Rio Belém sofre com a poluição
Seminovos ganham destaque
Projeto de revitalização tenta salvar Comprar um carro com pouco uso é principal rio de Curitiba. uma boa opção. Página 04 Página 05
Morretes ao som de jazz
Por dois dias, festival movimentou a cidade litorânea. Páginas 14 e 15
Curitiba, 26 de Junho de 2015 - Ano 18 - Número 261 - Curso de Jornalismo da PUCPR
O jornalismo da PUCPR no papel da notícia
Corrida contra o tempo
Aulas na rede estadual de ensino são retomadas após greve histórica .
Páginas 08 e 09
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Cidades
Reprovação é acima da média no Detran Nervosismo e falta de preparo estão entre as principais causas de fracasso dos curitibanos nos exames para tirar a CNH Isabela Gois 2º período
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s índices de reprovação nos exames práticos de direção em Curitiba são maiores que os da média estadual. Segundo dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), em 2014, 53% das pessoas que fizeram o exame na categoria B (automóvel, caminhonete, camioneta, utilitário) e 35% na categoria A (motocicleta, ciclomotor, motoneta ou triciclo), na capital, saíram sem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Segundo Valmir Moreschi, coordenador da 1º Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran), passar no exame prático do Detran tem se tornado uma tarefa cada vez mais difícil por conta da legislação mais rigorosa. “Essas mudanças exigem mais do candidato, o que é compreensível em um país que tem índices tão grandes de acidentes como o Brasil. O candidato tem de estar bem preparado na parte teórica e também precisa ter uma noção para que possa fazer o bom uso do veículo em segurança”, afirma. Os candidatos apontam que uma das maiores dificuldades está na baliza. Metade das pessoas reprovam por não conseguir estacionar o veículo no tempo limite (cinco minutos) ou por bater no protótipo, colocado para demarcar a área da baliza, no momento em que o condutor posiciona o carro. Foi o que aconteceu com a estudante Beatriz Saidel, que reprovou duas vezes e teve que fazer aulas práticas extras. Ela aguarda o período de um mês de espera para agendar o próximo teste. Se o candidato passar na baliza,
ele será avaliado circulando em vias. O examinador tem a oportunidade de verificar como a pessoa se comporta na rua e se ela tem condições de dirigir um carro. “Em vias públicas, os problemas mais comuns são a falha na observação da sinalização, excesso de velocidade, conversões erradas, falta de atenção. O candidato pode receber até três pontos negativos, a partir disso está inapto. E existem faltas eliminatórias, como encostar nos protótipos no balizamento e subir na calçada ou meio-fio”, explica Moreschi. Para ele, os dois maiores problemas que atrapalham as pessoas na hora do teste são o nervosismo e a falta de preparo. “Há candidatos que vêm para o exame extremamente mal preparados. De cada 10 candidatos, cinco ou seis voltam para casa sem carteira”, diz. Ao contrário da maioria que tende a reprovar na primeira tentativa, Matheus Rosa, 18 anos, afirma ter tido facilidade no teste. “Não tive dificuldade em nenhum dos exames. A parte que mais preocupa e atrapalha a maioria é a baliza mesmo, mas para mim foi tranquilo”, declarou. Para obter um bom desempenho, o candidato à primeira habilitação deve seguir algumas dicas no dia em que enfrentar o exame prático como: criar um roteiro com o que deve fazer assim que entrar no carro (posicionar os espelhos, arrumar o banco, colocar o cinto); manter a tranquilidade; não ter pressa; e usar roupas e sapatos confortáveis.
Expediente Edição 261- 2015 O Comunicare é o jornal laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR jornalcomunicare.pucpr@gmail.com http://www.portalcomunicare.com.br Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) R. Imaculada Conceição, 1115 - Prado Velho - Curitiba - PR
REITOR Waldemiro Gremski DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES Eliane C. Francisco Maffezzolli COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Julius Nunes COORDENADOR EDITORIAL Julius Nunes
COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO Rafael Andrade MONITORIA Luciana Prieto FUNDADOR DO JORNAL Zanei Ramos Barcellos FOTO DA CAPA Lara Fonte-Bôa 3º Período
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EDITORES
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3º período
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José Luiz Moreira 3º período
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Louise Schmitt 3º período
Vanessa Gavilan Mikos 2 º período
Gabriela Jahn 3 º período
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Karoline Mokfianski 2º período
Larissa Camargo 3º período
Laura Alvarenga 3º período
Maria Cecília Terres Zelazowski 2º período
Riana Carvalho 3º período
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Cidades
O Largo da feira Criada em 1973, a Feira do Largo da Ordem reúne artesãos que expõem diversos produtos, e também, comidas típicas de muitos países Marina Bittencourt Cardoso 3º período
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mpreterivelmente, às 9h de cada domingo começa a feirinha do Largo da Ordem. Artesãos vendem seus trabalhos que englobam roupas, bijuterias, pantufas, canecas e acessórios ao longo de um espaço de mil metros, começando na esquina das ruas São Francisco com Barão do Cerro Azul. A feira surgiu de um projeto da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) nos primeiros anos da década de 1970, durante a gestão do prefeito Jaime Lerner. Hoje é administrada pelo Instituto Municipal de Turismo (IMT), por meio do setor de feiras de arte e artesanato de Curitiba. De acordo com a gerente de artesanato do IMT, Marily Lessnau, existem 1.250 artesãos cadastrados na Feira do Largo da Ordem. Para vender é preciso existir disponibilidade de vaga e algumas normas são exigidas. “Os principais critérios são participar de uma feira de bairro há mais de um ano, apresentar algo original, inédito ou raro e passar por uma avaliação de uma comissão constituída e formada por elementos com notório conhecimento em artesanato”, assegura Marily. Dessas particularidades vendidas no Largo, uma delas é feita por Barbara Gregio, que produz roupas para bonecas Barbie. Há 15 anos na feira, Barbara também expõe na Praça 29 de Março e na Vila Hauer. Ela afirma não ter uma média de vendas nos mercados de rua, “tudo depende do dia, em dias chuvosos, por exemplo, a maioria dos compradores e até mesmo os feirantes fogem do trabalho”.
Já Elzi Fraulini vende balas caseiras. Ela conta que começou esse ofício por necessidade, pois quando ela e seu marido mudaram de Londrina para Curitiba, ele trabalhava como eletricista autônomo e o dinheiro estava curto. “Quando fui visitar minhas irmãs em Presidente Prudente, no interior paulista, elas estavam fazendo essa bala, da qual gostava muito. Pedi para que elas me ensinassem a receita. Voltei para Curitiba e juntei-me com uma vizinha e iniciamos o negócio em escolas”, relata. A parceria não deu certo, porém Elzi não desistiu. Lembrou-se das feiras de ruas no centro da cidade e começou a vender bala de coco. Hoje, 34 anos depois, ela tem duas barracas e mais de 10 sabores de bala. Outro fato muito conhecido na feirinha do Largo são as comidas típicas. Lá, é possível encontrar tacos mexicanos, empanadas argentinas e chilenas, pierogi polonês, além de pratos comuns do nordeste brasileiro, como acarajé e tapioca, fazendo com que os turistas possam conhecer um pouco do mundo e ao mesmo tempo, sentir-se em casa. Popular em muitas feiras de rua curitibanas, o Pierogi do Tadeu está no Largo há 27 anos. Gabriela Kalwalec, filha de Tadeu, explica a história do pai, que é nascido na Polônia e estava em Londrina quando a lei marcial foi decretada no país, e vários associados do Sindicato Solidariedade, no qual ele trabalhava como jornalista, foram perseguidos e mortos. “Fugindo da prisão, ele resolveu ficar no Brasil e trabalhar como chaveiro”, menciona Gabriela. Tadeu andava muito pelos merca-
dos de rua e sentia falta dos pratos típicos, assim, teve a ideia de vender pierogi, uma iguaria polonesa que ele sabia preparar, pois era uma receita de família. Hoje a barraca está presente em várias feiras em diferentes bairros, como Batel, Hugo Lange e Água Verde.
Turistas Segundo Marily,na última pesquisa efetuada pelo IMT, em 2014, foi registrada a presença de 23 mil visitantes, desses, aproximadamente 40% são turistas. “A feira é importante culturalmente porque além das barracas com trabalhos artesanais e gastronomia, ela conta com apresentações de artistas populares, com shows de cantores, conjuntos musicais, apresentação de peças de teatro e poesias”, explica. Para Gabriela o que chama atenção dos turistas é o próprio Largo da Ordem e o
centro histórico de Curitiba, pois “estamos em um lugar estratégico, por onde passa o ônibus da linha turismo, também perto do Relógio das Flores, do Memorial de Curitiba e muitos outros pontos turísticos”, confirma. Pela primeira vez em Curitiba, o casal paulista de Campinas, Lucilene e Alessandro Françoso, passaram a manhã do Dia das Mães no Largo e afirmam ter gostado muito da capital pela variedade de passeios culturais que ela oferece. O casal diz que pesquisou em blogs lugares turísticos da cidade e entre eles encontrou a feira. “Pelo que lemos, vimos e o que os curitibanos nos disseram, o que existe no Largo é uma grande variedade de produtos”, declara Alessandro. Lucilene reconhece como ponto positivo a boa preservação dos prédios históricos no centro, porém admite ter visto muitos moradores de rua em vários pontos da cidade. Marina Bittencourt Cardoso
Elzi Fraulini e sua barraca na feira do Largo da Ordem
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Cidades
Rio Belém: à margem do abandono O maior rio de Curitiba convive com promessa de revitalização há anos. Enquanto isso não acontece, a população pode ajudar através da conscientização
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Rodrigo Sigmura Gabriela Giannini
Durante toda sua extensão, o rio recebe cerca de 12 mil ligações irregulares da rede de esgoto, ainda que 81% da população curitibana disponha de rede coletora, de acordo com dados do projeto Abrace Esta Causa, do Grupo Lumen de Comunicação. Para o professor de gestão urba-
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Belém é um dos principais rios de Curitiba. Com mais de 21 km de extensão, ele passa por 15 bairros. Porém, sua bacia hidrográfica abrange 35 bairros e seu grande diferencial é estar somente localizado na capital paranaense. Ele nasce no Cachoeira e deságua no Boqueirão.
na e co-fundador do projeto “Revitalização do Rio Belém”, Carlos Mello Garcias, a responsabilidade de cuidar da rede de esgoto é também da população. “Cada um tem que fazer a sua ligação [da rede de esgoto]. É uma responsabilidade do proprietário”, diz ele.
feito no Rio Cheonggyecheon, em Seul, na Coreia do Sul, o Belém poderia tornar-se mais um local de recreação e lazer na cidade. Lá, a prefeitura demoliu um viaduto que colaborava com a poluição do rio, por exemplo, com investimentos de US$ 380 milhões.
Para o professor, a revitalização completa do Rio Belém é uma questão de conscientização e sua recuperação é possível, embora seja difícil. Em sua nascente, nas regiões mais altas de Curitiba como a do Parque São Lourenço, a água vista é mais limpa do que a analisada no centro da cidade. A exemplo do que foi Rodrigo Sigmura
No entanto, Garcias afirma que 40% do espaço físico de Curitiba é o Rio Belém. Para ele, o problema está no fato de as cidades “enterrarem” os rios. “É proibido canalizar rios por lei. A nossa proposta é coletar todo o esgoto e desenterrar todos os rios. E Curitiba poderia fazer isso, dinheiro não é o problema. É uma questão de prioridades”, justifica. De acordo com Garcias, o rio está sujo porque diversos tipos de lixo vêm de um afluente ou mesmo da rua. “Há dois tipos de poluição: a localizada e a difusa. A primeira envolve o lançamento direto do esgoto. A segunda, mais difícil de ser identificada, é caracterizada pela poluição dos carros e fábricas”, aponta. O projeto “Revitalização do Rio Belém”, desenvolvido por ele e pelo professor Alessandro Bertolino, se deu por uma questão pessoal de Garcias. “Eu vivi em cidades pequenas e nunca tinha visto poluição nos rios. Sempre trabalhamos com a ideia de que esse rio [Belém] ficaria limpo. Não dá para admitir que teremos turismo em uma cidade com rio sujo. As pessoas não vêm para ver isso”, declara.
Poluição do Rio Belém afeta população ribeirinha
A Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP)
afirmou que há um projeto, de 2008, em andamento para a contenção de enchentes. Questionada sobre o motivo para as obras ainda não terem iniciado, a SMOP, por meio do engenheiro civil Roberto Colin, disse não saber por quê os recursos não foram disponibilizados. A reportagem do Comunicare entrou em contato com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, para que esta comentasse sobre o assunto, mas não obteve resposta até o fechamento da edição.
População ribeirinha no prejuízo Segundo o comerciante e morador da região do Canal Belém, Sebastião dos Passos, a população que vive próxima ao rio é mais consciente do que há alguns anos. Contudo, ele sofre prejuízos financeiros por conta da poluição. “Há depreciação do imóvel. Atualmente, nós temos mais a perder do que a ser beneficiados. Em 23 anos de comércio, já fui muito criticado por isso”, lamentando sobre o fato de seu imóvel estar localizado próximo às águas. Ele diz ainda que desde 1989, apenas uma limpeza foi feita, em 2004. Moradora da mesma região que Passos há 20 anos, Vera Lúcia de Matos entende que problemas de mobilidade, como a falta de ciclovias e sinalização, também são graves. Porém, a atual condição do Rio Belém é mais preocupante. “É um descaso. Meu vizinho desistiu de construir no terreno que comprou recentemente por conta do mau cheiro”, conta.
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Economia
Veículos seminovos em alta A tendência de boas vendas para usados continua no segundo semestre Jéssica Felici 2º período
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e acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de janeiro a março deste ano, o valor dos carros seminovos ficou estável (com alta de 0,03%). Por sua vez, no primeiro quadrimestre de 2015, comparado ao mesmo período de 2014, houve um crescimento de 2,9% nas vendas, segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto). Para a federação, o fator responsável por regular os preços é a relação natural entre oferta e procura. O mercado está conseguindo se recuperar da crise financeira de 2008 e a expectativa é de que as vendas sigam crescendo este ano. Para isso, a Fenauto oferece cursos online, parcerias com outras empresas (envolvendo seguros e demais produtos), encontros regionais para troca de informações e tendências de mercado para mantê-los atualizados. A Fenauto afirma que a principal vantagem de adquirir um carro seminovo é o custo benefício. Além da garantia original de fábrica (de até cinco anos dependendo da marca), o comprador ganha mais de 90 dias de assistência por parte do revendedor. Os demais custos inerentes ao produto (IPVA, seguros, etc) também saem mais em conta nestes veículos. O consumidor consegue adquirir um carro completo e em bom estado de conservação por um valor abaixo de um modelo zero quilômetro básico. Contudo, o gerente comercial da Barigui Seminovos Multimarcas, Osni Miguel Reinaldim, alerta para alguns cuidados que se deve ter no momento de optar por um
seminovo. “Em primeiro lugar é necessário todo cuidado em relação à documentação. O consumidor deve sempre procurar uma empresa em que ele tenha tudo por escrito, que ele saiba sobre o passado do veículo e que lhe ofereça garantias. Na questão do veículo, muita atenção para não comprar gato por lebre, veículos que não tenham sofrido graves colisões, pois podem colocar a vida dos passageiros em risco”.
Veículos novos seguem com preços em alta Em contrapartida, de janeiro a março deste ano, os preços dos veículos novos subiram 4,42%, conforme o IPCA. Esse aumento se deve a alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em janeiro. Diante do cenário econômico do último quadrimestre, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores
(Fenabrave), os segmentos de automóveis e comerciais leves deverão encerrar este ano com queda de 18% nas vendas, se comparados com os resultados de 2014. A Fenabrave estima que na soma de todos os segmentos automotivos, em 2015, o setor deverá retrair 16,05%. A inflação e a taxa Selic em alta (au-
mento de juros e spread, pelo risco), queda no PIB nacional, aumento do desemprego, crédito mais restrito e a falta de confiança por parte do consumidor, são os responsáveis pelo fraco desempenho da economia e tem refletido diretamente na comercialização de veículos no Brasil. A principal consequência da crise no setor, segundo a Fenabrave, é o encerramento das atividades de concessionárias de veículos. Apenas no primeiro quadrimestre de 2015, 250 das oito mil lojas existentes no país fecharam, reduzindo, aproximadamente, 12 dos 410 mil empregos diretos gerados pela categoria. ‘’Por conta do impacto da inflação, as pessoas começam a ficar com um pouco de medo e não querem fazer dívidas a longo prazo por não saberem o dia de amanhã. O mercado é sazonal, tem hora que sobe e hora que cai, e atualmente
estamos num viés de baixa, 20% menor do que o ano passado. Já passei por situações muito piores do que essa. A tendência é que ano que vem volte ao normal’’, acredita Hamilton Millani, gerente da Fiat Barigui Maiori. A Fenabrave assegura que o comprador do veículo zero quilômetro tem a vantagem
de ter um modelo novo com garantia de fábrica que varia de um a seis anos. As revisões são de baixo custo; há poucas chances de manutenção; e são fáceis de serem financiados, afinal, a maioria das montadoras oferece boas condições a juros mais baixos.
Opinião dos compradores “Escolhi um usado pelas condições de pagamento mesmo. Dei o meu carro como entrada, que aqui pegaram por um valor melhor, e estou tirando um mais novo e mais completo do que o antigo com parcelas mais baixas. Nessas condições, se fosse comprar um automóvel zero, teria que escolher um modelo mais básico, por isso essa negociação vale muito a pena’’, afirma Joaquim Menezes Belo, comerciante. O contador Henrique da Cruz, prefere um seminovo por apresentar taxas menores e
mais facilidades ao adquirir o veículo. “Escolhi um carro usado porque posso comprar um modelo mais completo com melhores condições de pagamento do que um zero. Acaba valendo mais a pena, é só pesquisar e ver a procedência’’, aconselha.
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Economia
Classe média afetada Cenário de regressão pode interferir no processo de ascensão social Renata Souza 2º período
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ascensão da “nova classe média” pode estar com seus dias contados. Trabalhadores que mudaram suas vidas com o crescimento do mercado formal e a valorização do salário mínimo agora estão passando apuros devido ao aumento do desemprego, da inflação e das taxas de juros. Mas, para Fabiano Camargo da Silva, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apesar do cenário de crise, ainda é cedo para afirmar que estes brasileiros regridam de classe social.
do primeiro trimestre de 2014. Segundo o IBGE, o número em março de 2015 foi o mais alto em quase quatro anos. Uma pesquisa feita em fevereiro pelo Instituto Data Popular, de São Paulo, revelou os temores da classe C. 55% dos entrevistados acham
acima do registrado no mês anterior, o acumulado anual ultrapassou os 4%. Como comparativo, a inflação em abril de 2014 foi de 0,67% e no mesmo mês em 2013, 0,55%. A elevação da inflação fez com que o consumidor pontuasse os seus gastos em pro-
Crise afeta comércio e construção civil O comércio foi um dos setores mais afetados pela crise, sendo o segundo que mais demitiu, conforme números do Caged. Em março deste ano houve mais de 416 mil desligamentos nas empresas do ramo.
“A alta inflação acaba gerando desemprego nos setores de produção”
A avaliação de Silva é coerente à de outros economistas. As pessoas que entraram para a chamada classe C não tiveram tempo suficiente para se estabilizar na camada social e por isso se abalam com mais facilidade aos altos e baixos da economia. Carlos Magno Bittencourt, economista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), ainda acrescentou que a situação é um círculo vicioso. “Uma vez que o aumento da taxa de juros e a alta inflação reduzem o poder de compra de classes menos favorecidas, as pessoas consomem menos e as empresas produzem menos. Isso acaba gerando um desemprego nos setores de produção”, explicou o economista. Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) mostram que a taxa de desemprego no Brasil tem o índice de 7,9% registrado nos três primeiros meses de 2015, ficando acima da taxa
que o cenário para emprego piorou e 84% acreditam que os salários não terão aumento ou, se tiverem será abaixo da inflação.
Inflação segue em alta e desemprego aumenta Segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a taxa de inflação em abril deste ano chegou a 0,71%. Apesar deste número ser apenas um pouco
dutos e serviços essenciais, como alimentação, transporte e habitação. Outro número que preocupa é a taxa de desemprego, que se mantem em alta. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Paraná teve um saldo negativo entre admissões e desligamentos em abril de 2014. Foram mais de 2 mil desempregados em relação ao número de empregos formais.
“Sentimos a diminuição nas vendas, além da dificuldade na manutenção do estoque e pagamento dos funcionários. Estamos em um ano difícil financeiramente”, afirmou o comerciante Eraldo Coltro.
O setor de construção civil foi o quarto que mais dispensou trabalhadores, segundo o Caged. O engenheiro civil e sócio proprietário de uma construtora Nilton Fuzeto notou a dificuldade no setor. “A procura por obras está baixa. Existe a possibilidade de termos que fechar a empresa, pois todo o lucro está sendo usado para pagar os funcionários”, concluiu Fuzeto.
ÍNDICE DA INFLAÇÃO EM DOIS ANOS
0,71% 0,67 % 0,55 %
Abril 2013
Abril 2014
Abril 2015 Karine Sales
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Política
Humanizando o espaço público Projeto de lei pretende instalar parklets - vagas vivas - nas ruas de Curitiba Nicole Leite 3º período
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egundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no dia 03 de dezembro de 2014, Curitiba ingressou na lista das cidades mais criativas do mundo. As políticas públicas da capital paranaense costumam estar ligadas à criação de projetos sustentáveis que ajudem e melhorem a qualidade de vida de seus cidadãos, não é à toa que muitas vezes, a cidade é chamada de Capital Ecológica. Uma nova proposta de cunho sustentável, que visa aumentar a ocupação das ruas pelas pessoas é o projeto de lei apresentado pelo vereador Bruno Pessuti (PSC), que pretende criar parklets – também chamados de “vagas vivas”- em Curitiba. “A ideia surgiu quando percebemos cidades do mundo inteiro adotando essa medida, mas principalmente quando São Paulo elaborou um decreto municipal autorizando a criação dos parklets. O objetivo de instaurar essas vagas vivas é criar uma nova possibilidade de mobiliário urbano, fazendo com que aconteça uma ocupação e convivência melhor das pessoas com os espaços públicos. É nosso dever oferecer os mecanismos para que essa ocupação aconteça de maneira organizada e sustentável”, explica o vereador.
A lei ainda está em fase de análise, mas Pessuti acredita que em dois ou três meses seja aprovada. “Nos próximos dias iremos falar com a Prefeitura Municipal de Curitiba, para decidirmos como vai ser realizado o decreto oficial para que o projeto prossiga”, diz o vereador.
Como funcionam Os parklets são extensões dos passeios públicos, neles poderão ser colocados móveis como cadeiras e poltronas, até aparelhos de ginástica. Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), essas estruturas deverão ser instaladas em vagas de estacionamentos das áreas centrais da cidade. “A ideia é proporcionar espaços que permitam o encontro de pessoas de forma agradável e prazerosa, tudo será feito com o propósito de humanizar o espaço urbano. A estrutura tem que ser desmontável, já que os parklets deverão ser removidos à noite e reinstalados durante o dia”, instruiu a assessora de imprensa do IPPUC, Maria Celeste Côrrea. As vias públicas onde serão instauradas as vagas humanas deverão seguir uma lista de restrições. O limite máximo de velocidade deve ser de 30 km/h e a rua precisa ter capacidade física suficiente Ariele Hosseini
Projeto dos parklets é de autoria do vereador Bruno Pessuti
para suportar o parklet e o fluxo de veículos. As estruturas também não poderão ser colocadas em cima de vagas de estacionamento destinadas exclusivamente a idosos, próximo do limite da via ou em qualquer local que atrapalhe a visibilidade do motorista. Outra restrição é que o espaço não deverá ser considerado propriedade particular. “A questão de vetar a utilização pública é a única proibição que colocamos na lei, por exemplo, uma livraria que coloque uma placa dizendo ‘exclusivo para usuários’ não poderá existir, pois vai contra a intenção primária do projeto, que é integrar o maior número de pessoas nas ruas, valorizando o lado humano da cidade”, diz Pessuti. As vagas vivas podem ser construídas por qualquer pessoa ou empresa que tenha o interesse em colocá-las na frente de sua casa ou estabelecimento comercial. Antes será necessário pedir autorização para a Prefeitura, que analisará se o parklet poderá ou não ser instalado. Nos parklets poderão ser criados qualquer espaço interativo com o público. “Depende muito da imaginação da pessoa que desejar instalar o parklet, as opções podem ser infinitas e deixamos livre as escolhas, principalmente para ver os limites da criatividade da população e da cidade”, acrescenta o vereador. Gustavo Dias é gerente de um bar na Rua São Francisco, Centro, e apesar de gostar do projeto, diz que seu estabelecimento ainda não pretende construir um parklet. “A rua é daquelas antigas, estreita e com paralelepípedos, então não tenho espaço suficiente
para instalar uma estrutura desse porte. A calçada é pequena, às vezes é difícil até de andar, também não seria possível colocar algumas mesas na fachada do bar”, comenta Dias. Por se tratar de uma estrutura pública, a questão da segurança deve ser discutida. Pessuti acredita que, dependendo do local onde o parklet for instalado, não haverá monitoramento. “Não se espera que seja um mobiliário urbano tão complexo que necessite de uma fiscalização tão efetiva, mas imaginamos que poderão acontecer atos de vandalismo, de depredação do espaço. Nesses casos, a Guarda Municipal estará sempre atenta às denúncias e pronta para realizar qualquer autuação”, disse o vereador. A arquiteta Glaúcia Silva explica que é importante para as cidades sempre se reinventarem, procurando alternativas inovadoras e que contribuam com o design urbano. “Uma cidade saudável é aquela que está sempre em constante transformação, é um organismo vivo, onde sempre há modificações e adaptações a serem feitas”, diz Gláucia. Sobre o fato de Curitiba ser uma cidade com muitos dias nublados e chuvosos, o estudante Gustavo Eduardo Bauer garante que isso não o atrapalhará de desfrutar das vagas vivas. “Mesmo com poucos dias ensolarados, é sempre bom ter um lugar para sentar e admirar a cidade, conversar com amigos. Eu iria em um lugar que tivesse um parklet na frente, pois além de deixar Curitiba mais bonita, é uma alternativa sustentável”, conclui o jovem.
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Especial
Greve dos professores chega ao fim deixando consequências Ano letivo de 2015 terminará apenas em março de 2016, com aulas aos sábados Juliana Tauil Lara Fonte-Bôa Viviani Moura 3º período
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m 1988, o Paraná enfrentou uma das maiores greves de professores da história. De 05 de agosto a 20 de setembro, a educação estadual parou. Foram 46 dias corridos de paralisação, na tentativa de assegurar o piso salarial de três salários mínimos – direito conquistado na greve de 1986, durante o mandato de José Richa. Em 1989, ocorreu a maior greve da categoria até então: 96 dias, durante o governo de Alvaro Dias. Apesar de não ocorrerem avanços nas negociações, o peso simbólico da greve marcou um período de agitação na educação. Em 2015, mais uma vez os profissionais da educação paranaense se mobilizaram por reajuste salarial e melhores condições de trabalho e, desta vez, a paralisação durou mais de 70 dias, no total. A primeira etapa da greve deste ano iniciou no dia 09 de fevereiro e estendeu-se até 09 de maio, numa tentativa de diálogo com o governo. Quando suspensa, mais de um milhão de alunos retornaram à escola. Porém, no dia 13 de abril, houve outra paralisação – e só se encerrou no dia 09 de junho. Agora, com a reposição, parte dos alunos terá aulas até o dia 07 de março de 2016, de segunda-feira a sábado. O reajuste proposto pelo governo do Estado foi de 3,45%, em parcela única que será paga em outubro, e o plano de reajuste vai até 2018: em 2016 e 2017, receberão o reajuste da inflação acumulada em 2015 mais um ponto percentual;
em maio de 2017 e 2018, os profissionais receberão os aumentos relativos do primeiro quadrimestre de 2017 até a data-base de 2018. Em nota, a APP-Sindicato divulgou que segue defendendo o reajuste salarial de 8,17% ainda no ano de 2015. O sindicado dos professores afirma também que a proposta é prejudicial porque o reajuste não é garantido, uma vez que depende da disponibilidade financeira do governo. A classe luta pela melhoria das condições de trabalho, pela incorporação de auxílio-transporte ao salário e a não punição dos grevistas pelas faltas. Segundo a professora Gilmara Santos, que leciona português em um colégio estadual em Pinhais, a categoria enfrenta problemas com o governo há mais de um ano. “Desde o ano passado tivemos perdas consideráveis. Em 2014, alguns benefícios foram cortados e houve uma paralisação de uma semana. Nesse ano, todas as promessas de campanha do governo foram descumpridas.
cação do Paraná, incentiva os pais a estimularem seus filhos, bem como estabelecer horários para os estudos. De acordo com Silvana, a sociedade também deve lutar para que os impostos que pagam sejam direcionados à educação. A professora comenta ainda a insatisfação com a proposta do governo. “Acho que a greve não deveria ter sido suspensa, pelo menos até que o projeto tenha passado pela Assembleia Legislativa do Paraná”, comenta. Segundo o levantamento realizado pela Paraná Pesquisas, divulgada no dia 03 de março, a greve geral deste ano foi a maior em 25 anos e é também a que contou com a maior porcentagem de apoio popular: 90% dos paranaenses concordavam com a paralisação.
Reposição de aulas Em nota, a Secretaria de Estado da Educação (SEED) estabeleceu as diretrizes para a reposição de aulas nas escolas estaduais. Entre os critérios, estão o fim do ano letivo de 2015 até o dia 07 de março de 2016; as escolas podem realizar as aulas normalmente também aos sábados, desde que as atividades extracurriculares de professores não sejam afetadas. A SEED ainda determinou férias no mês de janeiro e proibiu o aumento da carga horária diária de cinco para seis aulas, alegando que “dessa forma só serão cumpridas as 800 horas e não os 200 dias letivos”. Juliana Tauil
No início de 2015, houve corte nas turmas, aglomerando até 50 alunos em sala. Não houve pagamento de fornecedores e por isso deixamos de receber alguns materiais, entre eles o lanche para as crianças. Houve também o corte em projetos e o confisco do Paranaprevidência”, explica. Para que os alunos não sejam ainda mais prejudicados, mesmo depois da volta às aulas, a professora Silvana Finger, do Instituto de Edu-
Apesar das aulas terem voltado, professores continuam inssatisfeitos
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Especial
Juliana Tauil
Primeiro dia de aula, depois de dois meses em greve Os professores que aderiram à greve precisarão repor todos os dias perdidos; já aqueles que não paralisaram as atividades não são obrigados a repor. O necessário apenas é o cumprimento da carga horária mínima de cada disciplina.
Paraná (UFPR), cuja prova ocorrerá na primeira semana de outubro, os estudantes recorreram a várias medidas para assimilar conteúdos – entre elas, o autodidatismo e as aulas de cursinhos preparatórios. Apesar dos esforços,
e professores não é desculpa para atrasos. “Gosto dos meus professores, mas não quero que eles percam mais tempo falando da greve, agora que tudo acabou, porque temos muito conteúdo atrasado”, finaliza.
“Gosto dos meus professores, mas não quero que eles percam mais tempo falando da greve, porque temos muito conteúdo atrasado” Vestibular ainda parece distante
Os alunos do terceiro ano do ensino médio de todo o Paraná enfrentaram problemas nos estudos por causa da greve. O fantasma do vestibular ainda assusta, já que a compreensão dos conteúdos agora é uma corrida contra o tempo. Na tentativa de salvar o ano e garantir a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorre nos dias 24 e 25 de outubro, e da Universidade Federal do
o fechamento do ano letivo é que garantirá uma matrícula na universidade. Nicole Stocco, que pretende prestar vestibular para biologia, afirma que o cursinho foi uma maneira de garantir o aprendizado. “Apesar de não ter aulas, não me senti muito prejudicada graças ao cursinho. O problema é se eu perdesse o ano letivo e consequentemente o vestibular”, comenta. Ela ainda conta que, agora que as aulas recomeçaram, a alegria em rever os colegas
Para aqueles que não tiveram acesso ao cursinho, a falta das aulas foi ainda mais prejudicial. Para evitar problemas com o desempenho dos alunos no vestibular, especialmente no Enem, professores de Foz do Iguaçu, por exemplo, ofereceram aulas de revisão ao ar livre. A iniciativa partiu da própria APP-Sindicato, que garante, inclusive, que as aulas serão repostas. A SEED divulgou que já solicitou à Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público (Apiesp) o adiamento dos vestibulares.
Além disso, propôs que as universidades estendessem o prazo de recolhimento da documentação dos calouros, que é obtida apenas após a conclusão do ensino médio.
Pais buscaram alternativas durante a greve A empregada doméstica Nilva da Silva conta que mudou sua rotina enquanto os professores estavam em greve. Ela deixava o filho com a sogra e trabalhava normalmente. Agora, com o retorno das aulas, terá que abrir mão da viagem de férias, já que o filho dela, Henrique, não terá folga. “Meu filho ficou bastante contente com o fim da paralisação e eu também. Ele tem muito dever de casa e vários trabalhos para entregar no mesmo dia, para compensar os dias sem aula. Só ficou ruim para mim, porque não posso viajar nas férias nem levar meu filho junto”, conta. Nilva explica ainda que, para não perder tempo, matriculou Henrique num curso de inglês durante a greve.
Consequências afetaram também as universidades federais As universidades federais também sofreram com a greve estadual. Os estudantes que participam do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) tiveram as atividades parcialmente paralisadas. “A gente ainda recebe a bolsa e participa de reuniões do programa, mas não pudemos ir para a sala de aula”, conta a estudante de letras Liria Drula. Por ser um projeto federal, o pagamento dos alunos bolsistas não é afetado, bem como as atividades teóricas realizadas pelos professores universitários. Porém, as tarefas práticas foram inviáveis, uma vez que o Pibid é realizado em escolas estaduais. A atividade está interrompida desde o retorno da paralisação, iniciada em 13 de abril deste ano, e deve recomeçar nas próximas semanas.
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Polícia
Marcas e códigos do crime Tatuagens realizadas em penitenciárias não são usadas apenas pelos presos para se comunicar. Muitas vezes ajudam o trabalho da polícia, facilitando a identificação de crimes Jhenifer Valemtin 3º período
A
s tatuagens estampadas nos corpos dos detentos das unidades prisionais podem muitas vezes revelar o histórico criminoso de cada preso, sendo usadas em muitos casos para estipular uma hierarquia dentro da prisão. Normalmente são feitas de forma precária, e os resultados são tatuagens amadoras e que muitos cidadãos podem identificar ao olhar nas ruas uma possível tatuagem realizada dentro de uma penitenciária. Entre os seus significados, estão as revelações de crimes cometidos e número de vítimas e desse modo ela funciona como um DNA dentro desse sistema. Para a psicóloga Ana Paulla Silva, tais formas de comunicação surgem em consequência do meio hostil em que eles vivem. “Na prisão os detentos ficam restritos de um convívio social, o seu contato com a família é pequeno e isso gera uma limitação à interação. Dentro de um espaço com normas e regras rígidas de funcionamento a ociosidade é grande e a criação e aprendizado de formas alternativas de comunicação é natural”, explica a psicóloga. É uma relação de poder, estipulada a partir da tatuagem, que cria uma hierarquia para saber quem manda e quem obedece, inclusive, fora da cadeia. “A coisa funciona assim: ninguém numa cadeia pode ser mais do que é. Lá a lei é feita da maneira em que eles conseguem estipular, pois como não podem adquirir bens para subir em uma hierarquia, eles utilizam de outros meios para isso. Se você modificar escondido
Livro “As liguagens do Crime” (2013)
essa tatuagem e eles descobrirem, é capaz que arranquem com bisturi, com gilete, com estilete, se não te matarem”, afirma o perito Jorge Luiz Werzbitzki. As tatuagens também podem ter um papel fundamental para uma investigação policial, facilitando o trabalho de identificação. “Para a inteligência da polícia é muito importante conhecer esta linguagem para se antecipar aos crimes, porque esta linguagem nunca vai acabar. O que acontece às vezes é eles (presos) modificarem o significado, para que os policiais se confundam. Mas, no final a gente descobre, sempre tem algum preso que fala, os famosos X9”, explicou Werzbitzki. O topo desta pirâmide normalmente é iniciada com os homicidas, chefes de quadrilha ou traficantes. “Geralmente é o crime organizado quem manda, e quem pertence ao crime organizado tem homicídio nas costas, tráfico de drogas. Então, são pessoas ‘barra pesada’, como eles dizem lá dentro”. O perito explicou que quem está mais abaixo na hierarquia limpa a cela, os corredores e os banheiros. Em contrapartida, aqueles que estão no topo mandam nos demais, inclusive, para assassinar um desafeto dentro da cadeia. As tatuagens são feitas com tinta esferográfica, nanquim, tinta de parede, tinta a óleo, e até mesmo com a tinta de sacolas plásticas. “Eles derretem sacolas plásticas para tirar a tinta e com a mesma agulha todo mundo se pica.
Tatuagem do Coringa representa homicídio Inclusive, pode até disseminar doenças”, explicou. Os agentes penitenciários, muitas vezes, não conseguem observar tudo o que ocorre dentro das celas e são nesses momentos que, segundo Werbitzki, as tatuagens são feitas. Especialmente nos criminosos condenados por estupro e pedofilia, que são crimes não tolerados na cadeia. De acordo com o perito, quem comete este tipo de delito não quer ser marcado, porém, eles são pegos à força. “Os presos também têm filhos, têm mulheres fora da cadeia. Então, é o tipo de crime que eles não aceitam”, complementou. Seis tipos de tatuagem podem identificar um estuprador: coração com uma
flecha, borboleta, a imagem da Nossa Senhora Aparecida – em tamanho grande nas costas, sereia e São Sebastião tatuados na coxa e também pontos azuis ou pretos. Pedófilos, “traidores” e aqueles que colaboram com a polícia também são tatuados à força. Neste caso, eles são marcados no braço com o desenho de uma serpente enrolada em uma faca. “Ele é um dedo-duro dento da prisão, então, precisa ser muito bem cuidado porque ele pode ser morto de uma hora para a outra. Então, por colaborar com a polícia, é lógico que está sempre correndo risco de lesões corporais e de morte”, finaliza o perito.
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Esportes
Golfe nas Olímpiadas Rio 2016 Considerado novamente um esporte olímpico, praticantes e admiradores esperam que a modalidade se popularize Ingrid Teles 3º período
A
s Olímpiadas de 2016 serão disputadas no Rio de Janeiro, a primeira cidade da América Latina a receber o evento que, nesta edição, contará com a participação especial das competições de golfe. A inclusão da modalidade foi aprovada em outubro de 2014 pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que incluiu também o rugby, totalizando 28 esportes. O presidente da Federação Paranaense e Catarinense de Golfe (FPCG), Daniel Neves,
A golfista paranaense juvenil Sophia Campos explica que os treinos devem ser mentais e físicos, pois os torneios possuem duração de dois ou três dias com uma média de quatro horas de jogo a cada dia. “Antes dos torneios, temos que cuidar com os tipos de exercícios que fazemos e também com o que comemos. Como outros esportes de alto rendimento, a preocupação com alimentação e preparação física são constantes”, afirma a atleta. Sobre as expectativas para uma possível participa-
Lazer e Juventude (SMELJ) prevê a realização de atividades esportivas com o golfe nas praças de Curitiba em datas especiais como aniversário de Curitiba e Dia das Crianças. Neves explica que o esporte deve ser adaptado para ser praticado nestes locais. “Assim como o futebol pode ser adaptado para jogar com bola de meia, o golfe também pode ser adaptado para jogar na rua. Nós temos esse modelo de adaptação e é esse projeto que queremos implementar”, explica o presidente da FPCG.
ção nas Olímpiadas, Sophia faz planos: “espero poder participar de uma próxima Olimpíada representando o Brasil pelo golfe. A de 2016 está muito perto, mas surgirão outras oportunidades”, conta.
Segundo Neves, a federação planeja também realizar parcerias com as prefeituras de Curitiba e São José dos Pinhais visando a inclusão e adaptação do esporte para escolas públicas e também particulares, bem como projetos de capacitação de professores de educação física para aplicação da modalidade.
“ O golfe também pode ser adaptado para jogar na rua” espera que com a exposição da modalidade nas Olímpiadas o esporte considerado elitizado se popularize e ganhe mais praticantes. “Para a Federação é interessante, pois chama atenção para um esporte que, no Brasil, é considerado de elite, um esporte mais direcionado, mais difícil de ter acesso. O que nós queremos aproveitar com a chegada das Olímpiadas é expor que o golfe não é um esporte difícil de ter acesso e é um esporte que pode ser disseminado em várias áreas da sociedade”, conta o presidente. Neves relembra também que a participação do golfe nas Olímpiadas não é algo inédito, a modalidade esteve presente nas competições há 112 anos, na edição que ocorreu no ano de 1904, em Saint Louis, nos Estados Unidos.
A classificação para as Olímpiadas na modalidade do golfe é feita através das melhores posições do ranking mundial. O país sede, no caso da edição de 2016, o Brasil, também poderá convidar dois jogadores. Neves conta que, dentre os jogadores profissionais do Brasil, atualmente um já está presente nesta faixa de possível classificação no ranking, mas que as colocações podem mudar ao decorrer do ano.
Popularização do esporte A FPCG em parceria com a Secretaria Municipal de Esporte,
Golfe para pessoas com deficiência intelectual No Paraná existe a prática da modalidade Golfe-7, aplicada para pessoas com deficiência intelectual e transtorno global de desenvolvimento. Roderlei Ferreira, coordenador responsável pela modalidade na SMELJ, conta que o Golfe-7 foi criado pela professora curitibana Fátima Alves da Cruz, que está tentando difundir a ideia para outros estados.
Golfe-7 Nível I (jogo de buraco) Para pessoas com pouco comprometimento cognitivo motor, que executam as atividades apenas com comando verbal e sem auxílio na execução. A partida consiste em uma equipe jogar contra a outra em volta de sete buracos, sendo disputada buraco a buraco. O objetivo do jogo é embocar primeiro a bola em cada buraco.
Nível II (jogo por tacada) Para pessoas comprometidas fisicamente, tais como paralisia cerebral ou outras dificuldades motoras, mas que realizam atividades com apoio verbal, necessitando ou não, de auxílio no início da prova. Consiste em completar os sete buracos com o menor número de tacadas.
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Esportes
Atirando na busca de medalhas Tiro esportivo é praticado desde o início do século XIX, e virou esporte olímpico em 1896 Adriana Barquilha 3º período
O
tiro esportivo é uma prática em que o atirador precisa de velocidade e precisão ao manusear uma arma de fogo ou de ar comprimido. Segundo a Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE), criada em 1906 e atualmente presidida por Durval Luz Balen, as primeiras competições aconteceram no início do século XIX, na Suécia. A Federação Internacional de Tiro Esportivo (ISSF), que possui 154 países filiados, foi criada em 1871, nos Estados Unidos, e o esporte virou olímpico em 1896, nos jogos de Atenas. No Brasil, segundo a CBTE, o esporte surgiu no século XIX, com a imigração europeia, principalmente alemães e italianos, com provas nas colônias, como por exemplo, a chamada Tiro ao Rei. “O primeiro campeão olímpico brasileiro foi Guilherme Paraense, em 1920, na prova de pistola de tiro rápido, nos Jogos Olímpicos em Antuérpia, na Bélgica”, conta o secretário geral da CBTE, José Marinho. No Brasil, a CBTE coordena as atividades de federações de tiro esportivo em 20 estados e nos estados onde ainda não foram criadas as federações são cadastrados clubes vinculados ao esporte. O ranking brasileiro é organizado de forma geral, sem distinção de provas e categorias. “Este ranking é usado para a convocação da seleção brasileira”, explica Marinho. O secretário diz que, para valorizar o atleta, a CBTE publica também um ranking por categoria de cada prova. “Não podemos esquecer que um juvenil difi-
cilmente tem a mesma técnica de um sênior, e por isso esse ranking paralelo”. Segundo a Federação Paranaense de Tiro Esportivo (FPRTE), o esporte é dividido em três categorias: pistola, carabina e tiro ao prato. Na primeira, a pistola é curta e só pode ser usada com uma mão; enquanto a carabina é longa e o disparo é de ar comprimido ou dióxido de carbono; já no tiro ao prato a distância entre o atirador e o alvo, fixo ou móvel, e o número de tiros, varia conforme a arma utilizada. “Todas as normas são criadas e modificadas pela ISSF, que atualmente tem sede na Alemanha”, explica o diretor técnico de prato da FPRTE, Marcos Olsen. O campeonato brasileiro começou no dia 29 de janeiro e segue até o dia 06 de dezembro, quando acontece a final, em Belo Horizonte, Minas Gerais. A etapa de Curitiba foi realizada entre os dias 19 e 22 de fevereiro. Já o campeonato paranaense, realizado pela FPRTE — que possui 21 clubes filiados —, iniciou em março, na cidade de Guarapuava, e terá sua final nos dias 02 e 03 de outubro, em Ponta Grossa. A classificação para os Jogos Olímpicos acontece por meio do campeonato nacional, e cada país tem direito a duas cotas por prova e cada atleta uma cota no geral. “Por exemplo, se o atleta conquista ouro em duas categorias, ele terá que escolher uma para participar, e se o país conquista três ouros, ele terá que escolher dois atletas para competir”, explica Marinho. De acor-
do com os dados da CBTE, os últimos representantes brasileiros olímpicos foram Felipe Fuzaro, Daniel Xavier, Ana Luiza Souza Lima e Ana Luiza Mello, nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, na Inglaterra. Para o pontagrossense Leone Trevisano, que pratica o esporte de modo amador há 14 anos, é importante as pessoas conhecerem o esporte para acabar com qualquer preconceito e receios. “É um esporte muito legal e ainda diminui o estresse, mas é bom a pessoa que for começar a praticar ter auto controle e entender que não é sair dando tiro para todo lado. Há regras e é necessário muito foco”, alerta o esportista. Trevisano explica ainda que para começar a praticar o esporte é necessário, além da vontade e responsabilidade, procurar um clube de tiro e ficar atento a todas as instruções. Neusa Scotti, diretora administrativa do Orion Clube de Tiro, localizado no Rebouças, em Curitiba, explica que para ingressar na prática do tiro é necessário ter 18 anos completos, ou no caso de menores, uma autorização judicial. Além disso é preciso realizar um cadastro na secretaria do clube, e assinar o termo de responsabilidade, válido por um ano. “É preciso cumprir todas as normas, inclusive o uso de material de proteção, já que é um esporte que passa a ser perigoso se praticado por pessoas irresponsáveis”, alerta Neusa.
Premiação Criado em 1999 pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o prêmio Brasil Olímpico é o símbolo máximo do mérito aos atletas brasileiros, em forma de reconhecimento aos que mais se destacaram em competições disputadas no Brasil e no mundo em um determinado ano. A escolha dos premiados é feita por meio de votação de um júri selecionado e um outro popular. Atletas que ganharam o prêmio no Tiro Esportivo nos último anos: 2006 - Renato Araújo Portela; 2007 - Júlio Almeida; 2008 - Júlio Almeida; 2009 - Ana Luiza Ferrão; 2010 - Felipe Wu; 2011 - Ana Luiza Ferrão; 2012 - Roberto Schmits; 2013 - Cassio Rippel; 2014 - Rodrigo Bastos.
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Cultura
Pitty volta a se apresentar em Curitiba Depois de cinco anos longe da capital paranaense, a cantora fez a alegria dos fãs Daniela Tank Borsuk 3º período
F
altam palavras para descrever a emoção sentida pelo público que lotou o Curitiba Master Hall na noite de sábado, dia 16 de maio. Completando um ano da turnê “Sete Vidas” pelo Brasil, Pitty e sua banda voltaram à capital paranaense, onde não se apresentavam desde 2010. De lá para cá Pitty passou por turbulências em sua carreira e até mesmo na vida pessoal. Fez um projeto paralelo com seu guitarrista, período em que a banda tirou férias, ficou doente e o grupo trocou de baixista: no lugar de Joe, quem comanda o baixo agora é Guilherme Almeida. Seu novo álbum traz melodias pesadas e com letras que retratam essa nova fase de recomeços. A ansiedade dos que prestigiaram o show era tanta, que alguns fãs preferiram chegar logo cedo para garantir um lugar o mais próximo possível de seus ídolos. Paloma Garcel, 18 anos, foi a primeira a chegar para a fila. A estudante praticamente abriu o local, estando em frente ao portão às 8h da manhã. “Cresci ouvindo a Pitty, mas é a primeira vez que consigo assistir ao show. Para mim foi super gratificante e toda essa espera valeu a pena“, relatou Paloma, encantada pela cantora tê-la parabenizada pelo seu aniversário durante o evento, após o público puxar um “parabéns para você”. A abertura dos portões ocorreu às 21h, e o show teve início no horário previsto, à meia noite. Quando a banda já estava em seus lugares, Pitty apareceu primeiramente em forma de holograma, relatan-
do aos presentes o significado da música que abriu o show e que dá nome ao álbum “Sete Vidas”. Já no palco, a canção foi cantada em peso pelo público, que também tinha as novas músicas como “Deixa ela entrar”, “Olho calmo” e “Boca’ aberta” na ponta da língua. O single “Serpente”,
diversos instrumentos como guitarra e pandeiro, fez brincadeiras com a plateia que fez questão de puxar o já conhecido “gostosa”, coro que vem fazendo parte de suas apresentações, interagiu com a banda e agradeceu o carinho do público, que espera que Curitiba seja sempre palco de
Roberta de Oliveira, 22 anos, foi a única fã que teve acesso ao camarim da artista. “Foi um sonho realizado. Ela foi extremamente atenciosa, demos risada e abracei a Pitty. Espero poder ter a chance de encontrá-la de novo em outras oportunidades”, disse Roberta, que conseguiu ver seu
contou com uma surpresa do Fã Clube Pitty Curitiba: sempre que chegava ao refrão, diversos fãs erguiam e balançavam cartazes com o mesmo escrito.
seus shows. “Infelizmente foram poucos shows na cidade, preparamos balões e cartazes para demonstrar o quanto ela significa para nós. Fora essa paixão de fã, vejo a Pitty como uma cantora completa. Ela representa muito bem a música brasileira e tenho orgulho disso”, conta Luziane Aparecida de Oliveira, presidente do fã clube da roqueira baiana em Curitiba.
ídolo graças a uma parceria entre o fã clube e a produção do evento.
“Ela representa muito bem a música brasileira e tenho orgulho disso”
Canções como “Anacrônico”, “Olhos de robô”, “Semana que vem”, “Teto de vidro”, “Memórias”, “Equalize” e “Máscara” também foram interpretadas pela cantora, que citou durante o show que foram músicas importantes em sua carreira e que apesar de antigas, cabem bem nos dias de hoje. “A próxima música fala sobre querer viver em um mundo onde todo mundo se respeita, onde todo mundo é igual”, disse a artista, logo antes de cantar a faixa sucesso de 2003, “Máscara”, levando ao delírio o público presente. Os fãs ainda puderam fazer parte de uma interpretação diferente, quando a cantora pediu que todos batessem palmas em sincronia, cantando num solo único a música “Be My Baby” da banda Ronettes. Durante 1h30 de uma apresentação repleta de efeitos técnicos e performances, Pitty dançou e cantou, tocou
Com o show de Curitiba, Pitty encerra sua passagem pelo Paraná, que contou também com apresentações nas cidades de União da Vitória e Cascavel.
Daniela Tank Bosruk
Pitty se apresentou com repertório que mesclou sucessos e novidades
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Cultura
Nhundiaquara ao ritmo do jazz Morretes, a cidade que abriga o Rio Nhundiaquara, recebeu um festival de jazz que pretende marcar a sua história Gabriela Marques da Cunha Joana Sabbag 3►º período
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os dias 23 e 24 de maio a região litorânea do Paraná, mais precisamente, a charmosa cidade de Morretes, recebeu a primeira edição do Nhundiaquara Jazz Festival. O evento contou com 16 apresentações, entre músicos internacionais, nacionais e regionais, divididos em dois palcos montados no setor histórico da cidade, o palco do Largo e o palco autoral, formado por um coreto. Todo o espetáculo foi pensado para realçar as particularidades do local. Desde o nome “Nhundiaquara”, que é o mesmo nome do rio que corta a cidade, até a divulgação do
dentro da cidade. “Todo evento que traz o pessoal aqui é muito bom, as vendas aumentam mais de 70%”, afirma. O objetivo principal do festival foi aproximar o povo paranaense para mesclar diversas experiências musicais sobre o mesmo ritmo: o jazz. Por esse motivo, houve tanto apresentações cantadas, resultado da junção do jazz com a bossa nova, quanto unicamente instrumentais, conhecidas como jazz americano. Segundo Ana Cláudia Decker, produtora do evento, a ideia de fazer esse espetáculo veio, há três anos, de Luiz Alceu
edições nos próximos anos. “Para mim está sendo um sucesso, muito provavelmente a segunda edição vai sair, porque o pessoal da cidade se interessou”, declara. Outra pessoa que ficou muito satisfeita com as apresentações foi Carmem Maria dos Santos, comerciante e proprietária de três lojas morretenses. Carmem relatou ser apaixonada por sua cidade e que, por mais que receba propostas, não pretende sair de lá. Por esses fatores, a comerciante ficou muito contente com a vinda do festival. “O resultado do festival foi muito melhor do que qualquer pessoa hoje em Morretes esperava. Foi feito um trabalho muito bem organizado, então a tendência de dar certo é grande. Foi excelente, Morretes ganhou mais esse nome: jazz”, comentou a paranaense.
“Todo evento que traz o pessoal aqui é muito bom, as vendas aumentam mais de 70%” evento, decoração, produção de lembranças personalizadas do festival entre outros aspectos. Além disso, segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura de Morretes, a festa trouxe aproximadamente 25 mil pessoas de diversos lugares do Brasil e do mundo, as quais fomentaram a economia do pequeno município de pouco mais de 15 mil habitantes. Para Élio de Moura Lima, comerciante que há 11 anos tem a loja Brilho da Lua no centro de Morretes, o festival recebeu pessoas diferentes que consumiram bastante
(diretor do festival), que era dono do Hermes Bar, em Curitiba. Por já ter sido produtor cultural, Alceu percebeu a falta de atrações jazzísticas nas cidades antigas do litoral paranaense. “O interesse dele era misturar o pessoal do Brasil e do mundo com o pessoal do Paraná. As atrações foram escolhidas a partir de contatos que ele já tinha e de algumas novas sugestões que vieram com anos de pesquisa”, destaca. Além disso, devido ao evento ter boa adesão do público, Ana acredita que poderão acontecer outras
O evento, que era gratuito, teve um público muito diversificado, formado por pessoas de diferentes idades e estilos. A programação do primeiro dia, sábado (23), teve início às 14h e terminou às 20h, tendo em seu repertório nomes do Rio de Janeiro, São Paulo e, até mesmo, da Alemanha. Já no domingo (24), segundo dia do evento, as apresentações tiveram início às 13h e acabaram às 19h, contando com a presença de cantores do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Paranaguá, além de nomes já conhecidos regionalmente, como o Grupo Fato.
Joana Sabbag
Feira gastronômica teve destaque pela variedade de produtos Joana Sabbag
A apresentação do Trio D Favetti levou muitos à dança Joana Sabbag
Maioria do público era de Curitiba e região
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Cultura
Joana Sabbag
O jazz Iniciado em New Orleans, Luisiana, no sul
Em suas várias formas, esse estilo musical
dos Estados Unidos, o jazz é uma manifes-
permite o uso de qualquer instrumento, po-
tação artístico-musical que, primeiramente,
rém, tem como mais importantes os metais,
tinha como espaço de desenvolvimento uma
as palhetas e as baterias.
comunidade negra de cultura extremamente popular. Esse desenvolvimento se deu devido
Os maiores nomes do jazz são muito conhe-
a uma mistura de inúmeras tradições religio-
cidos no mundo todo como, por exemplo,
sas, principalmente a afro-americana.
Frank Sinatra, Miles Davis e Ray Charles.
Um dos conjuntos musicais que se apresentaram no festival, foi o Trio D Favetti. O grupo, que é formado por três irmãos, é de família italiana e teve origem na cidade de Pato Branco, no Sudoeste do Paraná. Um dos integrantes do conjunto, Guego Favetti, explicou o porquê dos diver-
localidades envolvidas, ou não, com a música, o mais importante foi o que representou para todos os morretenses. De acordo com Tamires de Alcântara, funcionária de um café-pousada que lotou de um dia para o outro no fim de semana, a cidade não estava recebendo eventos de grande
do segundo dia de apresentações. Além das pousadas e hotéis lotados, os restaurantes, cafés e barraquinhas receberam um excelente público. O evento também proporcionou uma feira gastronômica oferecendo diversas opções alimentícias, as quais iam de comida
sos estilos musicais tocados durante seu show. “A gente tem várias inspirações, como o Chico Buarque, músicas caipiras de raiz, a raiz do Brasil. Nós defendemos muito a cultura brasileira”. Além disso, o músico declara ter ficado muito contente com o convite para participar do festival e afirmou que voltaria com muito prazer para uma possível segunda edição.
porte, era como se o município estivesse abandonado. “O festival está sendo muito bom porque a cidade estava bem parada ultimamente, fazia tempo que não se via em um final de semana a cidade tão cheia”, declara.
japonesa até caipirinha orgânica, a todos os presentes. Para Jhenifer Cristine, que trabalha com o ramo alimentício, esse fator não foi tão benéfico. “Os caminhões de comida e coisas que vêm de Curitiba tiram o ganho de quem trabalha aqui. Todos têm direito de estarem no festival, mas isso deveria ser repensado, porque é feito aqui para ajudar a cidade e quando vem caminhão de comida, a gente acaba sem vender e eles vendem porque são novidades”, conclui.
“Fazia tempo que não se via em um final de semana a cidade tão cheia”
Apesar de todo o contato cultural dos nativos e regionalistas com pessoas de outras
O clima quente veio ao encontro à receptividade dos moradores do local que receberam os turistas calorosamente. Resultado disso foi a permanência do público até tarde da noite no primeiro dia e terem esperado até o final
Grupo Fato abriu as apresentações do último dia do evento Joana Sabbag
Vários produtos foram feitos personalizados para o festival Gabriela Marques da Cunha
A guitarra foi um dos instrumentos mais presentes nas apresentações Gabriela Marques da Cunha
Trio D Favetti animou o público tocando diversos ritmos brasileiros
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Literário
O perigo por trás do anonimato na rede Leia sobre a história da garota que teve montagem de fotos íntimas divulgadas na internet Manuella Hoepfner 3º período
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e acordo com o dicionário Houaiss, internet é uma rede de computadores dispersos por todo o planeta que trocam dados e mensagens utilizando um protocolo comum. Ela surgiu no final dos anos 1960, em plena Guerra Fria, por solicitação do Departamento de Defesa norte-americano, que queria dispor de um conjunto de comunicação militar entre seus diferentes centros. Uma rede que fosse capaz de resistir a uma destruição parcial, provocada, por exemplo, por um ataque nuclear. Contudo, com o tempo se tornou muito mais do que isso. Hoje em dia, a internet tem a função de conectar as pessoas e aproximá-las, inovando o quesito de tempo e distância. Porém, como tudo na vida, possui seus pontos negativos. Uma das características da ferramenta que mais traz problemas é o anonimato, permitindo que indivíduos de má índole se aproveitem da situação. Obviamente esse anonimato é relativo porque a polícia pode, utilizando diversos artifícios, descobrir a identidade da pessoa por trás da tela. Entretanto, a ausência de leis para crimes virtuais torna a operação muito complicada. Jaqueline Silva (nome fictício), 21 anos e estudante de direito, é uma prova disso. Há quatro anos, a menina teve montagens de fotos íntimas espalhadas em diversas redes sociais por meio de perfis falsos e sofreu cyberbullying (termo específico para ações de bullying no espaço virtual). Apesar de ter suspeitas de
Manuella Hoepfner
quem poderia ter feito, ela conta que nunca teve justiça. - Já faz muito tempo, eu sei, mas quem quer que tenha feito isso conseguiu estragar minha vida, contou ela depois de um longo bate-papo para que eu pudesse entender sua história. A jovem afirmou que encontrou muitas dificuldades logo após o ocorrido. Mesmo que tivesse apenas 17 anos, ela sofreu um preconceito muito grande e teve suas redes sociais invadidas por críticas, que não eram nada gentis. – As pessoas me chamavam de termos horríveis e de baixo calão no Facebook, no Twitter e na escola. Eu era inocente e não tinha feito nada de errado, mas ninguém ligava, relembra a moça com a voz carregada de emoção. Jaqueline saiu da cidade por dois anos após o final do ano letivo e foi passar algum tempo na casa dos avós, no interior do Paraná. Segundo ela, foram eles que a ajudaram a se recompor do incidente e que deram forças para seguir em frente. – Eles foram meu apoio emocional naquele momento. Eles me mostraram que o melhor que eu podia fazer para superar e esquecer era perdoar quem quer que tenha feito aquilo. Mas não acho que eu vá conseguir esquecer algum dia. Após o episódio, Jaqueline admitiu que, além de se mudar, também se desconectou de praticamente todas as redes sociais, pois elas tinham se
Vítima recebendo ameaça pelo celular provado tóxicas. Quando me mostrei surpresa e perguntei se ela não sentiu falta, ela simplesmente deu de ombros e afirmou que sua segurança vinha em primeiro lugar. Hoje ela tem apenas uma conta no WhatsApp e no Facebook (privada) e usa ambas com bastante cautela. Após o final da entrevista formal, enquanto terminávamos de pagar nossa conta no restaurante, perguntei se ela acreditava que ser exposta daquele jeito tinha servido de aprendizado e recebi uma resposta positiva. Sua escolha de carreira, sua percepção de
mundo e sua personalidade mudaram completamente, mas ela não se arrepende de nada. Jaqueline contou de maneira descontraída que acredita ter se tornado uma pessoa melhor e que, se pudesse escolher, passaria por tudo aquilo novamente. – Não foi fácil, admito. Mas eu aprendi muito com aquela situação. Não acho que as coisas aconteçam por acaso e agradeço por ter tido uma oportunidade de crescimento que pode vir a inspirar outras pessoas. Só lamento que casos como o meu sejam tão menosprezados.