Primeiramao 145 abril 2016

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Edição 138 . Dez embro 2014

R e v i s t a L a b o r a t ó r i o d o C u r s o d e C o m u n i c a ç ã o S o c i a l d a U f e s - a n o X X V I I , e d i ç ã o 1 4 5, a b r i l 2 0 1 6

As dores da violência contra a mulher página 14

Nunca é tarde para aprender página 17

A CELEBRIDADE MORA AO LADO Página 4

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Oi, tudo bem? Pluralidade, esta é a palavra da nova edição da Primeira Mão. Em uma turma com ideias e ideais tão diversos, não poderia ser diferente. Mas temos algo em comum: queremos falar sobre o que move o mundo, o que transforma a sociedade. Começamos apertando o play para conhecer as novas formas de interação na internet. Vamos também aprender a comer bem mesmo com o tempo apertado, viajaremos sozinhas, mostraremos os desafios de ser mulher empoderando-as; vamos falar de suicídio, porque, sim, nós precisamos! A educação também está presente em nossa edição, e como ela não acaba na juventude, os idosos garantem que estão com tudo. Vamos ler autores capixabas, acampar, visitar museus, pegar pesado no Crossfit, vibrar com o novo público dos estádios e, para aquecer o coração, apadrinhar um animal. Boa leitura e até a próxima!

Os Youtubers

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Hábitos que transformam

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Viajo Sola

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Precisamos falar de suicídio

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Violência contra a mulher

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O desafio de sair sozinha

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Educação de idosos

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Na rua pela educação

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Vozes na literatura

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Meninos do balé

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Luz na passarela

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Camping 26 Vitória, beleza antiga

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Tem novidade nas arquibancadas

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Crossfit

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Esportes e a Ufes

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Ensaio fotográfico: Céu, mar, cidade

2, 35,36

Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social/ Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 jornal1mao@gmail.com. Ano XXVII, número 145 Semestre 2016/2 Reportagem, edição e revisão: Alena Moreira Andre Vidal Barbara Azalim Brenda Patrício Bruna Littig Caroline Kobi Caroline Ventura

Christal Rios Elisa Tavares Fernanda Alves Helena Jacobsem Isabela Marchezi Isabella Altoé Karoliny Siqueira Laiza Nicodemos Leonardo Ogioni

Lucas Lucas Donato Lucas Rezende Luisa Perdigão Luiz Felipe Guerra Mariana dos Anjos Mayra Scarpi Nelson Aloysio Nubia Nascimento

Olga Samara Renata Andrade Thais Stein Professora Orientadora: Ruth Reis Diagramação: Ruth Reis e Nelson Aloysio Foto de capa: Mariana dos Anjos

Impressão: Gráfica da Ufes Primeira Mão está utilizando nos seus textos principais a fonte tipográfica Ufes Sans, desenvolvida pelo Laboratório de Design da Ufes. Autores: Ricardo Esteves e Filipe Motta.

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Geração Z Luz, câmera... gravando! Jovens de todo canto do planeta estão produzindo e distribuindo vídeos por meio da plataforma do Youtube, e tornandose rapidamente conhecidos do públicos. Os Youtubers são as novas celebridades que despontam oferendo informação e entretenimento Leonardo Ogioni

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Tudo começou com os contos de fadas lidos de pais para filhos, antes de irem dormir. Hoje, a história se passa entre uma pessoa disposta a conversar com uma câmera, que a partir disso, espalhará para o mundo suas ideias, opiniões e problemas pessoais. A geração do século XXI está conectada 24 horas por dia, sete dias da semana. Tweets, Whatsapp, posts, imagens, snaps, uma infinidade de meios com os quais as pessoas, sem delimitar idade, se expressam ou simplesmente usam a criatividade, formando quiçá, uma arte. Quase metade dos brasileiros usa diariamente a internet. Cerca de cinco horas diárias são gastas na frente da tela do computador, segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, produ-


zida pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Cinco horas diárias são mais do que ouro para pessoas criativas e que estão dispostas a mostrar para o mundo como são, onde estão e o que estão fazendo. A nova profissão/hobbie/ ocupação chamada Youtuber é destaque mundial para jovens que estão se tornando celebridades e fazendo de si uma voz a mais em meio a tantas outras. Luiz Gustavo Casagrande, Mari Guimarães e Thainá Castro são três exemplos dessa nova tendência. Eles não se conheciam pessoalmente até esta reportagem, mas têm uma coisa em comum: atitude. Eles produzem os canais The Casa, 1 Quarto de Café e Meu Doce Desejo, respectivamente, nos

quais têm vários seguidores e postam vídeos com frequência sobre temas diversos do cotidiano, como comportamento, relacionamentos, dicas de beleza, sempre em tom coloquial e despojado. Os três podem estar a poucos passos de engrossarem a lista de celebridades que têm surgido no Youtube. O psicólogo Felipe Alves de Araújo, especializado em Psicologia Cognitivo-Comportamental, sintetiza alguns pontos chaves da relação entre a Geração Z, redes sociais e celebridades. “Basicamente, o que ocorrem são processos de identificação e aprendizagem. Não é novidade que a mídia eletrônica e a indústria do entretenimento carreguem uma legião de jovens para embarcar em subculturas, que envolvem até mesmo ex-

pressões de fanatismo. Os processos de imitação nos fazem emitir comportamentos específicos e característicos, que nos permitem identificar uns com os outros”, explica. Araújo também afirma que as pessoas podem se apaixonar por alguém que sequer tenham visto, contudo, não é verdade que não conhecer pessoalmente seja o mesmo que deixar de conhecer alguém. Para ele, os fãs sabem muito bem quem são seus ídolos ou, pelo menos, as personagens criadas em torno destes, entretanto, raramente o ídolo conhece os seus fãs. “Isso cria uma troca afetiva unilateral, em que o observador investe no modelo, enquanto o modelo só pode ser reforçado indiretamente pelo observador”, analisa o psicólogo.

Em um domingo bem ensolarado, realizamos um ensaio fotográfico muito divertido, onde os três Youtubers Thainá Castro, Luiz Gustavo Casagrande e Mari Guimarães tiveram a chance de se conhecer. O Coffeetown - American Coffee & Cake, em Vitória, cedeu o espaço para os cliques desta matéria e para capa da revista.

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Meu doce desejo Mari Guimarães, autora do livro “E se fosse verdade?”, recentemente entrou para o #TeamYoutubers com seu canal chamado “1/ Quarto de Café”. Mari também é dona do blog com o mesmo nome, que já ultrapassa a marca de 21 mil curtidas no Facebook. Desde contos românticos até as crônicas do dia a dia, a mineira tem como inspiração as pessoas ao seu redor e seu cotidiano. Aos 22 anos, Mari explica que foi graças à internet que conseguiu realizar muitos sonhos, como enviar seu livro para uma editora. Mas também passa por algumas frustrações, a exemplo da falta de controle na rotina diária. “Já penso no meu próximo livro, mas desta vez eu não quero um livro de crônicas. Pretendo investir num romance, quem sabe um best-seller” (risos), comentou.

Três conselhos antes de começar 1 - Gostaria que tivessem me falado que para ter um blog não é só uma questão de ser criativo ou de inspiração. Isso não é suficiente! É muito mais transpiração, você suar a camisa para fazer tudo acontecer, do que simplesmente ter inspiração para escrever. 2 - Tempo! Duas horas, pelo menos, por dia para dedicação total ao blog. 3 - Programação! Sempre me programar para adiantar ao máximo minhas atividades, programando posts no facebook, planos e metas mensais, com tudo bem objetivo e possível.

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Casagrande, aos 22 anos, capixaba, ex - estudante de Engenharia Civil (UFES) foi criativo o suficiente para aproveitar o intercâmbio e começar um canal no Youtube. O “The Casa” é um canal irreverente com mais de 3,5 mil inscritos, e uma soma com mais de 200 mil visualizações em seus vídeos. Na Austrália, durante seu intercâmbio, Casagrande resolveu aproveitar o tempo livre para explorar referências dos Youtubers britânicos, como Jack e Finn Harries, e os americanos Grace Helbig, Hannah Hart, Marke Miller e Fun for Louis para produzir vídeos e seguir seu sonho no meio audiovisual. “Além da oportunidade de eu poder me comunicar com uma comunidade e com outra cultura, a internet me possibilitou produzir meus filmes e interagir com o público, fãs ou curiosos. Eu consigo ser os dois, produtor e ator. O Youtube para mim hoje representa um objetivo, eu acho que isso pode soar meio pedante, mas eu sinto que tenho potencial para crescer e me desenvolver dentro dessa plataforma”, orgulha-se.

Thainá Castro, também com 22 anos, está atualmente cursando o nono período de Arquitetura e Urbanismo (paixão 1), além de respirar moda e beleza 24 horas por dia (paixão 2). Blogueira desde 2011 e Youtuber há três anos, a futura arquiteta conta com mais de 16 mil inscritos no seu canal chamado “Meu Doce Desejo”, e mais de 7 mil likes no facebook. Ela diz que a internet foi um network perfeito para ampliar seus horizontes e cair de cabeça no que queria, além de aprender a lidar com todo tipo de feedback e utilizar isso para aprimorar seu trabalho. “O canal vai sofrer algumas mudanças positivas. Este ano vou abordar outros assuntos, porque estou para me formar nos próximos meses, então quero que meus leitores acompanhem toda essa fase da minha loucura com TCC, minha rotina no geral. Mais pra frente, irei gravar todo o passo a passo de uma formanda (risos). Escolher roupas, maquiagens e sapatos para a colação, missa, e claro, o vestido do baile”.

Indicação de leitura Youtube e a Revolução Digital O Youtube serve “como plataforma de distribuição que pode popularizar em muito os produtos audiovisuais, desafiando o alcance promocional que a mídia de massa costuma monopolizar. Ao mesmo tempo, funciona como uma plataforma para conteúdos criados por usuários, desafiando a cultura comercial popular, sejam eles serviços de notícias criados ou programas de orientação ou entretenimento. Estes novos conteúdos, entretanto também podem ser assimilados e explorados pela indústria de mídia tradicional.” Livro “YouTube e a Revolução Digital”, de Jean Burgess e Joshua Green, com textos de Henry Jenkins e John Hartley http://www.editoraaleph.com.br/site/media/catalog/ product/f/i/file_32.pdf Use o QR code ao lado para baixar parte do livro no seu celular ou tablet


Opinião de especialista

Relação entre jovens, internet e celebridade O Psicólogo Felipe Araújo explica que o comportamento dos jovens é determinado de diversas formas e passa por diferentes etapas: “os fundamentos psicológicos são a identificação, a aprendizagem, o comportamento fanático ou ‘efeito manada’ e a afetividade adolescente efervescente”. Aqui ele detalha cada uma dessas fases: Identificação: a pessoa percebe algo no ambiente social que a faça sentir-se semelhante a determinado modo de conduta observado. O importante é que esses elementos estejam ligados a “modos de ser” que permitam aos identificados se perceberem diferentes dos demais, porém, semelhantes ou idênticos entre si e o modelo, ídolo ou celebridade, que serve como um avatar. Aprendizagem: o processo de aprendizagem parte do zero e é mediado pelos modos de aprendizagem direta e vicariante. Na aprendizagem vicariante, o modelo (pessoa a quem se observa) produz um comportamento e é reforçado. Sendo bem sucedido, colhe um resultado favorável por seu comportamento, que é percebido pelo observador. Isso nos leva ao processo de identificação, em que a aprendizagem direta cumpre seu papel de reforçar o observador no momento em que este assimila e imita o comportamento anteriormente apresentado pelo modelo (pessoa observada). Comportamento de manada: à medida que se vai absorvendo mais e mais o modo de se

comportar dos modelos, maiores são os processos de identificação e a força da coesão e união como resultado desse fenômeno social, até chegar o momento em que esse processo ganha força suficiente para ser batizado, nomeado e apresentado como um modo de ser ou agir. Também nesse sentido, aumenta a ocorrência de comportamentos de fanatismo por parte dos envolvidos. À medida que o grupo vai se tornando cada vez mais homogêneo, ocorre o efeito manada, em que os participantes passam a agir guiados pela coletividade, muito mais do que por suas motivações individuais. Afetividade: os resultados dos processos de identificação, reforço direto, reforço vicariante, fanatismo, homogeneidade e comportamentos de manada são evidentes em diversos tipos de sentimentos vivenciados por aquele que participa de determinados grupos. Obviamente, torna-se gratificante estar junto com aqueles que compartilham dos mesmos signos sociais, levando-os a criar fã clubes, páginas na web e participar de eventos que envolvam as pessoas a quem se tem por ídolo. Tudo isso é mediado por sentimentos atribuídos ao modelo, aquele a quem todos observam, imitam, aquele que desperta paixões, que cria os signos ou os compõem de maneira tão precisa que também passam a ser idolatrados.

Como virar um Youtuber A pergunta que todos fazem: “É possível ganhar dinheiro com isso? Como faço?”. É possível sim ganhar dinheiro fazendo vídeos e postando no Youtube. Vamos a um passo a passo rápido: • Crie um canal • Grave um vídeo (cuidado com os direitos autorais do conteúdo); • Faça o upload no seu canal; • Ative nas configurações analíticas a opção “monetização”. Com isso, você está ativando publicidade em cima do seu vídeo. Isso é o que gera valor monetário em cima do seu vídeo. Após um mês de coleta, o Google analisa a quantidade de views e transforma em dinheiro. É válido lembrar que só é pago o valor acima de U$ 100, menos que isso os bancos internacionais não fazem transferência. Caso não consiga o valor mínimo, o Google acumula para os próximos meses o total de views. Agora basta você ter ideias e começar a postar, deixa a timidez de lado, estamos vivendo uma nova era. Somos uma geração totalmente midiatizada e perspicaz o suficiente para perceber chances únicas no maior meio “alternativo”, que é a Internet.

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m um almoço fora do cotidiano, num restaurante que serve apenas saladas - aquele dia não foi possível preparar a marmita pela manhã - Ju Miao Chang contou sua história um tanto quanto surpreendente. Ela nasceu em Taiwan e nos anos 2000 se mudou para o Brasil com a família. Filha de vegetarianos e adepta dessa alimentação desde que nasceu, chegou por aqui com seis anos e sofreu um grande baque culinário. Sem nunca ter provado carne na vida, Ju diz que a maior diferença entre a culinária brasileira e a oriental é a quantidade de carne consumida e de temperos usados na preparação dos alimentos em nosso país, razão pela qual, durante grande parte da infância, ela evitou comer fora de casa e sempre levou lanches feitos pela mãe para a escola. A futura médica acupunturista não é adepta de nenhuma religião, mas sendo extremamente espiritualizada acredita muito na relação entre mente, corpo e espírito e confia na alimentação como elo entre os três e, por isso, se preocupa muito com que consome. Atualmente Ju Miao cursa Medicina e, apesar de comer

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na rua com mais frequência, faz questão de levar marmitas para a faculdade com as próprias preparações. Isso começou no pré vestibular quando percebeu que estava abusando das frituras nos restaurantes. Ao iniciar os estudos na graduação passou um tempo almoçando no restaurante da faculdade, que fazia pratos vegetarianos diariamente, mas logo sentiu falta de alimentos mais saudáveis e frescos, como hortaliças. Para Ju as opções vegetarianas dos restaurantes e lanchonetes costumam ser muito pesadas, sempre envolvendo frituras e laticínios. Ela chega a brincar que para os brasileiros o único lanche vegetariano é o famigerado pão de queijo. Desde então, Ju acorda mais cedo todos os dias e, com ajuda da mãe, prepara a marmita para levar para a aula. A taiwanesa ainda garante que a alimentação não atrapalha o convívio social, inclusive já até incentivou amigas a aderirem à alimentação saudável. Quando perguntada sobre os passeios com os amigos ou quando é preciso comer em restaurantes Ju diz sempre optar por pratos mais saudáveis, mas quando sente vontade, não se nega a comer “uma besteira”. Para a universitária de 21 anos,

é sempre importante ter equilíbrio, E, para quem quer se tornar vegetariano ou começar a ter uma alimentação saudável, ela aconselha: “você só descobre o que tem para comer quando decide cortar algo da sua alimentação e abrir os olhos para outros alimentos.”. Ju Miao não é a primeira e nem a única jovem a não ser adepta da carne durante as refeições. É possível perceber por meio da mídia e das redes sociais, que muitos jovens vem aderindo à prática de não consumir carne. Diante dessa história, a revista Primeira Mão procurou um profissional da área de Nutrição para saber mais sobre essa nova tendência ao vegetarianismo, as causas e as consequências para a saúde humana. Atenção aos nutrientes Professora da UFES, a nutricionista Dr. Maria Del Carmen, adiantou que retirar a carne da alimentação não quer dizer que, necessariamente, a pessoa tenha uma alimentação saudável, pois, “não se pode definir um único alimento responsável pela saúde”. Diante dessas tendências alimentares é preciso ficar atento aos nutrientes que o nosso corpo precisa. A professora fez menção aos pro-


Hábitos que transformam Muito mais que uma causa social, o vegetarianismo se encontra cada vez mais presente na vida dos jovens Karol Siqueira e Isabella Altoé

dutos apresentados na mídia que prometem uma “saúde melhor”. Para uma alimentação saudável é necessário seguir uma dieta balanceada, com a ajuda de um médico e um nutricionista para acompanhar e orientar de acordo com as necessidades de cada um. 20 quilos a menos Mestrando em Nutrição pela UFES, Tiago de Castro (28), que também é vegetariano, perdeu 20 quilos depois da mudança alimentar motivada pela saúde. Para ele, “o brasileiro se preocupa com a alimentação quando descobre que sua saúde está em risco, isso faz parte da nossa cultura”. Em sua pesquisa, intitulada “Padrão vegetariano e fatores de risco cardiovasculares no ELSA (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto) Brasil”, Tiago de Castro analisou 15 mil pessoas entre 35 e 54 anos, vegetarianas e não vegetarianas, por meio de questionários com perguntas referentes à quantidade e frequência do consumo de carne. Todas elas também foramsubmetidas a exames periódicos. O resultado da pesquisa, dado em primeira mão para a nossa Revista foi que não existe diferença nos indicadores da saúde entre uma

pessoa vegetariana e outras que consome pouca quantidade de carne. O mesmo não se verifica em pessoas que comem muita carne, pois esta traz prejuízos à saúde, pois, geralmente, essas pessoas apresentam colesterol e pressão arterial bem alterados, além de sobrepeso. Quando alguém resolve mudar a alimentação, é fundamental adotar um processo gradativo. A maneira correta requer, além da eliminação da carne, a prática de exercícios e uma alimentação balanceada. Por esse motivo, muita gente desiste no meio do caminho por se sentir doente ou enfraquecido. A nutricionista Maria Del Carmo orienta que para aderir ao vegetarianismo saudável é necessário evitar principalmente os alimentos industrializados e procurar os mais naturais possíveis, além de resistir a tentações encontradas na rua. Os especialistas afirmam que as mudanças comportamentais são determinadas socialmente. “Uma boa dica é fazer a sua própria comida”, recomenda Tiago de Castro ao questiona que as pessoas tendem a gastar muito tempo na academia, então, por que não gastar um pouquinho de tempo na cozinha em função da nossa saúde?

Ju Miao Chang com marmita vegetariana na faculdade.

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Viajo Sola Se estiver preparada, um mochilão sozinha pode ser até mais seguro do que caminhar desatenta das ruas de sua cidade Thaís Lipaus Stein Quando uma mulher decide viajar sozinha, as pessoas ao seu redor enlouquecem: “o mundo é perigoso lá fora, pode acontecer coisas com você”, e tantos outros alertas lhe são passados. O assassinato das duas mochileiras argentinas que viajavam pelo Equador e foram encontradas mortas no mês de fevereiro deste ano levou para um plano internacional a questão das mulheres que viajam sozinhas. As manchetes nos jornais latino-americanos ressaltavam dois aspectos: o perigo e a culpabilização de mulheres que optam por viajar “sozinhas” (mesmo estando acompanhadas por outras mulheres). O perigo de fato existe, mas depende das circunstâncias, do destino que você escolhe, da cultura local e também do seu próprio nível de preparação, e não necessariamente do fato de o viajante ser ou não uma mulher. Antes de apontar se realmen-

te é perigoso para uma mulher viajar sozinha, temos que considerar dois itens na hora de viajar: as questões culturais e os riscos que a localidade escolhida oferece. Viajar sozinha implica numa série de cuidados a se tomar, que muito se assemelham aos que você deve ter em seu próprio país: não andar sozinha na rua à noite, não aceitar carona de estranhos, vigiar seus pertences e outros. Você deve ficar atento para evitar assaltos, assédios e outros problemas. Outro aspecto a se considerar é a cultura dos locais que se quer conhecer, os quais muitas vezes oferece mais riscos para as mulheres do que para os homens. Ficar alerta, entretanto, não deixa as mulheres imunes aos riscos do mundo. E caso ocorra algum contratempo ou fatalidade, a culpa não pode ser transferida para a vítima, como costuma acontecer por influência da cultura machista.

Primeira vez Em 2014 fiz minha primeira viagem ao exterior sozinha: escolhi a Turquia, onde, por alguns dias, convivi com uma cultura local muito distinta. Tive que tomar certas precauções, como me cobrir com lenços e roupas compridas, evitar contato visual com homens na rua, cumprimentar sempre a distancia e não passar em lugares onde tivesse apenas homens juntos. Eu fazia o máximo para ser invisível aos olhares dos homens, um tanto quanto em vão. Porém, não passei por mais ou menos perigo do que se estivesse na minha cidade, no Brasil, porque me sentia preparada depois de muitas pesquisas, e sabia como me comportar naquele lugar. Quanto mais aprender sobre o destino escolhido, ler dicas de viagens e conversar com pessoas do local, mais se estará mais apta a entender e viver aquela realidade. Em 2015 fiz outra viagem sozinha: um mochilão de três meses pela América Latina, sem datas ou roteiro detalhado definido. Juntei um dinheiro, montei um percurso básico com opções de cidade, realizei pesquisas sobre todos os países que eu pudesse ir e coloquei a mochila nas costas.

Paula, (em Viena, Austria), uma mochileira experiente em viajar sozinha, já conheceu boa parte do mundo.

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A preocupação da família e dos amigos era evidente. Eu mesma me senti insegura no início, até começar a viagem e perceber que não se trata de um bicho de sete cabeças. No meu caminho, conheci outras duas mochileiras brasileiras viajando sozinhas. Rayane Redinz estava saindo pela primeira vez do país, porém já era acostumada a viajar de carona pelo Brasil. Paula Giorgini, por sua vez, já havia viajado sozinha por muitos destinos, e acabara de chegar da Índia. Ela já viajou sozinha por mais de 10 países, da Ásia, América e Europa, e diz que sempre se sentiu muito segura. Algumas culturas costumam ser mais exigentes com o comportamento feminino, mas, apesar de já ter sentido certo incômodo com a abordagem de homens, Paula não achava perigoso viajar sozinha e sempre conhecia mais pessoas e fazia novos amigos. Aí vem outra questão de viajar sozinha: na maior parte das vezes, você não está sozinha. Muitas pessoas estão passando pelo mesmo, e você poderá encontrá-las em pontos turísticos, restaurantes e hostels. A maioria dos viajantes são muito abertos a conversas e se mostram bem confiáveis. Rayane, Paula e eu trocamos muitas informações, sobre como lidar com diferentes culturas e destinos. Foi quando comecei a desmistificar questões como pegar carona em outros países e pensar que até pegar carona com estranhos, um ato não recomendado mesmo na sua própria cidade, pode ocorrer sem maiores problemas viajando sozinha, o que me levou a encarar minha primeira carona nas estradas do Chile. Mais uma vez, é importante tomar precauções. Rayane recomenda procurar saber se o país é perigoso, se viajar de carona é um hábito comum no país e anotar a placa do carro que oferece carona e passar para um amigo. Estes são cuidados que deixarão a mulher mais tranquila ao optar por esse tipo de deslocamento.

Se estiver preparada, um mochilão sozinha pode ser até mais seguro do que caminhar desatenta pelas ruas de sua cidade. Existem muitas mulheres mochileiras que são prova de que viajar sozinha é seguro sim. A internet e as estradas estão repletas de relatos e histórias dessas mulheres. Quando se começa a viajar sozinha e compartilhar experiências, muitas outras mulheres se mostram curiosas e perguntam sobre a experiência. A maioria delas ainda tem receio de tomar as estradas, e mesmo querendo viajar sozinha, precisavam de algum apoio e conselhos. A resposta dada a isso por tantas mulheres que se pode en-

Thaís mochilando sozinha na Capadoccia, Turquia (acima), em 2014, e na Bolívia, em 2015

contrar nessas estradas e em blogs pela internet é de incentivo. Viajar sozinha aumenta a sua confiança e autoestima, dá uma sensação de liberdade e muitas experiências. O fato é que o mundo, infelizmente, é perigoso, em especial para mulheres, seja viajando sozinha ou voltando da Universidade à noite. Porém não deixaremos que nada disso nos impeça de fazer o que quisermos, afinal, o mundo também é nosso.

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os raros casos em que há uma discussão sobre o suicídio, ignorância, medo e preconceito dominam o momento, na maioria das vezes, por falta de informação ou por questões religiosas, o que resulta na decisão de silenciar sobre este tema. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de suicídios aumentou muito nos últimos anos, sendo a causa de mais de 800 mil mortes por ano. Em um relatório divulgado no fim de 2015, a OMS afirma que o autoextermínio é um grave problema de saúde pública e que a prevenção “envol-

precisamos falar de suicídio ve uma série de atividades, que vão desde proporcionar as melhores condições possíveis para criar crianças e adolescentes, passando pelo tratamento eficaz de perturbações mentais, até ao controle ambiental de fatores de risco”. Além disso, o relatório ainda afirma que a apropriada disseminação de informação e a conscientização são elementos essenciais para o sucesso dos programas de prevenção ao suicídio. Segundo a psicóloga capixaba Luma Zagotto, é muito importante que as pessoas estejam dispostas a discutir o assunto para desnaturalizá-lo. “Falar sobre um assunto, não o torna natural. Mas colocá-lo como se fosse comum, sem discutir as problemáticas e apenas reagir aos acontecimentos, naturaliza sim. A mídia tem o papel de informar e, além disso, fazer com que a sociedade reflita sobre determinado assunto. O contrário acontece com a violência, que é totalmente naturalizada”, afirma Luma. Para ela, suicídio não é vontade de morrer e nem um ato de covardia, e sim vontade de acabar com um determinado sofrimento tão grande, que a única maneira de ser eliminado é com o autoextermínio. Na maioria das vezes a

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O suicídio é a segunda maior causa de morte entre os jovens no Brasil e continua sendo negligenciado pela imprensa. André Vidal pessoa em crise precisa se abrir e dizer o que está sentindo. Ela necessita de alguém que a escute, mas por falta de informação, ela é julgada e isso prejudica ainda mais a situação. Uma mãe que preferiu não se identificar afirmou que, depois de perder o filho, percebeu o despreparo das pessoas para lidarem com o suicídio. “As pessoas falaram que meu filho era fraco, que ele queria chamar atenção. Eu passei muito tempo tentando entender o que aconteceu para ele se matar. Mas, depois de procurar ajuda psicológica, percebi que ele me pediu ajuda várias vezes e eu nunca respondi da melhor maneira”. O silêncio da imprensa Mesmo com profissionais da saúde, cientistas e a Organização Mundial da Saúde orientando que a informação é necessária para a conscientização sobre esse assunto, a imprensa se mantém calada e evita que notícias sobre o tema sejam veiculadas. A OMS já alertou

que o número de suicídios aumentará cada vez mais, não só pelo silêncio da mídia, mas também por causa do fortalecimento do preconceito acerca deste assunto, principalmente por questões religiosas. O último relatório divulgado pela Organização, também mostra que o número de suicídios no Brasil passa de 90 mil, sendo a segunda maior causa de morte no país, perdendo apenas para acidentes de trânsito. A diretora do Sindicato dos Jornalistas Suzana Tatagiba, com mais de 30 anos de atuação, informou que existem empresas que exigem que o profissional assine um documento proíbindo-o de falar de suicídio. Mesmo considerando que a mídia banalizou a violência, ela defende que é necessário discutir o suicídio de forma aprofundada e pergunta: “Porque eu não posso falar do suicídio? Precisamos pensar de uma maneira mais humanística”. Mas ela entende que é um assunto delicado e


Ações de empreendedorismo jovem de prevenção ao suic´ˆídio

que exige um estudo de como falar do tema, já que muitos jornalistas não querem falar sobre o tema, principalmente pelo medo de incentivar mais casos. A equipe de reportagem da Primeira Mão experimentou a dificuldade que é falar desse assunto. Procuramos jornalistas da Rede Gazeta, Rede Tribuna e Record News, mas nenhum deles se manifestou. A Rodosol, responsável pela administração da Terceira Ponte, onde ocorrem inúmeros casos de suicídio, também foi procurada para falar sobre o assunto, porém também não respondeu ao nosso pedido. Centro de Valorização à vida Para ajudar pessoas com problemas emocionais, existem programas e organizações que trabalham de forma voluntária. Um deles é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que se espalha por todo o país, sendo formado exclusivamente por voluntários que passam por treinamentos específicos para lidar diretamente com pessoas em diversas situações de risco. Com o objwetivo de prevenir o suicídio, o Centro ajuda pessoas desamparadas a passarem por momentos de crise, gatilhos que podem levar a esse ato. “O CVV oferece apoio emocional, um trabalho de escuta às pessoas de forma gratuita e sigilosa. Entendemos que quando as escutamos de maneira atenciosa,

oferecemos nossa amizade temporária e prevenimos o suicídio”, explica Marileia Tenório, uma das voluntárias da organização. Segundo ela, cerca de 1 mil ligações são recebidas pelo CVV Vitória mensalmente. Contando com os 72 postos espalhados pelo país e ainda o atendimento online, o número de pessoas auxiliadas chega a 1 milhão por ano. Todos os serviços do CVV são gratuitos, sigilosos e funcionam 24 horas por dia. As pessoas podem ligar para o número 141 e falar com um dos atendentes. Além disso, o CVV ainda presta serviços pela internet, por Skype, chat e email. É só acessar o site www.cvv.org.br e escolher o serviço que for melhor. Outro órgão que trabalha nessa área é o Núcleo de Psicologia Aplicada da Ufes, no qual são oferecidos serviços gratuitamente, como psicodiagnóstico, terapia individual e terapia de grupo. Qualquer pessoa pode se inscrever e conseguir consultas com estudantes de Psicologia. O Núcleo funciona o ano inteiro, das 13 às 19 horas, no Campus de Goiabeiras, Cemuni IV, prédio de Psicologia da Ufes.

No ano passado, a Empresa Júnior de Comunicação Social da Ufes (Ecos Jr), desenvolveu um projeto de conscientização da sociedade sobre suicídio, resultando na campanha Setembro Amarelo, em parceria com o CVV. A empresa formada por estudantes do Centro de Artes da UFES criaram uma página no Facebook e utilizaram um outdoor na avenida Reta da Penha, em Vitória, para divulgar a campanha. Além disso, junto ao CVV, tentaram, sem êxito, negociar com as Prefeituras de Vila Velha e Vitória e com a Rodosol a iluminação amarela da Terceira Ponte e do Convento da Penha. “O Setembro Amarelo é um movimento que está buscando conseguir espaço para discutir o suicídio. E esse trabalho junto com a Ecos Jr. foi uma tentativa de conscientizar as pessoas sobre os cuidados, diagnósticos, problemas e soluções em torno do suicídio. Mas esse assunto é tão tabu que as pessoas não participaram”, relata Marileia Tenório. Outra ação realizada na Ufes também contou com a participação do CVV e também da jornalista Suzana Tatagiba e do professor do Departamento de Comunicação Edgard Rebouças, que organizou um seminário para discutir o silenciamento da mídia ao tratar do suicídio.

Centro de Valorização da Vida- CVV Tel: 141 ou 3223-4111, 24h por dia - http://www.cvv.org.br Para ser voluntário é preciso ter mais de 18 anos, tempo para realizar o curso preparatório Núcleo de Psicologia Aplicada da Ufes Telefone: 4009-2509, das 13h às 19h

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Violência marca

no corpo e No Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, de acordo com dados do anuário do Fórum de Segurança, de 2015. Ser vítima da violência sexual é uma lembrança dolorosa que se traduz em números para o Estado. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, de acordo com dados do anuário do Fórum de Segurança, de 2015. Essas mulheres podem carregar para o resto de suas vidas traumas psicológicos e físicos. Muitas delas não recebem o amparo adequado, principalmente pelo fato de o crime sexual ter um dos maiores índices de subnotificação à polícia. Em favor de todas essas vítimas, a Lei Nº 12845 de 2013, garante “atendimento emergencial, integral e multidisciplinar, visando ao controle e ao tratamento dos agravos físicos e psíquicos decorrentes de violência sexual, e encaminhamento, se for o caso, aos serviços de assistência social”. Este

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atendimento envolve tratamentos profiláticos, psicológicos, ginecológicos e possíveis interrupções gestacionais.Todo o processo deve ser ofertado pelo Sistema Único de Saúde. No Espírito Santo, um dos órgãos que assiste as pessoas abusadas sexualmente é o Programa de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual (Pavivis), uma atividade de extensão da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), iniciado em 1998, que trabalha em parceria com a Secretaria de Segurança Pública e a Secretaria de Saúde. Os primeiros procedimentos são feitos no hospital, os quais ocorrem em caráter de urgência. Após, há o encaminhamento ao Pavivis, uma espécie de casa bem discreta próxima ao Hospital das Clínicas. Os pacientes são recebidos por assistentes sociais, psicólogos

e ginecologista, e o acompanhamento tem duração média de seis meses, podendo se estender, caso seja a necessidade e vontade da vítima. Quando o hospital é procurado em até 72 horas após o estupro, a medicação profilática será mais eficaz na prevenção de HIV e de uma gestação indesejada. Trauma Para Ana*, vítima de um estupro, foram dias longos aqueles que teve de ir até a delegacia, fazer o boletim de ocorrência, ser transferida para a Delegacia da Mulher, realizar o exame do toque no Departamento Médico Legal (DML), e depois ser encaminhada ao atendimento especializado do Pavivis. Não havia informações para que esse processo * Nome fictício para proteger a identidae da entrevistada


a mulheres

na alma Elisa Tavares e Luísa Perdigão

fosse mais rápido. “Depois tive que passar por um médico e por exames no pronto socorro. Em seguida, me mandaram para uma delegacia, na qual fiquei quase o dia todo até ser encaminhada ao DML, onde passei por humilhação de novo (o exame de toque)”, lembra. Aos 51 anos, Ana procura consolo na família e na religião. Esquecer ainda é difícil e ela busca no trabalho uma forma de se ocupar para que pensamentos e recordações não voltem à mente. Ela está recebendo o acompanhamento psicológico oferecido gratuitamente pelo Pavivis. Em torno da violência sexual há uma estrutura em que a mulher é culpabilizada pelas violações que possa sofrer. Um dos aspectos mais dolorosos é o silêncio das vítimas que pre-

ferem não realizar a denúncia e se calam diante da situação como forma de se proteger e negar o abuso. Relatar é reviver o sofrimento e o sentimento de vergonha, medo e angústia, ainda mais quando há tolerância e normalização do estupro. De acordo com a assistente social do Pavivis, Alexsandra Entringer, isso se torna ainda mais recorrente quando a violência está dentro de casa. “Não temos dados que consigam comprovar, mas imaginamos que muitas não denunciem por se sentirem envergonhadas, amedrontadas e culpadas”, afirma.

A primeira atitude, Ana* tomou: fazer a denúncia do estupro. O Pavivis assistiu 82 pessoas em 2015, sendo 80 mulheres e 2 homens. Dentre elas, a maior parte foi abusada por pessoas conhecidas, como vizinhos, padrasto, tio, irmão e marido. Em todo o Espírito Santo, a Grande Vitória é a região com o índice mais alto de vítimas. Diferente do caso de Ana*, quando o estupro não é denunciado rapidamente, a mulher, sem amparo, pode enfrentar uma possível gravidez do seu agressor e, para Alexsandra, essa é uma das piores situações. “Falhamos, o governo e nós, como sociedade, na proteção dessa mulher que foi estuprada. E mais uma vez falhamos quando não demos oportunidade e conhecimento para ela vir ao hospital receber medicação profilática e a pílula do dia seguinte”, afirma. Neste caso, a vítima tem o respaldo legal para interromper a gestação de até 22 semanas, para tanto, é feito acompanhamento por 15 dias, quando são oferecidas orientações acerca dos direitos da mulher nessas condições. Apesar de já ter passado por momentos de quase ter fechado as portas por falta de contratação de funcionários, o Pavivis hoje consegue atender bem a demanda dos pacientes, sempre pensando em seu bem estar e saúde, para minimizar o quanto for possível o trauma da violência sexual.

O Pavivis funciona de segunda a sextafeira, das 8 às 17 horas, no campus da UFES, em Maruípe, ao lado do Hospital das Clínicas. São atendidas pessoas a partir de 12 anos.

primeiramão15 Abril 2016


Arte também é saúde É a arte ilimitada unida ao processo terapêutico, que transforma a Arteterapia em uma técnica especial. Isabela Marchezi

Alguns métodos expressivos da Arteterapia Pode-se propor aos participantes envolvidos no processo, a materialização de um ‘’jardim interior’’, construído numa caixa de sapatos, utilizando terra, gravetos, pedras, flores, massa de modelar, argila entre outros. Ao final da atividade, costuma-se pedir aos envolvidos que se representem de alguma forma nesse jardim: como um animal, uma flor, uma pedra por exemplo. Entre os recursos que facilitam a comunicação interpessoal e a afetividade na relação com o outro está o ‘’bastão que fala’’. Esse instrumento indígena, utilizado há muitos séculos por diversas etnias para o diálogo, possibilita a passagem de ensinamentos ou tomada de decisões. O primeiro passo é encontrar um graveto, para que nele sejam colados elementos do reino mineral, vegetal e animal. O reino humano, é representado por pessoas que seguram o bastão durante a sua passagem, interligadas numa mesma

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Abril 2016

Ana Flávia está encantada com as sessões de Arteterapia, uma linguagem híbrida, transmitida através de procedimento terapêutico, configurando-se como uma arte livre, capaz de se transformar numa técnica especial. Funciona sustentada por recursos que interligam os universos interno e externo do indivíduo. Essa terapia utiliza a arte como canal de comunicação entre ‘’atendido’’ e ‘’arteterapeuta’’, buscando a melhoria da saúde, com foco na prevenção de doenças e bem estar social. Segundo Ana, busca por terapias alternativas foi necessária para harmonizar o turbilhão de anseios e sentimentos desordenados em sua rotina. ‘’Percebi que estava perdendo o amor próprio, a alegria de viver, ao passo que sentia minha criatividade sufocada. Sempre gostei de inovar, me expressar; porém o estresse do trabalho fazia com que meus problemas se tornassem grandes demais. Quando minha filha de três anos, percebeu as mudanças constantes do meu humor, tive de fazer algo. Foi aí que conheci a Arteterapia e me apaixonei’’, relata a advogada Ana, 37 anos. A linguagem vem sendo cada vez mais difundida, visto que é responsável por canalizar o olhar das pessoas para dentro, buscando autoconhecimento. O

objetivo do processo é a expansão dos limites internos através das técnicas terapêuticas que tornam a linguagem acessível, trazendo o invisível para um plano visível. Segundo o psiquiatra e psicoterapeuta suíço e fundador da Psicologia Analítica, Carl Jung, através do enfrentamento dos aspectos sombrios da personalidade, constantemente ignorados, o sujeito aprende a conviver melhor com suas emoções, encarando de forma mais equilibrada os impasses de todos os dias. De acordo com a arteterapeuta da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória, Glícia Manso, se tem percebido uma população cada vez mais ansiosa, angustiada e temerosa frente ao desconhecido. Na opinião dela, ‘’o arteterapeuta se coloca como profissional de auxílio nesta busca, por meio da confiança e honestidade durante o processo. É necessária a construção de vínculos com o atendido para um resultado satisfatório, ao passo que se cria um espaço acolhedor e respeitoso em que os participantes se sintam seguros. Também é importante o conhecimento da história de vida da pessoa ou grupo, um diagnóstico e a elaboração de um projeto de atendimento, levando em conta forma e conteúdo, objetivos terapêuticos, métodos empregados, definição de temas e estratégias.

rede de relações e interagindo constantemente na criação da vida em todas as suas facetas. Outro recurso expressivo é a confecção de máscaras e criação de personagens, facilitando o diálogo com as complexas estruturas da personalidade humana. O mascarado sente-se protegido pela indumentária e, deste modo,

mais confortável com a sua condição psíquica. Também é comum entre os profissionais da área, a confecção de mandalas, pinturas livres, utilizando argila ou sucata por exemplo. As sessões são iniciadas geralmente com um relaxamento corporal ou automassagem.


Uma chance de fazer diferente Idosos dão show de disposição e força de vontade enfrentando o analfabetismo no país. Núbia Nascimento e Renata Andrade O analfabetismo no Brasil é um dos vários problemas que ainda dificultam o desenvolvimento do país. Na década de 2000, na última pesquisa feita pelo IBGE, em 2014, mais de 13 milhões de pessoas maiores de 15 anos ainda não sabiam ler ou escrever. A maior dificuldade está nas pessoas acima de 60 anos, que equivalem a 23,1% dessa parte da população. O governo federal promove o Educação de Jovens e Adultos (EJA), que proporciona o ensino fundamental e médio para pessoas que já passaram da idade escolar. Além do EJA, as prefeituras municipais do Espírito Santo realizam projetos que dão suporte aos idosos que querem ingressar neste programa. Os programas Vila Velha Alfabetizada e Vitória Alfabetizada têm o objetivo de reduzir o analfabetismo entre os adultos e idosos, além de servir como base para o EJA. Assim, busca estabelecer a igualdade de oportunidades na educação como forma de superar a injustiça social e reduzir as desigualdades. Sentar e esperar o tempo passar ficou no passado. Essa ideia de

que idosos estão na fase final da vida e o que deveria ser feito ao longo dos anos foi encerrado, não se encaixa no padrão dos atuais pertencentes à terceira idade. Com tantas oportunidades surgindo a única certeza é de que esta é mais uma fase em que ainda há infinitas coisas para conquistar, aprender e recuperar o que por alguma razão foi perdido ao longo da vida. Ilza Pereira da Trindade, 66 anos, depois que percebeu falhas de memória provocadas por um acidente vascular cerebral (AVC), começou a participar do programa que objetiva dar assistência aos idosos para ingressar no EJA. “Passei um ano fazendo tratamento e me vi sem saber mais ler e escrever. É uma sensação muito ruim, porque tira a identidade da gente. Agora estou recuperando minha independência aos poucos, um passo de cada vez e, graças às pessoas que encontrei aqui, me sinto motivada, quero agarrar todas as oportunidades, conta Ilza com entusiasmo”, afirma. Ilza vem progredindo em seu aprendizado, mas ainda encontra algumas dificuldades devido a

sua doença, porém, não pretende desistir e conta com perseverança chegar cada vez mais próximo do seu objetivo de montar o seu tão sonhado ateliê de artesanato, além de recuperar a habilidade de ler e escrever. Outro exemplo de superação é o de Edneia da Silva, que, aos 63 anos, resolveu mudar o curso de sua vida. Com depressão, encontrou apoio em um programa da prefeitura do município de sua cidade, Vila Velha, que tem atividades voltadas para pessoas acima de 60 anos. Aluna do projeto Vila Velha Alfabetizada, pela segunda vez, diz que já aprendeu muito e não pretende parar até absorver o máximo de conhecimento que puder. “Eu estava com depressão e superei a doença aqui, onde nos tornamos uma família. Com o projeto, estou aprendendo a ler e a escrever e isto é maravilhoso. Nunca é tarde para se aprender alguma coisa na vida. Eu quero voltar este ano com ainda mais vontade e fazer tudo o que puder: aulas, oficinas e o que for preciso para melhorar a minha vida cada vez mais”, sonha Edneia. A professora Patrícia Souza de Oliveira, que dá aulas num projeto voltado para pessoas com mais de 60 anos, falou do orgulho de estender o seu conhecimento e explorar outro universo além do infantil, no qual também atua como professora. “Trabalhar com a terceira idade é muito gratificante. Eles gostam da gente, se apegam e, para mim, é muito importante ajudar e contribuir para que todos possam vir a ingressar nas nossas escolas por meio do programa Educação de Jovens Adultos (EJA)”, revelou.

primeiramão primeiramão 17 17 Abril 2016

Abril 2016


Na rua pela educação Durante 25 dias dos meses de fevereiro e março, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ocupou a Secretária de Estado da Educação em protesto contra da fechamento de escolas no interior Caroline Kobi Alunos, professores e movimentos sociais insatisfeitos com a política educacional do atual governo do Estado, que adotou a estratégia de fechar escolas para cortar gastos, provocaram uma onda de protestos e ocupações em repúdio à decisão. O MST ocupou a Secretaria de Educação no dia

16 de fevereiro, promovendo aulas públicas, cine debates e atividades culturais. O acampamento foi desmontado no dia 11 de março, mediante o compromisso do governo de que uma audiência seria realizada com o governador Paulo Hartung no final de março para discutir a situação da educação, o

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que acabou não se concretizando. Durante a ocupação, o MST conseguiu o apoio de entidades sindicais, estudantis e movimentos sociais, mas não teve nenhum avanço em relação às propostas apresentadas à Secretaria de Educação.

Entre as reivindicações dos Sem Terra estão a continuidade do projeto de educação das escolas de assentamentos do estado; o reconhecimento imediato da pedagogia da alternância em tempo integral nas escolas do campo; a aprovação das diretrizes operacionais das escolas dos assentamentos; a nucleação de turmas das escolas do campo. O governo tenta desde o início deste ano mudar sua política de educação, por meio do projeto Escola Viva, que prevê ensino em tempo integral. Paralelamente,

tem adotado a prática de fundir turmas, o que tem resultado até no fechamento de unidaes escolares inteiras. No início deste semestre letivo, como parte dessa política, algumas escolas chegaram a ter suas matrículas suspensas, mas a Justiça determinou, no dia 4 de fevereiro que o Estado do Espírito Santo as reabrisse, num prazo de 48 horas, em todas as escolas e em todos os níveis de ensino. Os alunos das escolas estaduais fizeram a pré-matrícula pela internet e depois a Sedu disponibilizou uma agente de suporte educacional na escola para receber as matrículas presenciais. O sistema on line era uma das reclamações do MST, uma vez que nem todos os estudantes têm acesso à internet. O professor de Química da Escola Estadual de Ensino Médio Professora Maria Cândido Kneipp Thiago Soares, conta que uma das três escolas de Muniz Freire, ficou fechada do início do ano letivo até o dia 14 de março. “O fechamento foi anunciado no último dia letivo do ano passado, durante uma reunião convocada de um dia para o outro, uma data em que a mobilização da comunidade foi dificultada por conta do período de férias. Quando ficou sabendo, a comunidade escolar se revoltou”, informou. Segundo Thiago, apesar do fechamento ter sido anunciado no ano passado, só é possível dizer que a escola foi realmente fechada quando as matrículas não são reabertas e as aulas não começam na data prevista do período


letivo, que foi dia 15 de fevereiro. “Ninguém sabia ao certo porque as escolas foram fechadas, protocolamos um ofício na Secretaria de Educação (Sedu) com abaixo-assinados pedindo a reabertura no dia 28 de dezembro. Só obtivemos uma resposta em meados de março deste ano. Eles alegaram várias coisas para o fechamento. No dia da reunião em que informaram do fechamento disseram que não era motivo financeiro, posteriormente disseram que as escolas já não mais atendiam as necessidades dos alunos. Também alegaram que houve baixa no número de matrículas, o que é mentira uma vez que as matrículas não foram reabertas. Outras vezes, disseram que os alunos deveriam ter acesso a uma escola de qualidade, se referindo ao modelo Escola Viva, implantado na escola Bráulio Franco, no centro de Muniz Freire. Vários alunos receberam telefonemas dizendo que ficariam sem vagas e que deveriam se matricular na Escola Viva. Os alunos da comunidade de Vieira Machado, porém, não cederam e ficaram sem se matricular. Durante os meses de janeiro e fevereiro foram às ruas de Muniz Freire pedir a reabertura da escola”, relata. Com o fechamento, os alunos da escola Professora Maria Cândido Kneipp, zona rural de Muniz Freire, que fica a 13 quilômetros do centro, foram obrigados a se matricular em outras escolas. Apesar de a prefeitura do município ter sido cedido transporte, os estudantes enfrentavam estradas de terra em péssimas condições, que ficavam intransitáveis principalmente em dias de chuva. “Alguns alunos foram morar no centro de Muniz Freire para poder estudar. Outros foram morar em cidades vizinhas, como Castelo e outros em casa de parentes” conta Thiago. O MST denuncia que existiam no Espírito Santo, em 2000, 3.062 escolas no campo. Os últimos dados divulgados pela Secretaria de Educação, porém, mostram que em 2009 esse número era de 1.715.

Pedagogia da alternˆância em pauta Mariana dos Anjos Uma das principais pautas da ocupação pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) da Secretaria de Educação e do Palácio Anchieta nos meses de fevereiro e março foi a garantia de remuneração dos professores das escolas de assentamentos rurais. Essas escolas adotam um método de educação denominado pedagogia da alternância, que consiste na divisão do tempo de aprendizado entre a escola e a família/comunidade. Porém, existe um grande impasse entre o governo do Estado e os professores dessas escolas. A reivindicação dos professores é o reconhecimento da pedagogia da alternância mediante aprovação das diretrizes curriculares pelo Conselho Estadual de Educação e garantia de remuneração de horas-aula do período em que o estudante fica na comunidade, cujo pagamento foi suspenso este ano pelo Estado. Segundo os professores uma das peculiaridades da pedagogia da alternância é que eles precisam de mais tempo de planejamento, aumentando assim sua carga horária, já que enquanto uma turma está em atividade em casa, outra turma está em atividade na escola. A alternância refere-se apenas ao aluno. Do outro lado, a Secretaria de Educação afirma que esse pedido contraria a Lei do Magistério, em que a carga horária básica do professor é de 25 horas semanais divididas entre

horas-aula e horas-atividade. A Pedagogia da alternância prevê que o aluno fique uma semana na escola, em regime de tempo integral, aprendendo as matérias convencionais como Português e Matemática e também as técnicas que contribuem para que desenvolva uma boa relação com a terra e com a tecnologia voltada para a produção de alimentos livres de venenos. Na semana seguinte, o estudante permanece junto da família, e tem a oportunidade de aplicar tudo o que aprendeu na escola e observar o seu entorno para, ao retornar à sala de aula levar suas dúvidas e questões peculiares de sua realidade. Essas escolas, que receberam o nome de Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), têm como alunos os filhos de pequenos produtores rurais. As EFAs foram criadas com a intenção de evitar que o filho do camponês tivesse que sair da área rural para estudar e de enfrentar longos percursos diários entre casa e escola. Além disso desenvolvem uma educação integral, articulando os contextos da vida nas atividades do campo com os conhecimentos científicos. Para a coordenadora e professora do curso de Educação no Campo, Dulcinéa Campos Silva, trata-se de uma educação que valoriza o trabalho do campo e rompe com o falso paradigma de que “trabalhar na roça é só para quem não tem estudo”.

Primeira escola que usa pedagogia de alternância na América Latina é capixaba! Em 1967, o Padre jesuíta Humberto Pietrogrande, de origem italiana, juntamente com agricultores da região sul do Estado, deciddiram implantar um projeto de promoção social da população camponesa. Criaram um comitê, hoje denominado Movimento de Educação Promocional no Espírito Santo (Mepes). Logo em seguida, foi construída uma escola na comunidade de Olivânia, no município de Anchieta-ES. Dois anos depois, a escola foi reconhecida pelo Ministério da Educação e iniciou suas atividades, tornando-se a primeira da América Latina a fazer uso da pedagogia da alternância. Nos assentamentos de trabalhadores rurais foi adotado em 1985 o modelo das EFAs para as Escolas de Assentamento no Espírito Santo, a partir de reivindicações das famílias por terra, trabalho e por uma educação diferente da oferecida pelo Poder Público, pois as crianças necessitam de escola e o direito à educação é uma das prioridades do movimento. No entanto não existe uma formalização desse modelo, pois foi implantado provisoriamente pelo Conselho Estadual de Educação, com prazo de validade de 10 (dez) anos, que já se encerrou. Hoje existem 25 escolas de assentamentos no ES.

primeiramão19 Abril 2016


Vozes Helena Jacobem

Como qualquer arte, a literatura produzida em nosso estado vive em mutação. O momento atual é de decidir qual o melhor rumo a se tomar em meio à evolução tecnológica e aos diferentes e segmentos de público que se formaram. O modo de vida e a revolução das maneiras de ler impactaram o modelo que estava em vigor, e hoje procura alternativas para se manter. Por outro lado, parte do mercado literário capixaba, o das editoras independentes, se descobre firme e forte, não se diferenciando dos mais estruturados, como Rio de Janeiro e São Paulo. Lívia Corbellari, jornalista cultural, toca um projeto nascido quando era universitária, hoje transformado no blog Livros por Lívia, no qual resenha livros que gosta. Apesar de escrever sobre qualquer estilo e autor, ela dá preferência para obras de autores capixabas, afinal os considera uma produção de ótima qualidade. “Outra coisa que me motivou a priorizar a literatura produzida aqui foi que eu notei, como jornalista cultural, que havia pouco retorno aos au-

Livia Corbelari: “Estamos cada vez mais em consonância com o universo literário contemporâneo brasileiro”

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tores, que às vezes lançavam livros e não sabiam o que as pessoas realmente tinham achado da obra. Eu comecei a escrever para dar esse retorno aos escritores”, diz Lívia a respeito das escolhas das obras que resenha. O portal já completou três anos, cresceu e hoje é um espaço de publicação não só de resenhas, mas também de entrevistas e matérias sobre a literatura contemporânea. O cenário que Lívia enxerga atualmente não é muito diferente do que outros profissionais da área também veem. “O que eu percebo é que estamos cada vez mais em consonância com o universo literário contemporâneo brasileiro. A mesma movimentação que vejo aqui de editoras independentes, eu vejo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Acho que as grandes editoras ainda se mantêm devido aos best-sellers, principalmente americanos, mas a literatura tem se voltado cada vez mais para mercados pequenos e de nicho, e aqui no Espírito Santo temos esse mercado bem dinâmico também”, aponta .Lívia.


na literatura Capixabas mostram sua força na área literária através de seus projetos pessoais, da produção realizada, além de uma nova proposta de mercado

A visão de um editor O escritor e editor da Editora Cousa, Saulo Ribeiro, acredita que as editoras independentes e pequenas são o que temos de mais característico na nova fase estrutural do mercado nos últimos anos. A Cousa, por exemplo, realiza um trabalho que visa apoiar as escolhas dos autores. Faz poucos lançamentos por ano, porém eficazes. O diferenciado modelo de negócio, em que foge de livrarias paradas para ir direto ao leitor por meio das feiras, ações, eventos e um site, leva a empresa a não abrir mão da sua linha editorial. Ao conhecer o trabalho da uma editora, Saulo Ribeiro percebeu um mercado mais repleto do que se espera. “O que existe é uma cultura de desvalorização da cultura”, afirma ao analisar a situação do nosso estado, evitando evidenciar as próprias vitórias e escolhendo marcar mais as dificuldades. Apesar de não gostar de rotu-

lar nada da área, Saulo é incisivo ao apontar os dois autores capixabas que mais chamam atenção: “Reinaldo Santos Neves e a nossa dama Bernadette Lyra”. Nessa conversa sobre rótulos, ele entende que as dificuldades não se restringem mais ao nosso estado. “Já não é mais uma marginalidade periférica, é uma marginalidade da literatura brasileira contemporânea. É bom que a gente discuta regionalmente sim, mas eu vou desprezar até o rótulo ‘literatura capixaba’, é literatura brasileira produzida no Espírito Santo”, sentenciou. Entre conversas, livros, opiniões e questionamentos sobre o mundo literário, surge o novo modelo editorial, mercadológico, de negócio, que está em crescente e forte transformação. “Quando a gente fala de vender literatura, estamos falando de vender literatura num cenário totalmente diferente do tradicional,

“Saulo Ribeiro: Quando a gente fala de vender literatura, estamos falando de vender literatura no cenário totalmente diferente do tradicional, que é o que está em crise”

que é o que está em crise. A Cousa, a Patuá, a Substância, a Pedregulho aqui do estado, a Demônio Negro, de São Paulo, todas essas editoras estão buscando um modelo de negócio, uma forma de fazer livro e sustentar essas edições. Estamos num modelo aberto ainda”, afirmou Saulo. O editor ainda falou tambémsobre a Lei Rouanet como instrumento de financiamento da literatura. Embora considere muito ampla, é fácil aprovar um projeto, mas difícil é captar o dinheiro para bancá-lo. Por isso, ele não acredita mais em leis de incentivo, e sim em fundos de cultura. Já em relação à crise econômica do país, ele alega que é nítida sua existência e não tem como não sentir os cortes ou mudanças nos editais, prejudicando a produção.“Existe uma crise da literatura brasileira hoje e do livro, isso é inquestionável. Trazendo para o nosso estado, nós sempre tivemos essa dificuldade. A dificuldade que as grandes editoras sentem nesse momento, nós sempre vivemos. A gente sempre viveu em crise, então sabemos lidar bem com isso”, explicou.

primeiramão21 Abril 2016


A MAGIA DOS MENINOS NO BALÉ BAILARINOS ENFRENTAM DESAFIOS E BRILHAM NO TOPO DE SUAS SAPATILHAS DE PONTA , MOSTRANDO QUE BALÉ TAMBÉM É LUGAR DE MENINO. Laiza Nicodemos

João Pedro Menegussi em ação no Prix de Lausanne 2016

22primeiramão Abril 2016

Meninas para o balé, meninos para o futebol: é com essa premissa que muitos se deparam ainda na infância. Enquanto alguns a aceitam, outros decidem fugir à regra. Assim, garotos mostram todo o seu talento na ponta dos pés, aprendendo que com paixão e dedicação podem sim chamar de seu o universo tradicionalmente feminino do balé clássico. Originado na Europa renascentista do século XV, o balé clássico é uma importante expressão artística que continua a cativar uma legião de admiradores pelo mundo com sua beleza e encanto. E não foi preciso mais do que alguns minutos para que essa arte conquistasse o coração do bailarino João Pedro Menegussi, que começou no balé aos cinco anos após assistir a uma aula de sua irmã e não se importar com o fato de só haver meninas na turma. “Em algum momento da aula, as meninas se sentaram para fazer alongamentos e eu comecei a copiar tudo o que elas faziam. Meu pai reparou o meu interesse e no mesmo instante me perguntou se eu queria tentar, e eu, que adorei a aula, disse que sim”, lembra. Ao mesmo tempo em que é relacionado à delicadeza, o balé é conhecido pela imensa disciplina que exige de seus praticantes. 24 horas parecem ser pouco para João Pedro, que ganhou uma bolsa completa para estudar na Zurich Dance Academy por três anos. Na Suíça, treina cerca de nove horas por dia, de segunda a sábado. Fazem parte de sua rotina aulas de balé clássico, dança moderna, improvisação, pas de deux, variação e ensaios. E não pense que as atividades param por aí: estudos de inglês e conhecimentos gerais também estão presentes na vida do bai-


larino, que não passa mais de dois dias longe do balé. Para completar, acrescente à conta a responsabilidade e todos os desafios enfrentados por um adolescente de 17 anos morando sozinho no exterior. Como um bom apaixonado, Menegussi não se deixa abater pelo cansaço. “Admito que já pensei em desistir, a rotina fica muito pesada. Mas no final das contas o meu amor pela dança fala mais alto”, afirma. O resultado de todo esse esforço? Um lugar na final do Prix de Lausanne 2016 e um contrato assinado com a American Ballet Theatre’s Studio Company, para onde João Pedro vai assim que se formar na Suíça, em julho. Tornar-se bailarino profissional também é o sonho de Matheus Thuler, que atualmente se divide entre a dança e a faculdade de Publicidade e Propaganda. Ma-

theus tem raízes no teatro e caiu nas graças do balé aos 17 anos, após o convite de uma amiga para atuar em um espetáculo. “Eu me apaixonei instantaneamente pela dança”, diz o bailarino. Apesar do pouco tempo de prática, o balé já exerce um papel importante na vida de Matheus. Os treinos são diários em duas turmas diferentes, e se intensificam ainda mais com a proximidade de festivais e espetáculos. E mais uma vez a disciplina se mostra essencial para meninos que querem deixar sua marca no balé. “Às vezes, é difícil conciliar os ensaios com o resto da rotina, pois eles tomam bastante tempo. Mas quando você vê os resultados, todo o esforço vale a pena. Eu me vejo vivendo da dança. É um grande sonho pelo qual estou disposto a lutar e correr atrás”, afirma Matheus.

Paixão que supera a intolerância Preconceito, ódio, discriminação. Na sociedade atual, receosa em relação ao dia de amanhã e efervescida pelo crescente discurso de ódio, essas palavras estão por todo lado. Infelizmente, meninos inseridos no universo do balé clássico convivem com elas já há muito tempo, algumas vezes se deparando com o preconceito até mesmo dentro de casa. João Pedro tem o apoio e o incentivo da família e dos amigos desde o início, sendo motivo de orgulho para eles. Nem todos têm essa sorte. “Essa não é a realidade de todos os rapazes que dançam balé clássico. O preconceito é a maior barreira que existe no Brasil hoje em relação a meninos na dança, o que é triste”, lamenta João, que também aponta a falta de investimentos do governo na área artística e o fato de a profissão não ser levada a sério no país como dificuldades enfrentadas pelos bailarinos. Para Matheus, ter começado no balé quase na fase adulta o ajudou nesse sentido. Segundo o bailarino, a maturidade e sua história no teatro contribuem para que ele sofra menos preconceito e siga em frente, sem se deixar abater. “Acho que já entrei na dança blindado, sem me importar com o que os outros pensam ou deixam de pensar. O que mais importa é como eu me sinto, e ao dançar, sinto-me realizado”, afirma. O amor pelo balé também fala mais alto do que qualquer dificuldade para João Pedro. “A dança traz felicidade, cura. A melhor parte de tudo isso é poder acordar todos os dias sabendo que eu faço o que eu amo, e isso faz com que qualquer grande barreira se torne apenas uma pedrinha no meu caminho. A dança representa a pessoa que eu sou, é a arte que move a alma!”.

Matheus Thuler encara uma rotina pesada de ensaios para alcançar seus objetivos no balé

primeiramão23 Abril 2016


Luz (nova) na passarela

O mundo da moda está mudando. Desfiles, varejo e desejo do consumidor estarão andando lado a lado - e em tempo real. Lucas Rezende

O ano era 2014. A italiana DonatellaVersace e a grife que carrega seu sobrenome veio ao Brasil e, junto da fast fashion Riachuelo, desfilou uma coleção unindo o luxo e tradição europeus à chancela brasileira da loja de departamentos, onde se agrada a tudo e a todos a um preço relativamente pequeno. Assim que todo a coleção de Donatella rabiscou a passarela, uma cortina preta veio abaixo e uma pop up store com todos os looks desfilados tomou a cena de assalto. Qualquer um, a partir daquele momento, poderia ter a peça-desejo que acabara de ser desfilada, a preço mais em conta,

24primeiramão Abril 2016

imediatamente, e ainda com o sobrenome Versace na etiqueta. Um episódio isolado. Até então. A discussão global em torno da necessidade de uma grande adequação do calendário de moda à realidade atual do consumidor e do mercado engrossou a voz. Em tempos de crise então, na base da obrigação. E os resultados já poderão ser vistos em curto espaço de tempo. O São Paulo Fashion Week (SPFW), maior semana de moda da América Latina, é o melhor exemplo, ao oficializar a mudança de calendário, aproximando o desfile do varejo. A partir de 2017, os desfiles do SPFW

acontecerão em fevereiro e julho/agosto, ajustados às datas de lançamentos das coleções nas lojas para o consumidor. Em outras palavras: nada de esperar um semestre para ter a peça na sua mão, consumidor. Será para já. E para agora. Para o estilista André Lima, que hoje labuta pelo gigante grupo Hope - de moda íntima - e por anos levou uma grife com seu nome para o SPFW, as mudanças são “pertinentes”. “A imagem da moda fica mais recente, mais fresh, e o desejo de compra pode ser satisfeito quase que em tempo real”, defende. Discurso semelhante tem Heloisa Tolipan que, há 30 anos


(Foto: Agência Fotosite)

é editora de moda e colunista do Jornal do Brasil. “O que está acontecendo não tem retorno. Não dá mais para esperar quatro meses para ter acesso às roupas. E esse é um fenômeno que atende a uma parcela grande da população que vê o que está acontecendo nas redes sociais pós e durante desfiles e, instantaneamente, cria um desejo. As grifes, nada mais, vão ter que atender à esse imediatismo”, explica. Para Tolipan, estratégia é a palavra-chave. “O que muitos estilistas estão fazendo para manter a sazonalidade da coleção é, imediatamente após o desfile, saciar, com alguns looks, essa fome de

adquirir logo as peças e, aos poucos, ir soltando, há cada 20, 30 dias. Isso sem contar com a crescente junção dos desfiles masculinos e femininos em um só”, ressalta. O poder da internet - e não só da crise financeira como muitos imaginam - é dividendo importante para chegar a esse quociente fashion. Quem ajuda a explicar é Jackson Araújo, consultor criativo, de tendências e membro da Companhia Paulista de Moda. “Depois que o Instagram e o Snapchat substituíram os aplausos ao fim dos desfiles, mostrando as criações em real time, não faz sentido a espera”, justifica. Jackson, que há nove

anos, quando ainda era crítico de moda, percebeu que essa distância de tempo já estava fadada ao fim. Ele defende que o “varejo precisa do sonho da moda, mas descarta a mentira de um produto de passarela que não chega às lojas”. “Esse é um dos fatores que têm enfraquecido a força das passarelas e distanciado o consumidor comum do desejo de compra”, expõe e completa: “Agora, com todas essas mudanças, a rapidez de lançamento de novos produtos será muito mais desafiadora”. Nada com que as engrenagens da moda não estejam acostumadas.

primeiramão25 Abril 2016


Bom, bonito e barato Brenda Patrício

Uma ótima opção para quem gosta de viajar gastando pouco e curtir um clima de tranquilidade, com contato direto com natureza é o camping. Além de ver o nascer do sol, o céu estrelado, ouvir o canto dos pássaros e desfrutar das maravilhas da natureza, acampando você pode conhecer muitas pessoas, de todos os lugares, com hábitos, cultura e costumes diferentes. O camping é também uma forma bem mais em conta de conhecer o estado do Espírito Santo com suas paisagens belíssimas e sua cultura rica. Com apenas 3,5 milhões de habitantes, o Estado exibe uma extensa faixa litorânea que comporta 34 ilhas, inclusive a capital Vitória. Pouco conhecido no Brasil, o turismo capixaba não é bem desenvolvido e explorado. Assim como em outros setores, verifica-se o velho complexo do “patinho feio” em relação aos demais estados da região Sudeste. Hotéis com preços altíssimos são as opções que os capixabas e visitantes têm por aqui, o que acaba gerando desânimo nos turistas e até

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nos próprios capixabas de conhecerem as belezas do Espírito Santo, dando espaço a outras regiões com preços bem mais acessíveis do que as do Estado. A troca de informações, experiências e histórias pode ser enriquecedora num camping. É o que o campista Dailton Ferreira, 35 anos, corretor de imóveis e consultor de vendas, afirma: “a experiência de acampar é sempre muito boa, uma prática saudável e de baixo custo, um refúgio do estresse cotidiano da cidade grande. O que mais me atrai no campismo é ter o privilégio de dormir com a lua me iluminando e acordar com o canto dos pássaros. O sossego que isso traz à alma é impagável”. Dailton é um dos administradores do grupo no Facebook denominado Trilhas & Camping. O objetivo do grupo é facilitar a interação de todos os amantes da natureza para que possam debater sobre os melhores lugares para a prática de camping. O grupo é aberto para qualquer pessoa participar, pode ser uma ótima fonte de informações sobre o assunto e uma oportunidade de conhecer a galera.


Itaúnas Você conhece Itaúnas? Se a resposta é não, deveria conhecer. Itaúnas é uma pequena vila no extremo norte do Espírito Santo, um lugar tranquilo, com casas simples e pousadas rústicas, pouco movimento e uma comida caseira deliciosa. A vila pertence ao município de Conceição da Barra. Em meados de julho, Itaúnas se torna um dos maiores palcos de forró pé de serra do Brasil, com uma excelente programação musical. Uma boa opção de estadia é o camping da pousada Solar de Itaúnas, localizado dentro da cidade, com uma área de 3.000m², banheiros, piscina, bar e churrasqueiras. A diária individual do camping varia entre R$ 25 (baixa temporada) e R$ 35 (alta temporada).

Matilde O Caminho das Águas, em Alfredo Chaves, e a famosa cachoeira de Matilde são uma ótima pedida pra quem quer relaxar, aproveitar boas paisagens e se aventurar. A cachoeira de 70 metros de altura é realmente uma paisagem deslumbrante, considerada a maior do ES em queda livre. No turismo, Matilde se destaca por atrair principalmente os adeptos do trekking e do rapel na cachoeira. Matilde também tem um conjunto de atrativos formado por um mirante de onde se avista o vale de Santa Maria Madalena, a prainha e a reserva natural Oiutrem. Uma boa pedida de hospedagem é o camping da Pousada e Camping Prainha, que é bem baratinho, com R$ 30 a diária por pessoa.

Barra do Sahy Outro lugar bacana é o camping Arca Praiana, em Aracruz, região norte do estado. Localizado em frente à praia da Barra do Sahy - agora considerada um dos Caribes capixabas, devido a um fenômeno natural ocorrido em 2015, que deixou o mar com águas mais claras e azuis -, o lugar é totalmente arborizado e conta com campo de areia, quadra de vôlei de areia, quiosques e área para churrasco. E você ainda pode conhecer as lojinhas indígenas e fazer umas compras de produtos naturais. Tudo isso fica acessível pra você por apenas R$ 50,00 a diária por pessoa.

Santa Leopoldina O Espirito Santo é repleto de lugares interessantes e bem estruturados para receber campistas, como por exemplo o Camping do Véu da noiva, que Localizado em Santa Leopoldina, no noroeste do estado. Próximo ao rio, com instalação elétrica, estacionamento e banheiros com água quente, o lugar é lindo e cheio de verde. Tem coisa melhor? Na verdade, tem sim: o preço. Com diária de apenas R$ 40 por pessoa, você pode.

primeiramão27 Abril 2016


Beleza histórica Com 464 anos, 327.801 habitantes e 51 monumentos históricos, Vitória é uma ilha cheia de encantos Fernanda Bollis e Bruna Littig

A Ilha de Mel, assim chamada pelos habitantes nativos na época da colonização por causa de sua beleza, clima e fartura, carrega várias marcas desse tempo em forma de pontos histórico. Esses lugares contam muito bem, parte de uma trajetória rica e cheia de detalhes. Porém, muitas vezes, esses espaços que tanto encantam os turistas, passam despercebidos pelos moradores da Cidade. Por isso, se você é um morador da Grande Vitória, te convidamos a olhar com novos olhos e re(descobrir), todo o encanto e a enorme riqueza cultural que a nossa capital proporciona. Os pontos para conhecer a história do município são muitos, a exemplo do Museu Solar Monjardim, do Santuário de Santo Antônio ou do Galpão das Paneleiras, em Goiabeiras. No entanto, a concentração dos pontos históricos está mesmo no Centro de Vitória, onde a arquitetura nos remete ao passado. Quem conhece se deslumbra.

28primeiramão Abril 2016

“Acho o máximo passar pela Escadaria Maria Ortiz e saber que ali lutou uma mulher contra a invasão holandesa. Não houve fragilidade. Passo aqui todos os dias e me sinto meio heroína também”, contou a vendedora Neusa Gonçalves, 43 anos.

Kakau Brambati, estudante, 21, vive em Vitória desde o seu nascimento. Por inúmeras vezes passou em vários pontos históricos, mas, somente percebeu a dimensão do que tudo aquilo significava há dois anos, quando se apresentou com um grupo de Teatro no Carlos Gomes. “É lindo lá dentro, por fora também, mas nós que moramos aqui não vemos a beleza, muitas vezes não damos o valor merecido”, afirma.

Carlos Antônio,65 anos, gosta mesmo é de admirar os monumentos religiosos. “Eu sou fascinado com a arquitetura da Catedral, já visitei também a Igreja de São Gonçalo e a de Nossa Senhora do Carmo, que inclusive foi uma forte aliada ao fim da escravidão por aqui. Sou católico desde criança, e conhecer esses pontos agrega alguma sabedoria, para falar de religião.”


Tem novidade nas arquibancadas Crianças, adolescentes e jovens tomam as arquibancadas e trazem um novo gás para o futebol capixaba. Luis Felipe e Lucas Donato

Com um futebol que sufoca um amargo 23º lugar no ranking brasileiro das federações, os times do Espírito Santo resistem apesar da profissionalização precária. Más condições de estádio, clubes e jogadores, resultam em um esporte de baixa qualidade. Entretanto, um sentimento pelo jogo é partilhado em qualquer parte do mundo, e parece estar fadado a se perpetuar sobre as gerações: a paixão. Torcedores, cada vez mais jovens, tomam as dores do futebol capixaba como desafio.

Ao entrar no estádio Engenheiro Alencar de Araripe, é visível que grande parte dos torcedores lá não viram os áureos tempos de seus times. Crianças, adolescentes e jovens que cresceram tendo o futebol carioca como referência, tomam hoje o futebol capixaba como sua bandeira e prioridade, acima de quaisquer adversidades. Em dia de clássico entre as duas maiores torcidas dos mais tradicionais e vitoriosos clubes do estado, a força juvenil que provém das arquibancadas embala o gra-

mado. Nos gritos, ecoa história e renovação. Desportiva Descontrolado: assim que os torcedores da Desportiva Ferroviária chama o amor que tem pelo clube. Com mais de 50 anos de história, o time dos ferroviários de Jardim América já passou por momentos distintos, desde elite do futebol nacional até a beira da falência. Até hoje, Até hoje, os torcedores mais antigos acompanham essa história, e pelo que a arquibancada do Araripe reflete, as

primeiramão29 Abril 2016


gerações estão se renovando. Ao observar o estádio, Pepê Marques, torcedor do clube desde décadas passadas é assertivo: “é muito diferente de antigamente, tem bem mais família, criança, antes, tinha bem pouco”. Sim, de décadas para cá o futebol se transformou. A maior rivalidade do futebol capixaba, Desportiva e Rio Branco, antigo entretenimento puramente masculino, hoje é palco para os mais diversos públicos. E Pepê é testemunha dessa transformação; vislumbrou elencos que disputaram títulos nacionais pelo clube ferroviário. Hoje, seu filho torce pela disputa do estadual. Eduardo começou a frequentar o estádio ainda pré-adolescente, com seu pai, que após longo tempo afastado do estádio, voltou a prestigiar seu time capixaba pela vontade do filho. Eduardo, de 14 anos, era vascaíno como o avô, hoje é Desportiva como o pai. Eles passaram a frequentar os jogos em 2011 e com pouco tempo já se viram envolvidos com a torcida organizada, viajando para outras cidades só para ver a ‘Tiva’ jogar. “Hoje eu prefiro a ‘Tiva’. Diminuiu muito o quanto eu acompanhava o Vasco”. O envolvimento foi se tornando tamanho, que a partir de uma simples brincadeira, hoje Eduardo é o ritmista da banda da organizada. Ele é responsável por tocar o bumbo de murga, mistura de tambor com pratos, que da base para os gritos que ecoam durante os jogos. “Uns três anos atrás a gente começou a se envolver mais com o pessoal da organizada. Eu ficava aqui com eles e no intervalo, eu tocava de brincadeira mesmo. Até que um dia na hora do jogo não tinha ninguém para tocar e me chamaram, dali eu não parei mais”. O jogo passa, os minutos começam a se desenrolar e a torcida não para de cantar. Independente de jogadas positivas ou negativas

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dentro de campo, a todo o momento novos gritos são escutados. Canções longas, paródias inspiradas em músicas capixabas, clássicos de outras torcidas. Nem todos os torcedores sabem as letras de cór, mas se destacam uns poucos que vão ao estádio exclusivamente para isso, dando as costas para o jogo. O ritmo do tambor de Eduardo trabalha em conjunto com os gritos do Gabriel Pereira. Empuleirado no alambrado da arquibancada, Gabriel, de apenas 15 anos, passa

todo o primeiro tempo sem observar ao menos um lance do jogo. ”Nossa função é ficar em contato com a banda, para toda vez que terminar uma música a gente puxar outra. Por isso ficamos virados para a torcida, para decidir com eles qual música puxar”. Ao seu lado, também voltado para a torcida, sua influência maior no futebol, o tio. “Desde pequeno eu sempre vim com meu tio, eu venho sempre. Minha mãe não gosta, ela diz que é violento, que não é lugar para mim. Mas meu tio


nem presta atenção ao gramado. Seu jogo é na arquibancada, comandando os cantos da torcida grená, como um maestro que rege o público e da as costas a orquestra. Afinal, sem público, do que vale um concerto?

Ainda falta estrutura nos estádios capixabas. O Kléber Andrade, foi reformado para a Copa do Mundo de 2014, mas é pouco utilizado nos campeonatos regionais.

conversa com ela e sempre consegue convencer”, diverte-se. Gabriel, antes de dedicar sua paixão exclusivamente para a Desportiva, também tinha um clube carioca para qual o torcia. Mas o Flamengo é hoje, para ele, como o Vasco é para o Eduardo, uma memória. Se para estar no estádio é preciso convencer a mãe, é necessário fazer valer a pena. Exatamente por isso, o papel de torcedor é tão fundamental para Gabriel, que ele

Rio Branco Para algumas pessoas eles são loucos por acompanhar um futebol dito falido. Outros torcem pelos clubes capixabas como segundo time. Mas, acredite, cresce no estado uma juventude que escolheu somente um time para amar, no caso, o Brancão. Outro fator bastante empolgante é que os estádios capixabas têm sido bastante frequentados por mulheres, a maioria jovens. Esse é o caso da rio-branquense Maria Luíza Sancio, 19 anos. Ela é vice-presidente do batalhão feminino da Comando Alvinegro, torcida organizada do Rio Branco, a primeira do Estado a ter uma ala feminina. “Elas estão tomando conta cada vez mais!”, orgulha-se. Antes dos jogos, as meninas distribuem bolas de soprar e colocam os confetes em pontos estratégicos para os outros torcedores apanharem facilmente. Ela nos conta que já brigou com um antigo namorado pelo Rio Branco. “Ele torcia para a Desportiva, não podia aceitar isso”, afirma Maria Luiza, que trouxe do berço a paixão pelo Rio Branco: “Venho ao estádio desde sempre. Todo mundo na minha família é Rio Branco”. Tamanha paixão já a levou para diversos estádios do Estado junto com a torcida. A violência não está nas arquibancadas do estádio Engenheiro Araripe, o que atrai torcedores. “O estádio é bem tranquilo, não tem brigas aqui dentro” conta o professor de Educação física, Lucas Negrelli, que também é presidente da Comando Alvinegro. Um fato ainda a lamentar pelo presidente

da Comando é não poder levar sua pequena filha. “Aqui é um ambiente muito bom para família. O problema hoje é a estrutura, tenho uma filha de três anos e não posso trazê-la ao estádio. Como vou leva-la ao banheiro? A estrutura do estádio ainda carece de pequenas melhorias para melhor receber o público capixaba”, reclama. Passeando pelas arquibancadas encontramos adolescentes que compartilham a paixão só pelo Rio Branco. “Eu posso te indicar facilmente 10 adolescentes que não torcem mais para times de fora, só para o Rio Branco. É possível ver que diminuiu muito o número de camisas de times do Rio de Janeiro aqui no estádio, o que era muito comum em outros anos”, diz Negrelli. Matheus, 12 anos, abdicou da sua paixão pelo Flamengo. “Eu torcia pelo Flamengo também, hoje sou só Rio Branco”, afirma. Já Maria Luíza nos revela: “também torço pro Vasco, mas o Rio Branco é mais importante. Entre um jogo dos dois, com certeza, vou ver o Rio Branco”. Motivo de brincadeiras do rival é a faixa etária da torcida do Rio Branco. Mas ao se aproximar das arquibancadas vemos que não passa de lenda. “Nossa torcida, apesar das brincadeiras, é predominantemente jovem. Temos meninos de nove anos que já participam e ajudam nossa torcida. A torcida mais antiga fica por conta da Bola Branca (outra organizada do Rio Branco)”, diz Negrelli. O futebol capixaba ainda carece de melhorias, mas esse novo sentimento que pulsa nos torcedores revigora o esporte e os bons frutos aparecem. Há programas de sócio-torcedor, inclusive com versão mirim para o público de crianças e adolescentes que enchem as arquibancadas. Sinal de que os clubes estão atentos às renovações, que continuam através das novas gerações que reaprenderam a amar o futebol capixaba.

primeiramão31 Abril 2016


Crossfit ganha adeptos e desperta polêmica Caroline Ventura

O estilo de vida fitness tem ganhado cada vez mais presença na sociedade. Em busca de saúde e do corpo desejado, diversas pessoas têm buscado incentivos através da prática de exercícios e da alimentação saudável. Os esportes e atividades físicas ofertadas são infinitos. Um treinamento que tem chamado a atenção dos capixabas é o Crossfit. Criado pelo estadunidense Greg Glassman, consiste em movimentos funcionais constantemente variados realizados em intensidade relativamente alta. Considerado o método de treinamento que mais cresce atualmente, cerca de 13.000 pontos CrossFit são licenciados em todo o mundo, segundo o site https://training.crossfit.com. No Espírito Santo, existem seis estabelecimentos credenciados. Por se tratar de um treino dinâmico, é fundamental que seja feito com intensidade. Quanto maior a potência, mais intenso o exercício e maior é o resultado. Utilizado em treinamentos do exército americano, é um programa que estimula diferentes partes do corpo e proporciona um ganho de condicionamento físico. É inegável que existam divergências sobre o assunto. Profissionais da saúde já se posicionaram contra a prática da atividade, alegando que esportes com essa alta dose de esforço são desgastantes ao extremo. O professor Tiago Franklin, de 32 anos, trabalha com educação física há oito anos e acredita que o Crossfit traz mais malefícios do que benefícios. “Dependendo da carga ou da intensidade utilizada, os riscos de acidente e lesões permanentes são grandes”, afirma. George Butão, tem 18 anos de atuação na área e acrescenta que os benefícios na prática do Crossfit, podem ser encontrados em outros esportes que causam menos danos à saúde: “Tem gente que faz só por ser moda e acaba deixando de lado o fato de que aquilo, pode afetar diretamente a saúde”, alerta.

32primeiramão Abril 2016

Entretanto, os resultados do esporte na vida dos praticantes é perceptível. Atividades cotidianas como carregar as compras do supermercado, passear com o cachorro, correr para pegar um ônibus, dentre outras, são feitas com mais facilidade. A melhora na resistência cardiorrespiratória é notável para aqueles que são adeptos dos treinamentos. Algumas pessoas são convidadas por amigos que já frequentam aulas de Crossfit e se encantam com a dinâmica apresentada pelos professores. É o caso de Jonathan Jamir, de 23 anos. “Eu já estava cansado da rotina de academia. Tem quatro meses que estou fazendo e amando. A única coisa ruim é que é bem mais caro que academia. O Crossfit mudou meu corpo, de uma forma que não esperava. É realmente muito viciante”, afirmou. Justamente por ser um exercício que explora intensamente as capacidades físicas do participante, é considerado por alguns educadores físicos uma porta para lesões a curto e longo prazos. Jonathan conta que todos os exercícios são adaptados: “qualquer pessoa pode fazer Crossfit. As pessoas que têm limitações também podem fazer. Na minha opinião, as lesões acontecem geralmente quando você começa e já quer pegar muito peso”. Ruan Carlos Pinheiro Neri, 23 anos, é profissional na área de Educação Física e acha que o Crossfit veio para suprir uma carência no mercado. “É uma modalidade bem diferenciada e diversificada, pelo fato de a rotina de treino não se repetir”, defende. Ruan afirma que há possibilidade de impacto nas articulações, ligamentos e músculos em qualquer atividade. Cabe ao professor responsável pelo plano de aula saber dosar a carga dos exercícios. “O ideal mesmo é que se tenha algum tempo de vivência na prática de atividades físicas ou esportes, pois assim a adaptação à modalidade será bem mais rápida”, recomenda.


Campeonatos e jogos na UFES Todos os dias, inúmeras pessoas circulam pelo campus de Goiabeiras da UFES. Nem todas, porém, conhecem os esportes e as atividades ofertados no espaço da Universidade: de torneios de jogos eletrônicos a aulas de dança e artes marciais. Nelson Aloysio Um dos programas mais recentes do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) é o Projeto Piloto Universitário, criado em 2012 e cuja participação já contou com a presença de mais de 6.150 pessoas. O seu principal objetivo é democratizar o acesso ao esporte educacional de qualidade e gratuito, visando estimular a atividade desenvolvida sob a orientação de professores e estagiários da educação física, a fim de montar um ambiente seguro numa estrutura que comporte simultaneamente diferentes grupos e modalidades de práticas desporivas. As inscrições são abertas tanto para a comunidade interna quanto externa, e diferentes atividades são oferecidas semestralmente. As práticas são gratuitas e algumas são oferecidas em conjunto com os Projetos Capoeira UFES e Núcleo de Lutas. Atualmente, são ofertadas as modalidades de natação, tiro com arco, judô, jiu-jitsu, capoeira, capoeira infantil e aulas de zumba. Todas são ofertadas dois dias por semana, uma hora ao dia Os interessados podem se inscrever junto à coordenação de extensão do CEFD (site www.cefd. ufes.br, telefone 4009-2627), e dúvidas quanto a horário, uniforme e faixa etária relativas às modalidades também podem ser solucionadas diretamente pelo telefone 4009-7678.

Copa UFES 2016 Aqueles que preferem assistir à prática desportiva acontecer também têm a opção de se juntar

à torcida da Copa UFES 2016, evento anual organizado pela Atlética Central dos Estudantes da UFES – entidade esportiva de representação máxima dos estudantes da Universidade. O prazo para novas inscrições, porém, já se encerrou no dia 31 de março. Neste ano, irão se enfrentar times tanto masculinos quanto femininos de quatro diferentes modalidades: futsal, vôlei, handebol e

tórico por acontecer o primeiro torneio de e-sports aberto à comunidade acadêmica da UFES! A primeira edição do torneio – CT E-Sports CUP 2015 – foi organizada pela Atlética Engenharia Ufes (AAACT) e contou com a participação dos estudantes do Centro Tecnológico (CT) da Universidade, concorrendo pelo primeiro lugar em dois dos maiores expoentes de esports da atualidade: LOL e

basquete. Os jogos começam agora, dia 09 de abril, e se estendem até o dia 19 de julho, sempre aos finais de semana, com exceção dos feriados. Mais informações no site: www.facebook. com/Atletica.UFES.

DOTA2. Propõe-se agora, em 2016, abrir o torneio para todos os estudantes dos cursos de graduação. As finais do evento também serão transmitidas no espaço da Universidade, em local ainda a ser definido. Da última vez, as inscrições foram em abril; portano, fique ligado para não perder a oportunidad ede participar e confraternizar o espírito esportivo! Mais informações no site: www.facebook.com/aaact.ufes.

Copa E-Sports 2016 Com o avanço da tecnologia, era de se esperar que os jogos eletrônicos tomassem cada vez mais popularidade também no Brasil. Neste âmbito, o ano de 2016 é his-

primeiramão33 Abril 2016


Tem sempre ` alguem esperando Aos montes em abrigos, animais domésticos carecem de cuidados – por vezes caríssimos. Abraçar a causa, se tornando um padrinho, pode ser uma ajuda e tanto. Mayra Scarpi Os animais de estimação hoje são muito mais do que isso. Do quintal para dentro de casa, os cães e gatos são considerados parte da família. Apesar da agitação cotidiana, dedicamos muito tempo e dinheiro para cuidar de suas necessidades e também mimá-los um pouco. O setor de pet shop no Brasil apresenta o segundo maior faturamento do mundo, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Uma pesquisa do IBGE divulgada em junho de 2015 apontou que quase metade dos lares brasileiros, cerca de 44%, tem pelo menos um cachorro. Os gatos estão presentes em 17,7% dos domicílios. Por que esse apego tão grande? Odean Cusack, formado em Psicologia pela Universidade do Estado de Nova York, afirma em seu livro “Pets e Saúde Mental” que os animais são importantes para nós porque representam parte do ambiente natural que perdemos e nesses relacionamentos com os pets podemos ser mais espontâneos, naturais, livres e menos civilizados afetivamente. Apesar da grande presença nos

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lares brasileiros, ainda assim o número de animais abandonados na rua é muito grande. Abrigos como o Patinhas Carentes tiram esses bichinhos da rua, oferecem tratamento veterinário e os colocam a disposição para serem adotados. Porém, adotar nem sempre é viável, então existe outra forma de ajudar. Tornar-se madrinha ou padrinho de um animal que está no abrigo é uma opção de extrema importância para os que foram resgatados e esperam uma família. Só o Patinhas Carentes cuida de 58 animais e além da ração, também precisa gastar com medicamentos, fraldas, veterinário, exames e cirurgias. O gato Pretinho, por exemplo, foi encontrado dentro de uma caixa, sem conseguir movimentar as patas traseiras. Quando chegou por lá, um dos ossos da perna estava “interferindo no intestino”. Por isso, passou por uma cirurgia e colocou um parafuso na pata. Seu tratamento envolvia acupuntura e o acompanhamento do parafuso, demandando gastos. Foi aí que surgiu Karla Renata Batista, analista de qualidade, que, a priori, não pode adotá-lo porque já tem quatro gatos

e um deles tem uma doença transmissível para outros animais. Por isso tornou-se sua madrinha, ajudando a arcar com as despesas. “Eu quero ver o gato vivo, andando, exatamente como ele é: independente. Às vezes, a gente vai para o abrigo querendo dar carinho para os bichinhos, mas na verdade é a gente que é acarinhada por eles. Vemos uma vontade de viver que renova as forças. Isso me chama muita atenção no Pretinho”, afirma. No caso do Patinhas Carentes, para apadrinhar um bichinho é só escolher um na página do Facebook Patinhas Carentes, no álbum “Padrinhos e Madrinhas”. Depois, informar o valor da contribuição e fazer um depósito programado para que o abrigo tenha controle de quanto pode gastar por mês. Pelo e-mail patascarentes@gmail.com é só identificar o animal escolhido pelo nome, a quantia, a data aproximada e o banco. O dinheiro é para as necessidades desse animal, mas se sobrar, será revertido para outro que precisou de uma ajuda maior naquele mês. Atualmente, o abrigo só conta com duas madrinhas, mas são muitos os animais carentes.


primeiram達o35 Abril 2016


CĂŠu, mar, cidade Thiago Reis

36primeiramĂŁo Abril 2016


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