Artefato 06/2015

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Ano 16 - nº 4 Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Católica de Brasília Distribuição Gratuita - Junho de 2015

Canabidiol: a esperança que custa caro Págs. 12 e 13 Mexa-se: dançar é o melhor remédio Págs. 6 e 7


Fim do ciclo. Essa frase representa o que estamos vivendo agora. O Artefato é fruto de um trabalho em conjunto, por isso nosso último editorial é feito a partir das percepções de todos, que, com tanto esforço e dedicação, ajudaram a construir o jornal que hoje é motivo de orgulho. Encarado por todos como um desafio recheado de expectativas – com o frio na barriga de ter de produzir algo que levaria nosso nome, nossa identidade – o jornal nos levou a vencer medos e superar limites. Nossas edições são como um filho: A primeira foi um parto difícil, afinal éramos pais de primeira viagem. Na segunda vimos nossa criança dar seus primeiros passos rumo à uma sociedade inclusiva e menos machista. A terceira foi além: saiu dos rabiscos e aprendeu a colorir. Na ânsia de aprender a caminhar, tropeçamos e descobrimos na quarta algumas síndromes que só podem ser curadas com o canabidiol. A vivência de uma redação, as responsabilidades, assumir funções e a pressão de ter de cumprir prazos foram atividades cotidianas nesse processo. Mais do que técnicas jornalísticas aprimoradas, o Artefato nos ensinou a sermos mais humanos, fazendo-nos exercitar nossa gentileza, aprendendo a ouvir, refletir e respeitar o outro. O trabalho em equipe e o aprender a conviver com as diferenças, foram sem dúvida os maiores desafios. Nosso dever, por ora, está cumprido: deixamos como herança a vontade de fazer do fato uma arte. Aline Tavares, Isabela Vargas e Renata Albuquerque, inspiradas na redação

Ser a ponte entre o cidadão e as diferentes instituições da sociedade. Permitir que o direito humano à comunicação se cumpra por meio do jornalismo. Empreender em um grupo de estudantes o espírito da responsabilidade social daquilo que se publica e dos efeitos que as informações podem ter. Engajamento, espírito de equipe e muito trabalho. Essas palavras podem sintetizar o que o Artefato realizou no primeiro semestre de 2015. O desafio e a motivação de fazer um jornal de qualidade pautaram as atividades. Conduzir essa equipe foi um paradoxo: lidar com habilidades, talentos, mas também com um grupo heterogêneo que na sua pluralidade apresenta sinergias e divergências. Ir além da pauta, do texto, da edição e da programação visual: trabalhar com as relações humanas. Essa talvez tenha sido a missão mais difícil da gestão. Conviver com ânimos, humores e vaidades que se asseveram com as situações de pressão. Mas, estar à frente de um grupo que rompeu limites e quebrou paradigmas do que é fazer um jornal-laboratório, que agregou, somou e multiplicou conhecimentos. Contar com o apoio da gestão do curso e da equipe de professores parceiros foi fundamental para que o sonho do início do semestre se convertesse no Artefato respeitado. Aprendizado, orgulho e missão cumprida. Mais do que querer fazer, nós realizamos! Professora Fernanda Vasques Ferreira

Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Católica de Brasília Ano 16, nº 4, junho de 2015 Reitor: Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Garcia Pró-Reitor Acadêmico: Dr. Daniel Rey de Carvalho Pró-Reitor de Administração: Prof. Fernando de Oliveira Sousa Diretor da Escola de Negócios: Dr. Alexandre Kieling Coordenador do Curso de Comunicação Social: Prof. Dr. Joadir Antônio Foresti Professora responsável: Me. Fernanda Vasques Ferreira Revisão final: Me. Roberta Teles Orientação de Fotografia: Me. Rose May Equipe de apoio: Me. Angélica Córdova, Me. Fernando Esteban e Dra. Rafiza Varão Apoio técnico: Samuel Paz Monitores: Amanda Costa e Daniel Mangueira Editoras-chefes: Aline Tavares e Isabela Vargas Editoras de texto: Jaqueline Chaves e Jéssica Paulino Editores de arte: Eduarda Szochalewicz e Sued Vieira Diagramadores: Giovana Gomes, Leonardo Resende e Raissa Miah Editora de fotografia: Kamila Braga Subeditoras de fotografia: Amanda Lima e Isabela Gadelha Editora web: Bárbara Cabral Repórteres: Aline Tavares, Bárbara Bernardes, Filipe Cardoso, Igor Barros, Isabela Vargas, Isabella Coelho, Jaqueline Chaves, Jéssica Paulino, Jhonatan Vieira, Kamila Braga, Leonardo Resende, Mariana Nunes, Nayara de Andrade, Paula Carvalho, Raissa Miah, Renata Albuquerque e Wanúbia Lima Checadores: Bárbara Bernardes, Jhonatan Vieira e Renata Albuquerque Fotógrafos: Catarina Barroso, Daniela Silva, Isabela Gadelha, Lorena Souza, Lucas de Sousa, Maria Alice, Pabline Souza, Sara Peres, Stella Fernanda e Webert da Cruz Ilustração: Samyr Salatiel Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia Universidade Católica de Brasília EPCT QS 7 Lote 1, Bloco K, Sala 212 Laboratório Digital Águas Claras, DF Telefone: (61) 3356-9098/9237 Todas as matérias têm ampliação de conteúdo na web. Acesse nossas redes sociais e site. E-mail: artefato@ucb.br Site: pulsatil.com.br Jornal online: issuu.com/jornalartefato

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Comportamento Crianças

Tecnologia protagoniza as experiências atuais de meninos e meninas. Pais se esforçam para resgatar brincadeiras tradicionais Raissa Miah “Brincadeira de criança. Como é bom, como é bom. Guardo ainda na lembrança. Como é bom, como é bom. Paz, amor e esperança. Como é bom”. A música do grupo Molejo, da década de 90, faz referência às brincadeiras de criança. Há um tempo, jogar futebol na rua, brincar com bola de gude e boneca faziam a cabeça da garotada. Mas, hoje, os aplicativos para tablets têm “sequestrado” cada vez mais o tempo de lazer das crianças. “O grande desafio como pai é tirar os filhos dos jogos eletrônicos. É uma briga feia, temos que ter criatividade para conseguir interagir com eles”, relata Egberto Santana, pai de três crianças. O pesquisador americano Howard Chudacoff concluiu que as crianças de hoje brincam menos e estão mais sozinhas que gerações anteriores. O conteúdo do estudo pode ser encontrado no livro Children at Play: an American History – ainda sem tradução para o português. Mas no Brasil a situação não é diferente da realidade estadunidense. Mãe de um menino de cinco anos, Narjara Arrita, 26, não permite que o filho brinque na rua por conta da violência. Lamenta que o menino

goste mais de jogos tecnológicos do que de brincadeiras. “Eu cresci nos anos 90 e brincava muito. Brincava de ser atriz, dava até entrevista!”, relembra sorridente. Brincar é tão importante para o desenvolvimento infantil que a prática é reconhecida na Declaração Universal dos Direitos da Criança, desde 1959. O que antigamente acontecia de forma natural, hoje precisa ser estimulado pelos pais, que muitas vezes encontram barreiras na sedução da tecnologia e nas dificuldades em relação à violência e segurança dos filhos. Brincando de corpo inteiro Aline Albernaz, 34, é mãe de três filhos entre cinco e oito anos. Em uma rede social, postou uma brincadeira inusitada dentro de casa: tirolesa usando corda e cabide. “As crianças que inventaram. Estamos percebendo que, quando as ‘telas’ ficam desligadas, eles automaticamente desenvolvem o brincar”, afirma. Aline tem uma página na internet chamada A cidade e as crianças, e faz publicações com ideias de brincadeiras e eventos para estimular pais e filhos.

As atividades ao ar livre permitem o desenvolvimento de relacionamentos, o contato com a natureza e a exploração do espaço público. Além disso, combate o sedentarismo. Richard Gomes, 17 anos, defende o brincar na rua: “Eu andava de bicicleta, subia em árvore, pulava corda, corria. Quando era criança, quase não tinha brinquedos, mas tinha muita liberdade”, ressalta. Para a psicopedagoga Vanuza Silva, as tecnologias têm influência positiva no desenvolvimento das crianças. Mas ela alerta para os exageros: “As crianças com acesso livre a jogos digitais têm a memória e as habilidades aguçadas. Porém, enfrentam dificuldades nos relacionamentos e têm pouca consciência corporal. Os pais precisam estimular o equilíbrio”.

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Sociedade Tecnologia

Programas de televisão e na internet são grandes aliados das igrejas em missões evangelizadoras Renata Albuquerque

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A evangelização tem ultrapassado as barreiras físicas da comunicação. Por isso, algumas igrejas têm seu próprio canal de TV e conseguem maior flexibilidade e autonomia na programação, além de utilizarem a internet para o funcionamento de TV Web. Dentre as opções destacam-se os canais Ave-Maria, Genêsis e Rede Vida. Além dos específicos, podemos encontrar programas do gênero em grandes emissoras como Rede Globo, Rede Record, Rede TV e Bandeirantes, que cedem espaço na grade de programação para que as igrejas tenham maior visibilidade. Frases que impulsionam o leitor a confiar no poder da fé são postadas constantemente nas redes sociais. Músicas, palavras que tocam e depoimentos de “salvação” são conteúdos emitidos nas ondas do rádio. O meio televisivo também é um grande aliado na missão de evangelização. Basta passar os

canais no seu aparelho de TV e você encontrará ao menos um canal ou programa de cunho religioso. Usuários da internet podem acessar programas em tempo real também. O Gospel Prime é um dos exemplos de TV Web. O site tem parceria com outras TVs e transmite ao vivo programas de algumas delas. Em nota, o portal afirmou ter 50 mil visitas por dia. A média é de 400 pessoas online durante o dia e, na madrugada, de 50 a 100. O pastor Luiz Fernando Serafim, da Igreja Universal de Araxá, em Minas Gerais, afirma que a instituição utiliza todos os meios de comunicação possíveis, principalmente a TV, para que o maior número de pessoas seja alcançado. “O nosso maior propósito é abrir os olhos da população no que diz respeito à vida que Jesus nos prometeu. Fazendo com que as pessoas busquem mais a Deus”. A Universal da 212/213 Sul

também utiliza o espaço cedido pelo meio televisivo para transmissão de programas. que são veiculados na Rede TV, Record e Band. Geralmente o espaço cedido pelas emissoras abertas para programas religiosos é na madrugada. Quem tem canal próprio passa a grade durante o dia. Apesar do horário, os eles possuem boa aceitação. “Há muitos programas religiosos bacanas que passam de madrugada. Os telejornais de algumas emissoras religiosas, por exemplo, são diferentes dos telejornais das emissoras ‘comuns’. Gosto do formato que eles têm”, explica a aposentada Denise Magalhães. Entre os canais católicos, a TV Canção Nova possui destaque. A emissora fundada em 1997 se estabeleceu em 2007 como a maior emissora de televisão católica do Brasil, e em 2014, pelo segundo ano consecutivo, foi contemplada com o prêmio da Associação Neotv de melhor


canal religioso do Brasil, concedendo destaque ao conteúdo evangelizador emitido pela emissora. A escolha se deu entre todas as emissoras por assinatura de cunho religioso com abrangência nacional. “Tem um programa que costumo assistir todos os dias. Ele passa à tarde e às 3h da manhã. Como trabalho durante o dia, assisto de madrugada. Dura cerca de 20 minutos, é oração de um terço. As pessoas se assustam quando falo que acompanho diariamente um programa na madrugada. Mas não é um sacrifício, muito pelo contrário. Acordo mais disposta”, afirma a vendedora Rosângela Costa.

A Agência Nacional do Cinema (Ancine) publicou, em 2013, o Informe de Acompanhamento de Mercado de TV Aberta que correspondeu ao período de janeiro a dezembro daquele ano. A publicação detectou que o gênero que mais ocupou as grades de programação foi o religioso, responsável por 16% do tempo médio das grades. Apesar do significativo espaço cedido pelas emissoras à programação do gênero, alguns acreditam que muitos programas devem passar por uma reformulação. “É necessário que os meios de comunicação estejam sempre a serviço de uma

sociedade justa e fraterna, mas alguns programas religiosos muitas vezes pregam a religiosidade, quando na verdade devem promover a vida, independente de religião”, argumenta o professor de história, Gilberto Andrade. As religiões espírita e testemunha de Jeová não possuem programas próprios e fixos na grade da televisão aberta, mas têm seus espaços nas TVs Online. Páginas como FEV TV e TV Mundo Maior oferecem grande variedade de programação espírita em tempo real. A JW Broadcasting, da testemunha de Jeová, disponibiliza programas 24 horas no próprio site.

Foto: Daniela Silva

Emissoras oferecem aos telespectadores programas religiosos na madrugada

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Comportamento Elixir

Remédio eficaz e sem restrições, movimentar o corpo ao ritmo de músicas alivia dores, estimula músculos, emagrece e diverte Isabela Vargas

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A arte da dança é cultivada em todos os lugares do mundo, em sua maioria com conotação positiva. Durante a atividade, o organismo libera a endorfina, substância responsável pela sensação de prazer, auxiliando na redução de estresse e ansiedade. Remédio natural, a dança possui incontáveis benefícios ligados ao corpo e à mente. E o melhor, sem restrições. Segundo o educador físico Antônio Rocha, 41 anos, dançar proporciona benefícios perceptíveis para quem é praticante. “A dança traz benefícios para a saúde em vários graus. Emagrece, melhora a autoestima, promove o autoconhecimento, desestressa, ajuda no condicionamento físico, na satisfação pessoal e também diverte”, completa. Quem já ouviu a frase “estou velho demais para fazer isso”, ainda não conheceu a Dança Sênior, própria para pessoas idosas e com dificuldades de locomoção. Criada na Alemanha, em 1977, por Christer Weber, a

modalidade tem se espalhado pelo Brasil desde 1993, e trabalha com movimentos suaves e passos curtos, valorizando a espontaneidade. A vice-coordenadora de Dança Sênior do DF, Antunilde Matos, também professora do grupo de ginástica Saúde em Ação em Taguatinga Norte, explica que a modalidade é uma atividade saudável que estimula o controle de movimentos corporais, a mobilidade das articulações, a coordenação motora e o equilíbrio, assim como a memorização das sequências de passos. A atividade promove também a socialização, quebrando a tendência de isolamento e solidão do idoso. Joana de Almeida, 95 anos, não perde o ritmo durante a aula e esbanja energia. “A dança me deixa mais solta. Sem ela, estaria em casa, parada. Hoje, se me chamar para viajar, eu estou preparada”, surpreende. A modalidade também funciona como fisioterapia. Lucilene Lacerda, 57, teve um aneurisma cerebral há alguns

anos e hoje participa da Dança Sênior oferecida pelo grupo de ginástica. Após frequentar as aulas, obteve resultados, como melhora dos movimentos e no desenvolvimento social. A modalidade é dividida em três especialidades: a dança propriamente dita; a dança sentada, que utiliza aparelhos manuais e músicas específicas; e a geronto-ativação, que trabalha com o método “12 minutos”, cujas sessões estimulam uma parte do corpo de cada vez. A coordenadora conta que, além da dança, são realizadas dinâmicas com materiais recicláveis, bolas, espumas e lenços. Com bom humor e sempre sorridente, Antunilde diz que alegria é o item que não pode faltar na mochila de quem pratica dança. Mexa-se Há quem diga que a melhor forma de praticar uma atividade física e emagrecer é dançando. Com a correria do dia a dia, as caminhadas


de fim de tarde cedem espaço para as modalidades de dança, que lotam academias em todo o DF. A zumba, modalidade que veio para ficar, é uma atividade que mistura ritmos latinos e internacionais. Com batidas fortes, acompanhadas de movimentos e coreografias de alto gasto calórico, tem conquistado adeptos em várias academias. “Durante uma aula de zumba, o gasto calórico pode variar entre 500 a mil calorias em 60 minutos”, acrescenta o professor Thiallyson Lustosa, 24 anos. A aluna de dança, Ana Lúcia Barbosa, 37 anos, começou as aulas por pura curiosidade e hoje não troca por nada. “Me apaixonei pela dança. Para

mim, a academia é o que há de melhor”, relata. Além da diversão, os benefícios à saúde são surpreendentes, como no caso de Ana Lúcia, diagnosticada com hipertensão. “Por meio da atividade, houve um equilíbrio da minha pressão. Você sai com o corpo e a mente mais leves”, afirma. A pedagoga Tatiana Sales, 24 anos, descobriu na dança uma motivação. “O principal benefício é o resultado emocional. A gente descarrega muito o nosso cansaço e estresse da jornada diária na zumba”, explica. A dança pode ser considerada uma fuga do convencional. Essa é a arte que não possui restrições, abraça a necessidade e respeita o limite de todos. Vamos dançar?

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Sociedade Voluntariado

Trabalho de confecção de perucas para pacientes com câncer transforma vidas em hospitais Bárbara Bernardes

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Voluntários tentam recuperar a alegria de pacientes que lutam contra o câncer doando o próprio cabelo. A perda dos fios é um efeito colateral da quimioterapia – método utilizado no tratamento da doença, como o câncer –, e que muitas vezes deixa os pacientes deprimidos ao verem sua imagem no espelho. Portanto, gestos de abnegação aliviam o sofrimento dessas pessoas. Lorena Castro, 33 anos, sempre foi muito vaidosa e cultivou longos cabelos. “Nunca tive preguiça de deixá-los impecáveis. Os cabelos são a moldura do nosso rosto”, afirma. Após muito tempo planejando sua primeira gravidez, no ano passado nasceu Larissa, com cardiopatia – doença que leva a uma má formação no coração. A menina faleceu com sete dias de vida após uma parada cardíaca. “Nessa uma semana em que ela viveu, eu fiquei vivenciando o que é uma UTI neonatal. Ver aquele sofrimento de

perto me sensibilizou bastante”, conta. Ainda abalada com a situação, resolveu fazer um ato de solidariedade cortando e doando seu cabelo para produzir perucas para mulheres na Rede Feminina de Combate ao Câncer, localizada no Hospital de Base. “Essa doação foi meu maior estímulo. Vi como é triste a vida em um hospital, e espero que meus cabelos arranquem sorrisos de pelo menos uma mulher e a deixe super satisfeita”, pontua. A Rede Feminina conta com cerca de 150 voluntários. Além de cabelo, são doados sapatos, roupas e materiais de uso pessoal. “As mulheres que desejam perucas devem vir para fazer seu cadastro e posteriormente recebê-las”, conta Kátia Queiroz, uma das voluntárias. Em 2012, quando era professora de ensino infantil, Yohanna Cordeiro, 23 anos, percebeu que as crianças tinham fascínio por

cabelos longos. Na época, soube que o hospital estava aceitando doações e, desde então, deixou os cabelos crescerem. Após dois anos, cortou os fios em abril, e agora aguarda a Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace) recolher a doação. Yohanna enfatiza que em Brasília não há muita divulgação desse trabalho. “Ainda precisamos de grupos mais ativos. Para nós, é uma questão de estilo ter cabelo curto ou comprido, mas quando não temos essa escolha, vira uma questão de autoestima”, explica. Após perceber pequenas diferenças na mama, Sílvia Helena, 60 anos, recebeu o diagnóstico de carcinoma inflamatório de mama – um câncer raro, difícil de ser diagnosticado. Após iniciar os processos de quimio e radioterapia, ficou assustada quando os cabelos


começaram a cair. “Apesar do susto, não foi tão penoso. Na verdade, preparei meu espírito, mente e corpo para o que iria enfrentar, e tirei de letra”, conta. Após a retirada da mama, as três filhas de Helena resolveram raspar a cabeça para mandar fazer perucas para a mãe. "Minha peruca foi mais que uma doação física. Foi um pedaço do amor delas que ia comigo para todos os lugares", explica.

Corte da felicidade No Distrito Federal, alguns salões fazem cortes de cabelos em voluntários que pretendem colaborar com a causa. O salão Roberta Andrade, na 410 Sul, promove ações desde 2012 em datas específicas, como o Dia da Mulher, e no Mês da Conscientização da Prevenção do Câncer de Mama. A proprietária do salão, que perdeu a mãe com câncer há quatro anos, conta que tudo começou quando foi doar as perucas e lenços da

mãe, e viu o quanto havia mulheres precisando. A partir de então, começou a produzir perucas. O salão é responsável pela pintura, hidratação e corte dos fios, após a confecção das perucas. As últimas doações foram feitas em dezembro, fevereiro e abril para os hospitais de Base, de Taguatinga e da Criança. No estoque, o salão já possui mais de 20 perucas que serão doadas em breve ao Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). Foto: Welbert Da Cruz

Seis meses após perder a filha, Lorena resolveu cortar e doar o cabelo para mulheres portadoras de câncer

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Esporte Perspectiva

Mesmo com pouca tradição no esporte, O DF oferece oportunidades para crianças e jovens que querem conquistar espaço nos gramados Aline Tavares

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Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? A frase imortalizada pela música É Uma Partida de Futebol, do grupo Skank, retrata o desejo de milhares de jovens em todo o Brasil. Na capital federal, a situação não é diferente. Seja com uniformes surrados, chuteiras velhas e bolas desgastadas, ou com os mesmos apetrechos em bom estado; treinando em campos de barro improvisados ou em escolinhas particulares, garotos de diversas regiões do DF veem no esporte uma chance de mudar de vida. Contratos milionários, jogar nos principais gramados do mundo, ser famoso e até mesmo poder vestir a camisa do seu time de coração fazem parte do imaginário de qualquer garoto ou garota que deseja ter a mesma carreira de ídolos como Kaká, Neymar, Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e Marta.

Apesar da vontade, no meio do caminho, muitos desistem. Como é o caso do ex-aluno da escolinha do Fluminense Luis Guilherme, 21 anos, que abandonou o sonho após um ano de treinos. "Atualmente os jogadores são tratados como mercadoria. Ver outros alunos com menos talento sendo escolhidos para os times principais, por terem maior poder aquisitivo e maior influência, foram motivos que me fizeram desistir", relata. Para Demetrius de Brito, 27 anos, dono de uma das franquias do Santos Futebol Clube em Brasília, que possui cerca de 150 alunos, realizar o sonho de uma criança é bem mais difícil do que se imagina. “São raríssimos os casos de atletas que conseguem crescer no futebol. Em contrapartida, nós como professores e técnicos incentivamos, para que esse jovem sinta que pode,

sim, realizar esse sonho. Até porque nada é impossível”, declara. Deram certo Victoria Albuquerque, 17 anos, jogadora de futsal e futebol, começou treinando com homens. Sua primeira equipe foi a escolinha do Fluminense. Hoje joga pelo time da escola e também pelo Minas Brasília Tênis Clube: “Tive o imenso prazer de participar de duas convocações para a seleção brasileira sub-17, em 2013, competindo o sulamericano no Paraguai e, em 2014, pela sub-15 no torneio internacional em Portugal”. Victoria conta que ser mulher no meio futebolístico é sempre mais difícil, mas que o gênero vem conquistando seu espaço aos poucos. “Passei por várias escolinhas, conquistei reconhecimento, e assim


Foto: Stella Fernanda

Limitações não impedem alunos de sonhar com o gramado e oportunidades no futebol. Desvios nas seleções de jogadores desestimulam jovens e crianças

fui indicada para representar o país”, afirma. Leonardo Nogueira, 18 anos, começou a treinar aos cinco e foi descoberto por um olheiro em uma peneira do Santos no DF. Passou pelas categorias de base do Grêmio, Internacional, Santos, Corinthians e hoje joga no time principal do Golden State, em Los Angeles, Estados Unidos. Para ele, as maiores dificuldades em se tornar jogador profissional são a concorrência com outros atletas e o dinheiro do meio empresarial. "No Brasil, se você não tiver dinheiro ou um empresário forte, você não joga futebol", esclarece.

Como chegar lá Por olheiro: quando o garoto é convidado pelo olheiro para passar por um período de experiência no clube. Depois desse tempo, a comissão técnica decide se ele será aceito ou mandado de volta. Por indicação: um empresário, agente ou simplesmente uma pessoa com conhecidos no clube leva um garoto considerado talentoso para um período de experiência. Pela peneira: a opção para pais e garotos que não contam com conhecidos no meio futebolístico, ou que não estão em jogos com a presença do olheiro. Os candidatos

realizam atividades em um clube durante certo período de tempo. Ao final desse período, o técnico escolhe, entre vários garotos, os que terão um futuro naquele clube. Entre tantos meninos que saíram do DF para tentar o sucesso em times de outros estados, alguns se tornaram jogadores famosos no cenário nacional e mundial. Os nomes mais recorrentes são dos jogadores Kaká e Lúcio – que viveram nas cidades do Gama e Planaltina, respectivamente. Ainda de Brasília, os jogadores Leandro (Palmeiras), Marcos Júnior (ABC) e Henrique (Botafogo) estão ativos no futebol brasileiro.

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Saúde Medicamento

O canabidiol melhora a qualidade de vida de pacientes e familiares, mas alto custo dificulta acesso ao medicamento Igor Barros e Jhonatan Vieira

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Em janeiro deste ano, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu pela retirada do Canabidiol (CBD) – elemento encontrado na folha da maconha – da lista de substâncias proibidas no Brasil. Mesmo com a reclassificação, o alto preço para a importação impede que a venda do produto seja acessível a todos. Encontrado na flor da cannabis sativa, nome científico da maconha, o canabidiol ou CBD possui uma estrutura química com grande potencial terapêutico neurológico. Ou seja, pode diminuir os efeitos da ansiedade, além de ser antipsicótica, neuroprotetora, anti-inflamatória, antiepilética e ajudar nos distúrbios do sono. “O canabidiol é a grande esperança para o tratamento das síndromes metabólicas. A substância possui uma exuberância farmacológica”, diz o PhD em

neurociência pela Universidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, Renato Malcher. Extraído do caule e das folhas da planta, o composto não é tóxico, porém, fazia parte da lista de substâncias proibidas pela Anvisa até ano passado, e teve seu uso aprovado por unanimidade de votos na 1ª Reunião Aberta ao Público da Diretoria Colegiada, em Brasília. A polêmica sobre a reclassificação do CBD teve início em março do ano passado, após reportagem exibida pelo programa Fantástico, da TV Globo. A matéria trouxe o drama do casal Katiele e Norberto Fischer para conseguir um medicamento à base de maconha para o tratamento da filha. Anny Fischer, 7 anos, filha do casal, é portadora de uma síndrome muito rara: uma desordem genética conhecida como CDKL 5. Dentre os

sintomas, estão crises convulsivas resistentes a todas as medicações possíveis no país. Katiele e Norberto descobriram o CBD na internet, por meio de um grupo americano de apoio a pais com filhos portadores de síndromes raras. “Já tínhamos tentado várias medicações, e até uma cirurgia. A Anny chegava a ter 80 crises convulsivas por semana. O CBD realmente era a nossa luz no fim do túnel. Após o início do tratamento, houve um período em que ela ficou nove meses sem ter nenhuma convulsão”, lembra Katiele. Já Norberto ressalta a dificuldade em conseguir o medicamento no Brasil: “O governo quer mandar nas nossas vidas. Lutamos pelo direito de escolha”. Para adquirir Atualmente no Brasil, o paciente


que precisa do medicamento deve fazer uma solicitação de importação à Anvisa, juntamente com o laudo e parecer médico. Em nota, a assessoria de comunicação da Anvisa informou que até o início de maio, recebeu 757 pedidos de importação do produto à base de canabidiol para uso pessoal. Destes, 682 foram autorizados, 58 aguardam o cumprimento de exigência pelos interessados, 11 estão em análise pela área técnica, e seis foram arquivados por solicitação dos interessados. Até o momento, uma única empresa entrou com o pedido de registro do medicamento no Brasil: a Sativex. O registro ainda está em avaliação pela equipe da Gerência-geral de Medicamentos da Anvisa (GGMED). Gabriela, 7 anos, é portadora da Síndrome de Aicardi – doença genética rara e congênita caracterizada pela ausência parcial ou total do corpo caloso do cérebro, anomalias na retina e convulsões. Leila Weschenfelder, mãe da menina, conta como o medicamento

ajudou a melhorar a qualidade de vida da filha, que antes chegava a ter 20 crises convulsivas ao dia – quase uma por hora. “Após começar o tratamento com o canabidiol, a Gabriela voltou a ter qualidade de vida. Hoje ela se alimenta melhor e reage bem nas sessões de fisioterapia. Desde que começou o tratamento, ainda não vi nenhum efeito colateral”, comemora. Já Carla Porto, mãe de Moisés, 15 anos, portador da Síndrome de LennoxGastaut – um tipo raro de epilepsia da infância, caracterizada por convulsões frequentes – e da Síndrome de West – doença que provoca espasmos infantis e retardo mental –, explica sua batalha e questiona o valor do medicamento. Segundo ela, a luta de todas as mães que têm filhos que necessitam do medicamento não é pela liberação da maconha para uso recreativo, mas sim, para o uso medicinal. “Meu custo para importar o medicamento gira em torno de R$ 1.900, já com o frete. Para retirá-lo, é preciso ir de Brasília

até o aeroporto de Viracopos, em Campinas, ou desembolsar R$ 300 pelo Fedex, um serviço de entrega internacional”, indaga. Nos primórdios Há dez mil anos a.C, a humanidade nem havia desenvolvido a escrita, muito menos inventado a roda, mas já utilizava o cânhamo (fibra retirada da planta) para fabricar cordas. Isso significa que a maconha é usada de diferentes formas desde o início da civilização. Além de ser utilizada para fabricar corda, papel, tecido, combustível e alterar a consciência, a cannabis também tem fins medicinais. A planta é utilizada em tratamentos médicos desde os primórdios da civilização. Mesmo com avanços da ciência, o Brasil ainda está longe de identificar e regulamentar o uso terapêutico da cannabis. Em termos de políticas públicas de saúde, no país não há muito o que comemorar. Foto: Isabela Gadelha

13 Com entusiasmo, casal Fischer comemora a melhora de Anny após o tratamento


Saúde Sensibilidade

Alergia à proteína do leite de vaca transforma a vida de pais de bebês que precisam fugir da substância nos alimentos Paula Carvalho e Nayara de Andrade

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Desde o primeiro mês de vida, o pequeno Odin dava sinais de refluxo. Chorava incessantemente e se contorcia. A dificuldade em se alimentar e, consequentemente, em ganhar peso era motivo de aflição para o bebê e para os pais, Larissa Soares e Pedro Paulo Madeira. Em busca de uma solução, a mãe introduziu um leite complementar que inibia a queimação. O produto, no entanto, despertou a Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) na criança. A condição raramente atinge os adultos, mas, segundo o blog do Ministerio da Saúde, estima-se que cerca de 5% de bebês e crianças menores de 3 anos apresentam os sintomas. A APLV ainda é pouco conhecida, todavia, seus sintomas são bem comuns nos primeiros meses dos bebês e variam de acordo com o grau da enfermidade. Os mais recorrentes são

vômitos, cólicas, inchaço nos lábios e olhos, coceira e baixo ganho de peso e crescimento. Por isso, é necessário ficar atento caso os indícios da alergia persistam após a ingestão do suplemento ou fórmula que contém traços de leite de vaca. A dificuldade de reconhecer a alergia está na proximidade dos sintomas com a intolerância à lactose, mas os tratamentos são bem diferentes. Até agora, a única forma comprovada de tratamento da APLV é evitar o leite e seus derivados. Desta forma, não há sobrecarga no organismo, que pode continuar se desenvolvendo até estar maduro o suficiente para digerir o alimento. Via de regra a alergia não se estende até a vida adulta. Driblando obstáculos A nova condição transformou a rotina da família de Larissa. A

difícil jornada diária da funcionária pública com seu filho Odin, agora com um ano e meio, reflete bem os desafios de lidar com a APVL. Para se ter uma ideia, os pais compraram panelas exclusivamente para cozinhar os alimentos do bebê. Isso por causa do risco de acontecer a chamada contaminação cruzada – que se dá quando vestígios de alimentos com traços de leite permanecem nos objetos mesmo após a higienização. “Tudo do Odin é separado. Talheres, bucha e até mesmo pano de prato”, explica a mãe. Larissa diz que um dos maiores problemas que enfrenta é a falta de informação nos rótulos de alimentos industrializados. Mesmo que especifique todos os ingredientes de um determinado produto, não trazem detalhes sobre a forma de produção, o que pode desencadear justamente


a contaminação cruzada. Por esse motivo, prefere não arriscar e acaba preparando tudo em casa. “Se Odin tem alguma festinha, levo sempre o ‘kit-festa’, uma lancheira onde coloco rapadura, balas de côco, salgadinhos e bolo caseiro”, conta. Por não querer que o filho se sinta excessivamente restrito ou diferente das outras crianças, os pais de Odin começaram a levá-lo a restaurantes, mas sem perder os cuidados. “Sempre chamo o chef encarregado da cozinha,

pergunto sobre os pratos e explico que meu bebê tem APLV, e que pode sofrer até parada cardíaca”, relata o pai. Como forma de compartilhar experiências e principalmente ajudar outras famílias, Larissa fez um blog* onde sugere receitas adequadas para pessoas com a APLV. De acordo com a gastropediatra Lenora Gandolfi, doutora pela Universidade de São Paulo e professora da Universidade de Brasília, a APLV é uma reação imunológica.

“Ela acontece quando o organismo da criança pequena entra em contato com uma proteína complexa presente no leite da vaca chamada caseína, e a trata como algo nocivo ao corpo”, explica. A melhor forma de prevenção é garantir a amamentação exclusiva até o sexto mês do neném e evitar fórmulas e suplementos que têm como base a proteína do leite de vaca. *Para conhecer o blog, acesse: http:// vianaolactea.blogspot.com.br/

Sintomas

Tratamento Nutricional

Aleitamento Materno

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Cultura Nas ruas

Espetáculos de música, circo, teatro, poesia e cinema são destaques da festa que tem esse nome para chamar atenção de público jovem em espaços ociosos Wanúbia Lima

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A Festa de Ocupação Dinâmica de Área Pública (F.O.D.A. Pública) tem transformado praças das regiões administrativas do Distrito Federal em palco para manifestações artísticas de variados gêneros. Criado em janeiro de 2014, por iniciativa de artistas, produtores e comunicadores da cidade, o projeto tem como objetivo utilizar espaços urbanos ociosos para levar cultura alternativa e gratuita para todo o DF. Com 24 edições realizadas até agora, o F.O.D.A. Pública já passou por cidades como Ceilândia, Cruzeiro, São Sebastião, Taguatinga, Gama, Riacho Fundo e Samambaia, e promete romper fronteiras, com apresentações de dança, música, poesia, exibição de filmes e grafite. A conotação sexual da sigla do projeto

foi pensada para atrair os jovens e motivá-los a ocupar o espaço público em coletividade, de forma interativa. Everaldo Máximus, 34 anos, professor de história e um dos idealizadores do projeto, conta que a ocupação de praças públicas pode auxiliar na transformação da realidade social das cidades e sanar a falta de espaços para exposição de artistas autorais. “Nossa ideia é colaborar para que áreas públicas do DF não sejam canteiros dominados pelo tráfico de drogas e que esses espaços favoreçam a apresentação de nossos artistas e a interação entre as pessoas”, argumenta. Além dos artistas que utilizam o projeto para divulgar seus trabalhos, quem também ganha de presente diversão e arte é o público das

regiões contempladas. Para Anaelise Bomtempo, 21 anos, moradora de Taguatinga, iniciativas como esta são bem-vindas: “Espero que ações assim se tornem uma opção de lazer frequente para os brasilienses”. Atrações como Anarkista de Cristo, Zefirina Bomba, Banda Valdez e grupos performáticos como Algodão Choque, Davi Kaus e Hard Drug’s Society já fizeram parte da programação cultural. Para o mês de julho, está previsto o Festival Super F.O.D.A., no Recanto das Emas. “Um dia todinho de ocupação e diversidade artística, com bandas, mostra de filmes, oficinas de estêncil e animação garantida”, destaca Máximus, um dos idealizadores do projeto.


Foto: Pabline Souza

O projeto reúne artistas em praças do DF para promover entretenimento e lazer gratuito. A iniciativa acontece sem recursos do governo

Incentivo O projeto é uma ação totalmente independente. “O F.O.D.A. Pública é uma atitude da galera de Taguatinga. Não contamos com recursos financeiros do governo e o que movimenta nossas ações surge por meio da articulação de artistas da cidade e produtores locais”, reitera. Apesar do F.OD.A. não receber financiamento governamental, outros projetos culturais no DF têm se destacado com incentivos do Governo de Brasília. A Secretaria de Cultura do Distrito Federal (Secult-DF) destaca que, em 2014, mais de R$ 45 milhões foram investidos em iniciativas.

Somando Outro projeto itinerante responsável por levar cultura às cidades é o Soma Cultural. Criada em 2006, a ação tem oferecido espaço para apresentações da nova geração de artistas locais e nacionais. Em 2012, o projeto foi contemplado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF) e trouxe artistas como Karina Burh, Satanique Samba Trio, Gangrena Gasosa, Dillo Daraujo, Lucy & The Popsonics, Jenipapo e muitos outros para Taguantiga. *Saiba mais: facebook.com/fodapublica e somacultural.com.br

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Cultura Variedade

Atividades de entretenimento gratuitas são promovidas em embaixadas na capital brasileira. Dificuldade está no acesso aos locais Kamila Braga e Leonardo Resende

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Cooperação bilateral, negociações diplomáticas, emissão de vistos e apoio a estrangeiros. Esses são apenas alguns dos serviços prestados pelas embaixadas em Brasília. Além disso, elas promovem e apoiam eventos e atividades culturais gratuitas. Algumas possuem salas de cinema e outras têm parcerias com cursos de línguas. A Embaixada da França, por exemplo, exibe filmes nacionais e franceses com legendas em português a cada duas semanas, sempre às 19h. As sessões de cinema são organizadas em parceria com o programador do Cine Brasília, Sergio Moriconi, que ajuda na seleção de filmes clássicos e atuais, e faz debates com os participantes. O acesso ao evento é gratuito, qualquer pessoa pode participar, mas é limitado pois existem apenas 120 cadeiras no local. O assessor cultural da Embaixada da França, Nicolas Corman, conta

que cada embaixada ou consulado nas regiões do Brasil tenta valorizar a cultura do local em que está situada. “Aqui em Brasília, fazemos parcerias com muitos eventos próprios da cidade. Tentamos incentivar também projetos de artistas locais, em todos os âmbitos, artes visuais, plásticas, cênicas e música”, explica. Para a estudante que já participou de eventos das embaixadas dos Estados Unidos, França e Alemanha, Jéssica Eufrásio, 21 anos, conhecer outras culturas é uma oportunidade única. “Acho interessante as embaixadas promoverem esse tipo de programação. Para muitos brasileiros que têm curiosidade de saber mais sobre outras línguas, hábitos e culturas, é uma ótima oportunidade”. Na última quinta-feira de todo mês, às 19h, a Embaixada da Alemanha também exibe filmes com entrada franca na sala de cinema que tem

capacidade para cem pessoas. Para os fãs da cultura e língua alemã, há também encontros regulares do Grupo Brasil-Alemanha, realizados em bares de Brasília em dias variados, com troca de informações, conversas e propostas de projetos relacionados à Alemanha. “Aqui em Brasília, temos um excelente parceiro, o Goethe-Zentrum Brasília, que oferece cursos e provas de alemão, biblioteca com seleção atualizada em mídia da Alemanha, e um calendário cultural”, pontua o conselheiro de imprensa e cultura da Embaixada da Alemanha, Eike Büllesbach. A estudante Louani da Mota Badu, 22 anos, participou este ano de um evento na Embaixada Britânica, em comemoração ao Dia Mundial Contra a Homofobia e Transfobia, e também assistiu aos jogos da Copa de 2014 na Embaixada da Alemanha. Ela diz que gostou de ambos: “Há organização,


Foto: Sara Peres

Oportunidades de conhecer outras linguas e culturas são ofertadas pelas embaixadas em Brasília que possuem salas de cinema e parcerias com cursos de idiomas

qualidade dos eventos, tanto dos serviços como produtos, pontualidade e cordialidade de todos”. A Embaixada da Suíça, segundo o ministro Niculin Jäeger, oferece atividades culturais em todo o país e costuma fazer parcerias com outras instituições, como o Serviço Social do Comércio (Sesc), a Caixa Cultural, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), e também com outras embaixadas. “Na capital brasileira, o ano cultural começou com dois filmes suíços na semana da Francofonia e com o show do cantor Bastian Baker. No segundo semestre, terá a exposição A Suíça Humanitária na praça do Museu Nacional, um documentário, a exposição da guarda suíça do Papa, e um concerto clássico”, informa Niculin Jäeger. Com vasta programação cultural,

a Embaixada da Espanha apoia cursos de idiomas, como o Instituto Cervantes. Quem visita o instituto pode participar do processo seletivo para conseguir o Diploma de Espanhol (Dele) e aproveitar outras atividades, como por exemplo degustação de vinhos espanhóis. Difícil acesso Há ainda outras embaixadas que oferecem eventos culturais abertos ao público. Porém, para pessoas que não têm carro, o acesso fica difícil, pois a maioria está localizada em lugares mais distantes de paradas de ônibus. A auxiliar administrativa Kelly Crisley Costa, 21 anos, relata que gostaria de ter ido à Embaixada da Colômbia no terceiro ano do ensino médio, quando a turma teve um trabalho sobre o país. “Nem todos puderam ir devido à distância.

Deveriam montar projetos voltados para facilitar o acesso de escolas públicas nesses locais que interessam a muitas pessoas”. A francesa Charlotte Saurat, 22 anos, está há três meses estagiando na Embaixada da França. Ela diz que quase sempre para chegar ao local é necessário ir de carona. “Pegar ônibus é complicado, porque ele nos deixa na L2, e é preciso caminhar no setor de embaixadas sozinha muito cedo ou à noite. Já houve alguns casos de assalto, é perigoso”, relata a jovem. O assessor cultural Nicolas Corman conta que a Embaixada da França pretende estabelecer parceria com a Caixa Cultural para disponibilizar ônibus que busquem as pessoas nas cidades administrativas do Distrito Federal para os eventos. Mas não há nada confirmado.

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Economia Negócios

Na capital dos concursos, montar a própria empresa é uma alternativa que vem ganhando adeptos cada vez mais jovens Jaqueline Chaves e Mariana Nunes

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Brasília é conhecida culturalmente como a capital dos concursos públicos. Por ser a sede do Governo Federal, há muita oportunidade para quem sonha com a estabilidade financeira. Para além da saga de editais, existe a possibilidade de ter seu negócio próprio. Independência financeira, e chefiar a própria empresa são alguns dos motivos daqueles que querem dar início à jornada de empreendedor. Ainda com pouca idade, o desejo de alçar novos voos não muda e soma um número significativo de jovens. Dados da pesquisa Perfil do Jovem Empreendedor Brasileiro, da Confederação dos Jovens Empresários (Conaje), mostram que a maioria dos jovens empreendedores no Brasil é do sexo masculino, tem de 26 a 30 anos, possui curso superior completo, fatura até R$ 60 mil por ano e utiliza as redes sociais como um dos principais meios de conexão. A pesquisa online foi desenvolvida em

junho do ano passado e contou com a participação de quase 6 mil jovens, com idade entre 18 e 39 anos. Exemplo desse perfil, Pedro Victor Gomes, 22 anos, estudante de administração, optou por abrir uma franquia da confeitaria e cafeteria Maria Amélia Café Bistrô, localizada no Lago Sul. Com pais concursados, pensava em seguir outra carreira. “Optei por empreender, porém a estabilidade é algo que me atrai também. Daí surgiu a ideia de um empreendimento mais seguro, a compra de uma franquia, na qual o investimento se torna mais seguro com um retorno maior”, relata. O mercado de trabalho é sempre renovado. Estruturas para amadurecer ideias novas, como seus investimentos e empresas já consolidadas, são espaços de acolhida ao jovem empreendedor, que pode oferecer atribuições positivas relativos à faixa etária, como: identificar e

resolver problemas de maneira ágil, demonstrar proatividade, eficiência, impulsividade, ousadia, qualificação e estudo. Os amigos Gabriel Machado, 24 anos, Marcel Carneiro, 22, e Felipe Manara, 19, assumiram juntos a Carta Curinga, um cartão que dá direito a exclusividades e descontos nos estabelecimentos conveniados. O negócio já está na ativa há sete meses, e Marcel conta que estão satisfeitos. “O objetivo do nosso negócio é levar benefícios para os nossos clientes. Hoje temos mais de mil cadastrados e mais de 20 empresas parceiras. Estamos muito felizes com o resultado”, afirma. Seguindo o ramo alimentício, Hiago Miguel de Carvalho, 20, formado em gastronomia, fundou há cerca de três anos a empresa Hiago Miguel Bolos e Doces Gourmet, que atende entre 25 e 30 casamentos por mês. Ele admite que nunca sonhou em ser empresário, mas não olha para atrás.


“No começo foi bem difícil, mas estamos muito contentes com o caminho percorrido e o mercado que alcançamos. Além dos casamentos e festas de 15 anos, temos alguns bufês que são nossos parceiros”, explica. Suporte Para fins de orientação ou informações, quem empreende se reúne em grupos específicos como as redes sociais, onde compartilham

e divulgam oportunidades com os colegas. Há também possibilidades de qualificação educacional e avaliação empresarial oferecidos pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A Conaje também disponibiliza em seu site agenda de eventos e notícias relacionadas. Em 2011, a Secretaria da Micro

e Pequena Empresa e Economia Solidária (SMPES) foi criada para promover o desenvolvimento econômico e sustentável do DF e Entorno, e oferece capacitação para a inovação de empresas e empreendedores em vários tipos de atendimento para fortalecer as Micro e Pequenas Empresas (MPE), os Empreendedores Individuais (EI) e a Economia Solidária (Ecosol) do Distrito Federal e Entorno.

Foto: Lucas de Sousa

Hiago Miguel, dono da empresa Hiago Miguel Bolos e Doces Gourmet, atende de 25 a 30 eventos por mês, entre casamentos e festas

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Cultura Internet

Com gente talentosa e material de qualidade, Brasília começa a se destacar na produção independente de conteúdo audiovisual na rede Filipe Cardoso e Isabella Coelho Foto: Maria Alice Viola

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“Encontrei na minha formação em turismo a oportunidade de promover a apropriação da cidade”, afirma Daniel Zukko

Criado por três amigos americanos em 2005, e comprado no mesmo ano pelo Google, o YouTube foi um divisor de águas na produção de conteúdo audiovisual para a web. O site de hospedagem de vídeos conta com aproximadamente 1 bilhão de pessoas assistindo mais de 6 bilhões de horas de vídeos por mês. Disponível em 61 idiomas, alcança mais pessoas entre 16 e 34 anos do que qualquer rede de televisão no mundo, de acordo com estatísticas do próprio site. Como em outros tempos, a televisão tomou a maior parte do mercado, superando o rádio, agora o YouTube se destaca como o futuro da TV. Quando pensamos em vídeos para a internet, uma referência são os canais de humor. Mas nem só de comédia vive o YouTube, principalmente em Brasília. Gleice Duarte, 22 anos, do canal Desocupada é a mãe, fala sobre


maquiagem, cabelo, relacionamentos e testa cosméticos. Graduada em farmácia na Universidade de Brasília (UnB), ela conta que o que mais ama fazer é escrever para seu blog e produzir conteúdo para o canal. “Sou farmacêutica por formação, mas quero continuar na internet, e fazer dela minha profissão”, completa. Em Brasília, o canal mais interessante e inovador é o Minha Brasília, em que o apresentador entrevista seus convidados enquanto dirige uma Brasília amarela pelos principais locais da cidade. O canal fez tanto sucesso entre os brasilienses que conseguiu até um quadro no DFTV, jornal local da Rede Globo. Daniel Zukko, 35 anos,

conta que sempre faz uma apuração prévia sobre quem vai entrevistar, mas confessa que leva apenas uma pergunta pronta: “Há quanto tempo você não anda de Brasília?”. A partir disso a conversa se desenrola. O grande objetivo, segundo o produtor e apresentador, é estimular os moradores a se apropriarem da cidade. “Não devemos esperar eventos no Eixão para estender uma toalha e fazer um piquenique no gramado, vamos ocupar a cidade de todas as maneiras que ela nos oferece”, aconselha. Apesar de ter um canal conhecido na capital, Daniel Zukko afirma que ainda encontra dificuldades financeiras para manter a postagem

de vídeos. “Muitos acham que, por ser na internet, o custo de produção é menor, mas na verdade, é o mesmo da televisão”, revela. Mas Daniel destaca como ponto positivo a possibilidade de produzir conteúdo direcionado, ao contrário da televisão, que precisa ter o maior número possível de espectadores. Bernardo Felinto, produtor e dono do canal Apenas1Minuto, diz que em um ano de existência já tem sete milhões de visualizações e 110 mil inscritos. O canal de comédia trouxe reconhecimento à equipe.“Em um ano de canal, temos mais reconhecimento do que em dez anos de teatro em Brasília”, enfatiza.

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Especial Guia

Conheça alguns aplicativos que ajudam na hora do corre-corre Jéssica Paulino

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A pé, de bicicleta, carro, metrô ou ônibus. Essas são as formas que usamos todos os dias para chegar aos nossos destinos. Para nos dar uma ajudinha, há alguns aplicativos de mobilidade disponíveis. A grande maioria traça a melhor rota, outros mostram os percursos que podemos fazer e até mesmo como conseguir uma carona. Um dos aplicativos de mobilidade mais utilizados para quem tem carro é o Waze, que traça em tempo real o menor percurso para seu destino. Além disso, o aplicativo permite a edição do mapa por outros usuários que estejam na mesma rota, que podem sinalizar qualquer alteração no trajeto, desde um radar de velocidade até um acidente. O encarregado em manutenção Lucas Pereira, 26 anos, conta que já usa o aplicativo há muito tempo. “Hoje em dia todo mundo tem uma vida muito corrida e esse aplicativo facilita. Eu gosto da proposta, pois

mostra qual pista está melhor e isso ajuda muito”, opina. Aplicativos de carona como Zaznu e Uber oferecem serviços similares das empresas de táxis e por causa disso, em abril, a justiça de São Paulo emitiu notificação de suspensão desses serviços. Para quem utiliza o transporte público ou anda a pé, a opção é o Moovit. O app mostra horários de saída e chegada de ônibus e alertas de serviço, como atrasos, inexistência das linhas, lotação ou qualquer outro relato. Existe também o queridinho dos turistas e de quem curte passear: o Bike Brasília. A iniciativa é uma parceria entre o Banco Itaú e a empresa Serttel, e disponibiliza bicicletas em pontos estratégicos da cidade. Você paga R$10 por ano pela licença de uso, retira a bicicleta em um ponto e devolve em outro, respeitando o tempo de uso máximo de uma hora. Caso ultrapasse o tempo, é gerada multa de

R$5 por excedente. Todos os valores são debitados em cartão de crédito. A estudante Roberta Almeida, 18 anos, diz que usa as bicicletas todos os dias. “Na semana, vou ao estágio, pego na Rodoviária e deixo em um dos ministérios e, no final de semana, gosto de andar no parque”, revela. Alunos do curso de ciência da computação da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram um aplicativo de carona solidária, o Carona Phone. A ideia veio do analista de sistema e ex-aluno do curso Márcio Batista com um grupo de amigos. “O aplicativo funciona por geolocalização, em que a pessoa publica para onde quer ir, e chega a notificação para quem estiver oferecendo carona para o mesmo lugar. Então gera-se uma tela com todas as pessoas disponíveis no momento”, explica. O Carona Phone ainda está em fase de teste e a previsão para download na Play Store é o segundo semestre de 2015.


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