Artefato - 11/2011

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Ano 12

Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília

Brasília, novembro de 2011.

Domésticas em busca de reconhecimento

foto: Juliana Campêlo

Não basta mais a boa vontade do patrão. Além da carteira assinada, as empregadas querem garantir seus direitos legalmente >> 12, 13 e 14 Santuário versus Noroeste

Ativismo político

Melhoria é só aparência

Disputa por território abre discussão sobre espaço sagrado. >> 10 e 11

Redes sociais são cada vez mais usadas para esse fim. Mas funcionam? >> 16 e 17

População reclama do número insuficiente de médicos no HRT >> 5


EDITORIAL

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novembro 2011

Quando o verão chegar Leonardo Coelho e Luísa Dantas

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ais um ciclo chega ao fim. A atual equipe do Artefato se despede com um jornal maior, mais crítico e voltado para os problemas da comunidade brasiliense. Por outro lado, o exercício de apuração ilustra algumas dificuldades dos repórteres em conduzir o que cada um propõe. A matéria “Além da gravata” apresenta um lado pouco explorado pela grande imprensa. Mas, até que ponto as informações colhidas dos políticos são de fato verídicas? A proposta do Artefato enquanto jornal-laboratório é promover o contato dos estudantes com a realidade de uma redação jornalística. A hora de errar é essa (e de aprender também). Mesmo com a familiaridade do cotidiano de um jornal, a equipe pecou em cumprir com os prazos. As duas primeiras edições saíram dentro do previsto. A fina ironia é que as duas edições subsequentes foram as mais problemáticas e conturbadas, num estágio onde a equipe supostamente deveria estar habituada com a produção de impressos. Não foi um retrocesso, mas poderia ter sido melhor. Política, cidades e saúde são os destaques desta edição. Elas reforçam o comprometimento da equipe em produzir notícias focadas em problemas que afetam o cidadão. Na matéria de capa,

observa-se o descaso com uma profissão ainda não valorizada no Brasil: as empregadas domésticas. A própria Constituição brasileira reserva um parágrafo que exclui a categoria de receber 25 benefícios dos 34 ofertados aos trabalhadores. Os projetos de lei são muitos; as mudanças, nem tanto. Aproveitando que o Natal se aproxima, o Artefato foi até o Polo Norte e perfilou o bom velhinho de uma forma “fria” e nada convencional. Diretamente dos Estados Unidos, o speed dating oferece uma nova forma de conhecer múltiplas pessoas e se divertir, de forma cinematográfica. Para aqueles que não conhecem, a ginástica laboral nas empresas pretende evitar doenças, promover o bem-estar e fomentar um melhor desempenho dos funcionários. O exercício jornalístico tem como objetivo o amadurecimento textual, crítico e de percepção dos acontecimentos. O Artefato é apenas uma pequena amostra do que está por vir. A atual equipe se despede, abrindo caminho e deixando o seu legado para os próximos repórteres, editores, fotógrafos e diagramadores. Boa leitura!

ombudsman

Análise da edição anterior do Artefato Edmar Araújo*

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o caça-palavras da 3ª edição do Artefato (pg 17.), havia um desafio: encontrar 9 termos referentes ao tema. Não encontrei a palavra “novidade”. E qual era o tema? Não sei. Ora falava de garotas de programa, ora de bebidas caras, ora de insatisfação profissional, ora de um funcionário muito amigo de seu patrão. “Sem hora para acabar” prometia mostrar tudo, mas sequer conseguiu desabotoar a manga da imaginação do leitor. Quatro repórteres não foram capazes de dividir os custos de produção de uma boa reportagem. Uma “vaquinha” cairia muito bem. Decifre o seguinte título: “o corpo também sente os engarrafamentos”. O que lhe vem a mente? … … … … pois é. Tente esse: “busão no volume máximo”. E aí? O Artefato melhorou consideravelmente na diagramação. Ótimas pautas deram asas à imaginação. Menções honrosas para “O avião da chá-

cara 15”, “O narrador e repórter do Povão”, “Da capoeira para a terapia”, “Câncer de periferia” e “Tem que morrer pra germinar”?. Repetir pautas só se justifica se houver riqueza e inovação no conteúdo. “Com R$ 20,00 no bolso” é pobre e velha. Aliás, foi o tema de uma pauta da primeira edição do Artefato no semestre. A matéria “Seu primeiro documento” afirma que a Declaração de Nascido Vivo (DNV) é um sub-registro expedido por hospitais, profissionais da saúde e parteiras. Enquanto isso, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), faz campanha para acabar com o sub-registro de nascimento. Pergunte a um notário sobre sub-registro e perceberá que é algo muito ruim. As repórteres do Artefato acham o contrário. Segundo elas, tem até lei para ele. Palmas para “O corredor do esquecimento”! A colega que fez a matéria se apresenta como futura jornalista capaz de transformar casos em causas.

EXPEDIENTE

Jornal-Laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Ano 12 nº 6, novembro de 2011 Reitor Dr. Cícero Ivan Ferreira Gontijo Diretor do curso de Comunicação Social Prof. André Luís Carvalho Editoras-chefes Lanier Rosa e Leonardo Coelho Editores de texto Bianca Baamonde, Gabrielle Santelli, Karoline Soza, Laís Marinho, Maria Clara Oliveira, Orlando Rodrigues, Samira Pádua Editores de fotografia Juliana Campelo e Thamyres Ferreira Editores web Andressa Albuquerque e Douglas Furtado Editor de arte Matheus Martins Projeto gráfico Layon Maciel, Matheus Martins, Samira Pádua Reportagem Bárbara Fragoso, Carolina Alves, Carolina Nogueira, Cássia Santos, Flávio Brebis, Gabriela Costa, Guilherme Guedes, Jéssica dos Santos, Juciene de Souza, Juliana Campêlo, Karoline Faria, Layon Maciel, Ludmila Rocha, Luísa Dantas, Nelson Araújo, Patrícia Rodrigues, Patrick Saint Martin, Samantha Freitas, Stephany Cardoso, Victória Camara, Wlissara Benvindo Diagramação Carolina Alves, Flávio Brebis, Gabriela Costa, Guilherme Carvalho, Laís Marinho, Patrick Saint Martin Fotografia Adde Andrade, Amanda Rodrigues, Bruno Bandeira, Dayanne Teixeira, Eduardo Golfetto, Narayane Carolline, Nilton Miranda, Paula Moraes, Renata Ribas, Rick Antunes, Roberley Antônio, Silvânia Sousa, Silvia Bertoldo Professoras responsáveis Karina Gomes Barbosa Sofia Zanforlin Orientação gráfica Prof. Dilson - DiOliveira Orientação de fotografia Prof. Thiago Sabino Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA EPCT QS 07 lote 1 Águas Claras - DF CEP: 71966-700 tel: 3356-9337 - artefato@ucb.br

*Estudante do 8o semestre de Jornalismo


novembro 2011

RAPIDINHAS

saúde

Lutando contra a própria mente Carolina Nogueira foto: Rick Antunes

Águas Claras

3 foto: Paula Moraes e Silvânia Sousa

Cadê a parada que deveria estar aqui? Ludmila Rocha

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edo de multidões, de escuridão, de altura, ou até mesmo de se aproximar de algum animal. Essas são as fobias mais comuns nos consultórios terapêuticos. O número de pessoas que sofre com isso não para de crescer. Em uma pesquisa realizada, em 2011, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil, a fobia atinge mais de 10 milhões de pessoas. Segundo especialistas, a maioria sofre de fobia social. A doença é diagnosticada pela intensa ansiedade que sofrem ao ser submetido à avaliação de outras pessoas. A psiquiatra Alessandra Lazzetti conta que a principal dificuldade no tratamento desse tipo de fobia é a sua banalização. “As pessoas se acostumam tanto com o transtorno que começam a associar com vergonha ou timidez e não dão a devida dimensão ao problema” explica Alessandra. Além disso, a Fobia Social ou a Agorafobia, que se caracteriza pelo extremo medo de multidões e da dificuldade de escapar rapidamente para um local seguro, podem ser o início de um problema bem mais sério, a Síndrome do Pânico. O Transtorno de Pânico – também chamado de ansiedade paroxística episódica, – caracteriza-se pelos ataques de ansiedade intensa, medo da morte ou da perda do controle de si mesmo. Os sintomas são palpitações, dor no peito, tontura, falta de ar, vertigens, sudorese excessiva, sensação de estar “aéreo”, sensação de desmaio,

formigamentos no corpo, ondas de calor e frio, náuseas e outros. Os ataques duram alguns minutos e não chegam a durar mais de uma hora. Maria de Souza*, 25 anos, sofre do transtorno de pânico e faz tratamento com remédios controlados. “O maior problema é que eu tenho medo de sentir medo.”, desabafa. Isso se dá pelo fato de os ataques de pânico serem imprevisíveis, assim a pessoa desenvolve o medo de ter novos ataques e passa a se prevenir evitando lugares ou situações que acha que podem desencadear novas crises. Alessandra Lazzetti explica que a maioria dos pacientes que sofrem dessa síndrome também tem alguma outra por complementação. João Pedro*, 30 anos, por exemplo, começou com episódios de síndrome do pânico e hoje também sofre de Acluofobia que é o medo excessivo do escuro. Os medicamentos antidepressivos propiciam melhora rápida dos ataques de pânico em algumas semanas, na maioria dos pacientes. Porém, é necessário acompanhamento psicoterápico para que o paciente se sinta seguro para retornar as atividades rotineiras. João Pedro, ainda não terminou o tratamento e sabe que não está curado, mas já se sente seguro o suficiente para trabalhar e encontrar os amigos. “Sei que preciso ser forte para vencer a doença e ainda vou realizar o sonho de poder levar minha namorada ao cinema”. *Nomes fictícios para proteger os entrevistados

guas Claras cresceu e, com a maturidade, vieram problemas de gente grande. O trânsito da cidade já não é mais o mesmo e a deficiência do sistema de transporte público começa a incomodar. Além da demanda dos moradores, segundo dados da Administração Regional, estima-se que haja hoje em Águas Claras cerca de 545 empresas apenas na área que compreende a Área de Desenvolvimento Econômico (ADE), o que faz com que a demanda por transporte público por parte dos trabalhadores já seja tão ou mais significativa do que a dos próprios moradores da cidade. A quantidade de linhas, e, principalmente, de paradas de ônibus disponíveis para atender a todas essas pessoas, no entanto, não é satisfatória. Na Avenida das Araucárias, uma das vias que corta a cidade no sentido Taguatinga-Park Way, há apenas quatro paradas regulares, com cobertura para os passageiros e placa indicativa. A primeira está situada quase na metade da extensa via, possui proteção para os passageiros mas não há recuo para os ônibus; na segunda, um pouco mais abaixo, há apenas uma placa indicativa, sem proteção e também sem recuo; a terceira segue os mesmos moldes das primeiras, assim como a última, em frente ao Shopping Marggiori. Segundo dados do DFTrans, existem hoje em todo o DF cerca de 4.300 paradas de ônibus. Dessas, apenas 2.965 possuem abrigo para os passageiros e 1.300, apenas placas indicativas. Na falta de paradas regulares os passageiros se viram obrigados a improvisar e criaram pelo menos mais três importantes pontos “informais” de embarque ao longo da via. O primeiro está localizado próximo ao balão de entrada da cidade; o segundo após a ponte e o último em frente a um movimentado quiosque próximo ao Shopping de Águas Claras. Em função da grande demanda, os motoristas respeitam e utilizam esses pontos para embarque e desembarque de passageiros assim como os regulares. Já na Avenida Castanheiras, a outra via que corta a cidade e liga o Park Way a Taguatinga, são cinco pontos regulares contra dois irregulares; os improvisados ficam abaixo do Edifício Estação XVI e em fren-

te ao Shopping Q. Nessa via, além de mais numerosos, a distância entre os pontos é menor e há mais faixas de pedestres. Ainda assim, quem precisa ir mais longe, como para algumas cidades do entorno, enfrenta dificuldades. A cidade não dispõe de linhas diretas para as cidades de Santo Antônio do Descoberto-GO, Valparaíso-GO e Luziânia-GO, por exemplo. Quem precisa pegar ônibus para estes destinos tem que se deslocar até Taguatinga Centro, ponto mais próximo para o embarque, como conta a estudante Aline Ribeiro, 21 anos. “Moro pertinho do shopping e, como a maioria das pessoas que pega ônibus por aqui, utilizo um ponto irregular. Quando preciso pegar ônibus para ir para a facul em Taguá é tranquilo, o problema é quando tenho que fazer pesquisa de campo em Luziânia. Aqui não passa ônibus direto para lá e preciso pegar carona até Taguatinga Centro”, diz. Tão grave quanto a falta de paradas e a pouca variedade de linhas é a falta de recuos para que os ônibus encostem para a entrada e saída de passageiros. A dentista Jandira da Silva Rocha, moradora da cidade, conta que quase se envolveu em um grave acidente em função de uma manobra arriscada de um motorista para desembarcar um passageiro há cerca de dois meses. “Ele estava parado na pista próximo ao meio-fio quando eu estava passando. Após a descida do passageiro, no entanto, ele avançou subitamente e me fechou, então batemos. A lateral do carro ficou destruída e eu acabei subindo na calçada próxima ao shopping, só não atropelei ninguém por sorte.” Situações como a vivenciada por Jandira seriam facilmente evitadas com pistas de escoamento para os ônibus, que evitam que eles fiquem indevidamente parados na via, atrapalhem o trânsito e causem acidentes. O único que parece satisfeito com o improviso é Eber, dono do quiosque utilizado como parada irregular próximo ao Shopping de Águas Claras. Perguntado se achava ruim a aglomeração de pessoas em frente ao quiosque ele não hesitou em declarar que entende a insatisfação dos passageiros e torce para que mais paradas sejam construídas para o conforto deles, mas não pode reclamar da clientela em sua porta.


RAPIDINHAS

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novembro 2011 educação

literatura

Escola espera receber computadores novos e quadra de esportes

Academia de Letras de Taguatinga completa 25 anos

Layon Maciel Foto: Layon Maciel

Jéssica dos Santos Foto: Dayanne Teixeira e Renata Ribas

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o ano comemorativo de seus 25 anos de atuação no Distrito Federal, a nova diretoria da Academia de Letras de Taguatinga (ALT) festeja o reconhecimento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), da Academia Brasileira de Letras (ABL) e da Câmara Legislativa, por todas as atividades desenvolvidas. Para a diretoria da ALT, isso não é apenas mais um título de reconhecimento e sim um passo para continuar a realizar os projetos oferecidos para a comunidade de Taguatinga. Desde que foi fundada no dia 9 de abril de 1986, a academia promove atividades e eventos culturais com projetos e programas sociais. O jornal “Alternativus” é um deles, mas o projeto piloto é a “Estante do Escritor”. Com o apoio da Diretoria Regional de Ensino de Taguatinga, os escritores levam suas publicações para escolas públicas da cidade. A parceria visa a integração da comunidade com a literatura nacional, para ter melhorias e valorização do ensino público. Segundo o presidente da ALT, Gustavo Dourado, “é importante ter não só os reconhecimentos regionais como o do Ministério da Justiça; Governo do DF; Secretaria de Educação; Diretoria Regional de

Ensino de Taguatinga e da Câmara Legislativa, em uma seção solene nos 25 anos da academia”. Para ele, esse reconhecimento melhora o trabalho que a ALT realiza, e é “de extrema importância para a promoção de toda a atividade cultural existente na comunidade”. Espaço Não apenas de alegrias vive a academia. O presidente busca a liberação de pelo menos um servidor da Secretaria de Educação cedido à ALT, para haver o funcionamento integral. Outro problema é o espaço físico cedido para a ALT. O prédio foi oferecido há 12 anos pela Administração Regional de Taguatinga, mas é dividido com a clínica odontológica Aste (Associação dos Trabalhadores em Educação). O desejo da diretoria é a incorporação de todo o espaço: “Aqui é o centro cultural de Taguatinga e não o centro médico, e não faz nenhum sentido funcionar uma clínica odontológica em um local destinado para atividades culturais para a cidade, esse espaço merece respeito das autoridades”, desabafa Gustavo. Lanchinho Numa busca pela tradição nacional, a Academia de Letras de Taguatinga inovou na reunião dos autores. A ABL, a primeira academia de letras do país voltada para literatura, segue os moldes ingleses e serve o chá das 17h. Os acadêmicos se encontram e conversam entre eles sobre assuntos comuns. Na ALT o encontro acontece, mas o que é servido não passa nem perto de chá. Quem explica melhor essa história é o acadêmico José Orlando Pereira da Silva (foto): “Em vez de servimos chá, oferecemos a rapadura das 17h. Isso devido à rapadura ser um produto nacional, e assim valorizamos uma tradição brasileira”.

SERVIÇO ENDEREÇO: Espaço Cultural Paulo Autran Rua Cnb 12 s/n Área Especial 2/3 Taguatinga FUNCIONAMENTO: das 8h às 12h, de segunda à sexta TELEFONE: 3201-1745 SITE: www.academiadeletras.com

Laboratório deveria ter computadores, mas todos foram roubados

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ais de 160 alunos da Escola Classe Guariroba deveriam estar tendo aulas de informática e atividades recreativas numa quadra de esportes, mas por causa da burocracia essas duas coisas, que beneficiariam crianças e pais, estão ausentes. O colégio fundado em 1963 fica em Samambaia, na BR-060, Km 9, em uma área rural da cidade. Os oito computadores chegaram à escola, mas só poderiam ser instalados por uma empresa especializada. No entanto, os equipamentos foram roubados antes mesmo da instalação. Numa verificação patrimonial de rotina, Fernando Travassos, vice-diretor da escola, estranhou o peso das caixas, que tinham os lacres violados. Ao abri-las, encontrou concreto e pedra. No final se descobriu que um vigilante foi o autor dos roubos dos PCs. “Os computadores seriam usados para as atividades da educação integral, alunos do ensino regular e por professores”, conta Fernando. Segundo o vice-diretor, a escola solicitou o ressarcimento dos computadores roubados para a Secretaria de Educação (SEDF). Por sua vez, a SEDF pediu ao MEC, responsável pela doação dos computadores, que acelerasse a indenização à empresa roubada pelo ex-vigilante. Enquanto isso, crianças deixam de aprender novidades da informática e futuros projetos pedagógicos serão apenas planos. A quadra de esportes foi prometida à

escola, já que pertence ao projeto de educação integral do Governo do Distrito Federal, no qual alunos fazem atividades de lazer e aulas de reforço. Depois dos escândalos governamentais de 2009, muitos projetos e obras foram interrompidos, entre elas, a construção da quadra poliesportiva. “A quadra é fundamental, não só para o uso da escola, também para socialização da comunidade”, salientou Viviane Aparecida Pereira Marinho, do conselho escolar e mãe de aluno. A escola promove anualmente a festa junina, festa da família e feira do livro. O pátio é pequeno para receber pais e familiares de colônias funcionais, chácaras e áreas adjacentes. Segundo Pedro de Alcântara, da empresa responsável pelas obras, as estacas demarcadoras da futura quadra foram instaladas no início do ano, mas ainda falta a ordem de serviço da Novacap para executar a obra. Expansão da rede de esgoto No começo do ano, a escola ainda enfrentou o risco de ser desapropriada para expansão de rede de esgoto. Se essa obra fosse concretizada, alunos que moram em lugares distantes teriam de ser remanejados para outras escolas longínquas. Como a Direção Regional de Ensino de Taguatinga (Dret), a qual a escola está vinculada, não recebeu documento de desapropriação, essa possibilidade foi afastada até o momento.


CIDADES

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atendimento

Sobram pacientes, faltam médicos

Mesmo após reforma, HRT não tem profissionais para atender a população Douglas Furtado

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rede pública de saúde do Distrito Federal conta com 5.110 médicos. Desses, 402 são destinados ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Só que há um problema: a demanda de médicos não consegue suprir a de pacientes. O HRT atende pessoas do DF e, também, do entorno. Valmir Santos é vigilante e mora em Águas Lindas de Goiás. Ele conta que teve de retornar mais de duas vezes ao hospital para marcar consulta. “Desde ontem, tento conseguir atendimento, já são duas noites sem dormir com dores. Falta médico”, conta. A reforma do pronto-socorro do hospital, de acordo com a Secretaria de Saúde, aumentou a capacidade do atendimento em relação à demanda de pacientes. Foram construídos 57 novos leitos subdivididos em três áreas: crítica, semi-crítica e de observação. Quando se chega ao hospital, a impressão que se tem é de um local totalmente organizado. Tudo novo, um balcão de informações. Pacientes à espera, sentados em cadeiras enfileiradas e um grande painel de senha. Só aparência. No corredor, alguns leitos. No chão, sangue. Um homem cheio de esparadrapos, o rosto todo arrebentado. Moisés Guedes não é paciente, embora esteja há mais de quatro horas na espera de sua mãe, de 77 anos. Alega que estava indo embora porque não tinha médico para atendê-la. “Vai dar 14h e não teve nenhum atendimento até agora”, diz. Raimundo Nonato, 25 anos, segurança, reclama da insuficiência do atendimento. “O descaso é grande demais. O pessoal chega para ser atendido e fica jogado ali no chão. As enfermeiras falam que estão providenciando, mas não fazem nada. Ficam sentadas lá no balcão. Cadê a verba do governo nos hospitais? Só tem aparência, mas não tem médico”. O relógio marcava por volta do meio-dia. Raimundo esperava com a esposa e os filhos. Está lá desde oito da manhã. Tentou uma consulta na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia, mas encontrou a mesma situação do HRT. A filha sofre de bronquite asmática. “Ela está com dor de cabeça, dor no corpo, com febre”, completa.

Hospitais do DF cumprem as recomendações da OMS, mas não é suficiente para suprir a demanda dos pacientes

Foto: Douglas Furtado

Celso Viana, 40 anos, trabalha como vi- sidentes e não possuem diploma: pré-requigilante. Espera uma consulta desde o mês sito para o exercício da função. A SES-DF de julho. “Meus exames já estão vencendo não explica, contudo, por que profissionais e eu não consegui marcar com o médico. sem diploma foram nomeados para cargos Ligo lá na matrícula [atendimento] para sa- públicos em concursos para nível superior. ber dele, e nada”. A secretaria esclarece, ainda, que já foram Outra paciente, Cláudia Caetano, funcioconvocados este nária da Universidade ano 4.055 profisde Brasília, também sionais aprovados “Cadê a verba veio da UPA de Saem concurso e que do governo nos mambaia direto para estavam em cadashospitais? Só tem tro reserva. o HRT. Não conseguiu ser atendida Levantamento aparência, mas não pela falta de médicos. feito entre janeiro tem médico” “Não adianta ter hose junho de 2011 pital bonito, sendo aponta que o HRT RAIMUNDO NONATO, que não tem médico fez 84.420 atendisegurança. para atender bem. A mentos no ambugente quer ser atenlatório e 164.366 dido. Tem mais de 40 na emergência. Uma média de 1.374 atenpessoas esperando lá dentro”, conta. dimentos diários. Por esses dados, a relação O Artefato procurou a administração de pacientes para cada médico gira e torno do Hospital Regional de Taguatinga e eles de 618, número dentro da faixa considerada responderam que são subordinados à Se- ideal pela Organização Mundial da Saúde cretaria de Saúde. A única funcionária que (OMS) – um médico para cada mil habitannos atendeu trabalha no banco de sangue e tes – mas bem pior que a média do DF, um explicou que a falta de atendimento se dá médico para cada 309 pessoas. No Brasil, a pela quantidade de pessoas do entorno que média é 1/622. procura pelo HRT. Em nota, a Secretaria de Saúde do DisInterdição ética na UPA de Samambaia trito Federal informou ser entre 30 e 40% No último dia 16 de novembro, o Sina quantidade de profissionais nomeados dicato dos Médicos do Distrito Federal se pelos concursos públicos que ainda são re- reuniu para discutir a situação da UPA de

Samambaia. De acordo com o SindMédico - DF, foi determinado um prazo de 30 dias para a Secretaria de Saúde solucionar os problemas da unidade, sob o risco de interdição ética a ser feita pelo Conselho Regional de Medicina. De acordo com o presidente do sindicato, Gutemberg Fialho, a situação da UPA de Samambaia é complicada. “Ela foi aberta com 14 clínicos; agora, só tem nove. O médico não tem boas condições de trabalho. Faltam ambulâncias e hospitais de referência. Os exames laboratoriais demoram muito também. Por isso, fizemos o pedido de interdição ética”, afirma. A possível interdição ética pode acontecer se a falta de condições de trabalho relatada pelos médicos da unidade perdurar. Para chegar a essa decisão, se reuniram o presidente Gutemberg Fialho; o secretário adjunto da Secretaria de Saúde do DF, Elias Miziara; o subsecretário de Atenção à Saúde da SES-DF, Ivan Castelli; o promotor de justiça do MPDFT, Jairo Bisol; o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-DF), Iran Cardoso; o presidente da Subcomissão de Saúde, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem do Advogados do Brasil, Seccional do Distrito Federal (OAB-DF), Victor Mendonça Neiva; o diretor regional de saúde da Samambaia, Manoel Solange Fontes Teles; e médicos da UPA de Samambaia.


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CIDADES

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viagens

Qual será o seu destino? Para evitar o stress é importante planejamento antes de colocar o pé na estrada Karoline Rodrigues e Samantha Freitas

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inal de ano é tempo de quê? Férias, antes de comprar as passagens. Este pode próxima ao estádio Elmo Serejo”, conta a Segurança e estrutura da rodoviária festas, arrumar as malas e viajar. Esse é ser um trabalho que demanda tempo. Sujeira, desorganização, mau cheiro, vendedora Antônia Martins. Ela também o roteiro de muitas pessoas que procuram A recompensa é sentida no bolso, ao falta de conforto, bagunça, confusão reclama da falta de ônibus para alguns ir ao encontro de parentes e amigos que encontrar uma passagem mais barata. Para e muita promessa: são algumas das destinos, afirmando ter que se deslocar estão distantes. A procura por passagens aqueles que buscam uma viagem mais definições atribuídas à rodoviária que para Brasília para conseguir embarcar. já começou e os vendedores esperam o confortável e menos demorada, vale a espera muitos viajantes entre os meses de Maria Nilma, 47 anos, encarregada aumento de viajantes para este ano. pena pesquisar também preços de bilhetes dezembro e janeiro. Com área total de 6.000 de serviço geral, fala que existem quatro Com 30 anos de existência, a rodoviária de transportes aéreos. Os valores podem m² e apenas 3.000 m² em funcionamento plantões de limpeza, dois em cada turno de Taguatinga Norte é ponto de venda ser menores ou iguais aos das tarifas devido à outra parte estar desativada, a (manhã e noite), mas isso não resolve para 19 empresas de viagens, que emitem cobradas por empresas de ônibus. Rodoviária de Taguatinga Norte também a situação. Ela reclama ainda da falta de aproximadamente 700 bilhetes policiamento. “Só tem fiscal do por dia. Com o fim do ano Governo do Distrito Federal Destinos com nomes diferentes se aproximando, elas se (GDF), o que não adianta muito. organizam para o aumento no À noite o local vira motel para os número de viagens. Segundo moradores de rua, e já teve até o administrador da rodoviária, homicídio”, relata. Evandro Cardoso, estima-se que Os problemas de segurança sejam vendidos neste período são visíveis. Apesar de ser de festas aproximadamente 2 proibido, a reportagem do Para Açailândia mil bilhetes de ônibus. Partindo Artefato presenciou uma 1.405 Km da Rodoviária de Taguatinga, os garota de 17 anos comprando MA 16h41 destinos mais comuns durante passagem para Neópolis (SE). o ano são Goiânia e Bahia. Não apresentou documento Durante as férias existe uma de identificação à empresa e Para Porto Seguro procura maior para o Nordeste, afirmou não ter dificuldade para 1.264 Km com preços variando entre R$ viajar sozinha. “Caso aconteça BA 15h 47 31 e R$ 130. algum imprevisto com o menor, Entre idas e vindas, alguns a responsabilidade é da empresa Para Salvador lugares acabam sendo motivos que autorizou o embarque”, diz o GO 1.455 Km de piadas devido a seus nomes, administrador Evandro Cardoso. 17 h 36 como Água Fria de Goiás, Mato Para Água Fria de MG Sêco e Açailândia, no Maranhão; Para Pintópolis Goiás Montalvânia e Pintópolis, ambas Para uma boa viagem 359 Km 136 Km em Minas Gerais. Para estes 1) Para evitar surpresas e não 4 h27 2h5 destinos, há saídas mensais perder a viagem, é importante apenas na rodoviária, pois as não esquecer os documentos Para Montavânia agências de turismo não fazem necessários para viajar 638 Km roteiros, pois afirmam não haver 2 Identifique bem as malas e 7h30 procura. guarde os tickets de identificação. Para que não haja congesEm caso de extravio, há como tionamento no local, Evandro informa comprovar a perda. A companhia que cada empresa tem a baia de embarque responsável tem 30 dias para e desembarque. Além disso, os horários encontrar a bagagem. Caso não a são combinados entre elas. “Em época é utilizada como abrigo pelos moradores encontre, o passageiro é ressarcido de férias, a procura por passagens é Os preços de transporte aéreo com saída de rua e como ponto de tráfico de drogas, 3) Compre as passagens com maior e nem por isso há aumento, pois de Brasília variam de acordo com o destino amedrontando funcionários e passageiros. antecedência, evitando, assim, tumulto e os preços dos bilhetes são concedidos e a data de embarque. Para Goiânia, por Há cinco anos os vendedores estresse na hora do embarque por um projeto de lei, estabelecido no exemplo, no final de ano, as tarifas variam ouvem do governo que a rodoviária será 4) Os menores desacompanhados Diário Oficial da União (DOU)”, diz o de R$ 86 (somente ida) até R$ 165 (ida e derrubada e terá outra localização, para deverão, obrigatoriamente, apresentar a administrador. A Agência Nacional de volta), e a economia de tempo pode ser de a melhoria nas vendas e no conforto dos carteira de identidade antes do embarque. Transportes Terrestres (ANTT) afirmou até duas horas e meia, de acordo com o viajantes.. “O governo disse que não pode Menores de 12 anos só podem viajar que autoriza reajustes contratuais a cada howmanyhours.com, site especializado em ter duas rodoviárias na mesma cidade. acompanhados de um responsável com doze meses. viagens. Dentre os destinos que têm praia, é Foi construída a nova rodoviária no idade superior a 18, com autorização do na Bahia que se encontram as cidades mais Plano Piloto, ao lado do Park Shopping, Juizado de Menor. Pechincha procuradas, como Porto Seguro e Salvador, que irá desfazer da atual de Taguatinga, Depois disso, malas nas mãos e boa Nesse período, é valido pesquisar mais com preços entre R$ 748 e R$ 1068. prometendo nos levar para a provisória, viagem!


CIDADES

7 foto: Adde Andrade

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transporte

Um ônibus, 90 pessoas O descaso da Linha 92 com moradores do Lucio Costa, Guará, Candangolândia, Núcleo Bandeirante e Taguatinga Nelson Araújo

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s reclamações quanto ao transporte público no Distrito Federal são, praticamente, unânimes: os ônibus são antigos, não há pontualidade e a única opção que resta, o metrô, atende menos da metade da população brasiliense. Com a passagem mais cara do Brasil, a ineficiência das linhas de ônibus do DF prejudica o trabalhador, o estudante e o cidadão. Nesta edição, o Artefato pega carona na Linha 92, da empresa Via Brasília, para falar sobre a dificuldade que moradores do Lucio Costa, Guará, Candangolândia, Núcleo Bandeirante e Taguatinga enfrentam diariamente no percurso. Com apenas quatro ônibus em circulação, os moradores das quatro cidades têm que ter paciência na hora de enfrentar a linha de número 92, ou Laranjinha, como muitos apelidaram. Com passagem a R$ 2, o ônibus, durante a manhã, passa de meia em meia hora, por causa do trânsito tranquilo. À noite, contando com a sorte, a cada 40 minutos. Durante a manhã, a partir das 7h, o circuito Taguatinga – Lucio Costa é um sufoco, principalmente por causa do trânsito lento e os engarrafamentos. À noite, a mesma coisa, agora no sentido Lucio Costa – Taguatinga. A partir das 17h30 não há mais salvação. O ônibus simplesmente lota; não sobra espaço. A única opção para muitos é ir em pé e no aperto. Os únicos horários “sem complicações” são entre 10h e 17h. Isso porque não há grande demanda da população. Mas o motivo de maior reclamação entre os entrevistados, é o enorme itinerário que a linha faz. O tempo mínimo para completar a rota é de 1h10, quando o trân-

sito está leve. Em tempos de transito pesado, são longas 2h30. Por isso, boa parte dos usuários da linha 92 leva cerca de 1h30 para chegar ao destino. O aluno da Universidade Católica de Brasília (UCB) Diego Rodrigues, morador do Guará II, chega a ficar 1h20 dentro do ônibus no início da noite. “Já cheguei atrasado às aulas. Tenho que separar o tempo de espera e de viagem. É agoniante ficar mais de uma hora dentro de um lugar lotado”, explica. A analista Cyntia Menezes passa pela mesma dificuldade, e reclama: “A empresa responsável deveria oferecer mais ônibus, pois só dessa maneira para diminuir o tempo e o aperto”, diz, ressaltando que este é um caso de irresponsabilidade dos empresários do setor. O sufoco dos usuários da linha 92 permanece até por volta das 22h50, quando é encerrado o tráfego do Laranjinha. Para os estudantes e trabalhadores que partem do destino Taguatinga por volta desse horário é pior. Todos os dias, sempre que o ônibus passa pelas duas paradas da UCB, há superlotação. Muitos estudantes preferem esperar pelo próximo ônibus, na esperança de chegar em casa com mais conforto. É o caso da estudante de direito Camilla Souza, que já esperou por 40 minutos no ponto de ônibus para voltar para casa, na Candangolândia. “Saí da aula às 22h. Só fui chegar em casa as 23h30. É uma vergonha e um desrespeito com o cidadão que só possui essa opção para se deslocar”. O contador Irani Silva também sofre para chegar em casa, na quadra 2 do Guará I. “Saio do trabalho às 21h40. Depois de milhares de voltas pelas outras cidades, acabo chegando em casa quase 23h. Vergonho-

Linha 92 realiza um trajeto com grande quantidade de voltas que provocam insatisfações dos passageiros

so”, sublinha, indignado. A Linha 92 realiza um trajeto que poderia ser simples com grande quantidade de voltas. O itinerário não é linear, seguindo uma rota que passa por muitos outros lugares. O que fica da população são apenas reclamações e insatisfação, mas, sem opções, ainda tem que utilizar a linha. O Artefato entrou em contato com o DFTrans, responsável pelo transporte urbano do DF, para buscar explicações sobre a falta de ônibus para a linha, a superlotação, a não pontualidade e a quantidade de cidades incluídas no itinerário. Até o final desta edição, nem o órgão ou a empresa Via Brasília, também contatada, não responderam. Diário de bordo O repórter do Artefato acompanhou a viagem do estudante Diego Rodrigues pela linha 92. Os dois embarcaram na QE 26 do Guará II com destino à Universidade Católica de Brasília. Chegamos ao ponto de ônibus às 17h50. O tempo de espera foi de 15 minutos: o embarque foi às 18h05. O veículo partiu do setor Lúcio Costa, passou pelo Guará I e só então chegou ao Guará II, na QE 26. Já sem a opção de sentar, tivemos que ir em pé. Saindo do Guará II, o ônibus dá uma enorme volta e passa pela frente do Park Shopping. O congestionamento na via EPIA faz com que o veículo che-

gue a apenas 40 km por hora. Em frente à Candangolândia, os passageiros que esperam na passarela sobem ao veículo. Nesse momento, a viagem ainda é suportável. Saindo da EPIA, a linha parte agora para a Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB). O ônibus entra no Núcleo Bandeirante. A cada parada, de cinco a sete pessoas entram no veículo. São 20 minutos rodando pela cidade. Quando o ônibus sai do Bandeirante, 76 pessoas, contadas, se apertam no Laranjinha. Na primeira parada da EPNB, mais 14 pessoas entram no ônibus. São 90 passageiros dentro de um ônibus com capacidade para 58. A partir desse momento, a situação se torna sufocante. Assim seguirá por longos 30 minutos até 20% das pessoas saltarem na passarela do Riacho Fundo I. Desse ponto até a UCB são 5 minutos. Enfim, chegamos à Universidade às 19h15. Desde a espera na parada de ônibus até descer no ponto da universidade, foi 1h25 de viagem por quatro cidades-satélites do DF. SERVIÇO Qualquer reclamação da população a respeito do transporte urbano público pode ser feita ao DFTrans por meio do número 156. Anote horário e placa do ônibus.


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violência

Em busca de solução Ceilândia e Sobradinho II abrigam programa que retira jovens do crime por meio de expressões culturais Karoline Soza e Wissara Benvindo oportunidade de fazer das artes seu desvio da criminalidade. Segundo a supervisora do projeto, Alice Margini, “o intuito é trazer esses jovens para dentro das oficinas, retirando-os do mundo da violência”. Quem ingressa no programa é atraído pelas oficinas de hip hop, capoeira, dança, produção de eventos, entre outros. Com apoio de psicólogos e terapeutas comunitários, descobrem que o local também é espaço para resolverem problemas, angústias e conflitos pessoais.

Foto: Eduardo Golfetto

m estudo sobre os “Fatores determinantes da violência interpessoal entre os jovens do DF”, de 2006, aponta que o motivo que levam os jovens a cometerem atos de violência não é determinado pela influência do lugar onde vivem ou a situação financeira. Pesam mais os aspectos comportamentais como o uso de armas de fogo, de drogas e o consumo de bebidas alcóolicas. Foi este estudo que inspirou a criação do projeto Jovem de Expressão, que desde 2009 já atendeu mais de 400 jovens.

O programa realizado nas cidades de Sobradinho II e Ceilândia envolve jovens entre 18 e 24 anos. O objetivo é desenvolver ações que conscientizem os moradores da região e os participantes sobre a responsabilidade social. “A oportunidade é você quem faz. Na dança encontrei o meu refúgio. Hoje não sinto mais vontade de ficar na rua pensando em futilidades. Gasto meu tempo livre com o ‘break’”. Essa afirmação é do dançarino Tayson Oliveira de Almeida, 19 anos. Ele é um dos participantes do projeto que tem a

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Samambaia (12,5%), Planaltina (10,2%) e Ceilândia (8%) são as que têm o maior número de jovens envolvidos com revólveres. “Resolvi entrar para a gangue por que não tinha nada para fazer. Quem era da gangue era respeitado e, com armas em punho, tinha amigos e estava sempre nas festas”, relata Rafael Verneck, 18 anos, morador de Samambaia. Ainda segundo a pesquisa, 50,2% dos jovens que praticam ações criminosas já foram vítimas de algum tipo de agressão ou ameaça. O estudo aborda os maiores motivos de morte na juventude: “Foram medidas Posso afogar meus as principais causas da problemas na dança. mortalidade dos jovens e qual a faixa etária de maior incidência Ao invés de maltratar de violência entre eles”, afirma outras pessoas, o agente de desenvolvimento desconto a raiva que Marcello Fernandes. O porte de armas sinto dançando. proporciona aos jovens um SAMUEL ALMEIDA, 25 anos poder surreal. Na maioria dos casos, o princípio que gera a violência parte da facilidade em adquirir o objeto. Para a Carlos Lira, que também participa pesquisadora da Universidade de Brasília e apóia a ação, pensa igual: “atividades (UnB) na área de psicologia Carla Dalbosco, como essas fazem com que as pessoas ser violento é uma espécie de aprovação da ocupem mais a cabeça, deixando de lado virilidade. “O porte de arma é uma maneira a criminalidade”. Segundo o colaborador, de se sentirem respeitados”, observa. o espaço se tornou uma verdadeira terapia O consumo de entorpecentes é o aonde alguns vão para conversar e outros segundo motivador de adolescentes e para participar das atividades oferecidas. jovens à prática do crime. Maconha, “Posso afogar meus problemas na dança. Ao invés de maltratar outras cocaína, crack e o consumo abusivo de pessoas, desconto a raiva que sinto álcool são os mais novos “companheiros” dançando”, revela Samuel Almeida, 25 da juventude.

anos. Serviço: O programa conquistou também o Para se inscrever, basta procurar a apoio do Escritório das Nações Unidas matriz na Praça do Cidadão, em Ceilândia sobre Drogas e Crime (UNODC), sendo Centro, ou a filial, em Sobradinho II. considerado modelo de boa prática. Jovem de Expressão Ceilândia Centro: Praça do Cidadão Dados que assustam (EQNM 18/20, Bl. C). Fone: 3581-4502 A pesquisa que deu fôlego ao projeto Jovem de Expressão foi realizada pela / 9123-5177 Sobradinho II: AR 09, conjunto 5, lote Caixa Seguros em 2006, e aponta que a prática de atos violentos representa quase 48. Fone: 3485-3912 / 9123-4904 Inscrições de segunda à sexta, de 9h às 60% das mortes entre os jovens. No Distrito Federal, as cidades de 12h e 14h às 17h


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comunidade

Aqui tem, sim senhor

Mesmo com o crescimento frenético de Águas Claras, a cidade ainda conta com uma tradicional feira de rua Gabriela Costa e Guilherme Guedes Foto: Gabriela Costa

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feira de Águas Claras é montada aos sábados e domingos, e funciona há cerca de dez anos. Começou ao lado da estação do metrô Águas Claras e, atualmente, está localizada na rua 31 Sul. Já foi mudada de lugar cerca de dez vezes, devido à quantidade de obras na cidade. Na feira, é possível encontrar uma grande variedade de produtos. Dá para encontrar ovos, queijo, mel, polpa de fruta, doces, biscoitos, pamonha, pães caseiros, coco gelado, vegetais orgânicos, flores e frutos do mar. Tem oferta para todos os gostos. Apesar dessa inconstância, a feira vem se mantendo graças ao empenho dos feirantes e ao interesse dos moradores. Francimar Ferreira de Lima, um dos feirantes, diz não haver lugar melhor para trabalhar. “Antes eu trabalhava lá em Vicente Pires. Vim para Águas Claras, montei minha barraca e vendo peixe há nove anos. Agora não largo daqui mais nunca”, ele diz.

Karine Tavares, contadora e cliente assídua da feira, afirma estar mais do que satisfeita com a qualidade das frutas, verduras e demais produtos. “Venho desde que a feira foi inaugurada, quando ainda era embaixo do metrô. Tem de tudo fresquinho e de melhor. Venho comprar peixe, legumes, verduras, frutas...’’, relata. Essa atmosfera, de fato, se manifesta na feira. Ao longo de sua extensão são notados diversos sons, como risadas e conversas de gente que, aparentemente, se conhece de longa data. As fragrâncias também não passam despercebidas – mesmo a seção de frutos do mar que, no mercado, costuma afastar os clientes pelo mau cheiro, impressiona pelo aroma fresco e logo atrai o olhar de quem passa. A aparência de tudo surpreende: as barracas são impecavelmente limpas e arrumadas. As hortaliças, que ocupam a maior parte da feira, têm bom estado e bom preço. Ama-

ro Franco, o florista da feira, garante que “o preço do Ceasa é o mesmo. Às vezes, tem coisa aqui que a gente vende até mais barato do que no Ceasa. Mais caro, não”. Qualidade atestada por Karine, que se diz encantada com o atendimento que recebe. “O clima é mais natural do que no mercado. Gosto desse ar mais interiorano das pessoas. A gente faz amizade mesmo”, afirma. Responsável pela feira e também feirante, Herbert Oliveira descreve essa relação vendedor-freguês. “O número de clientes tem crescido bastante. No começo a gente tinha muito prejuízo, mas hoje em dia já temos uma clientela muito boa, fiel e que conhecemos pelo nome”, explica. O florista Amaro também exalta o bom relacionamento dos vendedores. “Não há discussão, não há nada, todo mundo se dá bem e ajuda um ao outro”, conta. União que gera parceria. “A limpeza aqui nós mesmos que mantemos. O

que sobra de folha levo tudo, cada um zela pela sua banca”, completa. Tradição em perigo Apesar da satisfação dos feirantes e dos clientes, ainda não é garantido que a feira continue a existir, pelo menos no local atual. No dia 10 de julho de 2007, o então administrador regional Antônio Pontes Távora reuniu-se com os integrantes da Associação dos Feirantes de Águas Claras (Afac), e disse, na ocasião, “estar empenhado em solucionar o problema dos feirantes, num curto espaço de tempo”. Quatro anos se passaram, e a situação legal da feira segue indefinida. A Administração de Águas Claras nega haver qualquer acordo com a Afac, apesar da feira estar funcionando há aproximadamente uma década, com o reconhecido apoio dos moradores.


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espaço

O valor do Sagrado Fotos: Nilton Miranda

Setor Noroeste X Santuário dos Pajés: luta por território concreto ou abstrato? Bárbara Fragoso, Juliana Campêlo, Laís Marinho e Stephany Cardoso

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Pajé Santxiê Tapuya crê que a terra é vida não só para os índios, mas para o povo

lanejado para ser o primeiro “bairro sustentável” do país, o Noroeste pretende abrigar cerca de 40 mil habitantes, distribuídos entre 20 quadras residenciais e 24 comerciais. As edificações serão abastecidas com energia solar, além de serem criadas ciclovias e a rede de coleta de lixo ser a vácuo – que o levará direto para a estação de tratamento. Além disso, para morar no “bairro verde”, moradores deverão seguir regras de conscientização ambiental, como não acumular entulho, não usar chuveiro elétrico e separar o lixo orgânico do inorgânico. O investimento em sustentabilidade no entanto, torna-se controverso uma vez que a construção do setor está prevista para acontecer na Área de Preservação Ambiental do Planalto Central, onde se localiza a antiga fazenda Bananal, também conhecida como a região sagrada do Santuário dos Pajés. A ocupação do território se deu por volta de 1950, por indígenas da etnia Fulni-Ô que vieram trabalhar na construção de Brasília e que, durante as folgas, saíam dos canteiros de obras para realizar práticas religiosas na então fazenda, situada na Asa Norte. Já o bairro do Noroeste, por sua vez, foi planejado por Lúcio Costa entre 1985 e 1987 no projeto “Brasília Revisitada”, que antevia alternativas de expansão das cidades do DF com vistas a aproximar os trabalhadores de baixa renda à capital. A construção do Setor foi anunciada em junho de 2007, mas só houve registro em cartório no final de dezembro do ano seguinte. Assim, com índios de um lado e empreiteiros do outro, a briga consiste em saber a quem pertence o “território”, já que na delimitação de hectares ambos discordam da quantidade destinada a cada um. Em audiência pública realizada na Câmara

dos Deputados em 10/11, por convocação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM), o histórico de ilegalidades no processo de autorização de construção do Noroeste apresentado não foi refutado, pois nenhum representante do Governo do Distrito Federal (GDF) e nem da Justiça compareceu. A principal decisão anunciada pela deputada Érika Kokay, que presidia a audiência, foi, mais uma vez, a de pressionar a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) a instituir o Grupo Técnico (GT) de identificação e demarcação do território indígena, além de solicitar ao GDF a retirada dos policiais que estariam ilegalmente no local. Para a deputada, a carta enviada à CDHM pela FUNAI evidencia a omissão de responsabilidade no caso, repassada à Terracap, mas reconhece o direito dos índios à terra. Para o reconhecimento oficial do território indígena, é necessário laudo do GT que, por sua vez, já foi solicitado desde 1991 e já ordenado pelo Ministério Público Federal. Enquanto isso, defensores reclamam o princípio da precaução, que evitaria a destruição de vestígios antropológicos com o avanço das obras. Valores abstratos Mais do que o sentido concreto da palavra, índios e antropólogos explicam que existem questões culturais e espirituais ligadas à terra. O pajé Santxiê Tapuya, um dos líderes mais antigos da região do Bananal, conta que a “terra é vida, não só para os índios, mas para o povo”. É na região do Santuário que se realizam rituais, se enterraram os ancestrais das aldeias e se oferece refúgio espiritual. Por isso “o espaço é sagrado”, diz Santxiê. Segundo o antropólogo Gabriel Soares, “há um amplo preconceito contra os ín-


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SAIBA MAIS

Santuário e visitantes

Santuário dos Pajés tem importância cultural e espiritual para várias etnias indígenas

dios. Eles têm que provar para os brancos que esse lugar é importante”. O especialista ainda explica que mover o Santuário inviabiliza a prática religiosa. “Não adianta movê-los para um ‘lugar plantado’, que não tem vida própria.” Para os indígenas, as árvores antigas são entidades religiosas. A relação com as plantas típicas do cerrado é ampla, inclusive com uso para a cura. E os rituais, por exemplo, só podem ser praticados em locais naturais. Já para o antropólogo Rafael Serra, o espaço faz com que os índios se comuniquem com seus ancestrais, e com a natureza. Assim, a demarcação do lugar não deve ser feita somente em relação à moradia, ou seja, “onde há construção”, mas deve se levar em conta que para os indígenas o território envolve a natureza, a caça. Outros credos Não são apenas questões de sobrevivência, espiritualidade ou práticas religiosas que remetem a um lugar o significado “sagrado”. Segundo o seminarista colombiano Jhon Pabón, a qualidade pode existir em qualquer lugar onde o homem acredite que exista, pois, “não depende do espaço em si, mas dos valores sentimentais e da fé que o indivíduo aplica”. O padre Jairo Grajales complementa que um espaço abençoado também pode significar “dignidade, pátria, um lugar para estar com Deus”. Também “é no espaço sagrado que evocamos as energias da natureza, para elas atuarem em nós”, diz a mãe de santo do Candomblé, Vilcilene Gonçalves. Os terreiros e barracões, como chamam a casa de Candomblé, são os espaços físicos em que, segundo os praticantes, há a manifestação das divindades. Já para a professora e umbandista Florence Dravet, os ritos não podem ser re-

alizados em qualquer lugar. “Um terreiro não é uma repartição, é um local sagrado, um local de força viva e atuante, que é a matéria prima de todo o trabalho espiritual desenvolvido na Umbanda.” E ainda complementa que os terreiros mais antigos têm fundamentos poderosos. “Mexer na sua constituição física significa alterar uma energia ancestral vibrante que com certeza irá perder na intensidade de sua força e de seu poder”, destaca. Segundo Florence, quando as autoridades administrativas decidem fechar ou realocar um terreiro, estão mexendo com valores profundos, ancestrais, cuja sacralidade lhes escapa. “Imagina um teatro sem palco, um espetáculo de rua sem rua, um circo sem picadeiro, um livro sem páginas?”, compara. A mã de santo Vilciene conta que, recentemente, a obra do terreiro que frequentava foi embargada e os praticantes ficaram meses sem poder conduzir os trabalhos. “Se os barracões forem destruídos, há o desrespeito da sua e da minha fé. É como se eu chegasse em casa e a encontrasse destruída”, comenta Vilciene. Em 2006, outro local importante para a religião foi vandalizado: as estátuas dos orixás da Praça dos Orixás, na Prainha, foram depredadas. A lei e a religião Além da ideia de sagrado, que se constitui como um importante aspecto no debate entre as religiões, a sociedade e o governo, existe o princípio jurídico legal de liberdade de crença religiosa que também deve ser levado em consideração. Ou seja, as pluralidades de práticas religiosas estão asseguradas pelo Estado, assim como a liberdade de não-crença. No Brasil, somente após a proclamação da República, em 1889, foi formalizada e instituída na Constituição de 1891 a laicidade do Esta-

do e a liberdade religiosa como sendo um direito fundamental e alienável. Atualmente, a Constituição Federal (vigente desde 1988) ainda mantém mecanismos que garantem a liberdade religiosa e a proteção aos locais de culto, entretanto, diferentes instrumentos legais também confirmam este direito e o regularizam. Por exemplo, o Código Penal, no artigo 208, define como pena a detenção de um mês a um ano, ou pagamento de multa, para quem satirizar alguém publicamente por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objetos de culto religioso. Outros dispositivos legais que protegem e regulamentam a liberdade religiosa e afirmam o Brasil como estado laico podem ser encontrados na Consolidação das Leis de Trabalho (CLT); na lei nº 8.239/91, que dispõem sobre a prestação de serviço alternativo ao serviço militar obrigatório; na lei nº 7.716/89, responsável por definir os Crimes Resultantes e Preconceitos de Raça ou de Cor; na lei nº 9.455/97, que estipula os crimes de tortura e dá outras providências; e na lei nº 6.923/81, que dispõe sobre o serviço de Assistência Religiosa nas Forças Armadas.

Dizer ao certo o que é o “Santuário dos Pajés” é qualidade de poucos. Alguns dizem que se trata de um local concreto, outros acreditam que se trata de todo o território da Terra Indígena Bananal. O fato é que existe uma construção em formato de oca e feita de barro intitulada “Santuário dos Pajés”, que pode ser visitada e ainda compreende uma série de utensílios e fotos dos índios. E, sim, a região pode ser chamada de Santuário visto a sua importância cultural e espiritual para as tribos. O músico Engels Espíritos conta que a primeira vez que esteve no lugar sentiu uma “presença natural”. Foi lá para participar do Sarau Pisaligeiro (15/11) e explicou que é importante “a sociedade civil de Brasília se conscientizar da importância da preservação do cerrado”. O estudante de Jornalismo Augusto Dauster completa ao dizer que o espaço compreende também “a última área de vegetação nativa do cerrado de Brasília e serve de abrigo para qualquer índio que venha de fora para se reunir com a FUNAI, com o governo e com parlamentares”. O mestre Zé do Pife e as Juvelinas também se apresentaram no Sarau, em apoio ao Santuário dos Pajés. Grupo tradicional da cultura popular do DF, o laço com os índios do local é mantido há três anos, construído por encontros musicais. O pernambucano Zé do Pife é católico, apóia e participa dos rituais indígenas. “A cultura é bonita, é a alegria do povo. Me sinto bem aqui. Eu escuto e ensino, como ensino a tocar o pífano, e faço rir”, explica. Já a “Juvelina”, Maísa Arantes, acredita que o respeito a outras culturas tem crescido. “O contato aproxima, é ver a outra cultura como ela é”. O compositor e cantor, BNegão, acredita na importância da energia da luta. “Como é um Santuário, as energias positivas são as mandantes”. Também diz que entrou na briga “para dar esse oxigênio espiritual” e que o território “é um dos pontos do mundo onde você está brigando para o começo de uma ‘parada’ grande. É o ser humano contra a máquina geral, literalmente”, finaliza.

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direito

Trabalhador Empregadas domésticas lutam por reconhecimento de direitos e tentam apagar os estigmas de uma profissão desvalorizada no Brasil Juliana Campêlo e Luísa Dantas

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cordava às 5h da manhã. Pegava ônibus lotado – eu morava numa cidade do interior, longe do serviço. Tinha que chegar cedo, né, se não o patrão brigava. E eu tinha que tá com todas as coisas prontas pra minha aula à noite. Fazia o café da manhã. Lavava a casa. Passava o pano. Arrumava o lanche das crianças. Limpava o resto da casa à tarde. Passava roupa. Cuidava do jantar. Chegava em casa meia noite e ainda tinha que cuidar das minhas coisas. E às 5h da manhã começava tudo de novo. Não foi uma decisão [ser doméstica]. Foi necessidade”. Não, você não acabou de ler nenhum trecho de alguma obra de Carolina Maria de Jesus, a famosa autora da obra “Quarto de Despejo” . O relato, no entanto é de outra “Jesus”, mais precisamente da ex-doméstica Maria Abadia Teixeira de Jesus, 48 anos, natural de Minas Gerais. Suas palavras resumem não só o próprio cotidiano profissional, mas apontam também a realidade ausente de direitos e garantias de cerca de sete milhões de trabalhadoras domésticas que vivem pelo Brasil afora. As condições descritas por Maria Abadia, como jornada de trabalho superior a oito horas, são reflexos de uma legislação que, dentre outras lacunas, não fixa piso salarial para as domésticas e priva a classe da garantia de pagamento de salário nunca inferior ao mínimo. Essas definições feitas por leis indicam os preconceitos e estereótipos que desqualificam a profissão. Até mesmo a Constituição Federal brasileira, vigente desde 1988, ao garantir 34 direitos aos trabalhadores urbanos e rurais, assegura apenas nove deles à categoria dos trabalhadores domésticos (artigo 7º, parágrafo único).

de 30 dias; 13º salário; repouso semanal remunerado previamente combinado; licença-maternidade; aposentadoria; aviso prévio de 30 dias; estabilidade da gestante em caso de gravidez e direito aos feriados civis e religiosos. Estes são os direitos atualmente validados no Brasil para os trabalhadores domésticos pela Constituição, além do direito à sindicalização, assegurado pelo artigo 7º da Constituição. Apenas em 2006, com a lei nº 11.324, foram normatizados os direitos a 30 dias de férias com acréscimo de um terço do salário; a proibição da dispensa arbitrária ou sem justa causa desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto; e a proibição de descontos no salário por fornecimento de alimentação, vestuário, higiene e moradia. A lei também instituiu o pagamento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) como opcional ao empregador. Contudo, a proteção legal, ainda que incompleta, não garante a existência prática dos direitos. Uma pesquisa de caráter qua-

A gente contava com a boa vontade da patroa” MARIA ABADIA, ex-doméstica

litativo, realizada pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) este ano nas regiões do Distrito Federal e Salvador, aponta que menos da metade das trabalhadoras domésticas entrevistadas de Brasília recebem 30 dias de férias com 1/3 a mais do salário, enquanto em Salvador 66,6% usufrui este direito. Somente 27% e 35% das domésticas Discriminação legal Pagamento do salário mínimo; férias em Salvador e Brasília, respectivamente,

receberam aviso prévio em caso de demissão em algum momento de sua trajetória profissional. Sobre a utilização da licença maternidade, tão só 25% das entrevistadas em Salvador e 12% em Brasília tiveram acesso a este direito. Maria Abadia trabalhou por 24 anos como doméstica, hoje em dia é funcionária de uma organização não governamental no Paranoá. Ela relembra que, quando exercia a profissão, a jornada na casa dos patrões era de mais de 12 horas por dia. “Não tinha férias, trabalhava aos sábados, domingos e feriados, não tinha hora extra, nada disso. A gente contava com a boa vontade da patroa, mas era questão de sorte”. Neste quesito, ela se considera sortuda: “meus patrões eram ótimos para mim”, contudo, Abadia explica que essa política de boa vizinhança com os patrões se deve justamente pela falta de informações sobre os direitos trabalhistas. Hoje, lamenta a demora da descoberta deles. “Por não ter usufruído dos meus direitos desde cedo, agora sou uma mulher que não tem garantias traba-

lhistas, nem aposentadoria”. Sexismo e racismo Este quadro de déficit de direitos é, ao mesmo tempo, sintoma e reforço de uma estrutura social que herdou e ainda hoje vivencia processos ideológicos baseados em princípios sexistas, escravocratas, racistas, patriarcais e capitalistas, segundo a afirmação de Nathália Mori, membro do colegiado de gestão do Cfemea. Segundo Nathália, na divisão sexual e cultural que designa as tarefas e os papéis sociais de mulheres e homens, as atividades domésticas, como cozinhar e lavar roupa, são consideradas naturais do ser feminino. “É como se o fato de nascer com uma vagina determina que a mulher saiba ‘naturalmente’ passar um pano muito melhor. Mas não é a biologia que define isso, e sim aspectos culturais e sociológicos”, explica. Outro aspecto relacionado ao perfil das trabalhadoras domésticas é a quantidade de mulheres negras existentes. “O nosso


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direitos

oras de luta

dia 17 de junho com a aprovação da Convenção sobre o Trabalho Decente para as Trabalhadoras e os Trabalhadores Domésticos (nº 189) da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O documento, que equipara todos os direitos dos trabalhadores domésticos aos das outras categorias, pretende ampliar a promoção da igualdade e defender o trabalho decente para homens e mulheres. O trabalho doméstico, por se configurar como profissão exercida majoritariamente por mulheres e caracterizado pela invisibilidade, desvalorização e baixa regulamentação, exige formulações específicas e complementares para a proteção dos direitos destes trabalhadores, como a convenção da OIT. Apesar da aprovação, a convenção nº 189 da OIT ainda não está em vigor. Segundo a professora de Direito Trabalhista do curso de Direito da Universidade Católica de Brasília (UCB), Judith Karine Santos, para ser aceito no Brasil, o documento ainda precisa ser ratificado interna-

De 2000 a 2009, 81% das domésticas eram mulheres negras

Foto: Judith Santos

passado escravocrata também influenciou na divisão social do trabalho, porque o que foi sempre dito como um trabalho valorizado e digno era aquele da população branca, deixando aos negros as relações informais e desvalorizadas de trabalho”. Dados do comunicado nº 90 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2011, que aponta a situação atual das trabalhadoras domésticas no país de 1999 a 2009, confirmam a presença majoritária das mulheres no exercício do trabalho doméstico remunerado. Em 2009, o setor empregava 7,2 milhões de trabalhadores, ou seja, 7,8% do total de ocupados no país - as mulheres correspondem a 93% deste panorama, sendo 61,6% delas mulheres negras. No Distrito Federal, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego do ano de 2010, as mulheres ocupam 47,6% dos postos de trabalho existentes, sendo que 17% desta ocupação está relacionada aos serviços domésticos, a segunda forma mais comum de inserção das mulheres no

mercado de trabalho. Em 2009, 81% das trabalhadoras domésticas eram negras, e, de 2000 a 2009, o índice permaneceu praticamente inalterado. O sistema capitalista contribui também na limitação dos direitos trabalhistas das domésticas. Nele, este tipo de trabalho é entendido sem finalidade lucrativa ou caráter econômico, sendo classificado como reprodutivo. “O Cfemea questiona essa relação porque o trabalho doméstico também gera riqueza para o país. Se não tem roupa limpa, comida pronta, por exemplo, não tem mão de obra minimamente preparada para o mercado de trabalho”, defende Nathália Mori. Conquistas por etapas As trabalhadoras domésticas estão cada vez mais conscientes das deficiências legais, e se mobilizam para transformar tanto a legislação como o olhar da sociedade. Mesmo que o movimento e os avanços sejam lentos, as vitórias já são visíveis. A mais recente delas ocorreu neste ano, no

Pesquisa de Emprego e Desemprego do DF - 2010

cionalmente. Depois, a convenção deverá ser aprovada no Congresso Nacional e sancionada pela presidenta, para então ter status de lei. Para Judith, a elaboração do documento internacional já é um reconhecimento da luta das empregadoras domésticas. “O interessante é que a convenção foi provocada pelas próprias trabalhadoras e elas estão esperando uma postura política positiva do Brasil em relação a isso, até mesmo para terem um argumento mais forte quando exigirem ações governamentais. Isso já é considerado uma conquista”, explica. Estimulada pela aprovação da convenção sobre o trabalho doméstico decente da OIT, no dia 18 de agosto deste ano foi criada a Comissão Especial de Igualdade de Direitos Trabalhistas na Câmara dos Deputados. O objetivo da comissão é discutir a anulação do dispositivo constitucional e equiparar os direitos trabalhistas

entre trabalhadores domésticos, urbanos e rurais (Proposta de Emenda a Constituição (PEC) 478/10). Isto significa a garantia do pagamento de salário nunca inferior ao mínimo; o direito ao Fundo de Garanti por Tempo de Serviço (FGTS); ao pagamento de hora extra, adicional noturno e de férias; entre outros. A previsão é que até dezembro de 2011 o texto da proposta seja aprovado na Comissão, e depois seguir para votação na Câmara dos Deputados e Senado Federal, até ser sancionado pela presidenta. A voz de quem emprega Há cerca de cinco anos, a arquiteta Cláudia Nascimento, 42 anos, costumava ter empregada doméstica quando o filho único era pequeno. Segundo Cláudia, a trabalhadora possuía carteira de trabalho assinada e recebia o pagamento do 13º salário, além de ter folgas semanais e durante os feriados. “O problema é que se tornou um serviço caro; para mim, empregada hoje em dia é sinônimo de luxo”, afirma. Na época em que Cláudia mantinha uma doméstica, o debate da equiparação dos direitos da classe ainda era pontual e passava quase despercebido. Hoje, com a eminência do aumento de direitos, as previsões apontam o aumento de mais 100% no custo de uma doméstica. Durante audiência pública da comissão que discute a PEC 478/10, Mário Avelino, presidente do Instituto Doméstica Legal, assegurou ser a favor da aprovação da PEC, mas não integralmente. Para ele, o pagamento do FGTS, por exemplo, deve continuar a ser opcional. “Fizemos uma pesquisa com dois mil empregadores e 48% deles disseram que se o FGTS fosse instituído, no dia seguinte demitiriam a empregada e contratariam uma diarista”. Mário também discorda do direito de afastamento remunerado da doméstica por acidente de trabalho. Segundo ele, um patrão de classe média não teria condições de pagar a empregada afastada e, ao mesmo tempo, uma substituta para ela. Entretanto, a gerente de acompanhamento e monitoramento de políticas públicas da Secretaria de Políticas de Promocão da Igualdade Racial (Seppir), Mônica Alves de Oliveira Gomes discorda. “Esse tipo de reação cria rumores de redução de emprego com a formalização. Mas como isso é possível?”. Para Mônica, este discurso da classe patronal é uma tentativa de assustar as domésticas e fazê-las recuarem na luta pelos direitos trabalhistas. “A sociedade encara o déficit de direito das do-


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TRABALHO sejam esses direitos negados, pressão familiar ou violência doméstica. Você vê as coisas com outros olhos”, ressalta Joyce. A primeira turma do PLPTD já começa os preparativos para a formatura, prevista para o ano de 2012. As datas estão ainda na berlinda – elas não sabem se preferem a data do dia 8 de março, conhecido mundialmente como o Dia Internacional da Mulher ou o dia 27 de abril, Dia das Trabalhadoras Domésticas. O nome da turma já foi escolhido: elas agora são conhecidas como “As Marias”. E acreditam ser apenas uma pequena parte de um projeto que ainda vai reunir muito mais Marias por aí.

mésticas como algo natural, entende o trabalho doméstico como função menor e isso justificaria ter menos direitos. Contra isso é a grande batalha”, finaliza. Incentivo acadêmico Coordenado pelos professores Judith Karine Santos, de Direito, e Carlos Alberto Santos de Paula, do Serviço Social, o PLPTD “Promotoras legais populares pelo trabalho doméstico decente” é um projeto de extensão vinculado à Universidade Católica de Brasília (UCB) com o propósito de relacionar estudantes da Católica e a comunidade das empregadas domésticas. Por meio de oficinas semanais, os alunos, juntamente com os coordenadores, vão até à Estrutural para trabalharem temas relacionados ao direito do trabalho, história das trabalhadoras domésticas, capitalismo, dentre outros. Para a professora Judith, os temas es-

A ideia é que você construa, que você conserte. JUDITH SANTOS, professora

colhidos são determinantes para que o projeto amplie a gama de conhecimento das participantes. “Essas oficinas não são palestras. A ideia é que você construa, que você conserte. Nós não vamos até lá pra ensinar, pra dar aula sobre os direitos delas, nós vamos dialogar sobre os assuntos. É uma troca de experiência”, afirma. Cerca de vinte mulheres fazem parte das oficinas semanais. Judith garante que, apesar do projeto ter começado com 40 pessoas, quem ficou é assíduo. “Foi muito difícil divulgar a ideia do nosso programa. Só conseguimos inscrições suficientes quando nos reunimos na feira da Estrutural em um domingo, utilizando panfletagem e cartazes. O local, que é pequeno, também contribui para que não possamos acolher muita gente”, avisa Judith. Marilene Almeida Batista, de 30 anos, afirma que, de profissão, “já fez de tudo um pouco”. Foi doméstica, mensalista, diarista, auxiliar de cozinha e também professora. Entrou no projeto com a missão de “aprender muita coisa sobre o trabalho doméstico” e afirma que, hoje em dia, valoriza muito mais até mesmo o serviço que faz em casa, que não é remunerado. “Hoje em dia aprendi muito sobre os direitos das trabalhadoras domésticas, mes-

As participantes do PLPTD se

FIQUEpara POR DENTRO reúnem debater os direitos

mo não sendo mais uma. Eu preciso conhecer principalmente para poder auxiliar as que eu conheço, que não tem conhecimento do que é seu por lei”, avisa. Para Joyce Siqueira, estudante do 3º semestre de Serviço Social, a iniciativa da UCB ao promover o projeto foi mais do que aprovada, uma vez que possibilita ao aluno ser desafiado a sair de sua zona de conforto e encarar outra realidade – muitas vezes, bem diferente da que vive. “Aqui no PLPTD a gente aprende na prática, diferente de uma sala de aula, que é tudo na teoria.Você fica de frente com pessoas que tem um problema que afetam suas vidas,

trabalhistas e a situação da Projeto: mulher na sociedade

FIQUE POR DENTRO Projeto: Promotoras legais populares pelo trabalho doméstico decente Contato: Judith Karine Santos judith@ucb.br www.ucb.br Para saber mais, entre no blog do Artefato (https://artefato.blogspot.com) e acesse o texto integral da Convenção n 189 da OIT.


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Além da gravata

POLÍTICA

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tempo livre

Entre os compromissos governamentais, deputados do DF tentam administrar as carreiras políticas e os momentos de lazer em família Gabrielle Santelli e Maria Clara Oliveira

A

vida de um político envolve mais do que administrar os interesses públicos, governar o povo e tomar decisões importantes. Além da rotina de votações, existem visitas e eventos aos quais os parlamentares devem comparecer, representando o governo. Nos momentos de folga, porém, como em qualquer outra profissão, os políticos tentam ter uma vida social normal. Antes de ser defenestrado do cargo, era comum ver o ex-ministro do Esporte Orlando Silva nas rodas de samba do Calaf. O líder do governo no Senado, Romero Jucá, adora passear pelas lojas do Park Shopping com a família. Quando era presidente, Fernando Henrique gostava mais de comer no La Chaumière, famoso francês da capital, que no Alvorada. O deputado federal Izalci Lucas (PR-DF), 55 anos, não é diferente. Ele já se candidatou quatro vezes e iniciou a vida política há dez anos, quando já era realizado profissional e financeiramente, como contador e educador. Seu principal objetivo sempre foi uma melhor qualidade de ensino. Ele conta que já se acostumou com a carga de trabalho que seu cargo impõe mas, ainda assim, preza por momentos em que pode ser apenas mais um cidadão, sem responsabilidades governamentais. “Não falto a dois compromissos pessoais: o futebol que jogo com os amigos aos sábados e a missa que frequento com minha família aos domingos. Ambos os programas no Guará”, afirma. Já o deputado distrital Raad Massouh (DEM), 54 anos, diz que o interesse pela política começou cedo, mas não pela po-

Ilustração: Matheus Martins e Gabrielle Santelli

lítica partidária: gostava daquela que unia as pessoas, sindicalistas, empresários e comunidades para lutar por suas causas. Ele se candidatou duas vezes: na primeira se tornou suplente, mas assumiu em várias ocasiões; hoje, é titular. Ele conta que, quando não está trabalhando, gosta de andar e conversar com a população. Ele se acostumou a fazer isso enquanto ainda era candidato, e hoje soma esse hábito ao convívio com a família: “para passear com minha mulher e filhos, gosto de pescar”. Além disso, é passista da Escola de Samba Bola Preta e ligado aos times de futebol de Sobradinho e Sobradinho II. Época de campanha O dia-a-dia de um político começa a ser mais agitado no momento em que ele decide se candidatar a algum cargo: é preciso pensar na campanha, criar contato com os eleitores, fazer visitas e participar das reuniões partidárias. Com isso, o tempo disponível para o lazer e a descontração acaba reduzido desde antes de assumir o cargo. O consultor de campanhas eleitorais Marcelo Serpa afirma que a vida social só pode ser usada em campanhas com o consentimento do candidato - ou seja, se ele tiver disposição de divulgar sua privacidade. Ele afirma que é preciso, também, que haja uma espécie de permissão do eleitor: um nível de aceitação que é descoberto por meio de pesquisas de opinião. Essa forma de contato com o público, segundo ele, mostra se “isso vai ser compreendido pelo eleitor que estamos querendo con-

quistar. Às vezes, o eleitor pode encarar isso como um discurso apelativo”. A pesquisa também é capaz de mostrar a intensidade com que a campanha pode invadir um pouco mais a vida privada do candidato, “lembrando que isso sempre vai ser medido com cuidado”, garante Marcelo. O cientista político e ex-assessor Aylê-Salassié afirma que a campanha começa um ano antes das eleições. “Eles iniciam a campanha com churrascos, cultos, missas, batizados, inaugurações, doações de jogos de camisa para time de futebol nos fins de semana, sobrando pouco para a família”, conta. Já no período posterior às eleições, o tempo é gasto em refeições de articulação para ocupação de cargos públicos com os correligionários. Programa em família A situação dos políticos não é diferente do que acontece com muitas famílias: a principal reclamação é a ausência. O deputado Raad conta que, quando se é parlamentar, os compromissos são muitos: sessões rotineiras, sessões solenes, audiências públicas, comissões gerais, reuniões, eventos e atendimento ao público. “Há muito o que fazer. Assim, a família sofre um pouco a ausência, mas quando não estou trabalhando os meus familiares são prioridade”. E completa: “Sempre que posso, estou junto com eles e viajamos, mas eles entendem quando isso é impossível. É assim comigo e é assim com milhões de pais de família”. O deputado Izalci também recebe a mesma queixa da família: “Por mais que tente equilibrar as funções públicas com os afazeres pessoais, assumo que eles têm

razão. Se a gente bobear a política nos absorve tanto que é capaz de nos engolir vivos. Mulher e filhos têm mais é que reclamar”, admite. Quando os políticos são questionados sobre o fato de levar o trabalho para casa, há consenso entre eles. O deputado Raad confirma que “é quase inevitável, mas sei que isso faz parte da minha opção em ser parlamentar. Não reclamo”. O deputado Izalci nem sabe mais há quanto tempo não leva trabalho e confessa que “a culpa não é inteiramente desta minha atividade. Também a minha personalidade contribui: sou ansioso por realizar as coisas que penso serem acertadas. Trabalho demais mesmo”. Um dos três filhos de Izalci, Sérgio Fernandes Ferreira, 21 anos, conta que tem muita admiração pelo pai. O deputado também foi responsável por aumentar o interesse do filho pela política. Ainda assim, Sérgio afirma que não pretende trabalhar nessa área. Quer se formar em contabilidade e se dedicar à profissão. O estudante não costuma se apresentar como filho do deputado, mas percebe a gratidão dos eleitores: “Sempre ouvi coisas boas. No geral as reações das pessoas são de um político diferente diante do cenário de muita corrupção que vivemos hoje”. Pai e filho não costumam passar muito tempo juntos, mas quando acontece, procuram se divertir, jogar futebol e pescar. “Gosto de saber como estão as coisas no seu trabalho, se aquele ou outro projeto está indo pra frente e até discutimos alguns assuntos”, conta Sérgio.


POLÍTICA

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mídias sociais

E DEPOIS QUE A MARCHA PASSA? Cada vez mais se organizam manifestações políticas e sociais pela internet. O Artefato quer discutir os resultados dessas ações Carolina Alves e Stephany Cardoso

Fotos: Silvia Bertoldo, Bruno Bandeira e Roberley Antônio

No dia 7 de setembro, cerca de 30 mil pessoas compareceram ao Movimento Contra a Corrupção (MCC)

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Movimento Contra a Corrupção

(MCC) em Brasília foi idealizado por Walter Magalhães e pelas irmãs Daniella e Lucianna Kalil. Hoje, conta com mais 50 colaboradores. No dia 7 de setembro, cerca de 30 mil pessoas compareceram ao protesto apartidário e, no dia 14 de outubro, 20 mil pessoas, em média, confirmaram presença no evento pelo Facebook. Diferente da primeira edição da marcha, que foi mais abrangente, na segunda os organizadores decidiram focar em três pontos: a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa, a manutenção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o fim do voto secreto parlamentar. Assim como o MCC, vários dos movi-

mentos organizados pela internet conseguiram muitas adesões em eventos no Facebook e resultaram em passeatas que reuniram milhares de pessoas. Mas o que acontece depois do protesto na Esplanada dos Ministérios e em outros pontos de grande circulação de pessoas? Tem algum efeito? No caso do MCC, segundo registrado no blog do movimento, aconteceu uma audiência pública na Universidade de Brasília (UnB) para discutir ações de combate à corrupção; foi relançada a Frente Parlamentar em Defesa do Voto Aberto, no dia 20 de setembro, com a assinatura de 191 deputados; um protesto foi feito com 594 vassouras em frente ao Congresso Nacional; e outras reuniões e discussões foram organizadas. Daniella Kalil conta que considera esse

movimento a sua primeira participação política e diz: “sempre falo no meu Facebook para usarmos essa ferramenta pra algo importante. Essa realidade é nova, mas estamos vendo o quanto a internet é forte quando se refere a poder de compra, influência, tudo”. Luta Feminista A Marcha das Vadias também se espalhou pelo mundo e pelo Brasil com a força das Redes Sociais. Depois de ouvir em uma palestra na Universidade de Toronto, no Canadá, um policial recomendar às mulheres evitar se vestirem como “vadias” para não sofrerem violência sexual, estudantes protagonizaram, no dia 3 de abril, a primeira marcha em defesa da liberdade feminina e contra o machismo que culpa a

mulher pelo estupro. As adesões se espalharam por Buenos Aires, Los Angeles, Chicago, Amsterdã, São Paulo, Recife, Fortaleza e Belo Horizonte, além das cerca de duas mil “vadias” e apoiadores que ganharam as ruas de Brasília no dia 18 de junho. Além de dar visibilidade a esse e outros temas feministas, a Marcha das Vadias resultou em quatro grupos de trabalho para dar continuidade às ações. Os grupos reúnem cerca de 100 mulheres no total, de 19 a 40 anos, que trabalham nos eixos de: Conhecimento e Tecnologia, para capacitação e fomento de divulgação de conteúdos, não só na Internet; Comunicação, que promove campanhas virtuais e alimenta e articula as contas nas Redes Sociais; Produção de Vídeo e Fotografia, que produz


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ensaios e mostras para conscientização sobre a igualdade de gênero; Ações de Conhecimento, que fortalece a pesquisa interna e articula futuras palestras e oficinas em escolas e universidades. As organizadoras afirmam que há a ideia de ultrapassar as Mídias Sociais: “estamos formando um movimento de base que perdure ao longo do tempo. Temos vários projetos, e essa é uma fase de implementação, de ir além da organização de um evento, que é mais fácil”, explica Leila Saraiva, 24 anos. Para Júlia Zamboni, 28 anos, a marcha agrega força e mais pessoas, mas é importante que elas permaneçam em ações contínuas. “O objetivo é fortalecer e empoderar as mulheres, com o tempo mais ações vão surgindo”, defende. O poder das redes Houve um tempo em que o espaço para as articulações e ativismo político eram praças, associações comunitárias, universidades, ONGs ou sindicatos. Hoje, quem está disposto a mobilizar pessoas para lutar por uma bandeira conta com o

poder “viral” das Mídias Sociais. As passeatas são divulgadas pelo Twitter, Facebook, Blogs e outros que reúnem milhares de pessoas de várias idades e classes sociais com uma causa em comum. É fato que os movimentos sociais brasileiros ganharam uma nova ferramenta: a internet. E ela é cada vez mais popular no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD), em 2005 os usuários somavam 32,1 milhões, já em 2009 esse número subiu para 63 milhões. Além do avanço no acesso à internet, cresce também a preferência do brasileiro pelas Mídias Sociais. Um estudo da Hitwise Brasil da Serasa Experian revelou que dos 10 sites mais acessados no Brasil, três são Mídias Sociais. De acordo com uma pesquisa encomendada pela CIASHOP à IBOPE Niesen Online, durante fevereiro de 2010, cerca de 31,7 milhões de brasileiros acessaram Mídias Sociais, como fóruns, blog e canais de relacionamento. Considerado todo o mês, eles permaneceram em média 4h28 nesses sites. Apesar desse crescimento, no DF, apenas 27,4%

POLÍTICA

dos brasilienses têm microcomputador em casa com acesso à internet. A internet é uma tendência crescente entre os brasileiros, e um instrumento forte para dar visibilidade a opiniões e alcançar resultados. Um exemplo disso aconteceu em abril deste ano. A Arezzo, marca de sapatos e bolsas, lançou uma coleção com pele de raposas e coelhos chamada “Pelemania”. A iniciativa gerou polêmica no Twitter. As hashtags #arezzo e #pelemania chegaram aos Trending Topics no microblog, ou seja, foi um dos dez assuntos mais comentados. A maioria dos internautas criticava a coleção ecologicamente incorreta. Devido à grande repercussão negativa, a empresa decidiu tirar os produtos de circulação. Para muitos pesquisadores, há uma tentativa de transformar as redes sociais em um instrumento de comunicação e mobilização social e política, como ocorreu nas revoluções sociais no Egito, na Espanha e em outros países. Marcelo Serpa, doutor em Comunicação e Cultura e especialista em Mídias Sociais e Eleição, concorda: “a internet é uma ferramenta muito especial

para a mobilização. A gente não sabe tudo o que pode fazer com a internet, mas temos certeza que a mobilização é umas das coisas que a gente faz bem feito na rede”. Serpa afirma que há algum tempo, poucos produziam para muitos e hoje há uma inversão desse processo. “Então, há efetivamente o processo de democratização da comunicação”, analisa. O professor de comunicação da UFRJ Muniz Sodré discorda. Para ele, os canais de sociabilidade, termo mais correto para Mídias Sociais, aumentaram o poder de circulação da informação, mas isso não significa, necessariamente, que se trata de uma ação política concreta: “As ‘Mídias Sociais’ são primeiramente mobilizadoras. Democracia se define depois. A internet é, no caso, o canal de mobilização. Tem força mobilizadora, mas o que define a natureza do movimento é a sua inserção na realidade social e política”. Para Sodré, um movimento só é social quando “dentro da lógica da representação, espelha ideologicamente as demandas de transformação por parte de um grupo determinado”.

Palavra de quem já foi Nádia Marques, 61 anos e Diego Marques, 19 anos, formam uma família ativa em passeatas, e estavam presentes na marcha contra a corrupção que aconteceu no dia 14 de outubro deste ano. A primeira vez que Diego participou de uma manifestação ele tinha apenas seis anos de idade. Era 1992, fala-se em “impeachment” do Presidente do Brasil. Nádia participou dos “caras-pintadas” e fez questão de levar o filho. E ambos concordam que a divulgação nas Mídias Sociais é melhor do que nas redes de comunicação tradicionais, pois a informação não sofre distorções. “Acredito que sem o Twitter e o Facebook a divulgação não teria sido satisfatória”, afirma Nádia. “Eu fiquei sabendo da passeata pelo Facebook. Quando passou na TV eu já estava sabendo e já tinha chamado um monte de amigos meus. Não acho certo a corrupção rolar solta e ninguém fazer nada”. Essas são as palavras de Leandro Silva, estudante de 18 anos, do qual o movimento contra a corrupção em Brasília foi a primeira participação dele em um protesto. Ele diz ter adorado participar, mas confessa que se sentiu um pouco perdido quando parou para pensar. “Eu sei que quero que a corrupção acabe no Brasil, mas como fazer isso? Eu não sei. Acho que depende de uma mudança cultural”, afirma. “O Facebook, pode ser uma forma de ejaculação precoce”, completa o professor.

Indignados, cidadãos saem da frente do computador e vão para as ruas: é a mobilização do século XXI

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SAÚDE

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exercícios

Prevenir ainda é o melhor remédio A prática de Ginástica Laboral em empresas pode evitar doenças funcionais Gabrielle Santelli, Maria Clara Oliveira e Samira Pádua

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ginástica laboral, antes chamada de “ginástica de pause”, teve início em ambientes industriais com a finalidade de fornecer aos operários momentos de repouso durante o trabalho. Ela começou na Polônia, em 1925, e se espalhou por países como Alemanha e Bélgica, “mas foi o governo japonês que consolidou a prática e a tornou obrigatória nas suas empresas nos anos 60”, conta Lúcio Salgado, chefe do Núcleo de Estilo de Vida Saudável do Sesi Brasília. O Japão regulamentou a atividade em 1928, e ela foi adotada por escolas e empresas como forma de descontração e de preservação da saúde. Em 1973, no Brasil, a Escola de Educação Física da Federação dos Estabelecimentos de Ensino de Novo Hamburgo (Feevale) foi a pioneira em ginástica laboral no país. O Serviço Social de Indústria - Sesi possui uma iniciativa voltada a empresas vinculadas ao Sistema Fibra e a trabalhadores do próprio Sistema, que reúne as indústrias do terceiro setor no Distrito Federal. Criado em 1978, o programa Ginástica na Empresa promoveu uma adaptação da ginástica laboral para a realidade dos trabalhadores de indústrias brasileiras, criando um conceito e uma metodologia que fosse adequada aos moradores deste país. Segundo Lúcio Salgado, essa adaptação não permite ao trabalhador participar apenas no local de trabalho: ela busca, ainda, “gerar oportunidade de conhecimento para mudança de estilos de vida e adoção de hábitos mais ativos e saudáveis, dentro e fora do local de trabalho”. Professor de Educação Física, pós-graduado em ergono-

mia - estudo das relações entre o homem e o ambiente de trabalho - e especializado em acessibilidade, Marcos Paulo Cassoni fornece serviços de ginástica laboral a empresas. Em Brasília desde 2010, criou o negócio a partir da iniciativa de sócios que vieram de São Paulo e viram na cidade potencial de mercado. A empresa oferece, além da ginástica laboral, que é o serviço mais procurado, fisioterapia, massagens e atividades complementares, como palestras e orientação postural. “A ergonomia, juntamente com a ginástica laboral e a acessibilidade, acrescida pelos demais produtos que a empresa oferece, ajuda a empresa a proporcionar aos funcionários uma melhoria no bem estar e, como consequência, maior produtividade”,

Infográfico: DIOliveira

explica Marcos. Segundo ele, a maioria das empresas de Brasília funciona em ambientes de escritório, onde as pessoas trabalham sentadas em frente a um computador. “Vemos a dificuldade em manter uma postura correta e móveis adequados. Como consequência, os colaboradores sentem dores nas costas, braços e pescoço”, relata. “Essas dores acarretam diminuição na produtividade, ambiente estressante e até mesmo doenças. Por este motivo, há o afastamento por um período parcial ou definitivo e, com isso, a empresa perde”, explica Cassoni. Bruno Guimarães é profissional de Educação Física e professor nas aulas de ginástica laboral da empresa em que trabalha com

1. Estique um braço para a frente. Com outro, segure a mão e a estique para cima e, após algum tempo, para baixo. Repita com o outro braço.

Nayra Daiana dos Santos, administradora e gestora de contas e clientes. Iniciado em 2010, o negócio surgiu a partir da ideia de mudar a forma como eram feitos os exercícios. Ao invés de fazer somente com alongamentos, a empresa optou por trabalhar de forma descontraída e motivadora, para que as aulas não venham a se tornar uma rotina. “Trabalhamos dinâmicas em grupo, alongamentos, momentos de relaxamento e exercícios que levam o colaborador a enxergar a necessidade e importância que 15 minutos podem fazer para sua saúde dentro do ambiente de trabalho”, informam o professor e a administradora. Para eles, o mercado está “amadurecendo” quanto aos benefícios que a ginástica

2. Segure a cabeça com uma das mãos e puxe para baixo. Repita com a outra mão.


SAÚDE

novembro 2011 laboral proporciona. “A busca por colaboradores mais ativos, dispostos, dinâmicos e envolvidos em ajudar empresas a conquistar suas metas é um fator importante, porque se tenho um colaborador satisfeito tenho resultados”, finalizam. O arquiteto Victor Martins já faz exercícios regularmente, mas acredita nas vantagens que a ginástica gera para os trabalhadores. “Traz benefício sim, principalmente porque a gente fica muito tempo sentado, aí esses cinco minutos de ginástica já trazem benefício. E os alongamentos ainda contribuem para relaxar a mente, além do corpo”. Praticar com moderação A principal vantagem da ginástica laboral é a prevenção de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORTs, como bursites e tendinites. Além disso, a atividade pode aliviar o estresse, reduzir a ansiedade, aumentar a motivação e concentração, assim como melhorar a circulação sanguínea, reduzir a fadiga visual, corporal e mental e melhorar a mobilidade das articulações. Apesar dessas vantagens causadas pelos alongamentos no trabalho, algumas pessoas devem ter cuidado na hora de fazer a ginástica. De acordo com o professor Marcos Paulo Cassoni, mulheres grávidas e quem já sofre com alguma dor precisa de alongamentos diferenciados, para

que os movimentos não corram o risco de prejudicar a saúde. “Nestes casos, cabe ao professor indicar exercícios específicos, mas nem por isso a pessoa deixa de fazer as aulas. Elas são rápidas e não exigem muito esforço físico, por isso até mesmo grávidas podem fazer, evitando algumas posições”, garante o professor. Segundo Lúcio Salgado, o necessário nesses casos “especiais” é que o profissional de ginástica laboral faça uma avaliação dos trabalhadores antes de começar a prática da atividade. A partir daí é que se definem os exercícios certos para essas pessoas – mas todas continuam fazendo a ginástica. “Por exemplo, se existe alguém com hérnia de disco, este aluno não será excluído do processo, mas terá uma atenção mais adequada com adaptação de exercícios. Todo o processo deve ser de inclusão e nunca de exclusão”, ressalta. Não resolve tudo A psicóloga especialista em ergonomia Regina Maciel não vê muitas vantagens na realização da atividade, pois há diferença entre a realização de exercícios físicos – andar, nadar, correr e academia – e a prática de ginástica laboral. “Primeiro, o fato de ser realizada no ambiente de trabalho pode causar constrangimentos. Segundo, o tempo é tão curto que as vantagens, se houverem, são mínimas. Terceiro, em geral, as

3. Dobre uma das pernas, segurando o tornozelo atrás do corpo, alongando a coxa. Repita com a outra perna.

pessoas no trabalho devem cumprir metas e isso as coloca em situação de estresse”, explica. Isaac Guimarães é um exemplo de pessoa que não gosta do exercício, pelo próprio local onde a atividade é praticada. Apesar de fazer alongamentos no grupo de teatro que frequenta, o estagiário não participa da ginástica laboral oferecida pela empresa onde trabalha: “no teatro as pessoas já estão preparadas pra isso; aqui, eu não me sinto à vontade de fazer”. A fisioterapeuta Kélia Conceição Paim, porém, tem opinião contrária à de Regina e afirma que “no momento em que você para, você está estressado e há muito tempo fazendo aquilo ali; você interrompe e vai fazer algo que a empresa está oferecendo para você. Eu como funcionária, posso garantir que isso traz resultado, se você aceita aquilo como algo bom para você”. Médica cardiologista, Viviane Oliveira afirma que a empresa não pode ser a única responsável por todo o estresse no trabalho: boa parte dele é causado pelos próprios funcionários no relacionamento interpessoal, que ocorre em “qualquer lugar onde existam muitas pessoas de diferentes personalidades reunidas”. Ainda segundo ela, somente a ginástica em local de trabalho “não é o suficiente para tornar um ambiente psicologicamente saudável, mas é um início. Demonstra alguma preocupação da instituição com o bem estar de seus funcionários”.

4. Coloque o braço atrás da cabeça, com o cotovelo apontado para o céu. Com a outra mão, segure o cotovelo e o empurre levemente para baixo. Repita com o outro braço.

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Essa preocupação da empresa é outro motivo para que Regina Maciel se declare contra a prática da ginástica laboral. “A empresa tem o maior interesse em investir e implantar a ginástica laboral, porque isso permite evitar as penalidades relacionadas à falta de cuidados com as condições e organização do trabalho, prejudiciais ao trabalhador”. A cardiologista ainda completa, afirmando que “se a empresa estiver realmente interessada no bem estar do trabalhador, ela deve modificar as condições de trabalho para evitar as situações de estresse”. Quero trabalhar com ginástica Segundo a massoterapeuta - especialista em Metodologia do Ensino e da Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer - Márcia Conrado, quem pretende trabalhar com ginástica laboral precisa ser formado em Educação Física e registrado no conselho regional desse curso (o Cref), além de fazer outros cursos complementares mais específicos. Ainda assim, Márcia – que é sócia de uma empresa que fornece professores de ginástica laboral, diz que “hoje no país, outros profissionais como Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional registrado no órgão competente, também podem atuar, sendo necessário ter conhecimento técnico, boa relação interpessoal, carisma, ser dinâmico e criativo”. Alongamentos na universidade Ligado à Pró-Reitoria de Extensão, a Universidade Católica de Brasília (UCB) possui o Projeto de Prevenção de DORT’s (PREVDORT). O projeto realiza ginástica laboral até três vezes por semana com os colaboradores da universidade. Para cumprir os 21 horários há ajuda de dois estagiários e 17 voluntários dos cursos de Fisioterapia e Educação Física. Cada seção de exercício dura cerca de vinte minutos. Segundo a gestora do programa e fisioterapeuta, Kélia Conceição Paim, os exercícios são direcionados ao tipo de atividade realizada pelo trabalhador. “Para um funcionário que fica muito tempo sentado é bom fazer exercício em pé. Para um funcionário que fica muito tempo em pé, eu posso desenvolver exercício com ele sentado”, afirma. Jardineiro, Antônio Martins trabalha há oito anos na instituição de ensino e conta que pratica a ginástica por meia hora, três vezes por semana. “Fico muito tempo agachado, pego vasos, essas coisas assim. Eu tinha uma grande dor no pescoço e, depois que eu passei a fazer a laboral, melhorou”. Questionado se durante os 30 minutos é possível esquecer um pouco o trabalho, ele responde: “não dá pra parar no trabalho, não. Às vezes, o encarregado fala: ‘na hora em que terminar, vai pra tal lugar’. Então, nem tem como você esquecer totalmente aquilo”, completa.


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SAÚDE

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bem-estar

Homem também se cuida Antes, os homens fugiam dos consultórios médicos. O costume ainda existe, mas vem mudando. Incentivos não faltam Gabriela Costa e Juciene de Souza

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Foto:Gabriela Costa

esquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) no dia 4 de novembro deste ano aponta que o comportamento preventivo da população em relação à própria saúde aumentou. O levantamento foi realizado em parceria com a Worldwide Independent Network of Market Research (WIN) e constatou que, levando em conta a população mundial, os números saltaram de 21% em 2010 para 30% em 2011. No Brasil essa proporção é mais generosa: foi de 32% em 2010 para 44%

Aos 50 anos, Osmar Veras pratica atividade física para cuidar da saúde

em 2011. É nessas mudanças que, aos poucos, se encaixa um comportamento esperado e extremamente necessário: o do homem cuidar do próprio bem-estar, no que diz respeito à prevenção e a tratamentos nos estabelecimentos de saúde. Um incentivo inédito foi o lançamento, em agosto de 2009, da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, programa do Ministério da Saúde que colocou o Brasil como o primeiro país na América Latina e o segundo no continente americano (Canadá veio antes) a elaborar uma política com tal intuito. O objetivo é de que pelo menos 2,5 milhões de homens com idade entre 20 e 59 procurem um serviço de saúde ao menos uma vez por ano. E, além de buscar mecanismos para melhorar a assistência oferecida à população masculina, a meta é promover uma mudança cultural. “Nos últimos sete anos, dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que houve crescimento principalmente na participação dos homens no planejamento familiar e nos exames de próstata”, informa Paula Rosa, assessora de comunicação do Ministério da Saúde. “Quer dizer, as cirurgias de vasectomia aumentaram 72% e os testes que detectam a atividade anormal da próstata passaram de um para três milhões no país”, completa. Ela também lembra que um grande empecilho, detectado pelos levantamentos promovidos pelo ministério, são os motivos culturais. Por conta deles, os homens ainda oferecem resistência a procurarem cuidados médicos e a terem atitudes preventivas com relação à saúde e que, quando procuram a atenção especializada, o problema já se encontra em estágio avançado. Masculinidade atingida De vez em quando há quem tenha uma ligeira impressão e levante as seguintes hipóteses: está sobrando mulher; pararam de nascer homens. De maneira geral, a primeira suposição é válida. Segundo o censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-

tística (IBGE), o número de mulheres já ultrapassa em quatro milhões os homens brasileiros. Mas se engana quem aposta na segunda. Conforme o mesmo censo, a cada 205 nascimentos, 105 são homens. No entanto, a grande diferença está justamente nas taxas de mortalidade na idade adulta, por volta dos 25 anos. A cada três adultos que morrem no Brasil, dois são homens. Eles vivem, em média, 7,6 anos a menos do que as mulheres e a violência urbana é um dos principais motivos para as taxas, mas está em terceiro lugar. Os brasileiros ainda perdem mais a vida para “causas naturais”. Em segundo lugar estão as doenças cerebrovasculares e, em primeiro, as doenças cardíacas. Além dessas “causas medalhistas” existe uma série de outros fatores que afeta o público alvo do Ministério da Saúde: os homens têm uma alimentação pior do que a das mulheres; 43% deles comem carnes com excesso de gordura, enquanto 24% delas se alimentam desta forma. Além disso, eles consomem mais álcool e cigarros, se envolvem mais em acidentes de trânsito e cultivam taxas de sobrepeso mais “generosas”. Interessado em estar longe dessas porcentagens desfavoráveis, o fisioterapeuta Carlos Bezerra, 24 anos, conta que desde cedo praticava atividades físicas, corria, treinava em um time de futebol e hoje se dedica à musculação: “a saúde é um bem precioso, tenho que cuidar. Mas o maior impedimento são as diversas atividades do dia, que nos consomem boa parte do tempo”, relata. “Passo o dia trabalhando e chego cansado. Hoje só me exercito quando consigo uma boa noite de sono, mas frequento academia”. Carlos diz já ter procurado um urologista apenas para uma consulta que, segundo ele, foi super natural. Ficou à vontade para fazer e responder perguntas. Fora isso, assume que só teria inte-

A saúde é um bem precioso, tenho que cuidar” CARLOS ARAÚJO, fisioterapeuta

resse em entrar em um consultório novamente, se fosse o de um nutricionista. Osmar Veras, 49 anos, é outro que se preocupa com a própria saúde. Este ano foi ao ortopedista devido a dores na coluna e procurou um fisioterapeuta para começar o tratamento. Por outro lado, já é vítima de uma doença crônica: a hipertensão. Os cuidados são redobrados. “Apesar disso pratico esportes desde a adolescência, quando fazia karatê. Hoje estou me dedicando à corrida de rua e ao ciclismo. Espero chegar aos 60 com esse pique”, conta. Ele confirma ir ao urologista todos os anos pela consciência de se cuidar e diz que lembra a primeira vez que foi ao consultório: “foi há uns dez anos. Estava com uma dor na bexiga. Acabei descobrindo que era apendicite e operei”, confessa. “Com o urologista mesmo foi um pouco constrangedor, não me senti à vontade. O médico percebeu, mas não havia outra saída a não ser realizar o exame. Hoje já até me acostumei”, brinca.


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COMPORTAMENTO

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namoro

Encontro às escuras

Sucesso no exterior, o speed dating chega a Brasília como uma opção moderna e cinematográfica para os solteiros Andressa Albuquerque e Thamyres Ferreira

calhado e só vai mulher feia’. Eles têm mil coisas na cabeça”. Segundo Karina Gomes Barbosa, professora da Universidade Católica de Brasília, e autora da tese “um amor desses de cinema - os amores nos filmes de amor hollywoodianos”, a busca por um relacionamento sério é, em sua maioria, feita por mulheres porque “os homens não pensam na esfera afetiva como a mulher é ensinada a pensar. A mulher aprende que, sem um companheiro, vai ser incompleta, que a felicidade só se dá por meio do amor, por meio dos filhos e casamento. Já o homem aprende que a felicidade está em um bom emprego e liberdade. O homem não pensa em relacionamento como a mulher pensa”. Karina ainda complementa que, “se hoje em dia, a gente está nessa rotina tão atribulada, que as pessoas não conseguem se conhecer direito, é natural que sejam as mulheres que procurem as novas formas de relacionamento, elas querem se relacionar mais, isso é cultural”. Eles e elas Meg Ryan*, 39 anos, soube do speed dating através das aulas de francês. “Quando fui me apresentar na sala de aula e dentro da apresentação disse o meu estado civil ‘solteira’, o professor me convidou a participar. Aí eu chamei a Shakira*, minha prima, pra vir comigo”. Shakira, que estava sentada, admitiu ter ido por curiosidade. Meg Ryan acredita que a dificuldade para viver um relacionamento sério é a falta de homens e pessoas interessantes que também queiram o mesmo. “Eles estão a fim de curtir, não querem algo sério. Quando se fala em namoro já

perdem um pouco o encanto. Querem o casual e como eu não curto o casual, fico sozinha. Pago o preço, né?!”. Alvim*, 34 anos, foi único homem que aceitou dar entrevista antes do encontro. Com sotaque carioca, conta que morou nos Estados Unidos e que conhecia o Speed Dating – mas aceitou mesmo participar para dar força aos organizadores. “Sinceramente, não espero encontrar alguém hoje. Caso aconteça, vou ficar surpreso. Não que as pessoas não possam ser interessantes, mas é difícil eu me interessar.” Alvim admite que não acredita na tática para encontrar uma namorada. No entanto, após as perguntas, ele brinca com as repórteres “Por que vocês duas não participam?” Minutos depois, ele ainda insiste: “O speed dating tem que começar com vocês”. * Nomes trocados a pedido dos personagens. Foto: Amanda Rodrigues

P

aredes com recortes de revistas em Brasília, que têm muitos grupos fechainternacionais, iluminação baixa e dos, e às vezes, você acaba conhecendo jarrinhos de porcelana com flores secas só as pessoas do seu grupo. Vai à balada e sob as mesas de madeira decoram o am- pode até encontrar alguém, mas, normalbiente rústico e agradável do Genaro Jazz mente, não quer nada sério, tem o barulho Burguer, na 114 norte. Naquele instante, e o povo bêbado. Têm casos de pessoas no subsolo, acontecem encontros entre que não gostam de sair e outras são ocusete homens e sete mulheres. Tradicional padas demais. E ainda os que são de fora nos Estados Unidos e Europa, o speed e vêm a Brasília por causa dos concursos dating (“encontro rápido”, na tradução li- (públicos)”, explica Fernanda. A empresáteral) é novidade na programação da noite ria afirma ainda que a ideia do speed dade Brasília. ting é, também, de fazer amizades. Abordado em filmes como “O Virgem de 40 Anos”, “Hitch, Conselheiro AmoComo funciona roso”, e nos seriados “Sex and the City” Cada participante recebe uma ficha em e “Gilmore Girls”, o speed dating é a op- que anota o apelido que está no “crachá” ção cinematográfica para os solteiros que da pessoa com a qual estiver conversanquerem viver um romance e experimentar do. Depois, marcam uma das três opções: a onda que faz sucesso no exterior. É um “vou”, “não vou” ou “só amizade”. Se os encontro às escuras (blind date, em in- dois marcarem “eu vou”, os dados serão glês), em que o casal não se conhece antes. são enviados por e-mail para o, quem sabe, Ao som de Frank Sinatra, Miles Da- futuro casal. Os participantes adotam covis, Ray Charles e brasileiros como Chico dinomes para evitar que sejam identificaBuarque e Vinícius de Moraes, os partici- dos e procurados em redes sociais, caso o pantes são recepcionados pela organiza- “não vou” também seja recíproco. dora dos encontros, Marina*, 26 Fernanda Espindola, anos, e as ami com um welcome gas Aninha* e Os homens drink – cortesia de Luciana*, amsão mais bebida que vai desde bas de 27 anos, preconceituosos a água ao vinho. A foram juntas dinâmica no subsopor curiosidae as mulheres lo consiste em uma “Foi legal, adoram novidades” de. conversa de sete miachei que fosse nutos. Quando soa o climão, mas foi FERNANDA ESPINDOLA, bem descontraalarme, as mulheres empresária continuam sentadas e ído, a conversa os homens fazem em soa bem natuuma espécie de “troca” até que todos se ral, nem dá tempo de perguntar alguma conheçam. coisa mais importante porque o primeiro Fernanda Espindola é a pioneira dos assunto fluiu”. Luciana afirma que gosencontros marcados em Brasília e não tou das pessoas, mas não se interessou sabia o que era speed dating até o namo- por ninguém. Já Aninha confessa, timidarado francês lhe explicar. Fernanda des- mente, que “se interessou mais ou menos cobriu que o encontro já existia em São por um”. Paulo já tinha e decidiu trazer para BraFernanda Espindola conta que a maior sília. Pelo site “Eu quero Speed Dating” procura é das mulheres, de todas as idades, são marcados os encontros entre pesso- e que os homens mais velhos têm mais as de faixa etária entre 25 e 50 anos. A medo de vir que os novos. “Os homens única exigência: que sejam solteiros. são mais preconceituosos e as mulheres “Hoje em dia reclamam que é difícil adoram novidades. Os homens pensam conhecer outras pessoas, principalmente ‘ai, meu Deus, vão achar que eu estou en-

Speed dating marca encontros entre solteiros de faixa etária de 25 a 50 anos


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COMPORTAMENTO

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balada

Foto: Victória Camara

Vamos para a segunda do frango?

Festa itinerante reúne jovens duas vezes por mês Patrícia Rodrigues e Victória Camara

H

á quem odeie segundas-feiras, mas tem um grupo de amigos que espera ansioso por esse dia. Tudo começou há dois anos, com uma galinhada entre amigos no primeiro dia útil da semana. O pequeno evento cresceu e virou uma das festas mais badaladas entre universitários de Taguatinga e redondezas. Intitulada Segunda do Frango, a festa acontece duas vezes por mês, sempre em locais diferentes, e tem um diferencial: cada um pode levar sua própria bebida. O Artefato foi conferir a edição da festa que aconteceu no dia 24 de outubro. Perto das 22h, uma enorme fila se formava do lado de fora da casa de show Dom Quichopp, em Águas Claras. Motivo: mulheres não pagam entrada até às 23h e homens pagam apenas R$10. Após esse horário, as moças desembolsam R$20 e os rapazes, R$40. Para as mulheres, vestidos curtíssimos e colados, saltos agulha de 10 cm, no mínimo. Para os homens, chapéus, cintos, botas de cowboy. Para todos, muita bebida. A fila anda rápido. Dentro de cinco minutos já estamos passando pela revista de seguranças. O local é amplo, tem cerca de 600 m² e acomoda 440 pessoas. Próximo ao bar, vemos algo curioso – um caldeirão com galinhada e várias tigelinhas. Duas garo-

tas com sombra preta nos olhos e batom Snob da M.A.C (cerca de R$ 30 a unidade) se servem da amarela e cheirosa galinhada. Rayane Ferreira, 19 anos, e Monaliza de Moura, 18 anos, nos informam que a galinhada é de graça e qualquer pessoa pode se servir quantas vezes desejar. Rayane é uma garota tímida de blusa vermelha xadrez, calça jeans e botas em tom marrom. Já sua amiga, Monaliza, não se veste de cowgirl, como grande parte das participantes da festa, mas logo dispara: “O que eu mais gosto nessa festa são os homens. Só tem cara gato!”. Na entrada da festa, os organizadores emprestam um balde para cada grupo de amigos. Assim, o manuseio de vodkas, whisky’s e gelo fica mais fácil. Mas sempre tem algum desavisado que não sabia que poderia levar a própria bebida. É o caso da servidora pública Alessandra Morena, 26 anos. “É a primeira vez que eu venho. Não sabia que tinha que trazer. Ninguém me avisou. Estou me sentindo uma burra!”. Para não ficar com a garganta seca durante toda a noite, Alessandra é obrigada a comprar bebida no bar da choperia que acolhe a festa naquele dia. Várias tabelas de preços estão espalhadas pelo local:

Latinha de cerveja- R$3,50 Long Neck- R$5,00 Chopp- R$5,00 Caneca- R$5,00 Combo: Vodka + 6 refrigerantes cítricos- R$80 Combo: Vodka + seis energéticos- R$90 Combo: Seis cervejas- R$17 De acordo com o vendedor e frequentador da festa Luiz Alberto, 25 anos, não compensa comprar bebida no local. “Gastei R$90 com toda essa bebida. Se tivesse que comprar aqui, com certeza pagaria mais de R$200”. Somos paradas a cada dois passos na área de fumantes. O pedido é o mesmo: “pode tirar uma foto nossa?”. Enquanto uma de nós fotografa os jovens que exalam cheiro de whisky, a outra repórter é chamada por um homem na parte interior da casa de shows. O rapaz é major Jaime, 32 anos, produtor de eventos e casado. Ele veio escondido da companheira: “falei para minha mulher que ia jogar bola e vim para a Segunda do Frango. Olha meu corpinho de quem joga bola”, brinca, ao apontar para a própria barriga. “Se ela souber [onde estou], me mata”.

Na hora de ir embora, nos encontramos na fila com Rodrigo Gianesini, 21 anos, técnico de informática. Diferente de Jaime, Rodrigo garante que sua namorada sabe que ele está na festa: “Ela não liga”. E ele não liga para a questão de a festa acontecer no início da semana. “Vou sair daqui direto para o trabalho”, diz Rodrigo. Partimos da festa à meia-noite. A fila do lado de fora dá voltas no quarteirão e a noite mal começou. As pessoas andam no meio da rua por falta de espaço nas calçadas. Motoristas econômicos improvisam estacionamentos, para não terem que desembolsar a bagatela de R$10. O outro lado da festa A noite foi marcante para as estudantes Ana Carolina Grierson e Fabyana Machado, mas o motivo não foi bom. As duas foram roubadas e ficaram sem seus respectivos celulares. Fabyana mostrou sua indignação na página oficial da festa no Facebook: “O povo não sabe curtir, tem que roubar também”, protestou. O estudante Rodrigo Fernandes participa desde as primeiras edições e confessa o descontentamento com a segurança: “hoje não confiamos na segurança do frango, pois está dando muita muvuca e pessoas que não se identificam com o evento. Elas se aproveitam para roubar e brigar... não me sinto mais tranquilo como me sentia antes”, desabafa. Duas pessoas vistoriam sacolas e coolers na entrada da festa no intuito de evitar acidentes. Não há empresa de segurança contratada. Mas o vilão das festas onde a bebida alcoólica é a principal atração são as garrafas de vidro: facilmente quebráveis, podem causar sérios prejuízos. Para o produtor de eventos Marcus Eduardo, 21 anos, realizar uma festa onde se pode levar a bebida é altamente perigoso e irregular. “É uma falha enorme, pois isto implicaria diretamente na segurança do evento, visto que o custeio iria aumentar de forma exorbitante, pois mesmo dentro do evento, este tipo de material é evitado ao máximo. Levando por este lado, o custo também com socorrista e com brigadista iria aumentar. Até para o profissional de segurança isto é um problema, pois a integridade dele também é de responsabilidade do evento”, afirma. De acordo com Marcus, o cálculo com a segurança é uma das primeiras coisas a entrar no planejamento. “Depende muito do tipo de evento, em geral a média de calculo é um segurança a cada 100 pessoas. Isto se for um evento em espaço aberto. Em um orçamento geral, a média de custo com segurança chega a ser 30% do orçamento do evento, vendo que a segurança externa também é parte do custo”, conclui o produtor. O realizador da festa, Júnior Lima, não quis falar com a equipe do Artefato sobre o assunto.


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CULTURA

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diversão

Luz, câmera e experimentação O cineasta Phillippe Barcinski esteve em Brasília para dar um curso de linguagem audiovisual aos estudantes da UCB e falou com o Artefato Gabrielle Santelli

O

carioca Philippe Barcinski, em seu primeiro curta-metragem, A Escada, produzido em 1996 durante o curso de cinema, foi reconhecido e premiado no Festival de Gramado e no Festival de Brasília, no mesmo ano. Hoje, aos 39 anos, o diretor e roteirista já possui mais de 60 premiações. Já dirigiu grandes estrelas dos palcos, novelas e telona, como o galã Rodrigo Santoro, Letícia Sabatella, Cássia Kiss, Leonardo Medeiros e Ângelo Antônio. Passando por cinema brasileiro, Barcinski fala ao Artefato sobre as experimentações e comemora o sucesso das filmagens de seu mais novo longa, Entre Vales e Montanhas. Phillippe, quando o seu interesse pelo cinema começou? Desde sempre. Eu não lembro de mim longe do audiovisual. O primeiro trabalho que fiz eu tinha 14 anos, como estagiário de direção no filme Leila Diniz, longa-metragem de Luis Carlos Lacerda. Era uma época em que o cinema brasileiro não era tão hype como hoje em dia. Jovens de 14 anos não se interessavam tanto pelo cinema. Não tinha tantos curtas e tantos filmes. Não tinha essa pegada pop de cinema brasileiro como temos hoje. Qual foi sua trajetória após essa primeira experiência com o cinema? Segui trabalhando. Peguei o final da Embrafilme, quando o cinema brasileiro deixou de existir. Acreditava que seria possível trabalhar de algum jeito. Cheguei a trabalhar num filme dos Trapalhões (A Princesa Xuxa e os Trapalhões). Também trabalhei em um telefilme francês. Acabei estudando dois anos de física na Pontifícia Católica do Rio de Janeiro. Além disso, meus pais se mudaram do Rio de Janeiro para São Paulo e eu não estava muito feliz na física. Em São Paulo, conheci a Universidade de São Paulo (USP) e fiz o curso de Cinema. Como não tinha mais cinema, comecei trabalhar na televisão e, em paralelo, fiz meus curtas, porque nessa época a cena do curta-metragem era muito forte. Qual é a importância da escolha da equipe de um filme? Olha, é fundamental. O último filme que eu fiz agora, que vai estrear ano que vem, Entre Vales e Montanhas, tem figuras chaves e uma equipe excepcional. O fotógrafo é o Walter Carvalho, que dispensa aposto. Ele fotografou Central do Brasil, Lavoura Arcaica e marcos da fotografia do cinema brasileiro. O Marcos Pedroso é o diretor de arte, e fez junto com o Walter o Madame Satã. Ele também fez Bicho de Sete Cabeças e é um diretor de arte excepcional. O roteiro, se a gente pode

considerar como equipe, eu escrevi com a minha esposa, Fabiana.

Foto: Narayane Carolline/Captura

E como anda o processo desse novo filme? Ele está filmado, montando e bem avançado. O filme trata da história de um cara que a vida está toda, aparentemente, estabelecida e, aos poucos, vai se desfazendo. Ele vai perder tudo que tem. Depois ele a constrói de outro jeito. Quando o personagem está nessa primeira fase, trabalha em uma empresa de análise de aterro sanitário privado e depois acaba parando no lixão. Esses dois momentos da vida deste homem são entrecortados, tem um quê de memória, fluxo de acontecimentos, que vai sendo montando na cabeça dele. Estou muito feliz com o filme. Quanto tempo de gravação? Foi bem apertado!, foi feito em cinco semanas. O filme foi filmado em três cidades, tinha cenas noturnas e diurnas. Entre os deslocamentos e viradas foram quase quatro semanas e pouco de filmagem. Bem apertado. Como era o clima dos bastidores das gravações? Foi ótimo, eu realmente tinha uma equipe excepcional. Era um filme em que eu forcei meus limites, uma direção um pouco diferente do que eu ia fazendo: menos controlador das situações. Foi um filme muito aberto, quanto à realidade e ao jeito que eu trabalhava, e mais fechado quanto ao meu planejamento. Então, foi ótimo. No meio do filme fiquei um tanto angustiado, mas é um processo natural. Você considera que já tem o seu próprio estilo? Considero que cada filme que eu faço é uma resposta em relação ao que eu fiz. Nos curtas, pouco a pouco fui definindo um estilo e um tipo de cinema, que tratava de questões mais comuns. O longa trata um pouco disso. O Não Por Acaso tem um jogo estético disso. Já Entre Vales e Montanhas é levado para uma direção mais libertária. Eu não vou dizer que não tenho um estilo, mas acho que tenho, com muita clareza, uma pesquisa. Quais são as principais dificuldades dos cineastas brasileiros? Antes não havia cinema, simplesmente. Hoje, temos 80 títulos por ano e não sei qual o número mais atualizado, mas é cerca de 14% do mercado, uma coisa excepcional. Por outro lado, está tudo em transformação. Existe uma busca meio desenfreada por público e o cinema de arte está com um pouco de dificuldade de se colocar. Talvez tenha menos gente

Philippe Barcinski começou a trabalhar na área audiovisual aos 14 anos, quando o cinema brasileiro não tinha uma “pegada pop”

tentando consumir filmes de arte. Também acho que ainda não existe um sistema de distribuição eficiente nessa transição para o digital. Para finalizar, quais são os seus planos futuros? Para o ano que vem é lançar Entre Vales e Montanhas. Depois disso, tenho algo embrionário, mas não dá para falar muito.

Filmografia: Entre Vales e Montanhas (2011) Não Por Acaso (2007) A Janela Aberta (2003) Palíndromo (2001) O Postal Branco (1999) A Grade (1997) A Escada (1996)


Um Natal sem muitas luzinhas

N

Patrick Saint Martin

esta edição, o Artefato entrevista uma personalidade um tanto quanto curiosa. Este cidadão mora no Polo Norte, que fica no Oceano Glacial Ártico. Pesquisa do IBGE aponta que mais da metade da população brasileira confunde Ártico com Antártica, que são penínsulas opostas. Para piorar, confundem Antártica com Antártida– mas neste caso não há problema; são sinônimos. Para confundir ainda mais, as pessoas acham que Antártica é uma marca de bebida, quando na verdade é Antárctica. Confundiu? Enfim, junto com ursos polares, pinguins e hobbits – mais conhecidos como duendes –, nosso entrevistado mora no lugar mais gelado do mundo. Gelado pra cacilda. Ele é gordo, barba grande e branca, roupas vermelhas, um rosto aparentemente simpático e ganha muita grana como garoto-propaganda da Coca-Cola. Sim, é o Papai Noel. Perto da véspera de natal, nada melhor que uma entrevista exclusiva e inédita. Existem curiosidades que somente nós, jornalistas, temos a vergonha (ou a falta dela) para perguntar. Ele aceitou nos encontrar, mas se recusou a revelar dados importantes como idade, peso e nome verdadeiro. Apenas de camisa e short curto, o “bom velhinho” recebeu este humilde repórter – que vestia dois casacos, duas blusas de mangas compridas, um suéter, duas calças jeans, três pares de meias e três gorros – na sacada de sua casa, que dava visão para a Aurora Boreal. Sentei numa cadeira esculpida de gelo, apesar do entrevistado ter oferecido seu colo. Minha entrevista havia começado. Logo, a aparência fofa desapareceu. Tranquilo, recebeu sem esboçar uma reação no rosto rechonchudo a notícia de que, segundo a Interpol, ele responde a cerca de 3.987.007.212 processos por invasão a domicílio. Isso trabalhando apenas um dia por ano. “Não chegou nada para mim. Nenhum oficial de Justiça me notificou.” Vale ressaltar que nenhum oficial do mundo se prontificou a entregar uma intimação ali. Falando em cartas, Papai Noel recebe bilhões delas a cada ano, com as crianças (e adultos com problemas psicológicos) querendo cada vez mais presentes. Carrinhos, bonecas, bicicletas, bombas atômicas. Bomba atômica? “Recebi uns anos atrás uma carta do então presidente dos

Ilustração: DiOliveira

ponto & vírgula

Perfil: Papai Noel

Estados Unidos, que queria acabar com um barbudo aí... Parece que ele conseguiu, né? Não tenho nada a ver com isso”, afirma, encabulado e já desgostando das perguntas. Para conseguir atender a tantas demandas nesta sociedade capitalista, ele me revelou, em off, que sua fábrica é composta de hobbits, digo, duendes chineses. A Mamãe Noel é outra incógnita. Enquanto entrevistávamos o “Noelzinho”, como é chamado em sua terra, percebo um vulto feminino, sexy, limpando a casa atrás de nós. Ele nega, me fuzilando com os olhos. “Não tenho tempo para isso (mulheres), me ocupo com outras coisas”, diz. Pergunto que “coisas” são essas. “Ir para cima e para baixo cansa”, responde. Se referindo às chaminés, é claro. O dia 25 de dezembro, para ele, é bastante corrido. Apesar disso, não deixa de fazer sua brincadeira de fim de ano favorita. “Adoro um amigo oculto. Mas de uns anos para cá os duendes não querem mais, inventam que eu roubo muito”, afirma, com cara de sapeca. Percebo que a pergunta o deixa nervoso. Papai rói as unhas, mania que deu origem ao famoso “Roo, roo, roo” (confundido com “Ho, ho, ho” [sic]) – que, de riso, não tem nada. Papai Noel não sorri. Estranhamente, a casa é pouco iluminada, meio sombria. Contradição com um dos marcos do Natal? Ele declara: “Odeio luz na minha cara, ainda mais se for colorida. Piscando então...”. Em compensação, Noel plantou centenas de pinheiros no quintal.

Exigência do Greenpeace para compensar a emissão de carbono da fábrica. Músicas natalinas? Nem pensar. Os hobbits duendes trabalham ao som de funk. Perguntado sobre sua rena mais famosa, Rudolf, Noel não contém as lágrimas. Pausa. Longos minutos de silêncio, choro e constrangimento do repórter. Emocionado, finalmente fala. Se lembra de um momento no passado que mudou sua vida. “Minha atividade preferida era caçar renas. Quando vi aquele nariz vermelho pela primeira vez, me arrependi para sempre”. Questionado sobre o nome do animal, após receber um lenço das minhas mãos, explica: “Dizem que sou parecido com o Gandalf, daquele filme do anel, então coloquei esse nome parecido”. Questionado sobre a diferença cronológica dos fatos, ele dispara: “Sou o Papai Noel, né!”. Mas fontes ligadas ao próprio (neste caso, um de seus duendes) – informam que Noel foi amigo de J. R. R. Tolkien, criador da série de livros que deu origem aos filmes da saga “O senhor dos anéis”. Rudolf ganhou este nome por conta de Gandalf, ou o mago barbudo amigo de Frodo ganhou sua aparência por causa de Noel? Nosso tempo de dez minutos com o Papai Noel termina. Não fosse pelo tempo de choro, renderia mais. Nem as revelações “bombásticas” pagam o frio tremendamente intenso para um diminuto tempo de entrevista. Despeço-me do homem mais procurado do mundo com um aperto de mão simbólico e sigo meu rumo: a redação do Artefato. Para muitos, a matéria mais importante da história. Para mim, o frio mais insuportável da minha vida. Conheci um Papai Noel ranzinza, trapaceiro e bastante sarcástico. Uma coisa é certa: o papai noel de shopping, ou melhor, todos eles, são mais simpáticos e divertidos. Apesar da sentada no colo. Obs: Vocês devem estar se perguntando como eu cheguei até lá, sendo que nem oficiais de justiça conseguem encontrar Noel. A resposta? Segredo. Sabem como é, né, jornalista nenhum expõe seus métodos, assim como mágicos não revelam seus truques. A não ser o Mister M, aquele... Ah, o repórter adora o Natal.


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