ano 15 - edição 45
outubro de 2017
revista corpo da matéria CURSO DE JORNALISMO PUCPR
Um olhar para elas Looking out for women
Mulheres em situação de rua também enfrentam outro obstáculo em Curitiba: a invisibilidade Women on the streets also face another obstacle in Curitiba: invisibility
Jornalismo PUCPR Revista CDM
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Revista CDM Jornalismo PUCPR
Corpo da matéria Ano 15 - Edição 45 - Outubro de 2017 Revista Laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR Pontifícia Universidade Católica do Paraná R. Imaculada Conceição, 1115 Prado Velho, Curitiba PR REITOR
Waldemiro Gremski DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES
Eliane C. Francisco Maffezzolli
COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO
Julius Nunes
COORDENADOR EDITORIAL
Julius Nunes
COORDENADOR DE REDAÇÃO/JORNALISTA RESPONSÁVEL
Paulo Camargo (DRT-PR 2569)
COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO
Rafael Andrade
Alunos - 6º Período Jornalismo PUCPR Angelica Klisievicz Lubas, Eduardo da Paz Martinesco, Fabio Carvalho da Silva, Fernanda Adami Menuci, Giully Regina de França, Guilherme Osinski, Isabela Vera Mendes, Karine de Sales Santos, Karoline Mokfianski, Larissa Bonilauri Santin, Leticia Nascimento Aleixo, Loraine de Fátima Mendes, Lucas Pereira de Souza, Maria Cecilia Terres Zelazowski, Mariana de Sa e Benevides Souza, Mariana Pabis Balan, Natália Filippin, Rafael Henrique dos Reis Bronze, Renata Martins Navarro, Thaise Caroline Borges, Vanessa Gavilan Mikos, Vinicius Savaris Rech, Virginia Thaís Freitas, Yuri Braule De Paula Weiss
Imagem de capa: Natalia Filippin
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CIDADES
Flores no concreto
Flowers on concrete
Jovens e o consumo de álcool
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SOCIEDADE
Sombras da noite
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PROFISSÃO
Oito em meio a oitocentos e trinta
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ESPORTES
O Jogo da inclusão
A caixa mágina dos sons
Tudo pelo futebol
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CULTURA
A música popular brasileira ainda vive
A arte da luteria
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ECONOMIA
Cachaça morretiana
Crescimento do e-commerce
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TECNOLOGIA
Deep web
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Flores no concreto Mulheres em situação de rua na cidade de Curitiba são numerosas, porém pouco visíveis Natalia Filippin, Thaise Borges e Yuri Braule Natalia Filippin
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cidades
A
o longe avistamos um carrinho de papelão, dois cachorros dormindo e um cobertor no chão. Era frio, noite, escuro. O cobertor não estava vazio. Ali havia alguém. Mas diferente do que esperávamos: não era um homem, morador de rua. Era Luana. O olhar de medo a nos ver ficará sempre em nossa memória. “Quem são vocês? O que vocês querem comigo?”, disse assustada. Cabelos despenteados, roupas rasgadas e sujas, pele manchada, unhas carcomidas e nada de comida. Assim conhecemos Luana Pereira. Mulher, 30 anos, branca e moradora de rua há cinco anos. Após um tempo de conversa, Luana se viu à vontade para relatar sua história. Ela veio da Bahia para Curitiba encontrar um rapaz que conheceu na internet.
A primeira e mais recente pesquisa municipal realizada pela Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS) no ano de 2016 aponta que a estimativa de pessoas em situação de rua era de aproximadamente 1.700, destes apenas 11% são mulheres, e 89% homens. A média de idade é de 24 a 44 anos. Cerca de 60% destas pessoas possuem o ensino fundamental incompleto. A pesquisa revela a ordem apontada pelos moradores de rua como as principais causas de estarem ali. Por primeiro: drogas, em seguida álcool, conflitos familiares, desemprego, perda de moradia, decepção amorosa, opção/preferência e, por último, ameaça/violência. Juciméri Silveira é assistente social e coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da PUCPR,
a elas. Pois, a mulher em si tem suas peculiaridades relacionadas às suas necessidades, desejos, algumas até enfrentando tudo isso com uma criança no colo. “É muito recente a construção de direitos para a população em condição de rua, embora elas sejam visíveis na cidade, elas são invisibilizadas socialmente”, conta Juciméri. E não existe, de maneira consistente, a inclusão dessas diferenças nas políticas e programas de atenção à população em situação de rua. Raros são os estudos sobre as diferentes formas de violência que atingem essas mulheres. “Os que chamam as mulheres de sexo frágil, não conhecem de verdade o que é ser mulher. O que temos que ouvir e enfrentar. Mas eu tenho fé de que amanhã será melhor! Afinal, essa é a única coisa que não vão conseguir tirar de mim”, completa Luana.
“Embora elas sejam visíveis na cidade, elas são invisibilizadas socialmente.”Juciméri, assistente social Eles moraram juntos por três meses, porém depois de um tempo ela descobriu que ele já tinha outra família. Ficou arrasada. Sem coragem e dinheiro para voltar à sua cidade natal, viu na rua o que era para ser uma solução temporária. “Nós somos a minoria nas ruas. Dá para ver, não? Mas o que ninguém percebe é que essa minoria está muito mais exposta à violência e à criminalidade. Eu durmo de dia porque à noite eu não tenho coragem. Eu fico enrolada no cobertor torcendo para acharem que é só mais um homem na rua. Já vi muitas mulheres aqui serem estupradas e, como se não bastasse o horror disso, engravidaram ou contraíram doenças”, conta Luana.
foi superintendente da FAS, e ajudou a organizar uma pesquisa em 2016 sobre os moradores de rua de Curitiba. Para ela, entre os fatores que provocam a perda da moradia das mulheres, estão conflitos familiares, orientação sexual e uso abusivo de drogas. “As mulheres estão expostas à violência de Estado, que muitas vezes acontece quando avançam perspectivas que chamamos de higienistas, que querem promover uma limpeza aparente do espaço urbano e acabam, muitas vezes, gerando a saída forçada da situação de rua”, comenta. Essas mulheres assumem ter feito escolhas erradas na vida para estarem ali. Porém, é nítida a falta de um olhar humano em direção
Dentre tantos homens sentados embaixo de uma árvore da Rui Barbosa, vemos Fabíola. Ela poderia ser mais uma pessoa andando pelas ruas do centro, mas não. Ela fazia parte daquilo. Ali era a casa dela. Um colchão, um Natalia Filippin
Sem outra opção, algumas mulheres estão na rua com os filhos. Jornalismo PUCPR Revista CDM
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cobertor e um chinelo. Fabíola Gomes é retrato do que a permanência nas ruas pode fazer com a vida de uma pessoa. Ela é jovem, tem 28 anos e tinha um futuro promissor. Mãe de dois filhos pequenos, casada, com emprego, salário e um teto. Uma vida que foi planejada para nunca passar necessidades. Mas ela sofreu uma decepção no casamento e, por “um escorregão”, Fabíola conta que entrou nas drogas – é usuária de crack. Nascida em Fortaleza, ela veio morar em Curitiba para
conseguir levar uma vida melhor e, ao contrário do que imaginava, só foi piorando. Atualmente, Fabíola está em situação de rua, e está há um ano desempregada. Sem contato com a família, ela sentiu-se amparada pelo novo namorado, David de Oliveira, que também é usuário e morador de rua. “Só quem passa pela rua entende o que acontece aqui. Existe amizade verdadeira até o primeiro aperto, a primeira falta de droga. Na regra dos mais fortes, a mulher sempre perde.”
Fabíola contou que não pode voltar para sua cidade natal e que não tem notícia deles, muito menos de seus filhos. “Eu sinto muita falta da minha mãe e das minhas crianças. Queria poder ter alguém para me ajudar e consolar, mas ninguém atende minhas ligações. A droga alivia a dor da saudade da vida que eu tinha.” Nas ruas, Fabíola e a maioria das mulheres relatam que é uma luta diária viver nos calçadões de Curitiba. Aqui elas conheceram a violência
“Confesso estar usando drogas para esquecer por um minuto que estou na rua. Sem casa, sem ninguém e com medo.”Michelly Rodrigues Natalia Filippin
A maioria das mulheres em situação de rua alegam ter medo de dormir por ameaças e assédios.
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cidades Natalia Filippin
Apenas 11% de toda a população em situação de rua, são mulheres, em Curitiba.
nas disputas territoriais, opressão de gênero, falta de privacidade, tráfico de drogas e dificuldades para higiene.
usando drogas para esquecer por um minuto que estou na rua. Sem casa, sem ninguém e com medo.”
Michelly Rodrigues é negra, tem 26 anos e é moradora de rua há três anos. Sem emprego e família, ela encontra consolo nas drogas. Tudo começou em Francisco Beltrão, sua cidade natal. Decidiu morar na capital, pensando que iria encontrar oportunidades melhores de emprego e mais liberdade para tomar suas decisões, mas não foi bem assim. Segundo ela, a sociedade não a aceitou pela falta de experiência e “pela cor”. “Eu brigava muito com os meus pais, tive relacionamentos que me fizeram mal, apanhava muito e um dia cheguei a pensar em tirar minha vida. Pensei que aqui seria melhor. Não foi. Confesso estar
Muitos foram os relatos de violência praticada pelos próprios parceiros. Apesar de ser uma experiência horrível, essas mulheres adquiriram certa tolerância a formas não físicas de violência. “Na rua, qualquer ‘olhada torta’ é motivo para briga. E aqui não tem essa de homem brigar só com homem, não. Aqui nós brigamos de igual pra igual, e a gente sempre perde. É melhor perder o dinheiro que conseguimos durante o dia do que ser violentada no meio da noite por vingança!”, relata Michelly. Apesar da violência e do sofrimento, a maioria das mulheres
tem dificuldade de enfrentar e reverter sua própria situação de vida, seja pela droga, pela dificuldade de serem aceitas em empregos e também pelo abandono familiar. Segundo a assistente social Juciméri, as principais queixas das mulheres que estão morando na rua são: a violência sofrida, a renda insuficiente para garantir o próprio sustento e o dos filhos, e a ruptura dos vínculos sociais. E a pior consequência deste destino é que essas vidas atravessam a pobreza, o abuso, transtornos mentais, dependência de álcool e outras drogas, rupturas dos vínculos familiares e doenças. “Elas estão submetidas a uma situação que é desumana, não é digno estar na rua, é preciso que o poder público desenvolva políticas de acolhimento, de cuidado com a liberdade e proteção.” Jornalismo PUCPR Revista CDM
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Apoio do serviço público A Prefeitura de Curitiba oferece algumas opções para estas mulheres se refugiarem, como: cinco abrigos exclusivos para mulheres, nos quais são proporcionados espaços integrados e humanizados para todas que estão em situação de violência e de extrema pobreza. Trabalho feito para ajudar as mulheres a resgatar a autonomia social e econômica. Há também casas de passagem para mulheres e trans (ou travestis), que se identificam com o gênero feminino, as que sofrem
com violências domésticas e para aquelas que estão junto de seus filhos. “Como elas estão em uma condição bastante fragilizada, o papel principal das equipes que vão fazer a abordagem é fazer um vínculo com essas mulheres, de conforto, de confiança, de orientação e de apoio. Então, parte desse trabalho é um trabalho de busca ativa, de identificação dessas mulheres nas ruas, de uma oferta de serviços, para que elas possam acessar”, conta Juciméri. O atendimento feito pela Prefeitura, FAS, atua 24 horas por dia na busca ativa da população
em situação de rua. É oferecido às famílias um abrigo para passar o período da noite, na qual é prestado serviço de higiene e alimentação. Mas, apesar de tudo o que é disponibilizado, muitas mulheres preferem passar a noite na rua. “Nesses abrigos têm muito uso de drogas, além disso, não temos lugares para deixar nossos carrinhos de papelão. Temos que abandonar eles em algum lugar e torcer para no dia seguinte encontrar eles no mesmo lugar”, conta Patrícia Márcia Inácio que é catadora de papel e ex-moradora de rua. Natalia Filippin
Acesso aos serviços Dados da FAS sobre circulação dos moradores de rua nos abrigos referentes a 2016 Central POP
25,8%
Casa de passagem
22,3% 16,8%
Consultório na Rua
13,6%
CREAS UAI CRAS Outros serviços de assisstência Casa da Acolhida e do Regresso Casa de Passagem Feminina Intervindas
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7,8% 5,2% 4,5% 2,0% 1,9% 0,1%
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O trabalho nas calçadas
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Kaueni de Souza, 22 anos, moradora de um bairro periférico de Curitiba, relatou que sente dificuldades para encontrar vagas em creches para deixar seus quatro filhos, menores de idade, para poder ir trabalhar. E, para conseguir sustentar a família, ela leva as crianças às ruas para vender balas e catar papelão. Além do dinheiro arrecadado com o esforço do dia a dia, Kaueni conta com doações de roupas e dinheiro. “As pessoas já se acostumaram com essa realidade. Ninguém mais se choca em ver uma mãe na rua com seus filhos. Aí que está o problema.”
Sandra Cristina de Carvalho já olhou a vida com outros olhos. Há seis anos foi moradora de rua e encontrava dificuldades, que como ela diz: “Só quem passou por isso, entende”. Sandra relatou que os grandes problemas eram com a higiene, lugares para se abrigar e a falta de respeito da população com o morador de rua. Atualmente, Sandra é casada com Edenilson da Silva. Eles são catadores de papel, moram em uma casa alugada e, apesar de todas as dificuldades, não deixam faltar alimento na mesa. “Foi um momento muito ruim na minha vida, mas eu aprendi que a gente nunca pode reclamar do que temos. Hoje eu agradeço a cada minuto por ter um lugar para chamar de meu”, diz Sandra.
Natalia Filippin
Natalia Filippin
Patrícia Márcia Inácio é catadora de materiais recicláveis há 20 anos e teve que conviver com a realidade de morar na rua por seis meses. Atualmente, a mulher de 45 anos tira o dinheiro para pagar o aluguel de uma casa no Prado Velho e o sustento dela e da filha de 14 anos, do carrinho que ela carrega todo dia pela região da Rua XV. Enfrenta sol, chuva, dificuldade financeira para fechar as contas do mês e as “tiradas de sarro” de algumas pessoas que passam por ela. “Falam isso e aquilo, mas, se reclamam que cheguem para mim e me deem um serviço”, desabafa.
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Flowers on concrete Women living on the streets in the city of Curitiba are numerous, but hardly visible Natalia Filippin, Thaise Borges e Yuri Braule
Tradução: Christopher Thomaz Freitas e Matheus Maurício Britto Ramos (Curso de Letras Português Inglês Diurno)
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rom far away, we saw a cardboard cart, two sleeping dogs and a blanket on the floor. It was cold, nighttime, dark. The blanket was not empty. There was someone there. But different from what we expected: it was not a man, a homeless man. It was Luana. The look of fear to see us there will always be in our memory. “Who are you? What do you guys want with me?” she said, startled. Unkempt hair, torn and dirty clothes, stained skin, decayed nails and no food. So we met Luana Pereira. Woman, 30 years old, white and homeless for five years. After a while talking, Luana felt comfortable telling her history. She came from Bahia to Curitiba to meet a boy she met on the Internet. They lived together for three months, but after a while she discovered that he already had another family. She was
The research reveals the order pointed out by homeless people as the main causes of being there. For first: drugs, then alcohol, family conflicts, unemployment, loss of housing, disappointment of love, choice/preference and, finally, threat/violence. Juciméri Silveira is a social worker and coordinator of the PUCPR Human Rights Center, was superintendent of FAS, and helped organize a survey in 2016 about homeless people in Curitiba. For her, among the factors that cause the loss of women’s housing are family conflicts, sexual orientation and drug abuse. “Women are exposed to state violence, which often happens when prospects that we call hygienists advance, which wants to promote an apparent cleanliness of the urban space and often end up generating a forced exit from the street situation,” she says. These women assume they have made
la. She could be one more person walking downtown, but no. She was part of it. It was her house there. A mattress, a blanket and a slipper. Fabíola Gomes is a portrait of what permanence on the streets can do with a person’s life. She is young, 28 years old and had a promising future. Mother of two children, married, with employment, salary and a roof. A life that was planned to never pass needs. But she suffered a disappointment in the marriage and, for “a slip,” Fabíola says she got into drugs – she’s a crack user. Born in Fortaleza, she came to live in Curitiba to lead a better life and, contrary to what she imagined, only worsened. Fabíola is currently on the street, and has been unemployed for a year. Without contact with the family, she felt supported by the new boyfriend, David de Oliveira, who is also a drug user and homeless. “Only those who pass the street understand what happens here.
“Although they are visible in the city, they are socially invisible.”Juciméri, social worker devastated. Without the courage and money to return to her hometown, he saw on the street what was to be a temporary solution. “We are the minority in the streets. You see, right? But what nobody realizes is that this minority is much more exposed to violence and crime. I sleep at daytime because at night I do not have the guts. I wrap myself around the blanket, hoping they think it is just another man on the street. I have seen many women here being raped and, as if the horror of it were not enough, they became pregnant or contracted diseases, “says Luana. The first and most recent municipal survey conducted by the Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS) in the year 2016 indicates that the estimated number of people living in the streets was approximately 1,700, of whom only 11% were women, and 89% were men. The average age is 24 to 44 years. About 60% of these people have incomplete elementary education.
wrong choices in life to be there. However, the lack of a human eye toward them is clear. For the woman herself has her peculiarities related to her needs, desires, some even facing all this with a child on her lap. “It is very recent the construction of rights for the population in street condition, although they are visible in the city, they are socially invisible,” says Juciméri. And there is not consistently the inclusion of these differences in policies and programs of attention to the population in the street. Rare are the studies on the different forms of violence that affect these women. “Those who call women of the fragile sex do not really know what it is to be a woman. What we have to hear and face. But I have faith that tomorrow will be better! After all, that is the only thing they can’t get out of me, “Luana adds. Among so many men seated under a tree of Rui Barbosa, we see Fabío-
There is true friendship until the first problem, the first lack of drugs. In the rule of the strongest, the woman always loses.” Fabíola said that she can’t go back to her hometown and that she has no news from them, even less from her children. “I really miss my mother and my children. I wish I could have someone to help me and to console me, but no one answers my calls. The drug relieves the pain of the longing for the life I had.”
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With no other option, some women are on the street with their children Jornalismo PUCPR Revista CDM
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In the streets, Fabíola and most of the women report that it is a daily struggle to live on the sidewalks of Curitiba. Here they learned about violence in territorial disputes, gender oppression, lack of privacy, drug trafficking and hygiene difficulties. Michelly Rodrigues is black, is 26 years old and has been living on the street for three years. Without jobs and family, she finds solace in drugs. It all started in Francisco Beltrão, her hometown. She decided to live in the capital, thinking she would find better job opportunities and more freedom to make her decisions, but that was not quite the case. According to her, society did not accept her for lack of experience and “be-
we fight equally, and we always lose. It’s better to lose the money we got during the day than to be raped in the middle of the night for revenge!” Michelly says. Despite violence and suffering, most women find it difficult to cope with and reverse their own situation of life, whether it is the drugs, the difficulty of being accepted into jobs, or the abandonment of their families. According to social worker Juciméri, the main complaints of women living on the streets are: the violence suffered, insufficient income to guarantee their own and their children’s support, and the breakdown of social ties. And the worst consequence of this fate is that these lives go through
all who are in situations of violence and extreme poverty. Work done to help women take back social and economic autonomy. There are also passing homes for women and trans (or transvestites), who identify with the female gender, those who suffer from domestic violence and those who are with their children. “Since they are in a very fragile condition, the main role of the teams that will approach them is to bond with these women, comfort, confidence, guidance and support. So, part of this work is an active search, identifying these women in the streets, offering services so that they can access,” says Juciméri. The service provided by the City
“I confess I’m using drugs to forget for a minute that I’m on the street. No house, no one and afraid.”Michelly Rodrigues cause of color.” “I used to fight a lot with my parents, I had relationships that made me sick, I got so much and one day I thought about taking my life. I thought it would be better here. It was not. I confess I am using drugs to forget for a minute that I am on the street. No house, no one, and afraid.” There were many reports of violence by the partners themselves. Despite being a horrible experience, these women have acquired some tolerance for non-physical forms of violence. “In the street, any ‘crossed look’ is cause for a fight. And there is no man here to fight only with men, no. Here
poverty, abuse, mental disorders, addiction to alcohol and other drugs, breaks in family ties, and illness. “They are subjected to a situation that is inhumane, it is not dignified to be on the street, it is necessary that the public power develops policies of housing, care for freedom and protection.”
Public services support The City Hall of Curitiba offers some options for these women to take refuge, such as: five exclusive shelters for women, in which integrated and humanized spaces are provided for
Hall, FAS, operates 24 hours a day in the active search of the population in a street situation. Families are offered a shelter to spend the night, which provides hygiene and food service. However, despite everything that is available, many women prefer to spend the night on the street. “In these shelters they have a lot of drug use, in addition, we do not have places to leave our carts of cardboard carrying. We have to leave them somewhere and hope the next day to find them in the same place, “says Patrícia Márcia Inácio, who is a paper picker and former homeless. Natalia Filippin
Most women who live on the streets claim to be afraid of sleeping because of threats and harassment.
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Access to services
FAS data points on the circulation of homeless people in shelters related to 2016
Central POP
25,8%
Casa de passagem
22,3% 16,8%
Consultório na Rua
13,6%
CREAS UAI CRAS Outros serviços de assisstência Casa da Acolhida e do Regresso Casa de Passagem Feminina Intervindas
7,8% 5,2% 4,5% 2,0% 1,9% 0,1%
Work done on the sidewalks Kaueni de Souza, 22, a resident of a suburb of Curitiba, reported that she finds it difficult to find places in kindergartens to leave her four children, minors, to go to work. And in order to support the family, she takes the children to the streets to sell candy and pick up cardboard. In addition to the money raised from the day-to-day effort, Kaueni counts on donations of clothes and money. “People have grown accustomed to this reality. No one else is shocked to see a mother on the street with her children. So that’s the problem. “
Natalia Filippin
Sandra Cristina de Carvalho has already looked at life with different views. Six years ago she was a homeless person and had difficulties, of which she says: “Only those who have gone through this, understand.” Sandra reported that the major problems are with hygiene, places to shelter and a lack of respect of the population with the homeless. Currently, Sandra is married to Edenilson da Silva. They are paper pickers, live in a rented house and, despite all the difficulties, they do not let food be lacking at the table. “It was a very bad moment in my life, but I learned that we can never complain about it. Today I thank every minute for a place to call mine,” says Sandra. Natalia Filippin Natalia Filippin
Patrícia Márcia Inácio has been a collector of recyclable materials for 20 years and had to live with the reality of being on the street for six months. Currently, the 45-year-old woman spends her money paying the rent of a house in Prado Velho and her and her 14-year-old daughter’s support of the cart she carries every day around XV Street. She faces sun, rain, financial difficulty to pay her bills at the end of the month and the “name calling” of some people passing by her. “They say this and that, but if they complain that they come to me and give me a job,” she says.
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título da seção cidades
Jovens e o consumo de álcool
Angélica Klisievicz Lubas
Diversos fatores são apontados pelos jovens a respeito da motivação para o consumo de álcool. Alguns dizem ser por curiosidade, outros por diversão e pelo prazer. Mas até que ponto isso é saudável?
Angélica Klisievicz Lubas Renata Martins
O
estudante de Direito Rafael Guiraud, 21 anos, consome bebida alcoólica desde os 17 anos e já passou por situações de perigo graças ao álcool. Ele crê que a vida é feita de escolhas e que se um jovem tem consciência do seu limite, não vê problema que beba. Por outro lado, afirma que o que não pode acontecer, seja menor ou não, é beber demais a ponto de perder a noção. Erika Floriano de 22 anos é estudante de Economia e não consome bebida alcoólica. Ela acredita que muitas vezes o jovem usa o álcool como uma fuga, buscando se livrar dos problemas ou viver algo fora do comum, assim como outras pessoas utilizam outros tipos de drogas. Para ela, a oferta da bebida é muito alta e o desejo pelo novo e diferente é muito comum entre os jovens. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o álcool é a substância psicotrópica
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considerada a droga legal mais utilizada por jovens e adolescentes no Brasil e no mundo. O consumo nessa fase pode gerar repercussões durante a vida adulta. Quanto antes se inicia o consumo do álcool, maior a probabilidade de se tornar dependente, é o que relata o pediatra Marino Miloca. Segundo o médico, a bebida alcoólica afeta áreas do cérebro comprometendo funções essenciais, como memória, aprendizado e cognitividade, além de ser um fator de risco para algumas doenças e determinante para outras. “Independentemente de ocupar ou não o papel principal, o álcool está relacionado com acidentes vasculares cerebrais, pancreatite, cirrose, câncer de esôfago, hipertensão, miocardiopatia alcoólica, dentre diversas outras doenças”, afirma Miloca. Em contrapartida, a Academia Americana de Pediatria (AAP) afirma que a maioria dos adolescentes que experimentam entor-
pecentes não se tornará usuária regulares do mesmo. Ainda segundo Miloca, existem estudos que defendem que o consumo moderado de bebidas alcoólicas, para maiores de 18 anos, podem ajudar na prevenção de doenças cardiovasculares, mas que ainda não há um consenso sobre a quantidade. Dados do SBP apontam que quase 40% dos adolescentes brasileiros experimentaram álcool pela primeira vez entre 12 e 13 anos, em casa. A maioria dos jovens ingerem bebidas entre familiares, estimulada por pessoas próximas que já bebem ou usam drogas. Entre adolescentes de 12 a 18 anos, que estudam nas redes pública e privada de ensino, 60,5% declararam já ter consumido álcool. A psicóloga Maria da Penha Amorim, especializada em estratégias com famílias em risco, conta que quando uma família
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consome álcool dentro de casa, a criança pode interpretar como uma atitude cotidiana e compreender que é algo positivo, seguindo assim o exemplo dos pais. “De qualquer maneira, o álcool é uma droga, ele transita socialmente de uma forma muito tranquila, contudo, ele não deixa de ser uma droga, pois altera o comportamento”, reforça a médica. Um consenso entre médicos e psicólogos é que o consumo de bebidas está intimamente ligado ao contexto social em que o adolescente/jovem está inserido. Eles
adolescentes consumiram bebidas alcoólicas pelo menos uma vez nos 30 dias anteriores à pesquisa e desses, aproximadamente 2/3 o fizeram em uma ou duas ocasiões nesse tempo. O Erica ainda mostrou que entre os adolescentes que bebiam, 24,1% beberam pela primeira vez antes dos 12 anos de idade, e que os tipos de bebidas alcoólicas mais consumidas pelos adolescentes foram os drinques à base de vodca, rum e tequila, além de cerveja.
ção brasileira acima de 15 anos é considerada alcoólatra. Nesses casos, o primeiro passo para o tratamento, segundo a psicóloga Maria da Penha, é o reconhecimento do motivo que leva o jovem ao consumo da bebida alcoólica. Ela também esclarece que o tempo de tratamento varia de pessoa para pessoa, que podem haver algumas crises de abstinência e que é imprescindível a ajuda dos familiares e amigos. Maria ainda indica o jovem a procurar ajudas paralelas. “Um
“Os adolescentes estão muito suscetíveis ao uso abusivo do álcool.” Marino Miloca, pediatra
querem uma aceitação por parte do grupo e buscam fugir das pressões da sociedade atual, eles vêem no álcool uma fuga (temporária) da realidade, uma forma de autoafirmação. “É uma fase de desenvolvimento e impulsividade, os adolescentes estão muito suscetíveis ao uso abusivo do álcool”, reafirma o pediatra. André Luiz, de 21 anos, conta que antes não consumia bebida alcoólica, mas quando saía em grupo com os amigos se sentia excluído. “Nunca me senti pressionado pelos meus amigos, apenas sentia que não estava curtindo tanto quanto eles, e então comecei a beber”, afirma o jovem. O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), realizado em 2016, avaliou mais de 74 mil adolescentes de 1.247 escolas em 124 municípios brasileiros e obteve os seguintes resultados: cerca de 20% dos
O estudante de Educação Física Edrian Antunes, de 21 anos, começou a consumir bebida alcoólica influenciado por familiares. Aos 14 anos, ele já havia experimentado e hoje reconhece que o consumo foi precoce. “Acho errado (começar tão cedo), pois o organismo de uma pessoa tão jovem ainda não está preparado para receber o álcool”, finaliza. Segundo dados de 2014 da Organização Mundial de Saúde (OMS), 4% das mortes por ano são consequência do consumo excessivo de álcool, o que representa cerca de 2,5 milhões no mundo. Isso faz com que o álcool se torne mais letal que a Aids e a tuberculose. A OMS também estima que 76,3 milhões de pessoas no mundo possuem diagnóstico de consumo abusivo de álcool. No Brasil, são estimados cerca de 4 milhões, ou seja, 3% da popula-
exemplo que ajuda muito é os programas de Alcoólicos Anônimos (AA), que possuem uma proposta positiva, ou seja, a história de ‘um dia após o outro’, e isso faz com que se obtenha sucesso através das diversas tentativas dos anônimos”, exemplifica a psicóloga.
Pablo O Alcoólicos Anônimos, o A.A., surgiu em 1935 por meio do encontro de um advogado com um médico, ambos alcoólatras. Eles conversaram sobre o seu problema em comum: o alcoolismo. Com o tempo notaram que juntos poderiam enfrentar essa doença. E esse é o principal objetivo do A.A.: um fortalecer o outro, de acordo com Amadeu, coordenador do A.A. da área 37 de Curitiba. Detalhes de lado, vamos falar um pouco do Pablo, que prefere omitir seu nome. Por volta Jornalismo PUCPR Revista CDM
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de seus 13 anos, Pablo teve seu primeiro contato com a bebida alcoólica. Tinha um exemplo negativo: o pai era alcoólatra, o que fez com que ele despertasse um interesse prejudicial. Acostumado com o meio em que vivia, Pablo aumentou seu consumo de álcool de forma muito rápida. Entrou em coma alcoólico duas vezes em sua adolescência. Junto ao álcool, ele conheceu outras substâncias que o prejudicaram ainda mais. “Em pouco tempo, eu já consumia muito e isso foi gradual, é uma doença incurável e fatal. A gente não se cura do alcoolismo, a gente tem o alcoolismo”, afirma. Durante a juventude ele costumava sair bêbado de carro, colocava a própria vida e a de muitas pessoas em risco, se envolveu em acidentes, testou a sua vida. “Eu não gostava de mim. Bebia todas, queria ir até o fundo”, conta. Nada mais era importante. Aos 20 anos Pablo conheceu o A.A., mas seria uma saída? Ainda era difícil de acreditar, assimilar os ideais de uma irmandade – como os frequentadores o A.A. à chamam – era complexo. “O A.A. funciona, mas só quando o alcoolizado está disposto a encarar os fatos”, ele não estava pronto. Ao alcançar seus 25 anos, Pablo enfrentou o auge de sua derrota. Estava no “fundo do poço” e só assim ele decidiu se entregar ao A.A. e vivenciar a filosofia deles. Aprendeu sobre os 12 passos – relação do próprio alcoólatra com ele mesmo – e as 12 tradições – relação para com o grupo. Trocou experiências, compartilhou, se apresentou “sem medos e sem reservas”. Para Pablo, a Irmandade se tornou um refúgio. “Ela me deu essa base pra continuar sóbrio, me ajudou com a mudança de hábito e de pensamento.” “Nos anos anteriores minhas tentativas eram falhas e o A.A.
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surgiu como um remédio”, disse feliz. Hoje ele tem 32 anos e sua última recaída foi há seis meses. Caiu em uma armadilha e bebeu uma lata de cerveja. Ficou abalado? Um pouco, mas continuou se fortalecendo. “O milagre, do poder superior e do A.A., me proporcionou estar vivo, estar bem. Foi como um passe de mágica”, conta Pablo.
Ana “Eu estava numa festa de aniversário de 15 quando bebi meu primeiro copo de vinho”, contou Ana*. A busca pela aceitação começou fez com que Ana começasse a beber. Após ingerir ácool, Ana passou a integrar o grupo dos “descolados”. Mais alterada, ela se tornava uma pessoa diferente, fez novos “amigos” e começou a namorar. Aos 15 anos, de melhor aluna da turma se tornou reprovada. Perdeu uma avó para o câncer e sentia-se estranha no próprio lar... Tudo colaborou para que ela entrasse para um mundo escuro. Começou a usar calmantes junto ao álcool. Durante o período de faculdade, bebia de quinta-feira a domingo, acompanhada pelo namorado e
amigos. Tinha apagões, mas não recorria a lugar algum.
que é uma garrafa de álcool”, contou Ana.
Aos 20 anos ficou solteira e começou a sair com amigas. Em suas noitadas não se recordava de tudo. “Em uma noite despertei quando fui arremessada numa caçamba por um rapaz que provavelmente almejava fazer sexo comigo. Não me recordo de como cheguei em casa”, contou Ana. O susto foi tão grande que a fez parar de beber e buscar uma religião, ideia que ainda a assustava. Sã, não conseguia fazer amigos e depois de um tempo se viu sozinha.
Em um dia comum, Ana saiu para tomar um chopp às 20 horas e acordou às 8 da manhã na casa de um estranho. Espantada, disfarçou. Pediu desculpa e saiu. As lágrimas à acompanharam até o final do dia, quando encontrou uma sala de A.A. online.
No trabalho recebeu o primeiro convite para uma festa. Bebeu e voltou a ser a “melhor companhia para baladas”. Começou a usar estimulantes para manter-se com um ânimo a mais. Ana destruiu um relacionamento, perdeu seu trabalho e se envolveu com um homem casado. Sofreu acidentes automobilísticos, uma concussão cerebral e chegou a incendiar sua casa. De tudo, só restava lembranças. Concluiu a faculdade, mas não esconde a sua frustração. “Estudei menos do que eu gostaria e trabalhei apenas para resumir a minha vida a essa ‘estranha ilha
Na sala de A.A. ela compreendeu o que era ser alcoólatra: era a compulsão e a obsessão pela busca dos bons momentos. No grupo, foi recebida como um ser humano digno em busca de recuperação. Sentiu-se acolhida. A primeira reunião ocorreu no dia 09 de março de 2017 e, desde então, ela não bebeu mais. Não sente-se mais parte dos lugares dos quais ia, sente-se uma mulher renovada. Aos 32 anos e em recuperação, tudo ainda é novo. Mas se tem algo de que Ana tem certeza é de que “apenas por hoje”, ela se orgulha de estar consciente quanto às suas escolhas, por estar vivendo o presente, “por ter iniciado a trajetória necessária para ser uma filha melhor, uma irmã melhor, uma amiga melhor e uma profissional melhor”.
Vidas alheias em risco Beber e dirigir não é uma opção O consumo de bebida alcoólica, além de prejudicar física e mentalmente o jovem, também coloca em risco a sua vida e de terceiros. No período de janeiro de 2016 até fevereiro de 2017, segundo dados do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), ocorreram 158 acidentes envolvendo condutores embriagados que tinham
entre 18 e 29 anos. Esse número representa 30,62% do total de acidentes registrados nesse período. Por outro lado, durante o mesmo intervalo, não ocorreram acidentes envolvendo condutores menores de idade alcoolizados. Foram 137 homens envolvidos e 21 mulheres.
O médico Marino Miloca também falou sobre o perigo que o álcool representa no trânsito. “Mesmo com a Lei Seca, ainda lutamos contra inúmeros e crescentes casos de direção e álcool, que resultam em acidentes, muitas vezes, mortais”, comenta o pediatra.
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Motivação dos jovens Curiosidade
18,5% Prazer
Não consumiram
52,3%
15,4%
36,9%
Consumiram
41,5%
Motivador Motivos do consumo
Não tem importância
Motivos para não consumir
Medo das
16,9% consequências
Medo dos pais
6,2%
Alívio do estresse
7,7%
Influência de amigos
3,1%
3,1%
Religião
O medo dos jovens, a respeito dos pais, mostra que esse tema precisa ser abordado dentro de casa. A psicóloga Maria da Penha Amorim é especializada em estratégias com famílias em risco e afirma ser imprescindível o diálogo sobre o assunto. Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria
Luis Agottani, 21 anos Acredito que a bebida é um complemento, se alguém precisa beber para tornar algo divertido, essa pessoa precisa rever algum conceito.
Gustavo Silva, 24 anos Nunca bebi, cresci longe de bebidas e vícios. Hoje vejo jovens que tentam preencher vazios com bebidas, mesmo existindo outros meios de se divertir e sem ingerir álcool.
Yasmin Ferreira, 22 anos Eu já tive meus momentos de exagero, mas não acho legal. Acaba estragando a própria noite e a noite de quem está junto. 22
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Heidy Friedrich, 21 anos Nunca gostei de bebida e tive exemplos positivos em casa. Tudo tem seu tempo, menores não deveriam consumir bebidas, por prejudicar vários fatores.
Douglas Olgado, 21 anos Não bebo porque vejo as coisas erradas que bêbados fazem e me imagino no lugar deles. Respeito meus pais que nunca beberam, não quero preocupa-los.
João Kreich, 19 anos Já fui em festas com muito álcool e uma hora cansa. Prefiro aproveitar as companhias, o momento, coisa que com o álcool, as vezes, fica impossível.
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Sombras da noite No país que mais mata travestis no mundo, o preconceito está sempre à espreita e gera medo Natalia Filippin, Thaise Borges e Yuri Braule
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espeito! Essse é o apelo de Kelly Souza, 28 anos, nascida em Maceió e há cinco meses buscando novos caminhos em Curitiba. Ela é travesti. Desde criança, não se via como homem: ela não era aquilo, ela era a Kelly, sempre foi. Quando os sapatos de salto da mãe no chão ressoavam em seus ouvidos e aquelas maquiagens pela penteadeira, cheias de cor, lhe faziam querer usá-las, ela era Kelly. Quando desejava ter cabelos longos, usar vestidos e ser reconhecida como mulher, ela era Kelly. Dos 14 para 15 anos, resolveu libertar, aos poucos, aquela pessoa que existia dentro dela. Mas tinha medo. Da família, da sociedade, dela mesma. Parece clichê, mas você já parou para pensar como deve ser terrível a sensação de não se pertencer, não poder se expressar, não conseguir ter amor pelo que vê refletido no espelho? Costumam dizer que travesti é uma pessoa que “não se decide”. É homem? É mulher? É o quê? Para Kelly, travesti é ela. Na hora do nascimento, ela até podia ser João, Pedro ou Marcos. Mas, agora, Kelly é Kelly. Assim como tantas outras pessoas que nasceram em um sexo, no qual não se sentem realizadas e, assim, assumem um papel de gênero diferente do sugerido pela sociedade. Travestis e transexuais são populações que carregam uma imensa carga de preconceitos desde sempre. Essas pessoas estiveram, e ainda estão, na ponta de lança das discriminações existentes no Brasil com a população LGBTT, que é a sigla designada para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Isso ocorre porque essa população ostenta uma identidade de gênero diversa da imposta pelos padrões em que homem é homem e mulher é mulher, e qualquer coisa que fuja dessa norma é encarada com estranhamento, motivo para ódio, agressão, exclusão e até
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Dos 14 para os 15 anos, Kelly resolveu se assumir como travesti
morte. “É barra ter que lembrar que ainda não podemos sair de casa tranquilas. Muitas de nós só queremos ser tratadas como pessoas. Mas, mesmo com grande apoio de grupos e associações, essa classe ainda é alvo fácil para a violência e o desrespeito”, relato de Viviane, 26 anos, nascida em São Paulo, travesti e há três anos fazendo programa na região central de Curitiba. Diferentemente do que é propagado pelas mulheres trans, travestis não querem ser identificadas como mulheres travestis. Elas reivindicam, sim, o respeito às suas vivências e individualidades, bem como o viver na classe feminina, assim como o direito de serem respeitadas suas identidades de gênero dentro desse universo feminino. O que, infelizmente, não acontece na maioria das vezes. Pois, após se sentirem em um gênero diferente do que lhes
foi atribuído no nascimento, essas pessoas passam a enfrentar uma luta para viverem sua identidade. E, para complicar ainda mais, não contam com uma legislação que as proteja. Dados da União Nacional LGBTT apontam que o tempo médio de vida de uma pessoa transexual no Brasil é de 35 anos, enquanto a expectativa de vida de uma população em geral é de 75 anos, de acordo com informações divulgadas em dezembro de 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Kelly, Viviane e outras milhares de travestis pelo mundo sofrem diariamente por ser quem são. Não é preciso nem falar, nem fazer nada, elas já são julgadas pelas pessoas, seja pelas roupas, pelo modo de viver, por ser uma “aberração”, por não ser o “comum”.
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Trabalho Viviane se considera uma pessoa extremamente desconfiada e violenta. Não porque ela quis, mas foi a maneira com que ela conseguiu aguentar firme até hoje. Aos 20 anos, ela perdeu a mãe e, então, mesmo com a dor, ela tinha que dar um jeito para ganhar dinheiro. Afinal, era ela e mais dois irmãos. Sozinhos. Foi a todo lugar, “ralou” entregando currículos, mas de nada adiantou. E olha que o problema não foi por não ter nenhuma faculdade ou experiência. “O problema foi porque eu era um homem vestido de mulher. Nenhum lugar queria! Aliás, nem me olhavam direito e já vinha o não.” Viviane foi obrigada a viver como homem. Vestir-se e portar-se como tal. E tudo isso porque como homem ela era aceita na sociedade. Virou garçom, cabeleireiro, balconista. Conseguiu trabalho, sustentou a casa e deu aos irmãos, o que ela mesma não sentia, a alegria. Ela vivia essa realidade obscura, mentirosa, doída. Ela não era aquilo, ela não era garçom, ela queria ser garçonete, ou qualquer outra função que lhe pudesse dar o direito de ser ela. Assim como ela se sentia. Mas, ninguém sabia, ninguém podia saber. “Muitas de nós gostaríamos de arranjar um emprego com rotina, horário de
trabalho e carteira assinada, mas o preconceito fica evidente quando vamos nos candidatar a uma vaga”, completa Viviane. Este segmento social não consegue um emprego formal e, por isso, na maioria das vezes, realiza trabalho informal e/ou atua na prostituição. A hipótese é que isso ocorre devido ao preconceito presente na cultura brasileira, que atinge todos os setores da sociedade. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% das travestis e transexuais estão se prostituindo no Brasil.
Violência e saúde De acordo com os dados do segundo Relatório sobre Violência Homofóbica, publicado pela Secretaria dos Direitos Humanos, ligada ao Ministério da Justiça, somente em 2012 foram quase 10 mil denúncias de violação de direitos humanos relacionados a esta população registradas. Catuxa Bougers é vice-presidente do Transgrupo Marcela Prado, que atua com esse mesmo objetivo, o de promover a cidadania, saúde, educação, segurança pública, defesa dos direitos humanos e, incansavelmente, combater os estigmas socialmente construídos sobre o tema. “Para que dife-
renciar? Somos todos humanos, somos todos iguais. É dever respeitar. Eu e você somos iguais, é só ver com o coração, como ser humano”, diz. O Transgrupo surgiu como um núcleo dentro do Grupo Dignidade — pioneiro no estado do Paraná na área da promoção da cidadania LGBTT e foi a primeira organização no Brasil nesse âmbito a receber o título de Utilidade Pública Federal. O Transgrupo tem esse nome porque, na década de 1990, Marcela Prado foi a primeira mulher trans a levantar a bandeira das pessoas transexuais, tendo como missão incluir pessoas diferentes num mesmo ambiente, promover inclusão, integração, sentimento de pertencimento e aceitação social. “Não olhe o meu sexo. Olhe-me como a pessoa que eu construí, me olhe como eu me sinto ser. Eu me construí feminina, então é assim que quero ser tratada. É a liberdade das pessoas em ser o que elas quiserem. E vocês não sabem o quanto isso é importante para nós”, afirma Catuxa. O Transgrupo Marcela Prado também trabalha na prevenção da saúde, dando orientações, disponibilização de preservativos, palestras, cartilhas, capacitações em saúde e realizando regularNatalia Filippin
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mente atividades voltadas para a prevenção de HIV/Aids, hepatites virais e outras DST, como testagem de fluído oral e testagem de Sífilis e HPV. Tudo isso em parceria com o Departamento Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC). Essas atividades são feitas com abordagens semanais. “É uma ação muito boa. Eles vêm até nós para entregar preservativos de graça, perguntar se está tudo bem. E essa ação não é mais ‘patrocinada’ pela prefeitura, é preocupação deles mesmo”, comenta Stephany, 20 anos, também de Maceió e que está em Curitiba tentando a “sorte”. Para ela, essa luta contra o preconceito e a discriminação está só no começo. “Eu admiro muito as iniciativas feitas para a nossa inclusão, isso deve ter e nos ajuda, mas, pensar que essa realidade vai mudar... Acho difícil! Falta muito ainda para a
sociedade nos ver como pessoas”, completa. E os impasses não param por aí. Não é possível ter um número exato de quantas são as vítimas LGBTT em casos de assassinato, ou até mesmo de agressões, que por sinal são relatadas em quase todas as travestis. “Quando morre uma travesti, nunca é respeitado o seu nome social, que é o nome pelo qual as pessoas escolhem ser chamadas e não aquele que é identificado em documentos. Se a travesti se chama Ana e no documento está escrito Edson, é enterrado como Edson. Os dados existentes só diferenciam homens e mulheres”, comenta Viviane. Devido a isso, criou-se a Rede Trans Brasil – Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil, que é um site de monitoramento desses acontecimentos. Catuxa diz que de janeiro até agora, foram 144 assassinatos, 54 tentativas de homicídios e 54 violações aos direitos humanos.
Segundo pesquisa da organização não governamental Transgender Europe (TGEU), rede europeia de organizações que apoiam os direitos da população transgênero, entre janeiro de 2008 e março de 2014, foram registradas 604 mortes no Brasil, sendo o país com o maior número de assassinatos de travestis e transexuais no mundo. A Secretaria Especial dos Direitos Humanos, vinculada ao Ministério da Justiça e Cidadaina, apontou o recebimento, pelo Disque 100, de 3.084 denúncias de violações homofóbicas relacionadas à população LGBTT. “Seria muito bom termos dados em relação a isso, justamente para vermos se nossa luta está fazendo efeito. Mas a questão maior é que se nem em vida atingimos a compreensão, o respeito, o zelo pela vida, depois de mortas ser enterradas como homens, é só o reflexo de que falta muito, muito mesmo, para mudarmos esse jogo”, diz Catuxa. Natalia Filippin
A luta do gênero O processo de mudança de sexo vem avançando no Brasil. A ação é feita através de um advogado particular ou pela Defensoria Pública. É necessário possuir negativo nos cartórios eleitorais e civis. Reunir testemunhas, fotos, laudo psicológico que atestem a sua identidade feminina. Maria Vargas, 38 anos, trabalha em um pensionato para transexuais. Em 2004 operou o nariz, depois colocou próteses de silicone. Aos 25 anos, criou coragem de mudar a genitália. “Ser trans e travesti no Brasil é resistir! É luta diária. A mesma sociedade que empurra a trans para a rua, para a prostituição, é a mesma que condena as que estão na rua lutando para sobreviver”, completa Maria.
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Oito em meio a oitocentos e trinta Apesar de ser um ambiente predominantemente masculino, as mulheres dentro do Exército são tratadas sem diferenciação Angélica Klisievicz Lubas Renata Martins
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ãe de duas filhas, de 13 e 15 anos, Maria Emília Arcanjo Nogueira é terceiro sargento técnico temporário do Vigésimo Batalhão de Infantaria Blindado (20º BIB), ou Batalhão Sargento Max Wolf Filho, que fica no bairro Bacacheri em Curitiba. Aos 38 anos, ela conta que ama o que faz e que aprendeu a conciliar a vida militar e a civil. A sargento Arcanjo, como é chamada no Exército é técnica em enfermagem de formação e quando pequena, sonhava em ser da Marinha, mas acreditava ser impossível chegar lá. “Eu nasci no norte do Paraná, e meu pai era rígido, daqueles que diziam que mulher tem que saber cozinhar e cuidar da casa. Eu sabia que não teria condições de sair de casa para estudar no Rio de Janeiro.” Em março de 2014 ela entrou como temporária no Exército para trabalhar na área da saúde. “Quando eu entrei, achei que iria trabalhar no hospital do exército e não no batalhão. Eu praticamente caí aqui de paraquedas.”
O 20º BIB, onde Arcanjo trabalha, foi criado em 1972 e possui uma área de quase 200 mil metros quadrados. É uma das unidades mais antigas do Exército Brasileiro e funciona como o segundo Centro de Treinamento Virtual instalado no Brasil. Ela está entre as poucas mulheres que trabalham no local. “Aqui no batalhão tem cerca de 830 militares e apenas 8 são mulheres então ainda é um ambiente muito masculino”, complementa a sargento. As mulheres estão isentas do serviço militar obrigatório, na forma prevista pela Constituição. No entanto, hoje, podem servir como militares de carreira ou temporárias. Segundo dados da Agência Verde Oliva, oficial do Exército, em fevereiro deste ano a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) abriu pela primeira vez uma turma para mulheres, no estado do Rio de Janeiro. São 446 jovens, entre 16 e 21 anos, que compõem a turma de 2017. Desse total, 40 pertencem ao
sexo feminino. Todos os alunos passaram por uma rigorosa seleção e por uma fase da adaptação. O curso é a etapa inicial da formação dos oficiais combatentes da Força Terrestre e tem duração de 46 semanas. A sargento considera essa turma um avanço para as mulheres, já que até o ano passado era um curso que só garotos podiam realizar. Na EsPCEx, homens e mulheres terão a mesma rotina de estudos e treinamentos. “O nosso organismo é diferente do masculino, mas fazendo treinamentos diariamente e se alimentando corretamente nós conseguimos fazer praticamente tudo que eles fazem”, diz a sargento. inclui técnicas militares, como ordem unida, regulamentos e normas do Exército, armamentos, topografia e orientação, idiomas e treinamento físico. Apesar da mesma rotinas práticas nos cursos, existem algumas algumas diferenças no treinamento diário militar. De acordo com Angélica Klisievicz Lubas
Mesmo em um ambiente masuclino, as mulheres mantem sua vaidade. Jornalismo PUCPR Revista CDM
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profissão
“É um mundo mágico, pois você terá duas vidas, uma militar e uma civil.” Maria Emília Arcanjo, sargento a Arcanjo, há algumas marchas equipadas com mochilas, nas quais é necessário carregar cerca de 15 quilos, além do armamento. “Geralmente, as mulheres não fazem essas marchas e, se fazem, é com com um peso reduzido”, afirma. Além das marchas, outro exemplo é o exercício de flexão de braço. As mulheres o fazem com os joelhos apoiados no chão pois, segundo a sargento, podem existir problemas de saúde devido à repetição dos exercícios, que são realizados toda semana, de segunda a quinta-feira. “Essa rotina pode causar problemas de ovário e até deixar a mulher estéril.” Agora, depois dessa alteração, as mulheres podem seguir carreira por concurso de âmbito nacional para as Escolas de Formação Complementar do Exército (EsFCEx), de Saúde do Exército (EsSEx), Escola de Sargentos de Logística (EsSLog) e Instituto Militar de Engenharia (IME). A mulher que deseja ingressar no Exército como oficial ou sargento temporário precisa ter um curso técnico em determinada área e deve participar das seleções realizadas pelas Regiões Militares. “Eu entrei na área da saúde, mas também tem outras várias”, afirma Arcanjo. O capitão Bruno Leite afirma que essa seleção acontece uma vez por ano, e possibilita que os temporários trabalhem no Exército por um período máximo de oito anos. Nesse tempo, o oficial permanece com a mesma patente, sem possibilidade de ascender.
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São diversos os cargos que as mulheres podem ocupar nas organizações militares em todo o mundo. Elas recebem as mesmas instruções básicas dadas aos homens e todos têm as mesmas condições nos cargos e nas promoções. “A pessoa, para ser militar, tem de ter vocação, assim como para outras profissões. Não importa o gênero”, conta o capitão.
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Arcanjo diz não que não se sente inferior a ninguém no quartel. “As vezes eu brinco que além de fazer o serviço deles, eu ainda sei salvar vidas. Nenhuma mulher aqui pode se sentir inferior, cada um tem o seu papel, cada um faz o seu trabalho.” Ela ainda conta que percebe três reações dos homens quando se deparam com uma mulher em um ambiente militar. “Existem aqueles que te olham como militar, assim como aqueles que te olham como mulher e aqueles que te admiram por você ser mulher e estar aqui” e completa dizendo que nunca foi desrespeitada ali dentro. A sargento finaliza, deixando uma dica para as meninas que querem entrar na vida militar. “É um mundo diferente, mas é um mundo mágico, pois você vai ter duas vidas, uma militar e uma civil. Para a pessoa que tem vontade de estar aqui, vai ser um mar de rosas. Como qualquer trabalho lá fora, vai ter o seus problemas e desavenças, pois você está lidando com pessoas e embaixo da farda nós somos pessoas”, reforça.
O 20º Batalhão de Infantaria Blindado é uma das unidades mais antigas do Exército Brasileiro.
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Comentário Aos 21 anos, o tenente Rodrigo Barcelos reconhece e admira o esforço feminino dentro do Exército É extremamente empolgante ver o interesse de algumas mulheres para entrar no Exército. Faz muito tempo que elas ingressam no mercado de trabalho e que não existe mais diferença entre o que homem e a mulher podem fazer. É muito bom ver que elas possuem escolhas com muitas possibilidades. Acredito fielmente que ambos os sexos possuem total possibilidade de exercer as mesmas funções, tanto aqui no Exército, como fora. Muitas vezes noto que a diferença entre o trabalho masculino e feminino é feita pelo próprio homem, às vezes as olham, desacreditando da sua capacidade, e tentam impedi-las de realizar alguma coisa. O que que não deveria existir.
Dificuldades todos nós temos e o que uma mulher que busca entrar aqui deve entender é que o Exército cobra muito a parte física e psicológica, então ela deve se interessar pela prática de exercícios físicos e aprender a viver sobre pressão. A mulher, e todos que almejam entrar no Exército, devem se exercitar com frequência, o que pode fazer com que os desafios sejam muito menores. Então ela deve ir atrás, não desistir e tentar a cada momento superar suas próprias expectativas. Eu costumo dizer que nós temos que esperar sempre pelo pior, pois ninguém sabe como funciona o Exército, então quando esperamos pelo pior, o que vier fica mais fácil de encararmos com mais tranquilamente.
Postos e cargos Mulheres e homens tem as mesmas chances de subir de patente O militares são divididos em postos e cargos. Na ordem crescente temos os graduados-(soldado, taifeiro de 1ª. e 2ª. classe, taifeiro-mor, cabo, 1º., 2º. e 3º. sargento e subtenente), os oficiais subal-
ternos (1º. e 2º. tenente e aspirante a oficial), oficial intermediário (capitão), oficiais superiores (major, tenente coronel e coronel) e os oficiais generais (generais de brigada, divisão e exército e marechal).
O serviço temporário Muitos militares entram como temporários e ficam no Exército durante oito anos Para se tornar um militar temporário é necessário atender a alguns requisitos globais. É necessário possuir um curso técnico ou ensino superior, médio e fundamental. Os homens devem ter mais do que 1,60m de altura e as mulheres 1,55m. Além de não ter como seguir carreira, eles possuem um limite de permanência de oito anos. Todo ano o contrato deles deve ser renovado. Algumas opções de funções para os temporários são: oficial médico, farmacêutico, dentista e veterinário; oficial técnico temporário (com curso superior concluído); sargento técnico temporário (com ensino médio e curso técnico) e cabo especialista temporário (com ensino fundamental e médio concluídos). Os oficiais devem ser brasileiros natos, já os praças podem ser naturalizados. As seleções para militares temporários ocorrem em regiões militares em todo o Brasil.
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A curitibana Isabelle Neris joga no time Voleiras desde 2015.
O jogo da
INCLUSĂƒO Em campo e em quadra, transexuais realizam sonhos e se encontram no esporte Karoline Mokfianski Mariana Balan
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dia 21 de março de 2017 foi um divisor de águas na vida de Isabelle Neris. Embora ela descreva a ocasião como um sonho, o que aconteceu foi a mais cristalina realidade. A data marcou a estreia da curitibana, de 25 anos, como ponteira do time Voleiras, na Taça Paraná, organizada pela Federação Paranaense de Voleibol (FPV). Era a primeira vez que a jovem participava de uma disputa como integrante de uma equipe feminina da modalidade. O esporte esteve presente na vida de Isa, como gosta de ser chamada, desde a infância, quando começou a treinar no já extinto Paraná Vôlei Clube, conhecido como “projeto Rexona”, comandado por Bernardinho em Curitiba. Foi incentivada por um grupo de amigas, sem muita pretensão, mais porque ficava à toa no contra-turno escolar. Nunca tivera contato com voleibol. Chegando lá, apaixonou-se.
no nascimento, relacionada ao sexo anatômico. A saída do projeto de Bernardinho da capital paranaense acabou desmotivando Isabelle, além de coincidir com sua fase de transição, da mudança de um corpo masculino para um feminino. Ela conta que é comum as pessoas imaginarem que o processo é rápido, “que um dia você vai estar de menino e amanhã vai acordar com cabelo comprido, seio”. É um período delicado, que exige paciência e machuca. A dor, porém, é pior que a física. É a dor que vem da discriminação. E o Brasil é cruel com os transgêneros. É daqui o recorde digno
Passou a se reunir com grupos que jogavam por hobby, “especialmente de homossexuais, porque eu sabia que não ia enfrentar problema”, segundo ela. Numa dessas reuniões, em 2015, foi convidada a integrar um time que estava se formando. Feminino, com intenção de participar de campeonatos. Isa deixou claro que poderia apenas frequentar os treinos, pois não tinha noção dos procedimentos burocráticos para poder competir com as meninas. Na época ela ainda não sabia, mas seu sonho estava cada vez mais perto de se tornar realidade. O estalo, como a própria Isabelle chama, veio quando ela conheceu e fez amizade, por meio das redes
“Quando eu soube a definição, eu falei ‘Eu sou uma transexual’.”
Mas como, então, o sonho só foi ser realizado mais de 15 anos depois? É que quando começou a treinar, no fim da década de 1990, ela ainda se vestia e se apresentava como menino. Isabelle é uma mulher transexual. “A partir do momento em que eu descobri o que era ser transexual, eu automaticamente me enquadrei. Não tive dúvidas, não analisei prós e contras. Quando eu soube a definição, eu falei ‘Eu sou uma transexual’”, relata. Conforme explica a psicóloga e pesquisadora Ana Lucia Canetti, transexuais são as pessoas que possuem uma identidade de gênero que difere daquela designada
Isabelle Neris, 25 anos de nenhum orgulho de país que mais mata transexuais no mundo, segundo levantamento divulgado pela ONG Transgender Europe em 2015. Para Ana Lucia, essa marginalização é fruto de uma sociedade intolerante e desrespeitosa com as diferenças, que muitas vezes quer manter as pessoas trans excluídas, invisíveis e até mesmo “eliminá-las”. Isabelle define sua transição como “punk”, pois foi quando começou a enfrentar preconceito aonde ia. Como não queria mais praticar com equipes masculinas – “Era muito triste quando eu tinha que jogar no masculino” –, desistiu de treinar em clubes. Mas o vôlei era sua paixão, e ele não se livraria de Isa tão fácil assim.
sociais, com Tiffany Abreu. Em fevereiro deste ano,Tiffany se tornou a primeira transexual a conseguir autorização pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB) para competir em um time feminino – no caso, o Golem Volley Palmi, equipe da segunda divisão da liga italiana. Tiffany teve o respaldo de um relatório divulgado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) no início de 2016, com as diretrizes para a participação de atletas transexuais em competições esportivas. O COI definiu que no caso de mudança de sexo biológico de masculino para feminino, a atleta precisa ter declarada a identidade de gênero feminina em seus documentos e manter
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baixo nível de testosterona. Não há necessidade de ter se submetido a uma cirurgia de redesignação sexual, a chamada “mudança de sexo”. No caso dos atletas que são homens trans, o COI não prevê restrições.
mou que Isa tinha seus direitos civis garantidos pela Justiça e que inexistia regulamentação de atletas transgêneros no voleibol brasileiro para embasar um veto.
vida de Isabelle, mas também na de um time de futebol de homens trans de São Paulo: o Meninos Bons de Bola. Os treinos acontecem sempre ao ar livre, na quadra
“Não somos pessoas ruins, não somos bichos.”
Como desde o final de 2016 Isabelle já tinha conseguido, por meio de um processo judicial, a alteração de nome e gênero em seu registro civil, decidiu arriscar. Queria poder competir com seu time, o Voleiras. E em 20 de março de 2017, o sonho bateu na porta: a atleta recebeu autorização da Federação Paranaense de Voleibol (FPV) para disputar a Taça Curitiba, torneio amador da modalidade que começava naquela mesma data. No documento, a FPV afir-
Erick Lima Ribeiro, 29 anos Além disso, a jovem já havia se submetido a um exame de sangue que comprovou baixo nível de testosterona. No dia seguinte, entrou em quadra numa nuvem.
Meninos de ouro O esporte foi aliado na luta contra o preconceito não só na
do Parque da Juventude, local onde funcionava o antigo Carandiru. Lá, num lugar onde antes imperava o terror, as manhãs de domingo são mais cheias de vida. O futebol se fez presente na vida deles desde que eram apenas crianças, ainda sem entender quem realmente eram. Quando trabalhava em um centro de referência da diversidade, Raphael
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Erick sonha fazer um curso para ser o primeiro bombeiro civil trans do país. 36
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Os Meninos treinam no local onde antigamente era o presídio do Carandiru. Henrique Martins, 30 anos, percebeu que só as mulheres trans é que frequentavam o espaço de convivência. “Por quê?”, pensou. Junto com os profissionais do local, pesquisou e pensou em estratégias. Até que no dia 8 de agosto de 2016, conseguiu atrair homens trans em um evento que reuniu conversas e muito futebol. Foi aí que nasceu o Meninos Bons de Bola. O que parece um simples grupo de homens que adora bater uma bola nos fins de semana, na verdade é um espaço de amizade, respeito e onde o preconceito não faz morada. Algumas pessoas maldosas até tentam, mas não conseguem acabar com a alegria que o futebol proporciona para os Meninos. E a vontade é de ir além: eles querem disputar campeonatos e transformar o Meninos Bons de Bola em uma organização não governamental (ONG), para
acolher jovens trans que estejam passando por dificuldades e precisem algum tipo de ajuda. Ainda, como muitos desses meninos acabam abandonando os estudos muito cedo, a ideia é fazer parcerias com empresas e faculdades para oferecer capacitação e oportunidades de emprego. Para Pietro Henrique Alves dos Santos, 20 anos, que descobriu o time pelas redes sociais e hoje faz parte da diretoria, o preconceito nunca vai deixar de existir, porque a sociedade não aceita muito bem o fato de existirem homens trans. “As pessoas não conseguem aceitar e muito menos respeitar. É como se tivéssemos que matar um leão por dia”, explica Raphael, que há oito meses luta pela organização e manutenção dos Meninos Bons de Bola. E a discriminação não existe somente na sociedade em geral,
mas também em campo – e não somente nos clubes amadores. Erick Lima Ribeiro, 29 anos, sabe bem o que é isso: sofreu com comentários e até perdeu oportunidades em grandes times de futebol feminino – antes de se entender como homem trans – por não ser “feminina o suficiente”. E as palavras vierem diretamente do presidente de um grande clube de Campinas, na região de São Paulo, que dizia querer montar um time apenas com meninas e não admitia lésbicas no grupo, pois “não queria criar sapatão lá dentro”. Por causa dessa e de outras situações, o sonho de ser jogador profissional de futebol foi ficando cada vez mais distante, até que Erick se viu obrigado a desistir. Pouco tempo depois de se mudar do interior para São Paulo, após a morte da bisavó, com quem morava, conheceu o Meninos Bons de Bola.
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Os esparadrapos são usados para esconder ‘instrusos’, como chamam os seios. Apesar do preconceito enfrentado, o time vem conseguindo se manter financeiramente com recursos dos próprios organizadores. Ali dentro, cultiva-se a esperança de dias melhores.
em amistosos, os receberam de braços abertos. O esporte, afinal de contas, acolhe.
“Pelo ‘andar da carruagem’, até que estamos indo bem. Não são todos que aceitam [o time] de coração aberto, mas várias vezes em que apresentei a equipe para empresas e faculdades, aceitaram numa boa”, conta Pietro. Raphael endossa o otimismo e relata que os times contra quem já jogaram,
Com 25 anos, Isabelle, que trabalha como cabeleireira, considera-se, entre risos, “velha” para investir em uma carreira profissional no vôlei. A intenção da jovem é continuar treinando, desenvolvendo sua técnica, mas viver como jogadora é vontade que já ficou para trás. O que não
Em campo, em quadra e na rua
Estigma A transexualidade ainda é considerada patologia na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), tanto é que Isabelle precisou ter o diagnóstico de “transtorno de identidade de gênero”, após tratamento com psiquiatras e psicólogos, para dar entrada no processo de alteração de seu registro civil. Mas a expectativa é de que na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), prevista para 2018, a situação mude.
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significa que a jornada até aqui tenha sido em vão.
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Com sua história, Isa quer mostrar que as transexuais podem ser quem elas quiserem. “Afinal, qual é o estereótipo? Prostituição, atividades ilícitas. Eu quero mostrar que não é só isso, que temos caminhos diferentes, que podemos fazer escolhas diferentes”. Mas não é só para o público trans que Isabelle espera ser exemplo. Ela acredita que todas as pessoas, independentemente de raça, sexo ou orientação sexual vão enfrentar algum tipo de barreira na vida, “mas se você tem um sonho, corra atrás”. Já Erick quer que “as pessoas entendam que não somos pessoas ruins, não somos bichos. Somos apenas seres humanos correndo atrás dos nossos objetivos”. Raphael, que com os Meninos consegue ser ele mesmo, afirma que os comentários maldosos não vão abalar o time. “No futebol nós podemos mostrar que somos normais como qualquer outra pessoa e que nós existimos, resistimos e não vamos parar. Vamos lutar até o fim”. E que venha vitória.
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um novo começo
“DEIXAR A PRÓPRIA COMODIDADE E ATREVER-SE A CHEGAR A TODAS AS PERIFERIAS QUE NECESSITAM DA LUZ DO EVANGELHO” (EG).
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A caixa mágica dos sons Radiojornalistas esportivos contam suas histórias de amor pelo meio e por que o rádio é, por excelência, o veículo do futebol Karoline Mokfianski Mariana Balan
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equipe alviverde. Piadas sobre as formas arredondadas do atacante Walter, do time de Goiânia, também aparecem. Nesse ambiente, duas gerações de radiojornalistas esportivos trabalham lado a lado, quase que diariamente, desde 2011, comentando o que de mais quente acontece no futebol — principalmente, o paranaense. Relação especial porque as diferentes gerações não se limitam ao campo profissional,
estendendo-se, também, à família. É que os comentaristas são pai e filho e, ainda que não tenham planejado, Jairo Silva e Jairo Silva Júnior são a personificação do ditado popular de que “filho de peixe, peixinho é”. Antes mesmo de trabalhar no rádio, Jairo já se imaginava na função. A vida profissional começou do lado de lá, com os pés na bola. “Eu vivia imaginando como seria eu estar ali, numa partida, e Karoline Mokfianski
dia 16 de maio e a primeira rodada da edição de 2017 do Campeonato Brasileiro de Futebol foi encerrada há menos de 24 horas. No estúdio de uma das principais emissoras de rádio de Curitiba, os comentários são sobre a única partida da noite anterior pela competição, disputada entre Coritiba e Atlético Goianiense. O que se fala é sobre a boa estreia do meia Tomas Bastos e a escalação certeira do técnico Pachequinho, ambos da
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Desde 2011, pai e filho trabalham juntos nos estúdios da rádio Transamérica Curitiba.
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as pessoas comentando meu jogo, fazendo reportagem. Eu formava um campeonato na minha cabeça e eu mesmo narrava”, revela. Ao contrário do que acontece hoje, a época não era de um futebol de grandes negócios, cheio de assessores e empresários. De todos os lados, era um campo suado, em que as carreiras poderiam ser paralisadas a qualquer momento. Acabou que a empreitada não saiu conforme o planejado por Jairo e a vontade de estar no estádio como jogador foi minguando cada vez mais. O período de desistência coincidiu com o convite para substituir um repórter que ficara doente, numa rádio da pequena Andirá, no nordeste paranaense, que era comandada por um amigo de Jairo. Aí o gol foi certeiro, e o resto é história.
operador de áudio a repórter. E, por mais que Jairo afirme nunca ter orientado os filhos sobre que carreira seguir, Júnior teve um super professor em casa. “Assim como meu pai fazia antes e imaginava os jogos, eu brincava também. Ele levava os textos dos comerciais para casa e eu lia, brincava de narrar os jogos na tevê. Meu irmão era o narrador e eu o repórter”. Desde que começou a carreira no rádio, em 2001, de alguma forma Júnior e Jairo atuaram juntos, mas só dez anos depois é que foram trabalhar como comentaristas em um mesmo programa, lado a lado, “em pé de igualdade”, como define o filho, e assim permanecem até hoje. E o caminho
do cara que é meu ídolo. Fico muito feliz em saber que hoje posso debater futebol de igual para igual com ele.” As discussões, é claro, acontecem. Se todos os formadores de opinião tiverem a mesma ideia, nada se forma. Eles garantem, porém, que o desentendimento termina assim que o microfone é desligado. Em casa, as conversas sobre futebol até são deixadas um pouco de lado. Afinal, o esporte é diversão, mas também é trabalho. E sério.
O esporte do rádio Mas não era só Júnior que, durante a infância, imaginava-se trabalhando com radiojornalismo esportivo. Outra voz conhecida
“Hoje eu trabalho ao lado do meu ídolo. Fico muito feliz em saber que posso debater futebol de igual para igual com ele.”
Por conta disso é que a trajetória de Júnior no rádio começa, como ele mesmo define, “na maternidade”. Durante sua infância, a família já morava em uma cidade maior, Londrina, e lá, todos os dias depois da escola, o então menino acompanhava Jairo na estação onde o pai trabalhava. “Brincava de operador, ficava escrevendo na máquina de datilografia… Cresci ali e aquele universo, para mim, era incrível, algo fascinante”.
Como quase todo garoto brasileiro sonhou um dia — e como o próprio pai —, Júnior também queria ser jogador de futebol. Quando viu que a carreira não daria certo, de pronto começou a trabalhar no rádio. No veículo, passou por todas as funções possíveis, de office boy a telefonista, de
Jairo Júnior, repórter foi suado para Júnior, que acredita que teve que remar mais que os colegas de profissão que começaram na mesma época que ele, justamente por ser filho de quem é, de um cara que ganhou o título de melhor repórter esportivo do Paraná por cinco vezes. “Eu tive que trabalhar muito, batalhar demais, estudar, aprender, para provar às pessoas que eu não estava ali por ser o Jairo Silva Júnior, por ser filho do Jairo. Eu estava ali pela minha capacidade”, relata. “Hoje eu trabalho ao lado
dos curitibanos, o narrador e comentarista Marcelo Ortiz, diz que acompanhar partidas de futebol pelo rádio é amor que vem desde muito cedo, e que quando era criança fingia estar narrando jogos. Quando era pequeno, via o instrumento como uma “caixinha mágica”. Tanto para Ortiz quanto para Jairo e Júnior, o rádio é o meio por excelência do futebol — mais que a televisão e, recentemente, a internet. Eles lembram que nos primeiros anos de ouro do Jornalismo PUCPR Revista CDM
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futebol, quando estavam em ativa jogadores como Pelé e Garrincha, a televisão era objeto de luxo, então era por meio do ouvido grudado na “caixinha mágica” que os lances eram acompanhados. Júnior conta que foi o rádio o responsável por formar torcidas gigantescas como as que até hoje têm os clubes do Rio de Janeiro, que nasceram porque o rádio tinha um alcance imenso, porque conseguia levar os jogos para lugares inimagináveis, localidades onde a tevê demorou anos para chegar.
“Hoje você consegue até ouvir rádio pela internet, coisa que fazem no mundo todo. É diferente da internet e da tevê, por exemplo, porque quando você está na web sua atenção para a telinha acaba sendo dispersada”, acredita. A estudante de Jornalismo Jaqueline Dubas, que sonha em trabalhar com radiojornalismo Karoline Mokfianski
Para os comentaristas, além dessa ligação histórica, a chave é a emoção dos jogos que o rádio é capaz de transmitir. “A maneira como a transmissão no rádio é feita leva o ouvinte a sentir como se estivesse mesmo no meio de um estádio de futebol, acompanhando o time da beira do campo e se emocionando junto”, opina Ortiz.
Apesar de todos os atestados de óbito assinados com antecedência, primeiro com o surgimento da tevê e depois com a internet, Ortiz acredita que o rádio não vai acabar. Evoluir, sim. Acabar, nunca. Para ele, o rádio é muito forte por ser um veículo que consegue conviver com todos os outros meios de comunicação. Tanto é que muita gente assiste aos jogos pela televisão mas acompanha o áudio pelo rádio. A internet, então, que poderia ser vista como vilã, é uma baita aliada.
Jairo Silva é pai de quatro filhos, mas só Jairo Junior seguiu os passos dele como radialista.
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esportivo (leia mais no box), assina embaixo. Ela, que encara futebol como sinônimo de rádio, apaixonou-se pelo veículo ao ver o avô carregando o aparelhinho de pilha para cima e para baixo quando era pequena. Jaqueline vê o rádio como uma herança que pretende passar para as futuras gerações. “O rádio faz parte da minha vida, e eu escolhi fazer jornalismo por causa do rádio e do futebol.”
Relação com o torcedor Não dá para esquecer que fazer rádio envolve dois lados: o de quem passa e o de quem recebe a informação. Por ser um veículo muito próximo, “intimista”, como disse Marcelo Ortiz, é mais do que comum que os ouvintes façam questão de levar aos comentaristas suas impressões sobre os programas e narrações. Recebem, é claro, elogios, mas seria até hipocrisia dizer que as críticas não chamam mais a atenção. “Nós trabalhamos muito em cima da crítica. É normal, não achamos ruim. O que nós temos que entender é que do outro lado não tem um cronista esportivo, mas um apaixonado pelo clube dele. É normal que ele ache ruim alguma coisa ou outra que a gente fala”, aponta Jairo. Isso não significa, contudo, que eles pensem duas vezes antes de fazer um comentário levando em consideração que o ouvinte vai ficar bravo ao ouvir uma opinião que pode ser contrária à dele. “Se formos trabalhar assim, a gente simplesmente não estará cumprindo o papel do jornalismo, do rádio, que é de transmitir a informação. Seja ela boa ou ruim, precisa ser passada”, afirma Júnior, que revela que muitas vezes a pessoa que está do outro lado “movida pela paixão”, expõe suas reações de forma, bem, não muito educada. Em contrapartida, também chegam elogios, que
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Informações levantadas pela pesquisa Book de Rádio, da Kantar Ibope Media, de 2016 e 2017.
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Informações da pesquisa Book de Rádio, da Kantar Ibope Media, de 2016 e 2017. mostram que o repórter deve, sim, falar aquilo que pensa e o que é notícia. Agradar ou não é só consequência.
Antes e agora Tanto Jairo quanto Ortiz tiveram a oportunidade de fazer rádio antes do surgimento e popularização da internet. Para Jairo, o trabalho de antigamente era, ao mesmo tempo, doce e amargo. Amargo porque os recursos tecnológicos eram escassos. Quando cobriu a Copa do Mundo da
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Itália, em 1990, por exemplo, o jornalista conta que uma das maiores dificuldades que enfrentou foi em relação ao telefone. Celular na época, nem pensar, só linha telefônica especial. Era rezar para que a ligação fosse completada e que, do outro lado, alguém atendesse de pronto. Em compensação, Jairo lembra com saudosismo da época. Se agora é possível fazer jornalismo muito mais das mesas da redação, graças, justamente, a tantas tecnologias que facilitam o trabalho,
antes era preciso gastar a sola do sapato para conseguir os dados desejados. “Apurar a informação dependia muito de fontes na cobertura do dia a dia dos clubes, da seleção brasileira. Hoje está tudo muito fácil. Os profissionais eram mais refinados”, opina. Muito por isso Jairo acredita que a classe era mais unida, que quem trabalhava na imprensa se ajudava mais, por saber das dificuldades enfrentadas por todos.
esportes Marcelo Ortiz / Arquivo pessoal
Outro lado negativo que essa digitalização na comunicação trouxe, na visão de Ortiz, é que a tecnologia acabou substituindo as pessoas. Do ponto de vista industrial, a situação é positiva, mas do lado humano, é triste. “Antes precisávamos de muito mais profissionais tocando uma rádio, o que hoje não acontece.” Mas não é por isso que os tempos de hoje sejam sombrios. A qualidade sonora e a ubiquidade do rádio, que pode ser ouvido em casa, no carro, no computador, no celular, são apontados pelos profissionais como significativas melhorias. Uma maior possibilidade de profissionalização também é vista com bons olhos. Jairo comenta, por exemplo, que o filho teve oportunidades
Marcelo Ortiz / Arquivo pessoal
Marcelo Ortiz está no rádio desde dia 2 de junho de 1990. de um aprendizado muito mais detalhado e qualificado do que ele encarou quando começou na profissão. O que não muda é a emoção com que os radialistas comentam sobre o trabalho que fazem, do carinho
que transmitem ao contarem uma história que os marcou, do brilho nos olhos quando falam sobre a rotina diária. “Cada vez que a gente vem aqui, liga o microfone e fica lado a lado, eu fico emocionado”, confidencia Júnior.
De geração para geração Uma das maiores provas de que o rádio não vai acabar é que tem muito jovem querendo trabalhar na “caixinha mágica”. Um exemplo é Jaqueline Dubas (foto), 25 anos, estudante de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) que escolheu a futura profissão por querer trabalhar no meio Jaqueline Dubas / Arquivo pessoal pelo qual se apaixonou quando ainda era criança, ao observar o avô grudado no aparelho portátil em todas as tarefas diárias que realizava, na chácara onde morava em Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba. “Quando me perguntam qual é a imagem que tenho do meu avô, digo que é a dele sentado na varanda com o radinho de pilha ou dentro da sala, escutando um rádio antigo. A paixão começou aí e foi passada de geração em geração. O rádio faz parte da minha vida e foi por isso que eu escolhi fazer jornalismo”, conta. Para a jovem, ainda que apontem a agilidade e a proximidade do rádio como justificativa para ele ser um veículo de peso, o que realmente faz o meio é a emoção. E Jaqueline pode vivenciar isso quando trabalhou na webradio oficial do Coritiba, seu time de coração, como estagiária. “Desde criança, sempre que vou ao [estádio Major Antônio] Couto Pereira, me imagino como aquela repórter maluca [risos] que está com uma mochila nas costas, correndo para cima e para baixo, com o microfone na mão, passando tudo para o rádio”, afirma.
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Tudo pelo futebol Torcedores cometem loucuras pelos seus times, desde ficar horas na fila para assistir a um jogo decisivo a atravessar o mundo. Guilherme Osinski
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hristian encarou uma fila quimométrica e horas de espera para assistir ao Atlético Paranaense jogar no Maracanã. João Gabriel foi até São Paulo ver o Coritiba, dentro de um ônibus que quebrou algumas vezes no caminho. Já Sérgio Bello tinha dinheiro apenas para a passagem de ida para estar com o Paraná no Rio de Janeiro. Três histórias ligadas ao futebol. Para muitos, apenas um esporte. Para tantos outros, uma paixão que ultrapassa barreiras e capaz de causar talvez os comportamentos mais irracionais que um ser humano pode ter. Aqui, em especial, a intenção é compartilhar diferentes histórias, de diferentes pessoas, mas com um traço em comum: a paixão pelos três clubes da capital paranaense: Atlético, Coritiba e Paraná Clube. Paixão ou razão? “No Brasileirão de 2013, houve um senhor que comprou passagens de acordo com a tabela do campeonato, para acompanhar o Atlético em todos os lugares. Se eu não me engano, era um juiz aposentado. Declaração de torcedor que levou atestado para o trabalho e depois foi visto nas imagens de televisão acompanhando o time. Indivíduo que deixa a família, não comunica e viaja exclusivamente para acompanhar o jogo.” Essas palavras são
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do psicólogo Dionísio Banaszewski, que atualmente trabalha no Clube Atlético Paranaense. Para o profissional, essas atitudes revelam-se totalmente irracionais, muito porque o torcedor é dominado por desejos e vontades que o deixam cego em relação ao que está acontecendo no mundo exterior. “Essa pessoa vive uma paixão tão forte, que ela é capaz de qualquer coisa. De brigar, viajar, abrir mão do emprego, de juntar todo o dinheiro que tem e gastar para acompanhar determinada partida, independentemente de qualquer coisa”, comenta Dionísio. A cegueira por um time de futebol pode ser até algo compulsivo. Como a comida para um obeso, ou a droga para um dependente químico. “Ela se transforma nesse objeto, e como a nossa sociedade é hoje compulsiva, a gente deve analisar um pouco por esse lado. Existem mais pessoas consumindo o futebol, não como entretenimento, mas sim como resultado, e brigam se não ganham esse resultado”, acrescenta o psicó-
logo, especializado também em dependências químicas.
Rio atleticano O administrador Christian Felipe Bomm é torcedor do Atlético Paranaense desde pequeno. Nascido em 25 de maio de 1993, Christian viveu sua maior história com o Furacão mais especificamente no dia 27 de novembro de 2013. Na ocasião, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, Atlético e Flamengo mediram forças na final da Copa do Brasil. Mas toda a odisseia deste fanático atleticano começou dias antes, ainda no estádio da Vila Capanema. “Aquele jogo no Maracanã foi o que mais me marcou. Porque enfrentei uma fila gigantesca no estádio do Paraná, onde estavam vendendo os ingressos, que estavam caros. E, na verdade, eu comprei a passagem sem saber se ia conseguir comprar o ingresso”, relembra Christian, que pegou o avião para a cidade maravilhosa no mesmo dia do jogo, com a Acervo pessoal/ Christian Bomm
Christian empolgado antes da final da Copa do Brasil de 2013.
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mala repleta de camisetas e bandeiras do furacão. Apesar de todo o esforço para estar no Rio, o Atlético acabou perdendo a partida por 2 a 0 para o Flamengo, ficando com o vice-campeonato da Copa da Brasil. Nada que possa deixar Christian arrependido. “Não lamento em nenhum momento de ter ido, porque só de olhar para trás, eu via aquele mar de atleticanos, aproximadamente umas 8 mil pessoas. Foi marcante”, afirma o administrador.
Parto coxa-branca Ônibus da velha guarda de torcedores do Coritiba. O destino? Cidade de Barueri, na região metropolitana de São Paulo, para assistir o duelo de alviverdes entre Palmeiras e Coritiba, pela final da Copa do Brasil de 2012. Apesar da maior parte dos ocupantes do ônibus já serem torcedores antigos do verdão do Alto da Glória, um deles era bem jovem: o estudante de Engenharia Elétrica João Gabriel Rodrigues Ribas, à época com apenas 18 anos. “Foi uma viagem longa, 402 km. Lembro que não deixavam a gente dormir dentro do ônibus, que quebrou umas duas vezes no caminho para São Paulo. E assim fomos os últimos a chegar em Barueri, 21 horas, em cima da hora do jogo. Vimos a partida e o Coxa perdeu. Aí na volta o ônibus quebrou de novo. Era para chegar no máximo sete da manhã em Curitiba, as pessoas tinham se programado para trabalhar, mas chegamos quase na hora do almoço. Isso que, lembrei agora, chegando a São Paulo passamos no meio da Mancha Verde, torcida organizada do Palmeiras, e lembro de escutar os caras dando porrada no nosso ônibus”, relembra o torcedor do coxa. “Acho que quem gosta de futebol tem alguma coisa na cabeça que
precisa ser estudada. Porque o time chega em final de campeonato e perde. Quando você acha que o time vai engrenar ele vai lá e te decepciona. Mas você continua apoiando, continua indo ao jogo, E você não quer aceitar que seu time às vezes é ruim e não vai chegar em lugar nenhum. A gente
E como terminou essa história? “Coloquei o pé no acelerador, duas multas por excesso de velocidade, mas feliz da vida por chegar cinco minutos antes do programa começar e claro de não ter perdido de ver o Tricolor jogar no Maracanã, estádio que eu não conhecia”, relembra Sérgio, mesmo
“Existem mais pessoas consumindo futebol como resultado.” Dionísio Banaszewski, psicólogo não pensa nisso”, acrescenta João.
Paraná na Libertadores
com a derrota de 1 a 0 perante o Flamengo.
No ano de 2007, o Paraná Clube disputou pela primeira vez em sua história a Libertadores da América, competição mais importante da América do Sul. Na ocasião, o tricolor da Vila Capanema ficou no mesmo grupo que o Flamengo, enfrentando o time carioca tanto em Curitiba como no estádio do Maracanã. E foi no Rio de Janeiro que o paranista Sérgio Bello fez uma de suas maiores loucuras pelo clube do coração. Sérgio, à época representante do Paraná no programa Tribuna no Esporte, foi até o Maracanã para acompanhar de perto o Tricolor da Vila. Até aí tudo bem. A aventura ainda estava por vir. “Eu só tinha dinheiro para a passagem de ida, de avião. Na volta, um amigo, que foi de carro e estava cansado, perguntou se eu poderia trazer o carro para ele. Topei. Só que saímos às duas da manhã do estádio e eu precisava estar até o meio dia em Curitiba, para o Tribuna no Esporte”, conta o torcedor do Paraná.
Acervo pessoal
Sergio Bello, no Maracanã, e João Gabriel, com seu pai, no Couto Pereira .
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Por Karoline Mokfianski e Mariana Balan
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uando Alessandro Michele colocou homens com camisas com laçarotes e mulheres de terninho na campanha de outono/inverno de 2015 da Gucci, logo após assumir a direção criativa da marca, o estilista quebrou a imagem da grife construída por Frida Giannini. Nos nove anos em que comandou o processo de criação da Gucci, Frida abusou de modelos bronzeadas, com sensualidade que remetia a decotes super profundos e vestidos esvoaçantes. Já Alessandro trouxe manequins que brincavam com a androginia, com peças que poderiam, muito bem, agradar a ambos os sexos. Não que Michele tenha feito algo 100% inovador. Na década de
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1910, Coco Chanel, que adorava “roubar” as calças de seu namorado — ou achou que só você emprestava aquela camisa de banda do boy pra sair estilosa? — começou a desenhar calças femininas. Nos anos 60, Yves Saint Laurent lançou o smoking para mulheres, peça que chegou a ser proibida em alguns restaurantes e hotéis da época. Mas o que Michele tem, então, de tão especial — além do fato de dirigir uma das maiores grifes do mundo, óbvio? É que, diferentemente de Chanel e Saint Laurent, o italiano vislumbrou que as roupas não precisam, necessariamente, ser divididas em gênero. Se os franceses pensaram em peças femininas com aura masculina,
Michele vislumbrou as mesmíssimas estampas e tecidos, os mesmos modelos de roupa, apenas com modelagens que atendessem a estruturas corporais diferentes. Nas araras, não estariam divididas em seções. Talvez o estilista não tenha criado, propriamente, o movimento genderless — ou, simplesmente, sem gênero —, mas é dele o mérito de transformá-lo em tendência. Michele, afinal, está à frente de uma das grifes com alguns dos desfiles mais disputados nas semanas de moda espalhadas pelo mundo, quebrando as barreiras entre o masculino e o feminino, que domina as passarelas há duas temporadas.
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Sem divisão E a Gucci tem levado tão a sério a questão do genderless que, a partir deste ano, seus desfiles masculino e feminino serão unificados, sem distinção. À imprensa, Alessandro Michele disse que o caminho lhe parece muito natural. “É a forma como vejo o mundo hoje. Não será, necessariamente, um caminho fácil, mas acredito que me dará a chance de ter uma aproximação diferente com a minha estética.”
Divulgação/Camapnha de outono/inverno 2015 da Gucci
Endossando o discurso do diretor criativo, o CEO da marca, Marco Bizzarri, afirmou que “manter duas coleções separadas e desconectadas é resultado de tradição em vez de praticidade”.
Divulgação/Camapnha de outono/inverno 2015 da Gucci
Nos pés Não só as roupas, mas também os sapatos estão com cada vez mais pegada (com o perdão do trocadilho) sem gênero. A brasileira Melissa, muito associada às meninas, investiu em modelos unissex em suas coleções mais recentes. O modelo Flox, por exemplo, tem numeração que vai do 33 ao 44. O preço sugerido é de R$ 130 e vai bem com saia, calça, vestido, bermuda…
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Na cara Mais cedo neste ano, a também brasileira Natura apostou na abordagem genderless para relançar uma de suas linhas mais conhecidas, a Faces. Foi a primeira vez em que a marca não teve as mulheres, especificamente, como foco de uma campanha para a divulgação de produtos de maquiagem. Para a Natura, os produtos, integrantes de uma linha moderna e descomplicada, seriam voltados a “pessoas de espírito livre, ligadas aos movimentos sociais e culturais das grandes cidades”. Na cartela há bases, corretivos, pós faciais, lápis de olhos, sombras e batons. Os preços variam de R$ 13,90 a R$ 33,90.
Divulgação/Natura
Os produtos foram pensados sem distinção de gênero.
Nas crianças Para que definir que rosa é de menina e azul é de menino quando a moda infantil pode ir além das convenções? Criada pelas designers de moda Muriel Seguro e Stefany Vechi, a marca curitibana Florim pensa em roupas infantis sem distinção de gênero. Nascida como projeto para um trabalho de conclusão de curso (TCC), a Florim quer se distanciar da ideia de que roupas para crianças devem ser miniaturas de roupas de adultos, bem como contribuir para um futuro em que preconceito, desigualdade de gênero e machismo não tenham força. As roupas podem ser encontradas no e-commerce www.florimkids. com.br.
As crianças também têm opções de roupas sem gênero.
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Jaden Smith, filho do ator norte-americano Will Smith, é conhecido por seu estilo e por usar saias em algumas ocasiões. Ele estrelou a campanha feminina de verão 2016 da Louis Vuitton.
Divulgação/Louis Vuitton
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A Música Popular Brasileira ainda vive O Conservatório de MPB de Curitiba oferece aulas, eventos, workshops e mantem grupos artísticos, todos com repertório nacional, desde 1993 Giully Regina
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“O conservatório tem função de preservar nossa cultura.” Guilherme Campos, professor
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ocalizado no bairro São Francisco, próximo ao Centro Histórico de Curitiba, está um prédio que no século 19 era um casarão, conhecido como Solar dos Guimarães. Nos anos 90, foi escolhido para abrigar o Conservatório de Música Popular Brasileira. Mais do que uma escola, é um centro de preservação da música e da cultura brasileiras. O Solar dos Guimarães tem dois andares e um sótão. No térreo existe a recepção onde é preciso se identificar antes de entrar no prédio. Logo à frente, algumas poltronas estão dispostas para que alunos possam esperar o horário de suas aulas. Sentando por ali, encarando as escadas de metal ou o elevador vermelho, é possível ouvir diversos instrumentos nos andares superiores, mas no térreo é como se a música exalasse das paredes azuis que rodeiam a parte central do edifício.
profissão. Hoje, além de instrumentista, ensina a disciplina de harmonia no Conservatório. Harmonia é disciplina essencial para os futuros músicos, para que possam escrever suas próprias canções, encaixarem letra e melodia. É uma matéria teórica dividida em quatro níveis, mas Jackson faz questão de trazer elementos práticos para que a aula não se torne maçante. As salas estão distribuídas no segundo andar para aulas de diversos instrumentos, desde sopro (saxofone, flauta doce, flauta transversal), corda (violão, guitarra, cavaquinho), percussão e teoria musical. Cada sala homenageia um grande nome da MPB: as aulas podem acontecer na sala Tom Jobim, na Cartola ou na Chiquinha Gonzaga. O curso de violão é ministrado por Guilherme Campos da Silva na sala Cartola. Guilherme é um professor nato: além de formado
Na área externa existe um palco a céu aberto, com uma bela ilustração ao fundo e bancos, parecidos Giully Regina com os das praças de Curitiba, dispersos para que o público possa apreciar a boa música feita no conservatório.
em música, também é graduado em Letras. Dá aulas de violão no Conservatório e também de Português em colégios. É apaixonado pela profissão: “O bacana de ser professor é a interação com gente, você percebe que aquilo que você está fazendo tem um significado na vida daquela pessoa”, conta. Guilherme é professor no Conservatório há 12 anos e acredita que aprender um instrumento musical é de suma importância, algo que muda a vida das pessoas, mas que para isso é necessário paciência e perseverança, porque o movimento dos dedos é algo mecânico, que vai naturalmente acontecendo, de acordo com o treino exercido. O professor ainda salienta a importância da escola: “O conservatório tem uma função muito importante que é preservar nossa cultura, nossa musica brasileira.”
Jackson estuda violão desde criança.
Músico há mais de 20 anos, com formação pela Faculdade de Artes do Paraná, Jackson Franklin teve contato com a música muito cedo, ainda na igreja em que frequentava. Iniciou com aulas de violão, mas não era nada sério à época. Foi quando formou uma banda de rock com alguns amigos, e começou a compor e a estudar cada vez mais teoria musical, e o amor pela música virou Jornalismo PUCPR Revista CDM
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cultura
O sótão acomoda o auditório batizado de Nhô Belarmino, cantor sertanejo da capital paranaense. No auditório acontecem as práticas de conjunto. Às terças-feiras, a prática de samba; às quartas, MPB; e às quintas, a roda de choro. O Conservatório de Música Popular Brasileira está desde outubro de 1993 preservando a MPB dentro de seus vários gêneros e ritmos regionais por meio de aulas de instrumentos musicais, práticas de conjunto, eventos, workshops, cursos especiais e os grupos artísticos mantidos pela Fundação Cultural de Curitiba, como a Orquestra a Base de Cordas, Orquestra a Base de Sopro, Coral Brasileirinhos (infantil) e Vocal Brasileirão.
de Música Popular Brasileira de Curitiba, é o único no Brasil que tem a missão de perpetuar apenas a MPB. “Existem faculdades de música, outras escolas e conservatórios, mas que abordam também outros gêneros”, esclarece Mari. As aulas são divididas em seis níveis, num total de três anos de curso, podendo variar, porque o professor tem a autoridade de adicionar um ou dois níveis preparatórios. Pode decidir se o aluno vai para o próximo nível. Caso não esteja habilitado, irá repetir.
tudavam ali indicaram as aulas de percussão para ele, que já tocava o atabaque desde criança, e tinha contato com a percussão, por meio da capoeira e da umbanda. Ano passado fez o teste seletivo, passou e começou em fevereiro a estudar os mais diferentes instrumentos de percussão, como pandeiro, conga e tamborim. Mateus, programador de informática formado, decidiu dar uma chance à música, mas confessa que gostaria de voltar a estudar programação, “ou talvez reunir os dois, criar aplicativos que mexam com a parte musical e tal”.
“É uma música que não é mais considerada comercial.” Mari Lopes, coordenadora pedagógica
O projeto do conservatório veio do maestro Roberto Gnattali que também criou e regeu a primeira orquestra do conservatório, que abrangia as atuais formações de cordas e de sopro, e também foi o primeiro diretor artístico.
Gnattali tinha como principal objetivo resguardar a música popular brasileira, porque já naquela época, ele previa que seria um gênero musical cada vez menos consumido e comercializado. Ele queria que o conservatório cultivasse e perpetuasse a cultura da MPB. Mari Lopes, coordenadora pedagógica, trabalha ali há mais de 20 anos e explica a importância da ideia de um conservatório: “Naquela época o Roberto Gnattali já via que é uma música que hoje em dia não é considerada comercial, não toca muito no rádio e na televisão não tem mais espaço”. A música erudita dita as regras por ali. Os repertórios aprendidos pelos alunos durante todo o curso são de MPB, e o Conservatório
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Não existe uma certificação formal para o estudante que termina o curso, mas Mari ressalta que muitos antigos alunos ainda têm contato com o conservatório pelos grupos de música da Fundação Cultural. A aluna Sthefany Balão estuda flauta transversal, e conta que gosta muito do conservatório, tanto que, apesar de ter ficado algum tempo afastada das aulas, por não conseguir conciliar a vida acadêmica e as aulas de música, acabou voltando há um ano, e agora se dedica todas as quartas-feiras ao estudo da flauta, e afirma que escolheu a flauta transversal porque gosta “da sonoridade que a flauta emana, gosto desse instrumento, eu me identifico com a flauta”. Sthefany ainda pretende estudar outros instrumentos depois que terminar o curso atual. Mateus Vicari de Barros Santos estuda percussão e conheceu a escola porque alguns amigos já es-
Para se tornar aluno do conservatório é necessário se inscrever para um processo seletivo que acontece todo final de semestre letivo. O último aconteceu em junho, foram liberadas as inscrições e o candidato preenche um questionário com seus dados pessoais e seu conhecimento musical, mas não é necessário ter nenhum conhecimento musical prévio. Algumas aulas com procura muito grande, como violão e piano, podem ter desclassificações pela ficha. O profesor recebe o questionário e os alunos são chamados para uma entrevista ou teste, dependendo do nível de conhecimento do aluno. A segunda fase também pode ser eliminatória. Se o estudante passar em ambas as fases, será encaminhado para fazer matrícula, e alunos que tiverem que parar por mais de um semestre, como Sthefany, terão que fazer o processo seletivo de novo.
cultura Giully Regina
Prática de conjunto de MPB acontecem todas as quartas-feiras com alunos avançados.
Giully Regina
Palco a céu aberto, recebe eventos e práticas de conjunto aos domingos.
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Fonoteca Uma música toca no rádio. É o lançamento de um cantor desconhecido, mas a música é boa e o ouvinte quer conhecer outras composições desse artista, o que ele faz? Procura no YouTube, ou no serviço streaming Spotify e pronto, em questão de minutos, toda a discografia daquele cantor está à disposição na internet, além é claro de informações básicas sobre começo de carreira, últimos shows e próximas turnês. Atualmente é fácil encontrar novas e até antigas músicas. Tudo está a um clique de distância. Facilidades da vida moderna proporcionadas pela internet.
Mas e na era pré-internet? Como as pessoas achavam as músicas que queriam? Naquela época, a chamada Fonoteca, fazia o papel do atual YouTube. Existia no Conservatório de MPB um espaço reservado para LPs, os discos de vinil, dos mais diversos artistas da MPB. Era aberto ao público e havia funcionários específicos da Fonoteca, que catalogavam e separavam todos os discos, e anos mais tarde, as fitas cassete, e quando alguém pedia alguma música de um disco específico, o funcionário gravava o áudio em fita. O espaço também era utilizado pelos professores do conservatório, que faziam
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uma lista com todas as músicas que seriam trabalhadas no semestre e muitas vezes os alunos não tinham como ouvir, por serem músicas antigas. Então o professor pedia ao funcionário da fonoteca para gravar uma fita, ou CD didático, com as faixas do semestre. Hoje em dia, com a internet, a fonoteca está desativada, com todo seu acervo guardado em armários dentro do Conservatório de MPB. Mari Lopes explica que a fonoteca será recolocada em um ambiente especifico, mas que não terá o uso que já teve anos atrás. Será apenas um acervo de antigos discos, fitas, CDs, que um dia já foram a única forma de achar uma música ou artista específico.
Auditório Nhô Belarmino fica no sótão do prédio.
título da seção www.colegiosmaristas.com.br
Nada mais atual do que preparar para todas as provas da vida. Descobrir o mundo, fazer novas amizades, aprender em equipe e chegar ao vestibular. A tradição de quase 200 anos dos Colégios Maristas continua atual nos dias de hoje pois tem uma base sólida de valores humanos, éticos e solidários. Para o Marista, não há nada mais atual do que trilhar uma jornada de desafios com os alunos, tornando-os protagonistas de suas próprias conquistas.
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Colégios Maristas. Preparação para todas as provas da vida. Jornalismo PUCPR Revista CDM
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Debaixo da Terra Visitas guiadas a cemitério trazem uma aula de história a céu aberto
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ir para Curitiba e visitar o Jardim Botânico? O que é isso? Apresentamos a vocês então, uma nova e especial atração. Mais do que os cartões-postais visitados por todos os que vem à nossa fria e cinzenta Curitiba. Falando nisso, que tal começarmos nossa visita a um cemitério? SIM! É isso mesmo que você leu, cemitério, mas se preferir chamamos de necrópole, cidade dos pés juntos, ibalé, cacuia, entre outros sinônimos! Mas não é qualquer um, não, é o São Francisco de Paula, o mais antigo da cidade, localizado na Praça Padre João Sotto Maior, bairro São Francisco. Daí você para e pensa: – O que eu tenho para fazer em um cemitério? Pois bem, este local é carregado de histórias e pessoas importantíssimas para Curitiba e também para o Paraná. Aqui, são 51.414m²,
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139 quadras e 5.753 túmulos de pura história, granito, bronze e verdadeiros ícones espelhados em ruas, crônicas, lendas e claro, muitas curiosidades. Todos acreditam que ir ao cemitério é algo tenebroso, gótico, sinistro, triste ou vampiresco, mas fazer a visita guiada no cemitério São Francisco de Paula nos leva a conhecer mais sobre arte, arquitetura, e diversas histórias que aguçam o imaginário paranaense. O passeio tem duração de aproximadamente duas horas, atrai pessoas de todos os estilos, idades e gostos. A única coisa em comum é a curiosidade por saber mais sobre o museu a céu aberto. E, quando falamos que lá tem “moradores” ilustres, é verdade! A lista é imensa, afinal são mais de 80 mil almas, mas vamos citar os mais visitados da
história do local, como o Barão do Cerro Azul, túmulo que foi construído em 1894 sem o corpo do falecido, Vicente Machado, Manuel Eufrásio, Nhô Belarmino e Nhá Gabriela, Ildefonso Pereira Correia, Helena Kolody, Alfredo Andersen, além de Maria Bueno, que leva a medalha de ouro no quesito visitas ao seu jazigo! As visitas são ministradas pela pesquisadora e presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (ABEC) Clarissa Grassi. Como ela mesma diz: “Estou há 14 anos vivendo entre os mortos”. E olha que ela não está no pé da cova, apenas fotografa e decifra documentos em busca de histórias que possam nos surpreender e fazer gostar cada vez mais deste verdadeiro museu, cheio de anjinhos, placas de homenagens, flores, velas e cruzes, mas
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que também, tanto nos agrega informações, contos e causos sobre nosso Paraná. Clarissa fala que o cemitério é separado em três, a periferia, o Batel e a parte urbanizada.
A Santa Popular Quem chega ao Cemitério São Francisco de Paula, logo no primeiro corredor a direita se depara com um túmulo destacado, cheio de homenagens e agradecimentos no muro a frente, trata-se de Maria da Conceição Bueno, a santa popular de Curitiba. Apesar de divergências devido ao estudo tardio sobre ela, cerca de 30 anos após a morte, acredita-se que Maria nasceu em 1854 na cidade de Morretes, se mudando posteriormente para Curitiba, onde, em um dos bailes da época, conheceu Inácio Diniz, soldado do Exército, com quem se casou. Em 29 de Janeiro de 1893, Bueno foi encontrada degolada morta próxima a Rua Campos Gerais, hoje Rua Vicente Machado, e, posteriormente, descobriu-se que o assassino foi Diniz que, apesar de acharem a arma do crime junto com ele, foi inocentado por 11 votos a 1, mas ficando recluso por não ter sido absolvido por unanimidade. Desde então, passaram a acontecer uma série de coisas no local onde ela foi enterrada, nasceram rosas na frente de sua cruz e velas colocadas em sua homenagem não se apagavam, causando peregrinação para pedir bençãos e milagres, seu corpo foi então transferido para o São Francisco, e foi construído um jazigo em homenagem a ela.
Batel dos mortos Quem está na Praça do Redentor, a frente do Cemitério São Francisco, consegue ver uma série de
jazigos mais altos que os muros do local, é a “Batel” da necrópole. Localizada na região central do cemitério, esses jazigos foram construídos no início do século XX no local que, antes, eram os fundos do São Francisco. Com a concessão para André Petrelli, que conduziu uma reforma em troca de vender túmulos, começou a transformação dessa parte que, antes, era destinada a escravos e imigrantes. Entre os jazigos, estão construções de mais de 100 metros quadrados de famílias tradicionais da cidade, entre as quais grandes produtores de erva-mate e políticos da época. “Há muitos túmulos vizinhos que as famílias são vizinhas até hoje”, diz Clarissa.
Visitas temáticas No cemitério São Francisco de Paula, além das visitas guiadas costumeiras, existem também as temáticas, como em homenagem às personalidades negras, dia internacional das mulheres e dia internacional dos monumentos. E, segundo Clarissa, para este ano acontecerão as visitas noturnas, as dos imigrantes, uma dedicada aos poetas com leitura na frente dos jazigos, etc. Para realizar estes fantásticos passeios é necessário fazer uma breve inscrição através do e-mail visitaguiada@smma.curitiba.pr. gov.br. É preciso enviar o nome completo, data de nascimento, RG e telefone para contato. Tudo isso, gratuito. Temos certeza de que você será muito bem-vindo! Natalia Filippin Thaise Borges Yuri Braule fotos: Natalia Filippin
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A arte da luteria Curitiba tem profissionais especializados na construção e reparação de instrumentos musicais, além de ser a única no país a oferecer uma graduação na área Guilherme Osinski Rafael Bronze Vinícius Rech Lucas Souza
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magine uma criança fabricando um violão, utilizando apenas uma caixa de sapato e uma raquete de tênis. Uma cena difícil de visualizar na cabeça, certo? Pois foi exatamente isso que aconteceu no centro-leste da França, na cidade de St. Etienne, nos anos 1980. O responsável por tal façanha atende pelo nome de Mickael Bellil, 40 anos, que desde 2011 reside em Curitiba, após ter se casado com uma brasileira. E já se vão 23 anos que Bellil trabalha no ramo da luteria, tendo concluído seus estudos na área na Ecole Nationale de Lutherie de Mirecourt, no norte da França. O lutier, para quem não sabe, é um profissional habilitado para construir instrumentos musicais, sejam de corda, sopro, ou percussão, além de também reparar, avaliar, consultar projetos e ensinar. Desde 2011, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) oferece a graduação em Luteria, a única no Brasil. Segundo teorias, a profissão teria surgido na Itália, mais especificamente na província de Cremona, na região da Lombardia. No entanto, a origem da palavra é francesa, e o lutier é, em toda a concepção da palavra, um exímio artesão, responsável por dar vida, cor e alma aos mais diferentes instrumentos musicais.
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Rafael Bronze
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Como toda profissão, a luteria também tem seus desafios, principalmente quando fatores externos se envolvem nesse trabalho, como pode ser o caso da umidade. “Quando tem uma época bastante úmida, eu não envernizo os instrumentos. Eu deixo até chegar uma época com umidade mais razoável”, conta o francês Mickael Bellil. Mas por que é necessário tomar essa atitude? Isso porque em períodos mais úmidos leva-se mais tempo para envernizar um instrumento, graças aos problemas com o acabamento com verniz a base de álcool, enquanto para construir um violino, já envernizado, demora-se normalmente de um a um mês e meio. Mickael, que também já morou em Seul, na Coreia do Sul, conta que não envernizava nenhum instrumento no verão, quando havia mais chuvas e consequentemente mais umidade.
O trabalho com confecção de instrumentos, além de ser um talento que pode nascer na infância, é também uma arte que pode surgir quando a pessoa já está inserida no ramo musical, como é o caso do curitibano Denílson Barbosa, de 43 anos, que começou a fazer manutenção em suas guitarras e violões no auge de sua juventude, em plenos anos 90, enquanto passava noites tocando em diferentes bares. Há cerca de 12 anos, Denílson tem sua própria lutieria, a Barh Custom Guitars, devido à sua paixão pela música. “Eu atendo todos os músicos, profissionais ou não, mas principalmente os que tocam à noite, que precisam de serviço urgente e mais rápido”, afirma o lutier, contando um pouco de sua rotina, que muitas vezes vai de encontro também às necessidades de personalidades da música. “Já atendi o Tiago Iorc, que precisa-
Mickael Bellil tem 23 anos de experiência. Hoje sua oficina fica na Avenida Arthur Bernardes.
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va fazer vários reparos no violão dele, instalação de captadores, e depois ele se amarrou. Era eu que também regulava os instrumentos do Xandão, do Rappa, e, do Lulu Santos, já regulei as guitarras dele quando veio para Curitiba.”
“Eu sou apaixonado por fazer regulagem, tenho muita experiência nisso, gosto de pegar essa parte difícil”, confessa.
Quando perguntado do panorama da profissão em Curitiba, Denílson é taxativo. “Tem muita gente fazendo serviço, mas eu pego muito trabalho de pessoas que foram em outros lutiers, que não têm muita experiência. Então são poucos os lutiers de qualidade”, atesta o curitibano. Entre os pedidos que o dono da Barh Custom Guitars mais recebe de seus clientes, destaque para as regulagens, quebra de braço de instrumentos, troca de trastes (partes metálicas de um violão ou guitarra, que divide o braço do instrumento em casas) e pintura. E qual deles Denílson mais gosta de fazer? Ele mesmo responde.
A relevância de um trabalho de um lutier pode vir também das palavras de quem já organizou um workshop, em Curitiba, com Ron “Bumblefoot”, guitarrista do Guns N’Roses entre 2006 e 2014. Para Breno Teixeira, guitarrista, compositor e professor de música na capital paranaense, desde 1995, a real dimensão dos serviços de um lutier é dar asas à imaginação dos músicos e fazer com que a pessoa consiga colocar todos seus projetos em prática.
A importância da profissão
“O contato com uma grande firma, uma grande marca, não vai ser igual ao contato com um lutier, e, provavelmente, vai ser
Um pouco de história Gerardo de Cremona foi um importante tradutor de textos árabes no século XII, por motivos religiosos muitos destes texto não possuíam autor e durante o renascimento, diversos documentos publicados na Europa eram plagiados.
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muito mais caro. Fora a manutenção dos instrumentos, que são iguais carros. A diferença é que um carro sai da concessionária regulado, enquanto o instrumento não sai da loja regulado. Se você comprar uma guitarra, e querer sair tocando, ela não vai ter a performance que teria se tivesse passado por um técnico”, afirma o professor. Como em tudo na vida, a música também é separada em estágios, que vão sendo alcançados de acordo com uma evolução natural da pessoa por trás de um instrumento. “Um dia o músico vai querer unir as características de vários instrumentos diferentes, de várias guitarras, por exemplo, em um só, e isso só pode ser feito por um lutier. Às vezes, o cara gosta de uma coisa X de uma guitarra, uma coisa Y de outras e uma coisa Z de outra. E quando você faz seu instrumento em um lutier, você pode unir juntar todas essas coisas que você gosta. Mas é importante que a pessoa saiba do que ela gosta, então não é muito aconselhável a pessoa levar um instrumento em um lutier como sendo o primeiro instrumento dela”, ressalta Breno Teixeira, eleito em junho de 2009 como “Destaque do MySpace”, pela revista Guitar Player, muito conceituada no ramo musical.
Guitarras Gibson na oficina do lutier Denílson.
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Novidade na UFPR Em 2009, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) deu início às atividades do curso superior de Tecnologia em Luteria, o único existente no país. Um dos objetivos iniciais da graduação era que o curso fosse realmente original, diferente de tudo que a universidade oferecesse. Hoje, oito anos depois de seus primeiros passos, o curso de Luteria, que abre anualmente, registra uma procura de três alunos por vaga, o que é considerado extremamente positivo pelo professor e vice-coordenador do curso, Rodrigo Mateus Pereira, que avalia o mercado para lutiers, em Curitiba, ainda como pequeno, mas o que não representa falta de oportunidades para os alunos da graduação. “Nossos alunos têm se formado, têm montado suas oficinas, virado lutiers. Era um meio mais restrito, que poucas pessoas faziam, mas acredito que está ampliando”, conta o vice-co-
ordenador, lembrando ainda que a formação prática do curso visa a incentivar os estudantes a serem lutiers autônomos, com seus próprios ateliês. Para quem vê de fora, pode-se imaginar que o curso oferecido pela UFPR foca basicamente na fabricação de instrumentos musicais, desconsiderando outros elementos importantes na formação dos estudantes. Porém, basta uma ida ao câmpus da universidade para ver o real significado dessa graduação. “Nossa ideia é a seguinte: é um curso de luteria que não é somente construa seu instrumento e vá embora feliz. Tudo que envolve a luteria a gente trata aqui. As aulas de construção são mais braçais, com mais prática e sujeira, mas temos as aulas teóricas, de física, de desenho, de música, e também as de restauração. Então, os alunos aprendem tudo isso, todos os cuidados, como consertar, o que
estraga”, relata Rodrigo Pereira. Nas aulas de construção, por exemplo, existem normas de segurança a serem seguidas pelos alunos, que não podem usar bermudas, sendo obrigatório o uso de calças, sapatos fechados, aventais, máscaras, e, dependendo da máquina, existem ainda os óculos de proteção. Como evidência da preocupação que os responsáveis do curso têm com seus pupilos, um fato a ser mencionado é que os estudantes só utilizam as máquinas a partir do quarto semestre, quando todos já estão cientes dos riscos e também de todo o processo. Outra curiosidade sobre a graduação em Luteria é que os alunos escolhem, do segundo ano em diante, quais instrumentos irão trabalhar, enquanto apenas o primeiro ano tem uma abordagem mais geral. Se o graduando escolhe uma guitarra elétrica, será com este instrumento que ele caminhará até o fim do curso.
Alunos do curso de luteria na UFPR.
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economia
Cachaça Morretiana
Seja para manter uma tradição de família ou com pretensões empresariais, além de cachaça, os engenhos de Morretes produzem histórias Vanessa Gavilan Mikos
Amora Celeste e Luiz Paulo Gnatta vivem em uma comunidade em Morretes, cidade litorânea do Paraná. Ambos graduados, optaram por seguir um caminho em comum: estudantes da terra, agricultores e educadores sociais. O casal, que se orgulha em dizer que são jovens da cidade que voltaram para o campo, desejava se reconectar com a natureza e, por isso, voltaram para a sua origem. Os jovens, que sairam de Curitiba e Florianópolis, hoje vivem em uma casa centenária na região rural de Morretes. A filosofia de vida deles se baseia em cultivar uma vida autossustentável por meio da prática da agrofloresta. Amora e Gnatta aproveitam o solo do terreno e plantam cultu-
A família de Luiz, conhecida na região como “Os Gnatta”, chegou em Morretes no ano de 1891, quando já existia um pequeno engenho. Os italianos reformaOs agricultores optam por não ram e inauguraram o Engenho trabalhar com dinheiro. A forma da Serra em 1910 e, desde então, de sustento é o escambo, ou seja, a cachaça foi produzida durante trocam o que produzem por gerações. Essa história começou mercadorias ou serviços de outras com os tataravós de Luiz, pascomunidades da região. Apesar de sando para os bisavós, avós e seus optarem por esse estilo de vida, irmãos. O avô de Luiz, Carlos não querem ser estereotipados Alberto Gnatta, faleceu em 2016 como pessoas que se isolaram e era o último membro da família na mata e não querem interagir que quis continuar na chácara. com a sociedade. “Muito pelo contrário: nós vivemos em uma Com o forte sentimento de comunidade e buscamos interagir manter a tradição e a intenção através da prática da agrofloresta, de reativar a produção que está podemos dizer que nos autogoparada há dez anos, Amora e vernamos”, diz Gnatta. Gnatta estão trabalhando no ras agrícolas e florestais de forma simultânea e em seqüência temporal, afim de promover benefícios econômicos e ecológicos.
Vanessa Mikos
Além de cana de açúcar, para a produção de cachaça, Amora e Gnatta plantam alimentos para o próprio sustento.
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economia
Gnatta afirma que existem engenhos industriais produtores de milhões de litros de cachaça, mas de baixa qualidade, pois o objetivo é produzir em quantidade e baixo preço. Ele acredita que “está virando moda produzir cachaça”. Empresários que possuem dinheiro para investir vão para a região, compram pequenos engenhos e começam a produção em maior escala. “Apesar de ser uma cachaça que tem uma certa qualidade, eles não têm a tradição que o nosso engenho tem, com mais de cem anos e passando de geração em geração”, defende. O estudante considera que além do produtivo, o engenho possui potencial turístico e histórico. Pensando nisso, a ideia é criar um Museu da Cachaça na propriedade, “porque se ninguém tomar essa iniciativa, essa história pode morrer junto com as pessoas que trabalharam tanto para colocar esses engenhos em funcionamento”, diz. Amora se relaciona com a cachaça de diferentes formas. A agricultora aprendeu a plantar quando se mudou para a chácara dos Gnatta. “Agora eu sei como plantar, porque eu vim da cidade. Aqui plantamos a cana, mas eu também cultivo as ervas, bananas, limão, árvores frutíferas, para unir tudo o que a gente tem neste solo tão rico”. A alquimista mistura as ervas que planta com cachaça para produzir licores, curas medicinais e tinturas “e o que mais a gente vai aprendendo a utilizar esse elemento tão importante para a nossa história”, completa.
Vanessa Mikos
engenho, também centenário, e no momento está passando por reformas. Eles querem retomar a produção no local dentro de dois anos, enquanto isso, a cachaça é feita em parceria com moradores da comunidade.
A cachaça Ouro de Morretes é o principal produto comercializado pela Casa Poletto.
Para ela, a cachaça é a história das raízes do local. “Guiado por uma família que conhece essa terra, hoje é um processo comunitário em que aprendemos a trabalhar com a terra e com a agrofloresta, explorando a ecologia em Morretes”.
Casa Poletto Sadi Poletto é um catarinense que sonha que a cachaça morretiana volte a prosperar como negócio. O empresário passou por Morretes em 2002 e adquiriu uma propriedade que estava em leilão, o desejo dele era transformar a fábrica de lápis em uma fábrica de cachaça. Para isso, começou uma reforma que dura até hoje e fez grandes investimentos, principalmente em tecnologias, para se adequar às leis e cumprir as exigências para ser regulamentado como produtor de cachaça de alambique.
dientes e processo de produção diferenciados das produzidas em larga escala. A cana da Casa Poletto não é queimada, é lavada antes de ser passada na moenda e, de acordo com o empresário. Na indústria, a cana é colhida e levada para a moagem, sem nenhum tipo de limpeza e seleção, onde o importante é fazer volume. “Com isso, eles precisam fazer uma fermentação bem diferente da que nós fazemos. Nossa fermentação é um processo bem natural que leva de 25 a 35 horas. Na indústria, isso ocorre em praticamente seis horas. Nós trabalhamos com alambique de cobre, material muito mais nobre para a cachaça do que o inox, que as grandes indústrias utilizam”, diz Poletto.
Inicialmente, a Casa Poletto também trabalhou com escambo, trocando cana por cachaça. Mas, ao fazer o plantio, perceberam que era necessário um maior investimento. Em 2006, compraram um alambique e contrataram um enólogo, “para dar as informações corretas para alavancar nosso processo em qualidade”, afirma Poletto.
O empresário defende que o aroma final de seu produto é mais agradável pelo fato de não adicionar os 6% de açúcar, uma vez que prioriza utilizar uma matéria-prima e um processo de qualidade. Com uma produção de 30 mil litros por ano, Poletto não almeja expandir sua produção em quantidade pelo fato de estar dentro de um território de alta preservação. O desejo do empresário é que o governo incentive o mercado da cachaça no local.
O investidor explica que a cachaça de alambique tem seus ingre
“Eu estou indignado com a situação do nosso litoral, com as
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autoridades e o povo do Paraná, o paranaense não conhece a nossa realidade. Preservar custa dinheiro e o estado não pode achar que dá para se preservar algo com a fome e a miséria que existe aqui”. Para ele, a solução é separar a cachaça de alambique da industrial e que sejam aplicados impostos justos. “Hoje, nossa única alternativa com a cachaça é exportar, para o mercado interno é extremamente inviável produzir. O que tem nos salvado é a exportação para a Alemanha. Precisamos de apoio e ser reconhecidos, nossa cachaça é premiada nacionalmente e também na Europa”, diz.
a quebrar. Por isso optamos em comercializar no nosso espaço, temos uma grande queda de custos”, defende. Ao ser questionado sobre os engenhos não regularizados da região, Poletto diz que tem ciência da existência deles, mas não os delataria para as autoridades, pois conhece a realidade. Ele afirma que já tentou se aproximar dos outros pequenos produtores, mas que os caiçaras têm um conceito diferente do dele e há falta de dinheiro para investimento. Para Poletto, enquanto não houver apoio do governo, a tendência é que o negócio se extingua em Morretes.
“Hoje, nossa única alternativa com a cachaça é exportar, para o mercado interno é inviável produzir.” - Sadi Poletto, produtor. O investidor conta que apenas conseguiu desenvolver essa atividade em Morretes porque a cidade é o segundo destino turístico do Paraná, devido à Serra do Mar, à culinária e à estrada de ferro. Pensando em alternativas para não ver seu sonho morrer, o empresário organizou visitas técnicas em seu alambique, um espaço que está aberto durante os sete dias da semana. Além da cachaça, desenvolveram outros produtos para agregar valor à atividade, e a Pousada Casa Poletto, localizada no mesmo terreno da produção. “Mostramos desde a plantação de cana até o processo de produção e depois o turista vem para a nossa lojinha e dá sua contribuição, acaba levando o que quiser comprar. Não temos fôlego para sair ao mercado e dizer quem somos, pois somos muito pequenos e eu acredito que isso nos levaria
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“Quando algo não é autorizado, eu chamo a atenção do consumidor porque isso é um alimento. Com a cachaça existe muito esse problema, porque ela não é muito fiscalizada e o governo cobra impostos altos, fazendo com que a clandestinidade também seja alta.” Poletto se inseriu no contexto de Morretes e quer que seu projeto prospere, seja como fonte de renda, como tradição de família ou elemento que proporciona encontros, rodas de conversas e amizade. Amora, Gnatta e Poletto querem que a cachaça morretiana volte a viver sua época de ouro. Os três têm um desejo em comum: que esse patrimônio cultural do estado do Paraná seja conservado para a cachaça possa voltar a ser brindada.
História da cachaça “A história da cachaça aqui é tão longa quanto a da nossa cidade”, afirma Eric Joubert Hunziker, integrante do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR), da Academia de Letras José de Alencar, e cidadão honorário de Morretes. Em 1733, Morretes foi reconhecida como município, até então pertencia a Paranaguá. Na memória histórica escrita por Antônio Vieira do Santos, ele conta que o senhor João de Almeida, morador de Morretes, já tinha uma fábrica de aguardente ou engenho. Por volta de 1870, foi criado o Engenho Central, que fabricava açúcar e cachaça. Durante anos, foi o principal da cidade. Houve um período em que existiram 60 engenhos em Morretes, restando apenas dois regulamentados atualmente. Hunziker conta que é difícil afirmar quais motivos levaram à quase extinção da cachaça morretiana, ele acredita que isso aconteceu pela burocracia imposta pelo governo e a falta de apoio político. Mesmo lamentando esse declínio, o colecionador, que possui os rótulos de todas as cachaças morretianas, hoje comemora a chegada de novos engenhos mais atualizados e modernos. Eles possuem boas tecnologias e estão trazendo de volta o comércio, a geração de empregos e novas riquezas para a cidade. O pesquisador ressalta que as cachaças morretianas são renomadas no mercado, inclusive internacionalmente. Um exemplo é a Porto Morretes Premium em 2016 foi eleita a melhor cachaça do Brasil na segunda edição da Cúpula da Cachaça, o concurso de cachaça mais importante do país, “esse elemento que sempre foi o esteio da nossa economia está vivendo novamente”, destaca Hunziker. O termo morretiana está presente no dicionário aurélio como sinônimo de cachaça, “como prova de que a força da nossa cachaça era muito grande”.
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Crescimento do E-commerce Este segmento está conquistando cada vez mais os brasileiros, ampliando as perspectivas de negócios e de consumo Isabela Vera Mendes
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amelle Lima, designer e empreendedora, começou seu negócio movida por uma necessidade pessoal. Ao pesquisar sobre enxovais infantis e ao não encontrar nada inovador, Pamelle teve a iniciativa de criar um serviço de e-commerce especializado neste segmento e, por meio dele, desenvolve produtos criativos e com um design original há quase três anos. “Começar a trabalhar com um e-commerce foi uma necessidade, pois, no início, não tínhamos dinheiro para montar uma loja física. A online nos permite trabalhar com uma quantidade menor de funcionários”, explica. Segundo ela, ao iniciar um negócio pela internet, ocorre uma redução considerável nos custos, contudo, essa iniciativa precisa ser organizada e fornecer ao consumidor as informações detalhadas para convencer o cliente de que o seu produto é melhor do que o da loja da sua cidade. Pensando em ampliar o número de fregueses e os canais de vendas, ela começou a comercializar seus produtos em sites e aderir a novas plataformas para o crescimento de seu negócio. “O consumidor já não tem mais medo de comprar online, e o que diferencia as lojas de e-commerce, e seus concorrentes em rede, é a qualidade de seus produtos e a habilidade na comunicação aplicada. Isso muda tudo”, finaliza.
dados da Ebit, empresa referência em informações sobre o varejo eletrônico nacional. As vendas feitas por meio desse tipo de comércio devem se acelerar, ainda segundo estimativa da Ebit, a previsão é de que o setor cresça 12% este ano, atingindo faturamento de R$ 49,7 bilhões. Além da melhoria nessa demanda, a perspectiva é ainda de um aumento na quantidade de pedidos feitos nessa plataforma comercial. Enquanto no ano passado as vendas cresceram unicamente por aumentos no preço médio das compras e o volume ficou estagnado, para 2017 a Ebit espera um aumento de 3,5% no
Segundo um relatório feito pela Webshoppers 35, divulgado pela E-Bit, o e-commerce brasileiro finalizou o ano de 2016 com faturamento de R$ 44,4 bilhões. O número destes consumidores específicos ativos cresceu 22% na comparação com 2015, de 39,14 milhões para 47,93 milhões. Vale ressaltar que as vendas feitas através dos dispositivos móveis (tablets e smartphones), concentraram 21,5% das transações em 2016, contra 12,5% do ano anterior. Publicitário e atual gerente de cadastramentos de um e-commerce de Curitiba, Rafael Santos começou a planejar, executar
O e-commerce brasileiro finalizou o ano de 2016 com faturamento de R$ 44,4 bilhões.
Segundo dados da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico), o e-commerce brasileiro iniciou 2017 com perspectiva de lucro. A expectativa é de uma alta de 10% a 15% neste ano, após finalizar 2016 com um crescimento de 8%, segundo
volume de pedidos.Segundo um estudo da consultoria de negócios Bain & Company, o comércio eletrônico, em 2019, deve atingir um faturamento de US$ 16 bilhões, frente aos US$ 11 bilhões registrados em 2015, um aumento bastante significativo devido ao atual momento de crise do país. O comércio eletrônico pode ser considerado um alvo para os novos empreendedores, visto que este segmento cresceu mesmo diante da crise econômica. Além da competitividade em comparação ao varejo físico, o e-commerce também foi favorecido pela expansão de novos meios de comunicação e do crescimento considerável de uma nova ferramenta, o marketing de conteúdo.
e acompanhar cada detalhe de uma ação de grande escala em seu trabalho atual. Segundo ele, um dos grandes diferenciais da venda através do e-commerce, é a facilidade de ter métricas detalhadas de todas as ações, como por exemplo, um cálculo do investimento vezes resultado (ROI) de todos o alcance de vendas em todo território nacional. Inserido neste novo segmento, o publicitário conta como vê os consumidores da internet atualmente: “Eles uniram diversos fatores, como comodidade, mais opções digitais e ferramentas de comparação de preços, falta de tempo, alcance de produtos do mundo inteiro e melhora das leis de proteção de compras online para garantir a eficiência destes meios e consequentemente, satis-
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fazer seus desejos”. Para Santos, o uso de plataformas para o negócio trazem um avanço na capacidade de multiplicar as vendas massivamente, através de plataformas de promoção de produtos, como por exemplo, marketplaces, campanhas no Google, disparos de e-mails de marketing direcionado e redes sociais, entre outros. “São soluções que atendem públicos diferentes em momentos distintos do seu dia ou mesmo da sua vida. Esses consumidores têm menos necessidade de possuir, e mais necessidade de locar/compartilhar. Os aplicativos e mudanças na internet são só um reflexo de novos tempos’’, conclui. Maria Luiza Veloso, economista, ressalta que a expectativa para o e-commerce é o seu crescimento contínuo e o aumento da concorrência neste setor. “A internet pode, fortalecer a marca do “negociante”/comerciante no mercado à medida que ele investe em seu empreendimento. A
medida que interesse do público cresce, o negócio será propagado e entrará em uma concorrência progressiva de mercado’’.
lojas e principalmente, a facilidade para pagar era o que me motivava a investir nos produtos de fora”, conta Nathália.
A economista ainda destaca que, com as altas taxas de desemprego e com o avanço das plataformas de e-commerce e marketplace, novos empreendedores surgirão neste varejo, o que criará ainda mais competição.
Segundo ela, nos sites estrangeiros existe a facilidade de pagamento, que pode ser por boleto e nao somente por cartão de crédito, que na época, a estudante ainda não tinha para realizar a compra.“Os sites estão investindo cada vez mais em uma organização para chamar a atenção do consumidor, e também na visibilidade e clareza da plataforma para conquistar ainda mais este mercado que está em crescimento”, ressalta Nathália. Certamente a internet está preparada para este progresso dentro dessa plataforma. A população está hiperconectada, e estes clientes específicos desejam ter facilidades e garantias na hora de comprar o que desejam. Nesse sentido, investir nos canais de atendimento e relacionamento com o cliente é uma tendência certa para essa nova dinâmica.
“Em tempos de crise e com o orçamento apertado, o consumidor vai pesquisar muito, e vai investir naquilo que mais o agrada antes de fechar uma compra, por isso, vale o investimento em recursos para ampliar ainda mais este negócio”, finaliza. Nathália Sbrissia, estudante e consumidora, iniciou suas compras pela internet em 2014, pelos benefícios do custo e pela facilidade de acesso dos sites estrangeiros. A estudante conta que muitas coisas chamaram a sua atenção neste meio, “a qualidade dos produtos, o seu diferencial comparado as outras
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Meios para realização de compras Em 2016, as compras realizadas pelos dispositivos móveis são preferência entre os consumidores
21,5% das transações foram realizadas por meio de computadores
78,5% das transações foram realizadas por meio de dispositivos móveis Dados: Ebit, 2016
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Deep Web A Deep Web é a parte profunda da internet, que não pode ser acessada pelos métodos tradicionais de busca e navegação, garantindo privacidade e anonimato ao usuário Fernanda Menuci, Larissa Santin, Letícia Aleixo
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Deep Web é composta por um conjunto de sites, comunidade e fóruns que debatem variados temas, compartilham arquivos (por vezes sigilosos) e que não estão disponíveis na “internet convencional”. As pessoas que exploram a Deep Web variam de jornalistas, agentes de segurança, ciberativistas, médicos, criminosos, mas principalmente cidadãos comuns. Cada um a utiliza para fins específicos. Porém, o anonimato que oferece dá vazão para propagação livre de conteúdo de caráter questionável, como pornografia infantil, fóruns de debate sobre construção de bombas, estupro e o mercado negro, no qual pode-se encontrar todo tipo de mercadoria ou serviço. Dante (nome fictício, a pedido do entrevistado) é formado em Tecnologia da Informação (TI) e trabalha com desenvolvimento de sites. Usuário diário da deep web, ele conta que é o completo anonimato que o atrai. “Pra mim começou por questões de privacidade. Como diz o Assange [Julian Assange, jornalista e ativista, criador do site WikiLeaks] ‘hoje em dia o google sabe mais da sua vida que a sua mãe…’ isso não é roubo?”
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Questionado sobre o funcionamento da Deep Web, Dante diz que é bastante similar aos sites de buscas que estamos acostumados a utilizar na camada mais superficial da web, e que não é necessário tanto conhecimento em programação quanto parece. “Criou-se um mito ao redor da deep web, na qual só há hackers profissionais, comercializando drogas, armas e é claro que isso gera medo nas pessoas, não tem nem coragem de baixar o navegador. Na verdade, não é um submundo, é o mundo. Irrestrito. É um lugar onde você pode circular infinitamente em busca de informações específicas, sem deixar muitos rastros.” Encontrar links para sites interessantes requer tempo e uma pesquisa exaustiva, segundo Dante, que passa mais de 30
horas por semana circulando em diversos sites, sendo redirecionado via hiperlinks para outros, numa procura incessante por informação. “Às vezes, você pode achar algo muito legal, que nunca iria procurar. Claro, você pode se deparar com algo bizarro, mas também pode ser genial. Esses são os Honeypots” - os potes de mel, na tradução livre, significa que o usuário encontrou página com conteúdo interessante.
No jornalismo No jornalismo, a deep web serviu de cenário para um dos mais importantes encontros, que culminou no vazamento de mais de 500 mil documentos secretos do governo norte-americano em relação às guerras do Iraque e Afeganistão, e milhares Foto: Tookapic
O anonimato atrai cada vez mais pessoas para a deep web.
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tecnologia de documentos referentes a outros assuntos. O então soldado do Exército norte-americano Bradley Manning (atualmente a transexual Chelsea Manning) utilizou a rede anônima para encontrar alguém que pudesse ajudá-lo a divulgar os dados que havia coletado. Essa pessoa foi o ciberativista Julian Assange, uma espécie de messias da era digital para algumas pessoas. Assange, que permanece em asilo político na Embaixada do Equador em Londres desde 2012, divulgou o conteúdo em uma página que só pode ser acessada através da deep web, a famosa WikiLeaks, na qual é possível encontrar documentos sobre o tratamento dos presos em Guantânamo, despejo de resíduos tóxicos na África ou golpes de Estados orquestrados pelo mundo. Enfim, basta querer achar. A justificativa é pautada no direito à informação: o jornalista e ciberativista defende que o povo precisa e merece saber o que acontece nos bastidores das decisões que norteiam a vida de todos. Glenn Greenwald, jornalista do The Guardian, também utilizou a deepweb para manter contato com outro ciberativista, o norte-americano Edward Snowden. O jornalista teve que aprender a criptografar mensagens e e-mails para manter a comunicação com Snowden em segredo. Os dois tornaram públicos o sistema de vigilância global americana, realizado pela Agência de Segurança Nacional, que vigiava e interceptava mensagens no mundo inteiro. No Brasil, até mesmo a ex- presidente Dilma Rousseff e a Petrobras foram alvos de espionagem clandestina.
Anarquia Digital Assim como na superfície da internet, são necessários, também, navegadores (softwares usados para acessar sites) para entrar na deep web. Segundo Herculano Savage (nome fictício, a pedido do entrevistado), especialista em
segurança digital, “os navegadores abertos navegam na www e o Tor na Deep Web. A diferença entre eles é que o Tor navega em uma rede fechada, portanto com mais liberdade.” Segundo ele, nas profundezas da internet existe a livre circulação de informação, mercadoria e serviços, sem nenhum vínculo com governos ou empresas. Herculano prefere navegar pela deep web para garantir sua privacidade. “Em qualquer navegador que você use, eles coletam os dados sobre você. Onde está, com quem está, que horas esteve, quanto tempo ficou, o que pesquisou na internet, seus gostos, o nome do cachorro. Tudo.” Na deep web, porém, o perigo é que os dados dos usuários podem
Ela, porém, acentua ainda mais esse fenômeno. “Nos anos 90, nem havia aplicativos e já era possível escutar as conversas de celular de outras pessoas utilizando um simples celular Nokia, discando números no telefone. Imagine o que dá para fazer hoje em dia”, diz ele. O professor de Direito da PUCPR Fluvio Cardinelli explica, porém, que apesar de haver métodos para mascarar a identidade e as ações dos usuários, a ideia de impunidade e completo anonimato e, ainda assim, errônea. “Não existe anonimato na rede mundial de computadores. Isso é um mito que precisa ser esclarecido e combatido. Toda conduta perpetrada na internet, mesmo na deep web, deixa rastros e, portanto, é possível ao usuário
“É um lugar onde você pode circular infinitamente em busca de informações específicas, sem deixar muitos rastros.” não cair nas mãos de empresas ou do governo, mas sim nas de uma pessoa desconhecida, com as mais diversas motivações. A grande vantagem seria a utilização de e-mail criptografados, disponíveis no Tor (navegador), alguns com mecanismos de autodestruição em 24 horas. “ O próprio Tor possui um botão para reiniciar o anonimato... ou seja, não tão anônimo assim se você precisa reiniciá-lo.”
ser rastreado e identificado. O anonimato na rede é uma ilusão.” Cardinelli explica também que configura-se crime a divulgação não autorizada de informações sigilosas, legalmente protegidas contra a divulgação não autorizada. “Contudo, a maioria esmagadora das informações contidas na deep web não está protegida.”
Herculano conta que invasão de privacidade não é algo novo, vindo com o advento da internet. 3d_man_eu Jornalismo PUCPR Revista CDM
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Cyber ataques
Fernanda Menuci
Os ataques se dão através de milhares de computadores acessando uma única rede. Após ser infectado, é difícil identificar quais computadores são “zumbis” e qual de fato foi autor do ataque, explica Herculano. “As batalhas são brutais! é tanta coisa rolando, dos dois lados. As vezes é tão grave que o negócio é desligar a chave.”
Documentários Nós Roubamos Segredos: documentário dirigido por Alex Gibney mostra o vazamento de documentos confidenciais americanos pelo site Wikileaks, gerando repercussão internacional Deep Web: filme dirigido por Alex Winter, que detalha a história, julgamento e a prisão do suposto criador do site Silk Road, um dos maiores mercados negros da deep web.
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Ataques cibernéticos e hackeamentos não são coisas incomuns. “Isso acontece muito. São pessoas que rodam uma versão diferente de linux, como se construíssem o próprio Linux. Eles criam, usam, compram, geram e computadores zumbis. Uma máquina utiliza outra como máscara para o ataque. Muitas vezes as pessoas nem sabem que o seu computador é um zumbi, esperando a hora de ser utilizado”, conta Herculano.
Alguns ataques têm motivações financeiras. Hackers se apropriam de documentos e dados para chantagear e pedir resgates. No mês de maio desse ano, um ataque foi feito ao sistema de empresas e hospitais de vários países da Europa, dentre elas a empresa de telecomunicações espanhola Telefónica. Nesse caso, foram exigidos pagamento em moedas virtuais, Bitcoins.
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