JORNAL DA BATALHA EDIÇÃO AGOSTO 2017

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Opinião Espaço Público

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Jornal da Batalha

Baú da Memória Vergílio Pereira, um acordeonista de prestígio Vergílio Pereira é um acordeonista que foi acumulando justa fama desde a sua apresentação em público há perto de quatro decénios. Iniciou-se muito cedo na música quando, aos 9 anos, começou a aprender solfejo na centenária e muito conceituada Filarmónica da Maceira. E aqui abro um parênteses para reafirmar a minha muita admiração por esta filarmónica e pelas suas congéneres da região e do País, sempre as grandes escolas da sensibilidade do

nosso Povo. Da filarmónica da sua terra natal veio, com cerca de 15 anos, para o Rancho Folclórico Rosas do Lena onde se tornou responsável pela tocata, no agrupamento permanecendo mais de trinta anos. Chegou, entretanto, o tempo do cumprimento do Serviço Militar e, na Região Militar de Lisboa fez parte dum célebre grupo de variedades, o “Alerta Está”, donde saíram diversos artistas de renome. Voltou às lides folclóri-

cas, tanto no Rosas do Lena como no Rancho Folclórico da Maceira e, paralela a esta sua valiosa colaboração, iniciou-se na composição da música ligeira e popular portuguesa tendo hoje gravadas mais de 160 peças em perto de vinte discos. A sua invulgar vocação para o acordeão e para a animação, verdadeiro mestre nos dois casos, dos espectáculos, levou-o a constituir um grupo musical que se tornou conhecido e admirado não só na nossa região, como noutros pontos

do País e, inclusivamente, do estrangeiro. Sempre muito ligado à Batalha, foi colaborador da conceituada empresa “Industrial Agrícola” fundada na Rebolaria pelo dinâmico empresário Adriano de Sousa Monteiro, que proporcionou trabalho e formação a inúmeros jovens, continuando sempre em empresas sucedâneas daquela. Com uma natural da Rebolaria, Céu Moreira Ruivo, casou. Do matrimónio há duas filhas, a Dr.ª Sara e a Dr.ª Carolina, esta

com uma carreira brilhante na Universidade de Barcelona. Vergílio Pereira foi um dos fundadores da Rádio Batalha, e inclusivamente membro dos seus corpos gerentes, na estação mantendo vários anos, nas ma-

nhãs dos sábados, um programa muito apreciado pelos ouvintes. Da capa de um dos seus discos mais recentes recorta-se a imagem que ilustra este breve apontamento. José Travaços Santos

s A opinião de António Lucas Presidente da Assembleia Municipal da Batalha

Proteção Civil Especialmente no último mês, a Proteção Civil tem andado nas bocas do mundo e nem sempre pelas melhores razões. Aliás, quando se anda nas bocas do mundo, normalmente não é por boas razoes. Para que conste e salvo raras exceções, que existem, a Proteção Civil são as câmaras os bombeiros, a GNR, as populações e pouco mais. Não quero ser injusto e por isso mesmo tenho de referir que nalguns casos a estrutura da ANPC - Autoridade Nacional de Proteção Civil dá um apoio importante, em situações de catástrofe ou de acidentes graves. Mas na maioria dos casos, são as estruturas locais que dão o corpo às balas e resolvem a maioria dos problemas. Em primeiro lugar, sou de opinião que a estrutura da Proteção Civil deve ser dotada de profissionais competentes, independente-

mente das suas opções partidárias, o que infelizmente continua a não acontecer. Se as pessoas que compõem os quadros da Proteção Civil são competentes devem continuar, independentemente das suas opções partidárias e das mudanças de governo. Em segundo lugar, nunca deveria haver rotações de quadros destes organismos na proximidade de períodos difíceis, como e a época dos incêndios. Em terceiro lugar é fundamental que conheçam bem os territórios, mas mais importante do que isso, é fundamental que conheçam os agentes que irão estar no terreno, nomeadamente os comandantes e os comandantes dos corpos de bombeiros. O conhecimento e a confiança pessoal ajuda a resolver problemas urgentes, evitando passos a que a bu-

Propriedade e edição Bom Senso - Edições e Aconselhamentos de Mercado, Lda. Diretor Carlos Ferreira (C.P. 1444) Redatores e Colaboradores Armindo Vieira, Carlos Ferreira e João Vilhena;

rocracia obriga, mas que em situação de catástrofe devem ser tratados no tempo certo e depois de se salvarem as pessoas ou os seus bens e nunca antes. Se as pessoas não se conhecerem, se não existir a tal confiança, a burocracia tolhe a ação, com prejuízo para as populações. Por outro lado, se a rotação das pessoas for constante, jamais existirá esse tempo necessário ao conhecimento e à obtenção da confiança, que precisa de tempo para sedimentar. Por inerência de funções autárquicas, tive a responsabilidade da Proteção Civil municipal. Durante 16 anos, procurei sempre, em situações de catástrofe, acompanhar de muito perto os problemas e as pessoas que estavam no terreno e que tinham conhecimento e formação, para as ajudar a resolver de forma o mais rápida e eficaz possível, não

António Caseiro, António Lucas, Célia Ferreira, comendador José Batista de Matos e José Travaços Santos. Entidades: Núcleo da Batalha da Liga dos Combatentes, Museu da Comunidade Concelhia da Batalha e Unidade de Saúde Familiar Condestável/ Batalha. Departamento Comercial Teresa Santos (Telef. 918953440)

atrapalhando e intervindo apenas quando a minha intervenção seria uma mais valia para a resolução de problemas pontuais ou em contactos que poderia fazer de forma mais linear e rápida. A meu ver, deve ser este o papel das pessoas que ocupam cargos políticos, deixando a atuação no terreno para quem sabe do ofício, concretamente para os técnicos e os especialistas. Quando assim não é normalmente as coisas têm fortes probabilidades de correrem mal. Os ocupantes de cargos políticos, devem acompanhar, dando apoio, força e conforto a quem está no terreno e ajudar a resolver problemas, tão só e apenas quando a sua intervenção possa se uma mais valia. De outra forma só servem para exercer pressão desnecessária, que só complica em vez de ajudar. Sou de opinião que deve-

Redação e Contactos Rua Infante D. Fernando, lote 2, porta 2 B - Apart. 81 2440-901 Batalha Telef.: 244 767 583 - Fax: 244 767 739 info@jornaldabatalha.pt Contribuinte: 502 870 540 Capital Social: 5.000 € Gerência Teresa R. F. M. Santos e Francisco M. G. R. Santos (detentores de mais de 10% do Capital:

ria existir uma estrutura de âmbito regional, assente nas CIM - comunidades intermunicipais, que tivesse por função coordenar e gerir os meios disponíveis no universo dos concelhos que a compõem, no caso de Leiria, os dez concelhos do centro e norte do distrito de Leiria. Seria uma estrutura pequena, mas ágil e com uma ligação muito forte e próxima a todos os corpos de bombeiros e às estruturas das CIM limítrofes. Estaria sediada num dos corpos de bombeiros e coordenaria a atuação em caso de catástrofe. Estou convicto que se poupariam meios, mas acima de tudo gerir-se-iam muito melhor e de forma mais coordenada as situações de catástrofe. Ao lado deveria existir uma pequena estrutura dotada de condições para a gestão e ordenamento florestal que ajudaria e colaboraria com as estru-

Teresa R. F. M. Santos e Francisco M. G. R. Santos) Depósito Legal Nº 37017/90 Insc. ERC sob o nº 114680 Empresa Jornalística Nº 217601 Produção Gráfica Semanário REGIÃO DE LEIRIA Rua Comissão de Iniciativa, 2-A, Torre Brasil, Escritório 312 - 3º Andar, Apartado 3131 - 2410-098 Leiria Telef.: 244 819 950 - Fax 244 812 895

turas concelhias, vulgo gabinetes técnico florestais, nas fortes intervenções que se tem que fazer, no ordenamento e gestão florestal, impulsionando e ajudando na montagem das ZIF - zonas de intervenção florestal. Poderia ser o começo de um trabalho de décadas que temos pela frente, mas este sim, com vista a resolução definitiva do problema dos incêndios, que continuo a defender, só se resolvem evitando-os. De outra forma, continuaremos a potenciar a indústria do fogo e os interesses a ela associados.

Impressão: Diário do Minho, Lda. Tiragem 1.000 exemplares Assinatura anual (pagamento antecipado) 10 euros Portugal; 20 euros outros países da Europa; 30 euros resto do mundo. O estatuto editorial encontra-se publicado na página da internet www.jornaldabatalha.pt


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s Diacrónicas

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_ Editorial Francisco André Santos

O melhor da educação inglesa É já a 7ª vez que volto ao Reino Unido para uma escola de verão da língua inglesa. As quatro primeiras com menos de um metro e meio de altura. Nestas últimas três com pouco mais de um metro e meio, mas com a responsabilidade de “House Manager”, capaz de fazer a ponte entre o sotaque britânico e as línguas latinas. Os professores ficam muito surpreendidos com o nível de inglês das crianças portuguesas que aqui chegam. Justifico com a falta de dobragem de filmes e séries. Nisso, temos vantagem. “Francisco, conheces o Gonçalo? Ele é tão fofinho!” Confessa-me uma professora. Este mesmo grupo de alunos seletos apresenta uma diversidade de sotaques. No inglês, é com orgulho que afirmo que não se nota. Se bem que caí na monotonia de repetir esta responsabilidade. Por esta altura aquilo que me dá mais prazer é rever alunos e colegas que passado um ano volto a encontrar no meio de nenhures, Inglaterra, num campus que tanto se assemelha a Hogwarts como às descrições de Eça sobre a educação inglesa. Um lugar

onde os alunos que aqui residem ao longo do ano praticam rugby, cricket, ténis ou hóquei, entre outros talentos. Acredito que cada vez que volto percebo um pouco melhor o país. Muitos dos meus colegas tiveram direito ao privilégio de estudar neste colégio, tal como a grande maioria da elite do país. O ano passado comecei a ser capaz de os distinguir pelo sotaque. Todos eles são bons rapazes e raparigas, mas neste país o sotaque distingue classe a par da geografia. Nem todos têm aulas para aprender a acentuar o seu “Queen’s English”. Esta estratificação da sociedade preocupa-me. A política é pouco discutida. Enquanto isso, é devido à hiper-regulamentação da sociedade que tanto monitores como professores são obrigados a passar uma série de testes para comprovar que estão aptos a trabalhar com crianças. Temos que aprender alguns valores britânicos (entre eles a Democracia) enquanto somos ensinados a detetar potenciais casos de terrorismo entre staff e crianças. Existem sistemas de vigilância nas casas, no

exterior, nas salas de aula. No entanto, a experiência dos membros de staff é diferente da dos alunos, que interagem com todas as outras nacionalidades. Aprendi que uma coisa é a língua Inglesa, outra, é a cultura britânica. Não me refiro à minha (falta de) pontualidade, mas antes numa ligeira separação que existe entre os continentais e os britânicos em termos de amizades. Posto de outra maneira, são os alunos que são os verdadeiros embaixadores da multiculturalidade, gritando palavrões em línguas estrangeiras pelos corredores, fingindo não saber o que significam. Muito poucas pessoas estiveram presentes em todo este percurso. No entanto, tive sempre o prazer de ser acompanhado pela Dona Helena, a quem os meus pais se referiram como sendo a “Big Momma” que todos os anos acompanha o grupo português. Tive sorte! Este ano tive direito a meia dúzia de pastéis de nata. Ainda se recorda das minhas “moves” de dança que repetia continuamente na “disco”. Os meus amigos que me acompa-

Carlos Ferreira Diretor

nharam nesta aventura também ainda simulam estas “moves”. “Isto de dançar é giro!” Dizia aos meus pais numa altura em que o roaming não permitia alongar a descrição das novas descobertas. Por mais estranho que pareça, agora falo com eles por mais de meia hora pela Internet. Não é necessário ir para Inglaterra para se poder ter uma experiência semelhante. O estar longe dos pais é já por si emancipatório. Destas experiências, mais do que me começar a vestir sozinho, hoje volto a casa e tenho o privilégio de poder traduzir libras para euros e contos. O que retenho é que a educação inglesa mudou, mas as amizades, resistem. Amigo, amico, drug, ami, mate!

s Pestanas que falam Joana Magalhães

Perto da vista, longe do coração Na primeira quinzena de julho passei uns dias na praia do Baleal, em Peniche, com os meus pais. Uma coisa que sempre notei no areal é que pouca conversa é secreta. Um ouvido encostado à areia durante um “banho de sol” funciona involuntariamente como altifalante para os diálogos envolventes. Foi num destes momentos que dei conta de uma conversa que se desenrolava no “posto” ao lado do nosso e me intrigou. Estavam dois senhores idosos sentados em cadeiras de praia. Falavam sobre televisão. O primeiro comentava que era uma “chatice” só ter acesso aos quatro primeiros canais na sua casa de férias no Baleal. O segundo concordava. O primeiro acrescentou que estava habituado aos 200 canais que tinha em casa, serviço que comprou juntamente com telefone e rede wi-fi para que os filhos e os netos não “apanhassem seca” quando o iam visitar. Aí está a questão que me intrigou. Para onde caminhamos

quando um avô se vê forçado a comprar Internet para a sua casa para que a família esteja entretida enquanto o visita? A Internet sempre foi considerada um fator de aproximação, uma vantagem para quando es-

tamos longe de alguém que gostamos. Os chats, as videochamadas online, tudo isso permite que vejamos perto uma pessoa que está longe. No entanto, poucas vezes pensamos no inverso: as pessoas que

estão perto. O que acontece às relações quando, durante um encontro, não conseguimos “largar” o telemóvel? Será mesmo necessário haver wi-fi para uma família se reunir? Hoje em dia conversa-se muito pouco. Fala-se muito. Mas conversa-se pouco. Distraí-mo-nos demasiado com o que está por detrás do ecrã e esquecemo-nos de quem está ao nosso lado. Esquecemo-nos de lhe dizer o quanto gostamos dela, o quanto é bom podermos estar sentados lado-a-lado. Não podemos esquecer quem está longe, nem quem está perto. Está comprovado que o provérbio “longe da vista, longe do coração” perdeu o sentido, mas não o transformemos em “perto da vista, longe do coração”.

Suspenda-se o trabalho neste tempo de festas O trabalho deve (deveria) ser apenas instrumental. Um meio, não um resultado, um objeto final. Ou seja, o trabalho não é a felicidade, é um caminho para lá chegar – e o percurso é quase sempre o essencial. É por isso que a suspensão anual por 22 dias do tempo de trabalho alegra (quase) todos. E, havendo um mês que simbolize este estado de espírito, ele é agosto. O próprio nome parece induzir de imediato que faremos o que bem entendermos, a-gosto. A verdade, no entanto, é que a realidade é pouco amiga de planos ideais. É por isso, por exemplo, que é preciso muito trabalho e mão de obra para dar descanso a quem suspendeu temporariamente a obrigação de trabalhar. Ainda assim, agosto inspira tempo de festa, de praia, de vida ao livre, de um bom petisco na companhia da família e dos amigos. E dos emigrantes, cujo cíclico regresso à terra natal neste mês é um ritual social e cultural quase indesligável deste tempo quente. E não há aulas. Este é o mês que concentra a esmagadora maioria das festas e romarias em Portugal: umas 800! O país é palco de umas 2.100 festividades de janeiro a dezembro. O concelho da Batalha não é exceção e depois do aquecimento com o videomapping (projeção de vídeo em objetos) no mosteiro e da gala de eleição da Miss Portuguesa, chegam as festas concelhias com a maioria dos ingredientes que enunciei, desde o convívio aos emigrantes, passando pela música e pelos petiscos. Façamos, portanto, um breve intervalo no trabalho e aproveitemos. É que a vida são dois dias, mas as festas da Batalha são dois+cinco. Boas férias!


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Especial Festas de Agosto

Espetáculos enchem a vila p Os espetáculos são um dos principais atrativos das festas

m O principal destaque dos festejos recai no concerto do britânico Calum Scott, considerado um dos artistas mais populares em Inglaterra As Festas da Batalha apresentam este ano, à semelhança dos anteriores, dos principais nomes da música nacional, entre 11 a 15 deste mês. Mas o princi-

pal destaque dos festejos recai no concerto do britânico Calum Scott, no último dia, considerado um dos artistas mais populares do momento em Inglaterra e que faz a sua estreia em Portugal. Ao longo de cinco dias, o palco das festas, instalado no campo de futebol António Gomes Vieira, com acesso gratuito, recebe nomes como David Carreira (dia 11), GNR (12), D.A.M.A. (13) e a fadista Carminho no feriado concelhio (14).

Os concertos terminam a 15, com Calum Scott, seguindo-se um espetáculo piromusical e a atuação, no palco principal, dos DJs da RFM Rich & Mendes. Ainda no dia 15, a vila da Batalha recebe, a partir das 10h30, mais uma edição da prova de Atletismo Mestre de Avis, competição que recorrerá a cronometragem eletrónica, revertendo as receitas das inscrições (abertas até dia 10) a favor dos Bombeiros da Batalha.

Em simultâneo com os espetáculos decorre a Mostra das Atividades Económicas, instalada nas imediações da zona desportiva, com a participação de 15 empresas, incluindo produtores locais, com exposição de máquinas agrícolas, viaturas ligeiras e produtos regionais. No dia feriado municipal, o programa inclui, entre outras atividades, a inauguração da exposição “Investigação e Inovação no

Património”, no posto de turismo, a atribuição de medalhas de mérito a diversas instituições e personalidades e ainda o lançamento do livro “Anatomia do Mosteiro”, resultante de um trabalho de âmbito científico que contou com a participação de investigadores das universidades de Aveiro, do Porto e do Instituto Politécnico de Leiria. Decorre ainda o convívio anual com as comunidades da diáspora batalhense.

No recinto das Festas será ainda instalada a tenda eletrónica, bem como uma zona de restauração que conta com o envolvimento de seis associações e do Fundo Social dos Trabalhadores da Câmara. Há outras quatro coletividades nos festejos. Ainda no âmbito das festas, decorreu no dia 5, no Largo do Condestável, a Gala Internacional de Folclore, organizada pelo Rancho Rosas do Lena.


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Convívio e artistas justificam visita ao concelho nestes dias m O convívio na vila e os artistas são os principais atrativos das festas da Batalha, segundo habitantes do concelho e arredores. Para Luísa Machado, que recorda o primeiro concerto de Amália Rodrigues nas festas, é “uma semana inesquecível”. Já José Augusto, relembra o ano em que Marco Paulo, José Cid e António Variações fizeram parte do lote de artistas e considera que o facto da Batalha ser uma “vila bonita” atrai muita gente.

há duas ou três quintas abandonadas que poderiam ser uma solução para fazer uns parques, mesmo que fosse a pagar, e ficava mais organizado.

2. Eu venho pelos artistas e também pelo bom convívio que há aqui na Batalha. Este ano, por exemplo, há um cartaz muito bom e provavelmente venho quase todos os dias porque tem artistas muito bons. Mesmo não sendo de cá, provavelmente venho cá ver. 3. Acho que não há nada para melhorar. É bom para o concelho, traz vida, traz pessoas e mesmo para o comércio é bom uma iniciativa como esta.

1. O que mais gosta nas festas da Batalha e porquê? 2. Qual a memória mais antiga que tem das festas? 3. Se pudesse, o que melhoraria ou alteraria? mais fado seria bom ou até uma revista à portuguesa. De resto, o ambiente é magnífico. E acho que devia haver mais divertimentos porque em anos anteriores, quando eu era miúda, lembro-me que havia muitos divertimentos e agora há muito menos.

Maria Beatriz 24 anos Estudante Batalha

1. Gosto dos artistas que vêm e do convívio, de rever os amigos. 2/3. Gostava mais quando eram aqui ao lado do mosteiro, na zona da saída. Era mais engraçado. A memória mais antiga é mesmo o convívio com os colegas nessa zona.

Luísa Machado 59 anos Aposentada Batalha

1. Eu gosto de tudo e lembro-me sempre de vir, de nunca faltar. Dizer especificamente uma coisa que eu gosto é difícil, depende das bandas, dos artistas. Mas gosto de tudo, é uma semana realmente inesquecível para a Batalha. 2. A memória mais antiga que tenho é de quando veio cá a Amália Rodrigues pela primeira vez . Eu era miúda, devia ter 15 ou 16 anos. Depois quando a vila da Batalha fez 500 anos houve um espetáculo na porta principal do mosteiro em que veio a Amália Rodrigues, estiveram pessoas de todo o país e foi marcante. 3. Talvez haver artistas diferentes. Para mim, os artistas que vêm aqui no dia seguinte vão para Porto de Mós ou arredores e devíamos ter variedade. Mais fado, mais música tradicional portuguesa ou fado de Coimbra, que traz milhares de pessoas e toda a gente gosta. Eu sou apaixonada pelo fado de Coimbra, desde sempre, e acho que

José Augusto

51 anos Vendedor Comercial Golpilheira

1. Eu gosto do ambiente, é uma vila bonita que atrai muita gente e os próprios artistas também fazem com que a festa seja bonita. É um conjunto de caraterísticas que faz com que toda a gente goste, eu incluído. 2. Era eu muito novo quando veio cá o Marco Paulo, o José Cid e o António Variações. Já lá vão uns bons anos, eu era muito jovem e marcou-me porque eu convivi com eles pessoalmente. Consegui estar perto deles e do José Cid, e como também sou Zé diziam-me que eu era um bocado parecido com ele. Por isso tenho essa recordação e nunca mais me vou esquecer.

António Fernando 57 anos Soldador Juncal

1. O que mais gosto é o facto de haver muito povo e ser tudo muito bonito e divertido. Acho que é o mais indicado para a Batalha, as pessoas são muito humildes e é uma convivência muito bonita entre todos. 2. Já venho aqui às festas há cerca de 32 anos. O mais marcante são os artistas que têm vindo, como o Rui Veloso, que veio já há muitos anos. 3. O estacionamento é muito complicado. Quando chega a altura das festas é impossível, tem de se vir muito cedo ou então não há hipótese. Ali, como se fosse para Fátima,

3. As festas mudaram de local mas criou-se mais espaço e o evento também traz muito mais pessoas, por isso as festas estão bem.

Marta Luís

43 anos Empresária Porto de Mós 1. O programa das festas é muito aliciante.


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Assembleia Municipal distingue personalidades e entidades m O Jornal da Golpi-

dor “O Alguidar”; o Centro Cultural e Recreativo da Quinta Sobrado e Palmeiros, atendendo à conquista de diversos feitos desportivos pela equipa de Futsal; o Centro Recreativo de Alcanadas, atendendo ao sucesso através da organização do Passeio Pedestre Mata do Cerejal, e o Atlético Clube Batalha, pela promoção de iniciativas em prol do desporto e dos hábitos saudáveis.

lheira, que acaba de publicar a 241ª edição, e o Jornal da Batalha, que completou 27 anos em julho, também são distinguidos

A Assembleia Municipal da Batalha aprovou por unanimidade a atribuição, na sessão solene do dia do município, a realizar nas Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha, da Medalha de Mérito Municipal (Grau Ouro) ao anterior presidente da autarquia, António Lucas, e a Medalha de Mérito Municipal

p A ACILIS, que promove o Shop On na Batalha, é distinguida (Grau Prata) à Associação Comercial e Industrial de Leiria (ACILIS), Batalha e Porto de Mós, ao Orfeão de Leiria e à delegação de Lei-

ria da Associação Nacional de Freguesias. No sentido de distinguir a cultura e o mérito desportivo, serão galardoadas com

o Grau Prata a Associação Cultural e Desportiva da Lapa Furada, de São Mamede, devido à fundação do Grupo de Teatro Ama-

RECONHECIMENTO. Serão ainda distinguidas a Associação Casa do Mimo, na área da solidariedade e do apoio à deficiência, o Jornal da Golpilheira, que acaba de publicar a 241ª edição, e o Jornal da Batalha, que completou 27 anos em julho. “A distinção da Assem-

bleia Municipal, por unanimidade, note-se, é sobretudo um reconhecimento que deve, em primeiro lugar, ser dirigido aos nossos Leitores, Anunciantes e Colaboradores, sem os quais o nosso trabalho não daria frutos”, considera Carlos Ferreira, diretor do Jornal da Batalha. “Por outro lado, constitui também uma responsabilidade acrescida para nós que, atendendo aos meios e às circunstâncias em que vivem os média atuais, procuramos responder o melhor possível às necessidades dos nossos Leitores e Anunciantes, nomeadamente através do recente lançamento do nosso site em www.jornaldabatalha. pt”, conclui o jornalista.



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ENTREVISTA Paulo Batista Santos, Presidente da Câmara da Batalha

“O grande desafio é prolongar a estadia na Batalha de quem nos visita” m As festas de agosto são uma das vias de internacionalização da marca Batalha, daí o cabeça de cartaz deste ano ser um cantor inglês. Quem o afirma é o presidente da câmara, Paulo Batista Santos, que nesta entrevista explica a estratégia do município na área do turismo e quais os resultados obtidos

Qual a razão do cabeça de cartaz ser um artista estrangeiro? As festas traduzem a aposta do município em promover e internacionalizar a marca Batalha, procurando corresponder ao interesse crescente do turismo, sobretudo internacional, pelo Mosteiro da Batalha. Desde que trabalhamos em parceria com o turismo Centro Portugal e com o Turismo de Portugal, promovendo a Batalha interna e externamente, temos estado em mercados internacionais como a China, Rússia, Índia ou Inglaterra. Nestas festas, procuramos que a presença do artista Calum Scott traga reconhecimento também internacional ao evento e mais visitantes, no fundo o nosso objetivo num concelho que se afirma cada vez mais como uma marca relevante da região e do país. O videomapping no mosteiroeoconcursoMissPortuguesa também correspondem a essa estratégia? Correspondem à estratégia que apresentámos há dois anos e as parcerias que estabelecemos financiam os eventos. O projeto Lugares do Património da Humanidade financiou inteiramente o espetáculo do videomaping e financia outros, não necessariamente iguais, mas também associados à luz e ao som que teremos em 2018. As misses têm uma grande penetração na nossa diáspora e vão participar em concursos internacionais, pelo que toda a promoção feita na sua par-

ticipação tem a marca da Batalha. Estas atividades estão concentradas na época alta. O que tem feito para combater a sazonalidade? Creio que temos dado um bom contributo, trazendo à Batalha novos eventos, procurando parcerias fortes, nomeadamente com o Orfeão de Leiria, proporcionando concertos regulares no mosteiro. Temo-lo feito também com outros eventos, com a FIABA, o Lisbon Festival, e potenciado o Natal, com parcerias com os comerciantes, ou trabalhos muito específicos em torno do MCCB, na Pia do Urso, no turismo da natureza. Tem dados que permitam comparar este ano com 2016 em termos de visitantes? Os dados do primeiro semestre em relação ao mosteiro apontam para um valor recorde com mais de 205 mil visitantes, um crescimento na ordem dos 20% face ao período homólogo de 2016. No posto de turismo foram atendidas 2.936 pessoas em 2014, 3.089 no ano seguinte e 4.156 pessoas no ano passado. OS turistas estão a ficar mais tempo do que era habitual? Esse é o grande desafio que temos tido e estamos a ganhá-lo, a prolongar de facto a estadia de quem nos visita. O nosso objetivo é criar uma centralidade na Batalha, de modo a que os turistas fiquem e, a partir daqui, visitem Leiria, Marinha Grande, Alcobaça ou Fátima. Para isso contri-

“O nosso objetivo é criar uma centralidade na Batalha” “A requalificação do rio Lena não está ainda bem resolvida” buem, por exemplo, a parceria com a Fundação da Batalha de Aljubarrota ou o trabalho que estamos a desenvolver mais recentemente na componente militar - o turismo militar é muito relevante. A Batalha recebe, e aí está um dos aspetos de combate à sazonalidade, todo o ano pelotões e ex-militares que fazem aqui os seus encontros nacionais. Temos o Panteão Nacional, Soldado Desconhecido, Mouzinho de Al-

buquerque, patrono da Cavalaria; Nuno Álvares Pereira, patrono do Exército; fatores que podem contribuir para prolongar a estadia de militares e ex-militares. Énessecontextoqueacâmara quer recuperar a Quinta da Várzea, onde viveu Mouzinho de Albuquerque? É um desafio que nos foi lançado pelo chefe de estado maior do Exército e responsáveis da arma de Cava-

laria informaram que estão disponíveis para colaborar com o município para que muito espólio existente fique na Batalha. Temos recebido a maior recetividade por parte do Seminário Diocesano de Leiria (proprietário da quinta) e a solução final passará por uma parceria, porque também está muito interessado em preservar o espaço. Mas o seminário não cede o edifício? Quer manter a propriedade, mas está muito disponível para colaborar com a câmara. É um projeto em que estamos a colocar bastante empenho, no sentido de o recuperar mantendo a propriedade atual, porque há um risco muito forte da quinta desaparecer em definitivo. Se tivesse meios imediatos, em que área gostaria de investir? Há uma componente que não está ainda bem resol-

vida e eu gostava de resolver melhor, sendo certo que é uma tarefa que exige meios: a requalificação do rio Lena. A questão ambiental no concelho não está bem resolvida, ainda temos entidades poluentes que continuam a criar dificuldades, sobretudo nas linhas de água, nomeadamente as suiniculturas, mas não só. A câmara só tem competências muito restritas nas zonas urbanas, mas gostaria que pelo menos a linha principal do rio Lena pudesse ser reabilitada e que o município pudesse ter condições de o devolver às pessoas como eu o conheci em jovem. Já fizemos duas intervenções de requalificação das margens, mas se tivesse possibilidades gostaria de ver uma ecopista na proximidade das margens, onde as pessoas pudessem passear da Batalha até à Golpilheira.



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Batalha Opinião

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s Fiscalidade

Simplificação dos procedimentos de restituição de IVA O Presidente da República promulgou a Lei que simplifica os procedimentos de restituição de Imposto Sobre o Valor Acrescentado (IVA), às instituições particulares de solidariedade social, às forças armadas e serviços de segurança e aos bombeiros. A implementação deste sistema eletrónico de restituição de IVA, permitirá tornar mais célere o processamento daqueles pedidos e o consequente pagamento aos beneficiários, aproveitando a informação eletrónica de faturação já recebida pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), reduzindo ainda os custos administrativos. As associações humanitárias de bombeiros e os municípios, relativamente a corpos de bombeiros, quanto aos bens móveis de

equipamento diretamente destinados à prossecução dos respetivos fins, incluindo os serviços necessários à conservação, reparação e manutenção desse equipamento; A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e as instituições particulares de solidariedade social (IPSS), quanto a: Construção, manutenção e conservação dos imóveis utilizados, total ou principalmente, na prossecução dos fins estatutários; Elementos do ativo fixo tangível sujeitos a depreciamento utilizados única e exclusivamente na prossecução dos respetivos fins estatutários, com exceção de veículos e respetivas reparações; Aquisições de bens ou serviços de alimentação e bebidas no âmbito das atividades sociais desenvolvidas; O montante a restituir é

de 50 % do valor equivalente ao IVA suportado nas aquisições internas, nas importações e nas aquisições intra-comunitárias e 100% deste valor, nos restantes casos, conforme legislação. O pedido de restituição é apresentado pelo beneficiário, por transmissão eletrónica de dados, a partir do segundo mês seguinte à emissão dos documentos de suporte, até ao termo do prazo de um ano da data de emissão daqueles. Deve reportar-se a períodos mensais, englobando a totalidade dos documentos de suporte. Constituem documentos de suporte, as faturas emitidas nos termos previstos no Código do IVA e comunicadas pelo sujeito passivo à AT, as declarações aduaneiras de importação, bem como os documentos

previstos na Lei e do Regime do IVA nas transações intra-comunitárias. Os documentos de suporte devem ser mantidos em arquivo pelo prazo de 4 anos, sem prejuízo dos prazos de conservação de documentos estabelecidos para efeitos fiscais. Os pedidos de restituição são analisados pela AT no prazo de 90 dias, após confirmação da respetiva elegibilidade, por transmissão eletrónica de dados. O pedido de restituição pode ser corrigido por iniciativa do beneficiário. Quanto às IPSS, pelo dirigente máximo da administração central direta do Estado que exerça os poderes de inspeção, auditoria e fiscalização ou outra entidade que exerça a tutela nos termos legais. A AT pode proceder à

correção do benefício apurado, por iniciativa própria ou com base em correção do pedido de restituição por iniciativa do beneficiário, determinando o montante a restituir ou a pagar, sendo o valor a pagar deduzido das restituições subsequentes no prazo de 90 dias e emitida liquidação adicional do remanescente. A restituição fica suspensa enquanto a entidade requerente não tiver a sua situação tributária regularizada. As restituições autorizadas e não suspensas são pagas exclusivamente por transferência bancária para o IBAN (número internacional de conta bancária) que conste da base de dados da AT. O presente decreto-lei entra em vigor no dia 1 de julho de 2017.

1984, algo que deverá ter sido propositado. Gordon Clark (Scoot McNairy) é o engenheiro informático. Podemos destacá-lo como sendo o mais realista dos três. Este facto é explicado pela sua vida estabelecida e bem resolvida. É casado com Donna (Kerry Bishé), uma das personagens que vai ganhando imenso protagonismo durante o desenvolvimento da história. Têm duas filhas e sonham ter uma vida desafogada. A experiência e pragmatismo de Gordon impedem-lhe que sonhe tão alto como os seus dois amigos. Percebemos que tem muita inveja de Joe. O plágio é uma constante em toda a teia dos acontecimentos. Muitas das ideias

que os protagonistas vão tendo são constantemente roubadas. A seguir à primeira temporada, cada um deles segue um rumo diferente. Cameron na criação de jogos online, ainda nos primeiros passos da Internet. Joe no mercado dos anti-vírus. E Gordon a tentar desenvolver um novo computador revolucionário. Nesta derradeira aventura que se aproxima, vemo-los a trabalhar juntos de novo nos inícios dos anos 90. Ainda existem muitos nomes na indústria informática que nos são desconhecidos, e a história que agora termina demonstra bem esse facto.

António Caseiro Mestre em Fiscalidade Pós-graduação em Contabilidade Avançada e Fiscalidade Licenciatura em Contabilidade e Administração

s Crónicas do Passado

Halt and Catch Fire: Os Gigantes da Informática A 19 de agosto iremos assistir ao fechar do círculo de uma das séries mais ambiciosas da televisão americana, trata-se da 4ª temporada da série Halt and Catch Fire. A história decorre em meados dos anos 80, onde somos convidados a acompanhar as vidas de três génios da informática, nas suas vertentes mais importantes. Juntos propõem construir o mais rápido computador portátil que o mundo já viu, o GIANT, com o apoio da empresa texana Cardiff Electric. O título que dá nome à série, refere-se a um controlo de destruição informático. Joe MacMillan (Lee Pace) é um visionário, que dedicou parte da sua vida a trabalhar na IBM, através dos

contactos do exigente pai. A perda da mãe, quando ainda era jovem, causou-lhe um grande trauma. As suas ferramentas podem ser mais comparadas às de um criativo, pois apesar de não possuir conhecimento em engenharia ou programação, tem consciência das necessidades do mercado. A sua personagem foi claramente baseada em Steve Jobs, numa vivência constante pelo belo e perfeito, mesmo que custe perder o emprego. Cameron Howe (Mackenzie Davis) é uma jovem programadora, que é contratada por Joe logo após acabar o curso. Quando MacMillan viu o seu potencial, ao corrigi-lo numa palestra que deu na Univer-

sidade, apercebeu-se que tinha de a ter ao seu lado no projecto do GIANT. A outra razão que os fez juntar, foi o amor que nutriam um pelo outro. À semelhança de Joe, Cameron perdeu o pai, e tentava desesperadamente encontrar alguém que o substituísse. Acabaria por encontrar no seu chefe, John Bosworth (Toby Huss), uma figura paternal que a apoiaria em tudo. Foi Cameron que deu um lado humano ao GIANT, dando-lhe possibilidade de comunicar com o seu usuário através de perguntas e respostas. Tudo o que fez foi uma tentativa de estar mais perto do pai. O seu aspecto tem muitas semelhanças com a figura central do anúncio do Macintosh de

Francisco Oliveira Simões Historiador


Jornal da Batalha

Opinião Batalha

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s Noticias dos Combatentes

Mouzinho de Albuquerque, esse combatente batalhense Se a vida de Mouzinho de Albuquerque (1855-1902), herói batalhense, fosse transcrita para os dias de hoje, seria talvez estigmatizado e eventualmente até apelidado de criminoso de guerra, como o foram muitos dos combatentes das Guerras do Ultramar. Mas, na sua época, os seus atos praticados em África tiveram outra interpretação mais positiva, pois o contexto mental e social era deveras diferente. Os seus mais glorificados atos tiveram a ver com a captura de Gungunhana embora esta, em si mesma, e segundo o Historiador Paulo Jorge Fernandes, “foi um golpe de sorte e não passou de uma bravata militar em que não participaram mais de meia centena de homens e não houve qualquer chacina dos dois lados”, e onde o rei africano terá sido despojado dos seus haveres, afastado das tradições e transporta-

do para Portugal, aqui sofrendo vastas humilhações públicas. Com esta captura, o regime monárquico garantia o domínio sobre Moçambique. Os feitos deste militar português acabaram por ser transformados em algo mais do que aquilo que representaram, no âmbito da construção do imperialismo português. Houve um interesse, não tanto pela sua ação, que foi extraordinária, mas pela apropriação que disso fizeram três regimes políticos: a Monarquia, a I República e o Estado Novo. A captura de Gungunhana teve repercussão no coração do reino, e o Militar ambicionava cargos que nunca chegou a desempenhar. Após o seu regresso definitivo à Metrópole, Mouzinho de Albuquerque foi nomeado preceptor, contra a sua vontade, de D. Luís Filipe, função de que não gostava mas que, ao

que parece, proporcionou mais que uma relação formal com a Rainha D. Amélia, sem nunca encurtar a distância que os princípios morais dos dois e o espírito da época impunham. Mas as intrigas da Corte não eram o terreno indicado para o temperamento de Mouzinho, que já na altura apontara os problemas da política e tecia fortes críticas à partidocracia vigente que, com o clima de indecisão política, agonizava a própria Monarquia. A inveja dos áulicos e dos políticos tecem então uma teia de suspeições e maledicências a que o carácter do herói Mouzinho de Albuquerque não foi imune. As hipóteses divulgadas para a morte de Mouzinho de Albuquerque, com dois tiros, num coupé alugado, na estrada das Laranjeiras, em Lisboa, a 8 de Janeiro de 1902, não excluem dos motivos a

proximidade à rainha. A tese oficial aponta para suicídio, embora alguém suicidar-se com dois tiros na cabeça não seja o mais habitual, ou seja, poderá ter sido um assassinato político, uma vez que havia uma trama estadística em torno da figura de Mouzinho, inclusive coadjuvada por outros militares, diz-se. Para o seu não esquecimento, realizou-se no dia 21 de julho mais uma homenagem ao Patrono da Arma da Cavalaria do Exército, iniciativa organizada pela mesma, com o apoio do Município da Batalha. Uma cerimónia que, a ver pelas fotos na página do município na rede social Facebook, foi altamente condigna, imponente pela marcha da cavalaria, e plena de simbolismo na romagem ao seu glorífico monumento, mas que provoca alguma mágoa aos combatentes, que deveriam ser homenageados em

vida. Um só combatente tem uma estrondosa e merecida homenagem num magnífico monumento, mas tantos outros combatentes batalhenses, desde a Grande Guerra, Guerra Colonial e mesmo dos novos Teatros de Operações, nem um local condigno têm para se reunir, quanto mais um monumento. Supondo-se também que só poderá ter-se tratado de um lapso, o esquecimento de endereçar um convite ao Núcleo da Batalha da Liga dos Combatentes para estar presente, e homenagear igualmente esta heroica figura militar que será, por certo, o mais conhecido combatente batalhense! Há batalhas que se travam, não só todos os dias mas, também, para além eternidade.

de reproduzir os instrumentos de toda a orquestra de Noiserv. Ora sucede que no seu mais recente trabalho, 00.00.00.00 de 2016, o piano tomou o lugar da orquestra. E quem tocou todos aqueles instrumentos, é agora solista, entoando melodias cantadas em português, quando não se contenta só com o som do piano. Liberta-se destas canções a calma de um homem tranquilo, mas grave na voz que conhece as histórias que quer contar. O seu estado de espírito não é a melancolia, nem a dolência, porque é a música de quem fez o que devia ter feito, sem olhar para trás. Também não têm um efeito tranquilizante, mas são capazes de transportar o ouvinte por paisagens sonoras que mar-

cam um tempo de reconciliação com o próprio tempo. Noiserv desenvolveu toda uma estética que começa na própria conceção da capa dos seus discos: o primeiro, na sua edição de 2011, é um caderno de argolas com figuras para colorir, que inclui um lápis de várias cores; por seu turno, a capa de A.V.O. é um puzzle de nove peças que, colocadas no sítio correto, formam o rosto de David Santos. E o terceiro disco tem um invólucro totalmente transparente, onde estão gravados os títulos das músicas, títulos apenas visíveis em contraluz. Só falta referir que as suas influências são muitas e diversas, mas nenhuma chega para explicar ou conter este músico de criatividade excecional.

NCB

s Tesouros da Música Portuguesa

Noiserv, um homem, a sua orquestra e um piano Já tivemos oportunidade de fazer referência à elevada qualidade das canções que participaram no Festival RTP da Canção de 2017. Uma das dezasseis canções apresentadas, a que teve honras de encerrar a segunda semifinal do certame, foi interpretada por Inês Sousa. Intitulada Se o Tempo Não Falasse, com letra e música de Noiserv, foi composta à imagem do seu criador, despojada do tom festivo que normalmente associamos ao festival. Nisso encontramos alguma coisa de comum com a canção vencedora. De uma beleza encantatória, Se o Tempo Não Falasse conjuga na perfeição a eletrónica com a guitarra, na simplicidade que se aproxima da sonoridade de uma caixa de música. Noiserv é pseudónimo

artístico de David Santos, homem que anda nestas lides há mais de uma década. O seu primeiro trabalho discográfico foi editado em 2008 e chamava-se One Hundred Miles from Thoughtlessness. Reunia onze temas, um deles instrumental e os restantes cantados em inglês. Reabria assim a velha polémica que discute se um artista nacional apenas deve cantar em português. A verdade é que David Santos tanto escreve letras em inglês como em português e a opção de cantar em inglês facilitou-lhe a internacionalização. A apresentação ao vivo de One Hundred Miles from Thoughtlessness passou por espetáculos nos palcos da Inglaterra, Áustria e Alemanha, chegando a gravar numa editora escocesa

e, mais tarde, viu publicado o seu segundo trabalho de longa duração em França. Igualmente cantado em inglês, Almost Visible Orchestra (A.V.O.) data de 2013 e foi considerado pela Sociedade Portuguesa de Autores como o melhor álbum nacional desse ano. À semelhança do que aconteceu no primeiro álbum, em A.V.O. todos os instrumentos são tocados por David Santos, onde têm realce a guitarra, o órgão, os sintetizadores e em particular o metalofone. O uso repetido do metalofone, uma espécie de xilofone com placas de metal, imita por vezes o som dos sinos ou então, frequentemente, a sonoridade extraída de um brinquedo infantil. Evoca também um maquinismo que produz música, como uma caixa de música capaz

Por João Pedro Matos




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Batalha Opinião

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Jornal da Batalha

s Espaço do Museu

A padeira de Aljubarrota Entre 1383 e 1385 Portugal enfrentava uma grave crise de sucessão. A morte de D. Fernando e a assinatura do Tratado de Salvaterra de Magos, que estabeleceu privilégios ao Rei de Castela, criou, junto da população portuguesa, um clima de insegurança e descontentamento. Assim, numa perspetiva de salvar a coroa portuguesa, a população de Lisboa nomeia, D. João - Mestre de Avis – meio irmão de D. Fernando – como o novo soberano português. Após alguns momentos de tensão, entre a coroa portuguesa e castelhana, eis que se dá o momento decisivo a 14 de Agosto de 1385. A Batalha Real, mais conhecida como Batalha de Aljubarrota, teve lugar nos campos de S. Jorge, a cerca

de 3km do centro da Vila da Batalha. Neste confronto, os cerca de 40.000 soldados castelhanos foram derrotados pelas tropas de D. Nuno Álvares Pereira, constituídas por cerca de 7.000 soldados. A estratégia bélica do Condestável foi uma das principais causas para o alcance da vitória e pela afirmação da identidade portuguesa. O nosso Mosteiro de Santa Maria da Vitória é um dos principais marcos deste triunfo português, porém uma outra imagem nos chega quando falamos desta Batalha Real - A Padeira de Aljubarrota. Nesta coluna gentilmente cedida pelo Jornal da Batalha, e sendo este o mês em que celebramos a vitória das tropas portuguesas face às tropas

castelhanas, recordamos esta figura feminina da Batalha de Aljubarrota. Os livros escolares referem Brites de Almeida, como uma mulher robusta, diferente de todas as mulheres submissas e recatadas que existiam na época. Reza a lenda que gostava lutar e vestir calças, que era muito grande, de semblante disforme e com seis dedos em cada mão. Trabalhava numa padaria na localidade de Aljubarrota, sendo o seu pão dos melhores que se podia encontrar nos arredores. Aquando a Batalha Real, os castelhanos sobreviventes rumaram para diversas direções, numa perspetiva de escaparem à fúria do povo português. Sete soldados terão utilizado o forno

de Brites de Almeida para se resguardarem. A destemida Brites, sedenta de aventuras e com recurso à sua pá de padeira, retirara os castelhanos um a um atingindo-os fortemente com a sua arma improvisada. Desde essa altura, a Batalha Real ficou também conhecida pela ilustre Padeira que orgulhosamente contribuiu para a vitória dos portugueses face a Castela. Na Batalha, este triunfo é enaltecido tanto no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, como no MCCB e também no Centro de Interpretação da Primeira Posição da Batalha de Aljubarrota (junto à Ponte da Boutaca). Três equipamentos culturais que merecem ser explorados neste mês que celebra a Batalha de Aljubarrota.

Aproveitando esta época festiva para todos os batalhenses, informamos os nossos caros leitores que o MCCB estará aberto no dia 14 de agosto com entradas gratuitas a todos os seus visitantes nos horários ha-

bituais. Aguardamos a vossa visita.

os restantes, pela ordem indicada, deixo cozinhar em lume brando por uma hora e depois é só enfrascar. Se gostar de um ketchup picante é só colocar também pimenta e malaguetas. Truque: Para esterilizar mais rápida e eficazmente os frascos, no fim de lavados, coloco-os no forno a 180º por cinco minutos, e com eles ainda quentes encho-os com os preparados. Hortícolas para semear e/ ou plantar ao ar livre: acelgas, alfaces, agriões, beterrabas, cebolas, cenouras,

coentros, Couves- Repolho, couve-rábano; Espinafres; feijões diversos, malaguetas, nabos; pepinos, pimentos, physalis; salsa, tomates; Rabanetes, rúcula. Jardim, semear e/ou plantar: amores-perfeitos, goivos, margaridas, e prímulas. Se soubermos observar e aprender com a natureza, teremos muito a aprender. Ser feliz não é por ter tudo, mas sim por saber ser grato por tudo o que se tem.

Município da Batalha MCCB (Museu da Comunidade Concelhia da Batalha)

s AMHO A Minha Horta

Aproveitar bem os tomates da horta O mês de agosto é pautado pela abundância. Nas nossas hortas, as plantas semeadas no inicio do ano estão em plena produção, o que convida a partilhar. Na minha rua temos o hábito de trocar produções entre os vizinhos, o que nos faz reforçar os laços de conviver em sociedade. Olhemos mais pelos nossos vizinhos, pois é com eles que convivemos diariamente, deixemos de lado as divergências e cuidemos uns dos outros, pois essa bondade de espírito e de coração ali-

menta-nos a alma, tal como os produtos da nossa horta nos alimentam o corpo. Os meus tomateiros já produzem tanto que não consigo escoar tudo sozinha. Alguns excedentes dou aos vizinhos, outros aos animais e outros conservo-os para mais tarde. Os processos de conservação que uso variam de acordo com o produto. No caso dos tomates, faço doce, polpa, molho e no ano passado estreei-me com o ketchup, que fez sucesso e também congelo os tomates in-

teiros, para posteriormente adicionar às comidas, ou fazer polpa, molho ou ketchup mais frescos. Sim porque podemos um produto transformado ao natural pode ter menos prazo de validade. Polpa de tomate: 5 kg de tomate, 1 colher sopa sal, outra de açúcar (escuro) 100 ml de azeite, meio pimento vermelho. Levar ao lume a ferver em lume brando por 45-60 minutos e no final triturar tudo, e armazenar em frascos previamente esterilizados.

Ketchup caseiro: 150 ml de azeite, 1 cebola pequena, 2 dentes de alho, 1 haste de aipo picado 1 kg tomate maduro, de preferência sem pele e em pedaços, 1 folha de louro, 1 colher de chá de massa de pimentão, ou 100 gr de pimento vermelho, manjericão fresco ou seco a gosto, sementes de coentros moídas (a gosto), 1 colher de chá de sal marinho, 1 colher de sopa de açúcar. Começo por refogar ligeiramente os quatro primeiros ingredientes e depois adiciono

s Carta

Obrigação de explicar o que tenho feito “Irei ficar por aqui...? Certamente que não!” Foi assim que terminei o último artigo publicado neste jornal. Hoje, sinto-me na obrigação de explicar o que tenho feito a todos aqueles que me acompanham e demonstram carinho por mim nestas aventuras. Pois bem, neste momento

integro o clube União Desportiva e Recreativa Zona Alta, de Torres Novas. Estando mais inclinada para as provas de trail, aceitei o convite visto este grupo ter esta vertente. A minha apresentação ao clube e aos meus colegas foi feita aquando da realização do Grande Prémio de Atle-

tismo S. António de Torres Novas, prova organizada pelo próprio clube. A partir daí seguiram-se então as provas de trail: no dia 18 junho – Trail do Padroeiro dos Riachos 17 km; 08 julho – 2ª Corrida São Pedro By Night, em Porto de Mós, 14 km; 09 julho – Trail do Pinheiro Manso – 12 km; e 16

julho - Caldas Ultra Trail, 25km. Por agora, um tempo de férias merecidas e voltarei em setembro! Saudações desportivas! Anabela Remédios Atleta da UDR Zona Alta


Jornal da Batalha

Atualidade Batalha

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Jovem de Setúbal é a nova Miss Portuguesa m A jovem Sueli Moreira, de 23 anos, residente em São Mamede representa o país no Miss Tourism Queen International

p Paulo Batista Santos e Pedro Machado, presidente do turismo Centro Portugal, com as eleitas

p Filipa Barroso no momento da coroação

Festival de acordeão no multiusos da vila A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Batalha promove a 4 de outubro, pelas 21h30, no pavilhão multiusos da vila, 2º Festival Internacional/5º Festival Nacional de Acordeão.

No festival participam Jeremy Lafon, artista francês campeão do mundo, e os portugueses Nelson Marto, Bruno Gomes, Rodrigo Maurício e Jorge Alves. A apresentação está a cargo de Cláudia Santos.

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A jovem Filipa Barroso, de 18 anos, de Setúbal, foi eleita Miss Portuguesa 2017 durante a gala que decorreu no largo Infante D. Henrique, junto ao Mosteiro da Batalha, e vai representar Portugal no concurso Miss World 2017, de 16 de outubro a 19 de novembro em Singapura e China. O título de 1ª Dama foi entregue a Vanessa Ribeiro, de 22 anos, que representou a comunidade portuguesa em França, tendo também ganho a categoria de Miss Fotogenia. O titulo de 2ª Dama coube

a Priscila Alves, de 22 anos, de Setúbal, que representará Portugal no Miss Supranacional, na Polónia. A organização do Miss Portuguesa atribuiu ainda os títulos de Miss Desporto a Miriam Pedroso, de 23 anos, da Amadora; Miss Talento a Priscila Alves, Miss Popularidade a Tânia Ximenes, de 23 anos, de Gondomar e Miss Elegância a Mónica Jaco, da comunidade portuguesa da África do Sul. A jovem Sueli Moreira, de 23 anos, residente em São Mamede (Batalha) vai

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representar o país no Miss Tourism Queen International 2017, na China. “Estou extremamente feliz, e quero orgulhar o meu país e representá-lo da melhor forma. Quero desde já deixar aqui um enorme agradecimento por todo o apoio. Muito obrigado”, escreveu no Facebook a nova Miss Portuguesa. Para o presidente da Câmara da Batalha, Paulo Batista Santos, “a eleição da Miss Portuguesa na Batalha, em 2016 e 2017, constitui um enorme motivo de orgulho”. O autarca adian-

tou que o espetáculo “foi uma grande festa, que teve lugar num cenário único e distinto como é o Mosteiro da Batalha”. A Gala Miss Portuguesa teve como apresentadores Ricardo Carriço, Joana Alvarenga e Patrícia Candoso e contou com as participações da dupla de bailarinos internacionais Ekaterina Krisanova e Victor Da Silva, do finalista do concurso The Voice Portugal, Guilherme Azevedo, do Luso-descendente NELZ e de Wanda Stuart.

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Jornal da Batalha

Património Divagação sobre D. Afonso V (E a Batalha) II

Rainha D. Isabel de Coimbra (Mulher de D. Afonso V)

O destino sagrou-me rainha mas fez-me mulher infeliz. Filha do segundo príncipe de Avis, em cujo mote DESIR se escondia ir além da grandeza e dor, a ambas teve-as, superando-as, e, eu, herdando-as, cedo as doei a meu filho João, príncipe perfeito, e a minha filha Joana, rainha da perfeição, que me perderam meninos como eu perdi a alegria de viver, entre dois afectos dividido o meu ser. Trágico foi o desfecho do conflito entre o meu pai, pelos homens e circunstâncias traído, e Dom Afonso, meu marido. Embora rainha, fui impotente para imprimir benéfico sentido ao fatal destino inclemente. Num tempo de constru- crescendo, desde D. João ção do maior símbolo e da I a D. Manuel I, e todos os mais expressiva e dura- soberanos a foram dotando doura evocação da dinas- do que naquela época era tia de Avis e do período necessário. mais brilhante da História Do reinado do Mestre de Portugal, nenhum dos de Avis já vinham a FeiReis do nosso século XV, ra Franca de Santa Maria depois do fundador da di- de Agosto, criada em 1389, nastia e iniciador da obra que então durava oito dias, monumental da Batalha, a feira essencial ao abastedescurou ou deixou de lhe cimento da comunidade proporcionar amplo e de- obreira e da comunidade cisivo apoio. religiosa, e o hospital e resD. Afonso V não fugiu pectiva confraria de Santa Maria da Vitória, criados à regra. A nomeação dos mestres em 1427. O aprazamento continuou a fazer-se regu- e o aforamento de terras larmente bem como a de agrícolas e doutros bens todo o pessoal especiali- patrimoniais, indispensáveis à fixação da populazado e auxiliar. A povoação foi sempre ção, iam povoando o sítio

do Mosteiro e os descampados em volta. A quase totalidade das aldeias, que hoje pertencem à paróquia batalhense, nasceu então. Este povoamento é coroado com a elevação da Batalha a vila e o estabelecimento do seu concelho (que na altura não ultrapassava para Leste a linha do rio Lena), em Março de 1500, pelo rei D. Manuel I, e a criação da sua paróquia, em Setembro de 1512, pelo Prior Mór do Convento de Santa Cruz de Coimbra, que detinha, desde D. Afonso Henriques, a jurisdição religiosa da nossa região antes da fundação da diocese de Leiria em 1545. Facto curioso e de assinalar é o de Afonso V ter devolvido aos seus cargos e funções na obra do Mosteiro os mesteirais punidos por haverem aderido à causa do Infante D. Pedro e por ele combatido na muito lamentável batalha de Alfarrobeira em 1449. Logo pelos finais de 1450 são vários perdões concedidos. Deles respigo estes dois registados pelo Professor Doutor Saul António Gomes, entre muitos outros, no 1º e 2º volumes das suas “Fontes Históricas e Artísticas do Mosteiro e da Vila da Batalha”, livros de consulta obrigatória para quem queira ter acesso facilitado a centenas de documentos, são exactamente novecentos e vinte e cinco, sobre a Batalha desde o

século XIV ao século XVII, repartidos por 4 volumes com perto de duas mil páginas: um datado de 14 de Novembro de 1450 e outorgado, em Santarém, a Fernão Pires, pedreiro da obra de Santa Maria da Vitória, por ter lutado em Alfarrobeira na hoste do Infante D. Pedro, e outro outorgado, também em Santarém, em 13 de Abril de 1451, a Gonçalo Eanes, que foi vedor, que era cargo importante, nas mesmas obras. Na longa lista de perdoados conta-se um Rodrigo, que era filho do mestre Conrate. Um mistério, para mim, é o da demissão da direcção da obra do Mosteiro de um tal Mateus Fernandes, em 1480, mandando D. Afonso V que ele fosse substituído por um Fernando Rodrigues por o soberano entender que este o fará melhor que o tal Mateus Fernandes. E quem era o demitido? Não creio que fosse o mesmo Mateus Fernandes a quem D. João II, dez anos depois, entrega a mesma direcção “pelo serviço que dele temos recebido” e que, passados vinte e cinco anos, D. Manuel I manda sepultar, honra máxima à memória dum mestre, na igreja do Mosteiro. D. Afonso V casou com a sua prima D. Isabel de Coimbra. Eram muito jovens, rondando os 17 anos. Este casamento não agradou ao conde de Barcelos e 1º Duque de Bragança que

s Casa da Madalena

Peça a peça, o Museu Etnográfico da Alta Estremadura Nesta cantoneira, única peça do mobiliário que pertencia à casa onde o Rancho Folclórico Rosas do Lena instalou o Museu, e que foi primorosamente restaurada pelo marceneiro de arte Abílio Monteiro Jor-

dão (Abílio Ruivo) e é de registar que a ele se deve todo o trabalho de carpintaria e marcenaria que foi feito no edifício, restaurado de alto a baixo, estão alguns dos vidros e louças de cerâmica da vasta colecção

do Museu. Entre os vidros, a original garrafa do “pirolito” que se fechava com um berlinde. O edifício do Museu estava completamente em ruinas, só se aproveitando as paredes exteriores e algu-

mas portadas. Todo o resto, incluindo tectos e soalhos, são reconstituição executada no restauro. J.T.S.

queria que fosse uma das suas netas a casar com o soberano, também seu sobrinho. Lembro que o conde de Barcelos, D. Afonso, era filho natural de D. João I. Aumentaria aqui a desavença entre os dois meios-irmãos Infante D. Pedro e conde de Barcelos, desavença que levaria ao trágico desfecho de Alfarrobeira. D. Isabel de Coimbra, não obstante a adversidade que a atingia desde ainda muito nova, foi uma rainha exemplar, tentando conciliar o partido do marido com o do seu pai. Não conseguiu. Morreu no princípio da casa dos 20 anos. Foi mãe três vezes, tendo o primogénito João falecido em pequenino (está sepultado actualmente nas Capelas Imperfeitas, num pequeno túmulo de pedra lavrada). Seguiu-se a Infanta D. Joana, conhecida pela Princesa Santa Joana, sepulta-

da no Convento de Jesus, em Aveiro, onde viveu, e por último o que viria a ser o Príncipe Perfeito, D. João II. A vida desta jovem rainha foi pautada pelo sofrimento e pela tragédia. Sepultada no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, bem como seu marido, primeiro na Casa do Capítulo e, a partir de 1901 na Capela do Fundador. Continuarei se Deus quiser. Notas: A imagem que se reproduz, com a devida vénia, da obra “D. Afonso V”, do Professor Doutor Saul António Gomes, colecção “Reis de Portugal” do “Círculo de Leitores”, é uma iluminura da Biblioteca de Estugarda. Este notável livro do grande historiador, também nos serviu de guia nesta breve divagação sobre D. Afonso V. Igualmente nos serviu de consulta o catálogo da Exposição “Prémio Nacional de Artes Plásticas Mateus Fernandes” do “Rotaract Clube da Batalha” (Maio de 1994). Edição do Museu do Mosteiro de Santa Maria da Vitória.

José Travaços Santos Apontamentos sobre a História da Batalha (173)




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