Ano 17 - N° 5 - Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília - Distribuição Gratuita - Set/Out de 2016
Elas dominam a noite DJ’s e tatuadoras mulheres ocupam cada vez mais espaço, mas ainda sofrem discriminação Pág. 12 e 13
Foto: Aline Brito
SAÚDE
ESPORTE
COMPORTAMENTO
Suicídio no Brasil: principais vítimas são jovens de 15 a 29 anos
MMA: a luta que virou mania nacional tem vantagens e desvantagens
Relacionamentos Abusivos: sites oferecem ajuda e apoio
Pág 16 e 17
Pág 19
Pág 15
EDITORIAL O impeachment da presidente Dilma Rousseff abalou a estrutura do país. Em meio aos protestos dos contra e a favor, o ano 2016 nem acabou e já pode ser visto como um ano de mudanças, extremos e muita polêmica. Desde que o então vice-presidente Michel Temer passou a ocupar o lugar de Dilma, o Brasil está refém da palavra “reforma”. Após lançar a proposta de Reforma da Previdência – recuar e prometer enviar ao Congresso “nos próximos dias”-, o atual governo apresentou outra sugestão. A Reforma do Ensino Médio – três últimos anos da formação dos estudantes antes do ingresso no ensino superior - caiu como uma bomba. Especialistas, pesquisadores, professores e estudantes reclamaram que não foram ouvidos. O governo quer a mudança por meio de Medida Provisória – quando o presidente da República propõe e o Congresso chancela ou não. Há sugestões de ampliar a grade horária e transformála em ensino integral, com 1,2 mil horas por ano, o que exige um projeto de ensino elaborado e mais investimentos, algo que não combina com o propalado ajuste fiscal defendido pelo Palácio do Planalto. Uma das mudanças mais contestadas tratam do conteúdo obrigatório que deve ser reduzido para cinco áreas de concentração: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional. E Artes? E Educação Física? E História e Geografia? Outra polêmica é a possibilidade de contratar professores com “notório saber”, ou seja: aquele profissional que tem conhecimento na área específica, mas não apresenta formação nem títulos acadêmicos. A iniciativa do governo Temer é arriscada, precipitada e no mínimo perigosa para o futuro profissional das crianças e adolescentes que se preparam para o mercado de trabalho. Os problemas da educação no país não serão solucionados apenas com aumento de carga horária, flexibilização ou retirada de uma ou outra disciplina. Há uma necessidade de reavaliar o conjunto: faltam estrutura no ensino público e os profissionais não são valorizados, isso só para começar. Não é somente o ensino médio que precisa de reforma, mas a educação como um todo. E da forma como está, essa reforma que “varre” o problema para de baixo do tapete não resolverá a questão. A educação precisa de mudanças que, de fato, melhorem a realidade atual não só dos estudantes, mas dos professores, escolas, instituições e de toda a sociedade. O país é como uma casa: o dono não decide fazer a reforma da noite para o dia. Ele analisa as reais necessidades, observa o que quer fazer e como irá executar, consulta especialistas da área e só depois de tudo planejado, aguarda o momento adequado quando terá recursos financeiros e tempo disponíveis para, assim, iniciar as mudanças. Não basta pegar um martelo e sair quebrando tudo. Toda e qualquer reforma deve ser muito bem planejada para que, futuramente, as paredes não caiam e o teto não desabe. 2
EXPEDIENTE Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília Ano 17, nº 5, setembro/outubro de 2016 Reitor: Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Garcia Pró-Reitor Acadêmico: Dr. Daniel Rey de Carvalho Pró-Reitor de Administração: Prof. Fernando de Oliveira Sousa Chefe de Gabinete da Reitoria: Prof. Dr. Dilnei Lorenzi Diretora da Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação: Drª. Christine Maria Soares de Carvalho Coordenador de Curso de Jornalismo: Prof. Dr. Joadir Foresti Professora responsável: Drª. Renata Giraldi Professora Auxiliar: MsC. Angélica Córdova Orientação de Fotografia: MsC. Bernadete Brasiliense Apoio: MsC. Fernando Esteban, Larissa Nogueira e Marianne Paim Apoio Técnico: Sued Vieira Monitora: Jéssica Luz Editores-chefes: Bárbara Xavier e Fernanda Sá Editores de arte: Isabela Menezes e Mateus Lincoln Editores de texto: Marina Brauna e Tarcila Rezende Diagramadores: Flávia Pacheco, Celise Duarte, Gláucia Cardoso, Lucas Rodrigues, Péricles Lugos, Raphaella Torres e Rosana Carvalho Editores de fotografia: Celise Duarte e Flávia Alves Subeditores de fotografia: Thiago Suares Editores web: Bruce Leandro e Luiza Barros Social mídia: Charles Jacobina e Gabriela Mota Repórteres: Amanda Ferreira, André Baioff, Bárbara Bernardes, Bruna Andrade, Elizabeth Oliveira, Faby Rufino, Fernanda Sá, Gilvanete Costa, Gláucia Cardoso, Isabela Moreno, Lorena Souza, Luiza Barros, Maiza Santos, Marina Brauna, Marina Raissa, Matheus Contaifer, Mylena Tiodósio, Raphaella Torres, Rodrigo Souza, Stella Fernanda Soares, Tarcila Rezende, Thais Miranda, Thais Rodrigues, Tissyane Scott, Vítor Stoianoff. Checadores: Maiza Santos, Stella Fernanda Soares, Tissyane Scott e Nikelly Moura Fotógrafos: Aline Brito, Ana Caroline Martins, Ana Clara Arantes, Ana Cláudia Alves, Ana Clara Pessoa, Adriana Gonçalves, Andressa Paulino, André Rocha, Brena Oliveira, Brenda Santos, Bruna Neres, Caio Almeida, Camila Sousa, Daniel Neblina, Fernanda Soraggi, Iago Kieling, Joksã Natividade, Juliana Dracz, Lukas Soares, Mabel Félix, Marcos Prudêncio, Matheus Dantas, Mirelle Bernardino, Patrícia Nadir, Paula Carvalho, Renata Nagashima, Rodrigo Neves, Sara Sane, Thiago Siqueira, Thiago Suares, Verônica Holanda e Yasmin Cruz Ilustrações: Mateus Lincoln, Freepik.com Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia Universidade Católica de Brasília EPTC QS 7, Lote 1, Bloco K, Sala 212 Laboratório Digital Águas Claras, DF Telefones: 3356-9098/9237 Todas as matérias têm ampliação de conteúdo na web. Acesse nossas redes sociais e site. E-mail: artefatoucb1@gmail.com Jornal online: issuu.com/jornalartefato Facebook: facebook.com/jornalartefato artefatojornal.wordpress.com Snapchat: @artefato Instagram: @jornalartefato
Foto: Paula Carvalho
COMPORTAMENTO
Qualquer estrada que eu leve a fé Paróquia celebra missa para motociclistas André Baioff e Gilvanete Costa
A Paróquia São José, no setor residencial Lúcio Costa, no Guará, é uma típica Igreja Católica: da entrada é possível ver o altar com santos, velas e castiçais e ainda há a presença constante de “senhorinhas” que acompanham assiduamente as missas. Mas nas últimas segundas-feiras do mês tudo muda: a igreja é “invadida” por motocicletas que com o ronco de seus escapamentos quebram a rotina suave e pacífica do local. A celebração é chamada “Moto Missa” que reúne moto clubes e motociclistas do Distrito Federal. Os adeptos do motociclismo mantêm o estilo mesmo durante a missa. Homens e mulheres participam da celebração usando coletes e levam a mão os capacetes. A comunidade da igreja não estranha a presença dessas pessoas por lá. Durante a “Moto Missa”, em um determinado momento, o padre Olmer Garcia pede para que os presentes levem os capacetes para o altar para a bênção. De acordo com os motociclistas, o gesto dá uma segurança espiritual a essas pessoas. “A celebração da missa é comum. A não ser quando eles tiram os capacetes e colocam na parte do presbitério, e depois eles trazem alimentos não perecíveis que são doados para a paróquia que os doa para famílias necessitadas”, disse o padre. Sônia Maria Sousa, a presidente do moto clube Centuriões da Paz MC, disse que é a oportunidade dos moto clubes e motociclistas se encontrarem pelo menos uma vez ao mês. Nesse encontro, há pelo menos 50 motociclistas que participam da missa. “É uma forma de louvar, agradecer e pedir. Também de unir os motociclistas porque a proposta do moto clube Centuriões da Paz,
por ter essa palavra ‘paz’ é justamente para unir as pessoas, não se importando o tipo de moto, o brasão do colete e muito menos a sua condição social”, disse Sônia Maria. A presidente do moto clube elogiou a recepção da paróquia aos motociclistas. “Sempre fomos muito bem recebidos. Na Paróquia São José, o padre Olmer nos recebe sempre de braços abertos. Eles são muito cordiais conosco, mesmo muitas pessoas nos vendo como bagunceiros, as pessoas daqui sabem que não é verdade”, ponderou.
Gênesis Sônia Maria Sousa é quem organiza o “Moto Missa” e ela contou que, após algumas viagens viu que havia esse tipo de celebração em outros locais e trouxe há um ano essa ideia para a capital federal. “Eu venho trabalhando essa ideia há muito tempo. Como a gente está nas estradas, a gente viu que tem esse tipo de missa em outros estados, aí eu resolvi trazer para Brasília. E há um ano trouxemos para cá”, disse.
Motoqueiro ou motociclista? Se você quiser aborrecer u m motociclista é só chamá-lo de motoqueiro. Há uma diferença entre u m e outro, segundo Néia Godino, presidente do moto clube feminino Guerreiras MC. E la d isse que motoqueiro é aquele que usa moto para bagunçar e que não respeita regras. Já os motociclistas seguem normas e leis, participam de eventos sociais e campanhas de conscientização no trânsito. Cuidado quando for chamar um motociclista de motoqueiro! #FicaADica
Na busca por uma paróquia que aceitasse o grupo, Sônia disse terem encontrado a Imaculada Conceição, em Vicente Pires, mas o local não era favorável para todos. “O padre era muito amável, éramos muito bem recebido, mas, era muito complicado o endereço. O horário da missa também complicava que era às 19h, dificultando para as pessoas que saem do serviço às 18h chegar até lá”, relembrou ela. Em decorrência desses empecilhos, os motociclistas procuraram outra comunidade. Foi aí que encontraram a São José. O padre Olmer García disse que gosta da presença do grupo. “Quando eles vêm para cá, eles vêm com o espírito de oração. O comportamento é muito tranquilo com muito respeito e até vejo que eles ficam em fé e oração. Sempre muito comportados e com muito respeito com a igreja e, por sua vez, a igreja com eles. A acolhida foi 100%”, observou o religioso.
Vida e fé Os motociclistas contam que a paixão pelo ronco dos motores vem desde cedo. É como uma mágica que hipnotiza. “A paixão já tem um tempo, surgiu quando fiz uma viagem para Campos do Jordão. Lá, eu vi uma porção de motos com aqueles roncos e aqueles barulhos, aquilo me enlouqueceu e me fez apaixonar por aquilo”, contou ela, que disse em seguida comprou uma moto para o filho e depois para ela. Ana Paula Araújo é dona de casa e casada com o Henrique Araújo. Juntos, eles fundaram o moto clube Lobo Negro MC. “A partir do momento que saímos de casa e que colocamos a moto para fora, a gente precisa levar Deus conosco na garupa nos protegendo sempre”, afirmou.
3
COMPORTAMENTO
Resquícios H Dos tempos da escravidão até os dias Marina Braúna e Mylena Tiodósio
O assédio moral contra as trabalhadoras domésticas é recorrente, vez ou outra abusos vêm à tona: agressões verbais, morais ou mesmo físicas são frequentes. Mas há outras formas de violência contra essas mulheres, que nem sequer são reconhecidas como profissionais. Para esta segunda edição da série sobre empregadas domésticas, conversamos com especialistas para entender como o passado reflete nos dias atuais por meio da história. Foi necessário ir ao período do Brasil colônia, compreender o processo gradual de libertação dos escravos, momento em que principalmente as mulheres foram obrigadas a exercer o trabalho doméstico, para chegar ao século 21. Os resquícios desse período se perpetuam, por exemplo, com a manutenção do estilo da arquitetura colonial até os dias de hoje: casas projetadas, a pedido dos patrões, nas quais existem cômodos com proporções reduzidas ou ambientes separados para os domésticos – sempre em segundo plano. Cercada por abusos e violações de direitos básicos, essa classe de trabalhadores formada por 5,9 milhões de mulheres, em sua maioria negras, passou a buscar sua estruturação formal apenas no final do século 21. A primeira grande mudança é de mentalidade ao expor as violências escondidas e os abusos sofridos nas “casas de família”.
4
brasil colÔnia
sÉculo xxi
Mucamas ou Criadas Eram escravas domésticas que cuidavam da casa e das sinhás ou eram babás e amas de leite. Algumas serviam sexualmente os senhores da fazenda.
O quartinho ou senzala urbana É normal ver casas com espaços destinados aos empregados domésticos. A disposição e a segregação das profissionais pela arquitetura remetem às fazendas do Brasil escravocata.
Anúncios nos jornais Escravas de serviço doméstico eram compradas, vendidas e alugadas para cuidar de casas e crianças. Os anúncios detalhavam as funções e as habilidades das escravas.
Uniforme A roupa tornou-se símbolo de subalternidade e segregação. No período escravagista, as mucamas e damas de companhia usavam roupas padrão para serem identificadas.
Pós Abolição Sem opções de trabalho, escravas alforriadas permaneciam nas casas onde serviam. Com baixa ou nenhuma remuneração, ainda eram tratadas como serviçais.
Migração 60% das empregadas domésticas do DF são migrantes do Nordeste e são obrigadas a abrir mão de direitos básicos em nome da necessidade financeira.
legislaÇÃo 1972 A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi criada em 1943, mas só em 1972, pela lei nº 5.858, o trabalho doméstico foi admitido como profissão. 1886 O Código de Posturas Municipais de São Paulo regulou o trabalho de “criados de servir”. Definiu como o trabalho doméstico deveria ser feito e o cadastro delas na polícia. 2013 A PEC das Domésticas instituiu direitos que qualquer outro trabalhador tinha, exceto as empregadas domésticas. Ex: hora extra e jornada de trabalho de 8 horas diárias.
no trabalho domÉstico elas sÃo: negras - São 17% da classe - Salário Médio: R$ 639 - Carteira assinada: 28,6% - Menor escolaridade.
brancas - São 10% da classe - Salário Médio: R$ 766 - Carteira assinada: 33,5% - Maior escolaridade
Ajuda ou apoio - Delegacia do Trabalho (61) 3387-8542 - Sindicato das Domésticas (61) 3226-1533 - Ministério Público do Trabalho (61) 3307-7200 -Foro Trabalhista de Taguatinga (61) 3351-7007
d
s Históricos
s
de hoje: o trabalho doméstico Desvalorização do trabalho, por Lorena Telles: “Esse tipo de serviço é visto como de menor prestígio social por ser manual e majoritariamente feminino. Na verdade, o emprego doméstico deve ser valorizado porque é necessário, exige muitos conhecimentos e tem a ver com o bem estar e a saúde dos empregadores. A valorização desse trabalho só pode vir junto com uma transformação social e cultural do machismo e do racismo”. Lorena é doutoranda e mestre em História Social e graduada em História pela Universidade de São Paulo. Escreveu o livro “Libertas entre Sobrados: Mulheres negras e o trabalho doméstico em São Paulo (1880-1920)”. Foto: Opera Mundi
Escravidão perpetuada, por Ramatis Jacino: “O trabalho doméstico foi uma das poucas opções de trabalho para mulheres negras ao final do período legal da escravidão. Essa função foi, ainda, utilizada como forma disfarçada de perpetuar a escravidão, uma vez que algumas famílias brancas tinham por hábito “adotar” meninas negras que, na verdade, viviam na condição de trabalhadoras domésticas escravizadas”. Ramatis é doutor em história econômica e pesquisador da Universidade de São Paulo. Escreveu a tese “O negro no mercado de trabalho em São Paulo pós-abolição(1912-1920)”. Foto: arquivo pessoal
Arquitetura e preconceito, por Stephanie Ribeiro: “A minha vivência como estudante me levou a querer saber onde estavam os negros na
arquitetura. O meu grande alento veio com “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, que discute o direito à cidade na sua narrativa. Precisamos de pessoas discutindo cidade, estética, urbanismo e espaço sendo negras. A arquitetura e o urbanismo ainda são muito racistas e a cidades e suas construções refletem isso. Stephanie é estudante de Arquitetura e Urbanismo na PUC Campinas, escritora e ativista.
►
Veja na próxima edição: a relação entre patrão e empregada
Foto: arquivo pessoal
5
ECONOMIA
Previdência em crise? Trabalhadores, especialistas e governo divergem sobre mudanças
Maiza Santos
A crise econômica lançou luz sobre um problema que vem sendo discutido e adiado: a Reforma da Previdência. O governo Michel Temer avisou que vai mudar a Previdência Social sob ameaça de falência em dez anos. A proposta divide opiniões entre especialistas e trabalhadores. Para alguns economistas, os números apresentados pelo governo sobre um eventual rombo são contestáveis, enquanto trabalhadores temem as perdas. Pelos dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o sistema da Previdência envolve 54 milhões de contribuintes – apenas trabalhadores na ativa. A receita gerada é inferior às despesas, daí o chamado rombo, estimado em R$ 133, 6 bilhões para 2016, segundo o Ministério do Trabalho e Previdência Social. O valor tende a aumentar a cada ano – podendo atingir o equivalente a 11,14% do PIB em 2060, segundo cálculos do governo. A professora de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Denise Gentil defende que não há rombo na Previdência, mas superávit. Já o professor do Departamento de Economia COMO É
da Universidade Católica (UCB) George Henrique Cunha é favorável à reforma, mas admite que é um “remédio amargo”. “Poderia ter sido feita há dez anos quando a economia mundial estava crescendo. O governo quer ser pragmático, o que vai acontecer é tentar diminuir esse rombo”, afirmou o professor. Para Denise Gentil, o cálculo que o governo faz não corresponde à realidade por não incluir os recursos provenientes da Contribuição Social Sobre Lucro Líquido (CSLL), Contribuição sobre Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e do PIS-Pasep. A renúncia de tributos, a Desvinculação de Receitas da União (DRU) e a sonegação de impostos são apontadas como causas para o rombo anunciado. “Tem que ser outra reforma que não é essa que o governo está propondo. Seria para incluir pessoas que estão permanentemente em empregos informais por causa das condições do mercado de trabalho, jovens desempregados em função da recessão e que não têm condições de ter uma renda. Seria uma reforma inclusiva que trouxesse
COMO VAI FICAR
CÁLCULO DO BENEFÍCIO Determina que o valor da aposentadoria será a média de 80% dos maiores salários “recebidos” a partir de 1994. TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO Utiliza-se o fator previdenciário. Fórmula matemática que leva em conta a idade, o tempo de contribuição e a expectativa de vida do beneficiário. Reduz, consideravelmente, o salário de quem se aposenta cedo.
30 ANOS
35 ANOS
IDADE MÍNIMA FUNCIONÁRIO PÚBLICO // TRABALHADOR RURAL
55 ANOS
60 ANOS
FÓRMULA 85/95 Quem utiliza essa regra recebe aposentadoria integral. A regra favorece quem contribui há mais tempo. SOMA: IDADE + TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO 55 +30 = 85 60 +35 = 85
85 ANOS
6
95 ANOS
TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO - Homens - Mulheres - Funcionários públicos - Trabalhadores Rurais
Todos aos 65 anos
CÁLCULO DO BENEFÍCIO: Percentual de 60% sobre a média das contribuições acrescida de 1% sobre cada ano de contribuição. Para incentivar o trabalhador a contribuir por mais tempo.
as pessoas para dentro da previdência e não afastasse”, ponderou a professora da UFRJ.
Mais divergências Apesar de concordar com a necessidade de uma reforma, o motorista David Ferreira Cruz, 30 anos, entende que igualar a idade mínima para homens e mulheres é um erro. “Para mulheres tinha que ser menor, o desgaste para ela é maior, dependendo da área que trabalha”, afirmou. Porém, a balconista Denise Teixeira Santos Lemos, 21 anos, discorda da reforma e reclama do futuro desgaste de trabalhar em uma idade mais avançada. “A gente tem que se preocupar com o futuro, a aposentadoria é um direito que a gente tem. Com 65 anos vou estar velhinha e trabalhar é um sofrimento. Já é cansativo para nós que somos jovens, imagine aos 65 anos”, reagiu.
Propostas O governo adiou, por várias vezes, o envio da proposta de Reforma da Previdência ao Congresso. Recentemente, governistas informaram que o texto será remetido até o final do ano e a expectativa é votar em 2017. Nesse meio tempo, o presidente da República e os ministros prometem conversar com patrões e empregados. A Reforma atinge diretamente a população mais jovem que tem o desafio de driblar a recessão e o desemprego nos próximos anos. As mudanças irão afetar todos os trabalhadores com até 50 anos de idade no caso dos homens e 45 no caso das mulheres. Para quem já ultrapassou a idade estabelecida, as regras serão mais flexíveis, mas haverá tempo adicional para pedir a aposentadoria. Para os aposentados, pensionistas e aqueles que solicitaram o benefício até a aprovação da reforma, nada mudará.
EDUCAÇÃO
Jovens de Sucesso? Em busca de estabilidade, o serviço público é o foco Foto: Bruna Neres
Vitor Hugo Stoianoff
Visando um futuro com estabilidade financeira, bons salários e vantagens da segurança profissional, tornar-se servidor público é uma meta entre muitos dos jovens residentes na capital federal. Será que vale sacrificar parte da juventude em busca de um cargo público? O caminho não é fácil: requer foco, determinação e abrir mão de horas de lazer e descanso. A revista Exame, versão on-line, listou os concursos mais esperados para 2016: INSS, IBGE, Banco Central e Polícia Federal. Há salários de até R$ 13 mil por mês. Para os jovens de Brasília, o caminho do concurso parece ser o natural, uma vez que a cidade é a capital federal e tem um perfil administrativo. Também há ausência de indústrias e as alternativas apresentadas nem sempre atraem ou dão a segurança esperada. Devido à crise econômica no país, o número de candidatos em busca de uma vaga no serviço público aumentou. O último concurso do IBGE registrou 511.182 candidatos para 600 vagas de técnico e analista, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Formado em Ciências Políticas pela Universidade de Brasília Bruno Lima Teixeira, de 23 anos, foi um dos jovens que a família preparou para seguir a carreira pública. Ele foi aprovado, aos 20 anos, em dois concursos: Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios e no Tribunal
Superior do Trabalho. Vitória comemorada e que ainda hoje é motivo de orgulho. “Fui criado para ser funcionário público. Meus pais sempre me incentivaram a optar pela carreira de servidor público, tanto pela melhoria de vida quanto pela estabilidade financeira. Estudei muito, abri mão de coisas que faziam parte da minha rotina. Festas? Nem pensar. Namorar então...”, desabafou Bruno Teixeira. Já a recém-formada em Pedagogia, Tainara Araújo, de 27 anos, disse que aguarda com ansiedade a realização do sonho da aprovação em um concurso público. Para ela, a conquista ideal é estabilidade financeira e profissional. Mas passar a se dedicar por horas em salas de cursinho e as atividades acadêmicas, a impediram de manter o foco. “Conciliar faculdade e estudar para concursos é algo praticamente impossível. Não tinha tempo para nada, além de não conseguir focar só em um. Agora não vejo a hora de voltar e me dedicar integralmente.” afirmou Tainara, informando que estuda seis horas por dia com um único objetivo – passar em um concurso público. Os jovens também levam em consideração os dados relativos a Brasília cuja renda média é a maior do pais. Segundo o IBGE, o brasiliense recebe em média de R$ 2.055,00. Já a média salarial das outras capitais é de R$1.052, 00. Brasília perde apenas para o Rio de Janeiro
em números de concursados - são 70,3 mil servidores em Brasília, enquanto no Rio o total é de 102,6 mil funcionários públicos, segundo o levantamento do Ministério do Planejamento.
Estabilidade X Satisfação Os que procuram o serviço público afirmam que a estabilidade e a segurança se sobrepõem à busca pela satisfação. A escolha tem até “receita” para passar em concurso público. A primeira é abdicar de horas de sono, das festas, das viagens e da diversão e se preciso for também dos namoros. Tudo para se dedicar integralmente aos estudos. E não para por aí. Abrir mão da vocação profissional também faz parte do perfil daqueles que desejam uma vaga na atividade pública a qualquer custo. Mas será mesmo que vale a pena deixar de lado algo que lhe traga prazer pela tão sonhada estabilidade financeira? Para a psicóloga Karlla Lima, a opção pode gerar consequências graves. A especialista cita como exemplos a desmotivação, frustração e traumas devido ao desgosto pela profissão. “A realização de uma boa avaliação psicológica em todos os concursos seria de grande valia, pois a avaliação, quando bem-feita consegue afirmar se aquele sujeito está apto ou não para exercer tal cargo”, analisou Karlla Lima ao destacar que é preciso observar excessos de ausências e atestados médicos no serviço público.
7
CIDADANIA
Escotismo, por que não? Movimento mundial ligado a crianças e jovens pode ser mais amplo
Raphaella Torres e Tissyane Scott
8
Já o exercício direto é quando o pai faz o registro de voluntário e assume um compromisso com o movimento e com ele mesmo. Ele pode ser escolhido ou indicado para ser ou escotista ou dirigente administrativo. O escotista vai trabalhar juntamente com os jovens e o dirigente com a diretoria, auxiliando na organização. Mas antes é preciso passar por um treinamento de três etapas: quando o adulto aprende didáticas, métodos e ferramentas de ensino. Na primeira fase, ele vai aprender sobre o Escotismo. Na segunda, ensina tarefas prévias: o preparo das atividades escoteiras, técnicas de segurança, práticas supervisionadas e
lições de formação. E, na última, há o trabalho de práticas e discussões mais profundas sobre o que é Escotismo. Escotista e professor da Universidade de Brasília Bruno Carvalho Castro Souza disse que é essencial à participação do adulto voluntário nas atividades praticadas pelas crianças e jovens. “Na visão do jovem, ele está apenas aprendendo a fazer mesas e tripés com nós e amarras. Mas, na visão adulta, estamos desenvolvendo uma pessoa melhor, através, neste caso, de coordenação motora, do trabalho em equipe e da cooperação”, observou ele. Para Elizabeth Cristina, adulta voluntária do movimento, o número de adultos ainda é escasso. “Estou aqui, ajudando na formação social, afetiva e espiritual das crianças, se eu não tivesse aqui não ia ter ninguém para me substituir e ensinar essas crianças, precisamos mais da participação dos adultos”, afirmou ela. Bárbara Lopes, 19 anos, participa do movimento há 12 anos, agora faz parte dos adultos voluntários. “O movimento me fez quem eu sou. Estou contente em logo assumir essa responsabilidade, ter a oportunidade de passar tudo o que já aprendi”, lembrando ela, que no Escotismo os ramos vão do Lobinho ao Escoteiro, Sênior e Pioneiro (ver arte). Para Tassyane Regina, adulta voluntária que participa do movimento desde os 14 anos, o escotismo tem outro ponto positivo. Segundo ela, o movimento auxilia o jovem e aumenta a interação com família. “Trabalhamos com os jovens o respeito aos mais velhos e a sabedoria ensinada pelo nosso fundador Baden-Powell e esse conhecimento passado acaba se refletindo na família deles”, afirmou a escotista.
Foto: Marcos prudêncio
Especialista em fazer nós, fogueiras, sobreviver na selva, apaixonado por animais e meio- ambiente - este é o escoteiro. Em geral é associado a crianças e jovens, mas também encanta adultos, que com maturidade e experiência, provam que o movimento escoteiro vai além do que Hollywood costuma retratar. A atuação do adulto pode ser exercida de quatro maneiras. Pela atuação indireta, os pais passam a ser um membro contribuinte por conta do pagamento da matrícula do filho ou filha registrado no movimento. E há também os chamados “Pais de apoio” – que ajudam com caronas solidárias ou na limpeza.
Cultura
Um filme de arrepiar em Brasília
O média-metragem é a primeira produção rodada na cidade Bárbara Bernardes
O “Segredo do Parque” é o primeiro filme de terror filmado e produzido profissionalmente em Brasília, com estreia prevista para o fim de novembro deste ano. É a história do desaparecimento de uma jovem, vista pela última vez em um parque de diversões, onde desenvolve a maior parte da trama. E a partir daí jovens da mesma escola da garota passam a investigar o caso. O roteiro, direção, elenco e a equipe técnica são todos da cidade. Em 2014, a diretora e roteirista Maria Eduarda Senna pensou em montar um do média-metragem, quando ela e o amigo Matheus Leadebal ainda estavam na faculdade de Cinema. “Depois disso passei anos amadurecendo esse roteiro e só agora consegui tirá-lo do papel”, afirmou Duda, formada pelo Centro Universitário Iesb. “É um mercado que está crescendo no Brasil, mais agora com algumas produções como o ‘Dupla Identidade’, ‘Escaravelho do Diabo’ e a série da Globo ‘Supermax’, que eu já gostava, vamos tentar fazer com que nós emplaquemos junto nessa grande deixa”. Empolgada, a diretora quer colocar o filme em cinemas, festivais e fazer um evento de estreia. Duda disse que tem um sonho ainda maior: dependendo da aceitação do filme em Brasília, pensa em transformá-lo em uma série.
Para a produção do filme, os atores foram preparados por dois meses com encontros quatro vezes por semana. Depois, veio a fase da gravação em agosto. O protagonista César Chamma contou que a fase de preparação do filme foi fundamental. “É de deixar louco, mas estávamos bem preparados para isso e foi muito gostoso. Demorou a cair a ficha porque todo mundo é tão bom que eu sempre me perguntava como que com aquela galera toda tão talentosa, logo eu era o protagonista”, contou ele. Chamma faz o papel de Gabriel e disse que desde criança gostava de apresentar peças de teatro. Morou no Rio de Janeiro onde fez cursos para se aperfeiçoar profissionalmente. “A ficha caiu em dois momentos: primeiro no dia em que gravamos o dia inteiro só cenas do Gabriel, e segundo, quando vi minha foto enorme no pôster. É um pouco assustador”, disse ele. Claiperon Souza é brasiliense e amante de filmes de terror. “Gosto de sentir a combinação de angústia e receio do obscuro a espreita. Gosto de ver o quão grandiosa uma história pode ser e impacto pode causar, tendo uma tela separando a realidade da fantasia, e o estado máximo da arte borbulhando criatividade”, contou. Ao falar sobre “O segredo do parque”, Claiperon disse acreditar que o filme pode ajudar
a disseminar a cultura do DF, desde que a história tenha abrangência e contexto com a cidade e suas peculiaridades, e que assistiria contanto que o filme tenha sido bem produzido e tivesse um “quê de cinema”, nada amador.
Desafio A produção do filme decidiu mudar a imagem que se tem de Brasília associada ao cenário político – Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Congresso Nacional e os Palácios do Planalto e da Alvorada. A direção de “Segredo do Parque” resolveu mostrar a cidade a partir da perspectiva de pólo cultural. “Isso deve trazer muito orgulho para todos nós da cidade, creio eu. É muito bom ver que estamos cada vez mais saindo da caixinha das comédias pastelão e filmes políticos! Não que sejam ruins, mas variedade é sempre bem vinda!”, disse Chamma. Para ajudar mais na disseminação cultural brasiliense, a trilha sonora escolhida para o filme wfoi toda composta por bandas de rock de Brasília: Belga, Massay, Lupa Pollares e Dona Cislene. O ritmo das músicas segue o padrão do rock alternativo onde há na maior parte das músicas sons de guitarra, bateria e baixo de forma acelerada. Esse ritmo musical é comum ouvir em filmes de suspense.
Foto: Felipe Menezes
9
LITERATURA
Um ‘senhor’ de 80 anos O clássico é tão atual que se mantém como referência Fernanda Sá
10
a importância desta obra se dá por fazer parte da primeira geração de acadêmicos brasileiros que pensaram o Brasil no pósrevolução de 30 e por guardar influências históricas, acadêmicas e conceituais na produção de intelectual brasileira.
Homem cordial Com riqueza de detalhes, o autor retrata desde a exploração africana, já antes conhecida pelos portugueses até os elementos constituintes de uma democracia, no qual ele dizia que com as características passíveis do povo brasileiro, jamais chegaria numa revolução para transformação do país. No capítulo de maior relevância de sua obra “O Homem Cordial”, Sérgio Buarque de Holanda sintetiza uma das grandes características do povo brasileiro, a herança cultural ‘cordial’. Nela, o pesquisador justifica a dificuldade da distinção entre público e privado, uma vez que faz parte do brasileiro o estilo paternalista e afetuoso. Esse termo acarretou diferentes interpretações entre historiadores e acadêmicos, que fez o autor, ainda em vida, alterar e justificar melhor a característica dada. Para o pesquisador Yamaoka, o conceito de ‘homem cordial’ foi mal interpretado durante muitos anos devido à acepção positiva da palavra “Cordial neste sentido se referia ao domínio das paixões do que do racional. No contexto da obra, o ‘homem cordial’ se caracteriza por uma maior valoração dos laços familiares e do comportamento de caráter afetivo nas relações interpessoais em detrimento da individualidade”, analisou ele.
Para Yamaoka, o termo aplicado pelo autor reflete os momentos políticos atuais, “Na política isso se manifesta num patrimonialismo onde o limite do público e do privado fica comprometido e o chamado ‘jeitinho brasileiro e a nossa política patrimonialista seriam uma consequência da ação do homem cordial na esfera pública” afirmou.
Foto: Livro Meu Companheiro: 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes
Nas artes, é comum determinado produto cultural levar o selo de ‘clássico’, seja no cinema, no teatro e na literatura. Os clássicos sobrevivem ao tempo, marcam épocas e são relembrados com admiração ou são alvos de duras críticas. O filósofo alemão Theodor Adorno dizia que não era por acaso que os nazistas tentavam substituir o termo “crítica” por “contemplação da arte”, como uma forma alienável de apreciar uma obra. Nesse contexto, de contemplações e críticas que o clássico livro Raízes do Brasil, do historiador Sérgio Buarque de Holanda, completa 80 anos do seu lançamento e ainda se mantém como referência pelas gerações, sem perder seu valor. Publicada em 1936, a obra foi o grande trabalho da carreira do historiador, que durante a vida se debruçou no tema da colonização da América, principalmente a portuguesa. Raízes do Brasil aborda aspectos primordiais e característicos da formação generalizada do povo brasileiro, levando em consideração todo legado subjetivo deixado pela colonização portuguesa e busca descortinar valores sociais pré-estabelecidos. Para o historiador e pesquisador AdrianoYamaoka, a obra é importante no campo literário e acadêmico. “Recorro a um conceito amplo do termo ‘obra’, sendo acadêmica, literária ou artística, ela decorre em boa medida de sua relação com seu tempo, o contexto. Raízes do Brasil leva em consideração as particularidades da nossa colonização e da forma de organização da sociedade naquele tempo, desviando de interpretações raciais e eugênicas, muito presentes nesse período”, afirmou. Para ele,
CULTURA
A noite do Dulcina Um lugar onde o subsolo do teatro se transforma em palco de festas
Desde março, o subsolo do teatro da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes atrai os brasilienses ao Conic, no Setor de Diversões Sul, para festas que geralmente tem entrada gratuita. Intitulado de “Sub Dulcina”, o local abriga diversas festas undergrounds da capital, em um ambiente peculiar para os que estão acostumados com lounges e globos de luz. “Sub Dulcina” chama atenção por sua decoração: paredes pichadas, bancos de madeirite, pouca luz e vários ambientes integram o local. Tudo isso no subsolo do Teatro da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, um legado da atriz, diretora e produtora de teatro Dulcina de Moraes, considerada uma das maiores intérpretes da dramaturgia brasileira. O idealizador do projeto Sub Dulcina, Carlos Eduardo Guimarães (Kaká) contou que o ponto fundamental da revitalização do subsolo é trabalhar para que a Fundação Dulcina possa pagar suas dívidas e retomar o projeto de ser indicada para o patrimônio imaterial de Brasília. “É um descaso muito grande o abandono que o local sofreu, não só o Dulcina, mas o centro [Setor de Diversões Sul] como um todo”, disse Kaká. Em 2015 a Fundação Brasileira de Teatro (FBT) convidou a produtora de Kaká para projetar a revitalização dos espaços abandonados da FTB, entre eles o Teatro Dulcina, a Galeria de Arte e o subsolo do prédio onde fica a sala Conchita de Moraes. “Após pensarmos em toda a parte de adequação do local as normas e legislações
vigentes, decidimos por limpar e pintar o lugar, e criar um conceito com a cara do Conic e da cultura alternativa da cidade”, afirmou o idealizador do projeto. Com o dinheiro arrecadado nas festas os organizadores firmaram o compromisso de contribuir com a conta de luz, pagar todas as taxas e alvarás. Além disso, eles recuperaram e ampliaram os banheiros do complexo para dar mais conforto ao público. Uma das festas mais tradicionais do projeto, é a Traxx. Segundo o DJ e produtor da festa, Gustavo Ribeiro, o Foka, desde o início a produção fez a Traxx no subsolo do Teatro. “Estávamos com um projeto de fazer um evento com uma proposta mais real e underground, que fosse acessível e satisfatória. Sem ser festa copo na mão sabe?”, disse Foka. “O lugar é alternativo e tem similaridades com clubes de Berlin e outros países que têm uma cultura underground muito forte. Acho que não existe lugar melhor para se realizar eventos desse tipo”, afirmou o DJ. Quem frequenta o local afirma que o espaço é diferente dos outros de Brasília, o que não deixa de ser mais democrático, abrigando todos os estilos e pessoas. A estudante Natasha Magalhães mora em Taguatinga e começou a frequentar o Conic por causas das festas que acontecem no Dulcina, “A estrutura não é o que consideramos comum, o que torna mais atrativo para mim. É um lugar que comporta estilos diferentes e de fácil acesso para todos os gostos”, afirmou Natasha.
Além de recuperar o complexo cultural e as instalações do prédio, os cultivadores do subsolo dizem que também desejam atrair mais gente para o Dulcina e o Conic. “O local é acessível à todas as cidades do Distrito Federal, pois fica lado da rodoviária, o que contempla pela afinidade cultural e não por segmentação econômica “, concluiu o idealizador do projeto do Sub Dulcina. Depois da revitalização do local, Natasha Magalhães reconhece a importância de tornar o local mais atrativo para que a cultura do local seja preservada e ampliada. “Brasília é uma cidade silenciosa à noite, e muitas vezes faltam opções de entretenimento, é importante para que ao invés de silenciarmos mais a cidade, espaços assim sejam reconhecidos e prestigiados culturalmente, e assim crescendo e tomando espaço para o maior desenvolvimento da região.
Foto: Divulgação
Tarcila Rezende
História Nos anos de 1970, com projeto de Oscar Niemeyer, Dulcina de Moraes (1908-1996) inaugurou o teatro e uma das primeiras faculdades de artes do país. Teatro e faculdade foram batizados com o nome da atriz, transformando-se em referência nacional. A Fundação Brasileira de Teatro (FBT) é responsável pela manutenção e funcionamento da faculdade, que passou por diversas dificuldades financeiras, como poucas verbas para investimento, o que resultou o não pagamento dos salários dos professores, má conservação dos espaços e teve até a energia cortada pela CEB.
11
CULTURA
Em um ambiente masculino, DJ’s mulheres ganham espaço e marcam estilo Faby Rufino
falta de mulheres no meio. Ela contou que teve de lidar com um duplo preconceito: ser mulher e tocar black music e hip hop – ritmos predominantemente masculinos. “Foi a quebra de uma barreira e dependendo do estilo musical é normal termos exigências em termos de técnica profissional. Já não vejo mais como um obstáculo e sim como uma rampa, porque sou abusada ”, comentou Donna, dando um sorriso de meio de boca.
Só garotas Em Brasília, a festa Praia Sunset lançou o Only Girls Edition na qual apenas mulheres são convidadas para tocar e comandar a música. DJ Marcelo, o produtor responsável pelas edições femininas da Praia Sunset, observou que tem várias amigas e parceiras comerciais, daí a ideia de fazer uma festa de mulheres. “Começou a primeira edição comemorando o Dia Internacional da
Foto: Aline Brito
Dj Donna lida com o preconceito duplo: ser mulher e tocar black music
12
Mulher e foi um sucesso, assim resolvemos repetir esta edição pelo menos uma vez por mês”, comentou o DJ Marcelo. Para mostrar independência e propagar o crescimento das DJs mulheres, o site Shejay – metade de Londres e a outra de Los Angeles – faz um sistema de ranking semelhante ao brasileiro Housemag. A diferença é que a lista é composta só por mulheres, na brasileira, os homens também são avaliados. Em ambas, são listadas os 100 melhores DJs do mundo. No ranking estrangeiro, estão sete brasileiras. Na relação do Shejay aparecem: Mara Bruiser em 12º lugar, depois K-Milla em 22º, Ana, do PetDuo, em 42º, Ingrid Santos em 46º, Denise Konzen em 61º, Eli Iwasaem em 64º e Mary Zander, em 74º posição. As sete mulheres têm alguns aspectos em comum: estão na faixa dos 20 anos, moram no Rio ou São Paulo e passaram algumas temporadas no exterior.
Foto: Filipe Miranda
O número de mulheres que ingressam no universo “masculino” de DJs aumenta e elas enfrentam desafios, preconceitos e até discriminação. O motivo? O ambiente dos disc jokey é tradicionalmente masculino. No ranking dos 50 melhores DJs nacionais, segundo a Housemag revista de música eletrônica -, apenas três mulheres conseguiram sucesso suficiente para entrar na lista: Anna (16º), Groove Delight (18º) e Devoshka (49º), comprovando a dificuldade enfrentada por elas para terem seu trabalho reconhecido. Mesmo com os atropelos, a diferença vem caindo e, cada vez mais, mulheres que seguem a profissão ganham destaque no Brasil e no exterior devido à produção de um som diferenciado. Débora Carvalho, a DJ Donna, que está na carreira desde 2000, decidiu entrar no meio profissional depois de ser incentivada por um amigo, também DJ, que enfatizava a
Foto: Divulgação
O som aqui é delas
“O crescimento das DJs em Brasília se deu a partir de muito esforço porque, em cima do palco, trabalhamos dobrado. Mulheres podem tocar melhor que homens, sim! “, comenta Bruna Val, DJ desde 2013.
COMPORTAMENTO
Mulheres Tatuadoras A arte feminina com sensibilidade e criatividade Gilvanete Costa e André Baioff
Dominar um mercado majoritariamente masculino, como o da tatuagem, nem sempre é tarefa fácil. Entretanto, a mulher vem se destacando nesse nicho e provando que pode navegar pelos mais distintos setores profissionais com maestria. A busca por tatuadoras mulheres vem aumentando. A resposta estaria na sensibilidade, delicadeza e no cuidado que a mulher tem ao tatuar. Há três anos, 59% dos tatuadores brasileiros eram mulheres, segundo o Censo de Tatuagens, realizado no Brasil, pela revista Superinteressante. Mariana Aparecida da Silva, 25 anos, é dona de um estúdio de tatuagens em São Paulo, o Geek Ink. Nele, trabalham cinco mulheres e três homens. Ela define seu estilo uma mistura entre o stretchs e aquarela, já trabalhou com semirrealíssimo, mas hoje foca no colorido da arte e traços finos. Ela conta que sua paixão pelo mundo da tatuagem vem desde a infância. “Minha infância inteira foi ligada à arte, passei pelas faculdades de Artes Plásticas e arquitetura embora não tenha concluído nenhuma”, contou Mariana Silva. Na adolescência, a tatuadora se encantou pela arte “body modification”, expressão que em tradução livre significa mudanças ou alterações corporais. “Adquirindo segurança, comecei a tatuar profissionalmente e a me mobilizar para abrir meu próprio espaço”, completou ela.
Preconceito Mesmo o serviço prestado por Mariana sendo de alta qualidade e o estúdio ter um movimento grande de clientes, a artista fala sobre os episódios diários de preconceitos
que enfrenta. As atitudes discriminatórias envolvem questões de gênero, profissão e raça. “A gente recebe olhares tortos e ouve as risadinhas. Sem falar da quantidade de pessoas que entram na minha loja procurando meu parceiro para falar sobre tatuagem e fazem cara de espanto quando apontam para mim como tatuadoras”, contou. A profissional disse ainda que perdeu diversos fregueses quando eles descobriram que ela é que faria a tatuagem. “Já houve situação de pessoas que desistiram de fazer orçamento ou conversar ao saber que eu era a tatuadora. É triste”, lamentou Mariana Silva. Formada em educação física Camila Corrêa, 31 anos, chegou a trabalhar na área por quatro anos e assim que seu contrato de trabalho acabou, decidiu investir na sua paixão antiga e montou um estúdio de tatuagem. A habilidade de Camila para esse tipo de arte vem desde os tempos de escola. “Sempre tive paixão por desenhar, isso começou quando eu ainda era criança, desenhava em qualquer papel, e quando não tinha, desenhava com canetinha no meu próprio corpo e no corpo dos meus coleguinhas”. Lembrando dos tempos de criança, Camila contou que a mãe dela foi chamada na escola onde estudava algumas vezes. “Segundo a professora, eu estava apresentando comportamentos estranhos [risos] e minha mãe disse que eu gostava de desenhar, que fazia isso o tempo todo em casa e cheguei a dizer nessa época que queria ser tatuadora”, lembrou a artista. Segundo Camila Corrêa, a procura pelos seus serviços é bem dividido entre homens e mulheres embora o público feminino seja
maioria quando a tatuagem escolhida exige delicadeza e rapidez. Mesmo com todo profissionalismo, a artista enfrenta desafios diários para se manter firme nesse espaço, antes, dito masculino. “Até hoje ainda sofro por parte dos clientes, na maioria homens, como eles gostam de tatuagens grandes, aí me perguntam se consigo fazer determinado desenho ou estilo, e mesmo eu mostrando tatuagens semelhantes que já fiz, existe esse questionamento”, relatou ela.
Amor e Sensibilidade Para a analista Contábil Patrícia da Silva Batista, a Patti Green, de 25 anos, uma mulher tatuadora faz a diferença. Ela tem oito tatuagens, das quais duas foram feitas por mulheres. “Hoje faço questão de inicialmente procurar por uma mulher para me tatuar”, confessou Patti, que já tatuou com homem. Para ela, a diferença está no tratamento dispensando pelas mulheres tatuadoras. “A mulher tem uma atenção diferente, um cuidado diferente, e realmente se preocupa se você está gostando. Uma sensibilidade a mais. Até hoje só conheci mulheres que fazem as coisas com amor. E o amor deixa tudo infinita vez melhor”, concluiu. Suelen Gonçalves, estudante de 23 anos, já fez três tatuagens, todas com homens. Mas, a jovem garante que não parou por aí. Ela pretende fazer a quarta marca no corpo e para esta escolheu uma tatuadora. A decisão é porque a mulher tem uma maneira particular de trabalhar. “A tatuagem que quero é bem meiga e detalhada. Uma mulher tem uma pegada assim, que deixa a tattoo bem fofinha”, destacou a jovem.
13
ENTRETENIMENTO
É rock no Planalto, bebê No rastro da tradição, bandas brasilienses buscam reconhecimento Thaís Rodrigues e Luiza Barros
boa parte das bandas do Distrito Federal é custeada pelos integrantes que reclamam da burocracia em conseguir apoio neste órgão. Desde os anos de 1970, Brasília consagra bandas que despontaram nacional e internacionalmente, como Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial, Raimundos e a precursora Aborto Elétrico que estão vivas até hoje na playlist.
D’Ladrine Nenhuma ideia vai me impedir de ir bem alto! ♫ A escola foi o primeiro palco, sem terem nenhuma ocupação, os aspirantes a Rock stars Daniel Rodrigues (vocal); Rafael Sanches (guitarra); Rodrigo Keyti (guitarra); Jhonatan Oliveira (baixo); Gabriel Belmonte
(bateria) fundaram a D’Ladrine, “Quando a gente começou a tocar em lugares diferentes, por iniciativa própria, a banda saiu dessa coisa de ‘escola’ e passou a representar o cenário da nossa cidade”, afirma o vocalista. “Mudança” é a palavra que define a banda em relação ao gênero musical, como definiu o vocalista Daniel Rodrigues. Ele disse que o grupo não toca apenas rock, mas diferentes estilos. Como compositor, “experimenta a música” em outro gênero para, em seguida tocá-la como rock: “É uma maneira eficaz de diversificar a melodia de cada música”.
DeLana É o meu sonho e não dá pra fugir ♫ Criado em 2012, o DeLana é uma união
Foto: Thiago Soares
Bandas autorais brasilienses reivindicam mais espaço para divulgação, apoio financeiro e lugares para shows e festivais. Os integrantes alegam que o cenário underground de Brasília já existe, mas apenas ele não é suficiente. Eles reclamam ainda da ausência de espaço nos meios de comunicação, de participar da divulgação dos eventos, de receber subsídios do governo, como a lei de incentivo à cultura - Lei Rouanet - e da autorização para integrar shows e festivais. Todas essas dificuldades agravam os desafios para se consolidar comercialmente. Na busca pelo reconhecimento, as bandas independentes de Brasília participam de festivais e eventos. Geralmente os grupos recebem cachês, pagos com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), mas a maioria desses espetáculos que reúne
14
Foto: Adriana Botelho e Caio Almeida
A banda D’Ladrine mistura diversos gêneros com o rock.
de integrantes de bandas que se dissolveram. Com André Luís Santos na guitarra e vocal; João Pedro Carvalho na guitarra; Jailson Carneiro mais conhecido como “Pulga” no baixo e Junior Rodrigues na bateria. O tempo de estrada influencia o som da banda que se coloca como “alternativa”, segundo o guitarrista: “A banda possui muitos elementos. Sempre escutei muito hard rock e trouxe essa influência para a banda, já o baterista Júnior trouxe o metal com os pedais duplos, nós conseguimos mesclar todas as influências em único som que é o nosso”, afirmou Carvalho. Há cerca de um ano, os integrantes decidiram que era o momento de projetar a banda. Foi excluído do repertório o que
era considerado amador e criado um plano de negócio e marketing. “O mundo da música principalmente o rock está muito independente. Nós temos que pensar em tudo. Temos que saber que estamos gerindo o nosso negócio. Temos que nos organizar como empresa”, disse João Pedro Carvalho.
Do lado de fora do Planalto Formada pelos irmãos Gustavo Bertoni no vocal, Tomás Bertoni na guitarra em conjunto com Lucas Furtado no baixo e Philipe “Makako” na bateria, a banda Scalene ficou conhecida a partir da segunda temporada do programa SuperStar da Rede Globo. Como vice-campeã do concurso que
promove bandas independentes, a banda brasiliense conseguiu expandir o trabalho pelo Brasil e até fora do país. Essa conquista “além das fronteiras” foi tão significativa que o grupo concorre à final do Grammy Latino 2016, na categoria Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa, com o disco “Éter” lançado em 2015. “Ficamos muito felizes e surpresos. É do tipo de coisa que não miramos, mas quando acontece ficamos contentes”, afirmou Gustavo Bertoni. Atualmente a Scalene está em turnê pelo Brasil para divulgar o primeiro DVD gravado na capital e planeja projetos para 2017. Segundo os integrantes, as palavras de ordem são: evolução e expansão.
Em 25 de outubro, a banda DeLana (esq) lançou o primeiro álbum, Subsolo. Disponível em plataformas digitais.
15
SAÚDE
Suicídio: questão de saúde No DF, os números prevalecem entre os da cor parda, de 20 a 39 anos Gláucia Cardoso e Stella Fernanda Soares
O suicídio é considerado problema de saúde pública, segundo o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, cerca de 12 mil pessoas morrem por ano, algo em torno de 32 casos por dia. De acordo com especialistas, cerca de 90% das tentativas de suicídio poderiam ser evitadas. A Universidade Católica de Brasília (UCB) promoveu o seminário “Sente-se, vamos conversar? ” para debater o assunto. Nele, a psicóloga e voluntária do Centro de Valorização da Vida (CVV) Larissa Vasques Tavira fez uma recomendação geral. “É preciso parar de falar, e ouvir mais o que as pessoas têm a falar. Não é usar fórmulas prontas ou contar os fatos pessoais para solucionar os problemas. As pessoas querem desabafar”, disse Larissa Vasques. No Brasil, a taxa de suicídio, de acordo com a OMS, com base em dados de 2014, é 5,8 por 100 mil habitantes. Os homens são a maioria dos que tiram a própria vida (9,4); as mulheres representam 2,5. Apesar dos dados serem baixos em relação a outros países, comparando as regiões do Brasil, o Sul é a que apresenta a maior taxa. Em relação aos jovens de 15 a 29 anos, a situação é ainda mais preocupante: o suicídio é a segunda principal causa de morte nessa faixa etária.
Distrito Federal
Estudo apresentado este ano na Faculdade de Enfermagem da Universidade de Brasília mostra que, entre 2000 e 2014, a taxa de mortalidade foi de 4.4 óbitos/100 mil habitantes. A predominância de suicídios foi entre homens (75.4%), de 20 a 39 anos (52%), de cor parda (70.3%). A maior parte das pessoas escolhe tirar a própria vida em casa (48.4%) e o método que prevaleceu foi o enforcamento (47.5%). 16
No Distrito Federal, há um Plano Distrital de Prevenção do Suicídio formado por 25 ações em seis eixos: avaliação e monitoramento; compromisso político; prevenção (universal, seletiva e indicada); tratamento e pós-venção; capacitação e informação. Médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais ficam de plantão em alguns hospitais regionais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para os atendimentos. A psicóloga Beatriz Montenegro, da Diretoria de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), afirmou que o objetivo é garantir o atendimento amplo. “Alguns programas de formação também estão disponíveis na Rede de Atenção Psicossocial, sensibilizando e treinando os profissionais de saúde”, afirmou. A psicóloga é responsável também pelo acompanhamento da Política Distrital de Prevenção ao Suicídio. Segundo ela, as taxas de suicídio por região administrativa isoladamente inspiram cuidados. “Brazlândia apresentou uma taxa considerada alta, seguida de Águas Claras, Riacho Fundo I e Lago Norte com taxas consideradas moderadas, segundo o critério da OMS”. Os principais fatores de risco para o suicídio são a tentativa prévia e a presença de transtornos sociais ou emocionais, como: dificuldades nas relações familiares e pessoais, trauma por ter sofrido abuso sexual ou físico, problemas de autoestima e conflitos relacionados à orientação sexual e identidade de gênero. A maioria das pessoas que morreram por suicídio tinham histórico de problemas mentais. Segundo a OMS, 35,8% são os transtornos de humor, como a depres-
são e o transtorno bipolar, 22,4% são os transtornos por uso de substâncias psicoativas, 11,6% e 10,6% tratam de transtorno de personalidade e esquizofrenia. A coordenadora da Comissão de Estudo e Prevenção ao Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria, Alexandrina Meleiro, afirmou que o suicídio não atinge apenas os que sofrem de transtornos mentais. “O suicídio não é regra nos pacientes com transtornos mentais [nem todo doente
Pela vida com amor
Foto: Paula Carvalho
mental comete suicídio], mas é inegável a relação que existe entre estes dois pontos, havendo uma prevalência dos transtornos mentais em casos de morte por suicídio, devido à falta de diagnóstico e tratamento adequado”, disse a médica. A Associação Brasileira de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina lançaram, em 2014, a cartilha “Suicídio: informando para prevenir”, que visa informar profissionais e os interessados no tema para identificarem possíveis sinais de tentativa de suicídio, e como tomarem providências para evitá-lo. A psiquiatra Alexandrina Meleiro afirmou que há pessoas que planejam o suicídio e há outras que agem por impulso. Ela recomenda observar: pensamentos de suicídio, organização de detalhes de despedidas, bilhetes, mensagens nas mídias sociais, o acúmulo de comprimidos e comportamentos de despedidas com ligações dizendo “adeus”.
Questão de saúde pública, o suicídio é um problema que afeta um número elevado de pessoas. O primeiro relatório sobre prevenção do suicídio, divulgado em 2014 pela OMS, relata que no mundo mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano. É o equivalente a um suicídio a cada 40 segundos. No Brasil, o índice de suicídio de jovens é baixo se comparado a outros países, mas o aumento desses números chama atenção. O relatório de pesquisa “Violência Letal Contra as Crianças e Adolescentes do Brasil”, de 2015, elaborado pela Faculdade LatinoAmericana de Ciências Sociais (Flacso), constatou que de 2003 a 2013, o índice de suicídio na faixa de 9 a 19 anos aumentou de 1,9 a cada 100 mil habitantes, para 2,1. Para a psicóloga Jullyannie de Sousa Amorim, é necessário analisar essa margem etária de acordo com o momento atual. “A gente vive em um movimento social de muito individualismo e isolamento com consequências na saúde do indivíduo que vive e se sente cada vez mais só”, disse. A estudante L.S, de 22 anos, que prefere não ser identificada, passou por depressão e chegou a tentar o suicídio. “No ano de 2012 foi quando eu comecei. Eu tive duas perdas importantes: da minha irmã, que morreu em 2011, e do meu irmão que saiu de casa. Então eu nunca pensei que isso me influenciaria nesse momento”, contou ela. Para L.S, buscar a compreensão ajuda no tratamento. “A partir do momento que você tem consciência daquilo, sabe a gravidade, sabe tratar o problema e abordar o assunto, faz toda diferença. Mas eu acredito que a maior força vem de você mesmo”.
Compreensão A campanha “Setembro Amarelo”, realizada no mês passado, promoveu ações preventivas e de conscientização para alertar as pessoas sobre o suicídio. Mas, mesmo com a iniciativa, o assunto ainda é considerado como um tabu. O psicopedagogo Gilson Moura de Aguiar, voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Brasília e membro da coordenação de divulgação e coordenação nacional do Programa de Seleção de Voluntários, tem uma explicação. “A morte é um tabu. A morte
autoinfligida é um tabu ainda maior. Depois, temos dificuldades de falar sobre nossos sentimentos, pois pode parecer sinal de fraqueza. Se começarmos a falar abertamente sobre isso, esse tabu cai um dia”, observou Aguiar. De acordo com dados da OMS, de cada dez casos suicidas, nove poderiam ser evitados. Segundo as análises, é necessário estar em alerta, pois quem tem a intenção de tirar a própria vida pode dar sinais. O psicopedagogo Gilson Aguiar esclareceu que na lista de sinais indicados estão as mudanças comportamentais: deixar de fazer o que dá prazer, o afastamento dos amigos, perda no rendimento escolar e profissional. Segundo ele, também são comuns o uso de expressão do tipo: “queria estar morto”, “talvez eu nem esteja mais aqui na semana que vem” e “não vou dar conta”. A psicóloga Jullyannie Amorim explicou que é fundamental a família e os amigos fazerem o acolhimento de uma pessoa que está passando por problemas e precisa de ajuda. “É preciso ouvir e levar em consideração o que a pessoa fala. Se você conhece e tem afinidade com a pessoa, sabe quando ela está com uma tristeza que é comum e saudável do nosso cotidiano, e quando ela está com uma tristeza excessiva.”
Apoio L.S. contou que teve muito apoio do irmão nos momentos mais delicados. “Eu relatei para meu irmão o que eu estava passando e ele foi uma pessoa primordial nessa melhora. Ele conversou com minha mãe, e eles procuraram um especialista”. Para ela, a família e os amigos são essenciais na recuperação de quem está passando por um momento difícil e tem ideias suicidas. Levar em consideração o sofrimento de quem vive momentos de aflição. “A família é a base de tudo. Meu irmão e meus amigos foram de extrema importância. Ajudaram muito.”, revelou. Segundo a psiquiatra Daniele Oliveira, há alguns transtornos psiquiátricos que podem levar à concretização do ato. “Os transtornos mentais que mais levam ao suicídio são: a depressão e esquizofrenia, quando não tratados”, explicou.
17
Relação abusiva: um perigo Excessos atingem a saúde física, mental e do moral principalmente das mulheres Amanda Ferreira
18
A criação de uma campanha no Twitter com a hashtag #erelacionamentoabusivo acendeu a luz de alerta sobre abusos nos relacionamentos afetivos. A realidade mostra que muitas mulheres permanecem nesse tipo de relação por falta de informação e há também quem permaneça nesses relacionamentos por medo e crença que o companheiro vai melhorar. Esses são alguns dos relatos de especialistas que tratam de pessoas em relacionamentos abusivos. Mas é possível desvencilhar-se dessas relações e as alternativas vão desde a ajuda profissional a sites e até um antigo costume: o de escrever e receber cartas. Há seis anos atuando na área comportamental, a psicóloga clínica Flávia Brasil afirmou que a pessoa pode sim reconhecer que está em um relacionamento abusivo, mas que na maioria das vezes continua na relação por questões como dependência financeira e afetiva, além da falta de perspectiva de achar algo melhor ou por acreditar na mudança do parceiro. Há, segundo ela, mulheres que acreditam que o casamento é um elo sagrado ou até mesmo mantém o vínculo por status social. Em Brasília, foi criado há dois anos e meio um projeto que tenta ajudar as mulheres que não conseguem sozinhas se libertar de relações abusivas. É o “Eu vejo flores em você” que consiste na troca de cartas ilustradas de uma mulher para a outra. As cartinhas, que podem ser impressas ou datilografadas, são enviadas pelos Correios e segundo Daniela Duarte, 23 anos, tem o propósito de “fomentar laços de amor, afeto e união entre mulheres com o objetivo de reduzir a violência de gênero. ”
Daniela Duarte que iniciou o projeto que já conta com mais de 60 voluntárias. Já o site “Livre de abuso” reúne depoimentos anônimos e também presta assistência jurídica para a mulher vítima de abusos.
Algumas histórias A atendente de loja *Valentina Silva, 27 anos, é casada há oito anos e tem dois filhos – de cinco e sete anos. De pele clara, olhos escuros e um pouco tímida, ela contou que desde que casou vive com um homem violento e nada amoroso. “Ele só sabe me xingar e me culpar por tudo que acontece com as crianças”, falou a atendente, tentando esconder a vergonha com a situação. De acordo com ela, o marido não a convida para nada, assim praticamente não passeare e nem sair de casa. Valentina Silva disse que pouco se encontra com a família. “Não me separei ainda por causa das crianças. Elas amam o pai, e não acho que seria justo. Mas eu confesso que a convivência em casa não é das melhores”, desabafou. No entanto, a atendente ainda alimenta esperanças de que o marido “mude” ou “melhore”. A psicóloga alerta ainda que para identificar uma relação abusiva basta observar alguns comportamentos, como se o companheiro zomba ou constrange a pessoa diante de amigos e familiares. Se o companheiro minimiza e não incentiva as conquistas do outro, se torna o parceiro incapaz de tomar decisões, se intimida, culpa, ou ameaça para ter o que quer. A estudante de direito *Luana Oliveira, 20 anos, hoje faz terapia, mesmo que já tenha passado um ano desde o rompimento
com o ex-namorado. Ela contou que ele era extremamente possessivo e que tinha ciúmes dos irmãos dela. “No começo eu achava até bonitinho as demonstrações de ciúmes dele, via como algo romântico, mas depois foi passando dos limites. Ele começou a ser agressivo e um dia me bateu. Eu precisei levar um tapa na cara, literalmente, para acordar e perceber como fui burra”. Já a estudante de jornalismo Fernanda Soraggi, 19 anos, disse que percebeu que estava em um relacionamento abusivo quando passou a frequentar reuniões feministas e a partir daí o relacionamento não foi adiante. Ela contou ter buscado ajuda de um psicólogo para lidar com a culpa de ter estado em um relacionamento assim, e não pelo fato de ter terminado. Algumas mulheres procuram as redes sociais para desabafar, sempre de modo anônimo. “Tenho 35 anos. Acabo de me dar conta que estou em um relacionamento abusivo há anos. No começo eram coisas sutis, na verdade lembro exatamente da primeira vez que ocorreu um abuso”, disse uma das vítimas na página “Moça, seu relacionamento é abusivo”, no Facebook. ► *Alguns nomes de entrevistadas foram trocados para a preservação delas.
Onde procurar? #erelacionamentoabusiso No Facebook: goo.gl/sfJFeT CVV (Centro de Valorização da Vida) Telefone: (61) 3326-4111 ou 141
Foto: Andressa Paulino
COMPORTAMENTO
MMA - Luta ou arte marcial? Especialistas advertem para vantagens e desvantagens
Foto: Brena Oliveira
ESPORTE
Rodrigo Souza
a prática da arte marcial que ele ensina A prática de esportes de luta em Brasília beneficia porque exige muito do atleta. “Há está sendo bastante difundida nos últimos estudos que comprovam que o judô aumenta anos. Impulsionada pela Família Gracie e a a massa cefálica do homem. Devido a ser vinda do UFC, em 2011, várias academias um esporte de alta concentração e estimula surgiram no cenário atual, o que aumentou o raciocínio e daí projetar o seu adversário, o número de praticantes, pelo fato de ele faz com que o seu cérebro venha a ser procurarem centros de treinamento para mais desenvolvido. E fisicamente, a questão fazer uma atividade diversificada, como óssea, dos ligamentos e prepara o seu corpo forma de manter o bem estar. para qualquer adversidade, como a queda”. O Brasil já é o segundo maior mercado de Karine Santos Sousa, aluna de jiu-jitsu, academias em número de estabelecimentos, falou que faz atividade física com quase 32 mil unidades e por gostar do esporte, o o quarto em alunos, que são O BRASIL É O que trouxe melhoras na 8 milhões, de acordo com a SEGUNDO MAIOR saúde física e mental. “Os International Health, Racquet MERCADO DE exercícios me fizeram bem. & Sportsclub Association Além de ter perdido peso, ACADEMIAS: (IHRSA). Distrito Federal me sinto mais disposta e possui 1,2 mil instalações. QUASE 32 MIL sofro menos para subir Pesquisa apresentada em escadas e realizar atividades agosto de 2016 pelo Instituto do tipo. Ir aos treinamentos Ipsos mostrou que 14% da traz paciência e disciplina. Não é fácil, pois população brasiliense com 13 anos ou mais tem que ter muita persistência. O jiu-jitsu praticam alguma modalidade esportiva. me deu mais garra ainda para não desistir Nas competições oficiais, são incluídos fácil das coisas”. golpes em pé e no chão. Utiliza uma grande Guilherme Falcão Mendes, nutricionista, escala de socos, com os punhos, pés, cotovelos, falou que a nutrição correta auxilia no joelhos, além da imobilização. Envolvem funcionamento do organismo humano e na técnicas de várias modalidades, como judô, jiumanutenção da capacidade do indivíduo de jitsu, karatê, taekwondo, boxe, luta livre, muay fazer exercícios. “A dieta precisa ser composta thai, etc, e por essa razão, exigem do lutador. por alimentos frescos. Fazer consumo de três Benefícios porções de frutas, uma a duas de proteínas, três de hortaliças, três de leite e derivados O professor de judô Henry Oliveira ajuda a manter a boa forma”, relatou. Santos disse que estudos mostram que
Malefícios O médico Moacir Silva Neto, do Centro de Medicina Preventiva e Esportiva (CEMPRE), alerta sobre os cuidados que os praticantes de MMA devem ter. “O objetivo histórico das lutas é causar a morte do oponente e o dano físico. Por ser um combate, existe o risco de durante a luta e há lesões traumáticas”, explicou ele, informando que dependendo de onde o golpe pode acertar haverá fraturas no pé, mão, trauma abdominal e traumatismo cranioencefálico. “Há riscos de lesões por esforço repetitivo, como tendinites e lesão muscular”, complementou. Mário Henrique Barreto de Oliveira, atleta profissional, comentou que pratica esporte de combate desde pequeno por encanto e que teve várias lesões durante a carreira. “Sou profissional no MMA há quatro anos e participei das competições amadoras de karatê, judô e taekwondo antes de me profissionalizar. A preparação esportiva me levou a quebrar as duas mãos, os dois pés e a clavícula”, contou. Ellen Luiza Rangel de Castro, nutricionista, avisa que a alimentação inadequada e o uso de suplementos podem trazer riscos as pessoas. “Antes do exercício, o praticante de luta precisa comer carboidratos, para ter energia. Caso não aconteça, o indivíduo pode ter hipoglicemia, que é a queda de açúcar no sangue, perder massa muscular, ter desmaio e fraqueza. O consumo exagerado de suplementação com proteína faz mal aos rins e o fígado”, relatou.
19
CIDADES
Brasília em chamas Aumento no número de queimadas foi de 370% em relação a 2015
Até o início de agosto, foram mais de 53 mil focos de incêndios florestais em todo país, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Esse valor representa um aumento de 65% das queimadas em relação ao mesmo período do ano passado. A situação foi ainda mais grave no Distrito Federal (DF) em que a combinação do período de seca com as temperaturas altas e a baixa umidade relativa do ar elevou as queimadas florestais em 370%. De acordo com especialistas, a aridez do cerrado acentua problemas de saúde, como asma e rinite. A carioca de 38 anos, Amanda de Azevedo e sua família sofreram com a seca de Brasília. “Nós não estamos acostumados com esse tempo, foi só chegarmos a Brasília que meu nariz sangrou. A atenção com meus filhos ao correrem e fazerem algumas atividades passou a ser redobrada”, contou. A seca também trouxe grandes consequências para o meio ambiente. Até o dia 12 de setembro, foram registrados 14,7 mil hectares queimados por incêndios florestais. Esse número equivale a aproximadamente 15 mil campos de futebol. O tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) Alan Alexandre Araújo explicou que os motivos desse aumento considerável de queimadas têm relação direta com as temperaturas elevadas. “O tempo está muito mais quente, a condição de ventos está 20
maior e também tem o fato de o CBMDF estar trabalhando em mais áreas e, então, atendendo mais demandas”, disse. A major Juliana Toledo, assessora especial da Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil do DF, acrescentou que a quantidade maior de focos se dá pela austeridade das condições climáticas da região. “A baixa umidade faz com que o ambiente fique mais seco, tornando a vegetação mais fragilizada e ressecada. Com isso, a vegetação passa a ser um combustível e a partir daí a gente tem uma propagação muito rápida do fogo no DF”, ressaltou. O aposentado de 58 anos e ex-servidor público Pedro Antônio de Miranda contou ao ARTEFATO que todo ano sua fazenda, localizada na divisa entre o DF e Goiás, é alvo de incêndios florestais. “Eu fui prejudicado mais com a fauna e a flora, foram cerca de 20 a 25 hectares queimados. A propriedade não tem caseiro, então quando eu cheguei já estava tudo incendiado. Infelizmente a gente não pode fazer nada depois do acidente”, lamentou. Apesar de as condições climáticas serem favoráveis à propagação de incêndios e queimadas, mais de 98% das ocorrências são de responsabilidade humana — intencional ou acidental —, segundo dados do CBMDF. A fim de exigir maior proteção ao ambiente, foi criada a Lei n.º 9.605 de 1998. Essa norma dispõe das sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.
Para o tenente-coronel Araújo, se a sociedade colaborar e respeitar a lei de crimes ambientais, o número de incêndios pode diminuir. “A população precisa tomar os cuidados adequados e cumprir a lei. Levamos todo o conhecimento para que se evite incêndio ou qualquer acidente”, afirmou ele, lembrando que a orientação é não arremessar cigarros pela janela do carro e evitar o uso do fogo para qualquer atividade, principalmente na eliminação de restos de vegetação e lixos.
Recomendações Em 14 de setembro, a temperatura e a umidade relativa do ar tiveram recorde na capital federal, com 34,2ºC e 15%, respectivamente. Com o início da primavera, os dados voltaram às condições normais e até novembro é provável que as chuvas sejam constantes. A aluna do ensino médio Gabriela Queiroz relatou que, durante o período de seca, evita exercícios físicos. Na escola onde estuda, os alunos são liberados para fazerem outras atividades no lugar das aulas de atividades físicas. “Nas aulas de educação física da escola, podemos estudar ou fazer alguma atividade que não necessite de muito esforço físico, como totó e xadrez”. Para os cuidados com a saúde, o ideal é a ingestão de bastante líquido e não fazer atividades ao ar livre nos horários mais quentes (10h às 16h) e atentar-se aos alertas emitidos pela Defesa Civil do DF.
Foto:Imagens cedidas pelo CBMDF
Thaís Miranda
POLÍTICA
Marco Civil: direitos e deveres Lei na Internet deve proteger a privacidade virtual, guardar dados e neutralizar utilização Isabela Moreno Foto: arquivo pessoal
Última lei assinada pela então presidente Dilma Rousseff, o Marco Civil da Internet deve fazer parte do dia a dia dos brasileiros a partir deste ano. Até então, era uma proposta no papel, feita em 2009, com definições claras: da preservação de direitos de consumidores e deveres dos responsáveis pelos serviços na Web. São mais de 30 pilares, mas três guiam sua execução: neutralidade da rede, privacidade na web e liberdade de expressão. A proposta foi assinada ao “apagar das luzes” de seu governo devido a alguns pontos, como por exemplo preservar os usuários da possibilidade de agências norte-americanas espionarem. Revelação que veio à tona com as informações do analista de sistemas Edward Snowden que mostrou ao mundo que agências dos Estados Unidos acessavam informações privadas de autoridades, órgãos governamentais e cidadãos no Brasil e no mundo. As vítimas muitas vezes são anônimas. *Ana Oliveira, de 18 anos, cujo nome foi trocado a pedido dela, estudante de Pedagogia de uma faculdade em Brasília, viu-se no centro de uma polêmica aos 13 anos. Ela teve fotos íntimas “invadidas” e espalhadas pela cidade. Agora, adulta, não esquece o constrangimento que viveu. “Eu não conseguia sair de casa, nem olhar para ninguém. Parecia que todos estavam me olhando diferente. Na escola, sofri muito bullying pelos alunos, não quis mais frequentar as aulas e reprovei o ano letivo. O pior de tudo é saber que a pessoa a qual espalhou todo o conteúdo não teve nenhum tipo de punição”, desabafou a universitária. Ela é uma das que defendem
Ex-secretário do MJ, Gabriel Sampaio diz que sociedade foi consultada para definir as leis
a regulamentação e execução do Marco Civil da Internet.
Polêmicas A polêmica em torno envolve o risco de o ambiente virtual ser censurado e impostos limites à liberdade na Internet. Os defensores da proposta afirmam que houve participação da sociedade civil. “Houve consultas públicas amplamente democráticas disponibilizadas no site do Ministério da Justiça. O resultado é uma regulamentação que apenas fortalece os direitos dos usuários que já são protegidos pela lei do Marco Civil da Internet”, afirmou Gabriel Sampaio, ex-secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça.
Outro aspecto é que, com a regulamentação da Internet, o Brasil inova e pode se tornar referência internacional para países que não têm uma legislação sobre o tema. “Em outros países há exemplos de regulamentação de assuntos específicos da internet. Com a forma de um Marco Civil, o Brasil é referência internacional”, acrescentou Sampaio. Três pilares norteiam a base da lei. Um deles impede a redução de dados na Internet móvel dos usuários que atingem limites diários contratados pela operadora. Essa proposta foi criticada pelas empresas de telecomunicação. A outra trata da privacidade na Web e garante o sigilo das informações e conteúdo dos usuários exceto mediante ordem judicial. Por fim, a questão da liberdade de expressão que envolve o armazenamento dos dados de conexão dos usuários. As empresas de Internet, provedores e sites em geral não serão responsabilizadas pelos posts feitos pelas pessoas na internet. A responsabilidade será de quem publicou o conteúdo. Dúvidas, sugestões e denúncias devem ser encaminhadas para:
facebook.com/MarcoCivildaInternet twitter.com/MarcoCivil debatemarcocivil@mj.gov.br
21
Foto: Rodrigo Neves
TURISMO
Vai ficar onde? Alternativas criativas de hospedagem conquistam viajantes Bruna Andrade
acessível. Só nos Jogos Olímpicos o site informou que 85 mil turistas optaram por se hospedar através da rede, que foi nomeada como Fornecedora Oficial de Acomodação Alternativa no Rio 2016. De acordo com dados do Ministério do Turismo, 21,2% dos brasileiros ficaram em imóveis alugados e 17,6% em hotéis durante as Olimpíadas. A maioria dos viajantes busca hospedagens que unem conforto e economia. O setor hoteleiro, por possuir variadas taxas e altos custos de manutenção, não consegue ser acessível para quem procura economizar. Também existem outros sites (veja box) com diferentes modelos. A assessora do Ministério do Turismo Tatiana Alarcon disse ao ARTEFATO que os serviços funcionam como uma atração a mais para o viajante. “Os meios de hospedagem alternativos são uma opção para atender aos diversos perfis de turistas que viajam pelo Brasil e, na medida em que amplia o leque de ofertas, aumenta a competitividade do mercado turístico. ”
Experiência O estudante de Ciências da Computação Gabriel Nascimento, 22 anos, utilizou o Airbnb enquanto realizava um “mochilão” na Europa. Para ele, a experiência foi totalmente satisfatória. “Eu aluguei 22
A anfitriã Roberta Marques em sua casa
várias casas em cidades diferentes e não tive problema em nenhuma delas. Pelo contrário, fiz grandes amizades.” Para ser um anfitrião, basta cadastrar seu imóvel e preencher uma série de requisitos, bem como regras e guias. Em Brasília, segundo dados do Observatório do Turismo do Distrito Federal, são registrados 2.240 leitos alternativos, dentre Cama e Café, Pensões, Albergues e Pousadas rurais. A advogada Roberta Marques disponibiliza um quarto em sua casa, localizada na Asa Sul, para aluguel por meio do site. Ela disse que a experiência tem sido enriquecedora tanto para ela, quanto para sua família, que tem a oportunidade de conhecer pessoas novas. “Eu tinha receio por causa das crianças, mas elas receberam super bem e ficaram à vontade.” Roberta Marques também afirmou que, a partir de agora, também disponibilizará o apartamento inteiro quando estiver com viagens marcadas. Seus hóspedes Ediney Silveira, 21 anos, e Wellisson Figueiredo, 23, são estudantes e estiveram em Brasília para uma prova. Eles tilizaram o serviço outras vezes e disseram acreditar que a tendência é que o mercado cresça cada vez mais.
Ilustrações: Freepik
Em tempos de programar as férias e as folgas de fim de ano, uma possibilidade de hospedagem criativa e barata é a plataforma Airbnb (https://www.airbnb.com.br/). Seja para passar o Natal com a família, aproveitar o Réveillon com os amigos ou até mesmo para conhecer lugares novos, o descanso é uma das principais preocupações. Para quem não quer ficar em hoteis ou pousadas, é viável alugar uma casa, quarto, estúdio, castelo ou até mesmo embarcação na plataforma Airbnb. Em busca de atender a demanda cada vez maior por alternativas com bons preços e comodidade, é possível encontrar diversas opções de hospedagem. O sistema funciona como uma rede mundial de anfitriões que cadastram o local disponível para aluguel. Sua principal característica é a alta qualidade e preço
COMPORTAMENTO
Negócio de criança A ascensão do cenário empreendedor não influencia só os adultos Marina Raissa
Comprovação dos dados De acordo com dados da pesquisa mais recente feita pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM),
João Gonçalves - o pequeno vendedor de doces
viés otimista em relação às iniciativas infantis. “A habilidade de empreendedorismo, quando estimulada desde cedo, treina comportamentos sociais importantes na criança, aumentando a capacidade de criar soluções, lidar com problemas e incentivar habilidades como criatividade, iniciativa, responsabilidade e liderança”, disse. Souza também defendeu a inserção desse tema na esfera escolar, que é uma preocupação constante dos pais. “A iniciativa do empreendedorismo infantil pode ser um bom caminho para inserir de forma lúdica os assuntos das matérias escolares. Uma dica é iniciar as habilidades empreendedoras através de atividades sem valores monetários, como trocar gibis e figurinhas”. O pequeno João Gonçalves, 8 anos, é um exemplo de quem conta com o apoio da família. Só este ano, ele fabricou pulseiras de elástico, aprendeu a fazer doces de leite ninho e insistiu com os pais “que tinha de vender” os itens na escola. Por conta própria, resolveu fazer uma parceria com uma amiguinha. Por iniciativa dele, a amiga Ana Luiza Carvalho faria as pulseiras e ele, os doces. João e Ana Luiza chegaram a vender os produtos, mas desistiram de tocar o negócio. O garoto acabou desanimando: “A gente não ganhou muito dinheiro”. A mãe Célia Maria Gonçalves aprovou a ideia. “Foi algo que surgiu dele”, afirmou. Embora tenha ficado triste pelo garoto não ter ido adiante com seu projeto, ela disse que não quis interferir ou pedir que ele continuasse já que o esquema poderia desviar a atenção nos estudos.
Ilustrações: Freepik
realizada em 2015 em parceria com o Sebrae, a taxa de empreendedorismo no Brasil foi de 39,9%, o maior número em quase duas décadas. O cenário empreendedor está em alta e a conjuntura está a favor daqueles que têm uma ideia e se dispõem a alcançá-la sem olhar para trás, gerando incentivo dentro do mercado. E esses corajosos empresários nem sempre são só gente grande. É comum que muitas mães, ao saberem das ideias empreendedoras dos filhos, se preocupem com a possível interferência do novo “negócio” na vida social da criança. Mas nem sempre essa intercessão é um mau sinal. A psicóloga Suelen Souza defende o
Foto: Renata Nagashima
Quem disse que para criar o próprio negócio é preciso ser adulto? Basta ser destemido em meio ao contexto econômico e ter ideias criativas e eficientes. Daí para frente é tentar executar e ver os resultados. Para seguir adiante com os sonhos e planos, basta coragem e vontade de tirar do papel o que foi programado. Perguntar a uma criança o que ela quer ser quando crescer é estar disposto a ouvir um punhado de ideias - bombeiro, astronauta, médico, artista ou atleta, afinal a imaginação da criançada flui. Mas não é raro encontrar casos em que o sonho vira realidade. O estudante Pedro Henrique Melato, 21 anos, é fascinado por carros desde criança. Nem se lembra quando começou a admiração, mas coleciona miniaturas e, desde muito cedo, gostava de desenhar o dia inteiro. Também insistia para a mãe que comprasse as revistas com carros na capa – revistas que, muitas vezes, não entendia o conteúdo, mas só os veículos já o atraíam. Atualmente, Melato faz o sexto semestre de Engenharia Automotiva na Universidade de Brasília (UnB) e se diz animado ao perceber que está cada vez mais perto de realizar o sonho de infância. “Conheci a graduação em automotiva e me apaixonei. Agora, pretendo seguir o sonho de trabalhar em uma montadora grande, de preferência fora do país. Quem sabe, no futuro, terei meu próprio negócio”, relatou o estudante.
23
CRÔNICA
Tem sim, senhor. É dia de sorrir! Matheus Contaifer
normal para caber tanto amor. São esses profissionais que se unem para levar alegria para crianças em hospitais. Um ambiente geralmente com o clima pesado de tristeza e angústia, transforma-se em circo com o pessoal de nariz vermelho. Luana Melo, uma das diretoras de comunicação do projeto “Laços da Alegria”, afirmou que o projeto não pretende apenas fazer os pacientes sorrirem, mas fazê-los se sentir melhor. “E que forma melhor de fazer isso se não conversando e tentando provocar o riso?”, reagiu ela. A presença dos palhaços nos hospitais auxilia na recuperação dos pacientes, pois levam consigo todos os benefícios causados pelo riso. A estudante de engenharia de produção Jéssica Canário, de 23 anos, é voluntária na família Laços da Alegria há dois anos e meio e conta que em uma das visitas o que mais a marcou foi quando esteve com uma criança
Foto: Paula Carvalho
Não existe remédio mais gostoso, barato e fácil de usar do que uma boa gargalhada. Rir faz bem. O bom humor é contagiante. Além de trazer uma ótima sensação e uma das melhores maneiras de aproximar as pessoas, o riso traz benefícios à saúde: protege dos efeitos negativos do estresse, fortalece o sistema imunológico, além de diminuir dores e aumentar a energia. Existem pessoas que são profissionais em fazerem o próximo sorrir. No Brasil, os Doutores da Alegria levam alegria para hospitais há 25 anos. Com o mesmo objetivo, a ONG Laços da Alegria faz trabalhos em Brasília desde 2011 e hoje é o maior grupo do Centro-Oeste: com mais de 100 voluntários. Os palhaços, esses seres que vestem o pancake e o nariz vermelho, levam alegria para qualquer lugar que vão. São pessoas com o coração tão grande que tiveram que calçar um sapato bem maior do que o
24
com paralisia. Jéssica conta que a garotinha ria muito e dava muita gargalhada, enchendo o ambiente de alegria. A tia da pequena, que estava como acompanhante, se emocionou e disse que faziam dois meses que não via o sorriso da sobrinha. Um último conselho, apenas ria. Não aquele sorriso que se dá no elevador ao falar “bom dia”, mas ria, gargalhe ao se lembrar da melhor piada do mundo, da pessoa mais engraçada que conhece ou de um lugar que te fez feliz. Que a alegria seja o foco de todas as pessoas, todos os dias. Não que os problemas não existam, mas é mais fácil encará-los com um sorriso no rosto. O sorriso atrai olhares. Nada mais apaixonante que um sorriso bonito e sincero, o sorriso que embeleza o rosto, o corpo e a alma de uma pessoa, o sorriso que hipnotiza. Leve-se menos a sério e sorria, não só quando está sendo filmado.
O fotógrafo Orlando Brito (camisa branca, óculos e cabelo grisalho) participou do Conselho Editorial do ARTEFATO 1 do segundo semestre de 2016, quando elogiou o trabalho da equipe e fez questão de uma foto histórica.
Foto: Matheus Hoeckele
Hoje tem alegria?!