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MORADORES DA REGIÃO ESCOLHEM A PRAIA PARA CONSTRUIR UM LAR

DIAS MAIS

TRANQUILOS, CONTATO COM BELAS PAISAGENS E A POSSIBILIDADE DE ESTAR MAIS PRÓXIMO DO MAR

SÃO ATRATIVOS PARA MORAR E CRIAR A FAMÍLIA NO LITORAL

Morar na praia é o sonho de muitos veranistas. O que eles buscam é tranquilidade e calmaria, mas também a oportunidade de ver o mar e as belas paisagens litorâneas a cada ida ou volta do trabalho. Ou até mesmo da janela de casa.

E, se já foi comum esperar a aposentadoria para sair das cidades, hoje, um outro público já procura as praias muito antes disso. O litoral se tornou um local de oportunidades, onde é possível trabalhar e manter uma moradia próxima ao mar. Sempre em um equilíbrio entre as obrigações do dia a dia e o lazer.

Esse movimento já é percebido há anos, mas a pandemia acelerou o processo de mudança. Do Vale, há famílias que foram ao litoral para se isolar no período e ganharam o gosto pela vida na beira da água. Outros casais escolheram a praia para criar a família e dividem os dias entre o surfe, o trabalho e o lazer com os filhos.

Do Isolamento Moradia Fixa

A praia também é lugar de encontro e início de novas histórias, como a do casal Maria Jael Rosa Pereira, 53, e José Carlos Martins Lisbôa, 67, conhecidos como a Jael e o Lisbôa. Ele, aposentado da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e morador de Balneário Mariluz, em Imbé, conheceu, na praia, a teutoniense que atuava como tabeliã substituta no Vale do Taquari.

A família de Jael costumava veranear em Capão do Canoa e, em 2010, a tabeliã decidiu visitar Mariluz. No primeiro dia da estadia, conheceu a praia, e também Lisbôa. “Nos cruzamos à beira-mar. Realmente foi amor à primeira vista”, conta Jael.

AQUI TIVEMOS UM

DIA A DIA UM POUCO MAIS TRANQUILO, TENDO EM VISTA

QUE TINHA UMA

MENOR CIRCULAÇÃO DE PESSOAS”

A partir daquele ano, o casal passou a estreitar o relacionamento e, mais tarde, Lisbôa foi morar com a esposa e a filha dela, Rayssa, em Teutônia. Sempre que podia, no entanto, no inverno ou no verão, a família visitava Mariluz para descansar.

Lisbôa e Jael viveram no Vale com a filha até a pandemia, quando fizeram o isolamento na praia. “Aqui tivemos um dia a dia um pouco mais tranquilo, tendo em vista que tinha uma menor circulação de pessoas”, conta ela. Em

2021, quando Jael perdeu o emprego em Teutônia, o casal foi para Mariluz morar de forma temporária. “Aqui, a recuperação emocional e a saúde física foram espetaculares”, garante.

Para ela, as principais diferenças entre a praia e a cidade onde morava no Vale é o estilo de vida. “É mais simples, mais despojado. O contato diário com o mar induz a uma vida mais natural”, percebe. Assim, a partir de 2022, o casal decidiu tornar Mariluz seu lar definitivo, e Jael voltou a trabalhar como tabeliã substituta, desta vez, em Imbé. “A localização da nossa casa é ótima: perto dos grandes centros, mas com a calmaria no interior”. A filha Rayssa ainda mora em Teutônia, onde trabalha e cursa a faculdade de Direito, mas gosta de visitar os pais sempre que pode.

A GENTE SEMPRE GOSTOU DO LITORAL, MAS NÃO ACREDITAVA QUE PODERIA VIVER E TRABALHAR DESSA FORMA, CURTINDO A PRAIA, SURFANDO, ISSO ERA UTOPIA PRA GENTE”

JOÃO CAETANO PUERARI EMPREENDEDOR EM GAROPABA (SC)

Trabalho E Lazer

Uma charmosa e artesanal hamburgueria já é conhecida por quem visita Garopaba, no litoral sul de Santa Catarina. O estabelecimento, que ganhou o nome de “Guna”, é administrado pelos lajeadenses João Caetano Puerari e Tais Gregory, e carrega a história do casal. Mais do que uma aventura na praia, os dois escolheram a localidade para viver e criar os dois filhos. Mas, antes disso, Caetano e Tais passaram por experiências fora do país. Depois de alguns anos separados, se reencontraram, por acaso, em Bali, na Indonésia, em uma pousada chamada Guna Mandala Inn. A partir do encontro e do amor dos dois pelo sol, pelas ondas e pelo mar, o sonho da hamburgueria começou a tomar forma e o carinho pela hospedaria deu nome ao estabelecimento.

Com quase seis anos de história, o negócio se tornou um sucesso e referência no litoral. A hamburgueria é parada obrigatória aos turistas. Na cidade de 30 mil habitantes, a população chega a quase 500 mil na alta temporada, o que significa bom movimento para o lugar.

“No verão é muito bom e no inverno é mais difícil. Essa sazonalidade mexe com a gente. Contratar funcionário, demitir funcionário. Isso é algo da vida de empreendedor no litoral”, comenta Caetano.

FILHOS, FAMÍLIA E NEGÓCIOS

Outras histórias também passaram a ter continuação nas praias, com a abertura de hostels, padarias, ou mesmo de um negócio próprio nos fundos de casa. Essa é a história da lajeadense Taila Zagonel, 32, criadora da Pasta de Minduim, uma microempresa familiar que mantém com o marido, em Garopaba.

A fábrica fica na residência do casal, o que permite aos produtores passar os dias com as duas filhas. Os dois se dividem e, durante a manhã, Taila reserva o momento para passear com as crianças. Nos fins de semana, a praia é destino certo da família.

“A qualidade de vida para quem tem filho aqui é maravilhosa, porque você tem natureza, segurança, coisas simples que em cidades maiores nem sempre têm. As crianças conseguem ser criadas um pouco mais livres e com segurança”, destaca Taila.

Do Sonho Realidade

A lajeadense conta que a vontade de morar na praia sempre caminhou com ela e, em 2016, quase no fim da faculdade de moda, recebeu a oferta de um emprego temporá- rio em um hotel de Garopaba. A ideia era passar o verão. Mas Taila se apaixonou pelo estilo de vida na praia e, com um emprego fixo em uma pousada, decidiu ficar.

“Quando cheguei lá, me encantei pelo modo de viver. Tu acordar de manhã, sair a pé e estar na beira do mar, é uma coisa muito louca nos primeiros dias, e não fazia mais sentido pra mim voltar”.

Em meio ao trabalho na hospedaria, ela começou a produzir as pastas de amendoim como renda extra, e foi só quando a filha mais velha nasceu que ela decidiu tornar o hobby em um negócio. Hoje, além da distribuição para estabelecimentos do litoral, ela também vende os produtos para outras cidades, inclusive Lajeado.

Taila percebe que o mercado de alimentos saudáveis e orgânicos é forte na praia e as pessoas se preocupam mais com o que consomem. Além disso, a rotina dela permite aproveitar o trabalho e a família na mesma medida. “Sinto que em Lajeado eu tinha uma vida mais acelerada e aqui consigo ter um pouco mais de tempo e leveza. Tenho uma vida mais simples, mas consigo colher mais frutos disso”.

Fim De Tarde No Mar

O lajeadense conta que a gastronomia já fazia parte da vida do casal e, antes do reencontro em Bali, os dois trabalharam, em períodos diferentes, em uma mesma hamburgueria na Austrália.

Caetano também fez o estágio de gastronomia gaúcha da Univates em um restaurante em Garopaba. “A gente sempre gostou do litoral, mas não acreditava que poderia viver e trabalhar dessa forma, curtindo a praia, surfando, isso era utopia pra gente”.

Hoje, ele garante que o estilo de vida que encontrou na Austrália também pode ser vivido no Brasil e é esta realidade que quer oferecer aos filhos. Por isso, quase todo dia, o casal busca as crianças na escola para passar o fim de tarde na praia.

SINTO QUE EM LAJEADO EU TINHA UMA VIDA MAIS

ACELERADA E AQUI CONSIGO TER UM POUCO MAIS DE TEMPO E LEVEZA”

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