JA Magazine | Maio 2012

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M AG A Z I N E PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO N.º 2879 DE 31 DE MAIO DE 2012 DO JORNAL DO ALGARVE E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

Festival do caracol Castro Marim



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"Marquês de Pombal", Joaquim Rebocho

"Série Tigres", Júlio Pomar

"Máscara 2", Artur Bual

Vila Real de Santo António

Sem título, António Inverno

Exposição mostra espólio da autarquia O

espólio artístico da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António pode agora ser apreciado numa exposição que está patente ao público na Biblioteca Municipal Vicente Campinas. A mostra, inaugurada no passado dia 13, no âmbito das comemorações do Dia da Cidade, pode ser visitada até ao dia 15 de setembro. Refira-se que esta é a primeira vez que a autarquia vila-realense reúne o seu espólio artístico e o coloca à disposição da população. Trata-se, por isso, de uma oportunidade única para apreciar um vasto conjunto de pinturas, desenhos, esculturas, trapologia, entre outras, realizadas por conceituados artistas. Um dos destaques desta mostra é um desenho de Cândido Portinari, que foi oferecido pelo artista brasileiro a Manuel Cabanas e que este, posteriormente, deixou à autarquia. A mostra reúne, ainda, fotografias de Alex Castro e de Roberto Santandreu, bem como pinturas e desenhos de António Inverno, Artur Bual, Cândido Lopes, Francis Tondeur, João Hogan, Joaquim Rebocho, Júlio Pomar, Kamil Rodrigues, Kira, Lima de Freitas, Renato Cruz e Tóssan. A exposição completa-se com a xilogravura de Manuel Cabanas, a escultura de Raúl Xavier e a trapologia de Teresa Patrício.

"Trapologia", Teresa Patrício

"A Rede", Cândido Portinari

Sem título, Tóssan JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - MAIO/2012


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A “Outra Voz”… de Carolina Cantinho Carolina Cantinho tem-se assumido como uma das mais-valias no plano coreográfico regional. Professora na Beliaev Dance Company e em vias de terminar o mestrado em Criação Coreográfica Contemporânea Carolina Cantinho apresenta hoje, dia 31, no Teatro das Figuras o seu primeiro trabalho coreográfico de longo fôlego: “Outra Voz”

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e olhar vivo mas sereno Carolina Cantinho esconde-o quando revela a sua idade. Vinte e cinco anos. "Já vinte e cinco anos!". Professora de dança a trabalhar na Beliaev Dance Company e licenciada em design, resolveu investir na sua formação da dança ao nível do mestrado em criação coreográfica contemporânea. Apostada em mudar o seu processo criativo Carolina Cantinho resolveu convidar pessoas da sua comunidade de todas as idades para conceber uma produção. A partir do seu repto 20 pessoas entre os oito e os cinquenta anos marcaram presença nas três oficinas de formação que organizou. Com a duração de 3 horas em cada oficina Carolina Cantinho trabalhou a voz da comunidade estimulando-a a criar em liberdade a partir de múltiplos elementos; desde a música até objetos levados pelos próprios for-mandos. Com esses vinte elementos Carolina Cantinho trabalhou o sentido do grupo, o coletivo, apelando à criatividade dos formandos para criarem solos a partir das suas profissões. A partir dessa matriz os formandos criaram duetos tendo por base um objeto do quotidiano. A última etapa foi a criação de um momento coreo-

gráfico para cerca de dez pessoas a partir de uma imagem levada pelos próprios formandos. A partir destas propostas foi criada a produção “Outra Voz”, que será apresentada hoje no Teatro das Figuras, em Faro. A sensação com que as pessoas partiram destas formações foi a de uma liberdade criativa que não as prendeu a uma técnica ou a um conceito muitas vezes limitador. Para o trabalho final “Outra Voz” Carolina Cantinho integrou o processo criativo dos seus

Como suporte musical Carolina Cantinho foi buscar temas de Max Richter, René Aubry, Massiv Attac e Philip Glass. Tendo como referência artística os seus professores de mestrado, nomeadamente Rui Lopes Graça e Madalena Xavier, Carolina Cantinho concebeu um espetáculo de 50 minutos onde pretende evocar a outra voz dos que habitualmente não se fazem ouvir. Mas no espetáculo essa voz é ouvida. As intérpretes, em círculo, começam por receber a voz a par-

Os objetos descobertos pelos formandos transformam-se em objetos cénicos, contribuindo para o grito coletivo que se assume como uma outra voz, contando histórias de cidadãos comuns que se evidenciam e se tornam únicas formandos e não propriamente a sua fisicalidade. Os criativos estarão presentes nos três vídeos que serão apresentados no espetáculo, protagonizado por cinco intérpretes. “Outra Voz” é, não só o seu outro eu que se manifesta através deste suporte artístico, mas sobretudo uma outra voz que lhe foi dada e transfigurada a partir das propostas da comunidade.

tir de microfones que estão virados para fora. É a voz da comunidade que se lhes oferece viva, num frémito de agitação para se transfigurar no interior do círculo nos corpos das bailarinas. Os objetos descobertos pelos formandos, como almofadas, peluches, óculos de mergulhador, sapatilhas de ponta já usadas pelo tempo, transformam-se em objetos céni-

cos, contribuindo para o grito coletivo que se assume como uma outra voz, contando histórias de cidadãos comuns que se evidenciam e se tornam únicas. Carolina Cantinho, como tantos outros criadores que desenvolvem o seu trabalho no Algarve, espera que as portas dos teatros e outros espaços de espetáculo se abram, para poder mostrar à sua região a comprovação de um talento que se tem vindo a afirmar desde que começou a criar coreografias para a Beliaev Dance Company. Com vários prémios no currículo, tanto a nível nacional como internacional, Carolina Cantinho continua a dar aulas de dança contemporânea em Faro. O espetáculo “Outra Voz” será apresentado na Escola Superior de Dança no âmbito das provas finais do mestrado em criação coreográfica contemporânea. Ana Oliveira

"Ópera bufa" em Faro

In Tento Ensemble Novo projecto vila-realense estreou em Faro No passado dia 12, a banda vila-realense In Tento Ensemble estreou-se ao vivo no Pátio Bar, em Faro. Este novo projeto concebido pelo pianista e compositor Fernando Pessanha pretende alargar os horizontes musicais desenvolvidos pelo seu In Tento trio. Para tal, foi criado um núcleo formado por três músicos de Vila Real de Santo António: Fernando Pessanha no piano, Pedro Reis no baixo e Rui Afonso na percussão, ao que se juntaram como convidados para o presente concerto a vocalista Teresa Aleixo e o guitarrista João Godinho, ambos músicos farenses. Ao jazz de fusão minimalista que o projeto In Tento nos tem vindo a acostumar juntam-se agora elementos de música étnica, muito devido à inclusão das percussões de Rui Afonso. O resultado final foi pautado por uma noite bem passada em que, segundo a gerência do Pátio Bar, os In Tento Ensemble “tocaram e encantaram”. Ficamos, portanto, a aguardar mais concertos da banda vila-realense.

No âmbito das iniciativas promovidas pelo movimenta-te (trajetórias de programação cultural em rede), que, sob a direção artística de Giacomo Scalisi, envolve os municípios de Faro, Loulé, Olhão, São Brás de Alportel e Tavira e o Teatro Municipal de Faro, englobando espetáculos de dança, teatro, novo circo e música, realiza-se nos dias 8, 9 e 10 de junho, a partir das 21h00, na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, sessões de "ópera bufa", todos os prazeres da mesa num jantar englobando ópera, teatro e culinária. A partir da obra "Don Giovanni", do compositor Wolfgang Amadeus Mozart, a Laika/Muziektheater Transparant, com a participação da Orquestra do Algarve e da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, realiza esta "ópera bufa", com jantar incluído, uma duração de duas horas e o ingresso custa 15 euros. Laika e Muziektheater Transparant "fazem reviver, à sua maneira, esta obra brilhante de Mozart. O resultado é uma sumptuosa mistura de música, canto, interpretação... e de chocolate. Mozart descreveu “Don Giovanni” como uma ópera bufa: uma peça lírica divertida com um tom leve e cheio de vida. O compositor Jan Van Outryve fez uma transcrição contemporânea para órgão Hammond, contrabaixo e violino. Pratos gourmet surpreendentes saem diretamente da cozinha de “Don Giovanni” e vão deixá-lo com água na boca e vontade de se entregar. Este é um espetáculo cheio de voluptuosidade, sensualidade e tentações, a saborear sem moderação!" A versão portuguesa deste espectáculo prevê o trabalho de adaptação musical para participação da Orquestra do Algarve, enquanto que o encenador Peter De Bie promove, desde o início do ano, uma série de seminários e workshops teatrais/culinários com um grupo de alunos da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve que irão realizar toda a parte culinária deste espetáculo inédito a não perder.

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João Leal



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Castro Marim capital do caracol Festival Internacional do Caracol começa esta sexta-feira e decorre até domingo. Durante três dias, o visitante terá a possibilidade de saborear as receitas mais tradicionais, principalmente os afamados caracóis de Castro Marim, mas também outras originárias de outros pontos do país e até do estrangeiro

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mpada de caracol, cerveja e música de géneros variados são alguns dos ingredientes que vão apaladar o gosto e o apetite dos visitantes que, a partir de amanhã, sexta-feira, e até domingo, se deslocarem ao a Castro Marim para o Festival Internacional do Caracol. A iniciativa realiza-se anualmente em maio, mês em que o caracol é mais saboroso, e são centenas de apreciadores deste pitéu que se deslocam nesta altura àquela localidade do sotavento algarvio para saborear o afamado petisco. Sejam pequenos ou grandes, com tempero secreto ou receita tradicional, acompanhados pelo pão, manteiga e cerveja, mais de uma

dezena de associações, colectividades e restaurantes do concelho de Castro Marim confecionam os caracóis nas suas tasquinhas, deliciando todos os visitantes nesta festa que pretende homenagear tão popular iguaria, bem como valorizar uma tradição singular na nossa região. Durante três dias, na Colina do Revelim de Santo António, poderão ser saboreados os melhores caracóis confecionados no Algarve e no país. Mais uma vez, também estarão presentes chefes de cozinha espanhóis, franceses e marroquinos que, decerto, irão surpreender com receitas originarias dos seus países. Uma das novidades desta edição do Festival JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - MAIO/2012


7 Internacional do Caracol é o lançamento da empada de caracol, pelos representantes do Festival do Caracol Saloio de Loures. Trata-se de uma nova receita, que vai ser confe-cionada ao vivo, destinada a conquistar novos apreciadores. No recinto do festival haverá diversas tasquinhas com doceiras do concelho de Castro Marim que vão apresentar alguns dos melhores doces da região, entre os quais as tradicionais filhós, o dom Rodrigo, sem esquecer a muito apreciada torta de alfarroba. O cartaz musical do Festival Internacional do Caracol também será bastante diversificado, com a música popular portuguesa a misturar-se com as sonoridades da música mediterrânica. “Afirmar Castro Marim como a capital dos caracóis do Algarve e divulgar a cozinha e cultura mediterrânicas continuam a ser o desiderato da autarquia castro-marinense com a realização do Festival Internacional do Caracol”, explicam os responsáveis pelo evento, organizado pela Câmara Municipal de Castro Marim.

Os truques da confeção dos caracóis Há quem diga que sabem melhor se forem acompanhados com favas sapatadas e com cerveja. Mas sabe confecionar um bom petisco de caracóis? O Jornal do Algarve dá-lhe um exemplo simples e que pode servir de base para outras variantes

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urante décadas, praticamente todos os caracóis que eram consumidos em casa ou em qualquer estabelecimento, eram recolhidos manualmente no campo. Só recentemente é que começaram a surgir os viveiros e a importação. Mas ainda há quem se dedique à sua recolha para venda e quem aproveite um passeio para apanhar alguns e confecioná-los posteriormente em casa. Mas sabe como preparar um bom petisco de caracóis? Quem os prepara há anos, segundo tradições que passaram de geração em geração, diz que não há grandes segredos. Mas não é bem assim. Há alguns que são básicos para quem sabe, mas que podem ser de grande utilidade para quem só está habituado a pedi-los no restaurante. Quem optar por recolher os caracóis no campo, e antes de os cozinhar, deve deixa-los vários dias num recipiente (tacho, panela, balde, caixa...), sem alimento e tapados, por exemplo, com uma rede, para que se mantenham vivos. Qualquer caracol morto não deve ser consumido. O objetivo é o de que eles libertem a maioria dos resíduos que têm no interior. Depois, e ainda antes da cozedura, os caracóis devem ser lavados

em várias águas para ser retirada mais uma parte dos resíduos. Após esta operação, surge outro dos segredos: os caracóis devem ser colocados num tacho ou panela com

água fria e cozinhados em lume brando (sem qualquer tempero). O lume brando faz com que saiam da casca, tornando-se mais fácil comê-los.

Após esta primeira cozedura, retira-se a água que, provavelmente, ainda deve ter bastantes resíduos e volta-se a colocar os caracóis em água fria, limpa. Agora sim, para a

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cozedura final. É nesta fase que se coloca o tempero: orégão em rama, dentes de alho com pele (esmagados a murro), casca de laranja, casca de limão e sal. Para saber se estão cozidos, tente retirar o caracol da casca. Se sair com facilidade, o petisco está pronto. Ou melhor, está quase pronto. É que ainda falta outro dos segredos. Após a confeção, os caracóis devem permanecer pelo menos uma hora (há quem prefira várias horas) no recipiente para continuarem a ganhar sabor. Mas este é apenas um exemplo de como se preparam caracóis em Castro Marim. Cada família, cada restaurante e cada tasca tem a sua forma própria para os confecionar. Partindo daquela base, há quem lhe dê o seu toque pessoal, com outros truques e alterando alguns ingredientes. Há, inclusivamente, quem lhes coloque um pouco de malagueta para os tornar mais picantes. O caracol é acompanhado habitualmente pelas tradicionais favas sapatadas (cozidas com sal e poejos). Há quem diga que não há melhor bebida do que a cerveja para ajudar a saborear estes dois petiscos. Domingos Viegas


8 Contos Curtos De vez em quando...

Nas Caves do Guadiana (1) P

or detrás do balcão, uma Nossa Senhora de Fátima, esculpida em ferro, salta à vista de quem entra nas Caves do Guadiana, situadas na marginal Avenida da República de Vila Real de Santo António. A original imagem foi oferecida ao estabelecimento, há alguns anos atrás, por um espanhol que pretendia "saldar a dívida" que a sua família tinha para com o proprietário. O señor Vicente Rodriguez, que fora dono do estabelecimento durante várias décadas, dos anos vinte aos cinquenta do século anterior, já tinha falecido há muito, mas o visitante fez questão em oferecer a Virgem à casa, então pertença de António Viegas e família. O motivo contou o espanhol, prendia-se com o facto de o señor Vicente ter ajudado a sua família quando esta chegou a Vila Real de Santo António, fugida da Guerra Civil de Espanha, tal como fazia diariamente com muitos outros compatriotas, aos quais dava comida e guarida. "Foi uma promessa que eu fiz aos meus avós. É uma questão de gratidão profunda por um acto de grande nobreza e generosidade", argumentou o visitante. Quem recebeu o espanhol foi a dona Maria dos Mártires, esposa do então proprietário e cozinheira do restaurante, e o seu filho António Luís que de pronto lhes prometeram solenemente que aquela Nossa Senhora nunca dali sairia. A imagem da santa reflecte o período importante que as Caves do Guadiana, um dos mais antigos restaurantes de Vila Real de Santo António, viveram, quando o señor Vicente, um espanhol da Galiza, decidiu comprar um armazém de figos destinados ao fabrico de aguardente (a denominação "caves" vem desses tempos), transformando-o naquele que viria a ser um dos mais conhecidos e prestigiados restaurantes da cidade pombalina. A dona Maria dos Mártires, que aos 73 anos ainda chefia a cozinha do estabelecimento, recorda que as Caves tornaram-se o "porto de abrigo de muitos refugiados da sangrenta guerra civil do país vizinho, tendo granjeado, quando terminou o conflito, uma clientela refinada". "Era no restaurante que se faziam os maiores negócios da terra", lembra a actual proprietária, destacando a presença diária dos grandes industriais conserveiros e armadores de pesca, que normalmente escolhiam a zona recatada do espaço para selarem compromissos. Numa altura em que Vila Real de Santo António era uma terra rica, devido à florescente indústria de conservas, e às pescas, os clientes das Caves deixavam "muito dinheiro". Até ao dia em que o señor Vicente vendeu o restaurante a D.ª Maria Gertrudes, natural de Portimão que vivia em Marrocos para onde tinha emigrado no início dos anos trinta do século anterior e conhecida por "Madame". A nova proprietária, ocupada com a gestão de outros empreendimentos em Marrocos, deixou-se ficar por terras africanas, confiando a gerência do estabelecimento aos funcionários e que por razões diversas "depressa descambou em matéria de qualidade de serviço e comida oferecida", conta a dona Maria dos Mártires, adiantando que entretanto a clientela rica "fugiu".

A decisão de António Viegas, marido de dona Maria dos Mártires, que andava embarcado há já muitos anos nos paquetes portugueses, de assentar arraiais na sua terra natal, ditou o novo rumo do restaurante. Em 1970, as Caves do Guadiana passaram para as mãos do ex-embarcado, que viria a falecer em 2004, depressa recuperando o prestígio perdido nos últimos tempos. Com António Viegas a dirigir a casa e a esposa a confecionar as caldeiradas e ensopados de cabrito, os cozidos à portuguesa, as lulas recheadas e todos os pratos à base de atum, as Caves tornaram-se local de verdadeira romaria por parte sobretudo dos espanhóis que de “compras” visitavam a cidade algarvia. Hoje, as Caves do Guadiana são um restaurante familiar onde todos os que ali trabalham, desde a cozinha às mesas, pertencem à família. Texto elaborado a partir de um artigo anteriormente publicado a Imprensa Regional algarvia

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Nota: O artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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Alcoutim prepara-se para mais uma Feira de Artesanato e Etnografia

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27.ª edição da Feira de Artesanato e Etnografia de Alcoutim, que decorre nos próximos dias 9 e 10 de junho, voltará a reviver o passado da serra algarvia, numa combinação exclusiva de tradição, animação e gastronomia. A Praia Fluvial do Pego Fundo voltará a ser “invadida” por dezenas de artesãos e e por uma enorme variedade etnográfica. Ao longo dos dois dias os visitantes podem ver artesãos a trabalhar ao vivo, bem como recriações de um quotidiano longínquo da serra algarvia. A animação musical e as tasquinhas com gastronomia regional completarão o evento. O palco da feira receberá este ano as atuações do Teatro Experimental de Alcoutim, bem como da Funfarra e Bundinha Amigos da Música. Para as noites estão previstos dois bailes, que serão abrilhantados pelo duo José e Vítor Guerreiro e pelo grupo Projeto RS. A Feira de Artesanato e Etnografia de Alcoutim é um evento organizado pela Associação A Moira em colaboração com a autarquia local.

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Saúde

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Alcoutim debate alcoolismo

Opinião

31 de maio - Dia Mundial do Não Fumador O tabaco tem sido, desde longa data alvo das maiores acusações e dos maiores encómios, o que deixa muita gente perplexa. Em 1604, o rei Jaime I de Inglaterra amaldiçoou o hábito de fumar, considerando-o como “um costume repugnante à vista, odioso ao nariz, daninho para o cérebro e perigoso para os pulmões”. As suas palavras não tiveram grande influência pois vemos que o costume de fumar cada vez se generalizou mais. Foi em meados do século XX que a «guerra» ao tabaco começou a ganhar terreno. Após isso, um pequeno fabricante de tabaco reconheceu que fumar causa cancro nos pulmões, doenças de coração e enfisema – tudo situações graves. Muitos viram nestas afirmações uma razão para o fabricante justificar os maus resultados económicos que tinha tido a sua empresa. As grandes tabaqueiras entraram em pânico, pois que foram revelados documentos que podiam incriminá-las; trataram então de criar um arquivo para guardar toda a documentação sobre os malefícios do tabaco para a saúde, a toxidade dos produtos incluídos nos cigarros, a dependência que o tabaco cria, pois também ele é uma droga, a publicidade aliciando menores, etc. O Estado é o primeiro a reclamar por causa dos gastos com a saúde pública afectada pelo tabaco e quer a proibição de nicotina no tabaco (o tal tabaco «light»). Os inimigos do tabaco pretendiam recuperar os fundos gastos pelo Estado no tratamento dos fumadores e queriam que houvesse negociações, que foram aceites: as grandes tabaqueiras participavam com avultadas quantias para esses tratamentos e reformulavam a suas campanhas publicitárias. Pensavam assim reduzir o consumo do tabaco, sobretudo entre os jovens – trampolim para o consumo de drogas mais fortes, empregando o dinheiro em campanhas educativas e dissuasoras. Parecia uma vitória. A publicidade foi proibida (no papel) nos recintos desportivos, na Internet, em filmes ou peças de teatro e na Televisão. Foi movida uma guerra às máquinas automáticas de venda de tabaco e os maços deviam ter escrito “Fumar pode matar” ou “Os cigarros causam cancro”. Surge então uma Lei (com letra maiúscula) que proíbe fumar em lugares fechados, nos locais de trabalho, e mais e mais. Quem não cumprir paga multas e de que valor! E que vemos agora: os empregados dos estabelecimentos à porta a fumar interrompendo o trabalho. E o mesmo se passa na Assembleia da República, nas Repartições do Estado, enfim em todos os locais de trabalho. Um senhor entrevistado pela TV disse que nas interrupções de trabalho que faz agora gasta por dia entre uma hora ou hora e meia! É caso para dizer – Viva o aumento da produtividade! Para que serve eliminar os feriados ou a meia hora de trabalho a mais? Será para compensar o tempo perdido com cigarrito? A lei, como a maioria das leis são feitas sobre o joelho e assim tem tantas lacunas e tantas ambiguidades que ninguém se entende. Talvez só as entidades fiscalizadoras e de caça à multa. Talvez! Maria Fernanda Barroca

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Câmara Municipal de Alcoutim promove, no próximo dia 6 de junho, pelas 21h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, uma palestra intitulada “Alcoolismo - Soluções”. A iniciativa contará com os palestrantes Álvaro Pereira e António Camacho, médicos do Centro de Apoio aos Toxicodependentes de Olhão, e será moderada pelo médico e autarca Francisco Amaral. Esta sessão vai debruçar-se sobre as soluções para esta problemática. “O alcoólico não é um caso perdido, como muitos pensam, mas é sim um doente que tem de ser ajudado, embora às vezes pareça não querer, pela família, pelos amigos, pelo SNS e pelas autarquias. Porque há soluções e todos ganham, nomeadamente o doente e a família”, garantia recentemente Francisco Amaral , numa palestra proferida em Vilamoura.

...e recebe Curso Pós Graduado em Diabetes A vila de Alcoutim é, pelo terceiro ano consecutivo, o local escolhido para a realização do Curso Pós Graduado em Diabetes, promovido pela Associação de Apoio aos Diabéticos do Algarve (AEDMADA) e apoiado pelo Município de Alcoutim. A formação irá decorrer nos dias 15 e 16 de junho, no Guadiana RiverHotel, e é direcionada a médicos de clínica geral que exerçam no Baixo Alentejo e Algarve. O curso dará espaço à divulgação de trabalhos realizados regionalmente na área da Diabetologia, bem como ao envolvimento da Medicina Geral e Familiar na temática. No dia 15, entre as 15h00 e as 19h00, a AEDMADA irá promover um rastreio, no Centro Náutico de Alcoutim, à diabetes e apneia do sono, direcionado a pessoas com mais de 35 anos.

Sagres acolhe 1.ª Conferência Internacional de Medicina do Surf

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Memmo Baleeira Hotel, em Sagres, acolhe, de 8 a 10 de junho, a 1.ª Conferência Internacional de Medicina do Surf, organizada pela European Association of Surfing Doctors (EASD), com o apoio da Câmara Municipal de Vila do Bispo. No decorrer dos trabalhos serão apresentados painéis com temas relacionados com a medicina desportiva ligada à modalidade do surf, nomeadamente a medicina desportiva, a ortopedia, a traumatologia, a oftalmologia e a dermatologia. Para abertura do programa, a organização escolheu a temática "Traumatology, hypothermia and wilderness medicine" seguindo-se os painéis com temáticas como "Epidemiology, etiology, pathophysiology and on beach diagnosis of trauma in surfers", "Head injury and cervical spine trauma", "Stings and JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - MAIO/2012

bites by marine animals: pathophyiology and treatment", entre outros. No segundo dia de trabalhos, o painel principal será "Surviving the sun, tropics and surfing psychology", onde serão abordadas temas como "Tropical infectious diseases and surfing", "The surfer's ear", "Surfing psychology and neurobiology", e "Public health projects originating through surfing", entre outros. Do programa consta ainda a realização de dois workshops: "Hands-on Wilderness medicine and first aid for surfers" e "Find the perfect Wave; learn to read the meteorological map". Segundo a organização, o desenrolar do "programa está dependente do comportamento do oceano. Surfamos quando as ondas estiveram boas e faremos os workshops e as palestras pelo meio".


Música I Cinema

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Fernando Proença

LITERATURA INCLUSA

Número trinta e um Primeira parte – Leio intermitentemente “Life”, autobiografia de Keith Richards (original de 2010, versão portuguesa de 2011, 574 páginas da Theoria – Cavalo de Ferro, tradução de José Luís Costa), não que o livro seja pouco interessante – na realidade é mesmo muito interessante – mas porque afazeres profissionais não me têm dado muito pouco espaço. Sabem como é, um tipo como eu tem responsabilidades acrescidas perante a sociedade portuguesa. Além disso não faço outra coisa nos meus tempos livres que assistir a intervenções de jornalistas das televisões sobre a crise da dívida soberana e o caso da Grécia. Mentira; estou-me a marimbar para as tretas dos comentadores que sabem tanto como eu da crise, mais os políticos e os jornalistas. Mas acho que ficava bem desculpar-me assim. Estava então a dizer-lhes como estou sensivelmente a meio do “Life” e que pela amostragem que não é tão pequena quanto isso, já me posso permitir tirar algumas conclusões, que espero pelo final para saber se se confirmam ou não. Até agora penso que: a) Keith é um grande contador de histórias com uma memória prodigiosa; b) não se arrepende – por enquanto até à página 281 - de nada que fez. Gosto dos músicos de Rock, que não acabam a dizer que são agora uns santos e que só não o foram a vida toda porque lhes calharam as más companhias;

c) uma leitura mais atenta do livro por parte de algum alto responsável no combate à droga, lhe fará no mínimo eriçar os cabelos e piscar dez vezes os olhos tentando perceber se está bem acordado; d) a tradução pode não ser muito boa, não li o original, mas em português tudo aquilo corre muito bem, o estilo coloquial do autor, o humor, estão muito bem escorados com toda a certeza na ajuda que Keith recebeu, do seu amigo jornalista James Fox. Deve ter sido deste a responsabilidade de ter vertido as memórias do autor para aquela prosa escorreita que se apresenta no livro, própria de quem sabe como se escreve quando se tenta mostrar exactamente como se fala e nem mais uma vírgula; e) os semi - ignorantes como eu, acabamos por aprender ou reaprender algumas coisas como o pequeno pormenor da música rock ter sido o catalisador das exigências da juventude da altura. De como se resolveram as relações de forças entre amantes e praticantes de jazz, música soul, pop e os benditos blues de Chicago, bíblia e inspiração maior do guitarristas dos Rolling Stones. Ou de perceber como se respirava o ambiente das gravações da altura, desde produtores saídos directamente de uma fábrica de pequenos ditadores (Phil Spector), até músicos como James Brown que multavam os músicos da sua banda de apoio por cada falha que apresentava em palco. Tudo isso está em Life. E nem o desconhecimento que podemos ter sobre a afinação de uma viola (que é o meu caso), chega para tornar a leitura menos trepidante, viciante e outras palavras acabadas em ante como explosiva. Prolongamento da primeira parte – A favor – O ritmo. A linguagem. O sentido de humor. A humanidade (no sentido que não nos devemos sentir santos em

qualquer circunstância). As alfinetadas a Mick Jagger. O entendimento da evolução da música popular tal e qual ele foi. A memória. A crueza do relato. Contra - Não interessará a quem não interessar nenhum dos pontos do parágrafo anterior, especialmente a quem se chocar com palavrões. Ou seja, quem viver hoje segundo os padrões das freiras carmelitas do século dezoito. Motivará muito pouco, as pessoas para quem os AC /DC ou os Metallica foram e são, que a malta não faz por menos, o ponto máximo, o cume, o cimo da montanha russa no que respeita ao Rock'n Roll. Assim – Assim - Quem não gostar de música, de todo pode sempre lê-lo olimpicamente, como divertimento, na praia, no campo ou no café (o volume impressiona e a capa é bonita). Não exige demasiado de nós mas não nos estupidifica. Para exigir e estupidificar – parece uma incongruência mas não o é para mim. E um dia digo-vos como – já temos o José Luís Peixoto. Acima de tudo há em Life a matéria que uma boa biografia de um músico deve ter. a de nos levar a ouvir pelo menos mais uma vez, os seus melhores discos. Segunda Parte – Alguém que não eu, que a minha cabeça nunca chegaria para tanto, lembrou-se há uns tempos, numa revista que não recordo (parece um parágrafo de um livro de Villa Matas em versão para o fraco), escrever a propósito de mais uma edição dos hits de David Bowie: era o único músico em actividade para quem não existia ninguém que gostasse de toda a discografia. Quem gostava da primeira parte, detestaria a segunda e vice-versa. Pois eu podia acrescentar os Rolling Stones. Quem começou atrelado aos blues terá

Apontamento de Vídeo I'm Still Here "I'm Still Here é um retrato surpreendente de um ano tumultuoso na vida vida do aclamado ator Joaquin Phoenix. Com um notável acesso à vida de Phoenix, I'm Still Here segue-o a partir do momento em que ele anuncia que vai renunciar a uma carreira cinematográfica de sucesso, no Outono de 2008, e reinventar-se como um músico de hip-hop. Por vezes divertido, por vezes chocante, mas sempre fascinante, o filme é um retrato de um artista numa encruzilhada. Desafiando as expectativas, o filme explora com destreza as noções de coragem e de reinvenção criativa, assim como as ramificações de uma vida sob o olhar do público". Ficção ou realidade, é o retrato de um actor que teve a ousadia de mudar para um músico de hip-hop. Edição em DVD. Realização: Casey Afleck. Com: Joaquim Phoenix, entre outros. Distribuição: Clap Filmes. Vítor Cardoso

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acabado (acabado, com os Stones, é sempre uma força de expressão), a prestar vassalagem ao rock de garagem ou estádio (assim uma espécie de rock FM, mais musculada e menos avacalhada), mesmo um piscar de olhos ao funky ou ao reggae, que não tendo nada de mal, acaba por não transmitir o que o grupo oferecia até Exile on Main Street. A capacidade de fundir de uma forma magistral o rock e os blues, farinha e fermento a partir do qual, se fez a grande parte do pão da música popular (pelo menos até aos anos oitenta). E de todos os disco dos Stones, qual o que escolhi para ouvir e ilustrar a minha dependência do livro em causa? Pois o álbum ao vivo”Get Yer Ya- Ya's Out!”, gravado a partir de uma actuação do grupo em 1969, no Madison Square Garden, em Nova Iorque, e recentemente saído sob a forma de duplo, remasterizado e essas coisas todas. Já escrevi antes sobre o disco, considero-o a demonstração e consagração da energia em estado puro, numa altura em que o grupo ainda devia quase tudo à grande tradição dos blues de Chicago e com uma versão explosiva de Midnight Rambler, com oito minutos e meio, que por si só justifica a compra. Fim.



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