Comunicare 302

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Exame traduzido em Libras Enem já contava com tradução de um intérprete, agora estará mais acessível

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Alface, tomate e beterraba Agricultura familiar cresce e atende a um mercado que busca por comida saudável

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Futuro da Catalunha em jogo Plesbiscito decide se região se torna independente da Espanha

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Curitiba, 06 de Outubro de 2017 - Ano 20 - Número 302- Curso de Jornalismo da PUCPR

O jornalismo da PUCPR no papel da notícia

Cidade geek Geek city Cidade sedia evento de cosplays, cultura pop e startups Curitiba hosts cosplays, pop culture and startups events Páginas 14 e 15


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Coluna

De matrimônios inusitados a arte ainda vive P

ennywise está de volta às telas de cinema e traz consigo uma satisfação artística que há muito o gênero do horror não oferecia. O palhaço perverso de Stephen King foi convertido em produto audiovisual pela primeira vez em 1990, quando It: Uma Obra-Prima do Medo apresentou aos espectadores a bizarra criatura circense capaz de fazer criancinhas desaparecerem. 27 anos mais tarde, o diretor Andy Muschietti faz uma releitura da obra e dá vida a It: A Coisa, atingindo o recorde de maior sucesso de bilheteria da história dos filmes de terror. Muito mais do que um longa-metragem de qualidade, o It de Muschietti deve ser percebido como o resultado bem-sucedido da junção de duas artes: o cinema e a literatura. Uma questão até então não verbalizada acendeu em

Comunitiras

minha cabeça quando me deparei com este caso de sucesso recente: seria o terror o gênero cinematográfico mais propenso a se beneficiar da literatura? O argumento tem razões para ser considerado sensato. Dos 10 thrillers mais bem avaliados pelo IMDB, oito foram livros primeiro. Psicose, O Silêncio dos Inocentes, O Bebê de Rosemary. E o que dizer do assombroso trabalho que reuniu Stephen King e Stanley Kubrick durante as gravações de O Iluminado? Não é difícil identificar o motivo para tantos casamentos florescentes entre obras literárias e filmes de horror. No gênero do susto, a criação dos personagens e do enredo frequentemente fica em segundo plano. É a busca pelo sobressalto do espectador que comanda o roteiro. Este vício, apesar de compreensível, ra-

ramente rende boas histórias, o que justifica a qualidade infinitamente superior dos filmes que optam por emprestar ideias muitas vezes ainda escondidas em bibliotecas. Para os demais gêneros, o processo se mostra menos eficiente. É lógico que existem bons dramas e romances baseados em ficções, assim como é lógico que vários excelentes filmes de terror são construídos em cima de roteiros completamente originais. Faço aqui uma análise generalista e sem intenção de impor verdades absolutas. Mais ainda do que isso: gostaria de congratular os diretores de cinema que enxergam nos trabalhos de outros artistas o potencial de agregar aos seus próprios. Muitas obras-primas não seriam donas de tanta sofisticação narrativa se não fosse por este encontro da arte com a arte.

Expediente Edição 302 - 2017 O Comunicare é o jornal laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR jornalcomunicare.pucpr@gmail.com http://www.portalcomunicare.com.br Pontifícia Universidade Católica do Paraná R. Imaculada Conceição, 1115 - Prado Velho - Curitiba - PR

REITOR Waldemiro Gremski DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES

COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO Rafael Andrade MONITORIA Bruno Talevi

Eliane C. Francisco Maffezzolli

4º Período

COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO

FUNDADOR DO JORNAL

Julius Nunes COORDENADOR EDITORIAL Julius Nunes COORDENADOR ES DE REDAÇÃO /JORNALISTA S RESPONSÁVEIS

Zanei Ramos Barcellos CHARGE Isabella Beatriz Fernandes 5º Período

FOTO DA CAPA Damaris Pedro 3º Período

Miguel Manasses (DRT-PR 5855) Renan Colombo (DRT-PR 5818)

PAUTEIROS

EDITORES

Anelise Wickert

Camila Dariva

Claudia Fernandes

3º Período

3º Período

Daniel Moura

Fabiane Coelho

3º Período

3º Período

Flávia Farhat

Larissa Miglioli

3º Período

3º Período

Guilherme Levorato

Luiza Remez

2º Período

2º Período

Jéssica Nunes

Gabriel Dittert

3º Período

3º Período

Lamartine Lima

Rita Vidal

3º Período

Paula Moran 3º Período

Thais Porsch 2º Período

2º Período

2º Período

Thaís Mota 3º Período

Thiago Rasera 3º Período

Thaís Porsch 2º Período


Curitiba, 06 de Outubro de 2017

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Literário

Nibarudo Shiruba o papel da espera

Luiz Mourão

O rush dourado de crepúsculo e lotado de carros é palco para um trabalhador invisível Luiz Mourão 5º Período

O papel é solução para o futuro dos filhos e a sobrevivência pessoal

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iluminação branca vinda dos postes complementa as remanescentes faixas de luz solar que ainda percorrem o crepúsculo curitibano. A mescla entre o brilho artificial e o natural percorre a longa faixa formada pela canaleta de ônibus, que corta uma ainda movimentada avenida. O cenário dinâmico é ilustrado pelo vai e vem apressado. Seja por parte dos que buscam uma última compra no comércio local, seja mais ainda, pelos que já cumpriram sua carga horária diária e rumam a suas casas. Em meio ao rush da hora, sentado sob a marquise, um cidadão aguarda. O seu carrinho, estacionado na calçada junto ao canteiro de flores recém-construído, é de madeira. Bem diferente dos motorizados que ainda ocupam a maioria das vagas da rua. O homem, de olhar distante e paciente, chama-se Nivaldo Silva e está por cumprir a sua última obrigação de um dia atarefado. Ele começa cedo, por volta das 7 horas não muito longe dali, no Colégio Estadual João Turim, onde presta serviços gerais e

de faxina. À tarde, também ocupa-se de limpeza. Recolhe papelão das lojas da região do Água Verde, bairro nobre da cidade. “Há dois anos que eu faço coleta, antes eu ficava só na escola. Mas como era só meio período e quatro filhos pra sustentar, tive que me virar”, relatou resignado. Nem Edivaldo, nem Genivaldo, nem Ariana, nem Ariele. Os seus quatro filhos estudam e vislumbram um futuro universitário. É sua sobrinha que, junto ao filho mais velho, Iago, acompanha Nivaldo. “Esse vai fazer 3 anos, mês que vem, o outro tem 4 meses’’, conta Gabriela, que não pensa em voltar a estudar porque falta vaga na creche. Sua tia, Marcia, mulher de Nivaldo, só aceita cuidar do mais novo. “Esse daqui é terrível”, admite com um riso encabulado. Ela conta que não vê o pai de Iago há dois anos. “Sumiu e eu nunca mais vi, se eu encontrasse ele, também nem olhava na cara”. Sobre o fujão, sem rancor, mas um pouco inconformada, contou que “ele até trabalhava, vinha junto catar papel,

mas agora, também, estamos bem assim”, concluiu. Já passa das 18h30 e falta meia hora para a unidade das Lojas Americanas liberar o papelão que lhe falta. Enquanto espera, como todos os dias das 18 às 19 horas, observa o movimento enquanto é provocado por Iago. A baixa temperatura da calçada de pedras portuguesas é amenizada por um cobertor de zebra, que funde-se ao passeio devido à similaridade do desenho e cor. Sentado sobre o forro improvisado, Nivaldo não esconde as esperanças ao falar o que espera do futuro dos filhos. “Médicos, ou algo assim, né?” Para ele, ao contrário, não prevê muitas mudanças. Com 44 anos a vida está boa assim como está. Ele diz não importar-se muito com o que fará daqui pra frente. “Pode ser catando papel mesmo, eu gosto assim. O importante é estar com saúde’’, garante. Vive assim, e de acordo com ele, “muito feliz”, desde que recorda-se. Junto a seus sete irmãos, diz ter sido “muito bem criado pelo pai”, já que sua mãe morreu há muito tempo.

O catador de papel contou, orgulhoso, sobre seu irmão Celso, que aproveitou sua ascendência nipônica e migrou para a terra do sol nascente. “A minha mãe era japonesa, o nome dela era Tyoko Watannabe, aí meu irmão foi trabalhar lá na Bosch.” As origens, não têm vontade de resgatar. Nem sequer interessou-se pelo significado da palavra arigatô, que disse já ter ouvido vez ou outra. Os três quilômetros que o separam do conforto do seu lar, na favela do Parolin, parecem mais dignos de sua atenção. Falou com muito mais animação da proximidade entre seu trabalho e sua casa do que do momento em que quase seguiu os passos do seu irmão. “Eu quase fui também, mas aí desisti”, afirmou com indiferença. No Japão, certamente seria, como Celso, um dos poucos Silvas. No Brasil é mais um deles, que carrega consigo o orgulho da simplicidade, uma família que não podia ter dado mais certo e, é claro, um carrinho, cheio de papelão.


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Cidades

Placas de rua ganham QR codes e cores

Franz Amorim

Mais de 10 bairros de Curitiba já possuem, além da identificação, informação biográfica Anelise Wickert Fernanda Xavier Franz Fleischfresser 2º período Cada placa terá uma faixa na cor da respectiva regional e publicidade maior

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oi aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal de Curitiba, no dia 6 de setembro, o projeto que determina a implantação de biografias e QR Code nas placas da rua. Além disso, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) pretende identificar as regionais a que pertencem as vias e amplificar o espaço publicitário nas placas de todas as ruas. O projeto de lei é de autoria dos vereadores Cristiano Santos (PV) e do Helio Wirbiski (PPS). Como exemplo de inovação, Wirbiski cita a cidade do Rio de Janeiro, que já possui a tecnologia do QR Code implantada. O código é uma releitura bidimensional do código de barras, presente em todos os produtos comercializados em grandes redes de supermercados. Um telefone celular, com câmera fotográfica acoplada, capta a imagem e um aplicativo decodifica a mensagem, podendo revelar uma frase ou um link para a internet. “É uma tecnologia gratuita para o usuário, bastante ino-

vadora. Segundo a Prefeitura, algumas estações de sustentabilidade já usam o código QR, logo a ideia é ampliar”. De acordo com Santos, o presente projeto visa o caráter informativo e educativo, pois, a população e os turistas que visitam a cidade terão acesso às informações que abordam a cultura geral e preservam a memória da cidade. “A biografia inscrita nas placas engrandece a homenagem oferecida aos cidadãos ilustres. Os homenageados dedicaram, em muitas vezes, uma vida de lutas ao trabalho, ou a uma causa, é justo que seus feitos sejam vistos e conhecidos por todos”. Ainda de acordo com o vereador, o projeto não traz prejuízo nenhum a cidade. ”Trata-se simplesmente de uma maneira de levar mais história e cultura para todos”.

Cores nas ruas Outro projeto que também envolve a sinalização da cidade está sendo implantado pela Prefeitura, que realizou uma licitação para renovação das

placas de rua da cidade, com o intuito de conservação, manutenção e limpeza. A novidade no projeto, é que as placas terão um espaço reservado para propagandas e serão divididas por cores de acordo com a regional (Rua da Cidadania) a que pertentem as ruas. Cada placa terá uma faixa na cor da respectiva regional e publicidade maior. Um questionamento sobre o projeto da Prefeitura é a poluição visual que o espaço publicitário logo acima das placas poderá causar, atrapalhando motoristas e pedestres que circulam pelas vias. Em resposta a esta questão, a assessoria de imprensa da URBS, que é responsável pela urbanização da cidade, garante que o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), órgão responsável pela sinalização e tamanho de placas, analisou e autorizou a implantação das propagandas perante às medidas calculadas e permitidas. Analisando do ponto de vista urbanístico, o professor e

arquiteto Juliano Geraldi diz que o primeiro objetivo da placa de rua é mostrar para o motorista e para as pessoas que estão passando por ali, qual via é aquela, contudo, o professor entende que as propagandas podem ser prejudiciais no ponto de vista de visualização. “A publicidade é uma forma de conseguir dinheiro para construir placas novas. A maioria dos pontos de ônibus de Curitiba foi feita desse jeito. Mas se o tamanho da propaganda for muito grande, atrapalhará o motorista. A mudança de cor das placas e a biografia é um ganho muito secundário, podendo ser mais vantajosa para o planejador do que para a pessoa que procura se localizar”. O orçamento final do projeto ainda está em fase de levantamento e, segundo a assessoria de imprensa da URBS, a implantação das placas não necessitará de recursos públicos envolvidos, visto que os custos dos serviços serão pagos por meio dos concessionários que poderão expor nos espaços publicitários.


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Enem será traduzido em libras por meio de vídeo prova Novo método do exame promete inclusão e acessibilidade aos candidatos surdos Izabelly Lira 3º período

O

Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), será traduzido em Língua Brasileira de Sinais (Libras) por meio de uma vídeo prova, com o objetivo de apresentar maior acessibilidade aos candidatos surdos. Esse projeto terá início na edição deste ano do exame. Anteriormente, o único recurso disponibilizado para a comunidade surda no Enem era o uso de um intérprete bilíngue – fluente em língua portuguesa e em libras. De acordo com o edital do projeto, criado pelo Inep, o novo recurso faz parte de uma política recente de inclusão proposta pelo instituto. Por estar em sua primeira edição, o método está sendo visualizado em ‘caráter experimental’, ainda segundo o comunicado da entidade. O candidato surdo que quiser participar da nova aplicação, deverá manifestar interesse no ato da inscrição. Segundo a professora de ensino médio Lindamir de Oliveira, do Colégio Estadual para Surdos Alcindo Fanaya Junior, localizado no Vila Izabel, a comunidade surda lutou durante anos para obter a vídeo prova no Enem: “eles vêm de uma batalha muito grande, porque a língua de sinais é visual. Quando um surdo pega uma poesia, o texto está em língua portuguesa e ele não entende porque é a segunda língua dele”. A professora afirma que os alunos vibraram com a conquista, e que a equipe pedagógica da escola na qual trabalha

Cidades

Paula Moran

Alunos têm aulas preparatórias de redação para o Enem em libras está ansiosa com a aplicação do novo método no Enem. O aluno Pedro Ferreira é surdo e está no terceiro ano do ensino médio. Ele vai prestar o Enem pela segunda vez e afirma achar interessante este novo método, pois reconhece a dificuldade da comunidade surda. “Poder olhar em língua de sinais e ter o retorno ali com a prova física vai ser bem legal. Já fiz outras provas do Enem e foi muito difícil, pois temos que formar o sinal para responder”.

Ainda existe a dificuldade O pedagogo Israel Santos trabalhou como intérprete bilíngue em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, nas últimas cinco edições do Enem. Ele explica que os deficientes auditivos não tinham possibilidade de obter sucesso no exame. “Os surdos reprovam absurdamente. Não têm chance nenhuma de galgar uma universidade.

Têm que tentar cota. Mesmo os surdos mais inteligentes, se forem fazer em português, não têm chance nenhuma”. Outra dificuldade, de acordo com o intérprete, é a ambiguidade da língua portuguesa. Ele relata que, em uma das edições do Enem na qual trabalhou, um dos candidatos surdos entendeu errado

já vai fazer o sinal de casa. Ele não vai entender que é casa de casar”. Segundo Santos, o novo método que o Enem passará a usar ainda causa dúvidas. A quantidade de vezes que as questões serão repetidas ao surdo e a qualidade da tradução preocupam o pedagogo. Ainda assim, ele afirma que o

“Os surdos reprovam absurdamente” o contexto de uma das palavras no enunciado e errou a questão. O pedagogo afirma, ainda, que isto vem do ensino infantil: “a gente está com o aluno pequeno ali. Ele aprende a palavra casa. A gente coloca a palavra casa e a figura de uma casa. Mas daí tem um texto que fala assim: Você casa? Ele

novo recurso é uma conquista para a comunidade surda, e pode ser aprimorado nas próximas edições do Enem. Procurada pela equipe de reportagem do Comunicare, a assessoria de imprensa do Inep não quis ceder entrevista sobre a vídeo prova.


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Cidades

Mulheres buscam proteção nas artes marciais Luiza Remez

A prática de aulas de defesa pessoal faz com que o público feminino se sinta mais seguro Beatriz Tedesco Luiza Remez 2º período

Julia buscou defesa pessoal no jiu-jitsu.

A

falta de segurança e o medo causou em muitas mulheres a vontade de aprender técnicas para autodefesa em situações de risco. Por conta disso, a presença feminina aumentou significativamente nas aulas de artes marciais em muitas academias de Curitiba. Para se ter uma ideia desse crescimento, na Academia Bluefit, no Batel, 50% dos alunos de muay thai e jiu-jitsu são mulheres e na UDL, no Juvevê, elas são a maioria. Segundo o ex-atleta e consultor esportivo da Academia Hype, no Juvevê, Nelson Ribeiro Borges, a prática de artes marciais visa à disciplina, e pessoas que praticam lutas liberam muita energia, o que contribui para uma maior concentração e tranquilidade na hora de realizar os movimentos.

A musicista Julia Saggin diz que a decisão de começar no jiu-jitsu se deu a partir da junção de dois fatores: a necessidade da prática de uma atividade física e o desejo de começar uma luta para defesa pessoal. “Eu sinto que desde que comecei o esporte eu fiquei mais forte e agora tenho mais noção do meu corpo, quais são os pontos fortes e o que eu posso fazer com ele”. Ela afirma que começou a praticar a arte marcial há um ano e já se sente muito mais segura e tranquila para andar na cidade. O gosto pela defesa pessoal cresceu e com ele a vontade de aprender novas técnicas, o que levou Julia a conhecer o trabalho do grupo de wen-do de Curitiba. O wen-do é uma técnica de autodefesa criada no Canadá a partir dos anos 60 e difundida também na Europa. No Brasil, o primeiro grupo surgiu em 2001 e junto com

as técnicas, promovia oficinas e discussões sobre a questão da violência contra a mulher. Em Curitiba, o grupo iniciou suas atividades em 2006 e, desde então, realiza oficinas de iniciação para introduzir técnicas básicas e grupo de treinos, que se reúne regularmente para praticar técnicas mais complexas. O objetivo do wen-do é ensinar às mulheres prevenção e defesa pessoal contra diferentes formas de violência, reunindo métodos que podem ser utilizados independente de força ou condicionamento físico. Paula Harada, que participou das oficinas do wen-do, conta que já passou por situações de assédio e violência que foram superadas com o uso das técnicas que aprendeu. Mesmo assim, diz ela, que não se sente mais segura. “Segurança não é uma coisa que depende só de nós, não creio ser possível se autode-

terminar nesse nível. Com os conhecimentos que obtive nos cursos, porém, comecei a prestar mais atenção em coisas que muitas vezes passavam despercebidas por mim antes”, afirma. Paula acrescenta a importância de conhecimentos ensinados nos encontros, como o hábito de conversar com moradores de casas pelas quais elas passam a fim de buscar proteção em caso de perigo. O portal Tudo Sobre Segurança lista oito dicas de como se portar durante um assalto. Entre elas: nunca tentar fugir, não realizar movimentos bruscos, não tentar negociar nenhum bem e seguir as determinações do bandido com as mãos ao alto. As oficinas e treinos do wen-do são comunicados sempre pela página no Facebook do grupo Wen-Do Curitiba Defesa Pessoal Feminista.


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

População em situação de rua ocupa Boqueirão e Portão Cidade tem cerca de 1,7 mil pessoas vivendo em situação de rua Rita Vidal Thamany Oliveira 2º período

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uritiba tem cerca de 1,7 mil pessoas em situação de rua, e boa parte delas está concentrada nos bairros Boqueirão, com 11%, e Portão com 7%, além do Centro, onde fica uma parcela de 40% desse público. Os dados são de 2016 e estão disponíveis no site da Fundação de Ação Social (FAS).

pessoas viviam em situação de rua. Já segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2012, cerca de 0,6% a 1% da população brasileira representavam os moradores de rua em todo o território e a pesquisa mostra que, em quatro anos, o número de pessoas nessa situação aumentou 10%.

Ainda de acordo com os dados divulgados pela FAS, mesmo que por diversas vezes não seja notada, deitada sob uma marquise (21,2% da população) ou em praças públicas (16,8%), a população em situação de rua está espalhada por vários lugares de Curitiba. Em geral são homens (89%) jovens e adultos em idade economicamente ativa, entre 25 e 59 anos, sendo que parte desses indivíduos possui família na própria capital.

Os albergues oferecem hospedagem noturna, refeições e higiene pessoal e de roupas. Para o ano que vem, estão para inaugurar mais três albergues com uma capacidade média de 80 pessoas. O funcionário da Prefeitura e responsável pelos albergues de Curitiba, Pedro Gouveia, conta que “todo espaço ainda é pouco, mas grande parte da população moradora de rua da cidade já foi recolhida; é um trabalho diário, mas muitos ainda preferem morar nas ruas e outros fazem do albergue sua morada”.

O documento da FAS indica também que entre as pessoas em situação de rua, 93,4% ganham até um salário mínimo, sendo que dois terços não recebem sequer meio salário mínimo. Tais fatos indicam que essas pessoas já viviam na pobreza antes de ir para a rua. Entre os principais motivos que os levam à essa situação, de acordo com a pesquisa da FAS, álcool (24,7%) e drogas (27%) aparecem como os principais, e os conflitos familiares ficam em terceiro lugar, com 22,3%. Considerando a situação nacional, de acordo com dados divulgados no início deste ano e disponibilizados no site do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea), entre 2015 e 2016 cerca de 101 mil

Em 2016, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu como “crise humanitária global” o fato de 100 milhões de pessoas viverem em situação de rua, ao redor do mundo. Apesar da meta apresentada pela ONU de extinguir essa população até 2030, a simples permanência na rua é considerada crime em muitos países, fato que gera um conflito entre alguns chefes de Estado e a Agenda Urbana determinada em resolução da ONU sobre o tema.

Iniciativas públicas e privadas A FAS conta com programas de assistência social do Cen-

tro de Referência da Assistência Social (Cras), Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) e os acolhimentos institucionais e familiares. Essas iniciativas fornecem abrigos às pessoas em situação de rua, onde lhes são oferecidos um lugar para dormir. Além disso, muitas organizações independentes e comunitárias buscam contribuir para o fim da fome e das condições precárias em que a população em situação de rua em Curitiba se encontra, preparando alimentos e coletando doações de roupas e cobertores. Denúncias na central telefônica da Prefeitura (156) motivaram operações da FAS com parceria da Guarda Municipal e do Departamento de Limpeza Pública da Prefeitura Municipal de Curitiba a resgatar pessoas em situação de rua e as levar aos centros de atendimento e assistência. Só em junho deste ano, 26 operações similares aconteceram nas praças Tiradentes, Osório e Rui Barbosa. Em julho, o número chegou a 30. Marcelo José Alves está nas ruas há 12 anos, e conta que muitas instituições de assistência social possuem um processo lento e mal organizado para atender pessoas como ele, que vão até esses lugares em busca de ajuda. “Ficam adiando a ajuda, pedindo para passar no outro dia, e nunca fazem nada”. Em contrapartida, várias organizações realizam trabalhos

Cidades

caridosos com intuito de auxiliar pessoas como Marcelo. Fernando de Moraes, atual organizador do Rango de Rua, um grupo de voluntários que trabalha fornecendo ajuda às pessoas em situação de rua em Curitiba conta que desde que se juntou à causa, assistiu e reabilitou diversas pessoas. “Nosso trabalho não é apenas entregar alimento. Nós procuramos fornecer ajuda com moradia, passagens, documentação e assistência com clínicas de reabilitação”. A organização é completamente desvinculada de meios religiosos ou governamentais, e funciona à base de doações de contribuintes e da colaboração dos voluntários. A discriminação com a população em situação de rua ainda é muito presente no Brasil. Mesmo que muitos cidadãos procurem doar roupas e alimentos, por vezes hesitam em entrar em contato pessoal com essas pessoas, atentando-se apenas à sobrevivência delas e não ao seu conforto emocional. “A coisa mais importante que a gente recebe não é nem a comida nem o agasalho, mas é a amizade e o carinho das pessoas que vêm até nós e ajudam a gente”, diz Alves, que agradeceu o abraço e os mantimentos recebidos com um grande sorriso no rosto. O Rango de Rua se reúne todas as sextas-feiras no estacionamento em frente ao Mercado Municipal para realizar o trabalho caridoso nas ruas de Curitiba.


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Economia

Mercado de orgânicos cresce no Paraná Emilia Jurach

Estado se destaca cada vez mais na produção de verduras e carnes sem agrotóxicos

alimentos são cultivados na chácara da proprietária da feira. “Existe uma chácara em Colombo e lá são plantadas somente as frutas e verduras”. Andreia comenta que frutas não são cultivadas, pois o clima da cidade não é favorável, com isso, elas vêm de outros locais, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Emilia Jurach 3º período

Feira de produtos orgânicos no Mercado Municipal de Curitiba

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crescimento no cultivo de alimentos orgânicos vem chamando atenção na economia paranaense. A importância de uma alimentação saudável e livre e aditivos químicos influencia na compra e venda desses produtos, que progride ano após ano. Conforme o diretor do Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável (Organis) Ming Liu, o Paraná se tornou o maior fabricante de orgânicos do país e o segundo com maior número de propriedades certificadas para esse tipo de criação, que cresce 20% ao ano. De acordo com o presidente do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e de Extensão Rural (Emater), Rubens Ernesto Niederheit-

mann, o Paraná produz cerca de 130 mil toneladas de alimentos por ano. “Isso se deve ao bom desempenho do Programa Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos (PPCO), que auxilia os produtores, capacita-os e certifica os alimentos orgânicos, fazendo com que os agricultores produzam cada vez mais”. Segundo o economista Carlos Magno, a agricultura familiar tem grande influência nesse mercado. “Curitiba não tem um cinturão verde. Essas áreas estão na região metropolitana, e isso contribui para a renda de pequenos agricultores quando eles optam por uma produção agrícola sem agrotóxicos, pois sabem que há demanda”.

O agricultor Wilson Koerich, proprietário de uma fazenda em Contenda, Região Metropolitana de Curitiba, inicialmente queria apenas criar animais. Depois, percebeu que precisava ampliar as opções e decidiu apostar nos orgânicos. “Há seis anos nós começamos o cultivo de orgânicos com a ajuda de programas de capacitação de agricultores e as vendas aumentaram bastante nos últimos tempos”, relata o agricultor, que no ano passado iniciou vendas também via delivery.

Orgânicos no Municipal Em Curitiba, desde 2009, o Mercado Municipal possui um setor exclusivo para produtos orgânicos. Segundo a comerciante Andreia Seghetto, os

O comércio de carnes orgânicas também é disponível na feira. O açougueiro Huescley Oliveira afirma que há diferença na criação e cultivo do gado para o preparo da carne orgânica. “O animal é alimentado com pasto sem aditivos químicos, hormônios e antibióticos, e tratado somente com homeopatia e fitoterapia”. Ele conta também que o valor não difere muito da carne convencional. “A carne vermelha não tem um custo tão alto, mas em mercados dá uma diferença de até 80%. Em açougues especiais, a diferença é de 20%”, complementa ele. A aposentada Diana Alvez revela que prefere comprar na feira, pois há maior diversidade de produtos saudáveis. “Eu sempre compro aqui, pois há várias opções e no mesmo local, assim não preciso procurar em muitos lugares”, relata ela, que frequenta a feira cerca de uma vez na semana. O Mercado Municipal fica na Avenida Sete de Setembro, no Centro de Curitiba, e conta com um total de 15 estandes de produtos orgânicos que são abertos todos os dias.


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Cerveja liberada nos estádios do Paraná após nove anos Lei que regulamenta consumo e comércio de bebidas alcoólicas nos estádios é aprovada Lamartine Lima 3º período

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Política

Lamartine Lima

Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) realizou, no último dia 28 de agosto, a segunda votação sobre o projeto de lei que regulamenta a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios do Paraná e contou com a aprovação dos deputados em plenário com 24 votos a favor e 20 contrários à liberação. Após nove anos da proibição do consumo de bebidas alcoólicas nos estádios, a cerveja e chope voltarão a fazer parte da rotina de jogos dos clubes paranaenses. O projeto de lei aprovado é de autoria do deputado estadual Luiz Claúdio Romanelli (PSB) com outros 10 parlamentares, e autoriza o consumo e a comercialização de cerveja e chopp em eventos nas arenas desportivas. Para Romanelli, é de direito dos torcedores consumir bebidas alcoólicas em seu momento de entretenimento. “O ganho é para o torcedor no seu direito individual de poder se permitir a tomar uma cerveja no seu momento de lazer e, ao mesmo tempo, isso beneficia os clubes, que terão uma renda adicional com a comercialização dentro dos estádios”. Atlético, Coritiba e Paraná Clube são alguns dos principais apoiadores da aprovação da lei. Em nota, a assessoria de imprensa do Tricolor afirma que ainda tem que acatar as decisões judiciais, mas que nos arredores da Vila Capanema são vendidos bebidas normalmente para quem acessa aos jogos da equipe. A reportagem do Comunicare entrou em contato com Atléti-

146 pessoas participaram da pesquisa realizada nas redes sociais co e Coritiba, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. O comerciante Renato Larves trabalhou durante 11 anos como vendedor de bebidas dentro dos estádios da capital. Segundo Larves, a proibição causou impacto em quem trabalhava nos jogos e acabou sendo positiva para donos de bares. “Para quem trabalha dentro foi péssimo, mas para quem tem seu negócio fora do estádio foi ótimo, pois os torcedores passaram a comprar e consumir bebidas alcoólicas na parte externa”. Larves também relata que vender fora do estádio se torna mais lucrativo pelo fato de se poder ter uma venda independente, sem que haja cobranças de taxas sobre seu trabalho. “Ali fora você mesmo faz a sua tabela de preços, é livre. Eu

vendo mais aqui do que dentro”, conta o comerciante. Entre os torcedores, a maior parte é a favor da liberação. Segundo pesquisa realizada nas redes sociais para a reportagem, em que 146 pessoas participaram, 90 votaram a favor da liberação da cerveja, o que equivale a 61%, enquanto 56 participantes, ou seja, 39% se dizem contra a lei. O torcedor Murilo Picinato acredita que o consumo de bebida alcoólica nos estádios não irá influenciar em casos de violência nos jogos. “Os torcedores consomem do lado de fora antes de entrar no estádio e após o jogo. Então beber durante a partida é a mesma coisa”. A Polícia Militar do Paraná (PM) também opinou sobre o caso. Em nota, a assessoria de

imprensa da PM afirma que independente da liberação ou proibição do consumo de bebidas nos estádios, o policiamento será o mesmo. “A Polícia Militar cumpre e faz cumprir a lei, portanto, haja mudança ou não, a corporação fará o policiamento necessário e solicitado em qualquer caso”. Nos jogos, a atividade da PM é prioritariamente preventiva. A lei ainda prevê que a comercialização só poderá ser realizada em copos plásticos e descartáveis. Foi previsto também que 20% das cervejas e chopes sejam de origem artesanal e de produção paranaense. O projeto que segue agora para a sanção do governador Beto Richa deve entrar em vigor ainda no Campeonato Brasileiro deste ano.


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Política

País já tem mais de 10 milhões de ativistas online Thaís Porsch

Não basta só assinar

Indo além da política de gabinete, o ativismo virtual já obteve mais de 22 mil vitórias no país

Mesmo a mobilização e a ação ocorrendo em grande escala, o “ativismo de sofá”, que se configura em apertar um botão na tela do computador e esperar resultados, e a falta de busca por informações investigadas ainda estão presentes neste tipo de mobilização.

Fabiane Coelho Leonardo Cordasso Thais Porsch 2º período Mais de 2 milhões de pessoas já assinaram alguma petição sobre temas políticos na Change.Org

S

endo um dos maiores centros de exigências e direitos na última década, o ativismo digital busca impulsionar a representatividade, indo além da política feita por governadores, prefeitos, vereadores e deputados. No Brasil, nos últimos cinco anos, já foram criadas mais de 110 mil mobilizações online. As plataformas de abaixo-assinado funcionam como uma ferramenta de engajamento social e político, em que não se tem fins lucrativos, ou o dinheiro é doado a instituições. ONGs, associações de bairro, fundações e qualquer pessoa disposta a fazer uma mudança social podem criar pedidos sobre meio ambiente, direitos humanos, solicitações sobre questões LGBT, direitos das mulheres, etc. Entre as maiores redes de petições estão a Avaaz e a Change.org, ambas iniciadas nos Estados Unidos e que já possuem mais de 300 milhões de ações realizadas desde janeiro de 2007. Segundo dados divulgados no site da Avaaz, o país com o maior número de membros

é o Brasil, com mais de 10 milhões de ativistas. Segundo o diretor de campanhas da Change.org do Brasil, Rafael Sampaio, o ativismo virtual funciona sem necessariamente a participação direta dos governantes para solucionar as questões da sociedade, “não basta esperar que uma eleição vá resolver o problema”, diz ele. O diretor de campanhas da Change ainda afirma que o engajamento político significa a participação de cidadãos em mudanças sociais. “Petições online hoje são um canal poderoso para isso. E acredito que assim, o engajamento e a participação das pessoas pode crescer”, cita ele. Sampaio ainda cita que a Change.org cresceu 400% no Brasil desde 2013, passando de 2 milhões para 10 milhões.

Exemplos Entre as conquistas do ativismo on-line, existe a história de Maria Alice Barbosa, 10 anos, que teve sua inscrição vetada para Copa Sesc 2017 de futebol, realizada em Belo

Horizonte, em Minas Gerais, pois a competição não oferecia categoria para meninas. A mãe de Maria Alice, Eliane Aparecida Barbosa, 37 anos, organizou um abaixo-assinado na plataforma Change.org intitulado “Deixem a Maria Alice jogar futebol! #MeninasTambémJogam”. Eliane conseguiu mais de 20 mil assinaturas e a inscrição da filha, afirmando que foi um ato pequeno, “mas que conseguiu unir o Brasil inteiro”. Em Brasília, uma grande mobilização e que alcançou vitória foi a feita por Luciano Caparroz Santos, exigindo que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgasse se candidatos poderiam ou não ter financiamento de empresas. A pressão popular foi tão grande que mais de 93 mil assinaram a petição. Agora, as doações eleitorais devem ser feitas apenas por pessoas físicas ou por financiamento público, segundo decisão do STF.

Para o cientista político Oseias Neves, o ativismo online tem influência significativa e que, no âmbito virtual, ele pode influenciar uma conscientização política. Neves igualmente afirma que o engajamento virtual não é um modismo. “É uma tendência que tende a se consolidar. Nunca antes na história desse mundo você viu gente discutindo política igual se vê hoje nas redes sociais”, diz ele. O cientista político, porém, declara que, com a facilidade de postagem na internet, é necessário cuidado na verificação de informações. E esclarece: “conscientização política é vantajosa, o perigo disso está no extremismo, Fake News e discussões muito rasas nas redes sociais”. O diretor de campanhas da Change.org afirma que não basta só criar um abaixo-assinado, mas sim se engajar na ação e sair da zona de conforto atrás do monitor. Sampaio finaliza dizendo que as petições são um instrumento importante para o atendimento de determinadas demandas, mas ainda assim é somente um instrumento do ativismo online, não sendo um fim em si mesmo.


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Catalunha segue lutando por sua independência O primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy confisca panfletos que defendem plebiscito de criação de um novo país Gabriel Witiuk Isabella Fernandes Patrícia Guaselle 6º período

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uarta-feira 20 de setembro, pela manhã, Barcelona enche suas ruas pela segunda vez em um mês. A primeira, dia 11 de setembro, a “Diada” - data em que ocorreu a anexação de Barcelona à Espanha em 1714 - é marcada por gritos de “Os catalães fazem coisas”. Gritam pacificamente pela independência da sua região dotada de língua própria. A Guardia Urbana de Barcelona estima um milhão de pessoas nessa multidão. A segunda vez, porém, é diferente. Os gritos agora dizem: “isso, com Franco, também acontecia”, se referindo ao seu antigo ditador. Se trata agora de um protesto contra a Guardia Civil, a polícia espanhola, que por ordens do primeiro-ministro Mariano Rajoy, invadiu prédios do governo catalão buscando e confiscando documentos e panfletos referentes ao referendo marcado para acontecer no dia 1 de outubro. Durante a ação da Guardia Civil, 14 trabalhadores do governo catalão foram presos. O referendo é um projeto chefiado principalmente pela Assemblea Nacional Catalana, uma organização política da sociedade civil, fundada há seis anos que conta com mais de 80 mil associados. O objetivo desse documento é formalizar a existência de uma maioria que deseja que a região autônoma se torne um novo país. Mariano Rajoy, primeiro-ministro pelo Partido Popular da Espanha, afirma que o país dispõe dos mecanismos para defender a legalidade contra aqueles que “com

tanta imprudência colocam em risco a convivência entre todos”. Em seu discurso de 10 minutos, Rajoy pede que os funcionários do governo catalão envolvidos na organização do referendo cessem suas atividades ilegais e que “renunciem a essa escalada de radicalidade e desobediência” e que “não possui nenhuma legitimidade”. O primeiro-ministro argumenta que sempre esteve aberto para diálogo quanto às necessidades da região. Segundo Rajoy, ele convidou o presidente da Generalitat da Catalunya, Carles Puigdemont, a expor suas demandas no congresso dos deputados da Espanha e participar das negociações da reforma do financiamento autonômico.

Um pedido histórico A independência é uma demanda antiga na região da Catalunha, que faz parte da Espanha desde o fim da Guerra de Sucessão (17051714). Na ocasião, o território tomou o lado errado da guerra e terminou por ser anexado à Espanha no dia 11 de setembro de 1714. Dois anos depois, em 1716, o novo plano instaurado fechou suas cortes de justiça, aboliu suas leis, dissolveu suas instituições e proibiu sua língua. Depois disso, o projeto da independência seguiu dormente até 1936, quando explode a Guerra Civil Espanhola, entre a Espanha do ditador facista Francisco Franco e as regiões da Catalunha e do País Basco.

Internacional

Com a derrota das duas últimas, o território seguiu submisso até que parte da sua autonomia é devolvida em 1976, quando se reestabelece a Generalitat da Catalunya, instituição governamental que administra a Catalunha com relativa autonomia.

Isabella Fernandes

Em 2006, a Catalunha propõe um novo estatuto de autonomia que é aprovado em maioria no Parlamento da região, referendado pela população e negociado com o parlamento espanhol. Ainda assim, em 2010, grande parte desse estatuto é derrubado por ações jurídicas ligadas ao Partido Popular. “Então é como se estivessem dizendo para a Catalunha: o jogo é até aqui. Se você não gosta dessas regras, você tem que sair do jogo. E nesse momento, uma enorme parte da sociedade catalã passa de posições mais moderadas para posições mais maximalistas: ‘ok, se a solução é sair do jogo, então vamos sair do jogo, vamos para a independência’”, diz o jornalista Adrià Alsina, membro da Assemblea Nacional Catalana. O que acontece agora depende da realização ou não do referendo. Se ele for realizado, e se a maioria decretar o desejo por um novo país, o governo da Catalunha deve declarar independência e buscar apoio internacional. Caso não seja realizado, caberá ao governo espanhol intensificar as negociações para tentar colocar a região autônoma de volta à normalidade política Cartazes convocam a população


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Esportes

Esporte do primeiro ouro olímpico brasileiro sofre com falta de apoio Brandow Bispo

Tiro esportivo, que em 1920 conquistou o lugar mais alto no pódio, atualmente passa por dificuldades para encontrar patrocinadores Brandow Bispo 5º período

Clubes de tiro são opções viáveis para a prática e aprendizado do esporte sem oferecer riscos

N

ão é de hoje que a violência no Brasil atinge números exorbitantes. Só em 2014, mais de 44 mil pessoas morreram, vítimas de disparos de armas de fogo, número divulgado em 2015 pelo relatório Mapa da Violência da Organização das Nações Unidas para a Ciência, a Educação e a Cultura (Unesco). O número é alto e ultrapassa países onde a compra de armas é legalizada, como Estados Unidos e Canadá. Em se tratando de armas, entretanto, nem tudo é violência. O tiro esportivo veio para mostrar que um artifício que surgiu para guerra pode ser transformado em favor do esporte. A história constata isso: no ano de 1920, o tenente do Exército Guilherme Paraense conquistou a primeira medalha brasileira nos Jogos Olímpicos, na modalidade tiro com revólver. Da primeira medalha Olímpica até hoje, o esporte teve grandes mudanças. A adição de novas modali-

dades, a qualidade das armas e o número de praticantes do esporte, mudaram muito, por exemplo.

lhaçava. Já hoje, só presenciei uma coisa dessas quando foi colocada munição errada na arma, aí não tem jeito”.

Em relação às modalidades, o tiro esportivo acompanhou o estilo militar, imitando muitos dos treinamentos, como as pistas de tiro, onde o atirador faz um circuito mudando sua arma e atirando de várias distâncias.

Para o policial aposentado e praticante assíduo de tiro, Mozart Fernando Rodrigues, o crescimento do esporte é nítido para frequentadores de clubes de tiro. “Antes você tinha tempo para treinar tranquilamente aqui no clube, hoje com os mais de 1.000 sócios final de semana, dependendo do horário você corre risco de não ter baia livre”.

A melhoria na qualidade das armas foi algo natural. Cleyton Henrique Ferreira, instrutor há seis anos e atleta de tiro há dois conta que antes, armas como a carabina, eram difíceis de serem manuseadas, tanto na hora do carregamento – inserção da bala no tambor da arma – como no momento do disparo, sendo comum a arma engasgar e o projétil não ser disparado. “Antigamente, era perdida muito munição em algumas armas. A bala travava dentro do cano e a munição se esti-

Iniciar no esporte é algo relativamente fácil, segundo Wilson Ferreira Bonfim, assessor de comunicação da Superintendência Regional no Paraná da Polícia Civil, pessoas físicas têm mais facilidade em começar no esporte se filiando a clubes de tiro. “De início, o civil busca uma instrução, não são todos que já tiveram contato com armas, os clubes de tiro são a melhor

forma de se aprender”. Qualquer pessoa pode tirar sua permissão de tiro, desde que tenha mais de 18 anos e tenha passado no teste psicológico, mas o início é muito duro para quem não tem dinheiro de sobra. “O início é complicado, o investimento é muito alto, para se ter noção contando com arma, munição e roupa você gasta entre 15 a 20 mil reais”, conta Ademir Dias, militar aposentado e praticante de tiro esportivo. Ele reclama também da falta de incentivo ao esporte: “grandes atletas que participam do mundial de tiro não recebem patrocínio, não existe incentivo, se o atleta quer competir ele vai ter que se bancar”. Outro viés dessa questão, segundo Dias, é o estatuto do desarmamento, que incentiva as pessoas físicas a entregar suas armas, o que dificulta a evolução do tiro como esporte.


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Esportes em escolas auxiliam no aprendizado infantil A prática esportiva no ensino fundamental é essencial para o desenvolvimento motor, cognitivo e social da criança Guilherme Coutinho 3º Período

A

Esporte

Jéssica Zielinski Nunes

aula de educação física muitas vezes é vista apenas como uma modalidade de lazer com benefícios ligados à saúde física. Porém, para além de uma prevenção do sedentarismo, a prática esportiva pode influenciar diversos aspectos do desenvolvimento infantil e contribuir positivamente no desempenho escolar. De acordo com a professora de educação física Glacieli Almeida, o desenvolvimento integral do aluno pode ser auxiliado pelo esporte. Ela afirma que as habilidades motoras e cognitivas são as áreas mais beneficiadas pela prática dos exercícios físicos. Para a professora, o incentivo da prática esportiva como vivência, sem ênfase no treinamento esportivo, pode ser encorajado desde os primeiros anos do ensino fundamental. Para a pedagoga Daniela Sandrini, o esporte tem efeitos positivos, por exemplo, no entendimento da matemática por parte do praticante, sendo relevante também em seu desempenho escolar. “Todo esporte tem relação com a matemática, como a posição que cada aluno fica durante o jogo, essa coisa de lateralidade”, explica Daniela. O esporte também promove a socialização e amadurecimento emocional, segundo a pedagoga, pois exige a convivência com regras e limites, tais como na sociedade. A prática do esporte deve ser equilibrada e atuar de forma complementar às atividades da rotina escolar. É como pen-

O esporte quando praticado na escola auxilia no desenvolvimento infantil sa o diretor de esporte da Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude de Curitiba (SMELJ), Carlos Pijak Junior. A atuação da SMELJ, segundo Pijak Junior, se baseia em tornar possível o acesso ao esporte e oferecer um suporte à cidadania. De acordo com o diretor, atualmente 29 mil pessoas são atendidas nas 38 unidades da SMELJ espalhadas em Curitiba. Para a estudante Larissa Andrade, sete anos, o esporte ajuda na amizade entre os alunos, e afirma que fica mais ativa e com vontade de aprender novas coisas após a aula. A vendedora Luciane Andrade, mãe de Larissa, percebe que nos dias que há a aula de educação física, a filha chega

mais tranquila. Luciane acredita que a prática traz muitos benefícios, como melhoras para a memória, concentração e saúde.

Escola + Esporte = 10 De acordo com o diretor de esporte da SMELJ, Carlos Pijak Junior, a Secretaria Municipal da Educação permitiu, neste ano, que a SMELJ levasse atividades de contraturno para dentro das escolas municipais, através do programa Escola + Esporte = 10 (EE10). “O programa conta com atividades em 23 modalidades esportivas diferentes, em 23 escolas municipais e em espaços alternativos, para crianças de seis a 17 anos, totalizando

8,5 mil participantes nas atividades”, explica. Inicialmente o projeto contemplaria 20 escolas, mas a demanda foi grande e o objetivo é continuar expandindo o programa junto às escolas e entidades parcerias, ampliando o número de vagas e modalidades ofertadas, conta Pijak Junior. O diretor de esporte da SMELJ complementa dizendo que por meio do programa, foi realizada uma parceria com a Federação Paranaense de Judô, oferecendo 1,2 mil vagas e que todas as turmas estão lotadas. Segundo Pijak Junior, o programa promove ainda o encaminhamento de atletas que se destacam para equipes de alto nível competitivo.


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Cultura

Curitiba sedia primeira edição do Geek City Damaris Pedro

O evento voltado para fãs de filmes, games e tecnologias durou três dias e reuniu aproximadamente 25 mil pessoas Damaris Pedro 3º período Millie Bobby Brown no bate-papo com os fãs

O

correu nos dias 01, 02 e 03 de setembro a primeira edição do Geek City no Expo Renault Barigui, em Curitiba. O evento de cultura pop reuniu mais de 25 mil fãs de games, filmes, séries e tecnologia durante os três dias, e veio com a proposta de ser um dos maiores eventos de cultura geek do Brasil. O evento também contou com a presença da atriz Millie Bobby Brown, a Eleven da série da Netflix Stranger Things. Outros famosos também participaram do evento, como Ciara Hanna e Azim Rizk, dois ex-integrantes dos Power Rangers. Segundo a assessoria de comunicação da Seven Entretenimento, empresa organizadora do evento, o ator da serie televisiva The

Walking Dead, Seth Gilliam, desmarcou a presença, alegando motivos de trabalho. O assessor de imprensa da organizadora da convenção, André Mello, revelou que por conta da dimensão, o evento foi setorizado. Um dos stands principais teve uma arena montada em um palco onde competidores disputaram jogos que foram transmitidos em um telão. Outros dois grandes stands tinham exposições de startups e competição de cosplayers. Porém, a maior expectativa do público estava voltada para o palco principal, o Geek Studio, onde aconteceram os bate-papos com Millie, Ciara e Rizk. De acordo com uma das organizadoras, Caroline Hecke,

a motivação para realizar a primeira edição deste evento em Curitiba foi em função da região sul ter a segunda maior concentração de público nerd do Brasil, perdendo apenas para o Sudeste. “Nossa proposta é proporcionar ao público daqui um evento de alto padrão, com convidados internacionais e atrações que antes só poderiam ser vistas no eixo Rio-São Paulo”. A organizadora revela que, em um aspecto amplo, isso dá mais visibilidade para Curitiba, projetando o nome da cidade internacionalmente.

André lves dos Santos, admirador da cultura nerd, contou que já participou de outros eventos que reuniam simpatizantes da cultura geek, mas este foi o que mais o entusiasmou com os stands e com a programação. “Eu adorei os dubladores Wendel Bezerra e Ricardo Juarez”.

A Geek City teve em sua estreia conversa com os youtubers Rafael Grostein e Cassio Cortes, e com os dubladores Wendel Bezerra e Ricardo Juarez.

O evento também contou com a presença do empreendedor o fundador da Aldeia Coworking, Ricardo Dória, que deu uma palestra sobre o universo de startups.

O expositor Zaharie Cont revelou que a experiência de estar participando de um evento deste porte é única. “Aqui nós encontramos as pessoas que entendem nossos projetos e falam a mesma língua”.

“Aqui nós encontramos as pessoas que entendem nossos projetos e falam a mesma língua ”


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Curitiba hosts the first edition of Geek City

Culture

Damaris Pedro

The event focused on fans of movies, games and technologies lasted three days and gathered approximately 25,000 people Damaris Pedro 3º período Translated by: Christopher Bressan Matheus Maurício Britto Ramos 4º Período

Millie Bobby Brown no bate-papo com os fãs

T

he first edition of Geek City took place on the 1st, 2nd and 3rd of September at the Renault Barigui Expo in Curitiba. The pop culture event brought together more than 25,000 fans of games, movies, series and technology over the three days, and came up with the proposal to be one of the biggest Geek culture events in Brazil. The event invited the actress Millie Bobby Brown, Eleven of the Netflix series “Stranger Things”. Other celebrities also participated in the event as Ciara Hanna and Azim Rizk, two former members of the Power Rangers. According to the communication advisory of Seven Entertainment, the event organizer, the guest star Seth Gilliam, who plays a priest in “The Walking Dead,” gave up on the commitment in the week of the event, citing work reasons. The press secretary of the

convention’s organizer, André Mello, revealed that because of the size, the event was sectorized. One of the main stands had an arena mounted on a stage where the competitors disputed the games that were transmitted in a bigscreen. Two other big stands had exhibitions of startups and cosplayers competition. However, the audience’s biggest expectation was on the main stage, the Geek Studio, where the chats with Millie, Ciara and Rizk took place. According to one of the organizers of the event, Caroline Hecke, the motivation to carry out the first edition of this event in Curitiba was due to the South region having the second largest concentration of Brazilian nerds, losing only to the southeast. “Our proposal is to provide the public here with a high standard event, with international guests and attractions that previously could only be seen on the Rio-São Paulo axis,”

says Carolina. The organizer reveals that in a broad aspect, this gives more visibility to Curitiba and Paraná in the areas of culture and entertainment, projecting the name of the city internationally. Geek City had at their premiered a cosplay contest, panels for discussing series and a few chats with influential youtubers like Rafael Grostein and Cassio Cortes. On the second day, the voice actors Wendel Bezerra and Ricardo Juarez talked about their voices that marked the era in Goku and SpongeBob. On this day, there were also presentations about the world of contemporary technology. In the event’s closing, Millie Bobby Brown, who had already made her appearance on the second day, returned to the chat and surprised the audience that had asked her some questions through social media about comic books. “I do not like to read,” reveals the actress. To

complete the answer, the actress, who wore a Brazilian shirt, revealed that fighting and soccer are her favorite sports. André Alves dos Santos, an admirer of the nerd culture, said that he had participated in other events that brought together geek culture, but this event was the most exciting for him with all the stands and schedule. “I loved the voice actors Wendel Bezerra and Ricardo Juarez”. Exhibitor Zaharie Cont revealed that the experience of attending an event of this size is unique. “Here we find people who understand our projects and speak the same language.” The event was also attended by the entrepreneur Ricardo Dória, founder of Aldeia Coworking, who gave a lecture about the universe of startups.

“Here we find people who understand our projects and speak the same language””


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Curitiba, 06 de Outubro de 2017

Ensaio

Catalunha em polvorosa Protestos no norte da Espanha evidenciam a identidade de uma região que luta por sua independência Isabella Fernandes 6º Período

Em catalão, os cartazes dizem que viver significa aprender, tomar partido e estimar a terra

Catalães mostram apoio ao referendo pendurando bandeiras de sim nas varandas

Cartazes em catalão ironizam a apreensão de material: “Olá, me chamo cartaz e sou ilegal”

“Votamos para sermos livres”, diz o cartaz


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