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edição
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primeira mão Cultura & Entretenimento
Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes
O dilema do Capixabismo 18 Em Má Companhia
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A cultura dos editais
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O preconceito musical 6
E o rock na Ufes?
Primeira Mão | Julho de 2013
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Mรก Companhia de Teatro
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Capa
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Foto: Tadeu Bianconi / SETUR
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Perfil Stael Magesck
Entrevista Erly Vieira Jr.
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A cultura dos editais
chamada Quartas no Theatro
Cultura no Centro de Vitória
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Uma ferrovia de histórias
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Loucos por um bom som
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Editorial
A cultura e o jornalismo têm muito em comum. Pierre Bordieu, sociólogo francês, já falava que o jornalismo faz parte de um campo social denominado cultura que, por sua vez, está intrinsicamente ligado a dois outros campos: a política e a economia. Desconsiderar a existência e a importância de um desses campos é renunciar a própria existência na vida em sociedade. Assim como fazer jornalismo não é fácil, falar de cultura também não é. Exige-se pesquisa, entendimento de interesses políticos e econômicos, confronto de ideias e, principalmente, um mergulho, sem preconceitos, na diversidade de expressões culturais que existem mundo a fora. Após esse mergulho jornalístico, apresentamos a edição de Cultura & Entretenimento da Revista Primeira Mão feita por estudantes e para estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo. Editais de cultura tornaram-se assunto de grandes discussões. A cultura do estado, bem representada pelos extremismos capixabas, também não ficou de fora da roda. Música, teatro e dança ganharam espaços não apenas nos palcos, mas em páginas e mais páginas de nossa Revista. Esperamos a colaboração de vocês para melhorarmos cada vez mais. Boa leitura!
Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social - Jornalismo. Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 . Ano XXIV, número 134. Semestre 2012/2. Reportagem: Andressa Andrade Cecilia Moronari Cristian Favaro Edberg França Edézio Peterle Jéssica Lopes Rebel João Carlos F. Bastos
Karina Mauro Karoline Lyrio Letícia Comério Luiz Zardini Jr. Magalli Souza Lima Mariana Bolsoni Mariana Massariol Paula Gama
Samylla Estofel Andreão Tamires Mazin Vanessa Ferrari Viviann Barcelos
Diagramação: Cecilia Moronari Cristian Favaro Jéssica Lopes Rebel Magalli Souza Lima
Edição e Revisão: Luiz Zardini Jr. Vanessa Ferrari Viviann Barcelos
Créditos (capa): Imagem: Tadeu Bianconi / Secretaria de Turismo do Espírito Santo. Faixa amarela: http://nodiel-71.deviantart.com
expediente
Projeto Gráfico: Esther Radaelli Isabella Mariano Thaiana Gomes Viviane Machado
Primeira Mão
Professor Orientador: Rafael Paes Henriques Tiragem: 800 exemplares Impressão: Gráfica Universitária revistaprimeiramao @gmail.com
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ERFIL por KAROLINA LOPES
Foto: Divulgação Foto: Inglydy Rodrigues
PERFIL por LUIZ ZARDINI JR.
Stael Magesck
Artista, produtora cultural e estilista. Conheça um pouco sobre a idealizadora do Ateliê Casa Aberta – Espaço Moda & Arte, no Centro de Vitória
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os 10 anos de idade ela já participava de um grupo de teatro e tinha, em casa, sua própria galeria de arte com pinturas, desenhos de figurinos e artesanatos, que ela mesma produzia. Irreverente, Stael conta que o apoio da família foi fundamental para ela pudesse desenvolver o talento pelas artes. Para Stael, a mãe dela, Lenilda Magesck é uma fonte de inspiração. Aos 60 anos, Lenilda é fotógrafa e descobriu essa vocação aos 40 anos. Quando criança, Stael conta que a mãe tinha uma lojinha que vendia todos os tipos de materiais escolares e objetos dos quais utilizava para fazer arte em casa. “Minha mãe me dava todo o suporte para minhas criações. Tudo o que eu quisesse fazer, os materiais que eu precisasse, ela me dava”, relembra. Assim que mudou para o Centro, já estava em seus planos montar um ateliê e fazer do espaço um lugar dedicado à cultura, à moda, ao teatro e à dança. Um mutirão de pessoas ajudou nas reformas, que contou com intervenções em portas e janelas, pintura de paredes e móveis. Quando ficou pronto, o local vivia cheio de gente e já tinha vocação cultural. Em 2007, a pedido de amigos e familiares, a artista abriu sua casa para receber visitantes e mais tarde, o local foi batizado de Ateliê Casa Aberta – Espaço Moda & Arte. De lá para cá, Stael descobriu outra vocação: a de produtora cultural. O ateliê se tornou um espaço de eventos, com apresentações de teatro, dança, exposições de arte e desfiles de moda. Alguns eventos no local já chegaram a reunir cerca de 3 mil pessoas. Aliás, foi a partir daí, que resolveu cursar moda. Outra paixão de Stael é o samba. Ainda criança, desfilava nos blocos de rua e há 15 anos faz parte da Escola de Samba Imperatriz do Forte, que fica no Forte São João, em Vitória e, há 10 anos, é a madrinha de bateria da escola. “Tenho uma família no samba, formada por pessoas que amo muito e que fazem parte da minha vida. Desfilar como madrinha é um grande prazer”, conta. Dona de cinco gatos, Stael explica que eles são como filhos e que não sabe como seria viver sem a companhia deles. “Eles são muito carinhosos e demonstram isso todos os dias. Quando chego em casa, são eles que me recebem”, revela. Ansiosa, ela confessa que não consegue ficar parada. “Durante a semana, dou aulas de dança, de teatro, produzo peças de roupa, desfiles e eventos, faço intervenções em móveis e paredes do espaço, caminho e pratico yoga para trabalhar a respiração e o relaxamento. Essa é a minha mais recente descoberta”, diz a artista. Cheia de planos para o futuro, ela pretende fazer do Ateliê Casa Aberta um local de referência para a vida das pessoas. Ela conta que pretende abrir um café no local, já que o espaço recebe muitos visitantes, inclusive turistas, que ficam durante horas por lá. “Meu sonho é melhorar o espaço. Quero atrair mais pessoas e colaborar para tornar o Centro um lugar mais atrativo e vivo”, afirma. Stael Magesck é uma figurinha excêntrica e dificilmente passa despercebida por aí. Essa é uma das principais características dessa artista, que encanta com seu jeito próprio de vestir, fazer arte e dividir tudo isso com o próximo. Ateliê Casa Aberta – Espaço Moda & Arte Rua Sete de Setembro, 263, Centro – Vitória. Horário: Segunda a sexta-feira, das 12 às 19 horas e aos sábados, das 9 às 15 horas Facebook: Ateliê Casa Aberta Espaço Moda Arte Telefone: (27) 3026-9790 Primeira Mão | Julho de 2013
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ENTREVISTA por VIVIANN BARCELOS
Toda cultura é um
diálogo com seu tempo Movida pela produção e consumo, a classificação da cultura ainda gera preconceitos e estereótipos
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ock, axé, funk, pagode, sertanejo, forró, música eletrônica, hip-hop, rap, samba, música erudita, ópera... Afinal, será que tudo isso é cultura e manifestação artística? E, se for, qual delas é mais importante? Em um contexto de globalização, em que as manifestações e trocas culturais acontecem em tempo real, a dúvida sobre o que é cultura e o que é arte permeia o pensamento de muita gente. Por um lado, baseado em pensamentos de filósofos apocalípticos da Escola de Frankfurt, (Adorno e Horkheimer), muitos desconsideram a relevância da cultura de massa devido seu
caráter mercadológico, inserida na lógica de consumo da indústria cultural. Outros, no entanto, consideram cultura e arte tudo aquilo que expressa a subjetividade humana, sendo encontradas tanto nos becos de periferias quanto nos palcos de grandes espetáculos. Erly Vieira Júnior, doutor em Comunicação e Cultura e professor do departamento de Comunicação Social da Ufes, explica melhor os dilemas e peculiaridades existentes nas tribos culturais e os preconceitos gerados a partir da hierarquização da cultura.
O QUE É CULTURA? Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é.
Ilustração: Divulgação
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Virar os olhos para isso tudo e dizer que o funk é tudo porcaria é um extremismo bobo porque não produz nada. O importante é entender como se cria novas conexões, sentidos, possibilidades e formas de lidar com o mercado
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Quais são as barreiras existentes entre a cultura e a arte? Eu sou partidário daquele conceito de que cultura é um conjunto de costumes, hábitos, construções imaginárias, estéticas e sociais de um determinado grupo social em uma determinada época. Então, não faz sentido dizer que determinada manifestação não é cultural se ela se encaixa nisso. Ela pode não fazer parte de uma cultura “xis” instituída, mas pode fazer parte de outra. O funk carioca, por exemplo, pode não fazer parte de uma cultura de classe média, mas faz parte de outras; o tecnobrega pode não ser da cultura de classe média da região sudeste, mas faz parte da cultura das classes C, D e E do Pará que, inclusive, não é a única porque nós temos uma riqueza de gêneros e tribos no Pará que é surpreendente. Nessa lógica, a arte vai, paulatinamente, deixando de ser uma manifestação de cultura exclusiva das elites para, embebida na busca do novo, adquirir novas manifestações. A arte, portanto, tensiona os limites da cultura agindo em suas bordas, sendo este um dos principais fatores que ajuda a mudar o discurso do que é cultura historicamente. As pessoas utilizam muito o senso comum de cultura para falar “o funk não é cultura”, “o sertanejo não é cultura”, mas são gêneros que representam construções imaginárias, afetivas e sociais de diversos grupos sociais. É uma falácia que não nos
Foto: Karoline Lyrio
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permite olhar para o que tem de bom nisso. Tem coisas péssimas, assim como também tem grandes músicos da vanguarda que não são tão bons, mas, claro também tem coisas muito boa. A ideia de categorização das culturas ainda existe? Olha, a classificação das culturas nas categorias de popular, as mais tradicionais, associadas a artes ditas nobres e aquelas de forma mais massiva ainda existe. O que cabe questionar é justamente o estatuto que se dá para elas. Porque, se fazia sentido nos anos 40 e 50, falar da cultura de massa como algo alienante e produto do capitalismo, com o passar das décadas nós temos vários exemplos de construções culturais que surgem no seio da cultura de massa e que vão criando novas subjetividades, novas formas de lidar com o mundo e de pensá-lo. Se nós vivemos uma cultura de massa, onde a tudo é mercadológico e a informação, a imagem e a cultura são mercadorias tão preciosas e valorizadas, por que nós deviríamos virar as costas para a produção de massa? Claro que tem o lado de ser um produto pensado para o consumo pronto e amplo, porém, com o passar dos anos, nós temos práticas da cultura erudita, por exemplo, que são apropriadas pelos agentes da cultura de massa e pelos jovens que nasceram, cresceram e se identificam com essas culturas.
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Muitas vezes sim, porque, na maioria das vezes, essa é a função que a música assume na vida das pessoas. É o consumo no campo do entretenimento. Os aficionados buscam outras questões, assuntos e conhecimento a partir da experiência que a música provoca neles. A indústria cultural se apropria das tribos e suas expressões para o estímulo ao consumismo? Seria muito ingênuo nós não levarmos em consideração a dimensão mercadológica de todas as manifestações culturais que estão dentro do radar da indústria. Isso serve desde coisas que são para grandes segmentos até para coisas de segmentos independentes. Afinal, também existe uma indústria cultural da independência e daquilo que está fora dos circuitos, no qual nomes se repetem. Não tem como não levar isso em consideração. Questões de visibilidade, alcance e de apelo também são decisivas. Tem músicas, por exemplo, que tem o apelo popular muito forte. Uma música que tem um refrão fácil logicamente vai chegar as grandes massas, não importa se ela é dos Beatles ou do Michel Teló. Existem canções que tem estruturas formais bastante inovadoras, mas que deram certo junto à massa, assim como existem trabalhos que pareciam que iam acontecer, mas que não chegaram por questões de circulação, de exposição desses produtos, de alcance. Para cada Rihanna ou Lady Gaga que viram megas, existem várias outras que estão fazendo um pop em uma linha parecida e até mais ousada e sofisticada, mas que não tem a visibilidade delas e não chegam ao primeiro lugar das paradas. E quando você vai ouvi-las em um discoteca, por exemplo, você pensa que poderia ter acontecido, mas não aconteceu.
É comum na natureza do ser humano hierarquizar o que ele gosta e não gosta e criar juízos de valor. O que deve ser feito é pensar essa construção de gosto para não criar certos chavões e preconceitos
Por que essa categorização das culturas como aquelas que merecem mais valor e aquelas que até mesmo não são consideradas manifestações culturais ainda é tão difundida?
A desinformação é muito forte até porque muitas coisas ganham visibilidade por causa do lado mercadológico de barulho. Nos anos de 1993 a 1995, por exemplo, o funk carioca de protesto conseguiu fazer barulho no Brasil. Na virada dos anos 2000, foi o funk sexualizado que marcou a época e muita gente só passou a tomar conhecimento do funk a partir do Bonde do Tigrão, da Tati Quebra Barraco. A mesma coisa no sertanejo universitário atualmente: existe muita coisa que vende milhões e que tocam na rádio, tocam no Domingão do Faustão, mas também tem pessoas que produzem coisas diferentes. E fica muito mais fácil alguém falar mal de Paula Fernandes do que tentar ver aquele cara que mistura elementos do arrocha com ritmos regionais. As pessoas estão muito mais preocupadas em “curtir a música” do que nos elementos que a música traz, não é mesmo?
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Tem muita coisa que nasceu do movimento contracultura, mas se tornou hegemônica. O próprio movimento Hippie dos anos 60, que começa como um grande questionamento ao sistema, acaba se apropriando de umas demandas que existiam na indústria musical e se torna mega. Discos de artistas como Jimi Hendrix, Janis Joplin e The Doors venderam milhões. No Reino Unido, pelo menos uma em cada cinco casas tem o disco de “The Dark Side of the Moon”, do Pink Floyd. Se alguém questionar que essa é a cultura de massa de lá, é só lembrar que aqui no Brasil, em algum momento e em toda casa, você vai encontrar um disco do Roberto Carlos. Essas questões têm muito a ver com a maneira
pela qual o circuito se coloca no mercado. Uma grande discussão é sobre o Funk. Afinal, esse gênero musical é cultura ou não? No funk você tem uma lógica de sampleamento (pequenos trechos sonoros recortados de obras ou gravações pontuais para posterior reutilização em obra musical, não necessariamente no mesmo contexto do original) que é a mesma da música eletrônica, no hip- hop. A questão é que o sampleamento é muito mais anárquico, ou seja, eles não estão atrelados a um discurso de citação, como, por exemplos, o hip-hop americano. O funk nasce multicultural e bem pragmático. Desde os anos 70 existiam os grandes bailes funks que atraíam multidões nas periferias do Rio de Janeiro e tocavam majoritariamente música negra do período: funk e soul americano. A questão é que o funk americano foi mudando: no começo dos anos 80 ele se tornou um funk com mais sintetizadores e baterias eletrônica. O antropólogo Hermano Vianna, irmão do Herbert Vianna, na época estava fazendo sua dissertação de mestrado em Antropologia sobre aos bailes funks cariocas. Nessa pesquisa de campo ele foi se aproximando dos principais DJ’s, dos frequentadores, do DJ Malboro que, inclusive, comandava um dos principais bailes que atraíam 5 a 10 mil pessoas, por festa. E aí um belo dia ele teve a ideia de pegar uma bateria eletrônica que o irmão tinha encostada, ou seja, os Paralamas deviam ter comprado em alguma turnê e o instrumento não coube no som deles; e levou para o baile funk porque era uma bateria que o som americano, na época, também utilizava. Na noite que a bateria de som foi ligada no baile, conta-se que a pessoas ficaram empolgadas e dançavam. Dois anos depois, saiu o primeiro disco do
funk carioca porque a presença daquela bateria ali estimulou as pessoas a usarem aquelas programações eletrônicas e que tinham a ver com questões deles. No ínicio eram questões de uma malícia mais leve e depois essa cultura vai se complexificando: alguns artistas, nos anos 90, vão para uma área mais pop, outros para um funk melody romântico, outros ainda vão para uma questão mais politizada, como, por exemplo, o Rap do Silva e o Rap das Armas, outros vão para uma questão mais escancaradamente erótica e quase pornográfica. Hoje, nós chegamos ao ponto que temos o funk proibidão e o funk gospel. Virar os olhos para isso tudo e dizer que o funk é tudo porcaria é um extremismo bobo porque não produz nada. O importante é entender como se cria novas conexões, sentidos, possibilidades e formas de lidar com o mercado. O que fazer para não criar juízo de valor e, consequentemente, o preconceito e a discriminação em relação a toda essa diversidade cultural que existe? É comum na natureza do ser humano hierarquizar o que ele gosta e não gosta e criar juízos de valor. O que deve ser feito é pensar essa construção de gosto para não criar certos chavões e preconceitos. Eu lembro que no ínicio da década de 90, eu curtia o rock da época e tinha pavor do axé. Hoje percebo que os discos da banda de rock são os menos inspirados da carreira daquelas bandas, e vejo que os discos das bandas como o Oludum, Timbalada e Banda Mel eram muito bons; e levo verdadeiros tapas de construção sonora. O tempo, de certa forma, nos ajuda a diminuir certas birras.
O QUE É ARTE? Arte (do latim ars, significando técnica e/ou habilidade) é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada a partir da percepção, das emoções e das ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias da consciência e dando um significado único e diferente para cada obra.
DICAS JOÃO CARLOS FRAGA
O Centro de Vitória não morreu Veja algumas opções de cultura no centro de Vitória e aprecie sem moderação
Os Festivais
Foto: Divulgação
No Centro de Vitória há várias opções de festivais durante o ano inteiro. Na Rua Sete de Setembro, por exemplo, há o Cine Rua Sete. Projeto idealizado pelo cineasta capixaba Gui Castor, esse festival já virou tradição para a tradicional Rua do Centro de Vitória. O evento conta com amostra audiovisual de vários países. O festival não tem data definitiva para acontecer, mas as últimas edições ocorreram no segundo semestre. O Festival Nacional de Teatro, que é realizado desde 2005 e nos últimos anos aconteceu no mês de outubro, oferece peças teatrais locais e nacionais nos principais teatros de Vitória e ao ar livre, como na Praça Costa Pereira, no Centro. O evento é promovido pela Prefeitura de Vitória. Além dos espetáculos, há palestras e oficinas para a população. Essa festa das artes cênicas acontece durante uma semana inteira e deixa o centro da Capital bastante movimentada. Além do mais, há um festival ainda pouco conhecido entre o grande público: o Festival Cristão Avalanche de Artes. Em sua terceira edição, o evento promove um pensamento crítico utilizando diversas linguagens artísticas, como exposições, mostras de documentários e shows de bandas de todos os estilos. O evento é promovido pela ONG Avalanche Missões Urbanas, uma organização de cunho protestante, mas que não está sob uma única denominação religiosa. O festival deste ano foi realizado durante os dias 19, 20, 21 de julho e teve como tema “corrupção mata, a arte vivifica”.
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Theatro Carlos Gomes Desde a sua inauguração em 1927, o Theatro Carlos Gomes é considerado o mais importante do Espírito Santo e também o principal ponto de cultura do Centro de Vitória. Inspirado no teatro Scala, de Milão, na Itália, é uma dica importante para quem busca peças teatrais ou concertos musicais, como a apresentação da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo.
Foto: João Carlos Fraga
Samba da Xepa Conhecida como o berço da boemia capixaba, a Rua Sete de Setembro, no Centro da Capital, abriga o Samba da Xepa, um evento que começa sempre no final da feira da rua. Comandado por Edson Papo Furado, interprete da Escola de Samba Unidos da Piedade, o Samba da Xepa é um ponto de cultura, porque, além de reunir os principais sambistas do estado, apresenta a história do carnaval capixaba em um único lugar: aos pés do morro da Piedade. O Samba da Xepa é realizado todos os sábados, a partir das 11h, em qualquer lugar da Rua Sete. A apreciação é gratuita.
Foto: João Carlos Fraga
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Igrejas Históricas As igrejas no Centro da Capital são pontos culturais que combinam fé, história e arte. Algumas igrejas chegam a ter mais de 400 anos, além disso, elas guardam relíquias sacras e várias curiosidades, como o Convento de São Francisco, que além de ter sido o primeiro cemitério de Vitória, historiadores acreditam que os restos mortais do Frei Pedro Palácios, o construtor do Convento da Penha, possam estar enterrados no pátio central. As Igrejas de São Gonçalo, do Carmo, do Rosário, a Catedral Metropolitana e a Capela de Santa Luzia também fazem parte do Centro Histórico de Vitória. Em todas elas você encontra monitores para contar a história do local e do Espírito Santo. Eles estão lá das 8h às 17h e não precisa marcar horário. As entradas são gratuitas. Foto: João Carlos Fraga
Os Museus Se você busca exposições de obras de artistas locais, nacionais ou estrangeiros, saiba que no Centro de Vitória há três museus: o Museu do Negro (Mucane), Museu de Arte do Espírito Santo (MAES), e o Casarão dos Cerqueira Lima. O Mucane é um espaço localizado na Avenida República, próximo ao Parque Moscoso. É um espaço em homenagem aos descendentes e a população afro-brasileira, onde se promove e preservação a cultura negra. A entrada é gratuita. O MAES existe há 14 anos no Centro da Capital, na Avenida Jerônimo Monteiro. Está localizado em um prédio histórico de 80 anos. Lá já passaram exposições de grandes artistas, como Tarsila do Amaral, e gravuras de Hembrandt e Andy Warhol. Além disso, o Casarão da família Cerqueira Lima é o mais novo ponto de cultura do Centro. Localizado na Cidade Alta, recebe exposições artísticas de autores locais e nacionais. Durante os meses de agosto e setembro, acontece a exposição “Silente”, do artista plástico Júlio Tigre. O museu fica aberto de terça a domingo, das 8h às 17h. Foto: João Carlos Fraga
FAFI A Escola Técnica de Teatro, Dança e Música – Fafi, é um local onde, além de apreciar as artes e a cultura, é possível ser um participante ativo. Localizada em um prédio histórico projetado pelo arquiteto tcheco-eslovaco Josef Pitlik, na Avenida Jerônimo Monteiro, a escola oferece, ao longo de todo ano, cursos de qualificação e atividades regulares de teatro e dança que vão do nível básico ao profissional, além de oficinas livres de músicas. Algumas atividades são gratuitas. A Fafi funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h e aos sábados, das 8h às 17h. Foto: João Carlos Fraga
Cultura
ENTRETENIMENTO EDÉZIO PETERLE e TAMIRES MAZIN
no meio
da semana Foto: Tamires Mazin
Projeto Quartas no Theatro Carlos Gomes seleciona espetáculos de música, dança e teatro para apresentações no palco mais famoso do Espírito Santo
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em sabe-se da importância da arte para promoção da cidadania. Com a consciência disso, desde 2011, as quartas-feiras tornaram-se diferentes, por meio de apresentações de música erudita, música popular, teatro e dança no Carlos Gomes. O projeto Quartas no Theatro propõe divulgar, aos capixabas, aquilo que é produzido no estado, contemplando grupos que, embora tenham a carreira consolidada, não possuem espaços de visibilidade. A seleção dos grupos para o projeto é realizada por meio de um edital realizado pela Secretaria de Cultura do Espírito Santo (Secult). Para concorrer a uma vaga na programação dos espetáculos, é preciso que todos os integrantes das apresentações sejam maiores de idade, residam no estado há mais de um ano e estejam em constante produção e aperfeiçoamento de sua arte. Álvaro Leal é coordenador de um dos grupos selecionado no edital deste ano, a Companhia Kerigma Casa de Dança. Ele afirma que apresentar-se no tradicional Theatro Carlos Gomes, faz com que qualquer grupo sinta-se parte da história do espaço. “O projeto Quartas no Theatro agrega ao público e aos artistas um nível de excelência cultural. Imagina grupos de várias linguagens artísticas dividindo o palco do teatro mais imponente do estado? É isso que acontece naquelas quartas-feiras. Levar aos espectadores produções capixabas, valorizar os artistas, viabilizar suas obras por preço acessível e aproximar a sociedade da arte é um verdadeiro diálogo entre o público e o artista”.
Além da oportunidade de apresentar os trabalhos, ganhar divulgação e dispor da infraestrutura do Carlos Gomes, as companhias também recebem um cachê que possibilita a manutenção das atividades dos grupos. A edição 2013 contemplou 26 grupos para compor um variado cardápio cultural, cujas apresentações vão até dezembro. Foram 80 inscrições, sendo 14 de teatro, 08 de dança e 61 de música. “Pretendemos, em 2014, levar o projeto para os palcos dos teatros do interior do estado, e descentralizar os investimentos e ações hoje realizadas somente na Grande Vitória. Queremos manter a característica do projeto, que são a difusão dos bens culturais do Espírito Santo, a democratização do acesso da população à cultura e o incentivo à criação e profissionalização de um mercado com ampla geração de emprego e renda. Mas a ideia é ampliá-lo, de fato, para todo o estado”, afirma Vinícius Fábio Ferreira, que compõe a coordenação de difusão e intercâmbio da Secult. A bombeiro militar, Ludmila Rodrigues foi ao teatro pela primeira vez em uma apresentação do projeto Quartas no Theatro e saiu satisfeita com o que viu. “O espetáculo foi muito bom. Esse projeto é sensacional: possibilita o lazer, a diversão e a inclusão. Com certeza, voltarei mais vezes”. As peças são apresentadas às quartas, às 19h. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro a partir das 14h do dia das apresentações, e custam R$ 2, a inteira, e R$ 1 a meia entrada. Primeira Mão | Julho de 2013
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Cultura,
SOCIEDADE MAGALLI SOUZA LIMA e LETÍCIA COMÉRIO
para além de um negócio, a identidade de um povo O incentivo à produção cultural, por meio de editais promovidos pelo poder público e também pela iniciativa privada, é hoje um grande aliado da produção artística brasileira, e um constante sistemas de discussões.
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presas privadas e de pessoas físicas, para que essas invistam em projetos culturais. Esta forma de financiamento se chama Mecenato, também conhecida como a Lei Rouanet, criada em 1991.
Nasce assim, o financiamento por meio de editais, com a finalidade de democratizar o acesso do público não só à cultura, mas à produção desse bem. Desde a sua criação, em 1985, o Ministério da Cultura (MinC) fomenta editais de livre concorrência, em que o Estado investe diretamente no setor e também abre mão de parte dos impostos de em-
Os editais são processos seletivos que estabelecem regras para que os produtores, os agentes e as pessoas interessadas em produzir, recebam condições financeiras para por em prática seus projetos. Os interessados inscrevem-se nos programas do Governo e passam por uma longa e rígida banca de seleção e, se aprovados, recebem o aval do financiamento. Há três formas de editais, os exclusivamente públicos, onde o dinheiro é retirado diretamente do Fundo Nacional ou Municipal de Cultura. Os híbridos, em que parte da renda é do Governo, e outra parte vem da iniciativa privada. E os exclusivamente privados, em que as instituições se responsabilizam pela iniciativa.
cultura, desde há muito tempo, ganhou uma grande abrangência dentro das sociedades. Além de ser o conjunto de valores de um povo, o contexto, a história e o reconhecimento do homem de cada canto, ela passou a ser também um meio de inclusão social e de desenvolvimento da consciência cidadã. Diante disso, seu valor é mais do que inestimável em meio ao contexto social contemporâneo. É por isso que promover a cultura se tornou uma atividade constantemente incentivada por governos.
Discutindo e destrinchando os editais A abrangência e a eficácia dos editais são notáveis nos dias de hoje, existem mais pessoas produzindo e o fomento da cultura só cresce. Entretanto, é necessário pontuar o que ainda é preciso ser repensado nesse sistema, para que se chegue à resultados mais eficazes nesse tipo de financiamento. A grande questão que ainda gera muitas discussões é a distribuição de políticas de financiamento por todo o Brasil, o que faria jus à diversidade cultural do país. Porém não é isso o que vemos hoje. “O problema é ter a certeza de que os projetos que são financiados e chegam ao fim ainda permanecem no eixo mais desenvolvido: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, entre outros”, afirma a especialista em arte, cultura e educação, Rosana Lucia Paste.
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Ilustração: Divulgação
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Uma das razões para que existam mais projetos aprovados e realizados nos locais apontados por Rosana, é o fato de que a concentração de empresas por lá é muito superior a quantidade de instituições nas pequenas capitais. Consequentemente, a possibilidade de um produtor conseguir realizar um projeto em grandes capitais, é maior do que em cidades menores, já que os editais que mais são ofertados ao público, são os híbridos.
tista que, agora, também é o gerenciador e o produtor de seus próprios projetos. Para isso, exige-se uma visão mais estratégica, com gestão de sua própria carreira. O grande desafio é proporcionar que esse artista viva unicamente de sua arte, algo ainda muito distante da realidade do nosso país, onde os novos atores culturais estão envolvidos em diversas outras áreas a fim de garantir o sustento de seus projetos artísticos.
Uma das soluções para esse impasse, seria um maior investimento de editais que não usem o incentivo fiscal, mas sim a verba do Fundo Nacional de Cultura (FNC). Outro problema que circunda a política dos editais está nos interesses comerciais da empresas privadas que priorizam projetos rentáveis economicamente e que tem potencial de gerar “boa imagem” para a empresa. Nessa lógica, elas recusam muitos trabalhos com o aval para captar os recursos financeiros.
De acordo com Rosana Paste, é possível que, no futuro, os artistas alcancem essa independência , mas no momento é preciso criar alternativas para que a produção cultural seja um modo de vida. E o que ela aponta como meio de produzir, distribuir e criar público consumidor de cultura são os coletivos culturais. “Acho que os coletivos têm dado certo, pois dividi-se o trabalho, todos aprendem, e os projetos se fortalecem. Entendo também que não é só produzir cultura, mas sim distribuir o produto”.
Rosana Paste é favorável a mudança nesse sentido: “É importante educar as empresas para que elas saibam o que é o lucro presumido, o que é troca de bônus, qual o valor de ter seu nome em um trabalho cultural. Participei de um projeto aprovado por uma lei de incentivo a cultura, mas não conseguimos empresas que quisessem aderir aqui no Espírito Santo. E todo projeto aprovado tem seu prazo para execução, se não conseguir aprovação caduca, foi o que aconteceu”. Uma das sugestões da especialista é que os órgãos públicos dialoguem com as empresas para que se estabeleça um acordo que vá além das expectativas financeiras dessas instituições.
A valorização do artista nesse meio de incentivo que envolve a cultura e a economia, também não pode ser deixada de lado, assim como a discussão recorrente sobre se há a possibilidade de o artista se tornar dependente de incentivos financeiros. Questões que precisam ser analisadas e aprofundadas. Para Rosana Paste, tudo é uma questão de retroalimentação, o artista só recebe apoio se for bom e seu projeto for relevante. “Se ele produz e distribui, ele tem muito mais chance de ficar melhor ainda, e assim conseguir ter outros projetos aprovados. Com este raciocínio acho que é sempre positivo. O que temos que ficar alerta, são com as comissões de julgamento dos projetos, pois estes sim tem que mudar, para que não se torne vicioso o processo e a escolha”, argumenta.
A forma contemporânea de financiar a cultura por meio de editais também traz uma nova visão de ar-
OS PROGRAMAS DE INCENTIVO NO ESPÍRITO SANTO Lei Rubem Braga (Vitória, 1991), usa o modelo de incentivo fiscal do Mecenato, atende a 17 áreas. Investe anualmente cerca de R$ 3 milhões em mais de 100 projetos. Lei Chico Prego (Serra, 1999) usa o modelo de incentivo fiscal do Mecenato. Aprova anualmente cerca de cinquenta projetos e investe R$ 900 mil. Editais da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) usa os recursos do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura). Beneficia 11 áreas e 41 modalidades de projetos, investindo anualmente cerca de R$ 8,5 milhões. Programa Rede Cultura Jovem, organizado pela Secult e pelo Instituto de Ação Social e Cultural (Sincades), oferece editais voltados para a criação cultural por parte do jovem.
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A opinião de quem faz parte Já que as discussões que envolvem o financiamento da cultura no Brasil são contínuas e merecem mais atenção, convidamos alguns dos agentes, produtores e/ou atuantes na cena cultural capixaba para apresentar suas opiniões sobre algumas das questões que foram apresentadas aqui, como a valorização do artista nesse processo, a dependência ou não, da produção cultural com os editais e como eles vêem essa cena atual de produção incentivada por Governos e empresas. Saiba o que eles pensam sobre isso. Ilustração: Divulgação
Vitor Lopes – Jornalista, Mestrando em literatura, cultura e contemporaneidade pela PUC-Rio; atua na área cultural de Vitória há 12 anos; um dos integrantes da formulação do Plano Municipal de Cultura da Cidade de Vitória
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No Brasil, a política de financiamento é essencial para o andamento da cultura, já que o mercado aberto não consegue, ou não quer, dar vazão às atividades culturais/artísticas. E os editais podem incentivar produções artísticas que não necessitem dialogar com o mercado. Sobre a valorização do artista, na contemporaneidade, é cada vez mais exigido que ele seja não só o criador artístico, mas também o produtor, o divulgador e o articulador de suas produções. Nesse ponto, podemos dizer que os editais implicam em novas sensações. Mas em alguns casos, o artista não é alguém que domina escrever um projeto, já que muitos editais acabam por premiar não um bom projeto, mas sim um bom projeto escrito. Os editais valorizam o artista na medida em que proporcionam a continuidade de uma obra, mas também pode não ajudá-lo se ele se deter muito nos aspectos formais. E na perspectiva de dependência, é importante o artista ter noção de que o edital não deve ser o seu único meio de financiamento, devendo diversificar a sua fonte de contato. Ser inteiramente dependente de editais pode aprisionar o artista/produtor”.
Daniel Morelo – Vocalista da Banda Adiós, Me Voy; articulador cultural e produtor do Assédio Coletivo
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Se esses financiamentos fossem complementares a vida do artista, ou seja, se ele tivesse locais para apresentar, vender e difundir sua arte pelo próprio mercado consumidor, talvez eles seriam perfeitos do jeito que estão. Entretanto, o fato é que essas leis viraram a fonte de lavagem de dinheiro de alguns políticos, muitos artistas usam as verbas para pagarem gastos pessoais da vida. Isso falando de uma parcela de artistas novos e sem mercado. Colocam os artistas reféns de editais para conseguirem viver. Os processos excluem as classes carentes (exceto os editais voltados para classe carente), devido à altíssima demanda de documentação exigida, sem falar na competitividade entre os projetos. Antes o artista se preocupava em mostrar sua linguagem e estética, hoje a preocupação passa por escrever projetos, planilhas, relatórios e resultados. Sobre a valorização do artista, pelo governo, eu não acredito, pois quase todos os editais não financiam integralmente os projetos, e sim parcialmente. Ou seja, o governo dá um empurrão, mas não suficiente. E sobre a possível dependência do artista para com os editais, acredito que sim, exista e é negativa. Mas é o que tem hoje”.
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Erly Viera Jr – Professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo; cineasta
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Os editais tem problemas, eles não contemplam a demanda de algumas áreas, mas pelo menos ainda é um formato muito maior do que uso de lei de incentivo e do patrocínio direto. Esses dois últimos concentram os projetos mais tradicionais e com apelo elevadamente mercadológico. Eu sou daqueles que acha um absurdo cantores do mais alto escalão lançarem DVD’s e CD’s com o dinheiro do editais. Afinal, existem projetos independentes que estão tentando se lançar, e não conseguem. Outra crítica que faço é sobre o formato do editais aqui no estado: quem representa a sociedade civil nos editais é o Conselho Estadual de Cultura, ele tem câmaras de diversas áreas, porém quem tem acesso a elas, são as entidades, e algumas não são realmente representativas. E a respeito da valorização do artista, sei que ele passa pelo processo de ajustar seu projeto ao que o edital pede, e isso é normal. Talvez a ação que você vai fazer com aquele edital, te permita fazer com o próprio recurso outras coisas que você não faria. Então não sei se existe essa coisa de criticar que o artista não é valorizado, porque o resultado a gente vê aí, a maioria dos projetos são vistos e circulam. Já sobre dependência, a questão maior nem é tanto a acomodação do artista, mas sim o crescimento da produção cultural, que está assustadoramente maior. As pessoas começaram a se sentir estimuladas, e viram, inclusive, que as comissões são idôneas, até por terem no máximo um representante do Estado, na maioria das vezes. E tem várias áreas nas quais não tem como o artista tirar o recurso do próprio bolso. Acredito que as propostas que não criam mercado merecem que a gente pense, sem a influência desse ranço capitalista, nos benefícios que elas trazem”.
Amanda Brommonschenkel – Publicitária, articuladora cultural e produtora do Assédio Coletivo
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Atuo há pouco tempo na área de gestão cultural e inscrição de projetos em editais públicos e, já consigo perceber que este processo de seleção pode ser democrático mas não se sustenta sozinho. É necessário que haja uma política de formação, incentivo e divulgação que contemple a diversidade dos possíveis inscritos, tornando o edital uma real possibilidade para os interessados. Já a valorização no sentido de remuneração, da realidade que eu acompanho o artista tende a fazer o recurso render o máximo possível. Acredito que a lógica esteja equivocada, mas a “valorização” do artista não está somente, e diretamente, ligada a este mecanismo de financiamento, o real problema é ele ser o único meio com o qual o artista se financia. E sobre a dependência, não acho positiva, mas ela não pode ser encarada apenas dessa forma. O que está causando esta dita “dependência”? Para ampliar os horizontes de financiamento dos artistas acredito que precisemos do auxílio do poder público para sensibilizar o setor privado e a sociedade, apresentando e reforçando a importância do investimento no setor cultural para o desenvolvimento da própria cultura local, da sociedade e da economia dos territórios”.
Ilustração: Divulgação
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SOCIEDADE CECILIA MORONARI, CRISTIAN FAVARO e MARIANA MASSARIOL
A identidade capixaba é...
“Identidade tem que ser como o ar. Você não para pra discutir: Cadê o ar? Eu estou respirando ar? Não, você respira. E assim é a identidade. Você a vivencia, não precisa ficar tendo grandes embates sobre ela”.
Foto: Divulgação
“[Tessália]: Adauto! põe dendê ou não põe dendê? Eu prefiro moqueca baiana mesmo. [Adauto]: Eu também, mas se colocar dendê a Muricy vai chiar, vai dizer que dá estria, entendeu? [Tessália]: Então a gente faz a capixaba mesmo. Fica meio sem gosto, mas né?!”.
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tacaram um dos maiores elementos da cultura capixaba!
Vários veículos de comunicação noticiaram essa cena da novela Avenida Brasil, da Rede Globo, como uma afronta à cultura aqui do Espírito Santo. Algumas pessoas acharam um absurdo a persona-
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gem falar que não gostava da moqueca capixaba. Poucos dias depois de a cena ir ao ar, a atriz Débora Nascimento, que interpretou a Tessália, foi convidada para desfilar em um evento de moda, realizado em Vitória. E a pergunta que estava nos bloquinhos de quase todos os jornalistas nessa hora era: Débora, você gosta da moqueca capixaba? Para muitos, é estranho como o gosto de uma personagem de ficção conseguiu gerar tanta polêmica, e casos como esse, nos fazem questionar a nossa identidade. Será que existe algum símbolo que nos representa tal qual o samba para o Rio de Janeiro, o axé para a Bahia ou o pão de queijo para Minas Gerais?
Era uma manhã nublada e com um tempo frio, atípico ao da ilha de Vitória, em meio às ruas que formam verdadeiros labirintos, com suas avenidas e praças – idênticas – do bairro Jardim da Penha, encontramos a casa do professor Adilson Vilaça, mestre em Estudos Literários pela Ufes, para um bate-papo sobre a cultura no Espírito Santo e sua identidade. Ele, que é natural de Minas Gerais, disse que quando veio para o Espírito Santo, havia um debate estranho fundamentado no mito de que o capixaba não tinha identidade. Para ele, “isso é impossível. Qualquer povo tem sua identidade cultural. Isso é inegável”.
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Mídia e identidade cultural Logo ao lado da redação fria e acinzentada do telejornalismo da TV Tribuna, um espaço se destoa. Vários cartazes e pôsteres na parede. Tudo muito colorido. Estamos na sala do programa Ponto Cult para conversar com o jornalista e editor do programa, Antonio Cezar Martins, sobre a forma e as dificuldades de abordar a cultura capixaba na mídia local.
Boa parte das regiões do Brasil possui uma marca característica, como a fisionomia e o sotaque do pernambucano ou do baiano. ‘No caso do Espírito Santo, é verdade, não há”, afirma o professor
A premissa de que o capixaba não tinha identidade se baseava no fato de não haver uma homogeneidade na nossa cultura. Boa parte das regiões do Brasil possui uma marca característica, como a fisionomia e o sotaque do pernambucano ou do baiano. “No caso do Espírito Santo, é verdade, não há”, afirma o professor.
Mas isso seria um sinal de falta de cultura? De falta de identidade? Não, claro que não. Segundo o professor, a identidade aqui se caracteriza pela diversidade e é isso o que a torna, inclusive, muito rica. Porque ao invés dela se manifestar apenas pelo movimento indígena ou exclusivamente pelo movimento afrodescendente, aqui se agregam também os descendentes de italianos, alemães, árabes e vários outros. “Você vai a um restaurante self-service e encontra lasanha junto com feijão tropeiro. Está tudo junto e, às vezes, as pessoas colocam tudo isso no prato e comem na maior naturalidade e ninguém pensa sobre isso, afinal, é característico daqui. Identidade tem que ser como o ar. Você não para pra discutir: Cadê o ar? Eu estou respirando ar? Não, você respira. E assim é a identidade. Você a vivencia, não precisa ficar tendo grandes embates sobre ela. Às vezes, ela escapa exatamente quando as pessoas ficam buscando as idealizações”, pontua Vilaça. É claro que a nossa identidade tem peculiaridades que outros estados não têm. Adilson pontua que elas estão explícitas até no meio político formal. Por exemplo, o nosso atual governador é descendente de italianos. Casagrande foi uma grande família da Itália que se espalhou pelo mundo. O governador anterior a ele, Paulo Hartung – que em alemão se fala “Rártung” – é descendente de família alemã. Antes dele, José Ignácio Ferreira foi um governador de ascendência portuguesa. Victor Buaiz, era descendente de libaneses. O anterior, Albuíno Azeredo, foi um dos primeiros governadores negros eleito no Brasil. “Veja bem, se olharmos pra outros estados não encontramos esse rodízio. Ele é bem específico do Espírito Santo”.
Para ele, o próprio programa já começou em um ambiente hostil. A Rede Tribuna é uma emissora que não tem tradição na área cultural. “Falando de jornalismo cultural, aqui nunca teve nada além do AT2 (caderno de cultura e entretenimento do jornal A Tribuna). Na TV Tribuna, em específico, nunca teve. Para muita gente é estranho ver um programa de cultura na Tribuna”, afirma o jornalista.
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O programa busca ser uma vitrine para a cultura local. No momento de expor essa cultura, Antonio Cezar parte do pressuposto de que está em um programa local, em uma emissora de TV local e que, por isso, não precisa ficar o tempo inteiro reforçando que o entrevistado é capixaba. “Se um artista vai para Holanda, eu não preciso falar que o artista capixaba vai para lá. Eu não tenho porque localizar um camarada que é daqui, porque a emissora é daqui. O foco da notícia já é outro”, esclarece Antonio Cezar.
Os símbolos capixabas Quando pensamos no que é ser capixaba, as primeiras referências que costumam vir à mente são: “capixaba não tem sotaque”, “moqueca capixaba”, “pocar”, entre outros. Se fizermos essa pergunta para as pessoas de outros estados, corremos o risco de ouvir “não sei direito o que caracteriza o capixaba” ou, muitas vezes, nos deparamos com a máxima: “já ouvi falar da moqueca”. Além disso, o pensamento viaja entre referências da cultura do estado, como o Convento da Penha e o congo. Esses pensamentos fazem parte da representação do capixaba e do Espírito Santo na sociedade. Estaria esta representação correta? Isso realmente define quem somos? Difícil dizer. Ouvimos diversas vezes que música capixaba é o congo e que a comida é a moqueca. São esses os elementos conhecidos como nossa cultura “popular”. Já é problemático definir e conceituar o que é popular. Quantas vezes por mês uma família do Espírito Santo come moqueca? Estariam presentes esses traços da cultura capixaba em nosso dia-a-dia. Primeira Mão | Julho de 2013
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Sobre a temática do congo, Antonio Cezar discorda que esse ritmo seja uma marca característica do Espírito Santo. Segundo ele, tentaram inserir o congo fortemente aqui no estado. Ele sempre existiu, mas era característico de algumas localidades, não era um marco capixaba. Foi somente com o surgimento de bandas que fizeram sucesso misturando o congo com diversos gêneros musicias, como Casaca e Manimal, no final dos anos 90, que a indústria cultura como um todo, abriu os olhos para o estilo. “E eu lembro muito bem que, a partir disso, vários especialistas em congo apareceram falando que isso era a marca do estado. Com isso, tentou-se levantar a bandeira do congo como o grande movimento cultural capixaba. Não vingou. Você pergunta para uma criança capixaba o que é congo e, provavelmente, eles não vão saber. Diferente de perguntar para uma criança no Recife o que é frevo. É provável que essa criança até dance pra você!”.
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a moqueca e o congo, sendo que eles não representam a cultura regional em toda sua totalidade? Para Adilson, nesse ponto, vamos para uma questão perigosa da identidade, um elemento em particular: o provincianismo. Ele se revela um componente de atraso. Ter identidade é bom para você se conhecer, constituir-se como povo. O provincianismo não, “é você querer se realçar, às vezes, fazendo até o etnocentrismo reverso. Você valoriza o que é de fora, em detrimento do que é local. O provincianismo é péssimo. Mas ele nos revela como caipiras; ele é próprio de grupos que ficaram isolados”, acrescenta o professor Vilaça.
Muitas pessoas falam que o capixaba não sabe o que é. Você pode falar isso de duas formas: de uma forma ruim ou ‘o capixaba não sabe se é mineiro, se é carioca, se é baiano. Que bom!
O jornalista reforça que dizer que música capixaba é o congo não é uma verdade. É muito menos verdade dizer que esse ritmo surgiu aqui. A mesma batida do congo existe em vários outros estados. “Algumas pessoas falam que a daqui é diferente, que tem uma pegada diferente. Nada, é tudo a mesma coisa”. E até antes desse apoio ao congo, existiram vários outros grupos, como a banda Dead Fish, que faziam um bom trabalho e que, não necessariamente, utilizavam esses traços da cultura capixaba e que não são vistos como partes da nossa cultura.
A origem da Província O Espírito Santo ficou isolado por muito tempo. A princípio, pela coroa portuguesa. O Estado foi um escudo natural para Minas Gerais. “Os piratas imaginaram que o ouro sairia pelo porto de Vitória, mas, quando eles atacavam a cidade, não encontravam ouro nenhum. Foi criada uma estrada secreta, a Estrada Real, que levava o ouro para Paraty”, esclarece o professor Adilson Vilaça. Adilson ainda reforça que a falta de estrutura era tão grande, que até 1928, para atravessar o Rio Doce, a única alternativa era recorrer ao barco. Com isso, nossa população ficou pequena. “Nós temos apenas 3,5 milhões de habitantes. Isso fez a gente valorizar muito as coisas que são de fora e não conseguir constituir coisas que temos aqui no estado. Por exemplo, nós não temos futebol, ele já foi razoável e hoje nem é mais. E as pessoas começaram a sair do estado, voltavam torcedores do Vasco, do Flamengo. Com o tempo, e a globalização, surgiram torcedores do Barcelona, Real Madri, mas é difícil encontrar torcedores da Desportiva”. Será esse o motivo para endeusarmos ícones como
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O provincianismo e a mídia capixaba “O artista capixaba ganhou um prêmio muito importante...”, “o cantor capixaba participou de um festival...”. Quem nunca leu ou ouviu esse tipo de sentença em veículo de comunicação? Esse tipo de notícia transparece uma interpretação de que o fato do artista ser capixaba é mais importante do que o próprio feito. Antonio Cezar Martins reconhece que, no caso da fofoca, o fato de ser capixaba é realmente mais relevante do que o feito (por exemplo, a capixaba que tem um relacionamento com o Zezé de Camargo da dupla Zezé de Camargo e Luciano). Mas, ele destaca que a abordagem da cultura local, quando relacionada à produção cultural, é mais complicada. A grande questão que ele destaca é que, às vezes, o termo capixaba não é tido como critério de noticiabilidade. Alguns fatos são ignorados e pessoas ganham destaque apenas por serem capixabas. “Você falar isso [Exemplo: ‘a capixaba Flávia Mendonça’] num título é uma coisa, agora você começar uma matéria dizendo que a pessoa é capixaba não é positivo. É como se isso fosse mais importante do que tudo que ela tenha feito. A minha leitura seria diferente, a informação sobre de onde ela é entraria no meio do texto, como uma informação a mais, e não como a informação mais importante”. Com relação à frase “Moqueca, só capixaba. O resto é peixada”, do jornalista e escritor Cacau Monjardim, o professor Vilaça afirma que ela é um elemento de propaganda e não uma regra. “Ela está no plano do enaltecimento. Não é um carimbo de uma autoridade divina que diz que moqueca é capixaba e o resto é peixada! Não é isso. Isso é característica do provincianismo. É uma questão de gosto”. O capixaba tenta encontrar seu elemento de destaque criando alguns termos, e esses termos viram conceitos que não têm razão de existir. Essa mania de adjetivar a cultura tem dois problemas. Tentar
Foto: Tadeu Bianconi / SETUR
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Foto: Tadeu Bianconi / SETUR
adjetivar para o bem, ou para o mal. “Imagine a situação: Você entra em uma livraria, pergunta se tem obras do Autor Pedro Nunes. O atendente pode dizer que sim, dizer que a literatura capixaba fica no beco tal, lugar X. Esse cara qualificou essa literatura como um plano B. Mas, você também pode chegar numa livraria e o atendente dizer que tem um lugar só para a literatura capixaba, um lugar de destaque. Todos os dois modos que estão habitando extremos diferentes, não são da normalidade. O normal é a literatura capixaba estar entre as literaturas produzidas pelo Brasil, do mesmo jeito que os mineiros, paulistas, etc. Qual o motivo de você colocar a literatura capixaba num canto ou no outro? Você está considerando ela toda ruim? Ou você quer dizer que ela tem algo a mais que as outras? Os dois estão errados”, defende Adilson Vilaça. O professor completa alegando que é válido dar destaque aos artistas que fazem um bom trabalho e que dialogam com elementos do estado. “Se você fez um trabalho bem feito você será valorizado. Da mesma forma que uma música de axé bem feita será valorizada na Bahia e as outras não. Essa primazia pode acontecer quando ela tem justificativa de acontecer. Os Beatles não precisaram sair por ai falando que eram ingleses. Eles queriam ser menos ingleses e mais cidadãos do mundo” afirma Adilson. Antonio finaliza dizendo que, para ele, a falta dessa identidade é legal para o capixaba. Isso lhes dá li-
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berdade para ser o que quiserem. “Muitas pessoas falam que o capixaba não sabe o que é. Você pode falar isso de duas formas: de uma forma ruim ou ‘o capixaba não sabe se é mineiro, se é carioca, se é baiano. Que bom!’”. Por isso que quando eu digo que se eu fosse ilustrar a identidade capixaba eu ilustraria com uma bandeira branca. Repito, não falando mal. É super bacana, ele pode ser o que ele quiser. Afinal, branco é a junção de todas as cores”, pondera. E para finalizar a conversa, Adilson Vilaça usa uma frase que já foi atribuída a muita gente e que ele não tem certeza da procedência, mas parafraseia da seguinte forma: “Quando você trata da sua aldeia, canta a sua aldeia com a tendência a levá-la ao global, você está fazendo um bom serviço para ela. Se você faz isso bem, ao cantar sua aldeia, você canta o mundo; se você escreve sua aldeia, você escreve sobre o mundo. Para isso, você precisa estar ligado ao mundo, não só com sua aldeia. Se você ficar ligado somente a sua aldeia, você estará fazendo o provincianismo. Você tem que cantar os valores locais, escrever sobre eles, mas sempre sabendo que há uma congregação humana maior e que você precisa ter uma afinidade. Se você olhar para o seu próprio umbigo você não tem essa ligação. Aí sim você precisa apelar: ‘Eu sou do meu umbigo, preciso de destaque’”. Mas vamos fazer isso com prudência, vamos deixar os baianos serem felizes com o azeite deles.
COMPORTAMENTO PAULA GAMA e VANESSA FERRARI
Os rocks na Ufes têm volta?
Foto: Divulgação
Pensando no lazer e na oportunidade para bandas locais, Universidade pretende voltar a permitir festas no campus
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s tradicionais rocks na Ufes vão voltar! O Conselho Universitário está elaborando uma nova resolução de eventos dentro do Campus. Este documento vai regularizar as festas para que não ocorram situações de risco, que comprometam a integridade física dos frequentadores e nem a imagem da Universidade perante a sociedade. A regulamentação não tem data certa para ser publicada, mas é de interesse do Conselho que a Universidade volte a ter eventos culturais, principalmente pelo fato de ela ser considerada berço e palco de muitas bandas independentes. Desde 1980, os alunos organizam festas dentro da Ufes com objetivo de reunir os amigos e extravasar. Era uma diversão barata que abria espaço para bandas, muitas vezes formadas por estudantes, mostrarem seu trabalho. Quem frequentava a Rua da Lama, era chamado pelo som vindo da Universidade e assim, as festas foram ficando famosas e mais movimentadas. Com as redes sociais, os eventos se tornaram ainda maiores. Os convites, que antes eram feitos boca a boca, se tornaram amplamente
divulgados, atraindo todo tipo de público, inclusive menores de idade. Os eventos começaram a ser regulamentados em 1982, quando o conselho atribuiu algumas normas para realização de eventos. Entre elas, a proibição de venda e consumo de bebida alcoólica e festas para fins comerciais. Somente em 2008, uma nova resolução determinou a obrigatoriedade de contratação de seguranças por parte dos organizadores, na proporção do tamanho do evento. Porém, a maioria dos organizadores desrespeitava essas normas.
Porque as festas foram proibidas Segundo o Diretor do Departamento de Segurança e Logística da Ufes, Anival Luiz dos Santos, muitas festas tinham presença de menores, traficantes, usuários de drogas e pichadores. Os eventos não respeitavam a regulamentação e muitas vezes não Primeira Mão | Julho de 2013
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tinham nem autorização para acontecer. Anival afirma que “o receio do Conselho Universitário é que a Ufes se torne um local de disputa entre traficantes. Existem aqueles estudantes mal intencionados que se juntam com alguém de fora pra ganhar dinheiro e acabam manchando o nome da instituição. Também lamento pelos estudantes que iam as festas para mostrar seu trabalho, como as bandas universitárias que perderam um dos seus maiores palcos”, afirma.
Além dessas ocorrências, em setembro de 2012, um homem armado tentou estuprar uma jovem, durante uma festa, em que organizadores estimavam um público de no máximo 250 pessoas, mas na qual cerca de duas mil pessoas estiveram presentes. Esse episódio foi o estopim para o Reitor Reinaldo Centoducatte proibir as festas enquanto não se estabelecesse uma nova resolução que desse conta dos problemas de segurança e organização.
O que as bandas pensam? A Primeira Mão conversou com duas bandas que utilizavam os palcos da Ufes para divulgar seus trabalhos com bastante frequência. Cheap Blues e Anti-Milk falaram sobre a visibilidade, a experiência adquirida e a opinião sobre a proibição das festas. As apresentações na Ufes deram mais visibilidade a banda?
Cheap Blues: As primeiras apresentações na Ufes nos deram muita confiança e credibilidade. Foi onde percebemos que o público reconhecia e gostava do som que a gente estava fazendo. Em um caso, chegamos a nos apresentar para um público de cerca de 2500 pessoas durante o Encontro Nacional de Estudantes de Geografia. Anti-Milk: Com certeza. Pelo rock na Ufes ser gratuito, o número de pessoas que assistiam aos nossos shows era muito maior do que em casas que cobravam ingresso. Era um espaço muito democrático, que abrigava todo o tipo de gente. Alguns não teriam conhecido o nosso som se não fosse nessas apresentações. Qual a importância das festas na Ufes para bandas formadas por universitários, como a de vocês?
Cheap Blues: Tocar na Ufes é como tocar em casa. É um lugar que acolhe os músicos dando a liberdade de repertório, postura no palco e sempre contando com o apoio do público. Aprendemos muito. Anti-Milk: A Ufes abre um espaço democrático e amistoso para as bandas em início de carreira. É uma oportunidade para verem o que precisa ou não melhorar. Todos eram obrigados a conviver e a respeitar o diferente. Eram experiências muito boas que não acontecem da mesma forma em outros ambientes. Qual impacto que a banda sofreu depois de perder esse espaço? Vocês acreditam que as bandas que tocavam na Ufes, em geral, sofreram com a proibição das festas?
Cheap Blues: Nossa agenda diminuiu. Porém, também enxergo que nos meses que precederam o veto dos rocks, as festas estavam tomando dimensões muito grandes e extremamente voltadas para o consumo. Outro ponto negativo era a presença
de traficantes no campus, o que gerava conflitos entre bairros e desencadeou na presença da polícia militar na Ufes.
Anti-Milk: Os shows pararam um pouco. E isso afetou a banda, mas acho que afeta mais as que estão começando. As que precisam de espaço para mostrar o trabalho. A Anti-Milk já tem três anos e se for para ser como era - sem remuneração e estrutura - não é vantagem tocar sempre. A Universidade afirmou que as festas foram proibidas devido ao alto índice de violência, uso e até venda, de drogas. Vocês presenciaram essas cenas?
Cheap Blues: Infelizmente já vi pessoas armadas dentro do campus. Esses momentos que antecederam a suspensão dos rocks estavam realmente conturbados. Tendo em vista as grandes proporções das festas, a decisão da reitoria em banir os eventos não foi assim tão radical. Anti-Milk: Violência só uma vez, mas foi bem atípico. Até estranhei, porque sempre foi muito tranquilo. Quanto à venda de drogas, se alguém disser que nunca viu, nunca foi em um rock na Ufes. Mas essa é uma problemática da sociedade como um todo, e não somente do rock na Ufes. Uma das coisas que influenciou na proibição das festas foi a mudança de público. A banda percebeu isso?
Cheap Blues: A questão é que os rocks estavam muito mais voltados para o ambiente externo do que para a comunidade acadêmica. As práticas não condiziam com as ideias dos universitários. Sendo assim, nesses momentos, o espaço do campus era muito mais frequentado por pessoas que não faziam parte do meio acadêmico. Anti-Milk: Acho que sim. Depois que passaram a ter festas com Djs de fora e outras coisas do tipo, o público mudou e os assaltos aumentaram. Enquanto eram as bandas locais, era muito mais tranquilo.
COMPORTAMENTO EDBERG FRANÇA e KARINA MAURO
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MUSIC FESTIVAL
Foto: Marcos Issa / Argosfoto
Momentos inesquecíveis de quem não perde um festival de música
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s festivais de música fizeram história ao redor do mundo. Quem nunca ouviu falar do Woodstock, realizado em 1969 nos Estados Unidos? Com três dias de paz, amor e música, ele foi considerado o precursor dos festivais. Na Inglaterra, o Glastonbury Festival acontece todos os anos, desde a década de 70, e é considerado o maior festival de música a céu aberto do mundo. No Brasil, o festival mais famoso é, sem dúvida, o Rock In Rio. Sua primeira edição, em 1985, trouxe artistas de peso e, até então, inéditos para um país fora da rota dos grandes shows na época. Apesar de serem muito famosos no cenário internacional, os festivais ainda estão chegando e se adaptando ao cenário brasileiro. Eles são uma excelente opção para quem quer curtir bons shows e, de quebra, economizar uma grana. Afinal, um passaporte para assistir várias bandas em uma mesma noite pode custar igual ou até menos que o show de um único artista. Para se ter uma ideia do que estamos falando, va-
mos pegar como exemplo o valor dos ingressos da última turnê do Paul McCartney, que passou pelo Brasil. As entradas para o show do ex-Beatle no Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, chegaram a custar R$ 600. Só para fazer uma comparação, o primeiro lote de ingressos da edição 2013 do Planeta Terra, criado em 2007 e hoje consolidado como um dos maiores festivais de música da América Latina custa R$300. E isso, para se deleitar ao som de várias bandas tocando, seguidamente, durante horas. Somente na edição de 2012, o line-up, a lista de artistas que se apresentam no festival, contou com 13 bandas. Para quem não abre mão de estar em todos os festivais, o custo-benefício é um dos maiores atrativos. O publicitário Bruno Reis explica que, no Brasil, há um período do ano em que os festivais acontecem com mais frequência. Eles costumam ser entre março e maio e entre setembro e novembro. “Com isso em mente, fica mais fácil se programar, guardar uma grana e comprar passagem com antecedência. Primeira Mão | Julho de 2013
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O negócio é ficar sempre ligado nas notícias e fazer uma reservinha financeira para esses períodos”, conta. Em contrapartida, Bruno cita a duração das apresentações como uma de suas maiores queixas. Já o relações públicas Vagner Benezath, consegue enxergar um lado positivo nos shows compactos. Segundo ele, as bandas aproveitam o tempo menor para se destacar em meio ao line-up do festival e proporcionam ao público apresentações recheadas de momentos únicos.
Momentos inesquecíveis Os festivais são considerados uma excelente oportunidade para conferir as melhores apresentações dos maiores ícones da música mundial. Algumas bandas dão o máximo de si para aquele show um momento único na vida de seus fãs. Bruno Reis tem até dificuldade em citar apenas um momento marcante. “Tem muita coisa inesquecível de festival”. Entretanto, ele aponta alguns de seus momentos preferidos: “a surpresa com o show do Arcade Fire, em 2005, no TIM Festival do Rio. O vocalista do Phoenix sendo carregado pela galera no Planeta Terra 2011. Ver os shows do National, MGMT e Gogol Bordello no Teatro da Ufes, em 2008. E ver o A Perfect Circle este ano, uma banda que nunca achei que fosse ver ao vivo, no Lollapalooza”. Vagner Benezath também acha difícil citar apenas um momento inesquecível, mas se arrisca: “ano passado, assistir ao Kings of Leon voltando aos palcos, depois de quase dois anos, foi emocionante. A cidade estava fria e chovia bastante na hora, mas eles seguraram o público até o fim”. Tanto para Bruno quanto para Vagner, outra coisa bacana dos festivais é a chance de conhecer e compartilhar informações sobre as bandas e gostos em comum. Além, é claro, do clima eufórico que só quem já foi a um festival de música sabe como é.
Colecionador de festivais Com mais de 40 festivais no currículo, “entre grandes conhecidos e pequenos desconhecidos”, o jornalista Renato Costa Neto traz grandes recordações dos inúmeros shows que assistiu, e se lembra até hoje do primeiro festival que participou. “O primeiro foi o Rock in Rio I, o de 1985. Eu tinha apenas dez anos e minha mãe me levou, mesmo sabendo que eu poderia ser barrado na porta. Arriscamos, compramos os ingressos e, na confusão da entrada, ninguém nos barrou”. Renato não esquece nem o dia em que tudo aconteceu. “Foi no dia 19 de janeiro de 1985”. Outro momento inesquecível para Renato aconteceu no ano de 1993, no Hollywood Rock, em uma apresentação da banda Nirvana. “Histórico”, define o jornalista, que ainda cita mais shows memoráveis: “O AC/DC no Rock in Rio, de 1985, com Angus Young alucinado. O Smashing Pumpkins no Hollywood Rock, de 1996, a primeira vez da banda no Brasil. E o Arcade Fire em 2005, no TIM Festival, um dos shows mais legais que vi”. Assim como a maioria das pessoas, Renato também concorda que o custo-benefício é um dos maiores atrativos dos festivais, pois possibilita ver, em um único dia ou final de semana, várias bandas por um valor único de ingresso, além de dividir espaço com pessoas diferentes que curtem a mesma coisa. “Tudo se torna uma grande festa”. E pra quem já se animou Renato dá dicas para curtir algum festival de música pelo país, através de suas próprias experiências: “compre o ingresso assim que as vendas começarem e peça para entregar em casa (mesmo pagando taxas), e vigie as promoções de passagens aéreas. Se for em turma, alugue uma van para levar e buscar o pessoal. Sai mais barato e é mais seguro”.
Para se programar: Rock in Rio Onde: Cidade do Rock, Rio de Janeiro Quando: 13, 14, 15, 19, 20, 21 e 22 de setembro de 2013 Planeta Terra Onde: Campo de Marte, São Paulo Quando: 9 de novembro de 2013 Lollapalooza Onde: Jockey Club, São Paulo Quando: 18, 19 e 20 de abril de 2014 Coachella Onde: Arena Palmeiras, São Paulo Quando: 11, 12, 13, 18, 19 e 20 de abril de 2014
Foto: Marcos Issa / Argosfoto
TEATRO ANDRESSA ANDRADE, KAROLINE LYRIO e MARIANA BOLSONI
Bem
acompanhados com a
Má Companhia Companhia transformou casa, no centro de Vitória, em um dos principais pontos de criação e divulgação do teatro na Capital
A
s cortinas estão fechadas e as luzes apagadas. A plateia respira, esperando, em silêncio. “Merda!”, alguém sussurra por trás das cortinas, nos bastidores. “Quebre a perna!”, outro diz. A luz, bem fraca, se acende no meio do palco, após as cortinas serem abertas. Assim se inicia mais um espetáculo. Quando surgiu no Brasil, no século XVI, o teatro era realizado nas praças e igrejas com intensão de disseminar a fé religiosa. Com o passar do tempo, as peças foram se afastando das ruas até se tornarem uma arte restrita a espaços específicos: as salas de espetáculo. Se por um lado, isso foi bom para o desenvolvimento de uma linguagem própria e para o reconhecimento do teatro como arte, por outro deixou os espetáculos mais frios e distantes do público. Na contramão desse movimento, alguns grupos de teatro optaram por espaços alternativos, como forma de realizar a sua arte o mais próximo possível dos espectadores. É o caso dos atores e produtores que se juntaram para formar a “Má
Companhia de Teatro”. Com sede em uma casa, no Centro da Capital, além de servir de palco para os grupos teatrais apresentarem seus espetáculos, a companhia também abre espaço para outros artistas e abriga exposições de artes plásticas e lançamentos de livros. Também conhecido como Casa Vermelha, numa referência ao espaço de produção e realização dos espetáculos, o nome da Má Companhia surgiu de uma brincadeira entre membros dos dois grupos fundadores:
Foto: Divulgação
o “Repertório” e o grupo “Z”. Numa conversa, brincaram que essa união só poderia resultar em más coisas. Foi então que decidiram fazer da companhia um dos principais pontos de criação e divulgação do teatro em Vitória. A Casa também recebe eventos do Serviço Social do Comércio (Sesc), como o Diálogos do Sesc, que reúne grupos de teatro de Vitória para um intercâmbio com outros artistas. Essas e outras ações culturais ampliam a programação de espetáculos, e abrem portas para grandes eventos, reunindo artistas e grupos de dentro e de fora do estado. Repertório Artes Cênicas e Cia Mesmo com dificuldades para encontrar um lugar para ensaiar, o primeiro espetáculo do grupo foi o “Peroás e Caramurus”. Em 2009, o grupo firmou-se com o nome de Repertório Artes Cênicas e Cia, através da peça “Bernarda por detrás das Paredes”. Em 2010, a companhia Folgazões cedeu espaço na Casa Vermelha, onde passaram a dividir o aluguel. O terceiro espetáculo do grupo foi estreado no ano seguinte, intitulado “A Sonata para Despertar”. O ator Nicolas Corres Lopes explica que existem
projetos engatilhados que vão sair do forno a qualquer momento. “Anjos e Abacates” será um espetáculo infantil, com produção da Repertório, com artistas convidados. E ainda o espetáculo “Oracion”, de produção e execução nossa. Todos com previsão de estreia ainda este ano”. Além desses, há um projeto que prevê três espetáculos e oficinas em áreas técnicas que visam atender aos artistas e contribuir para a formação nas artes cênicas.
Grupo Z Com mais de 15 anos de história, o Z é um dos 16 grupos teatrais do Brasil selecionados para o “Palco Giratório”, festival de teatro promovido pelo Sesc. Está rodando o país com a peça “Insone” durante um ano. A atriz e produtora Carla Van DenBergen conta que as peças do grupo são feitas em conjunto, passo a passo. Têm por objetivo encontrar um meio para dizer o que desejam. “A construção da peça é feita diante da plateia e ela se acaba, com o fim de cada apresentação. Essa efemeridade da arte da cena faz com que nosso trabalho nunca se congele, mas, ao contrário, vai sendo transformado ao longo da vida do espetáculo. O contato com o público e nossas mudanças pessoais e do grupo, vão marcando nossa obra”, esclarece.
Foto: Divulgação
HISTÓRIA JÉSSICA REBEL e SAMYLLA ESTOFEL ANDREÃO
Foto: Jéssica Rebel
Os trilhos que levam a um museu Mais do que um lugar bonito, cenário ideal para ensaios fotográficos, o Museu Vale conta a história da Estrada de Ferro Vitória a Minas
A
construção de uma ferrovia traz benefícios à população de um município e até mesmo de um estado, gerando desenvolvimento e emprego aos moradores locais. Entretanto os mesmos moradores podem não se adaptar e resistir à urbanização de uma região. Positivos ou negativos, o fato é que a Estrada de Ferro Vitória Minas Foto: Jéssica Rebel (EFVM) está intimamente relacionada a história de um povo, ou melhor, de muitos, que foram direta e indiretamente atingidos pelas mãos do progresso. A história é contada pelo Museu Vale, dono de um acervo com milhares de fotos, documentos, livros, peças antigas e, é claro, muito conhecimento.
via, responsável por unificar pequenos trechos que existiam em Minas a fim de escoar o minério do estado até o mar. Construído em 1927, o edifício-sede possui um acervo permanente com 147 itens que contam parte da história da EFVM.
O Museu está localizado na antiga estação ferroviária Pedro Nolasco, no bairro Argolas, Vila Velha. O nome do museu é em homenagem ao engenheiro idealizador do projeto de expansão da ferro-
Um fato curioso e recorrente na construção da EFVM foi a migração dos povoados para a margem da ferrovia. Quando não se deslocavam, formava-se
Inaugurada em 1904, a EFVM é considerada uma das mais produtivas ferrovias brasileiras, integrando os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e o Distrito Federal. E também é a única que faz o transporte regular de passageiros, por meio do chamado trem de passageiros. Todos os dias uma composição parte de Belo Horizonte e outra de Jardim América, em Cariacica.
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Foto: Jéssica Rebel
Fachada do Museu Vale, antiga estação ferroviária Pedro Nolasco
um centro urbano na margem, que acoplava o povoado mais afastado, tornando-o um todo. Até lugares que antes eram praticamente despovoados, tornaram-se pequenos centros urbanos, cuja necessidade do trem é essencial para a economia girar. No interior da antiga estação, fotografias de 1912 ocupavam parte das paredes, registros fundamentais no resgate histórico da época. Ferramentas para medir e produzir trilhos, usadas há quase um século também fazem parte do acervo, além de equipamentos topográficos que ajudaram a medir o terreno há tanto tempo. Os visitantes ainda podem encontrar telefones antigos, principais instrumentos de comunicação entre as estações, o sino que alertava a partida e a chegada do trem, o último telégrafo, utilizado em 2000 e moldes para confeccionar peças que temporariamente substituíam as que quebravam, já que as peças originais vinham da Europa e demoravam a chegar. Logo ao chegar ao Museu encontra-se uma locomotiva a vapor de 1945, uma das últimas adquiridas pela Vale, vinda da Filadélfia, EUA. Seus vagões possuem bancos reversíveis, pois naquela época eram presas duas locomotivas nas extremidades dos vagões. Pra ir à Belo Horizonte, utilizava-se uma locomotiva e, na volta, a locomotiva da outra ponta era acionada. Para os passageiros não irem de costas durante o trajeto, o encosto dos bancos mudava de direção. Além desses, o museu ainda conta com uma maquete ferroviária que demostra o trajeto da Vitória Minas e um painel interativo explica, por meio de sons e imagens, o processo de extração de minério atualmente, estabelecendo relações com o que acontecia na época da construção. O painel ainda mostra a história da ferrovia e a importância do Complexo Industrial de Tubarão para todo esse processo. Na sede do museu também existe um centro de memória, dono de 122 mil itens entre fotos e vídeos, 58 mil negativos e um pouco mais de 3 mil fotos impressas.
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Nele, há um projeto a fim de tornar esse acervo digital, mas como a quantidade de itens é grande demandará um tempo para a população ter acesso. Todos os itens podem ser vistos na visita ao Centro de Memória. Uma galeria, logo na entrada do Museu Vale, frequentemente traz exposições temporárias, algumas criadas especialmente para o museu, outras que passam por vários lugares do mundo. Já foram expostas obras de Antonio Manuel, José Damasceno, Leda Catunda, Arthur Omar, José Rufino, Amilcar de Castro, Iole de Freitas, Lygia Clark, Carlos Vergara, Eduardo Frota, Mariannita Luzzati, Cildo Meireles e Nelson Felix, Yoko Ono, entre outros. Após saciar a sede de conhecimento, aprendendo mais da história da ferrovia, os visitantes têm a oportunidade de saciar a fome em um vagão utilizado como restaurante e lanchonete. O Café do Museu é um ambiente bem descontraído e possui uma bela vista. Aliás, a vista é outro atrativo. Localizado às margens da Baía de Vitória, permite uma visão privilegiada do Porto e da Ponte Florentino Avidos. O mar, a vegetação verdinha, a arquitetura e iluminação do museu fazem deste cenário um dos finais de tarde mais belos da Grande Vitória. Talvez por isso seja um dos locais preferidos das noivas para seus álbuns de casamento. Visita ao Museu As visitas ao Museu Vale podem ser feitas de terças as sextas de 8h às 17h, sábados e domingos de 10h às 18h, as segundas o local fica fechado para o público. Para visitas guiadas, devese solicitar o serviço no site do Museu. O restaurante Café do Museu funciona de segunda: 10h às 14h, terças, quartas e domingos de 10h às 18h, quintas, sextas e sábados de 10h às 24h, com música ao vivo à noite. O museu também conta com o programa educativo que visa a incentivar crianças e adolescentes a usar a criatividade a partir do conhecimento adquirido na visita. Para levar grupos escolares os professores precisam entrar em contato com o museu pelo telefone 3333-2484 e agendar a visita.
feito à mão Luiz Zardini Jr.
As palavras podem até convencer, mas os exemplos arrastam a gente...
H
á alguns dias, recebi uma mensagem da Gabriela Borges, a Guigui, uma amiga de trabalho. Naquela semana, ela estava de férias da faculdade e resolveu fazer uma boa ação. Com a estante cheia de livros, resolveu encarar a tarefa nada fácil de selecionar os exemplares que não usava há muito tempo para doar. Sim, tenho certeza que tomar esta atitude não é nada fácil. Eu já tentei fazer o mesmo, mas sempre encontrava alguma forma de deixar a ideia de lado. No final das contas, era o apego que falava mais alto e me impedia de ir adiante. Colecionar livros é colecionar histórias e isso me fascina. O primeiro livro que li na vida, quando eu estava aprendendo a ler, tenho até hoje lá minha estante. Os livros que ganhei de minha mãe de presente de vários aniversários também estão lá. É uma estante carregada de livros e de emoções. Todos eles representam uma data especial, um momento da minha vida, uma pessoa importante, um evento, uma despedida, o início de uma amizade, um namoro. Sei que alguns dos livros da minha estante já estão lá há bastante tempo. Eu já pensei em doá-los diversas vezes, assim como a Guigui, mas não consegui fazer o mesmo. Antes mesmo de começar a selecionar, ela me avisou que eu receberia uma lista com os nomes dos exemplares que iria doar e não precisei esperar muito. Na noite de uma quarta-feira, a lista já estava em minhas mãos. Escolhi os que mais me interessaram e, em seguida, avisei quais gostaria de ganhar. No dia seguinte, dentro do ônibus, a caminho do trabalho, ela me entregou os livros que escolhi. Agradeci pela generosa
doação e revelei a minha dificuldade de fazer o mesmo. Para minha surpresa, ela revelou que também não foi nada fácil, mas que conseguiu deixar o apego de lado e fazer as doações. Contou que, no início, quando pensou em fazer a seleção, pensava que a quantidade de livros que iria doar seria bem maior, mas quando foi analisar, percebeu que alguns deles eram essenciais e que poderia utilizá-los novamente. E que alguns eram presentes de pessoas importantes e marcaram momentos de sua vida. Além disso, um dos fatores que também contribuíram para aumentar a dificuldade foi o fato de ter encontrado alguns livros com dedicatórias em seu nome, carregadas de emoção e sentimentos. Esses, ela não conseguiria doar. Depois da atitude de minha amiga, lembrei da quantidade de livros que já ganhei e um sentimento de culpa tomou minha consciência. Fiquei horas pensando sobre o gesto de minha amiga e lembrando daqueles livros que sei que posso doar e que estão lá minha estante, parados há algum tempo. O belo exemplo de Guigui era o que faltava para eu fazer o mesmo: separar um tempinho e selecionar os livros que merecem ganhar um novo dono. Pensei que seria muito egoísmo de minha parte manter comigo obras que podem fazer a diferença na vida de outras pessoas. Que podem ajudá-las a construir sua própria história e que a diferença que fizeram em minha vida, possa ser compartilhada com outras pessoas, e assim por diante. Já estava passando da hora de tomar essa atitude também, mas o que faltava mesmo era um grande exemplo, capaz de arrastar a gente. Também percebi que posso fazer o mesmo com roupas que não uso mais ou que não cabem mais em mim. Que também posso fazer o mesmo com o meu tempo e com o meu conhecimento. Guigui me contou que um dos motivos pelos quais estava fazendo aquelas doações era o simples fato de queria comprar novos livros. Ela precisava de mais espaço na estante, então resolveu doar. E eu acabei concluindo, com tudo isso, que o novo só chega quando o velho sai e abre espaço, assim como os anos, como as histórias, como os livros. Bom, já passou da hora de abrir espaço na minha estante. Preciso começar a fazer a minha listinha também...
Ilustração: Divulgação
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