Artefato 5-6/2014

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Artefato De olhos bem abertos Cuidado na preparação de comidas japonesas é

segredo para clientela fixa de pequeno empresário no Gama p. 22 e 23 Locais do amor: casais de Brasília se aventuram para namorar p.16 e 17 Educação: competências não cognitivas melhoram desempenho escolar p.18 e 19 Lagoa azul: região paradisíaca em Formosa (GO) atrai os amantes da natureza p.10 e 11

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Artefato

Bafafá

Um tapinha não dói?

Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília

Guilherme Pesqueira

E lá no início dos anos 2000 a frase um tanto quanto sugestiva era proferida nos quatro cantos do Brasil. Com sentido diferente do atual, já era disseminada pelo esquecido Bonde do Tigrão. Hoje, não é o tal do tapinha de conotação sexual sugerido na canção, mas aquele de que crianças são vítimas. Este, sim, ficou em xeque e fez a população brasileira se perguntar: a tal da palmada para educar, de fato, educa? Com a seguinte justificativa “menores de 18 anos têm o direito de ‘serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante’”, foi aprovado na Câmara dos Deputados o projeto de lei que fala: de educativa, a palmada não tem nada. Os pais que na idade da pedra ainda vivem, ao se informar sobre o projeto, nada vão encontrar sobre a tal da lei da palmada, mas sim sobre “Menino Bernardo”. A lei

mudou de nome em homenagem à criança assassinada no Rio Grande do Sul. O pai e a madrasta são os principais suspeitos pela morte. Mas o assunto não se tornou centro das atenções pela tal da palmada, mas sim, graças a sua, a nossa ou talvez de ninguém, rainha dos baixinhos, Xuxa para os mais chegados. Na sessão de votação do projeto, ela foi agredida verbalmente pelo deputado Pastor Eurico do PSB-PE. Sim, aquela que há anos apresenta programas matinais infantis em que seu filho ou você mesmo, caro leitor, se pegou se divertindo (ou não) com aquelas brincadeiras que de divertidas não tinham nada. Mas espere aí, esta moça loira que é rainha dos pequenos já fez um filme bem adulto contracenando com um pequeno. O polêmico filme – chamado por alguns de pornô – foi feito na década de 80 e choca os conservadores de hoje. Xuxa com

seus 16 anos e a tal criança, com 12 na época, fazem nada mais nada menos que a famosa pornochanchada nacional. Em meados da década de 70 em meio à censura, o gênero no cinema veio para, digamos, deixar o cinema um tanto quanto ousado. Uma cena com o seio à mostra ali e outra encenação de sexo bem careta ali. Bem, foi isso que a Xuxa fez com Amor Estranho Amor, que teve nada mais nada menos que Tarcísio Meira e Vera Fischer no elenco. Está bom ou quer mais? Imaginando que a resposta fosse sim, lhes informo algo que poucos ou quase ninguém deve saber: que pornô, aquele escrachado mesmo, foi aquele que a criança inocente fez, mais precisamente um da produtora de filmes eróticos “Brasileirinhas”, em 2007. A questão central não é se o tal do tapinha dói ou não, se faz diferença ou não na educação, mas sim um problema ainda maior: o de acreditar que a imposição por meio da violência é o melhor caminho.

Carta do editor Nara Loreno

Em tempos de jornal loboratorial, todos nós estudantes de jornalismo temos a oportunidade de sentir a experiência da redação. As reuniões acontecem, as funções são estipuladas e as responsabilidades assumidas. Por vezes a pauta cai, a matéria empaca, somos cobrados e aprendemos com os erros. O Artefato mostra nesta edição a caminhada dos alunos rumo à reta final, agora com olhar diferente e mais apurado. Em busca de histórias, fatos e momentos o jornal ganha vida, e com 15 anos, recém-completos, esse

“adolescente” ajuda os alunos a amadurecerem e crescerem. Mais adiante nosso jornal seguirá crescendo e enfim chegará a idade adulta, mas o espírito jovem permanecerá com ajuda dos novos jornalistas que ainda aqui vão chegar. Nesta edição o leitor fará uma caminhada em um assunto que já é de longa data, a implantação do rádio digital: um mito ou realidade? Na educação veremos como a determinação no processo de aprendizagem é importante. Celebrando o dia dos namorados, nossos repórteres encontraram casais da capital que se aventuram em locais diferentes

para namorar. Ficaremos ainda mais atentos à alimentação com os riscos da má preparação de comidas orientais, na política a nova lei das boates conhecida como lei Kiss e os vários empecilhos que têm trazido aos empresários. Não deixamos de explorar as belas paisagens nos arredores de Brasília, como a Lagoa Azul, que vem atraindo os olhares de turistas. Desvelando-se sempre para levar o factual para o leitor, Artefato faz jus ao nome. O papel quente que tardou a chegar em nossas mãos agora pode ser sentido e o entusiasmo reaparece novamente na face de cada um de nós. O fluxo segue e pegamos firme novamente encerrando assim mais um ciclo. Boa leitura!

Ano 15, n. 3, maio de 2014 Reitor: Dr. Afonso Tanus Galvão Diretor da Escola de Negócios: Dr. Alexandre Kieling Coordenador do Curso de Comunicação Social: Dr. Luiz Carlos Assis Iasbeck Professoras responsáveis: Dra. Karina Gomes Barbosa e Me. Fernanda Vasques Orientação de fotografia: Me. Bernadete Brasiliense Monitor: Shizuo Alves Editor-chefe: Nara Loreno Editora de arte: Jéssica Lília Editora de fotografia: Faiara Assis Subeditores de fotografia: Isabella Coelho, Natália Roncador, Renata Albuquerque e Susanne Melo Editores de texto: Ana Karoline Lustosa e Ramíla Moura Editora web: Jéssica Paulino Diagramadores: Amanda Gonzaga e Jéssica Lília Repórteres: Adriana Braga, Gabrielle Ximenes, Marcelo Rosa, Paulo Melo, Priscila Suares, Rayssa Oliveira, Silvia Guerreiro, Thiago Baracho e Vinícius Remer Checadores: Guilherme Pesqueira e Joyce Oliveira Fotógrafos: Ana Karlla, Filipe Cardoso, Jéssica Pereira, Kamila Braga, Leonardo Resende, Marcela Luiza e Pedro Grigori Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Universidade Católica de Brasília EPCT QS 7 Lote 1, Bloco K, sala 212 Laboratório Digital Águas Claras, DF Fone: 3356-9098/9237 Email: artefato@ucb.br Site: pulsatil.com.br Facebook: facebook.com/artefatoucb Acervo: issuu.com/jornalartefato

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Cidades Serviço

Conforto e segurança que custam caro

Consumidores de shopping não são beneficiados com lei que isenta o cliente da taxa de estacionamento Faiara Assis

Um simples passeio ao shopping pode se tornar uma dor de cabeça. Questões como disponibilidade de vaga, sinalização adequada e pagar o tíquete sem ficar surpreendido com o valor passam na cabeça de motoristas que utilizam os serviços de estacionamentos particulares. Em 2011, o governador Agnelo Queiroz sancionou a lei distrital que previa tolerância nos estacionamentos de 60 minutos e caso o cliente consumisse algum produto dentro do shopping ficaria isento da taxa. A lei foi considerada inconstitucional e, desde então, liminares apresentadas por shoppings impedem sua aplicação. Após a publicação da medida no Diário Oficial do Distrito Federal, quatro shoppings conseguiram as liminares em menos de 24 horas: Park Shopping, Conjunto Nacional, Iguatemi e Brasília Shopping. Para Flávia Taiz, deixar o carro dentro do shopping além de confortável é seguro, porém ela considera abusivo o valor cobrado nos estacionamentos e afirma que a questão deve ser analisada. “Quando vou ao shopping, acho difícil encontrar vaga em estacionamentos públicos, e quando encontro, fica muito longe. Por muitas vezes volto, pois me recuso a pagar a taxa do estacionamento, cujo valor poderia ser empregado em um cinema, por exemplo. A dispensa de

Crédito: Ana Karlla

taxa seria um benefício merecido para o consumidor”, afirma. Conforme o Código de Defesa do Consumidor, são direitos básicos na prestação do serviço a proteção e segurança nos estacionamentos, mas mesmo assim ainda é comum encontrar placas e cartazes que retiram a responsabilidade dos estacionamentos em relação ao carro ou aos objetos deixados no interior dele. No caso de shoppings, como o Conjunto Nacional, quando o carro de um cliente sofre algum prejuízo no local, o segurança do estacionamento deve, primeiro, verificar as filmagens da câmera antes de qualquer providência. Mas as filmagens às vezes podem surpreender o cliente, como ocorreu com Bianca Reis quando saía do lugar. “Entrando no carro para ir embora percebi que a porta estava ralada na lateral. Nervosa, logo procurei o segurança que me levou até as filmagens. Elas mostraram a minha entrada no estacionamento já com a porta danificada”, conta. SOBRE A LEI A iniciativa da Lei Distrital 4.624 tem como critério a isenção da cobrança de estacionamentos em centros comerciais. A taxa seria cobrada apenas para o consumidor que não comprar nada. Para os clientes que consumissem produtos que ultrapassem mais de duas vezes o valor da taxa, o preço do estacio-

Clientes estacionam em áreas públicas para fugir das taxas nos estacionamentos privados

namento não seria cobrado. Outra alteração dessa mesma lei que beneficiaria o consumidor é o tempo máximo de uso do estacionamento que, atualmente, nos shoppings, varia entre 10 a 15 minutos, e passaria para uma hora. Enquanto uns torcem a favor outros se esforçam contra. Para o Presidente da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) Luis Fernando Veiga, a lei não é bem vista. “É mais uma tentativa frustrada de atingir os empresários e iludir a população”, afirma em entrevista ao Jornal da Cidade. Para Leonardo Andrade, representante da Abrasce, vale levar em consideração os custos dos serviços ofere-

cidos nos estacionamentos, que são gastos com colaboradores, impostos e segurança. A omissão na cobrança deste serviço implicaria em repassar os valores para as lojas que, por sua vez, repassariam ao consumidor. Enquanto a Lei Distrital 4.624, não entra em vigor, alguns clientes que gastam valores consideráveis no consumo de produtos e serviços dentro dos estabelecimentos se recusam a pagar taxa de estacionamento. Foi o caso de Farlei Rocha, que após comprar uma máquina de lavar no Taguatinga Shopping rejeitou pagar a taxa, que estava acima de R$30. O supervisor do estacionamento foi chamado e após

um longo diálogo a catraca foi liberada. Se o tíquete é polêmico, a segurança é um direito básico do consumidor, e deve estar disponível de forma clara e acessível. Ao estacionar o veículo o motorista deve receber um comprovante com data, hora, marca, modelo e placa do carro, assim como a informação com prazo de tolerância. Este comprovante é a relação contratual entre o consumidor e a empresa que a partir daquele momento será responsável por eventuais problemas ou ocorrências. Caso a empresa se omita em prestar estes serviços o cliente deve procurar o Procon nos postos de atendimento ou pelo telefone 151. 3

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Cidades Segurança

Lei Kiss e o novo desafio dos empresários Após incêndio em boate gaúcha, deputados aprovam projeto que renova as regras de prevenção a combate de incêndios e acidentes em casas noturnas Nara Loreno

Criada em 26 de dezemlizadas por faixas, a principal é o sistema de comanda, o que a comanda como forma de pabro e sancionada pelo govera que dá acesso ao clube, por gera diferentes opiniões quangamento. nador Tarso Genro (RS), a lei trás do ginásio. E os extintores to ao uso. “Acredito que seja Divina, Villa Mix, Play BraFotos: Filipe Cardoso complementar importante ter 14.376/2013 foi uma fiscalizafeita para admição mais rigonistrar as normas rosa nas boates de segurança, preda capital tamvenção e amparo bém. Quanto à contra incêndios comanda acho nas edificações e complicado não áreas de risco no ter, não consigo Rio Grande do imaginar outra Sul. Em resposta forma de conà tragédia da botrole de pagaate Kiss, em Santa mento”, conta Maria, a nova lei, a estudante de que é válida em Direito Tayane todo território gaúMartins. cho, deverá sofrer Já a Play alterações para Brasília que abrandar alguns não usa comanpontos considerada, assim como dos muito rigorona Club 904 sos. sul. “AcrediEm Brasília tamos que não e outras cidades é a forma mais do país a lei não rápida de atené valida, mas a dimento, porém redação do Arte- Entre uma das propostas, o projeto prevê a proibição das comandas em casas noturnas de todo o país é a mais segufato visitou algumas ra para o cliente e a baladas da capital para avaliar seguem os prazos informados casa”, ressalta o gerente. sília e América Rock Club. Todiversos itens de segurança pelos bombeiros nas verificaJá a administradora das as casas noturnas foram viobrigatórios em casas noturnas, ções de rotina”, relata o gerente Priscylla Sousa defende o uso sitadas e na questão de saídas como: saídas de emergência de produção da Play Brasília, de comandas. “Acho desnede emergência e sinalização bem localizadas, extintores de Igor Called. cessária a proibição, por que todas cumprem as regras. “As incêndio e locais que utilizam Três das quatro casas usam elas facilitam a vida do consusaídas de emergência são sina4 7junho_3edicao.indd 4

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midor e do proprietário. Pagar na hora causa tumulto também, nem todos consomem tudo de uma vez só. Deveriam colocar mais funcionários para atender longe da saída”, opinou, que aguardava na fila da casa. Por enquanto não há regulamentação nacional, mas o projeto com o mesmo intuito, da deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA), foi aprovado em abril pela Câmara e agora está no Senado. O projeto prevê, entre outras coisas, a proibição das comandas para pagar as contas de casas noturnas em todo o país. Na elaboração da proposta foi analisada uma das experiências relatadas pelos sobreviventes da tragédia na Boate Kiss. Como muitas pessoas ainda não haviam pagado as comandas de consumo de produtos, foram impedidas de sair da casa no início do incêndio. Após incêndio em boate, deputados aprovam projeto que renova lei de prevenção LEI KISS O Palácio Piratini proto- ção, a legislação tornou-se do Plano de Prevenção e ProteRELEMBRE O CASO colou, no Legislativo do Rio mais flexível por uma deci- ção Contra Incêndio (APPCI). O incêndio na boate Kiss matou 242 Grande do Sul, o projeto de lei são provisória do Tribunal Ao cobrir as modificações, o pessoas e feriu 116 em uma casa noturna complementar 84/2014, que de Justiça do Estado (TJE). governo estadual cede às presda cidade de Santa Maria, no Rio Grande determina as modificações na Em resposta a uma sões de empresas, associações do Sul. A tragédia ocorreu na madrugada norma do ano passado, conhe- Ação Direta de Incons- e proprietários de locais que do dia 27 de janeiro de 2013 e foi caucida como Lei Kiss. titucionalidade (ADIN) vinham considerando a nova sada pelo sinalizador acendido por um Como a proposta foi regis- proposta por 55 prefeitos, legislação exigente demais. Ao integrante de uma banda que se apresentrada em regime de urgência, o TJ concedeu liminar e sancionar a lei em dezembro tava na boate. A imprudência e as más nos próximos dias a lei poderá suspendeu o artigo que passado, o governador Tarso condições de segurança foram as culpareceber sugestões de emendas proibia a expedição de au- Genro barrou alguns itens. O das. A fatalidade foi considerada a segundos deputados estaduais. Com torizações e licenças pro- objetivo da reformulação é comda maior no Brasil em número de vítimas menos de cinco meses de vali- visórias e precárias pelos pletar o que foi deixado de lado em um incêndio, sendo também a quinta dade, e antes mesmo da vota- municípios sem o Alvará com os vetos. maior da história do país.

As saídas de emergência são sinalizadas por faixas, a principal é a que dá acesso ao clube, por trás do ginásio. E os extintores seguem os prazos informados pelos bombeiros nas verificações de rotina”, Igor Called, gerente de produção da Play Brasília

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Cidades Lazer

Trocar figurinhas, mania antiga nas bancas da capital

Completar o álbum até o início da Copa do Mundo virou obsessão entre os moradores de Brasília Fotos: Susanne Melo

Segundo a Panini, o Brasil é o país onde há mais colecionadores de figurinhas no mundo atualmente

Marcelo Rosa e Paulo Melo

A cada quatro anos o Brasil se mobiliza com a chegada da Copa do Mundo. Junto com ela, uma enxurrada de objetos são comercializados e distribuídos para aproveitar toda visibilidade que o evento traz. O álbum

de figurinhas é, sem dúvida, um dos maiores sucessos de vendas nesse conjunto. Há 44 anos, em 1970, ano em que a copa foi realizada no México, a Panini lançou o primeiro livro de adesivos colecionáveis.

Em 2014, a dois meses do início da competição, o álbum foi lançado. Custando R$ 5,90 a versão clássica e R$ 24,90 a versão deluxe, assim chamada pois possui capa dura. O álbum possui escalações, informações e

tabelas para serem completadas no decorrer dos jogos da Copa do Mundo, além dos 640 espaços em branco que devem ser colados com figurinhas. Seria esse então o intuito? Completar o álbum antes do início de tudo,

dia 12 de junho? Para a maioria dos colecionadores, sim. Em entrevista ao Artefato, a jornalista Isabela Melo contou que a ideia é exatamente essa. “Nós queremos ele repleto de figurinhas antes

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Adoro colecionar e tento completar todos os meus álbuns desde a Copa da Alemanha” Gabriel Campos, colecionador

do início, para que possamos preencher as tabelas e deixar o álbum, de fato, completo ao final da competição”. Segundo a Panini, o Brasil é hoje o país onde há mais colecionadores de figurinhas no mundo. A fábrica em Tamboré, na grande São Paulo, imprime 40 milhões de figurinhas diariamente e a agência de notícias Reuters informou que a empresa espera alcançar o número de 8 milhões de colecionadores. Um dos maiores prazeres de quem coleciona é o troca-troca. O jovem Gabriel Campos contou que ama o passatempo, e discorda de quem fala que é coisa de criança. “Não é coisa de criança, é só uma coisa para quem tem um interesse maior em determinado assunto. Adoro colecionar e tento completar todos os meus álbuns desde a Copa da Alemanha”.

TROCAS Em Brasília existem diversos pontos de troca. As bancas espalhadas pela cidade vivem lotadas e alguns locais se especializaram e ficaram famosos por realizar essa prática na capital. Fomos a um dos pontos mais movimentados de Brasília, a Banca do Britto, na Asa Norte, e conversamos com o dono. Ele contou que o local começou a virar ponto de troca durante a Copa de 98. Quando questionado sobre o número de pessoas que passam pela banca no sábado, dia de maior movimento, Britto respondeu com brilho nos olhos: “Da primeira árvore da quadra até o último cone que tem no bloco A, fica tudo lotado. Em um sábado um PM me falou que havia 1.800 pessoas aqui”. O Detran já foi algumas vezes ao local para tentar solucionar o trânsi-

to, que fica um caos com tantos carros na entrada da quadra. “É difícil controlar tanta gente.” Britto da banca, como ele prefere ser chamado, também destacou o aumento no lucro nos meses que antecedem a Copa.

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pode se tornar uma obsessão e um perigo do ponto de vista psicológico. Casos curiosos já ocorreram devido à ansiedade em completar o álbum. Alguns inclusive mais graves, como um assalto sofrido pelo dono da banca da 106 norte. Em 30 de março, Lucas Antônio Rodrigues, estudante de educação física de São Paulo, completou o álbum em apenas oito horas. Ele conseguiu a proeza antes mesmo do lançamento, quando ganhou o álbum de uma banca de sua cidade que o ofereceu como cortesia. Isso só foi possível graças a um investimento de R$ 1000 por parte do jovem. Lembrando que cada pacote com 5 figurinhas custa R$ 1, R$ 0,25 mais caro que na copa anterior. Em outro caso, um professor foi acusado de rou-

Total de figurinhas para completar o álbum “Esse é o período que a banca lucra mais, sem dúvida. Dessa vez acho que pelo fato de a copa estar sendo realizada aqui, em vez de duplicar, triplicamos nossos lucros”. ALERTA O álbum, no entanto,

bar figurinhas dos próprios alunos em sala de aula em Bucaramanga, na Colômbia. A Panini também informou que durante o período de vendas um de seus caminhões foi saqueado e roubado com centenas de figurinhas. Para a psicóloga Márcia Lúcia, colecionar é valido e saudável. “É natural, as pessoas têm tendência de colecionar e isso é muito bom.” Porém, ela alerta que o perigo psicológico existe e pode vir aliado a essa prática: “Quando se torna uma compulsão e uma acumulação, sai do lazer e vira um objetivo é extremamente preocupante. Temos que tomar cuidado com isso”. Apesar do alerta, não custa lembrar que colecionar figurinhas é uma brincadeira como outra qualquer. O espírito deve ser o de se divertir e compartilhar novas experiências.

Confira os principais pontos do troca-troca dos colecionadores em Brasília: - Praça central do Terraço Shopping - durante o almoço - Banca do Britto - 106 norte, a partir das 9h - Revistaria Magazine em Águas Claras - Av. Castanheiras QD103, bl A, Lt 920 loja 8, o dia todo - Banca da 407 sul, a partir das 9h - Comércio Local do Sudoeste (CSLW) - Banca da 316 norte, a partir das 9h 7 7junho_3edicao.indd 7

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Esporte Crossfit

O extremo da forma

A alta performance dos praticantes e a filosofia extremista chama atenção e arrebata milhares de seguidores em todo o mundo

Rayssa Oliveira

“O CrossFit vai transformar seu corpo, vai transformar sua vida de jeitos que você não pode nem imaginar”, conta a aluna Cláudia Pareda, praticante há dois anos. Bem vindo ao CrossFit, um treino extremo que explodiu em popularidade nos últimos anos. Originalmente usado por militares, foi criado em 1995 na Califórnia e promete ser um treinamento pra tudo, de uma corrida de 5km a um combate de guerra. O programa mistura levantamento de peso olímpico, ginástica e alguns exercícios peculiares como subir na corda. As séries são curtas, intensas e mudam constantemente. “Não são nada como a longa e monótona academia”, compara Cláudia. É geralmente praticado em grandes galpões, sem espelho, onde diversos aparelhos e obstáculos são espalhados criando um ‘clima de guerra’. Segundo o instrutor Marcos Tavares, o objetivo é fazer o aluno superar os limites. “Tudo é feito de forma que a pessoa se sinta desafiada, aqui não tem música eletrônica pra animar, só os gritos e os gemidos de dor, mas quando termina uma série o sentimento é de satisfação e superação”, explica. E o CrossFit está em todo lugar. Numa academia em Taguatinga um grupo de participantes, que ia de um garoto de boné a um senhor de meia idade, executam uma série de exercícios, pulam corda em extrema velocidade, fazem barras com peso

Crédito: Rayssa Oliveira

nos calcanhares e jogam pesadas bolas contra a parede. “Vamos lá! Empurra!”, gritava o instrutor enquanto caminhava pelo galpão. Depois de 20 minutos, o grupo cambaleia e faz uma pausa, o exercício está completo. Muitos deitam no chão, suados e completamente exaustos. Durante o treino os participantes executam o WOD, workout of the day (treino do dia), que são curiosamente batizados com nomes de soldados americanos como o “Murph”, em honra do soldado Michael Murphy, morto no Afeganistão, que consiste em uma sequência de 20 flexões, 30 agachamentos e 40 polichinelos. Além dos soldados os treinos também recebem nomes de mulheres, como “Barbara” ou o temido “Linda”, famoso por ser um dos mais intensos. O treinador Fernando Couto explica que é tradição dar nomes femininos aos treinos, principalmente os mais pesados e difíceis. “Isso veio desde a criação do Cross. É porque qualquer coisa que depois de alguns minutos te deixa deitado de costas totalmente incapacitado e sem força alguma no corpo mas mesmo assim você ainda quer mais, merece um nome desses”, conta. RISCOS Mesmo se tornando popular nas academias, o CrossFit é cercado de controvérsias e críticas. O especialista em lesões esportivas Eduardo Savazo explica que por cau-

Objetivo das atividades no CrossFit é permitir que o aluno consiga superar os limites físicos

sa da intensidade e velocidade dos exercícios há sério risco de fratura muscular e luxações. “O objetivo desses treinos é levar a pessoa ao limite da exaustão física. A longo prazo, isso pode causar diversas lesões. O aumento da pressão sanguínea e dos batimentos cardíacos durante os exercícios pode até matar uma pessoa”, afirma. Até hoje, nenhum acidente fatal foi registrado durante a prática da atividade, mas o famoso mascote do CrossFit, o “Pukie the Clown” (Vômito, o Palhaço, em tradução livre), mostra que vômito, tontura, e perda de ar são comuns e até louvadas, como sinal de superação. Especialistas alertam também para o risco de executar os treinos sem um treinador capacitado. “Querem sempre se superar, mas é pre-

ciso saber até onde o corpo aguenta, se a pessoa souber quando parar os riscos diminuem, é tudo uma questão de saber seus limites”, conta a educadora física Amanda Fernandes. Outra característica do CrossFit é a intensa devoção dos que praticam. Os adeptos compartilham vídeos e dietas constantemente. Por causa da adrenalina que é liberada durante os treinos, quem pratica afirma que ele se torna altamente viciante. Antonio Perez, praticante há nove meses, conta que, pra ele, a diferença do Cross pras academias regulares é o companheirismo. “Na academia é cada um com a sua série, com os fones de ouvido, treinando individualmente, aqui todo mundo faz tudo junto, a gente se torna uma família, cada um ajudando o

outro a ir mais além.” O número de pessoas aderindo à modalidade cresce cada vez mais, só em Brasília há cerca de 25 academias especializadas. O preço também é extremo, um mês de matrícula com 1h/ aula todos os dias custa em média R$ 300. Mas os resultados prometem fazer valer o investimento. Segundo o professor de Educação Física e diretor de uma das academias em Brasília Augusto Maciel, um aluno iniciante, seguindo uma dieta de proteínas, perde em média 5kg por mês, além de aumentar o condicionamento físico e ganho de massa muscular. “Os resultados são realmente muito rápidos, por isso houve um grande aumento na demanda desde que o Cross chegou aqui no Brasil”, garante Maciel.

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Turismo Acomodações

Crédito: Marcela Luíza

Copa do Mundo: investimento sem retorno Setor Hoteleiro esperava receber mais turistas durante o período dos jogos da Copa Amanda Gonzaga e Jéssica Lília

A menos de dois meses para a Copa do Mundo, Brasília ainda não preparou a decoração verde e amarela da cidade. O Estádio Nacional Mané Garrinha será sede de sete jogos, mas apesar da grande quantidade de disputas no gramado, a capital não entrou no clima da Copa. Segundo Milena Machado, dona de uma agência de viagens, os setores Hoteleiros Sul e Norte de Brasília ainda não tiveram grande procura para os meses de junho e julho. Para guiar os turistas, o site da Fifa criou uma área de serviço para quem deseja obter mais informações sobre as acomodações. Ao todo, a confederação organizadora da competição destacou nove empresas, que, segundo as descrições do site, foram escolhidas levando em conta a distância até o Estádio Nacional e Aeroporto Internacional Juscelino Kubitscheck e também a quantidade de estrelas. O Artefato simulou a estadia entre os dias 22 a 24 de junho, período em que a seleção brasileira disputa contra a Seleção do Camarões aqui. Nos nove hotéis consultados, todos possuem vagas para as datas escolhidas. Os preços variam entre R$ 1.112 (acomodação com 4 estrelas; 11 km até o estádio) e podem chegar até R$ 5.078 em hotel 5 estrelas que fica a 9 km do local dos jogos. Segundo a Associação Brasileira de Indústrias e Hotéis (ABIH), os preços para o setor hoteleiro foram estipulados em 2007, quando o país foi escolhido para receber a Copa do Mundo. Além dos nove hotéis “padrão Fifa”, o Artefato também visitou outras 7

acomodações no Setor Hoteleiro Norte e Sul e encontrou funcionários “sem grandes expectativas” para o torneio. Fernando* trabalha há sete anos na recepção de um dos hotéis da região e relatou que apenas os locais que vão hospedar as delegações vão lucrar. “A gerência esperava estar com mais de 50% das reservas preenchidas em abril, mas o número ainda não passou dos 35%,” revelou. Mariana* trabalha como camareira no Setor Hoteleiro Sul e explicou que a baixa procura de reservas é resultado da imagem negativa que os turistas tiveram das manifestações durante a Copa das Confederações. “No hotel, todos comentam que os protestos assustaram os turistas que pretendiam visitar o país”, disse. SEM PREPARO Em estudo divulgado pelo Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), os quartos reservados para o período da Copa nas cidades-sedes não ultrapassam 50%. Pedro Alencar é gerente de um dos hotéis que receberá os turistas e destaca que a cidade não está preparada para o evento mundial. “Brasília ainda não é a primeira opção dos turistas. O Setor Hoteleiro não se prepara porque já sabe disso. Os próprios moradores não estão com grandes expectativas para o evento”, desabafa. A reportagem do Artefato entrou em contato com mais nove hotéis selecionados para receber os turistas para a Copa, mas não conseguiu resposta até o fechamento da matéria.

A busca por acomodações em hotéis não ultrapassou 50%do esperado

Conheça os hotéis selecionados pelo site da Fifa: - Royal Tulip Brasília Alvorada

- Naoum Brasília Plaza Hotel - Comfort Suítes Brasília - Kubitschek Plaza Hotel - Metropolitan Flat - Mercure Brasília Líder - Golden Tulip Brasília Alvorada - Brasília Palace Hotel - Brasil 21 Suítes

Para saber mais sobre as acomodações acesse: http://hotels.fifa.com/

*Nomes fictícios 9

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Turismo Fotos: Gabrielle Ximenes

Próximo à Formosa - GO, Lagoa Azul fica em uma propriedade privada, porém, o local é aberto ao público e oferece beleza natural aos visitantes

Lazer

Brasilienses exploram ecoturismo goiano Lagoa Azul se tornou um dos principais atrativos paradisíacos dos amantes da natureza Gabrielle Ximenes

Em busca de mais opções para a prática do turismo ecológico, os brasilienses estão se deslocando para os arredores de Brasília e explorando lugares antes guardados a sete chaves. Esse é o caso da Lagoa Azul ou Urucuia, que fica a

102 km de Brasília e a 34 km do Distrito de Bezerra, em Formosa (GO). O fundo da lagoa é formado por uma rocha calcária, responsável pela coloração azulada da água, que é o grande atrativo do local. Apesar dos 9 metros de pro-

fundidade, é possível enxergar com nitidez o fundo. A lagoa tem aproximadamente 15x10m e é resultado de um reservatório de água subterrânea que se forma a partir da infiltração da água da chuva no solo. Ela dá origem à nascente do

Rio Salobinho, que se encontra com o Rio Bonito e com o Rio Urucuia, afluente do Rio São Francisco. A Lagoa Azul fica localizada em uma propriedade particular, mas nenhum dos moradores e vizinhos soube informar quem é o proprie-

tário. Para se ter acesso ao local é preciso passar por uma cerca na entrada. PRESERVAÇÃO Não existe um plano de manejo ambiental para a preservação da lagoa. Por se tratar de uma nascente,

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na qual a visitação aumentou consideravelmente nos últimos anos, o manejo seria uma estratégia utilizada na busca da conservação dos recursos naturais e da sustentabilidade ambiental, econômica e social. A preservação é o que mais importa aos moradores dos arredores, que evitam informar a localização da lagoa como forma de protegê-la. Joaquim Gomes, 54 anos, morador do Distrito de Bezerra (GO), diz que “antes, ninguém informava o local, era um segredo só dos moradores da região. Hoje é grande a visitação, tentamos ajudar a preservar, colhendo os lixos que deixam, mas acredito que a conscientização tem de ser por parte de todos que frequentam”. ECOTURISMO Brasília está localizada em um planalto onde, ao redor, nascem as águas que formam todas as grandes bacias hidrográficas brasileiras, exceto a Amazônica. Sem praias, o Distrito Federal dispõe de cachoeiras, córregos, rios, lagos e lagoas que despertam o interesse de muitos no ecoturismo da região. A diversidade de paisagens do Cerrado presente na região favorece a prática do turismo ecológico como opção de lazer. Dois dos principais parques nacionais do Brasil se encontram nas proximidades, como a Chapada dos Veadeiros e o Parque Nacional

das Emas. Há ainda a presença de parques estaduais, como o da Serra de Caldas, Serra Dourada e dos Pireneus. Além dos locais mais procurados pelos amantes do ecoturismo, existe uma parte dos adeptos que prefere lugares menos populares em busca de identificação e experiências únicas. Maria Clara Frazão, 28 anos, formada em Ciências Ambientais, explica que toda visitação deve ser feita de modo sustentável, se não deixa de ser ecoturismo. Sobre a curiosidade de ir a locais como a Lagoa Azul, no qual já fez visitação, ela diz que “o que nos motiva a descobrir lugares cada vez menos frequentados é a experiência única que podem nos proporcionar. Quanto menos tocado pelo homem, maior é a integração”. COMO CHEGAR Passando por Formosa e chegando ao Distrito de Bezerra, logo no início, em frente ao posto policial, entre na rua do Armazém Goiano. Marque 30 km de estrada de terra, passando por três pontes. Seguindo mais sete km você vai estar no meio de uma pequena mata. Do lado direito existe uma cerca de arame liso. Para se ter acesso ao local é preciso passar por essa cerca na entrada e seguir por uma trilha com sinais de que várias pessoas passaram por ali. Não precisa de nenhum tipo de autorização.

Antes, ninguém informava o local, era um segredo só dos moradores da região” Joaquim Gomes, morador do Distrito de Bezerra (GO)

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Fotorreportagem Fotos: Joyce Oliveira

Vai ter Copa sim Joyce Oliveira

A menos de um mês para a realização da Copa do Mundo, as decorações, que já foram tradição nas ruas do Distrito Federal, andam a passos lentos. Em meio a tantos protestos e insatisfações com os gastos e investimentos na Copa do Mundo 2014, a casa não parece estar pronta, mas ainda existem pessoas animadas e dispostas a vestirem a camisa e pintar as ruas. O verde e amarelo, ainda que singelo, já começa a aparecer. 12 7junho_3edicao.indd 12

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15 Anos Debate

Rádio digital: realidade ou mito? Crédito: Leonardo Resende

Se arrastando desde 2009, discussões sobre a implantação da tecnologia no Brasil ainda têm futuro incerto

Renato Souza trabalha na rádio comunitária Utopia e acredita que as rádios comunitárias terão dificuldade em adquirir os equipamentos

Guilherme Pesqueira e Priscila Suares

Por meio de debates públicos, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados têm sido palco de discussões acerca da implantação da rádio digital no Brasil. O projeto que teve início ainda em 2009 não passa de promessa e apesar dos anos, ainda não há previsão de implantação.

Em 2009 a equipe do Artefato, composta pelas repórteres Bárbara Lima e Natália Monteiro, trouxe para debate a chegada da rádio digital no país. A chegada já era dada como certa naquele mesmo ano. Entretanto, na prática não aconteceu. Na época, o modelo que

seria utilizado era o In Band On Channel (IBOC). A estimativa era que em 10 anos a inserção estaria completa, segundo o texto de Bárbara e Natália. De acordo com o engenheiro de comunicações André Felipe Seixas, da Associação Brasileira de Rádio e

Televisão (Abratel), o atraso ocorreu devido aos resultados dos primeiros testes realizados, que não alcançaram as expectativas. Segundo ele, não havia como comparar os dois padrões europeu e americano, testados diretamente. “O resultado foi pior do que esperado”, esclarece.

A Abratel é integrante do Conselho Consultivo de Rádio Digital (CCRD), que foi criado em 2012, e tem representantes da União, de associações de radiodifusores e de segmentos da indústria ligados ao setor. O órgão tem participado de diversas reuniões sobre o futuro do

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O preço dos equipamentos para transmissão digital está distante da realidade da maioria das emissoras” Renato Souza, estudante

rádio pelo Brasil, de acordo com André Felipe. A Abratel tem promovido audiências públicas em Florianópolis e no Rio de Janeiro para debater o tema. Nessas discussões têm sido acompanhados os processos de avanços e implantações em outros países. O QUE MUDA? Para André Felipe, a tecnologia de rádio digital permitirá ao usuário ter uma qualidade de áudio superior à que é oferecida pelo modelo analógico. Uma emissora AM teria qualidade do áudio próxima à de um CD. Nas faixas FM, as emissoras poderiam oferecer maior variedade de conteúdo por meio da multiprogramação, além da recepção de dados. “São vantagens que, associadas a um modelo de exploração mais moderno, iriam mudar a maneira de se ouvir rádio”, explica. Para a professora da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) Né-

lia Del Bianco, as vantagens de implantar o sistema digital de rádio são inúmeras. “Sem dúvida, o rádio digital continua oferecendo boa oportunidade para a melhoria na qualidade do áudio, oferta de serviços de dados, redução de gastos com energia (Full Digital), manutenção da área de cobertura analógica e uso mais eficiente do espectro,” relata no artigo Atuação do Conselho Consultivo do Rádio Digital: em busca de um formato de digitalização adequado à realidade brasileira. Existem dois modelos tecnológicos que estão sendo discutidos atualmente para serem utilizados no Brasil: o americano (HD Rádio) e o europeu (DRM). Segundo André Felipe, o modelo americano é um sistema proprietário e fechado, o qual uma empresa no Brasil detém a licença de exploração. Já o modelo europeu é aberto, comparável ao Linux, siste-

ma operacional de computadores construído colaborativamente. “Ambos permitem a digitalização na mesma faixa, sendo que o DRM é o único que, até o momento, permite a digitalização de ondas curtas”, afirma. O estudante de jornalismo Renato Souza, 21 anos, trabalha na rádio comunitária Utopia, localizada em Planaltina (DF). Ele acredita que embora a tecnologia vá contribuir com a qualidade do sinal das rádios comunitárias, as emissoras que possuem maiores recursos terão maior facilidade em adquirir o equipamento para entrar no novo modelo de transmissão. “O preço dos equipamentos para transmissão digital está distante da realidade da maioria das emissoras”, pondera. Segundo Renato, há uma comissão representada pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e algumas rádios comunitárias para pressionar o governo a criar um programa de financiamento para que o rádio digital chegue às emissoras comunitárias.

MEMÓRIA

Uma das repórteres da edição de 2009 do Artefato, a jornalista Bárbara Lima, que abordou a implantação da rádio digital em parceria com outra estudante, Natalia Monteiro, diz que a pedido da editora elas deveriam fazer um texto sobre os vieses da época relacionados às novas tecnologias do rádio, e quais os impactos que isso traria à área de comunicação. “Discutimos sobre como tratar, como ficaria o campo de trabalho para os jornalistas na era da rádio digital”, relembra. A jornalista destaca o quanto a tecnologia da rádio evoluiu, pois atualmente, por exemplo, há possibilidade de baixar os aplicativos das emissoras e interagir com as redes sociais. “Não importa o quanto a tecnologia evolua, o rádio sempre será o veículo de comunicação mais rápido, e a modernidade só possibilitou a aproximação com público”, afirma a ex-aluna. A equipe do Artefato tentou entrar em contato com o Ministério das Comunicações para esclarecimentos, mas até o fechamento desta matéria não tivemos resposta.

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Comportamento Locais do amor

Namorar em Brasília

Casais da capital se aventuram em locais diversos para namorar Crédito: Jéssica Pereira

Ponte dos cadeados do amor no Parque da Cidade é inspirada na Pont des Art, em Paris

Adriana Braga e Ramíla Moura

Em uma viagem pela Europa há três anos, a funcionária pública Graziella Bom, 30 anos, mostrou fotos sobre pontes com cadeados em Paris para o então namorado, Gustavo Carvalho, 44 anos, também funcionário público. Assim que Graziella voltou de viagem o namorado providenciou o cadeado. “Passando pelo Parque da Cidade, vi essa ponte e falei: ‘Poxa essa aí ia ser uma boa ideia! A gente colocar o cadeado também e ver o que vai dar’. Quando ela voltou da viagem eu produzi o cadeado, mandei gravar nossos nomes e o ano que gente estava vivendo,” conta Gustavo. O casal foi o primeiro a trancar

o cadeado no alambrado da ponte do Parque da Cidade que fica sobre o lago. A ponte, hoje com três anos, se tornou o point dos casais apaixonados em Brasília. Gustavo não imaginava que a ponte brasiliense iria ter tantos cadeados em tão pouco tempo. “A gente não tinha ideia da repercussão que ia ter, cada semana que eu passava na ponte a progressão era geométrica, tinham 2, 4, 8, 200 e tomou uma dimensão muito legal, maior inclusive do que a gente imaginava.” Hoje a ponte conta com 191 cadeados do lado vermelho e 95 do lado azul e alguns já foram retirados por ação de vândalos.

A ponte em Paris que inspira essa romântica tradição é a “Pont des Art”. Nesse local são colocados cadeados personalizados com nome do casal e data do relacionamento em sinal de aliança com parceiro. Após o ritual, o casal joga a chave fora como forma de amor eterno, inquebrável. UM LUGAR, UM AMOR “Aqui ou noutro lugar, que pode ser feio ou bonito, se nós estivermos juntos haverá um céu azul”, canta Djavan. O cantor declama na canção Um Amor Puro que não importa o lugar, se

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estiver com o amor basta. Mas na capital alguns locais são conhecidos, justamente, por serem marcados pela frequência intensa de casais que procuram cantinhos especiais para namorar. Locais como o Pontão do Lago Sul, Memorial JK e Cine Drive in são exemplos de pontos procurados. O psicanalista Flávio Calile explica a relação do lugar com o relacionamento social entre os casais: “O lugar é totalmente importante, porque ele remete a lembranças, seja de nossa infância, seja da imaginação relacionada aos nossos pais, a lugares que possamos ter sido gestados.” Ele ressalta que o lugar escolhido para namorar tem a ver com a realização do prazer e que são questões relacionadas ao inconsciente. “A diferença de namorar no Pontão do Lago Sul é porque lá sempre tem um clima bom. A gente nem vê a hora passar de tão bom que é. Associa a companhia com o local se torna perfeito”, afirma Gabriela Raulino, que costuma ir com o namorado ao Pontão e considera o lugar romântico e maravilhoso. Patrícia Colmenero, doutoranda em Imagem e Som pela Universidade de Brasília, estuda o amor e acredita que as extensões da relação em pichações ou em sexo em lugar público podem ser bem vindas desde que “provoquem novos acordos entre o casal e gerem mais igualdade e uma abertura mútua um para o outro”. INUSITADOS Em busca de um lugar diferente e sem custo, o motorista Gilberto Medeiros, 28 anos, costuma frequentar o estacionamento do Parque da Cidade com o namorado. “Sempre que vou, muitos casais também estão lá namorando. É uma mistura diferente e uma situação inusitada,” afirma. No local, casais costumam ter encontros

amorosos ou casuais, envolvendo apenas sexo, dentro de carros. Gilberto conheceu o local por indicação de amigos que já frequentavam. Outro ponto de encontro picante é o estacionamento do Cine Drive-in, último cinema a céu aberto do país, que fica entre o Ginásio Nilson Nelson e o novo Estádio Nacional de Brasília, dentro do autódromo Nelson Piquet. Victor Santos, 19 anos, que trabalha na bilheteria do cinema, conta que o local lota no dia dos namorados e nos outros dias o movimento no local cai muito. “O Cine Drive-in faz exibição de filmes, no entanto muitos casais vão para namorar”, explica. Flávio Calile acredita que “para muitas pessoas a relação sexual é o grande descarrego, um momento de descarga das tensões e do dia a dia corrido. E também de querer estar junto e marcar o território”. O psicanalista fala que a questão do lugar está mais ligada aos desejos inconscientes de demarcar território. Quando os casais procuram lugares desconhecidos, ou inseguros, Flávio acredita que “a adrenalina fica muito maior, em relação ao medo, ao desejo e ao que pode acontecer. O perigo e o medo são o tempero desses casais, de estar em um lugar escondido, um lugar proibido, de estar em um lugar onde eu posso ser visto e ao mesmo tempo, não sou visto”. Apesar de o estacionamento do Parque da Cidade não ter segurança suficiente e ser mal iluminado, Gilberto Medeiros gosta de frequentar, pois acha a situação diferente e inusitada e conta que lá já é ponto de encontro de outros casais e amigos. “Certa vez eu meu namorado fomos abordados por policiais que nos alertaram sobre o perigo do lugar e solicitaram que procurássemos um local mais seguro.”, explica.

A cada semana a progressão de cadeados era geométrica. Tomou uma repercussão maior do que a gente imaginava”. Gustavo Carvalho, funcionário público

Trancados na ponte do Parque da Cidade, cadeados simbolizam o amor eterno dos casais da cidade

Crédito: Jéssica Pereira

Crédito: Pedro Grigori

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Educação Aprendizagem

Determinação para aprender Estudos apontam que competências socioemocionais como curiosidade, perseverança e autonomia impactam positivamente a aprendizagem Silvia Guerreiro

A trajetória para se tornar professor de educação física nem sempre foi fácil para Alisson Jeferson das Neves, de 27 anos. Filho de pais que não terminaram os estudos, o jovem enfrentou dificuldades como a falta de dinheiro e o preconceito racial para alcançar o sonho de trabalhar com educação. Com esforço, superou o determinismo da origem humilde, e foi na escola que ele aprendeu a ter persistência nos objetivos e a se dedicar aos estudos. No ensino médio, Alisson realizou um projeto focado no movimento hip hop, ensinando break dance para outros estudantes. A partir daí, se tornou liderança entre os colegas e exemplo de bom aluno para os professores. “Acredito que o ensino médio foi muito importante. Foi ali que me encontrei e que também encontrei pessoas importantes da minha caminhada. Foi o momento em que minha negritude ganhou força junto com minha voz”, relembra. Ao longo do tempo, a escola tem passado por intensas renovações para acompanhar as mudanças da sociedade. No século 19, o principal desafio era garantir o acesso da população ao conhecimento.

Em seguida, no século 20, o objetivo ainda era levar educação para todos, com ênfase no ensino da leitura, da escrita e dos cálculos. Atualmente, a escola e a educação vivem uma crise de sentido. A reflexão agora é como garantir a aprendizagem que ajude os estudantes a enfrentarem desafios na escola, no trabalho e na sociedade. A avaliação realizada pelo Instituto Ayrton Senna (IAS) e pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2013 com cerca de 25 mil estudantes da rede estadual do Rio de Janeiro concluiu que o ensino de competências sociemocionais como curiosidade, perseverança e autonomia impactam positivamente no aprendizado da língua portuguesa e matemática. Os resultados, divulgados no Fórum Internacional de Políticas Públicas, realizado em março deste ano e reunidos no relatório “Desenvolvimento socioemocional e aprendizado escolar”, mostram que as competências socioemocionais são tão importantes quanto as habilidades cognitivas para se ter sucesso escolar e em outras esferas da vida. Segundo o agente técni-

co do Instituto Ayrton Senna, Francis Wilker, esta abordagem não se trata de uma oposição entre conhecimento e habilidades que a escola oferece aos alunos. “Pelo contrário, é uma complementação, uma visão de formação que possa olhar para o jovem como um ser múltiplo, e que também é ali na escola que habilidades como autoconfiança, colaboração, criatividade podem ser desenvolvidas.” Segundo Wilker, o mundo do trabalho e das relações sociais requer competências, atitudes e comportamentos que ainda não estão sistematizados, mas que neces-

sitam de espaços de apren- Silveira Chaves, observou dizagem diferenciados. que ao participar de atividades em ambientes não INICIATIVAS convencionais os estudanNos Centros Interes- tes conseguiram controlar colares de Língua (CILs), a ansiedade e se sentiram os alunos aprendem no- mais confiantes para convos idiomas e se preparam versar com turistas em sipara vivenciar atividades tuações reais. A professovoluntárias na Copa do ra percebeu ainda que os Mundo deste ano. O proje- jovens aumentaram a auto “Um gol de educação na toestima e estão preparaCopa de 2014” tem como dos para encarar desafios objetivo proporcionar ex- maiores. “Antes do projeperiências formativas e to, tinha alunos que nem práticas para que os jovens conseguiam te olhar nos interajam com estrangei- olhos enquanto falavam, ros, conheçam outras cul- e hoje eles representam o turas e aprendam em espa- Brasil em eventos internaços além da sala de aula. cionais”, comemora CrisA coordenadora do tina. projeto, Ana Cristina da A proximidade entre Ilustrações: Shizuo Alves

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aluno e professor pode fortalecer o desenvolvimento das competências não cognitivas na escola. Nas aulas da professora Helem Almeida, no Centro de Ensino Médio 01 de São Sebastião (CEM 01), as palavras de ordem são respeito e convivência com as diferenças. Os alunos entram em contato com documentários, notícias da semana e são estimulados a conversar sobre assuntos polêmicos exercitando a troca de experiência e a capacidade. Além de desenvolverem o autoconhecimento, respeito e responsabilidade. “A minha interação com os estudantes é feita de forma menos formal, de tal forma que eu os deixo à vontade para expor suas ideias conforme elas realmente são.” A iniciativa de aproveitar a disciplina “projeto diversificado” para criar um espaço permanente de debate na escola surgiu do incômodo que parte dos estudantes sentia com os conteúdos tratados nas aulas de artes, como nudez e manifestações religiosas africanas. A discussão ajuda os alunos a perderem preconceitos e se abrirem para apreciar os materiais artísticos apresentados. Segundo a professora, os debates não se restringem à sala de aula e os estudantes levam os temas para serem discutidos com irmãos, pais e amigos. Perseverança, autocontrole e estabilidade emocional são apenas alguns exemplos de competências sociemocionais também conhecidas como não cognitivas. São padrões de comportamento, sentimentos, sensações tão importantes para a aprendizagem quanto ler e escrever ou a capacidade de resolver problemas. De um modo geral, as escolas realizam ações que levam em conta essas habilidades, mas o esforço agora é sistematizar iniciativas e consolidar estratégias de avaliação do desenvolvimento de competências não cognitivas na escola e o impacto na atitude dos estudantes na hora de aprender e no enfrentamento de desafios ao longo da vida.

Saiba mais: Educação para o século 21: http://www.educacaosec21.org.br/ Relatório“Desenvolvimento sociemocional aprendizado escolar: Uma proposta de mensuração para apoiar políticas públicas”: bit.ly/1gY5irK

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Saúde Distúrbios

Ame a louca mente Centros de Atenção Psicossocial surgem como estratégia antimanicomial Ilustração: Shizuo Alves

Vinícius Remer

Em 2008, o Distrito Federal amargava a penúltima posição no ranking nacional que avalia o cumprimento das políticas de saúde mental. Com apenas cinco Centros de Atenção Psicossocial (Caps) em funcionamento naquele ano, todo o atendimento de pessoas com transtornos se concentrava no Hospital São Vicente de Paulo (HSPV), em Taguatinga. Segundo dados da Secretaria de Saúde do DF, em 2011, a cidade contava com sete Caps em funcionamento. Hoje, seis anos depois, o assessor da Diretoria de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do DF Renato Cânfora garante que a realidade é diferente: “Atualmente estamos com 16 Caps em funcionamento e mais um em implantação”. O primeiro Centro de Atenção Psicossocial (Caps) foi inaugurado em março de 1986, na cidade de São Paulo. Hoje, existem quase 2 mil Caps em todo o país, e eles surgem como principal estratégia da reforma psiquiátrica. Segundo o texto Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial, publicado em 2004 pelo Ministério da Saúde, os

Caps “são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico.

Sua característica principal é buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto”. Os Centos de Atenção Psicossocial se diferem em algumas mobilidades de serviços. O Caps I, II e III, de

acordo com a Portaria MS nº 336-02, são “definidos por ordem crescente de porte/ complexidade e abrangência populacional”. Mas os três cumprem a função no atendimento público em saúde mental. Já o Caps II tem o

atendimento voltado para crianças e adolescentes. O Caps ad II atende pacientes com transtornos decorrentes do uso e dependência de álcool e outras drogas. Há seis anos Girlene Marques Pinheiro, pedago-

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ga e psicóloga, é gerente do Caps II, que funciona em Taguatinga. Os atendimentos acontecem de forma espontânea ou como diz Girlene: “de portas abertas”. “Qualquer pessoa pode vir ao Caps para fazer o acolhimento, mas também recebemos encaminhamentos da Justiça e dos Centros de Saúde”, explica a gerente. A principal característica dos Centros de Ação Psicossocial é humanizar o atendimento ao paciente com transtornos mentais. Para isso o atendimento ou acolhimento é realizado por equipe técnica composta por enfermeiros, técnicos em enfermagem, psicólogos, assistente social, psiquiatra, terapeuta ocupacional e médico clínico. Todos trabalham de forma interdisciplinar. Após o atendimento é definido como será o tratamento do paciente. “Nós sentamos com essa pessoa e fazemos um plano terapêutico singular. Tentamos aproximar ao máximo o paciente de alguma atividade em que ele tem interesse”, ressalta Girlene. São oferecidas oficinas terapêuticas, como psicoterapia em grupo, expressivas, de socialização, artesanato e

atividades corporais. Sempre visando a integração do enfermo na comunidade, família e socialmente. SUPERAÇÃO Teresa da Conceição, 60 anos, é paciente do Caps de Taguatinga há quatro anos. Dona Teresa, como é chamada pelos funcionários do local, chegou ao Caps após descobrir que o filho é viciado em cocaína. “Cheguei ao Caps com 36 kg. Todo mundo tinha medo de mim”, conta Teresa. Hoje, ela está com 69 kg, mas “precisa abaixar um pouquinho”. Graças à vizinha psicóloga encontrou o Centro de Atenção Psicossocial. “Me receberam muito bem. Já saí no mesmo dia tomando remédio. Eles me levaram no Hospital São Vicente de Paulo, porque não tinha médico na hora”, diz. Após dois anos e meio de tratamento, Dona Teresa teve alta, mas ela continuou recebendo a medicação em um posto de saúde. “Meu filho acabou aprontando dentro da clínica em que ele está internado há três anos e me desestruturou toda. Mas o Caps me recebeu de portas abertas outra vez”, conta Teresa. Ela coordena uma das oficinas, a capoterapia, exercícios de capoeira em uma quadra próxima

ao Centro. “Marco presença de quem está indo ou não”, explica. HOSPITAL Produzida pelo jornal O Globo em 2011, a reportagem Dez Anos Após a Reforma Psiquiátrica, Brasil Ainda tem Instituições Públicas Funcionando no Modelo de Antigos Manicômios, faz uma denúncia contra o Hospital São Vicente de Paulo, local onde o paciente precisa ficar internado para a recuperação. Ao contrário do que trata a reforma psiquiátrica, com o atendimento mais humanizado para quem sofre de transtornos mentais. Outro ponto levantado pelo jornal é que falta leitos para a internação no HSPV. Com o total de 43 leitos, havia internados, no ano em que foi produzida a reportagem, 56 pacientes. Em 2012, a estudante de jornalismo da UCB Anna Cristina de Araújo Rodrigues, na matéria Insana Realidade, publicada na revista Meia Um, apontou o mesmo problema. Dos 70 que estavam internados, mais de 30 pacientes dormiam em colchonetes no chão. Para O Globo, Ricardo Lins, ainda

diretor do hospital, disse que o tratamento só irá mudar quando houver descentralização. Quando instituições públicas e os Caps tiverem estruturas suficientes para realizar os atendimentos. Quem concorda com a afirmação do diretor é Renato Cânfora. Ele diz que o investimento atual na área é todo revestido para criar leitos no Caps e em hospitais gerais, com o objetivo de reduzir a demanda de internação no HSPV. “Já se percebe a redução da procura de internações no Hospital São Vicente de Paulo, que tem se esforçado em regionalizar os pacientes assim que estabilizados em trabalho conjunto com os Caps”, conta. Girlene Marques afirma que o Caps de Taguatinga recebe muita demanda do HSPV e que dá prioridade para os pacientes do hospital. “Perto dele ter alta já começamos a fazer visita. Para quando o paciente sair, vir direto para o Caps e continuarmos o tratamento diário”, diz. A gerente conta ainda que a maioria dos pacientes com o histórico de varias internações, após o acolhimento no Caps nunca mais precisou ser internado.

Me receberam muito bem. Já saí no mesmo dia tomando remédio. Eles me levaram no Hospital São Vicente de Paulo, porque não tinha médico na hora” Teresa da Conceição, paciente

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Gastronomia Fotos: Joyce Oliveira

Tradição de família, Teruo Nishi (foto) trata e cuida do próprio peixe, garantindo a popularidade de seu quiosque e temakis de qualidade

Cuidados

De olhos abertos no sushi

A má conservação e o mau preparo das comidas orientais podem causar riscos à saúde do consumidor Ana Karoline Lustosa e Joyce Oliveira

Um pouco de cream cheese e o sabor diferenciado da carne rosada semi cozida. Raiz forte ou shoyu, o paladar brasilense está passando por uma transformação cultural cada vez mais acessível. Antes, os itens japoneses pareciam distantes de serem consumidos com tanta facilidade. Hoje, a realidade está bem diferente. Em quiosques no meio da

rua, comércios, shoppings e até mesmo em supermercados, já é possível encontrar sushis, sashimis e temakis com preços reduzidos. Comidas orientais estão cada vez mais populares no Brasil, entretanto, o modo de preparo e a conservação devem ser observados constantemente, pois se forem mal armazenados e feitos de forma errada ou não higiênica, esses ali-

mentos podem representar riscos à saúde. O gerente de alimentos da Secretaria de Saúde do DF, André Godoy, ressalta que, legalmente, as exigências com a fiscalização são as mesmas para qualquer serviço de alimentação. Todos são obrigados a implementar o manual de Boas Práticas de Fabricação (BPF), que está disponível no portal da An-

visa. Entre os itens desse documento, estão o controle e garantia de qualidade do alimento preparado. “O fato de cozinhar uma carne diminui a contaminação final do produto. Portanto, para produtos elaborados com peixe cru a atenção ao controle de tempo e temperatura é fundamental”, explica Godoy. As bactérias se multiplicam mais em tempera-

turas entre 10ºC e 50ºC. No caso dos peixes, o aconselhável manter a temperatura de até 2,5 ºC. Com popularização desses alimentos algumas redes de supermercados já comercializam. Produzidos de maneira independente, variando de região para região, os estabelecimentos vendem versões simples que podem sofrer variações das receitas

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originais com frutas e legumes. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é responsável por fiscalizar todos os produtos ofertados por estabelecimentos comerciais, e possui um Regulamento Técnico de Boas prática, disponível online, onde estabelece alguns padrões de produção, mantimento e comercializações de produtos alimentícios. A estudante Thaynara Guimarães, apesar de já ter comido sushi diversas vezes, aproveitou a ida ao supermercado Super Maia, no Gama, para comprar uma bandeja. “Estava com minha mãe fazendo compras e vi os sushis. Comprei porque ela nunca tinha comido e sempre quis experimentar. Estava gostoso, mas nada se compara ao sushi fresco”, conta. De acordo com a estudante, o valor pago foi de R$15. Criada em 2007, uma das maiores redes de restaurantes japoneses, Sushi Loko, chegou ao Gama em 2011. O gerente do estabelecimento, Moisés de Sousa, garante que de lá para cá o movimento dobrou. “Muitos clientes compravam porque não conheciam a comida e queriam experimentar. Além disso, os preços variam entre R$5,90 a R$29,90, são bem acessíveis.” Sobre o modo de preparo, os sushimans responsáveis por montar os pratos da rede, não precisam ter um curso especializado. “Nós mesmos oferecemos essa qualificação, passamos nossa receita. Assim os nossos funcionários trabalham da mesma forma, há uma padronização no sabor”, esclarece Moisés. Os peixes utilizados vêm de São Paulo, já cortados, explica Moisés. As peças expostas ficam armazenadas em local refrigerado e garantem que o cliente confira a preparação durante o dia. “Se sobra, jogamos fora, nunca reutilizamos.”. Saindo do restaurante e chegando na rua é possível conferir um pequeno quiosque com uma bandeira do Japão. Há quatro anos vendendo apenas temaki, Teruo Nishi já possui clientela fixa no Gama. “Se tenho novidades ou um novo sabor, mando mensagem avisando a eles. Tenho número de 700 clientes”, conta, orgulhoso. Durante o tempo em que a reportagem do Artefato esteve no local, cerca de 30 minutos, mais de 10 temakis foram vendidos. Os valores variam de R$7 a R$10. Com pais japoneses, Nishi explica que a popularidade do quiosque se deve ao tempero e preparo. “Aprendi com

Os alimentos crus mal armazenados e feitos de forma errada podem trazer riscos à saúde

Portanto, para produtos elaborados com peixe cru a atenção ao controle de tempo e temperatura é fundamental” André Godoy, gerente de alimentos

meus pais e a receita é segredo de família. Eu mesmo compro e trato o salmão, faço tudo.” Fugindo do aluguel e imposto de uma loja, ele exibe no porta-malas do carro utilizado o documento da Agefis que o autoriza a vender na rua. “Eles fazem fiscalização frequentemente e antes da autorização verificam tudo”, explica o pequeno empresário sobre a regulamentação do ponto. Um dos clientes do Nishi, Marcelo Moreira não mora mais no DF, mas sempre que retorna à cidade compra o temaki no quiosque. Além disso, ele conta que também é cliente de alguns supermercados que vendem peças japonesas em bandejas. “É bem cômodo e nunca passei mal. Apesar de ver gente vendendo em todas as esquinas, não quer dizer que sempre são bons”.

NÃO FECHE OS OLHOS Confira abaixo as dicas para os consumidores que sempre estão à procura de comidas orientais. As informações são da Secretaria de Saúde:

- Observar se o ambiente está limpo; - Asseio pessoal do manipulador (roupa limpa e protetor de cabelo); - Presença de pia exclusiva para lavagens de mão com sabonete líquido e papel toalha próximo à manipulação; - Superfície de contato para corte dos peixes não deve ser de madeira. Observar se está limpa, se é lavável e lisa, assim como facas exclusivas; - Armazenamento em temperatura de refrigeração; - Produto recém preparado ou o mais novo possível. À medida que o tempo passa a contaminação aumenta. Feito na hora é mais seguro.

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Cultura Legado

Agora é tradição

A maior feira de livros da América Latina se consagra como importante evento da capital federal Thiago Baracho

Englobado em um pacote de atividades festivas promovido para comemorar o aniversário de Brasília, a II Bienal do Livro e da Leitura trouxe para a cidade escritores internacionais e nacionais. Considerada, pela Secretaria de Educação, um sucesso de público, vendas e fomento a leitura o evento realizado entre os dias 11 e 21 de abril deste ano foi montado na Esplanada dos Ministérios. Foram 23 mil m² de estrutura física, 158 estandes de empresas entre editoras, livrarias e distribuidores de livros. Entre os gêneros mais vendidos destacam-se: juvenil, história, literatura fantástica, música, romance e leitura do vestibular. “Os preços estavam acessíveis, mas tive que dar uma boa garimpada. Estou vendo a bienal com bons olhos. Essa coincidência do evento terminar exatamente no aniversário da cidade é um presente para Brasília”, conta o jornalista Tarcísio Paiva, 51 anos. Mesmo muito imponente, a estrutura da bienal também foi criticada. “Apesar da ótima localização, deixa a desejar em termos de infraestrutura”, salienta o escritor Nicolas Behr. “Acho que deixou a desejar, mas a quantidade de pessoas que vieram compensaram os problemas com a infraestrutura”, explica o expositor Rafael Carvalho. O secretário de Educação do Distrito Federal,Hamilton Pereira, cogita outros locais

da zona central de Brasília para a montagem das estruturas da próxima edição, inclusive com ônibus regulares saindo da Rodoviária para o novo local. “Estamos estudando a possibilidade de usar a Arena Mané Garricha ou o Centro de Convenções Ulisses Guimarães”, adianta. Entre livrarias e editoras de todo o país, algumas cativaram os leitores com rodas de histórias infantis e atrações especiais, como desenhistas que faziam caricaturas dos leitores no local. Foi também uma oportunidade boa para ficar perto da literatura produzida fora do DF e conhecer editoras diferentes, como por exemplo, a Nordeste Livros de Teresina (PI) ou a Literatura De Cordel de Juazeiro do Norte (CE). Uma grande variedade de estilos literários, preços e promoções marcaram essa edição. Além de estandes já consagrados pelos leitores assíduos, como a Livraria Saraiva, a Editora Globo e o Sebinho. A estudante Mariana Magalhães, 11 anos, não perdeu tempo: “Eu vim com minha mãe no primeiro dia e voltei no último com meu pai. Gostei dos livros de historinhas como o Calango Tango”. Segundo a Secretaria de Educação (SEDF) o público aproximado foi de 300 mil pessoas nos 11 dias de exposição. Mais de 85 mil títulos foram expostos e 400 editoras representadas. Aproximadamente 445 mil livros vendidos e uma movimentação financeira de quase R$ 8

Crédito: Thiago Baracho

A II Bienal do Livro e da Leitura recebeu aproximadamente 300 mil pessoas

milhões. “Até o fechamento do penúltimo dia de bienal o estande da Saraiva vendeu mais de R$ 300 mil em livros, revistas e publicações”, conta o expositor Jefferson Giovani, 34 anos. Quase 20 mil alunos da rede pública de ensino do DF participaram da bienal. Durante o passeio, os alunos opinaram na escolha dos livros que foram comprados para suas bibliotecas pelo projeto “Passaporte Literário”. “O projeto disponibilizou para todas as escolas públicas um valor na casa de R$ 80 mil, que totalizou o montante de R$ 4 bilhões”, comentou o secretário. O público do DF, que espera ver ainda mais incentivos à leitura, acolheu de braços abertos o evento. “O hábito de ler é o mais importante. Acho que a Bienal vai deixar um bom legado se

ela conseguir transmitir isso para as pessoas”, acrescenta o escritor Marcelo Melo, 40 anos. “Trazer nomes como Eduardo Galeano, Mia Couto e gente da cidade, tipo Nicolas Behar, aflora nas pessoas daqui, principalmente para as crianças, a vontade de ler”, resume o aposentado Antero Viana, 60 anos. HOMENAGENS A cada dois anos um nome da literatura brasileira e outro internacional são homenageados no evento. Nesta edição as reverências foram prestadas a Ariano Suassuna, 86 anos, e o escritor Uruguaio Eduardo Galeano, 73. Suassuna, autor de obras como o Auto da Compadecida e O romance da Pedra do Reino atraiu gente suficiente para, em fila, dar a volta no Museu da República. Eduardo Galeano, escri-

tor de As veias Abertas da América Latina, livro escolhido por Hugo Chávez para presentear George W. Bush, mobilizou ainda mais gente. O escritor falou também sobre outras obras como a trilogia Memória do Fogo, que trata da opressão colonial aos povos pré-colombianos e as ações promovidas por indivíduos e coletivos de resistência. Outro tema recorrente nos debates promovidos ao longo dos 11 dias de evento foi a produção literária, jornalísticas e a expressão artística durante o período de 1964 a 1986 conhecido como os “Anos de Chumbo”. Nomes como Frei Beto e Cid Benjamim trocaram ideias com o público. Frei Beto escreveu sobre suas memorias de dominicano preso pela Ditatura em Cartas da Prisão e Batismo de Sangue.

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