JA Magazine | Novembro 2011

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M AG A Z I N E PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO N.º 2852 DE 24 DE NOVEMBRO DE 2011 DO JORNAL DO ALGARVE E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

BATATA DOCE de de Aljezur Aljezur



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A batata-doce de Aljezur já está identificada com o selo de IGP (Indicação Geográfica Protegida)

O Festival da Batata-Doce de Aljezur é um dos certames gastronómicos mais típicos da região

Um dos eventos gastronómicos mais típicos da região regressa entre 1 e 4 de dezembro

Aljezur em festa com festival da batata-doce A zona de Aljezur é atualmente a maior e a mais importante região produtora de batata-doce em Portugal. Para dinamizar a sua venda, o município organiza mais um festival dedicado a este produto, agora certificado e com qualidade garantida. Nos primeiros quatro dias de dezembro, cerca de 25 toneladas de batata-doce serão confecionadas de forma a agradar a todos os gostos

A

organização do Festival da Batata-Doce de Aljezur, uma parceria entre a câmara municipal e a Associação de Produtores de Batata Doce de Aljezur (APBDA), espera um verdadeiro "mar de gente", entre os dias 1 e 4 de dezembro, no Espaço Multiusos de Aljezur. A vila vai estar em festa com mais uma edição do festival mais emblemático do concelho, que deverá juntar milhares de pessoas em Aljezur, devendo ser servidas e vendidas cerca de 25 toneladas de batata-doce. A inauguração do certame, que a autarquia reclama ser "o mais afamado festival gastronómico de outono ao sul de Tejo", está marcada para o dia 1 de dezembro e vai contar com o secretário de Estado Daniel Campelo. Em declarações esta semana ao JA, o presidente da associação de produtores locais, António Novais, salienta que Aljezur é hoje a maior e a mais importante região produtora de batata-doce em Portugal. "A nossa área geográfica inclui dois concelhos (Aljezur e Odemira) e é nela que se produzem as batatas com a Identificação Geográfica Protegida (IGP)", denominação definida e atribuída pela Comunidade Europeia que reconhece desta forma a qualidade superior da vertente "Lyra" produzida nesta zona. "A luta para alcançar a certificação do produto prolongou-se por cerca de 15 anos", lembra António Novais, que a partir deste ano espera uma maior dinamização e comercialização da batata-doce de Aljezur. "Trata-se de um produto reconhecido há muitos anos do Minho ao Algarve, passando até por Espanha. Porém, até agora, a batata-doce era vendida em todo o país com o falso rótulo

de Aljezur e variedade «Lyra», quando não era verdade. Com a certificação, já há garantias de o consumidor estar a comprar a genuína batata-doce de Aljezur", frisa.

Verdadeira batata-doce chega ao mercado Ainda assim, em tempo de crise, os produtores locais estão preocupados com o futuro do setor. Mas, de uma coisa têm a certeza: "A certificação vem trazer uma significativa melhoria das condições dos produtores. Por um lado, vai aumentar a confiança e potenciar as vendas junto dos consumidores, por outro, vai acabar com a troca de identidade do produto no mercado", refere o presidente da APBDA. "Este é o primeiro passo daquilo que há muito se ansiava: a chegada ao mercado da verdadeira batata-doce de Aljezur e criação de um elo de confiança entre o consumidor final e o produtor", destacam os responsáveis, frisando que este processo será liderado pela associação de produtores, tendo em vista garantir "a maior genuinidade e proximidade do produto apresentado". E é para dar a conhecer e provar a melhor batata-doce do mundo que a organização garante que, no festival deste ano, "só entra batata-doce certificada", devidamente rotulada e identificada. "De facto não será difícil ligar o televisor e num qualquer programa de culinária encontrar receitas com batata-doce em que o chefe que as executa refere a de Aljezur como a melhor na elaboração das mesmas", refere a organiza-

Considerada por muitos um verdadeiro "tesouro tradicional" da região, a batata-doce é hoje um dos produtos mais genuínos de Aljezur

ção, acrescentando que os visitantes vão poder encontrar ao longo dos quatro dias do festival vários chefes de cozinha conceituados.

Receitas típicas e novas propostas Como não poderia deixar de ser, os visitantes vão encontrar a batata-doce confecionada de diversas formas, simplesmente assada em forno de lenha, frita ou cozida. Mas o presidente da associação de produtores, António Novais, já tem a sua preferência: "Eu gosto mais da batata-doce cozida a acompanhar pratos de peixe ou assada no forno com polvo", revela. Para saciar o apetite dos milhares de visitantes, o recinto do Espaço Multiusos de Aljezur

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vai contar com quatro restaurantes que apresentam desde as receitas mais típicas às novas propostas culinárias, sempre conjugadas com a batata-doce cultivada no concelho. Quem preferir refeições mais ligeiras poderá também visitar as tasquinhas da Associação de Pescadores da Arrifana, onde se conjugam os sabores do mar e da terra. Na tasquinha do Clube de Caça e Pesca as atenções viram-se para a caça e no Juventude Clube Aljezurense para as porções e receitas mais energéticas. Haverá ainda espaço para as doceiras, com bolos, pastéis e tortas para os mais gulosos. Neste festival deverá ainda ser apresentado um livro de receitas à base de batata-doce com o patrocínio da câmara de Aljezur. Nuno Couto


4 Autarquia cria gabinete especializado

Castro Marim quer combater obesidade C

astro Marim acaba de criar o Gabinete de Aconselhamento e Prescrição de Exercício Físico, um espaço destinado ao combate à obesidade no concelho e que surgiu na sequência de um protocolo de colaboração celebrado entre a câmara municipal e a Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve. O gabinete, instalado na Unidade de Saúde do Guadiana, em Castro Marim, funciona em articulação com o médico de família, com o Gabinete de Saúde Familiar, com o Gabinete de Saúde Escolar e com uma nutricionista. A ação da nova estrutura é dirigida a toda a população, em especial a pessoas que se encontrem em risco de pré-obesidade e obesidade, aos quais será aconselhado e prescrito o

exercício físico de acordo com as suas características. Semanalmente realizam-se duas sessões de aconselhamento, às quintas e sextas-feiras, cuja monitorização está a cargo de um técnico de educação física da autarquia. Esta ação, integrada no programa de Luta Contra a Obesidade no Algarve, visa “combater a obesidade, a epidemia do século XXI, despertando os castro-marinenses para os benefícios da prática de atividade física, enriquecimento da autoestima, combate ao sedentarismo e incremento da saúde e bem-estar, assentes no exercício físico”, sublinham os responsáveis da autarquia.

Maqueta exposta em Lagos vence concurso internacional e desperta curiosidade além-fronteiras

Aldeia imaginária em miniatura preserva identidade algarvia Chama-se Aldeia da Nossa Senhora do Forte e é uma povoação imaginária, em miniatura, que pode ser vista no museu de Lagos. Construída há 18 anos, com traços da paisagem e arquitetura algarvias, a aldeia até tem lendas e feitos históricos associados à sua fundação. Esta “paisagem do imaginário algarvio” recebeu, em Sevilha, o Prémio Mediterrâneo da Paisagem

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região do Algarve tem vindo a sofrer profundas alterações na paisagem, ao longo das últimas décadas, provocadas sobretudo pela ação humana. Basta ver algumas fotografias antigas, dos anos 50 e 60, para perceber que algumas localidades na região, com especial incidência no litoral, mudaram quase por completo de visual. Vilas tornaram-se cidades e aldeias rurais cresceram e estão irreconhecíveis. Mas há uma aldeia que mantém intactas as suas raízes, a começar pelos traços arquitetónicos e pela paisagem. Falamos da Aldeia da Senhora do Forte, que é fruto de um trabalho minucioso de Pedro Reis. Tudo começou em 1989, quando o artista andava na casa dos 40 anos. A mini-aldeia demorou quase quatro anos a ser feita, estando exposta há dezoito no museu de Lagos. Mas esta não é uma simples maqueta de uma localidade. A Aldeia Senhora do Forte foi criada com todos os pormenores imagináveis que retratam a cultura algarvia, de forma a preservar para sempre a identidade regional, tendo

inclusivamente associados à sua fundação feitos históricos e até lendas. A história da aldeia encontra-se mesmo publicada em vários volumes que podem ser consultados no museu. Com cerca de duzentas casas, numeradas e integradas em ruas também com nomes, a pequena aldeia tem estradas, uma escola, campo de futebol, um posto da guarda-fiscal e até sinais de trânsito. A paisagem é típica do barlavento litoral, com a aldeia a erguer-se sobre falésias e a serra de Monchique ao fundo. Um porto de pesca, uma estação de caminhos-de-ferro, vestígios romanos, moinhos, um farol, uma igreja e o forte que lhe dá nome compõem o cenário. E, ainda hoje, os “amigos” da Senhora do Forte reúnem-se anualmente, em junho, para festejar o aniversário da aldeia.“

Aldeia imaginária vence prémio internacional É por estas razões que, desde que foi doada ao museu de Lagos, em 1993, até aos nos-

A Aldeia Senhora do Forte pretende preservar-se como uma das mais belas localidades do Algarve

sos dias, a aldeia em miniatura – construída com materiais tão diferentes como esferovite, papel, gesso, lixa, sisal e pequenos pedaços de madeira – continua a causar espanto a quem a observa. A maioria das pessoas julga mesmo que se trata de uma réplica de uma aldeia existente, mas a verdade é que é tudo fruto da imaginação de Pedro Reis. Esta “paisagem do imaginário” acaba de vencer o III Prémio Mediterrâneo da Paisagem, na categoria “Experiências de Sensibilização e Formação”. O galardão foi entregue no passado dia 10, em Sevilha (Espanha), sendo que os respon-

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sáveis destacam a notoriedade e a curiosidade que o projeto alcançou dentro e fora de Portugal. Este prémio, distribuído por cinco categorias, teve a participação de 70 candidaturas, de várias regiões mediterrânicas de Espanha, Itália, Grécia e Portugal. A Aldeia Senhora do Forte concorreu com mais doze candidaturas na sua categoria. “A aldeia pretende preservar-se como uma das mais belas localidades ribeirinhas do Algarve”, salientam os responsáveis do museu de Lagos, local onde a Senhora do Forte pode ser visitada de terça-feira a domingo. Nuno Couto



Faro:

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Coral Ossónoba com êxito em Benemaldena (Espanha) Ao seu prestigiado currículo, o famoso Coral Ossónoba, de Faro, juntou mais um êxito assinalado, com uma magnífica actuação na cidade turística andaluza de Benemaldena (Costa do Sol), em Espanha. Sob a direção do maestro António de Jesus, um dos grandes valores da música algarvia contemporânea, o Coral Ossónoba actuou a convite do Coro Ciudad de Benemaldena, no anfiteatro da Casa da Cultura, que registou lotação totalmente esgotada, a qual aplaudiu de forma vibrante os coralistas algarvios. A atuação incluiu a interpretação de trechos de música portuguesa, bem como tangos, habaneras, etc.

“Música de Câmara” no Convento O Agrupamento de Música de Câmara da Orquestra do Algarve, constituída por Stefania Bernardi (flauta), Eun Hee Sohn (oboé), Pedro Nuno (clarinete), Eduardo Sirtori (fagote) e Todd Sheldrick (trompa) realizou um concerto, no âmbito do Ciclo de Música de Câmara, no Convento de Nossa Senhora da Assunção, na capital algarvia, e numa organização conjunta entre o município e aquela prestigiada Orquestra. Do programa constou a interpretação de obras de Filipe de Sousa (Quinteto de Sopros), Franz Lachner (Quinteto de Sopros n.º 2 em Mi bemol Maior) e Éric Satie (Sonatine Bureaucratique), suscitando fortes e merecidos aplaudos.

Poesia às segundas e quartas É dedicada à poetisa Florbela Espanca, tendo como tema o seu verso “Ser poeta é ser mais alto”, a próxima sessão do ciclo Poesia às segundas e quartas feiras, que decorre a partir das 17h30, do dia 14 de dezembro, no Auditório da Biblioteca Municipal António Ramos Rosa, junto à Alameda João de Deus. Prestimosa iniciativa dos Elos Clube de Faro e da Biblioteca Municipal, com a colaboração da Tertúlia Poéte Hélice teve a anterior sessão dedicada ao poeta Antónoi Gedeão (dr. Rómulo de Carvalho) e como tema central o conhecido verso “O sonho comanda a vida”, o qual motivou inúmeras e valiosas composições poéticas ali declamadas, bem como a leitura de poemas daquele conhecido vate e a interpretação pela dra. Rosinda Vargues, acompanhada à guitarra por seu marido eng. Luciano Vargues, da “Pedra Filosofal” e diversas intervenções sobre a figura, a obra, a pedagogia e didática e a arte poética do poeta e professor. Um destaque próprio para a intervenção da dra. Mariana Fernandes, que foi sua estagiária em Ciências Físico-Químicas no Liceu Pedro Nunes (Lisboa), que fez curiosas revelações sobre o dr. Rómulo de Carvalho e o poeta António Gedeão, que classificou como “duas personalidades distintas mas indissociáveis”, com especial relevo para uma carta que lhe dirigiu como havia vivido o dia 25 de Abril de 1974 naquele conhecido estabelecimento de ensino secundário lisboeta. Esta sessão poética, que tal como as próximas têm entrada e participação livre, foi dirigida como habitualmente pela presidente do Elos Clube de Faro, dra. Dina Lapa. João Leal

Autarquia quer recuperar imóvel e transformá-lo numa unidade hoteleira

Convento de Monchique inspira peça antes de virar pousada O imóvel em avançado estado de degradação que a câmara de Monchique quer recuperar e classificar como património municipal serve de “inspiração” para uma peça que está em cena no Teatro Maria Matos, em Lisboa, até ao próximo dia 28. “O Convento” retrata uma família que ali reside e os usos e costumes dos residentes na Serra de Monchique. No futuro, a autarquia pretende instalar no local um hotel/pousada

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município de Monchique apoia a produção artística sobre “O Convento”, peça que estreou no Teatro Maria Matos, em Lisboa, no passado dia 20, e vai estar em cena até ao próximo dia 28. Trata-se de um trabalho realizado em Monchique, pela associação Karnat, e que contou com o apoio financeiro e logístico da câmara municipal. Resultado de um trabalho de pesquisa de campo, através de uma residência artística efetuada em Monchique durante o mês de setembro, a peça “O Convento” retrata uma família que ali reside e os usos e costumes dos residentes na Serra de Monchique. O imóvel representado e que deu “inspiração” a esta associação criativa encontra-se em estado de degradação, sendo que este património ainda não é, na sua totalidade, propriedade da câmara de Monchique. “A propriedade onde se insere este convento é constituída por seis prédios, dos quais apenas três são de posse total do município de Monchique”, adianta a autarquia, frisando que pretende “enquadrar a salvaguarda daquele património”, estando, para isso, a desenvolver o processo administrativo para a classificação como Imóvel de Interesse Municipal - Património Municipal. Este processo de classificação teve início em 1981, mas só em 2010 a Secretaria de Estado da Cultura informou a câmara municipal que é responsabilidade desta a sua classificação como Imóvel de Interesse Municipal.

Autarquia pede apoio às entidades estatais Após a conclusão deste processo administrativo, a autarquia garante que vai fazer todos os esforços “na promoção da recuperação daquele edifício, sendo que para tal necessita do apoio das

entidades estatais para resolver o problema da propriedade do imóvel, de forma a poder promover a sua reabilitação e usufruto por parte do cidadão”. “Temos certo que o processo não será tão célere quanto gostaríamos que fosse, contudo, não podemos ficar indiferentes a toda a situação de degradação que se arrasta há algumas décadas, pouco se tendo feito para a sua efetiva recuperação”, alerta a câmara de Monchique. Uma vez que ainda vivem pessoas no imóvel, o município está também a avaliar a situação social das famílias para encontrar uma solução para o seu problema habitacional. A ideia da câmara de Monchique é “adquirir a totalidade da propriedade” e “encontrar parcerias para a sua recuperação”. Um dos projetos que está em cima da mesa é a instalação de um hotel/pousada, de forma a “recuperar de forma sustentada aquele património, permitindo a fruição pública dos residentes e visitantes de Monchique”. Entretanto, está patente uma exposição fotográfica sobre o convento, da autoria de Ruin'Arte, no salão nobre da câmara municipal, após ter estado na galeria municipal em outubro passado. N.C.

São Brás de Alportel

Prémio Literário João Belchior Viegas desafia jovens A edição 2011-2012 do Prémio Literário Infanto-juvenil João Belchior Viegas foi recentemente lançada e está a desafiar os jovens são-brasenses para a elaboração de uma peça teatral cuja ação se desenrole em São Brás de Alportel. Destinado a jovens dos nove aos 20 anos, que residam, trabalhem ou estudem no município, este concurso pretende perpetuar os princípios e a dedicação de João Belchior Viegas ao mundo da criação literária, mantendo viva a memória do seu patrono através da criação de textos pelas novas gerações. Anualmente são estabelecidos três prémios únicos, podendo ainda ser atribuídas menções honrosas, caso o júri assim o entenda. Ao melhor trabalho da faixa etária mais jovem, entre os nove e os 12 anos, será atribuído um pré-mio no valor de 150 euros, enquanto que na faixa etária dos 13 aos 15 anos este prémio será de 250 euros. O vencedor da faixa etária dos 16 aos 20 anos será premiado com o montante de 500 euros. Esta iniciativa conta com o apoio e a colaboração da Câmara Municipal de São Brás de Alportel e o apoio da Delegação Regional de Educação do Algarve e das escolas do município.

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Vila Real de Santo António

Casa da Marioneta novo polo de cultura Depois do falecimento de Hélio Rodrigues, mentor do projeto, um grupo de amigos seguiu as suas pisadas e está a dar continuidade às atividades da Associação Boneco Sabichão e da Casa da Marioneta. Aos poucos foram surgindo novas atividades e o espaço já vai muito além do teatro de marionetas e de fantoches

A

o longo de vários anos, Hélio Rodrigues dedicou muito do seu tempo à criação de peças para teatro de fantoches e à sua colocação em cena. Construía, ainda, muitos dos fantoches e das marionetas que utilizava e apresentava os espetáculos aos alunos das escolas e das pré-escolas. Em 2007 criou a Associação Boneco Sabichão e a Casa da Marioneta, uma estrutura em madeira, localizada junto ao Complexo Desportivo de Vila Real de Santo António, que passou a ser o centro nevrálgico da sua atividade: o teatro de marionetas e de fantoches. Com o seu falecimento, em 2010, tanto a associação como a Casa da Marioneta estiveram vários meses inativas, até que um grupo de amigos e de antigos colaboradores decidiu deitar mãos à obra e fazer reerguer a coletividade. A nova direção foi constituída formalmente em dezembro de 2010 e, em março deste ano, reinaugurou a Casa da Marioneta. Atualmente, a associação já conta com mais de três dezenas de sócios que pretendem dar continuidade ao trabalho iniciado por Hélio Rodrigues. “As marionetas e os fantoches continuam a ser a atividade principal, mas estamos a alargar a ação da associação a outras áreas, como o teatro, a dança, a música, a leitura encenada”, explica Maria José Capela, uma das responsáveis pelo novo projeto, frisando que outro dos objetivos é “dinamizar a Casa da Marioneta como espaço artístico, serviço educativo, com oferta de formação e ocupação, ou seja, abri-la à comunidade como mais um ponto de encontro de cultura da cidade”. A ideia é abrir o espaço diariamente ao fim da tarde e durante os fins de semana, envolvendo não só as crianças nas diversas atividades, mas também a população em geral. Em relação ao teatro de fantoches e de marionetas propriamente dito, a nova direção está também empenhada em tentar recuperar o espólio de peças de Hélio Rodrigues, que entretanto desapareceu. “Ele não tinha quase nada escrito. Era quase tudo gravado e muitos dos ficheiros perderam-se. Já conseguimos recuperar parte das peças, com a ajuda da filha, e estamos a tentar recuperar mais algumas através de pessoas que tenham gravado os espetáculos”, explica Maria José Capela. Ainda no âmbito do objetivo de prosseguir o trabalho iniciado por Hélio Rodrigues, os novos responsáveis querem dar continuidade aos espetáculos nas escolas e voltar a organizar o festival de marionetas. “O festival internacional teve duas edições e, para já, pretendemos organizar um festival mais a nível nacional, em articulação com outras associações do país e com a duração de um dia”, revela Maria José Capela, acrescentando que

o grupo coral que tinha sido criado na associação também é para recuperar: “Ainda não conseguimos porque as pessoas que estavam à frente estão, neste momento, sem disponibilidade, mas pretendemos dar continuidade a este projeto”.

“Tragédia do Mal Amado” adaptada ao palco Outro dos projetos, este já iniciado, é a adaptação às artes de palco da obra “Tragédia do Mal Amado”, livro da autoria de Hélio Rodrigues, um trabalho que tem estado a ser desenvolvido por Pedro Tavares e cujos primeiros excertos foram apresentados recentemente durante a homenagem ao autor levada a cabo na Casa da Marioneta. “Apresentámos apenas três sequências, que incluíram teatro físico e de fantoches, dança, projeção de imagens e fotografias da época, bem como uma relação com o texto «Relato de Um Náufrago», de Gabriel García Márquez, que aconteceu na mesJORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - NOVEMBRO/2011

ma época, mas no mar das Caraíbas”, explica Pedro Tavares, revelando que o objetivo é apresentar a peça completa (cerca de uma hora) no próximo ano, “em maio ou junho”. Pedro Tavares já tem a adaptação concluída, no entanto, a equipa, totalmente constituída por atores amadores, debate-se com a falta de tempo para a preparação e para os ensaios. “É um trabalho que envolve alunos, professores e funcionários das escolas e que só pode ser feito no tempo livre. Por isso, o processo de ensaio não tem sido fácil. Mas é preferível assim, sem pressa, para ficar bem feito”, conta. Ao mesmo tempo, a Casa da Marioneta acolhe os ensaios de outra peça, “Auto dos Silva”, uma comédia negra interpretada apenas por jovens, dos 12 aos 18 anos, e alunos das escolas. “Esta peça não inclui marionetas, conta a história de uma família e da partilha de uma herança, e o nosso objetivo é concorrer aos festivais de teatro escolar, tentando levar o nome da Casa da Marioneta um pouco mais longe”, revela Pedro Tavares. Domingos Viegas


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Experiências inesquecíveis para entrar em 2012 com muito glamour C

elebrar em Sintra num ambiente romântico, conhecer o centro histórico de Coimbra, festejar em família junto à praia em Lagos ou dizer adeus a 2011 num cenário idílico como as areias brancas e águas quentes do Brasil são as propostas irresistíveis que a Tivoli Hotels & Resorts apresenta. Uma celebração cosmopolita, na principal Avenida de Lisboa, com uma vista única sobre a cidade de Lisboa é a proposta do Tivoli Lisboa. A proposta inclui três noites de alojamento em quarto standard, pequeno-almoço buffet, oferta temática Fim de Ano à chegada e Jantar no restaurante, a partir de 907¤. Em Sintra, há um misterioso e encantado mundo por descobrir e é precisamente para quem aprecia um ambiente mais romântico que o Tivoli Palácio de Seteais abre as suas portas. É uma réplica perfeita para os hóspedes se sentirem como realeza, nestas oferta de duas noites (disponível a partir de 230¤), cuja recepção é feita com espumante e pas-

sas no quarto. Para o jantar e ceia de celebração, as bebidas estão incluídas, bem como o especial acompanhamento de animação de piano. No centro, de forma a aproveitar esta época festiva, o Tivoli Coimbra convida a celebrar a Passagem de Ano neste centro histórico que é Coimbra. O programa, a partir de 155,00¤, permite usufruir de duas noites com pequeno-almoço buffet e late check-out. No quarto, os hóspedes serão brindados com espumante e fruta na última noite do ano e um brunch no dia 1 de Janeiro. O estacionamento é gratuito. Mais a sul, "Allegro & Tropicaliente" é o tema do programa de Fim de Ano do Tivoli Marina Vilamoura. O programa desenvolvido inclui duas noites de alojamento, pequenoalmoço buffet Americano - Restaurante Chilli, jantar de despedida a 2011 na noite de 30 de Dezembro, Jantar de Gala "Allegro & Tropicaliente" no dia 31 de Dezembro, espec-

táculo de fogo-de-artifício, almoço de Ano Novo, actividades diárias de animação e programa de entretenimento para crianças e serviço de Baby Sitting durante a Gala. Tudo, a partir de 820¤. Celebrar o início de 2012 junto ao mar, com uma magnífica vista para Ferragudo, é a proposta do Tivoli Marina Portimão. O programa inclui duas noites de alojamento, pequenoalmoço buffet no restaurante Deck, serviço VIP no quarto à chegada, Jantar de Réveillon com festa no Aqua Lounge que inclui welcome cocktail, menu gourmet com bebidas incluídas, música ao vivo, champanhe e ceia, bem como Brunch e late check-out no dia 1 de Janeiro, com preços a partir de 341¤. Já no Tivoli Lagos, é proposta uma celebração repleta de alegria e diversão, para se entrar no ano novo revigorado. São duas noites de alojamento com pequeno-almoço buffet incluído, brindado com o jantar de gala Réveillon, música ao vivo e ceia.

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No primeiro dia de Janeiro, os clientes são presenteados com um saboroso brunch, especialmente preparado para a ocasião e têm ainda, a possibilidade de utilizar o Health Club gratuitamente. Todo o programa está disponível a partir de 300¤. No outro lado do oceano Atlântico, o pano de fundo para a passagem de ano é idílico: areias brancas, águas quentes e muita animação. O Tivoli Ecoresort Praia do Forte no Brasil acolhe de braços abertos os seus hóspedes para esta celebração: sete noites de alojamento, pequeno-almoço, jantar romântico no restaurante GOA, festa e ceia especial de Ano Novo acompanhado por música ao vivo. E uma vez que se está no Brasil, a tradição não fica de parte, roupa branca na noite de Passagem de Ano traz novas esperanças a 2012. Saiba mais em www.tivolihotels.com



Música I Cinema

10 Fernando Proença

LITERATURA INCLUSA

Número vinte e cinco O Disco - "Chico" - Chico Buarque - CD - Sarapui - 2011 Chama-se uma catarse, ou uma coisa qualquer começada por par e acabado em vo. Meus dignos três leitores, tenho que lhes dizer uma coisa: feito um primeiro exame à minha consciência com resultados tão medíocres que nem tenho a coragem de divulgar, faltava-me arriscar num plano B; o de fazer um segundo exame de consciência. A ideia é simples e clara. Retirada da estratégia básica de um treinador de futebol que comanda uma equipa que perde ao intervalo por um a zero: entrar na segunda parte a jogar pelos flancos com centros para dentro da área. Agora rebobinem um pouco atrás; o meu exame, a minha besta negra mental, a minha dúvida metódica baseia-se num princípio: por que razão tenho como inimigos figadais neste mundo confuso e complexo de princípio de século, figuras tão ilustres como Luís Freitas Lobo; Fátima Campos Ferreira e artes tão nobres como a música Jazz? Sei meus amigos que não estou a fazer as coisas pelo melhor: não atinjo o sentido da vida, a religião como motivo último da nossa existência, não: mas arrisco uma resposta. A razão da minha pergunta é básica: por que não gosto do “Conta-me Como Foi”, sabendo que é uma série bem feita que ganhou prémios e que supostamente sustenta, na RTP a razão de ser do tal serviço público? Porque não e porque essa foi provavelmente a forma que arranjei de me sentir muito

mais novo do que na realidade sou. Porque só quando somos novos temos essa espetacular aptidão de tomarmos partido por uma música, por um livro, por uma figura pública, porque sim. Ou porque não como nos casos vertentes. A velhice traz-nos – além das dores nas costas e crescimento de cabelo nos ouvidos e nariz – esta extraordinária capacidade de começarmos a compreender, apreciar a música como deve ser. Ou seja, deixarmos a emoção de fora e passarmos a ser benditos reféns de uma racionalidade pequeno burguesa - o meu modesto contributo político para pôr Portugal andar para a frente... Por isso, por não pensarmos, por sermos mais autênticos, seja lá o que isso for - somos toda a vida do clube que nos passou pela cabeça sermos quando éramos pequenos. A escolha de um clube, que é produto de forças que não dominamos (em noventa por cento dos casos somos do clube do nosso pai), é feita para o resto da vida e isso é consagrado por estudos feitos pela Universidade de Cambridge, durante toda a segunda metade de dois mil e dez. É mentira mas fica bem. A respeito destas teimosias lembrei-me do Maria vai com todas que hoje sou perante a música. Quando fiz vinte anos só ouvia Roxy Music e Closer dos Joy Division. Passado um ano, dei uma abébia a Darkness On the Edge of Town de Bruce Springsteen e Remain In Light dos Talking Heads. Mas devo tê-los ouvido – contas por baixo e números redondos – uns milhares de vezes. Faço uma reciclagem semestral destes álbuns, mas tudo o que transportaram de descoberta e paixão foi submergido por toneladas de informação que não me trouxe mais felicidade. A treta disto tudo é que, caso tivesse uma memória mais curta, provavelmente andaria hoje à procura das razões que me levaram a ouvir incondicional-

mente aquela música semanas a fio, não percebendo tanta adoração incondicional. O resultado é que os ouvia porque sim, não por que eram importantes para o futuro da música e essas maluquices que só nos importam depois dos quarenta. Quando puxamos os galões para explicarmos a nossa posição perante determinado disco é por que estamos a fazer o papel de velhos. Velhos ligeiramente mais em dia com o que vai saindo. Mais em dia com as tendências e com quem deve a quem. Mas sem o espírito que se calhar devia comandar a nossa relação com a música popular. A que todos devem uns aos outros e que mais importante que delinear árvores genealógicas e perceber onde entra aquela guitarra na terceira música no sentido de quem ouve o disco de trás para a frente é percebermos a emoção que um tema nos provoca. Ou lembrar um disco que nos fez metade do trabalho de arranjar a primeira namorada. Claro que existem exceções. Uma música com um não sei quê, que aponta um certo caminho, se estivermos virados para a história e futuro da música rock ou para Santiago de Compostela. Mas são excessões, não a regra. Ouvir o último disco de Chico Buarque é capaz de me despoletar toda esta carga de pensamentos e tolices. Ouvindo atentamente cada faixa, cada instrumento, cada arranjo, tudo aquilo soa bem. As letras são boas. Tudo está bem acabado. Mesmo quem tratou do design da capa merece aplauso. Mas o mal de tudo isto é que chego ao final da gravação, com tudo no lugar, e dou por mim a pensar que o disco é pífio, fraco, mau. Mais: se o ouvisse há vinte anos diria sem grandes problemas que o disco é grande: que é uma grande merda se por acaso querem a minha opinião. Ouve-se aquilo de fio a pavio e – pelo menos eu – não encontro em nenhuma altura uma

Apontamento de Vídeo Deux - Duas "É a história das existências paralelas e entrecruzadas de uma mãe e das suas duas filhas, irmãs gémeas separadas à nascença. Todas elas privadas de amor filial à nascença, instáveis e incapazes de sentimentos duradoiros, elas procuram desesperadamente as suas origens. Na procura de um equilíbrio inatingível, elas não encontram calma senão na desmesura e nos dramas provocados. Apenas a ópera e a paixão ajudarão ao seu reencontro".

Um filme onde a procura do amor é uma constante. Será possível encontrá-lo? Veja o filme e encontrará a resposta. Edição em DVD. Realização: Werner Sohroeter. Com: Isabelle Huppert, Bulle Ogier, manuel Blanc, entre outros. Distribuição: Atalanta Filmes. Vítor Cardoso

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réstia da antiga genialidade do autor. Aliás (gosto de aliás. É pena fazer mal ao fígado) em Portugal tenho um exemplo acabado do que quero demonstrar, pela voz e música de Sérgio Godinho. Quase tudo o que faz – vamos lá – de há vinte anos a esta parte é gerir o nome. Nada mais. Os discos são uma sucessão de letras e mais letras, com o músico a atamancar umas músicas que servem só de mau refúgio para os poemas. Às vezes parece que tanta palavra não cabe num só tema. Que se atropelam na boca do cantor. Com Chico Buarque não chegam a tanto. Fazer valsinhas, sambas enredo e melodias ao violão, é um trabalho que o brasileiro faz, de noite, quando tem insónias. Para Chico deve ser tão natural como beber água. Mais: com a voz que lhe deram, era capaz de ler o diário da república e nós ouvíamos embasbacados de fio a pavio. Agora não pensem mal; um mau disco de Chico é melhor que a melhor produção de noventa e cinco por cento do que vem do Brasil (palavra de velho). Mas não chega aos calcanhares do que ele já fez: quando a atitude e o génio andavam pertinho um do outro (palavra de jovem).




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