Artefato 08/2015

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Ano 16 - n º 5 Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília Distribuição Gratuita - Agosto de 2015

Cine Drive-in: cultura sobre quatro rodas Págs. 12 e 13

Pornô: mulheres consomem e são exigentes Págs. 6 e 7

Samdu: trânsito vai mudar na região Págs. 4 e 5

Aids: mais informação e menos preconceito Págs. 14 e 15

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Mudança foi o que nos motivou. A voz de um estudante de jornalismo guarda anseios da sociedade com vontade de gritar. Nossa vontade é conversar com o cidadão comum, com o brasiliense pensante, capaz de recriar o mundo apenas com a palavra. Nosso compromisso é com a verdade, com temas que pouco se veem na mídia tradicional, mas que merecem ser tratados. Dar espaço a todos, sem diferenças, substituindo o termo polêmico pelo comum, como uma realidade da sociedade. Respeitar as ideias e a liberdade de ser e pensar. Nossas reportagens são voltadas ao cidadão comum, que tem curiosidades e o direito de saber sobre saúde, o quadrado em que vive, meio ambiente, educação, e de ver o jornalismo como uma forma de liberdade e diversão, com as editorias de comportamento, cultura e esporte. Vamos esclarecer questões da atualidade e quebrar paradigmas do preconceito. Em uma época em que pessoas afirmam que o jornalismo impresso está morrendo, mostramos que, na realidade, o momento é de transição, e que novas mídias ampliam o poder do jornalismo. Experimentar. Este jornal faz parte da disciplina Produção e Edição de Impressos, mas, neste semestre, vamos inovar e saber unir o impresso com o digital. Além desta versão, publicaremos em multimeios, feita por jovens universitários, de forma atraente e ágil. É a nova geração de jornalistas escrevendo para uma nova geração de leitores. Assim, nosso jornal circula em metrôs, redações de jornais de todos os meios, além de escolas e universidades do DF, até a rodoviária e aeroporto. Vamos alcançar as redes, com imagens e vídeos sobre o processo jornalístico, dando movimento ao que, durante décadas, permaneceu engessado. Reportagens além do impresso e extras das edições podem ser conferidas no site no Artefato, em uma versão online e nas redes sociais. Venha conhecer o novo jornalismo feito pelos novos jornalistas.

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Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília Ano 16, nº 5, agosto de 2015 Reitor: Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Garcia Pró-Reitor Acadêmico: Dr. Daniel Rey de Carvalho Pró-Reitor de Administração: Prof. Fernando de Oliveira Sousa Diretor da Escola de Negócios: Dr. Alexandre Kieling Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Dr. Joadir Foresti Professora responsável: Me. Fernanda Vasques Ferreira Revisão final: Profª Dra. Rafiza Varão Orientação de Fotografia: Me. Ane Molina e Me. Rose May Apoio: Me. Fernando Esteban Apoio Técnico: Samuel Paz Monitores: Leonardo Resende e Sued Vieira

Editores-chefes: Lucas Lélis e Natalia Lázaro Editores de texto: Jacqueline Santana, Jelsyanne Albuquerque, João Pedro Carvalho e Marianne Paim Editores de arte: Álef Calado e Gabriella Bertoni Diagramadores: Alex Neres, Bruno Barbosa, Douglas Sousa e Larissa Nogueira Editores de fotografia: Isabella Cantarino e Rodrigo Mendonça Subeditores de fotografia: Fernanda Sá e Natália Santos Editores web: Manoel Ventura e Thiago Siqueira Repórteres: Adrienne Ribeiro, Aline Cabral, Bruno Santana, Daniela Andrade, Diogo Neves, Gabriel Silveira, Gustavo Figueredo, Isabella Vieira, Jéssica Eufrásio, Katielly Valadão, Lorena Carolino, Marcus Gomes, Nikelly Moura, Suelen Oliveira, Tarcila Rezende e Valéria Melo. Checadores: Enoque Aguiar, Gabriela Gregorine, Mariane Cunha e Nathalia Melo Fotógrafos: Angélica Rangel, Anthony Machado, Barbara Xavier, Bianca Amaral, Bruna Andrade, Carolina Militão, Charles Jacobina, Fabyane Rufino, Flávia Alves, Flavia Pacheco, Gabriela Mota, Gabriela Vieira, Glaucia Cardoso, Isabela Menezes, Isabela Moreno, Jéssica Leite, Maiza Santos, Maria Gabbriela Veras, Mariane Brandão, Marina Braúna, Marina Raissa, Matheus Contaifer, Mylena Tiodósio, Natália Martins, Natália Santos, Raphaella Torres, Rosana Carvalho, Thaís Miranda, Thaís Rodrigues e Tissyane Scott. Ilustrações: Gustavo Jácome e Freepik.com Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia Universidade Católica de Brasília EPCT QS 7 Lote 1, Bloco K, Sala 212 Laboratório Digital Águas Claras, DF Telefone: 3356-9098/9237 Todas as matérias têm ampliação de conteúdo na web. Acesse nossas redes sociais e site. E-mail: artefatoucb1@gmail.com Site: pulsatil.com.br Jornal online: issuu.com/jornalartefato https://artefatojornal.wordpress.com/


Cidades

Fot o: M arin aR

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Sem alvará

Fechado desde fevereiro do ano passado, o principal palco de Brasília ainda espera por reforma Lucas Lélis

Cortinas fechadas, salas escuras, silêncio e abandono. Esse é o atual estado do Teatro Nacional Claudio Santoro. A obra deveria ter começado no início de 2014, após parecer técnico divulgado pelo Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF), em abril de 2013, seguido de uma visita realizada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), em julho do mesmo ano. Os documentos, apresentam 113 irregularidades no local, o que levou à recomendação da suspensão das atividades do teatro que não possui habite-se, alvará de funcionamento e segurança contra incêndio e pânico. O teatro não atende a todos os itens previstos na Lei de Acessibilidade, já que a última reforma ocorreu em 1998 e a norma só foi sancionada em 2004. Além das irregularidades de segurança, é visível a falta de cuidado com a manutenção no espaço, como poltronas rasgadas e camarins em condições precárias.

Atualmente, os arredores do teatro servem de abrigo para moradores de rua e usuários de drogas. A reportagem esteve no local e encontrou muita sujeira, forte odor de urina e fezes humanas nos acessos e escadarias externas de emergência. Mas a parte interna segue com a mesma rotina de limpeza, o que não agrava os problemas apresentados pelo relatório dos bombeiros. O documento visa à segurança dos artistas, espectadores e funcionários, evitando tragédias como o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), em janeiro de 2013. Cultura paralisada O Teatro Nacional é a maior casa teatral do Distrito Federal. Com duas salas principais, a Villa Lobos e Martins Pena, camarins, espaço para oficinas cênicas e as salas de balé, ele possui 45 mil m² que estão ociosos. O ator Paulo Gustavo, que ficou conhecido nacionalmente ao interpretar uma personagem inspirada na própria

mãe no espetáculo Minha Mãe é Uma Peça – apresentada no Teatro Nacional –, lamentou a interdição do teatro. “É difícil quando a gente vai para um lugar que tem um teatro muito bom, mas que ficou interditado. Não só eu como todos os artistas, amamos fazer espetáculos no Teatro Nacional, em especial na sala Vila Lobos. Tomara que consigam reabrir logo o espaço, que é um presente para todos nós artistas e para o público de Brasília também”, afirma. Burocracia O Governo de Brasília alega que não existe orçamento previsto para a reforma do teatro por causa da crise financeira nos cofres públicos. O secretário de cultura, Guilherme Reis, explicou o atraso das obras. “É preciso um reestudo. Por se tratar de uma reforma que vai exigir uma nova engenharia financeira, não conseguimos incluir o teatro no primeiro pacote de obras lançado pelo GDF em 16 de julho de 2015”, explica o secretário.

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Cidades Mobilidade

Projeto do sistema binário nas avenidas Comercial e Samdu vai afetar a rotina de Taguatinga Gabriella Bertoni e Rodrigo Mendonça

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C omercial Norte. Sol forte às 15h30. É fácil encontrar uma vaga para estacionar. Trânsito calmo, sem buzinas ou engarrafamentos. Quem é morador, ou trabalha em Taguatinga, sabe que essa é uma lembrança distante. A realidade da cidade hoje é de ruas estreitas, trânsito lotado e falta de vagas. As filas duplas se tornaram comuns, bem como os pequenos acidentes nos inúmeros cruzamentos. No início de julho, foi realizada uma audiência pública para apresentar à população o projeto de alteração do trânsito. O resultado foi o pedido de algumas associações locais para revisarem o documento.

As mudanças apresentadas não foram suficientes para aprovação imediata e aqueles que estavam presentes optaram por esperar a troca do asfalto da avenida Samdu para, só assim, o sistema binário começar a funcionar. Para a aposentada Vera Lúcia, 63 anos, as mudanças vão melhorar o trânsito, mas, na hora de pico, as transversais vão ficar complicadas: “Todo mundo vai querer passar pelas mesmas ruas”. Francisco Soares, 48 anos, é vice-diretor de uma escola em Taguatinga Norte e acredita que a inversão é válida. “O trânsito hoje é muito tumultuado. Nós temos visto muitos acidentes em virtude da falta de uma faixa de separação entre as pistas”, afirma. Comerciantes criticam

a alteração prevista para o trânsito. Evaldo Sousa, 45 anos, é cabelereiro na Samdu Norte. Ele não sabia que as duas principais avenidas da cidade vão sofrer alterações e se mostra contrário às mudanças. “Vai piorar para os comerciantes. Só pensaram nos carros, não nos pedestres. Para eles, vai ficar muito ruim”, reclama. Experiência de sucesso Águas Claras, que já fez parte da Administração de Taguatinga, passou por alterações similares no tráfego das duas principais avenidas da cidade em 2009. Até então, as avenidas Araucárias e Castanheiras eram vias de mão dupla. Com a mudança, a Araucárias


Racionalizar Para o professor da Pós-Graduação em Transportes da UnB, Paulo Cesar Marques da Silva, a solução para o problema do trânsito de Taguatinga é reduzir o número de veículos circulando e aumentar o uso do transporte coletivo. Ele defende que o caminho não é atender a demanda dos motoristas, mas, sim, reduzir a necessidade do uso de carros na região.

Cidade conceito

passou a ser mão única no sentido Taguatinga-Park Way, enquanto a Castanheiras fazia o sentido contrário. Em nota, a administração de Águas Claras informou que não houve necessidade de estudo prévio para embasar as alterações no tráfego local, já que as mudanças estavam previstas no projeto da cidade e, se não tivessem sido feitas, o trânsito local hoje seria caótico.

Segundo o administrador de Taguatinga, Ricardo Lustosa, a implantação do sistema vai possibilitar a construção de 27 km de calçadas e ciclovias em toda a extensão das duas avenidas. “A mudança dará aos moradores e frequentadores da cidade, não só mais fluidez ao trânsito, mas também, uma outra forma de locomoção”, esclarece. Ele acrescenta ainda que 60% da população local trabalha na própria região administrativa e as ciclovias vão ajudar as pessoas a optarem pela bicicleta como forma de transporte. Lustosa garantiu que o plano de adequação das linhas de ônibus foi finalizado pelo DFTrans - Transporte

Urbano do Distrito Federal - e que a população não terá problemas quanto à disponibilidade de transporte público na região. “As linhas circulares serão realocadas para atenderem o Pistão Sul/Norte, sem prejudicar o atendimento nas duas avenidas”, concluiu o administrador. Segundo ele, a implementação do sistema está prevista para o final de outubro, data possível para que o novo asfalto da Samdu estejapronto. “O plano não é simplesmente resolver o problema do trânsito na cidade. É trazer Taguatinga para o centro das discussões sobre mobilidade e transformá-la em uma cidade conceito”, explica Ricardo Lustosa

Foto: Charles Jacobina

Trânsito da Avenida Comercial será rumo ao sentido Sul

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Comportamento Sexualidade

Se você ainda acha que entretenimento adulto é coisa de homem, é melhor ler esta reportagem e pensar de novo Douglas Sousa e Jéssica Eufrásio O que as mulheres querem? Essa frase, que tem cara de nome de filme, título de reportagem e tema de roda de conversa, também é a pergunta que resume o que milhões de pessoas ao redor do mundo buscam responder em movimentos a favor da igualdade de gêneros. Foi dessa mesma questão que partiram duas investigações feitas pelo segundo maior site de compartilhamento de vídeos pornôs da internet, o Pornhub. Uma delas mostrou, inclusive, que as mulheres brasileiras representam a maior parcela feminina de visitantes da página. Tudo começou em setembro do ano passado. O website realizou uma análise sobre os temas, atrizes e atores mais procurados por mulheres do mundo inteiro. Além de mostrar que 23% de sua audiência era composta por elas, a pesquisa ainda revelou as quatro categorias mais assistidas por esse público no endereço. Gay lésbico e gay masculino ficaram em primeiro e segundo lugares, respectivamente; teen (jovens de 18 ou 19 anos) seguiu em terceiro; e a categoria para mulheres, em quarto. Entre os termos mais pesquisados, as buscas que

figuraram foram lésbico em primeiro, sexo a três em segundo e, em terceiro, squirt (ejaculação feminina). No mês de julho deste ano, o Pornhub se juntou ao RedTube, outro portal gratuito de conteúdo adulto, para obter novos dados referentes às suas audiências, em especial a feminina. As informações foram coletadas anonimamente pela plataforma de estatísticas demográficas da Google, o Google Analytics, que analisou e forneceu um perfil dos visitantes. Esses resultados foram baseados na média de acessos que os dois sites recebem juntos: mais de 45,8 milhões por dia em todo o mundo. Dentre todas as internautas que acessaram os dois sites no período de setembro de 2014 a julho de 2015, as brasileiras ficaram empatadas em primeiro lugar com as filipinas. A quantidade de visitantes do sexo feminino de ambas as localidades foi de 35%. Essa quantidade, em comparação à média de mulheres dos 21 países analisados, colocou o Brasil e as Filipinas à frente por uma folgada margem: 11% a mais de diferença. Já na

pesquisa por categoria, os três termos mais procurados no ano passado permaneceram nas mesmas posições. A pesquisadora em sexo, pornografia e temperamento, Laura Guerrim, opina sobre os resultados. Segundo ela, apesar das pesquisas mostrarem que a mulher está cada vez mais presente como público consumidor de pornografia, este fato não pode ser necessariamente considerado uma evolução social. Cine privê “Porque homem pode, mulher não pode e sempre teve isso.” É assim que Valeska Paiva, gerente do Cine Paranoá, em Taguatinga, explica o porquê de as mulheres serem pouco frequentadoras do cinema para adultos. A frase de Valeska ilustra a visão de uma sociedade que ainda vê de forma preconceituosa a mulher que se diz consumidora de pornografia. Segundo ela, o cinema recebe, em média, apenas três mulheres por semana. O público masculino, tanto hétero quanto homossexual, é o maior consumidor. No segundo caso, a privacidade e o anonimato são os aspectos que mais


pesam na escolha do local. Laura critica esse aspecto da indústria pornô. “É um mercado extremamente sexista e heteronormativo”, isto é, prioriza o público heterossexual e masculino em suas produções. Para ela, as mulheres estão consumindo mais pornografia por questões de libertação ou facilidade de acesso, e não porque o conteúdo, em si, lhes agrada. Enquanto para o público LGBT o cinema adulto funciona como refúgio do preconceito sofrido diariamente, o mesmo parece não valer para as mulheres, que não se sentem tão à vontade em um ambiente predominantemente masculino. “Geralmente, as mulheres vêm acompanhadas e preferem vir apenas quando há outros casais na sessão”, conta Valeska. A gerente ainda ressalta a preocupação do público feminino com os filmes que serão exibidos. “Quando elas vêm, normalmente querem que um bom filme esteja passando”. Se o conteúdo e a qualidade do

produto se refletem, de fato, na escolha das mulheres, a indústria pornográfica está mesmo preparada para a demanda de um público consumidor cada vez mais ativo e exigente? As opiniões podem divergir: enquanto algumas mulheres acreditam que os filmes atuais servem para colocar a libido em dia, outras sentem falta de produções mais bem elaboradas, aquelas de deixar todos os fios de cabelo do corpo em pé. Você vê? Assumir que assiste filmes pornô ainda é motivo de vergonha para muitas mulheres. A secretária Érica Fernandes*, 27 anos, ficou acanhada com a pergunta num primeiro momento, mas logo respirou fundo e respondeu: “sim, sempre que me convém”. Érica faz parte do público feminino, declarado ou não, que assiste pornô e que é exigente com o conteúdo. “Nós, mulheres, não somos iguais aos homens, precisamos de mais lenha para acender o

fogo”, diz. Apesar de se dizer consumidora das produções pornográficas, a secretária é categórica ao falar que não se sente representada nas “historinhas” que ilustram as tramas do entretenimento adulto. “Eu não me vejo na maioria desses filmes”, ressalta ela. Com a engenheira mecânica Adriana Morais*, 34 anos, acontece o contrário: além de não sentir nada os filmes não despertam seu interesse. Para ela, os textos e os roteiros repetitivos são apenas alguns dos motivos que ela cita para o fato de não assistir. “Não gosto de ver ninguém fazendo. Meu tesão vem do toque, não somente daquilo que vejo”, explica. Ainda segundo Adriana, aplicativos de troca de mensagem instantânea fazem com que, vez ou outra, ela veja algo sem querer. A engenheira aponta que a quantidade de tarefas que tem no cotidiano faz o contato ser ainda menor. “Prefiro usar meu tempo fazendo”, conclui. Foto: Tissyane Scott

Quando o assunto é cinema adulto, as mulheres ainda representam a menor parcela do público

* Nomes Fictícios

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Comportamento Depilação

O verso não se encaixa só na música de Arnaldo Antunes. Os pelos podem ser opção para outras partes do corpo Mariane Cunha as coisas que elas nem têm ainda. Elas querem depilar a perna e ainda nem têm pelo.” Portanto, ao contrariarem padrões estabelecidos, a primeira dificuldade é se impor em casa. Entre frases constantes de reprovação do pai, como “coisa de homem”, e expressões contrariadas da mãe, Amanda Morais, 21 anos, estudante de relações internacionais, decidiu parar de se depilar. Tirar seus pelos era algo normal, ir à depiladora era quase um evento social. Ela não gostava, sentia dor. Foi no ônibus que descobriu que havia outra opção. Uma moça passou pela roleta, levantou os braços e revelou as axilas não depiladas. “Fiquei em choque. Até então, nunca tinha cogitado a ideia de que uma mulher pudesse simplesmente escolher não se depilar”, relata Amanda. Para a estudante de antropologia, Raquel Prosa, 19 anos, a experiência foi

Foto: Marina Brauna

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Peitos grandes, bunda avantajada, cintura aparente, maquiagem impecável e depilação em dia – axila, perna e buço, obrigatoriamente. Esses são requisitos estéticos básicos necessários para se transformar em mulher. Meninas são influenciadas desde a infância a optar pelas lâminas e ceras como forma de se embelezar. Crescem, conhecem e escolhem o que fazer com seus corpos. Então, a necessidade de se depilar, às vezes, fica de lado. A feminista Juliana Watson, 35 anos, explica que desde criança foi ensinada a lidar com seus pelos. “Achei que eu tinha alcançado uma fase da vida, que isso era uma obrigação, parte de ser mulher”. O documentário londrino My Body, My Hair produzido por Veronika Reichenberger, estudante da Universidade de Londres, enfatiza essas construções sociais. Soofiya, personagem do documentário, ressalta: “Nós percebemos que crianças se preocupam com Amanda Morais se sente mais confiante após aceitar seus pelos


outra. Sua mãe não se depilava, não gostava. Raquel insistia para sua mãe arrancar os pelos. “Na adolescência, o que as amigas fazem é muito importante”, conta. Então, entrar na faculdade e ter acesso ao apoio de outras mulheres facilitou o abandono de seus encontros com a depiladora. “Conheci pessoas que também não encontravam sentido na depilação”. A doutora em Antropologia da Comunicação, Florence Dravet, explica que os fios mais longos e visíveis, algo natural do ser humano, começam, de acordo com determinada sociedade, a perder espaço. “O homem, ao longo do tempo, aprende a civilizar o seu corpo. Construir por meio do processo civilizatório uma representação própria. Afastar-se da origem animal”. Izis Morais, antropóloga especializada em gênero, complementa dizendo que, dentro do sistema de sexo/gênero, criam-se mecanismos simbólicos para promover a distinção. “Violências morais e físicas – que mantenham os pólos, masculino e feminino, separados. Logo, tudo que indicar a mistura será um dilema social, em maior ou menor grau”. Anti-higiênica? O discurso de higiene básica é totalmente inaceitável para as adeptas dos pelos. Elas já possuem resposta na “ponta da língua” para esse tipo de questionamento. “Muitos homens não se depilam e são limpinhos e cheirosos”, critica Amanda. Portanto, depilar, ou não, passa a ser uma decisão puramente estética. “Eu me depilei por muitos anos e isso nunca tornou essa higienização desnecessária”, contrapõe.

Florence Dravet destaca que existe um discurso científico da saúde, o bem-estar coletivo e a higienização. “Você não é livre para lidar com sua saúde, tem que obedecer ao que o conhecimento científico da época, na qual vive. Asseptizar o corpo, não lembrar justamente toda a questão animal”. As cobranças incidem sobre categorias sociais diferentes e de forma mais dura no caso das mulheres. “Nossos padrões estéticos, atualmente, têm sido muito cruéis com corpos femininos”, acrescenta Izis Morais. Mesmo em meio ao forte discurso da higiene pessoal, as adeptas dos pelos buscam a liberdade e a necessidade de serem protagonistas de seus corpos, em vez de apenas seguir a sociedade. Dessa maneira, os padrões únicos, sem possibilidade de escolhas incomodam. “Cada uma pode experimentar com seu corpo e não apenas seguir cegamente um padrão”, acrescenta Juliana. Meu corpo Raquel Prosa questiona que a depilação se imponha de maneira tão agressiva, principalmente para as mulheres. “Não consigo entender as razões de o discurso não valer para os homens. Eles têm o direito de influir na dinâmica de seus corpos. Nós, mulheres, não”. A organização social e política brasileira o comportamento e o sentimento dos homens são levados em consideração mais facilmente. “O padrão masculino, desde que hegemônico, também é menos questionado e mais valorizado”, reitera Izis. O livro O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível, de João

Francisco Duarte, explica que a forma do ser humano sentir a si próprio e ao mundo de modo integrado é por meio da estética. Assim, é na busca da identidade que algumas mulheres escolhem ficar com pelos. Batalham pela aceitação para que consigam fazer parte desse mundo num todo. Neste caso, a ordem dos fatores irá, sim, alterar o produto. A luta pela permanência dos pelos vem primeiro pelas mulheres, por serem capazes de escolher, de se amarem e se aceitarem, e depois pela oportunidade e o espaço no padrão estético de beleza no mundo. Portanto, ainda existem problemas ligados a dificuldade de socialmente a ideia do belo e do pelo não poderem se complementar, deixando muitas adeptas inseguras. Contudo, abrem mão do conforto, aplicado ao padrão estético para se sentirem donas de seus corpos. Ir além das expectativas da comunidade para serem mulheres, não o tipo certo, mas a que escolheram. Shannon, que também participou do documentário londrino, sofreu bullying de um garoto da escola por causa da axila peluda, decidiu depilar. Então, foi até o garoto e falou: “Olha, você vê uma grande diferença? Está feliz agora? O que acha?”. Ele respondeu: “Não, não tem tanta diferença”. Quem sabe com o aumento de mulheres decididas e mais esclarecidas como Shannon, a obrigatoriedade da depilação constante abra espaço para mulheres que consigam lidar melhor com todos os seus tipos de fios e, desta forma, o mundo consiga ver que não tem tanta diferença.

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Comportamento Voluntariado criativo

Troca de experiências e ações de solidariedade na internet geram iniciativas empreendedoras. A moda é ajudar pessoas Foto: Bianca Amaral

Marianne Paim

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Praticar o desapego não é uma tarefa fácil, ainda mais quando o objeto tem sua história. Um dos primeiros contatos que muitos têm com a ação voluntária é passar para frente brinquedos que são deixados de lado. Mas o que os apegados talvez não saibam é que aquele sapato que já não serve, os livros já lidos e cheios de poeira da estante, podem virar um tipo de negócio. No Brasil, o empreendedorismo social ainda está nos seus primeiros passos. Segundo o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), em parceria com Ipsos Public Affairs – instituição que realiza pesquisas sobre consumo e comportamento, o brasileiro não se sente estimulado para a doação e voluntariado. O país também aparece no World Giving Index 2014, ranking que mede o índice de doações entre 135 países. Ele se encontra na 90ª posição, subindo apenas uma posição em comparação ao estudo anterior. Contrariando os dados, no Distrito Federal os jovens empreendedores têm mostrado a importância de iniciativas para poder ajudar os que realmente precisam e de uma maneira inovadora. A ideia da The Street Store é dar a liberdade de escolha para os que precisam através da exposição de roupas e objetos doados que podem ser levados gratuitamente, simbolizando uma “loja”. O projeto, que surgiu na África do


Sul no ano passado, chega a Brasília por meio de sete estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Para eles, a ação social também tem outra finalidade, desconstruir a ideia de morador de rua. “Eles são pessoas que têm sonhos e história como nós, mas muitas vezes são considerados quase que “invisíveis”, por estarem à margem da sociedade”, declaram. Na prática Além da comodidade de ônibus saindo de cidades do Entorno do Distrito Federal para o Museu Nacional, centro de Brasília, onde aconteceu a ação de voluntariado, os clientes foram recebidos com café da manhã. Mais que fazer compras, era possível cortar o cabelo, fazer exames básicos de saúde, brincar com tinta e para a hora do almoço: sopas. O morador de rua Elton Mendes, 49 anos, disse que esse tipo de evento deveria acontecer mais vezes. “É uma pena que essa situação de rua nunca vai acabar”, lamenta, quando se lembra da própria realidade. Aparecida Ferreira, 30 anos, levou o filho para se divertir na área de recreação. “A gente sai da rotina e isso é bom”, diz a recicladora de lixo que observou atenta a movimentação. Para

ela, o evento é um exemplo de luta contra o preconceito. “Ninguém aqui é indiferente com a gente. Não importa se você está sujo ou mal arrumado, eles [voluntários] te tratam da mesma forma”, comenta. Para quem topou contribuir com alguma ajuda, a sensação é de dever cumprido. Selma Monteiro, 39 anos, é chefe de confeitaria e acabou se mobilizando para fazer o trabalho. “É saber que você está livre no domingo e está disponibilizando esse tempo para quem precisa”, lembra. Em 40 dias, a equipe arrecadou mais de 6 mil peças entre roupas, brinquedos, sapatos e outros acessórios. Pontos de coleta foram disponibilizados em todo o Distrito Federal, em academias, padarias e supermercados. Internet solidária As redes sociais têm sido aliadas para que os projetos saiam do papel e estimulem cada vez mais voluntários. Para a sua primeira edição, o The Street Store recorreu ao crowdfunding – financiamento coletivo, para arcar com custos do evento que ocorreu no Museu Nacional da República. O Atados é uma rede social que também utiliza a internet como principal meio para desenvolver

seu trabalho e “juntar gente boa”. O intuito é unir pessoas que querem fazer parte de algum projeto social, iniciado por ONGs ou por pessoas independentes. “Percebemos que tinha muitas pessoas querendo fazer, principalmente jovens, mas não é tão fácil encontrar as informações na internet”, conta um dos fundadores, Andre de Geus Cervi, 25 anos. A rede disponibiliza várias ONGs e suas variadas ações para que voluntários se identifiquem e partilhem a ideia. Com sede em São Paulo, o Atados também está presente em Brasília desde 2013, desenvolvendo o compartilhamento mútuo de experiências e de solidariedade. Para Deborah Andrade, 22 anos, representante da iniciativa na Capital, o que falta é uma comunicação clara entre instituições e interessados em se voluntariar. “Pessoas pensam que não existem ações acontecendo e que é muito difícil entrar em uma instituição”, afirma. Além de ideias autorais, chega a 40 o número de ONGs inscritas na plataforma no DF. Conhecer histórias e trocar experiências para incentivar e promover a solidariedade. A moda de ajudar e entender o outro nunca vai deixar de ser tendência.

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Cultura Ao ar livre

Após o fechamento de vários cinemas “para-brisas” espalhados pelo Brasil, o Cine Drive-in de Brasília é o único em funcionamento no país Larissa Nogueira e Álef Calado

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Se você é daqueles que adora comer, conversar, atender ao telefone ou ficar de olho nas redes sociais enquanto assiste a um filme, seu lugar é no Cine Drive-in! O cinema a céu aberto de Brasília é o último em funcionamento no país e o único na América Latina. Localizado no centro da cidade, próximo ao Estádio Nacional, a tela gigantesca e o sistema de som estéreo prometem transmitir toda a magia da sétima arte para os automóveis acomodados nos 15 mil metros de terreno asfaltado. Há 26 anos administrando o local, a nutricionista Marta Fagundes, 55, confessa que já passou por situações muito difíceis e que já pensou em fechar o cinema inúmeras vezes. “Assumi a gestão quando os donos do cinema foram embora e eu resolvi ficar. Daí, constituí a empresa, comprei alguns equipamentos”, lembra. Mesmo com as dificuldades, Marta destaca o diferencial entre o cinema “para-brisa”e as salas tradicionais: conforto e facilidade de acesso. “A pessoa pode vir de bermuda, pode mexer no celular, conversar... Pessoas

com deficiência também têm acesso mais fácil por não precisarem deixar seus carros para se locomover”, explica. Entre as comodidades, se destaca o rápido atendimento em caso de “pane”. Se a bateria do carro descarrega após a sessão, não há motivo para preocupação. Nós – repórteres do Artefato – tivemos a experiência e comprovamos que os funcionários do Cine Drive-In estão preparados para auxiliar em situações como essa. Basta sinalizar para o garçom imediatamente te atender. O estacionamento do local também é bastante seguro. Marcelo Faria, 48 anos, diz que sempre vai ao cinema pelo conforto que ele traz aos espectadores. “Eu me sinto totalmente a vontade nesse cinema, já vim com esposa e com meu filho. Hoje, eu curto tanto, que se eles não quiserem me acompanhar, eu venho sozinho”, disse. Amor em ação Cairo Oliveira e Kamila Stephany, 23 e 20, tiveram o seu primeiro encontro de namoro no Cine Drive-in. “Foi o

melhor primeiro encontro da minha vida. Ouvimos o filme na altura que nós queríamos. Nesse dia, nós ficamos e eu só não pedi ela em namoro porque eu não tinha uma aliança para firmar o compromisso. Isso tudo deitados no porta malas do carro, com os bancos rebatidos”, conta Cairo. Ela contou que o primeiro encontro não poderia ter sido melhor e que todo mês eles voltam ao local para reviver a história e assistir aos filmes. Itinerante premiado Ganhador de quatro prêmios no Festival de Cinema de Gramado em 2015, O Último Cine Drive-in, filme dirigido pelo cineasta Iberê Carvalho foi gravado nas dependências do cinema. A película conta a história do jovem que se vê obrigado a voltar à Brasília, sua cidade natal, após descobrir que a mãe estava doente. O garoto reencontra o pai, dono de um cine drive-in ameaçado de demolição por não atrair mais espectadores. Marta Fagundes se entusiasmou com o filme. “Eles levaram quase dois meses pra finalizar a


Foto: Thaís Miranda

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N. COLUNA

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Concorra a ingressos no site do Artefato https://artefatojornal.wordpress.com/

VAGA

O Cine Drive-in abre todos os dias. As seções começam a partir das 18h30. De segunda a quinta, os ingressos custam R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia. Sextas, sábados, domingos e feriados os ingressos custam R$ 22 a inteira e R$ 11 a meia.

CARRO

Cinema Parabrisa

em mais cidades”, comemora. O Último Cine Drive-in estreou no dia 19 de agosto, no cinema para-brisa de Brasília. A exibição contou com uma fila de mais de cinco quilômetros e lotou as 500 vagas do estacionamento. “É um filme simples, singelo, sem muitas peripécias. Foi muito bonito ver que as pessoas abraçaram o filme desta forma”, relata Iberê.

Preço: R$ 11 - 10 de agosto - 18:30

relata. O cineasta conta que as expectativas com relação ao filme foram crescendo aos poucos. A obra foi muito bem recebida no Festival do Rio e ganhou vários prêmios no Festival Internacional de Cinema de Punta del Este. “Quando ele chegou em Gramado e levou aquele tanto de prêmio, as expectativas já estavam lá em cima. A distribuidora também já planejava um número maior de salas,

O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN Iberê Carvalho

produção. Apesar das várias externas, a maioria das cenas foram gravadas aqui. Eu nunca pensei que o Cine Drive-In fosse passar um filme feito no próprio Cine Drive-In”, relata. Iberê Carvalho conta que o filme discute a importância dos espaços culturais na sociedade atual. “Estamos falando do Cine DriveIn, mas poderia ser de qualquer outro cinema que acabou fechando”,

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Saúde Aids

Depois de 34 anos do início da epidemia, o preconceito ainda existe. Diálogo e informação ajudam a mudar a vida de pessoas Nathalia Melo

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Filadélfia, Estados Unidos, 1993. Época em que a aids era quase que exclusivamente relacionada aos homossexuais e o preconceito, maior que o senso de humanidade. Andrew Beckett, 26, advogado homossexual de sucesso, descobre que tem a doença e, por isso, é demitido. Com dificuldade para encontrar alguém que o ajude, o rapaz contrata um advogado homofóbico, único disposto a defender sua causa. A história poderia ser real, mas se trata do filme Filadélfia, de 1993. Na trama, Andrew não teve acesso ao tratamento e desenvolveu aids. Hoje, no entanto, é cada vez mais possível controlar o vírus e ter uma vida normal. O ator e diretor Gabriel Estrëla descobriu aos 18 anos que era soropositivo. Apreensivo e esperando o resultado, uma moça tocava no violão: “É só isso. Não tem mais jeito. Acabou. Boa sorte”. Foi ouvindo esses versos que teve consciência de sua condição. No momento, refletiu sobre a ironia dessas palavras. “Parecia uma sentença de morte. Pensei, que sorte é essa?” Hoje, cinco anos depois, acredita

que nada aconteça por acaso. O boa sorte da música fez sentido: ao chegar em casa, foi acolhido e apoiado pela família e conheceu uma ONG, onde teve a oportunidade de ajudar outras pessoas. “Se isso não é sorte, eu não sei o que é”. Após a exposição na internet, ele percebeu que era o momento para iniciar o projeto Boa Sorte. O principal produto é uma peça teatral que aborda a história de Gabriel, além de grupos como grávidas e travestis. “Não existe uma mensagem que eu possa passar. Principalmente porque não é uma questão tão simples. Não quero dizer que HIV é legal, que viver com ele é tranquilo. O que eu quero, no entanto, é que as pessoas falem a respeito”, acrescenta Gabriel. Para ele, o debate é uma oportunidade de desconstruir discursos discriminatórios. Todos os dias, toma os remédios necessários e, felizmente, o risco de desenvolver a doença é pequeno. Gabriel é um caso de sucesso – se previne, faz o tratamento, desenvolve um projeto sobre o assunto. Embora existam outras pessoas como ele e, cada

vez mais, medidas são tomadas para acabar com a epidemia, os números relacionados à doença ainda assustam. Panorama Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que 35 milhões de pessoas no mundo estão infectadas pelo HIV. Dessas, 19 milhões não sabem que têm o vírus. Na América Latina, 47% dos novos casos registrados em 2013 foram no Brasil, indicando que o país lidera o ranking na região, com 734 mil soropositivos, segundo o Ministério da Saúde. No país, 20% das pessoas infectadas não sabe que têm o vírus. O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (Unaids) divulgou informações que mostram o aumento no número de casos no Brasil. Entre 2005 e 2013, o crescimento foi de 11%. No entanto, a tendência mundial, segundo pesquisadores, é de diminuição. De acordo com o Unaids, um terço das infecções na América Latina em 2013 ocorreu em idade entre 15 e 24 anos. O Ministério da Saúde prevê que, atualmente,13 mil pessoas no Distrito


Federal tenham o vírus. A maioria dos soropositivos brasilienses é constituída por homens brancos, heterossexuais, entre 30 e 44 anos, embora a associação com os homossexuais aconteça desde a descoberta da doença, em 1981. Profissionais do sexo e seus clientes, transexuais, homossexuais, e usuários de drogas injetáveis são, segundo a ONU, grupos com alta vulnerabilidade. De acordo com o coordenador de projetos da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), Vagner de Almeida, a doença está localizada em classes menos privilegiadas – pobres, jovens, gays e terceira idade. Por isso, a diretora do Unaids no Brasil, Georgiana Braga-Orillard, acredita que o foco de campanhas de educação e conscientização contra a transmissão do vírus deva ser nos jovens. “O jovem de hoje faz parte de uma geração que nunca teve tanto acesso à informação e, ao mesmo tempo, não está sendo capacitado para filtrar, interpretar e usar toda essa informação”. Esperança A realidade da doença, em especial no Brasil, como mostram os dados, pede atenção. No entanto, avanços são visíveis. “Hoje temos 15 milhões de pessoas em tratamento e casos de sucesso”, comemora o diretor executivo do Unaids, Michel Sidibé. A meta estabelecida há 15 anos de oferecer tratamento medicamentoso para 15 milhões de pessoas foi cumprida nove meses antes do programado. Essa conquista está presente no relatório Como a aids mudou tudo – 15 anos, 15 lições de esperança da resposta à aids, que conta a história da doença, como ela alterou a saúde e o desenvolvimento global, além de apontar que é possível acabar com a epidemia até 2030.

De acordo com o Ministério da Saúde, caso o tratamento seja iniciado logo após o diagnóstico, há 96% menos chance de transmissão do vírus. No Brasil, até 2013, o paciente só poderia recorrer aos medicamentos após apresentar sintomas, isto é, não bastava ter o vírus. Atualmente, é possível iniciar antes. No país, do total de portadores, cerca de 400 mil têm acesso aos remédios gratuitamente. Georgiana Braga-Orillard afirma que não será possível acabar com a epidemia se não houver diálogo sobre discriminação. Gabriel concorda e diz que é comum pessoas diagnosticadas terem medo de manter relações: “Esse medo não é só por uma questão de estar se sentindo vulnerável, mas porque o indivíduo começa a se ver como uma arma biológica”. Segundo a Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids, de 1989, em caso de discriminação o indivíduo pode fazer um boletim de ocorrência, recorrer à defensoria pública ou a algum órgão de proteção de direitos.

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Foto: Jacqueline Santana

Saúde Livre escolha

Coletores menstruais deixam mulheres mais confiantes. Solução reduz impactos ambientais e é alternativa econômica Jacqueline Santana

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Por mais que ainda seja um tabu, todas as mulheres menstruam, a não ser que tenham alguma alteração orgânica, funcional ou obstrutiva. Uma nova forma para ser utilizada durante o período menstrual chegou ao Brasil há pouco tempo e pode ser mais higiênica e até solucionar impactos ambientais. São os coletores menstruais, também chamados pelos íntimos de “copinho”. O coletor lembra, à primeira vista, um cálice feito de silicone hipoalérgico e antibacteriano. Ele é maleável e se ajusta quando é introduzido na vagina. É diferente do absorvente interno, que fica localizado no fundo do canal vaginal e pode até alterar o PH da vagina, por absorver o muco. O ginecologista Demétrio Gonçalves alerta que, dependendo da mulher, os absorventes internos podem causar irritação vaginal, já os absorventes externos, na vulva. A consultora de vendas Daniela Dias, 27 anos, relata que tinha alergia com os absorventes e conheceu por uma amiga o coletor menstrual, há mais ou menos cinco meses. “Eu não tinha mais alergia e

percebi que a cólica também diminui, e até mesmo o incômodo”, relata. Assim como os absorventes internos, o coletor precisa de cuidados higiênicos para que não cause nenhuma infecção para a usuária. Uma das empresas que fabrica o coletor no Brasil recomenda que ele seja lavado com água e sabão neutro de duas a três vezes ao dia e, ao final do ciclo, fervê-lo por cinco minutos. No Brasil, ainda é difícil encontrar o produto em lojas físicas e farmácias. A alternativa é pedir pela internet ou comprar de uma revendedora. Por isso, o valor pode ser considerado alto. Em sites brasileiros, ele pode ser encontrado a partir de R$ 75 mas também existem sites estrangeiros que fazem a entrega no Brasil. A revendedora Semyramis Soares, 20 anos, cobra uma pequena taxa de R$ 3 para entregar nas estações do metrô de Brasília. “O coletor custa R$ 79 e existem dois tipos, A e B. O primeiro é para mulheres com mais de 30 anos ou que tenham filhos, e o segundo para as que possuem menos de 30 ou sem filhos”.

Sustentável Segundo o site Ambiente Brasil, uma mulher usaria em média dez mil unidades de absorventes higiênicos ao longo da vida. Como eles não são biodegradáveis, levam cerca de cem anos para sua decomposição. A empresa Knowate, criou em 2011 a primeira usina que recicla fraldas e absorvente descartáveis no Reino Unido. Como ainda não existe nenhum processo assim no Brasil, o Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU) disse que divulga o consumo consciente, mas não trata especificamente desses itens. “Absorventes e fraldas são considerados rejeitos e não são separados para a reciclagem, por não haver mercado”. Enquanto um coletor pode custar R$ 75 e durar até dez anos, uma mulher gasta em média cem reais por ano só com absorvente. Apesar dos benefícios, a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM/PR) afirma que não há previsão de apoio ou divulgação por parte do Governo Federal.


Saúde Medula óssea

Falta de informação reduz número de doadores voluntários e dificulta a realização de transplantes em todo o Brasil Diogo Neves Por meio da campanha #AjudeVivi, nas redes sociais, a família da pequena Vivian Cunha, de apenas 2 anos, tenta mobilizar pessoas para conseguir uma doação de medula óssea. Diagnosticada com leucemia linfóide aguda aos dez meses de vida, a menina apresentava problemas de saúde como infecções, febre e os antibióticos receitados não resolviam. A tia da menina, Mariana Moura, diz que somente após exames de sangue mais detalhados a família teve a confirmação. Para tentar encontrar um doador compatível, a família recorreu à web. “A ideia surgiu quando a gente precisou atingir um número enorme de pessoas pela necessidade do transplante. Eu atualizo sempre a página no Facebook e Instagram. Com isso, eu vejo como tem gente que também tá precisando”, revela Mariana. Segundo a Fundação do Câncer, no relatório anual de 2014, cerca de 3,5 milhões de pessoas estão cadastradas no Registro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), no Brasil. O mesmo relatório mostra que apenas 272 transplantes foram realizados no país,

sendo 193 com doadores voluntários não aparentados, sem vínculo familiar. As chances de se encontrar um doador compatível na família são de apenas 25%. No caso da pequena Vivian, a compatibilidade entre seus parentes está abaixo desse índice. O Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (Inca), estabeleceram como meta atingir o número de 9 mil doadores voluntários cadastrados no Redome, por ano, em todos os estados. Em 2014, o DF registrou pouco mais de 3 mil. Entre janeiro a agosto deste ano, foram apenas 2.731. O Redome é o terceiro maior registro do mundo, com 3,8 milhões de doadores voluntários cadastrados em dez anos, graças aos investimentos e campanhas de sensibilização, promovidas pelo Ministério da Saúde, órgãos vinculados como o Inca e com a resposta positiva da população. Essas campanhas mobilizam hemocentros, laboratórios, ONGs, instituições públicas e privadas e a sociedade em geral. A hematologista da Fundação Hemocentro de Brasília, Flávia Piazero, explica que os voluntários desconhecem o procedimento cirúrgico

no ato do registro. “A gente nota que as pessoas vêm fazer o cadastro após as campanhas e, quando são chamadas, não comparecem. Muitas acreditam que doar é apenas retirar os 10 ml de sangue, mas não é. A retirada do material do doador é realizada em um centro cirúrgico, por meio de pulsão direta feita com uma agulha injetada no osso do quadril, que é perfurado”, reforça. Longa espera Para encontrar um doador compatível é necessário que determinados conjuntos de genes sejam iguais aos do paciente. Mariana Moura, a tia da pequena Vivian, acredita que é preciso investir mais em campanhas informativas e tornar o processo de doação menos burocrático e demorado. “É uma luta contra o tempo. A gente luta contra o tempo sem saber se vai dar tempo. Tem que, às vezes, deixar o emocional de lado e pensar racionalmente e se perguntar isso”, conta. Vivian, de apenas 2 anos, é uma lutadora. Desde que nasceu sofre com a leucemia. A família busca nas redes sociais uma esperança: a luta é por um doador compatível. A luta é pela vida.

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Meio Ambiente Perigo

Para 2017, a previsão é de que 65 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos sejam gerados. Volume equivale a 11 pirâmides de Queóps Adrienne Ribeiro

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Você já deve ter tido um aparelho celular, um computador, uma TV, ou qualquer outro aparelho eletrônico que um dia deixou de fazer parte da sua vida, seja por necessidade, mau desempenho, ou porque você mesmo quis trocar. Nesses casos, é importante saber que esses aparelhos devem ser descartados em locais adequados. No Brasil, o tema ganhou força e chamou atenção depois que a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um estudo em que o país aparece como um dos maiores geradores de resíduos eletrônicos entre os países emergentes. De acordo com o especialista em geologia e professor de Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília (UCB), Luiz Fernando Kitajima, em 2012, o Brasil produziu 2 milhões de toneladas de lixo eletrônico e há uma estimativa que em 2017, o volume mundial seja de 65 milhões de toneladas, ou seja, serão 65 bilhões de quilos só de equipamentos eletroeletrônicos descartados. Em termos de volume, esse total equivale a 11 pirâmides de Quéops – a maior e mais antiga de Gizé, no Egito.

“Seguindo essa projeção, se dividir o volume previsto para 2017 pelo total de pessoas no planeta, cada pessoa produzirá aproximadamente 9 kg de resíduos eletrônicos”, enfatiza o professor. Segundo ele, essa atitude traz consequências sérias ao meio ambiente: volume crescente, substâncias químicas potencialmente perigosas, como chumbo, mercúrio, fósforo, cobre e zinco, além do plástico que é altamente tóxico ao ambiente e leva décadas para ser degradado. Um exemplo de lixo eletrônico que tem forte impacto ambiental são as antigas TVs de tubo. Elas possuem, na parte de trás, uma espécie de tubo de vidro que contém grandes quantidades de chumbo e fósforo. Segundo o especialista em geologia, aparelhos eletroeletrônicos que têm bateria, operam com mercúrio, zinco e cobre, ao ficarem expostos ao ar livre, podem ser oxidados e enferrujar, contribuindo para a contaminação da água e do solo. Possíveis soluções Visando amenizar os futuros problemas ambientais, sociais e econômicos causados pelo excesso de

resíduos eletrônicos foi implantada a Lei nº 12.305/10, denominada como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O regulamento prevê que é de obrigação dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos eletrônicos estruturar e implantar o sistema de logística reserva, que consiste no retorno do produto, indo do consumidor para o seu produtor. Mas cada pessoa é responsável pelo lixo eletrônico que produz. Exemplos de soluções para o material são: reciclagem, descarte controlado, método que trabalha com a separação dos materiais que podem ser reaproveitados, enquanto o restante é acondicionado em aterros sanitários adequados e destinados para esse fim. E por último, o reúso. Todas essas possibilidades são técnicas cientificamente eficazes que os consumidores podem procurar para fazer a disposição do seu lixo eletrônico. Para o especialista em geologia é preciso implantar políticas de incentivo a empresas que trabalham com reciclagem e reúso, apoiar ONGs que lidam com a inclusão digital. No


primeiro caso, promover a revenda de aparelhos reconstituídos, como celular, a custo inferior para pessoas carentes, e o reaproveitamento, além de campanhas educativas. A busca pela mudança Em 2009, insatisfeito com um amontoado de computadores e televisores inoperantes em um depósito da UCB, o professor do curso de tecnologia da informação Fernando Goulart propôs a um grupo de colegas, incluindo Kitajima, o reaproveitamento do material. E-Lixo Universitário, como foi chamado, começou com o desmonte dos resíduos e depois a criação de novos computadores que serviram para outro projeto da universidade, a Alfabetização Cidadã, onde é promovida a inclusão digital. A partir daí o propósito se

intensificou e outras instituições e escolas do Entorno ganharam computadores remontados. Na procura por soluções sustentáveis para os resíduos eletrônicos e de telefonia da Universidade de São Paulo (USP), em 2009, a Prefeitura do Campus USP da Capital (PUSP-C), criou o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (CEDIR). O projeto recebe resíduos da universidade e de comunidades próximas. “O material é selecionado, testado e reutilizado quando é possível. O restante é vendido como sucata ou encaminhado para a logística reversa, quando existe. Havendo material que não se enquadre nessas três linhas de gerenciamento, encaminhamos para descontaminação ou destinação final ambientalmente adequada”,

explica Aline Mellucci, chefe técnica de Gestão de Resíduos e Recursos Naturais da Prefeitura da USP. Locais De acordo com o SLU, não existe uma quantidade exata de locais no Distrito Federal destinado para esse fim, por isso o órgão orienta que os consumidores procurem lojas, ONGs e cooperativas que realizam esse recolhimento. São exemplos a Zero Impacto, a Estação de Metarreciclagem e a Cooperativa do Varjão (CRV). Em seu site, a empresa Zero Impacto fornece uma lista dos pontos especializados no descarte d0 lixo eletrônico ou o seu agendamento. Ao todo somam 17 locais espalhados por todas as Regiões Administrativas e o Plano Piloto. Foto: Mylena Tiodósio

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Foto: Jelsyanne Albuquerque

Educação Infância

Escuta sensível propõe valorizar e respeitar a criança. Desenvolve a cognição, os movimentos e a percepção de mundo Gabriela Gregorine e Jelsyanne Albuquerque

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Escutar o que as crianças têm a dizer exige vontade, tempo, dedicação e muita paciência. A infância é a fase mais marcante na vida do ser humano, na qual será ensinado o que é certo e errado. É quando as crianças copiam os exemplos que vão seguir e quando seu caráter e personalidade são formados. O método de “escuta sensível”, conceito criado por René Barbier, diz respeito à arte de ouvir com atenção, exercitar a empatia e se relacionar com o outro, levando em conta os desejos, os sentimentos, o comportamento e as ideias. Aplicado à criança, a escuta sensível consiste em dedicar uma atenção especial à fase da infância. É ouvir suas histórias, desejos, questionamentos, deixálas exercitar a criatividade, e estimulá-las a exercerem sua individualidade. Respeitar a criança como um ser complexo, criativo e livre é o primeiro passo desse dever de casa para os adultos. “Aqui em casa não há regras quando o assunto é a criatividade. Minha filha desde sempre risca paredes, tem acesso a texturas diferentes, músicas, tintas, massinhas, livros.A casa é uma verdadeira obra de arte”, comenta Rosanna Alvares Britto, mãe de Laura, de 3 anos. Para a psicopedagoga Graciely Garcia Soares, a escuta sensível é a oportunidade

de um novo olhar para o desenvolvimento. “Deve-se considerar a educação infantil como um tempo de cuidado, brincadeiras e respeito à individualidade”, explica. Segundo especialistas, o progresso da criança se expressa em sua convivência social ou no ambiente em que vive. A mãe de Nickolas, de 4 anos, Eroneide Moreira Merola (foto), conta que as histórias e músicas fazem parte do cotidiano e ajudam no desenvolvimento do pequeno. “É a hora que sinto mais intimidade entre a gente. Acho que a linguagem, o vocabulário e a imaginação é bastante rico, principalmente por causa desses momentos”, avalia. Importante escutar Uma criança que não é ouvida e estimulada na infância pode ter problemas na fase adulta. A psicóloga Caroline Cirilo Alves diz que muitos pais procuram psicólogos relatando problemas dos filhos. Com o desenvolver dos atendimentos, é identificado que esses problemas, muitas vezes, são causados pela falta de atenção, escuta e diálogo. Quando negligenciadas, as crianças podem apresentar sinais como impulsividade, agressividade, birra, manha, comportamento retraído, dificuldade no desenvolvimento da fala ou afastamento

dos pais. Uma forma fácil de educar e ouvir é brincar com as crianças. “O brincar é uma ótima forma de escuta, a criança sem ver ou perceber relata o que está havendo, o que pensa e o que sente. Além de estimular seu desenvolvimento motor, cognitivo e de percepção”, aconselha a psicóloga. Políticas públicas O governo também reconhece a importância da escuta sensível. A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) por meio da Subsecretaria de Educação Básica (Subeb), está investindo na metodologia nas Regionais de Ensino do DF desde 2013 e neste ano, os esforços passam por ampliação. A Coordenação de Educação Infantil (Ceinf) preparou o Guia da Plenarinha em dois módulos, que trazem para o currículo escolar, a concepção de que a criança é um protagonista infantil, um sujeito de direito. O documento deste ano tem como tema Escuta sensível às crianças: uma possibilidade para a (re)construção do Projeto Político Pedagógico. O objetivo é oportunizar a participação das crianças no projeto pedagógico das unidades de educação infantil. Já que o segundo módulo contará com alterações a partir do que foi sugerido pelas crianças.


Educação Modelo

Escola pública no Gama é referência e já recebeu menção honrosa da Unesco. Boa gestão e modelo integral são aliados Gustavo Figueredo de 16 anos, que não podem estagiar em empresas privadas, são encaminhados para estagiar em outra escola”, conta. Entre os projetos pedagógicos, destaca-se um programa de computador desenvolvido pelos alunos, em que pessoas aprendem a ler em braile. O trabalho recebeu menção honrosa pela Unesco, e foi apresentado em feiras de ciências em São Paulo e Rio Grande do Sul. Com proposta de ensino diferenciado, o Cemi conquistou nos últimos quatro anos seguidos a maior nota do Enem, entre todos os centros de ensino médio do DF. Esse fator foi decisivo para Iolanda Maria matricular seu filho Bruno de Sousa no colégio. “Meu filho

estudava em outra escola do Gama e, por ter boas referências, resolvi colocá-lo aqui”, ressaltou. A satisfação também acontece por parte dos professores. De acordo com um dos diretores do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), Cléber Soares, o Cemi é exemplo de uma educação de êxito, que é desejada por todos da rede pública de ensino. Apesar de elogiado por pais e alunos, o colégio sofre problemas em relação às verbas recebidas do governo. “A escola passa por empecilhos relacionados a recursos, mas são problemas que conseguimos dar a volta por cima”, conclui Lafaiete. Foto: Raphaella Inácio

Pichações, cadeiras quebradas e quadras poliesportivas em más condições de uso. Esses são alguns dos problemas que estamos acostumados a ver pela televisão e que retratam a realidade das escolas públicas do DF. Mas, a 34 quilômetros de Brasília, o Centro de Ensino Médio Integrado do Gama (Cemi) mostra outro cenário e prova que, conjugando alguns fatores, é possível ter uma escola de qualidade. Fundada há dez anos, o processo seletivo anual do Cemi é um dos diferenciais da instituição. Para o vicediretor da escola, Lafaiete Formiga, esse é um fator importante para o bom rendimento. “O aluno já sabe que entrando aqui terá de estudar o dia inteiro. Outras escolas tem as 13 matérias do ensino regular, dividas apenas em um turno. A nossa tem 21 matérias divididas em dois turnos, melhorando a qualidade de ensino”, explica o gestor. Outro aspecto que a diferencia das demais escolas é o fato de que todos os alunos precisam obrigatoriamente prestar estágio no terceiro ano do Ensino Médio. Segundo a professora Maria Zilma, é preciso obter 200 horas de estágio em empresas e os alunos devem procurar programas como o Instituto Euvaldo Lodi (Iel) e o Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee). “Alunos menores

Alunos do Cemi desenvolveram um programa de computador para leitura em braile que teve reconhecimento pela Unesco

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Esportes

Bola oval

Futebol americano bate recordes de audiência na TV e conquista adeptos. Distrito Federal já conta com cinco times Marcus Gomes Se na terra do Tio Sam a preferência pelo futebol americano continua inabalável por 30 anos consecutivos, no Brasil a proporção de fãs cresce rapidamente. Neto do tradicional futebol e filho do rugby, o esporte foi apontado como o favorito de 3,3 milhões de brasileiros em 2014, segundo pesquisa do Ibope Repucon – especializada em esporte. Esse dado aponta que 3,6% da população brasileira já aderiu à modalidade. É mais que o dobro de pessoas em relação à pesquisa feita em 2013. Atendendo a nova demanda de fãs, dois canais de TV apostam no futebol americano em suas grades horárias: a ESPN e o Esporte Interativo. Em janeiro de 2015 aconteceu o Super Bowl (Super Taça, em tradução livre), jogo final da National Fo otb a l l

League (NFL, liga dos EUA). A ESPN transmitiu o jogo e 2,7 milhões de brasileiros assistiram à vitória do New England Patriots sobre o Seattle Seahawks. Este número representa um aumento de 800% em relação à audiência do Super Bowl de três anos atrás. Esse crescimento não passa despercebido pelos olhares clínicos dos especialistas e demonstra também o impacto da cobertura da mídia na audiência. O jornalista da ESPN especializado em esportes americanos, Paulo Mancha, analisou a audiência da NFL no Brasil e disse que a ESPN tem um papel fundamental neste crescimento. “O Brasil é o único país do mundo, exceto os Estados Unidos, onde são transmitidas sete ou oito partidas por semana ao vivo”, afirma. Outro fator fundamental que alavanca o gosto pelo esporte, segundo Mancha, é a facilidade de obter informações sobre o futebol americano na internet. Para se ter noção do crescimento do esporte no Brasil, a própria NFL estuda fazer um Pro Bowl, espécie de jogo

das estrelas da liga norte-americana no Brasil, em 2017. Outro grande incentivo que tem voltado os olhos dos brasileiros à NFL é a presença de Cairo Santos, primeiro jogador brasileiro a disputar a competição. Cairo joga a segunda temporada pelo time do Kansas City Chiefs. “O crescimento do futebol americano no Brasil é explosivo. Não tenho dúvida que pode ficar entre os quatro esportes favoritos do brasileiro, disputando espaço com basquete, vôlei e handebol”, declarou Mancha à reportagem do Artefato. Brasil no Mundial O crescimento da audiência alavanca a prática. Desde 2009, foram criados mais de cem times, 12 ligas regionais e dois campeonatos nacionais. Todo o trabalho de treinamento e especialização que os times no Brasil desenvolveram refletiu na inédita classificação da seleção brasileira, batizada de Brasil Onças, ao mundial da modalidade disputado este ano em Canton, EUA. Apesar do sétimo lugar, o Brasil atingiu


o objetivo de vencer pelo menos um jogo no mundial, contra a Coréia do Sul por 28 a zero. Sem condições financeiras, a Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA) buscou doações online para arcar com os custos da viagem. “A ideia da vaquinha surgiu dos jogadores, preocupados em ajudar a entidade a cumprir seus compromissos”, declarou o presidente da CBFA Augusto Sousa. No entanto, a meta financeira não foi batida e os custos foram divididos entre jogadores, dirigentes e comissão técnica, além de um patrocínio que cobriu 10% do montante. No DF Leões de Judá, Brasília V8, Brasília Alligators, Brasília Templários e o mais antigo deles, Tubarões do Cerrado, são alguns dos nomes que colocam o Distrito Federal como um polo emergente

da prática do esporte com a bola oval. Destes, apenas o Tubarões não participou do Campeonato Candango 2015, realizado pela Federação Brasiliense de Futebol Americano (FBFA). O Leões de Judá, com apenas dois anos de fundação, levantou o troféu do torneio, o primeiro organizado pela FBFA. O presidente da federação, Marcio Makoto, falou sobre as dificuldades de realizar o campeonato em 2015. “No ano passado, os próprios times organizaram o campeonato e a federação ficou mais nos bastidores. Mas, nesse ano, a FBFA tomou a frente, pensou num calendário mais longo e resolveu alguns problemas como a busca por um estádio”, disse. Makoto faz um prognóstico para o quadro de equipes do DF. “Já temos cinco times, com mais dois surgindo Gama Gladiadores e Ceilândia Black Cats - teríamos sete, o que seria um

número ideal para daqui a cinco ou dez anos termos os melhores times do Brasil”. Mas os desafios são grandes na terra do futebol tradicional. “O esporte só cresce quando os times se ajudam e é mais eficiente que os times trabalhem juntos ao invés da rivalidade fora de campo”, pondera o dirigente do V8, Luiz Victorino. O número de torcedores tem aumentado. Na final do campeonato candango entre Leões de Judá e Goiânia Tigres (time convidado), o público presente foi de aproximadamente 700 pessoas, maior do que a maioria dos jogos do campeonato candango de futebol tradicional. Torcedor do Brasília Alligators, Bruce Macedo gosta de ver o seu time de perto. “Já fui a muitos jogos, principalmente no Bezerrão. O Alligators foi o primeiro time do DF que conheci e foi através dele que tive contato com o futebol americano”, conta Foto: Maiza Santos

Brasília V8 e Leões de Judá se enfrentam em jogo da Liga Nacional

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Crônica Natália Lázaro Se posso te dar um conselho, por favor, não abra este jornal. Você está prestes a descobrir muitas coisas. Umas boas, outras ruins. Você não vai querer isso. Faço um apelo antes de começar este texto. Por favor, nunca mais leia. Pense bem antes de fazer isso. Cuidado. Quisera eu ter sabido disso antes. Me lembro daquela cidade vazia e sem cor, onde não havia jornal ainda. Era tudo pacato, ninguém se via, ninguém queria. Era calmo, como o nada. Era um nada dentro de um vazio. A cidade era perfeita. As crianças ficavam quietas no canto e mal se ouvia suas vozes. Os homens trabalhavam na fábrica central, e fabricavam coisas que nem eles sabiam para que serviam. E as mulheres? Bom, não posso falar que ficavam à toa, pensando, porque ali ninguém pensava. Não posso falar que ficavam observando, porque nem isso faziam. Pensando bem, o que faziam elas? Outra coisa que ninguém nunca se perguntou… Até que um dia, a cidade amanheceu com placas de papel informando que a fábrica estava fechada. Toda a cidade se reuniu para ver o que aquilo significava. Pela primeira vez, algo de fato aconteceu. Seu João, voltando para casa, achou interessante aquela ideia. Se perdeu tanto naquele enunciado, que começou a pensar. Não deu outra: como estava desacostumado, bateu o carro. Quem viu não se importou. Mas João, pela primeira vez, por algum motivo, se importou. E escreveu, em um pedaço de madeira, “eu bati meu carro aqui”. E Dona Maria, enquanto pensava no recado da fábrica, percebeu que cozinhava muito bem. E resolveu anotar em um papel, e colocá-lo na frente de casa: “aqui se come bem”. E Pedrinho, que achou curiosa aquela coisa de ler, começou a pesquisar sobre tudo que via. Ele pegava cada objeto de sua casa, anotava e relatava como era. E ele escreveu: “papai, precisamos trocar a mesa da sala. Agora eu sei o que fazer com aquela peça que estava faltando”. E todos os moradores passaram o dia em suas casas, com

aquela vontade súbita e inexplicável de querer saber alguma coisa. E parecia tão bom. O filho falou com a mãe sobre o pé da mesa, e ela comentou sobre a comida com o vizinho, que disse que o irmão havia batido o carro, que o tio não iria trabalhar porque a fábrica estava fechada. E eles começaram a se falar. E, cada vez que conversavam, descobriam que tinham mais o que pensar. E cada vez que pensavam, descobriam que tinham ainda mais a descobrir. E cada vez que descobriam, pensavam em publicar. E cada vez que publicavam, mais pessoas pensavam em pensar. Parece bom. Mas foi o caos. No dia seguinte, três carros foram batidos, e era só disso que se falava. A não ser quando todos começaram a comentar sobre o que faziam e passaram a se achar especialistas em quaisquer assuntos. E, então, descobriram que os preços estavam caros. E começaram a querer tratar de economia. E descobriram uma coisa chamada inflação. E nessa, perceberam que alguém estruturava isso, e começaram a chamar de política. E assim, começaram a se perguntar sobre tudo. E começaram a querer fazer tudo. E esse foi o começo do fim. Pense em um mundo onde as crianças perguntam, os pais respondem, e todos reclamam juntos. Pense em um mundo onde todos percebem que foram enganados e que os preços estão errados e protestam quanto a isso. Pense em um mundo onde todos querem opinar, todos querem discutir, todos querem evoluir. Evoluir. Ruim demais para um mundo sem preocupações. Você não precisa disso. Se posso te dar um conselho, por favor, feche este jornal. Você está prestes a descobrir muitas coisas. Você não vai querer isso.

Cuidado, conhecimento vicia. Feche este jornal o mais rápido que puder.


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