REVISTA LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO DA PUCPR
NÃO APAGUE A LUZ! Cobrir os pés, se esconder debaixo das cobertas e dormir de luz acesa. O medo do escuro é mais comum do que você pensa.
CDM EXPEDIENTE
REVISTA CORPO DA MATÉRIA ANO 11 - EDIÇÃO 27 - JUNHO DE 2013 COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO NOTURNO PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ Rua Imaculada Conceição, 1.155 - Prado Velho - Curitiba - Paraná REITOR CLEMENTE IVO JULIATTO DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES ELIANE C. FRANCISCO MAFFEZZOLLI COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO JULIUS NUNES COORDENADOR EDITORIAL JULIUS NUNES JORNALISTA RESPONSÁVEL PAULO ROBERTO FERREIRA DE CAMARGO COORDENADORA DE PROJETO GRÁFICO JULIANA PEREIRA DE SOUSA CAPA RODRIGO DE LORENZI OLIVEIRA EDIÇÃO DE ARTE FELIPE RAICOSKI ALINE DOS SANTOS VALKIU ANA CAROLINA WEBER VASCONCELOS DANIELA HENDLER DIANA SOARES FARIA DE ARAÚJO DIEGO FERNANDO LASKA FABIO WOSNIAK DE CHAVES FELIPE GIANNINI RAICOSKI FELIPE MARTINS GONÇALVES GUILHERME ANTONIO FRANCO ZUCHETTI JOÃO PAULO NUNES VIEIRA JULIANA SATIE OSHIMA KAMILLA MARTINS FERREIRA KAUANNA BATISTA FERREIRA LIRIS VIDAL WEINHARDT LUCAS DZIEDICZ LUIZE RIBEIRO DE SOUZA LYDIA CHRISTINA BRUNATO DE CAMARGO MARIANA D ALBERTO EL FAZARY RAFAELA GABARDO RAFFAELA SILVESTRE PORCOTE RAISSA SILVEIRA DE MELO RENAN MARTINS MACHADO RODRIGO DE LORENZI OLIVEIRA ROGÉRIO LUIZ FERREIRA JÚNIOR SHAIENE RAMÃO DOS SANTOS THARCILLA PAZINATTO HUNZICKER
Apresentação
A medida que avançamos e chegamos mais perto de nos tornarmos jornalistas, os desafios aumentam. Literalmente. Produzir uma revista de qualidade, com imagens atrativas, diagramação moderna e linguagem consistente é um desafio que tentamos superar desde o início deste semestre. Com a orientação de nossos professores, trazemos a vocês a primeira edição totalmente reformulada da Revista CDM. Mais do que exercitar o fazer jornalístico, buscamos apurar conteúdos que permeiam os aspectos da vida de quem mora em Curitiba e Região Metropolitana. Procuramos acrescentar ao material a forma que nós curitibanos – de nascimento ou por adoção – nos identificamos com as múltiplas facetas da sociedade. Somos típicos moradores de uma metrópole que não para de crescer, enfrenta desafios e descobre novidades a cada dia. Estamos ligados ao que acontece em nossa vizinhança e no resto do mundo; e comprimir essa pluralidade em um produto editorial nunca é uma tarefa fácil. Nesta edição, preferimos dar destaque à cena noturna da capital e a seus desdobramentos entre as pessoas. Um espaço pouco explorado, mas cheio de aspectos que merecem ser divulgados. Boa leitura!
Foto: Guilherme Zuchetti
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NESTA EDIÇÃO
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Por que tememos o escuro? por Rodrigo de Lorenzi
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Shh, apague a luz, por favor por Raffaela Porcote
Confesse, você tem medo do escuro? Descubra o que leva o ser humano a temê-lo e quando pode se tornar patológico.
A intimidade entre quatro paredes sempre é tabu. Palco de traições, comemorações e das mais engraçadas histórias, os motéis são o local mais propício para realizar desejos.
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Luz acesa ou apagada? por Mariana El-Fazary
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Uma vida sem teto por Shaiene Ramão
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Taxista: profissão perigo por Aline Valkiu
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Uma história esquecida por Diego Laska
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Lutas de robô a pulseiras de identificação por João Paulo Vieira
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Ondas noturnas por Lucas Dziedicz e Tharcilla Hunzicker
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Um tanto quanto notívagos por Fábio Wosniak e Rogério Ferreira
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Um turismo diferente por Diana Araújo
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Em Curitiba como em nenhum lugar do mundo por Luize Souza e Juliana Oshima
A criatividade pode surgir nos mais diversos momentos, inclusive durante a noite. Para muitas pessoas, o período do sono funciona como válvula de escape para os problemas do cotidiano.
Seu Jô, morador das ruas de Curitiba há 12 anos, relata o cotidiano de quem não tem um teto para morar.
As ocorrências de assaltos a taxistas na capital parananese aumentam em ritmo acelerado e assustam quem precisa trabalhar no período da noite.
Poucas escolas em Curitiba oferecem a disciplina obrigatória sobre os aspectos da História da África e da Cultura Afro-Brasileira. Instituições de ensino precisam se adequar à lei, que já completou dez anos.
O esquecimento de crianças pelos pais é cada vez mais comum. Estudantes da PUCPR desenvolvem pulseira que apita quando o adulto se afasta.
Iluminados pela lua cheia, os surfistas notívagos aderem à prática do esporte em horário não convencional para descobrir novas sensações.
Para fugir da rotina ou pela correria do dia-a-dia, eles preferem se exercitar durante a noite. Conheça os notívagos.
Maratonas de bares, ou Pub Crawls se espalham pelas cidades de todo o mundo. As opções são uma opção fácil para conhecer a vida noturna dos lugares. Diversão garantida.
A noite curitibana oferece diferenciais que não podem ser encontrados em nenhum outro lugar. Festas que só terminam no amanhecer, diversidade de público e opções variadas são pontos positivos.
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A próxima sessão por Daniela Hendler e Rafaela Gabardo
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A arte de fazer rir por Renan Machado
Projeto que oferece sessões de cinema gratuitas cativam o público apreciador da sétima arte e aprofunda o conhecimento dos participantes sobre os movimentos do século XX.
Bruna Louise Castro conta como iniciou no mundos dos stand-ups e dá dicas aos que desejam entrar no ramo. Ainda mais na província!
Rodrigo de Lorenzi
Por que tememos o escuro? Quando o medo torna-se intenso e irracional, você pode sofrer de nictofobia. E isso também atinge os crescidos
João Pedro tem 10 anos. Quando ficou sabendo que daria uma entrevista, arregalou os olhos, sorriu e disse: “Ai, meu Deus! Vou ser entrevistado!”. Mas seu rosto mudou rapidamente quando falamos sobre o escuro. João Pedro tem medo de entrar em qualquer lugar que não tenha luz. Às vezes diz enxergar algumas sombras assustadoras em cômodos obscuros. Nessa hora, as paredes assumem formas esquisitas, barulhos são ouvidos do nada e alguma coisa embaixo da cama ou de dentro do armário pode sair.
O medo do escuro é mais comum em crianças entre 4 e 6 anos, indo até os 9. Após essa idade, geralmente, o temor começa a desaparecer. Porém, algumas vezes não some e engana-se quem pensa que esse comportamento está restrito às crianças. Muitos adultos entram em pânico quando precisam lidar com a escuridão. Esse problema tem nome e não é muito bonito: nictofobia. Em 2001, uma pesquisa feita pela Gallup News Service revelou que 5% da população norte-americana tem medo do escuro. Desses, 5% são mulheres e 2% são homens, mas essa porcentagem pode ser muito maior se pensarmos que diversos adultos so-
frem de insônia por causa do medo da escuridão e, por vergonha, não contam a ninguém. Para os especialistas, a origem desse terror do escuro pode estar ligada geneticamente aos nossos ancestrais, já que moravam em cavernas e, quando a noite caía, eles não conseguiam enxergar seus predadores, causando pavor em todos que temiam virar refeição para os animais. Enquanto o sentido de outras criaturas evoluiu ao longo do tempo para se adaptar à escuridão, o ser humano permanece relativamente indefeso quando não há luminosidade. Para a psicóloga Izabela Vicente de
Sono Pessoas que possuem um medo exagerado do escuro não conseguem dormir direito.
Oliveira, no escuro nós nos sentimos vulneráveis a perigos e ameaças e, dessa forma, o medo nos deixa em estado de alerta. “Enquanto o escuro é incerto, a luz tranquiliza. Além disso, culturalmente o escuro vem associado ao sobrenatural, ao imaginário que ameaça e, dependendo das crenças individuais ou de traumas passados, o medo pode se instalar”, exemplifica. Para o pai da psicanálise, Sigmund Freud, o medo está ligado à separação e ausência de nossas mães. Ele escreveu que “a saudade sentida na escuridão é convertida em medo do escuro”. Fobia Ter medo, como já foi dito, é natural. Porém, para algumas pessoas, isso pode gerar uma fobia quando a pessoa paralisa ou tem reações incontroláveis, fazendo dela dependente das outras. O ilustrador Gabriel Ortolan tem 24 anos e se sente completamente vulnerável à escuridão. “À noite, basta algum barulho pra me deixar ansioso. Certa vez, me incomodei muito quando eu estava na aula de natação, faltou energia e o fundo da piscina escureceu, o que me deixou muito agoniado. Outra vez foi quando eu estava na sala da minha casa, a luz acabou e eu fiquei paralisado, suando frio e respirando fundo enquanto esperava a energia voltar ou alguém da minha família aparecer”, relata. Para a psicóloga, as crianças fantasiam em torno de fantasmas, monstros, bichos e esses pensamentos despertam o temor. Muitas vezes, um adulto com
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medo intenso de escuro traz desde sua infância esse sentimento. A estudante Amana Scandelari é outro caso de fobia. “Isso me acompanha desde que eu me lembro e acontece em qualquer ocasião em que eu esteja no escuro, mesmo durante o dia. Eu preciso sair correndo e encontrar uma luz, mínima que seja.”, assume. Embora dormir com a luz acesa pareça ser a solução, estudos mostram que a escuridão é benéfica à saúde e evitá-la pode não ser uma boa ideia. A exposição prolongada à luz antes de dormir suprime a liberação de melatonina (hormônio responsável por regular o sono) e pode aumentar o risco de transtornos de humor, obesidade e distúrbios do sono. Amanda, por exemplo, quando sente medo,
acaba sofrendo de sonambulismo. “Sempre que acaba a luz lá em casa no meio da noite e eu estou dormindo, entro no quarto da minha mãe correndo e só acordo quando estou na cama e ela me olhando com uma cara estranha. Esses dias eu levantei e pedi que matassem uma aranha. Enquanto procuravam, eu voltei a deitar. E, quando acordei, não lembrava de nada”, relata. Mas para quem sofre com esse problema, a psicóloga afirma que há tratamento. Quando o medo toma proporções incontroláveis, é necessário realizar uma intervenção psicológica a fim de que se possa descobrir o motivo do distúrbio. “Onde e por que ele ocupa esse lugar na subjetividade do paciente? O que mantém esse senti-
mento presente e com tamanha força? É a partir do conhecimento desses fatores que podemos traçar um plano de tratamento para o medo em questão”, orienta. Portanto, fique tranquilo! O medo é natural tanto em crianças quanto em adultos, mas vale se ajudar: antes de dormir, não assista a filmes de terror, não pense em coisas tenebrosas e, principalmente, tente enfrentar seu próprio medo. Afinal, quando você acordar, seu quarto estará com o mesmo aspecto de quando você foi dormir.
Rodrigo de Lorenzi
Foto: Rodrigo de Lorenzi
Eu fiquei paralisado, suando frio e respirando fundo enquanto esperava a energia“ ”.voltar ou alguém da minha família aparecer Gabriel Ortolan, 24
Fique atento Quando o medo toma proporções incontroláveis, é necessário intervenção.
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Imagens stock.xchng montagem Felipe Raicoski
Shhh, apague a luz, por favor
Era noite. Talvez dia. Não importava. O casal cochichava intimidades e trocava olhares insinuantes, clichê dos que tramam o proibido. Por debaixo das roupas virtuosas da moça, peças abundantes em atrevimento. Nem 20 Ave-marias os absolveriam. Mas esse crime que se projetava tinha sua legitimidade. Tamara Silva e Rodrigo Alencar passaram um ano juntos, aguentando-se. E isso exigia comemoração. Suava frio. Enquanto as máquinas de escrever terminavam de enlouquecer os colegas no fechamento do dia, V.M., novata na redação, repousava o telefone no gancho com calma, simulando inocência. Ninguém havia percebido. A jornalista combinou de encontrar o colega bonitão, que a azarava, no dia do jantar de confraternização da firma. Precisamente cinco horas antes do evento. O que aconteceria não precisava de fonte para confirmar o delito.
Para desvendar o fim dessas histórias, não é necessária muita imaginação. Começam assim, com uma intenção e um lugar comum para o desfecho: o motel. São ambientes elaborados, que brincam com as fantasias dos clientes e garantem a privacidade dos encontros amorosos. “Quando não podemos dormir na casa do meu namorado, vamos a um motel. Além de mudarmos a nossa rotina, mantemos nossa intimidade em segredo”, afirma Priscila Lopes, que namora há seis anos. Os serviços oferecidos pelos motéis, em Curitiba, são bastante diversificados, algumas empresas incluem temáticas nas suítes para proporcionar aos clientes um lugar incomum para os encontros, como o Motel Ta-Yo, em que as locações imitam quartos estilizados na cultura japonesa. Para o gerente de TI Oscar Valliatti, o que o motiva a procurar motéis é a fuga do cotidiano. “Sempre peço suítes divertidas, que transportem a mim e minha parceira a outro lugar. Já que estamos fora de casa, queremos algo inusitado, que não faça parte do nosso dia a dia.” Mas não é todo mundo que gosta de pagar para ter privacidade. Antonio
Soares, militar, acredita que os ambientes proporcionados pelos motéis são desconfortáveis, pois tiram a espontaneidade do momento a dois, deixando tudo muito óbvio. “É antihigiênico e acho que convidar alguém a ir a um motel força a barra. É algo que deve ser natural, não programado.
também prezam pelo conforto e privacidade. Em Curitiba, leitos mais simples custam entre R$ 49,90 a R$ 75, como é o caso da suíte Acácia, do Motel My Garden. Muitas empresas já oferecem nos sites cupons de desconto, entre 10% a 30%, além de fazer promoções aos que desejam ir
Quem dera ser um peixe“ Para em teu límpido Aquário mergulhar Fazer borbulhas de amor Pra te encantar Passar a noite em claro ”...Dentro de ti ”Borbulhas de Amor“ Fagner
Como sempre morei sozinho, nunca tive que frequentar. Mas compreendo a necessidade de quem não tem a mesma possibilidade que eu”, conclui. Para quem quer gastar pouco, há suítes mais econômicas, que oferecem serviços menos sofisticados, mas que 10
durante a semana. Para os mais chegados em extravagâncias, é possível gastar R$ 500 com facilidade na suíte Mirage, do Motel Celebrity, que une dois quartos em um só com sistema de espelhos e três pisos, além de possuir cascata na piscina.
Encontros assim, que geram despesas, causam dúvidas nos casais quando chega a hora de pagar. Para o advogado Tairo Oliveira, a obrigação é sempre do homem, que deve garantir o romantismo sem permitir que a parceira se preocupe com o valor da diversão. “Acho deselegante e insisto em pagar”, afirma. Mas, segundo uma pesquisa feita pelo Motel Atenas, de Porto Alegre, essa visão, que reflete valores machistas está mudando. Cerca de 35% dos gaúchos acreditam que quem faz o convite deve se responsabilizar pelos gastos, 26% não se incomodam quando é a mulher que se oferece para pagar e 13% acreditam que a conta deve ser sempre dividida. Mas Tamara e Rodrigo não se importam com essas formalidades. Para eles, paga quem estiver com dinheiro no momento. Depois da comemoração de um ano de namoro, no Motel Solemio, em Pinhais, decidiram que era hora de ir embora. Recompuseram-se e entraram no carro, um Voyage 2012, emprestado pelo irmão dele para dar mais elegância ao encontro. “Onde está a minha carteira, amor?”, perguntou Rodrigo, um pouco sonolento. Não está. Ficou em casa. E agora? O jeito foi deixar o carro como garantia de pagamento e andar os 3 km de volta a pé. Na saúde e na doença. “Amanhã a gente resolve”, riu Tamara. E na estrada, já na BR 277, V.M. estava dentro da Parati cor branca do colega de redação. Ambos estavam excitados pela clandestinidade do encontro. Assim que entrou no carro, um beijo. Ele acelerou. Quase chegando. Há 300 metros de entrar no motel, o automóvel parou. O colega ficou tão empolgado que esqueceu de abastecê-lo. Foi até o telefone público mais perto e ligou para o tio, implorando por socorro. Aqueles 300 metros tinham de ser vencidos. Meia hora de espera, na escuridão da estrada, e chegou o amparo. Depois de ouvir o sermão do tio, que condenou a falta de precaução do sobrinho – e o embaraço da situação, o problema estava solucionado. A noite chegou. E demorou para acabar. Raffaela Porcote
Mariana Fazary
Luz acesa ou apagada? Para algumas pessoas, ĂŠ na hora de dormir que a criatividade surge. JĂĄ para outras, eliminar algumas horinhas de sono diariamente faz parte da rotina.
Atividades noturnas Ler tarde da noite torna-se uma escolha quando nĂŁo se .tem tempo durante o dia
Mariana Fazary
Segundo a psicóloga Guisela Schmidt, o relógio biológico é ativado principalmente pela luz. “Há nos notívagos, por genética, meio ambiente, estilo de vida, personalidade e idade, uma combinação que o leva a ter seu relógio biológico atrasado em até seis horas”, esclarece. Com relação à criatividade, a psicóloga fala que ela depende do organismo estar livre e aberto, deixando fluir sua intuição e os seus processos internos. “Se eu fosse escrever um livro, por exemplo, com certeza o faria nas madrugadas, pois é a hora do dia em que minha mente ‘flui’”. Essa afirmação da empresária Christiane Beling Victorino Hillesheim, proprietária de uma empresa de festas infantis, define bem como ela se sente à noite. Christiane não se considera uma pessoa produtiva fisicamente nesse período, mas muito mais criativa. Como ela depende da criatividade para vender seus produtos, precisa reinventar algo, das mais variadas formas, todos os dias. A empresária costuma dormir de seis a oito horas por dia e é à noite, com a luz apagada, as crianças dormindo e o silêncio absoluto, que as ideias chegam à sua mente. “Meu marido sempre dorme mais cedo, daí eu começo meus delírios. Na cama planejo toda e qualquer festa que eu venha a fazer nos próximos três ou quatro meses. Às vezes e, não muito raro, eu acordo no meio da noite e perco o sono imaginando alguns projetos, algumas formas, algumas ideias. Mas raramente me levanto para fazer alguma anotação. Quando isso acontece, eu acordo mais cedo, superempolgada para realizar as coisas que planejei durante a madrugada”, conta. Segundo a profissional, a criatividade noturna é algo que vem dos tempos da escola. Já naquela época, era deitada que as ideias para o outro dia surgiam. No período da faculdade, mais
corrido, ela aproveitava a madrugada para ler, fazer trabalhos ou ter alguma “ideia mirabolante”. Quando pensa demais durante o dia, a analista de suprimentos Lilian Aparecida de Azevedo tem a tendência a não “desligar” tão cedo. Há 10 anos, Lilian tem crises criativas durante o sono. Desde então, acorda no meio da noite para escrever frases ou algo que auxilie em sua vida profissional, seja no bloco de notas do celular ou no de papel, que já fica ao seu lado, no criado mudo. Ela relata que um dos casos mais curiosos aconteceu há pouco tempo. “Tive um problema seríssimo na empresa, há semanas não conseguia detectá-lo, inclusive chegava a sonhar com as ações que estava realizando, mas não chegava a lugar algum, eram apenas alucinações. Então decidi relaxar um pouco e saí numa sexta-feira com alguns amigos para um happy hour. Nos divertimos, dançamos, bebemos e cheguei em casa super cansada. No final das contas, acordei no outro dia com a solução escrita em palavras chaves, num papel ao lado do criado mudo”. A médica Danielle Malaquias, otorrinolaringologista especialista em medicina do sono, explica que é dormindo que fixamos as informações que captamos do mundo durante o dia e, armazenamos essas informações nos locais cerebrais apropriados, podendo até mesmo resolver problemas. “Assim podemos dormir com um problema e acordar no outro dia com a solução”, explica. Exatamente o que aconteceu com Lilian. Felipe Matheus Stresser, jornalista, fotógrafo e editor de vídeos freelancer, acredita que o período da noite é mais tranquilo. “Não tem ninguém chamando no Facebook, mandando
Relógio biológico Combinação de fatores pode levar a um atraso de até seis horas em algumas pessoas.
Se eu fosse escrever um livro, por exemplo, com certeza o faria nas madrugadas pois é a hora do dia em que minha mente ‘flui’. Christiane Beling Victorino Hillesheim, empresária.
e-mail, ligando no celular, fazendo barulho. Tudo contribuiu para uma concentração maior”, confidencia. Por isso, ele costuma editar seus vídeos à noite, quando sua produção fica melhor. Hoje em dia é comum ver pessoas de sucesso como médicos, empresários e artistas, dando declarações de que dormem poucas horas de sono por noite. Segundo a psicóloga Guisela Schmidt, cada vez mais as pessoas abdicam de algumas horas de sono para realizarem aquilo com o qual se comprometem. E muitos podem sim, se influenciar por meio desse tipo de declaração, porque veem como modelo aquele que tem mais sucesso, às vezes até sentindo-se mal por não poderem acompanhar tal desempenho. “Inclusive, no mundo corporativo, as pessoas gabam-se das tantas horas vividas nisso ou naquilo e das poucas horas de sono”, conta. Stresser fala que essa rotina noturna começou ainda na época da faculdade, quando dividia a casa com outras pessoas e só tinha internet discada para fazer trabalhos. Quando todos iam dormir e liberavam a linha do telefone, ele entrava em ação. Atualmente, o profissional diz que não tem uma rotina definida e, uma vez que começa um trabalho vai até o fim, para acabar o quanto antes. Segundo a médica Danielle Malaquias, a quantidade de sono ideal por dia varia de pessoa para pessoa, podendo ser de 6 a 10 horas, em média. Para a psicóloga Guisela, é preciso que se tenha uma organização diária, para que não haja a necessidade de se sacrificar horas de sono para o cumprimento de atividades. É preciso fazer render tanto o dia quanto a noite, de forma a respeitar o ritmo biológico de cada pessoa. Mariana D’Alberto El-Fazary
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Foto: Kauanna Batista
Uma vida sem teto O drama de quem vive e sobrevive nas ruas de Curitiba
Já passa das dez da noite. É quintafeira e as luzes da Praça Rui Barbosa, uma das mais conhecidas de Curitiba, iluminam os passos das poucas pessoas que passam por ali. O frio faz com que os cães que vivem no local se escondam entre as folhas das árvores que se acumulam no chão. Junto às mesmas folhas, também tentando fugir das baixas temperaturas da noite, José Aparecido Waleski se abriga. Com 43 anos de idade, ele já vive há 12 nas ruas da capital paranaense. Moreno, com barba comprida e mal feita, olhos cansados e o cabelo grisalho, ele conta recortes de sua vida, deitado embaixo de uma árvore centenária, fazendo carinho em Lupe, seu companheiro canino. O simpático senhor poderia ser poeta, ou melhor, é um poeta ainda não descoberto. “É engraçado, sabe? Eu estou aqui, deitado, olhando as estrelas e vendo as pessoas passarem de lá pra cá o tempo todo e fico me perguntando: Como deve ser a vida daquela pessoa? Quem será que ela é? O que
faz? E, ao mesmo tempo, você se senta aqui e quer saber como é minha vida, quem eu sou, o que eu faço. A vida é engraçada. As pessoas sequer imaginam quem nós somos e o que vemos e vivemos”, diz ele, se referindo aos moradores de rua. A infância do “Seu Jô”, como prefere ser chamado, não foi fácil. Filhos de pais poloneses que chegaram ao Brasil durante a Segunda Guerra Mundial passou a infância numa cidade do interior do estado de São Paulo, que ele não lembra o nome. Seus pais trabalhavam em uma lavoura de café e logo cedo, ainda com 12 anos, José já era responsável por cuidar dos dois irmãos mais novos: João Fernando Waleski, que na época tinha 10 anos e Josenildo Waleski, de 7. Ao lembrar-se dos irmãos, as memórias apagadas pelo tempo tomam vida. “Eu me lembro pouco, não sei por quê. O João morreu quando eu tinha uns 15 anos. Ele ficou doente e naquela época não tinha hospitais, vacinas e o sítio em que morávamos era longe da cidade. Aí ele morreu. Mas já faz tempo. Sinto sau-
dades, mas já faz muito tempo”. Em 1988, quando o José completou 18 anos, seu pai conseguiu um emprego com um amigo polonês, que acabara de chegar ao Brasil. A família veio para Curitiba em busca de melhores condições de vida. Eram pai, mãe e dois filhos, que só tinham estudado até o 6º ano do ensino fundamental. O pai de Seu Jô passou a trabalhar como garçom e a mãe preparava petiscos em um bar da Cidade Industrial. Seu irmão mais novo, Josenildo, conseguiu um emprego como auxiliar de pedreiro e Seu Jô começou a trabalhar entregando roupas com ajuda de uma bicicleta amarela. “Era tudo muito novo, sabe? Foi uma época boa, mas eu não gosto de lembrar muito não. Você me desculpe, mas é que a lembrança dos meus pais é muito presente. Sinto vergonha, saudades. Me desculpe mesmo” diz, chorando. Depois de dois anos na capital, trabalhando na área da construção civil, seu irmão mais novo, Josenildo con-
Eu sou um doente e a maioria dos que moram nas ruas também são. São viciados, não conseguem sair do buraco em que entraram. Mais doentes ainda são os que não querem sair, né? Mas todo mundo erra.
...Tentando fugir da chuva Waleski e mais um morador de rua dividem o espaço sob a marquise de uma loja
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seguiu um emprego melhor: uma loja de materiais de construção precisava de funcionários. No dia marcado para a entrevista que iria mudar a situação financeira da família, um jovem sem carteira de motorista, dirigindo um fusca assassinou o rapaz a tiros. “Os meus pais ficaram revoltados, sabe? Minha mãe perdia o segundo filho e meu pai pensou em voltar pra Polônia porque o financeiro [sic] não era bom, não. Mas eu estava empregado e prometi que ia ajudar nas despesas. Foi um verão difícil. Nem o sol nos animava. Ah... Disso eu lembro bem”, conta, com um olhar distante fixado em Lupe. Durante a conversa, um amigo de Seu Jô chega para ajudar na história. Com aparência bondosa, Moisés Pereira é um senhor de 67 anos que mora em um dos prédios próximos à praça e ajuda Seu Jô há dois anos. “Nossa, olha que chique esse Jô!”, diz Moisés anunciando sua chegada. “Desculpa atrapalhar, viu? Eu só vim ver se está tudo bem e trazer uma marmitinha”, fala, com um sorriso nos lábios e um bandeco nas mãos. Seu Jô interrompe a conversa sobre sua vida para falar sobre Moisés. “Esse cara é meu segundo pai. Ele me traz comida quase todos os dias, há uns dois anos. Tem dia que eu estou dormindo, o cachorro late e eu já penso: “Oba! Chegou o lanche! É um cara gente boa. Vai pro céu esse aqui”. Vício e problemas na família De acordo com a Fundação de Ação Social (FAS), Curitiba tem 3.450 pessoas vivendo nas ruas. Número 25% maior na comparação com os dados de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta 2.776 pessoas nessa situação. Destes, cerca de 8,9% têm problemas familiares e, por isso, mora nas ruas. Seu Jô é um destes personagens. Depois de perder os pais, quando tinha 29 anos, José conheceu uma moça e decidiu constituir uma família. A família de sua companheira era gaúcha e, como tradição, todos os fins de
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semana faziam churrascos e abusavam da bebida alcóolica. Jô, que antes vivia longe da bebida, tornou-se alcoolista. “Eu me arrependo muito. Quando nós fizemos uns cinco meses de casado, eu já era alcóolatra [sic]. Bebia todo dia. Saía do trabalho e ia beber, chegava em casa e bebia. O problema é que com uns três meses vivendo assim, eu comecei a bater na mulher. Eu ficava agressivo, saía de mim, lembrava das coisas que eu vivi e descontava nela. Depois de um ano e dois meses juntos, ela me mandou pra fora de casa. Aluguei uma casa, tentei viver por mais uns três meses trabalhando, mas eu gastava tudo em bebida. A bebida me matou e eu resolvi morrer na rua mesmo”, conta. A dependência química, desentendimentos com a família e desemprego são os três fatores que mais levam pessoas para as ruas. Marcos Moura, ex-agente de Pastoral de Rua da Comunidade Aliança de Misericórdia, conta que as experiências vividas por estas pessoas vão muito além do que qualquer um pode pensar. “Trabalhei quatro anos na Pastoral de Rua, é algo completamente diferente de tudo que se pode imaginar. Vi desde crianças a idosos, se drogando, bebendo, abusando de remédios, batendo e apanhando, tentando fugir da realidade em que eles estão presos. É horrível, mas acredito que a solidariedade seja um caminho para ajudar essas pessoas.” Marcos trabalhava levando alimentos e cobertores aos moradores de rua, com um grupo de jovens que saem às madrugadas pelas ruas da capital. Uma das suas experiências mais marcantes foi encontrar pessoas de outros países vivendo como mendigos da cidade. “Eu me lembro que uma vez encontrei um americano aqui. Quase ninguém entendia o que ele falava e ele estava bem machucado, porque era viciado em drogas e apanhou do traficante. Me impressionou, e ainda impressiona, a história dessas pessoas. Muitas vezes a gente nem imagina o que há por trás de uma barba
mal feita e um cobertor velho, mas há vida ali, há gente ali. É impressionante como existe uma diversidade de pessoas que moram nas ruas, não há um único perfil”, revela. Seu Jô também faz questão de ressaltar que, apesar de existirem pessoas com mau caráter nas ruas, a maioria dos moradores busca nas drogas o alívio para suas preocupações e dificuldades. “As pessoas passam por mim e me olham como se eu fosse um bicho, pior do que cachorro. É horrível. Eu sou um doente e a maioria dos que moram nas ruas também é. São viciados, não conseguem sair do buraco em que entraram. Mais doentes ainda são os que não querem sair, né? Mas todo mundo erra. Eu errei quando entrei no álcool, uma jovem pode ter errado em se apaixonar pelo cara errado, uma mãe pode ter errado em colocar o filho numa creche e um empresário pode ter errado em contratar um economista salafrário, mas a verdade é que todo mundo erra. A diferença é o que você faz para corrigir o erro. Eu errei e não consigo corrigir, não tenho forças, não consigo, não sou capaz. Mas eu só queria que as pessoas não me julgassem por isso”, pede, em lágrimas. O morador de rua, ainda chorando, se despede de Moisés, se ajeita no edredom velho espalhado pela grama, e puxa o cobertor sujo para perto do pescoço. Enxugando as lágrimas, antes de Lupe pegar no sono, ele ainda faz questão de dizer as últimas palavras, transformando seus desejos mais íntimos em oração: “Senhor Deus, obrigado pelo meu dia, pela minha saúde e pelo Lupe. Obrigado mesmo Deus, por estar comigo e por cuidar de mim. Me perdoe pelos meus erros, mas me perdoe principalmente por ser preguiçoso e não querer consertálos. Espero que amanhã seja um dia bom e abençoado por Ti. Cuide de nós e do Moisés e de sua família. Boa noite.”
Shaiene Ramão
Taxista: profissão perigo Todas as noites, pelo menos dois taxistas são assaltados em Curitiba e Região Metropolitana
Há 16 anos na profissão, o taxista Luis Giovane Ribeiro sofreu três assaltos. Em uma dessas ocasiões, um homem que aguardava o carro em frente a uma delegacia no bairro Boqueirão, estava desesperado. Dizia que sua mãe estava passando mal e precisava ir para casa. No caminho o passageiro pediu que Ribeiro entrasse em uma rua para buscá-la, mas tudo era parte de um golpe. A história foi apenas um artifício para que Ribeiro não desconfiasse de um assalto. Logo o ladrão mostrou a arma e pediu todo o dinheiro. Como era madrugada e a jornada de trabalho estava apenas começando, o trabalhador tinha apenas R$ 36, suficiente para ser levado pelo assaltante.
2.500 taxistas trabalham em Curitiba e região metropolitana. Desse número, 70% exercem a função no período noturno, horário quando há maior número de ocorrências.
Histórias como essa se repetem todas as noites. Pelo menos dois taxistas são assaltados durante cada madrugada na capital paranaense. Esse número parece pequeno comparado aos mais de 1.550 trabalhadores que rodam noite adentro. Multiplicadas pelo número de dias do mês, essas ocorrências chegam a 60. Em um ano, esses dados podem somar mais de 730 assaltos.
Não há uma estimativa de quantos taxistas já foram assaltados, pois na maioria dos casos, os motoristas não chegam a ir às delegacias para fazer o boletim de ocorrência. Segundo o representante do Sinditaxi-PR, Heins Schade, os crimes normalmente acontecem à noite e são praticados na sua grande maioria por usuários de drogas. “Eles sabem que o taxista tem dinheiro, muitas vezes pouco, mas que é o suficiente para comprar droga”, diz. Schade explica ainda que a única segurança que esses trabalhadores tem são os próprios colegas. Ao sofrer um assalto, o motorista se comunica com os outros taxistas e também a central; os que estão próximos ao local começam a procurar o assaltante. “Eles não classificam os passageiros, mesmo com desconfiança aceitam a corrida, e quando chegam ao destino, são surpreendidos com voz de assalto”.
De acordo com o Sindicato dos Taxistas do Paraná (Sinditaxi-PR), mais de
Odney Gonçalves, de 79 anos, trabalha como taxista há 35. Ele conta
que foi assaltado seis vezes, na maioria das vezes, por homens entre 18 e 30 anos, de boa aparência. Em uma das ocasiões em que Gonçalves passou por essa situação, o passageiro subiu no táxi no bairro Juvevê e pediu que o levasse até a região do Cabral. Chegando ao local, o rapaz o assaltou e fugiu. Em seguida o motorista comunicou a central pelo rádio, dando código de assalto, assim foi possível passar a informação para outros taxistas e também à polícia, que chegaram juntos ao local e conseguiram prender o assaltante. Naquela noite, Gonçalves teve sorte e conseguiu recuperar o dinheiro. Mas nem sempre tudo acaba bem. Em outro episódio vivido por Gonçalves, um homem entrou no táxi puxou conversa e, chegando ao local, ameaçou o trabalhador com uma faca e arrancou o rádio para que o taxista não pedisse socorro. O motorista tentou reagir, prendendo uma das mãos do ladrão, mas não resolveu o problema. O criminoso pegou a carteira e outros objetos de valor e, não se dando por satisfeito, ameaçou o motorista de morte: o condutor do veículo pediu ao ladrão que não o matasse: “Não faça isso ra-
Aline dos Santos Valkiu
Revolta Odney Gonçalves, se revolta com falta de segurança dos taxistas.
paz, você já pegou tudo que eu tinha, não precisa me matar”. O assaltante então fugiu, levando dinheiro e os documentos pessoais. Ele ainda fala com tristeza sobre a morte de um amigo, cujo nome preferiu omitir, que ocorreu há pouco tempo. O assassino que estava no centro de Curitiba, pediu que o levasse até o Bairro Alto. Chegando ao destino, roubou do motorista R$ 40 e o matou com um tiro na cabeça. O trabalhador tinha cinco filhos. “Somos uma classe desfavorecida em relação à segurança, a única coisa que recebemos são cobranças por parte de políticas públicas como, por exemplo, a URBS e guardas de trânsito”, relata. Arnaldo Lima Pinto tem 67 anos e 30 anos de profissão como taxista. Ele relata que, em uma das quatro vezes que foi assaltado, levou um tiro. Ao atender um chamado da central de taxistas, Lima Pinto não esperava passar pelos minutos mais tensos de sua vida. Um casal que aguardava o táxi
estava planejando um assalto. Ele sem imaginar, no fim do percurso foi surpreendido com um revolver na cabeça. Sob ameaça, o trabalhador reagiu e levou um tiro no braço. Com o susto, o casal fugiu e não levou nada. “Reagi, pois teria sido pior, eles já estavam decididos a me matar”, explica a vítima. Lima Pinto ainda explica que muitos levam uma mulher para que não haja desconfiança. Mas, depois de ter passado por momentos difíceis, procura ter muito cuidado com passageiros, principalmente no período da noite. De madrugada, no ponto de táxi, procura ficar pelo lado de fora do carro, evitando levar pessoas que sejam suspeitas. “Infelizmente, não temos segurança. Ao sair de casa sempre peço a Deus que me proteja e também aos meus colegas”, revela. Segundo o major Dorian Cavalheiro, da Polícia Militar, são feitas, periodicamente, operações em que se pede que os taxistas parem para que seja feita a revista. Porém, muitos reclamam que estão sendo prejudicados, pois
os clientes acabam não gostando por atrasar o tempo da corrida. “Sempre paramos os táxis, porque muitas vezes quem está conduzindo o veículo é o ladrão”, explica o policial. Cavalheiro comenta que a falta de boletins de ocorrências registrados pelos taxistas dificulta o trabalho da polícia, pois para que se tenha um mapa de crimes contra os trabalhadores, é preciso conhecer os principais locais de assalto e as situações mais frequentes, dados que podem ser armazenados no banco de dados da PM e que facilitariam a realização de operações nas regiões de maior incidência desse tipo de crime. “O boletim de ocorrência é uma ferramenta importante, pois a partir dela podemos chegar ao local certo, sem ter que trabalhar de maneira aleatória atrapalhando os taxistas e também os usuários de táxi”.
Aline dos Santos Valkiu
Infelizmente, não temos segurança, ao sair de casa sempre peço a Deus que me proteja e também aos meus colegas. Arnaldo Lima Pinto
Medo Arnaldo Lima Pinto, levou um tiro no braço em uma tentativa de assalto
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Uma história esquecida A lei 10.639, que obriga o estudo da História da África e da cultura afro-brasileira, completa dez anos. Mas não é cumprida.
Em 2003, foi sancionada a Lei n.º 10.639, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB - 9.394 / 1996), que institui a obrigatoriedade do estudo da História da África e da Cultura Afro-Brasileira. Apesar de muitas instituições de ensino não cumprirem a lei, existe exceções, como, por exemplo, o curso de História da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, com sede em Curitiba, o Colégio Sesi de Londrina e o Colégio Sion. Para o estudante do Colégio Sion Arthur Correia Zablonsky, que está no 6° ano do ensino fundamental, esse conteúdo é fundamental. “O estudo da cultura africana é muito importante pela enorme diversidade cultural que existe naquele continente. É um povo alegre, comunicativo e com grande amor à família e seus descendentes. No Colégio Sion, aprendemos a conviver com a diversidade, todos somos iguais.” A norma consiste em tornar obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. O conteúdo programático inclui o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos
negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo afrodescendente nas áreas social, econômica e políticas pertinentes à História do Brasil. Estabeleceu também que o calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra. Em janeiro de 2013, essa lei completou dez anos, porém ela ainda não é cumprida em diversos colégios. A professora de Sociologia da PUCPR Rosita Cordeiro de Loyola Hummell alerta que a preocupação com as minorias começou somente na última década. “A preocupação com as minorias, sejam culturais ou étnicas, passou a existir somente nas últimas décadas e, neste caso específico, não há professores preparados para esta tarefa.” Com a lei aprovada, esperava-se que o preconceito contra negros fosse reduzido e que as crianças e adolescentes conhecessem a influência que o continente africano e seu povo tiveram na construção do Brasil.
Soluções Para o professor Luiz Paixão Rocha, mestre em Educação, militante do movimento negro e dirigente da APP-Sindicato do Paraná, a lei era reivindicada já há muito tempo pelo movimento social negro e por estudiosos e especialistas da área da educação e relações étnicorraciais. “Um dos principais motivos é a necessidade de alterar a abordagem do negro no currículo escolar, fazendo com que através do conhecimento, a escola possa se configurar como um espaço importante para combater o racismo presente em nossa sociedade”, analisa o professor. Segundo Rocha, essa normatização ainda não se consolidou, especialmente pelo fato de que ela atua contra construções ideológicas do passado. Desconstruir essas ideias que permaneceram por séculos não é uma tarefa fácil. A sociedade brasileira, apesar de toda a tentativa de negação, ainda é racista. A jornalista Aline Katielle Reis Santos, formada na Universidade Positivo, nunca estudou esse conteúdo.
Arquivo pessoa
“...alterar a abordagem do negro no currículo escolar, fazendo com que através do conhecimento, a escola possa se configurar como um espaço importante para combater o racismo presente em nossa sociedade.” Luiz Paixão Rocha, militante do Movimento Negro do Paraná
Luiz Paixão Rocha Mestre em Educação, militante do movimento negro e dirigente da APP-Sindicato do Paraná
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Arquivo pessoal
Ela afirma que é preciso mudar essa cultura. “É um descumprimento da lei. Existe um despreparo que já se inicia na formação dos professores, já no curso de graduação”, finaliza. Para que a lei seja cumprida, segundo Luiz Rocha, o primeiro passo é investir em formação continuada dos professores e funcionários de escolas a fim de sensibilizá-los para a temática. “Os governos precisam investir nessa área, mesmo porque os professores não tiveram os conteúdos de História e Cultura Afro-brasileiras no seu processo educativo. Há também necessidade da criação de equipes multidisciplinares de acompanhamento da implementação da Lei 10.639/03 em cada escola, como normatiza aqui no Paraná, o Conselho Estadual de Educação, através da Deliberação 04/06”, salienta.
Diego Fernando Laska
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Arquivo pessoal
Cultura africana Arthur tem aulas sobre a cultura africana em seu colégio.
Jornalista Aline Reis realizou um Trabalho de Conclusão de Curso sobre o movimento Negro.
De lutas de robô a pulseiras de localização Curso de Mecatrônica da PUCPR desenvolve projetos que auxiliam o dia a dia
Após vitórias em combates de robôs, o curso de Engenharia de Controle e Automação (Mecatrônica) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) está revelando outros projetos. É o caso da pulseira “Bebê a Bordo”, criada por Matheus Von Bivenczko Tomio. “Começamos com um dispositivo de base imantada que seria colocado na parte superior do carro quando uma criança estivesse dentro”, explica. O funcionamento do produto se baseia no uso de duas pulseiras, uma das quais fica com a criança e a outra com o responsável, para que então o produto comece o funcionamento. A partir do momento em que o adulto se afasta dez metros ou mais do local, as pulseiras disparam um alarme que facilita a localização imediata.
Arquivo Matheus Von Bivenczko
O carregamento das baterias do “Bebê a Bordo” funciona por indução: o aparelho é colocado em um recipiente e a pulseira é carregada sozinha, sem o uso de fios. A duração da bateria é de até 90 horas.
Apoio
Reconhecimento do Projeto
Matheus começou a receber grande apoio após entrar na PUCPR, que adotou o projeto. Ele destaca a colaboração do coordenador Ricardo Alexandre Diogo, que o incentiva constantemente e que quer ver a ideia se tornando realidade.
Depois de um grande trabalho, o “Bebê a Bordo” recebeu o prêmio de Projeto Inovador na XXVI Mostra de Ciência das Escolas Positivo. Em 2012, o projeto ganhou o terceiro lugar no Concurso PUC Jovens Ideias, onde Tomio recebeu o único apoio financeiro até o momento, e no Campus Party Brasil 2013, da Fundação Telefônica Vivo, ganhou o terceiro lugar no Desafio de Tecnologias Que Transformam.
O aluno tem um projeto de iniciação científica com a Defesa Civil, que tem uma ligação muito grande com o “Bebê a Bordo”. Tomio revela que está desenvolvendo um projeto de um dispositivo de rastreamento via GPS, que será instalado para evitar tragédias como a de Santa Maria. Outras informações do projeto são confidenciais, mas ele explica que é para garantir um bem maior. “Posso garantir que, como quase todos os projetos em que me envolvo, [esse] tem a finalidade de salvar vidas”.
Matheus recebeu a oportunidade de apresentar uma palestra no III Simpósio Institucional de Pós-Graduação, na PUCPR, no mês de março, no qual falou sobre os exemplos de inovação de seus projetos. Diogo destaca que a diferença no trabalho do estudante é a sua flexibilidade para trabalhar com diversas situações. “Matheus tem demonstrado que ele é um agente de transformação na sociedade. Ele é um empreendedor.”
João Paulo Nunes Vieira
Tharcilla Hunzicker
Fabio Arruda Tecnologia Com a crecente do esporte, fabricantes integraram luzes de led ao corpo do material.
Ondas noturnas Surfe à noite atrai praticantes
Noite, um período do dia ocorrido durante a rotação da Terra no qual não há luz do sol. Essa é a definição mais curta e lógica para um momento escuro e sem brilho, que a maioria das pessoas utiliza para dormir, descansar e preparar seu corpo para mais um dia de trabalho, estudo e deveres. Quando falamos na prática de esportes durante a noite, o olhar volta-se para as grandes cidades, mundialmente conhecidas como “as cidades que não dormem”. Mas esse quadro está sofrendo alterações e as pequenas e médias cidades passam a ter praticantes de esportes noturnos. Pensar ou ver pessoas jogando futebol, vôlei, correndo, pedalando, nadando ou jogando tênis é comum. Mas e aqueles que “pegam uma onda”?
Matinhos A praia de Matinhos é um dos picos preferidos pelos surfistas. No local, luzes voltadas para a praia ficam ligadas durante a noite.
A história do surfe é incerta no Brasil e no mundo, mas, a cada ano, novos surfistas se aventuram na madrugada em busca de sensações diferentes com o esporte. É claro que o surfe noturno depende de alguma luz para que o praticante tenha o mínimo de condições visuais. Por isso, é praticado sob a lua cheia, que proporciona a claridade necessária. A alternativa é a escolha de praias que disponibilizam refletores fortes, na orla ou na rua mais próxima, que apontam sua luz para o mar. A tecnologia também ajuda os surfistas: os fabricantes de pranchas estão incluindo em seus produtos lâmpadas de led, que são acopladas para iluminar o material e seu redor. São feitas com exclusividade para os “malucos da noite”. Visão em primeira pessoa Kauê Alpont, empresário paranaense de 25 anos, surfa há 17 anos e começou a praticar o esporte à noite em 2011. Residente em Curitiba, o surfista amador viaja aproximada-
Fabio Arruda mente 110 quilômetros todos os fins de semana para o litoral paranaense para visitar seus pais, que possuem um empreendimento na região, e para surfar. Sua praia preferida é Matinhos, que dispõe dos refletores na beira da praia. Ele conta que o surfe à noite proporciona uma sensação diferente e desafiadora. “Como moro em Curitiba, todo fim de semana que consigo, aproveito surfando, seja de dia, de noite, na chuva ou no sol. Claro que a dificuldade e a atenção têm que ser redobradas, mas no final vale a pena. Quando saio da água, me sinto renovado”. Falando nas dificuldades, Kauê detalha como é surfar à noite. “É uma sensação única, que você só vai conseguir sentir na pele se pegar uma onda na vida, depois de saber essa realidade. Conheci o surfe noturno através de um amigo e resolvi experimentar algo inusitado que é surfar sem enxergar direito, o que você vê são apenas alguns metros ao seu redor e a praia com a luz das casas ligadas. Você sabe que
Visão Luzes de let acopladas a prancha proporcionam ao praticante uma melhor visão ao seu redor.
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tem água em sua volta e mais nada”. Ele ressalta que a atenção com as ondas e saber o local onde o surfista está é muito importante para evitar acidentes. Casos e Causos Se a prática do surfe “normal” já traz histórias engraçadas e alguns perrengues, imagine então a prática da modalidade sem a luz adequada? Sim, o risco de momentos frustrantes é frequente. Como um desses momentos, Kauê relembra do dia em que surfava à noite na praia de Matinhos, com um grupo de amigos. A noite estava perfeita, como ele mesmo conta; a lua cheia, a praia bem iluminada e a condição das ondas eram as melhores para a região.
Kauê Alapont Nos momentos livres, o empresário viaja e aproveita o tempo para pegar ondas
Conheci o surf noturno através de um amigo e resolvi experimentar algo inusitado que é surfar sem enxergar direito, o que você vê são apenas alguns metros ao seu redor e a praia com a luz das casas ligadas. Você sabe que tem água em sua volta e mais nada. “Tudo corria bem para mais um dia comum de surfe. Uma onda grande estava se formando e, como todo surfista, me preparei para ela, mas a força com que ela quebrou (expressão usada pelos surfistas quando a onda se fecha) arrebentou o leash da prancha (a corda na qual o surfista fica preso à prancha) e eu fiquei perdido na onda por alguns segundos sem saber onde estava, [foi] uma das piores sensações que um surfista pode ter.” Após o ocorrido, Kauê teve de voltar nadando para a areia apenas com uma corda amarrada na perna e sem uma prancha. Outra situação engraçada ocorreu quando estava surfando com um conhecido de madrugada, desta vez em uma praia de Santa Catarina. Prejudicado pelo campo de visão, pegou
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a mesma onda que o amigo estava e acabaram se encontrando no meio dela. “Como meu amigo é canhoto e eu destro, fomos para o mesmo lado e batemos, na hora. A dor foi grande, sobraram alguns cortes na perna e roxos pelo corpo, mas foi uma das histórias engraçadas que eu tenho para contar”, ressalta o surfista.
pessoa interessada no esporte e que tenha uma boa coordenação motora, em poucas horas pode estar na água pegando onda. “O importante é que ele dê um passo de cada vez, aprenda primeiro a surfar em mares calmos e com ondas pequenas, depois de algum tempo, se ele se sentir confortável, pode partir para ondas maiores”.
Para os aficionados e aqueles que apenas apreciam, o esporte parece ser um prazer muito grande, são raras as exceções de um surfista reclamar de pegar uma onda ou um tubo. Aprender a surfar não é tão difícil, como conta o professor Antônio Carlos Giacomiggi.
O instrutor alerta para a prática do surfe noturno. “Os surfistas que praticam o esporte à noite, já percorreram um longo caminho e sabem do que estão fazendo e principalmente do risco que o período proporciona, por isso, é importante ressaltar que não é qualquer pessoa que está apta a pegar uma onda de noite”, conclui.
Instrutor de uma escolinha de surfe há oito anos, Giacomiggi revela que uma
Lucas Dziedicz Tharcilla Hunzicker
Um tanto quanto notívagos Cada vez mais pessoas preferem praticar atividades físicas no período da noite. Falta de tempo é a principal justificativa.
Eles trocam o dia pela noite em busca de uma boa saúde, bem-estar e também para fugir da rotina cada vez mais desgastante e atarefada nas grandes cidades. São os notívagos, indivíduos que possuem hábitos noturnos, admiram a noite e usam esse tempo para praticarem suas atividades.
Quanto à preparação para o treino noturno, Cavichiolo diz que suplementação, alimentação balanceada e um cuidado redobrado no que se refere ao sono, ingerindo proteína de lenta absorção antes de dormir, são o bastante para um resultado satisfatório nos treinos.
O esporte vem a calhar com essa preferência alternativa. Seja por necessidade, por trabalhar e/ou estudar durante todo o dia, ou por simples preferência por praticá-lo durante a noite, mesmo tendo outros períodos do dia livres: é cada vez maior o número de adeptos noturnos de academias, quadras esportivas, praças, parques, centro de esporte e lazer disponibilizados pela prefeitura.
Já o administrador Henrique Pedro Serbena Glasmeyer pretere o dia por única e exclusiva vontade. “Considero a temperatura mais agradável durante a noite, locais mais belos e vazios”, argumenta. Glasmeyer pratica 5,5 quilômetros de corrida diariamente no Parque Barigui, em Curitiba.
O empresário Márcio Cavichiolo encaixa-se nesse perfil e atribui a escolha pela noite ao desgaste e a ansiedade, propiciados pelo trabalho. “Minha disposição ao treino é gradativa e cresce durante o dia, atingindo o pico por volta das 20 horas. Acredito que isso aconteça pela ansiedade do dia a dia. Quando chega a noite, fico ‘pilhado’ para treinar”, explica.
Alimentação e preparo O preparo para quem realiza atividades físicas durante a noite também deve ter uma atenção especial. Especialistas não recomendam a prática de atividades que elevem muito a frequência cardíaca, pouco tempo antes de ir dormir – no mínimo, deve ser respeitado um período de duas horas para depois repousar. No que diz respeito à alimentação, Roberta Oliveira, professora da Aca-
demia CWB Sports, diz esses cuidados variam de pessoa para pessoa. “O preparo deve ser uma boa alimentação antes de treinar e ter vontade de se exercitar”, resume, alertando para o fato de que querer realizar os exercícios é fundamental. Como os objetivos dos alunos variam, os cuidados de alimentação e preparo não podem ser diferentes – alguns querem emagrecer, outros obter massa muscular. Dessa forma, devem se adequar ao que realmente necessitam. Oliveira alerta para isso, mas diz que alguns cuidados básicos valem para a maioria. “Consumir carboidratos complexos a base de fibras, integrais e água, antes de treinar. Após o treino, a ingestão de proteínas é recomendável”, cita. Há quem diga que o risco de lesões para quem se exercita a noite é maior, mas a professora diz que isso não passa de um “mito”. “Depende da alimentação, treino e vida diária antes de ir para a academia”. Academias oferecem horários flexíveis
onde há suporte alimentar especial para praticantes de atividades físicas durante a noite. “Aqui temos o face2face, um programa no qual damos suporte alimentar para que o aluno se alimente melhor mediante seus horários”, completa. Lutas Aulas de Arte Marcial Ninja movimentam a praça nas .quartas e sextas-feiras
Alerta para os perigos
Foto: Fabio Wosniak
Musculação Academia que oferece serviço em horario diferenciado tem grande procura Foto: Fabio Wosniak
Pensando nesse público que não para de crescer, muitas academias estão adaptando e estendendo seus horários de funcionamento em busca de novos clientes. Por se tratar de um nicho ainda pouco explorado, poucas unidades são encontradas em Curitiba, oferecendo esses serviços. Uma delas é a Academia CWB Sports, da qual Roberta Oliveira também é sócia. Ela conta que o estabelecimento
ganha muitos alunos exatamente por oferecer esse tipo de serviço, ainda pouco encontrado na cidade e, em sua opinião, deveria haver mais opções de lazer e recreação em horários alternativos, para que possa ser atendida a demanda hoje existente. “O período da noite é muito mais movimentado”, diz. Oliveira ainda cita um programa diferenciado existente em sua academia,
Quem utiliza locais públicos para praticar esporte – como academias ao ar livre, praças espalhadas pela cidade, os Centros de Esporte e Lazer, administrados pela prefeitura – deve tomar todos os cuidados necessários procurando não passar por perigos que a noite oferece, como falta de iluminação em alguns destes lugares, riscos de assaltos, entre outros. Procurada pela reportagem da Revista CDM, a Secretaria de Esporte e Lazer da Juventude, por meio do núcleo “Curitiba Ativa”, referência em atividade física, garante tomar todos os cuidados cabíveis visando à segurança do público e que policiais estão a postos para qualquer eventualidade. “Em todos os locais públicos, a segurança é feita pela Polícia Militar do Estado e Guarda Municipal de Curitiba em regime de prontidão. Tão logo solicitado, os serviços são acionados”, explica o professor da Curitiba Ativa, Carlos Ghesti. Sobre o número de pessoas que utilizam destes locais durante a noite, Ghesti afirma que ainda não há nenhum dado estatístico nesse sentido. “Ainda não desenvolvemos pesquisas direcionadas a esta estimativa, mas a cidade possui 31 Centros de Esporte e Lazer, espalhados pelas regionais, funcionando até as 22 horas”, completa.
Fabio Wosniak Rogério Ferreira
“Considero a temperatura mais agradável durante a noite, locais mais belos e vazios.” Henrique Pedro Serbena Glasmeyer, administrador.
Corrida Praça Oswaldo Cruz, em Curitiba, atrai corredores durante a noite.
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Divulgação
Um turismo diferente
Diana Araujo
Famoso na Europa, o Pub Crawl oferece aos participantes uma experiência única de diversão
Muito famoso na Europa, o pub crawl oferece aos participantes uma experiência única de sair pela cidade em busca de diversão. O evento, que reúne pessoas de diversas partes do Brasil e do mundo, tem o intuito de levá-las a percorrer a cidade a pé, parando em diversos bares no meio do caminho. O encontro acontece em uma casa pré-determinada, onde, por uma hora, o crawler, nome dado ao adepto da experiência, tem direito a bebida alcoólica em cada bar visitado. É paga uma taxa para participar da atividade e, assim, o participante adquire a famosa pulseirinha de identificação do evento. Todos os participantes se encontram no local marcado
pela equipe oficial do evento, que os orienta no “tour” juntos pela cidade, dedicando cerca de meia hora, ou quarenta minutos, em cada bar. Ao final da caminhada, todos se dirigem a uma balada típica da cidade onde curtem o resto da noite. Ana Paula Turbay, estudante de Relações Públicas na PUCPR, realizou o pub crawl em Paris. A estudante estava em uma viagem com suas amigas e afirma que a atividade foi muito recomendada como referência de diversão na cidade. “A experiência foi fantástica! Experimentamos vários drinques diferentes, passeamos pelas ruas em grupos enormes até os bares, conversamos com pessoas de todo o
mundo tivemos fácil acesso a uma balada tipicamente francesa. O que mais marcou foi a grande diversidade de intercambistas no programa, acredito que na mesma noite tenha tido contato com pelo menos cinco nacionalidades dife-rentes.”
O programa que incentiva a interação, acontece em ambientes descontraídos, na companhia de pessoas abertas a novas experiências ou até mesmo de atividades diferentes daquelas que costumam ser realizadas durante a noite ou em viagens.
“Os contatos contribuem para a unicidade da experiência, por isso acredito serem o ponto alto da atividade. Adoro me lembrar do que vivi e quando conheço alguém que esta indo viajar não deixo de incentivar. Com certeza influencia o turismo, já que a atividade acaba se tornando passagem obrigatória para o público jovem. Pessoas do mundo todo, quando interessadas em viajar e desbravar novas culturas, se interessam por experiências como o pub crawl.”, afirma Ana Paula. Outro jovem estudante de Engenharia Ambiental da USP, Kenzo Matsubara realizou o pub crawl em Londres, e afirma ser um ótimo turismo noturno. “Foi muito bom mesmo. Fomos em um grupo de umas 30 pessoas, todas desconhecidas, e no final já estávamos
conversando com todo mundo.” Kenzo acredita que o evento é uma forma de influenciar o turismo. “Acaba atraindo pessoas. O que eu fiz, o Camden Pub Crawl é famoso em Londres, e atrai muita gente. É um diferencial da cidade.” Entre os pontos positivos do evento, Kenzo destaca: “Conhecer pessoas, preços baixos, não precisar se preocupar para onde ir pois você sabe que os guias vão te levar a ótimos bares.”
Diana Araújo
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Em Curitiba como em nenhum lugar do mundo Night, nuit, noche: como traduzir em diferentes idiomas o que acontece quando o sol se põe? Apesar das diferenças culturais, a noite nas cidades ganha vida por meio das luzes das baladas e dos aromas dos bares e restaurantes. Mas o que a noite curitibana tem que a noite internacional não tem?
Duas semanas em Curitiba foram suficientes para a norte-americana Akilah Porter, de 22 anos, descobrir as diferenças entre os agitos da capital paranaense e de sua terra natal. Nesse período, ela conheceu bares e casas noturnas e constatou que as regras mudam quando o assunto é azaração. Para a estudante de Jornalismo, em nossa cidade é bastante comum duas pessoas que mal se conhecem “ficarem” na balada, sem serem julgadas por isso. “Nos Estados Unidos, se uma garota fizer o mesmo, ela não será bem vista. Em geral, os brasileiros parecem ser mais receptivos quanto a demonstrações públicas de afeto e os americanos, mais rigorosos. Portanto, nos Estados Unidos você não verá tantas pessoas se beijando em um banco do parque durante o dia como no Brasil”, explica. Esse comportamento, apesar de causar espanto, de certa forma agradou a estudante. “O que mais gostei aqui foi o fato das pessoas não parecem estar julgando tudo. Vocês cuidam das suas vidas e não se preocupam muito com o que os outros estão fazendo.” A jovem francesa Anthéa Juin, também de 22 anos, está no Brasil há três
meses e não encontrou momentos de tédio depois do fim de tarde. “A vida noturna em Curitiba é ótima. Você pode encontrar grandes festas todos os dias da semana. É tudo muito vivo! No Brasil, como na França, as casas noturnas estão abertas a noite toda, e eu realmente aprecio isso. Nos Estados Unidos, por exemplo, às duas horas da madrugada já está tudo fechado”, diz. Mas, para a francesa, a paquera nas baladas brasileiras chega a ser agressiva. “Os homens querem chegar beijando. Não gastam tempo para conversar e ou conhecer alguém. Por isso, às vezes, é preciso se posicionar”, explica. Músicas e Estilos A música na noite curitibana não é o que mais agrada Anthea. “Confesso que há sertanejo demais para mim. Eu realmente gosto de música eletrônica e é difícil encontrar muitos lugares com esse estilo musical aqui em Curitiba”. A francesa, que já explorou as paisagens do Nordeste, as praias de Santa Catarina e as belezas naturais paranaenses, como Ilha do Mel e Foz do Iguaçu, percebeu que os estilos variam até mesmo dentro das nossas
fronteiras. “Eu fui de São Luiz para Fortaleza, depois para Recife e Porto de Galinhas. Infelizmente, eu não tive a chance de conhecer as casas noturnas, pois na maioria das vezes fiquei hospedada em vilarejos menores. No entanto, participei de festas locais e eu diria que a principal diferença é que a música lá em cima é ainda mais tipicamente brasileira do que em Curitiba. Há muito forró ou samba”, explica. Na cidade de Jonathan Wu, 22, que está no Brasil para realizar um intercâmbio, a variedade de estilos musicais fica a cinco minutos de distância. “Em Hamilton, na Nova Zelândia, todos os clubes estão concentrados em uma região. É muito comum irmos de um clube para outro, dependendo do nosso humor. Por exemplo, posso estar ouvindo música eletrônica em um clube, atravessar a rua e mudar imediatamente para rock”, explica. Além de Curitiba, Jonathan esteve em Joinville. Lá participou de uma festa na casa de um dos colegas. “Em Joinville, não há muitos bares ou casas noturnas. Isso é um pouco estranho para uma cidade com tantos estudantes. Pelo que ouvi, lá as pessoas geral-
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Imagem stock.xchn
A noite em Curitiba é ótima. Você pode encontrar grandes festas todos os dias da semana. Anthéa Juin
mente organizam as suas próprias festas, o que eu tenho certeza que os curitibanos também fazem”, diz. Outro aspecto que lhe chamou atenção foi o fato de as mulheres terem mais vantagens que os homens, como filas mais curtas e preços mais baratos. “Esses tipos de vantagens não são dadas para as mulheres na Nova Zelândia”, conclui. Preços e Serviços
Arquivo pessoal
A boliviana Daniela Monje chegou há três anos a Curitiba para trabalhar na área de marketing de uma multinacional. Encantada com bares e baladas temáticas, Daniela aproveita as diversas opções que a capital oferece para
Balada Akilah Porter (primeira à direita) na noite com as amigas.
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curtir muita música ao vivo e uma boa conversa. Mas, apesar dos ambientes serem agradáveis e as comidas e bebidas serem muito saborosas, o preço ainda é salgado. “Quando comparado com outras cidades, como São Paulo, os valores são razoáveis. No entanto, acho que ainda é muito caro, quando comparado a outros países da Europa e até mesmo da América Latina”, comenta. Mas vale a pena pagar um pouco mais caro se o serviço for de qualidade. Esse foi outro ponto que chamou a atenção de Akilah: a higiene dos locais. “O que eu achei interessante sobre o Brasil, mais especificamente sobre Curitiba, é a forma como vocês
são conscientemente higiênicos. Por exemplo, nos Estados Unidos, quando bebemos refrigerante, não usamos o canudo, bebemos direto na latinha; também não usamos talheres para comer pizza, a menos que nós estejamos sentados na mesa de um restaurante”.
Luize Souza Juliana Oshima
A próxima sessão de cinema Cineclube do SESI-PR oferece ao público cardápio variado de filmes
Há algum tempo que o dia a dia da auditora fiscal da Receita Federal Leonora Garan, às vésperas de se aposentar, não é mais o mesmo. Pelo menos não às quintas-feiras à noite. “Descobri, lendo um jornal, o projeto do Cineclube SESI”, comenta a admiradora da sétima arte que aproveita esse dia da semana para assistir às sessões promovidas pelo Serviço Social da Indústria (SESI) no Centro Cultural Sistema Fiep, em Curitiba. “O Cineclube é uma canal valioso de contato entre o projeto do Serviço Social da Indústria e a cidade;” É assim que Miguel Haoni Batista, coordenador do Cineclube SESI, que hoje promove sessões de filmes todas as quintas-feiras na sede do SESI, define o projeto. Segundo ele, o projeto é resultado de várias necessidades. Para o SESI, mais especificamente para as Gerências de Cultura e Educação, o cineclube é a oportunidade de dinamizar seus auditórios, desenvolver atividades de cinema e ampliar a interação com a comunidade cu-
ritibana. “Existe também as demandas que eu trago da minha vivência como cineclubista: a necessidade da consolidação de um espaço permanente de trocas em torno do cinema, o desenvolvimento de um grupo de estudos sob a bandeira cinéfila, e mais especificamente um compromisso de gratidão com a ‘musa’ Cinema, que me deu tudo o que tenho e sou até hoje”, declara Miguel. Para ele, existe ainda uma necessidade do cenário cultural curitibano por mais espaços de troca e interação em torno das artes. “O cinema aqui circula até bem, mas existem pouquíssimos espaços que viabilizem o olho no olho, o que é elementar na construção de uma comunidade sensível”. Ana Luiza de Oliveira e Silva, analista técnica da Gerência de Educação do SESI-PR, afirma que o objetivo do Cineclube é proporcionar um contato com a arte cinematográfica de forma gratuita, que se diferencia de outros métodos de exibição por proporcionar ao público a opção de discutir
as películas exibidas. “Além dos participantes poderem assistir afilmes de diferentes nacionalidades, épocas e diretores que se afastam do circuito comercial de cinema, eles ainda têm um espaço para troca de ideias sobre os filmes assistidos”, comenta. Miguel destaca a diferença técnica na exibição. “A qualidade das salas e da projeção de imagem e som afetam muito a apreciação. Ser absorvido pela tela grande e assistir ao filme, meio que compulsoriamente, na sua duração integral, respeitando o tempo dos planos e da montagem, faz toda diferença”, defende, comparando essa experiência a sentar diante da televisão ou do computador. De acordo com Ana, por ser uma ação do SESI, existe um foco para que os frequentadores sejam trabalhadores da indústria e seus dependentes. No entanto, o público que realmente comparece às sessões é mais variado: estudantes de diversas instituições e cursos, e profissionais de diversos ramos. “Ou seja, o Cine-
clube tem atingido a comunidade em geral: curitibana e de outras cidades e estados”, relata. Miguel diz que, por mais que o público-alvo sejam os cinéfilos, ele gosta mesmo é de trabalhar com quem não entende muito da arte. “Com quem tem pouca base no assunto, a troca é mais confrontante e eficaz”, diz ele. Idosos e universitários são dois dos grupos mais atuantes nas sessões do Cineclube. “É uma sorte, pois são duas experiências de mundo valiosíssimas para os debates”, afirma. O projeto teve seu primeiro ciclo em julho de 2012 com a exibição de três filmes do diretor espanhol Luis Buñuel, agora em maio de 2013 iniciou o décimo ciclo, com filmes da nouvelle vague – escolhidos e selecionados a dedo por Miguel. “É isso o que atrai o interesse pelo cineclube, o espaço destinado para o debate sobre os
diretores e até alguns menos consagrados, mas que sempre têm uma mensagem bacana”, diz. Ele defende a exibição de filmes para públicos maiores, diz que mesmo quando não conhecia o Cineclube. “Não lembro como o descobri. Deve ter sido navegando pela internet.”, ele diz – sempre é a favor do público coletivo. Nascimento diz que gosta de ver gente. “Quando morei em uma casa de estudantes, alugava filmes pro pessoal. A gente tinha uma sala de tevê que não tinha canais a cabo... Uma sala com umas 20 pessoas assistindo a Fome Animal, do Peter Jackson, foi incrível. O pessoal reclamava do jeito ‘trash’ do filme, mas a sala estava sempre cheia. Hoje quase todos têm televisores no quarto, a sala de TV tem pouca gente agora”, relembra.
A espectadora relata que adora cinema, e que vê no cineclube um bom passatempo e uma boa forma de adquirir cultura e ampliar os conhecimentos sobre a cinematografia nacional e internacional. “Não sei exatamente a quantas sessões eu assisti, acredito que foram umas nove ou dez, e o filme exibido que eu mais gostei foi O Pântano, da Lucrecia Martel”, conta. As sessões do Cineclube acontecem sempre nas quintas-feiras, a partir das 19h30. “Talvez eu pudesse sugerir que a sessão fosse repetida no sábado ou no domingo; assim, quem não pode ir na quinta-feira, teria outra oportunidade”, opina Leonora. Nascimento comenta que “queria que as sessões fossem mudadas para quarta-feira, mas é só uma questão pessoal”, diz.
.Com quem tem pouca base no assunto, a troca é mais confrontante e eficaz .Miguel Haoni, cineclubista
filmes. O Miguel, além de selecionar os filmes que serão passados, leva informações mais aprofundadas sobre o filme, seu contexto, seu diretor e afins. Ele ainda proporciona um momento de discussão em que os participantes comentam o filme, colocam e trocam informações e impressões”, comenta Ana. O analista de comunicação Francisco Nascimento comprova o que é dito por Ana. Espectador do cineclube, ele esteve presente na primeira edição do projeto e continua a marcar presença. Nascimento começou a participar das sessões por achar o formato de exibição interessante. “Gosto de cinema e tem muita coisa boa que desconheço. É uma forma de conhecer melhor o mundo pelos olhos grandes
A auditora fiscal da Receita Federal Leonora Garan, que conheceu o projeto do Cineclube por meio do Caderno G do jornal Gazeta do Povo, comenta que, em primeiro lugar, a tela do cinema, que é bem maior e melhor, faz toda a diferença. “É muito diferente do que assistir na tevê de casa. Outro motivo que também me faz ir às sessões envolve todo o ritual de sair para ir ao cinema... O efeito psicológico cria o clima de preparação, que facilita a concentração. Em casa sempre tem alguma interrupção, barulho, vizinho, telefone, trânsito na rua...”, analisa a Leonora, quase aposentada. Ela cita ainda os comentários pós-filme. “O Miguel (Cineclubista responsável) faz comentários sobre os filmes que são sempre muito bons, e que, por isso mesmo são indispensáveis.”
Serviço As sessões do Cineclube SESI acontecem no Centro Cultural Sistema Fiep – Sala Multiartes (Av. Cândido de Abreu, 200 – Centro Cívico), Telefone: 0800 6480088 Inscrições pelo site www.sesipr.org.br/cultura. Entrada gratuita. *Sala com 25 lugares, sujeita à lotação.
Daniela Hendler Rafaela Gabardo
.O Cineclube é uma canal valioso de contato entre o projeto do SESI .Miguel Haoni, Cineclubista
Discussão Cineclubistas discutem a sessão com Miguel Haoni
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Arquivo pessoal
A arte de fazer rir Curitibana fala sobre a cena humorística na capital e os desafios enfrentados por quem trabalha profissionalmente na área
Bruna Louise “Sempre fui péssima no drama, por isso, estou na comédia.”
Seja ficha médica ou currículo a ser preenchido em entrevista de emprego, Bruna Louise Castro não hesita ao preencher o espaço “profissão”: humorista, atesta com orgulho. Nascida em Curitiba, em 1984, há 13 anos trabalha com teatro. “Eu sempre fui péssima com o drama e, por isso, estou na comédia”, brinca a humorista, fazendo jus à personalidade que a fez encontrar na máscara sorridente um .caminho profissional Fazer comédia é difícil pra caramba.” Precisa ter dom, talento, paixão, disciplina e muita força de vontade”: é como Bruna sintetiza sua atividade. “Comecei porque sempre amei fazer as pessoas rirem”, completa. Atualmente, a humorista sobe ao palco para apresentações de stand-up, principalmente. O processo de transição do personagem teatral, desenhado em molde e com falas decoradas, para a execução do improviso de cara limpa, segundo ela, aconteceu de modo natural. “Além do stand-up, sou atriz em diferentes modalidades e, fora dos palcos, sou roteirista. Além do que, faço miojo como ninguém. Mas das inúmeras formas de humor, .“gosto de todas Desde que decidiu encarar a comédia como profissão séria,
um projeto de vida, Bruna encontrou na família apoio a sua escolha. “Estar em cima do palco é o que me faz feliz. Logo, minha família ficou do meu lado”. O empenho, as renúncias e os investimentos da humorista na atividade corroboraram para que os que estão ao seu redor reconheçam seu esforço. “Claro, no começo foi difícil; mas hoje é bem mais tranquilo, eu ganho meu próprio dinheiro com isso. Sem falar que comédia é uma delícia, é um remédio para o estresse; e, claro, nada como trabalhar com algo que .“você se diverte Humor na província De acordo com Bruna, em relação à comédia, o cenário curitibano é ótimo. “O público é exigente, mas é fiel. Temos na cidade um povo frio, o que obriga o profissional a alcançar um nível de texto superior. A partir dessa característica, também, é que de Curitiba surgiu um grande número de bons comediantes”, diz. Ainda que não exista a mesma visibilidade do eixo Rio-São Paulo, a capital paranaense mostra-se um “habitat” favorável a comediantes que estão em início de carreira. “Curitiba conta com um excelente clube de comédia, bem estruturado, o que permite que os humoristas estejam sempre em cena”, .completa Bruna Por outro lado, a humorista afirma que existem algumas medidas importantes para maior popularização do stand-up: “Uma boa seria existir maior número de bares que abre espaço ao stand-up; sem falar que maior incentivo do governo a esta modalidade de humor seria fundamental para que se .“alastrasse ainda mais Renan Machado
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