JA Magazine | OUT 2012

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M AG A Z I N E PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO N.º 2901 DE 1 DE NOVEMBRO DE 2012 DO JORNAL DO ALGARVE E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

Juan Carlos Calvin - Oceana

Riquezas subaquáticas



3 Investigadores descobrem mais espécies no banco submarino de Gorringe Estas descobertas, bem como o facto de a zona já estar a apresentar sinais de contaminação, levou os investigadores a lançar o alerta para a necessidade da sua proteção

Juan Carlos Calvin/Oceana

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ma equipa de investigadores do projeto Oceana, que conta com a colaboração da Universidade do Algarve, encontrou espécies nunca vistas nas montanhas submarinas de Gorringe, durante a expedição realizada este ano e que terminou no início de outubro. Esta área montanhosa submarina, conhecida por Banco de Gorringe, localiza-se 250 quilómetros a sudoeste do Cabo de São Vicente e está considerada uma das montanhas submarinas mais importantes da Europa e com maior diversidade ambiental. Os cumes desta cadeia montanhosa encontram-se a cerca de 30 metros da superfície e a base a mais de 5.000 metros de profundidade. Este facto contribui para que possam ser encontradas nesta zona espécies cujo habitat são as águas iluminadas e menos profundas, mas também espécies de grandes profundidades e que vivem na mais completa escuridão. Outra das curiosidades tem a ver com a sua localização, perto da costa algarvia, um facto que permite a existência de espécies do Atlântico e também de outras, oriundas do Mediterrâneo. “Na expedição deste ano podemos observar algumas espécies novas cuja existência no Gorringe se desconhecia, tais como os corais negros arbóreos, hidrocorais, tubarões sapata, esponjas ninho e diversas gorgónias”, explica Ricardo Aguilar, diretor de investigação da Oceana Europa e chefe da expedição. “Temos dezenas de espécies que ainda não identificámos. Esperamos que nos proporcionem novos dados sobre estes ecossistemas e facilitem a proteção e conservação deste enclave único”, frisa Ricardo Aguilar, acrescentando que as montanhas são visitadas, por exemplo, por grandes espécies pelágicas, entre as quais baleias, golfinhos ou peixes espada. À superfície, e de acordo com o investigador, abundam aves como os pequenos painhos ou as pardelas. “Durante este ano realizámos imersões para poder observar as espécies de zonas mais profundas que sobem pelas ladeiras das montanhas à procura de presas. Assim, encontrámos diferentes tubarões de profundidade e alguns outros peixes mais difíceis de observar”, revela o mesmo investigador. “Os cumes encontram-se cobertos de bosques de algas, entre as que se destacam os grandes kelps. Sobre os picos mais altos concentram-se importantes cardumes de charuteiros catarino, carapaus e barracudas e nas zonas mais profundas abundam os fundos detríticos cobertos de restos de corais, briozoários e moluscos, nos quais vivem esponjas ninho e pink frogmouths”, explica o investigador. As imagens e amostras recolhidas vão ago-

ra ser analisadas pela Oceana e pela Universidade do Algarve.

Sinais de contaminação e necessidade de proteção Mas nem tudo foram boas notícias. Durante a expedição, os investigadores documentaram a presença de lixo e de aprestos abandonados. Estes sinais de contaminação representam um alerta para a necessidade de proteção daquela zona. “Apesar de muitas zonas serem totalmente virgens, alguns dos fundos rochosos já estão a ser fortemente afetados pela atividade humana, com infinidade de aprestos pesqueiros abandonados, como nassa, fios, redes e cabos”, revelou a Oceana em comunicado enviado, entretanto, às redações. Por se tratar de uma zona com “impressionantes bosques de algas” e “uma grande variedade de habitats com centenas de espécies”, a Oceana lançou o alerta para que se potencie a proteção daquele enclave. A primeira expedição da Oceana ao Gorringe aconteceu em 2005 e, na altura, foram identificadas 36 espécies até então desconhecidas naquela zona do Atlântico. Em 2011, a segunda expedição identificou mais cerca de uma centena de espécies.

Antes, em 1998, a zona já tinha sido explorada pela Associação Atlântico Selvagem, em colaboração com a Universidade do Algarve. Na altura, os investigadores realizaram uma expedição ao pico Gettysburg. Além da captação de imagens, foram recolhidas várias amos-

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tras de algas, de moluscos gastrópodos e de rochas. No ano seguinte, e em 2003, decorreram novas expedições científicas que resultaram na recolha de diversas amostras biológicas e geológicas. Domingos Viegas


4 Achado acidental faz nascer mito Os "misteriosos barcos do Arade" foram descobertos por acaso, em 1970, durante as dragagens do porto comercial de Portimão O tesouro mais mediático encontrado até hoje em águas algarvias remonta ao dia 10 de outubro de 1970. Nessa manhã, o diretor da então junta autónoma dos portos do barlavento, Analide Guerreiro, telefonou bem cedo para o seu amigo em Loulé, José Farrajota, membro da associação dos arqueólogos portugueses, delegado da junta nacional de educação e mergulhador experiente. Do outro lado da linha, José Farrajota ouve dizer que a draga que procedia ao desassoreamento do rio Arade havia recolhido pedaços de madeira, pregos de cabeça prismática e uma moeda em ouro da imperatriz Faustina, do século II d.C. As dragagens foram suspensas e de imediato foram organizadas com urgência missões de mergulho naquele local. Descendo sete metros por um cabo, para evitar tocar no fundo lodoso (que prejudica bastante a visão subaquática), os mergulhadores depararam-se com um barco esventrado à proa, apresentando danos recentes. Mas a madeira de que era feito, essa, parecia acabada de entalhar ou não estivesse preservada pelo lodo desde que se afundara. Mais tarde, os especialistas chegaram à conclusão que o barco que tinha sido assinalado como "romano" não era romano e que afinal havia dois barcos relativamente perto um do outro, que se confundiam num só, nas águas escuras e barrentas do fundo do rio. Um deles, datado pelo método do carbono 14, tinha cerca de 600 anos. O outro barco tinha o casco trincado e era aparentemente de construção nórdica. Hoje em dia, os arqueólogos continuam a estudar estas embarcações para apurar mais detalhes sobre os chamados "misteriosos barcos do Arade". N.C.

Centenas de vestígios arqueológicos têm sido resgatados do fundo do Arade ao longo das últimas décadas

Nova campanha para revelar "tesouros" escondidos no fundo do Arade

Arqueólogos subaquáticos tentam desvendar naufrágios misteriosos Tudo começou há 42 anos, quando foram acidentalmente descobertos os primeiros achados arqueológicos no fundo do rio. Desde então, a euforia em torno dos "tesouros" encobertos no Arade tem levado os arqueólogos a promoverem sucessivas campanhas nos locais onde já foram identificados vários navios naufragados, que datam desde o período romano até à época contemporânea. Ontem, arrancou uma nova campanha que pode revelar mais tesouros e mistérios da nossa história

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primeira descoberta no rio Arade surpreendeu o mundo há mais de quatro décadas. Moedas de ouro romanas e restos de madeira de embarcações antigas foram descobertas acidentalmente, em 1970, durante as dragagens do porto comercial de Portimão. Foram os primeiros achados arqueológicos subaquáticos em Portugal...! O achado figurou nas primeiras páginas de todos os jornais do país, dando início a um mito que hoje está mais vivo do que nunca. A descoberta dos dois misteriosos navios naufragados (a que os arqueólogos batizaram de Arade 1 e Arade 2) foram os primeiros achados arqueológicos subaquáticos efetuados em Portugal e, mais tarde, a partir de 1998, viriam a impulsionar a maior campanha arqueológica subaquática até agora organizada no nosso país. As operações foram conduzidas pelo antigo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS) e pelos mergulhadores do Grupo de Estados Oceânicos (GEO), de Portimão, que pesquisaram a foz do Arade e descobriram centenas de artefactos e vestígios arqueológicos. Algumas dessas peças estão hoje expostas no museu municipal de Portimão, mas muitos outros permanecem ocultos nas profundezas do Arade. Desde então, a arqueologia subaquática em

Portugal nunca mais foi a mesma. Atualmente, o inventário nacional do património subaquático conta com mais de nove mil registos, dos quais mais de 400 encontram-se no Algarve, a maioria naufrágios. E, na região, o rio Arade é um dos locais que mais tem concentrado as atenções dos arqueólogos nos últimos anos.

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Diversos vestígios encontrados nas últimas décadas "A foz do rio Arade é um porto natural de abrigo, que serve os vários núcleos urbanos, nomeadamente Portimão, assim como corresponde a uma importante via de navegação,


5 comunicação e penetração no interior do barlavento algarvio, realidade que se encontra amplamente documentada pelas fontes escritas e por diversos vestígios arqueológicos identificados nas últimas décadas", adiantam os arqueólogos Cristóvão Fonseca e José Bettencourt, do Centro de História de AlémMar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que coordenam, desde a passada semana e até final deste mês, uma nova intervenção no Arade. A campanha, que conta com os apoios do Museu de Portimão, Direção-Geral do Património Cultural, Clube Naval de Portimão, clube subaquático de mergulho Portisub, centro de mergulho Subnauta e da empresa de arqueologia Archeosfera, enquadra-se num projeto de investigação denominado "Entre o Mediterrâneo e o Atlântico: uma aproximação ao património cultural subaquático do estuário do rio Arade". Segundo os responsáveis, os trabalhos arqueológicos subaquáticos a realizar neste período são "a prospeção visual, registo e levantamento", incidindo sobre os sítios arqueológicos denominados Ponta do Altar A e B, GEO 5 e Arade B/GEO 7. Estes locais, salientam, "correspondem a contextos de naufrágio e fundeadouro, cuja cronologia abrange desde o período romano até à época contemporânea".

Recuperar a investigação arqueológica no Arade "Esta campanha marca o início de um projeto que pretende recuperar a investigação arqueológica no estuário do rio Arade e a divulgação do seu património cultural subaquático, através da identificação, caracterização e valorização do seu potencial científico, museológico, pedagógico e turístico", sublinham os coordenadores do projeto. A intervenção em curso até final de outubro surge numa altura em que as centenas de achados arqueológicos que já foram identificados, mas subsistem no fundo do Arade, correm o risco de destruição. O perigo vem das

Os arqueólogos vão dedicar especial atenção aos sítios onde já foram identificados diversos naufrágios

âncoras das embarcações, da constante mobilidade das areias, das fortes correntes, mas também da falta de apoios para estudar e resgatar a abundância de vestígios perdidos no fundo do rio, que percorrem todas as épocas e podem vir a contar a história completa da região. A denúncia foi feita ao JA por Alberto Machado, que há mais de 30 anos mergulha no Arade para revelar ao mundo os tesouros perdidos no rio. Segundo o investigador e fundador do Grupo de Estudos Oceânicos (GEO), a

partir de 2006 houve "um desinvestimento total na arqueologia subaquática no Arade". Ao longo de milhares de horas debaixo de água, Alberto Machado e a sua equipa encontraram centenas de vestígios arqueológicos de vários períodos da história, fazendo deste rio algarvio um dos principais palcos da arqueologia subaquática mundial. Punhais decorados, machados e pontas de lança (Idade do Bronze), esculturas de bronze (Idade do Ferro), ânforas, peças de cerâmica, moedas e selos (Período Romano), cerâmicas,

moedas e pratos decorados (Período Árabe) e peças em estanho, compassos de cartear e canhões de bronze (Época Moderna) fazem parte dos "tesouros" submersos já identificados no Arade. Já a nova campanha pretende ir mais além para resolver o mistério quanto ao número de embarcações antigas submersas nas profundezas do rio Arade. Nuno Couto

Primeiro relato de naufrágio remonta ao ano 996 Durante séculos, o rio Arade foi a principal via de comunicação para o interior do barlavento algarvio. Silves era então a capital cultural e económica do Algarve, com o triplo da população que tem hoje

Segundo relatos históricos, em julho de 996 uma frota "viking" subiu o rio Arade, tentando tomar de assalto a cidade de Silves, que foi parcialmente destruída

Hoje muito assoreado, o rio Arade até já foi navegado pelos "vikings". Segundo os dados oficiais, a referência escrita mais antiga relativa a um naufrágio ou perda de navio em águas portuguesas é da autoria do cronista árabe Ibn Adati. O documento reporta-se ao dia 23 de julho de 996, quando uma frota "viking" que subiu o rio Arade, tentando tomar de assalto a cidade de Silves, foi parcialmente destruída. Deste combate resultaram os mais antigos naufrágios registados em águas que hoje são portuguesas. Xelb - a Silves árabe - era por aqueles tempos a capital cultural e económica do Algarve, opulenta em riquezas e construções, também conhecida pelos estaleiros navais, tendo sido imortalizada através das canções dos poetas.

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CCDR promoveu Jornada de Trabalho em Bruxelas:

Empresas algarvias debateram caminho para a internacionalizaçao T

rês dias em Bruxelas, numa visita que decorreu sob a égide da CCDR - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, tendo como fonte de diálogo «Multiplicadores de Opinião à Comissão Europeia», permitiu que o Algarve ficasse um pouco mais por dentro do que se vai fazendo para se esgrimir a crise e aproximar as suas empresas da internacionalização e no minimizar dos constantes choques com a burocratização e as diferentes leituras que muitas vezes assaltam a avaliação do melhor entendimento sobre a fiscalidade, porque muitas vezes as dúbias interpretações são tão grave que acarretam prejuízos que chegam a pôr em causa a continuidade das mesmas. Importa, contudo lembrar, que associados à iniciativa da CCDR no âmbito do já referido Centro Europe Direct Algarve, chefiada em termos técnicos por Catarina Cruz e outros técnicos deste organismo, tais como Ana Paula Lopes, Regina Silva e Vera Laura e ainda Adriano Guerra, vice-presidente da Instituição, estiveram presentes os empresários algarvios – António Correia, da Novacortiça/Pelcor (S. B. de Alportel), Isabel Conceição, da Hubel Grupo (Pechão - Olhão), Ercídia Pereira, da Sopromar (Lagos) e André Teixeira, da Pescarade (Ferragudo - Lagoa) e Ana Horta, da Publirádio (Faro), e na qual participou ainda o investigador Miguel Neves dos Santos, do IPIMAR. Todavia, não devemos esquecer o apoio local (Bruxelas), que nos foi dado com saber e competência por Adelaide Pinto do «serviço de visitas». As sessões que tiveram lugar em diversos edifícios da Comissão Europeia em Bruxelas, contou com a participação dos seguintes técnicos e especialistas: Manuel Romano, Direcção Geral de Comunicação (Arquitectura Institucional e Processo de Decisão Política), Maddalena Monge, Serviço Audiovisual – Direcção Geral de Comunicação (Europe By Satélite), Fernando Cardoso, Direcção Geral das Empresas (A Política Comum de Pescas, o Quadro Jurídico Actual e as Perspectivas de Evolução), e Alexandra Sá Carvalho – Direcção Geral Empresas e Indústria (A Internacionalização Empresarial Dentro e Fora do Espaço Europeu). O conjunto destes diálogos/debates transmitidos deste vasto leque de intervenções de alguns técnicos do Parlamento Europeu, deram a conhecer questões de grande sensibilidade negocial, como as pescas e a internacionalização das empresas algarvias. A estada em Bruxelas não trazendo nada de novo em matéria de concretização para as empresas, serviu em primeiro lugar para que as mesmas sentissem que existe um manancial conjunto de dificuldades, mas conferiu também com toda a clareza que o trabalho que a CCDR vem fazendo e a sabedoria e conhecimento dos seus técnicos mais que a ponte que encurta distâncias, é um mentor de confiança não apenas na abertura de janelas, mas também na proximidade com a melhor informação, desburocratização e fonte de diálogo para a parceria com outras empresas, neste caso es-

trangeiras, e novos investidores. É um facto que o tempo em que o Algarve e o seu mundo empresarial se deslocava a Bruxelas e levava consigo o problema e regressava com a solução, com a entrada quase imediata no mercado, foi e como se ousa dizer «chão que já deu uvas», mas isso, não invalida, nem acentua esmorecimento, antes «alma até almeida» para que os nossos empresários encontrem as melhores linhas com que se possam coser e que essa concretização lhes permita, por um lado melhorar toda a dinâmica da empresa e conquistar novos mercados e fontes de negócios, mas também a própria solidez dos seus investimentos e consequente crescimento dos postos de trabalho. Em Bruxelas ouvimos e aprendemos, como não é fácil a vida das empresas e obviamente dos empresários, agora mais acanhados na sua liberdade expressiva por claros imperativos da crise, que se manifesta cada vez mais na decisão de minar as micro, pequenas e médias empresas, que no seu conjunto se constituem como a solidez maior da força económica e empregadora do País e que escorrega ninguém sabe para onde e sem margem imediato para inflexão desse caminhar… Importa referir que a CCDR permitiu que as já referidas empresas participassem no encontro e no palco da Comunidade Económica sem papas na língua, apresentando as suas empresas e os seus projectos, e o que representam cada uma delas e no seu conjunto em termos económicos, empresariais e sociais para o Algarve, mas também colocando questões e dúvidas sobre a fiscalidade e a burocracia, brutalmente injusta nos dias de hoje, assim como a ausência de consistência na diferente informação e na sua sistematização e projecção dos seus próprios dossiers. Nem de propósito, dias antes da presença do grupo de empresários algarvios em Bruxelas teve lugar a «Semana Europeia das Pequenas e

Médias Empresas» sob o lema: «Mais mulheres empresárias para criar crescimento e emprego», e o Algarve integrou no conjunto dos empresários presentes duas mulheres como já referimos e mesmo a Novacortiça/Pelcor tem na seu «reino» uma mulher, Sandra Correia, embora desta vez estivesse representada por seu irmão António Correia. Em quase todas as «conversas» foram visíveis os novos desafios e o reconhecimento sob o contributo dos empresários para o bem-estar, o emprego, a inovação, a criatividade tendo ainda como metas a competitividade na Europa. Por isso, apesar de toda a informação disponibilizada pela CCDR, os empresários quiseram saber mais nas várias vertentes em que se promove a expansão empresarial e os diversificados campos de oferta, sobretudo, em relação às empresas que se apresentaram desde as pescas à indústria naval até à agricultura e cortiça. É evidente que quando se fala em pesca, todos sabemos tal como foi confessando Fernando Cardoso, que “Nós temos o melhor peixe do mundo, e este é um ponto que nos deve honrar e que é um privilégio possuirmos factos que sustentam esta realidade”, para depois lembrar que “As são uma área que gera controvérsia e que se presta a várias situações, todavia existem alguns consensos a nível nacional e internacional, sobretudo, no quadro dos agentes económicos.” Após sublinhar uma enorme teia de consensos e sustentar a importância da pesca na sua enorme fila de actividades sem esquecer o social, voltou a lembrar que “Portugal exporta 800 milhões de euros em produtos da pesca e que no nosso País circulam setecentas mil toneladas de peixe ou produtos das pesca, que é a maior da Europa e a segunda maior do mundo, o que confere per capita, oitenta quilos de peixe por ano.” Lembrou ainda Fernando Cardoso que “Por-

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tugal é cada vez mais uma nação oceânica e que a ideia de uma política integrada de pescas foi uma ideia portuguesa. Temos quatro milhões de km2 de mar de pesca, todavia a Europa está cada mais atenta ao que irá acontecer quando do alagamento do canal de Suez. Depois falou-se, mas sem respostas que convidassem ao registo porque as perguntas também eram sensíveis, sobre a pesca costeira e artesanal, porque por vezes o que vê no papel, está longe do que se passa no mar.” Claro que na Comissão ainda se animam as empresas dizendo: «Que as pequenas e médias empresas europeias deviam aproveitar melhor os benefícios dos mercados emergentes em rápido crescimento, como é o caso da China, Índia, Rússia ou das regiões da Ásia do Sudoeste ou da América Latina». Contudo, apesar de todo o forcing dos técnicos da CCDR, ainda se avistam cortinas de nevoeiro, que não permitem, também pela sua fragilidade económica e falta de confiança às respostas do País, para se abalançarem em busca desta estrada longa onde dizem que existe a possibilidade de crescimento e gigantescos negócios económico e financeiros… Por isso, numa hora mais grave de reflexão, ninguém esqueceu: «Os problemas são de tal forma graves que se torna cada vez mais difícil que os países possam solidarizar com rapidez e aderir a este clube aberto em que se transformaram pelas exigências da crise. A Polónia é o País que mais cresce, no entanto, o Conselho Europeu é cada vez mais importante no campo decisório e ao contrário do que então acontecia, agora esta quase permanentemente reunido para que se possam encontrar soluções, o que quer dizer, que essa acelerada dinâmica do Conselho Europeu é o grande regresso do Tratado Europeu, devido à gravidade de alguns Estados Membros apresentam, como é o caso de Portugal.» Também vivemos tranquilamente a agitação


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Fernando Romano, falando sobre a arquitectura institucional e o processo de decisão política

das noites e a proximidade com alguns portugueses, desde há muito com negócios em Bruxelas, como foi o caso do grande Manuel de Bruxelas, proprietário da Casa Manuel, uma lição de gastronomia situada no «34 Grand Place», isto é no coração da Capital da Bélgica, em ple-

no coração, onde na companhia de sua esposa Isabel, matamos lembranças de um belo bacalhau assado ao colo de uma «piriquita», com tudo a acabar quase sempre com o António Correia e a Catarina Cruz, sentados no «Metrópole» como se fossemos na banco de trás do

Com o nosso amigo Manuel de Sousa, «Manuel de Bruxelas» um enorme louletano que faz da «Taberna Manuel» na Grand Place, uma espécie de parlamento da gastronomia

autocarro, uma espécie de castigo e bem voltados para a frente, em momentos onde brilhou a qualidade excepcional de todo o grupo. Talvez esta visita ao Parlamento Europeu sob a égide da CCDR e «guiada» pela Eng.ª Catarina Cruz, que teve uma acção de grande importân-

cia em todos os diálogos e movimentações dos empresários, possa ser melhor explicada pelas respostas que registámos da própria após o cair do pano da nossa presença em Bruxelas. Neto Gomes

Catarina Cruz:

“Competitividade empresarial e uma condição de sobrevivência das empresas” Que reflexão faz desta visita e se os objectivos propostos em termos de poder vir a animar ainda mais as empresas do Algarve, em sectores tão sensíveis como as que se fizeram representar, foram conseguidos? O Centro de Informação Europe Direct do Algarve foi convidado, pela Unidade de Visitas da DG Comunicação da Comissão Europeia, a reunir um grupo de multiplicadores de opinião para uma visita à Comissão Europeia, em Bruxelas. O Centro seleccionou vinte e quatro entidades da sua Rede de Parceiros, tendo em vista assegurar a constituição de um grupo heterogéneo e diversificado do ponto de vista das áreas sectoriais dos parceiros e a relação de cooperação que desenvolve com os mesmos. Para além desta iniciativa contribuir para facilitar a aproximação do Centro Europe Direct do Algarve aos potenciais parceiros na região, que são essenciais para que o mesmo possa atingir os objectivos visados com o seu estabelecimento e funcionamento, esta visita proporcionou aos envolvidos uma maior conhecimento do funcionamento e da importância da Comissão Europeia na vida de todos os cidadãos europeus. O Centro Europe Direct do Algar-

ve tem como missão disponibilizar informação europeia aos cidadãos. A estratégia de informação e comunicação da União Europeia tem como base a complementaridade da ação entre as instituições comunitárias, os Estados-Membros e as Regiões através dos seus cidadãos. Somos quinhentos milhões no espaço europeu. Esta visita teve um saldo bastante positivo, apesar de ser um grupo, bastante heterogéneo em idade e

profissões, resultou numa experiencia muito positiva em termos de resultados no que diz respeito às palestras sob temas europeus bem como as nas relações inter pessoais e profissionais. Convém referir que as empresas presentes representam sectores bastante diferenciados, mas apresentam problemas e desafios comuns. O facto das empresas presentes em Bruxelas serem empresas com algum prestígio para a região e in-

clusive na sua própria internacionalização empresarial, pergunto se as mesmas têm tudo para o crescimento e para a expansão, e se podem contribuir pela força da sua identidade, para o desenvolvimento mais protegido e organizado de áreas tão sensíveis e tão necessárias, como o mar, a indústria naval, a agricultura/água e a cortiça? As empresas participantes nesta visita de multiplicadores de opinião foram selecionadas pelo facto de serem detentoras de politicas de inovação e de internacionalização nos seus sectores. Aliás, a Nova Cortiça e a Hubel são empresas que tem candidaturas aprovadas nos sistemas de incentivos do PO Algarve 21 (QREN), a Sopromar tem uma candidatura em análise no mesmo programa de incentivos e a Pescarade efectua as suas capturas ao largo das Ilhas Maurícias. Nesse sentido estas empresas são uma referência para a nossa região já com algum reconhecimento internacional. Na área da publicidade, esteve presente a empresa Publirádio, que também tem uma candidatura aprovada no mesmo programa e está à procura de novos mercados internacionais. Quais são os novos passos a ser dados para que estas viagens e esta procura de soluções para as empre-

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sas e a nossa região, tenham um dia seguinte? Para as PME , as quais constituem a base do tecido empresarial do Algarve, prosseguir o caminho da globalização internacionalizando-se, mais do que um desígnio é uma necessidade. De facto, a internacionalização apresenta-se, actualmente e de forma crescente, como uma estratégia determinante da competitividade empresarial e uma condição de sobrevivência das empresas. A criação de capacidades de gestão e de intervenção comercial em mercados progressivamente mais alargados, bem como de condições para o desenvolvimento harmonioso das vantagens competitivas das empresas e da determinação para a actividade exportadora pode revelar-se uma condição indispensável para o sucesso do crescimento e da competitividade sustentada destas empresas. Estas viagens resultam sempre numa troca de conhecimento e de experiências entre os participantes entre si e entre os participantes e os representantes das diversas organizações da Comissão Europeia e por isso terão sempre um papel importante no passo seguinte a dar pelas empresas.” N.G.


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Alcoutim aposta no desporto para promover a saúde O Município de Alcoutim vê no desporto a melhor estratégia de criar um concelho livre de doenças

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apoio à área do desporto tem sido um dos pilares da política da Câmara Municipal de Alcoutim nos últimos anos, como forma de melhorar a saúde e o bem-estar da população. “A prática desportiva temse revelado uma das melhores, senão a melhor, estratégias de combate a problemas psicológicos, dependências e doenças em geral”, afirma o médico e autarca, Francisco Amaral. Recentemente foi lançada em Alcoutim a campanha “Mais Atividade, Mais Qualidade”, uma ação de sensibilização e informação sobre a prática desportiva no concelho. Na última semana, e no mesmo âmbito, foi levada a cabo outra açãoa com a celebroação de contratos-programa com três coletividades do concelho. “O grande objetivo é apoiar os jovens atletas e promover o desporto”, explicam os responsáveis autárquicos.

Apoio de 36.000 euros No total, foi concedido um apoio de 36.600 euros às três associações, abrangendo um conjunto de modalidades diversificadas. Os contemplados foram o Grupo Desportivo de Alcoutim (canoagem), Associação Inter-Vivos (futsal) e o Clube Desportivo de Vaqueiros (futebol). As referidas atividades desportivas compreendem cerca de uma centena de atletas, de diferentes faixas etárias.

Grupo Desportivo de Alcoutim (canoagem)

Clube Desportivo de Vaqueiros (futebol) Grupo Desportivo de Alcoutim

Inter-Vivos (futsal)

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Música I Cinema

10 Fernando Proença

LITERATURA INCLUSA

Número Trinta e Seis 1 – Noutro ponto deste jornal (e já agora noutra data, para vos poupar a certas e determinadas ideias), escrevi sobre o que alguns articulistas políticos designam sobre, a incapacidade que o actual governo tem, de passar a mensagem sobre os objectivos da austeridade. Assiste-lhes então a ideia peregrina que tudo está terrivelmente bem pensado e que desgraçadamente, apenas um pequeno problema semântico faz com que o povo não perceba o alcance das medidas propostas, podendo então designar-se o conjunto desse mesmo povo por ignorantes. Não lhes vou então escrever sobre o malfadado (a palavra é outra mas as crianças podem ter acesso ao artigo…) deficit, sobre as receitas que diariamente lemos e ouvimos para o resolver, mais de quem é a culpa, que todos sabemos ser sempre dos mesmos: os ignorantes. Interessame mais a comunicação, já agora que falamos dela. Mas se me é possível uma escrita lateral, comparo a actuação do actual governo com a entrada de Artur Jorge como treinador do Benfica. Se bem se lembram o que fez esse grande líder, essa grande cabeça? Entrei, vou moldar a equipa à minha imagem e semelhança; por isso faço tábua rasa de tudo o que outros fizeram, destruo tudo muito bem destruído e só depois, de não estar pedra sobre pedra, começarei a construir o jogador novo, o que irá alcandorar o Benfica ao mais excelso patamar de excelência. O que o governo está a fazer é mais ou menos isso, só que com a economia, o dinheiro e as pessoas. Uma espé-

cie de engenharia social, como a dos comunistas, aqui por via neo - liberal. O homem novo chegará, mas só depois de se ter destruído o antigo tecido económico e social: os ditos ignorantes. Acresce ainda um pormenor: as eleições são daqui por três anos e meio. Sabendo que o português médio é manso e desmemoriado, Passos Coelho, estica agora a corda toda para que lhe sobre algum, de modo que ano e meio antes das urnas possa dar umas benesses, sem as quais ganhará tanto como eu esteja a caminho de me tornar especialista em islandês antigo. Para mais, batendo Portugal no fundo, depois disso as coisas só podem mesmo melhorar. Como a do Benfica, no ano em que ficou em quinto lugar. Nos anos seguintes até o sofrível passa por excelente. Pegando outra vez na comunicação: para boas almas, então estará tudo bem, menos a forma como se o apresenta o saque aos ignorantes. E onde é que a forma fraqueja, segundo os preciosos analistas?, pois no mau aspecto que as medidas tomam de início (más, muito más, ruins de todo), para depois recuarem para outras (menos más, menos muito más, menos ruins de todo). E vêem nisto um sinal de fraqueza, como se precisassem do constante escrutínio do povo. Precisar, precisam, mas como complemento para o seu plano. Que na minha opinião consiste em estudar mais ou menos (ponha um dois no totobola) uma matéria, pensar no pior cenário que pode consubstanciar e divulgá-lo cá para fora, como se de um segredo a que alguém que não do governo – tem acesso. Os objectivos são dois: 1 – Ver se a reacção popular é muito negativa ou se ninguém dá por nada. 2 – Criar a ideia que está prestes a sair cá para fora uma coisa muito má. Quando toda a gente já estiver certa de como as medidas são do piorio, então entra a suavização. Este é um processo mental que usamos no futebol, já que estamos hoje em maré. Se eu for adepto de uma equipa muito fraquinha que vai jogar com outra muito mais forte posso não pensar

no resultado. Pensar que há um milagre e ganhamos ou o mais normal - que perdemos por uma grandessíssima cabazada. Se as coisas derem para o torto mas não muito e acabarmos por perder por um a zero, não é que ficamos contentes? É assim que começam as célebres vitórias morais em que os portugueses são peritos. Talvez se chame a isto, gestão das expectativas ou coisa parecida. Os políticos usam então estas armadilhas (digo eu) para chegar ao que querem, aos seus objectivos como se diz (mais uma vez) no futebol. O problema é que a par disso, vão sucedendo pequenos terramotos, enleios e chatices, que não dão tempo para pensarem na próxima estratégia a seguir: ministros com turbo licenciaturas; submarino que não acabam de emergir e por fim empresas em que o primeiro-ministro era administrador e que se dedicaram, segundo parece a desbaratar dinheiros públicos. Dinheiros públicos que agora Passos Coelho diz ter o povo (que não ele!), desperdiçado. Nem digo já que as coisas se resolveriam com uma demissão. Digo só que os ignorantes também lêem jornais, vêem televisão e que dificilmente vão acreditar em pessoas que usaram os euros públicos de uma forma – no mínimo – descuidada. 2 – Sobre o disco - Interessa-me saber como os músicos gerem as carreiras, pressupondo que gerir signifique uma reunião em partes desiguais e nem sempre perceptíveis (às vezes para o próprio músico) no momento em que optam por A em detrimento de B. Ou seja, o que os leva a gravar determinada música ou disco, retirados do seu universo pessoal? Para onde quem ir? Apaziguam o público? Tentam novos sons? Qual a parte do que fazem é risco? Calculam-no? Ou gravam e esperam?, antigamente esperavam, agora saem em digressão pelos festivais que a ideia é ganhar o que se puder, que há muita pirataria. O que terá pensado Tori Amos, quando aceitou dar a volta aos seus temas menos óbvios, agora que Little Earthquakes (o seu

Apontamento de Vídeo Road to Nowhere - Sem Destino "O jovem cineasta de culto americano Mitchell Haven encontrou material para fazer a sua próxima obra-prima. A história verídica da jovem e bonita Velma Duran e o seu amante mais velho, o político Rafe Tashen, que terminou com o dramático suicídio destes amantes amaldiçoados. Mitchell apaixona-se por esta história malfadada mas ainda mais pela bela Velma Duran. E, quando ele escolhe a modelo e aspirante a actriz Laurel Graham, que é assustadoramente parecida com Velma, fica ainda mais enamorado. Porém, quando a rodagem começa, no próprio local dos incidentes, Mitchell descobre que nada sobre o crime - ou sobre os seus participantes - é o que parece... Um filme enigmático, emocionante, que no Festival de Veneza obteve o Leão de Ouro Especial. Edição em DVD. Realização: Monte Hellman Com: Shannyn Sossamon, Tygh Runyan, Cliff de Young, entre outros. Distribuição: Clap Filmes Vítor Cardoso

JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - OUTUBRO/2012

primeiro e aclamado disco) fez vinte anos que viu a luz do dia? Gravou então este pequeno best of (órfão dos óbvios hits, Crucify e Cornflake Girl), dando especial atenção às primeiras gravações e reunindo temas avulsos, rearranjados em modo clássico num novo registo (Gold Dust) para a etiqueta da Deustche Grammophon (distribuído por Universal), saído em 2012. A música de Amos sempre foi a de um pop barroco à beira de ser sinfónico; talvez por higiene e pudor a cantora sempre se refugiou num registo a meio caminho entre as duas. Nos últimos anos tinha até tido uma queda mais ou menos infeliz pelas secções laterais do Rock. Agora aceitou (ou fez aceitar) uma releitura de parte do seu disco de estreia, com as costas guardadas por uma orquestra. De um modo geral sai-se bem, embora o tom seja cada vez mais próximo do registo de Kate Bush. Era uma ideia que podemos ter; a da cantora apontar ao que há muito estava subentendido: a sua música iria mais cedo ou mais tarde tornar-se mais complexa. O produto final que resulta da aplicação de uma orquestra sinfónica e novos arranjos, a velhos temas, é bom e sofisticado sem ser aburguesado. Um pouco complexo demais nas primeiras audições. Mais claro, mas sempre sofisticado nas seguintes. Quais os caminhos que trilhará a seguir?




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