JA MAGAZINE | MAR 2013

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M AG A Z I N E PAR TE INTEGR ANTE D ARTE INTEGRANTE DAA EDIÇÃO N.º 2922 DE 25 DE MARÇO DE 2013 DO JORNAL DO ALGARVE E NÃO PODE SER VENDIDO SEP AR AD AMENTE SEPAR ARAD ADAMENTE

PÁSCOA



3 "Os demónios de Álvaro Cobra" vence Prémio Literário Cidade de Almada

Livro premiado de Carlos Campaniço alicia leitores O escritor Carlos Campaniço, atual diretor de programação do auditório municipal de Olhão, está a dar que falar com o seu romance original "Os demónios de Álvaro Cobra". A obra venceu o Prémio Literário Cidade de Almada 2012, ao qual concorreram mais de meia centena de textos originais

"O

s demónios de Álvaro Cobra”, que venceu recentemente o Prémio Literário Cidade de Almada 2012, da autoria de Carlos Campaniço, promete continuar a aliciar mais leitores este ano. No ano passado, concorreram ao Prémio Literário Cidade de Almada 51 obras literárias originais, sendo que o romance do escritor que nasceu alentejano e reside há quase duas décadas no Algarve foi distinguido pelo júri constituído por Luísa Costa Gomes, em representação da Câmara Municipal de Almada, José Correia Tavares, em representação da Associação Portuguesa de Escritores, e Violante de Magalhães, em representação da Associação Portuguesa dos Críticos Literários. Este prémio, instituído pela Câmara Munici-pal de Almada em 1989, é considerado uma referência nacional na área da literatura e na promoção da criação literária em língua portuguesa. Ao vencedor da edição 2012 foi atribuído um prémio de cinco mil euros. Nas palavras de Violante de Magalhães, porta-voz do júri, neste romance cruzam-se os temas do amor e morte, da esperança e exaspero. Situada numa aldeia alentejana do século XX, a intriga gira em torno de Álvaro Cobra, uma raridade da natureza, tido ora por santo, ora por bruxo. As alegrias e contrariedades vividas por Álvaro, pela família Cobra e por demais habitantes da aldeia intercalam-se, apegam-se. O retrato de um Alentejo intemporal e do inusitado caráter de um povo que se inventa a si mesmo é feito num ritmo invulgarmente ágil e num tom airoso, que equilibra peripécias risíveis, violentas e de uma imensa ternura.

das suas aldeias modorrentas, enfim, do inusitado “carácter coletivo de um povo que se inventou a si mesmo”. “Em Os demónios de Álvaro Cobra, narração e diálogos sucedem-se num ritmo invulgarmente ágil. Este ritmo é acompanhado de um tom airoso, que equilibra peripécias risíveis, violentas e de imensa ternura (que por vezes atingem um indubitável lirismo). Carlos Manuel Falé Campaniço revela-se senhor de uma escrita que, de forma aprazível e muito segura, alicia o leitor. E se bem que, como lemos no romance, não precisemos ´de razões exactas para sermos felizes´, depois de conhecermos os demónios de Álvaro Cobra, impossível será não nos questionarmos sobre os limites à resistência do sofrimento humano”, remata Violante de Magalhães.

Sobre o autor do romance

"Os limites à resistência do sofrimento humano" “Desde o nascimento que Álvaro é um enigma da natureza. Os habitantes de Medinas reagem às características insólitas de Álvaro Cobra, atribuindo-lhe a fama ora de santo, ora de bruxo. Álvaro habituou-se à estranheza da sua vida, encarando-a com naturalidade, deixando que os acontecimentos fluam. Na infância, descobrira, em sonhos, curas para os males que sucessivamente o afligiam (como a dor advinda de ouvir o 'rugir da terra a girar sobre si mesma'). Aos 10 e aos 16 anos fora senhor de 'mortes inacabadas' – ambas atentamente presenciadas pela população, que não perdeu oportunidade de bisar a ida ao enterro. Chegado a adulto, Álvaro adquire uma

força colossal, confirmando-se como uma raridade da natureza”, adianta o porta-voz do júri que distinguiu “Os demónios de Álvaro Cobra”. Ainda segundo Violante de Magalhães. o tempo, moroso, vai correndo, nesta “aldeia de vidas”. As histórias intercalam-se, apegam-se. Os caminhos da família Cobra cruzam-se com os de outros habitantes de Medinas.

“Ocupado nos seus sonhos em encontrar soluções para os problemas da família e da comunidade, Álvaro Cobra tarda a encontrar as suas próprias ambições: descobrir o amor e avistar o mar”, revela o júri, acrescentando que neste livro ecoam ainda narrativas de autores portugueses que tão bem nos souberam dar o retrato de um Alentejo intemporal,

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Carlos Campaniço nasceu em Safara, no concelho de Moura, em 1973. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas – ramo Estudos Portugueses e Mestre em Culturas Árabe e Islâmica e o Mediterrâneo, pela Universidade do Algarve. Profissionalmente, é diretor de programação do auditório municipal de Olhão, o mais recente teatro do Algarve. Em 2007 publica “Molinos”, o seu primeiro romance, onde retrata a vida rural de uma aldeia que imaginou, mas que poderia ser uma qualquer aldeia do Alentejo, subjugada pela fome e pela estratificação de classes. Seguiu-se, em 2008, o seu primeiro e único ensaio, “Da Serra de Molinos ao Rif Marroquino. Analogias e Mitos”, resultante do seu estudo de mestrado. No ano seguinte edita “A Ilha das Duas Primaveras”, um romance histórico que tem o Mediterrâneo como cenário.


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Alcoutim

Pão quente e queijo fresco garantem casa cheia em Vaqueiros A

15.ª edição da Feira do Pão Quente e Queijo Fresco voltou a ser mais um sucesso na aldeia de Vaqueiros, concelho de Alcoutim. A localidade voltou a ter “casa cheia”, no passado dia 10, naquele que stá considerado com um dos mais importentes eventos de promo-

ção dos produtos alcoutenejos. O “pão caseiro”, cozido no decorrer da feira, e o queijo fresco, bem como outras iguarias tradicionais, como os doces e os enchidos, atraem, ano após ano, mais visitantes a esta aldeia do concelho de Alcoutim. Só durante a manhã, o evento

recebeu cerca de 400 pessoas, participantes na marcha-passeio regional. Com a gastronomia e o artesanato, também presente no certame, houve animação musical, com os grupos “Bailasons” e “Banza”, que prolongou o convívio até ao cair do dia.

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A Feira do Pão Quente e Queijo Fresco é uma iniciativa da Junta de Freguesia de Vaqueiros, organizada com o apoio da Associação “A Moira” e da Câmara Municipal de Alcoutim.


Exposição em Vila Real de Santo António

O olhar de 15 fotógrafos sobre a "Via Sacra" A

exposição de fotografia “Via Sacra”, criada o ano passado para a Sé de Silves, pode ser visitada até ao final desta semana no Arquivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António, localizado na Avenida da República. Trata-se de uma mostra coletiva, de 15 fotógrafos algarvios, que retrata as várias estações do caminho que Jesus Cristo percorreu até ao Calvário. Seguindo as descrições do Evangelho de São Lucas, os artistas apresentaram vários trabalhos que narram de forma original esses vários momentos do último percurso de Jesus na terra. Desde os momentos vividos por Jesus e seus discípulos no Monte das Oliveiras, passando pelo julgamento de Pilatos ou o encontro com Maria, sua Mãe, terminando no seu sepulta-

mento e ressurreição, visto no encontro com os discípulos de Emaús, todos estes momentos foram trabalhados pelos fotógrafos. A exposição inclui trabalhos de Adriano Costa, André Bôto, Carlos Rocha, Carlos Sousa, Francisco Castelo, José Manuel Andrade, Miguel Veterano, Nuno Garção, Samuel Mendonça, Sofia Guerreiro, Sonya, Tiago Grosso, Vasco Célio, Vera Soares e Vitor Azevedo. Ou seja, os 15 fotógrafos que responderam ao desafio feito pelo padre Carlos Aquilino durante a Quaresma do ano passado. A mostra foi inaugurada no início deste mês e ainda pode ser visitada hoje a amanhã, das 9h30 às 11h30 e das 14h00 às 16h30.

Faro

"Procissão do Enterro do Senhor" Promovida pela Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Faro realiza-se, tal como há séculos vem acontecendo, no dia 29 de Março (Sexta-feira Santa), pelas 21 horas, a solene "Procissão do Enterro do Senhor", um dos eventos maiores do Ciclo Quaresmal no Algarve. O préstito litúrgico, que é precedido pela homília pronunciada pelo Bispo da Diocese, D. Manuel Neto Quintas, que presidirá à Procissão, sai da renovada Igreja da Misericórdia, onde têm vindo a decorrer, desde há anos, importantes obras de restauro daquele templo, situado na Praça D. Francisco Gomes (Jardim Manuel Bivar), ali abrindo em breve um "Espaço Museológico" e que é a única igreja algarvia com traçado arquitectónico em cruz bizantina. A significativa e imponente "Procissão do Enterro do Senhor" congrega sempre muitos milhares de fiéis, não só do concelho de Faro, como vindos de muitos locais da região algarvia, percorrendo o seguinte itenerário: Praça D. Francisco Gomes, Rua 1º de Maio, Rua Filipe Alistão, Largo de São Pedro, Rua Batista Lopes, Rua Lethes, Rua Justino Cúmano, Rua João de Deus, Largo dos Combatentes (junto ao tribunal), Rua de Santo António, Rua D. Francisco Gomes e Jardim Manuel Bivar, recolhendo à Igreja da Misericórdia.

Participam no préstito, que abrirá com uma representação da GNR a cavalo e em grande uniforme, autoridades eclesiásticas, civis e militares, sendo acompanhado pelas Filarmónica "Artistas de Minerva" (Loulé) e Banda Filarmónica de Faro, as Ordens Terceiras do Carmo e de São Francisco, Irmandade da Misericórdia, Bombeiros Municipais e Voluntários de Faro, Corpo Nacional de Escutas e Escoteiros de Portugal e outras entidades. Dão a sua prestimosa colaboração o Moto Clube de Faro e a Câmara Municipal da capital sulina, além do contributo de vários benfeitores. A procissão, para além de outros símbolos religiosos (guião, cruz, painéis, etc), incorpora as veneradas imagens e de grande devoção entre os fiéis do Senhor Morto, conduzido no "tombinho" e sob o pálio; Nossa Senhora da Soledade, São João Evangelista e Santa Maria Madalena. À saída do préstito e após a homilia do Reverendo Bispo do Algarve, D. Manuel Neto Quintas, interpretará vários trechos de música sacra o Coro Paroquial da Sé, o que se repetirá à passagem pela Praça da Liberdade (Pontinha). J.L.

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André Boto

Vera Soares

Adriano Costa

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6 A força da tradição em São Brás No próximo domingo de Páscoa, São Brás de Alportel será uma vez mais palco de uma das mais genuínas manifestações culturais de cariz religioso do país: a Festa das Tochas Floridas e a Procissão de Aleluia

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radição religiosa de enorme significado, a Festa das Tochas Floridas, no domingo de Páscoa, em São Brás de Alportel, é um momento alto da vida da comunidade e uma manifestação cultural singular na região e no país. O dia da ressurreição é festejado com uma procissão de flores, que adornam as tochas empunhadas por homens que cantam em coro o refrão: “Ressuscitou como disse! Aleluia! Aleluia! Aleluia!”. As colchas nas janelas, as varandas engalanadas e o tapete florido que cobre as ruas por onde passa a procissão completam o cenário de uma das mais belas e genuínas procissões do país. Por volta das 09h30 acontece a abertura das ruas para apreciação do tapete de flores. Este tapete é preparado durante toda a semana e colocado nas ruas, durante a madrugada, num exercício paciente e artístico de muitas dezenas de pessoas que se juntam, para fazer a magia acontecer aos primeiros raios de sol da manhã. A partir das 10h30 começam as manifestações religiosas propriamente ditas, com a eucariastia, seguida da procissão. Durante todo o dia, o centro da vila recebe mostras de doçaria e artesanato, espaço de petiscos e animação musical. São Brás de Alportel é uma localidade em festa em cada domingo de Páscoa. Filhos seus, dispersos por outras terras do país e do mundo, tornam à terra que os viu nascer, neste dia que é de orgulho para todos os são-brasenses. Mas não só os filhos da terra visitam São Brás neste dia, ano após ano, são milhares os turistas que passam por São Brás no domingo de Páscoa.

Das tochas aos paus pintados Esta procissão foi outrora popular em todo o Algarve. As confrarias eram então obrigadas a levar uma tocha acesa ou luminária e opas vestidas. Posteriormente, a falta de cera levou

ao aparecimento de paus pintados e ornamentados com flores, no cimo do qual se colocava uma pequena vela. Mais tarde, com o desaparecimento das confrarias, permanecem na procissão os paus enfeitados, as lanternas e as velas acesas ao lado do pálio e as opas, que ainda hoje são trajadas pelos homens que transportam o pálio. Ao longo da procissão, sempre se cantaram hinos, responsos e o Aleluia, em honra da Ressurreição do Senhor. Outrora havia um ou dois coros a cantar e o povo respondia, mas com o passar do tempo, a falta de clero e de cantores, levou a que o canto ficasse na boca do povo.

O tapete de flores Cerca de um quilómetro de flores cobre o chão, descrevendo o percurso da procissão. Para construir esta verdadeira obra de arte, são precisas 3 toneladas de flores, num trabalho que resulta de uma centena de voluntários. Depois de uma árdua semana de trabalho, na apanha e preparação das flores, é na véspera do Domingo de Páscoa, que todos os minutos são poucos, noite fora, até ao amanhecer, para que quando o sol chegar, possa fazer brilhar o magnífico tapete florido que descreve o percurso da Procissão.

Tarde cultural Durante a tarde, no adro da Igreja Matriz, a organização proporciona aos visitantes uma tarde cultural, com a participação de vários grupos musicais, sendo a música portuguesa o ingrediente principal. E enquanto se escutam os sons, podem também apreciar-se os sabores dos doces regionais e dos petiscos típicos, no espaço de mostra e venda da gastronomia e doçaria regional. A não deixar de provar: os saborosos folares, doce típico desta quadra e as amêndoas tenras de São Brás, feitas artesanalmente, em tachos de cobre.

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7 Loulé

Festa da Mãe Soberana, a maior manifestação religiosa do sul do país A denomianda Festa Pequena decorre este domingo (Páscoa) e a Festa Grande, o regresso da imagem de Nossa Senhora da Piedade à sua ermida, realiza-se no dia 14 de abril

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o Domingo de Páscoa, que se celebra este fim de semana, realiza-se em Loulé a Festa Pequena em honra da Nossa Senhora da Piedade (Mãe Soberana), padroeira da cidade, e que constitui o ponto de partida daquela que é considerada a maior manifestação religiosa a sul de Fátima. Neste primeiro momento, que coincide com o Domingo de Aleluia, tem lugar a descida do cerro da imagem da Nossa Senhora, pelas 17h00, em direção à Igreja de S. Francisco, onde chegará pelas 18h00. Segue-se a celebração solene da eucaristia de Páscoa. A descida da Santa obedece a uma marcha fácil de organização profana, a marcha acelerada a conduzir o pesado andor até à Igreja de S. Francisco. Durante os quinze dias da sua estadia neste local, as novenas e os sermões conduzidos por afamados oradores sacros, diariamente, perfazem uma vigília religiosa de grande poder espiritual. Na fase final deste período assinala-se o Dia dos Colaboradores, do Idoso e do Doente, da Família e dos Jovens.

A Festa Grande, o momento alto deste evento de cariz religioso que atrai à cidade milhares de peregrinos e visitantes, realiza-se no dia 14 de abril. É o adeus da padroeira à sua terra e o regresso à sua pequena ermida que, a poente, se ergue sobranceira a toda a cidade. Nesta manifestação de grande culto pela fé existem duas vertentes distintas: a religiosa, no seu mais sentido significado, e a profana, na mais ampla e liberal exteriorização popular. As celebrações começam logo pela manhã, com a eucaristia na Igreja de S. Francisco. Depois, a imagem da Nossa Senhora da Piedade sai em procissão até ao Largo do Monumento Eng. Duarte Pacheco onde se realizará mais uma celebração litúrgica. Á tarde realiza-se a missa campal, junto ao referido monumento e, após a eucaristia, tem início a grande procissão que percorre as ruas do centro de Loulé, que conta anualmente com milhares de fiéis. Após a passagem pelo Largo de S. Francisco e Convento de Santo António, a procissão percorre o caminho de volta ao santuário. Oito homens carregam o andor, vestidos de calças e opas brancas, sobem o íngreme cerro, ao ritmo acelerado da música da banda filarmónica, acompanhados pela população a exibir-se em manifestações diversas mas verdadeiramente sentidas.

Mira/CM Loulé

Festa Grande atrai milhares de peregrinos

Documento espantoso da fé cristã A escalada do caminho que dá acesso ao altar da Nossa Senhora da Piedade é um documento espantoso da fé cristã nesta terra. Ao esforço gigantesco dos homens que transportam a Virgem, alia-se a força espiritual dos muitos fiéis que, em vivas à Nossa Senhora, em passo vivo e na cadência musicada dos homens da banda, vão “empurrando”, no calor da fé e calçada acima, o pesado andor da padroeira. Recorde-se que a as festividades da Mãe Soberana constituem uma tradição que data do século XVI e que está bastante enraizada na comunidade local. Este cenário imenso da re-

ligiosidade louletana, de características tão locais como únicas, só pode ser sentido na alma de cada crente, quando vivido. Uma vivência feita de fervor religioso e de testemunho cristão, cuja explicação reside unicamente na essência dogJORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - MARÇO/2013

mática da própria fé. Com o passar dos tempos, a Festa da Mãe Soberana tornou-se também um cartaz turístico da cidade, do concelho e da região.



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Maquete tem 3 mil peças de cerâmica

"Semana da Paixão" em Castro Marim A

igreja do castelo de Castro Marim tem patente ao público até ao próximo domingo a exposição “Semana da Paixão”, composta por uma maquete com mais de três mil peças de cerâmica pintada à mão, que recria a paixão de Cristo, quando Jesus se entrega, voluntariamente, para ser cruxificado a fim de pagar pelos pecados do seu povo.

A exposição é organizada pela Associação Cultural das Amendoeiras em Flor, tem a colaboração da Câmara Municipal de Castro Marim e os apoios das juntas de freguesia de Castro Marim e Odeleite, da Paróquia de São Tiago de Castro Marim e da Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António. Inclui, ainda, uma mostra de arte sacra, com alguns artifícios ligados à religião cristã.

Arte Páscoa em Lagos As ruas da cidade de Lagos foram o palco escolhido para a exposição Arte Páscoa, composta por pinturas do artista Tolentino Lagos. A mostra foi inaugurada no passado dia 15 e os trabalhos estão suspensos nas varandas e no mercado do Levante. A organização é da Junta de Freguesia de São Sebastião e da Associação dos Artistas do Barlavento, que contam com o apoio da Câmara Municipal de Lagos. JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - MARÇO/2013

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Música I Cinema

10 Fernando Proença

LITERATURA INCLUSA Número de Março 1 – Melhor disco de 2012; mentira. Melhor disco que ouvi frequentemente (uma vez de quinze em quinze dias, antes de jantar ou ao deitar) em 2012 que não o sendo do ano e por uma razão que consigo precisar se me apetecer, se agrupa na grande faixa dos discos com mais ou menos idade que me acompanharam durante parte da minha vida e de que gostei. Não se ponham com coisas: existem outros discos dos quais gosto e até bem mais do que o seguinte, mas por uma ou outra razão ouvi menos vezes, mais irregularmente e com menos atenção, durante o ano passado. Mas não é que depois de um ano de audições pouco exaustivas fiquei com a sensação que não o vou procurar tão cedo?

Pink Floyd – The Dark Side Of The Moon. Original 1973; várias reedições posteriores em CD. EMI O exercício visa então saber se ainda tenho paciência para o escutar e, ao mesmo tempo tentar perceber se envelheceu bem ou se sabe a rolha. Vem-me à ideia que faz quarenta anos que foi publicado e que eu,

na melhor das minha intenções o tentei ouvir quase como se das primeiras vezes se tratasse. Mas não consegui e é isso que me faz espécie. Pensei, não sei se bem se mal, que fazendo então este ano da graça as quarenta primaveras que lhes falei atrás, saiu a obra de joalharia em causa, a indústria acabaria por fazer a sua parte, remasterizando os sons a partir de uma qualquer matriz perdia e entretanto encontrada num esconso corredor interior da editora. Ou seja, ainda estou à espera de uma nova versão da gravação original mesmo sabendo que os elementos do grupo juraram a pés juntos que já tinha saído mesmo a versão definitiva. Quando falam em versão definitiva é certo que no mínimo sairão mais cinco ou seis: misturadas por um engenheiro japonês que viveu na selvas da Indonésia desde o fim da segunda guerra mundial e só percebeu que já não havia combates há dois anos, quando foi descoberto, até a edição de uma gravação pirata, por exemplo, do grupo em causa, feita por um padre católico durante um concerto dado nos anos oitenta em Roma e que só agora apareceu dentro de um tacho usado pelo Papa Francisco quando ainda era autorizado a cozinhar. E em termos absolutos o disco é muito bom: as letras, muitas vezes auto depreciativas e as melodias soberbas, formam em certos momentos de puro deleite uma unidade épica que transcendeu a própria linguagem da música popular. Foi provavelmente o culminar formal de toda a onda do rock sinfónico que nos varreu os ouvidos nos meados dos anos setenta. Tudo isso é – penso – inegável. Mas como na moeda, também o apuro formal tem um reverso, o da superprodução em que todas as arestas foram tão limadas, tão esbatidas que não permitem hoje nenhuma descoberta. Não digo que o punk dos anos oitenta se tenha rebelado exactamente, contra The Dark Side of The Moon em particular, mas não andarei longe da verdade se lhes disser que este disco pode representar quase só por si, tudo o que fez

levantar uma geração em armas digo guitarras, em favor de um certo retorno às raízes mais puras da música popular, mais imediata e simples. A ideia com que fiquei é que resistindo ao tempo, as melodias não salvam o disco de um certo cansaço. Depois de anos sem o ouvir (dez?), bastaram-me duas audições completas para reconstituir a música minuto a minuto, faixa a faixa, inteiramente dentro da minha cabeça. Nesse sentido, discos formalmente muito mais imperfeitos poderão fazer o favor de nos convidar e conduzir a descobertas que pensávamos não contidas naquela gravação. Como disse, recomecei a ouvi-lo, depois, continuou a rolar dentro do rádio do carro, mas na realidade deixei de o escutar. Bastava-me seguir o que tinha na cabeça. 2 – Melhor disco de 2012, na secção reedições, em si próprio como na sua extensão designada por m b v, que é também uma reedição involuntária, saída já no corrente ano, o que demonstra que quando a herança é muito gorda e grande é irrepetível, quer para o grupo em si (nada de piadas fáceis), quer para o restante panorama musical. Meus senhores e minhas senhoras os My Bloody Valentine e Loveless. My Bloody Valentine – Loveless – Original de 1991, reeditado com acrescentos em 2012. CD Creation Este ano saiu m v b, (22 anos sem editar) que não se afasta assim tanto de Loveless, de modo a chamá-lo um disco de originais. O mundo está dividido entre as pessoas que não gostam e as que gostam de música (os que gostam assim – assim é favor dirigirem-se ao guichet 3). O mundo dos que gostam de música está dividido entre os que só gostam de melodias; os que gostam de melodias e ritmo e os que gostam de melodias e ruído; os que gostam de ruído e os que gostam de ritmo. O

Apontamento de Vídeo Mel "A pacata vida de um rapaz e da sua família é ameaçada quando o pai não regressa do seu trabalho de recolha de mel na floresta". Sobre este filme diz-nos o Le Monde: "O cinema de Semih Kaplanoglu apazigua, fascina, cresce". Já para Sérgio Abrantes, no Time Out Lisboa, "Mel" tem os pés, a Câmara e a cabeça ao mesmo tempo no mundo que nos rodeia, e numa outra dimensão quase impercetível e intangível, mas que o realizador nos re-

vela, lírica e subtilmente". Uma obra muito bela, quase perfeita, que obteve no 60.º Festival de Berlim o Livro de Ouro - Melhor Filme. Edição em DVD Realização: Smih Kaplanoglu. Com: Bora Altas, Erdal Besikcioglu e Tulin Ozen. Distribuição: Clap Filmes Vítor Cardoso

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mundo dos que gostam de melodias e ruído está dividido entre os que gostam de melodias e ruído em tempos e espaços diferentes e os que gostam de ruído e melodia em simultâneo. Estudos feitos por equipas extremamente competentes e que assessoram por exemplo o ministro Vítor Gaspar, não deixando que as suas previsões possam ter a mínima falha, dizem à saciedade (à sociedade, na boca de um conhecido treinador de futebol), que se tratam – em Portugal – de 234 pessoas as que pensam ser melodia e ruído juntos no mesmo espaço, a fazer a banda sonora da sua ideia de céu. Os My Bloody Valentine com Loveless, ajudaram a fazer desse conceito uma forma de arte. Começando pelo nome do grupo, uma corruptela de My Funny Valentine, até ao corpo de disco em causa. Poucas vezes tive essa sensação sonora: o de ser transportado para um universo cruzado entre as sinfonias celestiais de uns Cocteau Twins e a distorção sonora dos Sonic Youth, pelo mesmo grupo na mesma canção, o Noise Pop, para quem gosta de etiquetas aqui num seguimento menos denso e duro, do também excelente Psychocandy dos Jesus & Mary Chain (1985). Há quase de tudo em Loveless; electricidade, raiva, distorção, guitarras, vozes celestiais, refrões pop, pequenas surpresas cristalinas encostadas e encrustadas no mais ruidoso tema. Um daqueles discos que há primeira vista inviabiliza que o grupo que o compôs o ultrapasse em inventividade. Depois dele, estiveram vinte e dois anos em editar. Não foi fácil ultrapassar o muro.


Quatro neo-realistas algarvios D

ESTACAMOS quatro nomes de algarvios que desenvolveram a temática neo-realista, do barlavento ao sotavento algarvio. Assis Esperança, Leão Penedo, Manuel do Nascimento e Vicente Campinas. Eles deixaramnos uma literatura marcante desse período que vem desde a crise económica de 1929, vinda dos Estados Unidos da América do Norte, projectando-se pelos continentes, numa situação de grandes tensões económicas e sociais que se intensificaram, dando origem a problemáticas diversas e contagiantes. Eis, que, no conjunto das correntes literárias, em gerações inquietantes, passando pelos E.U.A com escritores notáveis como o descendente luso John dos Passos que surge com Manhatton Transfer, ou John Steinbeck, em Vinhas da Ira. (Prémio Nobel da Literatura-1962). Obras literárias que vêm em importante evolução, na revalorização que o neo-realismo se processou entre nós, portugueses. Os algarvios estiveram nessa urgência criativa e de denúncia em tempos difíceis e angustiantes, quando, pela Europa surgem ideais adversos ao viver da humanidade: Alemanha, Itália, Espanha, com Portugal nessa plataforma de grandes perturbações sociais de ditaduras que evoluiram de guerra civil (Espanha), a guerra mundial (Alemanha).

ASSIS ESPERANÇA - nasceu em Faro, em 1892. Foi um dos maiores escritores da sua geração. Companheiro de Ferreira de Castro, de Aquilino Ribeiro e de Fernando Namora. Em 1947 recebeu o prémio nacional Ricardo Malheiros, com o romance “Servidão” , em que o júri justifica: “Assis Esperança traçou quadros dolorosamente reais da miséria e do trabalho servil, tanto nas aldeias, como nas grandes cidades, em que é por vezes dantesco o quadro da miséria humana, nesse inferno bem terrestre”. Assis Esperança não só encontrou um tema intenso, como soube descrevê-lo, despersonalizando-se, para que o literato, quase, anonimamente , cumprisse a suprema função do verdadeiro escritor. E nessa baliza cronológica, na linha do realismo social, o escritor publicou: O Dilúvio (1932), Gente de Bem (1939), Servidão (1946), Trinta Dinheiros (1958), Pão Incerto (1964), Fronteiros (1973), o seu último romance ,dois anos antes do seu falecimento - 1975. A família do escritor e amigos admiradores, após o Movimento libertador do 25 de Abril, ergueram um monumento ao escritor, numa homenagem que fez descer, de Lisboa a Faro, companheiros ,amigos e admiradores. A escritora Matilde Araújo, pronunciou as palavras : “ Desde hoje, o físico ,representado no bronze fica connosco, aqui neste jardim onde nasceu, onde viveu e escreveu; o rosto do lutador está bem visível, erguido, como sempre foi.” (1). LEÃO PENEDO nasceu em Faro, em 1916. Jovem, segue para Lisboa, onde estuda no Instituto Industrial. A vida dos bairros lisboetas, as docas, o trabalho das classes mais desfavorecidas, levam-no a entrar na escrita neo-realista, tanto quanto vinha na linha de Manuel da Fonseca e de António Alves Redol. Nessa realidade da vida portuguesa, em que atinge uma efabulação imaginativa no contexto do realis-

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geração nos tem dado”. Maria Alzira Seixo interroga-se se o neo-realismo é a “Arte que apresenta, que representa o mundo ou produz um mundo próprio?” Interroga-se. Que só cada época o diz, no seu modo de se definir... Que o neo-realismo foi uma escrita de testemunho. Foi-o ! E os escritores algarvios, nisso, foram, nas suas escritas de chumbo, os retratistas dos seus tempos. Agora, que passa o centenário do escritor de Monchique, é tempo de o lembrar como um importante interveniente do seu tempo, em imagens que vão do etnógrafo à construção de uma de uma narrativa dolorosa e poética do neo-realismo português. Monchique deve-lhe uma homenagem em reconhecimento. Nada justifica que o não faça !

mo social. Penedo está nessa linha dos ambientes populares da capital. O seu primeiro livro intitulouse de Multidão (1942), seguiu-se Caminhada, publicado em 1943 e que mereceu todos os rancores da censura do Estado Novo. É uma narrativa pungente. A sua obra Caminhada, segue em edições sucessivas à margem da PIDE, que levou o autor a sofrer interrogatórios e prisões de cada vez que saía um novo livro, como o Circo (1945), seguindo-se Raiz e o Vento, sendo as suas obras muito traduzidas, tanto em línguas checa, alemã e finlandês. Ainda o seu livro, O Circo, foi adaptado ao cinema, em título Saltimbancos, em que a grande actriz, Maria Olguim à frente de um elenco de actores, como Helga Liné e Artur Semedo recriam as vidas trágicas dos saltimbancos portugueses... É de lembrar que a censura cortou a fita de Saltimbancos, num terço da realização de Manuel Guimarães. MANUEL DO NASCIMENTO nasceu em Monchique no ano de 1912. Depois dos estudos em Faro, segue para o Instituto Superior Técnico

de Lisboa, onde se formou em engenharia de minas. Terá uma vida curta de 54 anos. Morrerá de tuberculose em 1966. Este escritor viveu intensamente a sua vida no interior de minas para contar nos seus livros, desde o publicado em 1942, “Eu Queria Viver”. Essa realidade foi um choque, para uma vida de jovem burguês. Ao iniciar a sua profissão molda toda a sua personalidade ao contacto com as vidas e os problemas os mineiros. O contacto com essa vida fálo viver em luta permanente consigo próprio, despertando no futuro escritor um anseio de justiça, que a época perturbada da juventude tinha ignorado. Doente, regressa a Monchique, onde vive num ambiente familiar conservador, que o leva a escrever mais e mais. Publica, de seguida, “Mineiros” 1944. Segue-se “O Aço Mudou de Tempera”. Volta às minas para “O Último Espectáculo” e “Agonia”. São obras que confere ao escritor algarvio, nessa vertente épica, em gestos de audácia e nobreza... João Gaspar Simões, um dos mais notáveis biógrafos de Fernando Pessoa e Eça de Queirós, dedica ao livro de Nascimento, “Eu Queria Viver”: “Das mais humanas e originais obras que a nova

JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - MARÇO/2013

ANTÓNIO VICENTE CAMPINAS nasceu e morreu na sua Vila Real de Santo António - 19101998. Seguramente podemos afirmar que nasceu para contar a vida dos mais desprotegidos. Senão, peguemos nos seus 30 livros publicados, entre a prosa e a poesia, e neles encontraremos a força incontrita em comunicar. Para o sistema político da ditadura, Vicente Campinas foi um escritor “maldito”. Pela escrita sofreu todos os ditérios do sistema que perpetuou em tempo de vivência das gentes ribeirinhas do Guadiana, em especial das deserdadas, as vozes proibidas, o calar obrigatório. Pela circunstância desse “proibido” realista, tão adverso ao sistema, nessa posição de oposicionista, porque convicto e coerente, sofreu as prisões, medidas de segurança, de liberdade vigiada e residência fixa. Vis perseguições que o forçam ao exílio. Conheci Campinas por Paris, no início dos anos sessenta. Lera alguns dos seus livros, sem conhecer o escritor. Já o homem das letras recebera prémios internacionais. Este guardião das estrelas, como gentilmente lho consideraram, escreveu... escreveu, não em silêncios, mas em gritos, em voz alta. No exílio escrevera, nos anos sessenta, o poema “Catarina”, que José Afonso musicou e o fez conhecer pela Europa. Em 1953, Campinas publicou “Fronteiriços”. Livro logo apreendido, que tornará a ser reeditado em 1986. Importantes nomes da crítica portuguesa, brasileira e francesa, escrevem as opiniões da maior admiração ao poeta do Guadiana, desde a brasileira Renata Pallottini, na imprensa de S. Paulo (Brasil), que considera o escritor português: “Uma narrativa de primeira qualidade”, Do Rio de Janeiro “Jornal do Comércio”, Enéas Athanázio escreveu: “Neste grande livro o seu desejo é pintar, debuxar quadros vivos, físicos e humanos, daquela paisagem do Sul de Portugal que o toca tão ao fundo. Guedes de Amorim, no “Século Ilustrado” (Portugal): Assim procede Vicente Campinas, nome de escritor feito, com o seu estilo ágil e terno, com as suas opiniões sempre em voz alta. Comunicações: 10 Abril/12, no Clube Farense-Faro.,e Biblioteca Municipal de Lagoa-26/4/ /2012. 1) “A Estatuária em Faro no Século XX- Edição Anais- C.M.F. 1993

Teodomiro Neto



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