Wi-fi de graça nos terminais
Benefício é oferecido aos usuários do transporte público de Curitiba. Página 03
Em meio aos livros
Repórter conta a experiência de trabalhar por um dia em um sebo. Página 06
Polêmica sobre as comandas
Projeto de lei quer eliminar esse tipo de cobrança em bares e baladas. Página 07
Curitiba, 11 de Outubro de 2016 - Ano 19 - Número 288 - Curso de Jornalismo da PUCPR
O jornalismo da PUCPR no papel da notícia
Quem vencerá? Who will win?
Ney Leprevost e Rafael Greca disputam a preferência do eleitor curitibano no segundo turno. Ney Leprevost and Rafael Greca fight for Curitiba voters’ preference in the runoff election. Páginas 08 e 09
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Curitiba, 11 de Outubro de 2016
Editorial
O candidato Ninguém P
or quatro mil votos, o primeiro lugar das eleições de Curitiba no primeiro turno, Rafael Greca, perdeu para o candidato “ninguém”. A abstenção foi a escolha de 16,4% dos eleitores curitibanos, totalizando 212 mil votos que não foram para nenhum candidato. Somados com os 51,5 mil votos brancos e 96,7 mil votos nulos, 360,2 mil pessoas preferiram invalidar seus votos a votar nos candidatos disponíveis. Grega teve 356 mil votos. O segundo turno ainda vai acontecer. O segundo lugar, o candidato Ney Leprevost, teve 23,7% dos votos válidos e concorrerá no dia 30 de outubro contra Greca. Mas veremos abstenções lá também. Talvez ainda mais do que no primeiro turno. Curitiba não foi a única cidade afetada pela falta de fé na política. O candidato Nin-
Comunitiras
guém venceu em 10 capitais, e foi segundo em mais 11. Em duas delas, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a soma de abstenções, brancos e nulos ultrapassou os votos recebidos pelo primeiro e segundo colocado juntos! A mensagem é clara. O brasileiro não acredita mais. Resta saber aonde isso vai levar. A descrença na política chegou a um nível alarmante para a república representativa. Ela depende da confiança da população para funcionar, e já não tem mais isso. O sistema de eleições foi feito para não ser desbancado por falta de votos, mas sem eles, ele começa a mancar. Nós temos o mesmo sistema representativo para a política há cerca de duzentos anos. Uma representatividade em que não se pode confiar, porque quando o político quebra nossa confiança, não podemos fazer nada.
As abstenções e descrença na política não são um sinal de que ela está morta, mas de que está doente. São um sinal de que o jeito como elegemos nossos governantes não funciona mais. Quando a população prefere não votar a confiar nas opções que se tem, pode-se ver que o sistema está começando a ruir. Quanto tempo vai levar até que a política como está perca seu poder? Quanto isso vai custar a população? Qual o preço que teremos de pagar para isso? O futuro guarda essas respostas. Não podemos tê-las ainda. Mas revoluções sempre aconteceram, sempre vão acontecer. E no jeito de fazer política, já faz um tempo desde a última delas.
Expediente Edição 288 - 2016 O Comunicare é o jornal laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR jornalcomunicare.pucpr@gmail.com http://www.portalcomunicare.com.br Pontifícia Universidade Católica do Paraná R. Imaculada Conceição, 1115 - Prado Velho - Curitiba - PR
REITOR Waldemiro Gremski DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES Eliane C. Francisco Maffezzolli COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Julius Nunes COORDENADORES DE REDAÇÃO / JORNALISTAS RESPONSÁVEIS Miguel Manasses (DRT-PR 5855) Renan Colombo (DRT-PR 5818)
COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO Rafael Andrade MONITORIA Luciana Prieto 8º Período
Caroline Deina 4º Período
FUNDADOR DO JORNAL Zanei Ramos Barcellos CHARGE Isabella Beatriz Fernandes 4º Período
FOTOS DA CAPA Beatriz Mira 3º Período
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COORDENADOR EDITORIAL Julius Nunes
EDITORES
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Bruna Toti
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2º Período
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2º Período
2º Período
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Stephanie Abdalla 2º Período
Wesley Fernando 3º Período
Talita Laurino 2º Período
Talita Souza 2º Período
Sarah Lima 3º Período
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Curitiba, 11 de Outubro de 2016
Terminais de Curitiba oferecem wi-fi gratuito O projeto traz mais conforto para a população, mas os assaltos ainda assustam os passageiros Giovana Bertol 2º período
A
Urbanização de Curitiba (URBS) iniciou neste ano a implantação de wi-fi nos terminais de ônibus da capital. O projeto começou em agosto de 2016, pelo terminal do Capão Raso, e até o final deste ano outros seis terminais vão oferecer internet sem fio aos seus passageiros. Sendo eles Pinheirinho, Cabral, Boqueirão, Santa Cândida e Campina do Siqueira também contarão com internet e a meta é que até a metade do próximo ano todos os terminais e estações-tubos tenham acesso wi fi. Não é tão simples de se utilizar o sistema, mas o primeiro passo é localizar no celular a rede Passaporte Curitiba e cadastrar o nome, e-mail, CPF, endereço e uma senha. Depois, para acessar, será solicitado o nome do usuário, e-mail cadastrado, e a senha. A partir daí, quando o usuário estiver em área coberta pela rede Passaporte Curitiba bastará logar com o usuário e senha. Ao ter acesso à internet, o usuário pode também acessar aplicativos móveis, desenvolvidos pela URBS. No site da URBS o usuário encontra os seguintes aplicativos: Itibus 3, que mostra o transporte coletivo em tempo real; Boletim do Transporte, no qual é possível encontrar as alterações feitas nas linhas da capital, entre outros serviços, como a tabela de horários, informações sobre o cartão transporte, táxi legal e o motor rod que mostra chegadas e saídas de ônibus da rodoviária.
A URBS possui um convênio com a empresa paulista Socicam Administração, Projetos e Representações Ltda desde 2011. A empresa é responsável pela manutenção dos terminais. Foi feito um contrato para que a implantação do wi-fi entrasse nessa manutenção, não gerando nenhum custo extra ao município. A respeito da qualidade da internet, ela ainda está em fase de teste. Mas alguns dos poucos passageiros encontrados usando o wi-fi no terminal Capão Raso elogiaram o serviço, como o vendedor Marlon Razera Machado. “Eu não achei que a qualidade seria boa para atender a todo o público, mas tem me surpreendido quando precisei”. É possível notar que muitos passageiros ainda não estão cientes desse benefício, pois não possuem muitos avisos sobre a internet gratuita. Contudo, a queixa dos passageiros com o alto índice de roubos a celulares em Curitiba deixa-os preocupados, o que pode fazer com que muitos não aproveitem a novidade por medo de terem seus aparelhos telefônicos roubados. Segundo um agente de fiscalização da URBS que opera no terminal do Capão Raso e não quis se identificar, “as pessoas geralmente tentam esconder de alguma forma o celular para que ninguém veja”. Mesmo assim o agente acredita que a implantação de wi-fi nos terminais poderá trazer melhorias para as pessoas que
esperam o seu ônibus, pois muitos usam a internet como ferramenta de trabalho. Mas o fiscal ressalta que é importante ficar atento: “os passageiros ficam muito distraídos com o uso do celular e isso é tudo que o assaltante espera”. A passageira Solange Aparecida, que passa toda semana pelo terminal do Capão Raso, conta que usa seu celular enquanto espera seu ônibus somente quando é realmente necessário, pois sente medo de ser assaltada. Ela diz que a instalação de wi-fi é vantajosa para quem estuda ou precisa fazer algo pelo celular, apesar do terminal ser um local apenas de passagem. Entretanto, “as pessoas continuam usando seus celulares porque precisam entrar em contato com alguém ou até mesmo para se entreter com músicas, mas sempre com receio”, comenta. A URBS, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que é responsável somente pelo planejamento, geren-
Cidades
ciamento e fiscalização da operação do transporte coletivo e não um órgão de segurança pública, isso compete aos governos estaduais. Ainda segundo a assessoria da empresa, é feito o que está ao alcance para que a segurança fique melhor, como o incentivo ao uso do cartão transporte que já subiu para 62%, o que faz reduzir a circulação de dinheiro em espécie no sistema. Em resposta às reclamações dos usuários, quanto aos assaltos, o inspetor da Guarda Municipal de Curitiba José Carlos Costa disse que a instituição tem conhecimento dos roubos de celulares que ocorrem em terminais de ônibus. Ele acrescentou que a Guarda não recebe denúncias com muita frequência, por causa das vítimas que acabam esquecendo ou deixando de fazer o boletim de ocorrência na Polícia Civil, o que não deve ser deixado de lado, para informar a Guarda no momento em que o roubo aconteceu.
Terminal do Capão Raso foi o primeiro a receber wi-fi
Giovana Bertol
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Curitiba, 11 de Outubro de 2016
Economia
Cresce o número de profissionais liberais Trabalhar por conta própria é uma alternativa para driblar a crise e aumentar a renda Luiz Felipe Elias 3° período
E
nquanto o país como um todo está atravessando um período de crise financeira e alta taxa de desemprego, muitos brasileiros vão na contramão do mercado e usam a criatividade e o senso de empreendedorismo para trabalhar por conta própria.
própria atualização e na capacitação para ficar cada vez mais competitivo e desempenhar um melhor trabalho no mercado atualmente.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em junho de 2016, aponta um crescimento de 10,5% no número de profissionais liberais no Brasil entre 2011 e 2016.
“Muita disciplina com o trabalho e administrar bem suas receitas e despesas, procurando manter uma reserva financeira capaz de pagar suas despesas por 90 dias, em caso de haver queda ou corte nas receitas financeiras”, completou.
Atualmente cerca de 4,4 milhões de profissionais atuam por conta própria, número que equivale a 19,3% da população ocupada do Brasil. A cirurgiã-dentista Márcia Tsukamoto é um exemplo dessa forma de trabalho. Segundo Márcia, o que a levou a abrir o próprio consultório foi o baixo salário em cima da longa carga de trabalho que a profissão oferecia para os recém-formados, porém ela alerta, ainda, que o início dos negócios é bastante complicado pelo fato de não haver muita confiança por parte dos clientes em profissionais novos no mercado, mas que com um trabalho de qualidade é possível alcançar bons frutos.
Poit ainda cita alguns cuidados que quem deseja entrar no ramo deve tomar.
Wilson Pereira Machado, diretor técnico da Confederação Nacional das Profissões Liberais (CNPL), aponta alguns fatores que cooperam com o empreendedor autônomo que está começando sua trajetória no mercado atualmente no Brasil. (leia no box ao lado).
•
Fatores para o sucesso do profissional liberal
Manter os custos baixos, além de ajudar a enfrentar o momento de crise que afeta a economia atualmente. Esta premissa permite manter um bom nível de competitividade e se diferenciar do restante do mercado
•
de trabalho; Planejamento para que o empreendedor não sofra com problemas corriqueiros do dia a dia e deixe de pensar no crescimento da empresa. Sem planejamento e visão de futuro a empresa pode ficar estagnada;
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Valorização do cliente também é outro fator muito importante para manter a proximidade e a disponibilidade com seus clientes mesmo com o crescimento da sua empresa, visto que a satisfação dele representa mais do que a receita, assim criando um vínculo do cliente com a empresa. Luiz Felipe Elias
Para o economista Daniel Poit, o trabalho autônomo certamente irá crescer cada vez mais no país nos próximos anos. O especialista financeiro também afirma que cabe ao trabalhador liberal investir permanentemente em sua
Estabelecimento próprio é uma das vantagens de ser profissional liberal
Curitiba, 11 de Outubro de 2016
Economia
Novo governo ajusta a Previdência Em pouco tempo de mandato, Temer anuncia três mudanças na Previdência Social Luiz Felipe Elias 3° período
O
governo de Michel Temer já anunciou três medidas para mudar as regras da Previdência Social. Algumas dessas providências que o novo presidente pretende tomar para equilibrar as contas do país já estarão em prática nas próximas semanas. Para tentar ajustar ao máximo as contas do governo federal, uma das novas determinações anunciadas por Temer é a ampliação da Previdência Social, que seria autorizar que estados e municípios que não tenham sua própria previdência complementar possam aderir, se quiserem, ao Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público (Funpresp), podendo antecipar uma contribuição futura dentro do fundo. O objetivo do governo com essa mudança é que os benefícios do teto do Instituto Nacional de Serviço Social
(INSS) passem a ser financiados pela própria poupança dos servidores, o que poderia ter um grande impacto econômico em curto prazo para o país. Outra das três medidas trazidas ao público pelo governo Temer é a revisão dos benefícios de auxílio doença e invalidez. Quem recebe a aposentadoria através de um desses benefícios estará sendo chamado para uma re-avaliação da condição médica. Quem recebe o benefício há dois anos ou mais será convocado primeiramente. O eletricista Ronaldo Amaral é um exemplo de quem recebe o auxílio-doença. Amaral sofreu uma fratura no braço e está afastado do trabalho há três meses por conta do acidente que sofreu. Para ele, a revisão da condição médica de pessoas que recebem o auxílio-doença é positiva, pois pode
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evitar que pessoas recebam a ajuda de forma incorreta, podendo prejudicar as pessoas que realmente necessitam do auxílio. A última medida anunciada é a mudança de benefícios assistênciais, essa medida vai alterar a forma de inscrição de acesso ao benefício pelo chamado cadastro único do INSS. O objetivo é dar maior eficiência na gestão dos recursos do governo federal, para melhorar a economia brasileira. Para o cientista político Eduardo Oliveira, as mudanças que o governo Temer começa a implantar podem trazer uma melhora no rombo econômico que o governo federal tem atualmente, porém não devem ter o efeito milagroso esperado pelo novo presidente. “De fato as medidas tomadas não só podem, como
muito provavelmente irão diminuir o rombo e consequentemente trazer alguma melhoria para a economia do país, mas as expectativas do governo e o milagre que aguarda, não devem ser alcançados em um curto prazo”, completou. Nas ruas a impopularidade do presidente vem afetantando de certo modo a visão da população em geral sobre as decisões dessa mudança na previdência social. O Comunicare realizou uma pesquisa com 100 pessoas, querendo saber o que pensavam das medidas do novo governo na Previdência Social. 67% não acredita que as mudanças tragam resultados positivos em um curto prazo. 7% não quiseram opinar sobre o assunto e apenas 26% confiam nessas alterações como positivas. Luiz Felipe Elias
Governo faz mudanças na Previdência Social gerando desconfiança na população
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Curitiba, 11 de Outubro de 2016
Literário
Onde livros poderiam ser sapatos Uma experiência reveladora dentro de um dos sebos do centro de Curitiba Verônica Alves 7° período
Q
uando perguntei ao meu melhor amigo, um jovem futuro escritor apaixonado por livros e filosofia, se ele conhecia um sebo específico em que me deixassem trabalhar por um dia, a resposta foi imediata. — Tem o do seu Aroldo. Só você chegar lá dizendo que quer trabalhar de graça e ele deixa na hora. Rimos, mas ele me lembra que já trabalhou lá, por 48 horas, há mais de um ano, então sei que está falando sério. Cinco dias depois, coloco-me à procura da fachada branca e simples em meio a tantas outras na movimentada Barão do Rio Branco. Não demora e lá está ele: o Sebo Mundial. O número 263, entre as ruas Pedro Ivo e José Loureiro, é uma amostra, ao menos visualmente, do que se encontra na maior parte dos cerca de 20 sebos da cidade. Mais de 30 mil itens. Livros, revistas, CDs e LPs. Compra. Troca. E venda. Seu Aroldo Martins está encostado no batente da entrada, com a tranquilidade de quem acabou de iniciar mais um dia comum de trabalho. Esperava alguém mais velho, mas o homem à minha frente aparenta ainda estar na casa dos 50. O jeito desinteressado com que escuta minha proposta me faz duvidar que vá aceitá-la. Mas ele acaba concordando, indiferente. — Pode vir aí que as meninas te mostram como arrumar os livros.
No sábado, como combinado, apareço na loja por volta das 9h. Logo sou apresentada a uma das duas funcionárias, Cilene Ferreira, que me conduz aos fundos do estabelecimento, para uma passagem estreita escondida atrás da última estante. Em uma salinha escura, sem janelas, meio-depósito, meio-vestiário, coloco minha mochila dentro de uma caixa cheia de gibis velhos sem capas, e me preparo para aquilo, que na minha cabeça, será uma grande aventura.
— Tem livro que a gente compra por R$ 3,00 e vende por R$ 15,00.
Na primeira hora, aprendo como os exemplares são organizados: ordenados alfabeticamente pelo primeiro nome do autor e classificados entre as seções. Para encontrar os títulos com mais facilidade, eles recorrem ao Estante Virtual, o maior site do Brasil para venda de livros usados, que reúne o acervo de mais de 1300 sebos de todo o país. Sabendo a categoria do livro e o design da capa, a busca fica mais rápida.
Sorte essa que não aparece durante a tarde, quando me junto à Elissandra Silva, a outra funcionária do local, e Cilene à procura de alguns exemplares da coleção Enrola e Desenrola, lançada pela Ediouro na década de 1980.
Fica claro que o negócio está bem longe de ser ruim, mesmo sendo importante destacar que não existem garantias, pois nunca se sabe realmente quanto tempo cada livro vai ficar na loja e se o investimento será recompensado. Tratando-se de sebo, experiência e estratégias ajudam, mas também é preciso um pouquinho de sorte.
— Eu não gosto. Começo a ler meus olhos já vão se fechando de sono. Mas se o cliente perguntar se o livro é bom, digo que é ótimo, e que não vou falar mais para não estragar a história! Cilene é mais contida ao negar e diz que às vezes lê um pouco, principalmente quadrinhos. Já Aroldo acaba confessando que trouxe para vender na loja o único livro que tinha em casa.
“Trabalhar em sebo é viver cercado de conhecimento”
Com o passar do tempo, diante do fraco movimento, Aroldo me conta mais sobre o funcionamento do sebo, que abriu há quase sete anos. O segredo para ter lucro, segundo ele, é comprar livros que tenham um bom giro, ou seja, que sejam vendidos facilmente. A maior parte dos exemplares são adquiridos pela internet, em sites especiais para livreiros.
— Era o nosso RPG. — Relembra a senhora à espera, enquanto nossos olhos vagam pelas lombadas sortidas. Fico desapontada quando ela deixa a loja sem o que queria, mas seu Aroldo e as meninas não lamentam muito. Por mais que trabalhem entre tantos livros, jamais viajaram para os milhares de destinos, que ficam ali tão perto em meio às páginas amareladas. Pergunto se eles gostam de ler e Elissandra é a primeira a se manifestar, divertida e sem rodeios.
Mais tarde, quando enfim deixo o sebo, concluo que os livros ali poderiam ser qualquer outra “mercadoria”. Não faria diferença para quem os comercializa. Mas, mesmo ciente disso, em homenagem aos leitores, que assim como eu, ainda acreditam na misticidade desses locais, escolho terminar essa reportagem com as palavras de meu querido amigo, Djulio Cesary, que compartilhou essa experiência comigo, mesmo que em diferentes datas: — Trabalhar em sebo é viver cercado de conhecimento, renegado por seus antigos donos, e vendê-lo na esperança de que não volte, mas mesmo assim ficar feliz se um dia puder comprá-lo novamente.
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Curitiba, 11 de Outubro de 2016
Política
Uso de comandas pode chegar ao fim Com o avanço da tecnologia, as comandas utilizadas em bares e casas noturnas correm o risco de serem extintas Maria Vitória Pessoa 2° período
T
endo como base acidentes similares ao ocorrido em 2012 na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande so Sul, o deputado estadual Edson Praczky (PRB) propôs uma lei que pretende mudar o sistema de cobranças dos bares e baladas no Paraná. Para o político,
to em que ele chega. Segundo Praczky, tais inovações já ganharam a aprovação de 80% do público curitibano.
o uso de comandas coloca em risco a vida do cliente, uma vez que torna o tempo de pagamento mais longo e complexo. O projeto começou a ser votado na sessão plenária da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) no dia 29 de agosto, mas foi adiado por 10 sessões depois de ser protocolado de maneira errada.
rem sua comanda. Ela relata que foi obrigada a pagar R$ 500,00 pelo consumo feito por outras pessoas.
Maria Victória Nogari é frequentadora de casas noturnas e já passou por uma situação constrangedora ao furta-
“A comanda incentiva o consumo”
Empresários como Luís Eduardo Mota, proprietário do bar +55, discordam da posição do parlamentar: “a comanda incentiva o consumo, se o cliente tiver que pagar previamente por toda comida ou bebida que for comprar, o processo será muito mais lento”. Congressistas como Luiz Cláudio Romanelli (PSD) defendem que a causa deve ser melhor debatida. Ele acredita que há comodidade tanto para os proprietários, quanto para os clientes no uso das comandas. O deputado estadual reconhece, porém, a existência de alternativas para efetivação do pagamento. Um exemplo é o método do bar irlandês Slainté, o qual cobra a entrada do cliente no momen-
Gabriel Dreher, que também frequenta esses ambientes, conta que o melhor sistema que já viu foi em Camboriú, Santa Catarina, em um estabelecimento que fornecia pulseiras para o registro do que era consumido. Daniele Marangone, não gosta de usar
comandas. Ela conta que fica incomodada com o medo de perder: “eu não gosto porque nesses bares na maioria das vezes as pessoas ficam alcoolizadas e não carregam bolsas”.
projeto de lei nada mais é do que o poder público tentando intervir no privado.
No entanto, há quem goste desse sistema, Ana Carolina Pasqualin, que também frequenta os bares da capital, aprova o uso. Para ela além de ser mais prático, economiza tempo e é mais seguro: “eu acho o sistema de comanda muito mais prático do que toda hora que você quiser pegar uma bebida você ter que pegar sua bolsa, pegar seu dinheiro. Você acaba correndo o risco de ser roubada”.
A principal reclamação dos clientes a respeito da utilização das comandas não é a demora no pagamento, mas o medo de perdê-las. A preocupação vem do fato de que muitos estabelecimentos cobram multas que, na sua maioria, são em valores abusivos. A prática, entretanto, é considerada ilegal de acordo com o sistema de defesa do consumidor. O estabelecimento não pode transferir a responsabilidade do controle de suas vendas para o cliente. Caso isso ocorra, deve-se procurar o Procon para denunciar a prática e exigir a devolução do valor cobrado.
Fabio Aguayo, presidente da Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), não concorda com a proposta do deputado Praczky. Segundo ele, as casas noturnas não ficam refém da comanda e o
Cobrar multa em caso de perda da comanda é ilegal
Cobrança de multa em caso de perda é ilegal
Gabrielly Zem
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Curitiba, 11 de Outubro de 2016
Política
Greca e Leprevost disputam a Prefeitura de Curitiba Os dois candidatos foram os mais votados no primeiro e agora disputarão o segundo turno Beatriz Mira Leticia Garib Patricia Munhoz 3º período
A
eleição municipal em Curitiba, que ocorreu no último domingo, dia 02 de outubro, colocou frente a frente Rafael Greca (PMN), que obteve 38,38% dos votos e Ney Leprevost (PSD), que recebeu 23,66%. Ambos disputarão o segundo turno, no dia 30 de outubro.
Leticia Garib
Rafael Greca (PMN) chegou ao colégio Júlia Wanderley as 11h da manhã acompanhado da esposa Margarita e afirmou que tinha uma grande esperança de começar o dia seguinte, já trabalhando por Curitiba. Segundo ele, a humildade de escutar a voz do povo é o que faz a sua força. “Me diz a população pelo telefone, pelo whatsapp e pelo olhar que pode ser que hoje, o 33 conheça o doce abrigo das asas da vitória”, comentou o candidato. O candidato comentou sobre a polêmica da frase dita por ele na sabatina realizada na Pontifícia Universidade
Resultado da votação para prefeito de Curitiba Católica do Paraná (PUCPR), Greca declarou que não foi prejudicado, mas sim benefi-
ciado por ter tido a chance de mostrar que sempre foi um militante do serviço social. Andréa Ross
“Naquela noite, a pessoa desválida foi acolhida, amparada, encontrou alimento e um abrigo seguro”, declarou. Ele também comentou que sua esposa não terá nenhum cargo em sua administração, segundo Greca, “chega de primeiro-damismo”. O ex-prefeito disse que irá ser o melhor prefeito que Curitiba já teve, melhor do que ele mesmo da última vez. Se eleito, prometeu um mandato sem truques e natural. Ele afirmou que conseguiu mostrar à população as falhas da atual gestão.
Rafael Greca após o resultado da votação
Após o resultado do primeiro turno, Greca afirmou que vai apresentar sua proposta para a população mais inteligente deste país, que é o povo de Curitiba.
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Curitiba, 11 de Outubro de 2016
Política Segundo ele, sua estratégia, e seu segredo é conhecido por todos: o amor por Curitiba. “Que eu aprenda ainda mais sobre Curitiba, neste período que vai começar”, afirmou. Ele disse que irá passar o período do segundo turno ouvindo a população e que seu adversário não é importante, e sim seu amor por Curitiba. O candidato Ney Leprevost (PSD) demonstrou muita confiança no domingo de votação. “Não tenho dúvidas que estarei no 2 turno”, afirmou. Leprevost disse que até o Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (Ibope) teve que reconhecer o seu crescimento nas pesquisas, porém, o candidato dúvida dos números divulgados em suas pesquisas, porque acredita que o instituto tem um contrato com o
Fernanda Ehlke
Após o término das apurações, Leprevost afirmou que pretende fazer a inclusão de todos os gêneros, etnias e profissões para melhorar Curitiba. O candidato informou que sua estratégia no segundo turno não será muito diferente do que já fez. Ou seja, mostrar suas propostas e tentar puxar mais votos, de forma limpa e sem ataques ao adversário. Ele reforçou que sua campanha só foi feita com voluntários, “não utilizei as máquinas públicas”. O atual prefeito, Gustavo Fruet (PDT), ficou de fora do segundo turno. Após o resultado, o candidato afirmou que cumpriu a sua missão com a cidade e agradeceu a todos que o apoiaram e todos os partidos aliados. Fruet prome-
Ney Leprevost em entrevista coletiva após a apuração do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pesquisa para criar alianças pensando nas propostas dos adversários e na ficha limpa deles, neste segundo turno.
à população. “Isso viola os direitos do povo de ter acesso à informação”, declarou. A candidata acredita que a elei-
“Não são de estrema importância as alianças dos outros candidatos . Eles receberam um número simbólico de votos” Governo do Paraná e “investiu na campanha do Greca”. O candidato pediu a abertura de uma investigação na Polícia Federal (PF). Em relação à campanha eleitoral, Leprevost admitiu que foi uma campanha difícil, pois enfrentou um adversário com a máquina do governo estadual e outro com a máquina da prefeitura municipal. Ele falou que ambos não deixaram de utilizar, em nenhum momento, essas estruturas. Leprevost reforça que o foco de sua campanha é resolver os problemas que existem na saúde, educação e segurança. Acredita que chegou a hora da inovação e da eficiência na administração de Curitiba.
teu trabalhar até o último dia de seu mandato. “Preciso de tempo para absorver o resultado, pacificar a alma. Foi uma lição dura com críticas e ofensas. Não quero levar nenhuma mágoa neste processo”, afirmou o prefeito. A candidata Maria Victória (PP) começou o domingo de votação com expectativa de vitória e de ir para o segundo turno. “Queremos servir Curitiba”, afirmou. Mas acredita que, apesar do resultado, ela e sua equipe fizeram sua parte. Requião Filho (PMDB) afirmou que muitos dos candidatos fizeram promessas que fugiam da realidade. Mas comentou que ainda fará uma
O candidato do PT, Tadeu Veneri, tinha esperanças de ir para o segundo turno, após votar, pela manhã.
ção faz parte de um processo e que independente do resultado, no outro dia ela estará nas ruas.
Mas afirmou que fez uma campanha tranquila, barata e muito melhor do que nos anos anteriores.
O cientista político Eduardo Miranda afirmou que o resultado foi inesperado, já que as pesquisas mostravam, claramente, Gustavo Fruet na frente de Ney Leprevost. Miranda contou que foi nas últimas semanas que o candidato Leprevost conseguiu subir nas pesquisas e também ajudou no decréscimo do candidato Greca.
Ademar Pereira (PROS) comentou que estava tranquilo no domingo de votação, disse que apesar do resultado, ele e sua equipe realizaram o trabalho que planejaram. Xênia Mello (PSOL) acompanhou os vereadores do seu partido em seus locais de votação. Em relação aos debates que não participou, ela afirmou que isso causa problemas
Devido a esse resultado não esperado, o cientista político afirmou que o caráter da eleição será totalmente diferente, disse que “Greca terá que mudar sua estratégia”. Como
o esperado era um segundo turno entre Greca e Fruet, o caráter do segundo turno seria de um lado relembrando as positividades da atual gestão e do outro lado enfatizando os problemas dessa gestão. Miranda acredita que a questão que fica agora é: para onde vão migrar os eleitores do Fruet? São 20% da população curitibana, o que é um número significativo. Sobre as possíveis alianças, ele constatou que não é de extrema importância a aliança dos outros candidatos, já que esses obtiveram um número simbólico de votos. O cientista político acredita que Gustavo Fruet, provavelmente, não irá se aliar a ninguém no primeiro momento. Miranda falou que a porcentagem de votos nulos e em brancos foi significativa. Ele acredita que para a próxima votação é provável que aumente ainda mais esse percentual, já que agora as opções são mais restritas. Porém, o cientista político afirmou que a disputa será acirrada entre os candidatos.
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Curitiba, 11 de Outubro de 2016
Policy
Greca and Leprevost battle for Cuitiba’s City Hall Both candidates received the most votes in the first round and now face each other in the runoff. Beatriz Mira Leticia Garib Patricia Munhoz 3rd period Translated by Anna Dória Rachwal, Claudine Duarte, Jorge Lucas Oliveira e Lopes, Luara Dittrich e Rafael Bento Cesar Alfredo.
C
Leticia Garib
uritiba’s municipal elections took place last Sunday, October 2nd. Rafael Greca (PMN) had 38.38% of the votes, and Ney Leprevost (PSD) had 23.66%. They are now both candidates in the runoff, which is scheduled for October 30th. Rafael Greca (PMN) arrived at Júlia Wanderley State School at 11 a.m. along with his wife, Margarita, and said that he hoped very much to wake up the following day as mayor and immediately start working for Curitiba. According to the candidate, the humility of listening to the people’s voice is what makes him strong. “The people tell me on the phone, on Whatsapp and by the look on their faces that it may be today that the 33 will know how sweet it feels to be sheltered by the wings of victory.” he commented. Greca also talked about his polemic statement when he was assessed at Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR). He declared
what he said did not harm his campaign, but rather helped Andréa Ross
Rafael Greca won the first round of voting
it by giving him the chance to show he has always been a social service activist. “On that night, the underprivileged person was protected, supported, and found food and a safe shelter.” he said. Besides that, the candidate explained his wife will not have any political position during his administration. As reported by Greca, “enough with the ‘first-ladyness’”. The former mayor says he is committed to be the best mayor Curitiba has ever had, even better than he himself was the last time. If elected, he promised a deception-free and natural term of office. He believes to have been able to show the population the flaws of the current term.
Curitiba, 11 de Outubro de 2016
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Policy After the results of the first round, Greca claimed he will present his propositions to the cleverest people in the country, which is the one from Curitiba. According to him, his strategy – his secret – is known by all: his love for the city of Curitiba. “May I learn even more about Curitiba during this time that is yet to come.” he said. Greca told Comunicare that he will spend the campaign period for the runoff listening to the people, and that his adversary does not matter, what matters is his love for the city. The candidate Ney Leprevost (PSD) was really confident during the elections on Sunday: “I have no doubts that I’ll be in the runoff”. Leprevost said that even the Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (IBOPE- Brazilian Institute of Public Opinion and Statistics) had to acknowledge his growth, but the candidate doubts the numbers shown on the research. He believes the institute has a contract with Paraná’s government and “they invested on Greca’s
Fernanda Ehlke
Leprevost emphasized that the aim of his campaign is to solve the existing problems in the health, educational and security systems. He believes that the time for innovation and efficiency in Curitiba’s administration has arrived. After the counting of the votes was finished, Leprevost said that he intends to work in favor of the inclusion of every gender, ethnicity and profession so that Curitiba becomes a better place. The candidate informed that his strategy in the runoff won’t be different from what he already did. That is, he is going to show his proposals trying to get more votes in a fair way without tearing his opponents down. He also said that the people who worked on his campaign were all volunteers, “I didn’t rely on the state or municipal support”, said Leprevost. The current mayor, Gustavo Fruet (PDT), was off the runoff. After the poll results, the candidate claimed that he accomplished his mission with the city and thanked
Ney Leprevost in a press conference after the count by Regional Electoral Court (Tribunal Regional Eleitoral –TRE) noff race. “We intend to work for Curitiba”, she said. However, she believes that both she and her team have done their bit, despite the poll results. Requião Filho (PMDB) claimed that many of the candidates were committed to unattainable promises. However, he mentioned he is still
The result was unexpected since the polls showed Gustavo Fruet clearly ahead of Ney Leprevost campaign” (his opponent). The candidate required an investigation at the Federal Police Department (PF). As for the campaign itself, Leprevost admitted it was really hard, since he faced one candidate who had the support of the State Government and another one who had the City Hall support. He said that neither of them quit relying on these powers during the campaign.
everyone for their support and all the political alliances. Fruet promised to work until the last day of his mandate. “I need time to figure out the results, soothe my soul. It was a severe lesson branded with critics and offenses. I do not intend to hold any grudge in this process” the mayor declared. The candidate Maria Victória (PP) started the election day in an expectation of victory and of taking part in the ru-
going to conduct a survey in order to form alliances based on the opponent’s proposals and on their records according to the Clean Record Law in this runoff. This morning, after the polls, the candidate of PT, Tadeu Veneri, expected to take part in the runoff. He declared that his political campaign was serene, cheap and a good deal better than the previous years.
Ademar Pereira (PROS) mentioned that he was calm on the election day because, despite the poll results, both he and his team achieved what had been planned. Xenia Mello (PSOL) accompanied the councilmen of her party in their voting sites. Regarding the debates she did not participate, she said that it caused problems to the population. “This violates the people’s rights to information access,” she said. Xenia believes that the election is part of a process and that regardless of the outcome, the next day she will be on the streets. The political scientist Eduardo Miranda said the result was unexpected since the polls showed Gustavo Fruet clearly ahead of Ney Leprevost. Miranda said that Leprevost only managed to go up in the polls in the last few weeks of the campaign, which also contributed to Greca’s decrease. Due to this unexpected result, the political scientist said that the nature of the election will be totally different. He said that “Greca will have to change his strategy”. As the
expected was a runoff between Greca and Fruet, its focus would be on the one hand recalling the positive aspects of the current administration and on the other hand emphasizing the problems of the acctual management. Miranda believes that the question that remains now is: “where will Fruet’s voters migrate to?” They represent 20% of Curitiba’s population, which is a significant number. Regarding the possible alliances with the other candidates, Miranda says that this is not extremely important since such candidates obtained a symbolic number of votes. The political scientist believes that Gustavo Fruet probably will not ally with anyone at first. Miranda said that the percentage of spoiled and blank votes was significant. He believes that for the runoff it is likely that the percentage increases even more , since now the options are more restricted. However, the political scientist said that the dispute will be fierce between the candidates.
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Política
Mulheres exigem espaço na política Mesmo com lei de representatividade mulheres ainda lutam para mostrar que pertencem à política Maria Fernanda Gusso 2º período
O
processo eleitoral traz à tona uma face conhecida na política brasileira, a falta de mulheres exercendo cargos políticos. O artigo 10, parágrafo 3o, da Lei 9.504/97 exige que, do número total de vagas para cargos políticos, cada partido deve preencher um mínimo de 30% e um máximo de 70% para candidaturas de cada sexo. A lei existe desde 1997 e busca aumentar a participação feminina na política, porém, o efeito não é o esperado. Este ano, Curitiba contou com duas candidatas à prefeitura, Maria Victoria (PP), que obteve 5,66% dos votos, ficando em 4o lugar e Xênia Mello (PSOL) que totalizou 1,15% dos votos, ficando em último lugar.
Pesquisa
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87,3% dos entrevistados acha relevante o artigo 10, parágrafo 3º, da Lei 9.504/97; Opinião de um dos entrevistados sobre o artigo 10, parágrafo 3º, da Lei 9.504/97: é fundamental, mas ainda não é o suficiente. Deveria ser igualitária a representatividade de ambos os sexos.
“Vendo política de perto, pelos bastidores, a necessidade de uma renovação é grande” O número de mulheres na câmara municipal aumentou, foram eleitas oito vereadoras, três a mais do que nas eleições de 2012, contudo esse número ainda é desigual, visto que Curitiba nunca teve uma prefeita mulher. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições desse ano, a cada 10 candidatos, apenas três são mulheres. Para Xênia Mello (PSOL), ex-candidata à Prefeitura de Curitiba e militante feminista, a representatividade feminina na política ainda é muito escassa, levando em consideração que as mulheres são 52% da população brasileira. Ela conta que um dos maiores empecilhos da candidatura de uma mulher é a ausência de estrutura dos partidos que não conseguem garantir uma boa campanha a ela. “Eu sou cobrada na mesma medida que os outros candidatos homens que têm carro, empregada doméstica, assessor de imprensa, uma campanha com muito dinheiro. Somos cobradas com a mesma régua, mas ao mesmo tempo a gente está a um pé de desigualdade brutal”, disse Xênia. A reportagem procurou a candidata Maria Victória (PP), mas não obteve retorno. O cientista político Masimo Della Justina, concordando com a afirmação da militan-
te do PSOL, disse que essa manipulação de candidatas apenas para preencher as cotas é típico de uma sociedade primitiva como a nossa. “É preciso reeducar a sociedade, mostrando desde o ensino fundamental a importância da política no país, com igualdade de direitos, para assim diminuir a sociedade machista”, afirmou. Além disso, para Della Justina, a desigualdade da mulher na política é apenas a ponta do iceberg de uma cultura muito atrasada. “São necessários debates e programas culturais que promovam a igualdade de gêneros, de forma mais acelerada”, disse o cientista político.
Feminismo na política O feminismo é um tema que vem crescendo. Hoje já existem vários grupos que unem mulheres com objetivos em comum, tais como a igualdade e o respeito. A União Brasileira das Mulheres (UBM), organizada em 16 estados, é um grupo que debate políticas públicas em defesa dos direitos femininos. Deborah Castro, dirigente da UBM Paraná, diz que ainda é preciso evoluir muito. Segundo ela, a mudança de uma cultura leva tempo e os avanços são recebidos com resistência e persistência. “Se eu me sinto representada? Sincera-
mente, não. Vendo a política de perto, pelos bastidores, a necessidade de um renovação é grande”, disse Deborah ao ser questionada se sente-se representada na política.
Pesquisa expõe problemas Foram entrevistados 173 eleitores e destes 106, aproximadamente 61% não tinham conhecimento da Lei 9.504/97, comentada anteriormente, e 22 pessoas, correspondendo a 13% não acham essa medida relevante para a sociedade em geral. “Como mulheres precisamos nos sentir representadas por alguém que lute por nossos direitos”, disse Gabriela Pedroso, estudante de economia. A estudante de direito Roana Dolinski, por sua vez, lamenta o espaço dado às mulheres na política, se comparado com os homens. “Atualmente, tanto no âmbito político quanto no âmbito social, o espaço que as mulheres têm é cada vez maior, mas ainda assim muito pequeno em relação ao espaço masculino. Assim como políticas públicas sociais, uma lei de inclusão das mulheres na política se faz necessária”. Já Samuel Moura, estudante de música, conta que, em sua opinião, se as mulheres não querem tentar uma carreira política, ter uma lei que obriga isso não vai ajudar.
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Esporte
Projeto Broadway Dance em Curitiba Canto, dança e atuação assim como nos musicais de Nova Iorque e Londres Danielle Spielmann 3 º período
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niciado em 2015, o Projeto Broadway Dance consiste em aulas com diferentes estilos de dança para montar sequências coreográficas de musicais da Broadway. A principal diferença desse estilo para as outras aulas de dança é que ele exige a interpretação da música, prestando atenção no que a letra expressa e para onde posicionar o corpo, tudo isso embalado pelo glamour que envolve os musicais. Juliana Caillot é bailarina, coreógrafa e professora de dança. Na infância se interessou pela dança, tornando-se bailarina aos 13 anos. Em 2015, Juliana atuou como professora de dança das turmas de módulo um e dois do curso de formação avançada Projeto Broadway. Em 2016 se tornou professora e coreógrafa do curso de jazz musical Projeto Broadway. “Dançar é uma atividade bastante completa, pois contribui para o desenvolvimento motor, cognitivo, fortalecimento muscular, condicionamento físico, além da responsabilidade e disciplina”, diz Juliana.
A bailarina também conta que essa modalidade é composta pelos estilos de dança mais conhecidos pelos musicais da Broadway, em Nova Iorque, através de remontagens coreográficas de obras conhecidas como Cats, Hair Spray, Chicago, entre outras. Os estilos mais utilizados e trabalhados em cena são o jazz e o sapateado. Além de que a estrutura da aula é básica: aquecimento, alongamento, barra (trabalho técnico específico), diagonal e as sequências coreográficas. No caso da professora, o foco é o jazz e suas vertentes: lírico, contemporâneo, street jazz e Broadway. O jazz musical ou Broadway é reconhecido por usar a expressão, já que dentro dos musicais a dança está aliada também a outras formas de expressão artística como o canto e o teatro. Para André Chaves, professor de dança há 25 anos, a dança proporciona ao artista vários benefícios. “Para mim traz principalmente a liberdade de expressão e a realização de sonhos”. Já para Luis Fabia-
no Rodrigues, professor de dança e dançarino há 17 anos, a dança é importante não só para o condicionamento físico como também mental. “Acho que a dança faz a pessoa se sentir bem psicologicamente e realizada”. Segunda a história do jazz, esse estilo surgiu com os negros nos navios negreiros vindos da África que eram obrigados a dançar para manter a saúde. As danças dos senhores brancos eram polcas, as valsas e as quadrilhas. Os negros os imitavam ridicularizando-os, mas dançavam de acordo com as informações que tinham da cultura europeia e misturavam com as danças que conheciam. Assim se formou o jazz: uma imitação dos ritmos europeus com os costumes e músicas negras.
Programa Dança Curitiba A Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude (SMELJ) em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba, promovem o Programa Dança Curitiba. Este é destinado a grupos, academias e Sarah Lima
O Projeto Broadway Dance traz para Curitiba o glamour de musicais conhecidos da Broadway
escolas de dança da cidade. A proposta é desenvolver lazer contemplativo, buscar talentos coreográficos e incentivar a prática da dança. O programa Dança Curitiba promove eventos e atividades sistemáticas tais como circuito de dança, festival de dança, mostra regional, cursos, workshops, exposições e aulas de dança. Também oferece oportunidades para divulgação de grupos e companhias e o networking de dançarinos. “O Dança Curitiba circuito é um programa já tradicional que tem por objetivo difundir a dança como meio sociocultural, proporcionando opções de lazer à comunidade e oportunizar aos profissionais a divulgação de sua arte”, explica a coordenadora do programa, Débora Pedroso. Há sete eventos durante o ano, realizados no Memorial de Curitiba aos domingos pela manhã; o evento Dança Curitiba Festival é realizado uma vez ao ano; a mostra de dança é realizada em nove regionais da cidade (Cajuru, Boa Vista, Boqueirão, Tatuquara, Portão, Pinheirinho, CIC, Santa Felicidade e Bairro Novo). Todos os eventos acontecem nos centros de esporte e lazer ou nas ruas da cidadania de Curitiba e possuem agenda pré-definida. Para a professora e coordenadora de uma escola de dança, Tatiana Vianna, a seleção de seus alunos para as participações em eventos e festivais é feita de acordo com a disponibiliade de data do calendário do estúdio e são sempre os grupos que tenham trabalhos prontos, ou com possibilidade de serem desenvolvidos em tempo e com qualidade.
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Esportes
Número de corredoras de rua cresce em Curitiba Aumento da participação de mulheres no esporte abre espaço para amizades e cria um novo nicho no mercado Yasmin Graeml 2º período
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público feminino vem crescendo nas corridas de rua nos últimos cinco anos em Curitiba. De acordo com a assessoria Nosso Time que organiza algumas das corridas que acontecem anualmente na capital, o número de corredores aumentou e o número de mulheres está perto de se igualar ao de homens participantes. O público feminino cresceu em 10% representando 40% dos corredores. Esse crescimento abriu um novo nicho de mercado com grupos e corridas exclusivas para as mulheres, como o The Running Moms, formado por mães de estudantes de um colégio particular da capital que resolveram começar a correr juntas durante o horário de aula dos filhos. O grupo começou com poucas participantes e acabou se tornando uma assessoria de corrida voltada às mulheres com mais de 120 alunas. “Não tínhamos a pretensão de abrir um negócio, queríamos apenas correr em horários compatíveis com a nossa rotina de mãe”, conta uma das sócias da assessoria Ana Paula Costódio.
Yasmin Graeml
Primeira Beer Run, organizada pelos corredores do grupo Duque Runners de Alices acompanharam a corrida, mas sendo só mulheres competindo o clima ficou mais agradável, elas ficaram mais à vontade”, conta a sócia do Clube da Alice Thayza Melo. A vencedora da corrida, Rosangela Andrade, corre desde 2004 e já perdeu as contas de quantas medalhas ganhou.
O esporte como terapia Para muitas corredoras, a corrida vai além de um esporte, é um momento de lazer e de terapia com as amigas.
Só neste ano, além da corrida das Alices, ela foi campeã nos 5km na Corrida Mais Marias, na Stadium Marathon e na prova da Track and Field. Além dos prêmios, Rosangela conquistou o marido correndo.
Ivanir Dedecek, 67 anos, conta que decidiu praticar esportes aos 50 anos. Começou com a ginástica, passou para a musculação e, com incentivo dos amigos, realizou a primeira corrida de rua o que a levou a ser tornar corredora: “o percurso foi sofrido, mas no final a sensação de terminar foi tão boa que decidi correr”.
Os dois se conheceram em 2006 em uma corrida de rua e hoje estão casados e têm uma filha.
Ivanir foi uma das primeiras participantes do Duque Runners, grupo de corrida do clube Duque de Caxias. Nas
primeiras competições corria 5km, passou para 10km, e a grande superação foram os 16km na corrida Paris - Versailles, realizada este ano, em uma viagem com mais três integrantes do grupo. “Unidos pelo esporte e pela amizade, este é meu lema”. Outra corredora do grupo Duque Runners Liz Peres de Oliveira, 41 anos, conta que a corrida, além de benefícios para a saúde, trouxe amigos que são quase uma família. A primeira vez que participou de uma corrida de rua foi
“Não tínhamos a pretensão de abrir um negócio, queríamos apenas correr em horários compatíveis com a nossa rotina de mãe” A Corrida da Paz do Clube da Alice, um grupo no Facebook de mulheres, aconteceu no dia 11 de setembro e foi exclusiva para elas. “Alguns maridos
na Fila Night Run de 5km em setembro de 2011. Em 2016 ela está comemorando cinco anos de Duque Runners correndo 16km em Paris.
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Cultura
Brasil e Argentina: próximos, mas nem tanto A distinta realidade de dois países com problemas e histórias parecidas e os desafios de uma possível união Luiz Mourão 3º período
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os voos entre Brasil e Argentina, não existe espaço para a rivalidade proveniente dos campos de futebol. Os quase 91 mil brasileiros que chegaram ao país vizinho em setembro deste ano representam 33% dos estrangeiros que visitaram o país nesse período. Embora geograficamente tão próximos e com problemas sociais tão parecidos, a diferença cultural entre os dois países pode ser reparada na disposição urbana e no comportamento cotidiano. A chegada à capital, que é um expoente cultural da América latina, é marcada pelo alto número de representações artísticas espalhadas pelas ruas. A leitura é um hábito acessível, representado pelo alto número de bancas de jornal que vendem livros a preços baixos. Ir ao cinema é um costume que agora virou conteú-
do obrigatório nas escolas e os teatros são mais numerosos na cidade portenha do que em qualquer outra cidade do mundo. Este tipo de incentivo ajuda a explicar a representação argentina em aclamados prêmios mundiais, segundo a portenha Tereza Dalmas, 44 anos, ativista do Movimiento Popular 22 de Agosto (MP22) e professora secundarista em Buenos Aires. Ela afirma que a estrutura educacional montada nas décadas passadas contribuiu para que a população tenha se tornado crítica o bastante para compreender os diferentes cenários sociopolíticos que variam de geração para geração. “Existem várias lacunas na sociedade latino-americana como um todo e na Argentina, inclusive. Entretanto no campo cultural, conseguimos ter mais notável sucesso Luiz Mourão
devido à valorização nacional incentivada em uma época em que outros países da América aceitavam a forte influência estadunidense”, afirma. A professora confessa que acha seus compatriotas por vezes arrogantes por exaltarem demasiadamente seus feitos e explica que isto é, além de uma defesa, um estímulo para que nunca se esqueça do espírito de luta que eleva a autoconfiança. “Parece-me que o caminho do sucesso para a América Latina é compreender que não somos inferiores aos (ditos) países desenvolvidos e que quanto mais unidos estivermos, mais próximos do sucesso estaremos”, enfatiza Tereza. Uma maior integração entre os países do Mercosul é uma necessidade incontestável para os especialistas, sendo, desta forma, um debate recorrente nos encontros da organização. Apesar disso, existem diversos obstáculos para realizá-la de forma plena, gerados principalmente pelo distanciamento entre o Brasil e o resto do continente. Essa dificuldade é representada primeiramente pela língua e também salientada por música, folclore e até gastronomia. Essa noção é perceptível a qualquer pessoa que já tenha visitado outras nações do continente e confirmada pela opinião técnica da internacionalista Larissa Mehl, 24 anos, que conta que a configuração política desenhada com revoluções nos países hispânicos e com um decreto
O Obelisco é o principal monumento de Buenos Aires
no Brasil, é um fator histórico que incentivou linhas de pensamentos distintas. Larissa explica que o tamanho do Brasil dificulta as relações mesmo entre seus estados e que, ao contrário dos países vizinhos, a cultura nativa não é enraizada. “Temos menos de 1% de população indígena, e os outros países tendo mantido essa tradição, criaram uma conexão maior entre si”, explica. Ela ainda afirma que a influência aceita pela falta do pensamento combativo citado anteriormente tornou o cenário fácil para maior influência europeia e estadunidense. A internacionalista, todavia, acredita que os laços têm se estreitado gradativamente devido ao maior acesso aos produtos artísticos que, hoje em dia não dependem mais de uma indústria cultural para ditar as direções do consumo. “A partir do trabalho que eu desenvolvi como professora, eu senti essa necessidade de uma pequena parte da população que busca através da integração latino-americana o próprio reconhecimento”, conclui. Tanto a argentina Tereza, quanto a brasileira Larissa, concluíram seus pensamento dizendo que o vínculo entre as duas nações pode ser fortalecido cada vez mais, evitando um pensamento individual e valorizando a coletividade. Ambas, mesmo sem se conhecer, concordam que se os povos buscarem em si a identidade latino-americana frente ao individualismo, o progresso se dará de forma natural.
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Ensaio
1984, o espelho da realidade “É preciso muito esforço para saber e não saber, ter consciência da completa verdade ao contar mentiras cuidadosamente construídas, para manter simultaneamente duas opiniões, sabendo que são contraditórias, e acreditar em ambas”. (George Orwell) Julia Favaro Linhares 4º período
Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força.
Você não percebe, Winston, que o corpo é somente uma cápsula?
Num tempo de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário.
Nós somos os mortos. Nossa única vida genuína repousa no futuro.