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A melhor notícia Enfim chegamos à derradeira edição do semestre, encerrando um período de intensas atividades e desafios. É verdade que qualquer veículo laboratorial dá trabalho. Mas além do que já era previsível, nós mudamos o formato, aumentamos o número de páginas, elaboramos uma versão para tablet e migramos nosso projeto editorial de jornal para revista. Nesta edição várias matérias tratam de temas recorrentes - até clichês - mas sempre pertinentes: consumismo, reciclagem, sacolas plásticas, direito autoral. São questões às quais voltamos com frequência por ainda não estarem resolvidas e constituírem problemas da nossa sociedade. Pautamos também assuntos menos habituais, como a prática do arco e flecha. As repórteres não apenas apuraram, como
fizeram questão de experimentar o esporte. Experimentaram e se apaixonaram, o que está explícito em seu texto. A matéria que trata da disputa de bairros entre Vitória e Serra conseguiu humanizar um assunto burocrático, deixando-o leve e compreensível. É verdade que esta última edição custou a sair e não conseguimos, inclusive, finalizá-la antes do término do semestre. Admitimos que falhamos com os prazos. Por outro lado, concordamos com Gabriel García Márquez, quando ele diz que “a melhor notícia não é a que se dá primeiro, mas a que se dá melhor”. Além disso, podemos dizer que atingimos o objetivo da disciplina: os alunos evoluíram e têm agora uma outra relação com o jornalismo.
Um leitor incomum ››› Carlos Scherrer
Não é de hoje que se diz que a leitura transforma o mundo. Desde pequenos, muitos de nós ouvimos isso de nossos pais, que ouviram de seus pais. Quando estava descobrindo as palavras, gostava muito de ler pequenos livros com histórias infantis: frases curtas, letras enormes e figuras maiores ainda. Foi por aí que comecei a gostar de ler. Ziraldo escreveu o primeiro livro que li. Peguei “O Menino Maluquinho” na Biblioteca Municipal de Linhares. Agora, muito mais tarde, fantasio minha mente na biblioteca da Ufes. Não sei como expressar o que sinto - um desejo muito estranho de ler cada livro que vejo, cada mundo que passa na minha mão.
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Mas desde pequeno também venho seguindo por outra vertente da leitura. Uma leitura mais técnica, feita não para entreter, mas para explicar - mas
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Já tentei parar de gostar, deixar de ler; mas cada vez me sinto mais atraído por manuais de instruções, bulas de remédios e cardápios. Sempre que meus pais compram algum eletrodoméstico ou eletrônico, me delicio lendo suas descrições, as minuciosas diferenças que existem de um modelo para o outro. Aconteceu isso na semana passada, quando finalmente, depois de muita insistência de minha parte, meus pais compraram uma televisão nova. Quando abri a caixa, vi o pequeno livro ali, no canto, quase imperceptível diante de tanto isopor, cabos e as 32 polegadas de aparelho. Mas ele estava ali, esperando o grande momento. Como um objeto santo, sagrado, intocável - só eu poderia tocá-lo. E assim foi. Bulas também me fascinam, mesmo que eu não entenda muito de química ou medicina. Aquelas letras sempre tão pequenas parecem me chamar, me pedir, me implorar quase gritando: “ME LEIA!” E eu
não resisto: me concentro e forço minha vista para realizar a vontade daquelas preciosidades quase sempre ignoradas. Os cardápios completam o meu mundo fantástico da leitura. São como livros de mitologia, nos quais a gente pode imaginar o autor escrevendo sua obra prima, ou o protagonista realizando todos os seus grandes feitos. Num desses, consigo imaginar: como título, “Frango com catupiry”. Pequeno resumo do enredo: A terra era redonda e achatada, até que choveu muito - muito molho de tomate, muita muçarela, frango desfiado, milho, azeitona e orégano. Então as bordas da terra se encheram de catupiry e de repente o grande pizzaiolo levou sua criação divina para um forno à lenha... No final, alguém sempre acaba com o bolso mais leve e a barriga mais pesada. Já eu, sempre me divirto imaginando essas situações. Estranho? Incomum? Não sei me colocar perante essa minha excentricidade. Mas definitivamente, a leitura me transformou.
em Ana Eli sa Bass i, Ange Ramos li do , Marche Drieli Volpon s Anjos, Carlo sine, F s Scher i, Fern ran Edição rer, Cá an Bernard ssia e Diagr ina, Lu cine Leite, La da Batista, cas Sc io Med F Desteff amação e rnanda Ana Elis huina, eiros, L ani, Ma a B L uana D a ria Luiz uiza B s Novais, s i, A Drieli V ndré Cu alla oula a D Rochan nh olp Victorh a Cana amiani, Maria nger, Marce Laio Me oni, Fernand a, Carlos Sche lle ugo Am na Gom l, Sérg rrer a d e Batista io Ran ir orim. e o s s , Máy , Luiza Luiza D , Ferna , Cássia Ramo gel, Ta Boulan s, amiani, nda M miris V ra ger, Ma archesin Primeir ieira, Rangel, Marian rcelle D a e T , a a G e m steffan omes, iris Vieir Mão i, Maria O Prime Máyra a, Victo P ira Mão N r h r o ugo Am ofessor vais, S é um jo caráter érgio orim. a Orien rnal lab Daniela experim o t C r a a a e t niçali d ório, pr ntal pe de Com o r a los alun oduzido unicaçã os do 6 Orienta em o Socia Federa º períod l – Jorn dor da l do Esp o a d li L s o uciano ír m diagram c it o urso o Santo Goiabe , da Un Frizzera iras | Vit iversida . Av. Fe ação r d ó n e r a ia ndo Fer CEP 290 - ES Tiragem rari, 514 75-910 , email: 1.000 ex jornal1m Gráfica emplar ao@gm es ail.com Gráfica Univers Primeira Mão Agosto 2011 itária
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que para muitas pessoas não explica nada.
Crônica
Uma vida em construção
››› Ana Elisa Bassi
Wladimir Cazé, jornalista apaixonado por literatura, define seu estilo de vida como uma busca sem fronteiras, de grande satisfação pessoal A Petrolina dos anos 80 já não era tão rústica, era a cidade com maior taxa de crescimento do sertão nordestino. O menino Cazé tinha um videogame - “Atari”, ressalta - e uma bicicleta Caloi. Gostava de nadar e jogar futebol, talvez mais de nadar, porque não era tão bom no futebol. E lia, lia muito. Quadrinhos Marvel eram os preferidos.
Em casa, vivia rodeado de livros, jornais, revistas, e o que começou como diversão despertou um gosto compulsivo pela leitura e escrita. Aos 10 anos, Cazé escreveu “Caquio”, uma história infantil que se passa na China.
Nessa mesma época, sem lembrar exatamente do dia ou do mês, vendeu a um amigo toda a coleção do “HomemAranha”, uns 40 ou 50 gibis, e com o dinheiro comprou um exemplar de “Dom Casmurro”. O livro foi mais do que um investimento, o menino não sofreu com a escolha, não se arrependeu pela perda do super-herói. Foi-se o Homem-Aranha, abriu-se a porta para Machado, o que representou um divisor de águas. Adolescente, encontrou poesia nas letras de rock brasileiro, em Bandeira e Drummond. E toda a diversidade desse mundo literário em que se entranhava transformou a compulsão em uma verdadeira “vontade crônica, uma necessidade cotidiana”. Uns nascem para o esporte, ou para os negócios, alguns dão excelentes chefs ou políticos notáveis. Hoje, do alto de seus 34 anos, Wladimir Cazé é da literatura e não se discute. Jornalismo, aí vou eu › Mudar para Salvador, Bahia, o colocou mais próximo das produções do Sudeste, a uma nova gama de colunistas e veículos. Nessa época, surgiu uma nova descoberta: a crítica. A Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) foi sua casa entre 1994 e 1998. Uma pesquisa do Programa de Educação Tutorial (PET) sobre estética da música pop abriu as portas para a sua monografia, “Percursos da música eletrônica”, em uma época em que quase ninguém sabia o que era música eletrônica. As FOTOGRAFIA Ana Elisa Bassi
possibilidades da colagem e da combinação de sons pré-gravados surgiu como uma opção para se divertir com os amigos na descoberta de um novo universo criativo. Cazé fez-se jornalista com todos os méritos.
funciona também para organizar informações sobre outras produções, com links para alguns poemas, resenhas e trabalhos. E enfatiza: “Macromundo é uma radiografia virtual das minhas andanças físicas e imaginárias”.
Um voo na profissão › Depois de formado, trabalhou no jornal Correio da Bahia, nas editorias de cultura e informática, e ficou por um ano no site Veja Salvador.
Entre essas andanças, aconteceu a descoberta da literatura de Cordel e o início de novos trabalhos, tendo em mente a ideia de retirar da poesia brasileira contemporânea seu ar pedante, com texto difícil, que cada vez mais a afasta dos leitores.
Lançou voo na Infraero, passando pelas assessorias dos aeroportos de Congonhas e Salvador. Mas o seu maior desafio como profissional da comunicação começou em 2009, quando mudou-se para Vitória para assumir a assessoria do Aeroporto Eurico Salles, com o qual é preciso fazer o resgate constante de uma imagem que já está desgastada junto à opinião pública, fazendo circular informações corretas, atualizadas e “simpáticas”, por assim dizer, para receptores já insatisfeitos. Motivo claro para que aspirantes à atividade e jornalistas o procurem com frequência. A proposta de realização de um perfil, saindo do âmbito “infraelístico”, talvez tenha sido a pauta mais leve dos últimos tempos... A descoberta do Cordel › A literatura hoje atua na vida de Cazé como “um trabalho extraoficial”. Muito prazeroso, isso, sem dúvidas. Sua grande produção literária pode ser conferida no blog Macromundo. Criado há um ano, o blog Primeira Mão
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Assim, nasceu “A filha do Imperador que foi morta em Petrolina”, uma fantasia em versos sobre sangue e fé, que se passa no sertão do Nordeste, na época da Proclamação da República. Daqui pra frente › Daqui a 10 anos, Cazé se vê morando na capital de outro país, falando alguma língua exótica. Perspectiva que muito está de acordo com a maneira como leva sua vida: uma busca constante pelo prazer de novas experiências. E ele dá a receita: “Saiam de casa, vejam a cidade, conheçam pessoas diferentes do seu meio, viajem para lugares desconhecidos. Não é fácil, mas aos poucos se lapida um gosto, um estilo e um perfil profissional”. Por isso, é importante dizer que no começo do texto houve um equívoco e talvez até uma injustiça ao dizer que Cazé é da literatura. Cazé é do mundo, e agora sim não se discute mais.
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››› Marcelle Desteffani
Estacionamento do abandono Esquecimento, pouco dinheiro, desleixo, falta de tempo. Estes são alguns dos motivos ou desculpas utilizados por quem leva objetos para consertar em uma loja especializada e não volta para buscar.
Lojas de consertos se transformam em “mausoléus” porque muitos nunca voltam para buscar seus pertences
Com o senhor Acyr Blunck foi um pouco diferente. Há oito meses ele levou uma televisão da filha Simone Blunck para o conserto, sem falar para ninguém. Pouco tempo depois, teve um problema de saúde e entrou em coma. A família nem imaginava onde a televisão poderia estar. A esposa de Acyr, Terezinha Blunck, foi quem iniciou as buscas pela TV. Todos os locais possíveis foram revirados: a garagem, o quartinho “guarda-bagulho”, o depósito. Simone chegou a acreditar que a TV tinha sido roubada. Há um mês, o funcionário de uma loja de eletrônicos foi fazer um serviço na casa de dona Terezinha e comentou que a televisão perdida poderia ser a que estava esquecida na loja. Ele também informou que o aparelho não tinha conserto. Simone resolveu deixar a história e a TV pra lá. Assim como faz muita gente... Falta espaço, sobra roupa › Patrícia Alves de Oliveira Martins, proprietária da Consertos da Vovó, trabalha com conserto e confecção de roupas e lida frequentemente com pessoas que deixam seus pertences e não voltam para buscar. Logo no início do funcionamento da loja, uma cliente deixou grande quantidade de peças para serem reparadas. Na época, a loja não possuía computador e os pedidos eram anotados em papel. Com muitas encomendas novas, as informações da cliente se perderam. Mais de um ano depois, volta a cliente à loja, contando que não apareceu antes porque ficou muito doente. Tarde demais: tudo já tinha sido doado. A empresa existe há 18 anos, em três pontos de Vitória: Jardim da Penha, Praia do Canto e Jardim Camburi (Shopping Norte Sul). Além de fazer reparos, os 18 funcionários também confeccionam peças. As lojas são pequenas e não possuem muito espaço para estoque. Na filial de Jardim da Penha, máquinas de costura, mesas, sacolas de encomendas e prateleiras com linhas, fios e caixas se misturam às cinco funcionárias num pequeno cômodo. “Com pouco espaço, fica difícil guardar as
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roupas que as pessoas não vêm buscar”, desabafa a proprietária. Na Consertos da Vovó, cerca de 20% do que é levado pelos clientes fica esquecido. Os objetos abandonados na loja são doados para instituições de caridade ou para o bazar de uma igreja católica. Antes de fazer as doações, o dono da peça é procurado por telefone diversas vezes até o limite de um ano. Como os pertences esquecidos não são vendidos, dão muito prejuízo. “Hoje, a maior parte dos pagamentos é feita somente na data da entrega. Quando o cliente não volta para buscar, gastamos energia, tempo, funcionários e material em vão. Além do mais, a loja fica com muito entulho”, revela. A dona da Consertos da Vovó acredita que a maioria das pessoas que não voltam para buscar por esquecimento. Outros desistem da roupa, acham que o conserto não vale mais a pena. Na nota fiscal entregue ao cliente no dia em que deixa a peça na loja, há a informação de que ele tem 45 dias para pegar a roupa de volta. “É uma forma de nos resguardarmos. Depois desse prazo, a pessoa já sabe que pode ir à loja e não encontrar mais o produto. Ainda assim esperamos um ano antes de doar”. Loja de consertos ou ferro velho? › Na loja de Adilson Mendes Coelho o espaço também é um problema. Ele, que conserta eletrodomésticos e ferramentas elétricas há mais de 20 anos, já passou por muitas situações em que o cliente “esqueceu” de voltar para buscar o que deixou. De todos os objetos que conserta, aproximadamente 20% ficam esquecidos, ocupando o espaço que a loja não tem. Localizado em Jardim da Penha, o estabelecimento se divide em dois cômodos: um para os reparos, e outro onde os clientes são atendidos. Neste, Adilson se espreme entre cinco prateleiras lotadas de ventiladores, caixas de papelão, torradeiras, secadores de cabelo, borrachas de motor, cafeteiras, panelas e muitas peças soltas. No balcão há vários micro-ondas empilhados, sobrando somente um pequeno espaço para o funcionário e o cliente. Quase todos os aparelhos nas prateleiras estão esperando seus donos há bastante FOTOGRAFIA Marcelle Desteffani
tempo. “Uns abandonam por causa do preço das peças, acham que não compensa consertar e mandam reciclar. Outros não têm dinheiro para retirar. Alguns ainda pedem para esperar, pois pretendem doar para um parente ou empregada”, conta Adilson. O preço é um dos agravantes do “esquecimento”. Hoje, muitos eletrodomésticos são de fabricação estrangeira e não apresentam a mesma qualidade dos nacionais, já que peças fundamentais são trocadas por placas eletrônicas para baratear o produto, conforme explica Adilson. O micro-ondas é o principal exemplo. Por causa do baixo preço, ele está entre os aparelhos que as pessoas mais esquecem no estabelecimento. Mas em primeiro lugar fica o liquidificador, que custa pouco. As máquinas de lavar roupa com peças difíceis de serem encontradas no mercado também se juntam aos montes na loja. Os consertos no estabelecimento de Adilson demoram no máximo 10 dias para ficar prontos. Quando o cliente não volta, ele telefona várias vezes para pedir que busque o aparelho. O pagamento pelos serviços é feito somente no momento da entrega. Para não sofrer processos e convocações ao juizado de pequenas causas, Adilson espera cerca de um ano até começar a reciclar o equipamento. Os micro-ondas e as máquinas de lavar chegam a ficar dois anos na loja esperando por seu dono. Ainda assim há quem arrume confusão. Uma senhora deixou uma furadeira para consertar na loja de Adilson e logo em seguida foi para os Estados Unidos, sem nem avisar. Voltou um ano e meio depois. Nesse tempo, houve muitas tentativas de ligação sem resposta. Descartaram então a ferramenta. A senhora voltou exigindo o objeto de volta. O jeito foi ressarcir o dinheiro para não ter problemas maiores. “Preferimos perder os anéis para não perder os dedos. Ela estava disposta a levar às últimas consequências para recuperar o aparelho”. A solução › O procedimento é o mesmo com todos os clientes: se demoram a buscar o aparelho, Adilson telefona. Se o desPrimeira Mão
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carte for autorizado, ele procura gravar a conversa ou chama uma testemunha e depois envia uma carta registrada para a pessoa, com a autorização. Os aparelhos que atingem o prazo máximo de tolerância de espera são reciclados. Uma peça em bom estado é aproveitada no conserto de outro eletrodoméstico. As latas, ferros e fios são doados para instituições que fazem reciclagem e algumas outras peças são entregues nas concessionárias das 17 marcas que Adilson trabalha consertando. Muitas vezes, Adilson expõe os produtos esquecidos na bancada da frente da loja. Ele observa que os donos passam por ali e sempre observando o aparelho. Mas no momento em que ele muda o eletrodoméstico de lugar, colocando-o dentro da loja, o cliente entra para perguntar pelo aparelho. Às vezes, para ver a reação da pessoa, Adilson diz que já reciclou. Mas esclarece logo em seguida e cobra uma atitude. O mesmo? › “Parece brincadeira”. É assim que Adilson começa a última história que se lembra de contar. Uma pessoa levou a máquina de lavar toda enferrujada e velha para o conserto. Fizeram o orçamento e a moça autorizou o serviço. Por cortesia, limparam toda a ferrugem e pintaram o eletrodoméstico novamente. Quando a cliente voltou para buscar não acreditou que era a sua máquina. A empregada doméstica dela precisou ir à loja para reconhecer o produto. Só assim levou a máquina de lavar de volta para casa. Conforme explica Adilson, muita gente não reconhece os aparelhos que deixa na loja, depois do conserto. Durante a entrevista, um rapaz foi buscar seu ferro de passar roupa e, como o fio foi trocado por um mais escuro, perguntou várias vezes se aquele era mesmo o seu equipamento. A TV de Simone e as roupas e eletrodomésticos dos moradores de Jardim da Penha e região vão parar em mãos completamente diferentes. E você que já deixou algum de seus pertences para trás? Imagina aonde foram parar?
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Reis da Sucata ››› Francine Leite e Rochana Canal
O trabalho deles é quase imperceptível. Mas são os catadores de lixo que ajudam a diminuir os impactos no meio ambiente.
O acúmulo de lixo nas cidades constitui um grave problema ambiental a ser enfrentado. Dentre as alternativas para o tratamento do lixo urbano, a reciclagem se configura como um importante elemento, pois além de reduzir a quantidade de resíduos, ela gera renda para milhares de pessoas.
Segundo a Secretaria de Serviços de Vitória, a prefeitura coleta, em média, 110 toneladas de lixo reciclável por mês, sendo a maior parte papelão e papel. Todo o material é entregue a duas associações de catadores: Catadores de Materiais Recicláveis de Vitória (Ascamare) e Catadores de Materiais Recicláveis da Ilha de Vitória (Amariv). Há também os catadores avulsos, conhecidos como carrinheiros, que trabalham por conta própria e, na maioria das vezes, vendem o material diretamente empresas de reciclagem e ferros-velhos. Só em Vitória, segundo informações da prefeitura, cerca de 180 pessoas vivem como catadores de material reciclável. Nas associações, os resíduos são separados e prensados. Cada material tem seu preço e é vendido separadamente para as indústrias de reciclagem. Os catadores › Os protagonistas dessa história são os catadores de lixo. Complementando a gestão pública de resídu-
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os sólidos, eles são os responsáveis por diminuir a quantidade de lixo seco que poderia ser aterrada. João Antônio de Moraes, 73 anos, conhecido por todos como Seu João, é presidente e fundador da Ascamare, que fica no Bairro República. Conhecer o galpão da Associação é entrar num mundo de papéis, plásticos, papelão e ferro distribuídos por todo o espaço, separados em grandes blocos prensados. Mais à frente, homens e mulheres trabalham numa grande mesa, onde filtram tudo que chega à Associação. Eles contam que na banca de triagem sempre encontram algo útil que não deveria ser jogado fora. “Eu já consegui três televisões”, comemora o associado da Ascamare, Avalcir Pereira. A figura simples e o olhar cansado configuram o homem que trabalha há cerca de 33 anos com lixo: 13 em um ferro velho e 20 como catador (carrinheiro). Os anos dedicados a recolher o lixo de Jardim da Penha renderam a Seu João muitas amizades e a fundação da Ascamare. “Jardim da Penha é o meu colégio”, orgulha-se. Foi nas ruas do bairro que ele aprendeu a ler. A Ascamare foi criada em 1999 e hoje tem 27 catadores associados. Possui carrinheiros, prensadores, coletores, e até uma Kombi, que passa por vários bairros Primeira Mão
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da capital recolhendo o material reciclável. A Associação recebe também o lixo proveniente da coleta seletiva municipal e de cidadãos comuns, empresas, lojas e escolas. José Maria da Silva, 70 anos, voluntário da Pastoral Social da Paróquia de São Francisco de Assis, conta que no início era difícil o contato e o diálogo entre os moradores e os catadores. “Eles se sentiam tão excluídos que nem encaravam as pessoas. Hoje, com um lugar próprio para desempenhar o seu trabalho, eles conseguem se desenvolver e sabem atender a todos que chegam na Associação”. Como associado, um catador ganha entre R$600 e R$1000 por mês. O salário é o mesmo para todos e oscila conforme o mercado de recicláveis. De janeiro pra cá, por exemplo, o plástico está desvalorizado devido à diminuição da compra pelas indústrias de reciclagem. Tal fato se deve, principalmente, à nova lei de proibição das sacolas plásticas (Saiba mais na página 9). Apesar de ganhar mais enquanto associado e ter todos os seus direitos como trabalhadores reconhecidos (a profissão foi regulamentada em 2002), a maioria dos catadores de recicláveis do Estado trabalha de forma autônoma. A Secretaria de Assistência Social de Vitória infor-
mou que existem cerca de 120 carrinheiros não-associados trabalhando pelas ruas da capital. José Luiz Fialho trabalha há dois anos como catador de lixo em Vila Velha. Foi associado da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Vila Velha (Ascinvive) durante um ano, mas saiu por conta de alguns desentendimentos. “Percebi que trabalhar sozinho na rua é melhor. Ganho entre R$70 e R$80 nos dias bons”. José Luiz percorre alguns bairros e, no final do dia, vende os materiais a uma empresa de Vila Velha. É no depósito dessa empresa que ele mora, em um quarto improvisado. Para muitos, os catadores são apenas mendigos que ocupam as ruas com seus carrinhos lotados de lixo. No entanto, muitos fazem disso uma profissão, constroem a própria casa e educam os filhos. É o caso do senhor Alvacir Pereira, prensador da Ascamare, mais conhecido como “Baiano”. Os 15 anos dedicados ao lixo ajudaram a educar os três filhos e a pagar o aluguel da casa no Bairro República. “Só não consegui comprar o barraco ainda”. Baiano já foi vítima da violência nas ruas, quando ainda era carrinheiro. Um ônibus bateu na traseira do seu carrinho, o que fez o catador cair no chão, perder alguns dentes e passar uma semana no hospital. O motorista o agrediu verbalmente e não prestou socorro. Foram situações como essas que fizeram Baiano se associar à Ascamare. “É bem melhor ser associado. A gente anda uniformizado, com a marca da prefeitura na camisa, calçado. As pessoas nos recebem melhor”. Apoio Governamental › A Prefeitura de Vitória repassa a verba de Resíduos Sólidos para as associações, que fazem a primeira parte do processo de reciclagem do lixo. Com esse dinheiro é possível pagar água, luz, telefone e aluguel da entidade. A associação não recebe mais verba para a prestação do serviço. A Ascinvive existe há 12 anos e não tem o apoio financeiro da PMVV. Com apenas nove catadores associados, o presidente Jenário dos Santos Santana conta que eles vivem em situação precária e que o lugar onde trabalham não é adequado. “O que produzimos só dá pra sustentar seis associados. Não tem como entrar mais ninguém”. Perguntados sobre o porquê de não apoiar a Ascinvive, a assessoria de comunicação da PMVV responde que leva à associação duas vezes por semana todo
o lixo seco recolhido pelas ruas da cidade. Porém, a prefeitura não contribui ou repassa nenhuma verba, gerando a insatisfação dos catadores. Mas a assessoria diz que estão estudando melhores formas de ajudar. Tomando a iniciativa › Em Cachoeiro de Itapemirim, um senhor de 73 anos é um exemplo de solidariedade e consciência ambiental. José Desteffani sempre via lixo espalhado pelas ruas de seu bairro e, como forma de contribuir para a limpeza, começou uma espécie de coleta seletiva autônoma, pois não há coleta seletiva na cidade. “Cachoeiro está atrasada em relação ao lixo. As pessoas não são conscientes e a prefeitura só faz a coleta nos bairros três vezes por semana. Tudo vai para o aterro”. Há três anos, José começou a separar o lixo dentro de casa. Com o aumento de materiais e a vontade de estender a coleta para todo o bairro, ele pediu à Associação de Moradores um local onde pudesse fazer esse trabalho. O antigo campo de bocha do bairro foi cedido e é lá que ele trabalha todos os dias pela manhã. Como sua preocupação é com o meio ambiente, ele vende os recicláveis para atravessadores (fazem a mediação entre catadores e indústria de reciclagem). Em um mês ele consegue uma média de R$ 50 a R$ 70. O dinheiro é dividido entre ele, a Associação de Moradores do Bairro Teixeira Leite (20%) e a Igreja Católica (20%). Depois de três anos, a área de atuação da coleta seletiva aumentou para os bairros vizinhos. Seu José já é conhecido na região e pessoas de outros bairros vão procurá-lo para aprender a fazer o mesmo. Recentemente, o posto de gasolina de Teixeira Leite começou a separar o lixo e cerca de 60% das famílias do bairro já contribuem para a reciclagem. A gestão integrada entre Estado e cidadãos consegue, aos poucos, minimizar os impactos dos resíduos sólidos no Meio Ambiente e aumentar a vida útil dos aterros sanitários - no Espírito Santo são três, onde é despejado o lixo de 26 municípios capixabas. Os outros municípios utilizam os mais de 100 lixões espalhados pelo Estado. Quem trabalha para a diminuição desse dado tem orgulho do bem que faz, como o Seu João. “O meio ambiente depende de nós. Aqui nós catamos cerca de 80 toneladas por mês. São 80 toneladas de lixo que sustentam 27 famílias e não vão parar debaixo da terra, não vão pros rios, nem pros mares.” Primeira Mão
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Política Nacional de Resíduos Sólidos A Política Nacional de Resíduos Sólidos trata da Logística Reversa, um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a facilitar a coleta e o retorno dos resíduos sólidos aos seus geradores para que sejam tratados ou reaproveitados. Ou seja, é o retorno dos resíduos (agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, sacolas plásticas, entre outros) pós-venda e pós-consumo. Estados e municípios contam com o apoio do Governo Federal para seus planos de desenvolvimento urbano a partir de variáveis ambientais. Entre elas, a promoção de coleta seletiva, construção de aterros sanitários, eliminação de lixões, manejo de materiais de construção descartados e a realização de consórcios municipais para atuação conjunta nessas áreas.
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Os “sem identidade” ››› Cássia Ramos e Luana Dalla Bernardina
A experiência de três cidadãos capixabas que por muitos anos viveram sem o RG Dona Anadir Penha Marchesine Batista, 65 anos, e o senhor João Gonçalves Teixeira, 59, ambos moradores do município de Vila Velha, possuem algo em comum com a senhora Maria José Nogueira dos Santos, 61 anos, que reside em Vitória. Três pessoas com diferentes histórias de vida mas uma mesma experiência: a de viver por mais de trinta anos sem o Registro Geral (RG), mais conhecido como carteira de identidade, principal documento de identificação do brasileiro.
Há sete anos, Anadir percebeu que chegara a hora de dar entrada ao processo de emissão da sua identidade, mas ainda hoje afirma que é possível tocar a vida sem o documento. Como uma dona de casa dedicada, nunca trabalhou fora e por isso afirma não ter sentido diferença dos anos em que viveu sem o RG para os atuais. “Minha carteira de trabalho e o meu CPF eram aceitos em todos os lugares. Com eles abri conta em banco e até fiz cartão de crédito”, ressalta. O pedreiro João começou a trabalhar ainda na adolescência e logo providenciou a emissão da Carteira de Trabalho e Previdência Social, onde consta todo o seu histórico profissional. Mas como os demais documentos não lhe foram cobrados, o trabalhador não viu a ne-
cessidade de providenciá-los. Há apenas quatro meses ele tirou sua identidade. Mas só porque sua carteira de trabalho, utilizada inclusive para obter um cartão de crédito, encontra-se em mau estado, devido aos muitos anos de uso. “Certa vez recebi o pagamento de um serviço por depósito bancário, mas quase não consegui resgatar o dinheiro porque precisava do número da identidade. Tive que conversar muito com o bancário, até conseguir. Mas a pior situação foi em uma viagem em que fui barrado no ônibus porque o motorista alegou que meu documento estava muito velho e não serviria para comprovar nada. Após muita conversa, consegui embarcar. Nesse dia resolvi tirar meu RG”. A facilidade e a gratuidade para obter a Carteira de Trabalho e o CPF também levaram Maria José a viver grande parte de sua vida somente com esses documentos. Isso era suficiente para ter um plano de saúde, conseguir atendimento médico e com uma conversinha ou outra resolver as burocracias do dia a dia. Há menos de um ano dona Maria tirou sua identidade, quando já não aguentava mais arrumar desculpas. “Eu comecei a me envergonhar de toda vez ter que conversar para aceitarem a minha carteira de trabalho como comprovante para tudo”, argumenta.
Um só documento › RG, Carteira de Trabalho, CPF, título de eleitor e certidão de nascimento ou civil. Essa é a documentação básica que o cidadão brasileiro deve ter para estar inserido na sociedade. O Brasil chega a exigir três vezes mais documentos do que países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o principal documento é o social security. Ele serve como autorização para trabalhar, como nossa carteira de trabalho; e para fiscalizar o pagamento de impostos, como o CPF. Na tentativa de amenizar essa situação e facilitar a vida dos cidadãos, o Governo Federal, em 2009, atualizou e sancionou a lei 9454/1997, que institui o Registro Único de Identidade Civil (RIC), uma nova carteira de identidade totalmente digital. Além de dados como nome, sexo, data de nascimento, foto, filiação, naturalidade e assinatura, conterá o número do RG, do CPF, do título eleitoral e do novo Número de Identificação Social (NIS). O documento que promete ser a solução para problemas como os que dona Anadir, o senhor João e a senhora Maria José enfrentaram, começará a ser utilizado ainda neste ano. De acordo com o Ministério da Defesa, as primeiras cidades serão Rio de Janeiro, Brasília e Salvador, onde cerca de cem mil pessoas vão trocar as tradicionais carteiras de identidade pelo modelo digital. No prazo de nove anos, a substituição total dos documentos será feita gradualmente em todo o país. Semelhante a um cartão de crédito, o RIC ainda promete dificultar falsificações por conter um chip capaz de reunir diversas informações do cidadão, como altura, impressões digitais, entre outros dados, além de trazer novos itens de segurança, como uma marca d’água e a maneira como os dados são escritos no cartão. O novo documento terá validade de dez anos e o número de certificação digital que ele carrega, de três anos, com prazo prorrogável. Esse número pode funcionar como uma assinatura eletrônica e, no futuro, facilitar a validação de contratos e até outros documentos.
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Fotografia Fernanda Marchesini
Sacolas pagas, novos hábitos
››› Angeli dos Anjos e Tamiris Vieira
Novo termo de compromisso proíbe a distribuição de sacolas plásticas nos supermercados de Vitória visando mudar os costumes dos capixabas
Os antigos carrinhos de compras, sacolas de feira e até mesmo caixas de papelão voltam a aparecer nos supermercados. Isto porque o termo de compromisso, que proíbe a distribuição de sacolas plásticas tradicionais nos supermercados de Vitória, está mudando os hábitos de muitos capixabas. O termo determinou que os supermercados substituam as sacolas comuns pelas biodegradáveis, que devem ser vendidas e não mais distribuídas gratuitamente. A intenção é reduzir a quantidade de lixo depositada no meio ambiente.
Segundo uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), das 9500 toneladas de lixo recolhidas em Vitória, todos os meses, cerca de 900 são compostas por sacos plásticos. De acordo com a engenheira cartógrafa e especialista em Engenharia Ambiental, Márcia Zenóbia Lima, o grande volume de sacolas utilizadas todos os dias traz como consequência aterros sanitários cada vez mais lotados. “As sacolas plásticas levam centenas de anos para se decompor e, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, elas são responsáveis pela grande quantidade de lixo nos aterros”, afirma a engenheira. Muitas pessoas não sabem, mas os sacos plásticos comuns impedem a degradação do lixo, pois o que seria decomposto fica protegido dentro dele. O engenheiro químico e professor de Planejamento e Gestão Ambiental da Ufes, Renato Siman, explica as vantagens das sacolas biodegradáveis. “Os produtos que compõem as sacolas plásticas têm um tempo muito longo de degradação, o que faz com que resíduos que seriam facilmente decompostos e se encontram dentro delas fiquem impedidos de se decompor. Já as sacolas biodegradáveis não atrapalham a degradação do lixo”. Os consumidores › A implantação deste termo na Capital levantou opiniões diversas. A estudante Carolina Bonella Grassi, de 25 anos, afirma que a venda das sacolas tem um lado bom e outro ruim. “Por um lado esta medida trará benefícios para o meio ambiente, mas por outro precisamos das sacolas plásticas para guardar o lixo”. A funcionária pública Iodete Dias Rodrigues, 44 anos, classificou a nova medida como injusta. “Não é o povo que Primeira Mão
tem que pagar por isso, já pagamos muita coisa embutida nos impostos. Os estabelecimentos deveriam fornecer gratuitamente as sacolas biodegradáveis”, sugere. Já a contabilista Iracy Miranda Batista, moradora de Jardim Camburi, é a favor da troca das sacolas plásticas comuns pelas biodegradáveis e retornáveis. “Esta nova lei será importante, pois irá ajudar na preservação do meio ambiente. Em relação ao lixo, as sacolas de lixo azuis, por exemplo, continuarão sendo vendidas. Eu concordo com a medida, mesmo perdendo as regalias de sacolas plásticas para uso nas lixeiras, pois o meio ambiente vale mais e precisamos pensar coletivamente, não apenas individualmente”, ressalta. A partir da experiência em Vitória, o termo de compromisso será ampliado para todos os municípios do Estado. De acordo com a Promotora de Justiça e dirigente do Centro de Apoio Operacional de Defesa ao Meio Ambiente do Ministério Público do Espírito Santo, Nícia Sampaio, o termo busca acompanhar o que está acontecendo no Brasil e no mundo, como resposta a uma preocupação geral, comprovada por pesquisa, de que o planeta não suporta mais o modo de agir da população. “É importante salientar que adotamos o lema ‘pensar globalmente e agir localmente’ quando firmamos o termo com os supermercados”, ressaltou. Agosto 2011
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Esporte ainda pouco divulgado no Estado revela ser ótima terapia e atividade de lazer
››› Fernanda Marchesine e Mariana Gomes
Arco e Flecha
Não foi fácil acordar cedo num domingo daqueles em que o friozinho te prende na cama, mas valeu a pena. O combinado era acompanhar uma aula de arco e flecha - que começa às 8h30 e acaba às 10h30 - e fazer as entrevistas para a matéria. Quando lembramos de olhar o relógio já era quase meio dia. Não é sempre que o tempo passa tão rápido.
Antes de irmos embora, arriscamos algumas flechadas no alvo para iniciantes. Nós nos munimos dos aparatos de segurança - o protetor de braço e os dedais - para não nos machucarmos com a corda do arco. Contamos com as orientações de Daniel Juvêncio do Nascimento, presidente da Federação Capixaba de Tiro com Arco (FCTARCO). Com a paciência de um professor experiente, ele explicou que o arqueiro deve manter a postura ereta, o corpo em posição de 90° do alvo e os pés retos e alinhados com os ombros. A “aula” que tivemos foi diferente da que os alunos iniciantes têm. Eles não pegam num arco nos primeiros dias de treinamento. O diretor técnico da FCTARCO e também professor, José Carlos Salviato (Biriba), ensina os movimentos de corpo com uma borracha e somente quando o aluno consegue desenvolver certa aptidão é que lhe é entregue o arco recurvo - instrumento sem roldanas que requer mais força para fazer e manter a puxada das cerdas. Há também o arco composto, que possui polias, o que ajuda o atirador, pois minimiza o peso empregado na puxada e dá a ele mais tempo para estudar o tiro. Esse tipo de arco é mais potente e requisitado por quem necessita de maior rendimento. Na aula que acompanhamos, os alunos já estavam treinando com arcos: o professor José Carlos dava as instruções e vez ou outra soltava frases de incentivo para os aprendizes. Alguns familiares dos integrantes da escola assitiam sentados em cadeiras de praia e batiam papo com os amigos - pais de outros alunos - embaixo da sombra de uma grande árvore. Nós, repórteres, podemos falar por experiência própria: aulas de arco e flecha são relaxantes. Fazem o atirador esquecer da rotina cansativa, de todos os problemas e no momento do disparo sentir que tem o controle de tudo e está em harmonia com o mundo. E quase todos podem participar da escola. Segundo José Carlos, qualquer pessoa “dos 8 aos 80 anos pode praticar tiro com arco”. Mas há um aluno que contraria a afirmação do professor: com seis anos já faz parte da turma e usa um arco infantil. Christian Monteiro Bastos Santos participa das aulas há duas semanas e já atira como gente grande. Ele afirma gostar da prática e seu pai comenta que Christian é quem o acorda nos finais de semana para irem juntos à escola. Fotografia Mariana Gomes e Ricardo Dobrovosky
Dificuldades › Com mais de 100 alunos inscritos e, destes, cerca de 15 praticantes, a escolinha funciona na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que cede espaço para as aulas. Mas quem fornece todo o material utilizado é a Federação, que cobra R$10 mensais por arqueiro associado e reverte as contribuições em mais arcos e flechas. A grande dificuldade está em comprar os arcos, pois os melhores são produzidos no exterior e o preço é alto, podendo ultrapassar R$1.000. Tendo que importar o material para manter a qualidade do trabalho, a Federação concilia seu orçamento com a demanda de arcos e flechas necessária para as aulas. Outro problema é o baixo número de praticantes ativos. Segundo o professor José Carlos, o horário das aulas - sábados e domingos pela manhã - também dificulta o crescimento da prática desse esporte. Ele comenta que muitos alunos começam a fazer o curso mas acabam desistindo nas primeiras aulas, geralmente por causa do horário. “Quem sai na sexta-feira não consegue chegar aqui no sábado”, brinca. Mas há alunos que não desistem. O estudante Giuliano Scardua Sposito Serrano, 13 anos, já terminou o curso e continua praticando para se preparar para competições. Há dois anos ele participa das aulas e acordar cedo nos finais de semana não é um problema. “É legal para relaxar um pouco, é como um hobby”, comenta. Competições › Os competidores, masculino e feminino, são divididos em cadete (até 16 anos), juvenil (16 a 18 anos), adulto (a partir de 19 anos), e master (a partir de 50 anos). As competições podem ser Outdoor - quando são realizadas ao ar livre, em campo aberto e plano; e Indoor - quando as provas são realizadas em ambientes fechados, como ginásios de esportes.
pontuação, ele é dividido em dez faixas coloridas: amarelo (9, 10 ou mais), vermelho (8 e 7), azul claro (6 e 5), preto (4 e 3) e branco (2 e 1). O suporte onde se apoia o alvo é feito de almofadas de palha, com camadas sobrepostas. José Carlos e Daniel definem o tiro com arco como um esporte democrático. “Não existe essa história de quem indica, você tem que ser bom para se classificar”. Os atletas filiados à Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTARCO) fazem parte de um ranking que utiliza os pontos alcançados em competições para critério de classificação. A partir desse ranking, a Confederação fica de olho nos maiores pontuadores para convocá-los a participar das seletivas. A estudante Dalila Machado do Nascimento, 18 anos, é a única mulher que pratica o tiro com arco aqui no Estado e diz que consegue conciliar o pré-vestibular e as aulas de inglês com a prática do esporte. “Aqui é relaxante, você tira o stress da semana toda”. A jovem planeja participar das Olimpíadas de 2016 e comenta que este é um sonho do pai, o presidente Daniel. Benefícios › Segundo José Carlos, a prática do arco e flecha é considerada
uma terapia e é até recomendada por psicólogos. “O núcleo de Psicologia da Ufes sugeriu, inclusive, inserir a escolinha como uma forma de tratamento de pacientes, caso o curso de Educação Física não tenha interesse em apoiar o projeto”. O tiro com arco, além de ser um esporte para quase todas as idades e ambos os sexos, é também possível para pessoas com deficiência. O atleta paraolímpico Kevin Evans, por exemplo, não possui um dos braços e é um dos melhores atletas na sua categoria. Ele arma sozinho o arco com a força do seu único braço e solta a flecha com um dispositivo que coloca na boca. Os pontos médios alcançados por ele em competições chegam a ser maiores do que os de atletas sem deficiência física. Outro ponto positivo do esporte é o respeito ao próximo. “Aqui tem advogado, médico, técnico em informática, estudantes. Nesse esporte, não há diferença entre um arqueiro e outro. Na hora em que estão lado a lado, são todos iguais. Um ajuda o outro”, afirma o professor, que sonha em incluir o arco e flecha na grade curricular do curso de Educação Física e ministrar o esporte em escolas públicas.
A repórter Fernanda Marchesine arriscou algumas flechadas
O alvo, objetivo do arqueiro, possui dois tamanhos, sendo um de 122 cm de diâmetro e outro de 80 cm. Para efeito de Primeira Mão
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››› Marcelle Desteffani
Os taxistas carregam histórias de passageiros que só eles podem contar ››› Máyra Novais e Tamiris Vieira Fazer uma matéria sobre taxistas é uma verdadeira corrida. Eles já dizem em primeira instância: “o meu tempo é curto, se aparecer algum cliente terei que atender”. Mas no meio de toda essa pressa, conseguimos ouvir algumas histórias. Apresentamos agora as experiências e fatos engraçados que acontecem durante suas “corridas”. Entre no carro e boa viagem!
U não s ta anos t passando p um passagei próximo. Adm acelerou o qu Hospital San já estava de veículo: a vida”. p
Trote Edson Souza Fraga já passou por situações inusitadas nos dez anos em que trabalhou como taxista. Segundo ele, é comum os taxistas caírem em golpes ou trotes e o mais aplicado é o da nota de R$50 falsa. “Quem está na profissão tem que tomar muito cuidado. Foi tentando sair de uma nota falsa que passei um dos maiores apertos da minha vida”. Numa noite de junho de 2008, Edson pegou um casal com uma criança na Vila Rubim, Vitória. O destino era uma festa no Morro do Romão. Ao chegar ao local e informar que a corrida tinha saído por R$30, o passageiro disse que só tinha uma nota de R$50. Desconfiado, o taxista disse que não tinha troco. O homem, então, pediu que ele o levasse à Jardim da Penha, para fechar o valor. Edson aceitou a proposta. O cliente deixou a família na festa e voltou com um objeto enrolado em uma toalha e o colocou no porta-malas. Ele explicou que na casa havia traficantes, assassinos e o que estava em seu porta-malas era droga. Edson ligou o carro e partiu sem o passageiro. “Eu desci a mil e nem olhei para trás”. Quando chegou ao seu ponto no Shopping Vitória, Edson desceu do carro desmaiando, sendo levantado pelos colegas de profissão. Ele pediu que ligassem para a polícia, pois havia droga no carro. “Quando o policial desenrolou a toalha, eu não acreditei: era um tijolo”, conta a gargalhadas.
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fotografia
Fulano de tal
Do In
Benedito moro município de Afonso lhou como taxista. Certa v distante do centro e um impre vergonhosas da sua vida. Durante riga. “Queria parar em qualquer m atrasados para um aniversário. Enqu contou Benedito aos risos. Após deixa que pôde até conseguir achar um luga corri para o mato, abaixei as calças e fiz rou que uma viatura da Polícia Federal ciais resolveram verificar o que estava situação desagradável. “Na hora eu e, segurando um rolo de papel hi bem”, explica. Os policiais pedi Benedito ficou muito enve conta o que aconteceu
*Os nomes utilizados na matéria são fictícios para proteger a identidade das fontes. Primeira Mão Agosto 2011
Receita para relaxar Há seis meses Joaquim tem uma passageira que é, no mínimo, curiosa. Ele conta que a leva ao motel pelo menos duas vezes por mês. Seria uma situação corriqueira se ela estivesse acompanhada. Mas a mulher diz que permanece sozinha durante o tempo pago pelo quarto. Joaquim conta que na primeira vez achou a situação estranha. “Ela me disse que gosta de ficar no motel sozinha e que lá é um ótimo lugar para relaxar. Depois de ‘descansar’ ela me liga para buscá-la”.
Final Triste
Uma história que aconteceu em 1982 sai da mente de Admir Lodi Coradi, há trintaxista. Na volta de uma corrida, Admir estava pela Avenida Darly Santos, em Vila Velha, quando iro entrou no carro com destino ao hospital mais mir percebeu que o senhor começou a enfartar e uanto pôde para socorrê-lo. Mas quando chegou ao nta Casa de Misericórdia de Vitória, o passageiro esacordado. O laudo foi dado dentro do próprio aquele homem já havia “passado para a outra . Sem mais o que fazer, Admir deixou o corpo no hospital.
Te conheço? Outra história de Edson é de quando foi atender uma cliente em Coqueiral de Itaparica. O destino? Um motel. Quando chegou lá, surpreendeu-se ao encontrar uma vizinha. “Fiz de conta que não sabia quem era, e ela voltou para trás fingindo não me conhecer. Mas não teve jeito, eu já estava lá e ela teve que entrar no carro. Eu a deixei em casa e levei o rapaz para onde ele morava. No outro dia a mulher apareceu em minha casa e pediu para que eu não contasse nada ao seu marido”. Edson não contou.
or de barriga nesperada
ou por mais de quinze anos no Cláudio e durante esse tempo trabavez, ele levava uma família para um bairro evisto o fez passar por uma das situações mais e a viagem, Benedito sentiu uma forte dor de barmatagal pelo caminho, mas os passageiros estavam uanto isso eu ia me apertando e tentando disfarçar”, ar os passageiros no local, Benedito acelerou o máximo ar onde pudesse ‘ir ao banheiro’. “Eu desliguei o carro, z o que tinha que fazer”. Entretanto, Benedito não repavinha logo atrás. Ao ver o táxi no acostamento, os polia acontecendo. Benedito foi pego sem calças e em uma não sabia o que falar. Vesti minhas calças às pressas igiênico em uma das mãos, disse que estava tudo iram desculpas e saíram rindo disfarçadamente. ergonhado, mas até hoje se diverte quando u.
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ILUSTRAÇÃO André Cunha
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Consumismo: um mal contemporâneo
››› Luiza Boulanger Malu Damiani
Resistir às tentações tem sido difícil. O consumo é cada vez mais estimulado e comprar nunca foi tão fácil.
Você já parou para contar quantos anúncios viu, leu ou ouviu em apenas um dia? Não importa o que estejamos fazendo, eles nos alcançam e criam necessidades e desejos que nem deveriam existir. A publicidade, aliada às opções de crédito, tem facilitado o ato de comprar. Mas este pode acabar se transformando em um problema.
Consumo para levantar a autoestima Para levantar a autoestima e ter a sensação de saciedade, leveza e êxtase, a pedagoga Ivanuze Pimenta Barbosa, 42 anos, adquire semanalmente novos sapatos, roupas, perfumes, maquiagem e joias. “Os dias que estou mais ‘deprê’ são os dias que mais compro, só pra dar um up no astral”. Ela admite que já estourou o limite do cartão de crédito, chegou a pedir outros cartões para poder continuar a comprar e fez empréstimo pessoal para manter o consumo. Uma loucura da qual se arrependeu foi ter pago R$5800 em sete pulseiras indianas de ouro. “Hoje eu vejo que foi por impulso”, afirma. Ao comprar constantemente em uma mesma loja, você acaba criando laços de amizade e recebe em primeira mão as novidades, descontos e promoções. Mas isso pode se tornar um perigo aos que amam consumir. “As vendedoras chegam a virar minhas amigas pessoais. Quando não vou à loja, elas me mandam as mercadorias para que eu possa escolher em casa”. Não conseguir juntar dinheiro, acumular dívidas e deixar de fazer coisas que tem vontade por ter gasto o dinheiro desnecessariamente, foram algumas consequências desse consumo desenfreado. Hoje ela já se vê bem mais controlada, criou novos hábitos para não comprar. “Deixo de ir às lojas, desativei alguns cartões e passei a tirar o extrato bancário com mais frequência”, diz. Seu guarda-roupa é amplo: seis portas de armário, um sapateiro e um roupeiro. Mas além de ocupar todos esses espaços, Ivanuze guarda parte de suas roupas no armário da filha e já faz planos para usar também o do filho. Ela ainda faz doações e vende parte de suas aquisições, para reinvestir o dinheiro em novas peças.
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Ajuda em um blog Com a conta no vermelho e nenhum real para comprar o apartamento em que morava em São Paulo, a publicitária Joanna Moura, 27 anos, decidiu mudar de vida. Assim, veio a ideia de ficar um tempo sem comprar roupas. “Mas eu era tão consumista que seria quase impossível abraçar esse desafio sozinha”. Foi assim que surgiu, em março de 2011, o blog “Um ano sem Zara”. O objetivo era dividir com as pessoas o desafio de ficar um ano sem comprar. “Eu sei. Vai ser difícil. Eu vou ter crises. Vou tremer e babar quando passar na frente de uma vitrine. Mas tenham fé em mim”, foi o desabafo do seu primeiro post. A única exceção era a maquiagem, já que para Jojo - como assina o blog - “não dá pra ficar sem”. Diariamente Joanna monta um look com peças do seu guarda-roupa, fotografa e posta no blog. Toda produção, edição das imagens, texto e publicação, leva cerca de duas horas. A blogueira declara que já saiu do vermelho e cria expectativas para o fim dos 365 dias. “Espero que eu me torne uma pessoa mais equilibrada com relação ao consumo. Mas vou inventar outra coisa pra não perder o contato com as pessoas que passaram a acompanhar as minhas loucuras”, brinca. Hoje seu blogue tem mais de 12 mil acessos por dia. A referência à marca Zara representa toda e qualquer loja de grande apelo entre as mulheres. São nessas lojas que as pessoas consomem sem perceber e acabam levando para casa coisas que nem precisavam. Confira: umanosemzara.blogspot.com
Dinheiro na mão é vendaval A estudante de Direito Paula Couto, 22 anos, é muito vaidosa e também compra para melhorar a autoestima. “Fico feliz quando emagreço e consigo comprar uma calça um número menor ou quando compro maquiagens para me produzir mais”. Mas Paula já se arrependeu de ter comprado muitas coisas. Uma de suas loucuras consumistas foi um vestido casual que custou o dobro de seu salário. “Hoje percebo que foi um absurdo. Jamais faria de novo”. A estudante conta que com o que ganha como estagiária não é possível pagar tudo à vista e sempre recorre ao cartão de crédito, parcelando em “quanto mais vezes melhor”. Dentro de casa, seus pais não dão palpite sobre o que ela deve ou não fazer com o dinheiro. “Desde que eu não crie dívidas, não tem problema se compro um ou seis pares de sapatos no mesmo dia”. Sapatos e sandálias, aliás, são o ponto fraco de Paula. “Adoro! Compro sobretudo as de uso cotidiano”. Não existe uma determinada época do mês ou estado de espírito que a faça comprar mais. “Sigo à risca aquele ditado ‘dinheiro na mão é vendaval’, não consigo guardar de jeito nenhum”, brinca. Mas as tão temidas promoções só lhe afetam quando estão diante dos olhos. “Nem adianta me ligar falando de liquidação. Só fico tentada em comprar quando está na minha frente”. Houve uma época em que a estudante não sabia de todas as roupas e sapatos que tinha no guarda-roupa. Hoje sabe, mas eventualmente esquece de uma ou outra peça. “Quando o armário não aguenta mais”, Paula doa as peças que já não lhe interessam.
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Clientes “especiais”
A Doença
Toda loja tem seus clientes “especiais”, aqueles que sempre passam para ver as novidades e, inevitavelmente, acabam levando alguma coisa. Em muitos casos a compra é desnecessária, feita somente pelo prazer de comprar. Danielle Freixo, vendedora de uma loja de roupas femininas de Jardim da Penha, teve uma cliente assim. “Tudo que ela via queria comprar. Ela pedia todas as cores do mesmo modelo e às vezes, mesmo não sendo do tamanho certo, ela comprava”. Danielle lembra que a cliente ia à loja toda semana e gastava muito. “Cada compra que ela fazia era bem grande. Ela gastava cerca de R$1.000 por semana”, revela. Danielle diz que era nítido que ela era muito solitária. “Acho que isso a fazia comprar mais”, avalia.
A compra compulsiva é um distúrbio psicológico capaz de ativar áreas do cérebro relacionadas ao prazer. O diagnóstico de compulsão por compras, chamada onemania, ainda é bastante discutido do ponto de vista psicológico e psiquiátrico. “Alguns especialistas a consideram uma doença obsessiva-compulsiva. Nesse caso, a pessoa teria outros atos de compulsão além da compra”, diz a psicóloga Priscila Valverde. Acredita-se que a doença pode estar associada a transtornos de humor e de ansiedade, dependências químicas e até transtornos alimentares. A onemania também surge para aliviar sentimentos de frustração, sendo vista pelo doente como a “solução” para os piores momentos da vida.
As origens
Números
O consumismo é um fenômeno contemporâneo, que se coloca como uma forte característica do nosso sistema econômico. Com a Revolução Industrial, houve um aumento na escala de produção e consequentemente um aumento no número de mercadorias em circulação. Por conta disso, as sociedades passaram por uma grande transformação. Estamos mergulhados em um mundo do qual recebemos a todo momento uma avalanche de informações sobre produtos que prometem tornar nossas vidas melhores. Infelizmente, em nossa sociedade o “ter” tem se sobressaído ao “ser”. As pessoas mergulham em dívidas com o objetivo de manter seu status e estar sempre em dia com as novas tecnologias, ou com o carro do ano.
Não existe um estudo no Brasil que diga quantas pessoas sofrem dessa doença, mas estima-se que seja 3% da população, em uma proporção de quatro mulheres para cada homem. Especialistas não sabem precisamente o porquê de a doença ser mais frequente nas mulheres, mas acreditam que o motivo está relacionado a condições culturais. O tema é objeto de estudo da equipe do Ambulatório do Jogo Patológico e Outros Transtornos do Impulso (AMJO) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
“Por conta disso, nossas discussões em torno desse fenômeno não podem ser reduzidas a um distúrbio individual, mas a uma consequência de uma série de fatores, sendo o principal deles a lógica de mercado a que estamos submetidos”, avalia Priscila.
Consequências Segundo a psicóloga Priscila Valverde, o consumo exagerado abala a vida financeira, o que pode refletir nos relacionamentos familiares. Além disso, é comum o surgimento de um sentimento de frustração ou ainda um aumento da ansiedade. Outra consequência é a de nível ambiental: o consumo ilimitado gera um acúmulo de mercadorias sem uso que resulta no aumento do lixo jogado no meio ambiente. Priscila ressalta que a pessoa que sentir que tem esse distúrbio pode procurar apoio psicológico.
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Laços efêmeros ››› Fernanda Batista e Luiza Boulanger
Nem sempre o final é feliz e às vezes ele chega muito antes do que se espera É comum vermos pessoas famosas casando-se e separando-se o tempo todo. Sthefany Brito e Alexandre Pato, Ronaldo Fenômeno e Daniela Cicarelli são alguns exemplos. Mas esses casamentos que duram menos até do que um “rolo” não acontecem somente no mundo das estrelas.
É o caso do engenheiro Luiz Henrique Ferreira, 29 anos. Ele namorou por três anos, mas faltando poucos meses para o casamento, pensou em adiá-lo. Só decidiu seguir em frente porque a família apoiava a união. Apenas seis meses depois da cerimônia, veio o divórcio. O motivo? “Falta de compatibilidade. Nós tínhamos sonhos e planos muito diferentes, por isso não deu certo”, explica.
A advogada Luciana Ribeiro, 36 anos, também se casou por pressão da família, que considerava o noivo o “homem perfeito”. Na época ela tinha 27 anos e já namorava há quatro, mas diz que não teve maturidade suficiente para ir contra seus pais e irmãos. “Eu achava que as coisas pudessem melhorar e o amor poderia surgir após o casamento”, lembra. Depois de quase dois anos juntos, ela não suportou mais a convivência e pediu o divórcio. Pressão Social › Muito casais se unem mais por pressão social do que por amor. Luiz Henrique, que passou por isso, observa que “as pessoas não são bem vistas quando, a partir de certa idade, ainda estão solteiras. A sociedade é preconceituosa. Já ouvi muitas mulheres reclamando que estavam passando da hora de casar”. Essa pressão acaba por levar ao altar muitos casais despreparados para a vida a dois. É o que conta Larissa Lorenzutti, dona de uma loja de vestidos de noivas em Vitória: “Eu vejo noivas completamente apaixonadas, mas outras estão pensando mesmo é na festa, na igreja, no vestido... Muitas gastam mais de cem mil reais com o casamento, mas não pensam no que vem depois”.
Há casais que agendam a cerimônia sem nem ter certeza de que o casamento vai se realizar. Foi o caso da fisioterapeuta Julia Costa, 25 anos. “Eu já namorava há quatro anos quando decidimos marcar a data. Passaram-se seis meses e terminamos”, conta. Novos valores › Para a psicóloga Rafaela Feijó, a menor durabilidade dos casamentos está relacionada a diversos fatores. “A sociedade vende a ideia de que temos de ser felizes o tempo todo, o que não é possível. Se algo da relação conjugal faz sofrer, acaba levando à separação”. Para ela, também contribui para o fim das relações a independência financeira da mulher. “Com fonte de renda própria, as mulheres agora têm mais liberdade. Por outro lado, elas estão com uma sobrecarga de trabalho, o que pode comprometer a relação a dois”, explica. Outro fator é a divergência de interesses. “As pessoas estão mais individualistas. Quando o ‘eu’ passa a ser sempre mais importante que o ‘nós’, um casamento não se mantém”. Segundo Rafaela, a facilidade e aceitação social do divórcio também contribui para que os matrimônios sejam menos duradouros. Divórcio › Com a promulgação da Emenda Constitucional nº 66, de 13 de julho de 2010, o divórcio ficou mais fácil. Antes, o processo levava o tempo mínimo de dois anos, agora dura cerca de uma semana. A lei de 1977 exigia que os casais tivessem pelo menos um ano de união para que pudessem propor a separação judicial. Após a separação judicial, era necessário esperar mais um ano para solicitar o divórcio. Outra opção era esperar dois anos de separação para o divórcio direto consensual. A emenda extinguiu o tempo de casamento e a separação judicial necessários para dar entrada no pedido de divórcio. Da mesma forma, não é mais necessária uma decisão judicial: o divórcio agora pode ser obtido no cartório.
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REDESENHANDO O MAPA
Há vários anos, as prefeituras de Vitória e Serra brigam na justiça por causa da divisão territorial entre os dois municípios. O assunto voltou à tona depois de uma nova decisão do STJ.
››› Lucas Schuina
Um título de cidadão serrano reluz na placa de metal posta na sala da casa de José Teixeira. Ele e sua esposa, Edna Marques Teixeira, chegaram ao Bairro de Fátima em 1975, quando o lugar ainda era pouco mais do que um inóspito matagal. Ao longo desses 36 anos, o casal ergueu um complexo de cinco residências. José, 66, e Edna, 64, vivem hoje na companhia de dois cachorrinhos, na casa que fica na parte superior da construção. O casal tem cinco filhos e oito netos. O problema é que o Bairro de Fátima, a Canaã de José e Edna, não fica na Serra, e sim em Vitória. É o que diz a Lei Estadual nº 1919, que trata da divisão territorial do Espírito Santo. A lei foi publicada em 1963, e naquela época havia pouquíssimas construções próximas à área limítrofe entre Vitória e Serra. Mais tarde, impulsionado pelo aparecimento de grandes empresas, o local foi sendo ocupado sem que houvesse uma identificação exata dos limites territoriais. As áreas industriais da ArcelorMittal, do Porto de Tubarão, da Vale e do Porto de Praia Mole foram estabelecidas entre as duas cidades.
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Com o tempo, a prefeitura da Serra passou a cuidar dos serviços urbanos de bairros constituídos em território pertencente a Vitória. Por isso, em 1978, a Serra passou a contestar a lei nº 1919 na justiça, reivindicando que o limite se estabelecesse na ponte da passagem. Desde então, cerca de 80 ações judiciárias se acumulam. O ponto mais sensível da questão diz respeito aos impostos. Os tributos dos moradores vão para Serra. A confusão maior, porém, diz respeito às grandes empresas. Como a situação dos limites territoriais nunca foi resolvida, as companhias e suas prestadoras de serviços acabam sendo obrigadas a depositar parte dos tributos em juízo. Foi o que o aconteceu com o Imposto de Trasmissão de Bens Imóveis (ITBI) de um terreno da antiga CST (hoje ArcelorMittal) situado no Porto de Praia Mole. Antigamente, o ITBI era pago ao Governo Estadual, que repassava 50% do valor para o município. Depois da constituição de 1988, o imposto passou a ser pago diretamente ao munícipio. Por isso, a Prefeitura da Serra entrou na jus-
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tiça requerendo o valor. Conseguiu depois de anos de disputa, mas a ação foi revertida em março deste ano pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) do Espírito Santo. O STJ considerou a lei nº 1919. Portanto, o terreno situado no Porto de Praia Mole está em Vitória e a prefeitura da Serra deverá devolver os R$8,4 milhões do ITBI. A decisão deu base para a administração da capital poder incorporar áreas que estão sob a responsabilidade da prefeitura serrana. Cinco bairros historicamente ligados à Serra podem entrar em disputa: Hélio Ferraz, Carapina I, Bairro de Fátima, Eurico Salles e Jardim Carapina. Conforme cálculos aproximados do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), 50% das áreas habitadas de Eurico Salles e 70% de Hélio Ferraz estão em Vitória. Nos casos de Carapina I e Bairro de Fátima, esse número chega a 100%. A área de Jardim Carapina pertencente a Vitória ainda não é habitada. A Prefeitura da Serra, porém, reivindica a manutenção dos bairros alegando que Vitória nunca se preocupou com eles.
Diante dessa situação, o deputado estadual Roberto Carlos (PT), ex-vereador da Serra, decidiu criar uma comissão na Assembleia Legislativa do Espírito Santo para tentar resolver a questão de forma conciliada. A comissão envolve vereadores e procuradores dos dois municípios, o Idaf, a Procuradoria Geral do Estado e da Assembleia Legislativa, e também os secretários de Desenvolvimento da Serra e Vitória, Ana Márcia Erler e Kleber Frizzera, respectivamente. Reuniões têm ocorrido para se chegar a uma proposta consensual. Divisão Salomônica › O limite entre Serra e Vitória está definido da seguinte forma na lei nº 1919: “Começa no Oceano Atlântico, na ponta de Carapebús; segue por um paralelo até encontrar a baía de Vitória; segue por esta até a foz do rio Santa Maria da Vitória, no município de Cariacica”. Trata-se, portanto, de uma linha reta imaginária cortando os dois municípios. O vereador serrano Guto Lorenzoni (PP) reclama que o texto da lei é confuso e que não dá para dizer com precisão qual seria o trajeto da linha. Provavelmente era mesmo difícil definir com exatidão o que seria a linha imaginária estabelecida pela lei em 1963. Atualmente, porém, com os sofisticados aparelhos de GPS, esse trabalho é feito com precisão. O Idaf interpretou a lei e definiu a linha imaginária cortando o mapa. Há até demarcações dentro das empresas. Existe outro problema. Como define o secretário de desenvolvimento urbano de Vitória Kleber Frizzera, a lei nº 1919 estabelece uma “divisão ‘salomônica’” dos municípios. O secretário faz uma alusão à conhecida narrativa bíblica sobre o episódio em que o Rei Salomão decide partir
Fotografia Victorhugo Amorim
ao meio um bebê cuja maternidade é reivindicada por duas mulheres. O Rei Sábio queria apenas saber quem era a mãe verdadeira, ou seja, aquela que se importou com o fato de o filho ser fatiado. No caso da divisão territorial entre Serra e Vitória, os “bebês” são realmente partidos ao meio. Há várias construções erguidas bem em cima da linha imaginária. Essa situação tem servido como um dos argumentos da Prefeitura da Serra para contestar a legislação vigente. Para Frizzera, aí está o problema mais complicado de resolver. Os impostos das empresas poderiam ser partilhados proporcionalmente. Ele acredita que uma solução prática seria transformar a linha reta numa linha sinuosa, de forma a contemplar a estrutura das residências. Segundo o geógrafo do Idaf, Mário Sartori, esse problema também acontece em outras cidades do estado. Ele explica que não é incomum definir limites territoriais por meio de linhas retas, apesar de não ser o usual em nossa cultura. “Observe o mapa dos Estados Unidos. São várias linhas retas. Isso não faz parte da nossa cultura, que é portuguesa. Aqui, o normal é fazer por marcos geográficos”. Vontade geral › Audiências públicas têm sido realizadas para debater o assunto junto aos moradores dos bairros envolvidos. A opinião da maioria é de que os bairros devem permanecer na Serra. O presidente da associação de moradores do Bairro de Fátima, Nilton Rossi, diz que já teve vergonha de dizer que morava na Serra. No passado, a cidade tinha fama de “lugar de criminosos e marginais”. Mas atualmente ele se diz muito satisfeito em ser morador serrano e afirma que a maior parte de seus vizinhos pensa da mesma forma.
Primeira Mão
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Mauro Natalício de Souza, presidente da associação de moradores de Hélio Ferraz, afirma que a esmagadora maioria de seus vizinhos quer continuar sendo morador serrano. Para ele, as implicações legais e culturais decorrentes de uma possível mudança para Vitória seriam muito grandes. A opinião de Fabiano Batista, de 31 anos, destoa do sentimento geral. Morador de Hélio Ferraz desde que nasceu, ele acredita que, caso o bairro seja incorporado a Vitória, seria melhor cuidado. Não se sabe ao certo se Vitória tem interesse nos bairros. O vereador Serjão (PSB) acredita que não, e diz que o melhor é fazer a vontade dos moradores, desde que haja uma repartição dos impostos das grandes empresas. Porém, o prefeito de Vitória João Coser chegou a declarar, em reportagem de A Gazeta, que a prefeitura da capital estaria de “braços abertos para acolher a população dos bairros com nossas obras e serviços”. A procuradora-gerente da Procuradoria Fiscal de Vitória, Teresa Cristina Pasolini, comenta que os moradores não precisam recear mudanças em registros legais. A lei determina que isso pode ser refeito gratuitamente, caso seja comprovado que a responsabilidade pelos equívocos não é deles. Ela acredita que a tendência é que a Lei 1919 seja realmente confirmada. Em breve deverá sair o resultado de uma ação sobre a constitucionalidade da Lei 1919 movida pela administração serrana. Fora dos tribunais, as administrações dos municípios, cada uma a seu modo, estão elaborando propostas para reestruturar a região.
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Internacionalmente consolidados na convenção de Berna - em 1887, na Suiça - os direitos autorais abrem processos dos mais inusitados em todo o mundo
os curiosos casos de Direitos Autorais 20
Primeira Mão
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››› Laio Medeiros
Você já pensou que a música que canta em todos os aniversários possui direitos autorais? E que, na Páscoa, um programa infantil corre o risco de ser processado se tocar a música “Coelhinho” sem autorização? Muitas pessoas não imaginam, mas canções que já fazem parte da cultura popular de diversos países têm direitos autorais. Portanto, sua veiculação sem o devido pagamento de royalties pode gerar um processo judicial – e muita dor de cabeça.
Parabéns a você › A melodia da música “Parabéns a você” foi criada no século XIX pelas irmãs norte-americanas Mildred e Patricia Smith Hill. Em 1875, as duas professoras primárias de Louisville, nos Estados Unidos, resolveram compor uma canção para as crianças cantarem na entrada da escola. O nome da canção era “Good Morning to All” (que significa “Bom dia a todos”), com uma letra bem diferente da atual. As irmãs registraram a música em 1893, mas em 1924 ela apareceu sem autorização em um livro editado pelo norte-americano Robert Coleman, que utilizou a melodia e a primeira frase de “Good Morning to All” e no segundo verso alterou para “Happy birthday to you”, o popular “parabéns a você”. Na nova versão, a música ganhou popularidade. Mas, em 1933, Jessica Hill, irmã das criadoras da melodia, venceu na Justiça pelos direitos autorais da música. Desde então, é preciso pagar royalties para tocar o “Parabéns” no rádio, televisão ou cinema. A música chegou ao Brasil em 1942, quando a rádio Tupi do Rio de Janeiro organizou um concurso para escolher uma letra que casasse com a melodia de “Happy Birthday to You”. A vencedora foi a paulista Bertha Celeste Homem de Mello, com a canção “Parabéns a você” como a conhecemos. Coelhinho › Outra história pouco conhecida do público é a da música “Coelhinho”. A canção, que fala de um coelho “de olhos vermelhos e pelo branquinho”, foi composta em 1944 por Duhilia Madeira, professora de canto orfeônico e assistente de regência de Villa-Lobos. De acordo com registros da própria compositora, a música foi executada pela primeira vez em público em 1948, no Jardim de Infância Maria Guilhermina, em Niterói, onde ela dava aula. É graças a esses registros que a família Madeira já ganhou inúmeros processos contra importantes empresas, entre elas a Som Livre e a Rede Globo, além da cantora Xuxa. Duhilia faleceu em 2003, e os direitos da música foram parar nas mãos de sua filha Cristina e mais oito familiares. Como uma canção só cai em domínio público sete décadas após a morte do compositor, a família Madeira vai ter direito aos royalties do Coelhinho por mais 64 anos. Não pode não! › Se ainda restava alguma dúvida de que se deve levar a sério as músicas infantis, um caso recente acabou com ela. No começo do ano passado, a equipe de auditoria do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) identificou um caso de plágio. A situação envolvia o hit do verão “Minha mulher não deixa não”, cantada pelo músico recifense “Reginho”. Segundo o Ecad, o pagamento do direito autoral da obra está bloqueado. A acusação de plágio foi feita em janeiro deste ano em referência a uma canção do álbum infantil Turma do Zé Alegria, de 2006. Uma artista capixaba › A cantora e compositora capixaba Dorkas Nunes começou sua carreira artística aos seis anos na Rádio Espírito Santo. Durante a maior parte de sua carreira, ela cantou em bandas de baile, e hoje se dedica ao samba e ao congo. A compositora nunca foi acusada de plágio, mas acredita que os processos envolvendo direitos autorais ocorrem no Estado por falta de informação dada aos músicos e compositores. “A maioria dos artistas tem pouco conhecimento sobre a legislação dos direitos autorais, especialmente nas mídias eletrônicas. Mas há casos em que o plágio ocorre por má fé mesmo”. De acordo com a cantora, ela só recebeu informações sobre direitos autorais quando entrou para a União Brasileira de Compositores (UBC). Mas, como Vitória não possui filial, ela teve que se cadastrar na de Belo Horizonte. Uma sociedade sem fins lucrativos, a UBC é regida por autores que têm como objetivo principal a defesa e a distribuição dos rendimentos de direitos autorais e o desenvolvimento cultural. Primeira Mão
Agosto 2011
O que é ? O Direito Autoral está regulamentado por um conjunto de normas jurídicas que visa proteger as relações entre o criador e a utilização de obras artísticas, literárias ou científicas, tais como textos, livros, pinturas, esculturas, músicas, ilustrações, projetos de arquitetura, gravuras, fotografias, etc. Esses direitos foram internacionalmente consolidados na convenção de Berna de 1887, em vigência até os dias de hoje.
Ecad O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) é uma sociedade civil, de natureza privada, instituída pela Lei Federal nº 5.988/73 e mantida pela atual Lei de Direitos Autorais brasileira. É administrado por nove associações de música para realizar a arrecadação e a distribuição de direitos autorais decorrentes da execução pública de músicas nacionais e estrangeiras.
Pelo mundo No sul da Turquia, uma cidade chamada Batman decidiu cobrar direitos autorais do diretor do filme “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, Christopher Nolan. O prefeito Huseyin Kalkan disse que o nome Batman “pertence à cidade” e quem o utilizar sem autorização prévia pode ser processado.
Música em festas Em festas privadas o uso de músicas é livre, pois quando você compra o CD adquire o direito de ouvi-lo. Porém, quando a música é tocada em locais de frequência coletiva, como estabelecimentos comerciais, é preciso pagar uma remuneração pela execução pública das obras utilizadas.
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Trocando o “eu” pelo “nós” Baseados em conceitos das sociedades primitivas, os coletivos vêm crescendo e conquistando seus objetivos ››› Carlos Scherrer
Sábado de frio na Grande Vitória. Ventos gelados percorrem o campus da Ufes em Goiabeiras. Ainda assim, no Centro de Vivência, um grupo de 12 pessoas se reúne ao redor de três mesas colocadas em um corredor. A impressão de quem passa pelo local pode ser de que eles são apenas amigos tomando um café. Mas quem chega perto ou decide se sentar com eles, descobre que aquele é mais um encontro do Coletivo Caos@ção. O Caos@ção existe desde outubro do ano passado, é composto principalmente por estudantes da Ufes e tem como foco a discussão sobre diversidade sexual e identidade de gênero no espaço universitário. O grupo é mais um dos chamados Coletivos de Discussão, espaços abertos de debates e exposições sobre determinados temas.
Diferente de empresas privadas, autarquias ou ONGs, os Coletivos são novas formas de organização do espaço de discussão pública. “Historicamente, o modelo dos coletivos está baseado nas comunidades primitivas. É uma forma de organização horizontal, onde não há uma hierarquia”, explica Wilson Júnior, pedagogo e formador popular do Núcleo de Educação 13 de Maio. “Dentro de um coletivo, as pessoas têm direito ao mesmo espaço de fala, de defender suas ideias. Elas discutem tudo o que o grupo vai seguir e decidir”, assinala. Wilson também aponta que a dinâmica dos coletivos é mais simplificada. Segundo ele, não há muitas formalidades e não existe necessariamente um regulamento, como em tantos espaços na sociedade contemporânea - a ideia é que cada membro possa defender o que acredita.
Lídia Cordeiro Campos, estudante de Biblioteconomia, faz parte do Caos@ção, e defende a presença desses espaços de discussão dentro da universidade. A jovem de 21 anos percebe a necessidade de se organizar politicamente junto com uma minoria, um segmento que não tem seus direitos civis reconhecidos pela sociedade. “Na universidade ainda existe uma lacuna muito grande em relação a diversidade sexual e identidade de gênero. Então, enquanto lésbica, é primordial que eu me organize, para que eu tenha possibilidade de fazer intervenções políticas e acadêmicas nesse espaço”, afirma. Os coletivos não se limitam à discussão de temas relacionados a lutas sociais. Existem espaços para debates e exposições sobre outros assuntos, como cultura, artes, meio ambiente e religião. Um bom exemplo é o Circuito Fora do Eixo, que existe há seis anos e atua nacionalmente como uma rede de circulação de cultura independente, como explica Carol Ruas, jornalista e articuladora do coletivo no Estado. “Mais do que música, audiovisual, teatro ou literatura, nós trocamos tecnologia social, uma forma de organização que nos permite operar dentro da cadeia da cultura de forma independente, sem precisar de um grande empresário, de estar numa grande cidade ou mesmo de estar em alta na mídia”. Ao ser questionada sobre a importância de fazer parte de um coletivo, Carol enfatiza que é uma oportunidade de desenvolver projetos junto a pessoas que têm objetivos em comum, e com isso viver uma grande experiência de troca e desenvolvimento pessoal e coletivo. “Não são as necessidades individuais que pautam o trabalho e as discussões, e sim as do grupo. Essas pessoas têm um projeto em comum e querem executá-lo, por isso a dedicação é autêntica”.
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Como se mantêm › Há coletivos que não necessitam de sustento financeiro - são apenas grupos de debates que não promovem grandes Primeira Mão
Agosto 2011
Expurgação Formado há 5 anos por designers, tipógrafos, videomakers, editores, músicos, fotógrafos, produtores, poetas e artistas plásticos em busca de desenvolvimento profissional, o coletivo realiza projetos audiovisuais e gráficos, eventos culturais, musicais e educativos, funcionando também como empresa privada. O escritório do grupo fica num casarão antigo no Centro de Vitória. O coletivo conta, atualmente, com 18 participantes e mais alguns “agregados”, como explica Raphael Gaspar, estudante de Desenho Industrial. “Algumas pessoas não fazem parte do coletivo, mas convivem aqui com a gente, estão sempre em nosso meio. Nosso negócio e trabalhar junto, e se divertir trabalhando”. Saiba mais: www.expurgacao.art.br
Caos@ção Coletivo que discute sobre diversidade sexual e identidade de gênero dentro da Universidade. Criado em outubro de 2010, após o VIII ENUDES (Encontro Nacional Universitário da Diversidade Sexual), realiza diversas ações. Dentre elas, a mais conhecida é o Cine Caos@ção, uma mostra de filmes sobre o tema de discussão do coletivo. Atualmente, conta com a participação de cerca de 20 pessoas e se reúne no segundo e no quarto sábado de cada mês, no Centro de Vivências da Ufes. “É aqui onde posso formar minha opinião em relação às questões políticas relacionadas ao direito da população LGBT, e também desenvolver ações práticas em relação a isso na tentativa de garantir nossos direitos”, declara o bacharel em Ciências Sociais Felipe Moura, que participa do coletivo.
Fora do Eixo O coletivo, que existe há seis anos, é fruto da união de vários produtores independentes que queriam movimentar a cena cultural de cidades que estão fora do eixo Rio-São Paulo, onde há a maior concentração da produção cultural do país. Atualmente o Circuito possui 73 pontos conectados por todo o Brasil e América Latina, movimentando mais de 5 mil shows por ano. Carol Ruas, jornalista e articuladora do coletivo no estado, conta que o Espírito Santo aderiu ao Circuito há pouco mais de um ano. “O estado tem uma realidade diferente das outras cidades, porque há vários coletivos de cunho cultural por aqui. O Fora do Eixo ES reúne pessoas que são articuladoras de cultura aqui do estado para gerenciar as trocas e a conexão da produção daqui com o resto do circuito”, explica. Saiba mais: foradoeixo.org.br
ações fora de seu círculo de reuniões. Mas os que desenvolvem ações mais elaboradas podem ser mantidos de diversas maneiras. Alguns coletivos são financiados por seus próprios membros, através do estabelecimento de mensalidades. Outros elaboram projetos para concorrer a bolsas de programas de financiamento do governo ou de instituições privadas. Muitos mesclam essas duas maneiras. Existem, ainda, coletivos que também funcionam como empresas, como é o caso do Expurgação. Formado por designers, videomakers, músicos, publicitários e artistas plásticos, o grupo atua na área artística, participando e Fotografia Carlos Scherrer e Drieli Volponi
Primeira Mão
criando projetos audiovisuais e eventos culturais, musicais e educativos. Para Raphael Gaspar, estudante de Desenho Industrial, o Expurgação é um espaço que potencializa a capacidade de cada um. “Nossa convivência e ênfase na colaboração coletiva permite que cresçamos uns com os outros na percepção das coisas e na produção artística”. Apesar se serem pouco divulgados, já existem vários coletivos por toda a Grande Vitória, no Espírito Santo e no Brasil. “A formação de um coletivo só depende da decisão entre, no mínimo, duas pessoas. A partir do compromisso de participar ativamente do grupo e das discussões, está criado um coletivo”, explica Wilson Júnior. Agosto 2011
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››› Luana Dalla Bernardina
Thirteen tales of love and revenge Quem gosta de música indie não deve deixar de escutar o álbum “Thirteen Tales of Love and Revenge”, da banda The Pierces. Lançado em 2007, o álbum da banda formada pelas irmãs Allison e Catherine Pierce, naturais do Alabama, traz 13 faixas com uma pegada sensual e jovem, em composições inusitadas.
As irmãs brincam com as letras das músicas em trechos como “Nós pintaremos a cidade de azul, porque baby, vermelho é tão fora de moda” na canção “Turn on Billy” e “Tudo o que precisamos são estrelas e lua, relógio na parede” na “Sticks and Stones”. Graças a este álbum, as meninas que se mudaram para Nova York para investir na carreira conseguiram que suas canções fossem temas de diversos seriados. “Secret” tocou em Gossip Girl, em Dexter e hoje é tema de Pretty Little Liars. Vale a pena parar um pouco para se deliciar com as canções desse álbum.
››› Lucas Schuina
O Diabo, Provavelmente Sem muito rumo, o jovem Charles passa os dias vagando pela cidade de Paris com seu grupo de amigos. A ordem do dia é ditada pelas organizações revolucionárias e pela sensação de que tudo vai mal com o mundo. Charles, porém, não crê em qualquer tipo de mudança na sociedade e nem mesmo se acha capaz de adaptar-se a ela. Ele acaba por concluir que o suicídio é a única forma de aplacar sua angústia.
O impasse existencial de Charles dá o tom de O Diabo, Provavelmente, longa-metragem do diretor Robert Bresson, lançado em 1977. Bresson fala aqui não apenas da diluição da juventude, mas também da possibilidade de alcance da graça num mundo governado por forças destrutivas. Marcas do estilo bressoniano, o filme não tem trilha sonora para acentuar as partes dramáticas e tampouco os atores exprimem emoções fortes, o que contribui para deixar tudo ainda mais angustiante.
››› Sérgio Rangel
1968
o ano que não terminou
“A nossa história começa com um réveillon e termina com algo parecido com uma ressaca – ressaca de uma geração e de uma época”. Assim Zuenir Ventura inicia sua obra, que relata os principais fatos políticos, artísticos e culturais do ano de 1968. Desnudando o comportamento daquela geração, o livro revela jovens que eram diferentes e tinham a subversão ao regime autoritário como um objetivo.
Com detalhes de bastidores, o livro mostra uma geração dona de uma veia cultural inflamada pelos festivais de músicas, aliados à efervescência do teatro e do Cinema Novo. Era o ano da pílula anticoncepcional, da discussão aberta sobre sexo e do uso de drogas como forma protesto. Na política destacava-se a repressão em um contexto internacional que ardia em revoluções de Cuba ao Vietnam. Os estudantes são os principais atores do livro.