Foto: Jhonatan Reis
Artefato
Ano 14, Nº 5 Jornal-Laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Distribuição Gratuita Brasília, setembro de 2013
Passou e não parou
Motoristas ignoram passageiros em paradas de ônibus. Para especialistas, sistema de transporte público do DF está falido. Páginas 4 e 5
Vagão rosa no metrô Para a assessora chefe da Secretaria de Política para Mulheres, “como sociedade inclusiva e igualitária, não podemos tolerar espaços restritos” Página 14
Foto: Michele Mendes
Segurança ou insegurança no estádio? Mané Garrincha se torna atração do Brasileirão e leva candangos às arquibancadas. A violência também chegou Páginas 6 e 7
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Samambaia: arte que valoriza a cidade Pintura, metalurgia, grafite e mosaico. Uma galeria a céu aberto reúne obras do artista plástico Skartazini. Região busca ampliar projeto Página 9
Smartphone Veio para facilitar a vida, mas pode ser fonte de problemas Página 24
Brechó Comprar barato e vender caro. Isso não vale Página 18
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opinião EDITORIAL
“I have a dream” NO dia 28 de agosto de 1963, nos degraus do Lincoln Memorial em Washington, capital dos Estados Unidos da América, o ativista político Martin Luther King fez um discurso para uma plateia de mais de 200 mil pessoas. Nesse discurso, ele falava da necessidade de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos norte-americanos. O discurso tornou-se um marco na história da humanidade. No ano seguinte, Luther King recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo combate à desigualdade racial sem o uso da violência. Em abril de 1968, Dr. King foi assassinado em Memphis, Tennessee. Na véspera do aniversário de 50 anos do histórico discurso, quando o mundo inteiro lembrava o sonho de Luther King e reafirmava a importância de suas palavras para o avanço dos direitos civis em todas as nações, outro discurso foi pronunciado. Dessa vez, uma jornalista brasileira, Michelline Borges, declarou ao mundo, via Facebook, que médicas cubanas recém-chegadas ao Brasil para participar do Programa Mais Médico têm “cara de empregada doméstica”. Houve indignação por parte de internautas, que compartilharam as palavras racistas da jornalista aos milhares. Vamos retomar outra famosa frase de Luther King para deixar aqui uma reflexão: “Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância sincera e a estupidez conscienciosa.” O Artefato é um jornal laboratório de um curso de Comunicação Social, feito, portanto, por estudantes – os mesmos que assinam as matérias, as fotos e as ilustrações destas páginas. Seremos, muito em breve, jornalistas. Que a nossa formação nos permita seguir o exemplo que Luther King deu ao mundo e repudiar a infelicidade de Michelline, que não entendeu que o jornalismo não é uma profissão burocrática com expediente de oito horas diárias. O jornalista é jornalista 24 horas por dia. Os estudantes de jornalismo, atuais responsáveis pelas quatro edições do Artefato neste segundo semestre de 2013, assumem, desde já, o compromisso de observar, a todo o momento, o Código de Ética dos Jornalistas, que, em seu Capítulo II, art. 6º, I, dispõe que “é dever do jornalista opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.” E jamais se esquecerão de que também é seu dever “combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza” (Cap. II, art. 6º, XIV). Dentro e fora de uma redação.
CRÔNICA
As ideias estão no chão. Você tropeça e acha a solução ANNA MIZZU
POUCOS temas têm tanto apelo, atualmente, quanto a importância de evitar o mau uso dos recursos naturais, sobretudo, como forma de preservar o meio ambiente. Do mais catastrófico ao mais confiante, é fácil encontrar todos os tipos de defensores do ar, do solo e das águas do planeta. Aliás, ainda não encontrei ninguém que não faça essa defesa. Claro, pelo menos, publicamente. Assim, a variedade de recomendações é enorme, e as ideias, às vezes, podem ser surpreendentes. Por exemplo, estive dando uma olhada no Manual do cidadão consciente, produzido pelo Sebrae especialmente para a Feira do Empreendedor, realizada em Brasília neste final de agosto de 2013. Legalzinho o material. Se quiser olhar também, está aqui: www.feiradoempreendedordf.com.br. Lá no final, na página 33, começa o capítulo mais curioso do manual: “Consumo consciente de alimentos”. A ideia central da introdução desse capítulo é o desperdício de alimentos – segundo o manual, o Brasil é campeão mundial em desperdício –, seguido de uma forma de diminuir o problema. Que forma? A óbvia: reaproveitar as sobras. Mas o mais interessante são as sugestões, e até receitas culinárias, que o manual traz. Confira algumas: Folhas de brócolis ao forno Bolinhos de folhas de beterraba Doce de casca de banana
Ilustração:
Shizuo Alves
Aperitivo de cascas de batata Molho de cascas de berinjela para massas Ramas de cenoura crocantes Doce de casca de melancia Bolinho de talo de brócolis Patê de talos de legumes Assado de cascas, talos ou folhas Doce de casca de maracujá Aqui, é claro, só estou mostrando os títulos, mas você pode ir ao manual e copiar as receitas. Bom, mas eu ia dizendo: muito interessantes essas sugestões, não? Pensei, então, em preparar um banquete consciente e convidar os amigos. E seria mais ou menos assim: Antipasti – aperitivo de cascas de batata e patê de talo de legumes – mas aí eu tenho de incluir um pãozinho ou uma torrada... já sei... crostini de pó de folha de mandioca; Primo piato – tradicionalmente, essa é a
hora da massa ou do arroz, mas não é o caso – só posso pensar em reaproveitar sobras, então vamos de bolinhos de folhas de beterraba e bolinhos de talo de brócolis. Pode ser que algum convidado goste mais de brócolis; Piatto di mezzo – essa é a hora de carne, ave, peixe ou frutos do mar, acompanhados por verduras e legumes, mas parece, pelos ensinamentos do manual, que o brasileiro não desperdiça isso, então, só verduras – folhas de brócolis ao forno, ramas de cenoura crocantes e assado de cascas, talos e folhas; Dolce – agora sim, podemos ser clássicos: doce de casca de banana, doce de casca de maracujá e doce de casca de melancia. Acho que não vai ter bebida. Ou será que eu deveria aproveitar as frutas para fazer sucos? Hummm... só agora me dei conta: o que eu vou fazer com batatas, cenouras, beterrabas, mandioca e brócolis depois que eu aproveitar as cascas, as folhas, os talos e as ramas? Bom, jogar fora seria ainda mais desperdício. Pensando bem... quem, neste país, desperdiça tanto “alimento”? Quem consome a batata e quem consome a casca da batata? Enfim, todos serão convidados. Será que a Glorinha Kalil ia curtir? Bem que eu poderia ter aproveitado a vinda dela à Feira do Empreendedor para convidá-la para esse jantar. Que tal?
Artefato Jornal-Laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Ano 14, n. 5, setembro de 2013 Reitor: Prof. Dr. Afonso Tanus Galvão Diretora do Curso: Profa. Me. Angélica Córdova Machado Miletto Professoras responsáveis: Me. Karina Gomes Barbosa e Me. Fernanda Vasques Orientação de fotografia: Me. Bernadete Brasiliense Monitores: Anna Cléa Maduro e Henrique Carmo Editores-chefes: Anna Mizzu e Ricardo Felizola Editores de arte: Bruno de Oliveira e Shizuo Alves Editores de fotografia: Alessandra Modzeleski e Paula Morais Subeditores de fotografia: Ana Beatriz Santos, Guilherme Rocha, Ramila Moura e Yago Alves
Editoras web: Jéssica Paulino e Stefany Sales Editoras de texto: Adriele Vieira, Anna Lourenço, Caroline Coêlho, Caroline Paixão, Renata de Paula e Renata Ribas Projeto gráfico: Alessandra Modzeleski, Ana Paz, Igor Bruno, Nayara de Andrade, Renato Gomes, Shizuo Alves Diagramadores: Alana Araújo, Ana Paz, Evely Leão, Lucimar Bento, Renato Gomes Repórteres: Alessandro Alves, Amanda Vilas Boas Christian Kelly Soares, Filipe Rocha, Guilherme Azevedo, Gledstiane Laíssia, Igor Bruno, Júlia Amarante, Jusciane Matos, Jussara Rodrigues, Karinne Rodrigues, Luiz Fernando Souza, Marcela Luiza, Murilo Lins, Narla Bianca, Nayane Gama, Nayara de Andrade, Rayanne Larissa, Rhayne Ravanne, Thalyne Carneiro Checadores: Christian Kelly Soares, Júlia Amarante, Jusciane Matos, Marcela Luiza,
Rayanne Larissa, Rhayne Ravanne Fotógrafos: Amanda Bartolomeu, Amanda Costa, Ana Beatriz Santos, Daniel Mangueira, Carolina Vajas, Eduarda Lewicz, Jéssica Duarte, Jéssica Eufrásio, Juliana Macêdo, Letícia Sousa, Michele Mendes, Quéssia Fernanda, Rafaela Brito, Rosiléia Araújo Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Saturno Universidade Católica de Brasília EPCT QS 7, Lote 1 - Bloco K, sala 212 Águas Claras, DF Fone: 3356-9098/9237 Email: artefato@ucb.br Site: pulsatil.com.br Facebook: facebook.com/artefato.ucb Edições anteriores: isssuu.com/jornalartefato
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especial - As cidades do DF
Foto: Daniel Mangueira e Jéssica Duarte
TAGUATINGA
A praça ao redor do relógio Administração Regional investiu na revitalização da Praça do Relógio, mas local ainda enfrenta problemas LUIZ FERNANDO SOUZA MURILO LINS
TAGUATINGA é a Região Administrativa III do Distrito Federal e completou 55 anos em 2013. Se fosse um município independente, seria um dos que mais teriam crescido em todo o país na última década. Segundo o portal Brasil Net, a cidade é considerada a capital econômica do DF, com indústria moderna e comércio forte e variado, além de ser o 12º maior arrecadador de ICMS dentre todos os municípios brasileiros. Os arranha-céus, incomuns na paisagem do Plano Piloto, a animada vida noturna e o trânsito intenso nas avenidas contribuem para dar à cidade ares de metrópole. No meio da cidade encontra-se a Praça Central, popularmente conhecida como Praça do Relógio, local de maior circulação de pedestres. Ao redor, há lojas, shoppings, igrejas, bancos, escolas, teatros, quartéis militares e a sede da Administração Regional de Taguatinga, responsável pela manutenção. A Praça do Relógio é frequentada por gente de todo tipo. Uma amostra de quem circula por ali: estudantes de colégios públicos e particulares próximos, camelôs, idosos, índios, servidores públicos e instrutores de autoescola. O aposentado José Honório da Silva, de 76 anos, é um pioneiro em Taguatinga – chegou quando a cidade tinha apenas três meses de existência. José adora a cidade e a praça onde passa as tardes conversando e jogando com os amigos. Para ele, “a situação hoje é muito melhor do que era há algum tempo, já que tenho bancos novos para me sentar, mas a segurança precisa melhorar, principalmente, à noite”. O estudante Mardson Soares Santos, de 20 anos, chegou a Taguatinga há pouco tempo, vindo do Piauí, e concorda: “Gosto do ambiente da praça durante o dia, mas, à noite, já vi dependentes químicos na área”. Questionada, a Assessoria de Comunicação da Administração Regional de Taguatinga informou que o órgão vem realizando ação de revitalização da praça desde 2011, com lavagem do piso, poda das árvores, serviços de jardinagem, pintura de todo o meio-fio, realocação dos bancos para áreas mais adequadas, construção de um posto policial, revitalização do relógio, renovação da fonte luminosa e pintura de toda a praça. A Assessoria informou também que as questões que envolvem a segurança da praça já
foram repassadas para o 2º Batalhão de Polícia Militar, assim como a responsabilidade da fiscalização. Segundo a Assessoria de Comunicação da Polícia Militar do Distrito Federal, não é possível impedir a locomoção de moradores de rua na área central de Taguatinga, mas abordagens são realizadas dia e noite e prisões de criminosos acontecem diariamente. Também há ações de reforços do policiamento com o emprego de tropas especializadas como Rotam, Bpchoque e Bpcães. O chefe de gabinete da Administração de Taguatinga, Joaquim Katsuyuki Nakahara, informou: “A praça é de livre circulação de pessoas, mas o uso do espaço requer a assinatura de um documento, que deverá ser providenciado junto à Administração, autorizando o uso do espaço público da praça. A administração libera o uso da praça para a realização de trabalhos sociais. Fora isso, não é autorizado qualquer tipo de atividade, como venda, propaganda e outros serviços.” Contrariando, porém, a informação de Nakahara, o GDF vem utilizando a área para fazer propaganda do atual governo, com anúncios de melhorias no transporte público e mensagens de outras ações governamentais na cidade. Manutenção feita O relógio, referência mais significativa do local, passou por mais uma manutenção em abril deste ano, o que custou R$ 45 mil aos cofres do GDF, segundo a Administração de Taguatinga. O relógio foi doado pelo japonês Eiichi Yamada, à época, presidente da multinacional Citizen Watch Co., que visitou a cidade em agosto de 1970. A inauguração foi no dia 22 de dezembro do mesmo ano e, em 18 de setembro de 1989, foi tombado como Patrimônio Cultural e Artístico do DF. Atualmente, é o símbolo da cidade, substituindo a antiga caixa d’água que era localizada na entrada de Taguatinga. O relógio tem 17 metros de altura. A torre, com 15 metros, tem seção hexagonal. No topo, em forma cúbica, cada uma das quatro faces aponta para um dos principais pontos cardeais. Depois de anos sem funcionar, com cada face parada em uma hora, os ponteiros estão atualizados e, o relógio, pontual.
“A situação hoje é muito melhor do que era há algum tempo, já que tenho bancos novos para me sentar, mas a segurança precisa melhorar, principalmente, à noite”. José Honório da Silva, aposentado
Última manutenção do relógio, em abril, custou R$ 45 mil
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cidades TRANSPORTE PÚBLICO
Pediu pra parar, passou Por descaso ou pressão, condutores pulam paradas durante trajeto e passageiros ficam sem transporte MARCELA LUIZA RENATA DE PAULA Foto: Elisa Borges
ESPERAS prolongadas nos pontos de ônibus, falta de coletivos e motoristas que ignoram passageiros nas paradas são reclamações frequentes de usuários do transporte rodoviário do Distrito Federal e Entorno. De acordo com o Transporte Urbano do DF (DFTrans), são 3.950 veículos para atender os cerca de um milhão de passageiros que dependem do transporte público urbano do DF diariamente. Já nos percursos entre as cidades do Entorno e Brasília, o número de ônibus disponíveis nas ruas não passa de 1.261 para suprir a demanda de aproximadamente 294 mil usuários, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Com um número de coletivos insuficiente para atender à população e um sistema falho, as empresas de ônibus são obrigadas pelo DFTrans a estipularem prazos para o cumprimento das rotas das linhas realizadas pelos veículos. Por pressão ou descaso, muitos motoristas ignoram os passageiros nas paradas. “Uma vez um vizinho teve que me buscar na faculdade, porque os dois ônibus que passaram não pararam para mim”, conta a estudante de Letras, Iasmin dos Santos Cruz, de 19 anos, moradora de Ceilândia. Iasmin precisa pegar ao menos seis ônibus todos os dias para chegar à faculdade, em Taguatinga, e ao trabalho, no Plano Piloto. Quando não há atrasos durante o percurso – algo raro de ocorrer -, a estudante gasta quatro horas diárias dentro de um coletivo. Uma das principais reclamações da jovem é o fato dos ônibus passarem na parada, mas não pararem; ela sai às 23h da instituição de
“Já vi motoristas apagarem o letreiro só para não precisar parar” Álax Paulo Santana, padeiro
ensino, vai para o ponto de ônibus esperar o coletivo, que passa, mas, muitas vezes, ignora o aceno dado por ela. “Às vezes é porque está cheio, mas mesmo vazios muitos não param”, reclama. Para o padeiro Álax Paulo Santana, 37 anos, o “descaso” de muitos rodoviários deve-se à pressão e aos prazos a serem cumpridos. Ele conta que já ocorreu duas vezes de tentar pegar um ônibus e ser ignorado pelos condutores. “Alguns motoristas não deixam a gente nem pisar no ônibus e já aceleram, porque estão sempre correndo contra o tempo. Já vi motoristas apagarem o letreiro só para não precisar parar”, revela. Uma pesquisa realizada pelo Artefato constatou que o fato de motoristas não pararem em pontos de ônibus solicitados é uma realidade comum entre os passageiros que utilizam o transporte público urbano no DF e entorno. Dos 130 entrevistados, 103 (79%), com idade entre 17 e 52 anos, confessam já ter acenado para um coletivo, que mesmo vazio, passou e não parou. Do total de entrevistados, 121 (92%) pessoas contam que já viram a situação ocorrer com outros passageiros mais de uma vez Diante da situação, Brasília se vê obrigada a pensar em uma transformação no sistema de transporte público da capital federal e Entorno. O engenheiro e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Transportes da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Marques da Silva, conta que o problema de condutores de ônibus que ignoram paradas não é “um privilégio apenas de Brasília”. Ele atribui o fato dos motoristas não pararem em pontos de ônibus à pressão para cumprir o trajeto em um tempo determinado. “Com o engarrafamento e a frota reduzida, os motoristas tentam compensar o tempo perdido furando as paradas. Como a lógica é a do lucro, as empresas trabalham com o menor número de ônibus possível e esticam a viagem de modo que o motorista cumpra o roteiro com o mínimo de perda de tempo nos percursos”, explica Paulo César.
O estudante Pedro Guilherme Pires, 19 anos, já chegou atrasado na aula porque o onibus passou e não parou
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Visão do rodoviário Um cobrador da Viação Planalto (Viplan), que trabalha na empresa há cinco anos e não quis ser identificado, revela que, quando ocorrem atrasos durante o trajeto da linha, o motorista sofre punições, como faltas e suspensões, além de ficar “queimado” na empresa. O funcionário trabalha na linha que faz o percurso entre a Rodoviária do Plano Piloto e Santa Maria, e conta que o motorista tem uma hora para fazer o trajeto. O tempo, segundo ele, é insuficiente. Pela pressão constante, ele pensa em largar a profissão assim que conseguir algo melhor. Diante de realidades distintas, o motorista Ueliton Ferreira, da empresa Rápido Brasília, acredita que a cobrança para o cumprimento do trajeto dentro do prazo não pode ser desculpa para os motoristas, uma vez que a companhia em que trabalha não penaliza pelos atrasos. Para o rodoviário, coletivos lotados, passageiros que sinalizam fora da parada ou quando o veículo está próximo demais dos pontos são alguns dos motivos que levam o condutor a ignorar os acenos de quem espera pelo transporte. O motorista, entretanto, confessa que já presenciou colegas de trabalho cometerem irregularidades. “Tem muitos que não param. Eu vi um colega fazer a linha ‘Eixão’, quando deveria fazer a linha ‘Eixo’. Ele mudou o itinerário e não pegou um passageiro”, conta. Ueliton, que também é usuário do transporte coletivo, disse que já chegou a quebrar as janelas de um ônibus que não parou, enquanto esperava na parada. O rodoviário considera que atitudes como a relatada por ele representam a “irresponsabilidade” de funcionários que não se veem na condição de passageiro; mas admite que a profissão é estressante. “Se você for dar ouvidos para quem te xinga, não trabalha”, completa. CÁLCULO DO TEMPO DE PERCURSO
TP = D x 60 V TP = Tempo de percurso da linha considerando ida e volta (em minutos), D = Distância percorrida na linha (em quilômetros), V = Velocidade média (em quilômetros/hora). A velocidade média considera todo o percurso, varia de 30 Km/h em percurso livre de retenções até 18 Km/h para horários de pico e vias muito congestionadas e cheias de semáforos Obs: O número 60 tem por objetivo igualar a unidade de tempo em minutos.
Administração do serviço O itinerário e a tabela horária das linhas dos coletivos são determinados pela Gerência de Programação e Monitoramento do DFTrans, e estão sujeitos à advertência, segundo previsto na Lei nº 3.106/2002, e à multas, onde – com valores repassados ao Fundo de Transportes –, são geridas pela Secretaria de Transportes. De acordo com o órgão, para estipular o período de percurso para cada linha é levado em consideração o tempo gasto na viagem de ida e volta, a distância percorrida e a velocidade média do veículo, definida em 32 km/h quando não há retenção e 18 km/h para horários de pico. Segundo o DFTrans, é necessário determinar prazos para o cumprimento das rotas, pois “o mesmo veículo que é alocado para fazer uma viagem é utilizado em várias outras, inclusive de linhas diferentes, para que ocorra uma otimização da frota e a criação de uma frequência na tabela horária”. O professor Paulo César acredita, entretanto, que a fórmula (veja no quadro) não é aplicável, pois a velocidade média estipulada para horários de pico não corresponde à realidade do trânsito. “Se eles determinam essas velocidades, devem dar todas as medidas para garantir a viabilidade”. Caminhos para solução Para o engenheiro Paulo César, qualquer solução precisa vir de um planejamento que determine o modelo de operação e mostre como deve ser feita a integração para depois definir os parâmetros de qualidade do sistema e, assim, buscar recursos, como o aumento da frota de ônibus e mudanças na distribuição de coletivos. “Se a empresa consegue fazer o transporte de passageiros com menos veículos, transformando cada ônibus em uma lata de sardinha, ele faz porque não está pensando no sistema do ponto de vista do usuário, e sim no ponto de vista do caixa”, acusa. Aumentar a frota de ônibus no DF é uma das propostas do Governo do Distrito Federal (GDF) para solucionar o problema. O governo já entregou 236 coletivos, de um total de 2.580, segundo dados do DFTrans. Mas há quem discorde dessa solução. O professor Paulo César, por exemplo, acredita que soluções desse tipo podem trazer prejuízos financeiros à capital. “Não posso afirmar que a solução é aumentar a frota de ônibus, porque corremos o risco de colocar mais recursos em um modelo que está errado, significando desperdício de recurso público.” Em meio à realidade do sistema, a Presidência da República sancionou, em abril de 2012, a Lei de Diretrizes Política Nacional de Transporte Urbano (Lei nº 12.587/2012), a qual determina que os municípios com mais de 20 mil habitantes elaborem planos de mobilidade em três anos para concorrer ao
repasse de recursos federais destinados a políticas de mobilidade urbana. A obrigação é imposta aos municípios com mais de 500 mil habitantes, desde 2001. Entre os principais pontos da lei estão a prioridade dos modos de transporte não motorizados e dos serviços públicos coletivos sobre o transporte individual motorizado, além da participação da população por meio de conselhos de mobilidade da cidade, para analisar a solução mais adequada para o transporte do ponto de vista do usuário. De acordo com dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2012, divulgada pelo IBGE, a maior parte das cidades brasileiras ainda não conta com planos de mobilidade. Dos 1669 municípios com mais de 20 mil habitantes, somente 10% contam com um plano municipal de transportes, e em apenas 7% o plano foi desenvolvido com participação dos cidadãos. Entre os municípios com mais de 500 mil habitantes, esta proporção aumenta para 55,26% e 36,84%, respectivamente. Para colocar em prática o plano de mobilidade urbana no DF, o governo criou há dois anos o Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal (PDTU/ DF), que pretende criar políticas estratégicas para a gestão dos transportes urbanos no âmbito do DF e Entorno. Regido pela Lei nº 4.566, o PDTU/DF tem entre os objetivos “atender às exigências de deslocamento da população”, buscando a eficiência geral do sistema de transporte público do DF e garantindo condições adequadas de mobilidade para os usuários, com fornecimento de transporte público regular, confiável, seguro, eficiente, ambientalmente sustentável, com menos custos e que projeta o patrimônio histórico da capital.
“Se você for dar ouvidos para quem te xinga, você não trabalha” Ueliton Ferreira, motorista de ônibus
COMO DENUNCIAR Registro de reclamações, sugestões ou pedido de informações junto ao DFTrans pode ser feito no número 162, todos os dias, das 8h às 18h, ou pelo site www.dftrans.df.gov.br
Pesquisa realizada pelo Artefato constatou que é comum motoristas não pararem em pontos de ônibus quando a parada é solicidade. A realidade é comum entre os passageiros do DF e Entorno. Um questionário, disponibilizado na web e distribuído na Rodoviária do Plano Piloto, foi respondido por 130 pessoas com idade entre 17 e 52 anos. Confira os dados abaixo: Infográfico: Henrique Carmo
79% Dos 130 entrevistados, 103 (79%) afirmam já ter acenado para um ônibus na parada que mesmo vazio, não parou.
92%
Do total de entrevistados, 121 (92%) relatam já ter visto passageiros acenarem para um ônibus na parada que, mesmo vazio, não parou.
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cidades Foto: Michele Mendes
Torcida organizada do Corinthians em confronto com a PM no jogo contra o Vasco
SEGURANÇA
PM atua no estádio, mas organizadas geram tumulto e confusão Polícia Militar, Polícia Civil, Detran e Bombeiros reforçam o esquema dentro e fora do estádio em dias de jogos GUILHERME AZEVEDO
A COPA do Mundo transformou em realidade um sonho antigo de vários torcedores que nunca puderam ver seus times de perto. Várias cidades do Brasil já fizeram acordo com o Governo do Distrito Federal para realizar mando de campo na capital federal (veja mais sobre as torcidas do DF ao lado). A expectativa do público da capital é grande, e a infraestrutura do DF tem de atender a esse novo cenário. Além do transporte público, vários outros serviços precisam funcionar para que Brasília seja bem vista pelos torcedores e organizadores ao receber partidas de tamanha importância. Um deles é a segurança dentro e fora do estádio. Facilidade nos acessos ao estádio, organização na entrada, na saída e no trânsito também dependem da ação da Polícia Militar, que conta com a ajuda da Polícia Civil, do Detran e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. A divisão dos homens que vão atuar em cada jogo é realizada com a escolha do tenente que chefiará entre 20 e 30 policiais de
diversos batalhões, totalizando aproximadamente 1.500 homens, dentro e fora do estádio. Pelo menos 700 policiais atuam na área interna da arena, na revista dos torcedores, no monitoramento dos bares, na escolta das torcidas organizadas e no controle do público. Os que ficam do lado de fora, cerca de 800 homens, trabalham na segurança dos torcedores na entrada e na saída para evitar confusão. Via Assessoria de Imprensa, a PM alerta quanto a furtos e ingressos falsos sendo vendidos por cambistas. “Os torcedores devem comprar os ingressos nos postos autorizados a fim de evitar esse problema. Quanto ao furto de ingressos, o torcedor deve primeiramente procurar a PM pelo 190 ou alguma equipe mais próxima para tentar prender os criminosos em flagrante, além de não deixar de registrar a ocorrência na delegacia mais próxima, que, no caso do Estádio Nacional Mané Garrincha, é a 5ª DP.” A Secretaria de Segurança Pública afirmou que ainda não foram coletados e totalizados os números de ocorrên-
cias de roubos feitas nos postos da Polícia Civil e Militar. No dia 25 de agosto, em confronto válido pelo Brasileirão entre Corinthians e Vasco, cenas de violência tomaram conta da parte superior das arquibancadas do Mané Garrincha. Até então, não havia sido registrada nenhuma ocorrência desde a primeira partida realizada no DF. O episódio ocorreu no intervalo da partida e envolveu membros das torcidas organizadas dos dois times. Câmeras de segurança flagraram, entre os envolvidos, três integrantes da torcida organizada do Corinthians que estiveram presos em Oruro, na Bolívia, acusados de participação na morte do menino Kevin Espada. “Um policial militar fez o reconhecimento formal dos torcedores, que foram indiciados. Temos 30 dias para concluir o processo e enviar para a Justiça, que tomará as medidas cabíveis”, explicou o Delegado responsável pelo caso, Marco Antônio de Almeida, em entrevista coletiva na sede da Polícia Civil.
A COLABORAÇÃO DOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA DO DF DETRAN: Agentes de trânsito e viaturas (veículos, guinchos e empilhadeiras) ficam estrategicamente localizados em diferentes pontos ao redor do Mané Garrincha, organizando o trânsito e o estacionamento em áreas próximas, como Eixo Monumental, Rodoviária e Centro de Convenções. POLÍCIA CIVIL: Todas as delegacias do DF ficam abertas nos dias de jogos. Uma unidade foi instalada no subsolo do estádio para registro de ocorrências. Além disso, equipes de repressão à falsificação tentam conter a ação de cambista e o furto de veículos. CORPO DE BOMBEIROS: Cerca de 100 militares ficam de prontidão, com o apoio de viaturas de combates a incêndio, helicópteros, salvamento, atendimento préhospitalar e atendimento a contaminações por produtos perigosos.
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esporte FUTEBOL
A capital no novo “Mané” Foto: Michele Mendes
Torcedores do DF marcam presença no estádio para apoiar seus times
Brasilienses lotam estádio e demonstram amor pelo time; mas com as partidas veio também a violência JÚLIA AMARANTE
EM Brasília, é possível encontrar gente de todos os cantos do país, logo, aqui existem torcedores dos mais diversos times. Em maio deste ano, a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) realizou parte de uma pesquisa, ainda em andamento, referente ao tamanho das torcidas em regiões administrativas do DF. Das 31 RAs, seis já foram mapeadas, o que representa pouco mais de 30% da população do DF, e o resultado até agora é: Flamengo (52,14%), Vasco (12,13%), São Paulo (7,59%), Corinthians (6,97%), Palmeiras (5,12%), Botafogo (4,95%), Fluminense ( 4,78%), Cruzeiro (1,77%), Santos (1,18%) e Atlético-MG (1,02%). Brasileirão Com a reforma do Mané Garrincha, os moradores da capital ganharam a oportunidade de acompanhar de perto seus times. Já jogaram no novo estádio, em partidas válidas pelo Campeonato Brasileiro de 2013, Flamengo, Santos, Coritiba, Vasco, Atlético Mineiro, Portuguesa, Botafogo, Goiás, São Paulo, Grêmio e Corinthians. O Flamengo firmou uma parceria com o Governo do Distrito Federal e, de maio até setembro, estão confirmadas, no Mané Garrincha, sete partidas durante o primeiro turno do Brasileirão .
Torcedor fanático do Clube de Regatas do Flamengo, Clédson Emídio, 21 anos, é integrante da torcida Raça Rubro-Negra há oito anos e já foi assistir a jogos do time em Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro. Ele conta o que mudou para os torcedores depois da reforma do Mané Garrincha: “Melhorou bastante, tanto para o torcedor comum quanto para o torcedor organizado. Hoje, em vez de assistirmos aos jogos na nossa sede, ou em casa pela TV, ou ter que organizar viagens e ir ao estádio, no máximo, a dois ou três jogos por ano, agora podemos ir aqui perto. Com certeza, estamos bem mais próximos do Flamengo ”. Clédson assistiu a todos os jogos do time que aconteceram até agora no estádio, mais do que costumava ir em outros anos. Para assistir às partidas no Rio de Janeiro, os integrantes da torcida organizada Raça Rubro-Negra gastam em média R$ 250 com passagem e o valor do ingresso. Eles não têm despesa com hospedagem, pois ficam na casa de torcedores de lá. Aqui em Brasília, o sócio torcedor do Flamengo paga a “meia da meia”, ou seja: se o ingresso custa R$ 120, estudantes, maiores de 60 anos, menores de 21, professores, funcionários públicos, doadores de sangue, deficiente físicos e
acompanhantes têm direito a meia entrada, no valor de R$ 60. Os sócios torcedores pagam R$ 30. Preço nas alturas A média de público nos jogos do Campeonato Brasileiro no Mané Garrincha está surpreendendo. A partida do campeonato com o maior número de pagantes até aqui foi Flamengo x Santos, em Brasília, no dia 26 de maio, com 63.501 pessoas. A renda foi de R$ 6,9 milhões. Mesmo com os valores dos ingressos mais altos do que nas outras cidades, os brasilienses comparecem em peso para prestigiar seus times. No Maracanã, por exemplo, o bilhete mais barato para o Flamengo x Cruzeiro nas oitavas de final da Copa do Brasil custou R$ 30 a meia entrada; sócios-torcedores pagaram R$ 15. O auxiliar financeiro Ricardo Dantas, 22 anos, faz parte da torcida organizada União Vascaína. Nascido no Rio de Janeiro, ele acompanha o Vasco desde pequeno e já viajou para vários lugares para ver o time jogar. Segundo Ricardo, os organizadores e os próprios clubes estão se aproveitando do amor do torcedor brasiliense para colocar os preços muito altos – são eles que estipulam os valores
das entradas. “O ingresso mais barato aqui em Brasília para Vasco e Flamengo foi de R$ 50 a meia. Quando eu morava no Rio de Janeiro, o máximo que paguei foi R$ 40 para acompanhar uma final do Campeonato Carioca”, reclama. Longe da diversão Ir ao estádio para ver seu time jogar tem tudo para ser um dia de diversão e alegria, mas nem sempre é isso o que acontece. As notícias de violência entre torcidas organizadas adversárias são frequentes. E em Brasília não tem sido diferente. No dia 18 de agosto, antes da partida Flamengo x São Paulo no Mané Garrincha, um torcedor rubro-negro foi espancado por três integrantes da Torcida Independente do São Paulo, presos em flagrante. O rapaz agredido sofreu fratura na mandíbula e precisou passar por cirurgia. No local do ocorrido, havia policiais militares que não interferiram na situação e esperaram a chegada da cavalaria para acabar com a confusão, o que causou polêmica sobre o despreparo das forças de segurança do DF em eventos esportivos de grande porte. (Leia mais sobre a segurança no estádio na página ao lado). A confusão se repetiu no dia 25 de agosto, dessa vez dentro do Mané Garrincha, que, projetado para a Copa do Mundo, não pôde considerar a divisão do público. Durante o intervalo do jogo Vasco x Corinthians, houve confronto entre as duas torcidas organizadas. Para pôr fim à briga, a polícia precisou usar cassetete e spray de pimenta. Como não há a divisão, um cordão de policiais vai isolar os grupos. A resposta para esses confrontos veio rápida. As torcidas organizadas Independente, do São Paulo, e Gaviões da Fiel, do Corinthians, estão proibidas de entrar no Estádio Mané Garrincha durante dois anos. A medida foi divulgada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Também será proibido circular no entorno do estádio portando objetos que se refiram às torcidas proibidas, como bandeiras, faixas ou emblemas. A partir de agora, todas as torcidas organizadas terão de entregar às autoridades cinco dias antes da partida um cadastro dos integrantes que vão ao jogo, com nome completo, fotografia, RG, CPF, nome dos pais, estado civil, endereço, profissão e escolaridade.
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esporte TECNOLOGIA
Pratique esporte sem sair da frente do computador Saiba como se transformar em jogador profissional, conquistar contratos de patrocínio e participar das “olimpíadas” IGOR BARROS
SIMPLES diversão para muitos, profissão para poucos. É assim que diversos jogos eletrônicos são considerados. Com a alcunha de eSport, a nova modalidade ganha cada vez mais espaço no Brasil, depois de conquistar um mercado gigantesco na Ásia, em parte da Europa e na América do Norte. O mesmo nível de importância que o futebol tem para nós, brasileiros, talvez Starcraft II, jogo eletrônico de estratégia em tempo real, tenha para os sul-coreanos. Com campeonatos transmitidos em TV aberta, lá, o jogo é reconhecido pelo governo como esporte nacional. Nos Estados Unidos, estão sendo emitidos vistos de atletas profissionais para jogadores de League of Legends que vão ao país disputar campeonatos. Em ambos os países, a renda mensal de um cyberatleta pode chegar a mais de US$ 2.500. Sucesso de público, a final do último campeonato brasileiro de League of Legen-
Ilustração: Shizuo Alves
ds é a prova dessa crescente aceitação. Com US$ 100 mil distribuídos em premiações, o evento em São Paulo contou com aproximadamente 10 mil pessoas nos três dias de competição. As partidas finais foram acompanhadas por mais de 112 mil pessoas que assistiram à transmissão on-line do torneio pelo canal de stream (transmissão ao vivo feita por uma pessoa ou equipe com o intuito de emitir informações em tempo real via internet). Para ser considerado um eSport, um jogo eletrônico precisa ter forte meio competitivo e boa jogabilidade, além do estreitamento da relação entre empresa e a comunidade de jogadores. Praticado em níveis amadores, semi-profissionais e profissionais, são divididos em seis categorias: FPS (First Person Shooter, jogos de tiro em primeira pessoa), TPS (Third Person Shooter, jogos de tiro em terceira pessoa),
RTS (Real Time Strategy, jogos de estratégia em tempo real), MOBAS (Multiplayer Online Battle Arena, subgênero de jogos de estratégia em tempo real), Racing (jogos que simulam corridas automotivas) e Sports ( jogos que simulam esportes). Além de ter performance acima do comum no jogo que pratica e bom conhecimento de táticas, o que leva horas e horas de treinamento, para ser considerado um pro-gamer e conquistar contratos de patrocínios, é preciso fazer um grande marketing pessoal. “Essa alcunha de pro-gamer, geralmente, é o público que dá ao jogador. Além de um conhecimento enorme do jogo em si, ter uma base sólida de fãs é fundamental. Mas, para isso, o jogador precisa sempre fazer streams e interagir de forma constante com as mídias sociais.” Quem afirma é Gabriel Cunha, criador do e-sportmarketing. com, único site brasileiro ligado ao marketing nos esportes eletrônicos. Preços altos Engana-se quem pensa que é barato se tornar um cyberatleta. Em um universo onde um clique mais rápido no mouse faz toda a diferença entre ganhar ou perder, ter um equipamento de qualidade é essencial, como em qualquer outro esporte. “O equipamento interfere no desempenho do jogador. De início, o preço assusta, mas qual é a diferença entre pagar R$ 300 por um par de chuteiras, usado no máximo uma vez por semana, e gastar o mesmo valor em um mouse ou fone de boa qualidade? Infelizmente, a alta tributação desses produtos no Brasil diminui a possibilidade de os jogadores terem material de boa qualidade. Comprei meu mouse fora do país e paguei menos da metade que eu pagaria aqui”, completa Gabriel.
Criado em 2001 com o intuito de ser a “olimpíada dos gamers”, o World Cyber Games (WCG) é o principal campeonato de esportes eletrônicos no mundo. Com eliminatórias por todos os continentes, a final mundial deste ano acontecerá em Kunshan, na China, entre 28 de novembro e 1 de dezembro. League of Legends, Assault Fire, Cross Fire e Fifa 13 são os jogos oficiais do evento. Assim como nos jogos olímpicos, os vencedores da WCG são premiados com medalhas de ouro, prata e bronze. Boa coordenação motora e reflexos rápidos são as principais características de um cyberatleta. Para provar isso, foi realizado um estudo na Universidade Britânica de Essex, em que pesquisadores testaram jogadores profissionais em esportes eletrônicos para compará-los com os atletas profissionais de modalidades tradicionais. As atividades constataram que os pro-gamers tiveram respostas emocionais em competições e a agudeza mental comparáveis às de atletas, e os tempos de resposta visual são quase tão rápidos quanto os de pilotos de aviões a jato. A parte negativa fica por conta do físico. A pesquisa mostrou que jogadores profissionais de esportes eletrônicos tinham baixos níveis de aptidão física, comparáveis à de pessoas muito mais velhas que eles. Os médicos observaram um jovem jogador magro de aparência saudável, mas que, pelo estilo de vida sedentário, tinha a função pulmonar igual à de um fumante de 60 anos. “Alguém dessa idade deveria estar muito mais apto, mas talvez este seja o risco ocupacional do jogador profissional que pode gastar em torno de dez horas por dia na frente de uma tela”, afirmou o médico responsável pelo estudo, Dominic Micklewright, ao jornal The Telegraph.
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cultura
ARTE
Samambaia, fonte de inspiração Projetos e monumentos artísticos são marcas da cidade Foto: Amanda Bartolomeu
À luz do saber: monumento em comemoração ao 17º aniversário de Samambaia
SHIZUO ALVES
BRASÍLIA é conhecida pelos traços de Oscar Niemeyer, mas também tem outras formas artísticas que marcam seu visual de forma única, espalhadas por todo o Distrito Federal. Oficializada em 1989, a RA XII (12ª Região Administrativa do Distrito Federal), ou simplesmente Samambaia, foi criada com a intenção de abrigar a grande demanda de imigrantes que chegavam ao DF. E, desde o início, Samambaia já servia de inspiração para a arte. Um de seus primeiros registros artísticos foi a pintura que ilustra a vista aérea da cidade, chamada O Grande Quadro, feita no ano da fundação pelo gaúcho da cidade de David Canabarro, José Elton Scartazzini, de nome artístico Élton Skartazini. Hoje a cidade é caracterizada por quatro monumentos artísticos desenvolvidos por Élton, além da restauração do monumento
SAIBA MAIS Élton Skartazini é formado em jornalismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). É cenógrafo, iluminador, artista plástico registrado pela Secretaria de Cultura e, atualmente, trabalha como assessor de comunicação da Administração Regional de Samambaia. É também professor de artes plásticas no Centro de Criatividade Infantojuvenil. Trabalhou como ator e cinegrafista no filme A TV que virou estrela de cinema, gravado em Brasília, em 1993.
Casinha de Boneca. Outros dois de criação da artista Lia Samara (As Três Meninas e Dê Asas à Imaginação). As obras estão distribuídas nas rotatórias da cidade ou no parque Três Meninas. O presente A ideia do projeto “Monumentos para Samambaia – Obras de arte para valorização da cidade” surgiu em 2005, quando o diretor do colégio Centro de Criatividade Infantojuvenil (CCI), Cleiton Braga, sugeriu que Skartazini desse à cidade um presente por ocasião do seu 16º aniversário. Desde então, o objetivo do projeto é criar uma galeria de arte a céu aberto, reunindo ao todo 25 obras instaladas por rotatórias e canteiros. Com o apoio do colégio, foi criado no mesmo ano o primeiro monumento, intitulado Lugar ao Sol. A lista dos cinco monumentos feitos até então pode ser conferida no Pulsátil (www.pulsatil.com.br). As técnicas usadas nas obras vão de pintura e metalurgia a grafite e mosaico, e os materiais usados são aço, carbono e concreto, além de manilhas. Os monumentos devem durar, se bem conservados, de 96 a 189 anos, baseado na resistência dos materiais usados, o que garante a beleza da cidade pelas próximas gerações. Skartazini destaca a importância das obras: “Esse tipo de arte é importante para caracterizar uma cidade. Somos uma sociedade eclética e democrática e abrigamos diversidade racial, social e cultural surpreendente, portanto, a impor-
tância está em manifestar a arte para caracterizar nossa população”. Em 2011, Skartazini também participou da revitalização do antigo e histórico monumento Casinhas de Boneca, construído nos anos 1960 pelo casal Inezil e Martha Penna Marinho para as filhas Zilta, Marine e Martita e localizado no Parque Três Meninas. A mais recente obra do artista foi em 2012, quando foi implantado o primeiro monumento da série Figuras do Agreste, na rotatória entre Samambaia e o Recanto das Emas. A obra homenageia a caatinga e o modo de vida do agreste brasileiro. A manutenção das obras não têm datas programadas. De acordo com Skartazini, a última limpeza foi feita em 2010 e outra está sendo programada para este ano, próxima ao aniversário de Samambaia, sempre com o apoio da Novacap. “Minha inspiração é a vontade de fazer a cidade ter na essência a arte e a cultura, de vivê-las. Tanto que agora estamos lutando para construir o Complexo Cultural de Samambaia, que será um ambiente que abrigará uma tenda cultural com salas de música, teatro, biblioteca e posteriormente salas de artes plásticas e cinema.” A cantora evangélica Mariana Souza Barros, 33 anos, moradora da cidade há 13, faz caminhadas diariamente e aproveita para observar as obras: “Acho que são muito importantes para dar uma diferenciada
“A arte é uma coisa contínua, nunca para.” Élton Skartazini
no visual da cidade. Minhas filhas brincam que o monumento À Luz do Saber é o pastor de nossa igreja”. Já o frentista Manoel Gonzaga de Lima, 49 anos, morador de Samambaia desde 1991, garante que as obras são um ponto de referência: “Esse tipo de arte é importante para qualquer cidade, até para usarmos como ponto de referência e localização.” Concurso público A Administração de Samambaia está trabalhando em um concurso público para reunir artistas plásticos que elaborem o restante das esculturas e as distribuam em mais pontos. A ideia é dar continuidade à iniciativa “Monumentos para Samambaia – Obras de arte para valorização da cidade”, agora com o apoio do governo. “O projeto ainda está sendo escrito e discutido pelo conselho de cultura da cidade. Temos que ter a autorização do Detran para, então, lançarmos o concurso, com premiação de R$ 20 mil por obra implantada. Não temos pressa, já que tudo tem que ser analisado. Portanto, não há previsão para o início das obras”, explica Élton. Foto: Amanda Bartolomeu
Élton Skartazini mostra uma de suas obras, feitas sobre madeira
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comportamento PAIS E FILHOS
Violência é um desvio ou uma fase?
Comportamento agressivo dos jovens nem sempre pode ser diagnosticado como desvio de comportamento e sim, transição de amadurecimento JUSSARA RODRIGUES PAULA MORAIS
NAS últimas semanas, o país vem acompanhando o caso misterioso da família que foi assassinada, no dia 05 de agosto. Cinco pessoas foram encontradas mortas dentro de casa, entre elas, um garoto de 13 anos, Marcelo Pesseghini. Para a polícia, o adolescente é o principal suspeito de ter matado a sua família e em seguida cometido suicídio. O fato aconteceu em Brasilândia, Zona Norte de São Paulo. O desdobramento do caso gira em torno da possibilidade de um menor de idade ter cometido um ato bárbaro e sem motivo aparente. Diante de um fato polêmico, o Artefato se propôs a conversar com especialistas para saber como os pais podem reconhecer nos filhos o comportamento agressivo e qual a melhor maneira de lidar com a situação. Maria Eveline Cascardo Ramos, psicóloga clínica especializada na relação familiar e jurídica, explica que toda e qualquer criança pode, em algum determinado momento, se comportar de maneira agressiva, independente de classe social. Cabe aos pais saber identificar no filho as atitudes que fogem do padrão esperado. Sobre o comportamento violento, a psicóloga comenta que por questões naturais, algumas crianças podem quebrar um brinquedo para conhecer como funciona, por exemplo. Atitude que ela avalia como normal em fase de crescimento. Por outro lado, um filho que quebra um brinquedo por quebrar e sem nenhum objetivo, pode ser um sinal de desvio de comportamento. Momento em que os pais devem ficar atentos. “Existem várias maneiras de identificar esse comportamento agressivo, basta à gente querer identificar”. Ambiente escolar A Orientadora Educacional Rosângela Costa de Paula conta que lida diariamente com alunos que sofrem transtornos comportamentais. Ela diz que as reações inadequadas devem ser analisadas a partir de diversos fatores. “Existem alunos que estão passando por uma fase difícil. Por exemplo, sofrendo problema de saúde, enfrentado a separação dos pais, existe aqueles que mudaram de cidade e depara com novos
Fotos: Rafaela Brito
A psicóloga Maria Eveline Ramos explica que toda e qualquer criança pode se comportar de maneira agressiva
FAMÍLIAS, ATENÇÃO Segundo o Presidente da Associação Dos Pais e Amigos dos Deficientes (APADA), Marcos de Brito, muitos pais não e ntendem o motivo de seus filhos apresentarem comportamentos distorcidos, por não estar ciente da verdadeira causa. Há crianças que apresentam comportamento agressivo não por terem o desvio de comportamento, mas por não entenderem os comandos de quem está falando. Provavelmente a criança pode apresentar o quadro leve, moderado, severo ou profundo de surdez.
costumes, até mesmo, caso que o animal de estimação morreu e o adolescente ficou perplexo diante a perda”, explica. Rosângela que atua na área há 18 anos, afirma que os transtornos de conduta dependem do histórico familiar, do contexto de vida, do ambiente no qual ele convive e, sobretudo, da cultura imposta pela sociedade. “Os garotos são mais propícios aos transtornos, porque a cultura da sociedade nos diz que esse pensamento de insultar o próximo para se defender parte dos próprios pais”, lamenta. Ela afirma que tanto os pais quantos os professores, devem estar atentos às modernidades, pois a geração atual é diferente de outrora. Então não adiante os pais disciplinar seus filhos, semelhante como foram educados em sua época. Sendo assim a educação não pode ser a mesma, pois cada geração deve atribuir um linguajar reformulado. Se os familiares e os docentes não estudar, pesquisar, conversar com profissionais da saúde, e trocar experiências com outras pessoas, certamente terá problemas futuro, aconselha a orientadora. Pesquisas revelam que os estudantes considerados ter o desvio de comportamento, nem sempre apresentam baixo rendimento nas notas. Isso só acontece pela ausência de foco e atenção durante as aulas, e não por falta de condições cognitivas. A educadora detalha que os estudantes de comportamentos distorcidos, tendem a querer chamar atenção das pessoas que o cercam, por meio, da agressividade constante, inquietações, fazem gracinhas apelativas, provocam brigas, entre outras práticas. Quando isso acontece, ela chama o aluno em sua sala, conversa e procura saber o motivo pela ação constrangedora, logo após aconselha. Se depois disso, o estudante retomar as mesmas atitudes que viole as leis e obrigações, os pais são chamados na escola para uma conversa. “Convivi com diversos alunos que sofriam transtornos em seu comportamento. Muitos deles conseguiram se ajustar a partir da intervenção dos pais juntamente com o apoio da escola, mas outros alunos foram encaminhados ao psiquiatra para se tratar”, relembra.
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comportamento DEPOIMENTO
Os pais devem estar sempre atentos ao comportamento dos filhos e buscar ajuda quando acharem necessário
RECOMENDAÇÃO DAS ESPECIALISTAS
1 Os pais devem ter, diariamente, no mínimo cinco minutos para conversar com seus filhos
2 Amor e disciplina caminham juntos. A maior desculpa dos pais é dizer que trabalham muito e não têm tempo para dialogar com os filhos
3 Pais, coloquem senha no computador
4 Estabeleçam regras para utilizar o PC
5 Estipule a hora para a entrada e saída da internet
6 Mostrem interesse pelos sites que seus filhos costumam acessar
A Pedagoga Rúbya Elizabeth relembra o caso de um aluno, que não pode ser identificado em nossa matéria, por questões judiciais e preservação da fonte. Ela conta que quando estagiava em uma escola deparou-se com um aluno diferente dos outros. “O estudante tinha nove anos na época, era muito calado, não tinha um círculo de amizade, não era sociável aos outros alunos da classe. Quando ele ouvia algum colega falar no nome dele, o mesmo jogava as cadeiras para o alto, avançava nos alunos e praticava agressão física. Após um período de conversas com o estudante, ele declarou ser aviãozinho de traficantes. Por ser inexperiente fiquei muito chocada e imediatamente fui à coordenação contar o fato. A escola chamou a mãe deste aluno para conversar e descobriram que ela era alcoólatra e esposa do marido que a deixou. Com o apoio do colégio, a família foi encaminhada para o Conselho Tutelar e hoje tanto a mãe quanto o filho recebem tratamentos”, conta.
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comportamento
Foto: Quéssia Fernanda
VEGETARIANOS
Alternativa de alimentação Seja para levar uma vida mais saudável ou para poupar a vida dos animais, cada vez mais pessoas tiram a carne do cardápio ALESSANDRO ALVES Sentiu falta de alguma coisa no prato? Quem opta por deixar de comer carne tem opções variadas para compor o cardápio
DEIXAR de comer carne pode não ser uma tarefa das mais fáceis, afinal o brasileiro é um apreciador nato dos mais variados tipos: gado, frango ou porco. Seja ela bem passada, ao ponto, suculenta ou mesmo a carne crua, como os famosos sushis, prato típico japonês que caiu no gosto dos brasileiros. Só a ideia de não ter aquele bife acompanhado do brasileiríssimo arroz com feijão, pode assustar muita gente. O Brasil possui um rebanho de quase 200 milhões de cabeças de gado, o que gera uma renda de R$ 60 bilhões por ano na produção de carne e leite para o país, segundo o Ministério da Agricultura. A carne é um alimento que não pode faltar na alimentação dos brasileiros e para alimentar esse grande país de carnívoros, 30 milhões de bovinos são abatidos todos os anos, de acordo com a pasta. Na última pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), no ano de 2012, mais de 15 milhões de pessoas no Brasil se declararam vegetariana ou que tira da alimentação diária qualquer alimento de origem animal. Isso significa que um pouco mais que toda a população da cidade de São Paulo não consome carne. De acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) não existe apenas um único tipo de vegetariano. As pessoas que deixam de consumir alimentos de origem animal, são classificadas conforme o tipo de alimentos que não comem: ovolactove-
getarianos, lactovegetarianos, vegetarianos estritos e veganos. A Servidora Pública Mayra Stefany, 30 anos, parou de comer carne há treze anos, mas somente há três ela se considera uma vegetariana Vegana. “Eu já comia pouca carne, não gostava de todos os tipos, então aos poucos fui deixando de colocá-la nas minhas refeições diárias”, conta. Praticante da religião Espírita, que segundo ela estimula os adeptos a diminuírem o consumo -, a consciência do sofrimento dos animais foi o maior motivo que a levou a parar de comer alimentos de origem animal. “Quando eu percebi que gostava muito dos animais, vendo o que eles sofriam para poder me alimentar, parei de consumir qualquer coisa relacionada aos animais, desde a comida até as roupas”, completa. Mayra tenta influenciar o maior número de pessoas a ter uma dieta vegetariana e diz que já conseguiu fazer com que o marido diminuísse a quantidade de carne nas refeições. Falta de vitaminas Quando uma pessoa passa a ter uma dieta exclusivamente vegetariana, deixa de ingerir alguns nutrientes essenciais ao organismo que só alimentos de origem animal possuem. A vitamina B12, por exemplo, é encontrada somente em carnes e ovos e é uma importante substância que ajuda na prevenção de problemas cardíacos e derrames cerebrais.
De acordo com a professora Maria Fernanda Castione, do curso de Nutrição da Universidade Católica de Brasília (UCB), a alimentação vegetariana está mais ligada ao estilo de vida de uma pessoa, ou às crenças religiosas, do que a qualidades nutricionais. Mas ela acredita que qualquer um possa ser vegetariano. “Uma alimentação vegetariana, desde que com algumas eventuais suplementações e bem conduzida, qualquer pessoa pode muito bem viver de forma plena e saudável”, afirma. Para a professora, o reino animal possui alimentos riquíssimos como os peixes de água gelada ou mesmo o ovo; a não ser que seja uma opção por parte do paciente, ela diz que dificilmente recomendaria uma alimentação vegetariana como dieta. Restaurantes vegetarianos O site da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) lista vários restaurantes para vegetarianos que estão espalhados por todo o Brasil. O número de restaurantes vegetarianos no DF ainda é pouco, mas de acordo com Tiago Lopes, gerente do Girassol - restaurante que é uma das referências de comida vegetariana em Brasília -, com o aumento do número de pessoas que procuram por uma alimentação viva, a tendência é que a quantidade de restaurantes também aumente. “Cerca de 70% do público do nosso restaurante são de vegetarianos fixos, que adotaram o estilo de vida porque é mais
saudável. Outros são vegetarianos eventuais. A pessoa que vem comer em nosso restaurante pode se alimentar bem sem qualquer alimento de origem animal. E, se for o caso, temos até carne de soja”, diz. Mesmo sendo gerente de um restaurante vegetariano, Tiago diz que ainda come carne, mas que está parando aos poucos. A publicitária Janine Erica, 25 anos, parou de comer carne branca ainda na infância devido a um trauma. Quando criança, ela viu uma galinha sendo morta e isso fez com que ela deixasse de comer carnes brancas e de porco. Até o Natal do ano passado, ela comia carnes vermelhas, mas resolveu parar quando assistiu a um vídeo de maus tratos de animais. “Depois que eu parei de comer carne, não tive nenhum problema com a falta dela, na verdade tive mais problemas com as pessoas. Como eu sempre tive problema de pressão baixa, diziam que era porque eu não comia carne. Eu sentia certo preconceito por parte das pessoas”, conta. Para a professora doutora da UCB, Fabiani Beal, não se pode estigmatizar uma única opção alimentar como saudável. “Somos seres onívoros e caso tenhamos alguma restrição por doença ou qualquer outro motivo de ordem pessoal, a dieta que contenha o maior número e diversidade de alimentos é a mais acessível e consequentemente mais saudável. A menos que tenhamos alguma condição que restrinja a dieta onívora”, conclui.
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comportamento SUPERAÇÃO
Medo de dirigir tem tratamento
Foto: Juliana Macêdo
Cerca de 90% dos alunos que participam do curso do Detran criam coragem na direção ALANA ARAÚJO CAROLINE COÊLHO
ANSIEDADE, insegurança pessoal ou consequência de um trauma decorrente de acidente de trânsito. Essas são algumas das principais causas do medo de dirigir. É preciso que o motorista avalie de onde vem o medo, e assim, procure ajuda. Os locais mais indicados para superar este obstáculo, são as auto-escolas para habilitados ou psicólogos. Para alguns, dirigir um carro é uma ação comum e estimulada antes mesmo de tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Mas, para outros, pegar no volante é motivo de pânico, que causa suor excessivo, mãos trêmulas, taquicardia e pernas bambas – reações características de estresse e medo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), seis em cada 100 motoristas no Brasil têm medo de dirigir. A assistente de trânsito, psicóloga e professora do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) Márcia Rangel Gusmão explica que o medo e a fobia são sensações diferentes. “O medo é caracterizado como uma emoção que protege o ser humano, como uma forma de defesa da vida e nos ajuda a estar preparados para uma reação. Já a fobia, também conhecida como ‘medo patológico’, é um medo persistente, excessivo, irracional, revelado pela presença ou antecipação de um objeto ou situação, condicionando o indivíduo a evitar tal fato gerador”, aponta Márcia. O medo de dirigir atinge até mesmo quem já possui carteira de habilitação. Insegurança ao volante ou trauma são dois dos principais motivos que levam as pessoas a evitar usar o carro como transporte. Márcia comenta que, de forma geral, as causas que levam uma pessoa a evitar dirigir são ligados à personalidade. “Normalmente são pessoas muito responsáveis, perfeccionistas, inseguras e muito críticas consigo mesmas”, completa. Desculpas como “prefiro andar porque é mais saudável” ou “esse carro é muito grande, vou comprar um menor” também são comuns para quem evita dirigir. “Segue-se, então, uma vida cheia de limitações, em que é mais difícil visitar amigos que moram longe ou ir ao teatro porque a peça termina tarde. Tornam-se dependentes do filho que tirou a habilitação ou dos amigos que dirigem normalmente”, exemplifica Márcia. Segundo a especialista, as dificuldades mais enfrentadas pelos alunos que fizeram o curso de Iniciação à Superação do Medo de Dirigir no Detran-DF são relacionadas ao medo de bater em outro carro, tirar o carro da garagem, subir ladeiras, estacionar e atropelar alguém. Ela explica que o primeiro passo para superar
o pânico é saber se de fato sabe dirigir. Se a resposta for positiva o próximo passo é assumir o sentimento de medo e não sentir vergonha. Depois é necessário desenvolver um planejamento com estratégias para focar a atenção na superação do medo, motivando-se a querer dirigir e enfrentar o problema. Por isso, é necessário separar um tempo para reaprender a dirigir e voltar a ter intimidade com o carro, persistir e treinar. Medo ao volante A dona de casa Silvia Maria da Costa, 46 anos, é um exemplo de quem superou o medo. “Hoje dirijo tranquilamente, mas nem sempre foi assim. O caminho até aqui foi complicado, eu era muito insegura. Não era exatamente medo, era falta de prática.” Dez anos atrás, Silvia precisou mudar-se de Brasília para uma chance de emprego em Goiânia. Ela conta que encontrava muita dificuldade para se adaptar ao trânsito na nova cidade. “Não digo que eu sofria crítica ou qualquer outro tipo de pressão, mas eu queria poder ir e voltar sem precisar da ajuda do meu marido”, relata. Em um fim de semana de folga, Silvia decidiu pegar o carro e dar uma volta na quadra onde mora. “Acho que minha atitude serviu para eu perceber que não precisava ter medo. Respirei fundo, liguei o carro e fiz tudo com calma. E assim foi, até criar confiança na direção”, explica. Já a técnica de edificações Lucy Andrade, 37 anos, teve mais dificuldades para conseguir a carteira de habilitação. Durante o processo, ela já se sentia insegura para dirigir e passou por quatro provas práticas. Mas um acidente foi o motivo do trauma. “Bati em um carro de auto-escola. Não foi nada sério, só atingiu o para-choque. Depois disso começou o meu medo, e perdi a vontade de dirigir”, conta Lucy. A técnica recebeu uma proposta para trocar de emprego, e para levar o filho até a escola, sentiu necessidade de dirigir para facilitar a locomoção. Ela, então, se matriculou em uma escola para habilitados. No pacote, estavam inclusas aulas práticas e acompanhamento psicológico. “Como o tempo era curto, a única saída seria usar o carro, e isto me incentivou a voltar a dirigir”, conta. Curso para habilitados Em 2007, o Detran criou o Curso de Superação do Medo de Dirigir, para atender de forma gratuita a demanda de pessoas habilitadas que possuem veículo e carteira de motorista, mas que têm medo de dirigir. “O curso do Detran é para ajudar condutores já habi-
Perfeccionismo e insegurança são causas do problema
litados, mas que precisam dirigir e não conseguem”, comenta a chefe do Núcleo de Formação e Cursos de Trânsito, Ediene Borges Assante. O curso é teórico, e nele são trabalhadas questões de relação humana e de psicologia, para a superação de traumas e auto-conhecimento. Os professores passam uma série de exercícios para que os alunos façam em casa, e aos poucos, garantirem confiança para dirigir. Ediene acrescenta que as aulas também são importantes para a atualização do conhecimento na legislação de trânsito e direção defensiva. Desde a criação, aproximadamente 1.500 pessoas já fizeram o curso, sendo que desse total, 95% são mulheres. O curso é ministrado uma vez por mês e as turmas são divulgadas no site do Detran. Cerca de 90%, após o curso, voltam a dirigir.
SERVIÇO CURSO DE SUPERAÇÃO DO MEDO DE DIRIGIR Telefone: 3120-9800 Endereço: SAM, Lote “A” Bloco “B” Ed. Sede DETRAN/DF E-mail: www.detran.df.gov.br/
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cidadania SEGURANÇA PÚBLICA
Espaço restrito necessário
Sistema de vagão exclusivo para mulheres no Metrô-DF provoca debate Fotos: Alessandra Modzeleski
O vagão “rosa” entrou em vigor no dia 1º de julho e veio atender a uma demanda de 12 denuncias de abuso, ocorridas em 2012
ALESSANDRA MODZELESKI ADRIELE VIEIRA
RAPAZ, ouve essa: há uns 6 meses, um camarada sentou no banco atrás de uma mulher de uns 21-22 anos. Meio da tarde, trem relativamente vazio, quando o trem para na estação Feira, ele levanta, goza no cabelo/cara dela e sai correndo do trem, passa pelos empregados do metrô – que não sabiam de nada – e saiu da estação. Sorte que uma galera que estava no trem saiu correndo logo atrás, pegou o cara no estacionamento, deu uma surra nele e entregou pro pessoal da estação. Isso é só uma das várias histórias que eu, como Supervisor do Metrô-DF, sei que acontecem. Esse comentário foi feito no perfil do Facebook de Alberto Brandão, analista de sistemas e integrante da equipe do coletivo papodehomem.com.br., onde foi reproduzido para ilustrar a discussão: vagão exclusivo para mulheres no metrô é ou não é uma boa medida? Segundo Brandão, “iniciativas como essa tiram a responsabilidade dos homens de melhorar sua postura em relação às mulheres. É como se, dando um vagão exclusivo para elas, você estivesse dizendo: ‘se não quer ser abusada, use seu vagão exclusivo’”. Mas ele pondera: “De um lado, temos a necessidade de evitar que mulheres sejam submetidas a situações ultrajantes e humilhantes como essa, do outro, temos a subjetividade de impor às mulheres a responsabilidade por sua segurança”. Bom ou ruim, o fato é que o vagão “rosa” foi implantado no dia 1º de julho deste ano no Distrito Federal. De segunda a sexta-feira, nos horários de pico, é permitida apenas a
entrada de mulheres e pessoas com deficiência nesse vagão. Para a chefe da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Isabel Clavelin, o projeto tem como função dar alguma proteção para as mulheres, enquanto ainda não há medidas que ponham fim aos casos de desrespeito e abuso, mas ela alerta: “No fundo, o que existe é a questão do patriarcado, que fortalece a livre circulação do homem no espaço público e obriga as mulheres a esse espaço restrito”. Na avaliação de Isabel, a iniciativa é positiva no que diz respeito às necessidades que as mulheres têm no uso do transporte público lotado e permite que elas circulem com integridade e segurança, mas insiste: “Como sociedade inclusiva e igualitária, não podemos tolerar espaços restritos”. A Lei Distrital 4.848/2012, que criou o sistema de vagão exclusivo na capital, foi proposta pelos deputados distritais Evandro Garla (PRB) e Eliana Pedrosa (PSD). A deputada explica que não se baseou nos números de assédio registrados pelo Metrô-DF, mas em informações colhidas durante visitas domiciliares aos eleitores, quando tem a oportunidade de conversar e ouvir o que as mulheres têm a dizer. Para ter certeza de que o vagão está agradando as mulheres, Eliana Pedrosa envia assessores para entrevistar as usuárias e recolher opiniões. Nessa pesquisa, elas se colocam a favor da iniciativa e, mesmo as que nunca foram abusadas acham que evitar é necessário, por isso usam só o vagão “rosa”. A Assessoria do Metrô-DF informou que
os funcionários orientam os usuários sobre o uso desse vagão, e avisos sonoros são emitidos com informações sobre as normas de utilização. Quinze dias antes da inauguração, foram distribuídos panfletos ao público explicando a iniciativa. Ainda segundo a assessoria, no primeiro mês, foram registradas oito reclamações: três de fiscalização e cinco contra o carro. O abuso sexual O projeto é uma resposta a 12 denúncias de assédio ocorridas no Metrô-DF em 2012. A usuária Regina Araújo Soares da Silva acredita que esse número não corresponda à realidade. Ela explica que não usa com frequência o transporte público, mas sabe que existem “muitos engraçadinhos”. Conta também que já foi molestada em horário de pico: “Ele passou a mão em mim. Na hora, eu xinguei e o pessoal também brigou. O metrô estava lotado. O homem desceu na estação seguinte e ficou por isso mesmo”. Regina avalia que, como ela, outras mulheres também não denunciam por diversos motivos, inclusive vergonha. Para Isabel Clavelin, um caso como esse é muito constrangedor: “Nós, que estamos distantes e não somos atingidos diretamente, não entendemos por que a vítima não denuncia. Mas são várias obrigações que recaem sobre a mulher: ela tem que dizer para o Metrô, para a delegacia, para a família, para a polícia e para o namorado que está em situação de vulnerabilidade”. E completa: “O papel de denúncia não é só da vítima, mas também da sociedade, que muitas vezes vê, mas não é solidária e não intimida a ação do violador”.
A sinalização é colocada no local onde o vagão para
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cidadania Foto: Eduarda Lewicz
MÃES SOCIAIS
A MATERNIDADE COMO PROFISSÃO Preparo e vocação são fundamentais para o trabalho das cuidadoras de crianças RAYANNE LARISSA
EURÍDICE Januária é mãe social há três anos e dez meses, mas já lida com crianças há bastante tempo. “Eu morava em Salvador e estudava Pedagogia. Quando estava estagiando, as crianças me chamavam de mãe”, conta. Hoje, Eurídice mora em uma casa-lar na Asa Norte, em Brasília, onde cuida de seis crianças e adolescentes. “Quando cheguei a Brasília, tive contato com uma assistente da Vara da Infância e ela me falou sobre o trabalho da ONG Aldeias Infantis e eu me interessei”. A rotina na casa-lar é parecida com a de qualquer outra casa e todos ajudam nas tarefas domésticas. “Nós somos responsáveis por tudo aqui: pela compra do mês, pela ida ao médico e pela educação das crianças.”, afirma Eurídice. Além disso, as cuidadoras, como também são chamadas, têm total autonomia na casa. “Quando temos que tomar alguma decisão, primeiro discutimos com a gestão e a equipe técnica e sempre somos ouvidas”, explica. Para Eurídice, a adaptação à nova vida não foi fácil. “Eu tive um pouco de resistência no começo até conseguir me adaptar, mas me identificava muito com o gestor anterior e com a sensibilidade dele e foi isso que me ajudou”, conclui.
“Nós somos responsáveis por tudo aqui: pela compra do mês, pela ida ao médico e pela educação das crianças.” Eurídice, mãe social
Mãe social Amor, carinho, dedicação e paciência – esses são alguns dos requisitos para se tornar mãe social, profissão que surgiu na Áustria, idealizada pelo filantropo Hermann Gmeiner, com o objetivo de ajudar crianças órfãs vítimas da Segunda Guerra Mundial. Naquela época, o trabalho era voluntário e realizado por viúvas que perderam os maridos durante o conflito. Hoje, é profissão regulamentada e registrada pela Lei n° 7.644/87 e ajuda milhares de crianças e adolescentes nas diversas unidades de recolhimento espalhadas pelo mundo. No Brasil, a ONG internacional Aldeias Infantis SOS é uma das responsáveis por esse trabalho e está presente em 12 estados e no Distrito Federal. Mãe social é a mulher responsável por cuidar de crianças e adolescentes que foram abandonados ou vítimas de abuso e negligência pelos pais biológicos. Quando isso acontece, as crianças são encaminhadas para a ONG, que passa a ter a guarda delas, concedida pela Vara da Infância. Cada mãe social vive em uma casa-lar e pode cuidar de até nove crianças. Irmãos biológicos nunca são separados. A mãe social, como qualquer outra mãe, deve estar presente no dia a dia das crianças, levando-as à escola, ajudando no dever de casa, dando conselhos, atenção, amor e carinho. O objetivo da ONG é reintegrar a criança ao ambiente social para que ela possa voltar a morar com a família biológica. Quando o retorno à família de origem não é possível, as crianças são cadastradas no banco de adoção. Requisitos As mulheres que quiserem ser mães sociais devem ter mais de 25 anos, ser solteira, não ter filhos dependentes, ter completado o ensino médio, ter disponibilidade para morar em uma casa-lar e gostar de crianças, tendo
Eurídice é mãe social há três anos e dez meses
em mente que terá que lidar com até nove delas com temperamentos distintos e em fases diferentes. A divulgação das vagas é feita pelas redes sociais e as interessadas devem enviar o currículo. Caso se enquadre nos pré-requisitos, são convocadas para uma reunião, em que são distribuídos materiais de estudo sobre a profissão. Por último, as candidatas fazem um estágio. “A partir desse momento, elas podem assumir as casas, mas sempre acompanhadas de outra pessoa, até que estejam completamente aptas a assumir a casa sozinha”, explica a psicóloga Daniela Batista, que trabalha na ONG Aldeias Infantis. A mãe social trabalha com carteira assinada, tem direito a 36 horas de descanso por semana, 13º salário, previdência social e todos os demais direitos trabalhistas previstos pela lei.
40
anos tem a introdução da profissão no Brasil.
250
é o número de mães sociais espalhadas pelo país. 15
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cidadania Foto: Ramila Moura
Bruna Evelyn não sai de casa quando a raiz do cabelo está alta
BRANQUEAMENTO
Cabelo crespo em discussão Uso da chapinha para tentar modificar a aparência como forma de aceitação na sociedade levanta questões raciais JUSCIANE MATOS STEFANY SALES
OS diversos recursos para modelar e remodelar o cabelo, corrigir “imperfeições” no rosto por meio de maquiagens, aumentar a altura ao usar sandálias de salto são atitudes comuns ao universo de algumas mulheres. Porém, de acordo com o professor de Filosofia da Universidade Católica de Brasília (UCB) Manoel Barbosa, essas artimanhas não devem ser usadas como forma de sobreposição de cultura nem como classificação de uma etnia como superior. Para ele, um fenômeno a ser observado é o alisamento do cabelo, muitas vezes entendido como tentativa de branqueamento. O professor analisa essa questão por dois ângulos. O primeiro é quando a mu-
lher alisa o cabelo por opção e o segundo é quando procura modificar a aparência como uma tentativa de aceitação na sociedade. Segundo ele, a segunda situação é o processo de maior violência que uma pessoa pode sofrer. “Não é um afrontamento externo, é o próprio indivíduo que se coloca em uma posição inferior, como sendo de uma raça abaixo da média em detrimento de uma raça tida como superior. Por isso, usar as terminologias ‘cabelo bom’ e ‘cabelo ruim’ é altamente discriminatório por qualificar a pessoa de acordo com o tipo de cabelo que ela possui”, explica Manoel. A professora da UCB Isabel Clavelin
realça a reflexão quando afirma não ver problema em uma mulher querer passar chapinha no cabelo, fazer alisamentos, apliques e outros recursos estéticos. “Esse é um desejo que deve ser aceito, desde que a pessoa tenha chance de tomar a iniciativa e que seja uma determinação consciente, em que ela entenda e assuma sua negritude sem querer apagá-la”. Isabel entende o processo do branqueamento por meio da chapinha como um fator altamente violento. Ela destaca que o negro, além de ser imposto a um padrão de beleza da supremacia branca, precisa lidar com o julgamento da sociedade pela não aceitação das suas origens.
Sociedade excludente Isabel Clavelin acredita que a questão do cabelo crespo deve ser discutida, pois é parte de um processo que ajuda na afirmação do negro dentro de uma sociedade excludente como a nossa. “Imagine o sofrimento que é ouvir a vida inteira que seu cabelo é ruim e querer transformar algo que não é possível de ser transformado”, reflete. A busca por uma beleza admirada e dentro dos padrões estipulados socialmente fez a estudante Bruna Evelyn da Silva, 19 anos, negra, optar pelo uso de aplique, o que a faz passar quatros horas em um salão de beleza para arrumar os novos fios. “Você coloca uma roupa bonita e está com o cabelo feio, então você não está bonita. Pra mim o cabelo é tudo”, ressalta. Ela conta que sofreu com o cabelo no período escolar, pois os colegas usavam apelidos como “negrinha”, “cabelo ruim” e assim por diante. Ela acredita que ter o cabelo crespo influenciou o relacionamento social. Ela chegou a pensar que as pessoas se afastavam dela por esse motivo. Ainda na adolescência, Bruna procurou tratamentos químicos como forma de solucionar o que ela achava ser um problema. Por falta de resultados satisfatórios, desenvolveu um tipo de “mania” de arrancar cabelo. “Eu estava conversando com as pessoas e começava a mexer no cabelo e arrancar os fios”, relata a estudante. Ela conta que diminuiu o ritual depois que colocou o aplique, por se achar mais bonita e atraente. “Quando eu estava sem aplique não era a mesma coisa, mudou minha vida depois”, explica. Brasil menos negro De acordo com o professor Manoel Barbosa, o processo de clarear a população brasileira foi intencional e começou com a migração de povos brancos para o país motivado pelo crescimento da população negra. Acreditava-se que essa raça seria a mais fraca e desapareceria. Porém, não foi o que aconteceu. Para ele, a tentativa frustrada de branqueamento literal da população, depois do período escravocrata no Brasil, se estende para os dias atuais percorrendo outro caminho, que perpassa a cor da pele, começando pela não aceitação do próprio negro e chegando ao desejo da sociedade de atenuação da cor. Ainda segundo o professor Manoel Barbosa, negar a negritude é diferente de ter insatisfação com algum aspecto físico, o que é comum ao ser humano. O preocupante é quando esses fatores transpassam o nível pessoal e chegam à sociedade como valorização de uma raça em detrimento de outra, que são os conceitos de superior e inferior.
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cidadania DANÇA
Baile para a terceira idade E quem disse que eles não se divertem? O Paradão de Taguatinga norte tem sido o ponto de encontro de muitos idosos em busca de novidades
Foto: Rhayne Ravanne e Karinne Rodrigues
RHAYNE RAVANNE KARINNE RODRIGUES
DIVERSÃO, autoestima e inclusão. É isso que a Associação dos Idosos de Taguatinga Norte, mais conhecida como Paradão, proporciona para aproximadamente 300 idosos que frequentam o local todas as segundas-feiras para participarem dos bailes de forró. O Paradão, localizado na QNL, atrás da feira permanente, surgiu há 30 anos com o objetivo de oferecer recursos em benefício do idoso. O forró atrai idosos de todas as regiões do DF. “Eu moro na Asa Norte, mas venho dançar forró aqui no Paradão, em Taguatinga”, diz dona Nira Maçu, de 68 anos. Para participar, é cobrada uma taxa simbólica que dá direito a uma cartela de bingo. “Cobramos o valor de R$ 5,00 para a entrada no baile. O dinheiro arrecadado é utilizado para pagar o cantor, pois eles fazem questão que tenha música ao vivo”, afirma a presidente da Associação, Maria de Lourdes, de 72 anos. Com músicas ao vivo, muitos idosos se empolgam e arriscam boas coreografias. Com quase cinco horas de baile, é possível ver a alegria estampada no rosto de muitos deles. Cansaço? Não existe! Esse pessoal é mesmo muito animado. Cláudio Alves, de 48 anos, vem de Santa Maria só para dançar. “Conheci o local por meio de amigos e participo do baile há muitos anos. Aqui, eu me sinto bem, é um lugar que me traz muita alegria”. E quem disse que o pessoal da terceira idade não tem vaidade está muito enganado. Entre as mulheres, por sinal as mais vaidosas, encontramos looks da moda, salto alto, maquiagens caprichadas e muito brilho nos acessórios. Muitas não aparentam a idade que têm. E não é diferente
no comportamento: animadas, cheias de disposição e sempre prontas para cair no forró. O salão é amplo. As mulheres ficam sentadas em cadeiras ao redor do salão na esperança de serem chamadas para uma dança. E tem aquelas que encaram os passos sozinhas, mesmo assim, não deixam de se divertir. A lanchonete do local oferece canjica, tortas, bolos e refrigerantes, tudo de graça. Hoje, a atividade é referência para os idosos que buscam distração e novas amizades. Há também casais que vão para praticar a dança, como é o caso de João Bosco e Maria de Farias. Eles rodopiam por toda parte do salão e exibem os mais variados passos de forró, tudo acompanhado por muita troca de beijos. O casal se formou em um antigo baile que existia em Ceilândia. “Nos conhecemos no forró da Ceilândia. Depois que acabou, passamos a frequentar o de Taguatinga. É muito bom. Deveria haver outros lugares como esse aqui no DF”, conta João. Além dos bailes todas as segundas-feiras, das 15 às 19h30, o Paradão também oferece, durante a semana, outras atividades, como ginástica, pintura em pano de prato, crochê, tricô e capoterapia gratuitamente. Essa iniciativa da Associa-
Homens e mulheres vêm de todas as regiões do DF para dançar, sobretudo, um bom forró
ção dos Idosos acaba sendo responsável por promover a valorização dos idosos que, às vezes, acabam sendo esquecidos dentro de casa pelos familiares. Lá eles encontram seu valor e enxergam que ainda têm muito o que viver. E como no filme brasileiro “Chega de Saudade”, de Laíz Bodansky, o Paradão retrata a esperança de pessoas solitárias em encontrar nesses bailes a alegria e o companheirismo, seja para dançar, conversar ou namorar.
físico quanto no psicológico. “Os principais seriam no equilíbrio, na postura, na atenção, na orientação visoespacial e como exercício aeróbico. Outros benefícios seriam a interação social e a memória. A música estimula o cérebro de uma maneira totalmente diferente das atividades habituais”, afirma a geriatra Tatiana Peron. Segundo ela, a atividade física e uma boa alimentação são as únicas medidas comprovadas para a prevenção de deBem-estar mência, embora a maioria dos pacientes Além de ser prazerosa e elevar a au- ainda busque um medicamento para isso. toestima, a dança também traz vários É importante que, antes de praticar a danbenefícios à saúde, tanto no aspecto ça, o idoso esteja em dia com seus exames. 17
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economia COMÉRCIO
Novo e usado na capital da modernidade
Brechós se tornam opção de negócio rentável, alternativa para quem gosta de variedade no guarda-roupa e atividade produtiva que respeita o meio ambiente ANA PAZ ANNA MIZZU
ROUPAS que ficaram apertadas ou foram substituídas por modelos mais atuais, sapatos e bolsas encostados, lenços, echarpes, chapéus, óculos de sol e até vidros vazios de perfumes famosos não precisam ir para a lixeira. Tudo isso pode ser reutilizado e render um bom dinheirinho. O comércio de objetos usados garante aos empresários a sobrevivência no mercado; aos consumidores, boa economia; ao planeta, fôlego na luta contra a destruição ambiental. Antigos, porém atuais, os brechós diversificaram tanto que é possível encontrar tudo de segunda mão e por preços atraentes. O novo termo da moda é o vintage e nada melhor do que buscar essas opções em um brechó. Como são setorizados, o público pode procurar aquele que faz mais o seu estilo. Eles oferecem desde as grandes marcas de grifes até as peças mais simples de lojas de departamento. Os preços também podem variar de R$ 10, em um acessório, a R$ 12.680, em um vestido Roberto Cavalli original. Bom negócio Em Brasília, são inúmeras as lojas que movimentam o comércio de objetos usados – isso sem contar os que funcionam em ambiente virtual, categoria que ganha cada vez mais espaço no mercado. De acordo com Ana de Oliveira, dona do Choose Vintage Boutique Brechó, Brasília é a segunda capital com o maior número de brechós e perde apenas para São Paulo. Maria Cândida, dona do Retrô Ativa, afirma que são cerca de 200 estabelecimentos do tipo em funcionamento no Plano Piloto. Não há, no entanto, números oficiais sobre o segmento. Um dos motivos da falta de dados é que, na Junta Comercial, nem sempre as empresas são registradas como brechós. Outra razão, segundo Iana Bastos, sócia de Ana de Oliveira, é que muitas dessas lojas iniciam e encerram as atividades em períodos muito curtos. Para quem quer abrir um brechó, o investimento inicial é baixo e a montagem é barata – fora o ponto comercial. A margem de lucro é variável, mas pode chegar a 15% por produto. Funciona assim: os fornecedores entregam as peças em consignação, na web http://migre.me/fXvDf
Foto: Rosiléia Araújo ou seja, recebem por elas apenas se forem vendidas dentro de um prazo estipulado, e, geralmente, o dono da loja e o fornecedor ficam, cada um, com 50% do valor conseguido com a venda. Mas cuidado! O brechó é um comércio que precisa ser bem administrado, como comenta Ana de Oliveira: “Dá muito trabalho, não é só você pegar a roupa usada e colocar pendurada. É preciso visitar as clientes, passar horas e horas com elas, selecionar as peças e depois ter um sistema de gerenciamento. E é importante saber atender o público, que no nosso caso são as classes A e B. Eu estou muito feliz aqui e já tenho planos para o futuro: abrir um Café Brechó.” Segundo Iana Bastos, “Brechó não sobrevive só com as coisas do guarda-roupa da dona. Tem que conhecer muita gente, viajar e planejar o funcionamento, porque tem que pagar aluguel, funcionário, etc.” Para os que estão pensando em entrar no negócio, vale a dica da jornalista de moda Mariza de Macedo-Soares: pratiquem preços de brechós! Segundo a colunista de moda e comportamento da Band News Marina Cavecchia, consumidora apaixonada por brechós FM Brasília, “essa ideia de reaproveitar, do brechó, já ficou. Agora, a pessoa que quer abrir um brechó está pensando em ganhar itens antigos, bem conservados, mas com SAIBA MAIS dinheiro. Comprar barato e vender caro. Aí cara de vó. E não tenho preconceito. Tem gente que acha que é roupa de morto, mas não vale.” eu não ligo pra isso.” No final de 2012, a organização Sem preconceito ambiental Greenpeace Internacional Para os apaixonados por essas lojinhas, O meio ambiente também ganha divulgou um relatório que denunciou Os brechós ainda têm o seu papel na as visitas são programas prazerosos e se 20 grandes marcas de roupa, entre transformam em momentos de descobertas sustentabilidade. O processo de troca de elas Zara, C&A, GAP, Levi’s, Victoria’s incríveis: peças únicas, de cores, formatos peças, além de renovar o guarda-roupa Secret e Diesel por vender roupas e texturas incomuns. Ali encontram o tubi- gastando pouco, pode ajudar a diminuir a contaminadas com produtos químicos movimentação da indústria têxtil, uma das nho que nem o shopping mais chique tem perigosos. para vender, ou um objeto de decoração mais poluentes e degradantes para o meio que pode dar ao ambiente contemporâneo ambiente, capaz de contaminar ar, rios, laO The toxic threads: the big fashion um traço nostálgico. Tudo por preços bem gos, oceanos e até solo e águas subterrânestitch-up (Os fios tóxicos: o grande as. convidativos. As peças podem ser enconremendo da indústria da moda) alerta O setor têxtil brasileiro, conforme a Astradas por até 30% do valor original. sobre os danos que esses produtos A jornalista, Marina Cavecchia, 30 anos, sociação Brasileira da Indústria Têxtil e de podem causar ao corpo humano. é uma dessas apaixonadas. “Toda vez que Confecção (Abit), tem destaque no cenário mundial: é a sexta maior indústria têxtil do vou visitar uma cidade, principalmente Calças jeans, camisetas, vestidos e fora do país, tento descobrir qual é a rua mundo, o segundo maior produtor de denim roupas íntimas estão entre as peças dos brechós. Aqui, vira e mexe, passo nos – matéria-prima para fabricação de jeans – e mais contaminadas. Isso ocorre pela brechós para ver se tem alguma novidade. o terceiro na produção de malhas. Aqui são incorporação dos produtos químicos produzidos 9,8 bilhões de peças ao ano, das Eu procuro peças únicas – ou realmente nas fibras ou por resíduos que restam velhas, bem antigas, ou de uma produção quais 5,5 bilhões são de vestuário. Se tudo no processo de fabricação. local. Então, na verdade, procuro coisas di- isso for descartado, todo o “lixo” irá para o ferentes e não vou atrás de marca. Prefiro meio ambiente, que sofrerá cada vez mais.
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SUSTENTABILIDADE
Consciência ambiental transforma mercado de festas infantis
economia
Para comemorar o aniversário dos pequenos, pais gastam cada vez mais e produzem mais lixo a cada celebração ANNA LOURENÇO CAROLLINE PAIXÃO
AS festas infantis ganharam força, luxo e espaço no mercado de tal forma que apenas bolo, refrigerante e docinhos não são mais suficientes para a nova geração. Para satisfazer os filhos e organizar uma festa inesquecível, pais chegam a gastar até R$ 50 mil em uma grandiosa comemoração, incluindo buffet, brinquedos, salão de festa, decoração, lembrancinhas personalizadas, bombons, balas, doces e mais uma infinidade de detalhes. Entre as principais casas de festas infantis em Taguatinga, Águas Claras e Park Way, os preços para organizar uma festa para 100 pessoas variam de R$ 4.500 até R$ 10.000. Em sua maioria, as empresas que organizam esses eventos fornecem desde os convites até as lembrancinhas entregues aos convidados no final da festa. A decoração é composta, no mínimo, por dois mil balões e a quantidade de material plástico utilizado é de duas a quatro vezes maior que o número de convidados. Todos os copos, pratos, toalhas, guardanapos, talheres descartáveis, embalagens de salgados e doces, garrafas de refrigerante e balões são jogados no lixo horas depois do término da festa. Em média, 90% de tudo isso é lixo plástico, que demora cerca de cem anos para se decompor. As festas têm quatro horas de duração, podendo se estender por mais 30 minutos. Esse tempo curto se torna desproporcional à grande quantidade de lixo gerada quando comparado a outros eventos, como, por exemplo, churrascos e festas noturnas, que têm maior duração e produzem menos lixo. Foi pensando em resolver esses problemas trazidos com a produção, o excesso de
Para satisfazer os filhos e organizar uma festa inesquecível, pais chegaram a gastar até R$50 mil em uma grandiosa comemoração
Foto: Eduarda Lewicz
SAIBA MAIS DICAS PARA UMA FESTA ECOLOGICAMENTE CORRETA: CONVITE: Substitua convites de papel pelos virtuais ou por papel semente, que pode ser picado e plantado depois. Outra opção é produzir convites que tenham uma utilidade e, assim, não vão para o lixo, como é o caso de um convite marcador de página; ILUMINAÇÃO: A festa pode ser durante o dia para aproveitar a luz solar. Caso não seja possível, as lâmpadas fluorescentes são uma boa escolha por ter maior vida útil e consumir menos energia; DECORAÇÃO: Balões não são indicados em nenhuma situação! Substitua-os por lanternas japonesas e bolas de seda, que dão um charme à decoração, além de não serem poluentes;
Lixo produzido em festa infantil: excesso de mimos, tudo personalizado e produtos plásticos
lixo e os grandes gastos, principalmente nesse tipo de evento, que algumas empresas especializadas surgiram no mercado brasileiro. Elas buscam promover a sustentabilidade em festas infantis, ensinando desde cedo às crianças o valor do planeta, a importância de cuidar do futuro e mostrando como é possível organizar uma festa bonita, ecologicamente correta e de baixo custo. Apesar de trazer tantos benefícios, esse mercado ainda é incipiente em Brasília. A Happy Birthday, casa de festas que tem unidades em Águas Claras e ParkWay, investe em lembrancinhas ecológicas produzidas por eles mesmos. São bonequinhos de terra com sementes para as crianças regarem. A planta que cresce ocupa o lugar do que seriam os cabelos do boneco. Renata, que trabalha na empresa, se entusiasma com o sucesso que os bonecos têm feito por chamarem a atenção das crianças e passar um pouco de consciência sustentável. “A ideia da lembrancinha ecológica surgiu para que tivéssemos uma novidade sustentável, ainda mais nos tempos de hoje em que todos querem fazer a diferença”, conta. Com sede no interior do Paraná, a empresa Festas Ecológicas é voltada exclusivamente para festas infantis sustentáveis.
Segundo a empresa, o orçamento de uma comemoração desse tipo para cem pessoas sai em torno de R$ 1.200, ou seja, quase três vezes mais barata que uma festa tradicional. Apesar de o custo ser menor, a mão de obra é grande, já que todo o trabalho feito pela empresa é artesanal e a maior parte dos materiais é reaproveitada. “Festas Ecológicas surgiu quando fui preparar a festa da minha filha com o intuito de reaproveitar o lixo que produzia em casa, como latas de leite em pó, rolos de papel, garrafas, caixas de leite, entre outros, e consegui um resultado melhor do que o esperado. Foi aí que descobri um nicho de mercado ainda não explorado aqui na região”, conta a designer Andressa Lima, que começou seu trabalho na empresa faz nove meses. Laila Jadalla, mãe do pequeno Daniel, de 4 anos, não sabia da possibilidade de produzir festas 100% sustentáveis. “Meu filho fez aniversário há duas semanas e gastei mais do que o esperado em coisas que a gente nem vê. Acho esse tipo de festa uma ótima ideia, porque vemos para onde o dinheiro foi”, ressalta a mãe, que demonstra interesse em produzir, a partir de agora, festas ecológicas. Laila contou também que já havia visto lembrancinhas sustentáveis, mas que imaginava ser improvável um evento inteiro dessa forma.
BUFFET: Quanto mais natural, melhor. Evite comidas pré-prontas que venham ensacadas. Escolha alimentos que possam ser feitos na hora. Calcule o número de convidados para não haver desperdício; SOBREMESA: O mesmo vale para os doces. Evite os industrializados. Enrolar docinhos e colocar em forminhas ainda é a melhor opção. Dispense o plástico que, nos últimos tempos, vem junto com a forminha de papel; LOUÇA: Substitua os descartáveis por louça e para as crianças escolha copos que podem ser personalizados e até servir como lembrancinha. Troque o guardanapo de papel pelo de pano, que pode ser reutilizado depois de lavado; LEMBRANCINHAS: Opte por algo que instigue o conhecimento da criança e possa ser usado depois. Se não der para fazer lembrancinhas sustentáveis, escolha um quebra-cabeça ou outro jogo interessante e barato; ADESIVOS: Não é preciso colar adesivos nas lembrancinhas e em todos os detalhes da festa. Pode-se optar por bordar, pintar ou gravar o nome da criança; LIXO: Lixeiras de coleta seletiva distribuídas pelo salão são essenciais.
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meio ambiente Foto: Letícia Sousa
DEGRADAÇÃO
Ceilândia pede parque A região administrativa mais populosa do Distrito Federal abriga riquezas hídricas importantes que podem desaparecer com a destruição LUCIMAR BENTO
aconteça”. Os amigos do parque afirmam que é necessário que o governo do Distrito Federal faça com que seja cumprida a Lei Distrital n°1.002, de janeiro de 1996, que declara que a Arie JK tem finalidade de preservar os ecossistemas naturais de importância regional ou local. A ideia dos apoiadores é construir o Parque Ecológico Metropolitano, para utilizar de forma sustentável a beleza cênica da área. Além de possibilitar espaços de uso orientado para atividades de educação ambiental e de recreação em contato com a natureza, o parque poderá oferecer opções de lazer e serviços abertos à comunidade. Tudo em busca de um desenvolvimento equilibrado entre a natureza e o homem. Promessas no papel As ameaças de queimadas, exploração predatória, especulação imobiliária e lixo afetam o ecossistema dos espaços ecológicos que são fundamentais para a sobrevivência dos seres vivos. Para enfrentar esses problemas, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) criou o “Brasília, Cidade Parque”.
Foto: Letícia Sousa
COM 2.300 hectares, a Área de Relevante Interesse Ecológico Juscelino Kubitschek (Arie JK) é uma unidade de conservação localizada entre Taguatinga, Samambaia e Ceilândia. A área abriga maravilhas naturais do Cerrado, bioma predominante no Centro-Oeste, e já possui alguns espaços delimitados para preservar e estudar o patrimônio ambiental, como Três Meninas, Boca da Mata, Onoyama e Cortado. Contudo, das três cidades que integram a Arie JK, Ceilândia é a única delas que não tem um parque ecológico. Preocupados com o bem estar da cidade, um grupo de cidadãos criou o movimento popular, intitulado “Amigos do parque”, que tenta salvar os recursos naturais da região administrativa. Por meio do projeto Ceilândia mais Verde, eles buscam traçar estratégias para recuperar a Arie JK da devastação. Johnny Welligton, integrante do movimento, conta que “uma das principais formas para conservação e o bom uso das áreas verdes é a criação de parques ecológicos parecidos com o Parque Nacional de Brasília, mas precisamos do governo para que isso
Invasão habitacional degrada área de preservação ecológica. despejando lixo de forma irregular.
Ambientalista Ivanete Silva recolhe lixo de cachoeiras e mananciais localizado na Arie JK
Segundo a entidade, o programa tem como princípio implementar e revitalizar as áreas de conservação da capital federal, por meio do uso sustentável de parques ecológicos, que facilitem o desenvolvimento social. O Parque Metropolitano se enquadra nos objetivos do programa desenvolvido pelo Ibram. Porém, ele não está na lista de parques a serem entregues pelo projeto. Em 2011, os integrantes do movimento levaram a concepção do parque para o Orçamento Participativo do governo federal, como prioridade de efetivação. Contudo até hoje nada foi feito. Uma audiência pública foi realizada na Escola Técnica de Ceilândia, em abril de 2013, para debater as delimitações do parque. Na ocasião, o presidente do Ibram, Nilton Reis, previu um prazo de 90 dias para criar a área e definir a melhor data de início das obras, mas isto tampouco saiu do papel. O artigo científico da mestranda em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília (UCB) Jackeline dos Santos Dato mostra que ficou estabelecido pelo Plano de Desenvolvimento Local que o Parque Metropolitano deve ficar dentro da Arie JK, próximo à rodovia que liga Ceilândia a Samambaia. Os limites do espaço ecológico, no entanto, ainda não foram determinados. O Artefato entrou em contato com o Ibram para esclarecer o motivo do não cumprimento das promessas, mas até o fechamento desta edição não houve resposta. Enquanto isso, o movimento e moradores do local continuam a negociar e cobrar uma ação do GDF.
Riquezas naturais Contemplada por uma diversidade de espécies da fauna e flora, Ceilândia é uma região administrativa rica em água potável. Com cachoeiras, rios e nascentes do córrego Melchior, a cidade tem afluentes que desaguam na Bacia Hidrográfica do Rio Descoberto e posteriormente na barragem do Rio Corumbá IV. Segundo Beatriz Barcelos, mestra em Recursos Hídricos e professora do curso de Gestão Ambiental da UCB, esses recursos hídricos são muito importantes para o futuro abastecimento da população do DF. Ceilândia também abriga em sua exuberante vegetação uma riqueza histórica. Em 2003, foi encontrado um sítio arqueológico de 9 mil anos. Embora a região administrativa mais populosa do DF tenha tamanha riqueza natural, a questão ambiental fica em segundo plano. Alguns trechos da Arie JK apresentam vários problemas, como córregos poluídos, erosão, desmatamento e habitações que avançam sobre a área, contribuindo para a degradação. A preocupação com a preservação do Cerrado é justificada pela ambientalista da ONG Centro de Preservação e Conservação Ambiental Ivanete Silva dos Santos. Ela afirma que o restante do bioma tem que ser conservado. “Preservar a Arie JK é meta de reconhecimento ao que é de mais sagrado em nossa vida.”
na web http://ceilandiamaisverde.blogspot.com.br/ http://pulsatil.com.br/
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saúde ATIVIDADES FÍSICAS
Corredores de coração novo Foto: Narla Bianca
Equipe de corrida do Instituto de Cardiologia do DF formada por equipe médica e transplantados
Pacientes que passaram por transplante participam de corridas de rua no DF NARLA BIANCA THALYNE CARNEIRO
BRAÚLIO Alves, 62 anos, foi diagnosticado com a doença de Chagas em 2006. Devido ao problema, o comerciante teve o coração e o cérebro aumentados de tamanho de forma irreversível, o que resultou em problemas cardíacos e em um AVC. Ele perdeu a fala e parte dos movimentos do lado direito do corpo, além de ter de passar por um transplante de coração em 2007. Hoje, Bráulio faz parte da equipe de corredores transplantados do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF). A ideia de criar o grupo surgiu com o próprio Bráulio. Durante a reabilitação, ele conseguiu recuperar os movimentos do braço direito e informou à equipe médica do ICDF, por meio de bilhetes, que já havia experimentado a corrida antes de adoecer. Em 2010, participou pela primeira vez de uma maratona com a equipe médica do ICDF e, desde então, se esforça
para progredir como atleta. Com os resultados psicológicos e físicos positivos de Bráulio, a equipe médica do instituto decidiu levar a ideia adiante para outros pacientes, achando uma forma de mostrar a eles que poderiam ter uma rotina normal após o transplante, mas com mais qualidade de vida. Além de Bráulio, o grupo é formado pela equipe médica do instituto e por mais três pacientes: Luiz Fernando, 19 anos, Agnolio Ferreira, 36, e Eduardo Oliveira, 18. Todos homens, já que nenhuma mulher transplantada se interessou pelo esporte ainda. Antes de realizarem a cirurgia, os pacientes passaram por várias dificuldades e muitos deles não conseguiam fazer movimentos que exigissem esforços simples, como pentear o cabelo ou escovar os dentes. Poucos meses depois do transplante, adotaram uma rotina de exercícios
físicos acompanhada por profissionais de saúde e, por meio do esporte, buscam uma reabilitação mais acelerada e saudável. Agnolio Ferreira e Luiz Fernando sabem muito bem o prazer de se recuperar de uma doença e voltar à rotina. Ambos praticavam esportes antes de adoecer e achavam que, depois do procedimento cirúrgico, fazer alguns exercícios estava fora de cogitação. “Comecei devagar e aos poucos fui aumentando a velocidade e a distância. Hoje já chego a correr até 6 km por dia!”, comenta, feliz, Agnólio. “Eu já praticava outros esportes antes. Nadava, andava a cavalo, jogava bola, até me destacava no colégio. Sempre gostei”, conta, empolgado, Luiz Fernando. “No começo, a minha família ficou preocupada. Me perguntavam se era boa ideia, já que eu tinha acabado de passar por um transplante. ‘Duvido que você vai dar contar de correr 5 Km!’, diziam. Mas eu dei conta sim”, completa.
um significado ainda maior para quem nunca pôde praticar esportes durante a vida, como é o caso do estudante Eduardo Oliveira, o corredor mais jovem da equipe. Devido a complicações cardíacas desde que nasceu, não conseguia jogar bola nem participar de brincadeiras de criança, pois tinha dificuldade até para andar. Passou por quatro cirurgias durante a infância e usou marca-passo até chegar ao transplante em outubro de 2011. “Participar das corridas é uma das vitórias que consegui depois de adquirir um coração novo”, conclui. Segundo a psicóloga que os acompanha, Marina Cipriano, praticar atividades desse tipo pode ajudar os pacientes a retomarem as atividades cotidianas normalmente. “O paciente vive um momento de muita angústia antes do transplante, principalmente pelo medo da cirurgia e da rejeição do órgão. Então, ele precisa ressignificar sua vida para poder resgatar a liberdade que um dia teve, como caminhar ou correr”, diz. “A corrida vem com esse propósito: resgatar a liberdade e a vitalidade do indivíduo, além de servir como incentivo para outras pessoas ou outros pacientes transplantados e proporcionar mudanças significativas no humor, na disposição e na concentração”, finaliza.
Nova oportunidade Para Núbia Vieira, cardiologista do ICDF que acompanha o grupo, as corridas podem ajudar a acelerar o processo de recuperação do indivíduo recém-transplantado. “Para pacientes portadores de insuficiência cardíaca terminal, o transplante de coração traz uma nova oportunidade de viver”, diz. ”Nesta nova jornada, a atividade física é um prazer para quem não conseguia fazer atividades simples como abotoar a própria roupa”, pontua. Ainda segundo a médica, fazer atividades físicas é essencial para a qualidade de vida dos pacientes pós-transplantados. Para eles permanecerem saudáveis, não podem ser sedentários, assim como quem nunca passou pelo procedimento. “Os transplantados podem praticar qualquer esporte, inclusive corridas de rua, mas é necessário um período de reabilitação que pode durar em média quatro meses”, explica. Além dos benefícios físicos, correr tem Luiz Fernando, transplantado em 2010
Foto: Amanda Costa
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saúde PREVENÇAO
É só lavar com água e sabão
Câncer de pênis provoca mil amputações por ano no Brasil e pode ser evitada com medidas simples de higiene NAYANE GAMA
O CÂNCER de pênis é uma doença mem, especialmente à falta de informações Higiene A doença pode ser prevenida de forpouco conhecida e rara entre os homens. sobre higiene. As regiões Norte e Nordeste têm maior incidência da doença, 5% a mais que nas regiões Sul e Sudeste, apesar de o estado de São Paulo contar com o maior número de casos confirmados. No Maranhão a cada 13 dias um diagnóstico é confirmado. O meio mais eficaz de confirmar o câncer é por meio de biópsia, na qual uma amostra do tecido é colhida para teste laboratorial. O tratamento é indicado conforme o nível em que o câncer se apresenta. O tumor pode ser extraído com cirurgia a laser ou, em casos graves (a maioria deles, devido à demora no diagnóstico), somente por meio da emasculação – a retirada completa do órgão, o que causa infertilidade e, em alguns casos, transtornos psicológicos. No Brasil, ocorrem mil amputações por ano devido ao câncer de pênis. Os custos com o tratamento podem chegar a R$ 35 mil. A quimioterapia raramente faz parte do trataFoto:Jéssica Eufrásio mento, mas é indicada nos casos em que há metástases (propagação das células cancerígenas para outros órgãos). Os sintomas são de fácil percepção, como o aparecimento de bolhas, verrugas ou feridas semelhantes às aftas, coceira, nódulos, secreção com mau cheiro, perda de pigmentação ou manchas esbranquiçadas. Ao primeiro indício dessas manifestações o homem deve procurar um clínico geral, que poderá encaminhá-lo ao urologista para analisar e diagnosticar os sintomas. O tratamento deve ser iniciado com até 20 dias do diagnóstico, porém os pacientes demoram cerca de nove meses para ir atrás de ajuda, agravando o caso e dificultando a cura. Quanto antes o diagnóstico for feito, maior as chances de um tratamento menos invasivo, preservando a integridade do órgão, bem como a vida sexual e fertilidade do paciente.
Ainda assim, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2010 foram registradas 363 mortes no Brasil. Uma das explicações para as complicações é a demora na procura de atendimento. “Precisamos mudar os paradigmas sociais, o homem não deve ter vergonha de procurar um médico”, destaca o urologista Diogo Mendes, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Dados divulgados em 2012 relatam que 43% dos homens brasileiros nunca foram ao urologista . Mas mesmo sem ir ao médico é simples prevenir o câncer de pênis: está provado que realizar a higiene da área corretamente ajuda a evitar a doença. O tratamento, por outro lado, é extremamente invasivo e traz consequências físicas e emocionais. O câncer de pênis está geralmente relacionado à situação socioeconômica do ho-
SAIBA MAIS CAMPANHA A SBU, com o apoio da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, realizará em novembro a campanha Câncer de Pênis Zero, com objetivo de alertar os homens sobre a importância da prevenção e cuidados com a saúde.
ma simples, por meio de higiene adequada na hora do banho e após as relações sexuais, uso frequente de preservativo, autoexame e visita ao médico uma vez ao ano. Uma cirurgia chamada postectomia, em que a pele excedente do pênis é retirada, evita o acúmulo de sujeira, além de prevenir a fimose (dificuldade de expor a glande). Além da má higiene, outra causa comum do câncer de pênis é o HPV, doença sexualmente transmissível, que se não tratada adequadamente pode evoluir até tornar-se um tumor. “Alguns preconceitos sobre o homem foram impostos pela sociedade brasileira. Ir ao médico pode ser um questionamento da sexualidade. Precisamos mudar esse paradigma, o homem não deve ter vergonha de procurar ajuda, de conversar sobre os problemas e de se cuidar”, declara o urologista Diogo Mendes. Os pais são importantíssimos na prevenção do problema, pois podem optar por circuncisar os filhos ainda bebês ou educá-los com informações de higiene no órgão genital. “O pai ensinou ele a lavar, mas sempre pergunto e nos fins de semana eu dou uma ‘faxina’”, relata Fabiana Torres, mãe de Cauã Torres, 9 anos.
43%
Forma eficaz de prevenção A circuncisão ou postectomia é o procedimento de retirada do prepúcio, pele que recobre a glande do pênis. A cirurgia é rápida, feita com anestesia local e não necessita de pontos cirúrgicos nem de internação. Segundo estudos, homens circuncidados têm 60% menos chances de contrair infecções que, quando não tratadas, podem levar ao câncer de pênis. A medida também impossibilita o desenvolvimento da fimose. Uma pesquisa realizada na Bélgica demonstrou que homens que se submetem à cirurgia podem perder parte da sensibilidade do pênis. Dessa forma, os orgasmos podem ser menos intensos. Mesmo com pontos negativos, alguns especialistas se mantêm a favor da circuncisão, que deve ser feita ainda na infância, caso seja a opção dos pais. “Eu recomendo às famílias
autorizar as crianças, e que os homens já esclarecidos façam a cirurgia. Além de prevenir o câncer de pênis, também previne doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a aids, além da ejaculação precoce”, enumera Diogo Mendes. A cirurgia é comum entre os judeus, por questões culturais e imposições religiosas. Os islâmicos também circuncisam as crianças aos cinco anos. Estudos feitos na África pela ONU comprovam que homens circuncidados apresentam menos doenças.
A campanha tem como slogan “Homem que é homem se cuida” e pretende informar a população sobre as práticas adequadas de higiene, uso de preservativo e sobre o tratamento da fimose, fatores preventivos do câncer de pênis.
dos homens brasileiros nunca foram ao urologista
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saúde
GLÚTEN
Doença celíaca, uma luta diária Predisposição genética exige mudança na rotina alimentar e pode atingir 30% da população Foto: Amanda Vilas Boas
Cecília Ávela busca alimentos substitutos para comer o que gosta
AMANDA VILAS BOAS CHRISTIAN KELY SOARES
AOS 9 anos, Cecília Ávela começou a sentir fortes dores de cabeça e na barriga. Como fazia acompanhamento com endocrinologista, o especialista desconfiou que ela era portadora da doença celíaca, uma intolerância à proteína do glúten presente principalmente no trigo, aveia e cereais. Após alguns exames foi confirmada a suspeita, e a menina foi encaminhada para fazer o tratamento no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Hoje, Cecília tem 13 anos, segue a dieta médica e não come trigo, cevada, malte e aveia, ou qualquer derivado desses produtos. Ela conta que foi muito difícil se adaptar à doença. A maior dificuldade foi não poder comer pizza e guloseimas, coisas que a maioria das pessoas gostam. “É chato, é difícil, quando vou para festinhas fico olhando as meninas comerem doces. Mas tenho alguns segredinhos, como sair de perto e ir comer pão de queijo e pipoca, por exemplo.” Ela considera ter uma vida normal, a doença já está controlada e ela retorna ao médico todo ano. Seus pais compram pão, biscoito, macarrão sem glúten e o achocolatado especial, pois a maio-
ria dos chocolates contém glúten por causa do malte. Só com pães e biscoitos a família chega a gastar de R$ 150 a 200 por mês. As comidas prediletas dela são tapioca, cuscuz, sushi e açaí. Outra portadora da doença é a servidora pública Denise Griesinger, 37 anos, que descobriu o problema em outubro de 2011, após ter passado por um grande emagrecimento e sintomas como fortes dores na barriga. Atualmente, ela também faz tratamento no HUB, onde recebe acompanhamento e orientação sobre a doença e alimentação. Denise relata que enfrentou grandes dificuldades, principalmente ao se alimentar na rua. “A maior parte dos restaurantes, bares e cafés não tem informações nutricionais do que servem o que torna complicado para o celíaco comer na rua, com a certeza de que não está se prejudicando.” Ela considera um obstáculo na vida de um celíaco a ida ao supermercado: “Fazer compras foi um desafio. Tive que começar a ler aquelas letrinhas minúsculas nos rótulos dos produtos, atrás da informação ‘não contém glúten’”. No Brasil, a lei fe-
deral 10.674 de 2003 obriga os fabricantes de alimentos a informarem nos rótulos se o produto contém glúten ou não. Para Denise, seguir a dieta pode levar uma vida normal, e até mais saudável. “A doença trouxe mudanças de hábitos significativas, foi difícil abrir mão de coisas como pizza, macarrão e cerveja, mas é uma questão de adaptação”. Ela segue a dieta na maior parte da semana, mas confessa que, quando frequenta festas, consome glúten. Entretanto, quando comete excessos fica receosa, porque sabe que fazem mal ao organismo ao longo prazo – além de ter diarreia, quase instantânea para um celíaco. Suporte hospitalar Segundo uma das coordenadoras do programa do HUB, a médica Lenora Gandolfi, 30% da população têm a genética para a doença celíaca, que é complexa e autoimune (quando o próprio organismo ataca o corpo do portador). Os sintomas mais comuns são diarreia, vômito, inchaço nas pernas, alteração na pele, perda do peso corporal e sinais de desnutrição. Como em alguns casos as pessoas não desenvolvem os sintomas, pode-se observar maior tendência a ter anemia e osteoporose. A médica explica que a maior dificuldade está na mudança de comportamento. “É muito difícil porque é uma dieta 100% sem glúten muitas pessoas são expostas até em restaurantes. Por exemplo, a pessoa que tem a doença celíaca não pode usar a mesma faca de uma pessoa que passou manteiga em um pão comum. Dos pacientes que atendemos só a metade consegue aderir à dieta”, alerta. O HUB é um dos hospitais referenciais no DF para pacientes celíacos. O serviço funciona há 15 anos, com um ambulatório aberto para toda a comunidade. O atendimento é feito com agenda aberta. A pessoa chega no hospital e é feito um prontuário pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O paciente é atendido por uma equipe composta por dentistas, nutricionistas e, quando necessário, psicólogos. O programa atende cerca de oito pessoas por dia. Para iniciar o tratamento é feito o diagnóstico por meio de exames genéticos e de sangue, além de endoscopia com biópsia. Após confirmar o diagnóstico começa um tratamento com a retirada do glúten do
cardápio e a orientação alimentar. Além do tratamento oferecido pelo hospital, existe na Universidade de Brasília (UnB) a Associação dos Celíacos do Brasil, que realiza quatro oficinas por ano, em que os médicos e nutricionistas desenvolvem receitas sem glúten. Essa doença geralmente se manifesta na infância, entre o primeiro e terceiro ano de vida, mas pode surgir em qualquer idade, inclusive na fase adulta. O celíaco já nasce com uma predisposição genética. Apesar de o problema ser mais comum em mulheres, atinge ambos os sexos.
SAIBA MAIS PÃOZINHO RÁPIDO SEM GLÚTEN INGREDIENTES: - 3 xícaras de chá de farinha de trigo sem glúten - 3 colheres de margarina sem sal - 4 colheres de margarina sem sal - 2 ovos - 1 xícara de leite (200 ml) ou leite de soja ou de coco MODO DE PREPARO: Misture todos os ingredientes em uma tigela mexendo com uma colher. Quando estiver misturando, fazer os pãezinhos untando a palma da mão com margarina. Coloque em uma assadeira levemente untada e pincelar com gema de ovo. Aqueça o forno em temperatura máxima de 10 ou 15 minutos. Enquanto o forno está sendo aquecido, deixe os pãezinhos descansando. Passando esse tempo leve ao forno. COMO ASSAR: Deixe por 5 minutos em forno máximo abaixe para 200 graus e deixe 10 minutos nessa temperatura. Depois abaixe para 180 graus e deixe assar os pães por mais 10 minutos. Após isso desligue e retire do forno. Sirva com manteiga, geleia ou mel. Fonte: http://www.acelbra-df.com.br/
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saúde TECNOLOGIA
Os riscos de estar sempre conectado Uso excessivo de smartphones e tablets pode causar inflamações nos dedos, dores na coluna, irritação nos olhos e outros prejuízos à saúde RENATA RIBAS
ELES surgiram com o objetivo de reunir em um único dispositivo serviços de telefonia, acesso à internet, plataformas de leitura e programas que facilitem a vida dos usuários. Com telas sensíveis ao toque, facilidade de interação e diversas ferramentas de comunicação, o uso de smartphones e tablets cresce a cada ano no Brasil. Seja na escola, no trabalho, em casa, no trânsito, nas filas, no ônibus ou no metrô, os aparelhos nos deixam conectados 24 horas por dia. Contudo, é justamente do hábito de estarmos sempre com eles em mãos que vem o alerta dos especialistas: a utilização constante e inadequada desses equipamentos pode trazer danos à saúde. Conforme pesquisa divulgada em março deste ano pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), as chances de o usuário de smart-phone desenvolver dor no polegar são maiores do que as daqueles que usam celulares sem recursos de acesso à internet. De acordo com o ortopedista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB) João Vicente Teodoro Gomes da Silva, isso ocorre porque as pessoas costumam segurar o aparelho de maneira errada, além de sobrecarregar o polegar com excessos de movimentos na digitação. “O polegar é o dedo mais importante dos seres humanos, é ele que faz a pinça, que apreende os objetos. O usuário deve segurar o smartphone com os quatro dedos atrás do aparelho, deixando o polegar de forma oposta a eles”, explica João Vicente. O ortopedista recomenda ainda que usar o
Foto: Renata Ribas
segundo dedo, conhecido como indicador, é a melhor opção para digitar. “Quem usa o segundo dedo tem menos chance de desenvolver tendinites. Já quem digita com o polegar aumenta as chances de ter lesões na articulação, pois sobrecarrega o dedo, que é muito sensível”, afirma. João Vicente alerta também que a má postura quando olhamos para baixo ao utilizarmos os aparelhos pode causar dores na coluna, pescoço e braços, e até evoluir para doenças mais graves como a hérnia de disco – lesão dos discos que compõem a coluna vertebral. Segundo ele, o ideal é usar o smartphone na altura dos olhos. No caso dos tablets, o usuário não deve manusear o aparelho no colo, pois além de problemas cervicais, esse comportamento pode acarretar dores nas mãos e punhos. A redatora publicitária Sônia Vieira Nobre, 31 anos, relata que utiliza os aparelhos com muita frequência no dia-a-dia. Ela admite sentir dores devido ao hábito de estar sempre conectada. “Faço uso quase ininterrupto de smartphones, tablets e computadores, tanto os meus quanto os da empresa onde trabalho. Normalmente digito no celular com ambos os polegares e como respondo muitas mensagens e e-mails por dia, já senti dores no polegar direito e costumo sentir dores também no pescoço quando faço alguma leitura ou revisão pelo tablet”, aponta. O especialista em ortopedia acrescenta que os problemas de Sônia são comuns para quem usa as novas tecnologias de forma excessiva. Conforme pesquisa realizada em dezembro de 2012 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
SAIBA MAIS DICAS PARA O USO CORRETO DE SMARTPHONES E TABLETS:
Faça pausas para descansar os olhos;
Evite digitar com a mesma mão com que segura os aparelhos;
Prefira digitar textos longos em computadores ou notebooks;
Procure manter distância de, no mínimo, 33 cm da tela para os olhos;
Evite usar os aparelhos por mais de 30 minutos na mesma posição;
Não manuseie os equipamentos com a cabeça inclinada para baixo;
Lembre-se de piscar para aumentar a proteção dos olhos.
Segundo especialista, digitar com os polegares aumenta as chances de lesões
(Ibope), os brasileiros passam em média 84 minutos no smartphone e 79 minutos no tablet por dia. Para diminuir os riscos de dores e lesões, João Vicente recomenda que o usuário não fique mais de 30 minutos com o equipamento na mesma posição. “O que tem que ficar bem claro é que não é o aparelho que vai causar algum problema, mas sim a postura incorreta durante o uso e o tempo que se gasta com ele”, finaliza. Visão comprometida O oftalmologista do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB) Mário Jampaulo também alerta para os problemas de fadiga e irritação nos olhos que o uso prolongado dos aparelhos pode causar. Segundo Mário, uma pessoa pisca normalmente de 20 a 25 vezes por minuto, mas quando está com o smartphone ou tablet em mãos essa quantidade diminui para 4 a 5 vezes, o que reduz a proteção dos olhos. “Precisamos nos lembrar de piscar, pois ao realizar o movimento renovamos nossas lágrimas, que têm propriedade regeneradora. Por estar muito concentrado na tela do aparelho, o usuário não pisca e o olho exposto, sem proteção, pode desenvolver processos inflamatórios e ficar irritado com mais frequência”, informa. O médico esclarece que, além da vista cansada, a exposição contínua e frequente aos equipamentos pode acarretar verme-
lhidão nos olhos, coceira, lacrimejamento, turvação visual e algumas vezes até dores de cabeça. A assistente administrativa Jhully Marçal de Freitas, 20 anos, costuma usar o celular a maior parte do dia. Ela afirma que após trocar mensagens por muito tempo tem incômodos na visão. “Sinto uma irritação nos olhos, eles lacrimejam, coçam e ardem. A sensação é que tem areia neles.” De acordo com Mário Jampaulo, os sintomas relacionados ao uso intenso das tecnologias já são a segunda maior causa da procura por oftalmologistas nas grandes cidades, e perdem apenas para as correções de grau. “As pessoas chegam ao consultório e se queixam de incômodos na visão. O paciente acha que está com a pressão do olho alta, mas o que acontece é que o olho inflamado incomoda, traz dor de cabeça, além de diminuir a competência do indivíduo para desenvolver suas atividades”, expõe. O oftalmologista recomenda que o usuário faça pausas a cada 40-50 minutos no uso para descansar os olhos. Ele alerta, no entanto, que não adianta deixar o smart-phone de lado e utilizar o computador ou ler um livro, por exemplo, pois a visão de perto continua a ser forçada nessas situações. “O ideal é que a pessoa vá para uma janela e olhe para o horizonte, para longe, e deixe a musculatura relaxar”, conclui.
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