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Falsas esperanças a uma comunidade

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Forma de pertencer

Forma de pertencer

Mais um momento de decepção. Na fase em que, enfim, algumas pessoas atingidas de Paracatu de Baixo começaram a ver suas casas em finalização, perceberam que vários aspectos das obras não fazem o menor sentido, como casas para pessoas mais velhas com vários lances de escadas; lotes sem um mínimo de segurança e, até mesmo, sem muros; cômodos com estruturas que não comportam quase nada do que as moradoras e os moradores possuem. Um completo descaso que, mais uma vez, a Renova entrega no processo de reparação, enquanto se recusa a considerar as mudanças sugeridas.

“Eu pedi grade, em momento nenhum, o arquiteto explicou a diferença e que seria assim. Aí, quando chego aqui, me deparo com isso, não é a grade que pensei que era. Mas já que é o projeto, não tem como voltar atrás: foi a resposta que eu já tive da Renova. Do lado de lá, por uma segurança, eu pedi muro, lá é estrada pública, qualquer um passa lá. Mas não pode, dizem que eu pedi tela, então colocaram uma tela tão grande que qualquer um passa. Aqui não era estrada pública, não. Hoje é, vai passar quem quer, ainda vem e faz um murinho de tela desse, até um menino que quiser cai lá dentro, e diz que não pode consertar, porque não está no projeto?! Já que fez desse jeito, por que não fez mais? Por que não levantou mais? Diz que tá no projeto, e tem que respeitar o projeto. Pra gente, tem que respeitar o projeto, mas, se a Renova quiser vim e mudar alguma coisa, ela pode. Essa aí já é a altura final. Já que tem que ser igual eu pedi no papel, eu pedi portão de correr, eletrônico, e hoje ele está ali colocado errado, ali passa um cachorro, uma galinha, tudo

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Maio de 2023

“Um problema disso, que a gente tem debatido muito, é a questão de segurança, não é nem a questão de estar no projeto, porque, quando foi feito o projeto, há quase uns cinco anos atrás, sei lá quanto tempo tem o projeto, o conceito que as pessoas tinham ainda era o da comunidade de origem e, na comunidade de origem, até uma cerquinha de arame era o suficiente para a segurança nossa. Agora a realidade hoje aqui é outra, o contexto é outro, e muita gente só está percebendo a vulnerabilidade depois de agora, porque isso aqui é chamativo, é propaganda no Brasil inteiro, das casas divulgando. Então estamos vulneráveis. O mundo antes não sabia das nossas casas, tanto pessoas boas quanto pessoas ruins. Quando ela [a pessoa] pede para fazer a adequação, não é nem mudança de projeto, é por questão de segurança, num lugar distante, isolado, que tem saída para qualquer lugar. Está faltando essa questão da segurança, não é capricho, não é luxo, é segurança.”

“Os quartos são desse tamanho, não cabe nada, terreno todo irregular. Você sabe o terreno que eu tenho lá, olha o terreno que eles me deram aqui. Como que eu vou colocar um cachorro ali, o galinheiro lá em cima, a água vai cair onde? Na porta da cozinha. A minha revolta é muito grande.

Na minha casa, em Paracatu, eu tenho uma cozinha com fogão de lenha com serpentina já tem anos, eu criei 13 filhos lá, o tamanho do banheiro que eu tenho lá…

E, aqui, nem terra pra plantar eu vou ter, eu tenho seis cachorros em Paracatu e uma cachorra em Mariana que não pode ficar perto dos outros, onde eu vou pôr ela aqui? Isso me entristece. Quando a lama passou, eu tinha lá em Paracatu uma casinha com 80 frangos que eu criava lá. Hoje eu tenho o quê? Nada. Eu fui a última pessoa a sair de Paracatu, foram lá e me convenceram a sair, pra ir pra Mariana, e foi a pior coisa que eu fiz na minha vida, sair da minha casinha pra, hoje, receber isso aqui. Eu não pensava que eles iam fazer comigo o que estão fazendo, não.

Lá no meu terreno, eu tenho de tudo, fruta, galinha, três poços de peixe, nascente de água e aqui, pelo jeito, nem água vou ter.”

Maria Imaculada da Silva, moradora de Paracatu de Baixo “Tá muito perigoso aqui. Essa parte podiam colocar aqueles brinquedos rústicos para as crianças, mas falaram que não pode, que aqui vai ser APP [Área de Proteção Permanente], deve ser então que vai ficar essa parte só para bandido esconder, cheio de mato. Aqui tinha que ter algo de lazer, um campinho de futebol, algo rústico para não estragar, pedimos uma trilha aqui, para caminhada. Tinha aquela lagoa, já acabaram com ela, virou escoamento de não sei o que lá, aí estamos esperando uma devolutiva. Só queríamos uma área de lazer.”

Luzia Nazaré Mota Queiroz, moradora de Paracatu de Baixo

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