M AG A Z I N E PAR TE INTEGR ANTE D ARTE INTEGRANTE DAA EDIÇÃO N.º 2966 DE 30 DE JANEIRO DE 2014 DO JORNAL DO ALGARVE E NÃO PODE SER VENDIDO SEP AR AD AMENTE SEPAR ARAD ADAMENTE
ZONAS HÚMIDAS
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Jornadas de História do Baixo Guadiana até maio em Vila Real de Santo António Iniciativa está inserida na programação da Eurociade do Guadiana, começou na sexta-feira, terá mais duas sessões e reunirá diversos especialistas na cidade pombalina
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Arquivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António recebe, até ao próximo mês de maio, o ciclo “Jornadas de História do Baixo Guadiana”. A iniciativa está dividida em três sessões, durante as quais investigadores de diferentes áreas historiográficas irão partilhar com o público temas subordinados à história do Baixo Guadiana, onde o “Grande Rio do Sul” assume um papel central. O primeiro encontro decorreu na passada sexta-feira e teve como convidada a arquivista Maria Antónia Moreno Flores, que abordou o tema “Portugal – o exílio ayamontino”. A comunicação retratou a época (primeira metade do século XIX) em que vários moradores da vizinha Ayamonte tiveram de cruzar a fronteira do Guadiana para encontrar abrigo em terras lusas devido principalmente a motivos políticos.
Castro Marim na Guerra da Restauração No dia 21 de março, Pedro Pires, licenciado em Património Cultural e pós-graduado em Património Imaterial, falará sobre o tema “Castro Marim na Guerra da Restauração (1640-1668): Praça de Fronteira e Baluarte Defensivo do Algarve”. Esta comunicação incide sobre o papel de Castro Marim durante o período da Guerra da Restauração, que opôs os reinos vizinhos de Portugal e Castela entre os anos de 1640 a 1668. A estratégia portuguesa assentou num estratagema defensivo que, com base numa linha de fronteira fortificada, procurava conter e repelir os ataques do inimigo castelhano. Deste modo, a estratégia do Algarve recaiu sobre a defesa da sua costa e da linha do Guadiana, onde sobressaía Castro Marim, a principal fortificação da fronteira algarvia e chave da província.
População islâmica de Cacela No mesmo dia, a arqueóloga Cristina Garcia, da Universidade de Huelva, abordará o tema “A População Islâmica de Cacela no Contexto da Reconquista do Baixo Guadiana”. Serão ainda apresentados os primeiros resultados do estudo arqueológico e histórico de Cacela na Idade Média. As escavações arqueológicas permitiram identificar o nível de ocupação do bairro islâmico do Poço Antigo e o momento de reconquista do castelo pela milícia da Ordem de Santiago, ao serviço dos reinos cristãos peninsulares. O achado de uma necrópole datada da segunda metade do século XIII permitiu identificar os primeiros povoadores cristãos da região do Baixo Guadiana.
O grande rio do sul Segue-se o tema “Guadiana – O Grande Rio do Sul”, a cargo de Hugo Cavaco, licenciado em História e mestre em História Moderna. O Guadiana como via de comunicação entre o “hinterland” e o litoral. A cabotagem entre os montes do rio. Tipos de embarcações. O Guadiana e o minério de S. Domingos (os navios da SG). O transporte de passageiros (canoas e “gasolina” de Mértola). O contrabando. As cheias e sua construção nas barragens. Os iates e o turismo dos nossos dias. A jornada termina com uma visita ao Centro Histórico de Vila Real de Santo António, guiada por José Eduardo Horta Correia, historiador de Arte e autor da tese de doutoramento “Vila Real de Santo António, Urbanismo e Poder na Política Pombalina”.
Baixo Guadiana Quinhentista A última sessão está agendada para 16 de maio e começará com o tema “A Expansão para o Norte de África e o Baixo Guadiana Quinhentista”, a cargo de Fernando Pessanha, licenciado em Património Cultural e mestre em História do Algarve. Desde os inícios da expansão portuguesa para o norte de África que o Baixo Guadiana e as suas gentes beneficiaram com a política da Coroa portuguesa face a Marrocos. Era do Algarve Daquém que partia parte significativa dos recursos humanos destinados a ocupar os postos de defesa e de administração nas praças norte africanas. É nesse contexto que surge no Baixo Guadiana uma nobreza responsável pelo socorro às praças lusas do Norte de África e pelo combate ao corso e à pirataria magrebina: a nobreza que acumulou honras e títulos no Algarve Daquém, em virtude dos serviços prestados no Algarve Dalém.
Os arquivos históricos e a investigação Logo a seguir, Andreia Fidalgo, licenciada em Património Cultural e mestre em História do Algarve, falará sobre “O Papel dos Arquivos Históricos no Âmbito da Investigação Historiográfica”. O que seria da investigação historiográfica sem a existência dos arquivos históricos que perseverantemente têm contribuído para a salvaguarda das fontes que permitem a reconstrução e interpretação do passado? Certamente, uma tarefa muito mais árdua. Os arquivos históricos nacionais e municipais têm-se progressivamente assumido como equipamentos indisJORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - JANEIRO/2014
pensáveis para a classificação, preservação e valorização do documento escrito. Cumprindo diligentemente as suas funções, os arquivos históricos têm, acima de tudo, a nobre tarefa de preservar a memória coletiva, permitindo o acesso público e, consequentemente, contribuindo de forma fundamental para o desenvolvimento da investigação historiográfica.
Arquivo Histórico de VRSA Finalmente, a arquivista Madalena Guerreiro abordará o tema “O Arquivo Municipal de Vila Real de Santo António. Dez anos a Preservar a História”. O arquivo sempre existiu na Câmara Municipal de Vila Real de Santo António. Teve, contudo, características diferentes e localizações variadas e múltiplas, nem sempre pautadas pela necessidade de conservação e salvaguarda dos suportes da informação. A especificidade deste serviço transversal aos restantes, a sua missão e os seus objetivos tem implícita a preservação da memória das pessoas, das instituições e das localidades. A iniciativa termina com uma visita que inclui Forte de São Sebastião, Castelo de Castro Marim e Bateria do Registo, guiada por Pedro Pires. As Jornadas de História do Baixo Guadiana são organizadas pelo Arquivo Municipal de Vila Real de Santo António e estão inseridas na programação da Eurocidade do Guadiana, projeto que envolve os municípios fronteiriços de Vila Real de Santo António, Castro Marim e Ayamonte e tem como missão a partilha de equipamentos e a realização de eventos comuns em ambos os lados da fronteira.
5 Zonas húmidas, paraísos naturais Dia Mundial das Zonas Húmidas comemora-se este domingo. No Algarve existem quatro destes espaços naturais incluídos na lista da Convenção de Ramsar. Ria Formosa (desde 1981), Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, Ria de Alvor (ambos desde 1996) e, mais recentemente, desde 2012, a Ribeira do Vascão
Agostinho Gomes
Agostinho Gomes
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o próximo domingo, dia 2 de fevereiro, celebra-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, instituído para comemorar a data da adoção da Convenção das Zonas Húmidas, assinada em Ramsar (no Irão) em 1971, com o objetivo de promover a cooperação internacional e incentivar as ações nacionais no sentido de sensibilizar para uma gestão racional e sustentável daqueles espaços naturais. A Convenção de Ramsar foi o primeiro tratado global sobre conservação da natureza, tendo entrado em vigor quatro anos depois (em 1975). No entanto, a data só começaria a ser celebrada a partir de 1997. Desde então, e anualmente, entidades oficiais, organizações não governamentais e grupos de cidadãos aproveitam para realizar ações com o objetivo de sensibilizar a população para a importância das zonas húmidas e da própria Convenção de Ramsar. Hoje, praticamente todos os países que possuem zonas húmidas já assinaram o tratado, comprometendo-se a proteger aqueles espaços. Existem atualmente 2.171 zonas húmidas (sítios Ramsar) em todo o mundo, que totalizam uma superfície de mais de 207 milhões de hectares. Em Portugal, apesar da existência de inúmeras zonas húmidas protegidas noutros âmbitos, apenas 31 estão classificadas como sítios Ramsar, totalizando 132.487 hectares. Destas, quatro estão localizadas no Algarve: Ria Formosa, Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, Ria de Alvor e Ribeira do Vascão. De acordo com a Convenção de Ramsar, zonas húmidas são "zonas de pântano, charco, turfeira ou água, natural ou artificial, permanente ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo águas marinhas cuja profundidade na maré baixa não exceda os seis metros". Refira-se que estes “sítios” são reconhecidos a partir de critérios de representatividade do ecossistema, de valores faunísticos e florísticos e da sua importância para a conservação de aves aquáticas e peixes. O nosso país assinou o tratado em 1980, comprometendo-se a indicar zonas húmidas para serem incluídas na denominada Lista de Zonas Húmidas de Importância Internacional. Paralelamente, comprometeu-se a promover a conservação de zonas húmidas e de aves aquáticas, estabelecendo reservas naturais, e a providenciar a sua proteção apropriada. A Ria Formosa (no Algarve) e o Estuário do Tejo foram as duas primeiras zonas húmidas portuguesas a ser incluídas na lista de Sítios Ramsar, a 24 de março de 1981. Em 1996, durante a sexta Conferência de Partes Contratantes (COP), realizada na cidade australiana de Brisbane, são designados mais oito sítios Ramsar do nosso país, entre os quais a Ria de Alvor
e o Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António. Portugal viu o número de sítios Ramsar ser aumentado com a inclusão de outras zonas húmidas localizadas no Norte e Centro (2001
e 2005), bem como na Região Autónoma dos Açores (2008). Em 2012 são designadas para fazer parte daquela lista mais três zona húmidas do nosso país, entre as quais a Ribeira do Vascão.
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Com a inclusão desta última, o Algarve passou a ter quatro zonas húmidas de interesse internacional inseridas no âmbito da Convenção de Ramsar, as quais totalizam mais de 64 mil hectares. Depois de temas como “Zonas Húmidas e Turismo” (2012) e “Zonas Húmidas e Gestão da Água” (2013), para este ano foi instituído a nível mundial que as ações de sensibilização e as comemorações estejam focadas no tema “Zonas Húmidas e Agricultura”. A escolha teve a ver com o facto de as zonas zonas húmidas estarem muito ligadas à agricultura, mas também porque 2014 é o Ano Internacional da Agricultura Familiar. Um dos objetivos é contribuir para que as zonas húmidas e o setor agrícola trabalhem juntos, para atingir os melhores resultados, comuns às duas partes. “As zonas húmidas são, muitas vezes, consideradas como um obstáculo à agricultura e continuam a ser drenadas e recuperadas para se transformarem em terrenos agrícolas. No entanto, cada vez se compreende mais o papel fundamental que as zonas húmidas desempenham no apoio à agricultura. Há, inclusivamente, práticas agrícolas de sucesso que contribuem para a manutenção de zonas húmidas saudáveis”, lê-se no sítio oficial da Convenção de Ramsar na internet. Domingos Viegas
6 Ria Formosa
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Parque Natural da Ria Formosa (16 mil hectares) foi inicialmente classificado como reserva natural a 2 de maio de 1978. Com efeito, a zona lagunar do Sotavento algarvio apresenta um óbvio valor ecológico e científico, económico e social e está sujeita, desde há muito, a pressões da mais variada ordem ou não fosse o Algarve o mais importante destino turístico em Portugal. O Decreto-Lei nº 373/87, de 9 de dezembro, criou o Parque Natural da Ria Formosa traçando-lhe como objetivos primeiros a proteção e a conservação do sistema lagunar, nomeadamente da sua flora e fauna, incluindo as espécies migratórias, e respetivos habitats. Devido à necessidade de compatibilizar a proteção do património natural e cultural e um desenvolvimento socioeconómico sustentado, foram também contemplados objetivos relacionados com o apoio a atividades económicas tradicionais e a outras, desde que compatíveis com a utilização racional dos recursos. Foi ainda contemplada a promoção de atividades de recreio, lazer e turismo, tendo em conta as particularidades da área protegida e
a sua capacidade de carga; e ainda, não menos importante, a implementação de infra-estruturas vocacionadas para a educação ambiental, de forma a sensibilizar a população residente e os visitantes para a necessidade de preservar os valores naturais e culturais e de que o Centro de Educação Ambiental de Marim é um exemplo. O Parque Natural da Ria Formosa caracteriza-se pela presença de um cordão dunar arenoso litoral (praias e dunas) que protege uma zona lagunar. Uma parte do sistema lagunar encontra-se permanentemente submersa, enquanto uma percentagem significativa emerge durante a baixa-mar. A profundidade média da laguna é de 2 metros. Este sistema lagunar de grandes dimensões, que se estende desde o Ancão até à Manta Rota, inclui uma grande variedade de habitats, nomeadamente ilhas-barreira, sapais, bancos de areia e de vasa, dunas, salinas, lagoas de água doce e salobra, cursos de água, áreas agrícolas e matas, situação que, desde logo, indicia uma evidente diversidade florística e faunística.
O que é uma Zona Húmida? Uma Zona Húmida é uma área de sapal, paul, turfeira ou água, natural ou artificial, permanente ou temporária, com água parada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo águas marinhas até seis metros de profundidade na maré baixa, bem como zonas costeiras e ribeirinhas. As zonas húmidas recebem água da chuva, de reservatórios naturais subterrâneos e de outras zonas húmidas como rios e ribeiras. Mas também perdem água para estes.
Porque são tão importantes? - Controlam as inundações e a erosão, porque retêm e absorvem a água de grandes chuvadas e a vegetação reduz a velocidade da corrente. - Purificam a água, ao reterem substâncias poluentes, que acabam por se transformar, tornando-se inofensivas. - Alimentam reservatórios naturais subterrâneos de água doce, que o homem utiliza para diversos fins. - Abrigam e alimentam aves, migradoras e outras espécies, em particular durante a reprodução, sendo fundamentais para a sua conservação. - Contrariam o efeito de estufa, uma vez que a vegetação retém o dióxido de carbono que, em excesso no ar, impede as radiações solares de se libertarem para o espaço. - Protegem a costa contra tempestades, porque a vegetação reduz a acção do vento, das ondas e das correntes.
Porque estão ameaçadas? Apesar da sua importância ecológica, estética e cultural, as zonas húmidas foram consideradas, durante muito tempo, áreas marginais que deveriam ser transformadas em terra seca. Algumas actividades recreativas, construção desordenada de casas, alteração profunda dos cursos dos rios (por extracção de água, construção de canais e barragens), remoção da vegetação das margens, poluição e certas actividades agrícolas ameaçam actualmente as zonas húmidas pelo mundo. Por estas razões, metade da área que era ocupada por zonas húmidas desapareceu durante o século XX.
Ribeira do Vascão
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Ribeira do Vascão (44.331 hectares) é o maior curso de água de Portugal sem interrupções artificiais (represas ou reservatórios). Situada entre o Algarve e o Alentejo, suporta altas concentrações de espécies ameaçadas de peixes de água doce como o saramugo (Anaecypris hispanica), a enguiaeuropeia (Anguilla anguilla) e a lampreia-marinha (Petromyzon marinus). A zona húmida classificada assume relevância na regulação de inundações da Ribeira do Vascão e a sua vegetação ripícula contribui para a infiltração de água subterrânea e estabilização de diferentes processos hidrológicos. Devido à a representatividade das espécies piscícolas da Bacia do Guadiana na Ribeira do Vascão, a classificação enquanto Sitio Ramsar foi prevista no Plano de Gestão do Parque Natural do Vale do Guadiana, tendo em
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vista a conservação e valorização da fauna, flora e habitats naturais e seminaturais da área. São apontados como objetivos específicos recuperar as populações de Alosa alosa, aumentar as de Alosa fallax e Petromyzon marinus, bem como manter as populações das outras espécies aquáticas dos Anexos II e IV da Diretiva Habitats. Para além do Vascão, as ribeiras do Chança, de Odeleite e da Foupana também apresentam as espécies presentes da Bacia do Guadiana. A ribeira do Vascão é, contudo, a única que não tem uma barragem ou outras fontes de ameaça, como minas abandonadas a verter águas ácidas para a linha de água. Para além disso, as comunidades piscícolas na Ribeira do Vascão estão distribuídas de modo mais uniforme ao longo da ribeira e com densidades razoáveis.
7 Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António
Agostinho Gomes
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Guadiana). O Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António é reconhecido pela sua importân-
cia para a reprodução de várias espécies de peixes – funciona como um viveiro natural – e como local de passagem, invernada e nidi-
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A Rocha/Will Simonson
Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António (2.235 hectares) foi a primeira reserva natural a ser criada em Portugal continental, tendo obtido aquele estatuto de proteção na sequência do decreto publicado a 27 de março de 1975. As razões que estiveram na origem da criação desta reserva prendem-se com o interesse biológico da zona, nos seus múltiplos aspetos ecológico, botânico, ornitológico (i.e. de aves) e ictiológico (i.e. de peixes), o valor arqueológico do aglomerado urbano de Castro Marim (onde persistem vestígios de ocupação préhistórica, fenícia, romana, árabe e cristã). Outros motivos foram a alta sensibilidade da área e a sua capacidade influenciadora de fatores económicos regionais, designadamente da pesca, da salinicultura e do turismo. Na área da reserva encontram-se registadas 462 espécies de plantas, das quais se destacam, pelo seu estatuto de conservação, as espécies Picris algarbiensis (endemismo lusitânico considerado “vulnerável”), Limonium diffusum (espécie “ameaçada”) e Beta macrocarpa (espécie também “vulnerável”). Na Diretiva Habitats estão incluídas três espécies que ocorrem naquela área: Melilotus fallax, no anexo II, o briófito Riella helicophylla, também no anexo II (Castro Marim é a única localidade conhecida em Portugal onde ocorre) e Picris willkommii, no anexo IV (endemismo ibérico presente apenas nas colinas junto à foz do
ficação de numerosas espécies de aves, sendo uma das áreas de maior interesse ornitológico (i.e. para as aves) do nosso país.
Ria de Alvor
Ria de Alvor (1.454 hectares) é o mais importante complexo estuarino do barlavento algarvio e resulta da confluência da ribeira de Odiáxere e do rio Alvor (alimentado pelas ribeiras do Farelo e da Torre), provenientes da encosta sul da Serra de Monchique. Está confinada entre as freguesias de Odiáxere (Lagos) e Alvor (Portimão). É constituída por um estuário, sapais, dunas, salinas e pelas penínsulas da Quinta da Rocha e da Abicada. Possui habitats mistos de vegetação ripícula, bem como pequenas áreas de pinhal e semi-agrícolas. O vasto complexo da Ria de Alvor, que é protegido da ação do oceano por um importante cordão dunar onde se destacam as dunas cinzentas com matos camefíticos (Crucianella maritima), constitui um espaço propício ao crescimento de peixe jovem e respetivas larvas, de crustáceos e de moluscos. O sítio alberga numerosos habitats de salgados, incluíndo bancos de areia permanentemente submersos e lodaçais ou areais com pradarias, outrora bastante mais extensas, de Zostera noltii (espéciechave para o ecossistema aquático). Destaque ainda para as formações típicas de sapal, como os juncais, as comunidades de Sarcocornietea fruticosae, os matos halonitróficos da Pegano-Salsoletea e a vegetação vivaz e anual de sapais secos e salinas, áreas onde frequentemente se verifica uma forte ascensão de sais por capilaridade. A Ria de Alvor alberga uma ampla variedade de espécies prioritárias ou de grande interesse para a conservação, entre as quais lontra, morcego de ferradura grande, cágado mediterrânico, tartaruga marinha comum, sapo corredor, rela meridional, cobra de ferradura, camaleão, tartaruga de couro, lebre, borrelho de coleira interrompida e rá de focinho pontiagudo, entre outras.
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8 O centenário - 1914-2014
Maria Campina "N
aquela segunda-feira, 27 de Fevereiro de 1984, a cidade de Faro foi amanhecida por um dia frio e de neblina cinzenta. O ano bissexto arrasta sempre coisa ruim, comenta um popular. Mas não era chuva que caía. Dir-se-ia uma poeira molhada, fazendo lembrar, àqueles que conhecem a Europa central, o ar gélido de Salzburg ou Genéve. Faro era, nesse dia, assim como uma cidade estranha para os hábitos climatéricos suaves. A cidade estava triste nesse dia. Rua de Santo António. Por essa artéria citadina percorre a vida da cidade. Ela é a encruzilhada do comércio e da vida social. As pessoas passam e agrupam-se, e comentam, em frases de silêncio. E o vendedor ambulante de castanhas, que fumegam em vapores que o peso da humidade atmosférica não deixa subir, comenta aos transeuntes: - “Morreu a Pianista, disse, agora mesmo, a telefonia”. E de transistor em punho, ia informando. Era isso. Esse o motivo do recolhimento das pessoas. Da tristeza que corria e se transmitia pela cidade: “Você sabe quem morreu, foi Maria Campina”. Que essa figura feminina era imensa: era local e regional, nacional e internacional, para além do seu valor artístico e de pedagoga. Por isso não era estranho que a morte dessa Senhora da Música surpreendesse as pessoas e que manifestassem um sentimento, numa frase de pesar. 28 de Fevereiro/1998. Princípio da tarde. Um dia atmosférico desigual ao anterior. As nuvens corriam brancas e leves, como anjos que se soltassem da fachada do pequeno templo da Senhora do Pé da Cruz. A ermida, Santuário Mariano, ornada de pintura na “Criação do Mundo”, foi pequena, nesse princípio de tarde, para nela acolher a homenagem popular dos seus alunos e das forças do poder, no último preito, àquela que alguém considerou uma Glória Nacional. As viaturas incorporam-se no cortejo funerário para a terra natal da grande artista que foi a primeira (e única portuguesa) vencedora do internacional Prémio Mozart, em 1949. As viaturas dos acompanhantes estavam em posições hierárquicas, em que seguiam: Deputados e representantes do Governo, gente partidária e da riqueza local, gente anónima que era o mais, àquela que fora condecorada pelo Presidente da República, Ramalho Eanes. Faro vê passar o cortejo fúnebre. Os carros rolam a caminho de Loulé, a última viagem de Maria. O nome de Campina já era uma saudade que corria para a história a sessenta quilómetros /hora. As viaturas ganham velocidade. O caminho para Loulé está feito. Esteval.: vê-se a serpente dos carros que logo desaparecem pela irregularidade do traçado que as lombas provocam. Valados: um grupo de populares acena de mãos e lenços, e uma criança, em corrida, acompanha, durante alguns metros, o cortejo com pressa de chegar. Maria Campina, sem filhos, amou as crianças ,os filhos das outras mulheres, a eles se dedicou, lhes dedicou uma vida. Mulher! Mulher! Goldra: as amendoeiras floridas vão deixando cair pétalas sobre os valados, à beira dos caminhos, por onde Maria vai passando, a caminho da sua vila, a sua casa. As flores rosa e branca que caiem e que a aragem deixa cair sobre a sua viatura, como a dos vivos, são o melhor bouquet que Maria Campina, a artista recebeu pelo mundo dos seus concertos. Ali era a sua amendoeira em flor, o símbolo do seu Algarve, da terra dela. O barrocal vai dando vista à serra. No interior do carro em que seguimos o cortejo fúnebre, as conversas são diversas e vulgares, para quem vem por vir. Um Deputado representando o Governo de Aníbal saiu-se na baixa política; O que nos faz falta no País é uma mulher como Thatcher! Não! Interrompemos. O que nos faltam são mulheres como Maria Campina! Fez-se um longo silêncio ao cemitério. Poderíamos considerar este acto um término, o princípio que se transforma no nada, mas isso só é a aventura da criação que se interrompe, deixando um breve vazio para depois se tornar numa tensão apaixonada. As imagens saídas, já da recordação, que vem de longe e de mais perto... E como não acompanhar Maria Campina, aquele corpo frágil, aquelas mão que levaram o mundo a aplaudi-la... Retomemos o início. Vamos juntar à palavra
criação, a palavra rigor. Parecerá à primeira vista estranho que se aplique a palavra rigor ou exactidão à imaginária transfiguração do real que o escritor (biógrafo, no caso) descobre, no momento da formação verbal, a personalidade que se perde para se reconstruir na memória do tempo E recuemos, assim, ao início, ao écran cronológico do essencial humano e cósmico, na sua especificação e no processo permanente de humanização dessa complexa criatura que foi Maria Campina”. Excerto do livro- 110 páginas: “O Último Concerto de Maria Campina”- Edição 1988 T.N.
*** *** Entremos na continuidade, mais sintética, no conhecimento artístico e de pedagogia da ilustre Louletana, na comemoração do seu Centenário. Maria Campina, muito jovem, decide ser pianista. Entra no Conservatório Nacional de Lisboa, depois dos primeiros estudos na sua terra. Na escola superior de música tem professores de renome nacional, desde Aroldo Silva a Luís de Freitas Branco, entre outros. Findo o curso, em 1933, recebe os maiores prémios nacionais de música: Rodrigo da Fonseca, Beethoveen; Rey Colaço e o Primeiro Prémio do Conservatório Nacional. Cá só inédito num aluno da escola nacional de Música. Dá o seu primeiro concerto, em 1933, na Casa do Algarve, em Lisboa. Mas por razões de ordem de “independência política”, a jovem laureada esteve impedida de entrar no ensino na escola em que se formou. Entretanto, encontra trabalho numa escola privada: Escola das Doroteias. Vem dar concerto na sua Loulé, que encanta os escribas da imprensa regional, entre eles o notável estudioso e insuspeito musicólogo, Dr. Francisco Fernandes Lopes. Lisboa, o país, enchem-se de concertos da notável pianista portuguesa. Basta consultar a imprensa regional, nacional e estrangeira (austríaca, alemã, espanhola, etc) dos anos que se seguem. Até que professora rejeitada e magoada, deixe Lisboa e se “refugie”, em 1945, no Funchal, onde passa a ensinar e dar concertos. É num desses concertos que o importante maestro alemão, Reynard Wolf, o maestro da Filarmónica de Berlim, convida Campina para participar no célebre Festival de Salzburg, em 1949 . A portuguesa ganha por unanimidade o, considerado maior Festival do mundo da música. A imprensa austríaca escreve que A portuguesa Maria Campina pôs Salzburg a seus pés. Vitoriosa, na noite de 26 de Agosto de 1949, entra no célebre Felsenreits de Salzburg para tocar a “Fantasia Húngara” de Liszt, com a orquestra da Baviera, dirigida pelo maestro norte-americano Ermeson Kailley. Maria Campina é convidada a dar concertos por toda a Europa. Com passaporte austríaco vai tocar a Moscovo e outras cidades russas. Regressa a Portugal. Recebe convite do governo de Salazar para ensinar no Conservatório Nacional. Recusa o convite. Parte para o continente africano. A convite do governador de Moçambique é homenageada no palácio do governo de Lourenço Marques. Aí encontra uma senhora de cor, servindo os convidados. Depois de anos passados reconhecem-se. Campina abraça e beija a Esmeralda que estivera ao serviço nas Doroteias. A pianista é advertida, pela sua acção, ouvindo a repreenda do governador: Aqui não se cumprimentam pessoas negras . Maria Campina responde num ápice: Negra? Não reparei! A 19 de Julho de 1956 a pianista de reconhecimento internacional dá um concerto acompanhada pela Orquestra Sinfónica Nacional, dirigida pelo maestro Pedro de Freitas Branco, e transmitida directamente pela Emissora Nacional. Ainda nesse ano, a convite da rainha Isabel II para colaborar no The Britist Council, no Tivoli de Lisboa, acompanhada pela orquestra de França, dirigida pelo maestro Daniel Stirn. Depois, convidada pela Fundação Gulbenkian, vai actuar em Baghdad, para uma série de concertos no Médio-Oriente, Maria Campina retira-se, por motivos de saúde, do mundo artístico. Outro ciclo se inicia: a criação do seu sonho: um Conservatório no Algarve, depois de cerca de século e meio da criação do primeiro, em Lisboa, por Almeida Garrett, então inspector-geral do teatro e fundador do Teatro nacional D. Maria II. Campina foi uma pioneira no alcançar uma Escola de Música JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - JANEIRO/2014
Ilustração de José Maria Oliveira - especial para o Jornal do Algarve
para o Algarve. É de estudar os seus escritos na imprensa e revistas, as emoções com que essa Algarvia se exercitava para que o governo de Salazar autorizasse a desejada escola. Nunca o ditador o permitiu. Quando Campina, juntamente com António Quadros, figura cultural do seu tempo, afecto ao Estado Novo, autor de O Movimento do Homem, produzem um colóquio sobre o ensino da música em todo o país. Logo o ditador, nesse espírito do estado novo, não admite diatribes culturais. Quadros, esse dirigente e figura cultural inteligente que pretendia, numa visão europeia e moderna, associar-se ao espírito da Mulher Artista, nesse sentido culto e europeu, viu-se impedido em continuar o conceito da música nas escolas. Só com o governo de Marcelo Caetano lhe é permitido, à pedagoga, avançar no seu projecto de uma escola de música para todos. Mas não. Veiga Simão o ministro da tutela entregou-lhe um Alvará para uma escola privada, sem apoio logístico. É, então, que o proprietário do Teatro Lethes, Engenheiro Sande Lemos lhe autoriza um espaço nessa célebre casa da cultura farense. Assim iniciando, em Outubro de 1972, a abertura do almejado Conservatório do Algarve. Em 1972 o casal (Maria Campina/Pedro Ruivo) vem instalar-se em Faro. Derradeira residência. A Pianista tem 58 anos. Entre ela, ou a desistência ficcionista Kafkiana, não há desmotivação. Mesmo fazendo-se já tarde, com uma artrite reumatóide aguda, avança. Ainda tem tempo para criar os alicerces do seu sonho de pedagoga. Ainda, a 12 de Fevereiro de 1979 recebe das mãos dos políticos, ministro da Educação, Valente de Oliveira, representando o Presidente da República, general Ramalho Eanes e do Governador Civil de Faro, Filipe de Almeida Carrapato, o Grau de Comendadora da Ordem de Instrução Pública. Foi o laurear justo à cidadã portuguesa do século XX que entra no podium das grandes figuras femininas algarvias, com Maria Velada, farense (18711955), importante Mulher da República e da emancipação feminina do seu tempo; assim como a cientista Laura Ayres, louletana (1922-1991), catedrática, cientista e responsável pelo Laboratório de Virologia-investigação contra a SIDA. A 17 de Novembro de 1978, Maria Campina concede-me uma longa entrevista a publicar no Jornal do Algarve, estávamos em tempo de plena liberdade. Retiramos: Foram 40 anos de persistência para obter a saída, no Diário do Governo, a criação do Conservatório do Algarve. Só em 1972 é que a desejada escola abriu. Tanta promessa, tanto esforço, tanto tempo perdido. Em 2007, com o apoio do Ministério da Cultura, veio o teatro, a peça: Campina = APPASSIONATA, representada pelo Algarve: Messines, Casa Museu João de Deus; em Loulé, Centro Cultural; Faro, Teatro Lethes. 2014. O centenário de uma invulgar figura da cultura portuguesa e europeia. A não esquecer. Teodomiro Neto
João Lima
Museu dos Frutos Secos reabre sábado em Loulé
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Espaço volta a promover atividades em vias de extinção
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próximo sábado, 1 de fevereiro, dia em que se assinala a elevação de Loulé a cidade, a câmara municipal reabre ao público o Pólo Museológico dos Frutos Secos, colocando à disposição dos visitantes mais um equipamento cultural que favorece a descoberta e o conhecimento de uma realidade que está em vias de extinção no concelho. Integrado na Rede Museológica do Concelho de Loulé, este espaço é o testemunho de uma atividade que desempenhou um importante papel social, económico, tecnológico e cultural, sobretudo na freguesia rural de S. Sebastião: o cultivo e a transformação de frutos secos. A pequena unidade fabril de produção e comercialização de frutos secos, desativada nos anos 90 do século XX, foi adaptada pelo Município de Loulé para fins museológicos e teve a sua inauguração oficial em dezembro de 1998. No espaço museológico encontra-se uma máquina de partir amêndoa e outra de triturar alfarroba que, juntamente com outros objetos e materiais, possibilita aos visitantes o contacto direto com os processos tradicionais e uma
Loulé acolhe exposição de José Pedro Machado A Biblioteca Municipal de Loulé vai receber, a partir do próximo sábado e até 01 de março, uma exposição bibliográfica de homenagem a José Pedro Machado. Esta exposição pretende assinalar o centésimo aniversário do nascimento, na cidade de Faro, do filólogo, bibliógrafo, arabista e historiador José Pedro Machado (1914-2005), que atingiu notabilidade internacional pelos estudos desenvolvidos ao longo da vida. Integrou a comissão encarregada da organização do Vocabulário da Academia de Ciências de Lisboa. Recebeu a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura, a medalha de ouro do município de Faro e, em 1996, foi distinguido pela Academia Portuguesa de História pelo seu mérito cultural e científico, recebendo o cargo de Grande Oficial da Ordem de Instrução Pública. O seu nome encontra-se presente nas toponímias de Faro, de Lisboa e de Loulé. A inauguração da exposição decorrerá este sábado às 15h00, com visita orientada por Luís Guerreiro. Esta exposição é visitável no horário de abertura ao público da biblioteca e a entrada é livre.
ROSA
COLUNA POÉTICA LUSO-BRASILEIRA
Ir sabendo
melhor compreensão e conhecimento desta atividade socioeconómica. Este Polo Museológico insere-se numa estratégia de valorização do património cultural
concelhio e do saber fazer da região seguida pela autarquia louletana. Poderão ser realizadas visitas ao espaço de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 17h00.
As Coisas que é preciso dizer 12. os processos de deriva já nem procuras a luz dos faróis que separam as enseadas e as escarpas íngremes como se aceitasses o princípio de que o José Carlos Barros futuro depende dos processos de deriva litoral como se nada valesse a pena como se tudo fosse o resultado da vontade dos outros até que alguém te dirá «talvez não seja tarde» mas já não sabes os segredos de puxar as estrelas cadentes com fios de ráfia mas já não sabes respirar debaixo de água nos açudes das penínsulas mas já não sabes tirar o pão do forno enquanto as pedras estão incandescentes mas já não sabes em outubro adormecer nas avenidas à espera da primeira e única folha dilacerada do ácer mas já não olhas os desenhos das encostas de caducifólias a procurar estabelecer o roteiro das perguntas difíceis preferes desistir secaram nos jardins os caules dos gerânios desapareceram no horizonte o anil e a púrpura da luz tão vagarosamente a evaporar-se as crianças correm em desequilíbrio nos muros estreitos dos loteamentos os velhos sobem às açoteias e olham para o lado de dentro da idade à procura de respostas e é tarde já nem procuras o passado não existe
JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - JANEIRO/2014
Teu endereço, qual é? O meu é entre o fim e o começo É onde deixo morar o meu pé (Silêncio) Então não sabes onde vives? (Silêncio) Estão usando a mangueira do meu quintal… achas normal? Regando as plantas que sofrem com as minhas viagens Belos vizinhos! E não queres parar? Quero mas sempre provisoriamente Eu não tenho essa certeza Mas sinto em mim o que deveras sente Certezas são mentiras ou vontades inalcansáveis Desde que vá sabendo cada passo e que os vá dando Fico feliz! (posso tirar isso? acho o gerúndio muito perigoso…) Desde que saiba cada passo e os dê… Ir sabendo é ao longo do tempo… Em resumo, é saber... a não ser que você leve ao pé da letra… O que sabes tu afinal? Por favor, não me faça plagiar Sócrates a esta altura do campeonato Estamos em pleno 2014 Susana Travassos Brisa Marques
A coluna Rosa nasceu no dia em que o poeta português algarvio António Ramos Rosa faleceu. É um compromisso de duas artistas (Susana Travassos e Brisa Marques)
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Artista silvense Maria Keil homenageada pelos CTT A
Mísia apresenta 'Delikatessen Café Concerto' no Teatro Lethes
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fadista Mísia apresenta o seu mais recente álbum, “Delikatessen Café Concerto”, no próximo sábado, dia 1 de fevereiro, no Teatro Lethes, em Faro. O álbum inclui apenas um tema inédito, “Rasto do Infinito”, de Tiago Torres da Silva e Miguel Ramos, e várias canções, em espanhol, francês e português.“A carreira de Mísia, que em 2012 foi galardoada com o Prémio Amália Rodrigues na categoria “Divulgação Internacional”, marca a contemporaneidade do fado, sendo uma das responsáveis pela revolução no meio do fado, não só através de textos de poetas contemporâneos, que escreveram especialmente para a sua voz (José Saramago, Agustina BessaLuís, Lídia Jorge, Vasco Graça Moura, Hélia Correia, etc.) mas também por criar uma sonoridade própria, ao trazer para o fado instrumentos como o violino, acordeão e o piano. “A ideia e a vontade do repertório 'Delikatessen Café Concerto' funciona como uma refeição mágica onde podemos encontrar (saborear) as canções que eu adoro, originárias de diferentes culturas, épocas ou géneros, mas que proporcionam sensações de uma essencialidade e de um gosto musical muito forte”, refere a fadista. O espetáculo tem início marcado para as 21h30 e o preço dos bilhetes é de 10 euros.
Noite de fado amador no aniversário da Nuclegarve A Nuclegarve (Associação do Núcleo de Motoristas Terras do Algarve), IPSS do concelho de Albufeira, irá começar em grande o novo ano, pois festeja o seu 11º aniversário no próximo dia 1 de fevereiro, a partir das 20h00, no pavilhão da Nuclegarve, em Fontainhas. A Nuclegarve irá proporcionar uma noite bem diferente, onde contará com uma Grande Noite de Fado Amador, com a presença de vários fadistas de todo o país. Poderá contar também com vários petiscos, caldo verde e chouriço de porco preto assado. O evento tem como grande fim a angariação de fundos para conseguir chegar ao grande objetivo da associação: a construção de uma infraestrutura que integra lar de idosos, creche, centro de dia e apoio domiciliário à população. Este é um projeto, já denominado de Aldeia da Solidariedade, que a associação pretende concretizar o mais rapidamente possível, promovendo para isso diversos eventos onde as receitas revertem a favor da sua construção.
artista silvense Maria Keil será uma das personalidades homenageadas pelos CTT Correios de Portugal na série “Vultos da História e da Cultura Nacionais”, do Plano Filatélico de 2014. A memória desta grande pintora que marcou o panorama das artes portuguesas nos séculos XX/XXI, falecida a 10 de junho de 2012, será, assim, perpetuada através da correspondência postal que irá circular um pouco por todo o mundo. A emissão deste selo foi sugerida pelo município de Silves aos CTT que anualmente renovam o seu plano filatélico e que, para além da sua emissão-base, emitem séries com temáticas especiais, que pretendem dar a conhecer a história do nosso país, as personagens que mais se destacaram na cultura, política, desporto ou na ciência e eventos nacionais e internacionais de grande relevo. Natural da cidade de Silves, Maria Keil deixou uma obra vasta e multifacetada, da pintura à publicidade, passando por decoração de interiores, cartões para tapeçarias, pinturas murais a fresco, cenários e figurinos para bailados, selos, azulejos e ilustração. A renovação da estação do Metropolitano de S. Sebastião da Pedreira, em Lisboa, foi um dos últimos trabalhos que executou. A sua memória permanecerá igualmente viva na biblioteca municipal de Silves, onde desde o dia 3 de setembro de 2009 está exposto, na sala que tem o seu nome, um autorretrato seu (pintado em 1941), bem como um fac-simile da carta que escreveu e que descreve as razões pelas quais ofereceu esta obra ao município.
O autorretrato de Maria Keil, pintado em 1941, está exposto na biblioteca municipal de Silves desde 2009
Fotografia:
"Pequenas e Grandes Maravilhas da Natureza" para ver em Alte
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Polo Museológico Cândido Guerreiro e Condes de Alte recebe até ao próximo dia 28 de fevereiro a exposição de fotografia “Pequenas e Grandes Maravilhas da Natureza”, de Alexis Morgan, que está a percorrer diversas localidades do concelho de Loulé. Esta mostra fotográfica retrata algumas espécies botânicas e borboletas que se encontram na região. A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h00 às 18h00. A entrada é livre. Alexis Mark Serra Guerreiro Morgan nasceu em Londres, Inglaterra, em 1974. Estudou na Escola Profissional de Gestão e Tecnologias Marítimas, onde tirou o Curso Profissional de Gestão de Ambiente e Recursos Naturais. Atualmente exerce a profissão de técnico de Ambiente na Câmara Municipal de Loulé e trabalha nas paisagens protegida locais da Rocha da Pena e Fonte Benémola, desde 1996. Foi a partir deste ano que ganhou curiosidade pelas plantas que depois se transformou numa paixão, uma paixão que conseguiu reproduzir em fo-
tografia que tal como os seus conhecimentos botânicos foi aperfeiçoando com a passagem dos anos. Alexis Morgan já escreveu artigos sobre botânica na revista Sinal Verde e na
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Madresilva, da Associação de Ambiente Almargem. Participou na elaboração da guia dos “Percurso Pedestres e de BTT no Concelho de Loulé” e no guia “Observar Aves no Concelho de Loulé”.
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Música I Cinema Fernando Proença
LITERATURA INCLUSA Número de Janeiro 2014 1 – Às vezes, muitas vezes, ao voltar a ver um dos filmes que passam nos canais especializados na TV cabo dou pelo passar dos tempos. Não será nas fitas dos anos quarenta ou cinquenta. Ainda não tinha nascido mas observá-los com atenção trazme a ideia de como se vivia. E no como se vivia entra quase tudo, o que se vestia, quem e onde se fumava (praticamente em todo o lado). Mais se ficava a saber que um telefone servia para telefonar, além de que os jogadores de futebol não se atiravam para o chão profissionalmente, quero dizer com exercícios de treino, criados para o efeito. E que as gravatas eram finas. Mas já me lembro dos anos setenta (mal e porcamente) e oitenta, perfeitamente e sem dúvida nenhuma: cabelos de mulher em escadaria, os de homem dentro das mesmas balizas ideológicas/sociológicas/cabeleireirológicas. E os blusões, casacos, blazer, camisas e em geral tudo o que se vestia? Pois digo-vos que tudo era enchumaçado de tal modo que faziam - os ombros - uma superfície começada na ponta exterior e superior do braço que seguia seguindo, até acabar no pescoço, formando uma superfície plana onde, com a maior das facilidades e sem ajudas externas era capaz de aterrar um Boeing 747, vulgo Jumbo. Eu próprio recuperei do fundo de um guarda – fatos, um blusão que entre a pele que serviu para tapar as ombreiras, se podia fazer um outro igual e ainda sobrava para as algibeiras. 2 – Já escrevi antes: de um modo geral mas de uma forma inequívoca, em Olhão as casas antigas bem recuperadas em zonas ditas históricas, foram e são-no por
estrangeiros. Digo de Olhão por que é a realidade que conheço melhor. Mas não tenho problemas em afirmar que no antigo reino do Algarve poucas reabilitações escapam a este anátema - na questão de ser o indigenato incapaz de grandes recuperações. Anos de incúria, desleixo e falta de ideias, obra gentilmente patrocinada por construtores e responsáveis camarários, fizeram em fanicos as áreas históricas das cidades. Mesmo nas zonas supostamente protegidas o desleixo sempre falou mais alto. Para não falar nos quarteirões com história mas não incluídos nas zonas históricas, pensadas acima de tudo para descansar a cabeça dos responsáveis, fora das quais, quase tudo era permitido. Estava-se então no amplo espaço do fartar vilanagem. A norma era jogar abaixo para construir em altura. Mais recentemente e a reboque de um sem número de razões, alguns portugueses mas sem dúvida um número bastante maior de estrangeiros tem vindo com paciência, espírito e um grande amor pela terra que escolheram para viver, a recuperar algum património construído. Os nossos (ir)responsáveis depois de terem levado quarenta anos a perceber que os turistas nos visitam pelo sol, praia mas também por tudo o que nos faz sermos diferentes deles, como comida e casas tradicionais bem conservadas, começaram a alterar os objectivos. Mas desengane-se quem pense que isto se deve a uma descida geral do nosso nível de burgerisse, ou a grandes planos. Apenas é consequência do actual problema com o subsector da construção civil, que deixa milhares de casas vazias a que os bancos não sabem o que fazer. Sem construção e com um acréscimo de procura de estrangeiros mais cultos e com a firme ideia que a história conta, eis que alguma coisa começa
a mexer, exactamente em direcção ao lugar de onde não devia ter saído: o antigo, algum, muito, deve ser preservado. É a prova de que não nascemos por geração espontânea. 3 – O passado deve – digo deve - ser preservado. O novo deve ser novo porque se não for novo vai ser confundido com o antigo. E aqui o problema é a palavra confundido. Durante muito tempo construíram-se prédios que eram caixotes. Depois, a partir de meados do anos noventa começaram a erguer-se outro tipo de mamarrachos, já não o caixote simples mas o mamarracho que quer dar a ideia de ser uma aproximação da casa típica algarvia em que nem sequer faltava a chaminé rendilhada. Tudo isso num corpo de prédio. Construído em 96, a fazer parecer que era de 39 e que no fim não era de tempo nenhum. Um dia estudantes de arquitectura vão ter ali um quebra –cabeças involuntário: quando é que esta merda foi construída, perguntarão. O típico para totós. O novo tem que possuir, e eu não tenho uma expressão melhor, uma linguagem própria (bebendo na tradição mas apropriando-se do seu presente), que não baralhe quem um dia tentar um entendimento a partir do construído das nossas cidades. 4 – HAIM – "Days Are Gone" - CD, Polydor, 2013 As Haim são três – irmãs – três de Los Angeles e gravaram o disco que apesar de ter tudo para dar mal, deu bem. Estas vistosas raparigas que somadas as idades, dividindo por três (a velha média estatística), dá vinte e dois, fizeram um disco que é a soma simples das influências mais díspares. Soa a quem aspira por praia, bicicletas, areia e surf aliado ao bafo dos Fleetwood Mac, lembrando Annie Lennox (lembrado mais que acertadamente por
Luís Guerra do jornal Expresso ), mas também a rock adulto e responsável de impecável produção. Ou seja, o infecto junto ao virtuoso. E sobre que base, constroem elas os onze potenciais que enchem o disco? Pois em cima de um R&B, tão ligeiro, tão ligeiro, que não se nota nas primeiras dez audições. Ou seja estas três jovens aparecem como tendo ouvido tudo o que os pais tinham lá em casa em matéria de anos oitenta. E não o negando tentaram fazer quase igual, como se da tal década só não aproveitassem (até ver) as tais camisas com ombreiras a parecer auto-estradas. Coisa que em geral os novos não ousavam, não ousam, nem ousarão (como se diz numa antiga piada). É este o sentido do poder correr mal que refiro a linhas primeiras deste ponto 4: pressentia-se que no fim o disco no fim pudesse parecer um anacronismo. Mas não é, à força dos tais onze singles redondos e leves, onde se pratica a pop descaradamente devedora dos Blondie, soul para adultos e belas melodias como já se disse lembrança em tempos idos. Não sei se terão fôlego para mais. Mas já deixaram obra.
Apontamento de Vídeo As quatro voltas Numa velha aldeia no Sul de Itália, um velho pastor vive os seus últimos dias. Ao mesmo tempo, um cabrito nasce e seguimos as suas primeiras tentativas para andar até ganhar força e partir para o pasto. Bem perto, um majestoso abeto baloiça ao sabor da brisa, alterando-se ao longo das estações, até ser derrubado e reduzido ao seu próprio esqueleto, e depois transformado em carvão através do ancestral trabalho dos carvoeiros locais. O nosso olhar perde-se no fumo das cinzas... As Quatro Voltas é uma visão poética sobre os ciclos da vida e da natureza e sobre as inquebráveis tradições de um local intemporal. A história de uma aluna que se desloca através de quatro vidas consecutivas. Um filme de grande qualidade artística que entre outros prémios, obteve no Annecy Italian Cinema, Festival 2010 o Grande Prémio e o prémio C.I.C.A.E. Edição em DVD.
Argumento e realização: Michelangelo Frammartino. Com: Giuseppe Fuda, Bruno Timpano e Nazareno Timpano, entre outros. Distribuição: Leopardo Filmes. Vítor Cardoso
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