Persona 2015

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PERSONA

Revista do Projeto Integrador Jornalismo PUCPR 2015 2ª Edição

COMUNICADORES: jornalismo em ação


PERSONA PARA LER E SENTIR A frase clássica de Ricardo Kotscho ainda ecoa em tempos de internet e numa sociedade que cultua a velocidade do pensamento e casulos de redação: “Lugar de repórter é na rua!”. Nesta segunda edição da Revista Persona, os acadêmicos do 4º período de Jornalismo da PUCPR foram às ruas pesquisar, apurar, entrevistar, ver, ouvir e sentir...E o resultado são seis perfis de profissionais que fazem parte da história da comunicação no Paraná. Cada texto tem estilo, ritmo, cor e porque não dizer: humanidade. A Revista Persona faz parte do Projeto Integrador, que engloba múltiplas plataformas como Programa de TV e Programa Experimental para Rádio. Em linguagens próprias, esses perfis se destacam, instigam o leitor, o espectador e ouvinte para boas histórias: sensíveis, marcantes, desbravadoras e bem humoradas: como a vida é. Boa leitura! Cícero Lira Prof. Projeto Integrador

AGRADECIMENTOS AOS PROFESSORES Criselli Montipó (Jornalismo Investigativo e Banco de Dados) Maria Regina Rauen Ribas (Ciências Políticas e Econômicas) Alessandra Ferreira (Radiojornalismo) Rafael de Oliveira Andrade (Planejamento Gráfico para Revistas) Suyanne Tolentino (Telejornalismo)

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SUMÁRIO Força e sensibilidade MARA CORNELSEN

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Opiniões diversas DANILO CÔRTES

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A vida pelo microfone UBIRATAN LUSTOSA

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O rei das traquitanas OSNI BERMUDES

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O radialismo com aperto no coração DIONÍSIO FILHO

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Os passos pela história MILTON IVAN HELLER

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FORÇA E SENSIBILIDADE Mara Cornelsen Letícia Zan Marjorie Coelho Renata Fernandes Renata Taís Souza

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jornalismo em si entrou na vida de Mara quando ela tinha 14 anos quando Mara voltava da escola com mais uma de suas enormes redações que eram um sucesso entre toda a turma e os seus professores, ela decidiu que não poderia fazer outra coisa da vida: seria jornalista. De lá para cá já são 35 anos de carreira, passagem pelos maiores jornais impressos do Paraná, além de carreira na rádio e na assessoria de imprensa, Cornelsen afirma “tudo valeu a pena, eu viveria todos os momentos da minha vida novamente”. Mara Cornelsen nasceu em Curitiba em 1959, vinda de uma família simples de origem polonesa e acostumada com o trabalho no campo. Seu avô materno foi um dos primeiros sapateiros da cidade, enquanto a avó materna veio para trabalhar em Curitiba e teve uma pensão no centro da cidade. Segundo Mara, a família Zaduski tinha um lado mais trabalhador e a família Cornelsen um lado mais cultural. Pode-se dizer que Mara é uma mistura das duas, pois possui ambas características, uma mulher trabalhadora e apaixonada pela arte. O primeiro contato de Mara com a escrita foi aos três anos. Sua mãe só tinha até o quarto ano primário, mesmo assim ensinava-lhe as letras e ela transcreveu-as em um saco de pão com tocos de lápis que seu pai, contabilista, trazia da empresa que trabalhava. Mara sempre estudou em escolas públicas e com 16 recebeu aprovação de seu primeiro vestibular na UFPR em Jornalismo. Apesar de contrariar a vontade do próprio pai, que não aceitava o curso, Mara seguiu com seu sonho, uma profissão que lhe traria muita alegria. Uma menina tão simples que decidiu deixar os braços da proteção da família, para começar uma série de novas experiências. Empenhada, se formou em apenas 3 anos, apesar do curso ter uma duração de 4. Com apenas 19 anos, Mara Cornelsen iniciou sua carreira. No último semestre da faculdade em 1979, com a ajuda de seus professores, ela já escrevia matérias para o Correio de Notícias, sem remuneração. Seu primeiro estágio durou três meses

na Tribuna do Paraná, onde ela também teve a possibilidade de sair às ruas e vivenciar de fato o jornalismo. Danilo Costa Cortês, coordenador do curso de Jornalismo da UFPR, a convidou para trabalhar no Diário do Paraná. Formou-se contratada como jornalista e ganhando um salário melhor. A redação era pequena, com poucos funcionários e a empresa já estava em processo de falência. Nessa época os grandes jornais eram o Diário do Paraná, o Estado do Paraná, Gazeta do Povo e Tribuna do Paraná, onde consolidaria sua carreira.

JORNALISMO POLICIAL

Mas foi no Diário do Paraná que Mara conheceu o mundo do jornalismo policial, cobrindo férias de seu colega Luiz Augusto Cabral, responsável pelo seu primeiro contato com delegacias e necrotérios, lugares titulados pela jornalista como sua segunda casa. Saía para as reportagens acompanhada pelo motorista e seu parceiro de equipe, o fotógrafo Jorge Graf. Jorge Graf a chamava carinhosamente por “baixinha”, foi ele seu o mentor e mestre, quem ajudou a jornalista aprender as gírias policiais, o código penal, as leis, inquéritos policiais, até o processo dos casos. Nunca tinha passado pela cabeça de Mara aprender tudo tão rapidamente e que esses conceitos seriam ferramentas do seu trabalho. Na época, sem a facilidade da internet, Mara se comunicava através de fichas telefônicas e rádio escuta para produzir suas matérias, o que tornava tudo mais competitivo entre os jornalistas que possuíam os mesmos recursos. Quando Mara recebeu um convite para trabalhar na Tribuna do PR na área policial em 1980, ela aceitou a oferta e permaneceu no jornal por 35 anos, mas hoje trabalhando, mesmo já estando aposentada, em suas crônicas semanais, que conta histórias do seu cotidiano. “Ver minha história paralela com a história de um veículo é gratificante”, afirma ela. Depois de 17 anos escrevendo policial para a Tribuna, Mara passou a trabalhar na Gazeta do

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Povo, aceitou o convite pensando em fazer uma reciclagem na sua carreira profissional, precisava de novos ares, pois sempre foi conhecida como “Mara da Tribuna” e assim diz ter perdido sua identidade. Mara conta que quando ligava para algumas fontes dizia: “É a Mara da Tribuna agora na Gazeta”. Paralelamente a tudo isso, trabalhou também na Rádio Independência fazendo um boletim chamado “Delegacia da Mulher” que falava sobre os direitos de mulher que sofriam opressão, na rádio Clube Fm e Ouro Verde. Em assessoria de imprensa trabalhou para o quartel da Polícia Militar, Secretaria de Comunicação Social e na SSP onde permanece lá ate hoje como servidora pública, depois de um tempo entrou na E - Paraná permanecendo por 24 anos. Hoje com seu programa de rádio diário chamado “Chá com Pimenta”. Gisele Ulbrich conheceu Mara na redação da Tribuna do Paraná em 2005 onde começou o seu aprendizado sobre as reportagens policiais. Mais do que uma coordenadora e uma professora, ela ganhou uma amiga. “Aprendi a ter a visão de uma jornalista, colocando em prática tudo que sabia”. Foram sete anos de trabalho que ela se lembra com carinho. Outra colega de profissão, Ronise Vilela, trabalhou com Mara na Tribuna e na Gazeta do Povo. Conheceram-se em 1995, e garante que foi uma excelente colega e contribui em seu aprendizado. Afirma que acima de tudo, é uma mulher batalhadora, idealizadora. A lição mais importante e a missão mais difícil que Mara aprendeu com o jornalismo e levou para a vida foi a busca pela verdade. A verdade tem várias faces, por isso considera necessário se manter fiel aos fatos. “A credibilidade é a maior fortuna de um jornalista, cada um tem a sua verdade, mas buscá-la todos os dias também faz você ser mais verdadeiro”.

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FURO

Um caso que marcou sua carreira, em meados dos anos 80, foi um sequestro, que na época era raro de acontecer. A filha de um empresário ficou encarcerada por duas semanas, e acompanhou todo o caso, sendo cautelosa na liberação de informações para preservar a vida da moça. Em seu desfecho, Mara escreveu uma matéria exclusiva, que furou jornais como a Gazeta do Povo e a Tribuna do Paraná, os quais tinham os melhores repórteres.

PROFISSÃO JORNALISTA

Para Mara Cornelsen o jornalismo é uma escolha. Durante todos esses anos trabalhando na área ela conta não compareceu a quase nenhum casamento, batizado, aniversário e ficou anos sem ver sua família. O maior laço familiar e que nunca se rompeu, apesar da sua vida corrida, foi com o filho Thiago. “Uma relação de muita parceria e união. Somos confidentes, amigos, companheiros”. Como toda criança, ele queria estar sempre com a mãe, porém não foi motivo para afastá-los, mas sim, fazer valer a pena os momentos que tinham juntos. “Desde os sete anos meus pais são separados e ela tentou ao máximo fazer às vezes de pai e mãe, e conseguiu cumprir com sucesso.”. Hoje, prestes a ser pai, ele afirma que possuem a relação mais sadia do mundo. Casada com o advogado João Carlos Lorusso, entusiasta da profissão de Mara, que até chegou a acompanhá-la como motorista e fotógrafo em algumas reportagens. Ele mesmo afirma que Mara possui o jornalismo em suas veias, e que seria uma grande pena se ela parasse de escrever. “Só tenho a admirá-la”, ele afirma. Muito apaixonada pela profissão, Mara, ressalta que faria tudo de novo e melhor. Durante anos de profissão e entrega ao jornalismo, apesar de presenciar cenas fortes, sempre manteve seu orgulho pelo meio em que estava inserida.


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OPINIÕES DIVERSAS Danilo Côrtes Ana Caroline A. Pires Ana Paula Rusycki José Helinton Verônica Rocha

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“MEU PAI CRIOU UM PERSONAGEM PARA ELE MESMO DENTRO DESSA POSIÇÃO DIREITISTA PARA SE DEFENDER PORQUE ELE GOSTAVA DE LIDERAR”

CARMEM CÔRTES, FILHA

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inauguração do que é hoje considerado o monumento arquitetônico mais alto do Brasil ainda levaria cerca de uma década para ser realizada. Sua imensa cobertura em formato de cone não havia atingido nem a metade dos seus 114 metros, mas a construção iniciada há apenas três anos era o único local na cidade capaz de abrigar tamanha multidão. Ali, sob o círculo que formava a parte inacabada do teto do que mais tarde seria a Catedral de Maringá, no norte do Paraná, aproximadamente três mil jovens aguardavam ansiosamente o seu ilustre e controverso orador: Carlos Danilo Costa Cortes, ou apenas “Danilo Cortes” para aqueles que já o conheciam. Estava ali a convite de Flávio Suplicy de Lacerda, reitor da Universidade Federal do Paraná naquela década de 1960. Já eram amigos há pelo menos cinco anos. Embora tenham se conhecido por volta de 1951 quando, aos 20 anos, o menino nascido em 29 de março de 1930 em Ponta Grossa decidiu deixar a cidade interiorana e mudar para Curitiba a fim de ingressar no curso de Filosofia, estreitaram os laços apenas a partir 1955, quando Danilo começou a escrever sobre educação para o Diário do Paraná, um dos principais jornais do estado naquela época. Algo no jovem repórter de temperamento difícil e posicionamento político inabalável chamou a atenção do reitor. Muitos traços da figura polêmica que se desenharia dali alguns anos já eram visíveis. — Para ele, a sua opinião era a que valia e qualquer deslize que você cometesse ele já lhe chamava de comunista. — Lembra, em um tom de repreensão misturada a saudosismo, o jornalista Ayrton Baptista, outro amigo e colega de trabalho de Danilo, que o conheceu logo quando ele chegou a Curitiba. Ambos pegavam o mesmo transporte todas as manhãs e acabaram desenvolvendo uma amizade que duraria muitas décadas.

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Foi Ayrton quem convidou o amigo para substituí-lo em sua coluna, “Panorama Educacional”, no Diário do Paraná, apresentando-o à profissão que o encantou por toda vida.

“DEDO DURO DE COMUNISTA OU NÃO, O QUE SE SABE E É COMPARTILHADO, TANTO POR AQUELES QUE NUTREM AFINIDADE CM O JORNALISTA QUANTO POR QUEM ERA CONTRÁRIO ÀS SUAS ATITUDES” FAZENDO HISTÓRIA

Foi a experiência no DP que Danilo usou para passar um pouco das técnicas jornalísticas da época aos milhares de interessados que se reuniam dentro da catedral que servia de sala de aula naquele dia. As ideologias políticas de cada um ainda não entravam em pauta e, ao menos por um momento, ali os jovens estudantes não estavam divididos entre Esquerda e Direita, e sim unidos compartilhando um interesse em comum: o jornalismo. O curso fazia parte de um projeto promovido pela UFPR em parceria com universidades do interior e durava cerca de três dias. O sucesso do evento foi tamanho que mais tarde não sobraria outra alternativa ao reitor Flávio senão atender ao pedido dos jovens e criar o curso de Jornalismo na principal universidade pública do estado; e a Danilo não haveria outra escolha senão aceitar outro convite do amigo e integrar a Comissão que coordenaria


o novo projeto - ou talvez ele pudesse recusar a proposta sem maiores problemas, não fosse sua paixão por novos desafios e seu apreço pela liderança. O curso foi inaugurado oficialmente em 1º de abril de 1964, no dia seguinte ao Golpe que instaurou o regime militar no Brasil. A população do país como um todo se dividia e o com os estudantes e a universidade não era diferente. Professor e coordenador do curso que ajudou a fundar, Danilo teve que lidar com os conflitos em suas duas profissões nos anos conturbados que sucederam. Como jornalista do Diário do Paraná, conquistava a cada dia mais inimigos por sua posição favorável ao novo regime, o que só fora ainda mais agravado após ter aceitado o convite para presidir a Junta Interventora do Sindicado dos Jornalistas. E como educador e amigo do reitor Flávio Suplicy de Lacerda, Ministro da Educação entre 1964 e 1965, tinha que conter as ações dos grupos acadêmicos de Esquerda dentro da universidade. — A ditadura marcava muito a experiência do que era fazer uma faculdade de humanas e de comunicação. E no nosso caso marcava muito porque eles estavam lá, do nosso lado, personagens que tinham sido importantes agentes do regime. — Lembra o jornalista Mario Messsagi Jr, que foi aluno de Danilo e hoje é professor na UFPR. Tachado por amigos e familiares como um grande cabeça dura, Danilo não cedeu diante da pressão dos alunos que, mesmo com o fim da ditadura militar, aproveitavam todas as oportunidades que tinham para pedir sua saída da coordenação. “No final da carreira dele, os alunos já iam para a formatura com faixas de ‘aposenta, Danilo’”, conta Messagi.

CABEÇA DURA

A não abertura para discussões sobre seu posicionamento político, ou quaisquer outras escolhas relacionadas a seu trabalho, não era restrita apenas a alunos e colegas. Até mesmo sua filha mais velha, a também jornalista Carmem Côrtes, fruto do casamento de Danilo com Maria de Lourdes Schinzel, afirma que era impossível discutir jornalismo com o pai. Entretanto, ela diz acreditar que a postura dura de Danilo não era tão séria quanto os menos próximos a ele acreditavam ser. — Meu pai criou um personagem para ele mesmo dentro dessa posição direitista para se defender e porque ele gostava de liderar. Para mim, era mais um personagem porque na verdade ele era uma pessoa de tão bom coração em certos momentos que não condizia com a postura que ele queria passar. Dedo duro de comunista ou não, o que se sabe e é compartilhado, tanto por aqueles que nutriam afinidades com o jornalista quanto por quem era contrário às suas atitudes, é que Carlos Danilo Costa Côrtes foi um personagem importante na construção da imprensa paranaense. Graduado em Filosofia e Direito, preferiu dedicar a vida ao jornalismo até a morte, em 4 de junho de 2009, quando aos 79 anos uma parada cardíaca o impediu de continuar a fazer aquilo que mais gostava. Foi o único funcionário a permanecer no Diário do Paraná durante todos os 28 anos de existência do jornal, passando por todas as funções, e como fundador e professor do curso de Jornalismo na Universidade Federal do Paraná, por mais de três décadas, abriu portas para a formação de centenas de profissionais que, diferentemente dele, não podiam se auto declarar jornalistas por simples vocação.

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A VIDA PELO MICROFONE Ubiratan Lustosa Ana Caroline de Souza Caroline Ribeiro Karen Loayza Manoela Campos

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biratan Lustosa, Tio Bira, trouxe originalidade ao meio radiofônico. Invadiu a casa de diversos paranaenses com seu jeito espontâneo e voz, que única, até hoje serve de inspiração para locutores e iniciantes na área. Em uma sala acolhedora, em seu apartamento na Água Verde, região central de Curitiba, Ubiratan e Beny, (sua esposa há 69 anos), demonstram todo seu orgulho e admiração por seus filhos e netos, com fotos dos momentos importantes da família. Além disso, tio Bira, como também é conhecido, não se esquece de seu passado, tendo um quadro com a cifra de ‘’Bola Bola’’, canção que escreveu, na parede de casa. Ubiratan é do tipo falante e carismático, com uma excelente memória, e com muito bom humor, ele narra uma das “gafes” cometidas na época em que se aventurou a narrar um jogo de futebol. Era uma tarde chuvosa, dia da inauguração dos refletores novos no campo do Colorado (antigo Clube Atlético Ferroviário), o time do Ferroviário disputava a partida com um clube argentino. Prestes a começar o jogo, notou-se a ausência do repórter de campo. Ubiratan, que no início pretendia apenas assistir a partida, foi chamado às pressas para assumir o lugar do colega. Com os nervos à flor da pele e sem sequer conhecer os jogadores em campo, ele começou a fazer a narração do jogo. Logo de primeira um escanteio, então o narrador, da cabine, abre o áudio para que o repórter comente a jogada. Sem conseguir falar uma palavra, Ubiratan Lustosa, que abandonou a transmissão só tinha uma certeza: Nunca mais tentaria narrar um jogo de futebol! E cumpriu sua promessa. Tio Bira passou a narrar apenas corridas de bicicletas, sendo inclusive o pioneiro desse tipo de narração em Curitiba. A história de Ubiratan Lustosa no rádio é antiga, sua competência no trabalho, o projetou

para os melhores cargos em rádios famosas da capital paranaense. A facilidade para se comunicar notada na infância, levou Ubiratan a se arriscar no meio radiofônico. Ainda jovem, sua voz ecoava pelos alto-falantes durante as festas paroquiais da Igreja do Coração de Maria, em Curitiba. Seu talento o levou ao cargo de diretor das rádios Marumby e Clube Paranaense por longos 43 anos.

AMIGO DE CARREIRA

Ubiratan Lustosa é um personagem marcante, não só pela sua voz que é lembrada por muitos ouvintes e colegas de profissão até hoje, mas também por seu carisma, inteligência, bondade e competência. Paulo Branco, locutor gaúcho, mas que se destacou nas rádios paranaenses, conta que sempre teve muito respeito e admiração pelo nosso personagem e por sua história. Mesmo nunca tendo trabalhado junto com Ubiratan, PB, como é conhecido, acompanhava seu trabalho. Para ele, os melhores programas criados para a rádio Clube tinham direção ou apresentação de tio Bira. ‘’Ele era visionário, como se soubesse que depois viria a internet e que poderia trabalhar por lá’’, conta. Segundo relata o locutor gaúcho, Ubiratan teve uma grande vantagem sobre os demais radialistas, pois sempre soube onde queria chegar trabalhando na rádio e o que faria quando saísse dela.

SUCESSO NO RÁDIO

Com mais de 50 anos de atuação, Ubiratan Lustosa adquiriu um talento quase inexplicável diante do microfone. Entre suas memórias mais marcantes está o sucesso de audiência Calouros B2, programa que apresentava em parceria com Mário Vendramel na Rádio Clube. Outro momento de destaque na memória desse radialista

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está a lotação do auditório da Clube, em programas que mostravam aos ouvintes um pouco mais sobre os radioatores, cantores e locutores da emissora. Considerado um dos pioneiros da radiofonia na capital paranaense, esse curitibano nato, nascido em 1929, é um dos personagens mais importantes na história do rádio curitibano. Seu trabalho contribuiu de forma ímpar para a formação da rádio e da popularização de programas de auditório transmitido pelas estações antigamente.

O RADIALISTA COMO ESCRITOR

Ubiratan sempre foi dedicado a literatura e a cultura paranaense. Em seus programas na rádio sempre lia contos que mostravam à história de Curitiba na época ou até mesmo suas próprias histórias, entretendo os ouvintes com uma boa narrativa. O amor pela escrita foi tanto que Tio Bira escreveu quatro livros. “O Rádio do Paraná – Fragmentos de sua História” e “Nosso encontro com Ubiratan Lustosa” contam a história do próprio Ubiratan nas emissoras paranaense e

“UBIRATAN LUSTOSA PODE SE ORGULHAR DE SUA NOTÁVEL PARTICIPAÇÃO NA FORMAÇÃO DO RÁDIO NA CAPITAL”

Aos 85 anos, recém-aposentado, mas com muita atividade pela frente, Ubiratan Lustosa pode se orgulhar da sua notável participação na formação do rádio na capital. Com quatro livros já publicados, e um quinto a caminho, esse radialista, poeta, trovador, escritor, letrista, contista e historiador tem memórias preciosas da história do rádio, e passa suas tardes compartilhando alguns desses fatos com amigos e fãs através da internet.

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sua visão sobre a rádio na época em que começou a trabalhar, até os dias de hoje. Para explanar sua paixão e admiração por Curitiba, Lustosa escreveu dois livros falando sobre a história paranaense e suas peculiaridades. “Raia, “setra, sapecada e outras narrativas curitibanas” e ‘‘Trilogia do amor no parque e outras poesias paranaenses” narram de forma divertida como era um bonde de boi, o que era a sapecada e outras histórias que ele mesmo vivenciou em Curitiba durante sua juventude.


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O REI DAS TRAQUITANAS Osni Bermudes Ana Carolina PacĂ­cico Guilherme Zuntini Matheus Urbano

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á vem o pequeno Osni com suas engenhocas. Fitas adesivas, papéis e tesoura no bolso. Quem via aquela criança alegre inventando histórias sabia que ela se tornaria importante para alguma coisa, só não sabiam que essa “alguma coisa” seria revolucionária. Osni Bermudes começou sua vida profissional muito jovem e desde pequeno esbanjava criatividade, desenvolvendo assim um perfil de um grande comunicador. Esse homem se tornou um dos principais nomes da mídia paranaense. É impossível falar de Bermudes e não falar de suas “traquitanas”, criações com o objetivo de prender a atenção do telespectador, durante os intervalos comerciais. Quando a TV começou no Brasil, era totalmente diferente do que conhecemos hoje, tinha um ritmo mais lento. Durante a programação, entre um programa e outro, precisava-se tempo para modificar luz, tapadeiras e cenários. Na época, não era costume no país a inserção de comerciais, e quando transmitidos ao vivo, podiam durar até dez minutos. Num primeiro momento, as televisões usavam slides para avisar a próxima atração, feitos na própria televisão, pelos desenhistas da época. Entre eles, Juarez Machado, famoso pelo mundo, que até chegou a fazer uns quadros para o Fantástico em 1978. Osni achava isto monótono, pois afinal, televisão é imagem em movimento. Quando fez uma viagem à São Paulo e percebeu que poderia dar vida aos comerciais, chegou em casa e foi para a pequena

oficina que possuía no quintal. Lá, pegou um antigo vinil, colou fitas adesivas brancas e no meio, o desenho do indiozinho da TV Tupi. Com a força do movimento de um motor, colocou para rodar. Aquilo já despertava um efeito hipnótico. Nos anos 1960, traquitana era sinônimo de televisão, as pessoas começaram a gostar e motivou Osni a mudar para uma coisa mais sofisticada e homenagear datas comemorativas: dia dos pais, das mães, do professor, do bombeiro, do médico, entre outros. Uma das mais marcantes ele fez pra Elis Regina, que veio se apresentar no Paraná. Além da que ele criou quando o Walt Disney morreu, pois era um grande fã. Remexeu no baú de brinquedos e achou a carinha do Pato Donald. Fez furinhos nos olhos do Pato, colocou dois pequenos canos por trás e com uma seringa, fazia o Pato Donald chorar. Gil Bermudes, filho de Osni, conta emocionado que as traquitanas faziam um tremendo sucesso, tanto, que o público passou a esperar mais por elas do que pela própria programação.

COMO TUDO COMEÇOU...

Morou a vida inteira numa casa no bairro Alto da Glória em Curitiba, que deixou de herança para a viúva Helena, que relembra como o marido era criativo, conservador, mas ao mesmo tempo, pensava no futuro e a vontade de desenvolver um museu comprova exatamente isso. Porém, por falta de financiamento, nun-

“É IMPOSSÍVEL FALAR DE BERMUDES E NÃO FALAR DE SUAS “TRAQUITANAS”, CRIAÇÕES COM O OBJETIVO DE PRENDER A ATENÇÃO DO TELESPECTADOR” Revista Persona

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ca conseguiu montá-lo. Vimos no sótão de sua casa, inúmeras relíquias, como rádios, televisões, peças de equipamentos antigos e, até mesmo, a primeira câmera usada na TV Tupi. A esposa de Osni, Helena, lembra quando as pessoas que tinham rádios velhos em casa e pensavam em jogar fora, sempre pensavam: “Ah, deixa aí que o Osni Bermudes quer”. Ele, louco por rádio ia buscar o aparelho às vezes cheio de cupim, e dava um jeito de transformá-lo em um novo. Filho de Ninho, artilheiro do primeiro jogo Atletiba. Não tinha talento para o futebol, gostava mesmo de comunicação. Desde pequeno brincava de fazer cineminha com os amigos. Aos dez anos trabalhou no ferro-velho do seu tio Afonso, juntou algumas peças e construiu um pequeno projetor. Pegou alguns filmes antigos, reuniu a garotada do bairro e, claro, cobrava alguns trocadinhos pela brincadeira. Mais velho, participou de uma espécie de rádio no colégio Santa Maria, no qual ganhou uma bolsa de estudos. Ele e outros personagens que fizeram parte da rádio no Paraná coordenavam a transmissão dos alto-falantes da escola. Além dos avisos, resolveram tocar músicas, transmitir os jogos colegiais, as missas e inclusive viraram os alto-falantes, que davam só pro pátio, para a rua e ajudaram a divulgar a programação da igreja. Isso chamou a atenção de alguns empresários de comunicação da época, um deles Tobias de Macedo, dono da Radio Marumby, que chamou toda a turma para trabalhar na emissora. Osni prestou serviços como sonoplasta para a Marumby. Em 1954 houve uma apresentação sobre televisão no centro de Curitiba, e claro que ele esteve presente. Chegando lá, viu aquela telinha mágica e ficou apaixonado, pensou: “É isso que eu quero”. Esperou a televisão chegar no Brasil, em 1960. A

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mão de obra que fomentava esse meio de comunicação vinha da rádio, os produtores estavam de olho naquelas pessoas. Osni fez um teste no Canal 6, a TV Tupi, que precisava de um auxiliar de estúdio. Passou no teste, mas pouco tempo depois, Ali Chain, produtor de TV que veio de São Paulo, viu nele um talento, a possibilidade de transformá-lo num diretor de TV. Era uma função nobre na época, pois o diretor não apenas selecionava as imagens, mas tornava-se responsável pelas criações artísticas. Em 1964, Osni assumiu a direção do Canal 12, apelidada de TV Quitinete, pois realmente era feita num quartinho do Edifício Mariza, localizado no centro de Curitiba, uma minitelevisão, desenvolvida por pessoas que não entendiam muito bem do assunto. Mas foi na TV Iguaçu, Canal 4, inaugurada em 1967, que Osni viveu seus melhores momentos. Paulo Pimentel trouxe o que tinha de mais moderno em equipamentos, as câmeras Marconi, produzidas inicialmente especialmente para a TV Iguaçu no Paraná. A emissora já nasceu planejada minuciosamente, com inovações, como os intervalos comerciais gravados previamente. Transmitiu o primeiro programa via satélite, ao vivo. Bermudes produziu o “Show de Jornal”, noticiário líder de audiência na época, mais de 90% do ibope. Neste telejornal que ele descobriu Laís Mann, âncora com apenas 20 anos e o descreve como um dos melhores profissionais que já passaram por sua vida, alguém competente e dedicado. “Era um espetáculo ver ele trabalhando. A televisão era a vida dele”. Osni recebeu muitos convites para trabalhar nas redes do Rio de Janeiro e São


Paulo, mas nunca aceitou nenhum. Em 1970, Curitiba tinha características de uma cidade muito pequena, então havia um certo medo de se aventurar nas grandes capitais. O pensamento de todos era “ganhamos bem aqui, somos famosos e temos tempo. Pra quê mudar?”. Ele se aposentou da telinha em 1977 e passou a trabalhar como Relações Públicas na Telepar, empresa de telefonia da época. Era uma boa oportunidade financeira, mas foi difícil deixar a TV. Osni saiu da televisão, mas a televisão nunca saiu de Osni. Na Telepar, criou um canal executivo interno, coisa que só depois as empresas passaram a usar para informar os funcionários. Ele espalhou vários monitores dentro do antigo prédio da Manoel Ribas, que transmitiam telejornais.

Como trabalhou em um meio de comunicação regional e sentia muito a influência das redes, em 1990 ele já falava que sentia saudades de uma televisão local e achava que isso ainda iria voltar. O sonho dele era ver a volta de uma produção local forte. Isso é o que ele queria para o futuro, além de sempre pregar que a TV deveria ter um papel social e emitir mensagens positivas. Osni Bermudes morreu em 2001 mas o perfil daquele menino inquieto nunca o abandonou. Inventava e criava em uma época sem tecnologia, sem computador, tudo era feito de maneira manual e artesanal. Faz falta até mesmo para quem não o conheceu

“OSNI BERMUDES, O HOMEM QUE PRODUZIU OS PROGRAMAS DE MAIOR AUDIÊNCIA E OS PRIMEIROS EFEITOS ESPECIAIS NA TV DO PARANÁ” Revista Persona

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O RADIALISMO COM APERTO NO CORAÇÃO Dionísio Filho Álvaro Lunardon Lucas Mörking Ramos Paulo Mörschbächer Roberta Nassar

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“OS FÃS ADORAVAM OUVIR SOBRE SEUS CLUBES AO MESMO TEMPO EM QUE OUVIAM MÚSICAS. UM PROGRAMA FEITO DE UM JEITO QUE APENAS ELE CONSEGUIA FAZER, COM BOM HUMR INCONDICIONAL”

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exta-feira, o relógio indica o final do expediente. Hora de ir para casa, não para os profissionais da rádio Banda B, que ficam no trabalho para o tradicional churrasco, o qual foi realizado durante anos. Carne na grelha, cerveja na geladeira e o Dionísio Filho com o violão, interpretando suas músicas favoritas do Jorge Ben Jor. Antônio Dionísio Filho, “Djonga” ou “Sangue Bom”, como era conhecido, tinha uma voz alta e única facilmente reconhecida, comentou Barcímio Sicupira Júnior, colega e um dos amigo mais próximos do querido Djonga.

Nascido em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Dionísio Filho ganhou notoriedade na mídia nos gramados, ex-jogador de futebol começou atuando pelo Botafogo SP. Seu primeiro grande clube foi o Atlético MG em 1976 e 1977, com qual foi campeão mineiro invicto. Demorou em se afastar dos gramados, depois de se aposentar como jogador tentou carreira como treinador, mas por falta de oportunidades acabou encontrando outra profissão, a de comentarista esportivo, na rádio Eldorado em Curitiba no ano de 1992. Cláudio Marques, ex-jogador de futebol, foi quem levou Djonga para a rádio, para faz-

“VIRAR RADIALISTA ESPORTIVO FOI A RECEITA PERFEITA PARA UM CRAQUE EM UMA CARREIRA QUE DURA TÃO POUCO COMO O FUTEBOL” Revista Persona

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er alguns comentários sobre os jogos. De certa forma foi graças ao Cláudio que Dionísio conseguiu uma carreira como comentarista, e por isso começou a chamá-lo de “padrinho”. Uma grande amizade foi feita entre os dois, sempre com muito respeito e carinho. “O Djonga era meu irmão negro , a gente tinha uma afinidade tão grande, que quando eu ia narrar jogos no Couto Pereira, a cabine da minha rádio ficava de um lado e a dele no outro, ele descia as escadas e vinha me cumprimentar, me abraçar, me beijar, era realmente uma relação de irmãos”. Logo, os produtores da rádio gostaram do jeito e do estilo com que Dionísio Filho falava dos jogos, e entendia do assunto por ser um ex-jogador. Djonga começou a ficar conhecido nas rádios, por seus comentários extrovertidos, e com muita alegria. “Interessante o palavreado, rápido o pensamento, tinha o famoso papo de boleiro”, relembrou Edu Brasil, ex-colega da Banda B.

O CHORO DE UM FILHO “Me recordo de ter ido apenas uma vez ao estádio assistir um jogo do meu pai, foi por volta dos meu quatro anos de idade”, lembra Cristiano Dionísio, filho mais velho de Djonga (seguido por Bibiana e Marcelo) ao falar da carreira do pai durante sua infância. Acontece que além do esporte nunca ter despertado grande interesse nos filhos de Dionísio, o ex-jogador não achava que um estádio de futebol fosse lugar para crianças, muto menos para os filhos de jogadores, já que a torcida costuma não ser delicada e também não mede xingamentos para aqueles que estão no campo. Enquanto muitos profissionais do sonham em ver seus filhos seguindo mo caminho do pai, Djonga nunca ímpeto de impor isso aos seus filhos,

futebol o mesteve o mas os

“O EX JOGADOR NÃO ACHAVA QUE O ESTÁDIO FOSSE LUGAR PARA CRIANÇAS, MUITO MENOS PARA OS FILHOS DOS JOGADORES, JÁ QUE A TORCIDA NÃO COSTUMA SER DELICADA” 22

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“DIONÍSIO MANTINHA SEMPRE O HÁBITO DA LEITURA DIÁRIA DE JORNAIS E REVISTAS, E PREOCUPAVA-SE EM EXPANDIR SEU CONHECIMENTO DO MUNDO ALÉM DO ESPORTE, ELE ADORAVA PODER CONVERSAR SOBRE QUALQUER ASSUNTO” incentivou em tudo o que tiveram vontade, e nunca Dionísio mantinha sempre o hábito da leitura diária de jornais e revistas, e preocupava-se em expandir seu conhecimento do mundo além do esporte, ele adorava poder conversar sobre qualquer assunto. Falar, aliás, lhe apetecia muito, e virar radialista esportivo foi a receita perfeita para um craque em uma carreira que dura tão pouco como o futebol. Logo familiarizou-se com a nova ocupação e desenvolveu um senso crítico maior ao assistir futebol na televisão, por exemplo. Já não apontava aos erros e acertos dos jogadores, mas o bom desempenho daque-

les que narravam e comentavam também. Sempre com bom humor e energia positiva, Djonga conquistava amigos por onde passava, e na rádio Banda B não poderia ter sido diferente. Fosse musicalizando o futebol no seu programa Sangue bom, ou dedilhando Jorge Ben nas confraternizações de domingo, ele deixava a marca de positividade e alegria. E foi exatamente o que ele deixou para aqueles que ficaram e sentem saudades do querido e eterno Antônio Dionísio Filho. deixou-os esquecer de que o estudo devia ser sempre prioridade.

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OS PASSOS PELA HISTÓRIA Milton Ivan Heller Danielle Spielmann Loraine Mendes Vinícius Costa Pinto

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De jornalista autodidata, escritor de livros sociológicos históricos - perseguido pela Ditadura Militar - a então acusador de suas mazelas. Milton Ivan Heller, um patrimônio histórico ainda em pleito constante, porém, desconhecido plenamente pela população paranaense Sentado em uma poltrona almofadada e confortável no seu quarto enquanto folheia um encadernado com algumas centenas de páginas, que contam os detalhes sobre os assassinatos políticos executados pelo Regime Militar durante a Era Médici, Milton Ivan Heller aponta dispersivo e aleatoriamente com o dedo indicador para as imagens, passeia os olhos curiosos que acompanham o movimento do dedo sobre elas, e logo prepara um comentário que narra parte da vida e morte das personagens ali impressas. “Este aqui, veja só, foi morto só porque estava no meio da multidão naquela hora. Não tinha nem 20 anos de idade”. Passa por uma breve pausa na qual descansa o encadernado sobre as pernas, ajeitas os óculos, penteia com as mãos os cabelos brancos para trás, respira, engole a saliva, molha os lábios protegidos por um espesso bigode, medita sobre o que disse, e parte novamente atrás de outras histórias.

Ao seu alcance possui uma escrivaninha, que já de longe projeta um livro sobre Marighela, embaixo deste, mais um livro sobre Lamarca. Aos 83 anos, já viúvo e avó, é ávido por leituras, principalmente as sociológicas e históricas referentes ao Paraná e aos anos de chumbo, pesquisas literárias empilhadas que dividem o tampo do móvel ao lado de um aparelho de inalação utilizado pelo menos uma vez ao dia. A fumaça da nebulização do inalador de hoje não é tão densa quanto às produzidas em 1966 pelos cigarros dos maços e mais maços de continental fumados na apertada antessala pequena durante os intervalos do processo que ocorria na 5° Regional Militar do Paraná pelos 20 jornalistas da sucursal paranaense do jornal a Última Hora, enquadrados na “Lei de Segurança Nacional” pelo Inquérito Policial Militar (IPM) de, segundo o texto oficial, “oferecem risco à segurança pública; agitação; apoio ao subversivo João Goulart; acolhimento ao guerrilheiro Luís Carlos Prestes enquanto este esteve de passagem por Curitiba; subversão durante a greve dos

“A FUMAÇA DA NEBULIZAÇÃO DO INALADOR DE HOJE NÃO É TÃO DENSA QUANTO ÀS PRODUZIDAS EM 1966 PELOS CIGARROS DOS MAÇOS E MAIS MAÇOS DE CONTINENATAL FUMADOS NA APERTADA ANTESSALA PEQUENA DURANTE OS INTERVALOS DO PROCESSO QUE OCORRIA NA 5ª REGIONAL MILITAR DO PARANÁ PELOS 20 JORNALISTAS”

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jornalistas no Paraná”, e consequentemente e a mais grave de todas: “aliança ao comunismo internacional”, conforme o documento do Habeas-Corpus NR 42.905. De tragada em tragada, o jovem Milton Ivan Heller, espremido entre os outros para saber se o documento de defesa aberto pelos jovens advogados, René Ariel Dotti e José Carlos Alvin, seria considerado pelo Supremo Tribunal Militar ou então recusado. Naquele momento, impaciência é o que se passava pela mente teimosa de Heller. Havia se metido ali porque um antigo companheiro do Diário do Paraná – o segundo emprego em periódico depois de começar no O Dia em 1950 –, Luiz Geraldo Mazza, seu professor de jornalismo às escondidas, o convidara para integrar a redação do Última Hora, depois do fim do Diário de Notícia. Heller não possuía Ensino Superior e se baseava nos escritos dos colegas.

Ele já presenciara um golpe anterior ao de 1964, quando os linotipistas perderam o emprego devido à chegada da impressora em off-set nas outras redações devido à modernização tecnológica imposta pelos padrões norte-americanos. O problema, ressalta Heller, é que o preço do processo era muito caro, então alguns jornais fecharam as portas, como foi o exemplo do Correio de Notícias. Logo, os dois, Mazza e Heller, foram a bater os dedos nas Olivettis da sucursal paranaense do UH de Samuel Wainer em 1959. Milton passou da seção de editorias de um jornal que flertava com o integralismo para repórter político de um periódico que assumia afinidades com o presidente mais à vanguarda que o Brasil até então já possuíra, João Goulart. Aí se encontra o problema dos 20 homens

“NAO PEDIA CONSELHOS, NO MÁXIMO QUERIA SABER SE LEVAVA JEITO PARA O JORNALISMO. TEIMOSIA E AUTODIDATISMO MISTURAM-SE NOS CIRCUITOS DAS SINAPSES REVOLUCIONÁRIAS” “Não tinha experiência em jornalismo. Só achava que o Mazza escrevia boas reportagens, então eu lia a todas e depois tentava copiar o estilo”. Mas não dava o braço a torcer, aplicava em si mesmo as aulas de técnicas narrativas, por meio da leitura solitária. Não pedia conselhos, no máximo, queria saber se levava jeito para o jornalismo. Teimosia e autodidatismo misturam-se nos circuitos das sinapses revolucionárias.

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e várias acusações. Nenhum deles apresentava risco à segurança nacional, nem tinha comunicação ou aliança com o Comitê Soviético. Apenas perseguidos pela mania militar totalitária gerada pelo Golpe de 1964, que retira “Jango” do poder, fecha o congresso, e inicia a cruzada anticomunista pelo país. Antes de 1968, ano em que o Regime oficializa o Ato Institucional Número 5, AI-5, que legitimou ilegal-


mente a perda da liberdade de expressão individual ou de grupo; Milton já passava por isso em 1964, quando o IPM é aberto para investigar possíveis atividades irregulares da equipe de redação do UH. Paradoxalmente, é neste mesmo ano em que a repressão é assumida pelo governo, quando os 20 acusados conseguem absolvição. Apesar de tirar o peso e poder respirar sem um militar o vigiando, foram quatro anos perdidos para Heller. Anos em que todos foram impedidos de realizar a profissão jornalística, durante o IPM de 1964 a 1968. Mazza, formado em Direito, conseguia se arranjar, Sylvio Carlos Back, um dos 20, fizera cursos exteriores com especialização em inglês e francês, além de já dar seus primeiros passos como cineasta. Agora, Ivan Heller, foi se virar como vendedor de livros ambulante, de porta em porta. Isso explica porque até hoje não se desgarra de um exemplar quando o tem em mãos. Talvez também seja a razão de sua carreira posterior a de jornalista, a de escritor. Terminou a carreira como jornalista em 2000 no Estado do Paraná, passando pela Revista Panorama, Placar, assessoria de imprensa da prefeitura de Curitiba e da Agência Pública do Paraná, além da Rede Globo de Belo Horizonte. “Eu teria me aposentado com cinquenta anos de profissão completos, mas não pude por causa dos quatro anos do inquérito”.

Hoje, somam-se já seis exemplares de autoria de Heller, desde os algozes dos indígenas aos relacionamentos do governo norte-americano na ditadura brasileira, análises sociológicas sobre as guerras civis, o emblemático livro a Resistência Democrática no Paraná, e os cinquenta anos do golpe lançado ano passado. Além de estar com mais um projeto sobre Francisco da Rocha Pombo, que de acordo com Heller, “foi um homem importante para a história do Paraná, e ninguém conhece sua verdadeira história”. O teimoso autodidata não pára. Hoje pesquisa e também é pesquisado. “Ele me entrevistou para escrever sobre o livro dos cinquenta anos do golpe”, comenta Aziel Filho, torturado durante 36 dias em São Paulo por tentativa de organização do partido Ação Popular. “Eu cheguei a ele em 2005, para escrever minha monografia sobre jornalistas de esquerda no Paraná”, conta Teodolino Souza, assessor de imprensa. Milton desliza pela história brasileira com a curiosidade de como seu percurso ainda não tivesse parado. Não percorre mais a cidade de porta em porta gastando a nódoa dos dedos vendendo o livro dos outros, anota seus pensamentos agora em computador, não precisa falar pelas entrelinhas, nem se utilizar de sutilezas comuns à época das fardas em cima da imprensa. O sentimento de medo passou à incontrolável prosa sociológica contra a “linha dura” que às vezes ainda persiste nos dias de hoje.

“O TEIMOSO AUTODIDATA NÃO PÁRA. HOJE PESQUISA E TAMBÉM É PESQUISADO” Revista Persona

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PERSONA 2ª Edição - Julho de 2015 Revista do Projeto Integrador do Curso de Jornalismo PUCPR REITOR Waldemiro Gremski CORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Julius Nunes COORDENADOR DO PROJETO INTEGRADOR Cícero Lira COORDENADOR DO PROJETO GRÁFICO Rafael Andrande PROJETO GRÁFICO José Helinton Loraine Mendes Lucas Morking Ramos Foto capa: Loraine Mendes Alunos - 4° Período de Jornalismo PUCPR Álvaro Lunardon, Anna Caroline Pires, Ana Pacífico, Ana Souza, Ana Paula Rusycki, Caroline Ribeiro, Danielle Spielmann, Guilherme Zuntini, José Helinton, Karen Loayza, Letícia Zan, Loraine Mendes, Lucas Ramos, Manoela Campos, Marjorie dos Santos, Matheus Urbano, Paulo Morschbacher, Renata Fernandes, Renata Souza, Roberta Nassar, Verônica Rocha, Vinícius Pinto

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