primeiramão Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes - ano XXVII, edição 146, maio 2016
Ufes adere ao Sisu página 08
Mangue em agonia página 24
Novos talentos, novas mídias página 30
O que esperar de tudo isso? Página 14
Na descida do busão é uma embolação de agonias todo mundo aflito e apressado contando no relógio cada passo pra não chegar atrasado pra não perder o salário e esperando a hora exata do recebimento perdido numa vitrine, em tempo real congelado feito estátua no cenário global na televisão passa correndo, congela e fica se repetindo em câmera lenta na maldita cabeça apressada impaciente com a calma e a fatigante da solidão. Rodrigo Silva
Oi, tudo bem? O Brasil passa por um momento conturbado, a crise política se estabeleceu e é difícil encontrar alguém que esteja realmente satisfeito com a situação. As ruas foram tomadas por pessoas pró e contra o impeachment da presidente do Brasil, e o que pareciam ser atos de democracia se tornaram, muitas vezes, ataques a opiniões contrárias. Nesta edição veremos o que as pessoas estão pensando sobre a atual conjuntura e como elas reagem nas redes sociais. E para aliviar o clima de tensão, teremos uma lição de cidadania com pessoas que precisam de acessibilidade e lutam com todas as forças pelos seus direitos, vamos escutar poesias declamadas em um lugar inusitado: o ônibus. Podemos ainda parar para comer novos tipos de hambúrguer e apreciar uma boa cerveja caseira. E ainda entraremos no ritmo do congo para conhecer a cultura e a tradição que são patrimônio do Espírito Santo. Boa leitura e até a próxima!
A vez do hamburguer
2
Vai uma gelada aí?
6
Ufes no Sisu, e agora?
8
Acessibilidade na Ufes
10
Porta de entrada para o futuro
12
O que esperar de tudo isso?
14
A rede e o impeachement
19
Qual o futuro da internet no Brasil?
21
Chance de recomeçar
22
Nova lei da empresa Junior
23
Mangue em agonia
24
Passos do congo
26
Lugar de poesia é no busão
28
www.cdpraquê?.com 30 Tudo junto e misturado
32
Yes, we can
34
Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social/ Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 jornal1mao@gmail.com. Ano XXVII, número 146 Semestre 2016/1 Reportagem, edição e revisão: Alena Moreira Andre Vidal Barbara Azalim Brenda Patrício Bruna Littig Caroline Kobi Caroline Ventura
Christal Rios Elisa Tavares Fernanda Alves Helena Jacobem Isabela Marchezi Isabella Altoé Karoliny Siqueira Laiza Nicodemos Leonardo Ogioni
Lucas Lucas Donato Lucas Rezende Luisa Perdigão Luiz Felipe Guerra Mariana dos Anjos Mayra Scarpi Nelson Aloysio Nubia Nascimento
Olga Samara Renata Andrade Thais Stein Professora Orientadora: Ruth Reis Diagramação: Ruth Reis e Nelson Aloysio Foto de capa: Mariana dos Anjos
Impressão: Gráfica da Ufes Primeira Mão está utilizando nos seus textos principais a fonte tipográfica Ufes Sans, desenvolvida pelo Laboratório de Design da Ufes. Autores: Ricardo Esteves e Filipe Motta.
s
A ascensao do Hamburg er Pão, carne, queijo e molho especial compõem o tradicional hambúrguer. Porém, novos ingredientes ganharam espaço dentro dessa delícia. Agora é a vez do gourmet! Leonardo Ogioni e Bruna Littig
A primeira referência ao hambúrguer apareceu ainda na Idade Média, no início do século XIV, quando os Tártaros “esmigalhavam” a carne - nossa famosa carne moída -, pois era o modo mais fácil de consumo. Ao chegar à Alemanha, a carne foi misturada a temperos originais do país e o prato ficou muito conhecido na região de Hamburgo, lugar que originou seu nome. Nos Estados Unidos, já em 1880, a iguaria virou febre, e é até hoje um forte símbolo da culinária fast food. No Brasil, o hambúrguer se tornou popular em 1952 com a ajuda do americano Robert Falkenburg, que inaugurou, no Rio de Janeiro, o primeiro Bob’s, nos padrões americanos. Lá se vão 64 anos de paixão brasileira pelo prato. Além de consumidores assíduos, os brasileiros começaram a produzir também o “podrão”, uma nova versão do sanduíche. Servido dentro de uma sacolinha branca de plástico, alguns dos seus ingredientes principais são: hambúrguer industrial, queijo, presunto, alface, tomate, milho, batata palha, ovo e bacon.
“Desde o início das nossas atividades, sempre trabalhamos duro para fazer um hambúrguer de qualidade para os nossos clientes. Conforme os anos foram passando, vimos a necessidade de nos reinventar para atrair novos públicos e expandir nosso mercado, aliando o hambúrguer tradicional com os hambúrgueres gourmet”. Guilherme Sartori, diretor de marketing da Hamburgueria Capixabão
4
primeiramão Maio 2016
O Capixabão, lanchonete localizada em Cariacica, está há 16 anos produzindo esse lanche popular. No entanto, no início deste ano, eles fizeram uma mudança no cardápio. A novidade? O hambúrguer ficou mais sofisticado. Ganhou novos ingredientes, e agora é servido de forma diferente. Deixou de ser tão popular e virou gourmet! A principal mudança no ramo está na carne de hambúrguer, que passou a ser feita de forma artesanal, com temperos e técnicas específicas de cada chefe de cozinha. Com isso, cada hamburgueria apresenta uma qualidade diferente e os amantes do hambúrguer estão sempre à procura da carne mais saborosa. Este é o caso da estudante de Arquitetura Thais Demuner. “Para mim, o ingrediente essencial do hambúrguer é o bife caseiro. Seu preparo tem que ser feito por profissionais qualificados para ficar bom”, afirma. O administrador Wanderson Machado experimentou um dos hambúrgueres gourmet do novo cardápio do Capixabão e aprovou. “Nunca tinha comido esse hambúrguer, mas
gostei! A carne é mais grossa e tem ingredientes diferentes, como a cebola crispy”, diz. Cortada em rodelas, empanada e frita, a cebola fica crocante e substitui a batata palha. É atualmente um dos ingredientes queridinhos do hambúrguer gourmet. Além dela, tomate seco, rúcula, presunto parma, champignon, manjericão, gorgonzola e vários molhos foram adicionados à receita tradicional. Para Guilherme, esses novos ingredientes trouxeram mais sabor aos hambúrgueres. “O hambúrguer gourmet é uma experiência, a pessoa come primeiro com os olhos, depois tira foto e compartilha com os amigos. Tudo isso se concretiza quando ele prova o prato. A junção dos ingredientes traz um sabor que não se encontra no hambúrguer tradicional”, pontua. Outra mudança significativa está no jeito que o hambúrguer chega à mesa. Em vez da sacolinha, ele é servido em um prato, e acredite, vem acompanhado de talhares. No entanto, muitos fãs do hambúrguer gourmet preferem comer com a mão. Pensando nisso, algumas hamburguerias mantêm o pezinho neste lado da tradição, como é o caso do Gol Burguer, em Vila Velha. “Lá o ambiente é bem agradável, e os hambúrgueres são todos gourmet, só que eles incentivam a comer com a mão. Eu acho bem melhor, pois fica mais gostoso”, diz o estudante de Oceanografia Estênio Martins. Em meio a tantas mudanças e inovações, seja com a mão ou com garfo e faca, a verdade é que o hambúrguer continua uma delícia... e segue em ascensão.
primeiramão 5 Maio 2016
Vai uma gelada ai? Paixão nacional de longa data, a cerveja ganha novo espaço na casa dos brasileiros: na linha de produção. Isabella Altoé e Laiza Nicodemos
Em bares, restaurantes, festas, praias e prateleiras de supermercado, uma coisa é certa: lá está ela. A cerveja ocupa a primeira colocação entre as bebidas alcoólicas mais consumidas no mundo, inclusive no Brasil, onde as grandes marcas do mercado ainda representam mais de 90% da preferência popular. Apesar da realidade do ramo, uma atividade que está ganhando cada vez mais adeptos é a produção de cerveja caseira, e muitos brasileiros transformam a paixão pela gelada em um hobby. Entretanto, saiba que hobby não é apenas a diversão e que fabricação de cerveja em casa não é simples. O processo é trabalhoso e caro, e se o pro-
6
primeiramão Maio 2016
dutor tiver a intenção de comercializar seu produto, é essencial que conheça as leis de autorização brasileiras, que incluem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A venda de cervejas não registradas é ilegal. Assim, apenas a possibilidade de produzir sua própria bebida sem sair de casa já é motivo de alegria para muita gente. É o caso do dentista Bernardo Kuster, um adepto da prática há quase quatro anos. “Sempre gostei de cerveja, mas o gosto pela cerveja artesanal começou em 2009, após uma viagem aos EUA”, conta Kuster, que teve sua primeira experiência com produção de cerveja caseira durante uma viagem à cidade gaúcha de Gra-
mado, quando se interessou pela atividade. “Chegando do Rio Grande do Sul, comecei a pesquisar na internet sobre cursos, encontrei um e o realizei no Rio de Janeiro”, diz. Produzir cerveja caseira requer uma lista extensa de materiais e muito, muito tempo e paciência. Além de ingredientes básicos, como água, malte e lúpulo, é necessário termômetro, fogareiro de alta pressão, densímetros e diversas panelas, cada uma direcionada a uma etapa do processo - que inclui brassagem, fermentação, maturação e carbonatação. Ao todo, o produto final só estará pronto para consumo após cerca de um mês. Chances de dar errado? Sim, elas existem, principalmente para os iniciantes. A dica é não se desesperar e insistir na prática. Quando dá certo, vale muito a pena. A bola da vez A cerveja ocupa um grande espaço na vida de Flávio Barone, um dos 80 mestres-cervejeiros do país. Barone estudou Engenharia Cervejeira, fez mestrado na área na Alemanha e ministra cursos de produção de cerveja Brasil afora. Segundo ele, a procura pelo aprendizado dessa atividade tem crescido. “Há mais de 300 pessoas numa lista de espera só aqui em Vitória. A cerveja artesanal está em alta, é a queridinha dos restaurantes”, afirma o mestre-cervejeiro.
Barone põe fim à ilusão de que pessoas inseridas no meio da fabricação de cerveja têm licença para beber o dia todo. Tanto para iniciantes quanto para profissionais formados, o estudo e a prática são contínuos. “Cerveja é um negócio que tem que estudar, são muitos detalhes indispensáveis. Há cursos em todo o Brasil e fora também. Comecem pesquisando bons cursos na internet”, aconselha Barone e alerta para a importância da atenção com os resultados da pesquisar, pois existem muitos cursos com carga horária insuficiente para o aprendizado. A produção de cerveja artesanal cresceu 60% no país em 2015, e a cerveja caseira é considerada a bola da vez. Não é de espantar o aumento do interesse e de adeptos, considerando que a cerveja já faz parte da cultura popular brasileira. O clima do Brasil e o jeito dos brasileiros são dois aspectos relacionados a tamanha popularidade da bebida. “Cerveja aqui é igual a futebol, religião e política: todo mundo entende e tem preferências. O sucesso está ligado ao clima e ao baixo teor alcoólico, já que a cerveja, no Brasil, é leve, refrescante e menos encorpada. A cerveja socializa, tem tudo a ver com a cultura brasileira e com o espírito brasileiro de se divertir”, diz Barone. Afinal, num lugar onde o termômetro normalmente fica na casa dos 30ºC o ano todo, nada melhor do que uma gelada.
primeiramão 7 Maio 2016
gora? a e . u s i S o n Ufes
A decisão que tende a alterar o método de estudos de vestibulandos capixabas e a dinâmica da gestão acadêmica da Ufes.
Caroline Ventura
No dia 27 de abril, o prédio da reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), foi palco da reunião que decidiria o destino de estudantes que pretendem ingressar em seus cursos. Após longas cinco horas, a resposta foi divulgada: sim, a Ufes vai aderir integralmente ao Sistema de Seleção Unificada, o Sisu. Serão ofertadas 4.284 vagas em 98 cursos. O Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Cepe) decidiu que a adesão da Ufes ao sistema será integral. Sendo assim, os alunos que antes passavam pela primeira etapa que era o Sisu, e posteriormente, faziam a etapa com questões discursivas específicas para cada curso, agora só terão o Enem como porta de entrada. Apesar das especulações, ainda não existe uma decisão oficial em relação à forma como cada curso vai estruturar essa adesão. “A decisão foi que todos os cursos da UFES vão aderir ao Sisu. Existem comissões que decidirão a formatação dessa adesão. Os critérios específicos para cada curso serão decididos pelo colegiado de curso. Ou seja, está sendo discutido se será feito de forma que cada disciplina terá uma pontuação ou se os capixabas terão certa prioridade. Mas em relação a isso, não há nada concreto ainda”. Afirma Vera Lúcia Bergame, diretora da Prograd. Uma das preocupações dos vestibulandos é que estudantes de fora do Estado passem para os cursos, mas desistam no meio do processo prejudicando assim os capixabas. Segundo Vera, o processo de entrada de um estudante, não será prejudicado por alunos que possivelmente venham de outros estados. “Depois que sai o resultado, há uma primeira chamada e são feitas as matrículas. Se na segunda chamada um aluno já matriculado conseguir uma vaga em universidade mais próxima da casa dele, provavelmente desistirá da
8
primeiramão Maio 2016
vaga na Ufes, que ficará disponível para outro aluno. Mesmo que ocorram desistências posteriores, tudo será analisado pela Instituição. Pelas regras atuais, só serão convocados estudantes até o primeiro dia útil de cada semestre. Essa vaga será preenchida com os suplentes, e eles geralmente entram no segundo semestre. Dá tempo de fazer essa chamada sem prejuízo nenhum. Em curso de vaga única, a vaga que sobrar, fica retida para o próximo ano, no concurso de vagas surgidas do ano seguinte.” A pré-vestibulanda, Débora Santos Bicalho, de 22 anos, tenta o curso de Medicina há seis anos. Desde 2010, época em que a UFES adotou o Enem como primeira fase, foca seus estudos nas questões objetivas. “Para Medicina o ponto de corte é muito alto, então para passar na primeira fase já tínhamos que tirar uma nota boa. Então acho que em relação aos estudos, não muda tanto”, pondera. Mesmo tendo uma opinião formada sobre a prova, Débora expõe sua oposição à adesão integral do Sisu, argumentando que a prova tira opor-
tunidade dos capixabas por não terem opção de faculdades estaduais e nem de outra federal. “Acho uma injustiça com os capixabas. São poucas as faculdades aqui, até mesmo as particulares. Outra questão é que nem todo mundo tem condições financeiras para morar em outro estado.” Há quatro anos fazendo cursinho e em busca de uma vaga em Medicina, a estudante Jamile Guimarães Ferreira, 20 anos, assim como Débora já tem hábito de estudar todos os dias para o Enem. Além das aulas pela manhã, Jamile estuda
à tarde, revisando as matérias e praticando as discursivas. Com a adesão, se sentiu prejudicada, tanto pela data em que ocorreu, quanto pelo aumento da concorrência. ”Para mim, o Sisu não veio como uma boa alternativa, porque como mudaram no meio do ano, eu considero que perdi tempo. A competição vai aumentar muito. Vitória é um lugar bom de se viver, fica no Sudeste, próximo de tudo... e esse pessoal que já esta acostumado a estudar só para Enem, para Sisu, vai acabar tendo mais facilidade e vai tirar a vaga do capixaba”, desabafa.
Opção pelo Sisu desde O Sistema de Seleção Unificada (Sisu) foi desenvolvido pelo Ministério da Educação para selecionar os candidatos às vagas das instituições públicas de ensino superior que utilizam a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como única fase de seu processo seletivo. A seleção é feita pelo Sistema com base na nota obtida pelo candidato no Enem. (http://portal.mec.gov.br/)
2013
A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) iniciou em 2013 sua participação parcial no SiSU. Em reunião, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da Ufes, no dia 13/03/2013 foi decidido adotadar o sistema para seleção de novos alunos nos campi do interior - São Mateus e Alegre, que ofercem 450 vagas no meio do ano.
primeiramão 9 Maio 2016
C
ristian foi diagnosticado com Artrite Idiopática Juvenil (AIJ) quando tinha quase três anos de idade. AIJ é uma doença inflamatória crônica, causadora de deficiência física e que tem entre os sintomas dor, sensibilidade e rigidez nas articulações, limitação de movimentos, baixa imunidade (aumentando a propensão para doenças consideradas comuns) e possibilidade de afetar o desenvolvimento de órgãos e tecidos do corpo. “Não fui atingido por todos os sintomas e, além disso, faço tratamento indicado para meu caso. Mas eu estava bastante debilitado quando entrei na universidade e tive grandes problemas com a falta de estrutura do prédio onde teria que passar horas do meu dia”, comentou. Cristian Ricardo Ferreira Júnior, de 21 anos, estudante do 8º período
do curso de Direito e pesquisador acadêmico em Bioética foi um dos idealizadores do Grupo Acesso, e desde que ingressou na universidade, em 2012, luta por mudanças na infra-estrutura da Ufes. Inconformados com a as condições de alguns prédios do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE), que contrariavam as leis já existentes de acessibilidade, alunos do curso de Direito se reuniram em 2015 e formar o grupo, com a missão de lutar por melhorias na acessibilidade da universidade, começando por onde estavam. A estudante do 3º período do curso de Direito Alexia Trancoso Carvalho Gambarini, de 19 anos, também ajudou na criação do Grupo Acesso, do qual faz parte até hoje. “Não sou portadora de deficiência, mas vi as dificuldades da minha colega de turma Ana Flávia, que é
Grupo Acesso: Willian Metzker, Gabriela Biral, Caroline Trabach, Maria Mariani, Alexia Trancoso, Karina Agatti, Mariana Cola, Ana Flávia de Jesus, Paulo Higor Fontoura, Nathalia Patrício, Gabriela Vago e Jackson Junior. Cristian no destaque
cadeirante, ao ter que lidar com um prédio inacessível”, indignou-se. “Isso me sensibilizou. Depois conheci também o Cristian, meu veterano no curso, e vi com ainda mais clareza a importância e a urgência das mudanças, da conscientização e da inclusão social. Pessoas portadoras de deficiência precisam ser mais respeitadas”, acrescentou.
a m m e d n e f e d s e t n studa
E
NaUfes A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) possui o Núcleo de Acessibilidade da Ufes (Naufes), criado em 2011, hoje vinculado à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci) e responsável por coordenar e executar ações para promover a acessibilidade, mobilidade e inclusão de pessoas portadoras de deficiência no âmbito universitário. O Naufes é coordenado atualmente pelo tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras), Joaquim Cesar Cunha dos Santos. “A intenção é poder dar assistência de qualidade àqueles que necessitam de cuidados especiais. Não é fácil, nossos recursos ainda são limitados, mas a ideia do núcleo é
10 primeiramão 10 primeiramão Maio 2016
Maio 2016
poder se antecipar aos casos e suprir as necessidades de acessibilidade e inclusão da pessoa portadora de deficiência. Ainda precisamos de mudanças, mas a universidade está evoluindo nessa questão e já realizou diversas conquistas”, comentou. O núcleo foi criado a partir da resolução nº31/2011 do Conselho Universitário, proposto pelo então Secretário de Inclusão Social, Antônio Carlos Moraes. Tem como objetivo ajudar na fiscalização da implementação de políticas de inclusão; promover palestras educativas sobre inclusão e acessibilidade, além de projetos de pesquisa, intercâmbios e estudos; auxiliar na elaboração e execução de projetos pedagógicos dos cursos; e também eliminar ou minimizar as barreiras enfrentadas, sejam elas
arquitetônicas, atitudinais ou de comunicação. A Ufes dispõe de diversas tecnologias assistivas e recursos didáticos para auxiliar no dia-a-dia dos portadores de deficiência. É possível requerer um tradutor de Libras ou um monitor para acompanhar o estudante durantes suas atividades diárias nos campi. Prédios com rampas, elevadores e banheiro acessível são outros exemplos, além da possibilidade do uso de escaner de voz, impressora braile, microscópios adaptados e vídeo-tradução. Entretanto, os recursos financeiros, tecnológicos e de pessoas qualificadas para o atendimento das necessidades especiais ainda são menores que o desejável, e a luta da universidade e de seu público em busca de melhorias, mais acessibilidade e maior inclusão ain-
Jomar Loila
s e f U a n e d a d i l i b i s ais aces zalim Bárbara A
da é necessária e deve continuar. Vest Ufes A Ufes aderiu recentemente ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que será a única etapa do vestibular. Por ser um programa que utiliza a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para selecionar estudantes para as instituições federais e estaduais de ensino superior, o Sisu traz algumas mudanças para o ingresso de todos, inclusive dos estudantes com deficiência, à universidade. Como já acontecia, para garantir o atendimento específico ou a acessibilidade, o estudante deve informar, no ato da inscrição, o tipo de deficiência e qual auxílio necessita. É necessário um laudo médico para comprovar a deficiência. Prova ampliada ou superampliada, prova em braile, auxílio ledor, auxílio para transcrição, guia-
sino superior n e o n l a ci so o maior inclusã e A luta por uma a Ufes, e pretend d s re to se e s te n envolve estuda iversidade melhorias na un
-intérprete, horário diferenciado, leitura labial, intérprete de Libras e mobiliário acessível são alguns dos auxílios disponibilizados para os portadores de deficiência. A regra de atendimento especializado que antes só contemplava estudantes com deficiência física, auditiva e visual, agora contempla também outros grupos, como é o caso dos estudantes portadores de autismo, dislexia e déficit de atenção. Além disso, os critérios de avaliação também mudaram. Agora, as dificuldades de linguagem serão consideradas na correção da redação, com a pretensão de uma correção mais justa. Legislação brasileira Em 2015 foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência,
que tem como objetivo assegurar e promover o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais das pessoas com deficiência, visando à inclusão social e cidadania das mesmas, em condições de igualdade. O Estatuto veio para complementar as leis de acessibilidades que já existem desde 2000, que preveem normais gerais e critérios básicos para promoção da acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Autonomia pessoal, liberdade e acessibilidade são os pontos-chave do Estatuto. O Estatuto alterou alguns dispositivos importantes do Código Civil, especialmente se referindo à capacidade (ou incapacidade), ao tratar de deficientes mentais, que agora passam a ter o direito de casar, constituir união estável e exercer guarda e tutela.
primeiramão primeiramão 11 1 Maio 2016
Maio 2016
Porta de entrada para o futuro Muitos acreditam que a educação é o primeiro passo para alterações efetivas na socieda-de, e um curso superior pode ser a porta de entrada para oportunidades de trabalho e de mudança de vida para muitas pessoas. Alena Moreira A educação no Brasil tem sido um dos âmbitos mais afetados com a recessão econômica enfrentada nos últimos cinco anos. Em 2015, o governo federal anunciou um corte de verbas de mais de um terço nesse setor, e os mais afetados são os alunos das escolas e universi-dades públicas. Em contrapartida, vemos a ampliação do sistema de cotas com o SISU amenizando as dificuldades de acesso ao ensino formal superior. As Universidades Federais e estaduais são espaços públicos ocupados majoritariamente pela classe média branca do país. Nas escolas públicas do país predominam negros e par-dos, em sua maioria da classe C e D. Muitos desses jovens, não têm condições de pagar um cursinho pré-vestibular e tem que competir com jovens das classes A e B que gozam de inúmeros privilégios. Visando a democratização do acesso às Universidades surgiram iniciativas em todo o país que buscam auxiliar os alunos nos estudos para o ingresso ao ensino superior. São esses os cursinhos populares, ministrados por professores voluntários, boa parte gratuitos. O movimento social “UNEAFRO”, que surgiu em São Paulo e conta com vários cursinhos espalhados em todo o Brasil, inspirou os estudantes do movimento Brigadas Populares em conjunto com o coletivo de hip hop “Periferia Resiste” a criarem o cursinho “Periferia Resis-te”. Situado em Jardim Carapina, na Serra, ES, o pré-vest funciona aos sábados, desde julho de 2015 e conta com cerca de 30 colaboradores e já tem 70 alunos matriculados, que assistem às aulas num auditório na Escola João Paulo II.
12 primeiramão 12 primeiramão Maio 2016
Maio 2016
A região carece de saneamento básico, infraestrutura, é assolada pelo tráfico de drogas e repressão policial, além de não ter sequer escola de Ensino Médio. “O cursinho traz a pos-sibilidade de uma pessoa que tem um passado ruim mudar sua história, seu futuro e de seus descendentes” afirmou o estudante João Freitas Fernandes, de 19 anos que preten-de tentar engenharia biomédica e ser o primeiro de sua família a ter um diploma. Mudar o futuro de sua família é também o sonho de Laís Santos, de 27 anos, que termi-nou o Ensino Médio há 10 anos e somente agora pôde se dedicar aos estudos. A estu-dante, que tem uma filha de quatro anos, vende bombom na Universidade Federal do Es-pírito Santo para sobreviver e sustentar sua família e gostaria de cursar Educação Física. São muitos os desafios de quem se envolve nesses projetos, a falta de assistência do go-verno, as dificuldades de conseguir voluntários, materiais para trabalhar e até mesmo a fal-ta de um espaço para realizar as atividades. “É uma correria danada, dá muito trabalho, mas é uma experiência incrível, e para além da experiência individual, tem a mais importan-te, que é a coletiva. A maior satisfação mesmo é ver de pé mais uma ferramenta de luta contra as desigualdades, pela política de ações afirmativas, pela democratização do aces-so ao ensino superior. Nossa ideia é proliferar mais e mais cursinhos pelos bairros popula-res e periferias em toda a grande vitória e se somar aos que existem também. Essa é a maior satisfação” conta Vinicius Machado, um dos coordenadores do curso
“Periferia Resis-te”. Luiz Fhilyppe S. Gonzaga da Silva, que já trabalhou no PUPT, idealizou o projeto similar, que há três anos funciona na UFES e desde fevereiro de 2016 tem seu primeiro polo na Serra Sede, Serra ES. Contando com a ajuda de amigos e alunos de graduação da UFES fundou o cursinho “Machado de Assis”, que já possui 160 alunos matriculados e possui um índice de 45% de aprovação. Com o lema “Você é capaz”, o curso prepara alunos de 2º e 3º ano e também os que já terminaram há algum tempo para o ENEM e para o vestibular da UFES. “A gente tenta dar as ferramentas para os alunos, para que eles possam alcançar seus objetivos” afirma o co-ordenador. A aluna da graduação de Biologia, Luara C. Brandão, 20, aproveita a oportunidade para ganhar intimidade com a sala de aula e diz “Eu sempre tive vontade de contribuir, até mesmo porque eu vim do PUPT, outro projeto popular”, e conta que se sente motivada, pois vê muito interesse por parte dos alunos em aprender. A aluna Paloma Malta, 16 anos, vai prestar vestibular para Engenharia Civil e acredita que “o cursinho está sendo fundamental para os estudos, principalmente na parte de Reda-ção”. E a questão da proximidade tem sido essencial para que ela pudesse se dedicar aos estudos, num ambiente em que já está familiarizada, a escola que frequenta desde a 6ª série, João Loyola, na Serra Sede. “Risoflora”, que tem seu nome em homenagem à flor que cresce nos manguezais, é mais um cursinho popular, e iniciará suas atividades no dia 07 de maio, tendo sua
primeira aula inaugural, onde será realizada a matrícula referente a 2016. Nesse primeiro contato haverá apresentações de bandas locais, como a Céu do Congo, Nara Valente e Cláudson Sales e o Grupo de Capoeira Angola Volta ao Mundo. O evento acontecerá em Maria Ortiz, na EMEF Juscelino Kubitschek de Oliveira às 13h. Falando em educação O processo de expansão da escolarização básica para a rede pública de ensino se deu no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980, um processo recente, e que passou por anos difíceis com a ditadura. Em sua última pesquisa, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) avaliou 64 países, e dentre os avaliados, 4,5 milhões de estudantes até 15 anos de idade não atingiram o nível básico de aprendizado. O equivalente a um em cada quatro estudantes. De acordo com o novo relatório internacional sobre o rendimento escolar no mundo, o Bra-sil melhorou seu desempenho, reduzindo
a quantidade de estudantes com baixo rendimen-to no período entre 2003 a 2012, mas sua colocação ainda está entre os 10 piores países. O país está entre os 10 que têm mais alunos com baixo rendimento escolar em matemáti-ca, leitura e ciências. Na América Latina, além do Brasil, Peru, Colômbia e Argentina tam-bém tiveram resultados ruins. Os números são alarmantes, e vemos essa situação refletida diretamente nas Universida-des, a falta de qualidade das escolas publicas, leva à dificuldade latente de acesso às ca-madas marginalizadas ao ensino formal superior. A má formação dos professores, e a de-corrente desvalorização da profissão também acarretam prejuízos enormes para a educa-ção do país, que caminha a passos de tartaruga. “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade mu-da” afirmou Paulo Freire, educador e filósofo que escreveu vários livros sobre o tema. Cada vez mais cresce a necessidade analisar como se dá o processo de aprendizado, romper com
as antigas estruturas e modernizar o ensino, sem perpetuar o velho molde tec-nicista. Assim poderá se pensar um novo modelo de universidade, mais acessível, plural e transformadora.
primeiramão primeiramão 13 1 Maio 2016
Maio 2016
O que esperar Elisa Tavares e Luiz Felipe Guerra
O que você acredita que tenha gerado essa crise?
Como viemos parar aqui? Uma série de fatores pode ser apontada como responsável pela atual situação. Redução da representatividade político-partidária ou simplesmente escolhas ruins nas eleições? Má gestão dos recursos públicos ou crise econômica mundial? Corrupção? Governabilidade ameaçada?
“Acredito que o que gerou essa crise foi um grau de insatisfação da sociedade com os instrumentos e instituições que a gente tem. Como os poderes legislativo, executivo e judiciário, além da burocratização do estado. As pessoas não acreditam que essas coisas funcionam. Durante esse tempo teve “Briga pelo poder”, mudanças de governo e a gente (Clementino) não rompeu com essas coisas”. (Bárbara)
14 primeiramão Maio 2016
Diante de toda a movimentação que o Brasil atravessa, surgem muitos questionamentos. As pessoas não sabem o que virá, quais serão os próximos passos e o principal: o que esperar disso tudo? A crise política brasileira se intensificou após as eleições de 2014, que mantiveram a presidente Dilma Rousseff (PT) no poder. Desde então, partidos de oposição organizaram manifestações para tirar a presidente do governo. No dia 17 de abril, a Câmara dos Deputados aprovou com 367 votos a abertura de impeachment contra a presidente Dilma. No dia 12 de abril foi a vez do Senado aprovar o pedidio com 55 votos. No mesmo dia 12 de maio, diante de uma multidão de apoiadores, ela foi afastada do cargo por 180 dias até que seja concluída a análise do mérito do pedido de impeachement. Para que aconteça o impedimento e suspensão do mandato, é necessário que 54 senadores sejam a favor da condenação da presidente. Em meio a esse turbulento contexto, a população está insegura com o futuro. Politicamente, a batalha do impe-
de tudo isso? dimento da presidente gera dúvidas. Legal ou ilegal? Quais crimes ela cometeu? E as acusações de crimes sobre o vice, Michel Temer, que ocupa interinamente o governo? A saída de Dilma resolve a crise política? Fomos à rua ouvir as opiniões e expectativas das pessoas sobre este momento
Por que você é contra / a favor do impeachment? A abertura do processo de Impeachment foi uma ‘cartada’ do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), contra o governo, após sofrer um revés na aceitação de denúncia pela base governista no Conselho de Ética. O pedido de impeachement da presidente afastada Dilma Rousseff se baseia em denúncias de “pedaladas fiscais”. A defesa de Dilma afirma que não há crime de responsabilidade; a oposição afirma que há. Senado Federal julgará em novembro o mérito do processo aberto em maio. Você é favor ou contra o impedimento da presidente?
Nossos entrevistados foram: - Clementino Lucidato, 54, zelador de condomínio, Vitória - Bárbara Hora, 32, jornalista, Guarapari Sou contra o processo de - Luiz Felipe Costa, impeachment da Presidenta 19, estudante Dilma Rousseff porque não há secundarista, respaldo técnico, jurídico e político Vitória para que ele aconteça. Ela não cometeu - Matheus crime de responsabilidade fiscal. Para além Fassarela, disso, o que está em jogo não é somente estudante a sustentação de um governo, mas de Medisobretudo a democracia. A presidenta foi cina, Vila eleita democraticamente por mais de Velha 54 milhões de brasileiros, é preciso que - Samara Carvalho, se leve em consideração a vontade da 20 anos, espopulação brasileira. O impeachment tudante de é um golpe e significa um enorme Economia, Viretrocesso ao Brasil. tória (Luiz Felipe) - Clarisse, 32 anos, dona de casa, Vila Velha
Sou a favor do impeachment. Admito que se me perguntassem se houve realmente crime de responsabilidade fiscal não saberia responder. São várias visões diferentes, cada um com seus argumentos. Mas acho que estamos há muito tempo sendo governados por um grupo acostumado com brasileiros alheios à política, por isso a situação ficou da forma que está. Acho que, mais do que esperar grandes mudanças, é para deixar marcado que o povo ainda pode ser despertado para os seus problemas e sair da zona de conforto. (Matheus) primeiramão 15 Maio 2016
Você acha que com a saída da presidente Dilma do
Com a saída da Dilma não acho que vai melhorar. Não é a saída de um governo ou de uma pessoa que muda toda estrutura. A saída pode acalmar os ânimos, a mídia colocou os sentimentos das pessoas em cima da Dilma, como se tudo fosse ficar bom de repente, mas isso é um discurso panfletário. (Bárbara)
poder a crise política vai ser solucionada?
Coxinhas, Petralhas e indiferentes hão de convir: a situação é grave em todas as esferas, desde os municípios até a federação. Uma tentativa de reforma política proposta pelo governo foi esmagada no Legislativo, a mudança não veio por vias propositivas. Agora, o impeachment é, para parte da população, uma nova linha de largada para o começo do fim da crise política brasileiro. Se Dilma sai de vez, a crise fica ou vai embora?
Não sei. Eu acho que é bem possível algumas pessoas se acomodarem - tirou a presidenta, situação resolvida. Também não sei se a oposição ao Temer vai ser contida. Tenho medo de se instalar uma ditadura, porque sim, é totalmente possível. Há manipulação da mídia, da polícia e afins. Eu acho que vai haver oposição, muita gente se expressando de diversas maneiras. Como já existe polarização, alguma parte vai ficar insatisfeita. Eu acho que até quem é a favor hoje, depois de ver a casa cair, vai ficar contra, porque é claro que a massa vai ser prejudicada no final das contas e a massa é a maioria. (Samara)
Por que você é contra/a favor do impeachment do vice-presidente?
Como diz o ditado: “pau que dá em Chico da em Francisco”. Não há dois pesos e duas medidas, se a presidenta da República responder a um processo de impedimento seu vice também precisa ser considerado. (Luiz Felipe)
16 primeiramão Maio 2016
Não sei como funciona um impeachment de vice presidente, se é da mesma forma, os mesmos tipos de crime e etc, mas penso que nenhum dos que entrariam caso a Dilma saísse são mais dignos que ela para governar ou tem menos culpa. Penso que a melhor solução para a questão seria novas eleições, mas não sei se essa seria a mais prática frente ao cenário atual. (Matheus)
Quem assumiu o governo após aprovada a admissibilidade do impedimento da presidente Dilma foi o seu vice, Michel Temer. Ele está sob suspeita de ter cometido os mesmos crimes de responsabilidade fiscal que Dilma, enquanto foi presidente em exercício. O vice-presidente deve ter seu mandato impedido?
Eu não sou a favor do impeachment do vice, mas de acordo com o que colocam como os crimes de Dilma, no caso as pedaladas fiscais, criaram uma cortina de fumaça para outras coisas, acredito que se é para impedir seria para acontecer com toda a chapa. Ele específico não sou a favor, assim como não sou do da Dilma, vejo isso como um golpe mesmo. (Bárbara)
O que você pensa sobre eleições indiretas? Com o vice-presidente também sob suspeita, outro dilema surge: caso ele seja destituído do cargo, quem assume provisoriamente é o presidente da Câmara. Também não se descartam surpresas de toda ordem. Se já tiverem se passado dois anos das eleições, são convocadas eleições indiretas, realizadas pelo Congresso Nacional. O país viveu 21 anos de ditadura militar, o povo não tinha direito a voz nem a voto. Seria um retrocesso convocar eleições indiretas? E o direito à democracia, como fica?
Eu torço muito para que não aconteça, falta credibilidade das instâncias. Eduardo Cunha foi usado pela direita como ferramenta, mas todos o criticam, é insustentável ele continuar na presidência da casa. Alguns partidos se apresentaram contra ele, porque ele não tem moral e nem condições políticas de estar à frente. Ele já fez o seu papel para esse grupo politico, que foi colocar o processo contra a Isso é horrível e muito sério. Dilma em votação. Agora assumir o Brasil, eu não consigo É total desrespeito ao voto. Muinem pensar nessa hipótese, as eleições indiretas ta gente lutou pra que hoje a gente não acredito que tenha. Sendo bem realista o tivesse uma democracia e ela ainda tem Temer continua, porque ele tem a maioria da que ser melhorada. O Brasil República é uma bacâmara. gunça! República café com leite (voto de cabres (Bárbara) to). A ditadura acabou em 85, minha mãe tinha a minha idade. A década perdida em que a população sofreu muito. A estabilização veio em 94/95 quando eu já tava nascendo. A gente está vivenNão sou a favor de eleições do o único período da história do Brasil em que que nós não tenhamos o controle ele realmente é ‘independente’ e democrátida situação. Talvez seja isso que co. Todos nós temos direito e obrigação ao certos grupos de oposição estejam voto, que teve gente que lutou muito esperando, o que é arriscado porque não pra isso acontecer. E não porque o necessariamente seria escolhido o que o impeachmentnão é válido. Ele é, povo procura e sim seríamos novamente mas no caso da Dilma, não. reféns das maquinações políticas. (Samara) Mas mesmo assim, as incertezas dos nosso futuro são melhores do que as tristes certezas do presente. (Matheus)
primeiramão 17 Maio 2016
Eu estou com Quanto medo dele (Temer) cortar o bolsa movimento estudantil família. É a única renda da minha casa. Agora o que nós esperamos é que eu não trabalho mais para não acontecer com os os movimentos sociais, que já vêm outros dois menores o que aconteceu com o meu filho cumprindo um papel de extrema importância mais velho que está preso.. O que eu ganho dá para na defesa da democracia, se mantenham fazer a compra do mês bem apertado, antigamente organizados e que a população brasileira, que rendia mais. Mas eu também faço minhas coisas, nas últimas semanas tem se despertado se vendo calcinha e sutiã. Tenho um cômodo que concentre nas ruas. A palavra de ordem é tomar eu alugo na minha casa, mas não é muito bom. O as ruas para barrar o golpe! aluguel às vezes enrola. Se depender dele as A melhor solução é ocuparmos as ruas, derrotar vezes eu fico sem comprar as coisas. A bolsa o golpe e construir uma agenda positiva de todo mês cai certinho na conta”. desenvolvimento do país, com distribuição (Clarisse) de renda, geração de emprego, taxação das grandes fortunas e superar toda essa crise. (Luiz Felipe)
O que você espera dessa situação toda? Na sua opinião qual é a melhor solução para a crise?
Eu espero mais conscientização das pessoas na hora de escolher seus representantes, mais atenção em questões cruciais pra que eles sejam bem representados, como a reforma política, que a Dilma deu um primeiro passo,mas o projeto de financiamento de campanhas foi rejeitado Espero soluções para a crise econômica, que eu sei que vai ser demorado, dependendo custoso, além de difícil. (Samara)
Uns falam sobre a volta do crescimento econômico, enquanto outros têm medo de que a democracia seja afetada juntamente com os direitos conquistados pelos mais humildes. Há ainda quem acredite que o povo vai sair fortalecido e consciente. A solução, se houver, ainda está oculta. O que esperar disso tudo?
O que eu espero dessa situação, eu acho que pra uma classe serão tempos difíceis, principalmente para classes b e c. Pra classe A a questão de garantia de direitos não muda muito. Pro povo humilde que precisa de políticas de inclusão e programas, o período vai ser ruim. A questão individual é um problema que a gente enfrenta. Movimentos sociais enfraquecidos, partidos políticos enfraquecidos, são ferramentas para construir pais melhor. (Bárbara)
Eu espero que a briga continue por muito tempo para esquecerem de mexer na aposentadoria. Solução não tem, todo mundo está sob suspeita de fraude. (Clementino)
18 primeiramão Maio 2016
A REDE E O IMPEACHMENT repercussão e análise de dados
A votação na Câmara, televisionada pelos principais canais de mídia, impulsionou os debates e as publicações nas redes sociais e consolidou quatro principais perspectivas de diálogo: entenda quais foram e quem são seus atores Luisa Perdigão e Nelson Reis
Desde a reeleição de Dilma Rousseff, é possível observar uma ascensão de grupos oposicionistas ao governo nas redes sociais. De ampla mobilização, emergiram as pautas anticorrupção e contra o PT, que reivindicam o impeachment da Presidente da República por meio de manifestações nas ruas e publicações em sites, blogs e redes sociais. Em 2015, após a abertura do processo de impedimento na Câmara dos Deputados, o assunto se tornou um dos mais comentados na Internet, e a rede se estabeleceu como um espaço plural para discussões por meio de interações entre usuários. A acusação de crime de responsabilidade e improbidade administrativa, somada à crise econômica e à mídia hegemônica - pautada por interesses políticos e econômicos -, insuflaram uma forte oposição nas ruas e no Congresso Nacional, que por sua vez reverberou nas redes sociais.
legal ao crime de responsabilidade. “Portanto, é fundamental notar que, com a ausência do fundamento jurídico, que dá legalidade ao processo decisório de destituição de um presidente por impeachment, a alternativa adotada atualmente pela Câmara dos Deputados é ilegal, não é democrática e viola o princípio constitucional de que o presidente deve permanecer no seu cargo até o fim do mandato”, defende Marcelo. “O mandato presidencial no sistema presidencialista é independente de confiança parlamentar e de confiança eleitoral. Ele tem duração de quatro anos, então as pessoas devem aguardar o período eleitoral para destituir o presidente ou não nas urnas - portanto, se não houve crime de responsabilidade, se não existe fundamento jurídico legal para que o presidente seja destituído do cargo, é um golpe palaciano, um golpe de estado, mesmo sem a presença de militares”.
Legalidade do processo O professor Marcelo Vieira, doutor em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de janeiro (UERJ), vê o processo de impeachment, iniciado por Hélio Bicudo, Janaina Paschoal e Miguel Reale Jr. e autorizado pela Câmara dos Deputados, com preocupação. “Um processo de impeachment numa constituição presidencialista deve responder a dois fundamentos: político, em que as maiorias legislativas decidem por destituir o presidente do cargo; e jurídico, que fundamenta legalmente essa decisão das maiorias legislativas - o chamado crime de responsabilidade, que seria um atentado da presidente à própria Constituição.” No caso do Brasil, as eleições por voto majoritário para o Executivo - como prefeitos, governadores e Presidente da República - coexistem com o modelo parlamentarista do Legislativo, cujos cargos - deputados federais, estaduais e vereadores - são eleitos por voto proporcional. Por votação, os parlamentares fundamentaram politicamente o processo de impeachment. No entanto, as pedaladas fiscais - que seriam a razão jurídica do processo de impeachment - não asseguram caráter
O impeachement na história “Se houve algum momento no Brasil que é equivalente ao que está passando agora”, segundo Marcelo, “foi o período Collor - porém o momento agora é mais grave, com implicações mais sérias sobre o processo democrático”. Como representante da população, o presidente precisa negociar com o Congresso para aprovar as políticas públicas em sua agenda. Do contrário, se adota uma estratégia de confrontação, centralizando o processo decisório unilateralmente. Governando por decretos e outras formas de iniciativas legislativas, as chances de cair por impeachment é muito maior - como aconteceu com Collor, o primeiro a ser destituído por um processo de impeachment desde a promulgação da constituição brasileira de 1988. A partir de 1990, outros países da América Latina passaram por processos de impeachment de seus presidentes, como Venezuela, Equador e Paraguai. “Em todos, foi possível identificar cinco fatores decisórios para que o cenário de impeachment se concretizasse, conforme identificado pelo professor Anibal Peres Linhã, da Universidade de Pittsbourgh em entrevista à revista Época: 1) os
primeiramão 19 Maio 2016
militares estavam fora do processo decisório da política; 2) intensidade da cobertura jornalística de processos de escândalos políticos; 3) pressão popular e manifestações intensas que incidem sobre a popularidade do presidente; 4) economia estagnada ou em recessão, que mina as bases da popularidade presidencial; e 5) estilo de liderança política, ou seja, quando o presidente toma como estratégia de negociação uma confrontação com o Congresso Nacional”. Repercussão na rede Quando o impeachment da presidente Dilma foi a votação na Câmara dos Deputados, no dia 17 de abril, 367 dos 513 deputados (71%) declararam-se a favor da instauração do processo; 5% a mais que os 2/3 necessários para a sua aprovação. Uma análise da repercussão no Twitter revela que o rito, que durou 10 horas com transmissão ao vivo, engajou mais de 400 mil espectadores e ativistas no debate político que se formou nas redes sociais. Foram publicados, ao todo, mais de 1,9 milhão de tweets contendo os termos “impeachment” e “#ImpeachmentDay” durante a votação no Congresso - uma frequência, portanto, de mais de 53 tweets por segundo, segundo coleta de dados realizada pelo Laboratíro de Internet e Cultura (Labic/UFES). O grafo ao lado é representativo de 1,7 milhão de retweets (compartilhamentos) feitos durante o período da votação. Uma análise visual destas publicações revela uma pluraridade de opiniões de usuários, a partir de quatro principais perspectivas, representadas no grafo acima. Em vermelho (59%), estão os perfis a favor da destituição da presidente, repercutindo principalmente as hashtags “#ForaDilma” e “#TchauQuerida”; em azul (22%), ativistas e
20 primeiramão 20 primeiramão Maio 2016
Maio 2016
demais engajadores no debate político, geralmente contrários ao processo de impeachment e ao rito conforme realizado por parte dos deputados; em amarelo (10%), veículos da mídia tradicional realizando a cobertura da votação, além de suas respectivas bases de usuários republicando-os; e em verde (5%), comentaristas e canais de esportes que também entraram na polêmica. Nota-se uma disparidade entre suas conexões: à medida que uma perspectiva aproxima usuários com o mesmo ponto de vista, também tende a afastar demais grupos com convicções diferentes. Ao todo, apenas 4% da rede ficou “marginalizada”, ou seja, formou-se por meio de comunidades menores. Isso denota uma polarização de opiniões entre usuários e uma falta de canais de diálogo entre grupos oposicionistas e governistas, caracterizando um impasse na disp u t a de narrativa na rede. A s publicações que mais repercutiram não foram em relação à presidente Dilma, mas sim a respeito dos deputados e às suas justificativas de voto a favor ou contra o impeachment. Muitos perfis debatiam o rito televisionado em si, em vez do processo de impeachment - um reflexo da votação conforme se seguiu, sem análise efetiva do fundamento jurídico para abertura do processo. Próximos passos O segundo momento foi a apreciação do impeachment no Senado Federal, no dia 11 de maio, que julgou pela admissibilidade do impeachment. O terceiro momento ocorrerá em novembro, após o encerramento dos 180 dias de julgamento do mérito do processo contra a presidente.
Qual o futuro da internet no Brasil? Projetos de Lei restritivos e decisões judiciaissem fundamento e limitação de consumo de banda ameaçam futuro da liberadade na internet no Brasil Thais Lipaus Stein Nos últimos meses, registraram-se três iniciativas que podem mudar a internet no Brasil: a CPI de Cibercrimes, o bloqueio do Whatsapp determinado por um juiz e a ameaça de estabelecimento de limite no Consumo de Banda Larga. Nesses casos, o descumprimento do Marco Civil da Internet (MCI) ou o equívoco em seu uso geram uma diminuição dos direitos do consumidor e da privacidade do usuário. A CPI de Cibercrimes, que atuou na Câmara Federal desde fevereiro deste ano, teve a votação de sua última proposta no dia 06 de maio. Esta CPI sugere a autorização da remoção de conteúdos, sites e aplicativos inteiros caso se considere que haja violação de direitos autorais, além de alterar o Marco Civil da Internet para legalizar medidas extremas, com a justificativa de combater crimes. O coletivo Intervozes alerta para a ameaça na CPI dos Cibercrimes. Segundo o grupo, a medida utiliza-se do pretexto de incrementar a segurança online, para aumentar o poder de censura sobre a rede e diminuir a privacidade do usuário. Se os projetos de lei propostos forem aprovados, não apenas o Whatsapp poderá ser bloqueado facilmente,
como qualquer outro aplicativo ou página na internet. O grande problema, é que por vezes, o Judiciário brasileiro parece não ter conhecimento necessário para decidir sobre questões que envolvem a Internet. O caso do bloqueio do Whatsapp, que ocorreu no dia 02 de maio, é exemplar. Segundo o juiz responsável pela suspensão do aplicativo, a punição foi baseada no art. 12 da Lei 12.965/2014 (Marco civil da Internet), porém, para o Co-
mitê Gestor da Internet, é um erro a aplicação desse artigo para determinar a suspensão total e irrestrita das atividades de provedores de conteúdo e de serviços Internet. O bloqueio ocorre como punição à empresa pela não liberação de conteúdo de mensagens trocadas por meio do aplicativo, que auxilia-
riam uma investigação criminal que ocorre na justiça de Sergipe. Porém, o vice-presidente do Facebook (propreitário do Whatsapp) para América Latina, Diego Dzodan, responde que esses dados não são fornecidos à Justiça, porque a empresa não os tem. O aplicativo utiliza a criptografia end-to-end, por meio do qual somente os usuários têm acesso ao conteúdo final de suas conversas. O Marco Civil estabelece que um provedor de aplicação deve disponibilizar registros de conexão, conteúdos de mensagens e dados pessoais mediante ordem judicial, porém, os dados solicitados são de conteúdos de conversas. Cobrar e punir baseado em dados que a empresa não detém seria um equívoco sobre o que são metadados e o que é informação que o Judiciário parece ainda não compreender. Vivemos momentos difíceis no Brasil, tanto política quanto economicamente, e agora uma onda de retrocessos chega à internet ameaçando direitos assegurados por uma lei recém aprovada (em 2014).Com isso, o futuro da internet no Brasil se mostra incerto, e o que resta aos defensores dos direitos na rede é a continua luta por uma internet neutra, segura e de qualidade.
primeiramão primeiramão 21 2 Maio 2016
Maio 2016
Chance de recomeçar Jovens encontram na ressocialização uma nova oportunidade de retornar ao convívio social e recomeçar suas vidas. Nathan Santesso
A população carcerária é uma das que mais cresce no Brasil. Em 2006, o país somava cerca de 240 mil presidiários. De lá para cá, esse número quase triplicou: hoje existem aproximadamente 615.933 presos presas, formando a 4º maior população carcerária do mundo, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O aumento desse número é um retrato do sistema carcerário brasileiro, defasado, caótico e calamitoso, que resulta no não cumprimento da Lei de Execução Penal. Essa lei tem dois eixos principais: punir e ressocializar. Contudo, o crescimento da população carcerária gera falta de estrutura física, o que impede que o trabalho de ressocialização seja realizado dentro das penitenciárias. Como consequência, os presos cumprem suas penas e deixam a cadeia da mesma forma que entraram, encontrando uma dificuldade enorme para retornar à sociedade, o que cria outro problema social. O psiquiatra Augusto Cury, no livro “Nunca Desista dos seus Sonhos”, afirma que o sistema carcerário não funciona, pois sem liberdade, o ser humano se deprime e perde o sentido existencial. Em um de seus livros, ele ainda diz que "a prisão exterior mutila o ser humano, não transforma a personalidade de um criminoso, não expande sua inteligência, não reedita as áreas do seu inconsciente que financiam o crime. Apenas imprime dor emocional. Eles precisam ser reeducados, conscientizados, tratados, para serem ressocializados". Ou seja, o processo de reeducação, conscientização e ressocialização é mais importante do que o ato de prender
22 primeiramão Maio 2016
e punir. Mas o que seria essa ressocialização? A ressocialização consiste em utilizar políticas humanísticas para reintegrar à sociedade pessoas que apresentaram condutas reprováveis ou praticaram alguma infração. É o caso de Luana Libaino, que aos 20 anos, no auge de sua juventude, foi presa por tráfico de drogas e cumpriu pena de 10 meses em regime fechado. "O maior desafio de sair da cadeia é enfrentar a sociedade. As pessoas nos olham torto e nos condenam como se fossemos as piores pessoas do mundo”, conta. Mãe de um menino que era a sua maior preocupação no período em que esteve presa, Luana chegou a pedir a sua mãe que recorresse ao auxílio-reclusão, mas não conseguiu, já que a ex-detenta nunca havia contribuído com a Previdência Social. Na penitenciária, Luana fez acompanhamento psicológico e psiquiátrico, e deu continuidade ao tratamento depois que saiu da cadeia. "Eu tinha medo de enfrentar as pessoas, de como lidar com meu filho. Na verdade, seria um recomeço e eu precisava aprender a encarar isso", desabafa. A assistente social Lurdes Lugão diz que não existe nenhuma lei federal que ampara o preso depois que ele sai da prisão. "O que existe são algumas iniciativas e projetos municipais que auxiliam o ex-detento nesse processo de ressocialização, principalmente a conseguir um emprego. Quando aparece um caso desse nas
famílias em que atendemos no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), é feito um acompanhamento psicológico, e o CRAS oferece cursos para que essas pessoas consigam uma renda", explica Lurdes. Segundo Luana, uma das maiores dificuldades ao sair da cadeia foi conseguir um emprego. "Na verdade as pessoas tinham medo. Quem daria emprego pra uma pessoa que acabou de sair da cadeia?", indaga. Hoje, Luana trabalha com carteira assinada como cuidadora de idosos, mas nunca recorreu a nenhum órgão público. “Foi mérito meu, eu corri atrás”, fala Luana, que sonha em montar o seu próprio salão. “Quando saí da cadeia, tentei várias vezes conseguir um emprego e não consegui. Fiquei desesperada, e então comecei a fazer o curso de cabelereira, porque assim poderia trabalhar como autônoma e precisava criar meu filho. Era a única coisa em que pensava. Hoje estou no Rio de Janeiro trabalhando como cuidadora de idosos, o que também adoro fazer, mas até o ano que vem realizarei o sonho de ter o meu salão”, diz. Luana, expresidiá, hoje é cuidadora da idosos e sonha abrir um salão de beleza
Aprovada lei que regulariza empresas juniores no Brasil Entre os direitos garantidos, as empresas terão sedes e orientação de professores. André Vidal
A
Presidente Dilma Rousseff sancionou no dia 6 de abril a lei número 13.267, que regulamenta as empresas juniores brasileiras. Segundo o criador do projeto que deu origem à lei, o Senador Agripino Maia (DEM-RN), essa ação é muito importante pois essas empresas estimulam o espírito empreendedor. De acordo com a Lei, empresas juniores (EJs) são entidades formadas exclusivamente por estudantes de ensino superior, proibidas de qualquer ligação partidária e orientadas e supervisionadas por um professor ligado à instituição de ensino. Além disso, o texto prevê que o lucro obtido com os projetos realizados pelas EJs seja aplicado exclusivamente nas atividades da própria instituição e que todos os funcionários devem exercer trabalho voluntário e não remunerado. Segundo o diretor de Impacto no Ecossistema da Brasil Júnior (Confederação Brasileira de Empresas Juniores) Daniel Pimentel, a lei dá força institucional para as EJs, assim como segurança jurídica. “Quando alguma empresa júnior precisar de uma sede ou algum suporte da instituição de ensino ela vai ter seu direito garantido”, afirma Daniel. Outra garantia é o reconhecimento perante cartórios e órgãos públicos, facilitando o registro e a sobrevivência da empresa. A Presidente da Federação de Empresas Juniores do Espírito Santo (Juniores) Thamires Oliveira acredita que essa lei é uma grande conquista para a educação e o mercado brasileiros, pois as Ejs promovem experimentar na prática o que se estuda em sala de aula e formam profissionais diferenciados e capacitados. “As empresas juniores desempenham um papel importante no desenvolvimento do Ecossistema Empreendedor local prestando consultoria e serviços às micro e pequenas empresas, assim como desenvolvem nossos estudantes e fortalecem a Cultura Empreendedora”, completa.
Empresarios Juniores e Senadores no Congesso Nacional Foto de Victor Casagrande
Empresarios Juniores do Espirito Santo em campanha pela Lei Foto de Breno Salotto
primeiramão 23 Maio 2016
Mangue em agonia Karol Siqueira e Renata Andrade
O
s manguezais têm uma participação especial nas belas terras litorais capixabas. Vários trechos de cidades como Vitória, Vila Velha e Serra foram construídos em cima de mangues aterrados com o intuito de desenvolver e aumentar a área territorial do Estado. Além da importância histórica para a expansão das terras na Grande Vitória, os manguezais exercem um grande papel para a fauna e flora das regiões ao seu redor: servem de abrigo e alimentação para diversos animais terrestres e aquáticos, como também de local de reprodução e amparo para as crias de muitas espécies - ‘berçário do mar’. Fora isso, colabora com a produção e exportação de biomassa para o estuário (ambiente aquático de transição entre um rio e o mar) e o ambiente marinho, e inclusive, oferece uma proteção aos ambientes costeiros - bioma com uma grande diversidade de ecossistemas - dos efeitos da erosão. Hoje, o manguezal está ameaçado pela poluição gera-
24 primeiramão Maio 2016
Os efeitos da poluição nos manguezais acabam com a principal fonte de renda de muitos pescadores capixabas da pela população capixaba. O acúmulo de lixo como garrafas pet, sacolas plásticas, pneus, móveis e eletrodomésticos jogados no ecossistema é incalculável e acaba colocando em risco o mangue e os seres vivos que nele habitam. Em entrevista para a Primeira Mão, a zootecnista e bióloga da Prefeitura de Vitória Juliana Costa explica a importância da preservação desse ambiente, tanto para o reino animal como também para os homens. “A sobrevivência da maior parte do pescado capturado nas águas litorâneas como tainhas, camarões e robalos dependem da integridade desse ecossistema, pois aí são abrigados durante sua fase jovem e em época de postura. Sendo assim, pode-se concluir que o manguezal
está entre os principais responsáveis pela manutenção de boa parte das atividades pesqueiras das regiões tropicais, produzindo grande parte do alimento que o homem captura do mar, e sua manutenção é vital para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem em seu entorno.” Além da pesca de crustáceos e outras espécies, o mangue é fonte de matéria prima para produção de remédios, óleos e taninos - espécie de tinta usada pelas paneleiras para tingir e proteger as panelas de barro. Os manguezais também podem ser usados para passeios de turismo ecológico e educação ambiental. Catador de caranguejo há 41 anos, Idson Peixoto, afirma que “os manguezais não dão mais condições de trabalho, a
poluição afetou o ecossistema a ponto de o caranguejo não sobreviver até a fase adulta.” Idson é casado, tem dois filhos e durante a vida inteira retirou seu sustento da venda do crustáceo, porém, atualmente não consegue manter a família somente com o lucro dos caranguejos catados no Espírito Santo. Segundo ele, boa parte dos catadores está encomendando crustáceos vindos da Bahia, pois os mangues da Grande Vitória não conseguem mais abastecer o mercado porque os caranguejos estão morrendo muito cedo. Sobre toda essa poluição o catador de caranguejo disse que boa parte da sujeira é composta de resíduos hospitalares, do tratamento de água, óleo diesel, cloro, minério, esgoto e lixo jogado pela população que mora próximo ao manguezal. Indignado com essa si-
Prefeitura da Ufes
Renata Andrade e Karol Siqueira
tuação, Idson manifesta-se dizendo que “a poluição está na cara dos governantes e ninguém faz nada”, além disso, afirma ser de grande importância o diálogo entre os catadores, pescadores e biólogos para preservar o ecossistema, já que este não é afetado só pela poluição, mas também pelo uso impróprio de armadilhas para catar os crustáceos. Segundo o coordenador de Meio Ambiente e Sustentabilidade da UFES, Renato Castro, a limpeza do mangue no campus universitário é feita pelo menos uma vez por ano. Todo o lixo coletado é jogado fora como lixo comum, mas a universidade planeja promover parcerias para lidar de forma vantajosa com esses resíduos. “Nós estamos com um projeto de doar todo o lixo reciclável para as associações de catadores das regiões”, afirma o coordenador. Renato também explica
Agentes de Limpeza vasculham o mangue uma vez por ano para recolher resíduos que degradam este meio ambiente.
outras ações promovidas pela universidade para preservar não só o mangue, como também as espécies existentes nesse meio. “São feitas fiscalizações nos caminhos usados pela Escelsa - empresa de eletricidade - para a instalação de cabos de alta tensão pois nesses locais mais escondidos, alguns pescadores colocam armadilhas para pegar caranguejos fora de época”. Na família do Idson a tradição de catar caranguejo é passada de pai para filho, mas infelizmente o catador não garante que seus netos irão adquirir essa técnica pela situação que o manguezal capixaba se encontra e lamenta muito por isso. Ele afirma fazer o possível para ajudar na preservação dos mangues onde trabalha e deixa uma recomendação: “a responsabilidade pela situação dos manguezais é de todo mundo”.
Idson Peixoto e sua esposa, Aleide Alexandre Peixoto, sustentam sua família com a captura do caranguejo.
primeiramão 25 Maio 2016
Foto de Zanete Dadalto, cedida por Marina Sampaio pela página do Facebook
Mastro de São Benedito da Banda de Congo Tambor de Jacaranema na Barra do Jucu
Passos do Congo
As bandas de congo e as comunidades são parte constituinte dessa manifestação cultural que merecer ser preservada Helena Jacobem e Mayra Scarpi
M
uito mais que música e dança tradicionais, o congo também é dedicação coletiva e instituição cultural dentro das comunidades onde está presente. O som emitido pela cuíca, casaca e pelo tambor transcendem o momento da apresentação: representam a ligação entre as gerações e também a lembrança dos que, há muito tempo, começaram com essa expressão artística. As bandas de Congo são tão importantes para o Espírito Santo que em 2014 ganharam o reconhecimento de Patrimônio Cultural Imaterial. Isso significa que o congo é parte constituinte da cultura capixaba e também referem-se à nossa identidade.
26 primeiramão Maio 2016
O Governo do Estado calcula que existem cerca de 70 bandas espalhadas na região metropolitana e também nas cidades do interior, como em Alfredo Chaves e Anchieta. A origem dessa expressão cultural está ligada à influência dos índios locais e também dos africanos que foram trazidos para o Brasil. São Benedito é um dos santos homenageados nas apresentações, com o famoso mastro do santo fincado pelos participantes da banda todos os meses de dezembro. Quem comanda é o mestre, responsável por reger os músicos, dançarinos e cantores. As datas fixas variam de dezembro a janeiro, mas o congo se apresenta também em outras ocasiões. Ricar-
do Sales, mestre da banda de congo Amores da Lua, do bairro Santa Martha em Vitória, é um dos que enfatizam que existe muita procura de pessoas de fora das famílias tradicionalmente envolvidas para fazerem parte do grupo. “Qualquer um pode entrar, mas é um compromisso, uma devoção, e a pessoa tem que gostar do Congo para poder participar”, esclarece. A palavra tradição, apesar de não implicar tudo o que o congo representa, ainda é importante na propagação e preservação cultural. A dança e a música que se vê nos dias de hoje é apenas uma difusão do tão bem representado congo nas terras capixabas. O mestre da banda
Foto cedida por Ricardo Sales pela página do Facebook
Membros da Banda de Congo Amores da Lua, grupo formado por 40 pessoas entre adultos e crianças.
Panela de Barro, de Goiabeiras Velha, Valdemiro Sales, lembra toda a trajetória de sua banda e tudo o que foi constituindo ao longo dos anos: “É uma tradição. A banda existe desde 1938, são mais de 70 anos de Congo e muitas pessoas já passaram por aqui. Na Panela de Barro, todos são voluntários e sua organização conta com um presidente e cerca de 40 componentes. Assim como em outras bandas, qualquer interessado pode participar, mas há dificuldades de motivação e envolvimento de todos, afinal alguns vão apenas pelas viagens que a banda faz regularmente. Esta é a razão de os líderes do grupo selecionarem de forma criteriosa os novos integrantes. Habitualmente, a banda de Goiabeiras faz a fincada do mastro em 25 de dezembro, na Igreja Católica, e retira no domingo de Páscoa. Além desse momento anual, ainda se apresentam em eventos, festas e viajam a convite, como as que fizeram para
outras regiões do país e participaram do projeto Sonora Brasil no Rio de Janeiro. Já na Barra do Jucu, uma comunidade tipicamente imersa no congo, existem três bandas: Tambor de Jacaranema, Mestre Honório e Mestre Alcides. Marina Sampaio, pedagoga e coordenadora da banda Tambor Jacaranema, aponta a participação da comunidade, afinal, grande parte do grupo é formado por pessoas do bairro. É a população local que mantém um grande envolvimento nessa cultura. O grupo, o mais novo da região com 16 anos e pouco mais de 35 participantes, também dispõe da única banda de congo mirim de Vila Velha. Assim que as crianças e adolescentes atingem 18 anos, passam para a banda adulta. “Temos um projeto na escola, em que passamos na salas de aula convidando para oficinas de Congo. As próprias escolas municipais e estaduais nos chamam para fazer apresenta-
ções, então é um grande incentivo para as crianças. E a gente trabalha os temas e conteúdos curriculares a serem desenvolvidos na sala de aula, em ritmo do Congo, uma forma bem mais prazerosa”, relata. Os três grupos atuais um dia foram um só, chamado banda de Congo da Barra do Jucu, que por algumas divergências internas se dividiu. “Eu acho que quando a gente está só com a comunidade fazendo a parte de devoção, aí dá certo. Se entrar dinheiro, não funciona, eu acho que está errado”, opina Marina. Moradora da Barra do Jucu, Lena Côgo lembra que o Congo vem das famílias que originaram a vila – iniciada como colônia de pescadores - com a chegada dos canoeiros. “A comunidade local tem uma relação intensa, legítima e ativa com a cultura do bairro”, afirma. Outra questão interessante é que no geral, os moradores da região, mesmo com suas religiões distintas, respeitam a tradição do congo.
primeiramão 27 Maio 2016
o , a s o r p o o l c u t í t POESIA É nar LUGAR sDE u e a r o NA CALÇADA NO BUSÃO f ue , r a o j t i Iniciativa criada por jovens leva poesia v aos e e l r e e e que diariamentelcirculam dos ônibus da c , a a Grande Vitória. z v e a l n e r b a o l C g e o l v o o p b e o d ut s a m o r ã o n f e o u sã q r a e c d i e u m o q c s e r a p d i o c m r o a c n A tem a r o f e gu o t i e l e de v a n r a C l o b e t fu r o f são c e u q s e Caroline Kobi e Mariana dos Anjos
O trajeto diário de quem anda nos ônibus da Grande Vitória é, quase sempre, estressante, exaustivo e demorado. É comum vermos pessoas sentadas umas ao lado das outras sem sequer trocar um olhar, quem dirá um sorriso. E foi esse o espaço que um grupo de jovens escolheu para demonstrar seu trabalho: o “Poesia de Busão” é um projeto independente criado com o intuito de levar cultura às pessoas através da poesia dentro dos ônibus de Vitória. A ideia veio de Paulo Tadeu Oss, fundador do projeto. O jovem poeta pretendia expor o que escrevia, e para isso convidou amigos a se juntarem a ele. Porém, inicialmente, nenhum aceitou participar, por falta de tempo ou somente por falta de coragem. O “Poesia de Busão” somente foi oficializado no dia 3 de janeiro de 2015, depois de 10 dias de muita descontração na casa de um amigo, onde encontrou alguém que compartilhasse a mesma vontade. Inicialmente quem encarava o dia a dia nos ônibus eram apenas Paulo Tadeu Oss e Thiago Sobreiro. Com o tempo, outros amigos se identificaram com a proposta e também começaram a declamar suas poesias. Hoje em dia, o projeto é composto por oito integrantes: além de Paulo e Thiago, há Marina Brunow, Rodrigo Silva, Thaísa Formentini, Paola Paes e Renan Rocha,
28 primeiramão Maio 2016
também conhecido como Baiano. Esses artistas queriam trabalhar com o que gostavam de fazer, porém acreditam que editais de incentivo à cultura não contemplam todo mundo. Logo, encontraram nos ônibus o espaço ideal de trabalho por ser um meio público e uma forma de tornar a arte mais acessível para as pessoas. Além de trazer uma distração para os passageiros que, em sua maioria, trabalham o dia inteiro e se sentem confortados em ouvir uma poesia no seu trajeto para casa. E ainda retrucam: “as pessoas vendem bala nos ônibus, por que não arte?”. O projeto cresceu de tal maneira que hoje virou uma forma de
sustento para esses artistas. Todos os dias, os ônibus da Grande Vitória recebem os poetas, que batem no peito e afirmam: “é o nosso trabalho e é isso que a gente gosta de fazer”. Para eles, ainda não é uma atividade de fácil aceitação, tanto por parte da família, quanto da própria sociedade, por isso, questionamentos nas famosas “reuniões de família” e ofertas de empregos “dignos” não é novidade no cotidiano desses jovens.
Caroline Kobi
Da esquerda para a direita: Paulo Tadeu, Marina, Rodrigo e Thaisa. Integrantes do Poesia de Busão.
, Thaisa Formentini declamando dentro do ônibus uma de suas poesias cantadas.
o j a u o , a s o pr o l u t í t u e s a , a or j e v r e c , l a a z v e l e b o l g e o l v o p o d s a m o r ã n e u q a cer d i m o c a Mariana dos Anjos
Geralmente eles se apresentam em dupla. Entram pela porta de trás do ônibus sempre autorizados pelo motorista, cumprimentam os passageiros, explicam o projeto e em seguida perguntam se os passageiros querem ou não escutá-los. Como prezam pela democracia, caso a maioria não queira escutar, eles se retiram. Quando concordam, cada um declama algumas poesias e depois passam o chapéu dizendo que o pagamento pode ser um sorriso, elogios, gentilezas ou dinheiro, desde que seja acompanhado de um sorriso. Para serem ouvidos por todos os passageiros, eles preferem ônibus menos lotados, fora dos horários de pico. O ideal é que todos estejam sentados. No fim do dia, o dinheiro arrecadado é divido igualmente entre os compõem a dupla. É uma atividade parecida com a dos vendedores ambulantes, por isso existe respeito entre eles. Quando tem algum deles dentro do ônibus, os poetas não entram e vice-versa. E por dividirem o mesmo ambiente de trabalho, acabaram construindo uma parceria. Os artistas dão preferência a comprar produtos desses vendedores, que
na maioria das vezes fazem um preço menor para eles. As poesias são diversas, tratam de temas como cotidiano, crítica social, política e sentimentos. Os ouvintes costumam reagir, seja elogiando ou criticando, e até mesmo debatendo politicamente a temática tratada. Algumas vezes, há reações engraçadas. “É impressionante, às vezes a gente entra e a pessoa nem tá prestando atenção no que a gente tá falando, mas quando o Baiano começa a tocar, as pessoas tiram o fone do ouvido” – conta Rodrigo.
Ao infinito e além Com o sucesso do “Poesia de Busão” os integrantes pensam em ampliar o projeto abrangendo mais iniciativas e outrso espaços além do ônibus. Um exemplo é o “Sarau Pirata”, que consiste em ocupar um espaço para distribuição de fanzines, declamação de poemas e venda de comidas e bebidas. Além disso, existe uma proposta de criação de um canal no youtube para divulgação dos trabalhos autorais do coletivo.
Mariana dos Anjos
Rodrigo Silva passando o chapéu e recolhendo dinheiro e sorrisos
primeiramão 29 Maio 2016
www.cdpraquê? Como diria Milton Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”. E hoje, é na internet e nas redes e mídias sociais o ponto de encontro entre o público e artistas de todos os gêneros. Fernanda Bollis e Núbia Nascimento
Não faz muito tempo, mas de uma forma impactante, a internet chegou trazendo à tona celebridades instantâneas que há alguns poucos anos talvez jamais chegariam ao reconhecimento do grande público. Dentre tantos segmentos que apelam para a divulgação on line, os artistas estão entre os primeiros a se adaptarem e garantirem o seu espaço de trabalho. Diferente de alguns anos atrás, quando o artista investia até o último centavo para conseguir alguma divulgação esperando ser descoberto, hoje eles contam com canais, páginas e redes sociais para se autopromoverem e exibirem seus trabalhos, apresentando seus diferenciais. Entre estes estão vários jovens músicos capixabas que buscam o reconhecimento do público. O mercado é disputado e, por isso, usar a criatividade é essencial e pré-requisito indispensável para quem quer obter destaque e se manter na mídia. A facilidade de ter o trabalho divulgado gratuitamente em vários espaços da internet é uma excelente ferramenta para aqueles que fazem um percurso alternativo. Para o músico, que se apresenta com uma banda composta por mais seis integrantes, a internet é um auxílio que ajuda
30 primeiramão Maio 2016
suprir a falta de espaço para artistas capixabas nas rádios do estado. “A maior dificuldade de todo músico capixaba é enfrentar a barreira das rádios. Já gravamos para a TV, tocamos em bares badalados, temos músicas autorais, mas em rádios ainda nada. Toda a nossa divulgação é feita pela internet”, explicou o cantor. Interessado pela música desde os nove anos de idade e inspirado pelo próprio pai que tocava para a família na varanda de casa, Thiago aprendeu sozinho os primeiros acordes, e hoje faz sucesso entre os jovens que curtem o estilo sertanejo universitário, arrocha e modão de viola na noite capixaba. Promovendo suas canções em bares, o músico usa como principal ferramenta para divulgação do seu trabalho os canais que a internet oferece, entre eles YouTube, Facebook, Instagram, Whtasapp, SoundClound, Spotify, Google Play, Shazan e vários outros como forma de buscar contatos e aproximação de pessoas que curtem o trabalho o estilo musial que escolheu. Buscando alcançar o público brasileiro e fazer shows nacionais, a banda conta com o baterista Eder Paz, o baixista Rafael Chaves, o sanfoneiro Tom Pessoa e ainda com quarto voca-
?.com listas e violeiros; Thiago e Lucas Medeiros, Thiago da Silva e Lucas dos Reis. Para o grupo o mercado, principalmente no Espírito Santo, é muito fechado e a valorização se dá ao que vem de fora. “Já recebi proposta de Rondônia, Bahia... já fiquei emocionado com vídeos de fãs de outros estados cantando nossas músicas no Youtube. Por isso, para mim a internet é sem dúvida um item fundamental, sem ela com certeza as barreiras seriam muito maiores. Se dependesse do rádio, dificilmente conseguiria divulgar minhas músicas.” Para incrementar a divulgação e a aproximação com o público, a banda distribui cartões de visita por onde passa e sorteia brindes, como copos personalizados fidelizando os fãs. “Sentimos uma aproximação mais forte ainda com a galera das montanhas do estado. Em Domingos Martins e Marechal Floriano, não há quem não goste de nossas músicas e isso é bem legal”.
Thiago Medeiros promove suas canções por meio de canais na internet e se emociona com a resposta dos fãs
canais preferidos pelos músicos Youtube- utilizado para divulgação audiovisual, facilitando o público interessado a achar conteúdo musical. Para o artista, a concentração de todo o seu material em um só lugar e divulgação em vários canais permite analisar o alcance de suas publicações por meio do número de visualizações, e fazer dinheiro por com os vídeos. Facebook: além de compartilhamento de vídeos, o artista pode também, divulgar fotos e postagens escritas, concentrando todo material em uma página perfil. Nessa rede social, é possível a interação direta com o público e se ter respostas imediatas a respeito do efeito causado pelo seu trabalho. Instagram: usado para postagens de fotos, com um perfil pessoal, onde o artista se aproxima do público com fotos cotidianas ou até mesmo artes que divulguem seu trabalho. Twitter: interação com o público por tweets, de caráter mais informal, onde o artista torna públicas as suas ideias e opiniões. Spotify: serviço de música em streaming, que disponibiliza o acesso a milhões de músicas.
primeiramão 31 Maio 2016
P
ara uma geração que está sempre à procura de “um quê a mais” em tudo o que se faz, hoje existe uma grande oferta de produtos exclusivos e personalizados, e o ato de ir às compras pode se transformar num evento badalado do fim de semana. O mercado dos bazares culturais tem crescido e é promissor, misturando diversos tipos de produtos cheios de personalidade, arte, música, muita diversão e atos de solidariedade através de ações beneficentes. Os bazares culturais têm programação diferenciada e envolvem um pouquinho de tudo. Os produtos são únicos, vendidos pelos próprios artistas por um preço justo, proporcionando uma experiência singular aos consumidores. A manifestação artística nesse tipo de bazar não só é possível, como é essencial. Na Grande Vitória, as produtoras Antimofo e Galpão Produções/ IBCA são exemplos que acolheram a ideia e participam da produção dos bazares “Eu Amo JP” e “Coisas de Lucia”, respectivamente. Esses eventos têm o desafio de fazer com que as pessoas consumam mais produtos locais, muitas vezes de pequenos produtores, que os produzem manualmente e em menor quantidade. O público-alvo é composto por pessoas de diversas idades, que têm interesses por atividades artístico e pela valorização da cultura local e de produções autorais. Eu amo JP A capixaba Tatiana Beling, 34 anos, que atua na Antimofo há mais de 10 anos, é produtora cultural e, atualmente, curadora do evento “Eu Amo JP” . “O Eu amo JP surgiu antes da minha participação. Em 2015, a produtora Antimofo resolveu
32 primeiramão Maio 2016
Tudo jun to e mis tu rado Bárbara Azalim
Os bazares culturais estão ganhando espaço e chegam misturando diversos produtos, arte, diversão e valorização da cultura local
realizar o evento com a intenção de ajudar entidades e movimentar o bairro. Fizeram duas edições no formato de feira beneficente gastronômica com DJs. Com a minha participação este ano, resolvemos produzir no formato de show, feira de moda, flash day de tatuagem e feira gastronômica”, contou. Para Beling, a produção do próximo evento começa no momento em que o atual finaliza. Envolve muita pesquisa e apuração de indicações, além da participação em outras feiras para checar o que acontece de legal, especialmente relacionado a decoração. A internet, é claro, também facilita e ajuda, especialmente na procura por produtores e pequenos produtores locais. “A seleção de artistas varia bastante. Os DJs são selecionados a partir da turma que já costuma tocar nas festas tradicionais da Antimofo. Procuro por bandas legais, de preferência que tenham músicas autorais. Às vezes é alguma que vi em show recentemente e gostei, ou
uma que esteja lançando algo no momento”, explicou. “Procuro também não repetir um tipo de produto na mesma edição, para que os artistas não saiam prejudicados. Por exemplo, quando chamo uma pessoa que faz biju, só chamo essa marca que venda biju e pronto”, completou. A seleção de comidas para o evento também pretende não repetir vendedores com um mesmo tipo de produto, conta Beling. “Sempre busco ter algum tipo de hamburguer, opções veganas e um doce. As comidas em nossas feiras vendem muito bem, e sempre recebemos indicações. Isso é muito bom”, alegrou-se. A entrada dos bazares culturais da produtora Antimofo são sempre com fins beneficentes, contou Beling. “Sempre ligamos para a instituição que escolhemos ajudar para saber do que eles precisam, e então a entrada do evento varia de acordo com essa necessidade. Um dos membros da Antimofo tem uma filha autista, então, entre as institui-
ções escolhidas, sempre decidimos por ajudar a Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo, a Amaes”, exemplificou. Coisas de Lúcia O bazar cultural Coisas de Lúcia também se ocupa de expor trabalhos autorais locais, como conta o produtor Paulo Gois Bastos. “Em 2016 realizamos a primeira edição do Coisas de Lúcia, por isso, convidamos diretamente os artistas e empreendedores que já conhecíamos e que desenvolvem trabalhos autorais. Para as próximas edições, pensamos em lançar algum tipo de convocatória, pois recebemos solicitações de outras iniciativas querendo fazer parte do evento”, comentou. “Nessa primeira edição, cuidamos para que, entre os expositores presentes, houvesse produtos e serviços diversificados e, preferencialmente, que não concorressem entre si”, ressaltou. Gois contou também que a sede
da Galpão Produções, no Bairro República, é “uma casa confortável espaçosa e convidativa para eventos abertos”. Muitos dos parceiros e fornecedores da produtora atuam, de alguma forma, em empreendimentos da economia criativa. “Foi devido a esse contexto que decidimos realizar o Coisas de Lúcia. Foi a nossa primeira edição e a entrada no evento é franca. O desafio é aliar uma variedade de empreendimentos e uma programação artístico-cultural que seja adequada ao espaço, que mobilize um público igualmente diverso”, acrescentou. O Coisas de Lúcia realizado em e abril, envolveu 20 expositores que comercializaram produtos de decoração, artes visuais, bijuterias, artesanato, moda, publicações independentes, esculturas, tatuagens, entre outros. O evento também abriu espaço para o lançamento do livro “Cavidades”, de Anderson Bardot e da marca “Que Mal Há” de Juliana Lisboa; a exibição de filmes, entre eles alguns curtas da diretora de cinema Lucia Caus; o show do músico Fabricio Oliveira; e o funcionamento de um brechó.
primeiramão 33 Maio 2016
Yes, we
can!
Que os brasileiros andam falando mal o inglês, isso já não é mais novidade. Em um giro pela Ufes, encontramos dois programas que prometem ajudar você a resolver os problemas com a língua estrangeira.
Segundo uma pesquisa que avalia a proficiência global da língua inglesa, o Brasil encontra-se na 41ª posição entre 70 países. De acordo com a empresa de educação internacional EF Education First, responsável pela pesquisa, os países foram classificados a partir do resultado da compreensão gramatical, vocabulário e domínio de leitura de adultos. Classificado com proficiência “baixa” com pontuação de 51,05, o Brasil ficou atrás de países vizinhos como Argentina (15ª) e Peru (35ª) no ranking. Entre os estados brasileiros, o destaque ficou para o Distrito Federal com proficiência classificada “moderada” (54,14), seguido por São Paulo (53,06) e Rio de Janeiro (52,49). O Espírito Santo ficou na 10ª posição com 50,14 pontos. Buscando inverter esse quadro o Ministério da Educação promoveu o programa “Idioma sem Fronteiras” que já se encontra em atividade em mais de 63 universidades espalhadas pelo Brasil. Elaborado com objetivo de fortalecer e proporcionar mais oportunidades de acesso, junto do programa Ciências sem Fronteiras e outros programas de mobilidade estudantil o curso é totalmente gratuito.
34 primeiramão Maio 2016
Dentre os idiomas ofertados, o IsF – Inglês na Universidade Federal do Espirito Santo - UFES, é ofertado desde 2013. Para atender tal demanda, suas ações incluem cursos a distância (MyEnglishOnline) e cursos presenciais, além da aplicação de testes de proficiência TOEFL ITP. Os alunos e servidores interessados em participar do programa precisam inicialmente realizar o exame de proficiência na língua inglesa, reconhecido internacionalmente, que também é oferecido pela UFES gratuitamente, para que turmas possam ser organizadas de acordo com o nível de cada aluno. A inscrição, tanto para a prova quanto para as aulas presenciais, é feita através do endereço isfaluno.mec. gov.br. Aulas como Gramática com foco na oralidade, Conversação Inglesa e Leitura e Escrita Acadêmica são algumas das aulas presencias ofertadas no campus de Goiabeiras. Outras turmas também são disponibilizadas para os alunos nos campi de São Mateus, Maruípe e Alegre. Segundo a professora do Isf, Ana Luísa Castro, o interesse em estudar inglês pelos alunos da UFES vem crescendo graças ao processo de internacionalização do ensino
Christal Rios
pela qual a Universidade vem passando. “Estamos recebendo muitos alunos estrangeiros em nossa universidade e as oportunidades de publicação de nossas pesquisas em revistas internacionais e bolsas de intercâmbio para fora do país estão mais amplas, o que torna o inglês uma necessidade na vida de nossa comunidade acadêmica. Vemos isso no interesse de nossos alunos, que realmente estão se esforçando para aprender a língua inglesa” garantiu. Outro programa encontrado no campus é o English Teaching Assitants (ETA). De suporte ao IsF- Ingês, para participar basta acompanhar a página no facebook e mostrar interesse nas aulas ofertadas. Os professores são nativos de diferentes regiões dos Estados Unidos e oferecem durante o ano aulas presenciais gratuitas. Cada semana, uma atividade de imersão na cultura dos falantes nativos de língua inglesa é elaborada, como English Happy Hour e Practice Yoga and English. Dessa forma, os cursos visam enfatizar o desenvolvimento da comunicação oral e escrita, o conhecimento de culturas acadêmicas em países onde se usa a língua inglesa no ensino superior e a interação aluno-aluno e professor-aluno.
FARDO Carreguei durante um tempo o peso do mundo amarras perniciosas, mortais patriarcado imundo que me corrompe o ventre me obriga a ser sexo a ser santa, a ser musa e não gente por baixo de lençóis de seda me abusa me transforma em comida e me usa são os ratos limpos da cidade que se escondem dentro das casas nos traçando a humanidade Higienizado é o meu corpo e a sujeira da falácia não tem desculpa de onde sou pra onde vou convive o fantasma da culpa um estupro se completa a cada minuto é a piada que se sustenta no silêncio absoluto. Poesia: Alena Moreira Fotografia: Moreno Loss Modelo: Micardal primeiramão 35 Maio 2016
36 primeiram達o Maio 2016