Artefato - 11/2010

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A r t efato Ganhar a vida

Ano 11, n. 4, Novembro de 2010 Jornal-laboratório Curso de Comunicação Social Universidade Católica de Brasília www.opn.ucb.br

Bruno Santana

Conheça as histórias das pessoas que ganham o sustento dirigindo motos no agitado trânsito brasiliense

sobre duas rodas Equoterapia, além de trazer melhoras, promove a inclusão social

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Descubra por que Brasília tem recebido tantos shows internacionais

A reforma do Mané Garrincha para a Copa de 2014 gera polêmica

Feiras atraem classe média e tornam Taguatinga pólo produtor

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EDITORIAL

EXPEDIENTE Artefato

Jornal-Laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Ano 11, nº 4, outubro de 2010 Reitor Pe. Msc. José Romualdo Degasperi Diretor do Curso de Comunicação Social André Luís Carvalho Disciplina Produção e Edição de Impressos Editores-chefes: Edmar Araújo e Samara Correia Diagramação: Leonardo Salomão, Magno Jardel, Thandara Yung Fotógrafos: Bruno Santana, Carolina Nogueira, Carolina Rodrigues, Flávio Brebis, Maycon Fidalgo, Rick George, Samuel Paz Repórteres: Carina Lasneaux, Dandara Lima, Elaine Siqueira, Elitânia Rocha, Evelyn Louise, Gislene Ribeiro, Humberta Macedo, Jordana Querino, Leidiany Lisley, Letícia Freire, Lucas Madureira, Quelma Trindade Editores: Paulo Maximiano, Suzi Souza

Nathália Coelho,

Professores responsáveis Orientação de texto: Gustavo Cunha Karina Gomes Barbosa Orientação de fotografia: André Luís Carvalho Thiago Sabino Orientação gráfica: Felipe Neves Estágio docente: Elizângela Monteiro Vânia Gurgel Monitoria: Thiago Fagundes Ilustração: Tawana Yung e Thiago Fagundes Tiragem 1.000 exemplares Universidade Católica de Brasília EPCT QS 07 lote 1 Águas Claras -DF Cep. 71966-700 Tel. 3356 9337 e-mail: artefato.jornalucb@gmail.com

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Repórteres fora da sala de aula Samara Correia e Edmar Araújo

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ocê sabe quantos shows internacionais ocorreram em Brasília neste ano? Em 2010, a quantidade de espetáculos superou as expectativas mais otimistas. Esta edição do Artefato reservou espaço para mostrar os bastidores desta agitação. Ainda na área de cultura, o jornal se dedica a um olhar crítico para a realidade local. Produtores e militantes candangos denunciam cortes de verbas no Fundo de Apoio a Cultura (FAC), o que causa repercussão direta no mercado de trabalho. Trabalho, aliás, é o que não falta nas obras para a Copa de 2014. Nossa equipe mostra que o repaginado Mané Garrincha será possivelmente o estádio mais caro do evento. Enquanto isso, falta saneamento básico em cidades como Varjão, onde a população sofre com o descaso. Os repórteres também contam histórias de casais que abrem mão das formas usuais de prevenir a chegada dos filhos e preferem confiar em métodos naturais.

No corre-corre da redação, o Artefato viajou pelo frenético mundo de quem, diariamente, ganha a vida sobre motos. Em meio a todas essas questões, uma história inusitada de dois restaurantes que, apesar de estarem lado a lado, não fazem concorrência. E para quem associava feira às pessoas de classes mais baixas, apontamos um novo e emergente público consumidor. Nesta edição do Artefato há um maior leque de assuntos norteados por ousados desafios. Resolvemos sair verdadeiramente da sala de aula em busca de fontes, personagens e fotografias. Vieram dificuldades: fontes não compareceram, celulares estavam desligados e pautas caíram. Por outro lado, o resultado traz um apanhado variado da vida da comunidade e da universidade. Nada mal para um jornal-laboratório em que o resultado das pesquisas pode ser comprovado no teor das páginas seguintes. Af Boa leitura.

Ombudskvinna Ane Gottlieb*

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Artefato, que antes circulava apenas dentro da universidade, a duas edições ganha dimensão territorial maior, pois os próprios estudantes se encarregam de distribuí-lo em redações de jornais e na comunidade. Esse novo foco vem sendo acompanhado de uma perceptível melhora estética e do conteúdo, assim como a visibilidade dentro da UCB. Nesta edição, a diagramação mais descontraída, se assemelhando aos jornais tradicionais, e o papel utilizado para a impressão fizeram com que o visual tivesse imagens mais vivas. Esse cuidado fez diferença, assim como a inclusão de boxes de serviços nas matérias, que, às vezes, informam mais do que aquilo que é apresentado no texto. Mas, por ser um jornal-laboratório, feito por aprendizes, alguns problemas foram perceptíveis. Já no editorial é visível a preocupação maior em apresentar o que estava no jornal e não em mostrar a visão dos editores ou da equipe sobre algo de relevância que seria apresentado. Em duas reportagens, uma possível dificuldade na apuração fez com que temas que poderiam contar com mais fontes se tornassem perfis, como Bordado muda vida de mulheres e Asilados por opção. Na primeira, fica a curiosidade: como seria a imagem da bordadeira Francilene Ferreira Reis? Faltou

Ao leitor

a foto. E, ao contar a vida no asilo de Manuel Loiola Menezes, as histórias, ao fim do texto, se confundem com aquilo que foi contado do personagem. Nada contra os perfis, mas o de Seu Toniquinho, que fechou a edição, seria suficiente. Saúde em alerta durante a seca, Nada se perde, tudo se transforma e Abuso sexual sem fronteiras trataram de assuntos relevantes e por isso muito discutidos na mídia. Mesmo assim, merecem ser reforçados, principalmente se tiverem olhares diferentes dos apresentados por outros veículos. Um problema de coerência em Nada se perde, tudo se transforma: a receita escolhida não reaproveita ingredientes, ou pelo menos isso não é citado. Mesmo assim, vale a iniciativa de apresentar o programa Cozinha Brasil, do Sesi. Já em Abuso sexual sem fronteiras, o fato de maior relevância, o suplente de senador ser suspeito de pedofilia, poderia ter sido melhor explorado. Destaque maior para a matéria de capa. A infografia anunciava que a pesquisa feita com o público da UCB sobre a eleição iria tratar do assunto de forma clara e simplificada, e não como estamos acostumados a ver somente em gráficos, apesar de eles terem sido utilizados. As explicações metodológicas mostraram que a equipe se mobilizou e realizou as entrevistas de forma comprometida e pensando nas possíveis consequências. Mas, sem pensar nas conseqüências, uma A reportagem Capital de quê?, publicada nas páginas 14 e 15 da edição anterior do Artefato, foi apontada pelo repórter Diego Amorim, do Correio Braziliense, como plágio de um texto dele, impresso em 10 de janeiro. A partir da denúncia, houve convocação do Colegiado do curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília para apurar o caso. O colegiado, composto por quatro professores, ouviu as partes, julgou

mácula foi deixada na edição. Ninguém esperava encontrar em meio às matérias duas páginas plagiadas. Ainda mais em uma disciplina do sexto semestre do curso, pois desde o primeiro a maioria dos professores dizem em alto e bom som que “plágio é crime!”, previsto na lei n° 9.610 sobre direitos autorais. A confiança na equipe é fundamental para a realização de qualquer trabalho, mas o excesso dela, desta vez, custou caro a alunos e professores. A matéria não desmerece o trabalho de todos, mas prejudica a credibilidade do jornal laboratório. Nada que não possa ser reversível, porém pode demorar um bom tempo. Af *Aluna do 7º semestre de jornalismo Em tempo: Ombudskivinna é o feminino de ombudsman. a denúncia procedente e a remeteu à próreitoria da UCB, que em seguida acionou o Conselho Disciplinar da instituição. Cabe a essa instância julgar o caso, de acordo com o regimento interno da universidade. Até o fechamento desta edição, a decisão final sobre o episódio ainda não havia sido tomada. O Artefato pede desculpas aos atingidos e aos leitores e se compromete a, na próxima edição, tratar mais sobre o tema. Af

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POLÍTICA

Calouros no voto

Mesmo com dúvidas e desinteresse, jovens entre 16 e 17 anos foram às urnas pela primeira vez Leidiany Lisley

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Priscila Mundim, 18 anos, é estudante do terceiro ano do ensino médio e eleitora de primeira viagem. Segundo ela, o primeiro voto é importante, sim. A jovem acredita que os jovens são preparados para votar, mas sentiu dificuldades. “Achei muito complicado porque, até a votação, ainda não tinha definido todos meus candidatos” Fotos: Carolina Nogueira

ia 3 de outubro de 2010. Os carros buscou se informar sobre as promessas e os que passam nas ruas do Distrito antecedentes dos candidatos. Mesmo não Federal levantam panfletos dos sabendo sobre as funções de cada cargo e personagens das eleições, espalhados pelas desencorajada pela política, queria exercer cidades. É nesse momento que os candida- a cidadania da melhor forma. Assim, detos vêem, nas urnas, o resultado dos deba- finiu critérios para escolher os votos. Para tes, carro de som e horário gratuito. Para o deputado distrital escolheu o que defendia eleitor, a ajuda é a velha colinha que lembra melhorias na segurança. Para senador, peos números para digitar na urna eletrônica. sou a redução da maioridade penal. Para Pensando nisso, Jennifer de Farias Morais, presidente, transporte público e escolas 16 anos, votou pela primeira vez. A adoles- técnicas foram decisivos. “E quero votar cente anotou as informações de seus can- em alguém que melhore a educação”, disse didatos no folheto oferecido pelo Tribunal a jovem, que tentava decidir em quem votar Superior Eleitoral (TSE). Obrigada pelo pai, para o Executivo local. Orleando Farias, ela fez o título no último dia disponível para tirar o documento, 5 de O desânimo maio. Por ela, esperaria a próxima eleição. Janaína dos Anjos Paraíso, 19 anos, Pai e filha votam na mesma seção, na Zona Eleitoral 017, no Centro de Ensino votou por obrigação. Segundo ela, estava Fundamental 10, no setor Oeste do Gama. sem opção. Pensou em alguns candidatos, Os dois saíram as 15h25 de casa. Tumultu- mas não se considerou capacitada para votar este ano. “Não entendo ado, sujo, com barracas de lanmuito. Estou chegando agora che em frente ao local, o coléTenho que pedir pra votar. Tenho que pedir gio fica a sete quilômetros da casa de Jennifer. A menina ajuda para quem já ajuda para quem já conhece deu sorte: assim que chegou, conhece a política a política há algum tempo”. A jovem afirmou votar em foi atendida pelos mesários. há algum tempo candidatos sugeridos pelos “Já vi a urna eletrônica em Janaína dos Anjos Paraíso pais “Eles que precisam dos uma votação que simularam benefícios, que conseqüenna escola. Acho que não vou temente chegam até mim, ter dificuldades”, disse a joentão eles sabem quem são os melhores vem eleitora enquanto aguardava a vez. Na cabine, foram 45 segundos de vota- candidatos”, justificou. Domingo pela manhã, Janaína foi às urção sem dificuldade. Ao sair da sala, tinha a sensação de trabalho cumprido. “Estou nas, ficou 20 minutos na fila e, enquanto confiante.” A estudante do 2º ano do ensi- esperava, trocava informações com pessoas no médio disse que a dois dias da votação mais velhas. A jovem concluiu que havia ainda não tinha escolhido todos os candi- mais gente na dúvida. “Estamos sem opção. datos, apesar da certeza de que não votaria Travei quando fui votar para presidente. em nenhum representante do atual gover- Pensei duas vezes antes de votar.” A primeira experiência com a urna eletrônica no. “Políticos são todos iguais”, afirmou. Jennifer analisou as propostas sob o ide- foi tranquila. Achou prática, sem segredos. al cristão para escolher os seis candidatos. Janaína nunca tinha visto uma, mas ajudaO pai mostrou algumas alternativas, mas da pelo pai e pela televisão aprendeu a lidar o voto de ambos não foi igual, por exem- com a máquina. “As fotos são bem explicatiplo, para presidente. Curiosa, a adolescente vas, deixam bem claro as informações.” Af

Investimento na informação Segundo dados do TSE, nestas eleições foram 900.807 eleitores habilitados com 16 anos, 1.490.545, com 17 anos e 8.845.488 entre 18 e 20 anos. O voto facultativo foi instituído em 1989 para as faixas etárias de 16 e 17 anos. O maior número do eleitorado está nas faixas etárias de 25 a 34 anos e 45 a 59 anos. Com o intuito de investir no primeiro

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voto, o TSE criou a revista eletrônica “Família Brasil” para informar e entreter os primeiros eleitores. O objetivo era instruir crianças e adolescentes quanto à importância do voto. Os usuários puderam acessar duas versões distintas: uma direcionada ao público de 12 a 14, e outra, voltada para leitores de 15 a 17 anos. (L.L.)

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ESPORTE

Discórdia marca reforma do Mané Garrincha Por Nathália Coelho e Paulo Maximiano

Bruno Santana

Para a capital ter a chance de sediar a final da Copa de 2014 é preciso que o espaço tenha no mínimo 70 mil lugares. Ministério Público do DF julga o gasto desnecessário

MPDFT e TCU apontaram problemas com a reforma do Mané Garrincha. Mesmo com as recomendações, as obras não param

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leita uma das doze cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, Brasília quer receber também os eventos de abertura ou de encerramento do mundial. Se possível, os dois. Essa é a pretensão do Governo do Distrito Federal com a reforma do Estádio Mané Garrincha, que passará a se chamar Estádio Nacional de Brasília. Mas, desde a licitação para a escolha do consórcio, o projeto vem recebendo críticas. Orçada em R$ 696,65 milhões, é a mais cara de todas as sedes da Copa de 2014. A obra é conduzida por meio de parceria entre a Terracap e o Consórcio Brasília 2014, formado pelas empresas Andrade Gutierrez e Via Engenharia. O projeto prevê a ampliação dos atuais 42 mil lugares para 71 mil. Essa é uma das exigências da Fifa para a sede da final da Copa. De acordo com o GDF, o valor para custear a construção virá da venda de

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terrenos pertencentes ao governo e de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). Do total, já foram aprovados R$ 80 milhões para 2010. A proposta é que em julho de 2013 o estádio esteja pronto para a Copa das Confederações. A discórdia Em fevereiro, o Tribunal de Contas do DF pediu o cancelamento do processo. Entre as irregularidades, falta de planilhas detalhadas e de projeto básico e explicações de como o governo bancará a construção. O GDF tentou derrubar a suspensão e, dois meses depois, o TCDF liberou o edital, mas com ressalvas. Apesar de o governador do DF, Rogério Rosso, ter dado o pontapé inicial para as obras do Mané Garricha, com a assinatura do convênio, em julho, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) recomendou, no início de se-

tembro, a rescisão dos contratos. Segundo o promotor que ajuizou a ação, Ivaldo Lemos, não há a necessidade de uma obra desse tamanho, tendo em vista que o futebol em Brasília é “inexpressivo” e o estádio tende à ociosidade depois do Mundial. Em ofício enviado ao GDF, ao qual o Artefato teve acesso, Ivaldo Lemos afirma que “há um enorme risco de ficar ocioso (o estádio), conforme também pontuado pela própria Fifa, porque a qualidade do futebol local não é expressiva no cenário nacional (e muito menos mundial), e não há times nem campeonatos fortes e atraentes”. Lemos recomenda a revisão do projeto e a redução da capacidade do estádio para 30 mil lugares, o que ainda se enquadra nas exigências da Fifa. Para o promotor, já está quase certo que o encerramento dos jogos acontecerá no Maracanã. “O Ministério Público recomendou e o jurídico do GDF já está cuidando de tudo”,

rebate o gerente de Projetos da Copa de 2014, Sérgio Graça. Enquanto isso, o plano urbanístico foi aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Conselho de Planejamento Urbano do Distrito Federal (Conplan). Sérgio diz que esse parecer favorável foi um passo importante para a concessão do alvará pela Administração de Brasília. “Agora as obras estão de vento em popa”, comemora. O gerente ainda afirmou que, passado o Mundial, o estádio poderá reverter seus lucros não só com jogos, mas também com eventos religiosos e shows, inclusive internacionais. Opiniões divergentes Entre os brasilienses, as opiniões são divergentes. Há quem acredite que o estádio vai ser mais um “elefante branco” para a capital; outros afirmam que a construção pode favorecer o cenário do futebol em

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Brasília. “O estádio está sendo construído para a Copa e por isso deve ser desse tamanho. Depois do mundial, as pessoas podem passar a valorizar mais o esporte e se interessar pelos jogos do Gama e Brasiliense, por exemplo. Quem sabe o estádio não incentive o futebol local a crescer. Além do mais, um estádio serve também para a realização de shows, por isso não vai ficar tão ocioso assim,” afirma o segurança Sandro Roberto, 36 anos. Sandro é torcedor do Brasiliense e costuma levar seu filho Luan Solimar, 10 anos, nos jogos da equipe. Já o funcionário público Davi de Castro, 21 anos, concorda que Brasília precisa de um estádio à altura da cidade, mas é preciso “ter pé no chão” e ponderar diversos fatores que vão além da satisfação de se ter um mega estádio. “Não acho que valha a pena utilizar recursos para a construção de um estádio que só vai ter bom proveito durante o evento. Isso seria subutilizar dinheiro público, que poderia ser investido em áreas que a população brasiliense muito carece. Não dá pra comer ovo e arrotar caviar”, brinca. A discussão chegou à Câmara dos Deputados. Em entrevista à Rádio Câmara, o deputado Sílvio Torres (PSDB-SP) disse que alguns estádios construídos para o Mundial poderiam se tornar obsoletos, espaços ociosos e caros. Segundo o deputado, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou quatro empreendimentos nessa situação: Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal. “Significa que vão ter que ser bancados com dinheiro público, porque os custos de manutenção são altos. São arenas modernas, caras e dificilmente esses espaços dessas localidades que não têm sustentação

amantes do Jacaré são pagos para vibrar pelo clube de Taguatinga. Em partida disputada pela Série B do Campeonato Brasileiro, o Brasiliense bateu o recorde negativo de 22 pagantes no Serejão, em Taguatinga. Para Rener Lopes, um dos principais motivos do futebol estar desvalorizado é a falta de apoio do público: “O torcedor deve incentivar as equipes de Brasília, assim os governantes passarão a investir mais e melhorar a qualidade do nosso futebol”, finaliza.

Falta de torcida A falta de times de grande expressão no cenário nacional desperta no torcedor brasiliense o desinteresse pelo futebol local. Clubes como Brasiliense e Gama não possuem apoio do público, que raramente sai de casa para ir ao estádio acompanhar os jogos, exceto quando uma equipe do eixo Rio-São Paulo vem a Brasília. Estádios sucateados “Costumo dizer que o brasiliense é o meu terceiro time, afinal gosto de prestiSe a reforma do Mané Garrincha é alvo giar o futebol daqui. Mas antes, sou vas- de conflito, a situação dos outros 13 escaíno por conta do meu pai, cruzeiro por tádios do DF é precária. Para o radialista ser mineiro”, revela Sandro Roberto. O Rener Lopes, que todos os fins de semana segurança afirma que acompanhou o sur- narra jogos das Séries A e B do campegimento do time em Brasília. “Quando o onato Brasiliense, o governo precisa inbrasiliense estava embalado na série A e B, vestir nos estádios da cidade: “Têm que as pessoas iam mais ao estádio. Como ele dar mais infraestrutura não só para o caiu, ninguém quer mais saber”, comple- torcedor, mas para a imprensa. O goverta. Para Sandro, a falta de investimento na no não investe em reformas e melhorias”, equipe e o controle total do presidente do reclama. clube impedem boas escolhas para contraRecentemente, o GDF reformou o Betações de jogadores. zerrão, onde joga o Gama. Porém, desde Na última década, o Brasiliense despon- a revitalização do local, o estádio recebeu tou como grande centro das atenções do apenas dois grandes jogos e ultimamenfutebol em Brasília. Dite era palco para as rigido pelo ex-senador trapalhadas do time Luiz Estevão, o Jacaré, Não acho que valha a pena na Série C. Era, pois como é conhecido, moutilizar recursos para a cons- o Gama conseguiu nopoliza o esporte desa façanha de cair trução de um estádio que só para a Série D do de sua criação em 2000. vai ter bom proveito duran- Brasileirão. Diferente de equipes Em como Gama, Ceilândia, âmbito internaciote o evento. Cruzeiro-DF e Legião, David de Castro, nal, o Bezerrão só o Brasiliense possui um servidor público recebeu o amistoso Centro de Treinamento entre Brasil e Pore poderosos investidotugal para marcar a res, dentre eles o próprio Luiz Estevão. reinauguração. Entretanto, Ivaldo Lemos Mas tanto investimento não leva o torce- lembra que o jogo não teve boa repercusdor ao estádio. Dados da CBF revelam que são jurídica e foi objeto de ação de improno Campeonato Brasileiro de 2009, a mé- bidade administrativa. dia de público nos 19 jogos do time foi de Na sexta-feira, 5 de novembro, o Conse4.306 pagantes por partida. A média geral lho de Administração da Terracap decidiu foi de 6.621. Durante todo o ano, apenas acatar a decisão do Ministério Público e 81.818 torcedores assistiram aos jogos do suspendeu o repasse de verba ao consórcio Brasiliense. Entre as dez piores arrecada- responsável pela obra, bem como a próções, o time mais importante de Brasília pria construção do estádio. A diretoria aparece em quinto lugar, com um total de da empresa afirmou que está trabalhando R$ 524.417,00 em 19 partidas, contra os R$ para que a situação seja resolvida junto à 7.602.805,50 arrecadados pelo Vasco. Justiça. Por enquanto, as obras ficam paÉ raro encontrar alguém que realmente radas. Af vista a camisa dos times de Brasília. A torcida do Brasiliense recebe o nada carinhoso apelido de “torcida de aluguel” dos rivais. A insinuação é de que os

Divulgação

através do esporte, nem mesmo através de eventos, conseguirão parcerias”, alertou o parlamentar.

Vamos aos números:

1000 Empregos Diretos

3000 Empregos Indiretos

50 Vagas para presos do sistema carcerário

36 Meses para a conclusão da obra PARA COMPARAR A construção do Estádio do Corinthians, em Itaquera (SP), é estimada em R$ 335 milhões, com capacidade de 48 mil pessoas. O clube pretende pegar um empréstimo com BNDES para custear o projeto. Uma vez pronto, o estádio terá rentabilidade própria, sem uso de recursos públicos. Tudo está sendo feito para que o estádio seja palco para a abertura da Copa de 2014.

Bruno Santana Bruno Santana

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SERVIÇOS

Cavaleiros da qualidade de vida Indicada para pessoas com paralisia cerebral e síndromes neurológicas, equoterapia é oferecida gratuitamente no DF Letícia Barros Freire

Onde praticar Centro Básico General Carracho Associação Nacional de Equoterapia, S/N° - Granja do Torto Funcionamento: de terça a quinta, das 8h30 às 11h30 e das 14h às 17h30. Segunda-feira, apenas no período da tarde. Sextas, só pela manhã. Telefone: 3468-7092

Gabriel, de sete anos, se prepara para assumir a montaria: confiança conquistada aos poucos

Centro de Equoterapia Apoiar (Particular) Colônia Agrícola Vicente Pires, chácara 134 Telefone: 8154-9205 (Marcela) Funcionamento: de segunda a sexta, em horário comercial. Sábados, das 8h às 12h Centro de Equoterapia do Instituto Cavalo Solidário (Gratuito) Ceilândia Núcleo Rural Alex Gusmão, 3/465 Chácara 3/465 DF 180 – Incra 09 Telefone: 8434-1350 (Cíntia) / 3401-1350 Funcionamento: de segunda a quinta-feira, das 8h30 às 12h00 e das 14h às 17h

Letícia Barros Freire

Centro de Equoterapia da PMDF (Gratuito) Riacho Fundo I, DF 075, Km 08 Área Especial 01 - Granja modelo Telefone: 8414-3373 (capitão Oliveira) e 3356-0894 Funcionamento: de terça a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h

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ercado de árvores frondosas que garantem uma convidativa sombra, o Centro Básico de Equoterapia General Carracho, na Granja do Torto, é o cenário de encontros semanais para 80 crianças inscritas no projeto gratuito. Os encontros vão bem além de passear nos oito cavalos e dois pôneis, esses últimos usados no período de adaptação. Os praticantes ajudam a alimentar os animais, exercitam o tato, escovam e acariciam suas montarias. Com isso, desenvolvem vínculos de confiança e de afetividade. Envolvida com o tema há 15 anos, a fisioterapeuta Mylena Medeiros, autora de livro sobre o assunto, explica que a equoterapia é indicada como tratamento complementar para pessoas com paralisia cerebral, autismo e síndromes neurológicas. “O trabalho é gratificante pelo dinamismo e pela resposta rápida. Em um mês temos resultados”, conta. A evolução depende do nível de deficiência de cada um. Segundo ela, o cenário bucólico, cercado de verde,

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Fonte: Associação Nacional de Equoterapia

é um componente importante para ajudar as crianças e os animais a compartilharem um ambiente de serenidade. A equipe de trabalho na Granja do Torto é múltipla, com profissionais de fisioterapia, psicologia, terapia ocupacional, pedagogia e educação física, além dos instrutores de equitação. Cada sessão dura meia hora e o tratamento leva de um a dois anos, prazo que pode ser prorrogado ou abreviado. Há 13 anos no ramo, Carlos Franck da Rocha é fisioterapeuta e enumera benefícios físicos e psicológicos da prática. “Os impactos mecânicos transmitidos pelo cavalo, de baixo para cima, ao encontro da ação da gravidade no corpo do cavaleiro, estimulam a reação de endireitamento corporal e de ajuste postural. Psicologicamente, há o entusiasmo do praticante em deslocar-se longas distâncias e passar por locais inatingíveis, em certos casos, em função da limitação física”, afirma. “Somese a isso o porte do animal, que é grande e lhe é submisso, atendendo ao comando do

cavaleiro ou de seu auxiliar-guia. O mesmo animal come quando é levado pelo cavaleiro ao local designado. Isso tudo aumenta a auto-estima da pessoa com deficiência.” A opinião se materializa no discurso de Ludmila Chaibe Machado. Mãe de Gabriel, de sete anos, que pratica a equoterapia há dois, ela percebe aprimoramentos nítidos no filho. “No início, ele demorou três sessões para montar porque tinha medo. Só passava a mão no animal, dava grama, até que na quarta sessão decidiu subir. Hoje, adora o cavalo, ganhou confiança. Passou a olhar as pessoas bem nos olhos”, afirma. Segundo Ludmila, Gabriel, que tem Síndrome de Down, faz muitas terapias, “mas aqui tem essa paisagem, é algo diferente, relaxante”. Inscrição Professor de educação física e diretor do centro da Granja do Torto, Vinícius Saccochi explica que a idade mínima para participar é de três anos. A seleção leva em

conta critérios socioeconômicos. “O centro é filantrópico. Para participar, é necessária uma inscrição na lista de espera, que prioriza famílias menos favorecidas”, diz. A estrutura é mantida a partir de convênios com Exército, Secretaria de Educação do DF, Presidência da República, Universidade de Brasília (UnB) e iniciativa privada. A escolha do cavalo é cuidadosa. De acordo com Mylena Medeiros, o macho deve ser castrado, adulto, de índole dócil, com idade acima dos oito anos, sem alterações biomecânicas ou estruturais e altura que permita o acesso terapêutico, algo em torno de 1,50m a 1,60m. Tudo isso além dos treinamentos e do “atendimento Vip”. Bruno Silva trabalha há seis anos como auxiliar-guia e tratador. Entre suas tarefas está a limpeza adequada dos cascos e a condução dos cavalos. “Guio a andadura, o caminho a ser seguido de acordo com o que recomendam os fisioterapeutas, e separo o material de cada praticante”, explica. “Você trabalha e ajuda as pessoas ao Af mesmo tempo”, resume.

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À moda antiga

SAÚDE

Por motivos religiosos, casais optam por métodos naturais para evitar a gravidez

Gislene Ribeiro

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uando homens e mulheres forDe acordo com dados do MS, os métodos mam famílias, é comum decidirem naturais falham pelo uso incorreto. No pricomo e quando será a vinda dos meiro ano de uso habitual, o índice chega a filhos. A maioria faz uso de métodos contra- 20%. Entre os usuários que fazem o uso corceptivos – dispositivos e medicamentos – que reto, este índice cai para algo entre 0,5 e 9%. impedem ou diminuem a chance de a mulher Segundo a assessoria de Comunicação do engravidar. Os mais conhecidos são as pílu- MS, o governo não trabalha com a idéia de las anticoncepcionais, a camisinha, o DIU, o vantagem ou desvantagem dos métodos. A diafragma, a injeção, a esponja contraceptiva, escolha deve ser livre e informada, cabendo o anel vaginal, a laqueadura e a vasectomia. à mulher ou ao casal a decisão final sobre o Mas existem mecanismos adotados, princi- que melhor se adequa aos valores, necessidapalmente, por casais católicos como alterna- des e meios disponíveis. Pelas estimativas do tiva – são os chamados métodos naturais. ministério, 23% das mulheres em idade fértil Há vários tipos, baseados na observação da de 15 a 49 anos usam métodos naturais – enmulher sobre as mudanças tre elas, as que não toleram do próprio corpo e sobre anticoncepcionais hormoos sinais e sintomas do ciNós, a partir de nossa inti- nais e que, simultaneaclo menstrual, abstendo-se midade, temos a convicção mente, não podem usar o de relações sexuais no pede que todos os nossos DIU. ríodo fértil. O mais usado Além da baixa eficácia, filhos vieram no momento é método Billings, obserque deveriam vir os métodos naturais aprevação diária da densidade, Nathálisa Santos sentam alguns riscos. Por quantidade e temperatura isso, a grande maioria dos do muco cervical. Porém, médicos prefere indicar os a maioria dos casais adota mais de um méto- métodos usuais, como a pílula e a camisinha. do por segurança. "Esses métodos não têm contra-indicações, “Os sintomas do período fértil aparecem mas o maior risco é a questão da Aids. A fidecerca de 14 dias após o primeiro dia da mens- lidade é muito importante nesses casos", astruação, em mulheres de ciclo normal. Eles segura a dra. Karen. É a mesma preocupação são fáceis de serem percebidos: dores abdo- do governo. minais; inchaço nos seios; muco claro e ‘esticável’ em maior quantidade que o usual e Na hora certa aumento da libido”, explica a ginecologista Mesmo com esses alertas, os métodos Karen Abraão. A mulher permanece fértil naturais são a opção para muitos casais. enquanto o óvulo estiver vivo após a liberaNathália Santos, casada há 15 anos e parção pelo ovário (apenas 24 horas). Já o esperticipante do Neocatecumenato, segmento matozóide dura até 72 horas no trato genital da Igreja Católica que estimula esse tipo de da mulher. prevenção, usa o Billings desde o início do Por conta disso, os casais que adotam os casamento com Jorge. Com oito filhos, eles métodos naturais defendem responsabilidanegam erro e afirmam que esse é o plano de de e disciplina, já que esse tipo de prevenção Deus para eles. "A finalidade do sexo é essa: a exige do casal dedicação, cumplicidade e reprodução. Mas, claro, na hora certa. Nós, a atenção para identificar os sinais do período fértil. O problema é que alguns fatores, como tomar algum medicamento, por exemplo, podem causar alterações hormonais na mulher, mudando o ciclo menstrual. Billings: observação diária da densidade, Quando comparados com outros métodos, temperatura e quantidade do muco ceros naturais apresentam baixa eficácia. Para se ter uma idéia, os médicos utilizam um índice vical da mulher que calcula o número de gestações entre 100 Ogino-Knauss: tabelinha mulheres que usaram habitualmente deterTemperatura basal: medição da temminado método anticoncepcional durante peratura do corpo da mulher pela manhã, um ano. “No caso do coito interrompido, 19 que se eleva um pouco com a ovulação mulheres engravidariam em um ano. Com os Cristalização da saliva: verifica a fertilimétodos de abstinência no período fértil, 25. dade pela observação da saliva ou muco Com o preservativo masculino, por volta de no microscópio 12 mulheres e, com a pílula anticoncepcional,

partir de nossa intimidade, temos a convicção de que todos os nossos filhos vieram no momento que deveriam vir", relata Nathália. Já para Joana Correia Matos, católica e casada há oito anos, os métodos naturais não funcionam: "Como vou acreditar em um método que pode ser alterado caso eu mude de humor ou mude a minha alimentação? É muito inseguro. Prefiro recorrer à pílula e garantir que não engravidarei pelos próximos dois anos", ressalta. Ao lado da camisinha, a pílula anticoncepcional é alvo de campanha do governo. Até o final do ano, vão ser gastos R$72,2 milhões na compra e distribuição gratuita de ambos. A justificativa é a eficácia do anticoncepcional: 98%, podendo alcançar os 100% quando aliada ao preservativo. Artigo publicado pela Revista de Saúde Pública, de São Paulo, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) com 12.612 mulheres de idade entre 15 e 49 anos, comprova a revolução representada pelo anticoncepcional. Até os 30 anos, as mulheres optam pelo uso da pílula, e depois, pela esterilização feminina. Ainda de acordo com a pesquisa, 76,6 % das mulheres que têm parceiro fixo usam algum método de planejamento familiar, entre pílula, esterilização feminina ou masculina, preservativo, abstinência, entre outros. Já 23, 4% não fazem uso de nenhum método. Também católica, Kamila Aleixo, 26 anos, casada há três, usa o método Billings associado ao método basal. “A maior vantagem é você pensar que está fazendo aquilo que Deus quer”, afirma. Grávida do primeiro filho, ela segue a posição da Igreja Católica, segundo a qual a adoção dos métodos naturais não é para evitar os filhos, mas para um planejamento familiar adequado, em que eles venham de acordo com a vontade de Deus. Af

Raoni Maddalena

A contracepção natural

seis”, esclarece Karen Abraão.

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Auto-apalpação cervical: baseado nas mudanças das características do colo uterino Sintotérmico: combinação dos métodos Billings, tabelinha, temperatura e apalpação LAM: efeito natural da amamentação sobre a fertilidade Colar: tabelinha que usa um colar de contas para orientar os dias férteis

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CIDADES

V

elocidade, vento no corpo e adrenalina. Esses são companheiros inseparáveis do motociclista. Mas na mesma proporção em que pilotar uma moto pode ser emocionante, também pode ser muito perigoso. Como é um veículo de duas rodas e menos protegido, o motociclista fica mais exposto que os condutores de automóveis, por exemplo. Diante da mistura de emoção e risco, como o motoqueiro consegue conquistar seu espaço no dia-a-dia do trânsito? E que garantia de segurança possui a pessoa que depende da moto como ganha- pão? Anselmo Diniz Luna, 35 anos, há 11 é motoboy. “Trabalho prestando serviço comunitário de quadras”. O expediente começa aproximadamente às 21h30. O salário que recebe é rateado por pessoas que vivem nas quadras atendidas por ele. Entre as tarefas, Anselmo busca moradores em paradas, verifica se alguém deixou o portão aberto ou até se a torneira da calçada está vazando. “Já presenciei várias pessoas pichando ou tentando roubar veículos, mas por andar com a sirene ligada muitos deles se assustaram e saíram correndo”. Trabalhar de moto já é perigoso devido à falta de proteção. Trabalhar sobre duas rodas durante a noite, então... Por esse e outros motivos, o Sindicato dos Motociclistas Profissionais do DF (SindMoto) oferece segurança e cursos de educação no trânsito aos filiados. Os sindicalizados têm direito a seguro de vida no valor de R$ 25 mil e curso de pilotagem e primeiros socorros. “Conseguimos a regulamentação da profissão e muito mais”, comemora o presidente do SindMoto, Reivaldo Alves, 39 anos, 18 como motociclista de carteira assinada. O seguro de vida custa R$ 19,50 por mês. O motociclista paga metade desse valor ao sindicato e a empresa, o restante. Os riscos justificam o investimento das empresas em proteção aos motoqueiros que têm carteira assinada - de acordo com o sindicato, a maioria deles. Entre esses riscos estão os famosos corredores de trânsito. Condenados pelo Código de Trânsito, eles são, na avaliação de Reivaldo, um mal menor. Ele não é a favor que os motociclistas andem por eles, mas defende que aconteceriam muito mais acidentes se as motos andassem atrás dos carros. “Corredor é uma maneira de agilidade e liberdade. O correto seria uma pista exclusiva para mo-

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C O R R E D O R

Motoboys e mototaxistas se arriscam nos corredores dos congestionamentos para conseguirem mais agilidade e celeridade em seu trabalho Lucas Madureira tos, mas já que não existe...” Além das ameaças externas, os acidentes aumentam devido à irresponsabilidade dos próprios condutores. De acordo com o presidente do SindMoto, a cada dez motociclistas envolvidos em acidentes, quatro não possuem habilitação de moto. “Sou totalmente a favor da fiscalização. É preciso punir os irresponsáveis que estão tirando a vida de muitas pessoas inocentes.” Ele ainda reclama que os hospitais não oferecem suporte aos motociclistas.

P O L O N Ê S

Pré-requisitos e benefícios Para se filiar aos sindicatos a pessoa tem de estar de acordo com a lei que regulamenta a profissão de motoboy. É necessária idade mínima de 21 anos, mais de dois anos de habilitação e a conclusão de alguns cursos obrigatórios. Ruy Filho Gomes Correia, 26 anos, motorista de carro, já foi motoboy. Ele nunca sofreu um acidente grave, mas para ter mais segurança era conveniado ao sindicato. “Motoristas de carro não respeitam os motociclistas.

Sempre há um engraçadinho que fecha o corredor só para sacanear”. O teto salarial para um motoboy é R$ 543, somados a R$230 que recebe por alugar a moto à empresa, pois grande parte dos profissionais trabalha com veículo próprio. A cada 35 Km rodados o motoboy tem direito a um litro de gasolina, além do combustível para ir e voltar do trabalho. Isso se o horário for de 44 horas semanais; se ultrapassar, a empresa deve pagar hora extra. “Procurem o direito de vocês, não aceitem trabalhar na irregularidade”, avisa o presidente do SindMoto aos trabalhadores da área que não são filiados. Os dois sindicatos realizam um evento chamado Encontro Motociclístico, que já está na décima edição. “O encontro proporciona momento de lazer e de aprendizado para o profissional”, conta Reivaldo. Luiz Carlos relata que todo ano a organização traz palestrantes e shows que agradam os participantes. Os dados do perigo De acordo com a Assessoria de Comuni-

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cação do hospital Sarah Kubitschek de Brasília, em 2009, 38% das internações foram causadas por acidentes com motos e, até outubro deste ano, já somavam 39% do total. No ano passado, os motociclistas se envolveram em 572 colisões nas vias do DF. Ainda atropelaram 53 pedestres e dois animais. Os desatentos se chocaram 11 vezes contra objetos fixos. Segundo dados fornecidos pelo Departamento de Estrada e Rodagem (DER), os meses de janeiro e março foram os piores no trânsito motociclístico do DF: nove mortes em cada um. Comparando os números dos anos de 2008 e 2009, em todo o Brasil, o primeiro teve 661 vítimas fatais apenas nos seis meses iniciais do ano, sendo que o ano seguinte possui 667 mortos no mesmo período. A via mais perigosa na capital federal para os motociclistas é a Epia, que registrou 11 mortes com vítimas fatais de acidentes de motos em 2009, seguidas da DF-001 e da DF-180, com sete mortes cada. Contando com todos os tipos de acidentes, foram 702 no ano de 2009, sendo que 49 foram com vítimas fatais, 600 com vítimas não fatais, sete atropelamentos fatais e 46 atropelamentos não fatais. As estatísticas apontam ainda que os condutores de carro são mais imprudentes, pois no ano de 2009 causaram 1236 vítimas, sendo que as motos causaram 70% do total dos acidentes dos carros. Af

Temos aí 30, 40 por cento de gente envolvida na profissão que avacalham. Que chutam espelho, que xingam motorista... Marcelo Veronez, o poeta dos motoboys

Veronez, o Poeta dos Motoboys, em evento dos sindicatos dos motoboys e mototaxistas em Brasília. O paulista, que é ex-motoboy e atualmente trabalha no Samu de São Paulo, relata um pouco os perigos da profissão. Veronez diz que “a grande parte dos motoboys

39% do total de internações 53 pedestres atropelados 11 choques em objetos fixos

paga o pato pela pequena parte que passa quebrando os retrovisores”. Ele afirma que essa pequena parte é de arruaceiros. http://bit.ly/bd8w02

49 vítimas fatais no ano passado

Motoboy, não! Mototaxista

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572 colisões em 2009

Há um vídeo no Youtube que mostra Marcelo

uitas pessoas pensam que motoboys e mototaxistas são a mesma categoria, mas Luiz Carlos Galvão, presidente do Sindicato dos Motociclistas Autônomos (SindMototaxi), explica que não. “Um lida com o transporte de carga e o outro de vidas.” Outra diferença é que, enquanto a profissão do motoboy é regulamentada, a do mototaxista não. “Mas estamos na luta para consegui-la.” Luiz Carlos sofreu um acidente de moto em 2005. Um carro veio na contramão e o acertou, jogando ele e o passageiro na rua. O passageiro ficou bem, mas Luiz Carlos permaneceu 18 dias em coma. “Recebi muita força dos meus amigos”, conta. O presidente do SindMototaxi se recuperou e continua trabalhando na área. “Nós, motociclistas, temos gasolina na veia.”

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Ilustração: Tawana Yung

Pilotar por hobby Alguns apaixonados por motos pilotam apenas pelo prazer de estar sobre duas rodas. É o caso de João Paulúcio, 49 anos, servidor público. “Adoro viajar de carro e avião, mas de moto é o jeito que mais me agrada. Já fui até Caxambu, em Minas Gerais”. João conta que já sofreu um acidente devido à falta de respeito dos motoristas de carros, mas não foi nada grave. “Os motoqueiros fazem manobras que deixam os motoristas nervosos e com preconceitos.” Ele ainda explica que, quando se pilota tranqüilo, as pessoas tendem a respeitar. “Há falta de respeito tanto dos motoristas quanto dos motoqueiros”, completa. O servidor já participou do Comichão Moto Clube, mas preferiu sair e fundar seu próprio clube, o Moto Choppers. Até agora são quatro amigos e ainda não há abertura de inscrições. Mas ele espera que o grupo ainda cresça bastante. (L.M.) Fotos: Bruno Santana

Luiz Carlos Galvão, presidente do SindMotoTaxi: briga para regulamentar a profissão de mototaxista

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CIDADES

Os novos “goianos”

Para dar conta de uma “emergente” classe média, que exige preço e qualidade, feira em Taguatinga vira pólo de confecção e investe em capacitação

Temos consciência da mudança de perfil do público e acreditamos que essa exigência nos força a crescer” Roberta Gonçalves, diretora da Associação dos Feirantes

Humberta Macedo

H

á um quase consenso entre o público feminino no quesito vestuário: quem quer roupa barata, vai a Goiânia. Foi apostando nesse “slogan” que a Feira dos Goianos, em Taguatinga Norte há 12 anos, se estabeleceu como opção aos que não pretendem se deslocar até a cidade vizinha. Mas se engana quem pensa que o público se limita aos que não podem viajar ou comprar em shopping. De uns tempos para cá, com a gradativa ascensão de uma classe média que, segundo especialistas, exige o casamento entre preço e qualidade, o espaço passou a ter uma demanda por adaptações e capacitação. Se durante anos a feira foi sinônimo de “povão”, hoje o que se nota é um crescimento de um público que, mesmo comprando regularmente nas lojas de grife, dá suas escapulidas em busca de pechinchas. “Sempre dou uma passada na feira e confiro se tem o que procuro. Caso não tenha, vou ao shopping. Só temos de comparar as peças para ver se não há diferenças de acabamento”, afirma Armelina Francisca, 48 anos. “O segredo é avaliar bem para não ser um barato que sai caro”, destaca. Ela acredita que, com a mudança no público da feira, os preços aumentaram um pouco, assim como o nível da mercadoria. Segundo informações do Data Popular, instituição especializada nos consumidores dessa nova classe média, esse público movimentou mais de R$ 500 bilhões em 2008 no Brasil. “Houve, de fato, um aumento na renda disponível, por três razões. A primeira é que aumentou a concessão de crédito. A segunda é que houve crescimento da renda com os programas sociais do governo federal e o aumento real do salário mínimo. E a terceira é que os preços dos produtos básicos, como alimentação e vestuário, subiram menos que a inflação. Nos últimos dez anos, o salário mínimo aumentou 365% e a inflação, 147%”, diz Renato Meirelles, sócio do Data Popular. Preocupados em se adaptar, os feirantes vendem de tudo um pouco nos 20 galpões que reúnem quase 3.000 boxes e empregam de 15 mil a 20 mil pessoas, entre fabricantes e vendedores. São confecções masculinas e femininas, desde jeans até

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Fotos: Flávio Brebis

Manequim exposto em frente a box na feira: consumidores estão mais exigentes

3.000

40 mil

Quantidade de boxes na Feira dos Goianos

Número médio de visitantes por dia

roupa íntima, passando por calçados, peças infantis e bijuterias. As lojas de acessórios reúnem peças com valores entre R$ 5 e R$ 50. Bolsas, carteiras e cintos competem por espaço com colares, pulseiras e anéis. Atualização Consciente da mudança e preocupada em aproveitá-la, a associação responsável pela coordenação da feira faz o máximo para que os vendedores se informem e se atualizem. “Temos consciência da mudança de público e acreditamos que essa exigência nos ajuda a crescer. O papel da associação é buscar essa evolução e para isso fizemos parcerias com Sebrae, Senac e algumas universidades, que nos ajudam com cursos para os feirantes”, afirma Roberta Gonçalves, responsável pela associação. Os cursos ocorrem na sede da associação, na própria feira. Os comerciantes aprendem como montar negócios de maneira estruturada e a tornar os produtos atraentes e competitivos. “Os vendedores ainda estão se adaptando. Muitos ainda precisam abrir as mentes para essa nova fase do mercado”, destaca Roberta. Um dos sintomas da mudança de vocação está no nome da feira, que passou a ser conhecida como Pólo de Confecções de Taguatinga. Os galpões são administrados por gerentes contratados pelos donos. Os pontos de venda são alugados aos comerciantes por valores entre R$ 500 e R$ 1.000 por mês, dependendo do tamanho do espaço e da localização. Entre os mais famosos e procurados estão o Estação da Moda, o Multigrife e o Hiperfeirão. A feira funciona das 8h às 18h, de terça a sábado e tem um público médio de 40 mil compradores em dias normais, público que pode dobrar em datas comemorativas, como o Natal e o Ano Novo. “No Natal, a feira às vezes fica aberta até depois das 22h. Enquanto tiver gente comprando tem vendedor lá”, afirma Nice Francisca, 36 anos, que trabalhou durante muito tempo como vendedora na feira. Além dos galpões principais, a parte mais antiga da feira é dominada por ambulantes, muitos vindos de Goiânia. Af

Artefato

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LEE Ilustração: Tawana Yung

CIDADES

Tudo em família

Acima, Zequinha, caçula e novo vizinho de restaurante do irmão, Zé (abaixo)

Suzi Souza

A

s fachadas são as mesmas, de tijolinhos e grades. As mesas sem toalhas, duas a duas, encostadas nas paredes, com uma cestinha de temperos no canto, dão a impressão de que se está no mesmo lugar. Os cardápios, fixados nas paredes dos fundos, apresentam com letras grandes as carnes do dia e seus preços em giz. Os ventiladores disfarçam o calor. Com sorrisos, os donos recebem os clientes nas portas, indicando as melhores sugestões de almoço ou jantar. As refeições são servidas em porções individuais. Primeiro, uma salada básica. Logo depois, a farofa, o arroz branco, o feijão e o vinagrete. Por último, a carne escolhida. Para beber, o mais pedido é o guaraná de um litro em garrafa de vidro. Aquele, de tempos saudosos. As conversas com os donos e os cumprimentos revelam a amizade de clientes assíduos. Os ambientes são familiares e simples: comida caseira, bebidas à mostra nas prateleiras atrás dos balcões e pagamento feito, na maioria, em dinheiro vivo. Os dois restaurantes ficam no mesmo prédio. Um ao lado do outro. São pratica-

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mente iguais por fora e por dentro. Servem a mesma comida. E seus donos têm, por nome, José. A concorrência, que parece desleal, não acontece. Há um acordo entre eles. O Restaurante dos Amigos abre para o almoço e o Feijãozinho para o jantar. Não foi preciso cartório, nem contrato entre as partes. A palavra de homem do Nordeste vale mais do que papel, dizem muitos. Mas do que isso, os laços de família conseguem harmonizar o que poderia ser um conflito. Os Josés são irmãos. Eis aí o porquê da boa convivência entre os restaurantes iguais. O Zé, dos Amigos, serve a mesma comida com gostinho de mãe desde 1988. Já o Zequinha, do Feijãozinho, aprendeu o negócio com o irmão e há dois anos e meio abriu o seu. Os dois nasceram no interior do Ceará, numa cidadezinha perto de Sobral. Com eles, são 15 filhos. A vida difícil no sertão fez com que a família se dispersasse pelo Brasil. Em Brasília, estão há mais de 20 anos. José de Paiva, o Zé, 63, é casado com a Sandra Mara, 57, e tem dois filhos. O casamento de 22 anos também é uma parceria

de negócio. A esposa é a cozinheira e a responsável, em grande parte, pelo sucesso do restaurante. “Teve uma senhora que veio aqui dentro da minha cozinha e disse certa vez: ‘Minha filha, sua comida é melhor que a do Porcão.’ Me achei”, conta Sandra, enquanto prepara os bifes à parmegiana, prato mais pedido. A limpeza e o atendimento são os outros fatores do bom movimento. “Eu sou conversador. A clientela vai mudando, mas tenho clientes de 20 anos atrás. É um ambiente familiar. Todo mundo é conhecido. Se não é, se torna pelos papos que a gente tem com eles”, revela Zé, que faz questão de mostrar a limpeza da cozinha e das panelas de alumínio muito bem ariadas. Ao lado, o Zequinha corta as carnes que serão servidas à noite no Feijãozinho. José Maria de Oliveira tem 45 anos. Trabalhou na roça com o pai quando jovem. Foi garçom por seis anos em São Paulo. Quando veio para Brasília em 1985, trabalhou com outro irmão no mesmo ramo. Três anos depois ajudou o Zé no Restaurante dos Amigos. “Ele ficava de dia e eu à noite”, conta. Casado há 23 anos e com um filho de 21, conseguiu juntar o dinheiro para abrir o Feijãozinho trabalhando por seis anos como motorista. “O Zé passou a trabalhar de dia e à noite depois que perdeu o gerente. Como não encontrava ninguém de con-

fiança que ficasse uma parte do dia no lugar dele, decidiu abrir o restaurante só para o almoço. Então, aluguei este ponto e abro durante a noite. Acho que o Feijãozinho é o único restaurante de Taguatinga que serve comida caseira no jantar”, diz Zequinha. A cozinheira do Feijãozinho, Erotilde Paiva, é irmã dos Josés e aprendeu com Sandra Mara o cardápio servido nos dois restaurantes. “Todos os clientes do Zé vieram para cá. E não viram diferença na comida. Em time que se ganha não se mexe.”. Os restaurantes não são concorrentes em nenhum horário. O dos Amigos abre de segunda à sábado das 11h às 16h. O Feijãozinho, de segunda à sexta, das 18h às 23h, e aos domingos no almoço. Para comprovar a veracidade dessa história e experimentar uma ótima comida caseira, vá à CSA 02, lote 04, lojas 1 e 2. Os Josés sempre estão por lá para atender. Só não no mesmo horário. Af

Restaurante dos Amigos Fone: (61) 3351-0498 Pagamento: Dinheiro, cartões de débito, TR e Vale Card. Feijãozinho Restaurante Fone: (61) 9662-2297 Pagamento: Dinheiro.

Suzi Souza

Fotos: Suzi Souza

Dois irmãos servem aos clientes o mesmo cardápio, em restaurantes lado a lado em Taguatinga. E sem concorrência

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SERVIÇOS

Varjão real não é o dos números

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Justino, diretor administrativo do Varjão. Seja a questão de educação ou de omissão do poder público, o Artefato foi ouvir dos possíveis ocupantes do Governo do DF a partir de 2011 como eles se posicionam em relação ao tema. Agnelo Queiroz, candidato eleito pelo PT ao Palácio do Buriti, respondeu que o governo dele investirá em uma infraestrutura adequada para áreas precárias do Varjão e de outras regiões com problemas similares, como Sol Nascente e Samambaia. “Faremos moradias dignas e urbanizadas, com saneamento básico, luz, transporte e vamos escriturar todas as casas. Para isso, usaremos os recursos existentes na área federal”, afirmou Agnelo. “A meta do meu governo é atingir 100% de saneamento básico. E todos os novos loteamentos que virão a ser criados serão totalmente corretos, com infraestrutura digna”, prometeu. Governador por quatro mandatos e mentor da chapa de Weslian Roriz, derrotada nas urnas na disputa pelo governo no último dia 31 de outubro, Joaquim Roriz também conversou sobre o assunto com o Artefato. Segundo ele, a definição de

Jordana Ribas prioridades na área de saneamento e loteamentos irregulares vai depender de cada região. “Quando há saneamento básico adequado, há também uma melhora na saúde. Nosso governo dará continuidade ao que começamos. Fomos nós que construímos o Varjão, o posto de saúde, a escola. Agora falta basicamente esgoto e tratamento, e isso o meu governo fará”, afirma. A população não precisa esperar 1º de janeiro para cobrar mudanças emergenciais. Uma das opções é exigir ações imediatas da Agência Reguladora de Águas, Energias e Saneamento Básico do DF (Adasa). A entidade trabalha na regulação e na fiscalização das políticas do setor. “Na área de regulação, existe a parte técnica e a econômica. Quando tratamos da parte técnica, somos responsáveis por atendimento ao usuário, expansão de serviços e controle de qualidade. Já a parte econômica se responsabiliza pelas tarifas. E, quando tratamos do aspecto de fiscalização, cabe a nós resolver qualquer tipo de falha, como falta de água, problemas relacionados ao esgoto e lutar pela qualidade do nosso serviço”, explica Sílvio Góes, regulador de serviços públicos da Adasa.

Invasão Historicamente, o Varjão se consolidou a partir de um loteamento irregular em meados da década de 1970. A região está localizada próxima ao Setor de Mansões do Lago Norte. Em 2003, a área deixou de ser parte do Lago Norte e tornou-se a 23ª Região Administrativa do Distrito Federal. A população está estimada em 9 mil habitantes, de acordo com estatísticas de 2008 do governo local. Com o crescimento desordenado típico de áreas não planejadas, problemas de infraestrutura tornaram-se mais comuns. Francisca Nelma, que mora há 22 anos no Varjão, reclama do descaso com a cidade. “Vim a procura de uma vida melhor, mas não é isso que temos aqui. A saúde e a segurança são precárias. A cidade é esquecida e a administração não faz nada para melhorar esses problemas”, afirma. Serviço Central de atendimento da Adasa , que recebe reclamações sobre os serviços de saneamento no DF: 3961-4900. Af

Jordana Ribas

o papel, ou no frio mundo das estatísticas da Caesb, 99% da população da capital é atendida por abastecimento de água e o esgoto sanitário chega a 93% dos habitantes do DF. João de Deus, contudo, morador do Varjão desde 1991, espera, desde que se mudou para lá um trabalho adequado do governo em termos de urbanização e saneamento básico. A região do terreno não escriturado em que construiu sua casa convive cotidianamente com entupimentos na rede de esgoto, que fazem com que os dejetos transbordem nas vias públicas, nas entradas das casas e que o odor característico integre a paisagem local. E isso porque, novamente no mundo da burocracia, 99% dos detritos do Varjão são tratados. “Aqui na cidade, utilizamos um tipo de esgoto chamado condominial. O entupimento da rede é ocasionado pela má utilização dos moradores. É necessário educá-los para que usem de forma correta”, justifica Alexandre

Apesar de dados oficiais indicarem quase 100% de saneamento básico na região, moradores vivem em condições degradantes

Esgoto a céu aberto em frente a casas sem qualquer estrutura no Varjão. Governador Eleito, Agnelo Queiroz, promete melhorias

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CULT UR A

Cultura na capital negligenciada Corte de R$ 15,4 milhões no Fundo de Apoio à Cultura impede geração de 5.000 empregos em mais de 100 projetos Dandara Lima

O

produtor cultural Fernando Soma foi surpreendido em julho pela rejeição de seu projeto Soma Cultura, que antes já tinha sido aprovado pelo Conselho do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) do Distrito Federal. O Soma Cultura previa 20 apresentações durante 2011, em Taguatinga, e envolveria duas atrações nacionais e 18 artistas brasilienses, entre músicos, atores, VJ’s, DJ’s, artistas plásticos, grafiteiros, escritores, poetas e malabaristas. Outros 102 projetos similares foram vetados por conta de uma restrição financeira do FAC apontada pelo governo local. Originalmente, eram esperados para o FAC 2010 R$ 35 milhões, referentes à Lei Orgânica do Distrito Federal, no Artigo 246, que prevê um mínimo de 0,3% da Receita Corrente Líquida (arrecadação do GDF) para o fundo. Em 2010, essa Lei não foi respeitada. Segundo o relatório final divulgado sobre as atividades do FAC/2010, do valor aguardado para este ano, apenas R$ 24 milhões foram destinados ao fundo. Outros R$ 2,6 milhões foram contingenciados pela Secretaria de Fazenda. Em resposta à restrição, artistas brasilienses criaram o Movimento FAC de Dois Gumes, que promete mobilizar a sociedade civil e deputados distritais para sensibilizar representantes do GDF. De acordo com eles, além do corte nos recursos destinados ao FAC desrespeitar a Lei Orgânica do DF, em 2009 a Secretaria de Cultura teria sido pressionada pelo governador interino, Wilson Lima, a transferir ao GDF R$ 8 milhões do FAC. A promessa, segundo o movimento, é de que havia compromisso de devolução do valor este ano, o que não ocorreu. Questionada pela reportagem, a Secretaria de Cultura se manifestou por meio da Assessoria de Comunicação e informou que “a justificativa do governo é que, na verdade, esses R$ 8 milhões foram contingenciados pelo GDF no ano passado”.

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O relatório de atividades do FAC em 2009 não cita isso e não foram apresentados à reportagem documentos oficiais. Vetos Diante da restrição orçamentária, a decisão do governo foi criar uma quarta etapa eliminatória nos projetos – inédita desde a aprovação da Lei Complementar nº 782, de 7 de outubro de 2008 –, que deixou de fora 5.000 pessoas que trabalhariam direta ou indiretamente nas ações culturais já aprovadas. Fernando Soma explica que o FAC é formado por dois conselhos: o Conselho de Cultura, que aprova ou não os projetos, e o Conselho administrativo (Cafac), res-

ponsável pelos repasses de verbas. “Ou seja, o Cafac não tem o poder de vetar projetos como eles publicaram no Diário Oficial. Depois eles reconheceram o erro. Republicaram tirando o termo ‘indeferido’, alegando apenas a falta de verba para cumprir com todos os projetos ‘aprovados”, afirma. A poeta Marina Mara, que também faz parte da comissão do FAC de Dois Gumes, afirmou que em vez de o Conselho Administrativo do FAC assumir os limites orçamentários com os membros do Conselho de Cultura, gerou-se uma esperança que foi frustrada. “Alguns artistas, confiando que seriam R$ 43 milhões neste ano, já tinham dado andamento aos trabalhos”, disse.

O FAC de Dois Gumes reivindica que os indeferimentos no FAC sejam anulados e que o Governo do Distrito Federal comece a destinar 0,5% das receitas correntes líquidas para investimento na cultura local, em vez dos 0,3% atuais. Para isso, já foram realizadas reuniões com o Conselho de Cultura e de Administração do FAC; com o secretário da Fazenda, André Clemente, e com o deputado distrital Alírio Neto, que se comprometeu a agendar uma reunião do grupo com o governador do DF, Rogério Rosso. Segundo Soma, com o cancelamento de seu projeto, mais de 20 mil pessoas foram prejudicadas, entre artistas, empresas que prestam serviço e o público em geral. Af Dandara Lima

Situação do FAC • Quanto deveria haver no Fundo hoje: R$ 43 milhões • Esse valor é referente a R$ 35 milhões previstos em orçamento para 2010 mais   R$ 8 milhões de um empréstimo de 2009 • Quanto há de fato disponível para o FAC em 2010: R$ 24 milhões • Do total, R$ 2,6 milhões foram contigenciados, ou seja, retidos pelo governo Fonte: Movimento FAC de dois gumes

O produtor cultural Fernando Soma teve projeto aprovado que posteriormente, com o corte nos orçamentos, foi considerado “indeferido”

Ilustração: Thiago Fagundes

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Bruno Santana

Na era digital, fãs filmam e fotografam, enquanto a banda Green Day se apresenta pela primeira vez no Planalto Central Suzi Souza Turnês de vários artistas e bandas internacionais escolheram a capital do país para se apresentar e não se arrependeram – eventos lotados. Brasília já é o terceiro maior mercado de shows do país. Só neste ano serão, até dezembro, cerca de vinte apresentações internacionais de grandes nomes do rock, pop, blues e jazz. Por que Brasília se tornou um dos destinos nas agendas dos artistas estrangeiros? As principais razões estão além das fronteiras do rio Descoberto. A queda da arrecadação na venda de CD’s, causada pela internet, levou ao aumento das grandes turnês pelo mundo. E o Brasil está na lista delas. Tanto por causa da paixão dos fãs que comparecem aos shows quanto pela estabilidade econômica, confirmada pela resistência à crise de 2009. Mesmo assim, Brasília ainda precisava ser mostrada como cidade em que valesse a pena investir. “Sem dúvida, o Brasília Music Festival, que teve como bandeira, exatamente, a inclusão da cidade na rota de grandes shows internacionais, foi decisivo para abrir as portas. Até 2003 simplesmente não existíamos”, conta Rafael Reisman, organizador do festival e dono da produtora que tem o seu nome, com sede em São Paulo.

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Os shows internacionais que acontecem com músicos, produção e hospedagem; em Brasília são de turnês realizadas em sem contar o peso do nome da celebrialgumas cidades do país, contratadas dade, que tem porcentagem considerável por produtoras diversas. A Rafael Reisno valor final. Por isso o preço salgado man Produções, por exemplo, trouxe em dos ingressos, segundo as produtoras agosto os escoceses do Simple Minds e, – que não divulgam o valor das contrano início de outubro, a cantora e atriz tações. Os próprios artistas também inmexicana, ex-RBD, Anahí. A Mondo Enterferem no processo de contratação. Eles tretenimento, que atua pesquisam quem já tocou na América Latina, em determinada cidade e é uma das que mais Prefiro pagar caro em quantos ingressos foram trouxeram shows para bandas boas do que pou- vendidos. “Ninguém quer cá: Green Day, Black subir em um palco e ter co em shows de artistas 100 pessoas na plateia. As Eyed Peas e Iron Maique não curto tanto. Para bandas não querem só o den, só neste ano. A Day 1 Entertainment, mim não é despesa, é retorno financeiro. Elas braço de eventos da investimento.” querem um espetáculo de Sony Music, produziu sucesso”, afirma Reisman. Bruno da Silva, o show da banda Franz A maior dificuldade enfã do Guns ‘n Roses Ferdinand, em março. contrada pelas produtoE a Top Link produziu ras para realizar shows a turnê do Scorpions. em Brasília é a falta de incentivos fiscais Para a escolha de uma cidade na agenda e patrocínios. Como não existe uma lei dos artistas há três requisitos: locais adedistrital, aos moldes da Lei Rouanet, que quados, população com capacidade de possibilite a aplicação de uma parte do compra dos ingressos e histórico de shoImposto de Renda devido em ações culws internacionais. Tudo isso Brasília tem turais, conseguir patrocinadores é bem de sobra. Mas ainda não é suficiente. O mais difícil. Esse tipo de lei estadual já cachê tem que valer a pena. São toneladas existe em São Paulo e no Rio de Janeiro. de equipamentos transportados; gastos Mesmo com essa desvantagem, vale a

pena produzir shows internacionais na cidade, garante quem investe nisso. “Se a política de apoio à cultura for ampliada e, em breve, com a inauguração do novo estádio, Brasília terá uma leva de grandes shows. Temos como passar o Rio de Janeiro e nos tornarmos a segunda cidade mais desejada em turnês internacionais do país. A cidade vai ganhar muito: mais impostos, mais empregos, aumento do turismo cultural e visibilidade”, espera Reisman. Os fãs brasilienses O som do bumbo e uma ou duas notas arranhadas na guitarra, no escuro do palco, incitam o primeiro grito eufórico do público. As luzes se acendem e eles surgem majestosos cantando em inglês. A emoção de assistir ao show de um grande ídolo internacional em Brasília é uma realidade. Para muitos fãs daqui, mesmo com os altos preços dos ingressos, a oportunidade de ver e ouvir ao vivo a banda favorita é um sonho realizado. Na capital, só em 2010, os fãs tiveram do rock a cantores renomados como Johnny Winter e B.B. King, além da nova safra do jazz com Diana Krall e do hip hop,

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CULT UR A

Brasília Internacional

Turnês de grandes atrações passam a fazer escala na capital da República

com Lauryn Hill e Black Eyed Peas. Fãs de carteirinha do bom e velho rock ‘n roll, Laís Marinho e o namorado Bruno da Silva, estudantes universitários de 22 anos, não fazem ideia do quanto já gastaram com shows. Eles já foram a vários, em Brasília e fora – Metallica, Scorpions, The Doors, Muse, MudHoney e Guns ‘n Roses – e não se arrependem do gasto. “Não sei quanto já gastei, mas sei que foi uma grana razoável, principalmente quando tive que me deslocar para outro estado. Além do ingresso, gasto com passagem, com lanchinho, com lembrancinhas. E não posso sair de um show sem comprar a camiseta ‘Eu fui’. Por isso estou adorando os shows em Brasília: só gasto com o ingresso”, conta Laís. O namorado Bruno também não se importa com o dinheiro que sai de seu bolso: “Nunca paguei menos que R$100 para ver um show grande. Prefiro pagar caro em bandas boas do que pouco em shows de artistas que não curto tanto. Para mim não é despesa, mas investimento”, diz. Os preços dos ingressos por aqui variam

Samuel Paz

de acordo com o show e com o local. Os que acontecem no Ginásio Nilson Nelson, geralmente, são mais em conta. Em média, custam R$100 a meia-entrada na arquibancada. Ulisses Gomes, 25 anos, auxiliar administrativo, foi ao show do Guns ‘n Roses em março. Para isso, pegou dinheiro emprestado com a irmã: “Comprei o ingresso logo que começaram a vender. Nunca pensei que iria ver os caras. E eles vieram aqui na minha cidade. Não podia deixar de ir. Foi demais”, confessa. Outros públicos também ficaram felizes

pelos shows que aconteceram este ano. “Fui assistir o B.B. King com meu marido, que é fã, e amigos. Ele é um ícone da música. Pagamos R$400 pelos nossos ingressos”, conta Vivianne Costa, 50 anos, geógrafa. Brasília tem a fama de ter os ingressos mais caros do Brasil. Mas segundo Rafael Reisman isso não passa de lenda. Na maioria das vezes, para eventos internacionais, os ingressos aqui são mais em conta do que em São Paulo e, praticamente, iguais aos do Rio de Janeiro. Considerando os valores da meia-entrada, o show do Green Day custou aos fãs brasilienses de R$100 a R$170; aos cariocas de R$100 a R$300 e aos paulistas, de R$180 a R$250. Ir ao Black Eyed Peas, em Brasília, cus-

tou de R$130 a R$500; no Rio, de R$100 a R$450 e em São Paulo de R$100 a R$600. O preço do ingresso mais caro do show da banda The Cranberries por aqui foi R$130; no Rio, R$290 e em São Paulo, R$300.

O que vem por aí É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que tirar de um produtor as novas contratações de turnês. “Segredo! Nesse mercado é preciso fechar primeiro o contrato e só depois anunciar”, informa Reisman. Então só resta aos fãs torcer para ver seu ídolo se apresentando no Planalto Central em 2011 e acreditar nas especulações. Rihanna, Shakira, Miley Cyrus e Amy Winehouse são algumas. O próximo show internacional confirmado para Brasília é o da banda Creedence Clearwater Revisited, no dia 21 de O balanço novembro no Centro de Convenções de 2010 Ulisses Guimarães. Os ingressos variam de R$90 a Março: R$300 a meia-enGuns ‘n Roses – 07 - Mané Garrincha trada. Af Iron Maden – 20 – Mané Garrincha -s Franz Ferdinand – 21 – Marina Hall B.B. King – 22 – Centro de Convenções A-Ha - 16 - Nilson Nelson Maio: Johnny Winter – 15 – Centro de Convenções Agosto: Simple Minds – 21 – Nilson Nelson Setembro: Peter Frampton – 09 – Centro de Convenções Lauryn Hill – 12 – Prainha da Asbac Scorpions – 22 – Nilson Nelson Diana Krall – 18 – Teatro Oi Brasília STOMP – 11, 12 e 13 – Teatro Nacional

O casal Laís e Bruno já não sabe quanto gastou em shows e coleciona os ingressos das atrações

Ilustração: Tawana Yung

Ilustração: Tawana Yung

Outubro: Green Day – 17 – Nilson Nelson The Cramberries – 19 – Nilson Nelson Black Eyed Peas – 22 – Estacionamento do Mané Garrincha Novembro: Creedence Clearwater Revisited – 21 – Centro de Convenções

novembro 2010 Artefato_edicaonov_final.indd 15

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Ratinhos de biblioteca N

o dia 29 de outubro foi comemorado o dia do livro. Mas não temos tanto a celebrar. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope, o brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano – incluindo livros didáticos e leituras obrigatórias para a escola. Enquanto isso, os franceses lêem 11 livros por ano. Há 12 anos, duas professoras de ensino fundamental da rede pública do DF tentam mudar essa realidade com um projeto que começou na Biblioteca Maria Clara Machado, na Escola Classe 18 de Taguatinga. O projeto “Reinventando a Biblioteca” surgiu da necessidade de aproximar as crianças do universo da literatura e teve o pontapé inicial com as professoras Raquel Gonçalves e

Maria Célia Madureira, resgatando o imaginário infantil e transformando a leitura em brincadeira. “A nossa tentativa sempre foi desvestir a biblioteca da tradição do silêncio, do acervo intocável e da seriedade. Aqui não podia ter essa característica. Queríamos um ambiente que servisse para as crianças, aberto a brincadeiras e novas experiências”, comenta Célia. A ideia principal era afastar da leitura a noção de dever, obrigação, e torná-la algo prazeroso, para a vida toda. Mas era preciso mascotes, representantes dessa nova biblioteca. Assim nasceram Racumim e Racutia, dois ratos de biblioteca – interpretados, respectivamente, por Maria Célia e Raquel. Racumim e Racutia são ratos moradores da Fotos: Maycon Fidalgo

Fotos: Maycon Fidalgo

Thandara Yung

Na tentativa de tornar o livro uma realidade, professoras da rede pública de ensino encantam e inventam biblioteca da escola que têm, originalmente, como objetivo de vida destruir o máximo de exemplares possível. Em uma missão, Racumim se lembra das aulas a que assistiu escondido, onde a “moça grande” ensinava que cada desenho era uma letra, que juntas formavam palavras e histórias. Curioso, o ratinho entra em êxtase ao conseguir entender as aventuras dos livros, imaginálas e visualizá-las. Com muito custo, convence a mãe da magia da literatura e do prazer em se contar histórias. A nova missão: proteger a biblioteca e não deixar que os contos se percam. Esse é o roteiro que deu origem à primeira peça teatral da dupla. O projeto inicial era uma apresentação única, que instigasse nas crianças a vontade de ler, por meio da peça Deu Rato na Biblioteca. “Queríamos um destruidor, para mostrar que os livros podem mudar as pessoas, e, com seu encanto, transformá-las em algo melhor”, explica Raquel. A continuidade foi iniciativa dos alunos, que não pararam de procurar Racumim depois de sua primeira aparição. Os ratinhos recebiam cartas, convites de brincadeiras e amizades e se tornaram a cada dia mais populares entre as crianças. Os alunos se familiarizaram cada vez mais com o ambiente da biblioteca na tentativa de se aproximar de Racumim e Racutia. Além dos muros da escola Maria Célia, aposentada há um ano, não deixou o ratinho abandonar os alunos. Ela sorri ao comentar que a fantasia nunca deixou de contagiar os estudantes. “Quando chego na escola, os alunos me perguntam se eu sei onde o Racumim está, pois ele anda sumido. São poucos os que afirmam que eu sou o Racumim”. Para Raquel, a Racutia, os alunos preferem deixar a fantasia viver dentro deles. “Tem menino de dez anos que jura de pé junto que Racumim e Racutia moram ali dentro do buraco na parede. E que eu e Célia somos as professoras, nada mais. E não há discussão quanto a isso”, comenta a professora-rata. Com o sucesso, convites externos chegaram. E de boca em boca os dois ratinhos de biblioteca ficaram conhecidos e visitaram escolas por todo o DF. Mas a capital era pequena. Em 12 anos, Célia e Raquel passaram por eventos culturais e literários em diversos estados do Brasil. Esse ano, já foram à Bienal do Livro, em São Paulo, e participaram da III Feira Literária e Cultural

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de Unaí (MG). Felizes com o reconhecimento, lamentam que a Escola Classe 18 de Taguatinga seja uma exceção. “O que a gente queria mesmo era que fosse obrigatório uma sala de leitura como a nossa em todas as escolas públicas do DF e do Brasil. Que tivesse uma iniciativa governamental. Que cada escola tivesse seu Racumim e sua Racutia, seu espaço para o lúdico. Isso sim seria o ideal”, afirma Célia. Hoje, a biblioteca Maria Clara Machado tem cerca de 30 mil exemplares. A renovação do acervo, em sua maioria, é com doações da própria comunidade. Só este ano, a biblioteca recebeu 1591 exemplares. Entre eles, as três edições das aventuras de Racumim e Racutia: Deu Rato na Biblioteca, O Rato Adormecido e Os Amores de Racutia. Outros projetos Desde que se aposentou, Maria Célia mantém o projeto Do Livro ao Palco, com os alunos do 5º ano (antiga 4ª série). O projeto transforma em apresentação teatral trabalhos literários. São dois ensaios semanais de três horas cada. O objetivo é fazer com que os alunos vivenciem o que aprenderam em sala. Fernanda Carvalho deixou a sala de aula por motivos de saúde para cuidar da biblioteca. Para ela, o projeto “é um divisor de águas, principalmente em relação ao comportamento e à aprendizagem dos alunos. É nítida a alteração do comportamento deles, se tornam muito mais responsáveis”, destaca a atual bibliotecária. O Reinventando a Biblioteca faz parte do projeto pedagógico da escola. Nele estão inseridos o Deu Rato na Biblioteca, o Do Livro ao Palco, a competição de leitura – os alunos que mais lêem são premiados – e o recreio artístico, em que os alunos usam a biblioteca para ensaios e as mais de 300 fantasias disponíveis no acervo como figurino. Af

Leia mais no site: www.opn.ucb.br Artefato 08/11/10 19:06


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