JA Magazine | Abril 2012

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M AG A Z I N E PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO N.º 2874 DE 26 DE ABRIL DE 2012 DO JORNAL DO ALGARVE E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

OLHANENSE

100 anos de história



Sónia "Little B" Cabrita lança primeiro álbum de originais

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Algarve tem uma diva do jazz... na bateria! Sónia "Little B" Cabrita é uma baterista e compositora que o jazz enfeitiçou desde cedo. Aos 33 anos, a artista já fundou e continua a participar em vários projetos musicais, tocando com Viviane e alguns dos veteranos e lendas vivas do jazz nacional e internacional, que tem acompanhado em espetáculos e festivais que se realizam dentro e fora do país. Todas estas experiências musicais culminam no lançamento, no próximo dia 30, do primeiro trabalho discográfico com composições originais

fotos: Carlos Pinto

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á lá vai o tempo em que a maioria das pessoas achava que as raparigas tinham de aprender piano, violino, no máximo guitarra ou cantar. Mas bateria nunca, por ser considerado "coisa de homens"...! Mas hoje, esse conceito já não se aplica de modo tão acentuado. Pelo menos, é o que diz Sónia "Little B" Cabrita, uma baterista e compositora que reside em Faro. Aos 33 anos, e já com uma longa e firme carreira musical, a artista prepara-se para lançar o seu primeiro álbum de originais, no dia 30. Em declarações ao JA, Sónia Cabrita revela que "este disco encerra uma etapa da minha vida e é o culminar de todas as experiências musicais que vivi nos últimos anos". A baterista e compositora algarvia, que desde os 16 anos se senta atrás dos tambores, tendo iniciado os seus estudos na Associação Filarmónica de Faro (AFF), já fez parte de vários projetos musicais. "Alguns deles foram vencedores de concursos nacionais e regionais", realça Sónia Cabrita, que foi apontada desde cedo como um "novo valor emergente". Depois veio o jazz e uma oportunidade de estudar numa escola em Barcelona, em 2007, seguindo-se várias atuações com coletivos de jazz em diversos festivais em Portugal, Espanha, Macau e Estados Unidos, entre outros. Nestas digressões, Sónia "Little B" Cabrita tocou ao lado de músicos lendários, como os

saxofonistas Greg Tardy e David Murray, assim como os portugueses Zé Eduardo e Carlos Barretto.

Ganhar dimensão a nível nacional O talento de Sónia Cabrita não passou despercebido ao conhecido crítico de jazz José Duarte, que sobre a artista disse: "Uma mulher sentada atrás de tambores e pratos é uma situação pouco ouvista em jazz. Sónia Cabrita, melhor, Sónia "Little B" Cabrita, certamente pelo apreço que tem por este tema jazz, é um

dos bateristas jazz portugueses!". "Mas porquê a bateria?", quis saber o JA. "Humm, esta é difícil... Vi uma bateria, sentei-me, toquei e disse: é isto mesmo", conta. A paixão pelo jazz dos anos 70 também surgiu institivamente, depois de ouvir um dos seus bateristas preferidos, o norte-americano Tony Williams, assim como o lendário Miles Davis. "A música feita pelos músicos de jazz nessa década é altamente experimental e com sons mais eletrónicos, soa-me a altas «desbundas» musicais. Tony Williams fez isso com o seu álbum "Lifetime" (1965). Miles Davis também o fez muitas vezes, nomeadamente no disco Miles live at Philmore (1970)", frisa, en-

tusiasmada, a compositora e baterista. Para além do lançamento do primeiro trabalho discográfico de originais, no final deste mês, Sónia "Little B" Cabrita pretende ainda continuar a desenvolver vários projetos em 2012, nem todos ligados ao jazz. "Faço parte de vários projetos ao mesmo tempo, desde Viviane e Nannok (ambos de música portuguesa), aos Friend Neuronium e o Little B's Quartet (jazz). Os planos que tenho para este ano é que todos estes projetos musicais ganhem uma maior dimensão a nível nacional", refere a artista. O facto de viver no Algarve, afastada dos grandes centros, "é uma faca de dois gumes", afirma Sónia Cabrita. Por um lado, frisa, "consigo tocar durante todo o ano em toda a região, que me permite ter um trabalho mais regular". Por outro, "não tenho qualquer tipo de visibilidade a nível artístico, é como se vivesse noutro país, porque tudo está centralizado em Lisboa", lamenta. Apesar disso, Sónia "Little B" Cabrita vai lutar pelo seu lugar no jazz português, com este primeiro disco de originais. "Este álbum é como fechar uma gaveta. Decidi fazê-lo com músicos (portugueses e estrangeiros) que conheço de longa data, como o saxofonista Wenzl McGowen (Nova Iorque) e o pianista Giotto Roussies (Colónia-Alemanha). Zé Eduardo no contrabaixo é a historia viva do jazz em Portugal. E ainda conto com Arturo Serra, vibrafonista espanhol, Marco Martins, no baixo acústico, e Pedro Gil, na guitarra", conclui. Nuno Couto

Breve retrospectiva de uma mulher atrás dos tambores Perguntas rápidas Idade: 33 anos. Instrumentos que toca: Bateria, cajón e vibrafone. Sonho: Cada dia que passa ser melhor música. Música: Little B´s Poem (Bobby Hutcherson). Frase: "A vida é dura para quem é mole". Contactos: lunachick_girl@yahoo.com A palavra é tua: Espero que as pessoas gostem da minha música e que comprem o disco. Estará à venda na Fnac da Guia, no Pátio das Letras (Faro), no Trem Azul (Lisboa) e através do cdbaby.com.

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ónia Cabrita iniciou o estudo da música e de bateria em 1994, quando tinha 16 anos, na Associação Filarmónica de Faro (AFF), com o professor Joaquim Furtado. Desde então, tem vindo a incorporar e a fundar vários projetos musicais, alguns vencedores de concursos nacionais e regionais. Com alguns destes grupos, chegou a partilhar o mesmo palco que bandas como os The Pogues, Blind Zero, Supernova, entre outros. Participou ainda em diversos workshops de jazz através da associação Grémio das Músicas. De 2000 a 2002, foi aluna do professor Jorge Moniz na Escola de Jazz do Barreiro. Ainda em 2002, foi baterista "por um dia" do grupo pop belga "K's Choice", depois de vencer um passatempo da RTP-Antena 3. Durante 2007, viveu em Barcelona, onde estudou na escola de jazz Taller de Musics, tendo sido aluna dos professores Ramon Angel Ray (bateria) e de Cristina Canet (teoria musical). No ano seguinte, Sónia Cabrita faz uma breve digressão pelo arquipélago de Cabo

Verde com a Banda Filarmónica de Montargil, que culminou com um concerto no Festival 7 Sóis 7 Luas. Mais recentemente, a compositora e baterista atuou em vários espetáculos coletivos, nomeadamente o Sedajazz International Festival (Espanha), Festival Sons do Atlântico, Festival Sines em Jazz, Festival Med de Loulé, Festival de Jazz de Valado dos Frades, Festival de Jazz de Lagos, Festival de Jazz de Montemor-o-Novo, Festival de Jazz de Almodôvar, Jazz no Inverno Festival e na Fábrica de Braço de Prata. De salientar, ainda, os concertos realizados com os saxofonistas Greg Tardy e David Murray em Portugal, assim como com a Zé Eduardo Unit. Fez ainda uma digressão pelos Estados Unidos (Nova Iorque, Boston, Baltimore) e participou no Festival de Jazz de Macau. "Todas estas experiências motivaram-me para começar a compor e a fechar uma etapa na minha vida: lançar um CD com composições minhas", remata.

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A primeira equipa do Olhanense (1912)

Sporting Clube Olhanense

100 anos de história Clube comemora o seu centenário esta sexta-feira, dia 27, embora a celebração se prolonguem ao longo de todo o ano. A JA Magazine revela-lhe um pouco da história do Olhanense nestes 100 anos, cujos grandes marcos foram a conquista do antigo Campeonato de Portugal, os títulos da 2.ª e da 3.ª Divisão, bem como as quatro subidas ao escalão máximo do futebol português

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orria o ano de 1912 quando um grupo de jovens, amantes do futebol, orientados por Armando Amâncio, deu origem ao Sporting Clube Olhanense, desenvolvendo em Olhão a prática de uma modalidade, até à data, pouco conhecida. Os primeiros jogos foram disputados no Largo da Feira e, posteriormente, a partir de 1921, no chamado Campo da Cerca, que foi a “casa” do Olhanense até à inauguração do Estádio Padinha, em 1923, recinto que o clube utilizou durante 60 anos. O divertimento e o desportivismo levaram o

clube à liderança e tornaram-no, em 1924, campeão de Portugal. O Sporting Clube Olhanense conquistou o título máximo do campeonato nacional e, a 22 de outubro do mesmo ano, recebeu o Louvor pelo Governo da Nação. O desporto ganhou uma nova visibilidade e o país começou a virar as atenções para a prática desportiva. A competição tornou-se cada vez mais renhida e aumentaram as exigências das formações e regularizações das provas oficiais. Nesse sentido, foi criada, em 1934, a organização dos campeonatos nacionais da I e da II Liga. Na época 1935/36, o Olhanense acabou por

se sagrar campeão da II Liga, numa altura em que o mestre Cassiano orientava a equipa dos jovens “rubro-negros”. O clube não subiu de divisão, já que, naquela data, os regulamentos não o previam. Apenas na época 1940/41, quando voltou a conquistar o título de campeão da II Liga, ascendeu ao escalão máximo do futebol português. Na época 1942/43 conquistou um honroso quinto lugar e na temporada 1945/46 atingiu a quarta posição. Durante uma década, o Sporting Clube Olhanense foi o motivador de uma cidade inteira, trazendo para Olhão um infindável número de êxitos desportivos, entre os quais

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se destaca a presença na final da Taça de Portugal, em junho de 1945, onde defrontou o Sporting e acabaria por perder por 1-0. Em 1959, o Sporting Clube Olhanense realizou o sonho de ter uma sede própria, edifício que foi considerado como um dos melhores equipamentos sociais do Algarve. Passada a euforia das vitórias, o clube adormeceu durante alguns anos. Em 1964 regressou à 1.ª Divisão e recebeu a Taça Centenário do Diário de Notícias, voltando a despertar as gentes de Olhão e do Algarve para o fenómeno futebolístico. Mas o “futebol-


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Campeões de Portugal na época 1923/24

A equipa campeã da 3.ª Divisão na época 1969/70...

... e a que conquistou o título da 2.ª Divisão na temporada 1972/73

Equipa que disputou a final da Taça de Portugal em 1945

-espectáculo” acabaria por se sobrepor ao “futebol-desporto” e os fatores empresariais e financeiros ganharam uma importância até então inexistentes. O Olhanense atravessou posteriormente anos difíceis, com duas descidas de divisão. Na temporada 1969/70 sagrou-se campeão da 3.ª Divisão e na época seguinte recebeu duas taças Disciplina do “Mundo Desportivo” e de “O Casapiano”. Na época de 1972/73 voltou a ser campeão da antiga 2.ª Divisão Zona Sul, um título que lhe gararantiu o regresso à 1.ª Divisão, onde se manteve durante duas temporadas. Seguiu-se mais um longo período em que o Olhanense voltou a disputar as divisões inferiores. E foi nesta altura que o clube deixou o Estádio Padinha (continuou a ser utlizado apenas pelas camadas jovens) para começar a efetuar

os seus jogos no seu primeiro campo relvado, o Estádio José Arcajo, inaugurado em 1984. Depois de criada a 2.ª Divisão B Zona Sul, o clube de Olhão foi campeão duas vezes, num espaço de 13 anos, a primeira em 1990/91 e a segunda na época de 2003/04. Na época 2008/09, o Sporting Clube Olhanense voltou a fazer vibrar não só as gentes de Olhão como toda a comunidade algarvia, ao realizar um campeonato exímio e sagrar-se campeão da Liga Vitalis, regressando, ao fim de 34 anos, às disputas com os grandes do futebol português, na I Liga. Além dos troféus conquistados em futebol, o Sporting Clube Olhanense sagrou-se campeão nacional da 2.ª Divisão em basquetebol feminino, na época 1978/79.

O plantel que conseguiu a subida à I Liga (2009)

TÍTULOS - Campeão de Portugal (1923/24); - Campeão Nacional da II Liga (1935/36); - Campeão Nacional da 2.ª Divisão (1940/41); - Campeão Nacional da 3.ª Divisão (1969/70); - Campeão da 2.ª Divisão Zona Sul (1960/61 e 1972/73); - Campeão da 2.ª Divisão B Zona Sul (1990/91 e 2003/04); - Taça Centenário do Diário de Notícias (1964); - Taça Disciplina do Mundo Desportivo (1970/71); - Taça Disciplina O Casapiano (1970/71);

- Campeão Nacional 2.ª Divisão Basquetebol Feminino (1978/79); - Campeão da II Liga 2008/09. CONDECORAÇÕES - Louvado pelo Governo a 22/10/1924; - Medalha de Mérito Desportivo; - Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique; - Medalha de Bons Serviços Desportivos; - Medalha de Mérito da Câmara Municipal de Olhão (Grau Ouro). (Instituição de Utilidade Pública desde 1980)

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6 “Os sócios mais antigos pediram-me, chorando, para levar o Olhanense à I Liga” Isidoro Sousa chegou à presidência da direção do Olhanense em 2007, tendo sido posteriormente reeleito em 2009 e em 2011. Está no clube há 28 anos e já trabalhou com cinco presidentes. Antes de liderar os destinos do emblema “rubro-negro” ocupou vários cargos, o último dos quais o de vice-presidente para o futebol sénior. Quando assumiu a presidência colocou como meta a subida à I Liga, um sonho antigo dos olhanenses que seria concretizado dois anos depois. No momento em que o clube se prepara para celebrar 100 anos (esta sexta-feira, dia 27), Isidoro Sousa falou-nos da realidade do Olhanense, das dificuldades e dos projetos

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ornal do Algarve Magazine - Quando assumiu a presidência do Olhanense esperava celebrar o centenário do clube na I Liga? Isidoro Sousa - Quando esta direção tomou posse, depois de uma fase conturbada no clube, em que houve três assembleias e não se encontrava direção, traçámos uma meta. Sempre disse que o Olhanense não era sustentável na Liga de Honra, devido às diminutas receitas e às grandes despesas. Só havia duas hipóteses: a subia à I Liga ou a descida à 2.ª Divisão. Traçámos a meta de colocar o Olhanense na I Liga em três anos. Felizmente aconteceu antes, logo na segunda época. A partir de aí, o esforço teria de ser muito grande para celebrar o centenário na I Liga. Veio a acontecer, apesar das grandes dificuldades, pois não é fácil para um clube como o Olhanense ter sustentabilidade para se manter na I Liga. Penso que é uma honra muito grande para todos que o clube celebre o seu centenário na I Liga.

“Só havia duas hipóteses: a subida à I Liga ou a descida à 2.ª Divisão” J.A.M. - Nas épocas que antecederam a subida, o Olhanense chegou a estar perto da I Liga por várias vezes. O que é que faltou, na altura, para que a subida não se tivesse concretizado antes? I.S. - Efetivamente, nessa altura fiz parte da direção liderada por Carlos Nóbrega, um presidente muito dinâmico e que veio dar uma lufada de ar fresco ao clube. Disse-lhe bastantes vezes que o Olhanense precisava de subir. Penso que faltou um pouco, talvez, de coragem e de aventureirismo. Lembro-me que no primeiro dia em que disse que o Olhanense tinha de chegar à I Liga chamaram-me lírico e aventureiro. É verdade que talvez não estivesse ciente de todas as dificuldades que iria encontrar, mas estive sempre ciente de que com trabalho e com uma entrega muito forte o clube tinha essa possibilidade. Ainda para mais, o passado do clube obrigava-nos a ter essa responsabilidade. Os sócios mais antigos, e com idade mais avançada, pediam-me para conseguir a subida. Diziam-me, chorando, que não queriam morrer sem voltar a ver o clube na primeira divisão. E os mais novos também me pediam encarecidamente para subir de divisão. E este é um sentimento muito forte, que ainda hoje guardo. Entretanto, algumas dessas pessoas já falece-

ram neste curto período. Penso que foi um prémio mais do que merecido, principalmente para os nossos sócios mais antigos, mas também para os mais novos, que nunca tinham visto o clube na I Liga. Isto foi, de facto, o que mais me moveu e o que mais me sensibilizou para a subida de divisão. J.A.M. - Os sócios pediram-lhe a subida e agora pedem as competições europeias... I.S. - Temos de ter os pés bem assentes na terra e perceber a realidade do Olhanense. Antes de mais, é preciso conseguir sustentar o clube na I Liga. Depois, com o tempo, logo se verá. Tudo o que possa acontecer neste clube tem de acontecer com naturalidade, mas sem precipitações. O trajeto que fizemos nos últimos anos foi muito bem programado e não aconteceu por acaso. Foi o trabalho de fundo de toda a estrutura do clube que permitiu chegar, naturalmente, à I Liga. Para ir mais longe terá de ser por este caminho. Não pode ser de outra forma. J.A.M. - Com estes tempos de crise, como é que se consegue manter uma equipa na I Liga? I.S. - Essa tem sido a grande dificuldade, não só do Olhanense, mas de todos os clubes. É óbvio que o estado em que se encontra a nossa economia tem repercussões negativas na vida dos clubes. As dificuldades têm sido enormes. Este ano, os apoios que esperávamos e que seriam normais noutra situação, não foram cumpridos por via das dificuldades financeiras. Por exemplo, a nossa autarquia está com grandes dificuldades. Compreendemos a situação e sabemos que a câmara municipal tem feito um esforço enorme para poder acompanhar o Olhanense dentro das suas possibilidades. Muitas receitas ficaram por terra, como é o caso do Turismo do Algarve, que este ano já não patrocinou. O tecido empresarial do concelho é muito pequeno e também não tem capacidade de resposta.

“Quando disse que o Olhanense tinha de chegar à I Liga chamaram-me lírico e aventureiro” J.A.M. - ...e quais foram as soluções? I.S. - Por exemplo, temos conseguido vender alguns ativos desportivos, ou seja, jogadores. Este ano já vendemos o Salvador Agra e

vamos ter de fazer mais uma venda ou duas para equilibrar as finanças do clube. A solução tem de passar por aí, porque atualmente as receitas não são suficientes para cobrir as despesas. E na próxima época vamos ter de reduzir substancialmente o orçamento. Não há outro caminho. Mas também entendo que se conseguirmos ultrapassar este período mais difícil em termos financeiros, o Olhanense poderá sustentar-se na I Liga por muitos anos. J.A.M. - Sendo o Olhanense o único clube do Algarve a disputar a I Liga, também não tem havido resposta positiva da parte do tecido empresarial algarvio? I.S. - De facto, o Olhanense representa a região algarvia, mas este ano não temos tido muito apoio. Há dois anos, as coisas correram relativamente bem, mas este ano houve uma

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redução muito grande. Como já referi, o Olhanense precisa de fazer alguns negócios, nomeadamente desportivos, para se poder sustentar nesta divisão, que tem umas exigências muito grandes. Ainda por cima, o Olhanense está muito deslocado, geograficamente, o que nos causa despesas acrescidas por causa das deslocações. J.A.M. - Mas como é que está a situação financeira do clube? I.S. - Há dois anos, o Olhanense fez um investimento de 2,5 milhões de euros no seu estádio. Foi um investimento necessário, pois, caso contrário, não poderia competir na I Liga. O Olhanense está a pagar esse investimento e tem sido isso que tem pesado significativamente neste período de dificuldades. Estamos a negociar com os bancos para poder alargar um


7 pouco mais o período de pagamento, já que são pagamentos a curto prazo. Estamos a tentar fazer com que o encargo financeiro seja menor. Mesmo assim, pensamos que ainda serão necessários mais dois ou três anos para estabilizar o clube. No entanto, o Olhanense é capaz de ser, excetuando os três grandes, o clube com mais património. Tem 27 frações, entre as quais o estádio, o bingo, a sede social, apartamentos, lojas no Ria Shopping, entre outras. Felizmente é um património muito grande e muito superior ao passivo. E todo o património está a ser rentabilizado.

“O trajeto que fizemos nos últimos anos foi muito bem programado e não aconteceu por acaso” J.A.M. - Falou da venda de ativos desportivo. A aposta na formação também tem esse objetivo? I.S. - Há três ou quatro anos, o Olhanense iniciou um trabalho de fundo nas camadas jovens, para tirar dividendos, a médio prazo, para a equipa principal. Também estamos a fazer um trabalho árduo e constante, em todo o país, em termos de observação de jogadores das divisões inferiores. E tem dado frutos, pois nos últimos anos temos conseguido fazer vendas de jogadores oriundos das dessas divisões, como foi o caso do Agra e, também, do Vinícios. Este ano já temos mais três jogadores praticamente contratados para a próxima época, oriundos das divisões inferiores. Mas, como é evidente, ainda não podemos divulgar os nomes porque os campeonatos ainda estão a decorrer e não seria ético da nossa parte.

“Na próxima época vamos ter de reduzir substancialmente o orçamento” J.A.M. - Uma grande aposta na formação, mas os jogadores oriundos das camadas jovens do Olhanense ainda não conseguiram singrar na equipa sénior... I.S. - Durante várias décadas, a maioria dos jogadores dos diversos plantéis seniores eram da terra. Houve depois um vazio neste âmbito durante muitos anos, mas agora a nossa preocupação é apostar forte na formação para que possamos ter na equipa principal, a médio prazo, jogadores da nossa “cantera”. Mas esta é uma lacuna que não é só do Olhanense. Há poucos jogadores algarvios a jogar a alto nível, na I Liga e na II Liga. Isto mostra que o mal não está só no Olhanense e que é um mal geral. Mas o Olhanense está a trabalhar para inverter essa situação. Este ano temos o Vasco Fernandes, que foi formado no Olhanense, e há mais dois ou três jogadores oriundos dos júniores que, na próxima época, deverão integrar a equipa principal. J.A.M. - Que projetos é que a Direção tem na manga para os próximos tempos?

I.S. - Queremos construir uma nova bancada nascente no Estádio José Arcanjo, a qual substituirá a atual bancada amovível. O projeto está em marcha e vamos ver se conseguimos os apoios para o concretizar. A ideia é aproveitar a bancada e criar, por exemplo, um espaços para o bingo, para lojas... Mas vai depender do desenvolvimento financeiro do processo e, como se sabe, a altura também não é a ideal. De facto, é uma obra necessária, também, para dar outra comodidade aos espetadores. Temos outros projetos, mas a altura, realmente, não é a melhor. A nossa grande preocupação é estabilizar o clube financeiramente. Só depois é que avançaremos para novos projetos. Também precisamos de um campo de treinos com relva natural e esperamos que possa ser uma realidade porque continuamos a efetuar treinos fora do concelho de Olhão. Mas o grande objetivo é cimentar o clube na I Liga e apostar forte nas camadas jovens. J.A.M. - O que é que os sócios podem esperar da equipa na próxima temporada? I.S. - Todos os anos dizemos que queremos melhorar a classificação do ano anterior. E a próxima época não será exceção. O primeiro objetivo é a manutenção e, como diz o nosso treinador, se conseguirmos continuar na I Liga já seremos campeões.

J.A.M. - A mudança de treinador acabou por ser benéfica para a equipa... I.S. - Não tenho o hábito de mudar constantemente os treinadores. O Daúto Faquirá tinha transitado da época anterior mas, a dada altura, achei que era necessário mexer porque as coisas não estavam a correr de acordo com o valor do plantel. Por isso alterámos a equipa técnica em janeiro. O Sérgio Conceição é uma aposta num treinador jovem, tal como já tínhamos apostado no Paulo Sérgio, que subiu a equipa à II Liga, e no Jorge Costa, que conseguiu a subida à I Liga. É um treinador que ainda tem uma margem de progressão muito grande e estou convencido de que, a médio prazo, vai chegar a um clube com outra dimensão.

“O Sérgio Conceição tem mais um ano de contrato e é para continuar” J.A.M. - Sérgio Conceição é para continuar? I.S. - O Sérgio Conceição tem mais um ano de contrato e é para continuar. E, aliás, já estamos a preparar a próxima época. Tenho a certeza de que ajudará a projetar o Olhanense um pouco mais acima daquilo que temos feito até aqui.

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J.A.M. - ...e há intenção de prolongar o vínculo? I.S. - Já falei com ele sobre isso e disse-lhe, inclusivamente, que estava disponível para assinar outro contrato, por mais um ano ou dois, se ele assim o entendesse. Há aqui um trabalho a seguir e entendo que o trabalho nos clubes não pode ser a curto prazo, mas sim a médio e a longo prazo. Quanto mais tempo os treinadores estiverem nos clubes, mais garantias dão de um trabalho mais sólido. J.A.M. - O Olhanense continua a ser um dos clubes que leva mais adeptos aos jogos fora de Olhão. Como é que explica este fenómeno? I.S. - Costumo dizer que a nossa massa associativa, se não é a melhor, é das melhores. Os nosso sócios têm uma paixão enorme pelo clube. Olhão é um concelho pequeno e com poucos recursos, mas se o Olhanense chegou onde está hoje é porque temos atrás de nós uma massa associativa que nos permite sentir que este clube tem de ser grande e que tem de estar na elite do futebol português. Há uma paixão enorme em Olhão. Antigamente falava-se do Benfica, do Sporting, do Porto e só depois do Olhanense. Hoje, os mais pequenos já dizem que são do Olhanense antes de ser de qualquer outro clube, o que não acontecia há alguns anos atrás. E eu sinto um orgulho muito grande nisso. É uma paixão. Por muito longe que seja a deslocação da equipa, há sempre pessoas de Olhão. Em todos os jogos conseguimos levar um, dois ou três autocarros com adeptos. Nos percursos mais curtos, por exemplo, à zona de Lisboa, de Leiria ou de Coimbra, o Olhanense consegue levar milhares de pessoas. Estas pessoas percorrem milhares de quilómetros, independentemente da hora e do dia do jogo. Ainda este ano, em Setúbal, tivemos cerca de dois mil adeptos. Só os três grandes é que conseguem arrastar tanta gente. Isto é um sentimento de apoio muito forte e não me canso de lhes agradecer o esforço que fazem. Só assim é que conseguimos ter, neste momento, quase tantos pontos conseguidos fora como os que conseguimos em casa.

“Os mais pequenos já dizem que são do Olhanense antes de ser de qualquer outro clube (...) É uma paixão” J.A.M. - Mas o Olhanense não é só futebol... I.S. - O Olhanense move-se, quase exclusivamente, em torno do futebol. Atualmente tem na sua “cantera” cerca de 350 miúdos. Tem ainda uma secção de boxe, outra de ginástica e, obviamente, gostaríamos de ter outras modalidades, mas nos dias de hoje é impossível. Gostaríamos de ter basquetebol, andebol, futsal... Já me apresentaram alguns projetos, mas entendo que não é o melhor momento para avançar por esse caminho, a não ser que surjam apoios muito fortes para que o clube não tenha mais despesas. Se forem criadas as estruturas que idealizámos, penso que a médio prazo poderemos avançar com mais duas ou três secções. Mas, atualmente, a mola real do clube é o futebol profissional. Domingos Viegas


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O Olhanense é uma paixão para as gentes de Olhão. À exceção dos denominados três grandes, é o clube que leva mais adeptos para os jogos fora de casa

Cavaco Silva marca presença nas comemorações Presidente da República estará este sábado em Olhão no Jantar de Gala do Centenário do Olhanense e inaugurará a nova sala de troféus do clube, localizada no Estádio José Arcanjo

A

s comemorações do centenário do Sporting Clube Olhanense começaram no passado sábado (uma semana antes do dia do aniversário) com a cerimónia de hastear da bandeira no Estádio José Arcanjo, seguida de uma visita à casa onde foram elaborados os primeiros estatutos do clube. No mesmo dia decorreu uma romagem ao cemitério de Olhão, onde foi prestada homenagem a antigos sócios, dirigentes e atletas já falecidos, que terão ainda uma missa esta sexta-feira (dia 27), dia do aniversário do clube. Também nesta sexta-feira, decorrem as comemorações do aniversário na sala do Bingo do Olhanense, com oferta de brindes, bolo e espumante, a partir das 21h00. Mas o ponto alto das comemorações dos 100 anos será o Jantar de Gala, no próximo sábado, no hotel Real Marina, que contará com a presença do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e do secretário de Estado do Desporto, Alexandre Mestre. Durante a manhã do mesmo dia (às 11h00), Cavaco Silva inaugurará a nova sala de troféus do clube, no Estádio José Arcanjo.

Livro e DVD com a história do clube As iniciativas prosseguirão no dia 6 de maio, com várias ações durante e após o jogo que o Olhanense disputará com o Marítimo, a con-

mes da sua histórias”, até ao ano 2000, mas que este “tem uma envolvência muito maior e retratará bem a grandeza que este clube tem”. Ainda em maio, mas no dia 19, realiza-se a festa de encerramento da atual temporada, a partir das 22h00, no Jardim do Pescador.

Dois torneios durante a pré-época

tar para mais uma jornada da I Liga. Uma delas deverá ser a apresentação do livro do centenário, onde estão retratados estes 100 anos de história do clube algarvio. Além do livro, está ainda previsto o lançamento de um DVD com um documentário sobre a histó-

ria do Olhanense. “É um livro que tem toda a história do clube, resulta de um trabalho exaustívo e deverá ser apresentado durante o mês de maio”, explica o presidente da direção, Isidoro Sousa, frisando que o Olhanense “já tem dois volu-

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Para o mês de junho está previsto um torneio de futebol, no escalão de veteranos, que contará com a presença dos ingleses do Tottenham. Antes do início da próxima época, mas ainda sem datas confirmadas, o Estádio José Arcanjo receberá um torneio triangular de futebol (Torneio do Centenário) disputado pela equipa sénior do Olhanense e por duas equipas estrangeiras. Uma delas poderá ser o Bétis de Sevilha, na sequência do acordo estabelecido entre os dois clubes aquando da assinatura da transferência de Salvador Agra para a o emblema espanhol. As inciativas no âmbito do centenário vão prolongar-se até ao final do ano, mas os responsáveis do Olhanense ainda não revelaram mais pormenores. “Essas ações vão depender dos apoios que conseguirmos”, explicou Isidoro Sousa, garantindo que este “tem de ser um ano que honre o passado do clube”. Domingos Viegas


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Companhia de dança de Vila Real de Santo António

Splash ganha festival internacional de dança na Ucrânia

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Companhia de Dança Splash, de Vila Real de Santo António, recebeu no último sábado o primeiro prémio no Festival de Dança de Kirovograd, sendo assim considerada a melhor companhia de dança de entre as dezasseis a concurso. O festival, de grande importância e reconhecimento a nível europeu, decorreu entre os dias 19 e 21 deste mês na cidade de Kirovograd, na Ucrânia. Na presente edição, e

além das “Splash”, que representaram Portugal, estiveram a concurso comanhias da Ucrânia, da Eslovénia, da Crimeia, da Rússia e da Bielorrússia. José Carlos Barros, vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, esteve presente no festival a convite da Câmara Municipal de Kirovograd, onde participou em encontros com representantes de diferentes órgãos daquele município e com técnicos

das áreas da cultura e das relações internacionais. Além do primeiro prémio atribuído à companhia Splash, a comitiva portuguesa tinha ainda reservada uma surpresa muito especial na sessão de encerramento. Numa edição que decorreu sob o lema “Amizade e União Entre os Povos”, José Carlos Barros recebeu de representantes da organização do festival o Prémio Simpatia, atribuído à comitiva portu-

Castro Marim

guesa pelo público que encheu o Auditório Filarmonia durante as diferentes sessões deste festival internacional. Integrada na Associação Cultural e Recreativa Animashow, a Companhia de Dança Splash desenvolve trabalhos coreográficos com vista à participação em concursos de dança nacionais e internacionais, encarando a dança na sua dimensão educativa.

Odeleite prepara-se para mais uma festa do 1.º de Maio

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s margens da ribeira de Odeleite voltam a ser palco das comemorações do 1.º de Maio no concelho de Castro Marim, uma festa organizada pela Junta de Freguesia de Odeleite, em parceria com a Associação Social da Freguesia e o apoio da Câmara Municipal de Castro Marim. As comemorações do “Dia do Trabalhador” têm início às 10h00 com uma manhã radical, onde o slide, o tiro com arco, a escalada, a canoagem e os insufláveis vão, decerto, desafiar a adrenalina de todos aqueles que se deslocarem à ribeira de Odeleite. A jornada de confraternização prossegue às 12h30 com a tradicional sardinhada, um dos pontos altos da festa, em que o pão e o vinho tinto não vão faltar, seguindo-se a música de baile pela tarde fora e a partir das 14h00. Às 17h00 é a vez do folclore e da etnografia tomarem conta do palco com a atuação do Rancho Folclórico de São Bartolomeu de Messines. Outro dos destaques das comemorações do “Dia do Trabalhador” é o III Concurso “Aldeia Florida”, que vai pôr à prova o talento e o gosto das gentes de Odeleite na plantação de flores em vasos que, por estes dias, adornam as platibandas, as janelas e os pátios da denominada aldeia presépio. O programa das festas do 1.º de Maio em Odeleite encerra com um espetáculo do grupo “As Tayti,” que irão interpretar temas bem conhecidos da música popular portuguesa a partir das 18h00. JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - ABRIL/2012


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Inaugurada obra de valorização do Castelo de Alcoutim A

Câmara Municipal de Alcoutim inaugurou recentemente as obras de valorização no Castelo da vila. A cerimónia apresentou ao público as novas atratividades da fortaleza e foi ainda marcada pelo lançamento do catálogo "10 Anos de Trabalhos Arqueológicos do Neolítico ao Romano", da autoria de Alexandra Gradim e João Luís Cardoso, e pela apresentação da exposição de aguarelas "O Castelo", do pintor Carlos Luz. Conduzida pela arqueóloga da Câmara Municipal de Alcoutim, Dra. Alexandra Gradim, a cerimónia contou com a presença de

várias entidades oficiais regionais. Na mesa inaugural estiveram o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, eng. David Santos, a diretora regional de Cultura do Algarve, Dra. Dália Paulo, o presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, Dr. Francisco Amaral, o diretor regional de Educação do Algarve, Dr. Alberto Almeida, e o professor catedrático da Universidade Aberta, João Luís Cardoso. Os discursos foram unânimes em relação à qualidade dos trabalhos de valorização apresentados, que passaram pela colo-

cação de uma proteção nas muralhas, construção de um passadiço no Núcleo de Arqueologia, renovação e ampliação da exposição "Património Arqueológico de Alcoutim" e substituição da cobertura e da cozinha do castelo. A diretora regional de Cultura, Dra. Dália Paulo, elogiou a sensibilidade da autarquia de Alcoutim na aposta e desenvolvimento cultural do concelho. Francisco Amaral, presidente da autarquia alcouteneja, agradeceu a todos os envolvidos no trabalho de recuperação do castelo, reerguido já sob a alçada deste executivo, em 1994. "É um sentimen-

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to de dever cumprido", referiu o autarca, lembrando o que o castelo era na sua infância, completamente abandonado, e o que é agora. Depois da apresentação dos trabalhos e da exposição de aguarelas "O Castelo", do pintor Carlos Luz, o público foi guiado pela arqueóloga municipal numa visita às valorizações efetuadas. De referir que o conjunto das obras de valorização foi apoiado pelo Programa Operacional de Cooperação Transfronteiriça Portugal-Espanha em 75 por cento do seu valor e está integrado no projeto Guaditer.


Música I Cinema

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Fernando Proença

LITERATURA INCLUSA

Número trinta Primeira parte 1 - Ao longo de vinte e oito anos tenho aberto a boca e escrito o que quero e, nenhum dos meus três leitores nada me disse. Isto ao longo do tempo em que mantenho esta crónica. Já passei duas guerras do Iraque, um maremoto na Indonésia e um ou dois campeonatos do Sporting (só me faltava os terrores estalinista e nazi, mas também seria pedir muito) e vós nem uma cartinha nem um telefonema. Tenho sido abordado no meio da rua – especialmente por arrumadores, ou por cidadãos de regiões limítrofes da Roménia – mas quanto a opiniões, viste-las. Já me disseram para escrever mais sobre música portuguesa, eu que sou um reles vendido à condição estrangeira; fiz caso: imediatamente me pus ao computador para escrever sobre os Beatles. Como os meus amigos sabem, Paul MacCartney vinha ao Algarve passar férias. Mas está certo: não me querem dizer nada porque não me leem, ou às tantas não querem incomodar. Porreiro pá. Para mais a malta que incorre no grave erro de falar para os fóruns da TSF e canais de informação não gasta – eu disse gasta - da minha escrita. Almejam (há muito tempo que não usava o verbo alme-

jar e tenho pena), coisa muito acima, artigos com títulos como; “A poesia de Sérgio Godinho; subsídios para o estudo de uma nova forma de realismo”. Por tudo isso e também por outras razões que não as trago para aqui como o facto de estar a escrever na véspera do meu dia de anos (podem dar-me os parabéns, atrasados mas mais vale atrasados e se não sabem o que me hão-de oferecer, estão a ver aqueles auscultadores que estão à esquerda de quem entra, vermelhos e assim, na FNAC de Albufeira, que custam só um minuto de salário de Cristiano Ronaldo?), resolvi eu que não sou gajo de guardar rancores, fazer as perguntas que penso que vocês (não se já perceberam que o meu tratamento está muito mais próximo e informal) me poderiam fazer. Questões que podem levar Portugal a andar para a frente, agora que chegámos à beira do abismo. É antiga a piada? Queriam sempre caviar?, não pode ser, para mais o esturjão está em perigo de extinção, o que rima e é verdade. 2 – Pergunta: O electro pop é sempre uma merda? Nem sempre meus amigos. Às vezes é, outras não e muitas vezes pode ser as duas coisas ao mesmo tempo ou em alturas alternadas. Eu cresci com o electro pop. Lembro-me da Orquesta Manobrando En La Oscuridad, que era o nome que aparecia na capa dos discos saídos em Espanha, dos Orchestral Manoeuvres In The Dark; Spandau Ballet, os Human League etc. Atenção eu não digo que cresci, não que gostava (dos Human League gostava, dos OMD assim - assim. Dos Spandau detesta-

va, talvez por não ter cabelo para fazer as poupas que eles tinham à frente), daquele som que andava no fio da navalha entre o foleiro e não digo o sublime mas herdeiro das melodias estilo festival da canção, mas eletrificadas, de alguma forma repetitivas, na base da utilização intensiva de sons sintetizados. Como em tudo no mundo (menos nos comités centrais dos partidos comunistas português e da Coreia do Norte) existe uma evolução para o bem e para o mal, mas uma evolução. Foi o que sucedeu ao pop sintetizado. Se tivermos bom ouvido, conseguimos – numa prova cega (ou surda?) - se nos puserem dois discos da área, com trinta anos de intervalo na sua produção, saber qual o antigo e o atual. O mais antigo tem sonoridades mais simples e pode ser adaptado a qualquer convívio que não exija grande ginástica de cabeça. O mais recente é mais complexo, mais devedor aos sons – por exemplo – da mãe África. E também terá menos pó. O que continua igual é a sensação e a sensação, para mim boa, para outros péssima de se andar entre dois mundos, o artístico e o hedonista. Esta inclassificação (a palavra está-me a dar erro no computador, escrevo-a à mesma) tem matado muito boa música porque é sempre difícil gostarmos de uma coisa que temos problemas em espartilhar. “Youth Novels”, disco da sueca LYKKE LI, CD Warner – 2008, pode estar incluído nesse rol. Aponta às pistas de dança mas em versão lenta, um bocadinho desorganizada e muitas vezes fazendo mais apelo ao cérebro que aos artelhos. A cantora (aqui já falada anteriormente mas de um seu disco mais recente, também de alto gabarito), exprime neste disco a sua arte

sobre uma produção mínima, imaginativa por contar com poucos recursos mas a fazer figura de forte. Principalmente porque não tem qualquer problema em meter ao barulho elementos que à partida se deviam opor: pianos sujos, via underground; palmas sintéticas, via música de baile; guitarras acústicas retiradas de um qualquer aspirante a músico folk. Alguém que não eu já se permitiu dividir o disco em duas partes: metade é devedor de um qualquer top tem, que só uma população em surdez progressiva não é capaz de fazer justiça, comprando aos quilos para oferecer aos afilhados ou aos amantes. A outra, mostra uma cantora em fase de falsa quietude, dizendo que por baixo da sua aparente normalidade existe um fundo, feito de abismos da alma e imagens distorcidas. Um diabo em potência ou como já lhe chamaram, a “sobrinita de Julee Cruise” (em espanhol no original, só para os meus amigos perceberem quem manda aqui).

Apontamento de Vídeo Molière "1644, Paris, com 22 anos, Jean-Baptiste Poquelin, também conhecido como Molière, ainda não é o escritor que a história reconhece como o verdadeiro mestre da comédia satírica. O seu ilustre grupo de teatro, fundado no ano anterior, está falido. Perseguido pelos seus credores, Molière é enviado para a prisão, libertado e novamente preso. Consegue depois sair da prisão, quando a sua dívida é coberta pelo Monsieur Jourdain, um homem rico que quer que ele o ajude a ensaiar uma peça de um ato, que ele havia escrito, com o fim de seduzir uma jovem e bela viúva, Célimène. Como Jourdain é casado com Elmire e tido com um pai respeitável de duas filhas, o seu projeto deve permanecer em segredo. Jourdain apresenta então Molière como Tartuffe, um padre austero..." Um filme que alia o prazer à inteligência, vencedor do Moscow Film Festival'07 - Prémio Silver St. George, Prémio do Público. Edição em DVD

Realização e Argumento: Laurent Tirard. Com: Romain Duris, Fabrice Luchini, Laura Morante, entre outros. Distribuição: Clap Filmes. Vítor Cardoso

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