Jornal coletivo sÓ - sexta edição, maio de 2009

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Um a n o d e i m p r e n sa alternativa. Não esperamos nos cansar. Em tempos em que era ce r t a m e n t e m a i s d ifícil resistir, jornais c omo Binômio, R ex, Prensa, A Prensinha, Ver su s, O pi n i ã o, M ov i mento, Coojornal, Bondinho, Pasquim resistiram. Mas se o inimigo, o s em p e c i l h o s, p a r e c em hoje tur vos, pelo contrário, estão mais claros. Al t e r e m a p r á x i s, movam-se. Sejamos pragmáticos. Se você cospe em tudo e em todos, co m e c e a e s c a r r a r. A mídia burguesa é ruim. Ela é má. Então cuspa. Nós cuspimos em pr e t o e b r a n c o e p apel jornal. Uma fôrma, uma prensa def ormada. Um ano de imprens a al t e r n at i va . O j o r n a l t e m n o m e : coletivo sÓ. A metáf ora. Onde estão os parceiros, os primos altern a tivo s, o s i r m ã o s i mpressos? Encontremos-nos. Sem apoio mútuo, o fim dos alternativos se a p r ox i m a ? E n t e rraremos os que existiram e aniquilaremos os que existem? Se j a m o s c o n t r á r i o s ao o que predomina nos periódicos, em especial os de cultura, cusp i do r e s d e r e l e a s e s, reféns da lógica do capital. Ca m i n h e m o s s o z i n hos, de braços dados em coletivo.

Expediente Edição de texto, reportagem e diagramação - Lucas Rodrigues de Campos Ilustrações e diagramação - Chuck Dedo Amarelo Revisão de texto e reportagem - Tatiane Klein 3000 cópias http://so0jornal.wordpress.com Contato so.contato@gmail.com Endereço - Rua Navarro de Andrade, nº 20, ap. 22 05418-020, São Paulo, SP Telefones - (11) 7600-5699 “A Zona” , publicada também em http://www.usp.br/prc/caminhos


a zona por Lucas Rodrigues de Campos

A zona é metafísica, a filosofia do criar de Wesley Duke Lee. É fascinação erótica e é seu entendimento do mundo, reflexões sobre o desenvolvimento do povo brasileiro. O distanciamento de preocupações sociais palpáveis, a crença no artista. Talvez a arte surja do âmago, insuflado pelas viagens lisérgicas. A escrita nos quadros é menos informação, mais uma composição estética da obra, pinta com palavras. Na sala de exposição havia discípulos reunidos, figuras paulistanas em volta de um grande paulistano. Dos Estados Unidos vieram as revistas, o pop-art, até então tudo muito cândido. O entendimento de uma proposta artística que se dilui pela cidade metropolitana e cosmopolita; em São Paulo, Wesley regurgita as influências. Preocupado com as condições do artista, irritado com a crítica, taxado de alienado, recusa do aspecto social da arte, um pouco de anarquia, dadaísmo, confluência internacional e Rex. Um ano de publicações de um periódico, lançamento casado com exposições. A galeria no bairro nobre, os Jardins, aceitava contradições, mutáveis em direção ao humor e ironia fina.

No ano de 1964 Wesley passa a lecionar no Mackenzie, na vaga de um professor cassado pela recém-nascida ditadura. Logo se mostra avesso ao processo tradicional, maneirista de ensino das artes. Propõe uma criação coletiva, embasada pela filosofia do Realismo Mágico - plataforma artística, sem unidade estética e

sim uma proposta de encarar a arte e seu entorno através do humor; adere-se à comunicação pelo absurdo na tentativa de criar uma realidade diferente, na definição de Cacilda Teixeira da Costa, autora do livro Wesley Duke Lee: Um salmão na corrente taciturna. Em um ano conquista alguns estudantes, que o seguem, e recusa os demais, nem nota afere. Em 65 pede demissão. Frederico Nasser, José Resende, Luis Carlos Baravelli e Carlos Fajardo sentiram-se desafiados com a proposta de ensino que estimulava o surgimento de problemas coletivos, que pediam resolução coletiva, e abria mão da transmissão de conhecimento transversal. Aieto Manetti posou ao lado de Wesley e seus discípulos na ocasião do lançamento do Realismo Mágico, na galeria Atrium, em 1964. “Existia sempre uma busca de informação que fosse muito interessante, muito rica, assim surgiu uma contracultura voltada especificamente para o mundo das artes visuais, uma nova visualidade.” O conjunto possibilitou maior voz à irreverência e às aplicações técnicas de Wesley, trazidas dos EUA e Europa. Toma corpo o Grupo Rex Gallery & Sons. “Havia uma realidade visual que estava nas ruas e não era muito integrada nas exposições e no material artístico que se produzia. O Rex tinha o apreço a uma cultura popular, uma cultura de rua”, palavras de Manetti. Uma pequena legião formada – destacaramse no agrupamento Nelson Leirner, Geraldo de Barros e Otto Stupakoff, além de Wesley e seus discípulos. Rex viveu um ano de arte desmontada, frescor sentido por murais jorrados de tinta, um borrão marrom. “Como grupo eles foram o maior movimento da arte contemporânea, repercutiram toda uma técnica nova, uma crítica nova, utilizavam materiais diferentes”, escrevem, colocam símbolos, criam planos dentro de planos. Pode ser notada nas obras “aquela angústia dos anos 60, o sonho socialista, militares, uma revolução de costumes”, como notou o médico Carlos Cordetti; amigo dos artistas, ele freqüentou a galeria Rex, até a última exposição em 67, quando quadros pregados ao chão e teto, pendurados em corren-

tes, ficaram a disposição dos espectadores – alguns destruídos, outros tornados artigos coleção. Rex achincalhava a crítica, momento de litígio com o sucesso. Wesley não sabia como lidar com uma projeção amparada em sucesso financeiro, seguia um ensinamento do avô: o bom resultado é alcançado com sofrimento e trabalho. O folclore familiar juntou-se a fatos preponderantes no surgimento do grupo Rex; nos anos de 65 e 66 trabalhos foram censurados ou sofreram sanções estéticas, como na exposição Propostas 65/66 e consecutivamente nas bienais. A figura de Wesley Duke Lee incorporou o uso de drogas na sua criação e antecipou o mesmo imaginário presente na Tropicália. As experiências de Aldous Huxley inspiraram Wesley a “suportar as desarmonias entre a realidade do diaa-dia e a interior” (extraído de Wesley (...) na corrente taciturna. Sete são as obras sobre efeito lisérgico. Uma delas, com destaque no Maria Antonia, elucidava ou confundia o entendimento sobre a obra do artista: Save dire que ce de lá... NÃO. Todo drama de Jean Harlow, atriz hollyodiana é contado em outra série do artista, que mistura diferentes planos, técnicas de fotografia e explora em demasia o erotismo. O citado fascínio erótico foi a reinserção de Wesley no panorama das artes brasileiras, quando, no João Sebastião Bar, em 1963, ocorreu o happening Ligas, um passeio às escuras, guiado por lanternas em busca das figuras femininas nuas e de lingeries.

A COMPREENSÃO Na sala principal do Centro Universitária Maria Antonia, estavam reunidas obras de Wesley e os alunos, parte relevante do que moveu as artes plásticas na cidade de São Paulo durantes os anos 60. A necessidade de reverência diminuiu o frescor de uma arte experimental e provocadora. Na iminência do reconhecimento a irreverência torna-se objeto de estudo e dá lugar a uma contemplação envelhecida. O professor do Departamento de Artes Plásticas da ECA-USP ajuda a entender qual a contribuição deixada pelas inovações de Wesley Duke Lee: “Importante para a arte brasileira contemporânea, Wesley traz uma escola de de-

senhos de arte visual americana. O foco da cultura visual aqui era muito mais francesa, italiana; só por isso já é muito interessante entender o que aconteceu em São Paulo nas décadas de 60 e 70”. Para Cláudio Mubarach o fundamental do movimento constituído por Wesley Duke Lee, Carlos Fajardo, Frederico Nasser, José Resende e Baravelli e que mais tarde deu origem à Escola Brasil, “é esse espírito de um ateliê coletivo, onde as discussões eram muito mais importantes do que o método de processo, tanto que um dos lemas [que faziam parte do grupo Rex] é que arte é muitas coisas. Essa ideia de ser muitas coisas começava a tirar a arte desse lugar mais fechado, mais consagrado.” Paralelo à linha do tempo de Hélio Oiticica e Lígia Clarck, desenrolada no Rio de Janeiro, o que ocorria em São Paulo era olhado com certo desdém pela crítica e companheiros de atuação. Com certo grau de alienação Wesley preocupavase mais com a condição do ser artista, como se a arte existisse para desvendar a criação, distante assim de pretensões de luta e da concepção de que a arte é um instrumento de luta, mesmo em tempos de ditadura. Colecionador e amigo dos artistas expostos, Augusto Lívio Malzoni observava algumas obras. Exasperado com a palavra política, fez uma leitura sobre a postura de Wesley, “ele tinha uma posição de artista independente. Era considerado como de direita, mas seguramente ele era mais à esquerda que a esquerda, eu estou salientado que sobrou disso uma coisa que está sendo e precisa ser revista, é uma visão que tem que ser completada. Ele é muito menos de direita que todos”. Só um partido foi tomado por Wesley: “Ao Rex ele se filiou, ela [a Rex Gallery] estava mais envolvida com a política da época de uma forma que o Wesley aceitava”.


AKINETÓN

PRESCRIÇÃO

Com 17 anos, Leo Arias, encarava tarefas musicais complicadas junto de amigos do colégio: “Bauhaus, King Crimson, Art Zoyd, Univers Zero, Bach, La Banda del Pequeño Vicio y Fulano me inspiraram para encontrar na música um meio de realização pessoal. Nos juntamos para improvisar com guitarras, flautas e qualquer coisa que emitisse som”. Aos 19 anos, adquiriu um violino, instrumento que lhe mostrou como a música era realmente seu habitat: “Aprendi um pouco de cello inspirado pelo Art Zoyd, teclados, logo baixo elétrico e, devido ao fato de me roubarem, meu irmão me emprestou um sax alto. Assim decidi a relação com este instrumento. Pouco tempo depois também assumi o clarinete”. O gosto pela música desse jovem sempre esteve carregado do anseio por uma produção moderna, nos moldes de realizações no campo do Rock in Oposition: possibilidades de flerte com a erudição contemporânea, não só dos clássicos, mas de jazzistas e progressistas da área de música eletrônica, conservadas por um peso taciturno em contraste com bom humor, adicionados dos riffs tradicionais do rock. “Considero o Akinetón como Rock-Jazz-Experimental-Latino, com uma influência de rock pelo lado de Tanderal (Led Zepellin), de jazz pelo lado de Bolshek (Miles Davis e Coltrane) e de Rock In Opposition no meu caso (Art Zoyd). Eden trouxe mais Free-Jazz e Lectra muito Rock”.

REAÇÕES ADVERSAS Recomenda-se o medicamento Akineton Retard, para pacientes que sofrem de *síndromes parkinsonianas, especialmente associadas à rigidez e tremor. O uso indevido do medicamento pode causar agitação, confusão e transtornos ocasionais da memória e, raramente alucinações. O grupo chileno de mesmo nome é capaz de causar os tais espasmos do medicamento, indicado para disfunções mentais. Desde 1999, quando o Akinetón Retard (AR) lançou-se através de disco homônimo, os miligramas de aditivos musicais proporcionaram uma saudável confusão aos ouvidos. Não há necessidade de prescrição médica, e, mesmo lícita, a música do Akinetón é apreciada por poucos. Circula por meios que fo-

mentam uma arte escamoteada por imposições e idéias comerciais facilmente compradas. Uma escolha para quem faz música com o compromisso de entendê-la e aperfeiçoá-la. Gosto musical peculiar e de fonte comum constituíram o grupo: pesquisas e estudos, alguns realizados dentro da academia. No terceiro andar subtarrâneo da Faculdade de Arte da Universidade do Chile três estudantes reuniramse para compartilhar um apetite musical vasto, tal qual a música que passaram a produzir. Leo Arias, Vicente Garcia Huidobro e Pablo Araya deram partida a uma história musical escrita com inúmeras referências, notas e excelentes argumentos. Vicente, então estudante de licenciatura em música, viu no espaço subutilizado, o porão, lugar adequado para um trio de baixo, guitarra e sax passear por sonoridades avessas. 1994 foi a data do primeiro contato de Leo Arias com o sax. Após o afastamento do cargo de atendente aéreo na American Airlines, Arias passou a dedicar-se exclusivamente à música e a dar aulas particulares. Os duetos de sax para ensinar a um aluno deram origem às composições para a futura banda. O batismo da primeira composição, gravada com a adição de um baterista de 14 anos - única apresentação de María José Texus Silva com o grupo -, veio das pílulas tomadas por Pablo Araya. O Akineton Retard o auxiliava a conter espasmos psicóticos. No universo criado em torno da banda Leo Arias assumiu Estratos Akrias, Vicente “Tanderal Afurness”, Pablo “Lera Tutas”. Todos os integrantes do Akinetón assumem personagens ao tocar. Identidades musicais que traduzem a produção musical desse grupo. “Viver no Chile, chamar-se Pablo, Vicente ou Leo e tocar música distinta merece levar nomes mais exóticos. É muito raro existir uma banda experimental com o nome de Espírito de Barro. Ter que inventar nomes ou palavras iguais aos ritmos estranhos, foi necessário ao grupo. Não pode ser que o saxofonista do Akinetón Retard se chame Leonardo, soa horrível. Pablo vinha saindo de um tratamento médico devido a sua personalidade dispersa e hiperquinética, e estava tomando Akinetón Retard como

remédio. Assim as coisas se deram instantaneamente, sem deixar de lado que há grupos como Magma, Art Zoyd, Gong, e Fulano que já inventaram nomes estranhos. A grande diferença com o Magma, é que Vander realmente inventou uma linguagem e mundos; no caso de Akinetón é só uma humorada de adolescentes que parece algo sério. Mas no fundo é só um jogo. Tanderal, Lera e Estratos criaram uma sensação fictícia em una cidade muito fascista, uma cidade com ex-ditadura militar, com uma sensação de ordem e normalidade. Akinetón vem a romper esta ordem arrivista. A busca por estes nomes e linguagem tem a ver com a identificação original da banda internamente com algo tribal, autóctone, único, uma forma de criar algo que identifica cada membro para além do comum, ordinário”, disserta Leo.

AUMENTANDO A DOSAGEM: Os efeitos da droga que retarda o mal de Alzheimer, detalhado acima por Leo Arias estimulou os músicos: Canterburry, RIO, Jazz, música eletroacústica. Improvisações inundavam o porão da faculdade, provocando a atenção de outros músicos: em 1995 veio o clarinetista Alvaro Cabrera - com menos de um ano de banda voltou-se para composições eruditas e tornou-se empresário do grupo. Em 1996, ingressou na banda o baterista Cristian Bidart, oriundo da escola jazz. Um ano depois, foi a vez do saxofonista Rodrigo de Petris somar ao grupo. As alcunhas: Bolshek Tradib e Petras de Petren. É como quinteto, com naipe de dois sopros, que o grupo alcançou o primeiro feito fonográfico. Radialista do programa universitário Catatonios y Akrananios, último reducto para el auditor exigente, Vicente conseguiu o estúdio Sala Master. No estúdio da rádio nasce o primeiro registro do Akinetón Retard. A discografia do grupo foi acrescida de Akranania (2002), 21 Canapés (2003), Ao Vivo (2004) e Cadencia Urmana (2006). Em 2002, Pablo Araya segue carreira no jazz; para as quatro cordas, então deficitárias, o AR recebeu Rolando Jeldres, ex-integrante do Inquisição, banda de heavy-metal, músico com

bagagem de estudos eruditos no baixo – primeira alteração. Depois vem Éden Carrasco, em 2004, que assume o lugar de Rodrigo de Petris. Este manteve-se focado na criatividade e ajudou a conceber outros seres da instigante cena musical de Santiago. Simultaneamente às atividades com o Akinetón, Petris esteve com o grupo La Neura, formação que durou até 2000 e contava ainda com Vicente Garcia Huidobro, Cristian Bidart e Cristian Gandarillas, baixista sempre próximo das atividades do AR, cujo apelido nomeou o grupo que misturava spiritual, free e outros formatos do jazz com hardcore e punk das guitarras de Huidobro. Estes mesmos músicos citados, mais Éden Carrasco, engrossam a lista de bandas que junto do AR representam movimentação musical na cena chilena: O Crocodrilos Con Martini difere das bandas co-irmãs pela inserção de vocais, além das aplicações de música eletrônica e dubstep de Éden Carrasco. Groove, boas linhas musicais que levam em conta a trajetória dos integrantes, linguagem com quadrinhos e humor são características fortes do grupo, hoje em atuação. Gandarillas foi o engenheiro de som do Akinetón Ao Vivo 2004, CD com gravações da apresentação realizada no Rio de Janeiro. Vale dizer que o registro talvez seja o mais indicado do grupo, já que relata o que foram os anos pré2004 e dão dimensão do que viria a ser o grupo com a entrada de Éden Carrasco. O disco é um documentário musical do momento vivido pelo Akinetón naquele ano e fruto de um reconhecimento adquirido com platéias, mesmo que específicas, de todo o mundo. “[O mercado chileno] é muito pequeno, poderia dizer que quase não existe. Vendemos nossos discos para o público que vai aos concertos”, explica Éden Carrasco. Gravações independentes e distribuição por selos especializados são características simbólicas do grupo. Através dos selos Lizard (Itália), Rock Symphony e Editio Princeps (Brasil) o Akinetón Retard alcançou razoável público, carentes do fármaco, levando ele a uma extensa turnê internacional em 2004. Espanha, Bélgica, Holanda, Alemanha e Itália,


R ETA R D por Lucas Rodrigues de Campos

foram países em que o AR esteve; em setembro do mesmo ano pisaram no Brasil. Típico de músicos de jazz, Éden Carrasco e Leo Arias apresentam currículos extensos e de alto nível, indícios de uma carreira bem sucedida. Antes de tomar parte do AR em 2004, Éden compunha um trio de freejazz com o baterista Cristian Bidart, o La Pichanga, grupo com registro em CD, o álbum Arriba de La Pelota, distribuído no Brasil pela Editio Princeps. O exercício da formação: improvisação pouco usual de baixo, bateria e saxofone. Outros trabalhos de avant-gard e jazz-rock com presença de integrantes do AR são apresentados por Arias: “Objetivamente, Akinetón é o mais famoso e internacional; La Pichanga teve seu público mais jazzistico; Akratarka nunca teve muita publicidade, por isso não chegou a ter público; e Zeraus ainda não tocou ao vivo”. Akratarka é industrial, ruidismos, pancadaria na bateria, caminha pelo erudito de Erick Satie até John Cage, mas condensa as influências clássicas em passagens mais pesadas. Passa pelo pilar de todos os grupos citados, o jazz, funk e rock. Junto com Leo estão Huidobro, Gandarillas e Bidart (os três também do La Neura); o Zeraus Quartet, com quatro instrumentos de sopro, tem semelhança na raiz erudita, “certo primitivismo Nórdico”, união de músicos e antropólogos. Rodrigo Depetris (Akineton e La Neura) também atua com o Zeraus.

À MARGEM DA INDÚSTRIA “Os músicos, obviamente, tratam de vender o máximo possível, mas sempre de uma maneira auto-suficiente. Auto-produção de CDs, venda de discos em concertos. É a maneira mais direta. Algumas poucas lojas especializadas em música ‘não comercial’ trabalham com nosso material”, Éden acrescenta. “Nos concertos do La Kut, conheço a maioria do público e também muitos são amigos meus. Às vezes são só eles que ajudam a levar a cabo um concerto”, finaliza. O La Kut é outro grupo constituído por Éden, caldeirão de diversos temperos musicais, em especiais os jazzísticos e, assim como o Akineton, oferece uma alternativa musical. O público que adere e reconhece o trabalho, contudo, continua pequeno.

A proposta arrojada de música desses chilenos não tem implicações só na sonoridade de suas produções, mas desafia o próprio mercado musical, que só admite canções pasteurizadas. Nesse cenário, afirma Leo Arias, “projetos como Akinetón, Akratarka, Zeraus são anticomerciais. O que mais importa é a criação e o desfrute musical”. O saxofonista mantém-se produzindo música criativa com o amparo de outros projetos musicais, de padrões mais comerciais. Desde 2003, Leo toca música em matrimônios e eventos diversos, e hoje em dia integra um quinteto de bossa nova, o Bellavista, “para conseguir algum dinheiro e trabalhar com uma linguagem mais

popular”, palavras do soprista. “O trabalho acaba sendo auto-suficiente e os lucros mínimos; usados para pagar as salas de ensaio. Os que são bons ficam para o disco seguinte ou para ajudar a financiar uma pequena turnê (nunca servem para financiar uma turnê completa). É impossível viver de um grupo, a não ser que trabalhe fazendo música para rádio ou para TV”, explica Éden. Sua postura diante da música impõe e deixa latente uma contingência; Éden termina: “A maioria dos músicos de ‘avant-gard’, trabalha em qualquer outra coisa”. Ele mesmo dá aulas de saxofone e trabalha tocando jazz para eventos – atividade que classifica como “uma espécie de prostituição musical”.


carnaval se limpos, cozinha comunitária. O barro era previsível; a neblina e a chuva também. Mesmo no escuro, avistam-se vendedores de toda a sorte de artesanato – de brincos de cobre a pães –, mas a superfície de barracas armadas só seria possível observar durante o dia. Do alto do Morro dos Psicodálicos Uivantes, um dos lugares mais altos do vale em que aconteceu o festival, vêem-se apenas as luzes de lanternas, lampiões e velas espalhando-se pelos montes, colorindo a noite, acompanhando a polifonia de mil sapos e pererecas. Apesar da idílica paisagem, não se faz silêncio nesse lugar. Gritos alucinados despontam pela madrugada e chamam por Wagner – alguém que, por invenção daqueles que comparecem à nona edição do festival, é procurado por todos os freqüentadores. Quando um chama, quem está ao redor faz coro e o uníssono desencontrado que busca Wagner ecoa por alguns segundos até se esvair. Dá vontade de rir, mas também de chamar junto. Um colega comenta que entre os chamados é possível esconder facilmente os gritos de qualquer um que fosse agredido ou perseguido no vale. Contudo, entre aqueles que, no carnaval de 2009, fazem a população de São Martinho dobrar, grita-se por alegria; a crença nessa alegoria afasta o medo da violência. Talvez, também, gritem para dizer aos outros que ninguém está ali sozinho. Esses que vemos festejar e cantar um carnaval longe da avenida são, em grande parte, músicos, universitários, uns poucos partidários da ética hippie, caminhantes de estradas. Na barraca ao lado, um senhor de sotaque sulista reclama ter sido proibido de andar nu pelo local. Ele, no entanto, não está de todo revoltado com o cerceamento: o Psicodália ainda é um espaço em que outras liberdades podem ser exercidas - explica o homem a um amigo enquanto tenta improvisar um mastro para pendurar a colorida bandeira do movimento LGBTTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).

rave nos entornos: ela cabia em outras festas. Tuca esquenta água em garrafa pet, por questões ambientais, e diz que o Psicodália “é de luta”, aludindo à resistência cultural que ele representa. A voz do som O sotaque arrastado, de homens do nordeste, não decepciona ninguém. A banda pernambucana, no segundo dia do festival, apresenta-se a um público de duzentas pessoas que ocupa quase todo o pasto. Plástico Lunar é um retrato de exceções: da fala típica à existência de professores na banda, a única identidade com os grupos que tocam naquela noite e nas subseqüentes é a estética psicodélica. O grupo não nega a devoção a essa linha da música popular brasileira: na conversa cheia de risadas com os músicos, Raul Seixas e Mutantes são referências declaradas. O Sebbo é curitibana e a segunda a subir no palco na noite de sábado. Sua música tem guitarras mais pesadas e secas que a banda anterior; a voz rasgada lembra Janis Joplin e as melodias remetem a Rita Lee. Surpresa descobrir que a cantora da banda, Margareth, apesar de caber perfeitamente na fantasia woodstockiana, destoa: “Aretha, que é o nome da minha cachorra”, remetendo à cantora de sobrenome Franklin que ajudou a solidificar o soul como estilo musical. Os riffs de origem blues do guitarrista Hermann presentes em O Sebbo ganham ainda mais destaque na banda Mesa Girante, também curitibana e de vocal feminino. No Mesa Girante, os caminhos das duas guitarras casam-se com o teclado. A banda ganha cor diferenciada: o nome vem de um fenômeno sobrenatural, algo que a vocalista Marina revela como um dos temperos do som. Hipnotiza a imagem de uma violinista vestida de azul nos bastidores. Trata-se da vocalista da banda A Sopa, que inclui em seu set variados instrumentos: xilofone, pau de chuva, trompete. A utilização desses sons torna-se convenção em um festival

órgão e guitarras. No palco do Sol, o som manda pensar em Atomic Rooster, semelhança realçada pela ausência de baixista. Davi Hern, vocal e guitarra, esteve acompanhado de Klauss Pereira, na bateria e flauta, e Nil aos teclados. Klauss apresentou-se também no último dia de festival com o Robbersoulthevalsa, grupo que retornou às atividades este ano e fez seu terceiro Psicodália. O grupo ajudou a construir um circuito no estado do Paraná, e em especial em Curitiba. Alexandre Pagliosa é o guitarrista. Nil e Alexandre fazem parte do Goya, outro expoente curitibano do que dizemos e conhecemos por rock progressivo. A referência é clara para os pesquisadores de bandas dos anos setenta, em especial aquelas que unem rock de tratamento psicodélico a inovações, misturas musicais. Com show no palco principal, Goya lembrou King Crimson e Gong. Dois teclados, duas guitarras, sax e flauta tranversal. Pujança sonora e mais nomes pra quem quiser entender a música: Soft Machine e a fase eletrificada de Miles Davis aparecem por intermédio do sax de Rodrigo Nickel, professor de música e inglês. Ele treina escutando grupos italianos como Premiata Forneria Marconi e Area. O baixista do Goya conheceu “o guru”. Guru dessa cena que surge, meio invisíveis. Kniggia conheceu Daevid Allen, em São Paulo, 2008; trocou palavras e momentos de reflexão profunda. Daevid foi mentor do grupo Gong, e mostrou como a música rock podia ganhar contornos maiores quando parodiava situações terrenas com histórias lunáticas e interplanetárias. Nessas bandas, vê-se uma unidade: a liga que há nas trupes científicas do rock. [Esse texto faz referência a algumas das bandas que entrevistamos e conhecemos no Festival Psicodália. Todas elas serão comentadas ao longo das próximas edições do jornal, em nosso site e em materiais audiovisuais].


em avenida por Lucas Rodrigues de Campos e Tatiane Klein

O ônibus balança ao passar sobre a ponte de madeira daquele rio estreito. Lento demais para ser uma corredeira, o rio tem seu leito transparente interrompido por pedras redondas de todos os tamanhos; corta um conjunto de montes de cor verde-claro. Do centro da cidade de São Martinho, em Santa Catarina, até a nascente do rio, o destino da viagem, a imaginação, quase preconceituosa, só nos leva a um lugar: Woodstock, 1969. Mas se uma massa de jovens embalada por rock and roll ocupou durante quatro dias uma fazenda na Serra do Tabuleiro, entre a réplica de festival setentista que a cabeça teima em desenhar e o Festival Psicodália de Carnaval, existem quatro décadas e quilômetros demais. As pulseiras de identificação eram imprevisíveis, assim como os comerciais de cerveja a acompanhar os caminhos trilhados pelo pé. No Psicodália, houve estrebarias com porcos, lagos artificiais de água serrana, palcos, técnicos de som, banheiros

À noite, é possível vê-lo passear pela fazenda com grandes lanternas feitas de material reciclado e papel celofane. Ele veio a esse Psicodália como oficineiro justamente para ensinar a fácil receita de construção dessas lanternas – um achado dos livros de artesanato da década de 70. Tuca Alves, que longe do olho da câmera e junto de sua companheira puxa conversa, alerta para as ilusões da paisagem. O que vemos subir pelos montes é um pinheiral, explica; ou aquilo que os homens usam para abafar os gritos da devastada mata nativa. “Ele não deixa nascer nada em volta, não é?”, pergunto. Vem em resposta: “Isso era tudo Mata Atlântica”. Estamos no interior da maior área de preservação ambiental do estado de Santa Catarina. À namorada de Tuca prometemos enviar as reportagens prontas. Alexandra, artista plástica, balança o corpo em uma freqüência frenética, enquanto dita o número de telefone; posso recortá-la da paisagem e desenhar uma

em que o rock progressivo é forte na cultura musical. Os integrantes contam em entrevista que A Sopa é uma mistura de muitas coisas, entre Frank Zappa, Tom Waits e Mutantes e se expressa como “a arte de falar muito e não dizer nada”. É principalmente mistura de integrantes de outras bandas, como O Sebbo e o Gato Preto. A última, talvez tenha sido a banda mais bem-sucedida desse Psicodália. O rum na mão dos integrantes denuncia a brincadeira com piratas. Na platéia, fãs exibem-se caolhos, como lobos do mar. O violino, expressivo, torna-se rabeca. As letras sobre fanfarras e confusão, junta de cenários sonoros, aludiam a ressacas marítimas e bebedeiras. O universo do Gato Preto é constituído de humor e o resultado é um grupo que se mostra preparado para encarar outros públicos. O Conto é sobre os anos setenta. Canta com teclados, efeitos de sintetizador, passagens de flauta e muita guitarra - único instrumento de corda do grupo. O instrumental tem bases em


Uma massa sonora foi constituída durante o carnaval. Longe dos sambódromos, esse carnaval foi celebrado por foliões que não precisaram de cabeleiras postiças ou apetrechos especiais para se destacarem. Este é o retrato quase tradicional do festival de rock Psicodália, que acontece em São Martinho, SC. O espaço estava garantido a todos, numa extensão de verde e montanhas. A massa musical podia ser ouvida e notada por toda a extensão do sítio. No lugar de puxadores de samba, era o “berro dos acordes da guitarra” o responsável pela convocação aos palcos. Pela tarde, como um júri, o público sentava-se e assistia a três ou quatro apresentações ao lado de uma piscina natural, regada pelo calor do Palco do Sol. Músicas eloqüentes, grandiosidade de bandas do chamado rock progressivo. No Palco do Pasto, a estrutura dava pompa ao festival. Mesmo atingindo pouco mais de um terço dos acampados, os shows não causaram decepção, o que atesta a qualidade musical de um festival que reuniu mais de 20 bandas. Qualquer tipo de reticência quanto ao rock, pelo fato de ele poder parecer limitado ou ter sido superado, caiu por terra. O Psicodália é a superação ou uma tentativa bem sucedida de reinterpretar e propor parâmetros comportamentais traduzidos em música. É um tipo de musicalidade que traz a paz no discurso – sem esbarrar no risco de ser piegas -, que traz no discurso a organização, o conjunto. Não é comum que entre 3000 pessoas reunidas, serenidade e bem-estar tornem-se ordinários - ainda mais para ouvir música de forma quase incessante durante quatro dias. Mais que ouvir música: ali, ao que parece, 3000 pessoas reúnem-se para ouvir

umas às outras. Um exemplo disso foi a busca por “Wagner”. O amigo perdido por uns minutos tornou-se companheiro de todos os presentes e um símbolo bemhumorado da integração proposta pelo Psicodália. A sensação era a da construção de um consciente coletivo, onde a música comunica e cria pontes diversas, de diferentes caminhos. A loucura ultrapassa buscas efêmeras. Acredita-se na utopia: uma aura metafísica do conjunto de ruídos e silêncios que irromperam em uma nova cidade, maior do que a que abriga o festival. Ali uma órbita era criada. No Psicodália, os músicos não eram ídolos, eram só pessoas na barraca ao lado - uma relação de poder diferente das de outros festivais de música. São oito anos que provam algo além da existência de um festival bem sucedido. Um convite a essa compreensão precisa ser feito. Os que fazem parte da legião de cabeludos, sabem que às vezes não são levados a sério. Como disse um amigo: “O rock deixou de ser rock, pode ser chamado de música jovem”. Para ele, a juventude carrega um sentimento inerente a este estado, a esta condição de vida, que revolta mais a ação. Sentir a revolução com a sola do pé, tocar a materialidade da revolução, pode ser sentido por quem confraterniza, toca, ouve, grita no Psicodália. Tudo em conjunto com a consciência da efemeridade do festival, uma esfera de fuga que cerca muitas das intenções reúnidas. A música é a principal motivação para que se erga durante quatro dias um evento com essas características. O público aprecia música de qualidade e os músicos levam a herança de serem acompanhados por quem se doou à experiência musical durante os quatro dias de evento.

UMA DOSE DE por Lucas Rodrigues de Campos

RESISTÊNCIA


A

fotos: alya adhara

por Lucas Rodrigues de Campos Som Nosso de Cada Dia agora é concreto. Durante o Psicodália, a sÓ teve a oportunidade de conversar diversas vezes com Manito, tecladista da banda. Ele falou com orgulho de seu grupo. O Som Nosso de Cada Dia, é necessidade do músico que disse ver a banda, hoje, com êxito jamais alcançado nos palcos. Nesse Psicodália ficou claro que, há 35 anos, é que foi desenvolvido o melhor trabalho da carreira de Pedrão Balzanda e Manito, parceiros até hoje. A banda planeja lançar trabalho inédito e ampliar o repertório de canções executadas durante a década de 70. O show que encerrou o festival transbordou de emoção. Pedrão esteve em diálogo com o guitarrista Marcelo Schevano durante toda a apresentação. No fim de uma canção, olhou para o novo parceiro e chorou. Para além da música, o show cumpriu bem seu papel. Poucos grupos nacionais têm história tão alinhada aos motivos que dão sentido a uma reunião como o Psicodália. Esse clima de conforto deixou solto Manito, uma criança no palco, com disposição parecida à de bandas estreantes. Manito O Pedrão caiu do céu! Na época eu estava montando outra banda. Ela não estava dando muito certo, era muita gente, já o Pedrinho, sempre foi efetivo. Saía baixista, entrava guitarrista... e o Pedrinho sempre lá. Um dia o Pedrão apareceu em casa, logo estava junto do Pedrinho tocando craviola. Pronto! Achamos o que estava faltando. E era exatamente isso o que faltava: as letras, a vida do Pedrão, a vivência, também as composições e a turma que vinha junto, Capitão Fuguete, etc. Isso mexeu muito comigo. Aí então

em 2 0 0 4

por Rique Unha Preta Lembro-me da cidade grande e fria, tinha um zoológico no centro. Maluco! Não podia nem passar na Rua XV. É. Esse era o nome. Apareceu de alguma maneira, provavelmente de alguém que passava e foi mangueado, o papo de festival de rock, lá pras bandas da Lapa, cidadezica alí perto. Não me lembro se era no carnaval, como agora rola. A viagem até lá é meio turva na memória, se perdeu na (fu)massa cinzenta

o som contreto

pensamos em montar o trio e arranjar as primeiras bases. Veio o lance dos climas entre a canção, melodia. E aí vinham os arranjos e os sons. Até explicava agora a pouco a um amigo tecladista que o som é muito importante. Esse era o nosso interesse, ele [o som] é que atinge de fato as pessoas. Você mostra sua concepção de som e suas feras ao mesmo tempo! sÓ Você tem o mesmo prazer de tocar hoje em dia como antes? Manito Com certeza. Às vezes até mais, porque o Som Nosso ficou muito tempo parado. Cada um continuando individualmente, o Pedrão foi tocar com a Elis, Ney Mato Grosso. Eu fui tocar com os Mutantes, Roberto Carlos, Camisa de Vênus etc. Quando voltamos, voltamos já com a nova formação e isso veio acrescentar. Estávamos precisando de mais músicos para incrementar o Som e tocar novas composições. Estamos com músicas bonitas. Pedrão Algumas dessas canções foram compostas há muito tempo. O grande barato disso tudo, cara, é que a gente sempre teve um grande tesão pelo Som Nosso, mas teve uma hora que não teve como; tivemos que parar. Em 94 nós voltamos e apareceram diversas coisas ao nosso redor, mas quando começamos a configurar como seria, o Pedrinho morreu. Eu fui cuidar da minha vida e o Manito também foi cuidar da sua. Passaram-se os anos, eu estava morando no Rio de Janeiro, e minha fase lá estava ficando meio decadente. Minha área é difícil no Rio e chegando em São Paulo nem pensava em voltar com a banda. Mas fui encontrando pessoas, meninos jovens que, quando descobriam que eu era o “Pedrão do Som Nosso”, perguntavam se eu não mexeria

no projeto. Isso foi se acumulando e começaram a aparecer pessoas que são feras como músicos. Teve uma hora que eu não pude mais dizer não. [Pedrão apresenta, um a um, os integrantes do grupo]. E esses meninos é que foram os res-ponsáveis no final das contas pela volta do Som Nosso. Pois, sabe, se você não está estável na vida é muito difícil fazer música, e esses meninos abriram um espaço em suas agendas para investir nisso. Um dia apareceu o Percy [Weiss] e falou com o Manito que conhecia um cara da organização da Virada Cultural que era aficionado pelo Snegs [primeiro disco da banda]; e ele disse que se tocássemos ele na íntegra nos colocaria no Teatro Municipal. Aí o Manito me falou: “Vamos fazer?!”, Vamos fazer! E em seguida resolvemos fazer também o Centro Cultural Vergueiro. Achamos que iam aparecer uns trintas malucos, por aí. Quando vimos que estava lotado pensamos.... Putz! Vale a pena investir nisso! Vamos agora colocando novas músicas devagarzinho além das antigas. Manito É uma senhora oportunidade essa de virmos para o Psicodália. Fazia tempo que eu não via uma rapaziada dessas afim de curtir um som, a natureza, numa boa, só na alegria. sÓ Vocês estiveram em Iacanga em 75 e agora estão de novo no que é um dos maiores festivais de rock do país. Gostaria que vocês comentassem como é ver de novo gente reunida, acampada, para escutar boa música. Manito A maior alegria é ver vocês aqui. Muito Legal. Pedrão Tocar para vocês todos, meninos , é o maior barato. E fizemos um lance bem legal também, sem pensar em grana...

sÓ Um registro que falta não só para nós do coletivo sÓ, mas como para o rock, e para quem gosta de música brasileira em geral, é saber mais sobre o Pedrinho. Manito Olha, o Pedrinho era o pai e a mãe musical juntos. Pai pelo lado musical rítmico mesmo, e mãe pelo coração. Ele queria abraçar o mundo. Ele tinha essas duas coisas muito fortes nele. Era uma pessoa muito forte, tinha carisma. Posso dizer que ele é um escravo, aquele cara que batalha mesmo, no Som Nosso não foi diferente. O tanto que a gente andava, bicho! Foi uma pena realmente. Ele foi muito cedo. O conheci muitos anos antes do Som Nosso. O via tocando nas bocas por ai. Tocava em outras bandas. Tocava e cantava. E eu já pensava comigo: A hora que eu for montar minha banda, vou chamar esse cara. Pedrão O Pedrinho era um figuraça. Posso dizer que ele era dos extremos, dos oito ao oitenta. E ele vivia isso profundamente, essa parada da vida. Há tantas histórias que só escrevendo um livro mesmo. E ele tinha esse lance como a gente de tocar à vontade. Tocar por tocar, solto. E isso era um motor porreta para nossa onda; nos encontramos muito nisso como músicos. Claro, sempre se acaba ensaiando um monte, correndo e tal, mas nossa onda foi sempre tocar à vontade. A continuidade era o groove e nessa base tudo era transformação, passagens. Acho que isso é mais ou menos o que acontece na vida de todo mundo, é uma forma prog de ver o mundo! Naquela época eu também era jovem e tinha coragem de mostrar o que eu estava sentindo e quem estava embaixo também estavam na sua busca. Era um descobrimento geral.

que envolve as cacholas. Da Lapa até o sítio era uma estrada de terra, mansa, ladeirada e cheia de Araucárias, bucolismo à parte. Também não era tão longe. Parados pra beber e pitar, passou até fusca cheio de cabelo. O fusca parou e pitamos todos juntos. Chegamos na porta e conseguimos trocar, por um punhado de pulseiras e colares, as cinco entradas. Embora o clichê do clima “paz e amor”, às vezes constrangedor, nada comprometeu a onda, ou o que foi de fato o festival. Entre as bandas, sem nome na minha memória, algumas realmente me impressionaram. Uma coisa não se podia negar, de fato era um festival de rock. Hard, Prog, Mod,

Fusion, Psicodélica e relacionados. No público, loucos, meio loucos, outros loucos e meio, mas em maior número os loucos para serem loucos, nem que seja por um fim de semana. Gritar com o restante da platéia pelos pastos, gritar com ruídos de guitarra, cozinhas, instrumentos clássicos e refrões, gritar a austeridade e solidez da cidade - repulsa de viver em um lugar onde a prática de viver é impraticável; largar entre risos, goladas, tragadas, risadas, toda a buzina e a fumaça. E nem estou querendo ser Beat. Aquela noite estoura o dia. Pela manhã, paz necessária para respirar e caminhar. Vagar atrás de ocasionais fungos. Desencanar no café, sentar em volta da

fogueira. A viola perto das barracas, no bosque de Araucária, dá em canção. Nos seis meses fora de São Paulo, jamais havia visto relação tão forte com a música e comprometimento com ela. Não me recordo bem os nomes das bandas, não lembrei, mas lembro de alguns sons. Também expus meus gritos. Me deu a impressão de que a imagem de rolos envelhecidos, documentários de antigos festivais, ainda existisse. Talvez e-xista, repito: em um final de semana, por ano que seja. Procurei outros festivais parecidos por onde andei. Sem sucesso. Tanta fritação e intensidade como lá, rolou, mas sem o divino, sem o som.


A cena de música chilena existe e seus personagens também. Ocssarack e Estratos Akrias. Éden Carasso e Leo Arias. O nome confuso é um pequeno símbolo da alteração musical que ocorreu em Santiago desde meados da década de 90.

Entenda mais um pouco sobre. por Lucas Rodrigues de Campos

sÓ Você tem alguma referência musical no Brasil, já que esteve aqui por três vezes? Éden Deixa eu pensar em músicas brasileiras que gosto... Principalmente samba, adoro as baterias. Por outro lado, gosto de Os Mutantes e alguns MCs de las fabellas. Se falo de funk me odeia? sÓ Desde que idade você se interessa por música? Éden Meu pai era professor de música, então desde os oito anos que estou tocando algo. sÓ Você tem lembrança de qual foi a primeira música que te chamou a atenção? Éden Sim! Highway Star, do Deep Purple. A música folclórica do Norte do Chile também me alucinava muito. sÓ Victor Jara? Violeta Parra? Éden Isso aprendi a apreciar quando já estava mais maduro. Quando era niño gostava muito da música do norte do Chile, grandes bandas de bronces, trompetas, trombones, percussão, carnavales, também porque meu pai participava delas. Tocavam música tradicional chilena, huaynos, saltos, diabladas, distintos ritmos. Tem similaridade com músicas da Bolívia, carnaval de Oruro, por exemplo. São similares na sonoridade, contudo são ritmos distintos. sÓ Você ainda sente essa influência na sua música? Éden Sim, absolutamente, é uma das coisas que mais me emociona. sÓ Aqui eu conheço mais o “Los Jaivas”, em especial o disco de 74, o acompanhado de Manduka. Éden É o “El Volantín”? Los Jaivas resgataram muito do folclore do norte. Naquela época eram muito gostosos. Agora não tem nada

de interessante. Seguiram pelo caminho que poderiam ser elegido (eleitos). sÓ No Brasil temos exemplos assim. Éden Posso imaginar, é um processo muito natural. sÓ Capitalismo? Indústria cultural? Éden Seguro. Para um músico que já obteve certa “fama”, é muito mais fácil conseguir seguridade financeira fazendo qualquer música. Já está instaurada sua fama. sÓ Qual o tamanho do mercado chileno, a fatia que consome música instrumental, avantgard? Éden Ah, é muito pequeno, poderia dizer que quase não existe. Vendemos nossos discos para o público que vai aos concertos. sÓ Qual a relação de trabalho com esse pequeno grupo? Éden Você fala a relação entre os músicos do Akinetón? Ou dos músicos com o pequeno mercado? sÓ Dos músicos com o pequeno mercado. Éden Os músicos, obviamente, tratam de vender o máximo possível, mas sempre de uma maneira auto-suficiente. Auto-produção de CD’s, venda de discos em concertos. É a maneira mais direta. Algumas poucas lojas especializadas em música “não comercial” trabalham com nosso material. No Chile a gente tem pouco costume de comprar cd’s. Todos usamos Soulseek, lá você pode encontrar o La Kut. sÓ O trabalho acaba sendo auto-suficiente, e os lucros mínimos... Éden Lucros usados para pagar as salas de ensaio, os que são bons ficam para o disco seguinte, ou para ajudar a financiar una pequena turnê (nunca servem para financiar

AKINETÓN

RETARD uma turnê completa). É impossível viver de um grupo, a não ser que trabalhe fazendo música para rádio, ou para TV. sÓ Como pretende conciliar esses caminhos? Éden Não pretendo conciliar-los, a maioria dos músicos de “avant-garde” (não gosto dessa classificação), trabalha em qualquer outra coisa. Eu dou aulas de sax, particular e em uma escola. Outras vezes trabalho tocando jazz para eventos, uma espécie de prostituição musical. sÓ Você tem contato direto com o público? Éden Não tanto nos concertos de Akinetón, porque já tem muita gente que conhece, mas nos outros concertos, do La Kut que é de improvisação, conheço a maioria do público, e também muitos são amigos meus. Às vezes são só os amigos que ajudam a levar a cabo um concerto. sÓ Entende esse trabalho como “militante”? Talvez seja melhor dizer crítico... Éden Não estou seguro se militante e crítico são sinônimos no espanhol...mas, você fala militante, como alguém que milita num partido político? sÓ Não. Como crítica a um processo cultural. Éden Acho que é um “aporte”, uma forma de resistir, e de estar com a gente que não está contente com o modelo dominante. Isso se traduz em música. Nesse sentido posso dizer que sou militante. sÓ Acha que o Akinetón funciona como uma espinha dorsal da música de vanguarda chilena? Éden Não, começando porque eu mesmo não estou muito conectado com a música de vanguarda chilena, conheço poucos grupos. Entretanto sabemos que temos muitos seguidores

que dizem ser inspirados por nossa música. Eu não falaria espinha dorsal, porque nós não sustentamos nada, nos custa muito conseguir concertos, mas posso dizer que temos sido uma porta de entrada para muitas bandas jovens e amantes da música. sÓ O trabalho que desenvolve com música eletroacústica não pode ser considerado de vanguarda? Éden Vanguarda é algo que vem primeiro, que está adiantado; a experimentação eletroacústica é uma música que existe há pelo menos 50 anos. Não poderia chamar de vanguarda. Também posso dizer isto do Akinetón, do La kut, La pichanga, e outros projetos. Nós só tratamos de fazer música criativa, não importa em que estilo musical nos inserem. sÓ Quais os projetos futuros para o Akineton? Éden Agora estamos um pouco parados, [com o Akinetón] queremos só tocar fora de Santiago, esse é nosso projeto. sÓ Pensam no Brasil novamente? Éden Sim, nos convidam sempre. Adoramos o Brasil. sÓ Só por curiosidade, qual o caché da banda? Éden É variável, mas o caché ótimo, como vamos ganhar agora no México é 3.000 dólares. sÓ Mais as passagens aéreas? Éden Seguro. Em turnês anteriores conseguimos as passagens no Chile, com fundos governamentais. Agora estamos em outra etapa, um pouco cansados de como funciona o sistema governamental, se temos que conseguir passagens para viajar, duvido que alguém da banda queira fazer esses esforços.


sÓ Você tem referências pouco comuns para músicos tradicionais e que remetem a alguma forma de pesquisa. O próprio Akineton pode ser entendido como um trabalho de pesquisa? Faz algum trabalho especial quanto a isso? Leo Arias Desde 1995 até 2006 participei junto de um amigo em diversos projetos chamado Svardostock, algo como a música ECM [selo alemão que lançou trabalho de Egberto Gismonti, Jan Garbarek David Liebmamn, Bill Frisel]. De 1994 até hoje em dia me junto com um grupo de Antropólogos/Músicos a improvisar e sacar algumas canções como Sun Ra latino. No segundo semestre desse ano começo a carreira de Pedagogia em Música na Universidad Mayor que me tomara quatro anos. sÓ Na página do myspace do Zeraus há inúmeras referências de músicos associados ao free jazz, música experimental. Lembra do primeiro contato que teve com essa música mais densa? Leo Arias Em 1989 era fanático por Bauhaus, mas já em 1990 escutei o 1313 do Univers Zero e me apaixonei de esse estilo musical, rapidamente me aproximei a: Henry Cow, Magma, Art Bears, Aqsak Maboul, Art Zoyd, Third Ear Band, Cassiber, Popol Vuh. E pelo lado erudito: Gorecky, Penderecky, Messiaen, Tavener, Arvo Part, Philip Glass, Bach, Forqueray y Kronos Quartet. Logo com o tempo fui abrindo com outros estilos, mas sempre com um desejo de obscuridade e melancolia: Louis Sclavis, Eberhard Weber, Jan Garbarek, John Surman e muita música com um

“dejo” oriental como Sussan Deyhim. sÓ O que tem escutado ultimamente? Leo Arias Anouar Brahem, Portishead, Trilok Gurtu, Thierry Zaboitzeff, Zeraus Quartet, Natacha Atlas, John Surman, Arvo Part, Bauhaus, Sussan Deyhim, Volapuk, David Sylvian, Steve Coleman, John Coltrane, Pharoah Sanders, Alice Coltrane, Stephan Micus, Peter Murphy, Shankar, Dagmar Krause, Bach, Henryk Gorecky, e a primeira página dos amgos do Zeraus no myspace: Christian Vander, Offering, Bjork, Bill Laswell, Belgistan e claro Art Zoyd.

L e o n a r d o

A r i a s

e

sÓ Gosta de música brasileira? Tem algum artista que lhe chame mais atenção Conhece o “Grupo Um”, “Projeto B”? Fazem um som que provavelmente lhe agradariam. Leo Arias Conheço os grupos que me comenta. Gosto em especial do Grupo Um. Mas no geral tenho me afastado das músicas mais complexas e estou em busca de uma música mais simples, com exceção do Zeraus, mas o que escuto em casa tem mais a ver com música da Índia, música meditativa. Já estou esgotado de ouvir tanta

É d e n

C a r r a s c o

“rareza”. Gostaria de conhecer os chorinhos, ou algo assim. Creio que se utiliza muito o clarinete, e ainda não tenho muito desse estilo musical. No quinteto Bella vista tocamos obviamente “Chega de Saudade”, “Chica de Ipanema”, “Água de beber”, “Desafinado”, “Corcovado”, “Mais que nada”, etc. sÓ Como é o cenário da música chilena hoje, essa produção que destoa do comum e hegemônico em música? Leo Arias No Chile se escuta o pop internacional, a música eletrônica, salsa e cumbia, música mexicana e argentina, reggae, reggaeton, rap, a música alternativa tem pouco espaço, assim como o jazz, mas ao menos tem crescido a quantidade de músicos dedicados a estas duas ramificações musicais, mesmo que ainda reine a imitação estrangeira. Em todo caso há muitos músicos bons em todo Chile. Apareceu uma “rama musical” chamada La cumbia afro chilenera, como Juana Fe, Banda Conmocion, Patricio Cobarde etc: fusion afro, cumbia e raízes folclóricas chilenas e colombianas. Bolshek usa o Chin Chin no Juana Fe, instrumento que consta de um bumbo nas costas com um hi-hat que se move com uma corda presa aos pés mais duas varas para golpear o bumbo. Este instrumento é muito antigo e era ensinado pelas famílias, mas hoje em dia está massificado. Ah! E tudo o que tem algo a ver com música cigana também tem ganho muito espaço.

foto: Gato Naranjo

“No geral tenho me afastado das músicas mais complexas e estou em busca de uma música mais simples. Gostaria de conhecer os chorinhos, ou algo assim”.

l e o

a r i a s


“a cultura como forma de ação” por Tatiane Klein

Esta é a máxima que norteou, durante quatro anos, os repórteres, editores e leitores do jornal alternativo Versus. Criado pelo repórter Marcos Faermann, Versus comprometeu-se com ideais panamericanistas e fez parte da leva de jornais alternativos cujo surgimento sucede a morte do jornalista Vladimir Herzog - suicidado nos porões do DOI-CODI. Foi um dos mais destacados jornais alternativos brasileiros. Algumas das melhores reportagens de Versus agora estão disponíveis na web. A antologia que pode ser lida no endereço www.versus.jor.br replica o livro Versus, Páginas da Utopia, da Editora Azougue Editorial, organizado por Omar L. de Barros Filho, editor do jornal na década de 70. Bernardo Kucinski, autor de Jornalistas e Revolucionários - Nos tempos da imprensa alternativa, avalia que o jornal Versus realizou uma síntese da resistência ao regime militar – algo que não tomava forma só no que a tipografia registrava através dos textos, mas também na diagramação, nas fotografias e até nas escolhas temáticas. Versus era sorrateiro como o regime reacionário:

com uma voz sussurrada, esse antídito silencioso tecia histórias da ditadura brasileira e de outros países latino-americanos - notava a luta de outros povos. O jornal entendeu o sentido da escritura e da repressão não-escrita (do regime que, a duras penas, construiu um edifício legal para sustentar suas ações), ainda que tenha perecido, como os outros alternativos. Não era um plano de fuga, mas houve que se criar um novo jeito de narrar para que o texto do regime militar não apagasse todos os outros. Nas palavras de Omar, que estão reproduzidas na página da web: “O leitor desta obra perceberá as transformações decorrentes da politização da redação, que, passo a passo, abandonou o discurso original – literário, poético e épico da história da América Latina – em troca de uma visão mais crua, sociológica e imediata de nossa realidade, não só a brasileira como a do continente. A metáfora literária cedeu lugar à política, e isso se expressava não só nas reportagens, ensaios e entrevistas, mas também no próprio grafismo de Versus, nas charges, nas ilustrações, enfim, na organização editorial em seu conjunto”.

itas de us - 5 letras inéd rs Ve de 6 nº rancesEdição istas com Gianf ev tr En Il; G to Gilber Reportalauber Rocha; G e ri ie rn ua co G a sobre o Percival de Souz de al ci pe es gem . iário brasileiro sistema penitenc

Edição nº 13 d e aventur as, idéia Versus - “Um jornal d s, repo registra rta e o alta d a capa. gens e cultura ”,

GARGANTA ROUCA E FOLK

A casa de shows Astronete apresentou mais um músico com rock clássico nas veias. Trata-se de Thiago Nassif (vocal, guitarra). No repertório do músico Crosby, StiLls and Nash, Byrds e Tom Waits saem com maestria. As composiçõe próprias seguem a linha da psicodelia roceira. O timbre da voz de Thiago assemelha-se a de outro ídolo musical, Captain Beefheart. No momento o músico está acompanhado de Leonardo Jabba Jabba, no baixo, e Renato Amorim na bateria. Nassif também já tem um álbum lançado, e que pode ser obtido entrando em contato com o músico através do endereço eletrônico http://www.myspace.com/thiagonassif.

SAUNOFLEX LANÇA DISCO

Jazz-rock, funk e mais uma ilustração de Chuck Dedo Amarelo estão juntos em trabalho inédito do grupo Saunoflex, single com apoio da Big Papa Records. Quem passar pela loja ou acompanhar algum show do grupo pode adquirir o trabalho ainda fresco direto com os músicos. O disco inclui canções anteriormente gravadas e presentes nas apresentações do grupo, como Fritadeira Psicodélica que para esse lançamento passaram por um processo de mixagem e masterização. http://www.myspace.com/saunoflex

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OUVIR LETRAS

MATANÇA DE PORCO por Lucas Rodrigues de Campos SOM IMAGINÁRIO

É psicodélico. Bonita essa música. Qual que é a palavra? Imaginário. Encostado na parede o retrato, o quadro de um tio envelhecido. Não vai sair da lembrança. Inútil comentário sobre aquele disco que repousa sobre uma centena de composições clássicas. Tocar nele é somente para falar música. Matança de Porco. Cirurgia complexa. Cresce a bateria, ecoa um Hammond, guitarra com fuzz. Psicodélico. Bonito esse som, ele vem de Minas? Pensa numa boa referência. Oito e vinte e oito, do lado está coberta, acoberta a poesia feita, fraca. A música compensa, no imaginário do som, no som imaginário, passeios intergaláticos, lunares, espaciais. Grita uma marcha pois Milton ecoa: penso sempre em algum tipo de resistência. Mantém a atenção. O vento emana resistência no discurso. Desejavelmente piegas, ultrapassou a noite e desemboca nos gritos. O Barroco surge ao órgão. Típico som. Penso em Beatles. Não. É George Martin também. Penso nos arranjos. É brasileiro, difere: diferente natureza? A mesma do jazz? Esquece o Milton, música brasileira, ouviam isso nos setenta. Será? É ouviam. Apoio do Pituca, aliteração do pê. É mais do que isso: presta atenção no regional, mas presta atenção! É bem elétrico, tem até Fender Rhodes! Eles são bons, esses aí que tocam levada de samba são referência à referência deles. Eles são a referência. Eu posso dizer que isso é sambossa elétrico? Samba psicodélico? Deixa pra lá. Não classifica, é mania. Flauta! Ritmo samba. De novo, classifiquei. É samba, mas tá grooveado. Exatamente: samba é grove. Quero levantar para conferir esse som. Acabou: levanta a agulha. Não, não, repete! Troca. Chiado e nicotina pela sala. Armina, a rima necessária, o som que termina. São três passagens. Esta é a que encerra o disco. Parece conceitual, composição de Wagner Tiso.


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