Jornal Artefato 07/2016

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Ano 17 - N° 4 - Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília - Distribuição Gratuita - Ago-Set de 2016

Igrejas de portas abertas Série de reportagens mostra que lésbicas, gays, bissexuais e trans são acolhidos sem distinção em cultos religiosos

ESPORTE

SAÚDE

CIDADANIA

Paralimpíadas colocam em discussão sociedade mais inclusiva

Amamentação: uma opção sustentável para mães e bebês

Vida e direitos das domésticas em uma série especial de reportagens

Pág 18 e 19

Pág 14 e 15

Pág 8 e 9

Foto: Paula Carvalho

Pág. 12 e 13


EDITORIAL A disciplina mais temida do curso de Jornalismo, Produção e Edição de Impressos é a matéria onde podemos nos aventurar e ter um gostinho do que nos espera nas redações. A profissão de jornalista é talvez uma das mais desafiadoras: seja por transmitir informações, apurar denúncias, dar voz a quem nem sempre tem oportunidade e transformar as palavras em meio de reação. A caneta e o senso crítico são nossas únicas armas. O que nos move é a busca pelo sentido da vida e da igualdade social. Por isso fizemos do jornalismo a nossa profissão. O ARTEFATO desta edição mostra que nos arriscamos na escolha dos temas mais diversos e que nem sempre estão na grande mídia. Foi com dedicação que os alunos de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília (UCB) trabalharam para que você, leitor, deleite-se com as reportagens. Gostamos de ousar e da pluraridade, não nos prendemos a padrões, muitos menos nos deixamos sufocar por freios ou amarras. Assim o nosso jornal reúne assuntos que vão de saúde, comportamento à política e esportes. Falamos de tudo um pouco. Apreciamos especialmente os temas mais controvertidos e que nem sempre a grande mídia aborda. Lançamos aqui duas séries. A que trata a vida das empregadas domésticas, em que nesta primeira, relatamos os abusos sofridos por essas profissionais. E a outra sobre as igrejas que abrem suas portas para o público LGBT. Nesta edição, a igreja evangélica é a Vivo Por Ti, de Samambaia. Falamos ainda sobre a segurança precária nos ônibus da cidade sob o ponto de vista dos profissionais - motoristas e cobradores - obrigados a lidar com a situação cotidianamente. Também, em nossa edição on-line, tratamos do funcionamento da realidade virtual com base nos jogos que estão conquistando a cabeça das pessoas do mundo inteiro: o Pokémon GO, febre mundial que vai além da vida diária. Você também ficará encantado com o poder da música na recuperação de pacientes de Alzheimer, em nossa edição on-line. Nesta versão impressa poderá ler sobre os “jovens” da terceira idade que aprenderam a usar o tempo livre para melhorar a qualidade de vida deles, sem gastos nem despesas extras. Os Jogos Olímpicos Rio 2016 viraram tema de quatro reportagens: a superação dos paralímpicos e a super delegação brasileira, as amigas ex-atletas de ginástica rítmica que se reuniram para assistir às competições, a frustração dos homens que tentaram, mas não conseguiram comprar uma camisa com os nomes das jogadoras da Seleção Brasileira de Futebol feminino e uma seleção de fotos do Rio de Janeiro durante os jogos olimpicos. A Lei de Acesso à Informação (LAI) que possibilita o cidadão comum conhecer dados do governo e de órgãos federais é fundamental para que qualquer um saiba de assuntos caros e interessantes até então “guardados” a sete chaves pelas autoridades. 2

Seja bem –vindo ao nosso ARTEFATO!

EXPEDIENTE Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília Ano 17, nº 4, agosto/setembro de 2016 Reitor: Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Garcia Pró-Reitor Acadêmico: Dr. Daniel Rey de Carvalho Pró-Reitor de Administração: Prof. Fernando de Oliveira Sousa Chefe de Gabinete da Reitoria: Prof. Dr. Dilnei Lorenzi Diretora da Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação: Drª. Christine Maria Soares de Carvalho Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Dr. Joadir Foresti Professora responsável: Drª. Renata Giraldi Professora auxiliar: MsC. Angélica Córdova Orientação de Fotografia: MsC. Bernadete Brasiliense Apoio: Larissa Nogueira e Marianne Paim Apoio Técnico: Sued Vieira Monitora: Jéssica Luz Editores-chefes: Tarcila Rezende e Thaís Rodrigues Editores de arte: Marina Araujo e Raphaella Torres Editores de texto: Bruna Andrade e Fernanda Sá Diagramadores: Gabriela Mota, Elizabeth Oliveira, Faby Rufino, Rodrigo Souza e Rosana Carvalho Editores de fotografia: Charles Jacobina e Matheus Contaifer Subeditor de fotografia: Yasmin Cruz e Fernanda Soraggi Editores web: Flávia Pacheco, Gilvanete Costa, Isabela Menezes e Marina Brauna Repórteres: André Baioff, Amanda Ferreira, Bárbara Fernandes, Bárbara Xavier, Bruce Macedo, Celise Duarte, Charles Jacobina, Elizabeth Oliveira, Flávia Alves, Gláucia Cardoso, Gabriela Mota, Isabela Moreno, Lorena Souza, Lucas Rodrigues, Luiza Barros, Mateus Lincon, Maiza Santos, Marina Brauna, Mylena Tiodósio, Péricles Lugos, Stella Fernanda Soares, Thaís Miranda, Tissyane Scott e Vitor Stoianoff. Checadores: André Baioff, Mateus Lincoln, Mylena Tiodósio e Suellaine Santos. Fotógrafos: Adriana Gonçalves, Aline Brito, Ana Caroline Martins, Ana Clara Arantes, Ana Clara Pessoa, Ana Cláudia Alves, Andressa Paulino, Caio Almeida, Cristian Lisboa. Daniel Neblina, Fernanda Soraggi, Iago Kieling, Juliana Dracz, Mabel Félix, Mirelle Bernardino, Patrícia Nadir, Renata Nagashima, Rodrigo Neves, Sara Sane, Thiago Siqueira e Verônica Holanda. Ilustrações: Elizabeth Oliveira, Angélica Córdova, Marina Araújo e Freepik.com Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia Universidade Católica de Brasília EPCT QS 7 Lote 1, Bloco K, Sala 212 Laboratório Digital Águas Claras, DF Telefone: 3356-9098/9237 Todas as matérias têm ampliação de conteúdo na web. Acesse nossas redes sociais e site. E-mail: artefatoucb1@gmail.com Jornal online: issuu.com/jornalartefato Facebook: facebook.com/jornalartefato artefatojornal.wordpress.com Snapchat: @artefato Instagram: @jornalartefato


Um programa em xeque

Foto: Gilvanete Costa

EDUCAÇÃO

Ciência sem Fronteiras passa por reformulações e universitários podem ficar de fora Maiza Santos

O programa Ciência sem Fronteiras, que levou 73.353 estudantes de graduação para o exterior, de 2011 a 2015, vai ganhar uma nova versão e mudar por completo seu funcionamento. O ministro da Educação, Mendonça Filho, anunciou a suspensão de novas bolsas para estudantes de graduação. O novo formato ainda não foi definido. É possível que sejam concedidas bolsas de estudos para alunos do ensino médio com o objetivo de proporcionar a eles a oportunidade de aperfeiçoar um determinado idioma. Em tempos de crise, o governo vai efetuar cortes no programa, que já custou aos cofres públicos mais de 8,3 bilhões. Com a alta do dólar e o número cada vez maior de inscritos, a manutenção do programa tornou-se quase insustentável, segundo o Ministério da Educação. Mendonça Filho reiterou que o programa está congelado desde 2014, quando houve a última seleção. Os alunos selecionados embarcaram em 2015. A troca de governo e a mudança no MEC somada à crise financeira do país e as críticas ao programa levaram à suspensão de novas bolsas para alunos de graduação. As bolsas vigentes serão mantidas até o fim dos contratos e o programa segue inalterado para a pósgraduação. De acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o novo formato do programa está sendo discutido e deve ser instituído a partir de 2017. As alternativas

em estudo analisam os seguintes aspectos: o fortalecimento da internacionalização das universidades brasileiras; a ampliação do impacto institucional e apropriação do conhecimento adquirido no exterior incluindo impacto sobre o setor produtivo; a expansão das áreas atendidas, incluindo as áreas de Ciência Humanas, Sociais Aplicadas, Letras e Linguística; a inclusão social abrangendo o público dos estudantes de baixa renda do ensino médio no aperfeiçoamento linguístico; a ampliação das ações de apoio às instituições de ensino superior brasileiras dentro do programa, com ênfase na capacitação do corpo técnico e docente.

Prioridades Especialistas apontam que a principal dificuldade identificada entre os estudantes brasileiros, que seguem para o exterior, é lidar com o idioma estrangeiro. Por meio da assessoria de imprensa, a Capes informou que o foco do novo Ciência Sem Fronteiras será o ensino de idiomas, tanto no Brasil como também no exterior. O programa foi criticado por professores, especialistas, políticos e inclusive acadêmicos por considerarem que não houve o retorno esperado para o país. Em 2013, o ex-presidente da República Fenando Henrique Cardoso chegou a criticar, em artigo, o número de estudantes enviados ao exterior sem nem ao menos conhecer a língua do país de destino. Alunos também condenaram a falta de comprometimento

dos colegas bolsistas nas universidades do exterior. Professores advertiram para a falta de comunicação entre aluno e universidade que culminou, em alguns casos, no não aproveitamento de grande parte das disciplinas cursadas fora do país. Mendonça Filho chegou a comparar o investimento de cerca de R$ 3,248 bilhões para atender 35 mil bolsistas da Capes em 2015, ao valor, igual, investido em alimentação escolar para atender 39 milhões de alunos para justificar a necessidade de mudanças. Ao longo de quatro anos, o programa apresentou algumas falhas, como atrasos no depósito da bolsa, falta de informação e dificuldade de comunicação com os técnicos responsáveis pela orientação dos estudantes. E uma queixa comum a quase todos os estudantes que foram para o exterior: ausência mínima da proficiência do idioma. O programa ganhou o apelido de Turismo sem Fronteiras em reportagens críticas veiculadas em diferentes jornais. Ex-bolsista Pâmella Gonçalves, 21 anos, estudante de engenharia ambiental, da Universidade de Brasília, considera a suspensão das bolsas uma perda significativa para o Brasil e defende que o investimento é justificável e necessário. Para o professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em educação, Ocimar Munhoz Alavarse, o programa precisa avançar. “A capacitação linguística e o equilíbrio entre as várias áreas são pontos que nós temos que aperfeiçoar. ”

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CIDADES

Por uma viagem mais segura A insegurança que gera medo e afasta rodoviários cada vez mais da profissão Charles Jacobina e Lucas Rodrigues

Já é noite. Um motorista e seu A enfermeira Cássia Ribeiro, de 25 anos, companheiro de viagem, o cobrador, já passou nove minutos sob a mira de três ascomeçam a se preparar para fazer mais uma saltantes armados com faca e pistolas. “Eles viagem pela sua empresa de transporte. O anunciaram diversas vezes que se alguém escobrador se organiza atrás de seu pequeno tivesse guardando dinheiro, eles iam matar caixa e logo começa a recepcionar os um a um”, conclui. O trio levou dela, o celuprimeiros passageiros. O condutor do lar, a aliança, a carteira, além de um cordão veículo se arruma em seu banco e logo coloca de ouro. Antes de descerem, os assaltantes o cinto de segurança. Ele desapareceram com infelizmente sabe, que a chave do ônibus. ENTRE JANEIRO somente aquela proteção, “Nunca mais fui a não é suficiente para mesma quando tive E JULHO DESTE assegurar que sua viagem de pegar um ônibus. ANO FORAM seguirá bem até o final. Ainda estou com meu O medo de ser a próxima psicológico afetado”, REGISTRADOS 1.494 vítima de um assalto é o desabafa a moradora que cerca todo o caminho do Setor “O”. CASOS DE ROUBOS que será percorrido. O também motoEM TRANSPORTES Todo esse episódio de rista, José Neto, de 28 insegurança no transporte anos, que mora com COLETIVOS NO DF público é vivenciado por duas filhas e a murodoviários e passageiros lher na Expansão do em Brasília e arredores. Histórias, como a de Setor “O” da Ceilândia, relata que no moJosé Ribeiro, de 35 anos, que foi uma das mento só pensou na família. “Era por volta vítimas da falta de segurança. O motorista de 18h30 do dia 1º de julho de 2016. Enconta que passou os 15 piores minutos de sua traram no ônibus duas mulheres: uma ficou vida, na mira de um revólver. Tudo aconteceu ao meu lado com a faca no meu pescoço no dia 05 de junho de 2016 (há menos de e a outra do lado do cobrador com a faca dois meses), na entrada da via do Hospital encostada na barriga dele. Mandou que fiRegional de Ceilândia. “Um elemento pulou cássemos quietos pegou o meu celular, o do a catraca para frente do ônibus, puxou uma cobrador e todo o dinheiro do caixa, cerca arma e me deu duas coronhadas na cabeça, de R$250 reais e depois saíram correndo, foi disse que não era para parar de dirigir e que tudo muito rápido”, relembra. Vale destacar ele estava com muita vontade de dar um tiro aqui o local: a mesma via onde José Ribeiro no meu crânio”, descreve. foi surpreendido. Nestes episódios, não só os rodoviários De acordo com a Secretaria da Segurança são vulneráveis, mas também os passageiros. Pública e da Paz Social do Distrito Federal, 4

(SSP-DF), entre janeiro e julho deste ano foram registrados 1.494 casos de roubos em transportes coletivos no DF. O número de ocorrências aumentou comparado ao mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 1.234 casos. Em relação a julho, o número também aumentou: de 151, em 2015, e 225 em 2016. O percentual representa 4,9% do total de crimes contra o patrimônio – que são furto, roubo, extorsão mediante sequestro (sequestro relâmpago) e extorsão indireta – contabilizados no período.

Questão de Ordem Diretor de Comunicação Social do Sindicato dos Rodoviários do Distrito Federal (Rodoviários DF), Marcos Júnior, destaca que na lista de reivindicações dos sindicalistas à SSP-DF, a primeira é sempre melhorar o sistema de segurança. Segundo ele, no entanto, não há retornos. “Pedimos que eles colocassem mais policiais nas ruas para fazer blitz nos ônibus, passando nas paradas e nas vias que eles sabem que são as mais procuradas pelos assaltantes, fazendo abordagens mais frequentes nas pessoas que são suspeitas, e infelizmente não estamos sendo atendidos”, relata. A SSP-DF em nota, diz que existem operações para melhorar o alto número de ocorrências neste ramo. A pasta revela que a Polícia Militar tem intensificado o policiamento ostensivo com a Operação Redução dos Índices de Criminalidade (RIC), que emprega 800 policiais que estavam nas áreas administrativas e agora atuam nas ruas


Foto: Charles Jacobina

de todo o DF. Para os coletivos, a Secretaria também cita que existe a operação – Anjos da Guarda – que intensifica a abordagem em coletivos, especialmente, nas linhas onde há maior incidência dos crimes. A PM mantém ainda um reforço extra de 1,2 mil policiais nas ruas durante os finais de semana. Motoristas dizem o contrário. “Às vezes a gente passa e está com suspeito dentro do carro, damos um sinal de luz para a polícia militar e eles não vem, não dão um apoio para a gente. Há alguns dias, tinha elementos suspeitos dentro do carro, dei um sinal de luz e eles [PM] passaram direto, não deram atenção”, critica José Ribeiro, que é motorista há cinco anos. “Nós temos reivindicado a todos os batalhões da Polícia Militar do Distrito Federal, reuniões para debater essas questões de segurança, uns nos recebem e outros não”, acrescentou Marcos Júnior, do Sindicato dos Rodoviários do DF. “Não vejo segurança alguma para nós. Muito difícil eles fazerem as blitz dentro do carro, isso acontece em uma vez ou outra isolada”, afirma William Alves, de 41 anos e 23 como motorista.

Empresas de transporte Segundo a SSP-DF em 2015, foi criado o Grupo de TrabalhoTransporte Coletivo, com o propósito de implementar ações de enfrentamento ao roubo em transporte coletivo, uma das metas do Viva Brasília – Nosso Pacto pela Vida. O Grupo já articulou junto às empresas concessionárias a importância da instalação de câmeras de vigilância no interior dos veículos, com o objetivo de tornar mais ágil a identificação dos assaltantes pela Polícia Civil. O assessor de comunicação da Viação Marechal, Pedro Fernandes, informa que a empresa investe em treinamentos para os rodoviários. “As únicas ferramentas que a gente tem são os treinamentos com a postura em que o motorista e o cobrador devem adotar, em situações de assaltos e outros casos”, informou. Os equipamentos tecnológicos de rastreamento e imagem, também estão sendo um dos principais investimentos da empresa. “Nossos ônibus contam com câmeras para filmagem. Elas ajudam a identificar os assaltantes. Temos também GPS, para que

caso ocorra assaltos ou sequestros possamos localizar os veículos online, e logo fornecer para polícia, para os órgãos responsáveis as imagens das câmeras, para poder verificar a questão de flagrante e identificação do assaltante”, afirma Fernandes. O motorista Paulo Sérgio Cunha, motorista há 20 anos - três na viação Marechal - confirma os cursos de preparação da empresa, mas contesta o funcionamento das câmeras. “Concordo que a empresa é muito boa na questão de preparação dos funcionários, mas na questão da segurança, nada. Trabalho em alguns veículos que somente uma das quatro câmeras funcionam, ou seja, teve um mau investimento da empresa nesse quesito”, critica Paulo Sérgio.

O medo Além dos assaltos, um outro elemento vem sendo fonte de medo entre os rodoviários: os donos dos transportes piratas. Um dos diretores do sindicato João Silva*, retratou o tamanho receio dos rodoviários para

passar nas vias do Sol Nascente. “Aquela região é muito perigosa. Muitos dos nossos [rodoviários] já foram ameaçados de morte lá por esses donos de pirateados”, disse. De acordo com o diretor, que tem oito anos de profissão, vários profissionais – entre motoristas e cobradores – são impedidos de trabalhar pela pressão que sofrem dos donos de transporte pirata em algumas das vias do Sol Nascente. “Lá tem uma quadrilha especializada. Eles botam o “terror” nos nossos colegas, dizendo para não pegar nenhum morador em algumas regiões”, descreve João Silva. O Setor Habitacional Sol Nascente é a maior comunidade carente da América Latina. Seu plano urbanístico, ainda em regularização é dividido em três partes. Segundo pesquisas da Codeplan, em 2013, a cidade somava cerca de 79 mil moradores, considerado nesse número a cidade vizinha Pôr do Sol. *Nome fictício para personagem que quis anonimato

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CIDADES

Mais cor nessa parada Criatividade transformou pontos de ônibus em referência de cultura Tissyane Scott

Voluntários Idealizadora do projeto, Priscila Madureira, é diretora pedagógica do Colégio Vitória Régia. Segundo ela, o objetivo é promover a solidariedade, o voluntariado, 6

a expressão artística dos alunos, além de tornar a cidade mais colorida. “Não adianta a gente só ficar reclamando esperando que alguém faça algo. Tem que começar com um passo de ‘formiga’. Fugir do padrão e desenvolver atos cidadãos nas crianças, pode ser a possibilidade determos um Brasil diferente”, analisou Priscila Madureira. Mais seis escolas abraçaram a causa, como o Colégio Montesquieu. A instituição também é criadora do projeto “Bibgeoteca”, que consiste em reutilizar geladeiras e transformá-las em bibliotecas públicas colocadas também nas paradas de ônibus. “Pensamos nas geladeiras porque elas vedam a entrada de água da chuva”, explicou

a diretora e proprietária do Montesquieu, Alda Maria Alves. “Apostamos nessa iniciativa porque esse projeto faz com que as crianças aprendam a respeitar os livros. Acredito que quem lê vai mais longe, temos que dar essa oportunidade a todos”. As geladeiras estão instaladas, mas têm que passar por um processo de pintura, feito pelos próprios alunos. A ideia é que com a pintura bem artística sejam evitados os roubos – é que a carcaça é utilizada em algumas oficinas de carros para amplificar o som de alguns veículos e ambientes. Outras geladeiras nas paradas da Vicente Pires foram doadas por um motorista de condução escolar, porém, eram colocados adesivos propagando o serviço. “A administração pediu para ele retirar [os adesivos]”, contou a Alda Alves. “Depois do apelo, ele preferiu sair porque não poderia mais fazer a propaganda”.

Como funciona

Foto: André Rocha

A rotina de quem pega ônibus não é das mais fáceis, tudo pode acontecer: engarrafamento, superlotação, e isso piora ainda mais se você for em pé. Cansados dessa rotina, os estudantes de Vicente Pires lançaram a campanha Mais Cor Nessa Parada, que revitaliza os pontos de ônibus. A proposta foi tão bem sucedida que é a única representante de Brasília na disputa da 15ª edição do Prêmio Escola Voluntária. O prêmio incentiva a cidadania e a solidariedade. A premiação do primeiro lugar é de R$ 20 mil. Eduarda Costa, de 15 anos, foi uma das pioneiras do movimento Mais Cor nessa Parada, que já dura seis meses. “Eu decidi participar desse projeto, porque eu muitas vezes não conseguia pegar o ônibus. É muito diferente você chegar em uma parada toda pichada e mal acabada e chegar em uma parada bonita, muda completamente o dia”, contou a estudante do Ensino Médio. O projeto que é apoiado pela Administração Regional da cidade, já tem 23 paradas de ônibus restauradas, restando apenas oito para completar a cidade. “Não é só uma pintura na parede, mas é o que ela traz. Abrir um canal com a comunidade através da cultura significa unir as pessoas. Também, desejamos que as paradas sejam uma parada de pensamento e uma expansão de cultura”, defendeu o coordenador de Cultura, Esporte e lazer, Clayson Gomes Barros.

O trabalho, inicialmente, era mantido com doações de tinta de casas de pinturas, hoje, é combinado entre as escolas quem fica responsável por qual parada, e elas mesmas compram a tinta e eventualmente a administração também contribui. Após a parada passar por uma limpeza e ser colocada a cor base, é hora de os alunos colocarem as mãos à obra! Segundo Priscila Madureira, apesar de não haver “recompensas” a participação dos estudantes é intensa. “O sentimento de ajuda ao próximo e do reconhecimento de um bom trabalho, os movem”, contou a pedagoga. Para o universitário Guilherme Caldas, o projeto é um incentivo para outras administrações implantarem em cada cidade.


COMPORTAMENTO

O Portal do Bem Plataforma do GDF na internet oferece opções para voluntários e instituições

Foto: Joksã Natividade

Lorena Souza

“Encontrar pessoas com o mesmo objetivo e servir de ponte para uni-las”, é o objetivo do Portal do Voluntariado do Governo do Distrito Federal (GDF). A plataforma une pessoas que desejam doar o tempo livre, atenção e carinho para projetos sociais. Lançado em junho deste ano, o projeto é inspirado no portal “Transforma Recife”, da capital pernambucana. Porém, diferentemente do de Recife, o do Distrito Federal tem também a opção para os interessados em trabalhos voluntários em órgãos públicos. Segundo o coordenador de Articulação do Terceiro Setor da Casa Civil, Rodrigo Dias, havia projetos do governo, mas não existia um marco legal que permitia esse tipo de trabalho, daí a necessidade de criar um portal com características próprias. O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, assinou o decreto estabelecendo o funcionamento do portal, definindo encontros entre possíveis voluntários e projetos sociais. O site engloba iniciativas da sociedade civil e também de órgãos do governo. No lançamento do Portal, as autoridades afirmaram que um dos objetivos é transformar Brasília na capital da solidariedade e assim construir uma sociedade mais participativa e atuante em projetos sociais. Os interessados em atuar como voluntários podem escolher entre 63 projetos nas mais diversas áreas: de educação, saúde, cultura e assistência social.

Para ser voluntário, é necessário preencher um cadastro no site com dados pessoais e informar com quem deseja trabalhar, o chamado “público alvo”, a formação profissional que tem e a disponibilidade do horário. Com base no perfil traçado, o site apresenta as alternativas que se encaixam com a pessoa. O portal envia um e-mail com a oferta de projetos e em 48 horas, o interessado escolhe entre as opções apresentadas.

Gratidão Voluntária nos Jogos Olímpicos por meio do programa Embaixadores do Turismo do GDF, a estudante Letícia Baldotto, 18 anos, disse que a experiência marca para o resto da vida. “Já me candidatei como voluntária outras vezes, para a Abrace, durante o Mc Dia Feliz, e mesmo sendo um trabalho de um dia só, já achava fantástico todo o amor que eu recebia em um espaço tão curto de tempo. Ser voluntário por quase duas semanas e receber desse mesmo amor todos os dias foi sensacional”, contou Letícia. Para as instituições que recebem os voluntários, também é gratificante, segundo relatos dos responsáveis. A Casa Menino Jesus, do Gama, é um desses exemplos. O local assiste a crianças e adolescentes com câncer e outras doenças que necessitam de tratamento prolongado. Oferece hospedagem, alimentação, vestuário e toda ajuda ao paciente e ao acompanhante. Sem

esse apoio, contou Érica de Souza, de 19 anos, ela não conseguiria tratar seu filho, Carlos Henrique, 1 ano e 7 meses. O bebê sofre com uma má fomação na coluna. “Em Tocantins, de onde eu vim, não daria para tratar o Carlos Henrique como ele precisa”, afirmou. No projeto Movimento de Apoio ao Paciente com Câncer (MAC), que auxilia pacientes em tratamento de câncer do Hospital de Base, são oferecidos material de higiene pessoal, remédios e apoio psicológico. No local, o quadro de voluntários reúne 80 pessoas que se revezam para manter a organização. Cida Castro trabalha como voluntária há 17 anos e sintetiza o que sente: “A base de tudo é o amor, a gente trabalha para eles e por eles”. Para as instituições que querem cadastrar projetos, a única exigência é possuir CNPJ, pois, assim, o governo consegue saber se o projeto realmente funciona. Para recrutar interessados em oferecer seus trabalhos gratuitamente, basta informar o perfil de voluntário desejado, a área onde deverá atuar e disponibilizar horários.

www.portaldovoluntariado.df.gov.br Casa Menino Jesus - (61)3385-6317 Movimento de Apoio ao Paciente com Câncer - (61)3315-1687

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COMPORTAMENTO

Abuso ‘nosso’ de cada dia Domésticas usam o Facebook para relatar assédio moral no ambiente de trabalho Marina Brauna e Mylena Tiodósio

A partir desta edição até o fim do ano, o ARTEFATO apresenta uma série de três reportagens sobre empregadas domésticas e a realidade delas no Brasil, país com o maior número de pessoas com essa profissão. Nesta primeira, será contada a história de duas mulheres entre mais de 5 milhões de trabalhadoras que sofreram na pele os mais diversos tipos de abusos, que de tão comuns, permanecem ignorados e impunes. Ela sempre sai cedo para cuidar de outro lar: faz numerosas tarefas para garantir o bem-estar da outra família. No caminho para o trabalho, leva a bolsa cheia: carrega a roupa, os sapatos que usa no serviço e a marmita preparada na noite anterior. Tem que levar as refeições de casa porque a patroa a proibiu de comer qualquer alimento da casa onde trabalha. Os talheres e demais utensílios também devem ser levados de casa para o trabalho. Essa é uma realidade de parte das 5,9 milhões de mulheres que trabalham como empregadas domésticas no Brasil (veja o infográfico, na página ao lado). Anos depois de deixar a profissão, Joyce Fernandes, 31, criou a hashtag #euempregadadoméstica para publicar no Facebook um relato semelhante ao descrito acima. A atual rapper e graduada em história levou muitas empregadas a quebrar a barreira do silêncio e relatar abusos sofridos. As histórias, que à primeira vista parecem casos isolados, foram se somando a outras iguais ou tão cruéis quanto. Até o fechamento desta edição a página contava com mais de 125 mil 8

curtidas e milhares de relatos de abusos. Para a maioria destas mulheres, que não tem a chance ou o espaço para expor as agressões morais que sofrem nas casas onde trabalham, esses abusos ficam ali mesmo onde eles acontecem. O mais longe onde eles podem chegar é nos ouvidos dos familiares. Algumas dessas agressões são escancaradas e chegam a ser enquadrados como assédio moral. Em raras ocasiões são transformadas em denúncias e processos judiciais, mas em sua maioria, de tão naturalizados, são ignorados.

Humilhações A empregada doméstica T.M., 52 anos, prefere manter o anonimato para evitar retaliações. Ela contou que aos 17 anos, quando começou a trabalhar em “casas de família”, sofreu restrições à comida, ao descanso e aos estudos. “Na primeira casa em que eu trabalhei, a patroa me mandava comprar pão, deixava só a pontinha de um pão para mim e escondia o resto”, relatou ela com lágrimas nos olhos. Em seguida, T.M. prossegue: “Quando eu ia arrumar os quartos, encontrava pães mofados e biscoitos entre as cobertas. Lá, só se fazia carne uma vez na semana, no sábado. Depois de fazer a comida eu saía e, quando voltava, não tinha mais nada. Eu passava a semana toda pensando na carne moída, mas só sentia o cheiro. Só ficava a panela para lavar”. Ainda, sob forte emoção, a doméstica concluiu: “O medo sempre foi de arranjar um emprego pior e era por isso que eu aguentava. Sempre tinha uma coisa ruim.

Se trocasse de emprego, corria o risco de o patrão pagar menos, ficar sem a folga ou sem a comida. Era um sentimento de posse que eles tinham. Achavam que se pagavam, podiam tratar mal”.

Problemas A presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores Domésticos (Fenatrad), Creuza Maria Oliveira, entende que a organização sindical das trabalhadoras ainda é frágil. Ela afirma que a entidade possui vínculo com sindicatos de pelo menos 13 estados, mas que ainda assim enfrenta problemas. “Trabalhamos com precariedade porque não temos contribuição sindical, liberação de dirigente sindical e estrutura adequada para atender às trabalhadoras. Tudo isso dificulta a nossa organização. O movimento das domésticas cresceu em direitos, mas não cresceu em organização sindical”, disse. No Distrito Federal, o Sindicato dos Trabalhadores domésticos do DF e das Cidades do Entorno, que funciona há 20 anos, tem apenas a função de intermediar as denúncias entre as empregadas e as delegacias regionais do trabalho. O vicepresidente do sindicato Marco Aurélio Guimarães informou que a procura de ajuda pelas trabalhadoras tem sido maior após a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição nº 66 e, que poucos casos relatados se referem a abusos. “As reclamações atuais têm relação com o não cumprimento da lei, do contrato. Mas poucas denúncias sobre abusos vêm ao Foto: Andressa Paulino


nosso conhecimento. Não sei se é vergonha, medo ou pressão dos empregadores”, relatou Guimarães.

Orientações Levando em conta as dificuldades do sindicato da classe, as profissionais podem recorrer a outras alternativas. A advogada especialista em direito processual do trabalho, Ana Flávia Bertoldo, orienta sobre o que deve ser feito em situações em que “o empregado doméstico se sinta coagido, humilhado, constrangido e explorado em seu ambiente de trabalho”. De acordo com Ana Flávia Bertoldo, “as denúncias relacionadas ao trabalho doméstico devem ser feitas administrativamente na Delegacia Regional do Trabalho”. Em caso de assédio moral, “o empregado deve

fazer a denúncia diretamente na justiça do trabalho, entrando com um pedido de rescisão indireta, que é um processo no qual o empregado pede sua dispensa devido ao fato de seu empregador estar cometendo faltas graves no ambiente de trabalho”. A advogada ressalta a complexidade que existe em provar que as alegações são verídicas e que a dificuldade é menor quando há outros trabalhadores na residência que possam ser testemunhas. Ela indica que há outros meios para firmar provas como o uso de aplicativos de gravação de áudio, que já são aceitos na justiça do trabalho para comprovação dos relatos. ► Veja na próxima edição: De onde vem essas práticas.

Elas são 5,9 milhões de brasileiras, distribuídas em casas de classe média e alta. Representam 92% dos empregados domésticos. Entre as mulheres que trabalham, são 14%. A média de tempo na escola é de seis anos e meio.

Até 2015, 70% não tinham carteira assinada.

Faz diferença, sim O sol nem nasceu e M.J, 48, já está de pé, preparando o café, que ficará na garrafa azul para as filhas, que ainda dormem. Toma um gole pouco antes de sair, pois o dia será longo. Ela está a caminho de uma das quatro casas onde se reveza durante a semana para trabalhar. Entretanto, para conversar conosco, ela muda a rota e vem pela primeira vez à Universidade, onde fizemos a entrevista. A primeira coisa que ela diz quando vê os edifícios pela janela do carro é “lugar chique esse onde você estuda, moça, muito bonito”. M.J., que prefere não se identificar, conta, ao lado de fora do bloco K, as histórias que para ela foram as mais absurdas, porém comuns, afinal “quem trabalha em casa de família já tá acostumada com humilhação”. Vinda da cidade Olhos D’Águas da Cunhã, Maranhão, aos 11 anos para trabalhar como empregada doméstica, M.J., embora descreva com felicidade os detalhes das dificuldades de conseguir a casa e o carro, enquanto ajeita os cabelos cacheados para a foto, ela conta repetidamente que “não é uma profissão boa, pois fazem a gente de capacho, não valorizam a gente. Hoje eu tenho minhas coisas, mas sofri muito, desde menina. Aguentei tanta coisa”. O abuso que mais lhe dói é lembrado, em detalhes, pois foi na primeira casa onde trabalhou. Ela veio para o Distrito Federal com a promessa de que trabalharia, com um bom salário, enquanto poderia estudar. Em 1989, semanas após a chegada em Brasília, a patroa chama para uma conversa. “Ela disse que não tinha como eu estudar. Quem é que ia ficar com criança na hora que eu estivesse na escola? Era melhor eu ficar e deixar isso pra lá. A escola só ia me atrapalhar.” Enquanto conversamos, ela acha graça da câmera. Nessa hora, olha para a repórter e relata com um tom terno o quanto a vida da gente é diferente. “Hoje vocês têm tanta oportunidade”, filosofou. Chances que também a teriam levado para um caminho bem diferente do que ela segue há 38 anos.

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POLÍTICA

LAI ainda provoca dúvidas Em vigor há cinco anos, a Lei de Acesso à Informação é alvo de questionamentos

A Lei de Acesso à Informação (LAI) permite que qualquer cidadão tenha acesso aos dados de instituições públicas. Caso o acesso à estas informações seja negado, o solicitante pode recorrer na Controladoria Geral da União. Na maioria das vezes, os especialistas identificam desconhecimento por parte do público sobre o que a LAI pode permitir. O jornalista Thiago Vilarins relata a sua experiência com a lei: “Utilizo a LAI para ver quais servidores públicos foram afastados por corrupção. A CGU divulga um balanço mensal com essas informações. É uma lei importante! ”. De acordo com a lei, só são negados os pedidos que coloquem em risco a segurança do Estado ou da sociedade. Há relatos de informações negadas pelo Ministério das Relações Exteriores e também do Ministério da Defesa. Pelos dados da CGU, foram negados aproximadamente 20 mil pedidos – mais da metade das 37 mil respostas negativas - por serem considerados como informações pessoais ou sigilosas.

Dúvidas A coordenadora-geral do Governo Aberto e Transparência, Camila Alves, afirmou que as dúvidas em torno da lei mostram a confusão das pessoas sobre o que ela significa e representa. “Telefonam para a CGU para tirar dúvidas sobre o Imposto de Renda, quando deveriam entrar em contato com a Receita. A LAI ainda está sendo, para muitas pessoas, o único meio de contato entre o cidadão comum e o governo”, contou Camila Alves. 10

Foto: Gláucia Cardoso

Mateus Lincoln

Pedidos devem ser encaminhados à Controladoria-Geral da União (CGU)

A coordenadora-geral detalhou como funciona o trabalho. “Trabalhamos tanto com o monitoramento dos prazos e procedimentos, quanto na qualidade das respostas fornecidas pelos órgãos”, disse Camila Alves, acrescentando que entre as atribuições da CGU está a divulgação da lei para que o cidadão possa ter conhecimento de seus benefícios e passe a fazer uso da mesma. A CGU também é responsável por capacitar os funcionários públicos para

melhor atender as solicitações dos cidadãos e prover de estruturação das informações disponibilizadas pelos órgãos públicos, mas este ainda é um trabalho em construção, como reconhece a própria coordenadora: “Alguns órgãos negam o pedido partindo de justificativas erradas, pois os próprios servidores ainda desconhecem a lei.”

Críticas A estudante de Contabilidade, Bruna Couto, conta as dificuldades que teve ao


solicitar uma informação: “Procurei saber mais sobre a prestação de contas no Instituto de Previdência dos Servidores do Distrito Federal, após solicitarmos a informação, recebemos a resposta mais de dois meses depois com informações que eram confusas até para mim, que já sou quase contadora”. A profissional de RH Marília Souza, que também está descontente com os resultados, conta que ainda não considera a lei consistente “Quando solicitei informações, eu fui respondida, mas de forma vaga. Saber que a lei funciona é bom, mas ainda não tenho confiança nela”.

Internet A CGU criou a página www.lai.gov.br para que os interessados possam buscar informações e orientações sobre a lei em uma linguagem simples e objetiva voltadas especialmente para o cidadão que não tem o conhecimento sobre a mesma. Também há um site sobre a LAI com vídeos feitos em parceria com o Exército com respostas às dúvidas mais frequentes sobre a lei. E temse, ainda, uma página oficial do Facebook (www.facebook.com/cguonline) com publicações que abordam a utilização da lei, como o funcionamento do Banco de Dados da LAI, que permite que qualquer pessoa possa ter acesso aos pedidos de informação enviados a qualquer órgão federal. É pela internet que chega a maior parte dos pedidos e dúvidas. De junho de 2012 a julho deste ano, a CGU recebeu cerca de 396 mil solicitações de informação, em média, quase 8 mil pedidos por mês. Deste total, 97,5% foi solicitado através da internet e, somente 2,5%, foi solicitado por outros meios. Das solicitações encaminhadas à CGU, mais de 99% (393 mil) foram respondidas, sendo que menos de 1% tramita ainda no órgão fora (2,4 mil) e dentro do prazo (171). “Nós queríamos fazer uma campanha que alcançasse todos, mas é muito difícil conseguir recursos para isso. Sabemos que tem pessoas que moram em lugares que não possuem acesso à internet e que não sabem dos seus direitos, não sabem que podem usar essa lei para fazer controle social”, afirmou Camila Alves, da CGU.

DOS 37 MIL PEDIDOS NEGADOS: Cerca de 12 mil (33%) foram considerados informações pessoais;

DOS 37 MIL PEDIDOS NEGADOS:

Cerca de 12 mil (33%) foram considerados informações pessoais;

8,3 (23%) mil foram declarados como informações sigilosas;

8,3 (23%) mil foram declarados como informações sigilosas;

Aproximadamente 8 mil (21%) demonstram oAproximadamente desconhecimento8do da lei, milpúblico (21%) acerca demonstram sendo classificados como pedidos o desconhecimento do público acerca da lei, sendo classificados como pedidos genéricos ou incompreensíveis. genéricos ou incompreensíveis.

MEIOS DE DE ENVIO ENVIO DE DE RESPOSTA: RESPOSTA: MEIOS 315 mil (79%) aconteceram 315 mil (79%) aconteceram através do sistema;

através do sistema;

71 mil (18%) foram realizadas diretamente através de 71 mil (18%) forameletrônica realizadas(e-mail); correspondência

diretamente através de correspondência eletrônica (e-mail); 7 mil (2%) por meio de busca/consulta pessoalmente;

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2,8 (menos de 1%) através de correspondência física

2,8 (menos de 1%) através de correspondência física

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COMPORTAMENTO

Vinde a mim todos os oprimidos A igreja evangélica Vivo Por Ti inova e abre as portas para lésbicas, gays, bi e trans André Baioff

Na entrada da igreja evangélica Vivo Por Ti, em Samambaia, há grafites, fotografias e desenhos nas paredes pintadas de preto. Com as luzes apagadas, uma banda de música anuncia o início do culto. É assim que o pastor Anderson Silva ,35 anos, atrai um público que até então era marginalizado: gays, lésbicas, bissexuais travestis, transexuais e transgêneros. “Encontrar-se consigo mesmo ao ter um encontro com o Arquiteto Criador. Com Deus, somos quem deveríamos ser. Objetivamente é o que penso ser o motivo essencial da religião”, pondera o pastor Anderson. Assim o fundador da Vivo Por Ti aumenta seu rebanho a cada semana. Pelos cálculos dele, já são 320 fieis. Pessoas vindas das mais diferentes áreas do Distrito Federal e que encontraram na igreja Vivo Por Ti um lugar de apoio e refúgio espiritual. O público, majoritariamente jovem, participa dos cultos celebrados em um galpão adaptado e capaz de receber um grande número de pessoas.

Em 2009, após decidir sair de uma igreja para poder formar outros conceitos da MUC, deu início a Igreja Vivo por Ti, nas escadarias do Conic, ficando por lá durante três anos. Nesse começo, a igreja tinha um apelo tribal, cultural e alternativo, porém, após transferila para o centro de Taguatinga, a Vivo Por Ti deixou de ter esse apelo e seguiu com um conceito mais familiar, para que unissem os mais diversos estilos e pessoas. A igreja continuou como nos princípios da MUC com a intenção de permitir que as pessoas se sintam livres para se expressarem como queiram ou não queiram, sem censuras. E, há um ano e meio, a Vivo Por Ti decidiu inserir a comunidade LGBT nas atividades da igreja, após um amigo

próximo e discípulo do pastor assumir sua homossexualidade, mesmo tendo que enfrentar as complexidades do tema. “Há 6 anos descobrimos que um amigo e discípulo nosso era homossexual. Ele é uma pessoa extraordinária. A partir de então, começamos a perceber que haviam muitas pessoas de nosso círculo íntimo que eram. Minha casa sempre foi um refúgio amigo e religioso para esses irmãos, mas devido à complexidade religiosa que envolve o tema, apenas há um ano e meio preparamos teológica e emocionalmente a congregação para recebelos sem censura”, afirmou o pastor Anderson. Nesse período, Anderson realizou um culto e convidou os homossexuais para que se sentissem confortáveis e participassem

O pastor Anderson Silva foge do padrão tradicional e convencional dos líderes religiosos: tem tatuagens pelo corpo (inclusive no rosto) e não se veste de maneira conservadora. Anderson nasceu em Maceió e veio para Brasília há 18 anos. É casado com Keila Silva e juntos são pais de três filhos, um deles com autismo. Há 16 anos, tornou-se cristão e há 12 iniciou um ministério evangelístico chamado MUC – Missões Urbanas e Contracultura. Esse ministério realizou grandes eventos entre as tribos urbanas do DF. 12

Foto: Paula Carvalho

Fundação

Ícaro Andrade (E) conheceu a igreja no mesmo dia que viu seu namorado, Everson Mariano (D)


da tradicional cerimônia de lava-pés. O fato espantou alguns frequentadores que resolveram sair. “Perdemos relacionamento com cerca de 50 irmãos, dentre eles muitos líderes de nossa comunidade de fé. Hoje, somos felizes por nossos irmãos viverem sem distinção em nossa congregação. Foi um trabalho árduo.”, relatou o pastor. O esforço do pastor nem sempre recebeu retorno de outros evangélicos, ele contou que houve hostilidade e resistência. “Perdi muitos amigos pastores, muitas igrejas romperam relacionamento conosco. Por outro lado, passamos a incentivar muitas outras igrejas a saírem da zona de conforto e amar a própria reputação. Acredito que para amar, você precisa estar disposto a não ser amado por todos”, explicou.

Projeto Nouwen O jornalista Ícaro Andrade, 25 anos, conta que ficou sabendo da Vivo Por Ti no mesmo momento que conheceu seu namorado, o Everson Mariano, 20 anos, em reunião de bar com amigos e logo ficou curioso em conhecer. “Eu fiquei sabendo da igreja no dia que conheci meu atual namorado. Estávamos em um bar e ele (Everson) me disse que tanto ele como os amigos lá presentes eram da mesma Igreja. Logo, fiquei curioso em conhecer o lugar, pois achei estranho eles estaremem um lugar não muito comum para cristãos, no caso o bar. Após isso, descobri que na Igreja havia um trabalho (encontro), voltado para os homossexuais, chamado Nouwen, fiquei mais curioso ainda”, apontou Ícaro. O Nouwen é um projeto criado pelo próprio pastor Anderson, voltado para a comunidade LGBT, a fim de trazer a conexão entre essas pessoas e a igreja. O projeto é coordenado pelo professor Guilherme Sousa, 28, que diz que em igrejas tradicionais não abrem possibilidades para os homossexuais viverem como irmãos da igreja. Para que ele pudesse viver a igreja, o homossexual teria que abdicar da prática. “A igreja tradicional diz que o gay tem que deixar a homossexualidade para se relacionar com Deus.”, acrescenta. O marco para que o projeto fosse concretizado foi a cerimônia de lava-pés. Guilherme diz que antes da cerimônia, a ideia

do projeto já estava sendo fomentado pelo pastor Anderson e que quando aconteceu este marco deu espaço para que o Nouwen fosse estabelecido. “Antes da cerimônia, o projeto já estava sendo pensado. A cerimônia do lava-pés foi que deu espaço para fosse estabelecido e apresentado para a nossa comunidade de fé”, aponta. Guilherme e Everson, antes de frequentarem a Vivo Por Ti passaram por outras igrejas, onde tentaram deixar de ser homossexuais. “Até os meus 25 anos, eu lutei contra a minha homossexualidade, porque nesse período eu aceitava esse pensamento de deixar essa minha condição”, enfatiza Guilherme. Ícaro diz que as igrejas das quais participava faziam orações de cura e libertação para que pudesse deixar a homossexualidade, porém, ele nunca sentiu necessidade de procurar isso porque não via problema na sua condição, decidindo se afastar. “Um dos motivos de ter me afastado de outras Igrejas foi justamente pela cultura de ‘libertação’ e ‘cura’”, contou o jovem. Segundo Ícaro, a percepção dele de Deus e de religião o fez procurar alternativas que permitissem viver a sexualidade sem culpa nem pressão. “Tenho uma concepção bem diferente do que Deus é ou do que ele aceita. Acredito que ele não julga e muito menos discrimina ninguém. Minha sexualidade não será um dos critérios avaliados por ele para dizer se vou ou não para o céu”, afirmou. De acordo com Guilherme, coordenador do Nouwen, objetivo do projeto é trazer a possibilidade de o homossexual ter a convivência de viver com Deus, já que ele foi impedido disso em outras instituições e dizer para essas pessoas que há essa possibilidade se assim elas quiserem. “A ideia do projeto e dizer que sim, elas têm acesso e podem se relacionar com Deus. O mesmo sacrifício feito por Cristo, serve tanto para os heteros quanto para os gays. Esse sacrifício foi feito para o ser humano como um todo”, ressaltou. O Nouwen é voltado especificamente para a comunidade LGBT, para que a pessoa que for frequentar possa se sentir confortáveis e tranquilas em participar das orações, já que, segundo Guilherme “elas já foram rejeitadas antes de estarem lá. E ficam cautelosas ao

serem chamadas para uma igreja evangélica”. Os encontros acontecem sempre no último sábado do mês às 20h, na própria igreja.

Repressão histórica Em Levítico capítulo 18, versículo 22, está escrito: “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é”. Passagens bíblicas como essa são usadas por certos religiosos para condenar os pertencentes da comunidade LGBT. Há, ainda, nações que condenam os praticantes da sodomia (relação sexual por via anal). E existem também religiões, inclusive, no Brasil que rejeitam os homossexuais. O avanço do conhecimento e o respeito pelo próximo tem mudado interpretações e costumes. Ao ser questionado sobre a passagem bíblica, o pastor Anderson Silva deu uma aula de teologia e amor ao próximo. “A verdade bíblica temporalmente contextualizada. Mas temos que levar em conta o ‘todo bíblico’ para que não fiquemos alienados em compreensões extremas. A parte ‘B’ desse versículo ordena a morte e Jesus em João 3.17 disse ‘que não veio destruir o homem’. Penso eu que o que Bíblia fala sobre homossexualidade não procede de uma conclusão relacional, pois não existia uma realidade social tão forte como em nossos dias. Se Jesus e os Apóstolos viessem em nossa época, ficaria mais nítido o que Deus tem a dizer sobre o assunto, eles produziriam o que chamo de ‘teologia do processo’. A Bíblia não é exaustiva sobre o tema”, concluiu o pastor.

Vivo Por Ti Endereço:QI 416 Cj 2 - Samambaia Norte, setor industrial Site: http://vivoporti.com/ Facebook: https://www.facebook.com/ igrejavivoporti/

Projeto Nouwen Dia: todo último sábado do mês Horário: 20h Facebook: https://www.facebook.com/ projetonouwen

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SAÚDE

Um favor para o Planeta Aleitamento materno reúne vantagens para o desenvolvimento sustentável, diz ONU Bárbara Xavier

Há 16 anos, líderes mundiais em parceria com a Organização Nações Unidas (ONU) definiram oito metas que visam reduzir a pobreza extrema. O prazo acabou em 31 de dezembro de 2015, deixando ainda vários desses objetivos sem cumprimento. O aleitamento materno não está entre eles, mas pode ser relacionado a todos. A Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN) considera a prática como indispensável para a realização dessas metas. Na reformulação dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, foram traçados os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas para o período de 2016 - 2030. Os ODS deverão orientar as políticas internas de cada país nos próximos 15 anos, sucedendo e atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Implicitamente, amamentar está presente em vários deles: enfrentar a pobreza; acabar com a fome; boa saúde e bem estar para todos; educação de qualidade; igualdade de gênero; água potável e saneamento; energia limpa; trabalho descente e crescimento econômico; indústria, inovação e infraestrutura; redução das desigualdades; cidades e comunidades seguras e sustentáveis; consumo e produção responsável; ação contra as mudanças climáticas; proteção da vida das águas; proteção dos ecossistemas terrestres; paz e justiça para todos; alianças para atingir os objetivos. Ainda de acordo com a IBFAN, o aleitamento materno é a chave para o desenvolvimento sustentável por ser acessível, de qualidade e seguro. O leite humano não tem custo, está próximo e 14

uma criança, além de prevenir doenças e disponível no tempo e quantidade adequados fortalecer vínculos. para bebês e crianças em qualquer situação A OMS estabeleceu uma meta global para socioeconômica. que os países consigam alcançar pelo menos A coordenadora-geral de Saúde 50% do aleitamento exclusivo nos primeiros da Mulher e Aleitamento Materno do seis meses até 2025 já que, atualmente, Ministério da Saúde, Thereza de Lamare, somente 35,7% dos indivíduos no mundo relatou ao ARTEFATO que a amamentação alcançam esse patamar. é ambientalmente sustentável comparada A pediatra Aline Esmeraldo Andrade à outras alternativas de alimentação. “É afirmou que amamentar diferente dos leites artificiais evita a desnutrição que passam pelo processo O LEITE DA infantil e a obesidade. de industrialização. O leite “O aleitamento materno materno não precisa de MÃE É A é um fator de proteção nenhum preparo prévio, não tanto para desnutrição utiliza energia, materiais para FORMA MAIS quanto para prevenção embalagem, combustível ECONÔMICA E de obesidade, hipertensão para distribuição, água e arterial e desenvolvimento nem requer uso de produtos ECOLÓGICA DE de doenças como a tóxicos para a limpeza diária ALIMENTAR O diabetes. A obesidade, em de mamadeiras e afins”, especial, é um dos grandes disse ela. BEBÊ desafios da saúde pública, Thereza de Lamare inclusive na pediatria desde ainda reforçou que outras os lactantes até a adolescência”, relatou. alternativas só devem ser adotadas em casos Para Aline Andrade, que atua na área há realmente necessários e sob orientação 22 anos, a introdução precoce de alimentos médica. “O aleitamento materno é exclusivo sólidos, particularmente antes dos quatro durante os primeiros seis meses de vida e meses de vida, associa-se ao aumento do só deve ser substituído por outras opções ganho de peso e gordura corpórea durante de alimentação quando a mulher estiver a infância e esses fatores são considerados verdadeiramente impedida de amamentar”, predisponentes a obesidade futura. afirmou. “A amamentação é uma forma natural e Benefícios adequada de alimentar uma criança em seus primeiros meses de vida porque proporcioDe acordo com a Organização Mundial na o crescimento e desenvolvimento funda Saúde (OMS), o aleitamento materno é damental do bebê. É necessário que o aleicapaz de assegurar a saúde e a sobrevivência tamento seja exclusivo até o sexto mês de da criança. Rico em nutrientes e responsável vida e posteriormente complementado com por fornecer toda substância necessária outros alimentos, podendo se estender até para o bebê, o leite da mãe é a forma mais de dois anos”, explicou Aline Andrade. mais econômica e ecológica de alimentar


Foto: Aline Brito

Prolongar o período Mãe de Helena, de dois anos e meio, e Laura, de quatro meses, Luciana Rodovalho é servidora pública, que defende a amamentação prolongada, pratica amamentação em “tandem” – quando a mãe amamenta duas crianças ao mesmo tempo - e espera que o desmame ocorra de forma natural. “Eu escolhi não fazer o desmame. Há muita pressão, as pessoas falam que o meu leite ficou fraco e já virou água. Mas, nós somos mamíferos e é normal que todas as crias mamem e desmamem naturalmente. Não escolhi amamentação prolongada, nem em tandem, aconteceu. Se a minha filha de dois anos e meio tem essa necessidade de mamar, vai continuar”, disse. Para a servidora, amamentar é mais do que apenas alimentar um bebê. “Nos primeiros seis meses é questão de sobrevivência, mas a amamentação vai muito além disso. Amamentar é carinho, aconchego e proximidade com a mãe. O bebê sente o calor da mãe e se sente protegido. Eu me sinto quase uma super mulher em pensar que o meu corpo está produzindo o alimento perfeito para as minhas filhas”, analisou. Luciana Rodovalho defende a necessidade de as mães terem apoio durante a amamentação prolongada. Segundo ela, falta de apoio e informação podem prejudicar a prática e fazer com que optem pelo desmame precoce. “Não julgue uma mãe, faça ela as escolhas que for. Dê suporte, apoio, não repreenda de amamentar em público. Tem muita mãe que quer amamentar, mas que deixa de fazêlo não por falta de vontade, mas por não ter apoio e informação”, concluiu. Amamentar é uma prática natural que, apesar de individual, resulta em contribuições coletivas fundamentais para o desenvolvimento sustentável da sociedade e por isso é essencial o apoio, proteção e incentivo ao aleitamento materno.

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COMPORTAMENTO

Idosos usam tempo livre melhor Atrás de Santa Catarina, o DF é a segunda região com maior expectativa de vida no país

Projeto Ginástica nas Quadras, no Guará, desenvolve atividade física

Com o dinheiro contado da aposentadoria, como aproveitar bem o tempo livre? É a pergunta que muitos dos que passaram dos 60 anos fazem. Em busca de alternativas, instituições de ensino, organizações não governamentais e o governo do Distrito Federal apresentam opções de atividades esportivas e de lazer. E o melhor: tudo de graça. Basta que os interessados se inscrevam no programa desejado. Um dos que resolveram correr atrás é o aposentado Hélio Alves de Castro, de 70 anos. Aluno do Ginástica nas Quadras, ele contou que sempre fez esportes como uma maneira de garantir mais benefícios à saúde. “É uma experiência muito salutar e oportuna. Ao praticar esporte, você irriga mais o corpo, mantém mais a forma, melhora o apetite, dorme melhor, vive bemhumorado”. Adailde de Queiroz, de 58 anos, também 16

não ficou para trás. Desde que se aposentou, há dois anos, a ex-bancária que sofre de pressão alta participa de vários projetos gratuitos destinados ao público de sua idade. “Tudo que é oportunidade para eu aproveitar meu tempo e ajudar a melhorar meu condicionamento físico, estou dentro. Os resultados são visíveis: sinto-me mais independente, mais útil e sem contar o quanto faz bem para os meus problemas cardíacos”.

Lazer e esporte A Universidade Católica de Brasília (UCB) oferece ao público da terceira idade o Centro de Convivência do Idoso (CCI). A analista e psicóloga do projeto, Miracema Cortez, afirmou que o objetivo é criar um ambiente estruturado e qualificado para a promoção da qualidade de vida. No CCI os interessados podem exercitar-

Fotos: Daniel Neblina

Thaís Miranda

se com hidroginástica, ginástica oriental musculação e treinamento funcional — que conta com parceria da Escola de Fisioterapia da universidade e com o curso de Educação Física. Ainda é possivel fazer aulas de artesanato, computação e espanhol. Se precisar conversar com especialistas, há psicólogos disponíveis. São oferecidas de 300 a 320 vagas por semestre e as inscrições podem ser feitas no início de cada período. Miracema Cortez disse que a experiência com os idosos que passam a frequentar o centro de convivência é perceptível e gratificante. De acordo com a analista, as queixas biológicas, psicológicas e sociais apresentadas pelos idosos são amenizadas no decorrer das atividades. “Além de melhorar problemas com dores, a busca maior é a de ressocialização. Com isso, eles mudam suas atitudes por meio desse espaço. Os participantes valorizam


suas conquistas adquiridas no projeto, sendo pontuais, comprometidos, participativos e, no decorrer do semestre, trazem relatos de melhoria que o projeto faz na vida deles”, destacou. Para o coordenador do programa de pós-graduação em Gerontologia da UCB, Vicente Paulo Alves, é no centro de convivência que os aposentados ampliam as oportunidades de conhecer novas pessoas e até mesmo de desenvolver habilidades. “O CCI é uma experiência interessante porque disponibiliza atividades que não os deixam no ócio. Pode ajudar muito no momento em que já o tira de dentro de casa e vai com orgulho encontrar os colegas e os amigos para fazerem algum exercício”.

Ginástica nas Quadras Desde 1985 a Secretaria da Educação do Distrito Federal (DF) desenvolve o programa Escola-Comunidade/Ginástica nas Quadras, destinado para pessoas que estão na terceira idade. A iniciativa está disponível em todas as regiões administrativas do DF. São aproximadamente 60 professores de Educação física para atenderem cerca de 8.500 alunos. O professor e coordenador do programa, Oldair José de Souza, disse que o Ginástica

nas Quadras foi criado para melhorar o bem-estar e a saúde dos idosos por meio de exercícios físicos. “Ele [o programa] surgiu na perspectiva de oferecer a atividade física visando uma melhoria na qualidade da população de baixa renda e de alta vulnerabilidade social”. Além disso, Souza destacou os benefícios resultantes da prática dos exercícios propostos pelo programa. “É feita uma análise da situação do aluno, verifica-se que são pessoas hipertensas, acometidas de depressão e que começaram a participar do programa e a se socializar e, então, melhoraram a qualidade de vida”, afirmou. O professor do projeto Alessandro Medeiros salientou que o Ginástica nas Quadras vai além das atividades físicas. De acordo com ele, a convivência em encontros externos aumenta o ânimo na rotina dos idosos. “Os nossos lanchinhos, passeios, festas, viagens ocupam a mente deles [dos participantes] e isso dá mais disposição para o dia a dia de cada um”.

O mundo envelhece De acordo com o Relatório Mundial do Envelhecimento, da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada segundo duas pessoas completam 60 anos no mundo. A previsão é

que a população idosa mundial duplique em 2050, enquanto no Brasil o aumento será de 12%, ou seja, o valor atual quase triplicará daqui a 34 anos. Para especialistas, envelhecer com qualidade implica ter necessidades sociais básicas satisfeitas e boas condições de saúde. Especializado em Geriatria há aproximadamente 14 anos, o médico Marcelo de Faveri disse ao ARTEFATO que a longevidade é fruto de uma construção realizada ao longo da vida e que depende das atitudes tomadas por cada pessoa. “São as escolhas do presente que determinarão a realidade futura. Sabemos que teremos dificuldades, mas podemos reduzir os riscos e estarmos mais preparados para enfrentá-las”, explicou. De Faveri disse ainda que é fundamental a prática de alguma atividade e, de uma certa forma, a preparação para essa fase da vida. “Manter-se ativo física e socialmente é muito importante, pois reduz riscos de doenças que vão desde fraturas ósseas e tumores, até depressão e declínio cognitivo”. Segundo o geriatra, aposentar-se é uma transição e, como toda mudança, é traumática. “Eu diria que a regra geral é ‘não parar’, ou seja, continuar a utilizar da melhor forma possível as suas potencialidades e capacidades, assim como os recursos sociais disponíveis”, aconselhou.

Centro de Convivência do Idoso* Local: Bloco L da Universidade Católica de Brasília, em Taguatinga. Funcionamento: de segunda a quinta-feira das 8h às 12h e das 14h às 17h30, e às sextas-feiras o atendimento se encerra às 16h30. Telefone: (61) 3356-9084.

Ginástica nas Quadras* Local: todas as Regiões Administrativas Funcionamento: de segunda a sexta-feira das 8h ao 12h e das 14h às 18h. Telefone: (61) 3901-2625. *atividades gratuitas. Projeto Ginástica nas Quadras, no Guará, desenvolve atividade física

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ESPORTES

Paralimpíadas – uma lição de vida Superar é a palavra de ordem da maior delegação brasileira da história Flávia Alves

Pela primeira vez, o Brasil está inscrito em todas as 23 modalidades dos Jogos Paralímpicos, que ocorreu de 7 a 18 de setembro, no Rio de Janeiro. A delegação brasileira participa com número recorde: são 286 atletas, 24 acompanhantes e 205 profissionais entre técnicos, responsáveis por atividades administrativas e da área de saúde. Só do Distrito Federal, são 21 representantes, 15 homens e seis mulheres disputando em nove esportes. A cada edição, os paratletas rompem preconceitos e mostram o esporte de alto rendimento para pessoas com deficiência. Com a equipe maior e o bom desempenho nas últimas competições, a aposta é de alcançar o 5º lugar no quadro geral de medalhas dos Jogos desse ano. Nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, o objetivo é conquistar mais do que o alcançado em Londres 2012 - quando o Brasil ficou na sétima colocação geral com 21 medalhas de ouro, 14 de prata e 8 de bronze, foi a melhor campanha brasileira na história. A meta é ousada, mas não foge da realidade desses talentosos esportistas, que já enfrentaram desafios muito maiores na vida.

História e desafios Os Jogos Paralímpicos foram criados em 1948, como forma de reabilitação de militares lesionados na Segunda Guerra Mundial e atualmente é o maior evento paradesportivo do mundo. O movimento 18

paralímpico não para de crescer e nem mesmo a falta de divulgação e conhecimento sobre o paradesporto se tornaram empecilho para o Brasil, que atualmente é uma potência paralímpica, figurando entre as primeiras colocações nas disputas de esportes adaptados. A intenção dos jogos, afirmam os organizadores, não é enfatizar as deficiências dos atletas, e sim evidenciar as suas conquistas. Para isso, existe a classificação funcional ou oftalmológica (no caso dos deficientes visuais), para equilibrar a competição de acordo com o que o atleta ainda tem de funcionalidade. Ou seja, a classificação de todas as modalidades é feita de acordo com o que o atleta é capaz e, não, o contrário. A superação vem de todos os lados. Além dos atletas, os organizadores dos jogos e o governo precisaram se superar para tornar a cidade-sede dos jogos acessível. Transporte público que acolhe deficientes físicos e visuais (ônibus, BRT, VLT e táxis), calçadas com rampa, piso tátil e rotas acessíveis, são alguns dos projetos que foram pensados para tornar a cidade mais integrada e beneficiar os cidadãos mesmo depois do evento. As reformas estruturais são mais um desafio a ser enfrentado para uma sociedade mais inclusiva, consciente e tolerante. O legado que se espera é de uma população que incentive e valorize o paradesporto, assim como acontece com os outros esportes.

Inspiração Pela primeira vez, uma mulher conduziu a Bandeira do Brasil nos Jogos Paralímpicos. A escolhida é a dona de duas medalhas paralímpicas, Shirlene Coelho, campeã no lançamento de dardos – paratletas com paralisia cerebral. Ela foi escolhida em uma eleição aberta em que 286 atletas votaram. Foram 18 atletas-candidatos e Shirlene foi escolhida com 20% dos votos. A campeã de sorriso largo não é a única a inspirar exemplos. Atleta da modalidade de adestramento paraequestre, Marcos Fernandes, 55 anos, é um dos mais experientes da delegação. Sua história de persistência começou cedo, quando começou a montar aos dez anos de idade e logo “pegou gosto”, como costuma dizer e se tornou um profissional do hipismo. Aos 24 anos, lesionou sua coluna durante um treinamento, quando o cavalo dele quebrou uma das patas e começou a rodopiar. Desde então, o atleta ficou paraplégico, mas por amor ao esporte continuou sua carreira como instrutor de equitação. Conhecido como Joca, ele foi incentivado por uma aluna a conhecer o hipismo adaptado. “Eu me lembro bem das palavras que usei na época: ‘Sem condições’, até que ela continuou insistindo e eu


lherme Marciao, o mesatenista paralímpico de 24 anos. Ele contou que sempre teve o desejo de ser um atleta profissional, mesmo depois de sofrer um atropelamento aos 14, que o deixou tetraplégico. O esporte adaptado foi apresentado a ele como forma de recuperação e depois de um ano e meio de prática, Marciao foi convocado para a seleção, se tornando o atleta de alta performance que sempre sonhou ser. “Desde os 16 anos, eu escuto que eu sou uma promessa para as paralimpíadas do Rio. Infelizmente não consegui me classificar para os jogos de Londres e no fundo, poder participar dessa edição dos jogos foi um grande objetivo que eu consegui alcançar. Se eu mirar no meu melhor desempenho, o sucesso vai me acompanhar como se fosse uma sombra”, disse Marciao, que conta com o apoio da torcida brasileira nas provas. Apontada como destaque do atletismo, Shirlene Coelho, nasceu prematura aos oito meses e foi diagnosticada aos cinco anos com hemiplegia - desenvolvida ainda na gestação e causa paralisia em metade do corpo. Atual recordista mundial na prova de arremesso de dardo, ela contou que desde criança foi ligada ao esporte, mas que só conheceu o esporte adaptado já adulta por meio da procura por emprego. “Nunca imaginei que poderia me levar até uma paralimpíada, mas graças a Deus já está me levando à terceira”, lembrou a multimedalhista de 35 anos.

Foto: Cristian Lisboa

fui para minha primeira competição depois do acidente. Eu cheguei lá e não consegui fazer nada, isso me deixou muito chateado, foi quando eu falei para mim mesmo que precisava levar isso a sério”, contou Joca. A determinação faz parte da vida do esportista, que aposta em um bom desempenho nos jogos Rio 2016. Já o atleta de vela adaptada Herivelton Anastácio, 31 anos, provou que a eficiência está acima da deficiência e conquistou uma vaga para disputar sua primeira paralimpíada. Lutador de boxe até os 23 anos, ele sofreu um acidente que causou uma lesão medular e por consequência a perda total dos movimentos do braço. Por intermédio do programa de reabilitação do hospital Sarah Kubitschek, descobriu que levava jeito para o esporte e se apaixonou pela modalidade desde o primeiro contato. “Disseram que eu levava jeito para velejador, então eu comecei a treinar e já ganhei cinco primeiros lugares e um quarto lugar em competições regionais, isso no período de um ano”, lembrou o atleta, que se assustou quando percebeu sua rápida evolução dentro do esporte. Porém, ele reclama da falta de investimento ao esporte paralímpico em comparação às modalidades convencionais, considerando que o Brasil costuma liderar os quadros de medalhas das competições de esportes adaptados. “Ambição” é a palavra que define Gui-

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ESPORTE

Sonho se realiza na Rio 2016 Ex-ginastas se reúnem para acompanhar de perto as melhores nos Jogos Olímpicos

A primeira vez que a ginástica rítmica fez o coração de Natália Gondim, 36 anos, disparar foi aos seis anos de idade e, desde então, ele não para mais. Formada em Fisioterapia e Educação Física, os olhos dela se enchem de lágrima quando lembra do tempo em que começou a praticar o esporte. Foi guiada por essa emoção que Natália resolveu se reunir com as ex-companheiras de equipe para matar a saudade. Com passagens compradas, ingressos na mão e muita emoção, as sete amigas embarcaram rumo ao Rio de Janeiro, para a viagem que foi programada com um ano e meio de antecedência. Era a realização de um sonho. E assim como Natália e as amigas, muita gente se viu nos atletas olímpicos e mentalmente saltou com Simone Biles, correu ao lado de Usain Bolt e nadou com Michael Phelps. A técnica Natália Gondim, ex-atleta da ginástica rítmica, contou para o ARTEFATO a experiência que viveu com as amigas na Rio 2016. A seguir, os principais trechos da entrevista. ARTEFATO – Como é sua relação com a ginástica rítmica? Natália Gondim - Comecei com 6 anos e parei aos dezessete. É uma relação de 11 anos que levo pra vida inteira. Tudo o que tenho, tanto profissional como o que trouxe da minha infância e adolescência, é da ginástica. ARTEFATO – Como foi reunir as amigas de treinos para a Olimpíada? Natália Gondim - No ano passado, durante uma etapa da Copa do Mundo, eu avisei a essas amigas que a competição estava sendo transmitida na TV e acabou que todas nós assistimos. Elas, agora mais distanciadas do esporte, assustaram-se com as mudanças 20

Foto: Thiago Siqueira

Faby Rufino

Natália Gondim sorridente e emocionada ao lembrar da época em que era ginásta

e começaram a me perguntar coisas como “Agora pode música cantada? ” E a partir daí surgiu a possibilidade de irmos aos jogos, até porque seriam realizados em casa. ARTEFATO - Qual a sensação de assistirem juntas as competições? Natália Gondim - É emocionante porque são minhas amigas desde os 6 anos de idade. Somos super próximas e juntar todas aquelas meninas com maridos, filhos, mães - é juntar toda a vida. É muito emocionante porque é nossa maneira de reviver o esporte assistindo o maior evento esportivo juntas. ARTEFATO – A seleção brasileira se saiu bem na Rio 2016? Natália Gondim - O nível das outras

equipes é bem alto. Não esperava pódio para o conjunto, mas queria muito que elas ficassem entre as oito finalistas, pena que não deu. A Natália Gaudio, ginasta do individual, apresentou-se bem e manteve sua média de notas. ARTEFATO - O que observou de positivo na Rio 2016 por ser no Brasil? Natália Gondim - O apoio midiático em torno da ginástica rendeu músicas exclusivas para nossas ginastas, como o conjunto cantado por Ivete Sangalo e um individual feito por Dudu Nobre. Toda essa nova atenção provém dos Pan-Americanos onde somos tetra na ginástica e isto mostrou a possibilidade de medalha para o país.


ESPORTES

Sem opção para os homens Camisa da seleção feminina de futebol gera reações entre internautas na Olimpíada Gabriela Mota e Gláucia Cardoso

Os Jogos Olímpicos estimularam uma discussão na internet que foi além dos esportes. O mau desempenho inicial da seleção masculina de futebol em comparação ao rendimento positivo da feminina levou à reações na internet. Famosos e anônimos usaram as redes sociais para criticar a ausência no mercado de camisetas masculinas da Seleção Brasileira de Futebol com o nome escrito “Marta”. Com o humor característico, o brasileiro partiu para brincadeiras, como: riscar a mão o nome do jogador Neymar na camisa e escrever o da craque. Nem os famosos escaparam. O ator Alexandre Nero usou o Facebook para publicar um post com críticas duras por não conseguir encontrar nas lojas uma camisa masculina com o nome da eleita cinco vezes a melhor do mundo no futebol, Marta. “No final do ano passado participei da brincadeira de amigo secreto do Fantástico. Na revelação dos amigos, soube que a Marta havia me tirado. Me mandou umas roupinhas rock pro Noá, que estava apenas com 10 dias. Noá gostou, mas confesso que iria adorar a camisa da seleção com o nome dela”, contou ele, na internet. Ainda em tom indignado, o ator continua o longo post: “ Não me segurei. No mesmo dia pedi para tentarem falar com ela. Eu queria muito uma camisa da seleção com o nome dela (a última que tive, ainda adolescente, com nome de jogador foi do Sócrates). Para minha surpresa ela mesma disse que não existia camisa da seleção

feminina com o nome dela, ou de qualquer outra jogadora da seleção para homens (quando digo isso, estou me referindo a tamanho, óbvio). Fiquei indignado, já que não é surpresa nenhuma os diversos motivos arcaicos disso acontecer”. A postagem no Facebook do ator conta com 23 mil curtidas e mais de 3 mil compartilhamentos. Assim também ocorreu com o menino Bernardo Sampaio, o carioca de 12 anos de idade movimentou as redes sociais, ao ter sua foto circulando com o nome de Marta no lugar de Neymar em

sua camiseta. O post foi compartilhado numerosas vezes com hashtag “Sai Neymar, entra Marta”.

Polêmica O burburinho provocou a discussão: por que não está disponível para a venda, camisetas da seleção feminina para o tamanho masculino? Em resposta à polêmica, a empresa patrocinadora da seleção brasileira, Nike, informou através do Twitter, que todas as camisetas são personalizadas e cabe exclusivamente ao lojista ou ao consumidor, nas compras online, adquirir o modelo de camiseta que mais agrada. Os comentários no Twitter revelaram a dificuldade de adquirir a camiseta da atleta que os torcedores têm mais apreço, como também as próprias jogadoras entram em campo com a versão masculina, adaptada para mulheres.

Indignação

Imagem que viralizou nas redes sociais

Para o universitário Carlos Wagnher, 21, há carência na divulgação, “Os jogos deveriam ser transmitidos em canal aberto, assim como o masculino, teria uma maior visibilidade”, disse ele. Para a brasiliense Aline Tavares, 21, apaixonada por futebol, a ausência de camisetas da Seleção Brasileira Feminina para homens é porque o que move as fabricantes é apenas o lucro. “Essas empresas que fabricam as camisas não disponibilizam produtos porque não há interesse. Com os Jogos Olímpicos, as pessoas começaram a se identificar e a querer adquirir o produto”, observou.

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ESPORTE

Sempre de braços abertos Turistas aproveitam os Jogos Olímpicos para registrar as belezas do Rio de Janeiro Celise Barnabé

E, como diz Gilberto Gil: “O Rio de Janeiro continua lindo”, entre corridas, remadas, medalhas, lágrimas e sorrisos, todos tentaram ver as belezas da cidade cantada em verso e prosa.

Ao visitar o Rio de Janeiro pela primeira vez, o turista alemão Klaus Butzke trouxe sua câmera fotográfica e, entre uma imagem e outra, contempla a vista do Corcovado.

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Cristo Redentor - que é referência do Brasil - e uma das sete maravilhas do mundo moderno, um dos lugares mais visitados.


Em lua-de-mel, o casal belga escolheu o Rio para celebrar o amor sob as bênçãos do Cristo Redentor e tendo a paisagem da “Cidade Maravilhosa” como cartão postal.

Vale de tudo, sem nenhum constrangimento, homens e mulheres deitam no chão para garantir o melhor ângulo da imagem.

Joseph Buhr, da Delegação da Áustria, mesmo sem uma câmera profissional não quis perder nenhum momento e registrou tudo.

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CRÔNICA

Amanhã vai ser outro dia Quem nada de braçadas hoje é Michel Temer. Ele é quem manda. Falou tá falado. Em 31 de agosto, o Senado Federal decidiu por 61 a 20, que Dilma Rousseff não poderia mais exercer o cargo de presidente da República. Quem comanda o Brasil agora é Temer - que era vice-presidente e, desde maio, já governava interinamente o país. O país se dividiu: de um lado, manifestantes a favor do impeachment comemoraram com fogos de artifícios o resultado da votação do Congresso. Na Avenida Paulista, fizeram festa com bolo e champagne. De outro, grupos contra Temer protestavam em vários locais do país e entravam em confronto com a Polícia Militar. Dilma foi acusada de cometer crime de responsabilidade fiscal. Pela denúncia apresentada tanto na Câmara como Senado, ela fez manobras orçamentárias que maquiaram a situação das contas do governo, escondendo o déficit real da máquina pública. A chamada “pedalada fiscal” que

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é atrasar o pagamento previsto no contrato assinado com as instituições financeiras. No governo interino Temer, a economia do país deu reviravoltas – com altos e baixos, inclusive fazendo o dólar chegar a um patamar de R$ 3,18, um dos menores valores - e gerou críticas e elogios no Brasil e no exterior. Na política, novos ministérios foram criados, outros extintos. Velhos caciques da política voltaram à cena. Mas a polêmica maior envolve a discussão sobre as reformas – da Previdência e Trabalhista. Entidades sindicais advertem que trabalhadores podem perder direitos já garantidos e paralelamente, o governo lança o debate sobre as concessões e privatizações, a meta de corte de gastos, revisão de projetos sociais e aumento de impostos. Temas que caem como bombas no cotidiano as pessoas, que assistem às mudanças no cenário político entre perplexidade e desconfiança. Há muitas distinções entre Dilma Rousseff e Michel Temer. Na novela do impeachment, a ex-presidente petista, de

68 anos, passou 13 horas respondendo aos senadores. Ela ouviu desaforos, ofensas e piadas machistas. Manteve a fleuma e reiterou que tudo ali era resultado de campanha golpista e comparar com o que houve em 1963. “É o segundo golpe de estado que enfrento na vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando era uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo para o qual fui eleita pelo povo”, disse Dilma. Quase como se em um mundo virtual, Temer fingia não estar no centro do impeachment: no momento que Dilma era ouvida no Senado, ele recebeu os atletas olímpicos. Na primeira reunião ministerial, o novo presidente avisou que não vai tolerar ser chamado de “golpista” e que o novo governo “não levara ofensa para casa”. Também reclamou da divisão da base governista, que levou à aprovação da chamada “inabilitação” de Dilma, permitindo que ela dispute cargos públicos, apesar de afastada definitivamente do poder. Em síntese: será que há o que comemorar com o afastamento de Dilma Rousseff ? Particularmente, não vejo motivos. O processo que leva à ruptura de um governo de um presidente democraticamente eleito é um dano a qualquer país. O Brasil ficou travado com o desenrolar dessa trama que, golpe ou não, será que acabou? Dias turbulentos e de muitas mudanças ainda estão por vir, e apesar do impeachment, amanhã será outro dia.

Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula

Tarcila Rezende


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