as eleições de 2010. Os ativistas ressaltaram que, até menos de um ano da eleição, Casagrande e Ricardo eram adversários na disputa pelo governo. As pesquisas indicavam vantagem para Casagrande, então o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) retirou o apoio à candidatura de Ricardo e o fez apoiar Casagrande, que lhe retribuiu com aporte financeiro na
campanha. Também pesou contra Ricardo a costura no plano federal, que uniu PT, PSB e PMDB em torno da eleição de Dilma Rousseff (PT). Em troca, o PT abriu mão de candidaturas regionais e negociou os estados com os parceiros. Segundo os dirigentes dos principais partidos capixabas, as doações cruzadas entre candidatos são parte de uma “engenharia financeira” que fortalece vínculos antes e depois das eleições, como confessou o presidente do PSB Luiz Ciciliotti sobre a doação de Casagrande para Ricardo. O comitê majoritário é que ficava responsável por receber, para não fragmentar as doações e depois canalizar os recursos da forma como foi planejada, era muito mais fácil fazer através de um aporte só em um comitê do que três, quatro comitês. Foi nesse sentido que nós fizemos essa engenharia”, revelou. Sobre as doações cruzadas, não há diferença entre os partidos. Todos concordam com o tipo de transação que envolveu governador e senador capixabas. O presidente do PMDB, Lelo Coimbra, ressaltou o caráter legal das transações. “Os majori-
tários costumam passar para os proporcionais, através das contas de cada campanha, assim como o partido pode passar doações recebidas para quaisquer candidatos”, explicou. Ele foi dos doador para campanhas de diversos candidatos. Lelo foi seguido pelo presidente do PT, João Coser. “Isso é muito comum em função da própria regra eleitoral. O candidato majoritário faz uma captação de recursos muito maior e distribui para os proporcionais”, contou. Mesmo tendo candidato ao governo do Estado este ano em oposição à reeleição de Casagrande, o presidente do PSDB, César Colnago, aprova a prática e analisou pela ótica do reforço dos laços políticos. “Com isso as alianças entre os candidatos se fortalecem, um pedindo voto para o outro e trabalhando em conjunto, inclusive com propaganda casada, como materiais impressos que saem com a divulgação de mais de um candidato”, afirmou. “É comum dentro da mesma coligação. Alguns políticos têm mais facilidade na captação de recursos e, por isso, a ajuda mútua”, completou o presidente do DEM, Rodney Miranda.
- Lelo Coimba, presidente do PMDB no Estado. Foto: Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados
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ACADEMIA MARCOS SIQUEIRA e MARIANA BERGAMINI
Vestibular suspenso gera discussão na Ufes Ufes espera que visita de avaliadores do MEC permita a realização do vestibular de inverno para os cursos de jornalismo e publicidade e propaganda
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primeiro semestre letivo do ano de 2014 será diferente para os estudantes de jornalismo e publicidade da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Acostumados a recepcionar os recém-chegados à universidade, este ano o período começa sem calouros. Isso acontece devido à decisão divulgada pelo Ministério da Educação (MEC), na edição de seis de dezembro do Diário Oficial da União. No documento, são suspensos os vestibulares de cerca de 270 cursos superiores de todo o país, inclusive as duas habilitações mais antigas de Comunicação Social na Ufes. Há graduações que conseguiram reverter a situação a tempo, mas não foi o que ocorreu no Espírito Santo. O que motivou a suspensão foram as notas insatisfatórias no Conceito Preliminar de Cursos (CPC) de 2012, após uma resposta também abaixo da exigida em 2009. Além de ruim, a avaliação demonstrou resultados descendentes: em 2009, as notas de jornalismo e publicidade foram de 1,498 e 1,636, para 1,460 e 1,371 em 2012, respectivamente. O declínio culminou no fechamento preventivo de novas vagas e em prejuízo para quem passou o ano se preparando para prestar vestibular. É o caso de Raíssa Rezende, que agora estuda jornalismo em faculdade privada: “fui muito prejudicada, pois estudei um ano a mais no cursinho, eu estava contando com esse
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vestibular. Tive que me inscrever numa faculdade particular às pressas”. A ação do MEC figura como uma medida cautelar em que os cursos mal conceituados perdem a autonomia de formar novas turmas, pois a avaliação indica que as coisas precisam melhorar. O raciocínio até parece simples, a avaliação no CPC varia de um a cinco pontos. O curso que alcança menos do que três pontos e apresenta um resultado considerado insatisfatório, como foi o caso de Comunicação Social na Ufes, precisa mesmo de atenção do Ministério da Educação. Mas o grande problema é que para quem vivencia o dia a dia dos cursos, o cenário não é bem assim. Para Rafael Freitas, diretor do Centro Acadêmico de Comunicação Social (Cacos) e estudante de jornalismo, a avaliação está equivocada: “o método utilizado pelo MEC deixa de fora uma série de questões fundamentais para avaliar nossas condições de estudo. Ele não reflete a realidade que vivemos no curso e apresenta resultados incompletos”. A declaração do estudante expõe uma luta antiga do movimento estudantil, que não concorda com a forma como a avaliação é realizada. Atualmente, os cursos de graduação possuem dois métodos pelos quais são avaliados: o CPC e a Avaliação para Reconhecimento ou Renovação de Reconhecimento de Curso de Graduação. Este último é mais completo, composto por 67 itens,
“
Usar apenas o resultado obtido no CPC para suspender o vestibular é uma medida precipitada, uma vez que esta é uma avaliação preliminar
”
ele resulta da visita de uma comissão avaliadora do MEC, porém não acontece com regularidade. Já o Conceito Preliminar de Cursos acontece a cada três anos e 70% da nota final é obtida por avaliações direcionadas aos estudantes. A principal delas é o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e o restante é respondido por meio de questionário online, com uma pergunta para infraestrutura do curso e outra sobre organização didático pedagógica. Na conta dos alunos ainda está a comparação das notas obtidas no Enem com a do Enade, e os outros 30% que compõem o CPC ficam a cargo dos professores. “Usar apenas o resultado obtido no CPC para suspender o vestibular é uma medida precipitada, uma vez que esta é uma avaliação preliminar”. É o que afirma o professor de Jornalismo e Coordenador do Colegiado, Rafael Paes. Os cursos já tiveram notas insuficientes, de conceito dois, em 2009. De lá até a nova avaliação em 2012, nenhuma visita presencial foi realizada para que o MEC conhecesse de perto a graduação e estudasse os setores em que precisa de melhorias. Para o professor, essa deveria ser a primeira ação a ser empreendida em caráter de emergência. “Temos total convicção de que o curso tem capacidade para funcionar. Acreditamos que a visita, in loco, de especialista que avaliam 67 aspectos dentro do curso vai demonstrar que o conceito preliminar não é de forma alguma um espelho da nossa realidade”. É CULPA DO BOICOTE
O curso de Comunicação Social possui
Rafael Paes, professor de Jornalismo e
Coordenador do Colegiado. Foto: Marcos Siqueira
um histórico de boicote ao Enade. Os alunos convocados para fazer o exame são obrigados a comparecer no dia e assinar a prova sob a ameaça de não conseguir colar grau. Contudo, a exigência é apenas de que eles estejam presentes. Decidir se responde ou não às questões fica a cargo de cada estudante. Em jornalismo e publicidade, na maioria dos casos, os testes são devidamente assinados e deixados em branco, significando o boicote. A atitude representa um posicionamento político de quem não concorda com o método de avaliação do ensino superior no Brasil. “Apenas uma pergunta é utilizada para avaliar a estrutura e as outras são todas direcionadas aos conhecimentos que o aluno tem. Ou seja, mesmo se o curso for ruim e o aluno bom, o curso será bem avaliado e o contrário também”, explica Rafael Freitas. Optar por não fazer o exame é uma forma de demonstrar para o MEC que o corpo discente não está de acordo com esse modelo avaliativo. “O Enade é um canal de comunicação falho do governo com os estudantes. Ter uma nota alta funciona apenas para o Brasil melhorar no ranking de educação ao custo de avaliação maquiada”, diz Rafael. Por mais nobre que seja a causa, ela possui consequências. Este ano elas vieram e impediram o ingresso de novos alunos, uma decisão que afetou diretamente quem ainda nem estava na Universidade, apenas sonhava em entrar. A ViceReitora da Ufes, Ethel Maciel, lamenta o ocorrido: “O prejuízo é incalculável, ainda mais na expectativa e na vida de várias pessoas que se prepararam e que alimentaram o sonho de estudar na nossa Universidade.” Para ela, o boicote não tem sido Primeira Mão | Março de 2014
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Ethel Maciel , Vice-Reitora da Ufes Foto: Thaiana Gomes
uma forma de reivindicação eficaz e o movimento estudantil precisa repensar suas ações, pois neste caso, por exemplo, acabou trazendo mais prejuízos do que resultados positivos. VESTIBULAR SUSPENSO. E AGORA? Depois que a decisão de suspender o vestibular foi anunciada, a Ufes protocolou junto ao MEC um termo de compromisso elaborado pelo Colegiado de Comunicação Social e pela Universidade. O termo contém uma avaliação feita por professores do curso apontando as melhorias que precisam ser feitas e as que já foram adotadas devido ao primeiro conceito insatisfatório de 2009. O documento apresenta também os planos das disciplinas, projetos e grupos de pesquisa e extensão desenvolvidos por professores e estudantes. Quem havia escolhido prestar vestibular para jornalismo ou publicidade este ano teve que migrar para outro curso. Após a decisão do MEC, a Ufes ofereceu a possibilidade do estudante escolher uma outra graduação, mas teve gente que não ficou satisfeito com essa solução: “Mesmo tendo a opção de escolher outro curso na Ufes, não me inscrevi em outro vestibular. Escolhi fazer jornalismo quando ainda estava no ensino fundamental e sempre tive a intenção de estudar na Ufes”, lamentou Raíssa. A Vice-reitora da Ufes explicou que o MEC tem até o final de março para responder ao documento protocolado no início do processo, e que o próximo passo é o agendamento de uma visita de avaliadores do ministério na qual será
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realizada uma avaliação minuciosa do curso. “Se eles (MEC) não se manifestarem, nós podemos solicitar a visita e é isto que estamos monitorando”, informou Ethel. A expectativa é de que a situação seja regularizada o quanto antes. A intenção da Universidade é promover um vestibular de inverno, no meio do ano, para o ingresso no segundo semestre letivo de 2014.
“
O prejuízo é incalculável, ainda mais na expectativa e na vida de várias pessoas que se prepararam e que alimentaram o sonho de estudar na nossa Universidade
”
- Ethel Maciel, Vice-Reitora da Ufes.
CAPA LORRAINY MERLO, NAIARA ARPINI e THALSTON DE LAIA
Abram alas para a Imperatriz e para o povo do Forte de São João Caçula do carnaval capixaba, a Imperatriz do Forte traz na garra de seus integrantes a força para fazer um carnaval de poucos recursos, muita vontade e sem preconceito
Foto: Lais Lorenzoni
Foto: Lais Lorenzoni
Colaboradores: o travalho duro
de fazer bonito na avenida com o Enredo: “Aduanas... Tudo para o Rei, tudo para o Estado, tudo pela Nação”
Foto: Lais Lorenzoni
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ma história inusitada marca a fundação da Imperatriz do Forte e ajuda a explicar o nome e a justificar a águia e as cores verde e rosa como símbolos da agremiação. A Imperatriz nasceu da admiração de seus fundadores pelas escolas de samba do carnaval do Rio de Janeiro. Para dar conta da paixão de cada um, a escola ganhou o nome de imperatriz em homenagem a sua homônia (a Leopoldinense) carioca, as cores da Estação Primeira de Mangueira e a águia portelense. O complemento “Forte” já é uma referência local. A escola foi criada por moradores do morro do Forte de São João. Foi nesta comunidade da região central de Vitória que os saudosos Sebastião da Silva (Sabará), dona Iraci Martins, Maria da Penha Cabral (Baita) e João Carlos de Oliveira fundaram, em dezembro de 1972 , a escola, que teve como madrinhas as já tradicionais Unidos da Piedade e o Gremio Recreativo Escola de Samba Santa Lúcia. A vista do porto de Vitória, de frente para morro do Forte, inspirou o enredo de 2014 e ascendeu a esperança de alcançar o grupo especial A, para o carnaval que vem. Neste ano, a escola desfilou no grupo especial B com o enredo “Aduanas... Tudo para o Rei, tudo para o Estado, tudo pela Nação”. Nos parágrafos abaixo, buscamos mostrar um pouco da paixão que move aqueles que fazem o carnaval capixaba por meio dos depoimentos de quatro pessoas que ajudam a fazer o carnaval da Imperatriz do Forte, a caçula dos desfiles especiais no Sambão do Povo. É na garra de seus integrantes, a maioria moradores do Forte de São João e das comunidades vizinhas dos morros do Romão e do Cruzamento, que a Imperatriz traz a força para fazer um carnaval de poucos recursos, mas de muita vontade.
NASCIDOS NO SAMBA
Sentado em um sofá velho em meio a restos de fantasias de outros carnavais, Robson Henrique, o Robinho, 40 anos, confere de perto a montagem dos carros alegóricos de sua escola do coração. Um sol forte cobre o céu de Vitória naquela tarde de sábado. Encontrar um lugar que ofereça sombra torna-se um desafio e tanto, mas Robinho permanece lá, atento a cada detalhe. Morador do Forte São João “desde sempre”, sua trajetória se funde com a própria história da Imperatriz do Forte. Em 2014, completam-se 37 anos dedicados à agremiação, onde já ocupou os cargos na bateria, diretoria e presidência. O amor é tão grande que nem a interrupção dos desfiles oficiais na década de 90 desanimou os integrantes. “A escola nunca parou”, conta com orgulho Robinho. Ao todo, foram cinco anos de paralisação. Neste tempo, a diretoria e os membros fundaram o Bloco de Rua “Imperatriz da Cultura”, que permaneceu ativo até 1998. Com a retomada dos desfiles competitivos em 2002, a Imperatriz voltou ao Sambão do Povo determinada a conquistar o título que ao longo de
sua história escapou. O enredo “Batalhas e Vitórias – Saldanha – 100 anos de glórias” não foi consagrado campeão, contudo o terceiro lugar alcançado naquele ano foi comemorado como vitória para uma escola ainda sem tradição em desfiles. A boa colocação fez com que, em 2003, a escola entrasse na avenida como uma das favoritas. No entanto, a esperança de um título transformouse em um dos momentos mais tristes da história recente da agremiação. O Teatro capixaba era o homenageado na ocasião, mas veículos estacionados irregularmente em torno do Complexo Walmor Miranda (Sambão do Povo) não permitiram a entrada dos quatro carros alegóricos no desfile. Como resultado, a escola foi desclassificada da competição. “Foi uma grande injustiça! Lembro que a Imperatriz contagiou a arquibancada, todos cantavam nosso samba”, conta Robinho, que na época não conseguiu segurar as lágrimas. Segundo ele, falta um título para coroar a bela história da Imperatriz do Forte. “O grito de vitória está engasgado”.
“O grito de vitória está engasgado” A MENTE CRIATIVA DA IMPERATRIZ
Professor da rede estadual, Osvaldo Garcia é a mente criativa por trás dos desfiles da Imperatriz do Forte. Como carnavalesco, cabe a ele concretizar em alas e fantasias o enredo que a escola leva para a avenida. Sua história na escola de samba começou em 2007 e com o pé direito. Foi nesse ano que Imperatriz voltou ao grupo especial. Desde então, os laços com a comunidade foram ficando cada vez mais fortes e hoje, por onde passa, todo mundo sabe quem é o Osvaldo da Imperatriz. “A sensibilidade é importante nessa relação, conhecer a comunidade é fundamental, e a Imperatriz é de verdade, tem identidade e muita confiança em mim.” conta o carnavalesco. O entusiasmo de Oswaldo veio também pelo retorno este ano de figuras importantes que estavam afastadas da escola, como o coreógrafo Elídio Netto, que é cria da casa e o Mestre Renatinho, à frente da Berço do Samba, como carinhosamente é chamada a bateria. Ele confessa que enfrentou dificuldades no início deste ano, quando a diretoria resolveu mudar o enredo a cerca de um mês do desfile. “O enredo seria sobre a felicidade e quando foi trocado, eu tive 15 dias para fazer toda mudança desde a pesquisa historiográfica, até a criação e execução.” O resultado de todo o esforço se traduziu em 17 alas, dois carros e três tripés, além das fantasias dos 2.100 componentes que desfilaram no Sambão do Povo exaltando o porto que Oswaldo avista de sua casa. Primeira Mão | Março de 2014
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Deborah Sabará foi a primeira
transexual a ocupar um cargo de destaque no carnaval capixaba.
Foto: Lais Lorenzoni
“A sensação que tenho é a de vencer o obstáculo do preconceito. Orgulha-se”
O CARNAVAL DE TODOS OS GÊNEROS
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dministrando seu tempo entre as atividades ligadas à escola e aos projetos que desenvolve, relacionados à sexualidade, Deborah Sabará organizou sua agenda de compromissos atenta ao calendário do Carnaval e da Imperatriz do Forte, em particular. Deborah foi a primeira transexual a ocupar um cargo de destaque no carnaval capixaba. Em 2014, pela sexta vez consecutiva, ela desfilou como segunda porta-bandeira na agremiação. Apaixonada pelo carnaval, ela conta que sua relação de amor com o samba é um caso antigo, desde quando ia com irmãos assistir aos desfiles do Grêmio Recreativo Escola de Samba Andaraí, na comunidade do bairro Santa Marta. Tanta paixão pelo samba não poderia ficar apenas nas arquibancadas e Deborah decidiu colocar a mão na massa. Orgulhosa, ela contabiliza suas participações efetivas nos desfiles. “Já fui comissão de frente, coreógrafa, diretora de escola, destaque, empurradora de carro, carnavalesca, já ajudei a produzir fantasias. Na avenida, se precisar a gente faz”, disse. Mesmo acumulando tantas funções, ainda faltava algo para preencher o currículo de Deborah. E foi para realizar um sonho antigo que a Imperatriz do Forte entrou na vida da porta-bandeira. “Eu vim pra Imperatriz porque já tinha falado com o Oswaldo sobre a minha vontade de ser porta-bandeira, mas achava que seria uma loucura. Então, em 2009, fui chamada para participar. Pensei: ‘chegou o meu momento, a minha hora’”, disse. Deborah conta que, na época, a Liga das Escolas de Samba do Espírito Santo (Lieses) precisou se reunir para decidir se ela poderia ou não ocupar o cargo. Depois da afirmativa, dedicou-se a agarrar a oportunidade e fazer dela motivo de orgulho. “A sensação que tenho é a de vencer o obstáculo do preconceito. Para a população LGBT é reconhecimento, as pessoas agradecem, se vêem em mim”, orgulha-se.
Na Imperatriz do Forte, a receptividade a uma representante transexual na época, há seis anos, foi uma surpresa. “Vim pra comunidade e acreditava que teria um preconceito, mas estava enganada. A comunidade me abraçou, todos me tratam muito bem. Peguei carinho pelo morro do Romão, Cruzamento. Alguns nem sabem que na verdade eu moro na Serra, porque todos os dias vou para o barracão. Chego cedo e só saio com o último ônibus”, contou. Assim como Deborah, o olhar apaixonado também estampa o rosto de Arthur Kadratz, de 16 anos. O jovem contou que começou a frequentar a escola com seis anos de idade. Desfilou um ano na ala das crianças e depois foi para a bateria tocar repique. Atualmente, ele já é diretor da bateria na Imperatriz do Forte e carrega a responsabilidade de auxiliar o mestre da bateria. “As pessoas olham com respeito, nunca falaram que eu não seria capaz. Acreditaram em mim”, disse. Ambicioso, Arthur já está se dedicando para alçar novos vôos. “Sou o futuro intérprete da escola. Ano que vem venho como intérprete de apoio e daqui a dois anos vou ser o intérprete mesmo.” Ele vem fazendo aulas de música para aprimorar a cada dia a voz e o canto. Mesmo com uma rotina pesada, o jovem se esforça para estar sempre presente aos ensaios da bateria. “Eu vou pra escola bem cedo, tento me concentrar ao máximo nas aulas, porque é meu futuro. De lá, vou para o barracão, direto pro ensaio. Já almoço por lá mesmo. E chego em casa umas 23h”. Tanto empenho assim não é a toa. A verdade é que para Arthur e tantos outros membros, a Imperatriz do Forte é símbolo de amor, família e união. “Pra mim, carnaval é Imperatriz. Nasci aqui e vou morrer aqui”. Como disse Robinho no final de sua entrevista, “carnaval é uma grande paixão e consegue a façanha de reunir todo mundo em uma causa só”. Neste caso, a causa é o amor dos integrantes pela mais jovem escola, entre as especiais, do carnaval capixaba. Primeira Mão | Março de 2014
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COMPORTAMENTO ALLAN CANCIAN MARQUEZ
Os jovens que não curtem mais o Facebook Eles não confiam mais na privacidade da rede, detestam saber que sua família os vigia e odeiam o exagero das pessoas. Conheça estes jovens e saiba para quais outras redes sociais eles estão migrando.
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O Facebook não é mais aquela rede social agregadora de informações úteis para jovens e adolescentes. Nele, eles ficam enclausurados a parecerem sempre felizes, algo que não é possível.
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rede social que fez 10 anos em 2014 admitiu estar perdendo usuários jovens e adolescentes a cada ano. De acordo com uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pela organização americana Pew Center, que entrevistou 802 jovens entre 12 a 17 anos, este público vem deixando de utilizar frequentemente a rede e estão dando mais atenção a aplicativos mobile, como Twitter, Instagram e Snapchat. A pesquisa concluiu que um dos motivos para o abandono do Facebook foi a presença de pais e parentes desses jovens na rede social. Cerca de 91% dos adolescentes usuários da rede são amigos de membros de sua família e 70% são amigos de seus pais. Estes jovens nunca compartilharam tanto nas redes sociais quanto hoje, o que tem provocado certas dúvidas quanto à privacidade e o que seus pais podem ou não ver. Mas e em relação ao nosso país, quais seriam os motivos? Quando o Facebook veio para o Brasil, as primeiras pessoas a se aventurarem na nova rede social foram justamente os adolescentes e os jovens. Lá eles construíram suas redes de interação, compartilhavam e curtiam aquilo que seus amigos e páginas escreviam e com isso tinham o Facebook todo para eles. Entretanto, com a expansão do site de relacionamento, outras pessoas fora dos
seus círculos sociais e páginas variadas começaram a aparecer, juntamente com os perfis de seus pais e familiares. A partir daí, impulsionados também pelos algoritmos de Mark Zuckerberg e do filtro cada vez maior do que aparecia no feed de notícias de cada usuário, os jovens começaram a se sentir frustrados e iniciaram uma busca para descobrirem novas redes sociais para se expressarem. Para Stefany Oliveira (@Ste13oliveira no Twitter), o Facebook ainda é uma rede social útil, mas não o usa frequentemente como antes. “Perdeu a graça. Antes era legal ficar compartilhando certas coisas, hoje não é mais”, disse a jovem. Outro fato apresentado pelos jovens é a falta de privacidade na rede social, já que o que antes era visível apenas para seus amigos e perfis interessantes, começou a “sair fora de controle” e aparecer para familiares e pessoas que não tinham muito contato. Com a chegada dos filtros para exibir suas postagens para determinados grupos criados por eles, a definição de o que mostrar para os variados perfis em suas redes começou a preocupar e a deixar o site menos interessante para este público.
afirma que as pessoas não aproveitam seus momentos por sempre postarem tudo o que fazem. “Ninguém é feliz ‘full time’, porém cada vez mais as pessoas estão presas a postagens que representem seus momentos supostamente felizes, confunde-se comemorações com felicidade, abraços com amor, sorrisos com alegria e promessas com realização”, relata. Os jovens querem liberdade das expectativas sociais que os rodeiam. Com essa falta constante de entusiasmo com o Facebook, este público passou a gastar menos tempo na rede social mais utilizada no mundo e foram procurar novos locais online para postarem seus pensamentos, ansiedades e suas personalidades para quem as quisesse ver e interagir.
REDES SOCIAIS DE INTERAÇÃO
Exatamente por isso que redes sociais e blogs como Twitter, Instagram, Snapchat, Tumblr e outras ganharam um maior número de adeptos adolescentes nos últimos meses, que buscam uma maior independência e um local para desabafarem e conversarem entre si. O exemplo mais forte disso é o Twitter, que FELICIDADE FORÇADA permitiu aos jovens e adolescentes construírem De acordo com a pesquisa da Pew Center, suas personalidades de forma livre, sem a presença não é apenas a presença de pessoas adultas e do dos pais e de parentes que estão inseridos em outras compartilhamento em excesso de postagens desi redes sociais, como o Facebook. Aliás, de acordo nteressantes que fazem com que os adolescentes com a Pew Center, o número de adolescentes que gostem menos do Facebook. Para a pesquisa, a usam o Twitter cresceu 50% entre 2011 e 2012. dramatização e exibição apenas de postagens felizes Na rede social dos 140 caracteres eles ene positivas acacontraram um espaço para poderem ser livres e a bam por pressiointeragirem com perfis que também tivessem esse nar o jovem a ser espírito jovem, mas sem perderem todo o consempre feliz, algo que teúdo da imprensa e das empresas que também ninguém o é toestavam no Facetalmente em sua book. Enquanto que vida. Wenkel Romão (@ Várias pesquisas atuais Para DanNG_KeeL no Twitter) iel Oliveira, anaapontam que pessoas muito diz que posta frases, lista de mídias s o c i a i s trechos de músicas e conectadas ao Facebook tenna Criativa Comunicação Insuas revoltas no mitegrada, o Facebook tornoudem a serem menos felizes cro blog, Perspicácia se nosso cartão de entrada no ou forçarem suas “felici- (@1PedroRicardo na internet e mostrar como Twitter) afirma que somos felizes ajuda a meldades” para os outros na “o Twitter é uma rede horar a forma que somos social show onde rede. vistos na rede e fora dela. “O posso desabafar, rir, Facebook virou uma espécie conhecer pessoas, inde cartaz/outdoor pessoal. teragir sobre assuntos Se está feliz, ganhou algo, foi bem na prova, ‘prediversos e socializar”. ciso postar no meu face agora’”, afirma Daniel. É lá que eles buscam reconhecimento, di Entretanto, a suposta felicidade dos outros versão e seus problemas de vida, sem se preocuacaba incomodando os amigos de rede. Várias pesparem com o que os outros vão dizer ou se imporquisas atuais apontam que pessoas muito conectarem com seus pais. Tweets como “Twitter, a única tadas ao Facebook tendem a serem menos felizes rede social que a minha família não usa. Obrigada e/ou forçarem suas “felicidades” para os outros na Deus!” e “Quando pergunto pq fiz twitter olha pra rede. A estudante de jornalismo, Rafaela Laiola, minha família e respostas jorram na minha cara” Primeira Mão | Março de 2014
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são exemplos claros do porquê dos jovens terem largado um pouco a rede social de Mark Zuckerberg. Entretanto, a grande expansão dos smartphones possibilitou que este público se comunicasse com seus amigos em qualquer lugar. Graças a isso, aplicativos como o WhatsApp ganharam muitos adeptos em todo o mundo, tanto que o programa tem mais de 430 milhões de pessoas (o Twitter possui “apenas” 243 milhões de usuários), segundo a revista Mobile Marketing que também informou que os usuários que mais usam têm menos de 25 anos.
O FUTURO DO FACEBOOK
Então significa que o Facebook não conseguirá reaver o seu público perdido? Para Daniel Oliveira, o futuro da rede social será com uma mudança no perfil do público, de forma a conter mais adultos que jovens. Para ele, o Facebook levará “pessoas mais velhas a estarem cada vez mais ligadas a rede social e irá deixar para trás o público jovem, entusiasta de WhatsApp, Messenger (o aplicativo de mensagens do Facebook), Snapchat e outras redes e aplicativos que atuam de forma mais instantânea”, aposta o analista. Seja qual for o futuro do site de Mark Zuckerberg, uma coisa é clara: ele não sairá de moda até que um concorrente de peso apareça na jogada, algo que o Google tenta fazer com sua rede social, o Google+. Até esse dia chegar, continuaremos curtindo, compartilhando e eventualmente nos comunicando por lá, mas também tweetando, instafotografando e whatsappeando nas outras redes. Fiquemos conectados!
Redes sociais, como o Twitter,
se tornaram válvulas de escape para os jovens e adolescentes que se sentiam pressionados no Facebook. Na timeline ao lado, você lê as mensagens dessas pessoas.
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Tancredão
LAZER VITOR REZENDE e FERNANDO CORREIA
Foto: Elizabeth Nader/PMV
Um grande complexo esportivo no coração de Vitória
Centro Esportivo Tancredo Neves se torna a principal opção de lazer e prática esportiva na região de Santo Antônio
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o ano de 2006, foi anunciada a reforma do antigo parque Tancredo Neves, que viria se tornar o Centro Esportivo Tancredo de Almeida Neves, o Tancredão. A ideia veio em bom momento, já que fundiu todo o espaço físico do local, de aproximadamente 50.000 m², com a necessidade latente da Grande Vitória de possuir um ambiente público com estrutura e preparo para, além de receber a população capixaba, receber eventos de médio e quem sabe grande porte. O orçamento inicial da reforma foi estimado em R$ 15 milhões, porém, como a grande maioria das obras no Brasil, o custo final teve um aumento “incrível”, quase triplicando: R$ 41,75 milhões. Segundo o ex-secretário municipal de Obras, Paulo Maurício Ferrari, este aumento se deu devido a alterações no projeto executivo do espaço, como forma de evitar equívocos e surpresas em um futuro. Uma das grandes dúvidas que gira em torno do Tancredão é sobre o seu uso. Após a reforma milionária, quem usa o local? A equipe do Primeira Mão foi até o complexo esportivo buscar respostas e descobriu que a principal movimentação do Centro é na “academia popular”, onde dezenas de pessoas passam por lá no período da manhã para se exercitar com os aparelhos de musculação.
AÇÕES SOCIAIS
De acordo com o secretário de esportes de Vitória, Wallace Valente, a ideia inicial da gestão responsável pela reforma do Tancredão era fazer dele um grande complexo esportivo para tornar o Espírito Santo referência em competições nacionais. Porém, o que se enxergou após a finalização
O que eles pensam “Uma opção de lazer como essa era impossível de ser encontrada em Vitória há alguns anos. Você poder praticar um esporte, de forma gratuita, com bons professores e equipamentos novos, jamais seria possível há cinco anos.” - Joao Luiz Nascimento, 51 anos, pizzaiolo e churrasqueiro.
da obra era a deficiência da capital com locais apropriados para a comunidade praticar atividades físicas e esportivas. Por isso, desde então, o objetivo da prefeitura foi fazer com que o parque fosse um verdadeiro centro de projetos sociais voltados para o esporte, com escolinhas de mais de 11 modalidades diferentes funcionando ao mesmo tempo, e que atrai quase mil pessoas por semana. Com funcionamento diário de seis às 22 horas, o Tancredão se prepara para receber, ainda em 2014, um grande campeonato entre os bairros da cidade, uma iniciativa do governo do Estado em parceria com associações de moradores de Vitória. Nove tipos diferentes de modalidades esportivas serão disputadas entre equipes montadas pelas associações e, ao final, os vencedores serão premiados com troféus e verbas para melhorias em seus respectivos bairros. “O Tancredão hoje atende ao projeto de fazer com que ele seja um espaço sede de eventos culturais e sociais, já que conseguimos incluir grande parte da comunidade com projetos voltados para o público mais carente de Vitória, com ações de esporte, recreação e lazer, fazendo com que a procura por ele aumentasse muito”, conta Wallace. Para este ano, a proposta da prefeitura é que os projetos realizados por lá ganhem maior alcance, como o da educação ampliada, realizado com a Secretaria de Estado de Educação, que torna o ensino fundamental e médio integral. Além disso, em maio deste ano será promovido um desafio internacional de judô entre Brasil e Argentina e mais alguns eventos de grande porte, como amistosos e competições de ginástica artística.
“A reforma do Tancredão deu outra cara para este espaço, foi uma melhora de 100% se compararmos com o que era antes. Eu fui vítima de um derrame aos 42 anos, se não fosse pela existência deste espaço eu não teria aonde fazer o meu tratamento, por meio da hidroginástica, de forma gratuita e com ótimo acompanhamento profissional.” - Ana Maria Falcão de Souza, moradora de Santo Antônio, 53 anos, aposentada.
“Fiquei maravilhada como resultado dessa obra. É a primeira vez que visito aqui desde que ficou pronta.” - Shirley de Souza Pereira, moradora do Centro de Vitória, 26 anos, vendedora.
“Um centro esportivo como esse no coração da cidade de Vitória é excelente, com estrutura de ponta e facilidade ao acesso de qualquer um que tenha vontade de utilizar as instalações. Eu e minha família sempre frequentamos aqui, uma forma de cuidar da saúde com toda segurança possível.”
“O Tancredão trouxe para a região de Santo Antônio uma melhor estrutura, mais espaço, em um local que antes era só mato, sem cerca, impossível de se divertir. Agora posso praticar basquete em uma quadra apropriada e assim melhorar minhas habilidades.”
- Wellington Ferreira da Silva, morador de Inhaguetá, 46 anos, analista de crédito.
- Andrey Richard Alves Nogueira Gomes, morador de Santo Antônio, 17 anos, estudante.
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Foto: Yuri Barichivich/PMV Foto: Elizabeth Nader/PMV
Foto: André Sobral/PMV
Foto: André Sobral/PMV
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SOCIEDADE MANOELA ALBUQUERQUE
O negócio das monografias
Fisgados por anúncios tentadores e ansiosos para concluir a graduação, estudantes podem ser pegos de surpresa pela Justiça
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os murais, nas paredes, no decorrer da passarela e até mesmo em lugares inusitados – e estratégicos – da própria Universidade. Lá estão eles: anúncios oferecendo ajuda a estudantes que estão prestes a concluir a graduação, mas têm como pendência a monografia ou outros modalidades de trabalhos de conclusão de curso (TCCs). Alguns, além de oferecer revisão gramatical e formatação nas tão temidas normas da ABNT, oferecem também o serviço de pesquisa e
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elaboração de conteúdo. Ajuda paga, claro. Os espaços virtuais também já estão sendo ocupados por anúncios como este: “TCC e Monos 100% originais em 72h! Aceitamos todos os cartões em 18x”. São as autodenominadas empresas de consultoria acadêmica, que vendem trabalhos para todo o Brasil. Tentador, não? Como já dizia o provérbio, o santo desconfia. João Carlos Rodrigues de Castro, analista judiciário do Superior Tribunal de Justiça (STJ), es-
clarece em artigo acadêmico publicado no site “Jus Navigandi” que a legislação brasileira não classifica a “venda” de monografias como crime. Mas, independentemente da quantidade de páginas do trabalho vendido (anunciado por 35 reais a página), quem compra pode pagar mais caro do que o combinado. Comprar monografias é um ato passível de punições tanto no âmbito acadêmico quanto no judicial. Contudo, o assunto é inimaginavelmente complexo e permite divergências até mesmo no campo do Direito. Segundo Rodrigues de Castro, alguns acreditam que a venda de monografias é um negócio que não possui validade perante a justiça, sendo tratado como se nunca houvesse existido de fato. Isso porque, de acordo com o artigo 27 da Lei de Direitos Autorais (lei 9610/98), a transmissão de direitos morais é impossível. Porém, outra interpretação desse mesmo artigo garante que nada impede que o autor ceda o direito de nominação
Comprar monografias é um ato passível de punições tanto no âmbito acadêmico quanto no judicial de sua obra em forma de licença, como se o direito autoral fosse emprestado e não renunciado. Por outro lado, a decisão é unânime quando se trata de plágio, crime previsto no artigo 184 do Código Penal. Isso acontece quando quem elabora uma monografia por encomenda copia trabalhos de outros autores.
QUANDO A JUSTIÇA É ACIONADA “Elas por elas” – Se o negócio for considerado inválido perante a lei, quem comprou o trabalho poderá receber o dinheiro pago de volta, e quem vendeu poderá retomar a paternidade da obra. Essa situação, por exemplo, pode beneficiar um estudante que não alcançou o resultado esperado e reprovou na apresentação do trabalho. Já o vendedor, que não tem interesse no conteúdo intelectual de sua obra, fica prejudicado. Um negócio legítimo – Quando o negócio é considerado válido, o estudante não poderá receber o dinheiro pago pelo trabalho mesmo que tenha reprovado, pois já usufruiu o direito de licença cedido pelo autor da obra. O autor, por sua vez, pode reclamar seus direitos autorais. Nesse caso, o estudante que for aprovado utilizando a monografia comprada pode reprovar e, ainda, ser julgado criminalmente. Quem responde pelo crime – O estudante que apresenta uma monografia plagiada poderá responder pelo crime, mesmo que não tenha sido o autor da obra, já que usufruiu os direitos autorais de outro como se fossem seus (Código Penal Art. 184 § 1o). Além disso, ainda corre o risco de responder pelo crime de falsidade ideológica (Código Penal Art. 299). A pessoa que vendeu a obra também poderá responder pelo crime de plágio por realizar venda de direitos autorais de terceiros (Código Penal Art. 184 § 2o). Quem elabora esse tipo de trabalho alega que há negligência por parte das universidades no que diz respeito à assistência dos estudantes, justificando a ajuda extra oferecida. Sem entrar no mérito dos critérios de aprovação das instituições, sabemos que os estudantes assumem essa responsabilidade e passam no mínimo alguns anos à sua espera. O espantoso é que, além de monografias e TCC’s, também são vendidas teses de mestrado e doutorado, modalidades de pós-graduação voltadas para a pesquisa. E o pior, há quem compre. Primeira Mão | Março de 2014
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PERFIL BIANCA BORTOLON
Trago seu amor de volta em três parcelas sem juros O espanto de uma estudante diante da enigmática quiromante que espalhou promessas de felicidades pelos postes da cidade.
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s cartazes espalhados pela cidade me intrigavam, ainda que eu fosse bastante cética. Pontos de ônibus cobertos com um nome, um telefone e uma promessa: seu amor de volta em sete dias. Só uma semana para que o amor reaparecesse. Não espontaneamente. Ou talvez sim. Não o amor essência, mas uma pessoa. Ou talvez o contrário. Quem seria o alguém por trás do nome, do cartaz? Quem seria a Irmã enigma? Criei coragem para descobrir e liguei. Paulo, o secretário, marcou minha consulta para uma sexta-feira, no início da tarde. Uma bela voz tinha Paulo, voz de amigo, confortadora. Gentil, explicou-me o endereço. Era no bairro de infância de meu pai, que se prontificou a participar da aventura. Um dia depois, lá estávamos nós, no portão de uma casa verde, com uma criança fofa sinalizando que estávamos no lugar certo. Despedi-me de meu pai e entrei. Ela, simpática, apontou para onde eu deveria esperar sua mãe e foi encontrar-se com a irmã em seu quartinho cor-de-rosa. Minutos depois, lá estava ela, o enigma, mas não tão enigmática em pessoa. Pequena e loira, mulher de 30 e poucos anos vestindo um jaleco branco por cima de um vestido florido, ela me convidava para o quarto branco. Era hora. “Como é seu nome, filha?”. Começou. “Bianca” “E o que você quer?”. Ah, que pergunta crítica. São tantas interpretações possíveis, tantas respostas, visões. Um leque de infinitas possibilidades, bem em minhas mãos. Criar amores perdidos, filhos abandonados, viagens homéricas: minha história estava em minhas mãos.
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- Então, eu não sei não. Acho que tô curiosa, querendo saber como funciona... O Paulo disse que você trabalha com cartas e búzios e sempre quis experimentar isso de cartas, sabe. Brilhante. Assim que terminei de falar, pensei que essa era a pior resposta possível. Era mesmo. E ela também achou, perguntando logo em seguida, em tom cada vez mais cínico: “olha, mas você tem que querer alguma coisa. Não dá pra vir aqui sem um objetivo, entende?”. Senti que estava sendo encurralada e não soube o que fazer. Travei por um tempo, mas consegui decidir, após alguns deliciosos segundos de silêncio entre duas pessoas completamente estranhas uma a outra. “Bom, se for pra decidir assim, agora, acho que queria saber do meu futuro, sabe? Olhar alguma coisa nas cartas”. - Meu bem, você precisa ser mais específica. Não dá pra trabalhar assim. O que você quer? Quer trazer seu amor de volta? - Não, não. Tudo bem. Sendo assim, acho que quero saber algo do meu futuro profissional... Sabe, eu sou meio indecisa e seria legal que pelo menos alguém, nesse caso algo, me dissesse que não tô fazendo uma grande...besteira. - Quer trazer seu amor de volta em sete dias? - Er, não. Quero saber mais do meu futuro profissional. É, isso. - Então tá. Bota a sua mão na boca desse copo. Era um copo de vidro comum. Tão comum que até tenho iguais em minha casa – são bons de lavar, melhor que os com boca muito fechada. Estava com água até quase o topo e ao fundo estavam alguns búzios. Olhei para ela com cara de desentendida, mas simpática, e fiz o que pediu. Mais alguns segundos de silêncio se passaram até que ela começou. “Estou vendo aqui que você é uma pessoa boa, de boa família, boa linhagem.” Trocamos olhares. Senti que precisava dizer alguma coisa. - É verdaaaade. Perguntou quantos anos eu tinha. Respondi, mais uma vez verdadeiramente, 20 anos. - Hmm... Estou vendo aqui...uma... gravidez inesperada... - O QUÊ? Foi um momento especial. Poucas são às vezes em que risadas verdadeiras se mesclam às de intenso nervosismo. Ela, porém, compreendeu a situação. É difícil dizer por exato o que me denunciou. Talvez o grito, as risadas frenéticas, as mãos que não encontravam lugar para descansar ou quem sabe minha natural aversão a bebês tenha exalado de frases espontâneas como “Ah não, um filho não”. É algo a se pensar, mas apenas pela curiosidade. O importante disso é que, sentindo que estava próxima a uma real crise de desespero, ela tentou contornar a situação. “É, uma gravidez inesperada... Mas que vai trazer muita alegria a todos próximos de você.” - Ahhh, não é minha gravidez então. Que legal. Sorriu desconfortável. Não é algo agradável para dizer a uma mãe, mas fui pega de surpresa. Pensei em perguntar de quem seria o filho, porém logo fui interrompida. “Mas olha... Tem alguém fazendo trabalho contra você.” - Como assim ‘trabalho’? – A genial piada “estou de férias” martelava a cabeça, mas controlei o que meu pai
carinhosa e sabiamente chama de “impulso besteirol”. - Tem alguém fazendo trabalho pra te ver infeliz, menina. Mas como assim ‘trabalho’? Explicou, ainda que visivelmente irritada com meu não conhecimento do linguajar e explicou. “Filha, essa aqui é uma mesa branca. Aqui a gente desfaz trabalho ruim. E tem alguém fazendo trabalho ruim pra te ver infeliz. Tem gente querendo seu mal”. - Tem alguém SE ESFORÇANDO pra me ver infeliz? Caramba, não achei que fosse necessário. A conversa pausou por um tempo. Após esticar os braços para um canto escondido da mesa, trouxe uma pasta preta. Folheou um pouco o conteúdo e disse que era preciso começar imediatamente um trabalho para cancelar o que estava sendo feito para minha infelicidade. Perguntei como faríamos isso. - O trabalho, no total, sai por R$ 762,90. - O QUÊ? - Mas você pode pagar aos poucos. Parcelar, dar uma entrada. Só não pode ficar com trabalho negativo.
“olha, mas você tem que querer alguma coisa. Não dá pra vir aqui sem um objetivo, entende?” E começou a ler em voz alta o que estava escrito na folha, mostrando-me quais eram os ingredientes necessários para o cancelamento. São vários, devo dizer, e por isso gravei apenas o que me chamou a atenção: dezesseis garrafas de cerveja preta e vinte e seis frutas de diferentes tipos. Ainda estava perplexa com o preço. Fui mais uma vez pega desprevenida. Persistente, ela continuou. “E então, vamos começar?”. - Não, não, calma. Eu não posso pagar isso, não tenho dinheiro. Sou estagiária, dependo dos meus pais. Você entende? - Ah. – Nesse momento sua expressão, que desde o início havia sido pouco amigável, gelou por completo Entendo sim. Então conversa com eles e volta quando estiver pronta. - Mas olha, você não pode me falar um pouquinho sobre meu futuro profissional? - Não. Só depois de tirar o trabalho. - Tudo bem então. Ah! Só por curiosidade... Qual o trabalho que traz o amor de volta em sete dias? Vale pra qualquer tipo de amor? É seu slogan, entende. Queria muito saber. - Vale sim. É o mesmo. Agora coloca cinquenta reais em cima do copo. - Olha, então, eu só tenho cartão aqui. Mas meu pai tá lá embaixo, aproveitou para visitar o bairro de infância. Vou chamá-lo. - Espera. Deixa algum documento com foto em cima do copo pra não fechar a mesa. Coloquei minha identidade e desci as escadas para encontrar meu pai, que estava elegantemente observando, junto a vários outros moradores, os percalços de um assalto que havia acabado de acontecer em um restaurante das redondezas. Pedi o dinheiro e ele, que surpreso com a rapidez da consulta (um total de prováveis sete minutos), sorriu e entregou. Subi rápido e troquei a grana pelo documento. Agradeci a consulta e ela avisou para, quando eu pudesse, voltar e finalizar o trabalho. Primeira Mão | Março de 2014
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Ilustração: editora Abril / Tevista Superinteressante
CULTURA NEUSA PAULA AFONSO
Kuduro, um ritmo angolano que conquistou o mundo O nome kuduro vem do quimbundo e significa quadril duro. Na dança, prima-se a individualidade onde cada um representa uma ação própria de expressão facial.
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Kuduro surgiu em Angola propriamente na capital Luanda, em meados dos anos 90. Apareceu primeiro como um estilo de dança, influenciado por outros estilos como sungura, kizomba, semba, ragga, afro hause e rap e com o passar do tempo foi evoluindo para um género musical. A linguagem usada nas letras das músicas é o calã de Luanda, uma combinação do português com o quimbundo, a segunda língua mais falada em Angola. O nome kuduro vem do quimbundo e significa quadril duro. Trata-se de um movimento influenciado não só pela violência em Angola, vivenciada pela população durante a guerra civil iniciada em 1975 e que durou quase trinta anos, mas também pelos problemas dos dias que correm. Vale aqui lembrar que este estilo de dança tornou-se popular devido às musicas de Tony Amado, autoproclamado criador do Kuduro. Em entrevista, Amado diz que a dança foi inspirada num filme onde o ator belga Jean-Claude Van Damme dança embriagado. Os movimentos de dança são associados ao Break-dance e ao Popping, em verdadeiras performances individuais ou em grupo muito teatralizadas. Na dança kuduro prima-se a individualidade onde cada um representa uma ação
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própria com forte uso de expressão facial. O historiador e sociólogo Paulo de Carvalho, professor da universidade Agostinho Neto, diz que o Kuduro acabou fazendo parte da cultura porque identifica os angolanos em qualquer parte do mundo e também através dela Angola é reconhecida pelo mundo afora. “Representa a voz dos bairros da periferia, que tem uma mensagem para dizer e para contar”. No Brasil, o Kuduro chegou timidamente através das festas particulares realizadas pelos imigrantes angolanos e depois por africanos de outros países de língua portuguesa e também através da mídia televisiva, do carnaval baiano e da associação com o funk brasileiro. Programas de emissoras de TV, que mantêm repetidoras em Angola, promoveram concursos de dança de kuduro no Brasil. Assim como artistas brasileiros projetados no mercado fonográfico, começaram a trazer artistas angolanos de Kuduro e a produzir versões de axé music/kuduro ou de funk/kuduro. Embora haja um consumo de algumas músicas produzidas por estes artistas, o Kuduro não fez surgir no Brasil uma cultura ou um estilo de vida associado à dança ou à música, como ocorrera em Angola e Portugal.
RESENHA GABRIELA RODRIGUES
Um romance sobre um Brasil vivido à distância
“Vidas Provisórias”, de Ednei Silvestre: as estranhezas e as lembranças de dois brasileiros forçados a levarem uma vida de exílio.
O
livro do jornalista Ednei Silvestre é uma viagem por sensações e lugares nos quais transitam seus personagens. Vidas Provisórias conta a história de Paulo e Barbara, dois brasileiros exilados por diferentes motivos e em diferentes momentos da história do país. Paulo é exilado depois de ter sido perseguido pela ditadura militar na década de setenta e se instala na Suécia, onde se apaixona por Anna, uma ativista da Anistia Internacional. Barbara foge para os Estados Unidos como imigrante ilegal, após o pai, acusado de sequestro, ser morto nos anos noventa. Suas histórias, contadas em partes alternadas, correm paralelas, permeadas pela estranheza aos países em que se encontram, pela solidão, pelas lembranças de seus sofrimentos que não os abandona. A narrativa do autor leva o leitor a se envolver com a angústia dos personagens e ao mesmo tempo nos deleita com um passeio pela história do Brasil e pelas paisagens de outros países. O jornalista-escritor usa de toda sua bagagem adquirida nos anos como correspondente internacional da Rede Globo para trazer mais veracidade às descrições de lugares e de eventos históricos, alguns os quais ele esteve presente, como os ataques às Torres Gêmeas em Nova York. O livro é de leitura fácil e fluida, prendendo o leitor do início ao fim. É difícil não torcer por Paulo e Barbara, para que ambos encontrem alento em suas vidas provisórias. O final é do tipo que mais me emociona, aqueles que deixam lugar para possibilidades, que fazem a história parecer viva, continuando mesmo sem que o autor lhe dê voz.
Confesso que sou uma apaixonada por finais felizes, ou mesmo aqueles que como este deixam o “felizes para sempre” no ar. Confesso que tive certa resistência à literatura de um jornalista tão conhecido por seu trabalho frente às câmeras, temia que ela fosse factual demais. Puro preconceito, baseado na eterna busca pela objetividade jornalística. Mas fui vencida pela curiosidade quanto ao conteúdo daquelas páginas azuis. E arrebatada. Franz Kafka certa vez disse “Só deveríamos ler os livros que nos picam, e que nos mordem. Se o livro que lemos não nos desperta como um murro no crânio, para que lê-lo?”. Para mim, Vidas Provisórias foi assim, me mantendo acordada madrugada adentro.
VIDAS PROVISÓRIAS
Autor: Edney Silvestre Editora: Intrinseca Lançamento: 2013 Páginas: 240 Quanto custa: entre R$29,90 (impresso) e R$14,90 (digital)
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CRÔNICA MONIELLI BONATTO
Até o próximo carnaval! M
oço, você mesmo, esse de riso frouxo e olhos brilhantes. Só queria dizer que me apaixonei, assim que bati os olhos em você. Em meio a marchinhas de carnaval, gente suada, bêbada, pegação. Eu olhei pro lado e te vi, lindo, sorridente, seus cachinhos me roubaram o ar, que estou procurando até agora. Você estava sozinho, esperando seus amigos (como fiquei sabendo mais tarde), bebendo uma cervejinha e dançando num ritmo que só tocava na sua cabeça. Sua felicidade me contagiou e sua autenticidade me fez querer ficar e te observar pelo tempo que fosse. É moço, o carnaval tem dessas coisas, paixões repentinas e corações partidos a todo momento. Era o primeiro dia de festa, eu e minhas amigas tinhamos viajado para o Rio de Janeiro. Praia, calor e verão embalavam a nossa estada na cidade do samba e nós só queriamos saber de diversão. Nossa primeira aventura foi um bloquinho de rua, todas fantasiadas. Eu estava vestida de Pocahontas e você de índio. Engraçado como combinávámos, inclusive na fantasia. Quando você me viu, eu senti que você vinha falar comigo, mas seus amigos chegaram. Todos, também vestidos de índio formavam quase uma tribo de cariocas lindos e seminus. Logo, eu já não era mais a unica a admirar o grupo. Estavamos dançando e nos divertindo, afinal era carnaval. O dia passou lindo, cheio de fotos e novas amizades, que só durariam até o final da festa. Mas eu sou teimosa e não conseguia te tirar da cabeça. Fui para casa, a noite estava chegando e com ela uma outra festa. E, na festa do branco a última pessoa que eu pensei que veria era você. Mas, a vida nos prega
peças e mal a festa tinha começado e você veio me oferecer uma bebida. Até então eu não tinha te visto. À noite e na festa do branco todos os gatos eram pardos. Aceitei o drink e a companhia, conversamos a noite toda, dançamos, bebemos, rimos e marcamos uma praia para o outro dia. Acabou que a companhia que era apenas para o dia seguinte se tornou o romance do carnaval. Curtimos juntos todos os dias. Os beijos tinham gosto de sol, sal, praia, cerveja e promessas. É moço, você foi nos levar no aeroporto, lembra? As festas tinham acabado e a vida real nos esperava. E, além da tristeza já conhecida que o domingo nos traz, aquele domingo foi mais triste ainda. Lamentava deixar a cidade do calor de 40 graus, lamentava o final do carnaval e o maior lamento de todos era te deixar. Conversamos todos os dias durante alguns meses, as promessas eram muitas, porém a disponibilidade era pouca. Você, mêdico, sempre em plantões, trocando o dia pela noite. Eu, jornalista, sempre em plantões, trocando a vida pelo trabalho. Com o passar do tempo já não nos falavamos com tanta frequência, os dias de sol foram substituídos por dias de chuva. E você, meu moço, médico, índio, acabou sendo substituído também. Confesso que não te amo, creio que nunca te amei, mas gosto de você. A sua ausência me incomoda e lembrar daquela semana de carnaval faz apertar o coração. Eu sei que você não tem culpa, mas eu também não a tenho, as borboletas do meu estômago fugiram por conta própria. Mas, você sabe como é, se você quiser voltar e trazer as borboletas, eu estou te esperando no próximo carnaval.
Vestidos de índio, formavam quase uma tribo de cariocas lindos e seminus
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feito à mão Antonio Almeida
Mas que baita progresso!
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GRAV
dez
GRAVGRAV