Artefato 11/2014

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Artefato

Ano 15 Número 6 novembro de 2014

Estudantes buscam oportunidades Ciência sem fronteiras, startup, trabalho na universidade: Especial mostra que chances aproveitadas podem enriquecer a vida universitária >> p. 16 a 21

Urnas Eletrônicas Pesquisadores de três universidades do Brasil apontam fragilidades na urna eletrônica

>> p. 14

Geração Y Ansiedade e grandes expectativas tornam os jovens mais infelizes

>> p. 22


EDITORIAL Entre flores e espinhos concluímos mais uma edição do Artefato. Iniciamos o trabalho com as emoções à flor da pele em razão da polêmica em torno do primeiro jornal do semestre. O espinho da crise vivida pela universidade acertou em cheio a produção do periódico que buscou reportar as diferentes posições sobre o fato. Censura? Suspensão? “Análise técnica”? Várias foram as imagens que passaram no inconsciente dos estudantes que, pela primeira vez, enfrentaram uma crise de produção de um jornal. Mas, de fato, o que aconteceu? Em 15 anos de Artefato essa foi a primeira edição que, antes da impressão, já tinha sido lida, suspensa e comentada nas redes sociais. O Artefato, como um jornal laboratório, tem por missão reproduzir a redação de um jornal impresso e online, capacitando os estudantes para o exercício da profissão a partir do aprendizado prático. Vivenciando a rotina de uma verdadeira redação, passamos pelos desafios vividos no cotidiano profissional. No entanto, não imaginávamos os percalços que aconteceriam a partir de uma visão mais crítica na produção do impresso. Desde o inicio do semestre nos propusemos a fazer um jornal mais ousado, com temas de relevância ao nosso público prioritário, a comunidade acadêmica da UCB. Diferente das edições anteriores do Artefato, temos a intenção de produzir informações que contribuam com a vida daqueles que frequentam a Universidade. De acordo com nossa linha editorial, “os futuros jornalistas colocarão em práticas todo o conteúdo, até então ministrado em aulas, técnicas e valores jornalísticos, para informar com excelência, responsabilidade e compromisso. As matérias terão um viés informativo, reflexivo e crítico, com atenção aos nossos leitores prioritários – os universitários. A proposta é sair da superficialidade e informar com profundidade. A ética que rege a profissão será, acima de tudo, respeitada. Não será permitido que a liberdade de expressão e a escolha de pautas sejam influenciadas por professores, coordenadores, diretores ou qualquer órgão gestor da universidade e outras instituições”. As críticas, intervenções e comentários que surgiram a partir da primeira edição do Artefato no semestre, no entanto, nos colocam diante de uma reflexão profunda sobre o papel do jornalismo. E, ainda, sobre o que acreditamos enquanto comunicação e produção da notícia. O cenário que se descortinou à nossa frente nos fez pensar sobre imparcialidade, isenção, manipulação, censura e autonomia.

Foi interessante ver o grupo de estudantes se organizando para discutir o que estava acontecendo com o jornal. Como as informações não chegavam completas, a imaginação tomava conta e as construções de significados sobre o ocorrido eram as mais diferentes possíveis. Principalmente, se observado que os estudantes são jovens e que não ficam em silêncio diante de um primeiro “não” que recebem, mas questionam e querem saber os porquês. Aprendemos que não se faz jornalismo como se pensava antigamente, com total isenção e imparcialidade. O jornalista tem um lugar de fala carregado de sentido e significado. A memória histórica, afetiva e profissional que carrega deixa sua digital em tudo o que se faz. Ou seja, a escolha da pauta, das palavras, das fontes e tudo o que circunda a matéria produzida traz em si a identidade de quem a fez. E isso, como dizia Bourdieu, faz parte do campo jornalístico e não tem como negar. Assim, na edição anterior quando falamos da crise da Universidade, buscamos ao máximo reportar as impressões dos diversos atores: mantenedora, estudantes, professores, funcionários e reitoria. A intenção era tirar dos corredores e trazer para um canal de comunicação o que as pessoas pensavam e falavam do fato. Mesmo que nem todos se propusessem a falar, demos a oportunidade para que as diferentes vozes tivessem espaço e não fossem silenciadas. Contudo, reportamos os fatos do nosso lugar de estudantes, que viveram e sentiram na pele os desconfortos, incertezas e desconfianças do processo de reestruturação. A chamada imparcialidade jornalística foi buscada na medida em que as diferentes visões sobre o fato foram ouvidas. Acreditamos, sim, num jornalismo coerente, profissional e que responda à missão que é chamado a exercer. Temos buscado produzir o Artefato com transparência e isenção, não atendendo a interesses particulares, primando pela verdade com apuração precisa na produção da matéria. No desenvolvimento da disciplina, temos agido com liberdade para exercer a criatividade na produção e na escrita, dentro das técnicas para um bom texto, garantindo objetividade, coerência e coesão. Um novo ciclo se abre. São 15 anos de jornal e a juventude a que alcança o permite a ousadia que a faixa etária lhe proporciona. Agindo com responsabilidade, pautado em valores humanos e éticos, continuaremos desenvolvendo um jornal de qualidade e com competência. Afinal, é isso que temos aprendido ao longo dos anos que frequentamos essa instituição que defendemos e valorizamos como espaço profícuo de aprendizagem.

Artefato Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Ano 15, n. 6, novembro de 2014 Reitor: Dr. Gilberto Gonçalves Garcia Diretor da Escola de Negócios: Dr. Alexandre Kieling Coordenador do curso de Comunicação Social: Dr. Luiz Carlos Assis Iasbeck Professores responsáveis: Me. Lunde Braghini Júnior e Me. Fernanda Vasques Orientação de fotografia: Me. Bernadete Brasiliense Editores chefes: Amanda Costa e Paulo Martins Sub-editores: Amanda Rodrigues e Daniel Mangueira Editores de arte: Amanda Rodrigues e Daniel Mangueira Editoras de Fotografia: Michele Mendes e Beatriz Carlos Subeditores de fotografia: Isabella Vieira, Manoel Neto, Gabriella Bertoni e Diogo Neves Editores de texto: Fernanda Pinheiro, Jéssica Duarte, Marina Maria, Guilherme Rocha, Eduardo Kirst e Gabriela Costa Editores web: Carolina Vajas e Gustavo Goes Diagramadores: Ana Paula Viana, Sabrina Pessoa, Yago Alves e Carolina Matos Repórteres: Alex Santos, Amanda Bartolomeu, Amanda Rodrigues, Ana Paula Viana, Beatriz Carlos, Bianca Amaral, Carolina Matos, Carolina Vajas, Daniel Mangueira, Eduardo Kirst, Gabriela Costa, Jéssica Duarte, Jéssica Xavier, Juliana Macêdo, Michele Mendes, Patrícia Marques, Paulo Martins, Rafaela Brito, Sabrina Pessoa Fotógrafos: Adriene Ribeiro, Diogo Neves, Isabela Vieira, Gabriela Gregorini, Jelsyanne Albuquerque, João Pedro Carvalho, Lucas Lélis, Manoel Neto, Lorena Carolino, Mariane Paim, Nathalia Melo, Rodrigo Mendonça e Thiago Siqueira Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia Universidade Católica de Brasília EPCT QS 07 lote 01, bloco K, sala 212 Laboratório Digital Águas Claras, DF Fone: 3356-9098 / 9237 Site: pulsatil.com.br Facebook: facebook.com/artefatoucb Acervo: issuu.com/jornalartefato


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Artefato Solidariedade

UFC Social coloca UCB no octógono

Passagem dos pesos pesados e dos pesos médios deixou saldo ponderável: duas toneladas de alimentos arrecadados para o projeto GirArte Foto: Divulgação UFC

por Daniel Mangueira e Sabina Pessoa

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onhecido por realizar os maiores eventos de artes marciais mistas do mundo, o UFC desembarcou pela primeira vez em Brasília para a realização do evento UFC Fight Night 51, em 13 de setembro, no ginásio Nilson Nelson. Foram realizadas 11 lutas, sendo que na principal, a que deu nome ao evento, houve a derrota do brasiliense Pezão para o bielo-russo Arlovski. Entretanto, existe um projeto do UFC o qual muitos fãs não conhecem. Em todas as cidades do Brasil que são sede de seus eventos o UFC leva um pouco de solidariedade para os que necessitam com o projeto UFC Social. “É gratificante ver quando a gente consegue arrecadar alimentos, fazer alguma ação com crianças carentes, levar um sorriso, um abraço. Levar não só a luta, mas deixar uma história dentro da cidade, isso para o UFC é muito importante”, ressalta Rafael Corassa, diretor digital de conteúdo do UFC. Os eventos do UFC Social ocorrem sempre com participação de grandes lutadores ligados à organização. Em Brasília contou com a participação do ex-campeão dos pesos pesados Júnior Cigano e do lutador dos pesos médios Ildemar Marajó. A Universidade Católica de Brasília (UCB) abrigou o evento por ter se enquadrado nos requisitos do UFC. “A Universidade Católica foi escolhida para ser a única parceira do evento em Brasília por que é uma

Os lutadores do UFC Ildemar Marajó (A) e o ex-campeão dos pesos pesados Júnior Cigano (C) entregam a Daniela (D) os alimentos arrecadados no evento do UFC Social realizado na UCB instituição filantrópica, séria e com respeito social reconhecido na cidade”, segundo os organizadores do evento na UCB, o coordenador do curso de Educação Física, Prof. MSc. Severino Leão Neto, e o Prof. MSc. Fabio Tenório. Adolescentes em recuperação Em Brasília, a organização do evento buscou arrecadar alimentos não perecíveis para o Projeto GirArte, uma ação social que começou em 2011 e que busca resgatar jovens do vício das drogas. Atualmente o GirArte conta com mais de 200 jovens, que recebem atividades culturais, esportivas e profissionalizantes. “No evento, tanto do UFC na Católica quanto no ginásio Nilson Nelson foram arrecadadas cerca de duas toneladas de alimentos. O pessoal do UFC nos procurou após saber do nosso projeto a partir de um assistente social que já

trabalhou com a gente. Então eles nos procuraram e nos pediram para mandarmos fotos e um texto sobre o que seria o projeto. A partir desses documentos eles demonstraram interesse em nos apoiar”, conta a coordenadora do projeto GirArte e estudante de serviço social da UCB, Daniela de Paula. O projeto GirArte criado a partir do Projeto Giração, e atende jovens que se encontram em situações de vulnerabilidade, apoiado pelo Movimento de Meninos e Meninas do DF, Cecria e Petrobrás. Seu principal objetivo é a inclusão produtiva rual e urbana, oferecendo cursos gratuitos com a finalidade de capacitar, gerar renda extra e/ ou oportunidade de trabalho, em prol de uma economia solidária e associativista. Daniela também conta qual é o destino dado aos alimentos arrecadados na primeira passagem do UFC por Brasília. “Essas duas

toneladas de alimentos que foram arrecadadas estão abastecendo a unidade GirArte Rural, que fica em Brazlândia e garante alimentação para cerca de 20 adolescentes e jovens que estavam em situação de drogadição e que hoje estão em tratamento. Nossa unidade é 24h, então a alimentação passa a ser fundamental, porque os meninos na fase de abstinência comem mais e para nos garantir uma alimentação que não falte e de qualidade é muito importante, ajudando a manter os adolescentes e jovens em tratamento”.

Doações Para realizar doações, ou conhecer mais sobre o projeto, entre em contato: girarte2011@gmail.com (61) 9375-9353 - Daniela


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Eleições

Alunos com bolsa Prouni ganham nova representação

Embora já exista há dois anos, comissão local do programa na UCB é pouco conhecida pelos próprios bolsistas por Juliana Macêdo e Rafaela Brito Foto: Rafaela Brito

Estudantes participam de eleição para definir novo representante de bolsistas da UCB no programa Universidade para Todos

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uem passou pelas ocas do bloco central no dia 1° de outubro percebeu uma movimentação diferente naquele espaço. Em uma grande mesa de madeira, um cartaz simples, escrito à mão, chamava a atenção para uma nova eleição dentro da Universidade Católica de Brasília (UCB). A dúvida que se formava no semblante de grande parte dos alunos que por ali passavam era a mesma: “Mas afinal, do que se trata essa votação?”.

A eleição dos representantes discentes para a Comissão Local de Acompanhamento e Controle Social do Prouni (Colap) não foi amplamente divulgada. Membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Maxwel Santos, acompanhou as votações durante o dia inteiro. Ele explica que aqueles que se aproximavam e acabavam se interessando, votavam mesmo sem conhecer os candidatos e suas propostas. “Infelizmente,

como não é algo que as pessoas vêem com tanta importância e prestígio, os candidatos não fizeram campanha”, analisa. Segundo Maxwel a Colap funciona mais por força da Portaria n° 1.132, de 2 de dezembro de 2009 - que institui a criação das comissões - do que realmente por vontade. “É uma espécie de obrigação que a UCB tem que fazer para não ser descredenciada do programa. Então até hoje nunca despertou

Sobre a Colap É um órgão colegiado com função de acompanhar, averiguar e fiscalizar a implementação local do Prouni. A Comissão Local aprimora as relações acadêmicas entre os bolsistas Prouni e as Instituições de Ensino Superior. A vigência de mandatos é de dois anos, ocorrendo a renovação de sua composição sempre na primeira semana de outubro.


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Dedicação Em pesquisa realizada na UCB, os alunos com bolsa Prouni tiveram média de nota quase um ponto a mais em relação aos

demais, segundo matéria da Agência Brasil. Para a assistente social e coordenadora do Prouni na UCB, Denise Barbosa, a diferença de rendimento é algo natural, já que os bolsistas devem apresentar rendimento acadêmico mínimo de 75% nas disciplinas cursadas em cada semestre. “Quando eles não atingem essa média, eles podem perder a bolsa. Então há uma preocupação a mais com relação às notas que apresentam”, explica Denise. Ex-representante da Colap, Jardel Santana afirma que o estudante bolsista tende a se autocobrar para conseguir manter um bom desempenho, o que resulta em um aproveitamento maior do universo acadêmico: “Ele se dedica mais. Na participação social é mais engajado com o movimento estudantil, projetos de extensão e de pesquisa”. Vagas sobrando Poucos sabem, mas há semestres em que as vagas destinadas ao Prouni não são totalmente preenchidas. Até o final de 2013, as universidades não tinham o dever de conceder essas vagas. Contudo, a portaria normativa n° 6, de 26 de fevereiro de 2014, tornou a concessão das bolsas remanescentes obrigatória. No segundo semestre de 2014, o quadro com essas vagas apresentou dez bolsas a serem preenchidas. Segundo a assistente social, Denise Barbosa, para concorrer, os alunos devem seguir os mesmos critérios instituídos pelo MEC, porém o estudante deve ter participado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a partir da edição de 2010.

Foto: Barbara Bernardes

tanto interesse”, explica. O período destinado à propaganda eleitoral foi de apenas cinco dias, nos quais poderiam ser utilizados banners, faixas, cartazes, panfletos, adevisos, entre outros. Mas nas instalações da universidade nada disso foi visto. “Os próprios bolsistas não estão engajados. Eles não têm conhecimento do papel social da comissão e do que isso representa”, explica Jardel Santana, estudante de psicologia e representante da comissão local no período de 2012 a 2014. Atualmente, a UCB conta com mais de 1.670 alunos bolsista do Prouni. Desses, apenas cinco se candidataram ao cargo de representante da Colap. Lilian Santos (Psicologia), Fernanda Cristina (Administração), Ruth Stephany (Odontologia), Tiago Azevedo (Engenharia Civil) e Thiago Sousa (Análise e Desenvolvimento de Sistemas), formaram o seleto grupo de candidatos. Segundo Eloã Moreira, de 26 anos, essa representação dá visibilidade aos estudantes bolsistas. “Podemos marcar um espaço que antes não tínhamos para discutir e construir soluções”. Ela pontua, ainda, problemas que deveriam ser levados em consideração pela Colap. “O alto custo da alimentação que bolsistas têm que arcar para cumprir com a grade horária é uma realidade que afeta diretamente no rendimento acadêmico e na relação com a Universidade”, completa.

Lílian Santos de Lacerda, a nova representante eleita da Colap

“Forma de fazer política” Com 77% dos votos, Lilian Santos de Lacerda, estudante do 6° período de Psicologia, foi eleita a nova representante da Colap. Para a prounista, com essa representação poderá levantar questões que são diariamente apontadas por alunos bolsistas, mas que ainda não foram debatidas:“Tenho plena consciência de que só estou estudando em uma universidade particular graças à bolsa 100%. A experiência de ser representante vai ser enriquecedora, pois é uma forma de fazer política”.


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Despejados

Projeto afasta pombos do Bloco K

Incômodo com sujeira e preocupação com doenças motivaram a “restrição de liberdade” da espécie que adotara o prédio como seu habitat

por Sabrina Pessoa receber os amigos e familiares. Já “escolados”, alguns pombos voam para fora do bloco. Outros acertam a rede, mas logo percebem que não irão conseguir entrar. A iniciativa de Marcelo foi resultado de um incômodo com a sujeira e a preocupação com as doenças que poderiam contaminar os alunos, professores e colaboradores que faziam a limpeza do local sem utilizar máscaras e/ou luvas. A ação resolveu o problema que muitas pessoas não conseguiram pensar ao longo destes anos. “Já foi falado em fechar o bloco todo”, diz. “Muitos pombos aglomerados, pode ser preocupante pelas doenças que eles podem transmitir. O que deve ser feito? Não sei. Mas aquela sujeira que fica no bloco K incomoda”, comenta o aluno Bruno Souza ao sugerir ironicamente um churrasco de pombo. A carne possui um sabor gastronômico muito apreciado desde os romanos aos chineses, sendo encontrada atualmente em alguns restaurantes do Brasil. Ninho No início do segundo semestre o (mal) querido pombo buscou isolamento na sacada que fica entre o estúdio de fotografia e o laboratório da K212. O ninho confortável abrigou dois filhotes, resultado de três ovos por cerca de dois meses. Até que um pedido de retirada fosse feito à prefeitura, resultando em uma ordem de despejo. Isso não impediu uma volta, na insistência, em outubro, em ninho construído a dois metros de

Foto: Isabella Vieira

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esde que voltou para a Arca de Noé com um ramo de oliveira no bico, o pombo incorporou a simbologia de trazer paz, esperança e fertilidade. Sua família veio para o Brasil no século XVI, proveniente do leste Europeu. O bisavô trabalhou em período de guerra como pombo correio e sempre recebeu tratamento especial, mas hoje a Columba livia sofre com as reformas em seu “pombal” no bloco K da Universidade Católica de Brasilia (UCB). Chamados de sinantrópicos por se habituarem ao convívio humano, os pombos se acostumaram com os alunos, professores e funcionários que compartilham com eles, há cerca de 10 anos, o bloco São Marcelino Champagnat. Lá bebem água no bebedouro, sujam a rampa central e sacodem as penas sem se preocupar com as possíveis doenças que possam estar transmitindo. As recriminações a isso resultaram em uma “pena de restrição de liberdade”. Já em execução, o projeto Pegue o Pombo quer eliminar o acesso dos pombos à parte interna do bloco. O coordenador do Centro de Produção em Rádio e TV, Marcelo Ruiz, entrou em contato com o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (Sesmet), localizado no bloco L, duas vezes. Em agosto o pessoal do Sesmet realizou um orçamento e licitação para a reforma. No dia 18 de setembro, uma rede foi instalada no topo da rampa central e um pouco abaixo do teto, onde o pombo encontrava privacidade para buscar abrigo,

Acesso a área interna do bloco tem dias contados distância do primeiro. E a história se repetiu, com a prefeitura a cortar as asas dos projetos de reprodução dos pombos monogâmicos, fieis e apaixonados. Formado para a vida toda, e reproduzindo de 10 a 14 vezes por ano, o casal de pombos também buscou, em vão, dominar a janela do estúdio de fotografia, quem sabe para garantir um “book new born” para seus filhotes. Livros sobre sonhos asseguram que sonhar com uma pomba simboliza que a pessoa está levando a culpa pelas ações de outros. E pode ser que muito pombo inocente

esteja pagando o pato pelas ações de outros pombos. O fato é que 16 de outubro é o dia nacional do cocô de pombo. Data que a aluna Isabella Coelho odeia, pelo trauma de ter sido “batizada” por um pombo em seu primeiro dia na universidade. “Dizem que dá sorte ou representa uma notícia boa que irá chegar. Não interpreto como sorte algo que só me gerou vergonha e dores de cabeça. Eu queria morrer!”, afirma a vítima improvável da “mirada” do pombo, que deve ter a mesma probabilidade de sucesso que acertar na Mega Sena.


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Universidadade 7 Foto: Isabella Vieira

Sujeira fez Prefeitura cortar as asas dos planos de reprodução dos pombos Foto: Manoel Ventura


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Avaliação

Simulado“reprova”em massa

No exame do Sistema Interno de Avaliação Estudantil (Siae), apenas 2,8% dos alunos tiraram mais que 7, nota mínima de aprovação nas disciplinas da universidade por Ana Paula Viana

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riada para avaliar o desempenho do estudante em formação nos cursos de graduação da Universidade Católica de Brasília (UCB), a prova do Siae ainda não foi analisada oficialmente, mas os resultados publicados mostram que apenas 46 alunos tiraram nota maior ou igual a 7 e apenas 17 ficaram acima de 7,75. De acordo com a análise preliminar do resultado do exame do Siae, elaborada pelo Artefato, estavam relacionados: 2.987 alunos, destes 1.362 (45,6%) se ausentaram e 1.625 (54,4%) realizaram a prova. Para fazer o exame, os alunos devêm ter 50% ou mais de carga horária do curso. Os itens que compõem a prova do Siae se fundamentam nas teorias e metodologias utilizadas como padrão do Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade). Este ano as provas foram realizadas para os cursos de graduação em: Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social (Jornalismo e Publicidade), Direito, Psicologia, Relações Internacionais, Tecnólogos em Gastronomia, Gestão Pública e Logística. Enade A prova do Enade está prevista para o dia 23 de novembro, com início às 13 horas. A prova é conforme o Simulado do Siae, composta por 40 questões, sendo 10 questões de formação geral e 30 de formação específica da área,

contendo as duas partes questões discursivas e de múltipla escolha. O peso das partes da prova segue a seguinte composição: formação geral 25% da nota final e componente específico 75% da nota final. A maior nota da Universidade na prova do Siae foi de um aluno de Direito (UC11073701), que tirou 9,5 e teve abono integral de 1,0 ponto em suas médias, estímulo que valeu para os 17 alunos que tiraram acima de 7,75. A partir da pontuação de 2,5 os alunos que fizeram a prova receberam um bônus, que variava CURSOS de 0,50, 0,75 a 1,0, conforme seu

resultado. Essa nota será somada prova não condizia exatamente com em todas as matérias que o aluno a ênfase do curso, porém serviu de estiver cursando no semestre. base para entender como é o Enade. “Foi interessante perceber como Opiniões é o exame. É interessante para Maior nota na Comunicação avaliar o que está tendo no curso, Social, Samuel Paz notou falhas a Católica tem o REL voltado para no exame: “Acho uma grande a economia, o Enade para política. falha não darem o exame para Não achei a prova cansativa, e fiz conferir onde erramos”. Porém, super-rápido”, afirmou. ele achou o tempo de duração da Já o aluno de Administração, prova suficiente para a realização. Igor Freitas Rocha, achou “Fiz a prova em 1 hora, estava as questões fora do contexto com dor de cabeça, mas achei o do curso. “Não gostei do tempo mais que suficiente para a método de avaliação, achei as realização”, disse. perguntas abrangentes, com Para a aluna de Relações temas ultrapassados que não são NÚMERO DE ALUNOS NÚMERO COM DE ALUNOS COM SUBGRUPO DE ALUNS CURSOS Internacionais, Lorena Tavares, a utilizados no curso”, disse. NOTA MAIOR OU IGUAL NOTAAMAIOR 7 OU IGUAL A 7OU IGN NOTA MAIOR

NÚMERO DE ALUNOS NÚMERO COM DE ALUNOS COM SUBGRUPO DE ALUNS CURSOS NOTA MAIOR OU IGUAL NOTAAMAIOR 7 OU IGUAL A 7OU IGN NOTA MAIOR NÚMERO DE ALUNOS COM NÚMERO DE ALUNOS COM SUBGRU SUBGRUPO DE ALUN ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO 2 2 22 CURSOS CURSOS ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO 2 2 2 2 2 22 2 MAIOR 7 NOTA MAIOR OUNOTA IGUAL A 7 OU IGUAL NOTA M NOTA AMAIOR OU IG NÚMERO DE ALUNOS COM NÚMERO DE ALUNOS COM NÚMERO DE ALUNOS COM SUBGRUPO DE ALUNOS SUB CO ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO 2 S 2 2111 NÚMERO DE ALUNOS COM SUBGRUPO DE ALUN CURSOS CURSOS CIÊNCIAS CONTÁBEIS 1 4 4 44 4 CIÊNCIAS CIÊNCIAS CIÊNCIAS CONTÁBEIS CONTÁBEIS CONTÁBEIS CIÊNCIAS CURSOS CONTÁBEIS CURSOS NOTA MAIOR OU IGUAL NOTA A 7 MAIOR OU IGUAL OU A7 NOTA MAIOR NO AN NOTA MAIOR AIGUAL 7OU 1 4 4OU IGUAL CIÊNCIAS CONTÁBEIS CIÊNCIAS CONTÁBEIS NOTA MAIOR OU IGUAL A 7 ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO 2 2 2 NOTA MAIOR IG COMUNICAÇÃO SOCIAL 1 5 CURSOS

CURSOS CURSOS CURSOS CURSOS

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Artefato Ensino Superior

Correção de opção profissional não é erro A expectativa de entrar em um curso superior pode se romper com a frustação de ter feito a escolha errada por Aline Marcozzi queria mais continuar”, desabafa Izabela. Após pensar bem veio a escolha de cursar psicologia, desta vez no UniCeub, mas também o desânimo de começar do zero outra vez. Em universidades públicas as dificuldades são as mesmas, embora agravadas por circunstâncias diferentes, referentes a falta de estrutura, greves frequentes e a diversos problemas que vão surgindo.

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Izabela Fernandes sofreu para começar de novo

uando se é criança todos são questionados sobre o que serão quando crescer. Médicos, veterinários, advogados, jornalistas? Passa o ensino fundamental, passa o médio, passam alguns semestres da faculdade e vem a descoberta: Não gosto deste curso. E agora? Não se sabe ao certo como isso acontece, mas segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), dois a cada dez estudantes que ingressam no ensino superior desistem do curso. Os motivos são os mais variados, mas geralmente isso acontece por dificuldades

financeiras, falta de adaptação às aulas ou simplesmente de vocação. Nas universidades privadas a desistência tem um custo muito caro, pois desistir do curso ou mudar para outro gera uma dívida muito grande, favorecendo ainda mais a frustação do estudante. Em média um curso de Jornalismo na Universidade Católica de Brasília (UCB) pode sair por cerca de R$10 mil o semestre. Desgosto Quando o estudante percebe que não gosta do curso, não tem vocação ou mesmo condições de se manter, provavelmente já

se passaram uns três semestres, como é o caso de Izabela Fernandes, 22 anos, que entrou em 2010 no curso de nutrição na faculdade Anhanguera, de Taguatinga Sul, cursou um ano e viu que não era aquilo que queria e gostava. Após fazer a escolha de trancar a faculdade Izabela se viu em uma briga familiar, pois julgaram mal sua escolha por não continuar. “Foi muito difícil para eu aceitar que eu não gostava daquilo, veio também a raiva por ter pagado um ano de curso sem resultados e, depois, o momento mais complicado, que foi falar para a minha família que eu não

Ajuda Fazer um teste ocupacional não dá garantias a ninguém de que a escolha será certa, mas é importante consultar um terapeuta ocupacional quando se tem dúvidas sobre aquilo que se quer estudar. Segundo o psicólogo Paulo Henrique, antes de escolher um curso superior o estudante deve se informar tanto com profissionais já experientes quanto com estudantes do curso, procurando saber dados sobre o mercado de trabalho e quaisquer outras informações que sejam relevantes na escolha. Questionado sobre o que fazer quando se escolhe a profissão errada, ele afirma: “Nenhum aprendizado é em vão. Se estudou um ano algo e não gostou, tem que pensar que aquilo que aprendeu irá se somar e que nunca foi tempo perdido. Começar de novo nunca é em vão e ninguém pode se prender a estereótipos”.


10 Educação

Artefato

Aprendizado

Além de diagnóstico, transtornos pedem acompanhamento Disgrafia, disortografia, dislexia e discalculia são diagnosticados precocemente na idade escolar, mas há poucos profissionais para atendimento individual

Foto: Patrícia Marques

por Patrícia Marques e Alex Santos

Professores e pais precisam estar atentos ao desenvolvimento das crianças durante o aprendizado.

“Q

uero cinquenta coisas ao mesmo tempo. O que não sei que seja definidamente pelo indefinido. Durmo irrequieto e vivo num sonhar irrequieto” (Fernando Pessoa). As palavras ditas no poema de Fernando Pessoa são também características de crianças, jovens e adultos diagnosticados com Transtornos Funcionais Específicos (TFE). Esses transtornos na aprendizagem são apresentados a partir das dificuldades que a criança tem no desenvolvimento educacional e social. Os TFE’s mais comuns manifestados pelos alunos podem ser classificados como: disgrafia, disortografia, dislexia, discalculia, transtorno

de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), distúrbio do processamento auditivo central (DPAC) e transtorno de conduta (TC). Embora os sintomas acompanhem estas crianças em suas vidas é na escola que estes se manifestarão com mais intensidade pela exigência da capacidade de abstração, interpretação, raciocínio lógico e outras funções psicológicas superiores. Diagnóstico Professores e pais podem perceber os sintomas dos distúrbios em crianças que apresentem problemas específicos por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, concentração, leitura, escrita

ou habilidades matemáticas, causando o baixo rendimento escolar para sua idade. A neurologista Patrícia Peixoto define os distúrbios de aprendizagem como uma disfunção do sistema nervoso central. O problema é causado por falhas de aquisição, processamento e armazenamento da informação. “Geralmente o problema é notado dentro do contexto familiar e escolar. Na criança os sintomas são apresentadas na maioria das vezes durante o período de escolarização. Já no adulto as dificuldades estão no contexto pessoal e social” , explica. O processo de diagnóstico clínico começa a partir de uma avaliação multidisciplinar psicopedagógica com neurologistas, psicólogo e

fonoaudiólogo. Segundo Patrícia Peixoto, o TDAH é um dos distúrbios mais comuns na infância e a principal causa do fracasso escolar. “É muito mais comum do que se imagina e socialmente é pouco conhecido. A doença apresenta três níveis: o desatento, o hiperativo e o combinado, que mescla tanto a desatenção quanto a hiperatividade e impulsividade”, explica. Acompanhamento nas escolas públicas do Distrito Federal De acordo com dados da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), o Estado disponibiliza 273 instituições de ensino para atender mais de 858 mil alunos matriculados na rede básica de ensino. Para o apoio aos alunos com suspeita e diagnóstico

Universidade Na UCB, o Serviço de Orientação e Acompanhamento Psico-Pedagógico (Soappe) realiza, entre outros serviços, o acompanhamento de pessoas que possuam algum transtorno funcional. Na sala de atendimento, no bloco central, há mais de 10 anos o serviço oferece atendimentos individuais e em grupo, acompanhamento psicológico e psicopedagógico, além de orientação pedagógica, profissional, oficinas de comunicação em público e técnicas de estudos para alunos e docentes da Universidade.


Educação

Artefato escola. “Ela tinha cinco anos quando notei que minha filha estava agressiva, tanto em casa quanto na escola. Por causa desse comportamento, os professores resolveram encaminhar o caso para a equipe de orientação especializada da escola. De lá fui encaminhada para os especialistas da área. Após isso ela fez alguns exames e foi diagnosticada com o transtorno”, relata. Laura afirma também que Juliana passa atualmente por uma nova etapa, em que vem recebendo intervenções específicas médicas e pedagógicas, melhorando de forma significativa seu rendimento escolar. No dia-a-dia da escola Adriana de Jesus, 34 anos, professora da rede pública e pedagoga do SEAA, afirma que, para a escola, compreender e auxiliar estes alunos é uma necessidade imediata e um desafio atual. “Deve-se considerar o contexto social e educacional em

que o aluno está inserido, buscando estratégias e intervenções através da flexibilização curricular, ações pedagógicas diferenciadas e uso de recursos e materiais didáticos”, diz. Portanto, mesmo diante das necessidades de mudanças e adequações por parte da escola, os desafios para os alunos com transtornos funcionais ainda são grandes. Problemas como número excessivo de alunos por sala, falta de material adequado e de acompanhamento familiar são alguns exemplos. Telma Freire, 36, pedagoga, relata que as escolas precisam ser não somente agregadoras mas também inclusivas para atender as singularidades dos alunos dentro da sala de aula. “Nós viemos de uma realidade de salas de aula muito cheias, onde o professor quer até ter um olhar criterioso e cuidado com o aluno, mas com uma demanda de 30 crianças para cada professor é impossível fazer uma intervenção particular ”, afirma.

Foto: Diogo Neves

de TFE’s, todas as intuições do GDF contam com o serviço de apoio técnico e pedagógico, o Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem (SEAA) e o Serviço de Orientação Educacional (SOE), que desenvolvem ações junto aos professores, pais e alunos no intuito de minimizar as dificuldades apresentadas e realizar encaminhamentos médicos, caso seja necessário. Paula Ximenes, 30 anos, psicóloga do Centro de Ensino Fundamental 113 do Recanto das Emas, afirma que a principal característica do serviço é oferecer apoio educacional especializado às instituições de ensino público. “O objetivo da equipe é fazer com que pais e alunos superem as dificuldades presentes no processo de ensino e aprendizagem da criança”, explica. Laura dos Santos, 27 anos, mãe de Juliana (nome fictício), 7 anos, aluna com TDAH , ouviu falar da doença quando passou a ter problemas com a filha na

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Características • TDAH Desantenção, hiperatividade e impulsividade • Dislexia Dificuldades visuais, leitura e lateralidade • DEPAC Dificuldades para ler e escrever, falta de atenção e memória. O indivíduo não relaciona a informação auditiva com a visual. • TC comportamento antissocial ( furto, roubo, agressões). • Disgrafia dificuldades motoras na escrita. • Disortografia trocas de grafemas e dificuldades em perceber o uso de sinalizações gráficas. • Discalculia dificuldades com números, tempo e localização espacial.

Sem a ajuda adequada o desenvolvimento do aluno pode ser prejudicado.


12 Educação

Artefato

Tecnologia

Seminário discute educomunicação e abordagem das imagens na mídia Uso dos meios de comunicação para melhorar o ensino brasileiro é debatido na UCB

por Guilherme Rocha

Decifrando Imagens Na opinião da Profª. Drª. Florence Dravet, uma das palestrantes, o imaginário humano é definido por imagens fortes e fracas, capazes de definir a cultura de um povo. Segundo ela, a força da imagem pode ser representada como a intensidade simbólica que a imagem passa a assumir na vida de um indivíduo ou de um povo. “As imagens ‘fortes’, chamadas de arquétipos, são aquelas capazes de criar padrões de referência na mente humana, e independem do tempo ou da época, como, por exemplo, o medo da morte e da dor. Nos nossos sonhos

Foto: João Pedro Caravlho

Q

uem produziu o conteúdo utilizado pela mídia atual? Por que ele está sendo veiculado? Essa estrutura poderia ser mudada? Com esses três questionamentos, o Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais da Educomunicação (ABREducom) e professor titular da USP, definiu a importância do estudo dos usos imagem na sociedade contemporânea. O assunto foi tema de debate no seminário “Cultura Midiática e Educação: Sua imagem está na tela! O que você tem a ver com isso?”, realizado dia 02 de outubro na universidade. Educomunicacão é a área multidisciplinar de estudos que reflete sobre a potencialidade do uso dos meios de comunicação para a educação.

Seminário reuniu cerca de 100 pessoas entre estudantes, professores e convidados, para discutir a importância da imagem e seu uso na mídia ‘reais’, ou nas grandes paixões, vivemos individualmente essa força”, explica. “Mas, à medida que são reproduzidas principalmente pela televisão, elas vão se tornando fracas e precisam ser renovadas para ter algum valor cultural. Essas imagens mais fracas são os estereótipos”. Porém, se a sociedade é da imagem, quem a produz e qual o lugar de cada indivíduo nesse processo produtivo? Para o Prof. Dr. Ismar de Oliveira Moraes, que participou do evento por meio de uma videoconferência, estes questionamentos também devem ser postos em pauta quando se discute imagem, mídia e

educomunicação. “A produção de conteúdo educativo voltado para a mídia não pode ser alheio às pessoas que o consomem”, frisou. No encerramento das atividades, o coordenador do curso de Comunicação, Prof. Dr. Luiz Iasbeck acrescentou ainda que o universo das imagens causa novas polaridades ao se tornar frequente na mídia. “O ter ou o parecer assumem lugares mais importantes que o ser e o fazer ganha frente ao pensar. As imagens criam essas polaridades. E é com ela que a Comunicação deve trabalhar. Criando, inovando e gerando conhecimento”, destacou. Para o Prof. Dr. Joadir Foresti,

organizador do seminário, a iniciativa foi importante para divulgar e gerar interesse sobre o tema. “A adesão dos alunos nunca é muito grande quando se fala de educomunicação, pois ninguém conhece muito do tema. Mas se nunca tratarmos do assunto não vamos gerar interesse nem divulgação”, defendeu. Na opinião da palestrante Profª. Drª. Florence Dravet o fortalecimento do uso da comunicação para a educação também é papel da academia. “A universidade gera conhecimento. Temos que defender também a produção do saber pelos meios de comunicação. É para isso que lutamos”, finalizou.


Política 13

Artefato Eleições

Voto migra para quem pode vencer Mudanças de voto às vésperas das eleições trazem uma reflexão à tona: as pesquisas de intenção de voto fortalecem os candidatos com mais popularidade por Gustavo Goes 13% para 9%. O fenômeno se repetiu no DF. Na pesquisa do Ibope de 30 de julho, Luiz Pitiman (PSDB) e Toninho do PSol tinham 6%, e Perci Marrara (PCO), 1%. Brancos e nulos eram 13% e indecisos 10%. Já no dia 5 de outubro, Pitiman ficou com 4%, Toninho com 2% e Perci não pontuou. Brancos e nulos caíram para 8%. Para o Senado, Expedito Mendonça (PCO) e Jamil Maguari (PCB), antes com 1%, sumiram nas pesquisas, com menos de 1% de intenção de votos. Brancos e nulos caíram de 18% para 14%. Enquete A redação do Artefato fez um levantamento de pessoas que deixaram de votar em algum candidato, por não ter chance de ganhar. De 30 entrevistados, 4 afirmaram que fizeram essa mudança de voto ou deixaram de votar nulo/branco nas eleições. O pensamento de um dos entrevistados reflete a hipótese da pesquisa. “Tem três eleições que só voto em candidato vencedor, mas nessa votei em um candidato que não vai ganhar”, disse o vigia Joallysson Castro. Já outros deixam de votar apenas pela falta de competitividade dos seus candidatos, que, após diversas pesquisas de intenção de voto durante a campanha política, perderam sua força.

Foto: Tarcila Rezende

N

a definição do primeiro turno das eleições, um fenômeno, que se repete em todas as pesquisas de opinião para cargos majoritários – presidente, governador e senador – pôde ser observado: o eleitor que não gosta de votar em quem vai perder, muda seu voto. De acordo com as pesquisas, a intenção de votos para os candidatos com mais chances de vitória, como Dilma Rousseff (PT), Eduardo Campos/Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), só aumentou. Migraram para eles os votos dos candidatos menores, dos indecisos e, sobretudo, daqueles que, no início da campanha, diziam que votariam branco ou nulo. No primeiro cenário apontado pelo Datafolha após o início da propaganda política, em 1º de julho, Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos, tinham 38%, 20% e 9%, respectivamente. Everaldo Pereira (PSC) e José Maria (PSTU) tinham 4% e 2%. Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSol) e Mauro Iasi (PCB) apareciam com 1%. Já nas eleições de 1º turno, Dilma, Aécio e Marina Silva, que sucedeu o então candidato Eduardo Campos após o acidente aéreo, possuíam 41%, 33% e 21%, respectivamente. Entre os candidatos nanicos, apenas Luciana Genro apareceu com 1%. Brancos e nulos caíram de

Eleitores pautam suas escolhas entre os canditados com maior chance de vitória “Me interessei bastante pelas propostas do Eduardo Jorge, mas, diante de um cenário de disputa entre Dilma, Aécio e Marina, tive que optar por um deles”, disse a estudante Érica Teixeira. A mudança de voto às vésperas das eleições traz uma reflexão à tona: as pesquisas de intenção de voto fortalecem os candidatos com maior popularidade? Com o decorrer das eleições, como se já não bastasse o horário eleitoral e o destaque nas ruas que os “principais” tem sobre os demais, as pesquisas acabam por polarizar ainda mais as eleições. “Baseio minha escolha em pesquisas de intenção de voto.

Quando dois ou três candidatos estão na frente das pesquisas, escolho o que eu tenho mais afinidade com as propostas e voto”, disse o feirante Marcelo Peixoto. A cientista política Luiza Mônica Assis da Silva, professora do curso de Comunicação Social da UCB, afirma que existe essa prática do “voto útil”. O eleitor que vê seu candidato com pouca chance nas pesquisas, acaba votando no “menos pior”. “Isso diminui os votos dos candidatos menores, porque, da mesma forma que um eleitor tem seu candidato, tem o que ele não quer que vença”, disse a cientista.


14 Política

Artefato

Desconfiança

Urna eletrônica brasileira completa a maioridade em ano eleitoral polêmico

Sistema de voto eletrônico brasileiro completa 18 anos ainda com dúvidas sobre segurança e eficiência, para especialistas da USP, UCB e UnB por Michele Mendes Brasil não utilizam a tecnologia? Testes de segurança O pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Diego de Freitas Aranha esteve presente em um dos testes de segurança do TSE em 2012. O objetivo era simular ataques ao sistema de votação. Na época, o pesquisador coordenava uma equipe da Universidade de Brasília (UnB). No teste conseguiram acessar o mecanismo de segurança implementado no software da urna para proteção do sigilo do voto. Assim a equipe teve acesso a uma lista ordenada dos votos em eleições simuladas com até 475 eleitores, a partir unicamente de informação pública. “Com a posse da lista ordenada de eleitores, seria possível determinar com certeza matemática as escolhas de cada eleitor. Essa vulnerabilidade permitia ainda determinar com exatidão a escolha de alguns eleitores ilustres que votaram em instantes de tempo específicos. Além disso, detectamos outras fragilidades que abrem a possibilidade de adulteração ou substituição do software de votação por uma versão que conta os votos de forma desonesta”, relata o pesquisador. Para Diego, o método aplicado nos testes não favorece o trabalho do pesquisador. Segundo ele, o TSE aplica restrições de tempo e informações, criando um obstáculo

Foto: Divulgação

A

urna eletrônica brasileira completa este ano a maioridade em uma eleição em que o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sofreu tentativas de ataque de hackers e recebeu muitas reclamações de eleitores sobre o funcionamento da biometria. São 18 anos de uso da urna eletrônica no país e ela continua sendo alvo de dúvidas presentes em críticas de especialistas e “teorias de conspiração”. O TSE assegura que a urna não possui fragilidades de segurança e que a identidade de quem vota é preservada. No Brasil, a votação funciona em dois terminais. O primeiro é o do mesário, onde o eleitor é identificado e autorizado. Antes que o eleitor possa votar, ele tem a identidade validada pela urna, isto faz com que não possa votar duas vezes. O segundo terminal é o do eleitor, onde se registra numericamente o voto. O que a urna eletrônica faz é gravar as informações que o eleitor inseriu. Após o encerramento da votação se gravam no disquete da urna cinco arquivos: Boletim de urna, Registro digital do voto, Eleitores faltosos, Justificativas eleitorais e Registro de eventos. Desde 1996, quando a primeira votação eletrônica aconteceu, há dúvidas recorrentes: A urna é segura? Como é testada? Existe a possibilidade de fraude? O voto eletrônico é sigiloso? Por que países mais desenvolvidos que o

Teclado de votação utilizado nesta eleição

para os pesquisadores, mas não para o fraudador verdadeiro. O professor e pesquisador Pedro Antônio Dourado de Rezende, do departamento de ciência da computação da UnB, concorda com Diego sobre o método de testes realizados pelo TSE. Segundo ele, os testes de segurança seriam “ensaiados” e insuficientes. Restrições “Foram cuidadosamente coreografados com um script de regras rígidas a que teriam que se submeter os ‘testadores’ externos, para terem acesso ao ambiente de ‘testes’. A pretexto de excluir o que estaria “fora de escopo dos testes”, essa coreografia suprimiu, por exemplo, acesso a boa parte do processo, inclusive aos programas encarregados da preparação e da

totalização da votação. E essa exclusão suprimiu a eficácia investigatória dos testes o bastante para nos permitir inferir que a coreografia almejava direcionar os resultados para validação da propaganda oficial sobre ‘segurança das urnas’ ”, afirmou Pedro Rezende. Paulo Roberto Corrêa Leão, coordenador do curso de PósGraduação em Perícia Digital e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), estava presente na Agência Brasileira de inteligência (Abin), em 1996, como assessor, quando a urna eletrônica estava sendo desenvolvida. Ele não participou do projeto que desenvolveu a urna, mas presenciou os testes de segurança. Para ele, apenas os testes monitorados pelo TSE não são suficientes para garantir a segurança


Política 15

Artefato utilizando votação manual baseada em cédulas, provavelmente porque a escala de suas eleições permite coleta e apuração segura dos votos”, comentou Diego. Já para Paulo Roberto Correia Leão, da UCB, o motivo é que os americanos não acreditam que seja o melhor sistema. “Se eles conseguem entrar no sistema brasileiro e investigar a presidente Dilma, como foi no começo do ano, imagina com urna. Existem várias teorias do porquê. Um dos motivos é eles não acreditarem que seja seguro”, afirma.

Interesse internacional Muitos países como Alemanha, Estados Unidos, Turquia, Índia e Itália mostraram interesse em estudar o sistema de voto brasileiro e nossa justiça eleitoral, mas não utilizam o nosso modelo de voto. O Brasil já chegou até a emprestar as urnas eletrônicas utilizadas em nossas eleições para cinco países: Argentina, Equador, México, Paraguai e República Dominicana. Mas por que países como os Estados Unidos, que são mais desenvolvidos tecnologicamente, se interessam pela tecnologia do voto brasileiro, mas não a utilizam em sua totalidade como em nosso país? Para o pesquisador Diego de Freitas, da USP, os Estados Unidos são um caso a parte, pois nos estados americanos a votação acontece em vários sistemas. Para ele, o voto manual de outros países se justifica por que o tamanho das eleições no país permite uma votação segura. “Há vários estados americanos utilizando votação eletrônica, mas em sua maioria se tratam de sistemas com produção de registro físico do voto. Exemplos: máquinas de votar com voto impresso, scanners ópticos de cédulas preenchidas a mão, entre outros. Outros países continuam

Propaganda eleitoral Mesmo com tantas controvérsias sobre sua segurança, método de teste e eficiência, para os três pesquisadores, a população acredita no sistema de voto eletrônico brasileiro. O motivo dado por eles seria a propaganda eleitoral massiva dos Tribunais Eleitoras Regionais (TREs) e do TSE. Para o pesquisador Diego de Farias, precisa ser feito uma união de sistemas para que o processo brasileiro aumente sua credibilidade. Diego afirma que é preciso combinar votação manual e votação eletrônica. “A solução verdadeira não reside apenas em recursos tecnológicos, e sim no fortalecimento do processo, combinando vantagens da votação eletrônica com a votação manual. Explico: votação puramente eletrônica e votação puramente em papel são sistemas vulneráveis a vários ataques conhecidos, mas ataques fundamentalmente distintos. Isso exige que o fraudador seja capaz de manipular não apenas as cédulas eleitorais, mas também a contagem eletrônica de votos, para que ambos os registros sejam compatíveis, o que termina por aumentar o custo”, explicou o pesquisador.

5 mil

6,4 mil

urnas usadas no DF

urnas substituídas no Brasil

138

urnas substituídas no DF

Foto:

porque a cada dia a tecnologia muda. “Qualquer coisa na tecnologia pode quebrar a segurança. Por enquanto é seguro, mas amanhã pode ser que não seja. A tecnologia muda o tempo todo”, disse o professor. O pesquisador Pedro Rezende concorda com professor Paulo Roberto. Para ele, não existe sistema 100% seguro. “Não existe sistema informatizado que seja útil e ao mesmo tempo infraudável, pois não existe sistema útil que não interaja com fatores humanos, os quais estão sempre expostos ao que há de ruim na natureza humana”, disse.

Cabine de votação da urna eletrônica brasileira


16 Oportunidades

Artefato

Ensino Superior

Ingresso em curso superior cresce no país

Enquanto as matrículas aumentam nas instituições privadas, mercado não absorve toda a mão-de-obra qualificada. Preparação do currículo é uma estratégia para driblar dificuldades de inserção

Foto: Dayane Oliveira

por Bia Carlos, Luana Póvoa e Rosi Araújo

De acordo com os dados de 2013, em primeiro lugar estão ciências sociais, negócios e direito, com 147,2 matriculados, 56,4 ingressantes e 21,8 concluintes.

U

nir trabalho e paixão pelo que faz é o sonho da maioria dos recém-formados mas, de acordo com alguns deles, o mercado de trabalho não está tão favorável assim. Grande parte dos novos profissionais diz que as empresas pedem especializações, muito tempo de experiência e outras referências. Por isso, o jeito é trabalhar no que encontrar, mesmo que não seja a sua formação. Investir em especializações e até estudar para concursos públicos, também, são alternativas. Para o último censo da Educação Superior, divulgado em setembro pelo Ministério da Educação, os estudantes que ingressaram na graduação somam 7,3 milhões. Entre 2012 e 2013, as matrículas cresceram 3,8%, sendo 1,9% na rede pública e 4,5% na rede privada. Considerando o período entre 2003 a 2013, o número de ingressantes em cursos de graduação aumentou 76,4%. De acordo com o doutor em educação, e ex-representante da Unesco, Celio da Cunha, a expansão do ensino superior acontece por causa da ampliação da educação básica. “O ensino fundamental já foi praticamente universalizado e o ensino médio caminha na mesma direção, sobretudo, após a Emenda nº 59, que tornou obrigatória a educação dos quatro aos 17 anos. É importante destacar que, mesmo com o crescimento, o percentual

de matrículas na educação superior brasileira na faixa etária de 18 a 24 anos ainda se encontra abaixo de vários países da América do Sul”, pondera. Outros fatores que contribuem para o ingresso nas Instituições de Ensino Superior (IES) são os programas sociais que incentivam a população de baixa renda a buscar novas oportunidades. Por exemplo, o Programa Universidade Para Todos (Prouni), e o programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), criados pelo Ministério da Educação (MEC). Com o Reuni 14 novas universidades foram inseridas em regiões distantes dos grandes centros, interiorizando e regionalizando a oferta de vagas em instituições públicas. “Apesar desse esforço, ainda é grande a diferença em relação à oferta de vagas entre o setor público e o privado. É importante assegurar padrão mínimo de qualidade a todo o ensino superior por intermédio de avaliações periódicas pelo Sistema Nacional de Avaliação (Sinaes)”, analisa o especialista. Disparidade Os universitários estão distribuídos em 32 mil cursos de graduação, oferecidos por 2,3 mil instituições de ensino superior – 301 públicas e duas mil e nove particulares. De acordo


Artefato

Oportunidades 17

com o consultor organizacional e psicólogo Wilson Contoyannis, no momento da seleção dos candidatos à vaga de emprego o curso superior faz diferença. Evidente que com o aumento de faculdades, e consequentemente de cursos superiores, o valor do diploma também entra em questão. A remuneração também é influenciada pelo nível de escolaridade. As empresas procuram profissionais que sejam atualizados, dinâmicos e multifuncionais. “O processo de seleção tem várias fases. Esse fato muitas vezes é desconhecido ou ignorado pelos candidatos que não pensam o processo seletivo como um todo. Uma sequência lógica de etapas levam à contratação”, explica o psicólogo. Segundo Wilson, em

geral, o primeiro contato que o selecionador tem com o candidato é na resposta ao anúncio de vaga, via currículo. Vale ressaltar que quanto mais elaborado e estruturado o currículo, melhor. Os selecionadores fazem a triagem, entrevistas, testes psicológicos e dinâmicas de grupo. Desafios Os concluintes no ano de 2013 foram mais de 990 mil alunos, ou seja, o mercado de trabalho tem a sua disponibilidade um número significativo de recém–formados. Samita Barbosa Pinheiro, 23 anos, formou-se em pedagogia em 2012 e em seguida iniciou o curso de jornalismo, que concluiu no primeiro semestre deste ano: “Não estou trabalhando na área, enviei currículos, mas o mercado está difícil. Alguns lugares pedem até três anos

de experiência e especializações. Pretendo me especializar, para entrar na concorrência. Estou meio descrente e estudando para concursos, de preferência na minha área. Quero seguir no jornalismo”. O doutor em educação, Celio da Cunha, acredita que mesmo que as instituições privadas tenham a maioria das matrículas, ainda não existem perigos da transformação do ensino em mercadoria. Segundo ele, é nítida a expansão que está ocorrendo nas pós-graduações no setor privado, mas as instituições públicas possuem melhores condições e investimentos para a realização de pesquisas. “O setor privado está dando exemplos de excelência na pós-graduação, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e as universidades chamadas

comunitárias, como a UCB. Além disso, a política do governo federal caminha na direção de valorizar o ensino de graduação, tornando-o mais articulado com a pós-graduação”, completa. Despontando O mapa do ingresso nos cursos à distância traçado pelo Censo de Educação Superior 2013 mostra que a maior quantidade de matrículas são efetuadas em universidades particulares, com 86,6%; nas públicas os demais 13,4%. A habilitação mais procurada de acordo com a pesquisa é a licenciatura, seguida por tecnológico e bacharelado, respectivamente. No geral, o ensino superior à distância conta com uma participação acima de 15% do total de matrículas em graduação. Foto: Paulo Martins

Aumenta o número de estudantes no ensino superior, mas o mercado não absorve a todos


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Oportunidades

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Negócios

Startup ganha destaque como modelo de negócios

Jovens têm buscado o caminho do empreendedorismo por meio das startups devido ao grande potencial de crescimento com investimentos de baixo custo, apresentando soluções inovadoras para o mercado

por Bruno de Oliveira e Yago Pêra

A

difícil escolha entre ingressar no setor privado ou público costuma afligir universitários que estão próximos de se formar ou recém-formados. Muitos jovens têm optado pelo caminho do empreendedorismo, montando startups. Mas o que é uma startup? Para o fundador da startup Rota Pronta, Paulo Gonçalves, 25 anos, é uma ideia colocada em prática para criar um modelo de negócio ou modificar um já existente. “É o primeiro passo para que essa mudança aconteça. Uma startup normalmente não possui CNPJ, ela ainda está na fase de validação de ideias e definição de mercado”, explica. O Rota Pronta presta serviços de monitoramento e localização de veículos para empresas que resultam em redução de custos de 15% a 45% com logística de transportes. Uma das principais características deste tipo de empreendimento é a busca por soluções inovadoras através da pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias promissoras aliadas ao baixo custo inicial, o que permite que jovens sem capital alto possam investir neste ramo. Apesar do baixo custo para se montar uma startup, essas empresas são altamente “escaláveis”, ou seja, podem aumentar a demanda de produção ou atendimento sem que tenham que investir recursos proporcionais ao crescimento,

com grande expectativa de desenvolvimento, apesar de possuírem um risco alto já que são inicialmente desconhecidas pelo mercado. Mas há as “aceleradoras de empresas” que ajudam as startups a crescerem e se consolidarem no mercado, em troca de futuras porcentagens de lucro. Startup Brasil O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) promove o Programa Startup Brasil que tem como objetivo apoiar empresas nascentes de base tecnológica – startups –, selecionando 100 empresas nacionais e internacionais que utilizem ferramentas de software, hardware ou serviços de TI como parte da solução proposta. O programa repassa até R$ 200 mil em bolsas de pesquisa e desenvolvimento de pessoal, além do suporte das aceleradoras de empresas que também contribuem com investimentos financeiros e oferecem serviços de infraestrutura, mentorias e capacitação em troca de parte das ações acionárias da startup. Diferenças Publicitário e sócio do Comida de Rua, Thyago Soares, 24, cita duas startups que se tornaram exemplos de sucesso: o Easy Taxi, que foi criado no Brasil e hoje está presente em vários países, e o aplicativo para iOS e Android Waze, que funciona como um

Dicas de Thyago Soares para quem pretende criar uma startup Não fique no comodismo, dizendo que suas ideias não podem dar certo por falta de verbas para pô-las em prática; Procure sempre estar se superando com ideias inovadoras, preferencialmente as que tragam benefícios ao próximo; Esteja sempre ligado nas novas tendências do mercado no ramo tecnológico. Problemas que estão em alta podem ser transformados em ideias para uma startup. Por exemplo, as rotas e horários dos ônibus de uma cidade, a falta de doadores de sangue e demais problemas cotidianos. GPS diferenciado, em que além de oferecer rotas programadas ao vivo, o usuário ainda pode incluir detalhes adicionais como acidentes na pista, buracos, e demais casualidades que influenciem na rota. A startup Comida de Rua é um projeto com o intuito de levar o usuário do aplicativo a uma experiência gastronômica de qualidade e bom custo-benefício, estimulando a cultura de comida de rua e oferecendo informações sobre foodtrucks (trailers que servem comida), quiosques, carrinhos de cachorro-quente e demais estabelecimentos que trabalham com alimentação nas ruas. Thiago explica a diferença em relação a microempresas: “As startup são basicamente projetos.

Seja ele um aplicativo ou não, também por não se tratar de uma empresa não é preciso de um registro CNPJ. O mais interessante é que sempre os mentores de uma startup vêm de formações diferenciadas. Por exemplo, no Comida de Rua, temos publicitários, programadores formados em Tecnologia da Informação e outros em Desenho Industria”, explica. “Já uma microempresa”, segundo ele, “é uma empresa que por sua vez não tem a menor intenção de expandir, por exemplo: Um vendedor de cachorro quente que possui seu carrinho e nada mais. A empresa de grande porte é aquela que já possui franquias e o seu nome já se faz forte no mercado, por exemplo, o McDonald’s”.


Artefato

Oportunidades 19

Intercâmbio

Foto: Isabella Cantarino

Programa federal leva estudantes da UCB ao exterior

Cerca de 90 alunos já aproveitaram vantagens de fazer intercâmbio por meio do Programa Ciência Sem Fronteiras por Carolina Matos

T

ranspor barreiras, desbravar outros países e vivenciar outras culturas é o sonho da maioria das pessoas. Sem dúvida, o intercâmbio é uma atividade que promove uma experiência única na vida de qualquer estudante universitário. Além disso, contar com o apoio e auxílio de uma instituição de ensino é importante para a estadia fora do país. Desde 2011, a Universidade Católica de Brasília (UCB) aderiu ao programa Ciência Sem Fronteiras (CsF), ofertado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O objetivo é ampliar cada vez mais o quadro de modalidades de intercâmbio já existente na Instituição. Segundo o Assessor de Relações Internacionais da UCB, prof. MSc. Creomar de Souza, o grande diferencial do Ciência Sem Fronteiras é o fato do Programa ser totalmente custeado pelo governo federal. “Isto quer dizer que as despesas dos estudantes são integralmente pagas palas instituições brasileiras responsáveis pela gestão do CsF – a CAPES e o CNPq”, explica Creomar. A Católica enviou, nos últimos anos, cerca de 90 intercâmbistas pelo CsF. As áreas de conhecimento

que tiveram maior participação foram: Engenharia e Ciências da Saúde, com destaque para o curso de Medicina. Qualidade Creomar explica que “esses números mostram a qualidade dos estudantes que a UCB tem enviado ao exterior, pois o Programa é nacional e altamente competitivo”. Ele ainda complementa: “Os números também deixam clara a existência de um espaço para crescimento tendo em vista que o governo federal ainda possui um número considerável de bolsas para distribuir”. O Ciência Sem Fronteiras é um projeto que nasceu do esforço conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), através de suas respectivas instituições de fomento – CNPq e Capes –, e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do MEC. Coordenador de Ações Internacionais do CNPq, Prof. Dr. Emerson da Motta Willer explica que o programa Ciência sem Fronteiras “foi criado com o intuito de diminuir o déficit de investimento nas áreas de pesquisa, engenharias e humanas e aumentar a internacionalização de pesquisadores brasileiros”, afirmou.

Sara Mota Ribeiro, estudante do 7º semestre do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, estudou na University of Nebraska, EUA Experiência Sara Mota Ribeiro, estudante do 7º semestre do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, estudou na University of Nebraska, no estado de Nebraska, Estados Unidos. Ela conta que, além de aprofundar seus conhecimentos acadêmicos, a experiência de morar no exterior é fascinante. “O principal objetivo é aprender. Além de praticar o meu inglês, conhecer uma nova cultura eu descobri de fato como é a área que quero me especializar e aprofundar meus conhecimentos”, relata. A vivência em outro país garante ao estudante uma autonomia maior, já que lá fora ele tem de aprender tudo sozinho. “Além dos objetivos acadêmicos, adquiri mais maturidade, pois tive de resolver tudo por conta própria”, diz Sara. Já Guilherme Pereira dos Reis, estudante do 8º semestre de Engenharia Civil, escolheu uma instituição de ensino que possui uma estrutura de excelência em sua área.

“Aprendi muito sobre construções em geral, e foi ótimo, pois difere muito do modelo nacional, apesar de utilizarmos alguns mecanismos vindos dos Estados Unidos”, relata o futuro engenheiro. Guilherme morou na cidade de Los Angeles, Estados Unidos, e estudou na California State University. Os intercâmbistas recebem a ajuda necessária durante a estadia fora do país, que pode durar de 6 meses a 1 ano. Há exceções em que este período pode ser estendido em até 3 meses, a serem dedicados a estágio de pesquisa ou inovação tecnológica em instituições ou centros de pesquisa, quando disponível. Para Creomar, “o estudante que participa de um intercâmbio acadêmico está mais preparado para lidar com ambientes dinâmicos, desenvolver proatividade e ser capaz de absorver de maneira eficiente as transformações a que o ambiente está sujeito”, afirma.


20 Oportunidades

Artefato

Emprego

Vantagens e desvantagens de estudar e trabalhar na UCB

“Prata da casa” , colaboradores que também são graduandos na instituição desfrutam de várias facilidades, mas também são “assediados” por alunos para prestar favores fora de hora por Eduardo Kirst e Gabriela Costa que podemos fazer certas coisas que obviamente não podemos”, pondera Radimila. Seleção O aluno que deseja participar do processo seletivo para concorrer à vagas temporárias e efetivas deve se cadastrar no banco de talentos no site da universidade (www.ucb.br), no link “Trabalhe Conosco”. Lá, o candidato preenche uma espécie de currículo e seleciona a vaga pretendida. De acordo com a necessidade para o provimento das funções, os candidatos participam de etapas como triagem de currículos, prova de conhecimentos específicos, prova prática, dinâmica em grupo e entrevista individual com o gestor da área. O setor responsável pela contratação dos alunos e dos demais colaboradores da instituição é a Gestão de Pessoas. Sthephany Aguiar Eufrásio, gerente administrativa, revela que, entre os principais motivos da instituição contratar alunos está na vivência dos universitários no ambiente acadêmico. “A importância da contratação de alunos para algumas vagas acontece pela vivência no campus, ambientação a cultura organizacional da instituição, conhecimento de processos internos, valorização do estudante e ainda possibilidade de retenção do estudante por maior tempo devido à

Foto: João Pedro Carvalho

A

tualmente, a Universidade Católica de Brasília conta com 186 colaboradores que são graduandos da instituição. Estes funcionários recebem uma bolsa auxílio de até 75% dependendo do cargo que ocupam e do salário que recebem. Esta porcentagem, após cinco anos trabalhados, sobe para 85%. Para os alunos que conseguem nota igual ou superior a nove, a UCB disponibiliza bolsa de cem por cento na mensalidade do semestre seguinte. Para Mariana Silva, 22 anos, estudante de jornalismo que trabalha há 11 meses como auxiliar administrativo na direção do curso de biomedicina, umas das vantagens de trabalhar no mesmo local onde estuda é a fácil mobilidade: “Não perco muito tempo para me locomover ou pegar trânsito para ir a outra universidade, a bolsa funcional que me proporciona pagar um valor muito bom e acessível”. Mas há casos em que trabalhar e estudar no mesmo local pode ter desvantagens. Radimila Gomes, 22 anos, estudante de administração, trabalha como auxiliar administrativo no campus. Segundo ela, mesmo não estando em horário de trabalho, acaba se envolvendo com questões relacionadas a sua função. “Os alunos que sabem que trabalhamos aqui acabam pedindo favores que nos forçam a trabalhar até mesmo quando estamos fora do nosso horário de trabalho e muitas vezes acham

Radimila Gomes e Rayane Guimarães trabalham e estudam na UCB bolsa funcional”, diz Sthephany. Área de trabalho Alguns conseguem trabalhar em funções relacionadas a sua área de formação, mas muitos outros não. Segundo Rayane Guimarães, 30 anos, estudante de Engenharia Civil e funcionária do Atende - setor responsável por acolher demandas administrativas dos estudantes, infelizmente sua função não lhe proporciona conhecimentos em sua área de formação. Mesmo assim, Rayane reconhece que o aprendizado é válido. “Faço Engenharia Civil e trabalho na área administrativa. Como conhecimento nunca é demais, as planilhas, textos, atividades que realizo como administrativo pode ajudar a desenrolar algo em outras

áreas. Acredito que a experiência vivida aqui, apesar de não ser na mesma área, contribui para o crescimento profissional”, afirma a estudante. Faiara Assis, 26 anos, formada em Publicidade e Propaganda e atualmente graduanda em Jornalismo garante que o local onde trabalha na instituição possibilita muito conhecimento em sua área de formação e também abriu portas para suas futuras pretensões. “Trabalho há quatros anos como fotógrafa na Diretoria de Comunicação e Marketing (Dicom) e como funcionária da instituição ganho uma bolsa que abrange tanto a graduação como a pós, mestrado e doutorado, o que me ajudará a dar continuidade a minha jornada acadêmica”.


Oportunidades 21

Artefato Inovações

Empresas exploram potencial do Instagram Forte aliado na venda de produtos, o aplicativo mais usado pelos jovens salva pequenos empresários e beneficia “instablogueiros” com dinheiro e “mimos”

U

m estudo feito em abril pela Forrester Research mostrou que o Instagram é a melhor forma das marcas se comunicarem com os usuários. Criado com o intuito de permitir que o usuário fotografe algo que considere interessante e jogue a imagem na rede de forma simples e rápida, hoje o aplicativo já abre outras oportunidades. Os processos desenvolvidos por trás do Instagram são influenciados por aquilo que o sociólogo Castells identificou como uma nova forma de estrutura social, associada ao informacionalismo, um novo modo de desenvolvimento, apresentado como produto da reestruturação capitalista, na qual o conhecimento junto à comunicação por meio de símbolos é fundamental. Especialista no assunto, a professora de comunicação da Universidade Católica de Brasília Sheila da Costa Oliveira diz que “dados estatísticos comprovam que essa rede é a mais utilizada por adolescentes e jovens adultos, pessoas que não costumam ser muito racionais no consumo. Portanto, propagandas publicadas nesse espaço tenderão a exercer uma influência maior sobre o público que o frequenta”. Estalo O aplicativo se torna um forte aliado para chamar a atenção de consumidores, como conta Marcelle Paim, 29 anos, dona de uma loja de roupas, a Nega Flor

Moda. A designer foi para Goiânia e depois de realizar o sonho de abrir sua própria loja precisou tomar medidas para que a mesma não tivesse suas portas fechadas pela baixa quantidade de vendas. De repente, um estalo: divulgar a marca por meio do Instagram e fazer parceria com instablogueiras conhecidas que atrairiam clientes para o estabelecimento. Foi um sucesso. A loja expandiu e em menos de um ano, as vendas subiram consideravelmente. Hoje, além de ser uma loja física, Marcelle Paim exporta looks completos para diversos estados e as parcerias continuam crescendo a todo vapor. A empresária conta ainda que os looks que são postados são vendidos muito rapidamente. “Cerca de 80% de todas as minhas clientes foram conquistadas a partir do Instagram”, estima. Mesmo que sejam informais, estas parcerias são vantajosas para ambos os lados. Os instablogueiros divulgam os produtos no Instagram, às vezes recebem o pagamento em dinheiro, mas, em sua maioria, recebem mercadorias em troca das postagens, as famosas permutas. “Mimos” Natália Ribeiro, 19 anos, é um exemplo disso. A jovem que tinha o Instagram como hobbie, ganhou o concurso de Miss Samambaia e ao adquirir mais seguidores no Instagram, começou a realizar trabalhos como modelo e a divulgar looks no aplicativo, promovendo lojas de roupas como a Mview e a Lob Vintage, com as quais tem um contrato fixo.

Foto: Jacqueline Santana

por Jéssica Duarte

A instablogueira Natália Ribeiro usa o perfil para divulgação de marcas A jovem, que faz parte de uma geração cada dia mais consumidora, acaba aliando o trabalho à satisfação pessoal, e sendo beneficiada com o reconhecimento do público e com peças de roupas, que muitas vezes poderiam ser inacessíveis. Gabriela de Almeida, 20 anos, é blogueira e usa o Instagram para divulgar as atualizações feitas em sua página. Ela conta que em breve dará início a uma nova parceria

para o blog: “gabi não, Gabriela”, mas, enquanto isso mantém uma parceria fixa com algumas lojas de roupas e acessórios, como a Aventure aqui de Brasília e a Balalum Acessórios, uma loja virtual. A cada determinado número de posts, Gabriela recebe cerca de R$ 50 ou permutas – os “mimos” cedidos pelas lojas para as blogueiras e instablogueiras fazerem a divulgação das marcas.


22 Comportamento

Artefato

Jovens

Geração Y conhece crise de realização Quando a realidade de vida não sai como o planejado, os jovens da chamada geração Y se tornam pessoas infelizes

Foto: Manoel Ventura

por Carolina Vajas e Fernanda Pinheiro

A

A dependência tecnológica é um dos fatores cruciais para o agravamento da ansiedade

geração Y é formada por jovens da década de 80 e 90, que cresceram sob o impacto da informática na comunicação. São conhecidos pela agilidade em aprender e desenvolver suas funções, fazendo questão de controlar simultaneamente a vida pessoal e profissional. Por estarem acostumados a viver em um ritmo mais acelerado, em que

tudo, ou quase tudo, acontece de forma instantânea, acabam se frustrando por não conseguirem realizar aquilo que sonham na mesma velocidade. Essa geração entra no mercado de trabalho cada vez mais cedo, acreditando que todos os seus sonhos virarão realidade rapidamente. Ansiosos e com grandes expectativas quanto ao futuro, acabam tendo dificuldade

em enxergar seus próprios objetivos. Quando a realidade de vida não sai como o planejado, os jovens da chamada geração Y se tornam pessoas infelizes. Estudante de Jornalismo da Universidade de Brasília (UnB), Juliana Perrisê sofre com a ansiedade desde o ensino médio. Para controlar os sintomas, toma remédio controlado receitado por um psiquiatra e faz terapia

há quase três anos. Ela diz que costuma criar grandes expectativas. “O problema é que quero que tudo dê certo. Quero casar, ter filhos, ter um bom emprego. Coloco muita pressão em mim para que sempre consiga boas notas, bons trabalhos, para que eu possa alcançar minhas expectativas pessoais”, conta. A cobrança familiar em superar seus antecessores é


Comportamento 23

Artefato grande, pois os “privilégios” atuais, relacionados aos estudos e às oportunidades, fazem com que o jovem se sinta na obrigação de ter uma boa condição de vida e sucesso profissional - fatores que influenciam e favorecem o imediatismo. Juliana Perrisê diz ter sofrido muito com essa cobrança, principalmente pela escolha do curso. “Lembro que quando escolhi jornalismo, minha família apoiou, mas sempre soltando comentários como: ‘Tadinha, não vai ganhar dinheiro.” O jovem que passa por essa crise necessita estar ativo. Para ele, ser ágil é uma forma de mostrar serviço e inteligência. A estudante da UnB se considera uma pessoa imediatista e espera que as coisas aconteçam logo. “Eu me preocupo com o tempo e me sinto nervosa quando fico muito tempo parada. Definitivamente

não sou uma pessoa que gosta de esperar”, diz. O uso das tecnologias é um fator crucial para a ansiedade. A dependência tecnológica faz com que esses jovens tenham suas vidas presas ao celular e computador. Segundo pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), um terço dos entrevistados afirma ter tido o primeiro contato com a internet aos 9 ou 10 anos de idade. Os dados mostram que 36% deles acessam a internet por meio de computadores, e 21% via celular. “Semana passada, meu celular simplesmente parou de funcionar, e eu chorei! Acho que o problema é que estar conectada já virou uma coisa essencial, e sem esses aparelhos, sem essa tecnologia, fico extremamente frustrada e ansiosa”, contou a estudante de jornalismo.

Profissionalismo Apesar de muitos jovens viverem em crise, a geração Y se destaca pela pró-atividade e a maneira que conduz tarefas múltiplas - qualidades que atraem o olhar de muitas empresas por se tratarem de demandas atuais do mercado. Porém, algumas delas ainda têm dificuldade em promover ambientes que atraiam esses jovens que se transformarão nos líderes de amanhã. Hoje em dia, muitas organizações como a Odebrecht e a Nestlé já estão investindo em programas de trainee, coaching e mentoring, que fazem com que o jovem participe mais e que seu papel no ambiente de trabalho seja mais ativo. Para a psicóloga e mestre da Universidade Católica de Brasília (UCB) Adriane Moreira, os motivos dessa crise são culturais e sociais. A globalização leva ao

imediatismo e a necessidade de reconhecimento instantâneo, no entanto, esses jovens possuem uma carência de que as empresas se adaptem a suas características. Moreira acredita que a solução para essa crise é o tempo - com paciência, essa geração ganhará estabilidade. A crise da geração Y ocorre em prol de um imediatismo completamente focado em um futuro cheio de expectativas. “Sei que isso é ruim pra mim e, por isso, faço terapia e uso medicação. Quero melhorar. E tenho melhorado”, finalizou Juliana Perrisê. Fatores como o treinamento profissional, o ambiente de trabalho criativo e dinâmico, oportunidades de liderança e altos ganhos no futuro estão da lista desses jovens. Para eles, o importante é acumular o maior número de experiências no menor prazo possível.

Bianca Genú - estudante de Relações Internacionais da UCB “Pelo nosso mundo de tecnologia, todos são um pouco imediatistas. Com esse costume de ter tudo rápido, os jovens não conseguem esperar. Porém, acho que ainda consigo controlar isso bem”.

Daniela Sinimbuh - estudante de Engenharia Civil da UCB “Vejo que o que espero que se realize na minha vida está acontecendo devagar. Mas também sei que precisamos ter paciência”.


24

Saúde

Artefato

Angústia

Aborto: problema de saúde pública, dilema na vida privada

O Brasil permite o aborto em casos como estupro, riscos à vida da gestante e feto anencéfalo, mas prática ilegal atinge população mundial

por Amanda Bartolomeu e Bianca Amaral Foto: Gabriella Bertoni

O

aborto ilegal é um alarmante problema de saúde pública que atinge a população mundial. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), anualmente, acontecem até 3,2 milhões de abortos inseguros em países em desenvolvimento envolvendo adolescentes de 15 a 19 anos. Estima-se que 70 mil adolescentes em países em desenvolvimento morrem a cada ano por complicações durante a gravidez ou no parto. O Secretariado Geral da Organização das Nações Unidas publicou um relatório em inícios de 2013 assegurando que o aborto e a pílula do dia seguinte são um “componente integral” de qualquer resposta à violência sexual em situações de conflito. A resolução aprovada pelo Conselho de Segurança está centrada na prevenção e atenção da violência sexual em situações de conflito, o qual alcança a mulheres e crianças. O Supremo Tribunal Federal (STF) estabeleceu, em 2012, por oito votos contra dois, que gestantes que conduziam fetos anencéfalos poderiam interromper a gravidez através da assistência médica.

A prática do aborto é permitida por lei em casos de estupro e anencefalia


Saúde 25

Artefato Namorados não conversam Robson, um rapaz moreno e alto e de aparência jovem, estranha quando lhe perguntamos sobre aborto. Tímido, ele prefere não responder, pois ainda não havia se imaginado em tal situação. A namorada, Patrícia, uma moça magra e baixa, ao ouvir a pergunta, sorri sem graça, mas não se furta a conversar. Segundo Patrícia, o namoro já dura seis meses, porém nunca dialogaram sobre uma

possibilidade de aborto. “Nunca falamos sobre isso, apenas tomamos cuidado ao ter relações sexuais. Filho, agora, não”, afirma. Por outro lado, o casal Leonardo e Rebeca, mais experientes, condena o aborto. Estão juntos há um ano. Leonardo, neste caso, é quem responde a pergunta, e Rebeca, mais recolhida, fica sem graça. “Esse é um assunto que confesso ser bem reservado, mas no caso, eu e

minha namorada preferimos ter o filho. Aborto é crime”, afirma Leonardo. A falha para tantos casos de aborto acontecerem também se encontra na prevenção à gravidez. Faltam investimentos em práticas adequadas no país, para prevenir conscientizar os adolescentes. Muitas das vezes a maioria dos casais vivenciam situações em que a mulher fica constrangida em pedir que o parceiro utilize o preservativo. Por culpa dessa

“opressão”, a consequência pode ser um filho indesejado e depois em aborto. Pesquisa realizada pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), aponta que uma em cada cinco mulheres entre 18 e 39 anos, alfabetizadas já fizeram procedimento de aborto pelo menos uma vez no decorrer de sua vida. A prática do aborto é realizada com maior frequência por mulheres com menos escolaridade.

Lúcia nunca mais viu o ex-namorado

“E

u namorava há três anos. As brigas eram constantes no meu relacionamento, e entre términos e voltas, engravidei. Ele era mais velho, porém não tão diferente, eu tinha 15 anos e ele 19. Percebi que minha menstruação tinha parado, mas não dei muita atenção. Depois de um tempo, minha barriga começou a crescer, mas como eu era “cheinha”, quase ninguém percebeu. Quando contei para o meu namorado, ele não acreditou e achou que era “drama” meu para que não terminássemos. Só acreditou em mim quando mostrei o teste de gravidez.

No começo ele ficou muito assustado, mas depois falou que iria assumir. O tempo foi passando, e quando estava prestes a completar três meses de gestação, brigamos, e decidi não ter mais aquela criança, pois minha família ainda não sabia de nada. Foi então que decidi procurar uma maneira de “tirar” o bebê. Foi em um sábado que decidi ir à casa de uma amiga, ela me levou em uma clínica clandestina. Lembro que tomei um remédio muito forte, me colocaram em uma maca de ferro e mandaramme abrir as pernas. Lembro que na ponta da maca tinham

ferros enormes em um formato semelhante de um “V”, então eu apaguei. Depois me lembro de ter acordado em casa, estava muito mal. Na realidade passei mal a semana toda, delirando várias vezes e fiquei de cama. Minha sorte foi que minha tia cuidou de mim, pois minha família continuou sem saber.” Lúcia disse que por culpa de sua atitude desesperada irá carregar esse peso para sempre em sua consciência, e as consequências ficarão na memória. “Foi uma atitude desesperadora, estava triste e sem vontade de realmente ter essa criança, nunca mais falei com meu ex-namorado”.

Fotos:Gabriella Bertoni


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Cultura

Artefato

Música

O rap narrado por elas Semeando revolta e não flores, as mulheres estão tomando conta do cenário rap no Distrito Federal

Foto: Marianne Paim

por Amanda Costa e Amanda Rodrigues

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Cenário do Rap no DF conta com a participação feminina cada vez mais crescente

rap sempre esteve inserido nas comunidades porque os seus protagonistas são a voz daqueles que ali se encontram, quase sempre surgidos nas cidades satélites e no Entorno. Verdades e revoltas estão descritas nas letras do estilo denominado “gangsta”, que retratam realidades como tráfico, violência policial, descaso de governos e as diversas dificuldades da periferia. É o protesto através do som, das palavras, da CDJ, do grave. No estilo musical, as mulheres também colocam para fora o que há anos são reivindicações legítimas, como o combate a injustiças sociais. Por meio da letra corrida e linguajar solto, elas encontram o respaldo para denunciar, semeando revolta e exigindo respeito.

Elas trazem brilho e atitude Algumas das mulheres que ocuparam seu espaço e mostraram para que vieram no cenário do rap no Distrito Federal foram: Atitude Feminina – pioneira no rap feminino no DF; Chely (Etnia das Ruas); Júlia Nara (É nóis q tá); Julie Lima; Jocilaine (Dialeto sound crew); Layla Moreno; Lidia Dallet; Natacha Kulla; Cleo Street; N Katrina; Raynara Diadof e Bella Dona. Júlia Nara é uma rapper que “canta além do rap”, com o estilo centrado, onde puxa o rap por meio da percussão. Ela afirma que também canta reggae e samba de raiz. “Eu viso dar voz à mulher da periferia, ser a voz de todas as mulheres. Hoje tenho outros conceitos e canto música de outras pessoas”. Em

2010, ela formou o grupo Função Periférica com a rapper Amanda Silva. Atualmente ela faz parte de um grupo criado com as amizades feitas no decorrer da vida e que formaram o “É nóis q tá”. Um grupo de rap antigo são as meninas do Bella Dona. Com início em 2004, elas trazem a mistura do Black através de músicas que reúnem diversos estilos do gangsta rap, passando pelo Dirty South, Crunk e o Bass. Com novo CD, intitulado “A flor da Pele”, produzido pelo rapper Duckjay, Taty, DJ Janna e Rayla estão se tornando mulheres ativas no cenário do rap. A fundadora do grupo, Taty, começou a cantar desde pequena na igreja. Em 1998, começou a cantar back vocal e depois formou um grupo com algumas

meninas que durou apenas três anos. “Recebi o convite de entrar para um grupo em que só havia mulheres, eu só aceitei por isso. Como já era compositora, começaram a gravar as músicas que eu tinha. O grupo acabou porque elas acabaram desistindo, não sei por que isso acontece muito com as mulheres no rap, elas não seguem a carreira”, afirma Taty, que continua cantando e fazendo rap mesmo após várias dificuldades. Donas da Rima No cenário do rap feminino do Distrito Federal, o projeto que vem há seis anos ajudando essas meninas a crescerem no mercado é o Donas da Rima. O projeto é uma iniciativa do Coletivo Nakadura Produções, criado em


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Foto: Arquivo Pessoal

2008 por jovens das periferias do Distrito Federal. Conta com o financiamento do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC/DF) e tem como foco dar destaque para as mulheres que estão crescendo no cenário do Rap no Distrito Federal, com a realização de 10 videoclipes. Dividido em duas etapas, criação e finalização, o projeto tem como foco a produção de um dvd com o material selecionado. O objetivo é despertar a vontade de outros jovens de se envolverem na história local de suas comunidades e refletir sobre questões sociais do ponto de vista da cultura. Um dos destaques do ano de 2014, foi o grupo Bella Dona. As meninas tiveram o clipe da música “Bem Mais” entre as 10 selecionadas para compor o dvd.

Cultura Recepção masculina Chely, que compõe o grupo Etnia das Ruas, acredita que tem mudado o quadro porque antigamente a mulher era mais reprimida, e hoje elas têm liberdade de expressão e que, apesar das dificuldades, alguns homens apoiam e incentivam o trabalho delas, como é o caso de Japão. Japão (Viela 17) faz rap há 25 anos e é um dos pioneiros no estilo musical do cerrado. Ele acredita que as mulheres estão em cena para somar de uma forma contundente, e que a mulher de atitude conquista seu espaço por conta própria. Para Japão, o papel do rap é contra-atacar sempre. Uma mulher hoje que exige melhoria de vida e denuncia a violência

doméstica ou o estupro, a falta de assistência à saúde ou em qualquer fator social fala com mais propriedade do que os homens, porque sente na pele essas indiferenças. As pessoas falam que o rap é machista, mas ele discorda e enfatiza que machista é o sistema, que produz jovens viciados e reprodutores desse modelo. Os projetos de governo não incentivam essa iniciativa, porque todos os eventos são feitos com ‘carta marcada’, e isso dificulta a disputa por espaços em eventos públicos culturais. Chave do segredo: Persistência Uma das maiores conquistas para as meninas do Bella Dona é a participação na firma Kamika-z, composta por oito grupos, todos masculinos, e que

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aceitam o Bella Dona com todo o apoio e amor. “Somos totalmente unidos. Nosso Produtor é o Duckjay, que sempre acreditou no meu trabalho e sempre acreditou no Bella Dona. Todo esse complemento faz com que a nossa aceitação venha crescendo cada dia mais”, diz a rapper. Para Taty, a maior conquista para que o grupo Bella Dona chegasse longe foi persistir no rap e nunca desistir. “A questão não é entrar no rap, entrar é muito fácil você ir pra um estúdio e gravar um som. O difícil é você continuar no rap e fazer com que as pessoas continuem ouvindo seu som e acompanhem e gostem do seu trabalho ao longo dos anos. Aí sim passa a ser uma conquista”, conclui.

“Quando eu iniciei sempre tinha uns caras tirando onda, achando que você é incapaz. Mas eu sempre procurei trabalhar, nunca foquei o Bella Dona com o rótulo “ah, somos mulheres, o sexo frágil”, sempre vi a gente como um grupo de rap e queria que todos nos respeitassem dessa forma. Nunca rebati nem fui chorar nem lamentar. Eu sempre respondi com o trabalho a altura e sempre fui reconhecida como uma MC”.

Taty - Bella Dona

Júlia Nara – É nóis q tá

Foto: Marianne Paim

“Sempre que a mulher vai subir no palco é um problema para o homem. Porque é um espaço muito machista. Mas já tem muito mano que tá abrindo espaço pra gente. A gente nunca encontrou um problema grande assim não, mas se um dia encontrar, vamos saber enfrentar isso”.


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Cultura

Artefato

Sétima arte

Salas de cinema migraram da “rua”para o shopping Vigor do 47º Festival de Cinema Brasileiro não impede de refletir sobre o significado do desaparecimento dos espaços de cinema tradicionais da capital

Foto: Thiago Siqueira

por Thiago Baracho e Marina Maria

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Cinemas de rua estão cada vez mais escassos

s cinemas estão cada vez menos nas ruas, praças, bairros, quadras ou superquadras. E sobrevivem apenas na memória dos mais velhos. As novas gerações só os conhecem nos shoppings. Principal sede do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que conheceu sua 47ª edição, só o Cine Brasília, na 307 Sul, conserva as características tradicionais. Na década de 1980 o cenário era bem diferente. “Os cinemas de rua de Brasília eram, em sua maioria, muito grandes, chegando a comportar 1.200 espectadores, a tela também era maior, se comparada ao Multiplex. Quem frequenta o cinema de rua vai pelo filme, pela experiência de estar diante da tela”, afirma Samita Barbosa, autora do trabalho de conclusão de curso intitulado “Um panorama sobre

o processo de declínio das salas dos cinemas de rua do DF”. Muitos desses cinemas são emblemáticos para os moradores do DF. No Conic, contavam-se seis cinemas: Bristol, no subsolo; Atlândida, o maior; os “irmãozinhos” Miguel Nabut e Badya Helou; e o Cine Ritz. E pelo menos outros três grandes cinemas existiam em Brasília: o Cine Karim (110 Sul); o Cine Márcia, no Conjunto Nacional e o Cine Brasília. Em Taguatinga havia o Cine Paranoá e o Cine Lara. O Cine Karim, onde filas enormes se formavam para assistir às sessões, foi vendido para uma Igreja e o próprio Cine Brasília gerou fortes rumores sobre seu fechamento, mas manteve-se firme e aberto. Hoje tombado e apoiado pelo GDF,

não é apenas um local de exibição para filmes, mas também um formador de espectadores. No Conic, epicentro caótico de Brasília, há uma representação da diversidade que há na capital federal. Sindicatos, igrejas, sex shops, sinucas, danceterias, lojas de material esportivo, fotográfico, camisetas, saunas, escolas de teatro, escritórios. Tudo coexistindo no mesmo local. Ali reinava o Atlândida, um cinema cujas sessões noturnas davam medo na saída. Já o Márcia era o segundo maior cinema do DF, perdia só para o Cine Brasília na época com quase 1000 lugares (hoje são 606 acentos). O Cine Lara e o Paranoá ficavam no centro de Taguatinga. Todos esses cinemas tiveram anos de ouro que precederam um fim decadente. Por descaso dos administradores da região, foram perdendo público até serem vendidos. Há quem diga que Brasília nunca foi uma cidade cinéfila, se comparada com outras grandes capitais. É bem verdade que a cidade conta ainda com uma variada programação de cinema, graças ao CCBB, ao Espaço Cultural Itaú, ao Festival Internacional de Cinema, ao Festival de Brasília, etc. Fora isso, o cinema se vê nos shoppings,

onde coleciona filas apesar de exibir uma programação que deixa muito a desejar. “A programação é diferente justamente pelo objetivo de cada um. O Multiplex tem os lançamentos, mais salas e mais horário a fim de receber mais lucro. O cinema de rua proporciona a experiência de estar no cinema e apreciar a sétima arte. Quem busca lançamento vai ao cinema de shopping. Quem quer assistir a filmes fora de circuito ou clássicos tem que buscar alternativas, como os festivais e mostras de cinema”, explica Samita. Fenômeno nacional, também é raro os cinemas comerciais que sobrevivem na rua em outras grandes cidades brasileiras. Em São Paulo, por exemplo, apenas cinco cinemas comerciais estão em funcionamento “na rua”. O número dessas salas diminui ano a ano e a tendência é que se acabem. As perguntas se multiplicam. Será que os televisores gigantes e a comodidade do DVD player, o poder cativante das novelas foram suficientes para afastar o público do cinema de rua? Será que essa arte, feita pra ser vista em grupo, e que perde adeptos tem alguma chance contra essa nova corrente que se apresenta?


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