Primeira Mão setembro 2015 edição 142

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Revista Laboratório do curso de Jornalismo Universidade Federal do Espírito Santo Ano XXVI edição 142

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Refugiados no Espírito Santo Pagina 8

Eleição para reitor dia 22 Pagina 4

Resistência e fé A força de um povo em defesa de suas convicções. página 12

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EDITORIAL

SumÁrio

Apesar da crise...

mais uma onda de extinções e, massa Cientistas advertem que o mundo está passando por uma onda de extinção de animais semelhante à que dizimou os dinossauros

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Apesar de o preço do dólar estar nas alturas, de a inflação subir a todo instante e da falta de recursos na universidade, a turma de 2013/1 assumiu a produção da 142o edição da revista “Primeira Mão”, confiante de que esta edição fará você, caro leitor, ficar por dentro de assuntos relevantes e que valem a pena conhecer para discutir. Para começar, vai um registro da próxima eleição para ecolha de reitor e vice-reitor da Ufes, cujo primeiro turno acontece no dia 22 de setembro. Depois, voltamos curiosidade para o tema da religiosidade, buscamos conhecer um pouco a cultura do Candomblé e fomos atrás de histórias daqueles que são perseguidos pela sua prática religiosa. Também procuramos conhecer o que move os jovens a buscar alguma religião. Investigamos ainda novas atitudes que emergem entre os jovens, como o veganismo e o empreendedorismo, mas também fomos buscar inspiração nos astros e em velhas práticas de conhecimento, como a astrologia. Estes são apenas alguns temas que a turma do 6º período de Jornalismo selecionou e te convida ler, refletir e curtir. Boa leitura e até a próxima edição!

ELEIÇÃO PARA REITOR

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FAUNA DA UFES

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REFUGIADOS NO ES

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EXTENSÃO

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CANDOMBLÉ

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JOVENS E RELIGIÃO

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CONSUMO

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EMPRESAS JUNIORES 26 CRÔNICA

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HORÓSCOPO

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Primeira Mão está utilizando a fonte tipográfica Ufes Sans nos seus textos principais, desenvolvida pelo Laboratório de Design História da Ufes. Autores: Ricardo Esteves e Filipe Motta

Expediente

Veganismo, atitude pela vida O veganismo é mais que uma dieta. É uma conduta ética que visa excluir a exploraçãoe crueldade contra os animais

Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 revistaprimeiramao@gmail.com. Ano XXVI, número 142. Semestre 2015/02 Reportagem e edição: Alena Moreira, Andreia Ferreira, Ariane Barbosa, Barbara Coutinho, Bianca Vailant, Brigida Valadares, Bruna Vermeuln, Carina Dall Orto Costa, Caroline Pinna, Geraldo Campos Junior, Jessyka Saquetto, Julia Pavin, Julia Zumerle, Juliana Benichio, Kayque Fabiano, Lais Rocio, Lorraine Paixao Lopes, Luiza Marcondes, Mariah Friedrich, Nadine Alves, Paloma de Oliveira, Rafaela Laiola, Thalita Mascarelo, Thamara Machado, Vil Rangel Diagramação: Kayque Fabiano , Paloma de Oliveira, Barbara Coutinho, Ruth Reis. Ensaio fotográfico nas capas 02,31 e 32: Leonardo Merçon (Instituto Últimos Refúgios); Foto de Capa: Thamara Machado; Professora orientadora: Ruth Reis, Impressão: Gráfica da Ufes

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Dia 22 tem eleição para reitoria da Ufes Três chapas disputam os votos de estudantes, técnicos administrativos e professores. Pela primeira vez com peso igual no processo de escolha, os três segmentos votarão nas velhas cédulas de papel em seções nos quatro campi Geraldo Junior

Não se chega ao mais alto cargo dentro da Universidade apenas com indicação do Ministério da Educação (MEC). A escolha da reitoria é um pouco mais complexa. A cada quatro anos é realizada uma “pesquisa”, nos moldes das tradicionais eleições. Na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) a eleição será realizada em primeiro turno no dia 22 de setembro. As campanhas poderão ser realizadas até o dia 21. Caso nenhuma das chapas atinja pontuação superior à soma dos pontos das demais chapas concorrentes (50% + 1 voto), será realizado um

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segundo turno no dia 6 de outubro. A chapa eleita comandará a reitoria entre 2016 e 2020. Para a pesquisa deste ano se candidataram três chapas que disputarão os votos de toda a comunidade universitária. Podem votar estudantes de graduação e pós-graduação nas modalidades presencial e a distância, servidores técnico-administrativos, e professores (inclusive os afastados para cursos de pós-graduação e à disposição de órgãos não-pertencentes à Ufes). O resultado da eleição é calculado obedecendo a ponderação de 1/3 (um terço) para a catego-

ria dos servidores do corpo docente, 1/3 para estudantes e 1/3 para a categoria dos servidores técnico-administrativos. Cada participante votará em apenas uma chapa para o cargo de reitor e para o cargo de vice-reitor. Os atos de campanha incluem debates temáticos entre os candidatos; discussão com professores, alunos e servidores técnico-administrativos; distribuição de informativo impresso; propagandas virtuais; e distribuição de adesivos e bótons. De acordo com a Resolução nº 02/2015 dos Conselhos Universitários da Ufes, que estabelece


as normas da pesquisa junto à comunidade universitária, cada chapa poderá gastar até R$ 20 mil com despesas de campanha. O documento determina ainda que as campanhas podem ser financiadas somente pelos participantes da pesquisa, limitado a um salário mínimo por doador. Na Eleição para a Reitoria serão utilizadas urnas convencionais e cédulas de papel, em

função da falta de tempo hábil para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) programar as urnas eletrônicas. O voto é secreto e facultativo. Cada aluno ou servidor que for participar da pesquisa deve consultar no site www.pesquisareitor.ufes.br a lista com a relação das sessões eleitorais para saber onde deve votar. Os estudantes votarão, preferencialmen-

te, nos centros e campi onde seus cursos são ofertados, bem como os servidores terão como seção o centro onde estão lotados. O participante deve identificar-se em sua seção receptora de votos mediante apresentação de documento de identificação, com foto, expedido por um órgão oficial. Nos dois turnos, a pesquisa será realizada entre 7h e 21h.

Reitora - Gláucia Abreu Vice - Sávio Queiroz

Reitor - Marcel Olivier Vice - Aloísio Falqueto

Reitor - Reinaldo Centoducatte Vice - Ethel Maciel

REITORA: Enfermeira graduada pela Ufes em 1987, mestre em Fisiologia (USP/1990) e doutora em Ciências Fisiológicas (Ufes/1996). Atualmente é Professora Titular do Departamento de Ciências Fisiológicas e Diretora do Centro de Ciências da Saúde da Ufes.

REITOR: Graduado em Engenharia Civil pela Fundação de Ensino Superior de Passos. Doutor em Engenharia Civil pela Universitat Politecnica de Catalunya (UPC/1992). É professor titular do Departamento de Engenharia civil do Centro Tecnológico da Ufes.

REITOR: Graduado em Engenharia Elétrica e Física (Ufes/1979) e Professor do Departamento de Física do Centro de Ciências Exatas. Foi Chefe do Departamento de Física e Química, Chefe do Departamento de Física, Diretor do Centro de Ciências Exatas, Vice-reitor e Reitor da Ufes.

VICE: Graduado em Psicologia (Ufes/1988) e professor do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento. É mestre em Psicologia (Ufes/1995) e doutor em Psicologia Escolar, da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano (USP/2000).

VICE: Médico formado pela Ufes, mestre em Doenças Infecciosas (UFRJ/1984) e doutor em Medicina Tropical pelo (Instituto Oswaldo Cruz/1995). É Professor do Departamento de Medicina Social do Centro de Ciências da Saúde (CCS).

VICE: Graduada em Enfermagem (Ufes/1994) e profa. do Depto. de Enfermagem do CCS. Mestrado em Saúde Pública /UFRJ, doutorado em Saúde Coletiva /Epidem. na UERJ e pós-doutorado em Epidemiologia na UC Berkeley Schoole Johns Hopkins University. Vice-reitora desde 2013.

CHAPA 1 “Dialogar e Avançar”

CHAPA 2 CHAPA 3 “Por uma outra Ufes”

“Somos mais Ufes” ão

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Sob o olhar de um entusiasta Parte da fauna e da flora do campus de Goiabeiras da Ufes tem sido cuidadosamente registrada por um entusiasta da fotografia Ariane Barbosa

Robson Barros Torres

Todos dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Cinema e Audiovisual conhecem o Robson Barros Torres. Robinho, para estudantes e colegas de trabalho, atua na secretaria do Departamento de Comunicação desde 2011, e está há 33 anos na UFES, onde ingressou em 1982 como estudante, fez 90% do curso de Jornalismo, mas desistiu de concluir e foi jubilado oito anos após a primeira matrícula. Atualmente, além de trabalhar na Ufes durante a semana, Robinho volta para o Campus de Goiabeiras aos sábados e domingos para fotografar. Ele se considera um “entusiasta da fotografia” e não um fotógrafo, porque, para ele, fotógrafo, além do talento, tem sempre vários equipamentos e ele não; possui apenas uma câmera e considera que o importante é o olhar fotográfico e não a quantidade de equipamentos. Sua definição e concepção de fotografia estão no click; a vida da foto começa a partir deste momento. Desde muito antes de começar a registrar as imagens na UFES o gosto pelos clicks já existia. Sem dinheiro para levar para frente o gosto pela fotografia, pois na época as câmeras ainda eram analógicas e caras, Robson se tornou roadie – espécie de ajudante – dos fotógrafos Tadeu Bianconi e Gabriel Lordêllo. Foi a forma que encontrou para observar e estar mais próximo da fotografia. Entre os anos 1999 e 2002, viveu na

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Inglaterra e depois de voltar ao Brasil, decidiu, no ano de 2006, colocar em prática o seu desejo. E percebeu que a universidade tinha muito a lhe oferecer. Já era familiarizado com o lugar e o considerava como sua casa, teve apenas que exercitar sua observação. Ele ensina que quem deseja fotografar, principalmente a natureza, dever ir como um observador, para sintonizar-se. A decisão de fotografar a fauna e a flora veio com

o objetivo de conscientizar sobre a ecologia e o meio ambiente dentro do meio urbano. Apesar de inserido nesse meio, o campus de Goiabeiras da Ufes abriga uma infinidade de espécies de animais como a Coruja Buraqueira (1), o Quero-Quero (2), o Arapará (3), o Pica Pau (4), o Frango D’água (5) e o Biguá (6)e plantas como a Oleandro (6). Estas, dentre muitas outras espécies, estão nos registros feitos por Robinho.

Ele gosta de fotografar na UFES por vários motivos: por ser um parque, por ser aberto e também pela quantidade de espécies existentes da fauna e da flora – em média 450 espécies de animais, dentre as quais algumas raras como o Arapapá (. Mas ele não fica apenas dentro da universidade. Gosta de fotografar vários pontos do Espírito Santo que o encanta pela sua riqueza natural.

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EM BUSCA DE NOVAS ESPERANÇAS GUERRAS E CONFLITOS EM VÁRIAS PARTES DO MUNDO FAZEM MILHARES DE PESSOAS DEIXAREM SUAS CASAS TODOS OS DIAS EM BUSCA DE UM LUGAR SEGURO PARA VIVER Bruna Vermeuln e Nadine Alves

Hans OgbejeleOsaigbovo é um nigeriano de 35 anos, formado em Engenharia, que veio para o Brasil devido às perseguições religiosas sofridas em seu país de origem. Refugiado, chegou aqui em 2014, vivendo por um período em São Paulo, “vim para o país incentivado por um amigo de infância que já morava aqui. Mantínhamos contato via internet e, explicando a situação na qual eu, cristão, estava vivendo na Nigéria, ele me garantiu que aqui seria melhor. Combinamos, então, de nos encontrar no aeroporto, mas ele nunca apareceu’’, declarou. Hans, que deixou a família para trás em busca de um lugar seguro para viver sem a sombra da perseguição, se viu num país onde não tinha ninguém e nem conhecia o idioma. ‘‘Passei dois dias no aeroporto. É

muito difícil encontrar alguém que fale inglês por aqui. Foi então que decidi procurar ajuda em igrejas, encontrei pessoas que estavam na mesma situação e acabei conseguindo uma proposta de trabalho em Vitória e assim me mudando para cá”, informou.

Vim para o país “ incentivado por um

amigo. Ele me garantiu que aqui seria melhor Hans OgbejeleOsaigbovoé

Ele é mais um nas estatísticas de homens, mulheres e crianças que são obrigados a abandonar seus países para se refugiarem em locais considerados seguros para expres-

Hans OgbejeleOsaigbovo entre os integrantes do Nuares

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sarem sua fé. Segundo um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), divulgado em junho de 2015, 59,5 milhões de pessoas em todo o mundo deixaram seus lares por causa de guerras, conflitos e perseguições. Essas taxas de deslocamento têm crescido assustadoramente, e isso se deve ao fato de que, nos últimos anos, muitos conflitos se iniciaram ou foram retomados, principalmente no norte da África e no Oriente Médio. Outro fator é o surgimento e o fortalecimento de grupos fundamentalistas com métodos terroristas, como o Boko Haram, o auto-proclamado Estado Islâmico do Iraque e Levante, que já dominam territórios consideráveis, aterrorizando milhares de civis na Nigéria, na Síria e no Iraque. A Nigéria tem uma ligeira maioria mulçumana em relação à cristã, e a convivência entre esses dois grupos era considerada pacífica até pouco tempo. Mas, nos últimos anos, principalmente após o fortalecimento do grupo extremista islâmico Boko Haram, que tem atuação desde 2002 no território nigeriano, uma série de ataques a várias comunidades não mulçumanas vem sendo feita pelo grupo, que rejeita ideias como a educação para mulheres. Hans hoje faz parte de um projeto de extensão desenvolvido pelo curso de Relações Internacionais da Universidade de Vila Velha (UVV), o Núcleo de atendimento aos Refugiados no Espírito Santo (Nuares),que teve início em 2004. De acordo com a coorde-


nadora do projeto, professora Viviane Mozione, desde o seu início, o Nuares já atendeu cerca de 80 refugiados. ‘‘Já fizemos atendimento de pessoas vindas de Guiné-Bissau, Paquistão, Síria, Palestina, Iraque e Nigéria. Geralmente, eles já passaram por outros lugares, como São Paulo ou Brasília e, em sua maioria, chegam sozinhos e com o emocional abalado, pois tem toda questão traumática dos conflitos vividos em seu país e ainda enfrentam as dificuldades de adaptação’’, destacou. O projeto, reconhecido pela ONU, procura orientar os refugiados em questões jurídicas, psicológicas, inserção no mercado de trabalho e na adaptação deles de um modo geral. ‘‘É comum muitos deles chegarem com uma boa qualificação profissional, mas, por vários fatores, não conseguem exercer a profissão aqui no país”. Segundos dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), até outubro de 2014,o Brasil registrou 289 refugiados reconhecidos de 81 nacionalidades diferentes.A maioria dos solicitantes de refúgio vem da África, Oriente Médio e América do Sul. O estado do Espírito Santo acolhe, segundo a Polícia Federal, 10% dos sírios que chegam

ao Brasil, por meio de uma ONG ligada à comunidade cristã. Hans deu entrada a solicitação de refúgio no Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), mas ainda não recebeu documentação definitiva. Já teve experiência de trabalho em alguns lugares, mas nada que estabelecesse vínculo duradouro. Desempregado há pouco tempo e morando sozinho,

Hans tenta, com a ajuda de integrantes do Nuares, um emprego. O Nuares também ajuda a se manter, além de oferecer aulas de português, pois, apesar de demonstrar uma enorme vontade de se comunicar, é barrado pela dificuldade com o idioma. Hans confirma com um sorriso que quer ficar no Espírito Santo.

UFES FAZ PARCERIA COM ACNUR A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)recebeu em agosto deste ano a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, para promover o Direito Internacional dos Refugiados, bem como a formação acadêmica e a capacitação de professores e estudantes neste tema. A Cátedra, criada em 2003 pelo Alto Comissariado das Nações Unidas (ACNUR) e presente na América Latina, objetiva o incentivo à pesquisa e a produção acadêmica relacionadas ao Direito Internacional dos Refugiados. No Brasil, várias universidades entre públicas e privadas, já aderiram à iniciativa do ACNUR. Segundo a diretora de Cidadania e Direitos Humanos da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci) da Ufes, BrunelaVincenzi, um desses projetos é a criação de um grupo de pesquisa de caráter interdisciplinar que visa discutir e refletir sobre o direito da mobilidade humana. Ainda de acordo com Brunela, a Ufes, agora com o reconhecimento do ACNUR, pretende intensificar os trabalhos que já vêm sendo feitos no auxílio de refugiados que chegam ao Espírito Santo, em sua maioria vindos da Síria. “A nossa ideia é ajudá-los desde a chegada ao Brasil, com processos de documentação e regularização, oferecendo aulas de português e até mesmo a inserção no mercado de trabalho. Prestar um acompanhamento a essas pessoas com o que a comunidade universitária tem a oferecer’’, completou.

Paises em conflito O relatório feito pelo ACNUR, com dados coletados até dezembro de 2014, intitulado Tendências Globais, mostra que o número de pessoas deslocadas no mundo por motivos de guerras, conflitos e perseguições vem alcançando números alarmantes. Em 2013, um infeliz recorde foi quebrado: a população de deslocados forçados foi a maior desde a Segunda Guerra Mundial, ultrapassando 50 milhões de pessoas. A maior causa desse quantitativo é o surgimento ou recomeço de 15 conflitos, sendo: oito na África (Costa do Marfim, República Centro Africana, Líbia, Mali, nordeste da Nigéria, República Democrática do Congo, Sudão do Sul e Burundi, neste ano);

três no Oriente Médio (Síria, Iraque e Iêmen); um na Europa (Ucrânia); e três na Ásia (Quirguistão e em diferentes áreas de Mianmar e Paquistão). O país com o maior número de refugiados é a Síria que, além de enfrentar uma guerra civil desde 2011, tem o grupo Estado Islâmico em seu território, somando 3,88 milhões de refugiados. Em seguida, aparecem Afeganistão e Somália, com 2,59 milhões e 1,1 milhão de refugiados, respectivamente. O relatório também traz outros dados preocupantes: metade dos refugiados é composta por crianças e jovens de até 18 anos, e, em 2014, apenas 126,8 mil refugiados conseguiram voltar para seus países de origem – o que configura o menor número em 31 anos.

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Terapia por meio da arte O projeto de extensão cada doido com sua mania atendeu em 2014 mais de 700 pessoas usando arte como terapia

Jessyka Saqueto

Quando Simão Bacamarte, médico e personagem principal de O Alienista (1882), de Machado de Assis, resolve fundar o hospício “Casa Verde” na pacata cidade de Itaguaí, a população o aclama em diferentes graus, esperando que a solução do novo empreendimento seja a internação dos “loucos” e a restauração dos bons costumes. No entanto, o que ninguém esperava é que no decorrer do tempo, quase toda a população da cidade fosse internada na

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casa verde. De acordo com a teoria de Bacamarte, eram loucas as pessoas supersticiosas, bajuladoras, indecisas ou vaidosas. O alienista, percebendo que sua teoria estava errada, resolve libertar todos os internos e refaz sua teoria: se a maioria não seguia um padrão, então louco era quem mantinha regularidade nas ações e firmeza de caráter. E adivinhem quem ele julgava único de personalidade perfeita? Ele próprio, que termina o livro como o único paciente da casa verde. A obra de Machado de Assis é um exemplo ideal para se questionar a li-

nha tênue entre loucura e sanidade: ser diferente e se comportar de forma contrária à maioria é suficiente para ser doido? Para entender mais esse universo, buscamos o projeto de extensão da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Cada Doido Com Sua Mania (CDSM) do Departamento de Psicologia da Ufes, que há 31 anos estuda, atende e trata pacientes com diferentes tipos clínicos de transtornos psicológicos. Criado em 1984, o projeto, inicialmente, fazia parte do programa de estágio no Hospital Adauto Botelho, onde eram realizadas oficinas terapêuticas com os pacientes da instituição. Dois anos depois, foram incluídas oficinas de arte, que trouxeram resultados mais eficientes para os pacientes, e, em 1992, foi estruturado o Programa CDSM. “Quando viemos para a Ufes, iniciamos o Centro de Atenção Continuada à Infância, Adolescência e Adultos (Cacia), pois queríamos diversificar e não atender só pacientes psicóticos, mas também lidar com os desafios cotidianos, com a busca de estratégias para que indivíduos tenham melhores chances de inclusão na sociedade e na família. Deste então, atendemos a comunidade universitária e crianças encaminhadas pelo Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa)”, ressalta uma das fundadoras do Projeto, a médica psiquiatra e professora aposentada do Departamento de Psicologia do Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN) da Ufes, Tânia Prates. Os pacientes do Hospital Infantil são encaminhados para o Cacia, lo-


calizado no campus de Maruípe, por- familiar e apoio psicofarmacológico Psicologia, mas podem participar do que eles não têm um ambulatório de (medicamentos como auxiliares no Cada Doido Com sua Mania alunos saúde mental e prestam serviços tratamento de quadros clínicos). de qualquer curso, desde que terelacionados a Psiquiatria somente As oficinas terapêuticas são as nham interesse pela saúde mental. para crianças internadas. Quando atividades que mais diferenciam o Eles relatam que o projeto é uma estas deixam o hospital, são acolhi- Cada Doido Com Sua Mania de ou- oportunidade para colocar na prática das pelo CDSM por meio do Cacia e tros projetos, porque oferecem um o que se aprende na teoria, e ainda dão continuidade a outros tratamen- tratamento alternativo que explora a conhecer coisas que provavelmente tos. subjetividade do paciente e a mani- não teriam a oportunidade de ver no O CDSM atende adultos, curso. adolescentes e crianças “A área da Psicologia é de todos os tipos clínicos, vasta e oferece diferentes como neurose e psicose, frentes de trabalho, eu ainda Quando viemos para a Ufes, transtorno de angústia, pânão sabia o que fazer, mas, nico, dificuldade escolar, queríamos diversificar, lidar com os quando entrei para o Cada doenças psicossomáticas, Doido e fiz minha primeira desafios cotidianos e com a busca Soropositivos, crianças oficina com crianças, eu desagitadas e pessoas com cobri qual carreira eu gostaria de estratégias para que indivíduos depressão. de seguir”, relata a bolsista tenham melhores chances de inclusão O paciente, para ser do projeto e estudante de atendido pelo CDSM, deve Psicologia da Ufes, Renata na sociedade e na família fazer parte da comunidade Pozzato. Tânia Prates universitária ou encamiSegundo os bolsistas, tranhado pelo Hospital Inta-se de um projeto de profantil de Vitória. Segundo dução de conhecimento que Tânia, o paciente passa por acom- festação de sua natureza pela arte e funciona além dos muros da unipanhamento detalhado antes de ser jogos. Os encontros acontecem uma versidade e beneficia a comunidade direcionado para um dos serviços vez por semana na Cacia e no Núcleo interna e externa. “Com o projeto, oferecidos pelo programa. “São fei- de Psicologia Aplicada. conseguimos oferecer serviços para tas entrevistas iniciais para os que Em 2014, foram realizadas 303 ofi- a sociedade, reunir psicólogos volunchegam ao serviço com o intuito de cinas e atendidas 781 pessoas. Atual- tários e espalhar todos os benefícios acolher, escutar a demanda destes e mente, participam do projeto 26 pes- das oficinas terapêuticas, tudo de para indicar, junto à equipe, um pro- soas e o professor do Departamento forma gratuita e acessível, atendenjeto terapêutico específico para cada de Psicologia, Alberto Murta, mais do até aqueles que não conseguem paciente, que é elaborado em reu- sete psicólogos voluntários e 15 alu- ser absorvidos pelo Sistema Único nião geral e corroborado com o pa- nos de cursos e faculdades diversas. de Saúde (SUS)”, afirma a bolsista do ciente”. O projeto oferece oficinas teOs estudantes que participam do projeto e estudante de psicologia da rapêuticas, atendimento individual e projeto atualmente são do curso de Ufes, Eduarda Godoy.

TIPOS DE OFICINAS OFERECIDAS PELO PROJETO * Para crianças de 1 a 7 anos são realizadas as

oficinas de modelagem, onde são disponibilizados os materiais para as crianças criarem livremente sua produção através de temáticas propostas para estimular o surgimento de histórias quetrabalhem suas questões a partir de sua imaginação. Frequentemente essas histórias atualizaram suas vivências e conflitos. * Para crianças de 6 a 8 anos são destinadas as oficinas de contos onde as dificuldades no aprendizado escolar, inibições, somatizações e conflitos familiares são tratados. * Para adolescentes de 10 a 19 anos as oficinas

de imaginação, para que através da criação de personagens e da desenvoltura durante o jogo, o adolescente possa narrar os seus conflitos e encarar suas angústias; possibilitando uma visão de que o conflito é parte da vida de todos, conseguindo assim transpor suas dificuldades com maior facilidade sentindo-se parte de um todo. Há também para essa faixa etária oficina de música e letras. * Já para os adultos as oficinas são de pintura, músicas e letras. Os recursos músicas, poemas, crônicas, e dinâmicas psicológicas são utilizados como dispositivos que tocaram a vida do sujeito, suscitando angústias, desejos e lembranças.

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Coragem para sonhar, ousadia para agir Este é o lema de jovens que desejam transformar o mundo através do empreendedorismo

Barbara Coutinho

Ser jovem e ter uma empresa, sem dúvida é um grande desafio que envolve novas responsabilidades, cobranças e pressões que perpassam o tempo e a pouca idade. Pensando em direcionar jovens e desenvolver um espírito empreendedor em estudantes de graduação, o Movimento Empresa Júnior (MEJ) está há mais de 40 anos contribuindo para essa formação através das associações de Empresas Juniores. O conceito do MEJ surgiu na França, em 1967, para fornecer experiências práticas e complementar a formação acadêmica de alunos. No Brasil, esse movimento chegou na década de 80 e hoje, já existem mais de 400 empresas juniores em território brasileiro, das quais 236 são federadas e distribuídas em 17 federações, segundo o censo 2015 da Confederação Brasileira de Empresas Juniores (Brasil Júnior). A Brasil Júnior é o órgão máximo que representa todas as empresas juniores brasileiras e tem o papel de fiscalizar e potencializar essa formação de jovens empreendedores. Empresa Júnior (EJ) não tem fins lucrativos, e é composta e gerida exclusivamente por estudantes de graduação dispostos a aprender. Essas instituições realizam serviços ou fornecem produtos para clientes reais de micro, pequenas e médias empresas, sempre por um preço mais acessível, garantindo trabalho para os integrantes e oportunidade de adquirir experiência de mercado ainda dentro das instituições de ensino superior. Outros objetivos de uma empresa júnior é colocar o estudante em um contato mais próximo com o mercado de trabalho e aplicar a prática do dia-a-dia da

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A Juniores têm como principal papel o estímulo à educação empreendedora para conseguir empresas com melhores resultados e assim empreendedores comprometidos capazes de mudar o Brasil, que é a missão do movimento”. Sofia Nardoto, 21, presidente da Juniores. gestão de empresas. Aqui no estado do Espírito Santo, a Federação Capixaba de Empresas Juniores (Juniores) coordena todas as EJ’s estaduais, além de garantir qualidade de serviço, desenvolvendo treinamentos que capacitam os jovens empresários juniores. “A

Rafaela Loiola

Juniores têm como principal papel o estímulo à educação empreendedora para conseguir empresas com melhores resultados e assim empreendedores comprometidos capazes de mudar o Brasil, que é a missão do movimento”, narra Sofia Nardoto, 21, presidente da Juniores. Empreender não é apenas falar em abrir uma empresa. O movimento tem também uma responsabilidade social que é transformar o Brasil com pessoas de perfil empreendedor, que sejam agentes de mudança. “Empreender é falar de pessoas que entendem uma realidade, querem mudá-la e têm cora-


17 é o número de federações que congregam Empresas Juniores no Brasil

236 EJs participam de uma das federações

400 empresas juniores funcionam em território brasileiro

1967 foi o ano em que surgiu, na França, o conceito de Movimento de Empresas Juniores

1980 Na década de 80 surgiram as primeiras Empresas Juniores no Brasil

gem para isso. É a velha frase: coragem de sonhar e a ousadia de agir. Traçamos o perfil de pessoas que vão de fato fazer a diferença, que reconhecem onde precisa ser feito algo. Isso tudo porque temos o trabalho voluntário, então as pessoas estão ali porque também têm uma causa maior, para que os projetos tenham um impacto social, visto que o preço é menor que no mercado. É um trabalho todo voltado para mudança de realidade. Acreditamos muito em micro-revoluções, pequenas transformações que fazem uma grande mudança a longo prazo”, explica Sofia Nardoto. Fazer parte de uma empresa júnior desenvolve capacidades e noções administrativas que estão além do que se aprende em salas de aula como narra Luiz Felipe Guerra, 20, atual Diretor-Presidente da Empresa de Comunicação Social Júnior (Ecos Jr.) e Coordenador de Negócios da Juniores: “tive um engrandecimento pessoal grande pois além de conhecer as ferramentas e de fazer amizades, eu tive que aprender gestão financeira, gestão de pessoas, de conhecimento e de tempo. É um outro tipo de aprendizagem que a gente não tem na sala de aula”. O grande desafio de toda empresa júnior está em mostrar credibilidade, já que é composta unicamente por estudantes. “É um desafio constante de toda empresa júnior mostrar ser tão capaz quanto uma empresa grande do mercado”, afirmou Luiz Felipe. Por isso, a respon-

Noemi Abreu seguiu com a vontade de empreender e hoje é dona da marca “Dormideira”.

sabilidade e a busca por oferecer um produto de qualidade também é constante, o que instiga cada vez mais a capacitação dos membros. Para Amanda Lemonti, 21, ex-diretora de atendimento da Empresa de Comunicação Social Júnior, a experiência de integrar uma empresa júnior, gerou um senso de empreendedorismo forte e potencializou a vontade de ter uma própria empresa. “Participar da Movimento Empresa Júnior influenciou totalmente na minha intenção de ter uma empresa. Eu já tinha ideia de ter meu próprio negócio, mas achava que isso só iria acontecer com 30 anos. Vi no movimento que é possível abrir uma empresa com 21 anos. Basta você querer e acreditar Nas minhas atividades, eu tive noções burocráticas, conhecimento de como realmente funciona uma agência em todas as áreas e ainda a oportunidade de colocar em prática o que aprendi em sala de aula. Todo o medo que eu tinha foi embora”, afirma Amanda. Hoje ela está em processo de abertura de uma empresa de comunicação juntamente com dois outros sócios. A oportunidade de ingressar numa empresa júnior também rendeu frutos para Noemi Abreu, ex-diretora de projetos publicitários da Ecos Jr. Com 23 anos, ela é fundadora da “Dormideira”, uma e-commerce de pijamas e afirma que sua participação no MEJ foi essencial para seu amadurecimento. “Eu aprendi muito mais do que eu esperava. Aprendi trabalho em equipe e tomar atitudes diante das dificuldades. Eu não consigo mensurar toda a transformação que a empresa me proporcionou. Eu saí de lá mais madura, desenvolvi muitas habilidades e aprendi a utilizar muitas ferramentas”, disse Noemi. Ela afirma também que dentro da Ecos Jr, encontrou conhecimentos que a fizeram capaz de seguir com o próprio negócio: “dentro do movimento, eu vi que era possível. A Ecos me permitiu conhecer e saber os primeiros passos que eu tinha que dar. Participei de todo o processo de abertura da minha empresa, desde a criação da identidade visual até o desenvolvimento da marca”.

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Candomblé Tradição, cultura e resistência Trazido por diversas famílias e nações negras escravizadas no brasil, o candomblé resiste e simboliza a força da uma cultura

Em uma noite comum de domingo, a vida de Kailane Campos, de 11 anos, foi marcada por um caso de intolerância religiosa. A caminho de sua casa após uma cerimônia de Candomblé, em Vila da Penha (RJ), Kailane sofreu diversas ofensas vindas de dois homens e foi ferida por uma pedra, que a atingiu na cabeça. Ela estava acompanhada por sua avó, mãe de santo, e outros membros da sua comunidade de Candomblé, usando vestimentas tradicionais de sua religião. Depois do ocorrido, Kailane afimou ter medo de usar branco nas ruas novamente. Para ela, o branco não significava apenas a cor de suas roupas, mas também elementos da sua religião de origem africana, referida e condenada nas retaliações que recebeu. A manifestação cultural presente nas vestimentas vai além da própria religião; representa uma forma de resistência perante a repressão contra os adeptos do Candomblé. Segundo Iljorvânio da Silva Ribeiro, candomblecista e pesquisador do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da Ufes (NEAB), “a resistência no Candomblé se dá pela preservação e reafirmação da cultura negra, ocupando os espaços da sociedade e levando sua temática à tona”. Ainda assim, os casos de intolerância religiosa acontecem pela necessidade de grupos em legitimar sua própria ideologia, pensamentos e comportamentos em detrimento do outro, contrariando o princípio da igualdade e da diversidade. “A ideia do outro sempre vai levar à intolerância, e atribui ao Candomblé o sentido do inimigo, do outro maligSET2015

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Laís Rocio, Thamara Machado e Júlia Pavin

A resistência no “Candomblé se dá pela preservação e reafirmação da cultura negra

Iljorvânio Ribeiro

Júlia Pavin, Laís Rocio e Thamara Machado

no. O Candomblé é um contrafluxo ao sistema que oprime e busca legitimar seus próprios interesses” explica Iljorvânio. O caso de Kailane não foi isolado, tendo em vista o histórico de repressões pelas quais as religiões de matriz africana já foram submetidas no Brasil. No período colonial, a escravização dos negros atribuía a eles a condição de objeto, buscando anular a cultura e tradição desses povos, além de separarem famílias, tribos e nações inteiras. Esse contexto foi marca-


Terreiro Nzo Nguzo Nganga Kilumino Nkisi Nzaze: festa em homenagem ao orixá Omolú do pela união de diferentes etnias africanas, reconfigurando suas nações - nomenclatura utilizada para identificar as casas de Candomblé no Brasil. Dessa forma, a prática dessa religião pelos escravos representava reviver a cultura negra, conectar-se às memórias e tradições desses povos, além de nutrir proteção e força para continuar lidando com as precárias condições de vida a que foram submetidos. O Candomblé foi silenciado no Brasil em diversos momentos da história desde a sua instauração. No período colonial, a opressão se originava no catolicismo e no Estado, ao proibir o culto aos orixás - divindades africanas homenageadas nos ritos - dentro das senzalas. Mesmo após a abolição da escravatura, as proibições se perpetuaram no Estado ditatorial do governo Getúlio Vargas, e, ainda, durante a ditadura militar, que durou 21 anos (1964 a 1985). A liberdade ao culto às comunidades religiosas de matriz africana é garantida somente no fim desses

sistemas políticos ditatoriais e com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Esta assegurou os direitos de liberdade religiosa, e ainda, a reconstrução das memórias, tradições e manifestações culturais. “O período de escravidão deixou como legado a tendência a desvalorizar tudo o que é produzido pela África, o que se expressa até hoje pelo preconceito e descriminação à religião do Candomblé”, explica Iljorvânio, sobre a relação entre a intolerância religiosa contra o Candomblé e a escravidão no Brasil. A cultura do Candomblé, nos dias de hoje, é caracterizada pela sua reinvenção e transformação no país, assim como a forte preservação da

herança africana. A religião expressa o sincretismo religioso influenciado pelos padões ocidentais, ao mesmo tempo em que transmite e reproduz a tradição de origem africana. A ancestralidade é reverenciada nos tambores, chamados de atabaques, nas vestimentas, na culinária, nas danças e no idioma yorubá, utilizado nos ritos. Ao longo da história, pessoas de diversas origens aderiram ao Candomblé, tornando-se uma religião não só de negros, mas também de brancos. Igualdade, união e respeito à diversidade são aspectos principais dessa tradição cultural, que excede o espaço dos terreiros e se relaciona com o mundo.

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No curso de História da Universidade Federal do Espírito Santo, ela é Narúbia Nascimento, de 29 anos. Mas quando o espaço é um terreiro de Candomblé, precisamente localizado em Jacaraípe, uma das 90 casas existentes na Grande Vitória, Narúbia atende pelo nome Naná de “EWÁ”. O recémadquirido título foi herdado de sua avó, Maria de Xangô, como era conhecida, há cerca de um ano e meio.

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MÃe Naná de Ewá: Candomblé como estilo de vida Como foi sua trajetória no Candomblé? Com quantos anos você passou a frequentar? Minha trajetória foi desde o nascimento, já que minha avó era do Candomblé e inclusive minha Mãe de Santo, então eu não tive para onde fugir. Eu fiquei até os 18 anos no Rio de Janeiro e não era de fato envolvida, mas aos 19 anos minha avó me ligou e disse que ia “fazer meu santo”. De lá pra cá não saí mais e hoje tenho 10 anos de santo. Como você pode explicar esse processo de raspagem (ritual de iniciação da pessoa na religião), de receber o seu santo no Candomblé? É um momento em que você fica em um estado de estresse profundo, mas ao mesmo tempo é um estado

de imensa alegria. Quando você passa pelos primeiros processos o corpo fica leve, você sente uma vontade enorme de dormir. Mas quando você acorda, quando chamam seu

“Eu sou negra, adoro minha cor. Acho assim, “ô nega bonita” e minha religião diz que eu sou isso, me dá mais força ainda.” orixá, o estado de leveza é tamanho que você não sente nada. Eu me sinto alegre e feliz toda vez que eu me recordo da minha raspagem, apesar do sofrimento que é ficar presa no


Roncó (recinto do terreiro onde se dá a iniciação) , até porque o natural do ser humano é estar livre. Então quando se passa por isso, você sente um momento de grande transformação, da sua mentalidade, do seu corpo e da sua alma. Assim, acaba pensando somente em coisas boas até porque é uma fase de intimidade muito forte com seu Orixá. Em que sentido sua vida mudou após o processo de raspagem? Olha, eu era uma pessoa muito fechada, ainda sou um pouco, mas depois disso eu aprendi a conviver com o social, entender as pessoas. Hoje em dia eu não acuso mais, eu tento compreender o caminho que cada pessoa trilhou. E tudo isso eu aprendi muito com minha avó, por isso eu afirmo que ela não foi apenas mãe de santo, e sim mãe. E o que o Candomblé representa para você? Para mim representa felicidade, alegria. Quando eu vejo um Orixá eu sinto que ele está abençoando minha casa , minha família. É lógico que há momentos de tristeza, mas eles não se comparam a alegria da casa, eu posso até estar magoada, mas o clima da casa e o próprio Orixá tira isso de mim.

gonha, as pessoas falavam “Nossa, isso é coisa do demônio”, mas aí eu aprendia a dizer que não era. Tanto que eu tenho contato com evangélicos, católicos e são meus melhores amigos. Eu considero que quando você está em uma religião, você vai pelo coração e assim você deve seguir. E eu sempre falo que as pessoas tem que ir pra ver que não é aquele “bicho de sete cabeças” como muitos pensam.

“O Candomblé é isso, une as pessoas. A minha religião dá força ao negro, mas dá ao branco também. ”

nega bonita” (risos)… e minha religião diz que eu sou isso, me dá mais força ainda. Você disse anteriormente que o Candomblé afirma a sua negritude, então como que é essa questão do negro dentro do Candomblé? Eu acho que o negro ele tem mais força... apesar de que na minha casa de origem em Salvador tem muitas pessoas brancas. Às vezes, eles tem mais amor pela religião que os próprios negros. E é por isso que eu vejo que o Candomblé é isso, une as pessoas. O negro tem em sua ancestralidade a força e a minha religião dá força ao negro, mas dá ao branco também.

Narúbia, deve ser de seu conhecimento o caso da menina apedrejada trajando vestimentas do Candomblé. A partir disso, para você, o que solucionaria esses casos de intolerancia? A Intolerância para mim é uma Como Mãe de Santo e negra, de questão de educação, e quando casos que forma você lida com racismo? Eu ainda não vi um racismo comi- dessa natureza aparecem é devido a go. Se aconteceu eu não interpretei isso. Ao meu ver, o que solucionaria e se acaso eu vi, eu não ligo. Mas as- esses casos de intolerancia é a consim,eu sou negra, eu gosto de ser , sideração ao próximo, a educação e o adoro minha cor, eu acho assim, “ô conhecimento sobre a religião.

Você considera o candomblé apenas como religião? Eu entendo o Candomblé como estilo de vida, nele você conhece a si próprio, você vive aquilo, respira aquilo... as pessoas que não vivem não conseguem compreender o porque de amar tanto essa religião. Ainda que no começo você tenha tarefas que muitas pessoas não gostam, como limpar galinha e chão, quando você olha o resultado final é maravilhoso, porque você percebe que está crescendo espiritualmente. Mas eu considero que todas as religiões são válidas, porque cada uma ajuda a gente de um jeito. Frequentando outros espaços, principalmente com pessoas que não conhecem sua religião, como é se autodeclarar como Candomblecista? No começo, quando eu era bem novinha, eu ficava com muita ver-

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VOCÊ SABE QUANDO ESTÁ SENDO LESADO? Foto de: Rafaela Loiola

Você provavelmente já foi a um lugar que aceitava cartões, mas quando pediu por determinado produto essa forma de pagamento foi recusada. Também é possível que tenha encontrado preços diferentes para um mesmo item de acordo com a modalidade de pagamento.

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Existe na atividade comercial uma série de irregularidades que passaram a ser comuns, apesar de ferirem o Código de Defesa do Consumidor, que por permanecer pouco familiar à maioria da população, acaba sendo violado indiscriminadamente. Um frequente abuso cometido nos estabelecimentos comerciais é definir preços diferenciados conforme a forma de pagamento. Não é obrigatório ao estabelecimento

Julia Zumerle e Mariah Friedrich

oferecer alternativas de pagamento além do dinheiro em espécie, mas, se este optar por receber cheques ou cartões de crédito e débito não lhe é permitido acrescentar uma taxa referente a utilização de uma dessas modalidades. Os vendedores alegam que a taxa extra se justifica pelo gasto com manutenção dos terminais, contudo, de acordo com o advogado especializado em Direito do Consumidor Bruno de Freitas Ro-


cha, esse custo já é calculado no preço de mercado dos produtos, além de ser subsidiado pelas tarifas de anuidade com que o usuário do cartão precisa arcar. Oferecer esse serviço é também uma estratégia de venda que visa ao aumento da rentabilidade. As transações via cartão, seja na modalidade débito ou em uma única parcela no crédito, se enquadram como compra a vista, portanto, impor diferenciações infringe os incisos V e IX do artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor, que não permite ao fornecedor exigir do cliente vantagens exageradas sobre a venda de um produto ou serviço nem recusar a realização da venda a quem se dispõe a fazer pronto pagamento. Outra prática comum é exigir um consumo mínimo para realizar a transação via crédito ou débito. Esta se caracteriza como crime econômico por recusar a venda a vista e impor a venda casada, isto

é, o consumidor se vê obrigado a adquirir outros produtos que totalizem o valor mínimo exigido, como está previsto no CDC, no artigo 39 incisos V e IX e inciso II, que impede o comerciante de negar atendimento às demandas dos consumidores se não por motivo de falta de estoque. Se, por sua vez, o local de venda estiver enfrentando problemas com a máquina de cartão magnético, como nos casos em que ela se encontre sem sinal, é direito do cliente ser alertado antes de fazer o consumo do produto ou serviço. Segundo Rocha, no caso de o comerciante não aceitar como forma de pagamento cheque ou cartão magnético, tal informação deve ser exposta ao consumidor de forma clara e expressa, a fim de garantir transparência e harmonia na relação de consumo, conforme preconiza o artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor.

“Caso o consumidor seja surpreendido com a cobrança de valor diferenciado ou limite mínimo para compra com cartão, ele pode se dirigir ao Procon ou, se necessário, ao Juizado Especial mais próximo.” Bruno Rocha, advogado especializado em Direito do Consumidor” Bruno Rocha.

Estabelecimentos que optam por receber cheques ou cartões de crédito e débito não podem acrescentar taxas para essas modalidades

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Atitude em defesa da vida O que suas escolhas dizem sobre você. Foto de: Rafaela Loiola

Quando pensamos em veganismo, inevitavelmente, vêm à cabeça questões como: eu não conseguiria viver à base de soja e cereal, eu acho que o vegano não vive tão bem assim, como quem consome derivados do leite. Outros são mais radicais quanto à descrição da dieta vegana, e a resumem com a máxima “eu imagino um prato cheio de salada”. Diferente do que se pensa, o veganismo é mais que uma dieta. É uma conduta ética que visa a excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra os animais, seja para alimentação, vestuário ou qualquer outra finalidade.

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Os adeptos sustentam sua posição de não consumidores de produtos de origem animal ao defenderem que a pecuária é o maior problema ambiental e social do planeta. O consumo aparentemente inocente afeta várias esferas da nossa vida, trazendo impactos à saúde, meio ambiente e bem estar dos animais. Defendem inclusive que a opção pelo consumo de carne é a principal causa de fome no planeta, já que a quantidade de cereais destinada à alimentação dos bovinos poderia alimentar a grande parcela humana que vive em condição de miséria. Além do desmatamento para destinação a áreas de pasto, a criação de animais para o abate de-

Bianca Vailant e Brígida Valadares

manda quantidades consideráveis de recursos hídricos, fazendo com que a maior parte da água doce do planeta esteja comprometida com a pecuária. Para a produção de um quilo de carne, são necessários 15 mil litros de água. Em contrapartida, para produzir um quilo de cereais, precisa-se de apenas 1.300 litros de água. Além da poluição da água, os veganos questionam a condição em que os animais são mantidos na rotina de produção para consumo. Há abuso de poder e desconhecimento sobre a sensibilidade desses seres, no ritmo de produção em busca pelo lucro. Os maus tratos não afetam só a saúde desses animais,


afinal as altas doses de antibióticos, hormônios e agrotóxicos usados se alojam na carne que chegará às nossas mesas. Para o estudante de Direito Abner Vicente, 24 anos, o boicote a todos os produtos e serviços de origem animal vem ocorrendo de forma gradual. Adepto do vegetarianismo desde os 15 anos, Abner alega sempre ter se preocupado com as questões que permeiam a filosofia vegana. “Quando eu me tornei vegano eu era ovo-lacto-vegetariano há um ano, então essa nova mudança de hábitos alimentares foi uma transição muito fácil. Além disso, eu também sempre me preocupava com o que consumia além da alimentação, como com o uso de couro, lã ou produtos testados em animais. Nesse aspecto, não houve mudança, pois eu já praticava essa seleção de consumo”, afirma. Com o crescimento de adeptos ao movimento, surgiu uma demanda por estabelecimentos que oferecessem produtos e serviços destinados ao publico vegano. No Espírito Santo por exemplo, já existem locais que atendem a esse público. Ainda não são muitos os especializados, mas já existem aqueles que se dispõem a se adaptar. Para o estudante Abner Vicente, já é possível notar essas mudanças no mercado, e isso vem acontecendo de dois anos para cá. “Tenho certa dificuldade para comer fora. Lanchonetes tradicionais oferecem poucas opções veganas, e na maior parte são batatas fritas (as vezes até mesmo as batatas não são veganas, com as da Mac Donalds), saladas e açaí. Mas de um tempo pra cá estão surgindo mais opções no mercado capixaba para veganos, tanto em restaurantes e lanchonetes tradicionais como em estabelecimentos completamente vegetarianos ou veganos. O que vem facilitando a vida do vegano capixaba. Mas, para superar esse problema, sempre invisto em fazer meu próprio alimento e, em alguns casos, em até carregar

um lanche pra onde estou indo”, disse. Adotar a dieta vegana não significa ter mais dificuldade para se alimentar ou ter que passar fome. Comer bem sem afetar ninguém não é mais desculpa nem esforço, mas sim uma questão de costume e rotina. É possível encontrar alimentos variados, além de fazer substituições e adaptações de pratos bem conhecidos. Segundo Abner “o que um vegano precisa de verdade para ter uma dieta nutritiva é encontrado em qualquer supermercado, até mesmo aqueles de bairros”.

“Ser vegano não significa ter mais dificuldade para se alimentar do que ninguém, muito menos passar fome. ” Com o crescimento de um ideal de vida saudável quase todos os supermercados já contam com uma seção de produtos naturais. “Uma a dieta padrão vegana sem luxos e supérfulos pode ser montada em qualquer supermercado” conta o estudante. Já é possível encontrar proteína texturizada de soja, linhaça, gergelim. Além das seções comuns de frutas, verduras, legumes e folhas, existem as de grãos, que suprem todas as necessidades proteicas dos adeptos. As lojas de produtos naturais que estão se multiplicando também oferecem produtos a preços ainda mais acessíveis. Além das feiras orgânicas, que são bem ricas e atendem muito bem a esse tipo de público, grandes marcas do mercado já começaram a se preocupar em conquistar esse novo público, oferecendo algumas opções sem ingredientes animais. Não basta se contentar com o resultado final, para os adeptos do veganismo é preciso conhecer os processos e não ignorar mais o que está por trás de tudo isso. O boicote a todas as práticas que envolvam

Hmmmm... Quem está se tornando vegano sabe a dificuldade que é abandonar os antigos hábitos alimentares. Mas é perfeitamente possível adaptar as receitas para o paladar vegano. Confira esta dica: Ingredientes: • 1 xícara de extrato de soja em pó • 1 xícara de açúcar • 1 xícara de água • 2 colheres de cacau, se for fazer brigadeiro; ou meia xícara de coco ralado, se for fazer beijinho • opcionais: extrato de baunilha, margarina 100% vegetal. Modo de Preparo: Leve todos os ingredientes numa panelinha em fogo médio, mexa sem parar. O ponto de brigadeiro é quando no fundo da panela a mistura começa a desprender - conte 1 minuto, continuando a mexer, em seguida transfira a mistura para um prato para esfriar melhor. Pronto! Agora é só enrolar, pegando uma colherzinha da mistura e passando no chocolate granulado ou no coco ralado. Assim, envolto nos granulados, fica mais fácil fazer o formato de bolinha.

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em algum estágio a exploração de animais é uma arma poderosa nessa mudança que já tem mostrado resultado. Os grupos ativistas ou as ONG’s são os responsáveis por toda essa mobilização. Aqui no Estado, por exemplo, o veganismo é representado pelo Gala (Grupo Abolicionista pela Libertação Animal) e, juntamente com outras ONG’s e com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), já conseguiram influenciar na criação e promulgação de uma lei que proíbe apresentações circenses com o uso de animais. Preocupar-se com quem não tem como se defender e contribuir várias vezes de maneiras diferentes por destinos mais justos pode ser um grande passo para um futuro melhor e saudável. Pense nisso!!

ASSISTA: A CARNE É FRACA Documentário do Instituto Nina Rosa sobre os impactos que o ato de comer carne representa para a saúde humana, para os animais e para o meio-ambiente A ENGRENAGEM A discussão sobre o veganismo e seus benefícios ao meio ambiente e ao futuro é extensa e muito mais complexa do que apenas parar de comer carne. Envolve a diminuição da poluição atmosférica, a preservação de recursos vegetais e hídricos e muitas outras questões. Animação produzida pelo Instituto Nina Rosa TERRÁQUEOS Filme-documentário sobre a dependência da humanidade em relação aos animais (para estimação, alimentação, vestuário, diversão e desenvolvimento científico) Acesse: Seja Vegano http://www.sejavegano.com.br/ Portal Vista-se http://www.vista-se.com.br/

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Jovens e fÉ, Uma questão de escolha A opção por uma religião é uma realidade na vida de muitos jovens. Alguns experimentam processos de conversão, outros preferm exercer a fé fora das diversas alternativas religiosas encontradas atualmente Andreia Ferreira e Juliana Benichio

Muitos jovens se deparam com conflitos pessoais e sociais. Uns agem e outros omitem diversas ações que estão diretamente ligadas a características da juventude. É neste momento que descobrimos quem somos, que reconhecemos o mundo, que adquirimos experiências. A personalidade é de extrema importância quando se fala em convívio social, ainda mais entre os jovens, que estão descobrindo e tentando se reinventar a todo instante para se diferenciar dos demais e conquistar o seu lugar no mundo. Também é uma fase marcada por conflitos existenciais, decisões, cobranças, incertezas e questionamentos. Os jovens contestam muito mais o meio social em que vivem, buscando o entendimento das coisas sob uma forma lógica e racional. A busca por um sentido para tudo é algo inerente ao ser humano, é uma necessidade. A vida é feita de escolhas, e durante a juventude é que podemos tomar decisões que serão decisivas para o nosso futuro, o que exige ainda mais responsabilidade. A fé e a religiosidade são alguns dos motivos de dúvida e tomada de decisão. Qual é o espaço para a fé na vida dos jovens? Qual o tempo dedicado ao sagrado e como se configura a religiosidade para eles nos dias atuais? Para Rebeca Valete, 25 anos, formada em Serviço Social, a escolha para uma vida religiosa foi

amadurecida durante a juventude. “Durante a juventude ocorreu o entendimento de que a minha fé deveria ser praticada e desenvolvida independente dos meus pais, que eu deveria ter as minhas próprias experiências e buscar entendimento e conhecimento de forma pessoal”, afirmou O técnico em Automação Industrial, Lucas de Holanda Souza, 25 anos, explica como buscou a espiritualidade em sua vida citando a Bíblia: “O livro de João narra um momento em que Jesus pede água para uma mulher samaritana, que estava pegando-a no poço. Depois de um tempo de conversa ele diz para essa mulher que da água que ela estava apanhando para beber, tornaria a ter sede, mas que da água que ele poderia dar, ela nunca mais teria sede. Comigo foi assim, eu bebia de diversas águas como noitadas, entretenimento, sexo, bebidas, etc., mas eu sempre tornava a ter sede. Quando eu provei dessa água que Jesus falou com essa mulher, senti uma satisfação que nada no mundo havia me proporcionado. E essa água é a presença de Deus. Digamos então que fui atraído por ele através dessa sede”, contou. Ao ter uma experiência com a fé, muitos passam por um processo de conversão. O estudante Arthur Henrique Varanda, 21 anos, diz que “A conversão é um processo diário, o conceito no senso comum é muito superfi-

cial. “As pessoas têm a ideia de que alguém que decide tomar o caminho de Deus e passa a frequentar uma igreja se converteu’, mas isso é errado. Eu posso dizer que há algum tempo dei o primeiro passo em busca da santidade na minha vida e, a partir daí, tenho vivido diariamente um processo de conversão, no qual enfrento o tempo inteiro obstáculos para permanecer em Cristo”, declarou. Uma grande parcela da sociedade brasileira se declara cristã. Mas contrapontos existem e são discutidos, ainda mais nos dias atuais em que a diversidade e a liberdade de crença são questões defendidas. O estudante Elio Pimentel, 19 anos, destaca como foi o seu processo de desvinculação da religião. “Com o passar do tempo, a religião à qual eu pertencia também foi alvo da minha busca pelo sentido das coisas, e o sentido místico que ela me oferecia foi se tornando mais distante para mim. Tenho crenças, mas nem tudo o que acredito pode ser considerado como uma verdade comprovada. A busca pelo incompreendido é algo que considero relevante”, afirmou. O Brasil é um país de território extenso e repleto de diversidade. Nessa imensidão, encontramos muitas crenças e religiões. Crer ou não em uma delas é escolha de cada cidadão brasileiro e cabe a todos respeitar as diferenças e assim viver em harmonia.

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NOVA GRANDE ERA DE EXTINÇÕES Estimativas revelam uma perda rápida de biodiversidade ao longo dos últimos sécu-

Caroline Pinna e Thalita Mascarelo

los indicando que uma sexta extinção em massa já está em andamento.

O dinossauro é um dos vertebrados que mais nos fascinam. Filmes de grande sucesso já foram exibidos sobre essa criatura e a cada nova descoberta sobre ele e sua extinção, a curiosidade se intensifica. O desaparecimento dos dinossauros foi a quinta e última maior extinção em massa que aconteceu no planeta,há mais de 60 milhões de anos. Evidências encontradas por cientistas de três universidades estadunidenses (Stanford, Princeton e Berkeley) e publicado na revista científica Science Advances alerta para uma nova grande extinção em massa de vertebrados, que já está acontecendo no Planeta Terra, a maior desde a Era dos Dinossauros.

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Leonardo Merçon

Segundo a pesquisa, as taxas de extinção recentes não têm precedentes na história humana e são altamente incomuns na história da Terra. O artigo diz que os vertebrados estão desaparecendo a uma taxa 114 vezes mais rápida que o normal. A descoberta confirma os resultados de um estudo publicado pela Universidade de Duke, em 2014. Desde 1900, segundo o relatório, mais de 400 vertebrados desapareceram. Uma perda desta magnitude normalmente seria vista em um período de até 10 mil anos. Se o ritmo de extinção, já atualmente elevado, continuar, os seres humanos em breve – em menos de três gerações – serão privados de muitos bene-

fícios da biodiversidade, o que, provavelmente, a partir daí, seria permanente, já que são necessárias centenas de milhares de anos para uma biodiversidade se refazer. De acordo com o estudo, a crise ambiental afeta o bem estar humano interferindo em serviços essenciais dos ecossistemas, como a polinização das plantas de cultivo e a purificação das águas. Além do mais, as belezas naturais, que nos fazem viajar ao redor do mundo para vê-las de perto e são componentes culturais da humanidade, também estão sofrendo com essa destruição. A vida humana e a biodiversidade animal têm necessidades


que se mostram cada vez mais distintas. Os homens prezam por uma vida confortável, que proporcione prazeres enquanto os animais selvagens precisam de seu habitat preservado para se manterem vivos. O crescimento da população humana resulta num aumento do consumo que, por sua vez, incrementa o desmatamento e a caça às espécies. Para uma melhor condição de vida tanto humana quanto animal será necessário uma conservação intensiva, uma conscientização global e uma vida que almeje a sustentabilidade. O olhar para o Espírito Santo O Professor de Ciências Biológicas da UFES, Sérgio Lucena,

afirma que a grande novidade dessa extinção é que ela está sendo provocada por uma espécie biológica, o homo sapiens. “Nós estamos transformando o Planeta numa velocidade tal que as espécies se extinguem e não há tempo para a evolução de novas formas para substituí-las”, alerta. O fenômeno é global, mas há consequências locais mais severas em regiões de alta diversidade biológica e rápida destruição de ecossistemas naturais, como o caso da Mata Atlântica e, mais especificamente, do Espírito Santo. Em pouco mais de 100 anos destruímos cerca de 90% de nossas matas, portanto muitas espécies entraram em

alto risco de extinção no estado, sendo que algumas já se extinguiram regionalmente. O presidente da ONG Últimos Refúgios, Leonardo Merçon, também comenta sobre a situação do Estado na atual era de extinções e, para ele, a situação no Espírito Santo é grave: “Estamos dentro do bioma Mata Atlântica, que é o mais ameaçado. Em todo o nosso território estadual, com exceção do norte do Espírito Santo, mamíferos como as antas e as onças-pintadas já foram extintos. Esses animais são parte fundamental para a sobrevivência de uma floresta primária”. A ONG Últimos Refúgios é uma instituição socioambiental e cultural que visa à preservação

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dos escassos recursos naturais do planeta, almejando a sobrevivência de todas as espécies. O Instituto atua na preservação das áreas verdes capixabas realizando atividades desensibilização ambiental por meio de registros fotográficos e audiovisuais de áreas naturais. Devemos ter em mente que com a extinção dos animais, as plantas também são altamente prejudicadas. Merçon alerta para o exemplo das antas que são os únicos animais que conseguem disseminar as sementes grandes de algumas árvores. Sem elas, as florestas serão privadas de algumas espécies de flora que dependiam desse animal para sua reprodução fazendo com que os biomas sejam alterados e percam sua riqueza que é tão explorada pelo homem. Merçon calcula que a redução da Mata Atlântica no ES para 10% do seu tamanho original refletiu na velocidade de extinção dos animais. Hoje ainda há muitos vertebrados ameaçados, como a onça-pintada, o gavião real, o macaco muriqui, o mutum-do-sudeste

e a tartaruga-gigante. Desaparecendo o habitat desses animais, sua sobrevivência obrigatoriamente entra em risco. O professor Lucena explica que a fauna e a flora dependem uma da outra: “os animais precisam da flora para obter alimento, abrigo e reprodução. A flora depende de serviços dos animais como polinização e dispersão de sementes. A extinção afeta ambos os grupos concomitantemente”. Assumindo a “mea-culpa” Secas, calor exagerado, enchentes, animais reproduzindo e árvores florindo em períodos incomuns. Leonardo Merçon acredita que tudo isso está relacionado com o desequilíbrio de nossos ecossistemas e a extinção de animais faz parte desse processo. Esses fenômenos não estão acontecendo com tanta frequência devido ao ritmo natural do meio ambiente, mas sim porque o homem o desequilibra com intervenções exageradas. A conscientização e a vida sustentável precisam ser colocadas em prática, afinal não seremos os

últimos a viver na Terra e os recursos devem ser utilizados de modo que gerações futuras também usufruam disso. O professor Sérgio Lucena, faz algumas recomendações para contribuirmos para uma vida mais sustentável: evitar comprar ou consumir produtos da fauna e flora nativas que tenham origem ilegal; ter atitudes ecologicamente positivas, como dar preferência a alimentos orgânicos, dar destinação correta ao lixo e, acima de tudo, sermos consumidores conscientes, evitando desperdícios e o consumismo, que geram grandes demandas de matérias primas e energia, que acabam impactando os ambientes naturais. A mudança de hábito tem de fazer parte de nossas rotinas. Que tal a partir de agora termos um maior contato com a natureza? Entendermos como ela faz parte e é importante para nossa vida. Assim, interagindo e percebendo o quão a natureza precisa estar presente no nosso cotidiano, podemos adquirir uma vida sustentável.

Eras de extinção em massa Extinção do Ordoviciano

450 milhões de anos Mais de 60% os invertebrados marinhos foram extintos

Toda a vida conhecida estava nos mares e oceanos. A causa imediata da extinção foi a temperatura global, glaciação e queda do nível do mar.

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Extinção do Devoniano

360 milhões de anos Vitimou cerca de 70% da vida marinha, sobretudo corais e estromatoporóides

Extinção do Permo-triássica

251 milhões de anos Aproximadamente 95% de todas as espécies marinhas e 70% das espécies continentais foram extintas

Extinção do Triássico-Jurássico

200 milhões de anos

Extinção K-T (Cretáceo-Terciário)

Cerca de 65,5 milhões de anos

Cerca de 20% de todas as Vitimou 75% dos seres vifamílias marinhas e de ar- vos, incluindo os dinossauros cossauros (com exceção dos e outros répteis gigantes dinossauros) foram extintas. o mesmo ocorreu com os grandes anfíbios

As causas ainda não são Diversas teorias tentam É possível que uma eruconhecidas e foram atribuíA teoria mais aceita é que explicar a extinção K-T. A das a impactos de grandes pção vulcânica tenha acontetenha ocorrido erupções vul- mais aceita atualmente é a cido e liberado grandes quanmeteoros, glaciação, cânicas maciças. Isso teria de que a catástrofe tenha tidades de CO2, aumentando o causado um aquecimento redução do dióxido de carbono e falta de oxigêncio efeito estufa em 5oC extras na global intenso e depois um sido resultado da colisão de resfriamento. um asteróide com a Terra. temperatura da Terra. dos oceanos.


#DicasdePrimeira Alena Moreira

NÃO DIGA QUE ESTAMOS MORRENDO. HOJE NÃO

Vida, morte, ruídos, caos, desordem e sobriedade, há espaço para um tudo neste álbum de Juçara Marçal, primeiro de sua carreira solo. Encarnado (independente, 2014) chegou como um novo começo para a cantora, que já traz mais de 20 anos de experiência no ramo musical, conhecida por seu trabalho com os grupos Vésper Vocal, A Barca e Metá Metá. Nesse disco, suas composições inusitadas e pirações vocais dão agora um tom esquizofrênico para suas canções, mas sem perder a mestiçagem com os ritmos africanos, os ditos populares e o Candomblé. Destemida, ela subverte o circuito convencional da MPB, adentrando uma nova onda sombria, que fala e brinca com a morte (“A Velha da capa preta”, “Velho Amarelo”), além de permear temas antes intocáveis, como aborto. Vale a pena conferir os sucessos “João Carranca”, “Ciranda do Aborto” e também a belíssima versão da desvairada “Não tenha medo do verão”, de Tom Zé.

O SENSORIALISMO DE KAWABATA EM “O PAÍS DAS NEVES” A simplicidade é vista com grande apreço pelos japoneses, uma virtude que não poderia deixar de estar presente na arte japonesa. Yasunari Kawabata demonstra esse apelo ao simples através de descrições imagéticas e nos envolve em serenidade com sua obra sensorialista. “O País das Neves”, lançado em 1937, foi um marco para o autor, que se consagrou na academia, ganhando, posteriormente, o prêmio Nobel da literatura em 1968. A história se passa no Japão tradicional, nos tempos remotos em que o treinamento das gueixas, a Festa de Expulsão dos Pássaros e a confecção manual do chijimi (tecido alvejado na neve) eram hábitos comuns aos povoados do interior. Shimamura, um bom vivant de Tóquio, retorna ao País das Neves, para reencontrar a gueixa Komako, mas acaba se encantando com o simples reflexo de uma jovem na janela do trem. A hospedaria de águas termais nas montanhas é a paisagem que emoldura esse triângulo amoroso. Apesar de ser o protagonista, Shimamura se constrói a partir das duas mulheres, pois o conhecemos por meio de suas impressões sobre as personagens, que são imagens do quadro de paisagens delicadas em meio à alvura do País das Neves.

CALEIDOSCÓPIO DE CORES, PLOTS E EMOÇÕES Para entrar no mundo de uma criança, nada melhor do que usar a criatividade, e assim fez Alê Abreu em sua animação O menino e o mundo (80 min, 2013). O longa de traços simples, cores vibrantes e trilha sonora de cunho social, composta pelo rapper Emicida, elucida a aventura de um pobre menino do interior, em busca de seu pai. A lembrança de um caleidoscópio, com a música que seu pai tocava, o leva a percorrer a canção mundo afora. Sua curiosidade o transporta a caminhos um tanto duros para uma criança que acompanha de perto dilemas da vida citadina, a desigualdade social, a exploração do trabalho, a violência, a poluição e outros problemas. As formas lúdicas representam as configurações do mundo contemporâneo, que é revelado em sua natureza contraditória, ora distante e frio, ora quente e acolhedor, mas em meio ao caos da grande metrópole, a música se torna um porto seguro para a criança, conduzindo-a a momentos de felicidade e à união das pessoas.

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MAIS UMA NOITE SE INICIA E AS GAROTAS DA ORLA TENTAM A SORTE Julia Zumerle e Mariah Friedrich

Rafaela Loiola

Desprovida de uma identidade definida, Vitória é essencialmente uma cidade retraída. Fundada no dia oito de setembro de 1551, foi elevada a capital por ser geograficamente isolada da porção continental. A população ainda sente a maldição desse isolamento, que se evidencia na herança patriarcal, colonialista e provinciana da ilha. Essa foi uma noite quente como todas as outras, amenizada pela constante brisa marítima. Não passava das nove horas quando tomei o ônibus 121 em direção à orla, mas grande parte da cidade já havia se recolhido para suas casas, o que fez com que eu encontrasse a beira-mar bastante deserta quando me deparei com a placa neon que indicava minha parada. Em luzes florescentes lia-se Haiti Motel, seguido do sugestivo coqueiro sobreposto ao sol se pondo no mar, em azul, amarelo e verde – esse é um país de putas? A construção em ladrilhos verdes ocupa todo um quarteirão, o que simboliza a dimensão de um sistema que as pessoas em suas casas fingem desconhecer. O centro da prostituição em Camburi se estende por cinco quarteirões, desde o Motel Haiti até o posto de gasolina entre a João de Oliveira Soares e a Paschoal Delmaestro. Percorri por esquinas vazias indo de um lado ao outro da zona e, passada uma hora, recorri a um comerciante em um quiosque na praia, acreditando que ele talvez soubesse onde as garotas poderiam estar. – Por essa parte aqui você não encontra garota de programa, você vai ver é boneca de programa. – Mas até agora eu não vi nenhuma. – Elas devem tá faturando. A procura foi retomada sem o entusiasmo inicial e eu já considerava a alternativa de tomar um coletivo para a Simão Nader, outro ponto da cidade. Do ponto de ônibus notei uma mulher que se exibia em uma esquina à frente.Eu me apresentei tentando estabelecer uma cordialidade. Ela disse com desconfiança que se chamava Michelle. Seu rosto bonito aparentava ter pouco mais de vinte anos e era valorizado pela maquiagem leve, com exceção do batom em cor vibrante. Michelle usava uma combinação de shorts jeans curtos e desfiados com top cor-de-rosa de crochê. Enquanto eu insistia em uma aproximação, ela quase me ignorava, performando apoiada a um

poste de luz ao som da música eletrônica que saía do celular segurado à altura do ouvido. O choque entre as nossas posições não permitia que ela fosse abertamente amigável com uma intrusa que a requeria como objeto de estudo. – Você não tem nada melhor para estudar não? Ela se exibia para os carros, enquanto jogava o cabelo escuro em minha direção e me encarava sob sobrancelhas finas e arqueadas que ressaltavam seu desdém. Recentemente havia passado por uma experiência ruim com jornalistas, tentaram usar sua imagem sem o seu consentimento, “a menina ficou tentando fazer uma foto do outro lado da rua para eu não perceber”. Adotei uma postura que a colocava em domínio da situação, o que contribuiu para deixá-la menos relutante em me dizer algumas coisas a seu respeito. Perguntei de onde veio. – Do Ceará. Tô aqui há pouco tempo. – E veio direto para cá? – Não, antes eu tava no Paraná. Depois voltei pro Ceará e aí vim pra Vitória. No Ceará eu tenho família, não faço programa. Saio só para curtir. – Havia silêncios desconfortáveis, quase constrangedores, entre uma pergunta e outra. Por várias vezes ela tentou encerrar a conversa. – Você faz programa há quanto tempo? – Um ano só. – É perigoso? – Não, os capixabas são ótimos. Muito tranquilos eles são! – Disse com o otimismo de um ano de profissão e impressões de quem chegou há pouco tempo em um estado tradicionalmente hostil às minorias. – Será que eu posso sentar aqui perto e ficar observando o movimento? – Não, isso não dá porque espanta os homens. – Assumia uma expressão corporal de quem se preocupava em voltar logo ao trabalho. – É uma coisa temporária para você? – É, quero fazer esses programas só até atingir meus objetivos. – Objetivos? – Carro, casa e boceta. – Enumerou. – Entendi. Obrigada por me deixar tomar seu tempo, boa sorte. Nos despedimos. Refiz o percurso pelas esquinas vazias. Ela foi faturar a boceta.

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Astrologia Carina Costa

A astrologia e o seu significado

A astrologia pode ser definida como um sistema simbólico que observa a relação entre o macrocosmo (os planetas) e o microcosmo (o indivíduo na Terra). Assim, pode-se dizer que a astrologia estuda a influência dos planetas sobre o comportamento humano. Para a astrologia, quando um indivíduo nasce, o céu apresenta determinadas características que são únicas naquele momento. Tais características irão compor a base da personalidade do indivíduo.

Historicamente falando...

A crença de que o céu era um registro da vida na Terra foi sustentada pela maioria das civilizações antigas e pré-modernas, dos maias e astecas até os povos do Egito, Índia, China e sudeste da Ásia. Desde a Pré-História, os povos da Idade da Pedra criavam calendários lunares. A interdependência entre o Céu e a Terra foi registrada pela primeira vez por um astrólogo babilônio, em uma tábua de argila (cerca de 800 a.C.): “Os sinais na Terra, assim como aqueles no Céu, nos mostram indícios”.

O que os signos podem dizer sobre você?

O signo solar é onde o Sol estava quando você nasceu. Ele representa o seu ego e identidade básicos, podendo oferecer uma descrição completamente precisa de sua personalidade. Porém, o signo solar sozinho não define todos os seus traços comportamentais, pois o mapa astral ainda é composto por oito planetas que também serão fundamentais para traçar a sua personalidade.

ÁRIES O ariano é um líder nato. O primeiro signo do zodíaco traz uma personalidade muito ativa, com alto nível de energia, dinamismo e motivação. São pessoas destemidas que amam correr riscos e geralmente dizem “eu tenho coragem de fazer isso”. Os arianos são altamente competitivos e impulsivos, e por isso não pensam muito antes de agir. Tomam decisões instantâneas e não são muito fãs da paciência. Ótimos para iniciar e liderar projetos, mas possuem dificuldades em finalizá-los. Tome cuidado!

GÊMEOS O geminiano é aquele que nasceu para se comunicar. Escrita, fala e informações são a essência dos geminianos, que possuem um cérebro altamente ativo e por isso são agitados e questionadores (e também muito indecisos). Excelentes oradores, são faladores que raramente ouvem e dificilmente conseguem ter uma conversa do tipo falar e ouvir (sim). Os geminianos têm como talento fazer várias coisas ao mesmo tempo e também queriam poder ocupar mais de um lugar simultaneamente. Eles odeiam padrões, não param por um segundo e sua mente está em vários lugares.

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CÂNCER O canceriano simboliza o conforto, o lar e a família. Possuem um espírito materno, por serem protetores e sensíveis. Gostam de segurança física e financeira. Como em todo signo de água, apresentam um humor instável (varia de feliz e animado a deprimido) e captam com facilidade vibrações de outras pessoas e do ambiente próximo. Extremamente sensíveis, possuem uma intuição forte e geralmente sentem o que as pessoas estão pensando e se suas intenções são francas. Choram bastante! (Namoradores natos).

TOURO O taurino talvez seja o mais teimoso do zodíaco. Bem diferentes dos fogosos arianos, eles são calmos e possuem uma energia tranquilizante. São práticos e dificilmente deixam de finalizar projetos. Os taurinos se movem lentamente (muito), em seu próprio tempo, com tudo em ordem e nunca se apressam (nunca mesmo). O taurino precisa ter segurança, e, como um bom signo de terra, a encontra no dinheiro. Apreciam o conforto, a boa comida e uma boa rotina (amam o mais do mesmo, ou o mesmo de sempre). São pra casar!


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Bichos Leonardo Merçon

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