As “magrelas” no espaço urbano
Bicicletas estão conquistando seu lugar na cidade. Página 03
Leitura virtual
Mercado de e-books cresce, mas ainda pouco aparece. Página 16 e 17
A revolução da comunicação
PUCPR sediou evento que discutiu o futuro da mídia. Páginas 19
Curitiba, 2 de Junho de 2015 - Ano 18 - Número 260 - Curso de Jornalismo da PUCPR
O jornalismo da PUCPR no papel da notícia
A idade do crime
Redução da maioridade penal provoca polêmica. Páginas 10 e 11
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Curitiba, 2 de Junho de 2015
Cidades
Casa de ferreiro, espeto de pau Rua em frente ao Detran encontra-se em condições precárias e com má sinalização Marcela Mazetto 3º período
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ara quem está no processo de aulas práticas da autoescola, pensar no teste de aprovação já desperta pânico e para piorar, além do nervosismo pré-teste e o próprio despreparo de iniciante, motoristas têm que enfrentar as más condições da principal via de saída do Detran, no Capão da Imbuia, que atualmente está toda remendada com os “tapa buracos”. A instrutora de centro de formação de condutores, Isabel Cristina Santos, diz que além da má sinalização e do asfalto precário, há outros fatores que dificultam a situação para os motoristas que trafegam por ali. “O trânsito é confuso pela falta da faixa contínua no meio da via, isso sem contar que é uma rua comercial, com fluxo de veículos constante”, conta ela. Por outro lado, Isabel atesta que a precariedade da rua pode servir de aprendizado para a vida dos futuros motoristas. “O instrutor responsável auxilia o condutor em como agir nessas condições, investindo na preparação de possíveis imprevistos”. De acordo com o diretor do departamento de pavimentação da Secretária Municipal de Obras Públicas do Paraná (SMOP), Mario Luis da Costa Padovani, não há previsão para execução de melhorias na via. ”O departamento licita e fiscaliza obras que constem na Lei Orçamentária Anual (LOA). A referida via não consta em LOA, portanto não há previsão para execução de tal obra”, conclui.
Para a inclusão da respectiva via em LOA, o processo envolve setores da administração municipal e estadual. “As obras são definidas e têm seus projetos elaborados pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC). A inclusão de obras na LOA cabe ao IPPUC; à Secretária de Planejamento (Seplad); à Secretaria de Finanças (SMF) e à Administração Regional, cabendo à SMOP somente a licitação e fiscalização da obra”, finaliza Padovani. O engenheiro civil, Diego Franke, explica como ocorre o recapeamento. “O processo mais rápido aplicado pelas prefeituras é o “tapa buraco”, que consiste no preenchimento de asfalto dos buracos na via”. Franke ainda explica como é realizado o procedimento de recuperação. “A estrutura é composta com uma camada acima do solo por sub-base, base e a camada do asfalto”. Franke descreve também qual seria o processo mais adequado para um melhor acabamento e reestruturação de via para um pavimento em nível. “É necessário fazer a fresagem (retirada) de toda a parte do asfalto onde se encontram os buracos na via, assim como a readequação da base no nível propício para a aplicação do asfalto. Com a camada de base já nivelada, é aplicada a camada de CBUQ (asfalto)”. Já, para Matheus Joffe, que reprovou no teste prático, a rua é apenas o reflexo da realidade urbana curitibana. “Se toda rua esburacada atrapalhar nossa maneira de dirigir, nós não sairemos mais de carro em Curitiba”, atesta.
Expediente Edição 260 - 2015 O Comunicare é o jornal laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR jornalcomunicare.pucpr@gmail.com http://www.portalcomunicare.com.br Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) R. Imaculada Conceição, 1115 - Prado Velho - Curitiba - PR
REITOR Waldemiro Gremski DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES Eliane C. Francisco Maffezzolli COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Julius Nunes COORDENADOR EDITORIAL Julius Nunes
COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO Rafael Andrade MONITORIA Luciana Prieto FUNDADOR DO JORNAL Zanei Ramos Barcellos FOTO DA CAPA Nicole Lopes 3º Período
COORDENADOR DE REDAÇÃO/ JORNALISTA RESPONSÁVEL Miguel Manasses (DRT-PR 5855)
EDITORES
Renata Martins
Louise Schmitt
Daniela Borsuk
Riana Carvalho
Manuella Hoepfner
Thaise Borges
Maria Carolina Oliveira
3º período
Érika Lemes Boschiroli 3º período
Giordana Chemin 3º período
2º período 3º período
2º período
Gabriela Jahn 3º período
Guilherme Wordell
3º período
3º período
2º período
Monalisa Rahal 3º período
Natalia Filippin 2º período
3º período
Isabel Bruder Woitowicz
PAUTEIROS
Nicole Lopes
Joana Sabbag
Angélica Klisievicz
Paulo Pelanda
Julyana Dal’Bo
Ariane Ramos
Lara Fonte - Bôa
Gabrielle Comandulli
Lucas Pereira de Souza
Íngridy Moreira
Luiza Romani
Isabela Gois
3º período 3º período
2º período 3º período
2º período 3º período
2º período 2º período 3º período
3º período 3º período
Saila Caroline Rodrigues 3º período
Viviani Moura 3º período
3º período
2º período
ERRATA: A reportagem intitulada Violência sem tamanho no Centro Cívico, matéria de capa do Comunicare 259, foi produzida também pelas alunas Adriana Barquilha e Jehnifer Kammer, ambas do terceiro período.
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Cidades
Revolucionando a comunicação Os comunicadores saem do lugar comum, e ao invés de falar, resolvem escutar Jéssica Felici Maria Cecília Terres Zelazowski Vanessa Gavilan Mikos 2º período
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Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) sediou no dia 20 de maio a palestra sobre o ‘’The Communication (R) evolution’’. O evento realizado no Tuca, reuniu cerca de 400 pessoas e apresentou a pesquisa feita pela cineasta e diretora Flavia Moraes sobre as mudanças e o futuro da comunicação. Organizada em parceria entre o grupo de marketing da PUCPR e o grupo Rede Brasil Sul (RBS), a palestra foi ministrada por Marco Boanova Valério, parceiro e coprodutor do projeto. Em aproximadamente 50 minutos, Boanova, com a participação de Flavia via vídeo conferência, apresentou e explicou as premissas criadas pelos pesquisadores a partir das mudanças que vem ocorrendo na comunicação. A cineasta contou como a ideia do projeto surgiu e detalhes do processo de produção, além de compartilhar experiências e sua opinião sobre algumas entrevistas feitas por ela. Apesar de o público-alvo ser os universitários da área de comunicação, Valério defende que o conhecimento deve ser compartilhado. Já Flavia atentou que o objetivo do projeto não é impor verdades, ‘’esse material é apenas um indexador. O estudo não se resume apenas a 11 pequenos filmes, eles servem para organizar a grande riqueza do trabalho que são as horas e mais horas de entrevistas’’. O coordenador do curso de jornalismo da PUCPR, Julius Nunes, ressalta que o tema é importante e tem sido recorrente em sala de aula. ‘’Essa pesquisa comprova que precisamos pensar em profissionais que sejam
Maria Cecília Terres Zelazowski
multiplataforma e realizem multitarefas, adequando-se às novas exigências do mercado’’, defende o professor.
Percepção do público Para Cícero Rohr, diretor da atendimento de uma agência de comunicação e professor, as questões abordadas estão presentes no cotidiano do profissional da comunicação. “Nessa análise o conteúdo está organizado de forma didática. Hoje mesmo irei aplicar nas minhas aulas’’. A estudante Jessica Santos Paes conta que o evento superou suas expectativas, “achei a palestra bem interessante, o fato de ser uma pesquisa com tantas horas de gravação nos deixa curiosos, ainda mais por ser da nossa área’’, disse.
O tema Em fevereiro 2013 o presidente do Grupo RBS, Eduardo Sirotsky Melzer, sentiu necessidade de reformular a empresa e seus produtos. Para isso, convidou Flavia Moraes para realizar uma investigação sobre as mudanças e o futuro da indústria da comunicação. As pesquisas iniciaram no mês de março e durante 12 meses a equipe visitou laboratórios de inovação, agências de propaganda, empresas de tecnologia e grandes veículos somando mais de 300 horas em aproximadamente 150 entrevistas com profissionais de diversas áreas do Brasil e dos Estados Unidos. A ideia inicial era produzir um documentário, mas não havia um roteiro determinado. O projeto começou a crescer e mostrar novas possibilidades, foi se “auto construindo’’, e devido à grande quantidade
Flavia participando via vídeo conferência da palestra de conteúdos o filme tornouse inviável já que perderiam boa parte do material. A pesquisa é mobile na sua execução e divulgação; é beta, ou seja, segue em processo contínuo de produção e é um exercício de pensamento para o futuro. Por ser totalmente colaborativa, desde o princípio o grupo está fazendo com que seja autossustentável.
Para organizar o estudo, Flavia editou as entrevistas agrupando os temas que foram reincidentes de forma concreta em 11 premissas que objetivam servir como referência e base de reflexão para o debate sobre o futuro da comunicação. Os vídeos estão disponíveis gratuitamente no site: www.thecommunicationrevolution.com.br
Algumas premissas #BETRUE (seja verdadeiro): posicione-se claramente e autenticamente e sempre que errar admita; #BETRUSTED (seja confiável): assuma o compromisso de filtrar, informar e surpreender. A sua audiência precisa de curadores criteriosos e confiáveis; #BEPART (faça parte): participar, compartilhar e aproximar-se. Investigar as múltiplas oportunidades que o mundo multidimensional oferece; #THINKPLURAL (pense plural): construir uma cultura de diálogo e de criação coletiva, você não só pode como deve ter opinião; #THINKMOBILE (pense mobilidade): aceite o inimaginável, o conceito de mobilidade é baseado no ideal de interação; #BEBETA (seja beta): não case com as suas ideias, seja permeável, insatisfeito, incansável. O definitivo é provisório. Só o estado beta é permanente; #THINKAHEAD (pense à frente): vá em frente, inovação é coragem, experimentação, aprendizado e risco. O lucro é a remuneração do risco; #THINKHIGHER (pense elevado): eleve o pensamento dando às empresas significados mais profundos. Produzimos comunicação que informa e forma.
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Cidades
Curitiba e a bicicleta Um meio de transporte que não polui nem tampouco necessita de combustível. É usada por muitos, mas como ela é vista na cidade?
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Leonardo Henrique
Ademir Antunes, mais conhecido como “Plá”, é um dos ciclistas mais populares da capital paranaense, pois o mesmo cria músicas que citam a bicicleta. A sua “magrela”, por sinal, é adaptada para carregar o seu violão. “Pode estar chovendo, fazendo frio, calor que eu vou de bicicleta para onde tenho de ir. Já carrego capa de chuva, chapéu e saco para cobrir o violão. Gosto tanto de bicicleta que componho para ela”, disse o músico.
3º período
ada vez mais usada no Brasil e no mundo, a bicicleta vem ganhando seu espaço em Curitiba. Com a ajuda da Prefeitura, que vem criando faixas exclusivas para os ciclistas na cidade, o número de pessoas que usa o meio de locomoção deve aumentar.
Sobre o dia a dia curitibano para os ciclistas, Plá acredita que, principalmente no centro da cidade, o perigo de um acidente acontecer é grande, ainda mais se não houver ciclofaixas. “Qualquer lugar no centro é perigoso porque tem muito trânsito. Se a pessoa não tiver noção de espaço, ela pode ser atropelada. Quando não há ciclofaixa, procuro sempre andar pelo lado direito da rua, na faixa amarela”, completou o ciclista, que diz que os carros passam muito próximos dele quando está na rua.
Faixas compartilhadas A primeira Via Calma (ciclofaixa) de Curitiba foi implantada na Avenida Sete de Setembro, da Praça do Japão à Avenida Mariano Torres. A extensão da via para ciclistas passa dos seis quilômetros e, do lado esquerdo, é compartilha por carros, ônibus e bicicletas; já a faixa da direita
é exclusiva para as “bikes”. “Ficou ótimo, dá para andar tranquilo, têm as demarcações para a bicicleta e os carros nos respeitam. Deveria ter em todas as ruas da cidade”, atestou Plá. O presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região (Sindimoc), Anderson Teixeira, diz que a iniciativa foi boa, já que retirou muitos ciclistas das canaletas, facilitando o trajeto dos ônibus. Em contrapartida, Abimael Mardegan, presidente do Sindicato dos Taxistas do Paraná (Sinditaxi), reclama que algumas partes da ciclofaixa atrapalham o estacionamento dos táxis. “Se o carro parar ali, ele é multado como estacionamento irregular. O próprio nome diz: via compartilhada, então tanto faz se é carro, bicicleta ou táxi”, afirmou o presidente. Em defesa das ciclofaixas, a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) explica que alguns taxistas são multados porque sobem na calçada ou estacionam na via calma e citou como exemplo o que ocorre em frente ao Shopping Estação. “O ponto de táxi é um lugar calmo, onde os carros esperam os passageiros. Quando o ponto fica lotado, ao invés de dar uma volta na quadra, muitos taxistas acabam esperando em cima da ciclofaixa”. Em 2015, pouco mais de 1,1 mil veículos já foram multados por excesso de velocidade na Via Calma da Avenida Sete de Setembro. A multa para quem for pego acima do limite de velocidade varia de média, grave e gravíssima. De acordo com a assessoria de comunicação da Setran, quem trafegar acima de 45 km/h na
Via Calma pode ter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) apreendida e perder o direito de dirigir. Para o motorista Lucas Ostroski, se as vias calmas fossem transformadas em ciclovias, não haveria grande diferença. “Não vejo muitos carros na avenida, então, se a faixa compartilhada fosse exclusiva para ciclistas, não mudaria muita coisa, mas uma faixa exclusiva para carros e outra para bicicletas, deixaria o tráfego bem melhor”, disse Ostroski.
Projetos e movimentos Com um projeto de criar mais de 30 quilômetros de ciclovias, sendo 21 na Cidade Industrial de Curitiba, e dois quilômetros no Circuito Interparques, a Prefeitura de Curitiba quer ligar alguns parques como Barigui, Tanguá e São Lourenço, tentando trazer mais tranquilidade ao trânsito. Mas para Yasmin Reck, assessora de imprensa da Assossiação de Ciclistas Alto Iguaçu, o respeito mútuo é
Bicicletada de abril de 2015
o que fará a diferença. “Não dá para achar que a vida dos ciclistas está garantida com essas ciclovias. O respeito e a mudança da cultura em relação à mobilidade urbana são fundamentais”, afirmou. Ponto de encontro de ciclistas, a Praça de Bolso do Ciclista, localizada na Rua São Francisco, Centro, era um terreno abandonado, mas com uma parceria com a Prefeitura, os ciclistas conseguiram criá-la. Nela, acontece a biclicletada, evento para divulgar o meio de transporte, todo último sábado de cada mês, às 10h. Plá ajudou a construir o local, e diz que ele tem uma energia especial, mas que os frequentadores dos bares mancham a sua imagem. “As pessoas sujam a praça. O encanto dela está diminuindo pela inconsciência da população”, disse. Com muitas reclamações de moradores, guardas municipais estão fazendo rondas noturnas para garantir a segurança do local. Leonardo Henrique
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Economia
Juros excessivos Os consumidores devem ficar atentos com as finanças pessoais, pois as taxas estão em alta esse ano. Especialistas recomendam tentar negociar com o banco Virgínia Thais Freitas 2º período
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uando o dinheiro não dá para o mês todo, muitas pessoas acabam recorrendo a créditos especiais para quitar suas dívidas e tentar sair do sufoco, e dois dos meios mais procurados para suprir essa necessidade são os cartões de crédito e o cheque especial, o que no fim das contas pode gerar problemas ainda maiores. O cartão de crédito é usado para adquirir bens, contratar serviços e pagar as mais diversas contas e só se preocupar com a fatura no final do mês. Já o cheque especial é uma margem de dinheiro cedida pelo banco e disponibilizada na conta corrente da pessoa para que ela possa pegar como
Virgínia Freitas
uma espécie de empréstimo e que deverá ser devolvido com acréscimos no final do prazo estipulado. O especialista em economia e gestão empresarial Miguel Waidzik faz um alerta para as pessoas que vão recorrer a esse caminho, já que as taxas de juros são as maiores em 20 anos. Emprestar dinheiro no Brasil está cada vez mais caro, no caso dos juros do cartão de crédito chega a 345,8% ao ano.
Para quitar as dívidas a melhor saída é negociar com o banco
O economista recomenda planejar antes de aderir a esses créditos, pesquisar qual banco tem a menor taxa de juros e só usar se não houver mais nenhuma outra saída. “O consumidor deve planejar
e não ultrapassar o limite sobre a renda mensal, usar no máximo 20% do valor do salário”, disse.
mentação animal forma dois terços deste valor.
do setor são algumas mudanças no comportamento social em relação aos animais, principalmente cães e gatos. “Não é raro encontrarmos pessoas que tratam seus animais como verdadeiros membros da família”, diz ele.
Já a advogada Luciana Strachulski aconselha primeira-
mente negociar com o credor, tentar prorrogar a data de vencimento ou parcelar o débito. E que o consumidor pode recorrer à Justiça ou procurar o Procon toda vez que se sentir lesado.
Mercado pet se esquiva da crise Setor faturou mais de R$ 16,4 bilhões em 2014 Breno H. M. Soares 2º período
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pesar da crise econômica pela qual o país está passando, o mercado de produtos focados em animais de estimação continua crescendo. De acordo com dados da indústria brasileira dos produtos pet, em 2013 o setor faturou R$ 15 bilhões, ampliando o faturamento em 2014 para mais de R$ 16,4 bilhões. O segmento de ali-
Luiz Paulo Martins, professor da escola de negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), diz que o mercado pet brasileiro está em segundo lugar no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Ele afirma que um dos principais motivos desta alta Julyana Dal’ Bó
Cães e gatos são os animais de estimação que mais movimentam o mercado
Martins aponta ainda que os animais ganharam importância junto às famílias, o que aumentou a oferta de serviços como salão de beleza e banho e tosa para animais. Mas o principal crescimento acontece na produção de rações. Há previsão de investimentos de até R$ 140 milhões da indústria Mars, responsável pelas marcas de ração Pedigree (cães) e Whiskas (gatos), na cidade de Ponta Grossa. Mesmo com os investimentos em alta, o mercado pet ainda sofre com o aumento nos preços. “Nosso mercado é sazo-
nal. Após fevereiro, a venda de produtos costuma diminuir, mas esse ano talvez haja uma leve tendência de que a diminuição seja maior do que o normal”, afirma o médico veterinário Sylvio Mehler. Ele diz que os preços de rações importadas são muito afetados pelo valor do dólar, então as pessoas têm a tendência de trocar para marcas mais baratas quando o valor da moeda norte-americana sobe. Isso é confirmado por Mical Zentil Queiroz, dona de 11 gatos. Ela afirma que juntos eles consomem um quilo de ração por dia. A grande maioria dos gastos são com ração, e ela diz ter notado aumentos nos últimos meses. “A diferença dos preços é notável, coisa que era de R$ 7,00, R$ 8,00 agora são R$ 10,00, R$ 11,00 por quilo de ração”, completa.
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Economia
Um panorama da economia paranaense Como a agropecuária, indústria e comércio do Estado estão reagindo à crise financeira? Paola Magni 3º período
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m outubro do ano passado, Beto Richa (PSDB) foi reeleito, no primeiro turno, como governador do Paraná, com mais de 55% dos votos válidos, desbancando adversários fortes, como Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffmann (PT). Entre as propostas de Richa expostas no plano de governo, existem medidas voltadas para os mais diversos setores da sociedade. Atender 200 mil famílias em situação de vulnerabilidade, por exemplo, faz parte do Programa Família Paranaense, um dos projetos
R$ 130 milhões destinados somente para a reforma do estádio Joaquim Américo para a Copa do Mundo
vimento econômico, a criação de mais de 400 mil empregos formais foi apenas uma das promessas do tucano. Três meses após a sua reeleição, Richa liberou R$ 100 milhões para os municípios paranaenses, para que as cidades possam investir em pavimentação, construção de escolas e unidades de saúde,
como é o caso de Matinhos, no Litoral do Paraná, que esperava há 15 anos pela verba para que a revitalização da orla de Caiobá pudesse acontecer. Apesar de parte do prometido realmente ter começado a ser feito, o que acontece com o resto do plano de governo? Como ficam os outros setores da economia paranaense,
o Estado, é pouco provável que o governo faça tudo que prometeu. “O Paraná, apesar de ser um estado com muitos ramos econômicos, está inserido no cenário nacional, o que o torna vulnerável à recessão, assim como todo o Brasil”, fala Curado. O economista diz que, apesar do setor de serviços representar a maior parte do emprego e
“Três meses após sua reeleição, Richa liberou R$ 100 milhões para os municípios. Alguns aguardavam o dinheiro há mais de uma década”
destacados no planejamento do atual governador. Além disso, setores como o agronegócio receberam promessas de que o Paraná será uma área livre de febre aftosa sem vacinação e de peste suína clássica, com mais segurança para o mercado interno e para os exportadores. No desenvol-
entre outras ações. Os recursos foram dados pelo Sistema de Financiamento dos Municípios, administrado pela Fomento Paraná, em parceria com a Secretaria do Estado do Desenvolvimento Urbano. Muitas dessas cidades aguardavam o dinheiro para estas obras há mais de uma década,
da economia do Estado pertence à indústria
da economia do Estado pertence à agropecuária
em meio à crise que o Brasil está vivendo? Segundo o economista Marcelo Curado, o governador, na sua campanha, demonstrou possuir uma política de apoio ao desenvolvimento da economia, mas, devido à crise financeira que se encontra
renda no Estado, a indústria automobilística, assim como os setores agroindustriais e agroexportadores, pesam nos cofres públicos. “No país, vemos movimentos de formas de desligamentos alternativos, como demissões voluntárias e férias prolongadas, que impactam na economia e,
nas vendas de alimentos e bebidas (De 2014 a 2015)
nas vendas de veículos automotores (De 2014 a 2015)
27,28% 8,68% -7,65% -3,45%
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Economia Participação paranaense no agronegócio brasileiro 100 80
63% 60 40 20 0
17,8 %
Soja
18%
Trigo
Milho Por: Erika Lemes
em 2015, isso apenas tende a piorar”, finaliza.
Como andam os setores da economia paranaense? O turismo no Paraná regrediu quando, em 2013, houve a fusão entre as secretarias de Turismo e Cultura no Estado, segundo o diretor executivo do Sindicato das Empresas de Turismo no Estado do Paraná (Sindetur-PR), Ademir Barboza. Ele fala que o turismo no Paraná, assim como em todo o país, tem uma importância fundamental para a economia. Entretanto, este setor está crescendo em ritmo muito lento, percebido pelos reflexos da Copa do Mundo no Estado e a alta do dólar, fazendo com que muitas pessoas optem por não viajar. “Não temos números sobre a ajuda financeira fornecida pelo governo ao nosso setor, mas posso dizer, baseando-me na percepção das demandas, que o recurso é muito pequeno, pois faltam projetos e vontade
política por parte dos governantes”, afirma Barboza. Ele ainda fala que alternativas estão sendo buscadas para que o setor prospere, como o turismo ecológico, que está em alta. Já no setor do agronegócio, o Paraná continua sendo o maior produtor nacional de grãos, com destaque especial para as plantações de soja (17,8% da produção nacional), milho (18% do cultivo no país) e trigo (63% do total brasileiro), segundo informações do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). No total, a agropecuária representa, aproximadamente, 8,68% da economia paranaense, o que a torna indispensável, no que diz respeito aos investimentos pelo governo, segundo Tania Moreira, responsável pelo departamento técnico econômico da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (FAEP). “Ainda está muito cedo para fazer
previsões sobre como ficará o cenário paranaense e brasileiro, por causa do dólar e das incertezas políticas, mas, com certeza, a agropecuária continuará a receber apoio financeiro, por ser importante para a economia no geral”, afirma Tania. Ainda de acordo com dados do Ipardes, o setor industrial representa cerca de 27,28% da economia do Estado. Segundo informações do Serviço Social da Indústria (Sesi-PR), as indústrias paranaenses registraram queda de, aproximadamente, 11% nas vendas em fevereiro de 2015, se comparado ao mesmo período do ano anterior. Os gêneros de maior participação relativa apresentaram uma diminuição significativa nas suas vendas: alimentos e bebidas (-7,65%), veículos e automotores (-3,45%) e refino de petróleo e produção de álcool (-0,97%). O aumento de mais de 100% do custo da energia elétrica, desde junho de 2014 até março de 2015, a elevação da carga tributária estadual e o fim dos incentivos fiscais federais foram apontados como causas dessa queda no faturamento, que preocupa organizações como o Sesi e a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), além das próprias empresas.
Quem financia os projetos no Estado? A instituição financeira de desenvolvimento Fomento Paraná dirigiu atenção especial, em 2014, para ações que contribuíram para o crescimento da carteira de crédito no setor privado, passando para R$ 184, 2 milhões em 2014, representando um aumento de 165%, se comparado aos R$ 69,5 milhões destinados a este setor em 2013. De acordo com Luciano Patzsch, assessor de comunicação da instituição, a Fomento Paraná destinou 40,3% do conjunto de operações para empresas da
Mais de 100% de aumento no custo da energia elétrica (De 2014 a 2015)
indústria, 22,9% do comércio, 34,7% para serviços diversos e 2,1% para pessoas físicas que queriam investir em algum empreendimento. Apesar da organização não ter uma linha de crédito específica para a agricultura e o turismo, Patzsch afirma que eles financiam qualquer pessoa que apresente boas propostas, o que ajuda diversos setores da economia a se manterem estáveis. “Por exemplo, uma das linhas de crédito de maior destaque em 2014 foi a linha Banco do Empreendedor - Taxistas, que atingiu a marca de 1.032 veículos contratados no Estado, o que representa R$ 34,5 milhões em recursos liberados, o que, em muitos casos, ajudou milhares de pessoas a encontrarem uma forma alternativa de complementar a renda”, conta o assessor. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que possui contratos tanto com o governo paranaense, quanto com empresas privadas, é responsável por financiamentos de grandes obras, fato que ficou evidente na Copa do Mundo Fifa 2014, em que, só em Curi-
tiba, foram desembolsados mais de R$ 130 milhões apenas para a reforma do estádio Joaquim Américo Guimarães, a fim de torná-lo apto para receber os jogos. Segundo o assessor de imprensa do BNDES, Ari Silveira, ainda não é possível saber qual será o principal financiamento feito no segundo governo de Beto Richa. “Nós não temos uma análise específica para o Paraná, mas somos responsáveis por financiar grandes obras de cunho particular e público. Essas operações ocorrem nos mais diversos setores, como agropecuária, indústria e infraestrutura das cidades, por exemplo”, explica Silveira. No ano de 2014, o foco foi para as obras relacionadas à competição da Fifa, para que o Estado pudesse adaptar a capital paranaense ao padrão exigido pela organização. “Apesar de não existir uma periodicidade com que os empréstimos são feitos, creio que, este ano, os montantes serão direcionados a setores como o agronegócio e a indústria, importantes para o Paraná”, comenta o assessor.
1.032
táxis contratados pelo Estado, o que representa
R$ 34,5 milhões em recursos liberados pela instituição Fomento Paraná para a linha de crédito Banco do Empreendedor - Taxista
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Curitiba, 2 de Junho de 2015
Política
A luta pelo diploma No dia 07 de abril, Dia do Jornalista, a PEC que restabelece a exigência de diploma para o exercício da profissão entrou em pauta no Congresso Isabela Vera 2º período
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Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que trata do restabelecimento do diploma de grau superior do jornalismo é discutida desde 2009, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou tal exigência da profissão. No dia 07 de abril, a proposta foi incluída entre os itens que seguiram em votação no Congresso, mas ainda não teve um desfecho.
do Paraná (Sindijor-PR), alega que “a passagem do profissional pelo aprendizado é fundamental para a boa formação’’. Carvalho ainda afirma que para a aprovação ser realizada, dois terços do Congresso devem ser a favor da PEC. “Em conversa com os deputados da bancada pararanense, 20, dos 30, se posicionaram a favor da aprovação”, completa Carvalho.
A PEC foi elaborada para suplantar o impasse provocado pelo Supremo, por que considerou inconstitucional o decreto-lei 972/69, que previa a obrigatoriedade do diploma.
Em defesa da PEC, o deputado Marcelo Belinati (PP) relatou que entende a necessidade do diploma. “Estarei votando a favor, pela regulamentação da profissão de jornalista, pela classe de profissionais que precisa e merece ser respeitada”.
Guilherme Carvalho, expresidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais
Renata Martins
Jornalitas buscam a valorização do diploma Segundo a vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, a iniciativa de convencimento da Fenaj com os parlamentares está sendo
argumentada. “Já foi aprovado no Senado e agora está na Câmara. A regulamentação da profissão de jornalista não fere o direito da liberdade de expressão”, finaliza a diretora.
Faltam verbas para militares D esde meados do ano passado, as forças militares enfrentam problemas relativos ao repasse de verbas, mas no começo do ano de 2015, a situação se agravou Rúbia Nascimento 2º período
A
crise financeira pela qual passa o governo estatual atingiu servidores de todas as áreas e com os militares não é diferente. Em 2014, faltavam verbas para o rancho (vale alimentação dos militares) e vencimentos dos cadetes da Academia Policial Militar do Guatupê (APMG) agora, faltaram verbas para pagar os terços de férias dos militares e progressões na carreira. A Secretaria de Administração e Previdência informou, por meio de nota, que apenas monta as folhas de pagamento com base nas informações repassadas pelos militares. A Polícia Militar do Paraná (PMPR) informou que o órgão responsável pelo repasse de verbas é a Secretaria da Fazenda (Sefa). Também por meio de nota, a Sefa disse que a situação estaria regulariza-
da até o final do mês de abril. A primeira parcela do terço de férias foi depositada no dia 24 de abril. A prioridade foi pagar os praças e a segunda parcela abrangiu os oficiais. Ainda segundo a Sefa, os pagamentos puderam ser feitos por conta da entrada do dinheiro proveniente do IPVA e o Estado está cortando verbas por conta do ajuste fiscal, que prevê redução dos orçamentos. “O Estado está passando por dificuldades. Na questão da alimentação, hoje estão sendo atendidos apenas os policiais que estão de serviço. O orçamento está enxuto e, por consequência, temos que criar medidas para superar essa situação. A PM não vai se eximir de dar o suporte necessário nesse momento”, diz o tenente coronel Ro-
thenburg, representante do Comando Geral da Polícia Militar do Paraná. “O terço de férias teve um lapso temporal nos primeiros meses desse ano, mas os praças já tiveram o depósito no final de abril e a segunda parcela, referente aos oficiais, foi paga no início de maio. Consideramos esta questão sanada”, diz o capitão Benetti, recursos humanos da PMPR. Diante dos atrasos salariais, outras categorias têm assegurado seu direito à greve. Policiais militares e bombeiros não podem fazer greve pois, é inconstitucional. Porém, podem se manifestar e têm entidades para defender seus interesses. “Não é vedada a manifestação, mas é vedada a greve. Temos a Associação da Vila Militar (AVM), a Associação de Defesa dos Direitos dos
Policiais (Amai) que juntamente com o Comando Geral da PMPR, levam os anseios da categoria ao governo do Estado”, declara Rothenburg. Sobre a proposta apresentada pelo governo estadual que sugere que 33.556 beneficiários com 73 anos ou mais sejam transferidos do fundo financeiro, que é arcado pelo tesouro estadual, para o fundo previdenciário, constituído a partir de contribuições dos servidores e do poder público, o comando da PMPR esclareceu que a medida não afeta os militares. “Em nada afeta essa classe”, conclui Rothenburg. Em relação às progressões na carreira, aos poucos a situação se normalizará. “Ao longo dos próximos meses, estará equalizado”, relata Benetti.
Curitiba, 2 de Junho de 2015
Política
Se essa calçada fosse minha Projeto visa transferir a responsabilidade da construção de calçadas, do cidadão para o poder público Andrey Princival Gabardo 3º período
O
vereador Bruno Pessuti (PSC) protocolou no dia 17 de abril um projeto de lei que transfere a responsabilidade da construção de calçadas em frente a imóveis, do cidadão para o poder público. Atualmente, segundo lei municipal 11.596/05 cabe ao dono do imóvel construir e zelar pela calçada em frente a sua propriedade. Pessuti entende que a calçada é parte integrante da rua, e assim como o código de trânsito determina que a rua é pública, a calçada também é e justamente por isso que a responsabilidade em sua construção não pode ser transferida para o particular. O grande objetivo do projeto, que ainda não tem previsão
para ir à votação na Câmara dos Vereadores, é que as atuais calçadas do município possam ser reformadas ou revitalizadas pelo poder público. “Atualmente novas edificações, como prédios, são obrigados a construir uma calçada nova e as antigas mantêm calçadas ruins. Com a alteração da lei, as novas edificações poderão continuar fazendo a calçada, pois há uma possibilidade de parceria entre o poder público e o privado. Hoje a Prefeitura não faz a obra, porque a lei delega esse dever ao particular que também não faz”. O vereador lembrou ainda de outras leis que reforçam seu pensamento. “O artigo 99 do código civil define que as ruas são bens de uso comum do povo e o
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artigo 23 da constituição federal determina que os entes federativos devem conservar o patrimônio público”. Para a advogada Marisa Gualda o projeto de lei é bem-vindo e a população será a maior beneficiada, já que com a responsabilidade atribuída ao poder público, poderá exigir o feitio e a manutenção das calçadas. “Avalio esse projeto de maneira positiva, pois a antiga lei deixa nas mãos dos proprietários de imóveis o dever de fazer as calçadas. Não há padrão e não existe fiscalização no tipo de calçada feito. O resultado são calçadas diferentes em cada casa, em cada quadra, o que dificulta o caminhar das pessoas. Com a responsabilidade atribuída Andrey Princival Gabardo
aos órgãos públicos, teremos a quem cobrar por calçadas padronizadas e bem feitas”. O cadeirante Agenor dos Santos Pinto, que enfrenta sérias dificuldades para se locomover por entre as calçadas de Curitiba, afirma que todos, mas em especial os portadores de deficiência físico-motora, serão beneficiados com este projeto de lei. “Sofro muita dificuldade quando preciso ir ao médico ou visitar meus parentes. Atualmente, as calçadas não são padronizadas e poucas delas possuem rampas de acesso para os cadeirantes. Acredito que com o dever de construir calçadas atribuído aos órgãos públicos, eu e todos os deficientes teremos mais condições de transitar sozinhos sem aborrecimentos, como buracos e desníveis nas calçadas”. Além da desobrigatoriedade da construção das calçadas pelos proprietários dos imóveis, o projeto de lei proposto por Pessuti ainda prevê a concessão do uso do subsolo das calçadas. “Nesse caso, uma empresa seria a responsável pela instalação dos cabos de dados, energia e outras tubulações, alugando a sua infraestrutura para outras concessionárias, como companhias de água, energia elétrica e internet, e em contrapartida manteria as calçadas em perfeito estado de conservação e acessíveis para todos”, completou o vereador.
Se o projeto for aprovado, caberá ao poder público a manutenção e construção das calçadas
A assessoria de impressa da Prefeitura Municipal de Curitiba informou ter por norma não comentar projetos que ainda não foram para votação na Câmara dos Vereadores.
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Especial
Maioridade penal divide opiniões PEC pode criminalizar jovens a partir de 16 anos, mas contrários dizem que isso não diminuirá a violência Brenda Iung e Ingrid Teles 3º período
A
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que prevê a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos foi aprovada por 42 votos votos contra 17 na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, em 31 de março deste ano. A justificativa para aprovar o projeto seria uma possível diminuição na criminalidade. Para a proposta virar lei, precisa passar em dois turnos pela Câmara e pelo Senado e ainda existe a possibilidade de ser barrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O relator da comissão da maioridade penal, o deputado Laerte Bessa (PR-DF) abertamente declarou-se defensor da redução e, em sua rede social afirmou, “não queremos sacrificar a juventude. Só queremos punir aqueles menores irrecuperáveis, os que cometeram dois ou três homicídios, assaltaram, traficaram drogas várias vezes. Não podemos mais admitir que matem impunemente”. Em uma pesquisa realizada pelo Datafolha em abril deste ano, 87% dos entrevistados se mostraram favoráveis à redução, contra 12% desfavoráveis e 1% que não tinha uma opinião formada sobre o assunto. O estudante de Direito, Ian Lucas Sheid, afirma que apoia a redução da maioridade, pois conforme o que aprende em sala de aula, alguns menores cometem delitos graves e não são devidamente punidos e acabam reincidindo. Ele completa dizendo que “a real solução para os problemas de uma nação é a educação, mas no Brasil, lugar onde ‘nada é planejado e tudo é remediado’, precisamos dar conforto
e o mínimo de justiça para as famílias vítimas desses menores infratores”. Para a mestre em psicologia forense, Ana Paula Jesus da Silva, a medida é ineficaz para o combate ao crime, pois “um jovem de 16 anos não tem aparato biológico para compreender de forma madura a gravidade de seus atos. O cérebro ainda se encontra em desenvolvimento e várias estruturas ainda não estão plenamente consolidadas. Junto de presos adultos, tais jovens podem vir a se submeter a líderes negativos e até tê-los como modelos de conduta”. Este fato é também apontado pelo diretor da Casa de Semiliberdade de Curitiba, Paulo Roberto de Mattos. “A redução da maioridade é uma medida paliativa, não está tratando o problema e sim a causa” e afirma que as medidas socioeducativas têm caráter reparativo, diferente das cadeias convencionais, que têm caráter punitivo. A pedagoga da Casa de Semiliberdade Maristelma da Cunha
afirma que uma medida que poderia contribuir para a diminuição da criminalidade seria aumentar o tempo na penalidade dos menores. Mas ainda assim não acredita que a redução seja uma possibilidade de mudança no quadro de violência. Um dos menores da Casa de Semiliberdade, que não pode ser identificado, cometeu um ato infracional aos 17 anos e afirma que a mudança não seria suficiente para a diminuição da violência. Segundo ele, “se a redução da maioridade fosse aos 16 anos, e eu fosse fazer (o delito), eu faria do mesmo jeito. A gente não pensa nas consequências, a gente vai pela adrenalina. Se todo mundo que fosse fazer alguma coisa pensasse nas consequências, não teria bandido maior de idade preso”. A estudante Ana Carolina Caseiro, 18 anos, defende que um menor deve sim ser responsabilizado legalmente pelos seus atos, tendo em vista que aos 16 anos ele já tem maturidade para trabalhar e votar e defende que “a
Tratamento De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), existem três tipos de tratamentos quando ocorre um ato infracional cometido por um menor:
Socioeduca1 Medida tiva: medidas como liberdade assistida, reparação ao dano, trabalho à comunidade;
de semiliberda2 Casa de: em que o menor
estuda e trabalha fora do centro, mas retorna para dormir e vai para a casa aos finais de semana;
o menor 3 Internação: fica restrito de sua
liberdade, e todas as atividades que faz (estudar, trabalhar e atividades complementares) são realizadas dentro do centro.
Reincidência de jovens infratores 267
248
238
226
175
2009
2010
2011
Fonte: Departamento de Administração Socioeducativa (Dease)
2012
2013
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Especial
“A gente não pensa nas consequências, a gente vai pela adrenalina”
proteção ao menor infrator se apresenta apenas como uma patética tentativa de sanar a falta de educação de qualidade do país. Se qualquer um fizer algo errado, então qualquer um tem que pagar pelo erro. Porque na hora de puxar o gatilho para matar alguém, a idade pouco importa”.
A prisão, quando não é acompanhada de políticas públicas de reinserção, não contribui para uma diminuição da criminalidade. É o que defende o advogado especialista em direito criminal, Renan Zeghbi. “A alternativa repressora que sugere a proposta tem, portanto, o condão de excluir ainda mais jovens esquecidos pela ineficácia das atribuições básicas do estado”, alerta.
pode ser julgada por uma infração a partir dos 12 anos, de acordo com o estatuto. A Delegacia da Criança e do Adolescente relata o processo em que o menor passa ao cometer um ato infracional: para atos que não são previstos em lei, ele é liberado mediante presença de responsáveis e aguarda decisão do Ministério Público para dar continuidade ao trâmite que já foi iniciado na delegacia. Já para casos em que há previsão de
apreensão do menor, ele é recebido pelos educadores e assistentes sociais para permanecer em centros socioeducativos. O processo entre ser apresentado à justiça e o julgamento deve ser de no máximo 45 dias. O Departamento de Administração Socioeducativa
Principais motivos de apreensão de menores em 2013 Busca e Apreensão
69 112
Homicídio
342
Roubo Tentativa de Homicídio
58
Tráfico de Drogas
242
Fonte: Departamento de Administração Socioeducativa (Dease) Brenda Iung
A Delegacia da Criança e do Adolescente de Curitiba afirma que não há uma estimativa de quantos jovens reincidem na criminalidade, mas que é constante a reincidência e em sua maioria o menor comete o mesmo delito inicial. Quanto ao perfil destes menores, boa parte são do sexo masculino, fazem uso de entorpecentes, são de classe baixa e com uma desestrutura familiar evidente. Os atos mais cometidos por eles são roubo e tráfico de drogas. O ECA prevê uma pena máxima de seis anos de permanência nestes centros, em que três podem ser cumpridos em uma Casa de Semiliberdade e três na internação. Esta penalidade deve ser concluída até o menor completar 21 anos. A criança
(Dease) forneceu à reportagem do Comunicare dados sobre menores infratores. As estatísticas apontam que 813 jovens entre 15 e 17 anos cometeram algum tipo de ato infracional no ano de 2013 (os demais dados encontram-se nos gráficos).
A faixa etária com maior casos de menores infratores, segundo o Dease, é entre 15 e 17 anos
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Polícia
Rotina perigosa como profissão O trabalho dos policiais do esquadrão antibombas Victória Xavier 2º período
C
om a missão de garantir a segurança e a integridade das pessoas, do patrimônio e da ordem pública quando ameaçados por artefatos explosivos, o esquadrão antibombas da Polícia Militar do Paraná, com sede em Curitiba, nasceu no ano de 1992, juntamente com a especialidade de técnico explosivista, mas foi aprimorado em 2013, quando as demandas criminosas com bombas e explosivos começaram a crescer.
O primeiro atentado à bomba da história O primeiro atentado terrorista com bombas ocorreu na Inglaterra, no século XVII. No dia 05 de novembro de 1605, um grupo de extremistas católicos liderados pelo militante Robert Catesby pretendia explodir 36 barris de pólvora sob a Casa dos Lordes, em Londres, com a finalidade de matar o Rei James I e todo o Parlamento Britânico por vingança e protesto, já que houve o exílio de padres Jesuítas. Esse evento ficou conhecido como “The Gunpowder Plot” (A Conspiração da Pólvora) e é festejado na Inglaterra com fogos de artifício entre a comunidade internacional de operadores antibombas.
O trabalho do Bope no antibombas O esquadrão antibombas conta com diversos equipamentos, que equivalem ao, no mínimo, R$ 3 milhões, para auxiliar os técnicos na detonação de artefatos. Um desses equipamentos é o robô, que é usado para
trabalhos com explosivos. Ele tem a possibilidade de acoplar vários acessórios, tendo como principal função resguardar a vida do técnico. O soldado Anderson Cesar Carlesso, técnico explosivista policial, cita seus benefícios e explica seu funcionamento. “Ele possui quatro câmeras e sistema de áudio, tendo capacidade de andar por 16 quilômetros durante quatro horas consecutivas, além de poder ser
O esquadrão antibombas é chamado de quatro a cinco vezes por semana para atender todo o Paraná. Já para atender apenas a região de Curitiba, recebe, em média, duas chamadas por semana, mas nem por isso é conhecido pela maioria da população, como conta Miriam Hamad Rahal, estudante de pré-vestibular. “Eu não sabia que existia algo parecido aqui no Brasil, e penso que é necessário ter,
As operações na vida de cada policial O soldado Carlesso, que está há seis anos no esquadrão, conta uma de suas histórias mais marcantes. Foi na Biblioteca Pública do Paraná, onde tinha uma mala debaixo da escadaria. Além de ser inverno, estava chovendo, o que dificultou muito o trabalho. “Eu não conseguia enxergar nada, porque embaçou toda
O esquadrão antibombas é chamado de quatro a cinco vezes por semana operado em até 90 centímetros abaixo da água. O robô funciona através do notebook e joystick e custa em torno de R$ 680 mil”. Porém, Carlesso afirma que a ferramenta mais significativa de todas é o raio-x, pois “ele agiliza o trabalho e certifica o técnico se há ou não artefato explosivo e custa, em média, R$ 270 mil”. É fato que podem ocorrer falhas na detonação dos objetos. Quando isso acontece, o risco que há é o da aproximação do técnico até o artefato. “Mas nós trabalhamos com algumas normas de segurança, e uma delas é: quanto menos vezes você se aproxima do objeto suspeito e quanto menos tempo você permanece lá, menos risco você corre”, finaliza o soldado.
porque sempre acontece alguma coisa”. Miriam também pensa que os policiais devem ter tratamentos direcionados para atuar no campo. “Se eles não tivessem o treinamento correto, as consequências seriam drásticas”.
a viseira do traje. Quando eu cheguei lá, tive que deitar para conseguir mexer na bolsa”. Há nove meses no esquadrão, o soldado Donieverton E. de Burak, técnico explosivista, afirma que cada experiência é
Etapas do procedimento de detonação distância entre a detonação e as pessoas depende do 1 Atamanho do objeto suspeito e da quantidade estimada de explosivo. Então para uma carga de um quilo, é estimada uma distância de 50 metros.
o tempo de desativação de um objeto explosivo, o 2 Sobre capitão Ilson de Oliveira Junior afirma que é relativo, já que existem diversas variáveis que compõem este processo (a tipologia do incidente, a categoria do incidente, o grau de dificuldade, a localização do incidente, entre outros).
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Polícia Victória Xavier
diferente, mas que a primeira foi a que mais o marcou. “Foi lá em Diamante do Oeste, no Paraná. Era uma carga que tinha sobrado em um caixa eletrônico de banco. Apesar de ser um caixa, foi a ocorrência mais marcante, já que foi a primeira”. O 1° tenente Lauro Spearka Junior, há dois anos e quatro meses no esquadrão, considera, assim como Burak, a primeira ocorrência a mais especial. “Meu início aqui foi uma ocorrência no centro da cidade, onde havia um objeto suspeito abandonado. Esse objeto foi transferido para a Praça Osório e lá foi feita uma intervenção”. Além disso, ele conta sobre a última ocorrência que atendeu em frente ao Hospital Geral do Exército, no Centro, onde foi abandonado um objeto suspeito. “Nós atuamos com a equipe de serviço na verificação do objeto, mas ele não apresentava risco algum”.
A oposição Artur Conceição, especialista em segurança pública, apesar de achar necessário o esquadrão antibombas, não concorda com o formato em que ele se encontra. “O antibombas é necessário, até porque há grandes eventos em que é obrigatória a presença do esquadrão, porém a formatação dele é errada, já que o Paraná se utiliza de um esquadrão específico e dedicado apenas para isso. Essa ideia, aqui em nosso país, é fomentada por empresas internacionais de segurança”. Um exemplo disso é a Itália, onde há policiais especializados em bombas, mas que não ficam formatados juntos. Então cada policial trabalha em um departamento diferente, sendo todos eles próximos, e caso haja ameaça de algum explosivo, é comunicado ao grupo de policiais para que o artefato seja detonado.
Curso de especialização O capitão Oliveira Junior explica sobre o treinamento dos policiais para entrar no esquadrão O treinamento dos policiais é feito através de um curso que dura três meses, com 600 horas-aula. Posterior à formação inicial, existe a necessidade de manutenção do conhecimento e aquisição de novos
Da esquerda para a direita, capitão Oliveira Junior, soldado Carlesso e soldado Burak
conhecimentos. O capitão Monalisa Rahal
explica como essa prática
Mesmo entendendo ser essencial a função, ele explica porque o esquadrão, em sua opinião, não se encaixa no âmbito da Polícia Militar (PM), mas sim no do Exército. “Para fazer uma bomba, é necessário pólvora e quem libera pólvora é o Exército, já que tem mais competência e orçamento”.
é realizada. “Ela se dá por
Artur também afirma que o estado do Paraná ainda se utiliza de uma ideia militar dos anos 70, e esse é o motivo da PM ter uma entidade específica apenas para bombas. “É importante para a população, mas eu não vejo efetividade. Os gastos são muito altos e o Brasil não é conhecido por ter bombas e explosivos a todo momento”. O especialista diz que, por conta desse pensamento militar, a PM enxerga o combate à violência como uma guerra, o que não é verdade. “O combate à violência é uma estratégia, em que há a necessidade de fazer planejamentos e aparatos”, declara o especialista.
conhecimento estratégico
meio de um processo de Monalisa Rahal educação continuada
em instruções teóricas e práticas, cursos em outras instituições, parceria com a comunidade acadêmica, visando identificar o relevante para o desempenho da atividade do esquadrão antibombas”. Se o aluno não atinge a média da prova, é feita outra verificação, e caso não atinja novamente a média, ele é desligado do curso. Além disso, o aluno pode ser desligado por apresentar algum tipo de problema, como por exemplo, claustrofobia. Equipamentos utilizados pelo esquadrão
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Esporte
Patins sem frescura Roller derby é esporte de alto contato e exalta a união feminina Mariana Balan 2º período
Q
uando montou a primeira equipe curitibana de roller derby, as Blue Jay Rollers, Maria Verdasca queria mostrar a força e a garra das mulheres e fugir dos estereótipos de fragilidade e fraqueza. O esporte em questão é de alto contato, predominantemente feminino e praticado sobre patins. Em Curitiba, conta com duas equipes atualmente. Ainda pouco difundido no Brasil, o roller derby é praticado em uma pista oval na qual há dois times, com cinco integrantes em cada um, que disputam uma corrida em sentido anti-horário. Na pista, apenas uma das jogadoras, chamada de jammer, pode marcar pontos. As outras quatro são as blockers, e devem impedir que a corredora
do time adversário avance e ainda abrem espaço para que a jammer do seu time passe em segurança. Nesse processo, há cotoveladas, empurrões e quedas. As meninas, porém, não gostam que o esporte seja visto como violento. Primeiro porque existem muitas regras que proíbem que regiões do corpo como rosto e costas sejam atingidas. Mas também porque integrar um time de roller derby é mais do que apenas colecionar machucados. Refutando a ideia de que a convivência entre muitas mulheres não dá certo, Danielle Garay, que joga com as Blue Jay, conta que além da união da própria equipe, existe uma ligação muito forte entre todos os times brasileiros, sendo comum que uma
equipe mais antiga se disponha a ajudar uma em processo de formação. Outro aspecto do derby é que o esporte é bastante democrático. Além de contemplar meninas de todos os tipos físicos, ainda valoriza a personalidade de cada uma. É comum que as garotas se produzam para
jogar, lançando mão de meias coloridas e shorts curtos. Porém, esta é a característica de cada menina. “Muitas pessoas já vieram assistir ao nosso treino nos vendo como objetos sexuais, ‘gatas de shortinho e patins’. Não é o nosso foco nem a nossa intenção, e também não toleramos assédio”, finaliza Maria.
Mariana Balan
A psicóloga Rafaela Mayer “tendo plano de saúde está tudo bem”
Yoga e gestação Prática reduz dores e ensina técnicas que podem ser utilizadas durante o trabalho de parto Mariana Balan 2º período
E
m busca de uma atividade física para realizar durante a gestação, muitas mulheres acabam optando pelo yoga. Com exercícios elaborados para cada aluna, levando em conta o período gestacional e o condicionamento físico individual, a prática traz benefícios como a diminuição de dores e desconfortos, melhoria na capacidade respiratória, redução de estresse e ansiedade e um sono melhor. A instrutora Helenice Assis Vespasiano conta que “o yoga permite que a mulher cultive um momento de tranquilidade e reconhecimento de si mesma, num corpo e mente que se transformam a cada
dia”. A professora ainda afirma que os exercícios propiciam a vivência da gestação e do parto de forma mais ativa e consciente. Inclusive, técnicas respiratórias ensinadas
entre mãe e filho. Já Marlisi Rauth, grávida de 15 semanas, praticava pilates antes da gestação, mas como não conseguia mais acompanhar os exercícios, optou pelo yoga.
podem ser utilizadas durante o trabalho de parto.
Marlisi diz que seu bem-estar aumentou após o início das aulas e que dorme melhor nos dias de prática.
“Em gestação de baixo risco não há restrição” Com 20 semanas de gestação, Adriana Rodrigues Vaz frequenta as aulas há um mês. Ela conta que sente o bebê mexer durante a prática, sendo um momento de contato
Segundo a ginecologista e obstetra Juliana Chalupe Amado, em gestação de baixo risco não há restrição alguma
para a prática de yoga. Os exercícios podem ser realizados até o final da gravidez, mas é recomendado que a aluna esteja com pelo menos 12 semanas de gestação ao iniciar a prática. Já Helenice alerta que mulheres com hipertensão arterial e risco de parto prematuro devem ter o aval de seu médico para frequentar as aulas.Também não há restrição quanto à quantidade de vezes por semana que a gestante pode praticar o yoga. A instrutora recomenda que sejam frequentadas pelo menos duas aulas a cada sete dias, com duração de uma hora cada, mas caso haja disponibilidade, a prática pode ocorrer diariamente.
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Crossfut, a mistura de esportes que deu certo Nova modalidade cria atividade para quem não gosta do ritmo presente nas academias Grasieli Farias 3º período
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ue o Brasil é o país do futebol todos já sabem, a diferença é que agora o esporte verde e amarelo acrescenta seus fundamentos à febre do momento nas academias, o crossfit, ganhando o nome sugestivo de “crossfut”. A modalidade é exatamente aquilo que o nome diz, uma junção de futebol, suas técnicas e movimentos específicos, com o treinamento de força funcional já popular do crossfit. Um dos principais motivos pelos quais o crossfit vem fazendo tanto sucesso é sua promessa de um treino mais dinâmico e a rapidez com que mostra os resultados fisicamente, que nos exercícios comuns geralmente leva mais tempo. Para John Rhodel Bartolomé, instrutor de crossfit, a modalidade além de trazer resultados rápidos, melhora a capacidade respiratória e trabalha a resistência cardiovascular do praticante. “Você trabalhará o corpo como um todo, fazendo um treino completo, que é o que o treinamento funcional prega. O atleta vai obter resultados mais rápidos por que o treino exige muito e o corpo irá trabalhar mais”, completa o professor. Não muito diferente, o crossfut ao empregar técnicas dos treinos de futebol promete não só a melhora na qualidade de vida de seus praticantes como também lazer e diversão, já que suas aulas ocorrem geralmente em áreas mais amplas como canchas ou parques. Seu diferencial está na abordagem, o esporte é sempre realizado em grupos,
o que segundo o coordenador e treinador de crossfut Kaio Cezar Gonçalves, eleva a troca de experiências, aumenta a motivação e o sentimento de pertencimento faz com que cada um se torne referência e incentivador de seu colega. O esporte chama a atenção pela dinamicidade. “O crossfut proporciona ao aluno uma aula de futebol, e ele se sente parte realmente de um time, é uma forma de lazer ligada a uma melhora na qualidade de vida o que proporciona
eu precisava de resultados imediatos, foi o que me levou até o crossfit”. Após um ano de treinamento, com aulas três vezes por semana, com uma hora de duração cada, a atleta já perdeu todos os quilos adquiridos na gestação e não pensa em parar.
bem-estar. As aulas têm uma interatividade maior do que as de academia”, diz Gonçalves.
aparelhos de musculação das academias, o sentimento de monotonia que estava ligado à rotina de exercícios era o motivo para sempre abandonar a busca por uma vida saudável. “Quando vi a modalidade aliada ao futebol, achei diferente, foi o que me incentivou a experimentar. A melhora na disposição física foi espontânea, logo nas primeiras aulas já me
Da mesma forma, o crossfut apareceu na vida de Isabelle Novelin, estudante de engenharia elétrica. A jovem procurava algo que não estivesse ligado aos
Esporte
sentia menos cansada, sem aquela preguiça que a falta de atividade física acarreta”, finaliza a estudante. O perfil dos atletas de crossfit e crossfut não é muito diferente e, independente de qual seja a modalidade escolhida, tanto Bartolomé quanto Gonçalves ressaltam a importância de começar com os treinos somente após a avaliação, atestado de um médico e realização de avaliações físicas periódicas.
“O crossfut proporciona ao aluno uma aula de futebol, e ele se sente parte realmente de um time, é uma forma de lazer ligada a uma melhora na qualidade de vida” Para Francieli Baptista, praticante de crossfit há três anos, o esporte apareceu como divisor de águas em uma etapa importante de sua vida. A gerente comercial decidiu começar os treinos logo após a gravidez do último filho, em que chegou a engordar 18 quilos. “Eu não me sentia feliz e sabia que meu corpo não estava no peso ideal. A cada dia que passava eu me sentia mais indisposta, minha saúde começou a ser afetada pelo sedentarismo”. Francieli conheceu o treinamento através de uma amiga que já praticava, e após tentar um mês de treinos comuns na academia, decidiu optar pelo diferente. “Não me adaptava na academia, não me sentia bem repetindo todos os dias aqueles mesmos exercícios,
O atleta pode não perceber, mas quando realizados de forma inadequadas, os exercícios podem causar lesões musculares que com a repetição e intensidade das aulas vão se agravando com o tempo. A prática das duas modalidades deve ser acompanhada por instrutores capacitados e devidamente credenciados. Grasieli Farias
Aulas de crossfut e crossfit melhoram o condicionamento físico
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Cultura
Exposição mostra apreensões da Lava Jato As obras do primeiro e segundo lotes apreendidas pela Polícia Federal estarão em exposição até 12 de julho de 2015, no MON Vanessa Gavilan Mikos 2º período
A
mostra “Obras sob guarda do MON” está em exibição no Museu Oscar Niemeyer, (MON), no Centro Cívico, até 12 de julho deste ano. A exposição apresenta uma seleção de 48 obras de arte apreendidas pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava Jato, deflagrada em março de 2014. As identidades dos donos das peças não foram reveladas. O esquema de lavagem de dinheiro é um procedimento usado para disfarçar a origem de recursos ilegais. Quando alguém consegue alta quantia de forma ilícita não pode gastá-la sem declarar. Tem de armar estratégias para justificar a fonte para evitar suspeitas da polícia ou da Receita Federal. Assim, na Operação Lava Jato, as obras de artistas renomados foram utilizadas por serem de alto valor e fácil negociação. As peças são dos mais variados estilos artísticos, já que foram adquiridas pelo valor econômico e não cultural. Seus valores não foram estabelecidos, pois segundo a PF, a perícia para estimá-las é de responsabilidade do museu que, por sua vez, não concluiu a vistoria. A maioria dos artistas são brasileiros. Algumas obras: “Roda de Samba”, do carioca Heitor dos Prazeres (18981966); sete fotografias de Miguel Rio Branco; duas telas, do paulista Sergio Sister; uma acrílica sobre madeira, de Nelson Leirner, “Homenagem a Mondrian”; e mais dois trabalhos do artista Vik Muniz. O público poderá ver ainda obras de Cícero Dias,
Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Aldemir Martins, Claudio Tozzi, Daniel Senise, Amilcar de Castro e Carlos Vergara. No segundo lote a maioria vem com certificado de autenticidade que é a garantia de que a obra é numerada, assinada e autorizada pelo artista. Há um terceiro lote de obras apreendidas, que está no período de quarentena, ou seja, passando por preparação e manutenção para poder ser expostas. Marianna Camargo, assessora de comunicação do MON, afirmou que o objetivo da exposição é dar ao público a oportunidade de conhecer essas obras de arte. ‘’A maior parte das obras é de artistas brasileiros, muitos deles são contemporâneos. A exposição permite ao público conhecer de perto os trabalhos desses renomados autores’’, declarou. A PF informou por meio de sua assessoria de imprensa que a decisão de expor as obras no MON foi do juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato. Pelo fato de a justiça não possuir local
adequado para guardá-las, o museu foi escolhido por possuir profissionais capacitados para fazer as avaliações e manter a qualidade das peças. As obras ficarão sob responsabilidade do MON por tempo indeterminado, aguardando ordem judicial.
Moro, 12 obras foram apreendidas na residência e no escritório de Nelma Mitsue Penasso Kodama – parceira de Alberto Youssef no esquema de lavagem de dinheiro -, em São Paulo.
‘’O que mais desperta curiosidade é ver como os políticos gastaram o nosso dinheiro. Vejo no jornal sobre a Operação Lava Jato todos os dias e como é em Curitiba mesmo, próximo da gente, temos que
Consta na sentença que não há prova de que tais obras foram adquiridas com receitas lícitas. A doleira foi presa em 15 de março de 2014 quando tentava embarcar para a Europa com 200 mil euros na calcinha. Ela seria uma “grande operadora do mer-
aproveitar. Pelo menos os quadros são bonitos’’, disse o aposentado Arnaldo Pedro Zarnotti, 69 anos.
cado negro de câmbio e líder de grupo criminoso envolvido na prática de crimes financeiros”, segundo a justiça.
A condenação
Nelma foi condenada a 18 anos de reclusão e R$ 1,81 milhão de multa por diversos crimes.
“O que mais desperta curiosidade é ver como os políticos gastaram o nosso dinheiro”
De acordo com sentença de 22 de outubro de 2014, do juiz federal Sergio Fernando
Vanessa Gavilan Mikos
Exposição das obras apreendidas na Operação Lava Jato
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Cultura
O Japão em Curitiba Num embaralhado de etnias que influenciaram na formação da cidade, a cultura nipônica ainda se mostra relevante apesar da falta de popularidade Caroline Ribeiro 3º período
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m Curitiba existe uma miscigenação cultural resultante das diferentes etnias que aqui se estabeleceram, e que a população local admira e compartilha. É possível observar essa mistura em restaurantes, praças e estilos como roupas e características. Uma delas é a cultura japonesa. Pode-se observar e sentir essa influência ao visitar a Praça do Japão, localizada no Água Verde, e encontrar um local cheio de árvores cerejeiras, que foram
doadas pelo país homenageado, e seis lagos artificiais, em formatos japoneses. Quem visitar o ambiente também irá encontrar o Portal Japonês, Memorial da Imigração Japonesa, a Casa da Cultura e a Casa do Chá. O engenheiro de comunicação e dono do blog “Circulando por Curitiba”, Washington Cesar Takeuchi, conta que apesar de ser descendente de japoneses, é brasileiro e isto é bem específico no país. “Eu morei por quase dois anos no
Japão e lá tive a exata noção de que não sou japonês, e isso era deixado bem claro pelos japoneses com quem convivi. Ter os olhos puxados não me qualificava como japonês, o que importava era o local onde nasci, assim um brasileiro loiro de olhos azuis e eu, no Japão, somos iguais, ou seja, brasileiros”, afirma. Masashi Fujiyama, engenheiro de vendas, que nasceu e morou por quatro anos no Japão, acredita que a cultura japonesa na capital paranaense não é valorizada. “Aqui em
Curitiba é muito fraco, pois no interior do Paraná as atividades desenvolvidas são bem mais intensas, como a dança, canto, escola, datas comemorativas”, conclui Fujiyama. Na capital paranaense, existe a Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba (Nikkei Clube), e o vice-presidente cultural da Nikkei, relata que eles trabalham em prol da cultura. “Temos diversos associados que se esforçam para manter viva as nossas tradições”, conta Oshima.
O centro da cultura Projeto Corredor Cultural de Curitiba tem como principal objetivo apoiar ações culturais culturais na região central da cidade Isabella Eger 3º período
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cena cultural de Curitiba ganhará um novo espaço. No dia 30 de março, oito instituições se encontraram no Círculo de Estudos Bandeirantes para assinar o protocolo de intenções do projeto Corredor Cultural de Curitiba. Tal protocolo, segundo Maria Comninos, diretora do Círculo de Estudos Bandeirantes – PUCPR, “tem por objetivo promover e apoiar ações culturais na região central com a finalidade de fortalecer a diversidade cultural e a economia”. O propósito fundamental é levar cultura ao centro da capital paranaense. Para isso, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a Associação Comercial do Paraná (ACP), a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio), a Fundação Cultural de Curitiba (FCC), a Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná
(OAB), o Centro Cultural Teatro Guaíra e a Caixa Cultural se uniram e se comprometeram a dar suporte para esta iniciativa que além de aproximar público e artistas, irá também revitalizar o centro de Curitiba.
ACP, que buscará empresários e comerciantes da região que estejam dispostos a investir cada vez mais em cultura.
Localizado no raio que liga o Paço da Liberdade à Reitoria da UFPR, passando por locais
Exposições, oficinas, óperas, concertos e apresentações musicais, teatrais e de dança são alguns exemplos de eventos que a população pode esperar desse projeto. Ana Paula Righetto, assessora da
como o Teatro Guaíra e o Museu Guido Viado, que serão utilizados pelo projeto, haverá também a criação de cafés, museus, cinemas e teatros trazendo ao cotidiano do cidadão um acesso cada vez maior à diversidade cultural. Este movimento afetará de forma positiva os comerciantes da região, que têm como principal representante no projeto a
FCC enfatiza que “Curitiba é rica em cultura e devemos investir mais nisso, pois será um investimento com retorno positivo. É um projeto que ao sair do papel tem tudo para dar certo”. Segundo Bernadete Zagonel, coordenadora da ACP Cultural, todos os custos que o Corredor Cultural terá, tanto na Festa da Música, quanto nos demais projetos
“É um projeto que ao sair do papel tem tudo para dar certo”
ainda em andamento, serão arcados unicamente pelas oito instituições participantes.
Festa da Música Ainda no primeiro semestre de 2015 serão realizadas apresentações musicais na Praça Santos Andrade e no calçadão da Rua XV de Novembro para comemorar o Dia Mundial da Música. O evento está em processo de organização e, de acordo com a ACP Cultural, será realizado no dia 19 de junho entre 12h e 18h, e poderá contar com concertos da Orquestra Sinfônica do Paraná, da Orquestra Filarmônica da UFPR e outros grupos musicais. Bernadete explica que a ideia surgiu a partir de movimentos semelhantes que ocorrem na França, e ainda que esta primeira apresentação seja pequena, espera-se que com o tempo o público comece a perceber a importância da música no cotidiano.
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Cultura
Mercado dos livros digitais cresce, mas público ainda é pequeno Apesar das novas tecnologias para leitura em e-books, livros físicos ainda cativam o leitor e superam as vendas dos digitais no Brasil Juliana Tauil 3º período
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á quem diga que os livros digitais, chamados e-books, jamais substituirão os livros físicos, de papel, tanto na leitura quanto na decoração. Da mesma forma, há quem defenda os e-books, alegando maior eficiência e menor custo. O que a Câmara Brasileira do Livro (CBL) apontou, juntamente com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), foi o crescimento de 225,13% nas vendas dos livros digitais desde 2013. Mas, apesar do aumento, os e-books são uma parcela pequena do setor editorial. Já em relação aos livros físicos, e segundo a SNEL, o cenário é mais promissor, considerando o saldo negativo da economia brasileira. De acordo com último levantamento realizado pela Nielsen Bookscan Brasil, uma pesquisa anual sobre o mercado editorial, a variedade de livros aumentou, enquanto o preço médio e o faturamento caíram. Um livro, em geral, custa R$ 41,92, o que corresponde a 1,30% a menos que no ano passado. Ainda que os livros impressos representem 99% do mercado editorial brasileiro, os e-books fornecem possibilidades comerciais diferentes, além da chance das livrarias se estenderem também para o ambiente virtual.
Vendas nas livrarias Elisangela Almeida, funcionária do departamento comercial da Editora Paulinas, explica que o comércio dos e-books é diferente dos livros físicos.
Isso impacta as livrarias, que precisam se adaptar. A venda dos livros digitais é feita em plataforma própria, com tecnologia e softwares diferenciados para evitar cópias ilegais, preservar os direitos do autor e a remuneração da editora. “No mercado, existem livrarias virtuais que se especializaram no formato digital.
neo. Segundo, porque, em média, um livro digital é 40% mais barato que a versão impressa – logística, impressão e armazenagem são custos que desaparecem no universo digital”, explica. Além disso, ele também reforça que, em um tablet, há a possibilidade de carregar vários livros sem peso adicional.
“A diferença é o canal de atendimento”
A negociação com as editoras é diferenciada e a plataforma de venda é específica para o formato digital. Entre a venda virtual de livros e as livrarias físicas existe semelhança, pois o produto final é o mesmo; a diferença é o canal de atendimento”, explica. Segundo a gerente de marketing, a estratégia comercial é que vai definir as formas de atendimento e a política de vendas.
Silva conta ainda que a abrangência do mundo digital é uma oportunidade de acessar a literatura de outros países. “Eu leio muito em inglês, então o digital permite que eu
acesse os livros sem esperar por traduções que talvez nunca ocorram”, realça. Outros aspectos relacionados à vantagem dos e-books, citados por Fábio Silva, são a semelhança de algumas telas com os livros de papel, devido à tecnologia, e a possibilidade de pagar uma mensalidade para ter acesso ao acervo completo da empresa ou editora – “é como um Netflix dos livros”, exemplifica.
Vantagens dos livros de papel A estudante de letras Indianara Rocha reconhece as vantagens dos e-books, mas, para ela, nada é melhor que o livro de papel. “O cheiro de um livro é próprio. Além disso, ler um livro que já foi de outra Juliana Tauil
Na hora da compra, porém, o consumidor define qual plataforma utilizar. Para tanto, editoras e livrarias têm a possibilidade de disponibilizar o mesmo texto tanto física quanto virtualmente.
Vantagens dos e-books Fábio Silva, coordenador de infraestrutura do Grupo Boticário, explica que, com uma rotina de leitura variada e numerosa, o e-book é uma facilidade tanto de espaço quanto de dinheiro. “Primeiro, não preciso ir à livraria nem esperar a entrega dos Correios, porque o acesso é instantâ-
Bibliotecas também são opções para ler livros tanto físicos quanto digitais
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Cultura
Indianara Rocha prefere livros físicos também pela carga emocional pessoa é maravilhoso, porque tem anotações e marcações pessoais”, declara. Apesar disso, ela também afirma que o significado do livro físico não é só emocional. “Algumas pessoas aprendem pelo tato, pela experiência, e um livro físico pode ser uma boa opção. Aliás, é mais prático fazer anotações no papel que em uma tela”, afirma. A estudante também reforça que, em situações nas quais não há como carregar a bateria do leitor de textos ou do notebook, o livro físico é a única opção. “Se acabar a luz, uma vela e um livro resolvem meu problema, sem o risco de ele desligar quando eu estiver usando. O livro físico, é a prova de imprevistos”, explica.
A valorização do livro e a história da leitura Símbolo de poder e riqueza, os livros eram inacessíveis à população em geral até o século XVIII. A leitura e a
escrita eram restritas aos escribas no Egito antigo, na Mesopotâmia, na Grécia e em Roma, aos monges e líderes da Igreja na Idade Média e, posteriormente, aos nobres e aristocratas. As bibliotecas do passado, inclusive, eram construídas com o principal fim de decorar ambientes e demonstrar poder e influência. A leitura como se conhece hoje só se difundiu após o século XIX. Leandro de Paula,mestre em história e estudante de letras, afirma que esse processo, ocorrido em etapas, é parte da valorização da figura do livro. “A burguesia valorizava a leitura, os folhetins eram populares entre as mulheres. O romance surgiu e cativou parte da população que tinha acesso à educação formal. Foi só a partir do século XX que o conhecimento ficou mais próximo do povo; porém, infelizmente, os livros ainda eram muito caros”, explica.
O professor defende a democratização da cultura proporcionada pela era digital. “Eu mesmo tenho um leitor de e-book e quando não consigo comprar o livro material, arranjo o digital. Aliás, muita gente tem preferido o e-book ao papel, até porque os livros são muito caros. Nós estamos na era dos livros digitais e do livre acesso”, finaliza.
Saiba mais: o cenário atual dos gêneros de livros e saldo de vendas, no Brasil Tanto de papel quanto digitais, gêneros específicos de livros tiveram aumento nas vendas e no preço. Os livros infantis, juvenis e educacionais correspondem a 33,98% do faturamento total; já as obras de não ficção trade, que são os livros não ficcionais e não técnicos, correspondem a 21,6%; os de não ficção especialista (técnicos), a 24,65%; e os de ficção correspondem a 19,77%.
Sebos são uma alternativa para quem prefere livros físicos
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Literário
Uma vida toda azul A história de uma mãe guerreira que luta todos os dias pelo seu filho Gabriela Marques da Cunha 3º período
Gabriela Marques da Cunha
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o nascer do dia 19 de maio de 2010, Cristiane Carmello em seus 30 anos recebeu o maior presente que uma mulher pode ter. Mal sabia ela, que não era uma simples benção, ela carregava um gênio em seu ventre. Com um nome composto, que curiosamente somava o nome dos dois bisavós, um pequeno menino, nascido de parto normal se tornou o grande companheiro de uma mãe solteira, a qual teve que enfrentar desafios muito maiores do que apenas a responsabilidade de educar um filho sozinha. Até os dois anos, JoãoPedro havia se desenvolvido como qualquer criança, já andava e falava relativamente bem. Porém, seis meses depois, Cristiane começou a perceber algumas características únicas que seu filho possuía, como por exemplo, ficava girando os brinquedos nos momentos de lazer e tinha grande apreço por objetos em movimento, como o elevador e a escada rolante. Os dias foram se passando e outros comportamentos foram alterados, o pequeno menino parou de falar algumas palavras e isso foi deixando a mãe de primeira viagem ainda mais intrigada. Por obra do acaso, em um domingo qualquer, Cristiane assistiu a uma reportagem sobre autismo e, na mesma hora, identificou as atitudes de seu filho em um dos níveis exibidos na matéria. Repentinamente, João começou a ler palavras em inglês com facilidade. Somados todos os comportamentos a mãe decidiu conversar com uma pedagoga que a princípio identificou a Síndrome de Asperger (pauta do autismo) e
Cristiane era chamada de mãe, hoje é apenas por meio do toque Transtorno Global de Desenvolvimento (TDG). - A pior coisa é saber que a pessoa tem alguma coisa, mas não saber exatamente o que é que a pessoa tem. A partir do momento que eu sei que ele tem autismo, eu levo ele em lugares específicos onde eu possa fazer o tratamento. Até então eu não tinha nada disso. Isso é angustiante, foi a pior fase da minha vida. Uma das piores fases depois da confirmação da doença foi a rejeição da sociedade e principalmente da família paterna. Não havia nenhum tipo de compreensão e auxílio moral ou financeiro. Sendo assim, Cristiane se viu sozinha na busca de entender e estimular a socialização do filho. - Eu me senti sem saída, desesperada. Toda mãe quer um filho perfeito e quando você recebe uma notícia assim, é difícil aceitar a situação. Cheguei a desenvolver uma alergia pelo sistema nervoso. Há um ano atrás eu só chorava. Com o laudo médico em mãos, as necessidades de João ficaram mais claras, ele precisaria de fonoaudióloga, tera-
peuta ocupacional e professor tutorial em sala de aula. Contudo, na cidade de Curitiba existem apenas três lugares, particulares, que tratam exclusivamente de crianças com autismo. Entretanto, existe o Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS), que atende e dá apoio para vários tipos de crianças. Específico para essa doença, há um grupo de mães chamado Ampara, em que existe a troca de experiências e motivação. Neste grupo, após conversar com outras mães, Cristiane percebeu o quanto o seu João necessitava do auxílio dela, presente em casa, porém ela precisava continuar trabalhando e ter seu sustento. A partir disso veio a ideia de atender suas clientes em sua residência e assim ficar mais tempo com a família. - Foi a melhor coisa que eu fiz, em seis meses já tem muita mudança, ele já sabe cantar três musiquinhas inteiras. Meu filho ainda não tem noção do que é frio e do que é calor, mas sabe o que é dia e o que é noite porque eu expliquei; ainda usa fralda e chupa chupeta e nem todos os alimentos consegue
digerir bem. Mas hoje eu sonho muito com meu filho conversando comigo. Atualmente, ele estuda no pré de uma escola municipal e a partir desse contato com as demais crianças o desenvolvimento dele foi ainda mais acentuado, já que inteligência é o que não falta. João conhece todas as partes do corpo, fala palavras soltas e algumas frases em português. Em inglês, ele sabe o alfabeto inteiro, números, cores, frutas e formas geométricas. - Ele precisa ser estimulado, pergunta e resposta, resposta e pergunta. Hoje ele já deixa tocar nele, ele abraça, beija e já olha para algumas pessoas. A seletividade é a palavra chave para todos os autistas, a percepção deles diante de determinadas situações são profundas e por isso há tamanha seletividade em seus relacionamentos. Cristiane afirma que ser mãe de um filho como o João é uma benção, apesar de sofrer um pouco por lutar sozinha, ela não tem medo de dizer: - Faria tudo outra vez!